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Ressignificações de práticas docentes no ensino superior com base nos princípios da educação
online
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
v. 17, n.
4
, p.
3079
-
3096
,
out./dez
. 2022
.
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.15567
3079
RESSIGNIFICAÇÕES D
E
PRÁTICAS DOCENTE
S
NO ENSINO
SUPERIOR COM
BASE NOS
PRINCÍ
PI
OS DA EDUCAÇÃO
ONLINE
RESIGNIFICACIONES DE LAS PRÁCTICAS DOCENTES EN EDUCACIÓN
SUPERIOR BASADAS EN PRINCIPIOS DE EDUCACIÓN EN LÍNEA
RESIGNIFICATIONS OF TEACHING PRACTICES IN HIGHER EDUCATION BASED
ON ONLINE EDUCATION PRINCIPLES
Felipe CARVALHO
1
Mariano PIMENTEL
2
RESUMO
:
Neste artigo, relatamos uma experiência em um curso
voltado para
desenvolver a
competência
de professoras/es universitárias/os
em desenhar uma aula com base nos Princípios
da Educação
Online
.
B
uscamos compreender como
as/os
docentes ressignificam suas práticas
educativas em tempos de
educação
mediad
a
por tecnologias
.
M
ovimentamo
-
nos pela
epistemologia da prática e da pesquisa
com a experiência docente para r
efleti
r
sobre as
narrativas que emergiram no curso, principalmente as relacionadas às aulas que as/os docentes
dão, como as repensaram, atualizaram e
lhes
atribuíram
novos
/outros
sentidos.
Compreendemos que as ressignificações são constituídas por múltiplos processos de
estranhamentos, por práticas reflexivas de si, pela desconstrução de algumas certezas,
reconstrução dos pressupostos teórico
-
epistêmico
-
metodológicos
e
pela
construção de
novos
/outros
saberes docentes. Concluímos que a
discussão sobre
educação
online
e seus
princípios
têm
potencial para a
ressignifica
ção
das práticas
das/os formadores
no ensino
superior
.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Formação docente
.
E
ducação
online
.
P
ráticas educativas
.
D
ocência do
ensino superior
.
E
nsino remoto
.
RESUMEN
:
En este artículo, reportamos una experiencia en un curso de formación realizado
con el objetivo de desarrollar competencia en preparar una clase basada en los Principios de
Educación en Línea. A través del curso, buscamos comprender cómo los profesores
uni
versitarios dan un nuevo significado a sus prácticas educativas en línea. Elegimos la
epistemología de la práctica y la investigación con la experiencia docente para reflexionar
sobre las narrativas de los docentes a lo largo del curso, especialmente las r
elacionadas con
las clases que los docentes imparten, cómo las repensaron, actualizaron y les dieron nuevos
significados. Entendemos que las resignificaciones se dan a través de múltiples procesos de
extrañamiento, prácticas autorreflexivas, deconstrucción
de una mentalidad, reconstrucción
de supuestos teórico
-
epistémico
-
metodológicos y construcción de nuevos conocimientos
1
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(
UERJ
)
, Rio de Janeiro
–
RJ
–
Brasil. Doutor
ado
em Educação.
ORCID: https://orcid.org/0000
-
0
001
-
7398
-
6171.
E
-
mail: felipesilvaponte@gmail.com
2
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(
UNIRIO
)
, Rio de Janeiro
–
RJ
–
Brasil. Professor Adjunto
no
D
epartamento de Informática Aplicada.
Doutorado em Informática (PUC
-
Rio).
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0003
-
4370
-
9944
. E
-
mail: pimentel.mariano@gmail.com
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Felipe CARVALHO
e
Mariano PIMENTEL
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
v. 17, n.
4
, p.
3079
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ISSN: 1982
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DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.15567
3080
docentes. Concluimos que la discusión sobre la educación en línea y sus principios tiene el
potencial de dar un nuevo significado a las
prácticas de los docentes.
PALABRAS CLAVE:
Formación de profesores. Educación en línea. Prácticas educativas.
Enseñanza de la
educación superior
. Enseñanza remota.
ABSTRACT
:
In this article, we report an experience in a training course conducted with the
aim of developing competence in designing a class based on the Principles of Online Education.
Through the course, we seek to understand how university professors give new mea
ning to their
online
educational practices. We chose the epistemology of practice and research with the
teaching experience to think about the teachers' narratives throughout the course, especially
those related to the classes that the teachers give, how t
hey rethought, updated and gave them
new meanings. We understand that resignifications occur through multiple processes of
estrangement, self
-
reflective practices, the deconstruction of a mindset, reconstruction of
theoretical
-
epistemic
-
methodological assu
mptions and construction of new teaching
knowledge. We conclude that the discussion about online education and its principles have the
potential to give new meaning to teachers' practices.
KEYWORDS
:
Teacher training.
Online
education.
Educational
practice
s.
Higher
education
teaching.
Remote
teaching.
Problematizações iniciais
No dia em que ocorreu o anúncio da primeira morte por
C
ovid
-
19 no Brasil
3
, a
s
aulas
presenciais
foram
substituídas
por
“
aulas
em meios digitais, [...]
que utilizem meios e
tecnologias de informação e comunicação”
,
conforme disposto na Portaria nº
.
343 do Ministério
da Educação (MEC) publicada em 17 de março de 2020
(BRASIL, 2020)
.
O cenário pandêmico
reconfigur
ou
todo o sistema educacional
.
Foram
dilata
das,
ainda
mais
,
as de
sigualdades d
as
condições de
ensino
-
aprendizagem
. O trabalho docente teve
de
ser realizado de forma
emergencial, com pouco planejamento,
numa situação
prec
á
ri
a.
Tornou
-
se urgente garantir a
inclusão digital
-
cibercultura
l
e a formação continuada das/os formadoras/es
.
A
s
universidades
públicas brasileiras suspende
ram
as aulas para se preparar
em
para
o
ensino remoto
, tomando
providências para garantir o acesso à internet por todas/os as/os
discentes
e
ofertando
cursos
de
for
mação continuada
sobre a docência remota
emergencial
.
Nos meses seguintes,
todas/os as/os
docentes
universitári
a
s
/
os tiveram suas primeiras experiências nes
s
a modalidade inventada
em
tempos de
crise sanitária.
Com a nova forma de lecionar, emergiram
inquie
tações e dilemas.
3
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao
-
paulo/noticia/2021/03/17/anuncio
-
da
-
primeira
-
morte
-
por
-
covid
-
19
-
no
-
brasil
-
completa
-
um
-
ano.ghtml
. Acesso em:
30
set
. 202
1.
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Ressignificações de práticas docentes no ensino superior com base nos princípios da educação
online
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Araraquara,
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3081
Neste artigo,
relatamos
uma
experiência
em
um
curso
de formação continuada ofertad
o
remotamente
para docentes de
uma
universidade pública brasileira
durante
o primeiro semestre
de
2021
. O
objetivo do
curso
er
a
desenvolver a
competência das/os formador
as/
es em desenhar
uma aula com base nos
Princípios da Educação
Online
,
que s
er
ão
discutidos nas próximas
seções. P
or meio
do curso
,
buscamos compreender
como
as/
os docentes universitári
as/
os
ressignificam suas práticas educativas
em tempos de ensino remoto.
Educação
online
e seus princípios
:
teorizações sobre a
formação
docente
universitária
E
ducação
online
(
SANTOS
,
201
9
) não se refere a qualquer realização de aulas pelas
tecnologias digitais em rede. Trata
-
se de uma
abordagem didático
-
pedagógica específica
,
uma
metodologia própria e contextualizada
que se inspira nas práticas da cibercultura para (re)pensar
os processos de ensino
-
aprendizagem,
que pode ser experienciada na modalidade
remota, a
distância (EAD),
híbrida
e presencial
.
A educação
online
se contrapõe à
pedagogia
cibertecnicista
,
que é uma pedagogia
“instrucionista, massiva, algoritmizada
/
automatizada,
plataformizada, gamificada, dataficada, uberizada”
(
PIMENTEL; CARVALHO, 2021
a
).
A
educação
online
emerge da revolução
pela qual
nossa sociedade
vem passando
. Se o
século passado foi marcado pelos meios de comunicação de massa, que efetivam a transmissão
de informação no modelo “um para todos”, neste século a nossa cultura contemporânea é
marcada pela c
omunicação em rede,
online
, pós
-
massiva, de todos conectados com todos. Essa
reconfiguração
baseada n
a interatividade
, em que
os sistemas computacionais em rede
potencializam
a colaboração,
a conversação
e
a
(co)
autoria, nos leva a repensar
que
a
sala de
a
ula exig
e
uma mudança fundamental da relação conversacional entre professor
/a
e
estudantes
e
da
/na
relação
das/os estudantes entre si (SILVA,
2021
).
A educação
online
pode ser
caracterizada por
alguns
princípios
(PIMENTEL;
CARVALHO, 2020):
“conhecimento c
omo obra aberta”, possível de ser ressignificado e
cocriado num movimento sem fim; “curadoria de conteúdo
online
”, em que o/a professor/a e
as/os estudantes selecionam, organizam e compartilham conteúdos sobre o assunto estudado;
“ambiências computacionais
diversas”,
em que são apropriadas, no contexto educacional,
diversas tecnologias digitais em rede
para além do
A
mbiente
V
irtua
l
de
A
prendizagem (AVA);
“aprendizagem colaborativa, em rede”,
em que
o conhecimento
é tecido no coletivo,
colaborativamente, valorizando
-
se os múltiplos saberes de cada estudante da turma;
“conversação entre todos, em interatividade”, em que
se promove
o diálogo
entre todos e não
apenas o ditar
-
falar do mestre; “atividades autorais inspiradas nas práticas da c
ibercultura”,
em
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Felipe CARVALHO
e
Mariano PIMENTEL
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Araraquara,
v. 17, n.
4
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que
se
oportuniza à/ao estudante aplicar
-
transformar os conhecimentos apre(e)ndidos,
ressignificando
-
os; “mediação docente
online
para colaboração”, em que o/a professor/a
desempenha o papel de dinamizador/a do grupo e mediador
/
a do conhec
imento que vai sendo
tecido no coletivo; e “avaliação formativa e colaborativa”,
em que a avaliação para
aprendizagem é
realizada continuamente, a cada aula, por meio das atividades autorais
realizadas pel
as/
os estudantes,
pelas conversas e outros
rastros
que deixam nos sistemas
online
.
Os princípios da
educação
online
foram propostos para
apoiar
docentes n
o planejamento
e
realização
de aulas
.
Trabalhamos esses princípios em cursos de formação de professoras/es.
A
formação
docente
se realiza de diferentes m
odos: a/o docente pode formar a si
(autoformação); formar
-
se na relação com
a
s/
o
s outr
a
s/
o
s (heteroformação); e formar
-
se através
das coisas e da sua compreensão crítica (ecoformação) (NÓVOA, 2004).
Principalmente,
compreendemos que “ninguém se forma no
vazio. Formar
-
se supõe troca, experiência,
interações sociais, aprendizagens, um sem
-
fim de relações” (MOITA, 2014, p. 115). Assim
,
e
ntendemos a formação das/os formadoras/es “como um processo em que o docente constrói o
seu caminhar, pelo seu fazer fazend
o
-
se, se apresenta como um ato dinâmico de vivências
subjetivas, percepções, opiniões e singularidades criadoura
s
coletivas” (SANTOS, 2015, p.
43
).
Compartilhamos da ideia de que a
formação
é um processo existencial.
Ela
“não se
explica pelas lógicas dos
modelos teóricos, não se deduz,
compreende
-
se, explicita
-
se
no seu
acontecer
com
o
Ser existindo
em formação, refletindo/narrando sobre a sua formação e o ‘estar
formado’” (MACEDO, 2010, p. 32). Acrescentamos que “a formação em si, como experiência
de um
S
er
que aprende, aparece em ato e em sentido” (MACEDO, 2010, p. 32)
. Ela
se dá
em
“redes educativas múltiplas” (ALVES, 2012), como escola, universidade, cursos de formação
continuada, família, trabalho, movimento social, rede sociais
online
, museus etc.
A
f
ormação
acontece
pela
experiência
.
A formação experiencial é constituída por meio
de múltiplos processos vivenciais ético
-
estético
-
políticos que se desdobraram na construção de
si, naquilo que nos tornamos e dissemos ser enquanto docentes, reverberando em nossas
práticas educativas.
E
ntend
emos
que a formação docente “
[...]
implica formação para o exercício de uma
profissão. A profissionalização docente é algo que se constrói, estando apoiada em saberes
diversos” (D’ÁVILA; SONNEVILLE, 2008, p.
41
).
Pontuamos
, todavia, que a/o docente
univers
itári
a/
o
muitas vezes
“entra na profissão sem uma reflexão sobre a educação e
desconhecendo cientificamente os elementos constitutivos da própria ação docente”
(D
’
ÁVILA; MADEIRA; GUERRA, 2018, p. 63
-
64). Por conta disso, consideramos que se fez
necessário
cada vez mais a ampliação de cursos de formação pedagógica
para o ensino superior
,
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Araraquara,
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até porque muit
a
s
/os professoras/es
universitárias/os
acabam reproduzindo nas aulas que dão
as práticas que tiveram ao longo da vida escolar, pois foram formadas/os por meio
delas
,
mas
nem sempre são boas
práticas
.
M
uitas vezes,
ess
as/
e
s docentes desconhecem a abordagem
didático
-
pedagógica que praticam
, desconhecem os fundamentos epistêmico
-
teórico
-
metodológicos que dão suporte às práticas que mobilizam e
,
assim
,
atua
m
em sal
a de aula
sem
autoria nas proposições didáticas e sem saber
teorizar
a prática educativa
e pesquisar os
efeitos
de suas ações
da/na/
sobre
e com
a aprendizagem
;
algumas vezes, sem compreenderem os
problemas,
acabam por
promove
r
a pedagogia
da transmissão
,
perpetuando
a “educação
bancária” (FREIRE, 1970
)
.
Para
aprofundar
a
s
discuss
ões sobre a formação de formadoras/es
,
n
a
seção adiante
trazemos
experiências de um curso de formação continuada voltado a
/aos
docentes
universitári
a/
os
,
a partir
do qual
discutimos a
ressignifica
ção
d
a
s
prática
s
docente
s
.
Movimentações epistêmico
-
metodológicas
Para
compreender como
as/
os docentes universitári
as/
os ressignificam suas práticas
educativas a partir da discussão sobre os princípios da educação
online
, realizamos a
pesquisa
aqui apresentada
com base n
os pressupostos
d
a
“
epistemologia
da
prática
docente
”
(THERRIEN, 2006)
e da
“
pesquisa
-
com a
experiência
” (MACEDO, 2015)
.
“
A epistemologia da prática como princípio de formação dos profissionais de educação
abre perspectivas para a reconstrução de novos horizontes de emancipação humana e social
.
”
(THERRIEN, 2006,
p.
71)
.
N
essa epistemologia, “a
prática aparece como espaço não somente
de construção de sujeitos coletivos, como também de construção de novas compreensões do
mundo da vida e de saberes si
tuados
”
(THERRIEN, 2006,
p.
72).
A
pesquisa
-
com
a experiência
parte da compreensão de que
a experiê
ncia é irredutível,
um fenômeno hipercomplexo e mediado por múltiplas referências. “
A
experiência não é algo
que sucede, é o que nos implica, portanto, nos afeta, nos toca, nos mobiliza e também nos
impõe, nos compromete
.
” (MACEDO, 2015, p. 25)
.
Além disso
, “Pesquisar
-
com a experiência
significa encontrar mundos subjetivos, incertos, ligados ao acontecer, ao singular. Portanto,
acompanhar a experiência é mostrar as relações que se estabelece
m
com os acontecimentos
.
”
(MACEDO, 2015, p. 52)
.
N
o caso da present
e pesquisa, a experiência
que
acompanhamos
é a
formação
de docentes universitári
as/
os
fomentada pelo acontecimento da
pandemia
.
O cotidiano da pesquisa aconteceu num curso
remoto
de formação continuada
ofertado
p
ara 26 docentes de
uma
universidade
pública brasileira
no primeiro semestre de 2021
.
O
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Felipe CARVALHO
e
Mariano PIMENTEL
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
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DOI:
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objetivo
do
curso
foi
desenvolver a competência de desenhar uma aula
com base nos princípios
da educação
online
.
Partimos da compreensão de que as/os professoras/es têm seus saberes
didático
-
pedagógicos e, com o curso, buscamos ampliar tais saberes com a discussão de uma
abordagem didático
-
pedagógica específica, a educação
online
, que ganhou mais visibilidade a
partir da imposição do ensino remoto
emergencial
.
O curso
foi
organizado em 13 aula
s (Figura 1)
,
em
que
abordamos
o
desenho didático
baseado nos princípios da
educação
online
.
Figura 1
–
Aulas
do curso
de formação continuada de professoras/es universitárias/os
Fonte:
Elaborado pelos autores
A maior parte das aulas estava
organizada em três momentos (Figura 2): (1) antes do
encontro remoto
–
alguns conteúdos foram selecionados sobre a temática da aula para os
professoras/es
-
cursistas estudarem antes do encontro remoto, efetivando assim uma aula
invertida; (2) durante o enco
ntro remoto
–
geralmente
realizávamos uma “apresentação
dialogada” para fazer uma síntese
-
revisão do tema da aula, em seguida, realizávamos alguma
dinâmica de grupo para levantar informações, elaborar críticas, autorias etc., e depois
realizávamos uma disc
ussão no coletivo com base no que tivesse sido produzido na dinâmica
de grupo; (3) após o encontro remoto
–
ficava “para casa” (atividade assíncrona) uma atividade
autoral: com base no princípio trabalhado na aula da semana, o professor/a
-
cursista deveria
refinar o desenho de sua aula
online
em desenvolvimento (que no final é apresentada para a
turma).
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Figura 2
–
Desenho
didático da
maior parte das
aula
s
Fonte:
Elaborado pelos autores
Trazemos, na seção a seguir, nossas reflexões sobre as narrativas docentes que
emergiram nas aulas desse curso de formação.
Optamos
pela
s
narrativas
enquanto dados de
sta
pesquisa
qualitativa
porque
“a história das práticas docentes pode ser conhecida não s
omente
assistindo a aulas que professores/professoras dão, mas ouvindo o que é ‘contado’ por esses
tantos praticantes sobre as suas experiências pedagógicas, didáticas e curriculares” (ALVES,
2007b, p. 69).
Entendemos que as narrativas, “mais do que fontes
ou recursos metodológicos,
[...] são personagens conceituais” (ALVES, 2007a, p. 5), isto é, são “figuras, argumentos ou
artefatos que entram como o outro
–
aquele com que se ‘conversa’ ou, ainda, a quem se precisa
responder porque nos coloca questões, ou
seja, aquele/aquilo com o qual se pensa” (ALVES,
2013, p. 163).
Narrativas
de
formação:
experiências de
r
essignificaç
ões
das práticas
docentes
Selecionamos alguns fragmentos das narrativas das/os docentes sobre cada princípio da
educação
online
(PIMENTEL
;
CARVALHO, 2020)
para pensar como determinado princípio
contribuiu para
a ressignificação das práticas daquelas/es docentes
. Não identificamos a/o
docente
autor/a
de
cada fragmento
(optamos por não
apresentar qualquer identificação, seja
pseudôni
mo
ou
identificação sequencial),
porque
demos a
garanti
a
d
o anonimato
por questões
éticas de pesquisa.
Registramos, aqui, nosso agradecimento a todas/os que
autorizaram que suas
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Felipe CARVALHO
e
Mariano PIMENTEL
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narrativas fossem utilizadas como dados de nossas pesquisas e
fossem
publicada
s em relatos
como este.
Princípio 1
–
Conhecimento como obra aberta
Na
A
ula
4,
discutimos que
o conhecimento sobre educação
online
é aberto, que cada
docente precisa
ressignificá
-
lo, apropriar
-
se dos
princípios
e aplicar em suas práticas docentes
ao seu próprio modo, pois não há uma “receita de bolo”
.
Co
nceber
o conhecimento
enquanto
obra aberta é inusitado para
algumas/
alguns
docentes
, embora reconhe
çam
a
sua
importância
:
“
Eu costumo trabalhar com o conheciment
o científico já consolidado
,
isto é, sem alterações
,
ou somente aquela válida pela ciência. Mas esta nova abordagem é mais colaborativa e mais
enriquecedora para o aluno
”; “
Percebi que temos oportunidade de relaxar um pouco mais,
reconhecer que não sabemos
tudo e que os alunos podem vir com novos conhecimentos para
partilha. Isso me fez perceber a riqueza que uma aula pode trazer nesse sentido
”
.
A
s narrativas
das/dos
docentes
nos ajudam a pensar
que
a
“
pedagogia da transmissão
”
(SILVA, 2021)
ainda
é uma
prática no ensino superior
, mas que
pela discussão/formação talvez
algumas/
alguns
docentes
consigam “relaxar” e superar a ênfase na
exposição
de conteúdos
e passar a valorizar
mais
os saberes
d
as/
os
discentes,
suas
competências
e
capacidades para a autoria
crític
a
e
criativ
a
.
Princípio 2
–
Curadoria de conteúdos
online
Na Aula 5, a
profundamos a
discussão sobre
a prática de
curadoria de conteúdos com
diferentes graus de complexidade e em diferentes linguagens
.
A/o docente, ao realizar a
curadoria, está mapeando, organizando e dando visibilidade a determinados conteúdos,
sobretudo
,
para potencializar a formação que almeja.
Di
scutimos
a importância de
utilizar os
conteúdos
como disparadores
d
a
autoria
,
não
para
ser
em
reproduzi
d
os
-
memorizados
.
“
Outra
questão que modifiquei no meu planejamento foi a proposição de materiais diversos através de
uma curadoria online, principalmente
no momento de substituir o que antes tínhamos no
presencial”
;
“
Acredito que eu já pratique um pouco a curadoria de conteúdos online. Porém
não a enxergava com bons olhos, pensava que eu deveria produzir todos os conteúdos para a
aula. Depois do
curso
, me s
into mais segura para ocupar também esse papel de curadora
”
.
Esses
fragmentos de narrativas disparam em nós a reflexão de que a curadoria
já
é
uma ação
corriqueir
a
no
planejamento d
as
aulas
; talvez a novidade para algu
mas/u
ns das/dos docentes
-
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Ressignificações de práticas docentes no ensino superior com base nos princípios da educação
online
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
v. 17, n.
4
, p.
3079
-
3096
,
out./dez
. 2022
.
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.15567
3087
cursistas seja a autorização para
, de um extremo
,
se libertar de um livro
-
texto único
,
e do outro
extremo ter
de
desenvolver todos os conteúdos da disciplina; a prática da curadoria é uma
autorização para
explorar livremente
conteúdos
online
em
múltiplas l
inguagens (videoaulas,
páginas
web
,
cursos
online
,
blog
ue
etc.)
,
em
diferentes graus de complexidade
, podendo a
curadoria ser feita inclusive pel
as/
os própri
as/
os alun
as/
os.
Princípio 3
–
Ambiências computacionais diversas
N
a Aula 6
,
conversamos
sobre os
variados
sistemas computacionais
que utilizamos ao
longo do curso além do próprio AVA
.
Discutimos o
s usos
desses sistemas
nas práticas
formativas:
a possibilidade de reunião em pequenos grupos pel
os sistemas de videoconferência
(como o
Breakout Groups
do
Zoom
)
;
levantamento de informações pelo
Mentimeter
;
exposição
das autorias das/dos
cursistas
pelo
Padlet
;
trabalho colaborativo pelo
Miro
;
perguntas e
respostas pelo
Kahoot
!
para disparar conversas sobre um conteúdo;
sínteses e estrutur
ação de
conceitos pelo
Coggle
;
entre outr
a
s
possibilidades
.
Discutimos os diferentes usos
/
apropriações
desses sistemas
computacionais
com
o
propósito de promover a interatividade, a conversação,
a colaboração
e
a autoria
.
Ess
as discussões ge
ra
ra
m
algumas
reflexões
nas/os docentes
-
cursistas
:
“
Achei interessantíssima
s
as abordagens relacionadas à variedade disponível de
sistemas computacionais que devem interferir proativamente na formação dos discentes
”;
“
Confesso que tenho um pouco de receio de usa
r muitas ambiências, isso porque envolve, além
da aprendizagem dos conteúdos previstos, a aprendizagem da ferramenta e o aparato
tecnológico
que muitos discentes não possuem. Então tenho procurado utilizar as ferramentas
mais clássicas, como
M
eet,
C
lassroo
m,
G
oogle
D
ocumentos e
F
ormulários
”
.
Ess
a segunda
narrativa nos chama a atenção para o risco de promovermos
shows
pirotécnicos
,
um
exibicionismo tecnológico
com potencial para
distrai
r
a atenção sobre o conteúdo
:
as
tecnologias
precisam s
er usadas com
intencionalidade didático
-
pedagógica, com o propósito de
apoiar as aulas. A
declaração da
preferência pelo
uso dos
sistemas computacionais
“
mais
clássico
s
”
evidencia que
os
sistemas usados em práticas
(
ciber
)
culturais
/sociais/
cotidianas
influenciam
as esco
lhas
das/dos docentes sobre
qu
ais sistemas
mobilizar nas aulas que
leciona
m,
o que nos faz refletir sobre
a importância dos cursos de formação continuada
ampliarem os repertórios d
as
tecnologias digitais em rede
das/os docentes
-
cursistas para além
dos sistemas mais conhecidos
, não
foca
liza
ndo a apresentação de suas
funcionalidades
numa
abordagem instrumental e tecnicista
, mas sim
seus usos
contextualizados
em
práticas
educativas.
“
Temos um instrumental
à
disposiç
ão, porém uma ferramenta apenas não me torna
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Felipe CARVALHO
e
Mariano PIMENTEL
RIAEE
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Revista Ibero
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Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
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mais eficiente enquanto educador. Torna
-
se
necessária
uma concepção mais ampla para
compreender o ensinar em tempos de pandemia e após a pandemia, na sala presencialmente
ou de forma remota
”
. Co
ncordamos com ess
a reflexão,
não
há uma tecnologia mágica capaz de
transformar a docência;
trata
-
se
da concepção didático
-
pedagógica
colocada em ação
por meio
de, hibridizada,
e
com as tecnologias
digita
is
em rede
, que bem caracterizam o nosso tempo
independentemente da mo
dalidade
educacional
: remota, a distância
, híbrida
ou presencial
.
Princípio 4
–
Aprendizagem colaborativa, em rede
No
curso,
buscamos criar um ambiente de colaboração entre as/os docentes
-
cursistas,
de tal maneira que todas/os se percebessem como parte de uma turma e percebessem que
também aprendem pela troca com as/os colegas.
Por exemplo, n
a Aula
7
, trabalhamos com
dinâmicas c
olaborativas em que as/os docentes foram organizadas/os em pequenos grupos e
cada grupo ficou reunido numa sala
online
para elaborar uma apresentação sobre as
potencialidades e dificuldades da aprendizagem colaborativa, e
,
em seguida
,
todos foram
reunidos
novamente numa única sala
online
para cada grupo
discutir seus apontamentos com
a
turma. Nessa aula,
emergiram
muitas
narrativas
sobre as dificuldades
de
promover a
colaboração em sala de aula: “
Percebo ainda que alguns alunos, por serem tímidos, ficam qua
se
que invisíveis nesses momentos de participação
”;
“
Temos ótimas concepções, mas o que
realmente é viável para sala de aula? Transpor a aula para o celular e propor atividades
através
dele
contribuindo para uma sala
de aula mais focada,
porém colaborativa
e plena de
discussões
é
praticamente um milagre!
”.
Também emergiram narrativas sobre
a
importância da
colaboração
enquanto
exercício da democracia,
para potencializar
a convivência com as
diferenças
, a abertura ao diálogo
e
a construção de laços sociais,
rompendo
/
superando a lógica
d
a aprendizagem
individualista.
“
Pude perceber que posso dividir a turma em grupos para
tornar possível a colaboração todos
-
todos. Percebo que as ferramentas digitais são nossas
aliadas e o processo de
ensino/aprendizagem é
,
em essência
,
interativo e colaborativo
”
.
Se a
operacionalização da colaboração no ensino remoto pode ser vista por algumas/alguns docentes
como algo difícil, “praticamente um milagre”, a experiência no curso possibilitou
descobrir/co
nstruir algumas possibilidades para a sua efetivação.
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Ressignificações de práticas docentes no ensino superior com base nos princípios da educação
online
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
v. 17, n.
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3079
-
3096
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. 2022
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Princípio 5
–
Conversação entre todos, em interatividade
E
m todas as aulas
,
promove
mos
a
conversação
entre todas/os
,
seja de forma síncrona
durante os encontros remotos,
seja
de forma assíncrona
pelo
s murais, fóruns ou mensagens
trocadas pelo AVA e pelo grupo do
WhatsApp
.
Na Aula
8
,
discutimos
a importância da
s
situações conversacionais
no processo formativo
.
Sabemos
que promover a conver
saç
ão
nas
aulas
não
é uma tarefa fácil
, conforme
narrou uma
professora
:
A cada aula tento, ainda com pouco sucesso, promover a conversação e a
interatividade entre os discentes
;
vejo que a timidez ou a falta de engajamento
são barreiras que impedem a participação mais ativa. Fica, também, o desafio
para mim, enqu
anto docente, de procurar formas mais entusiastas de
,
através
da mediação docente
,
incentivar uma participação mais próxima entre os
discentes. Porém, na minha última aula, fiquei muito satisfeita com a
participação da turma, vi um engajamento muito maior
da turma, houve
maior interatividade e até mesmo uma aprendizagem colaborativa, com
relatos de experiências vividas ao longo do semestre
.
Nesse relato, a
professora nos cont
ou
suas
tentativas
para
operacionalizar
mais
a
conversação e
a
interatividade
em su
as aulas
, um desdobramento do que vínhamos trabalhando
no curso
.
“
O curso me fez repensar sobre como posso abrir mais esses espaços para discussão.
[...]
P
osso criar um grupo no Whats
A
pp para fazer isso de modo mais contínuo
.
”
.
É certo
que
precisamos inventar
práticas
para
efetivar uma aula mais
dialógica
, o que requer muita
experimentação para conseguir fomentar a conversação em
cada
contexto formativo,
sempre
compreendendo que
a
educação autêntica
“não se faz de ‘A’ para ‘B’ ou de ‘A’
sobre ‘B’, mas
de ‘A’ com ‘B’, mediatizados pelo mundo
”
(FREIRE, 1970, p.
48).
Princípio 6
–
Atividades autorais
online
No curso foram propostas diversas
atividades autorais,
promovendo
tanto
a
autoria
crítica (como analisar os aspectos positivos e negativos
de cada princípio
da educação
online
)
quanto
a
autoria criadora (como criar um novo plano de aula guiado pelos princípios).
Dedicamos a Aula
9
para
a discussão da
autoria no processo formativo.
Muit
a
s/
os docentes
reconhecem a importância da autoria, ainda que reconheçam alguns desafios para a sua
efetivação
: “
Consegui fazer com que os alunos produzam algo (texto, maquete) tanto no
presencial como no remoto, mas ainda considero pouco
”; “
Quanto às ativi
dades autorais e
coautorais, é visível que nem todos têm o mesmo engajamento nas atividades, é preciso sempre
estimular a turma, realmente isso é uma coisa que temos que exercitar dia após dia
”; “
Entendo
que os estudante
s
devem buscar tornarem
-
se mais prot
agonistas do que coadjuvantes neste
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Felipe CARVALHO
e
Mariano PIMENTEL
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processo, pois a autoria sempre tem demonstrado resultados positivos, não em todos
infelizmente
”.
Essas narrativas nos fizeram atentar que o investimento em práticas autorais, que
oportunizam o pensamento crítico e criat
ivo e valorizam
os saberes das/dos discentes
, requer
engajamento e comprometimento com a formação
não só por parte das/dos docentes
,
mas
também
das/
dos discentes.
Princípio 7
–
Mediação docente
online
para colaboração
Em todas as aulas
,
buscamos
realizar uma
mediação docente
ativa,
dialogando com a
turma
os conteúdos
,
com participação
-
intervenção
,
cocriação,
promovendo debates,
dinamizando a colaboração
etc.
Esse tipo de mediação se contrapõe à mediação reativa, em que
a/o docente fica disponível
para tirar dúvidas das/dos discentes.
N
a
Aula 10
, conversamos
sobre
isso
.
Um professor considerou:
A mediação docente ativa considero um grande desafio para nossa cultura
escolar transmissiva. Pois, imersos na cultura da instrução, utilizamos o
tempo de
aula para que os estudantes leiam texto e façam exercício para
verificarmos se os alunos expressam o que aprenderam. As gerações atuais
não suportam esse tipo de lição, que precisam ler, encontrar a resposta certa
e escrever a resposta. Eles gostam de cria
r e construir, porém, eles logo
percebem que a escola não é um ambiente criativo, que valoriz
e
a
individualidade.
É
aí que a mediação ativa do docente é importante
,
para
conduzir o potencial criativo des
s
es alunos. Busco mobilizar autoria crítica,
no entanto, observo que nas turmas dos primeiros semestres, os estudantes
acolhem bem as propostas e são criativos nas suas elaborações, enquanto que
as turmas dos semestres mais avançados ou finais, não tem o me
smo olhar
sobre as atividades e costumam reclamar com qualquer novidade ou algo que
eles não estavam habituados a fazer
.
Essa narrativa
ratifica
a importância da mediação docente ativa em todo o processo
formativo, do início ao fim. Pode parece
r
despropositado
ou redundante
discutirmos a
importância da mediação
docente
em um curso
para
professoras/es
–
o propósito é alertar para
o
rápido
avanço da
pedagogia cibertecnicista
no ensino superior
, que
tem
efetiva
do
a arte de
ensinar sem professor
as/
es
, com mediação didática algoritmizada, dataficada, gamificada,
realizada pelas plataformas computacionais usadas como máquinas de ensinar
(PIMENTEL;
CARVAL
HO, 2021
a
).
Esse alerta serve para
fomentar uma
refle
xão
sobre a qualidade d
a
mediação
que cada um
/a
vem
pr
a
tica
ndo
em seus
contextos formativos.
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Ressignificações de práticas docentes no ensino superior com base nos princípios da educação
online
RIAEE
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Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
v. 17, n.
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. 2022
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Princípio 8
–
Avaliação formativa e colaborativa
No curso
, foram propostos
cinco
instrumentos para avaliar as competências
desenvolv
idas pelas/os cursistas
:
uma prova
sobre
os princípios da educação
online
(
conhecimento
, o saber teórico
)
;
o projeto de elaborar
um plano de aula
com base nos
princípios
da educação
online
(habilidade, o
saber
-
fazer);
bem como a
presença nos encontros,
o
estudo
de conteúdos selecionados e
a
participação nas atividades
propostas (atitude,
o
engajamento no
processo de estudo
). Os instrumentos de avaliação foram apresentados e discutidos com
todas/os, sendo
q
ue
o peso de cada instrumento na nota final
foi
negociado com a turma (poderia
inclusive ter peso zero)
–
com essa ação,
estabelecemos
um
“
contrato social
”
para
o processo
de
avaliação da turma
:
“
Me inspirou muito a forma de estabelecer o
‘contrato social’ para
percentuais de avaliações
”.
Conforme
discutido
na Aula 11
,
a
s avaliações
no curso
foram
realizadas em cada aula, de maneira contínua, concebidas numa perspectiva formativa.
A
o
aprofundarmos com as/os
docentes
a discussão
da
avaliação
,
emergiram inúmeros debates e
relatos da própria prática:
“
Aqui aprendi a fazer uma avaliação formativa de verdade, mais
‘justa’. Meu método era aplicar prova e posteriormente uma recuperação aos que
necessitarem
”
. Uma outra professora narrou:
Há uns doi
s anos já tentava fazer com que os alunos trouxessem o portfólio
como instrumento de construção do conhecimento, na perspectiva de
entusiasmar o conhecimento próprio, onde eles poderiam ir construindo seus
saberes e dissertando a partir do que eles entendi
am do tema proposto. O que
também denota, ainda que em pequena escala, as atividades de autoria. No
início, presencial e com uso de papel, acho que os discentes não
compreenderam muito essa forma de avaliação, por não estarem
acostumados
.
A
gora no modo
remoto, tenho trazido esse instrumento em
todas as componentes curriculares que ministro e percebo que, com utilização
de plataformas e sites (ambiências computacionais diversas) os alunos
tiveram uma ressignificação desse tipo de atividade, por entenderem
ser uma
avaliação formativa, feita a cada momento, uma vez que agora não aplico
mais as provas bimestrais que antes, no presencial, eram instrumentos
cotidianos. Ainda quero promover uma avaliação baseada em competências,
com utilização de rubricas, que e
ra uma ferramenta que eu não compreendia,
mas acredito que agora esteja mais clar
o
, bem como tentarei fazer mais
atividades onde poderei aplicar uma avaliação colaborativa.
Essa
s
narrativa
s
compartilhada
s
pel
as/os
docente
s
nos
alertaram para o fato d
e
a
prova ainda
ser um instrumento de avaliação muito utilizado no ensino superior, e nos levaram a
refletir
sobre
os processos de busca/apropriação/invenção de instrumentos de avaliação alternativos à
prova nos diferentes contextos formativos, uma necessidade
imposta a muitos docentes durante
o ensino remoto
(
PIMENTEL; CARVALHO, 2021
b
).
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Felipe CARVALHO
e
Mariano PIMENTEL
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Americana de Estudos em Educação,
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v. 17, n.
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https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.15567
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Sobre a
ressignificação das pr
áticas docentes
C
onversamos
com as/os docentes
sobre
o que os princípios
da educação
online
contribuíram para
a ressignificação d
as
práticas educativas
del
as
/
e
s
.
Foi um grande desafio, para mim, conduzir uma turma no ensino remoto
emergencial. Nós tivemos formações ano passado, mas foram pautadas mais
pel
as ferramentas e
pelo
desenvolvimento de sequências didát
icas. Este curso
proporcionou uma reflexão sobre meu modo de ensinar, não só através da
rede, mas para o presencial também”
Considerando que sou uma profissional da educação desde o ano de 1980,
tenho uma formação extremamente tradicional. Ao longo de mi
nha carreira
,
tenho buscado me atualizar e atender aos desafios que se apresentam a cada
tempo. Com
esse
intuito me matriculei neste curso. O contexto atual exige de
nós
,
profissionais da educação
,
aperfeiçoamento constante. Nesse sentido, a
abordagem do c
urso sobre os princípios da educação online foi de grande
importância e valia para a minha formação enquanto docente, até porque
possuo uma formação bem tradicional em termos pedagógicos: este novo
contexto permeado pelas aulas online é totalmente novo par
a mim.
Aos
poucos, na medida em que vou assimilando e aprofundando os conhecimentos
relativos aos princípios, devo implementar as diversas técnicas expostas ao
longo do curso
.
Essa narrativa da história de vida e formação docente
nos
leva
ao
entendimento
de que
“ter acesso ao modo como cada pessoa se forma é ter em conta a singularidade da sua história
e sobretudo do modo singular como age, reage e interage com os seus c
ontextos” (MOITA,
2014, p. 115).
C
ompreendemos
que
,
no contexto pandêmico
e de ensino remoto, com relação à
“
formação permanente dos professores, o momento fundamental é a reflexão crítica sobre a
prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima
prática” (FREIRE, 1996, p. 43).
A part
ir
das
experiências vividas
com as/os docentes participantes desta pesquisa e
formação
,
pudemos ter
acesso
a
fragmentos
das
ressignificações
das
práticas educativas
,
sobretudo
as
relacionadas
às
aulas que
est
a
s/
e
s profissionais
lecionam
, como as
repensaram
,
atualiza
ra
m e
lhes
atribu
íram
novos
/outros
sentido
s
.
As experiências vividas nos fornece
ra
m
indícios para ponderar
que
as
ressignificações são constituídas por múltiplos processos de
estranhamentos, por práticas reflexivas
de si
e pela
desconstrução de
algumas
certezas,
reconstrução d
os
pressupostos teórico
-
epistêmico
-
metodológicos e
a
construção
de
novos
/outros
saberes doce
ntes
.
Compreendemos que as ressignificações
s
ão
decorrentes: da
implica
ção
com a
própria
formação
–
como me vejo enquanto docente
hoje
e de
que
forma aprimoro ainda mais o
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Ressignificações de práticas docentes no ensino superior com base nos princípios da educação
online
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Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
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exercício da minha profissão
, que tipo de discente pretendo formar
;
do desejo
–
que docente
quero ser, tornar
-
m
e
(autoformação)
;
e
da vida cotidiana
–
que se apresenta,
nos
exige agir,
tomar posições
e
produzi
r
deslocamentos, como temos visto agora com a pandemia
(ecoformação)
.
Notamos que,
nos processos
de
ressignificações das
próprias
práticas
educativas,
as/os docentes
narraram suas inquietações,
manifest
a
ra
m
seus dilemas relacionados
ao
seu ensinar
online
,
(
re
)discutiram
a
s
abordage
ns
didático
-
pedagógica
s
,
compartilharam
conquistas e
dificuldades
com nova
s
/outras
práticas
e
busca
ra
m
construir respostas para seus
questionamentos e inquietações
com o coletivo
–
colegas docentes de turma
-
instituição e
docentes
-
formadores (heteroformação)
.
A
s
ressignificações
das práticas educativas das/
d
os docentes
mostra
ra
m
a potência da
formação
continuada
d
as/
d
os formadoras/es
universitári
as/
os
.
Compreendemos
que
não é
suficiente estudar conteúdos (textos e
lives
);
a
s
ressignificações
se faz
em
principalmente pela
experiência vivida,
praticada
, discutid
a e
refletida, por meio da interatividade,
com muita
autoria, partilhas, conversação e
negociação de sentido
s
.
“
Ao longo das aulas, pude refletir
sobre as minhas práticas em sala de aula e começar a me apropriar dos princípios da educação
online”
; “
Eu ache
i a didática [do curso] muito interessante e vou me inspirar, especialmente,
porque traz muito diálogo para as aulas. Já estou tentando estabelecer mais diálogo, sempre
tentando promover uma educação mais aberta e interativa
”
.
Concluímos que
a
f
orma
ção
continuada d
as/
os formador
as/
es precisa ser
experiencial
(MACEDO,
2010
),
requer
vivenciar
outras
abordagens
didático
-
pedagógicas
que
possibilit
e
m
problematizar
-
teorizar
as
próprias
prática
s
,
repensá
-
las
e
ressignificá
-
la
s
, o que
e
xige
abertura
,
disposição
e muito diálogo com
a/
o outr
a/
o
.
A
criação de espaços colaborativos
mediados
mostrou
-
se
fundamental para que as/os docentes
realizassem movimentos em direção a uma
ressignifi
cação
d
as práticas,
sentindo
-
se segur
as/os
para falar de suas inquietações, dilemas,
receios e desejos,
compartilh
ando suas impressões, dúvidas, experimentações e achados
.
Considerações finais
Neste relato de
pesquisa
, buscamos compreender como as/os docentes
universitárias/os
ressignificaram a
s suas práticas educativas com base n
a discussão sobre
os princípios da
educação
online
. Com
pree
ndemos que
ess
a
abordagem
de
educação e seus
princípios
são
importantes
ferramentas/
meios teóricos, epistemológicos e práticos que contribuem para
repensar a fo
rmação das/
d
os formadores (docentes universitários)
.
F
ic
ou
evidente a urgência
de políticas públicas que amplie
m
os espaços
de formação
pedagógica
continuada
para
docentes
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Felipe CARVALHO
e
Mariano PIMENTEL
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
v. 17, n.
4
, p.
3079
-
3096
,
out./dez
. 2022
.
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.15567
3094
universitárias/os
e
ampliem a
infraestrutura material e digital
de docentes e discentes
para a
efetivação
de práticas
didático
-
pedagógicas
com suporte das tecnologias digitais em rede,
em
sintonia com o tempo presente, com
nossa cultura contemporânea
, a cibercultura
.
Compreendemos qu
e “pesquisa
-
com a experiência” (MACEDO, 2015) nos possibilitou
problematizar a formação
docente universitária
, que
se encontra
atravessada
/
marcada pela
pandemia da
C
ovid
-
19,
pela
ausência
de investimento
s
e
pela
precarização do trabalho docente.
A pesquisa
-
com a experiência nos
possibilitou
conhecer
e refletir no coletivo sobre
as práticas
do
centes compartilhadas por elas/es,
acompanhar
como cada docente atribui
u
novos sentidos à
própria prática educativa
,
ressignifica
ndo
-
a
.
Concluímos
este texto
salientando que a
epistemologia da prática “[...] permite
identificar espaços privilegiados de práticas e experiências de convivência entre sujeitos
interagindo dialogicamente numa coletividade” (THERRIEN, 2006,
p.
72)
, e, a partir dela,
tecer
n
ovas
/outras
teorizações com
base no experienciado
-
vivido
e
nas
singulares
constitutivas
de
cada docente.
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Ressignificações de práticas docentes no ensino superior com base nos princípios da educação
online
RIAEE
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Revista Ibero
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Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
v. 17, n.
4
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3079
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3096
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A
cesso em: 30 set. 2021.
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Felipe CARVALHO
e
Mariano PIMENTEL
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Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
v. 17, n.
4
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3079
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ISSN: 1982
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5587
DOI:
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3096
THERRIEN, J. Os saberes da racionalidade pedagógica na sociedade contemporânea.
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https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/educativa/article/view/75. Aces
so em: 09 nov. 2021.
Como referenciar este artigo
CARVALHO
,
F
.
; PIMENTEL, M
.
Ressignificações de práticas docentes no ensino superior
com base nos princípios da educação online
.
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em
Educação
, Araraquara, v. 17, n. 4, p.
3079
-
3096
, out./dez. 2022. e
-
ISSN: 1982
-
5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.15567
Submetido em
:
29
/
09
/
202
1
Revisões requeridas em
:
25/
02
/202
2
Aprovado em
:
14/
09
/2022
Publicado em
:
30/
12
/2022
Processamento e editoração: Editora Ibero
-
Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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Resignificaciones de
las
prácticas docentes en educación superior basadas en principios de educación en línea
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Revista Ibero
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Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
v. 17, n.
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ct./
d
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DOI:
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3083
RESIGNIFICACIONES DE LAS PRÁCTICAS DOCENTES EN EDUCACIÓN
SUPERIOR BASADAS EN PRINCIPIOS DE EDUCACIÓN EN LÍNEA
RESSIGNIFICAÇÕES D
E
PRÁTICAS DOCENTE
S
NO ENSINO
SUPERIOR COM
BASE NOS
PRINCÍ
PI
OS DA EDUCAÇÃO ONLINE
RESIGNIFICATIONS OF TEACHING PRACTICES IN HIGHER EDUCATION BASED
ON ONLINE EDUCATION PRINCIPLES
Felipe CARVALHO
1
Mariano PIMENTEL
2
RESUMEN
:
En este artículo, reportamos una experiencia en un curso de formación realizado
con el objetivo de
desarrollar competencia en preparar una clase basada en los Principios de
Educación en Línea. A través del curso, buscamos comprender cómo los profesores
universitarios dan un nuevo significado a sus prácticas educativas en línea. Elegimos la
epistemología
de la práctica y la investigación con la experiencia docente para reflexionar sobre
las narrativas de los docentes a lo largo del curso, especialmente las relacionadas con las clases
que los docentes imparten, cómo las repensaron, actualizaron y les diero
n nuevos significados.
Entendemos que las resignificaciones se dan a través de múltiples procesos de extrañamiento,
prácticas autorreflexivas, deconstrucción de una mentalidad, reconstrucción de supuestos
teórico
-
epistémico
-
metodológicos y construcción de
nuevos conocimientos docentes.
Concluimos que la discusión sobre la educación en línea y sus principios tiene el potencial de
dar un nuevo significado a las prácticas de los docentes.
PALABRAS CLAVE:
Formación de profesores. Educación en línea. Prácticas
educativas.
Enseñanza de la
educación superior
. Enseñanza remota.
RESUMO
:
Neste artigo, relatamos uma experiência em um curso
voltado para
desenvolver a
competência
de professoras/es universitárias/os
em desenhar uma aula com base nos
Princípios da Educação Online.
B
uscamos compreender como
as/os
docentes ressignificam
suas práticas educativas em tempos de
educação
mediad
a
por tecnologias
.
Movimentamo
-
nos
pela epistemologia da prática e da pesquisa
com
a experiência docente para r
efleti
r
sobre as
narrativas que emergiram no curso, principalmente as relacionadas às aulas que as/os
docentes dão, como as repensaram, atualizaram e
lhes
atribuíram novos
/outros
sentidos.
Compreendemos que as ressignificações s
ão constituídas por múltiplos processos de
estranhamentos, por práticas reflexivas de si, pela desconstrução de algumas certezas,
reconstrução dos pressupostos teórico
-
epistêmico
-
metodológicos e
pela
construção de
novos
/outros
saberes docentes. Concluímos
que a
discussão sobre
educação online e seus
1
Universidad Estatal de
Rio de Janeiro
(
UERJ
)
, Rio de Janeiro
–
RJ
–
Brasil.
Doctorado en Educación
.
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0001
-
7398
-
6171.
E
-
mail:
felipesilvaponte@gmail.com
2
Universidad Federal del Estado de
Rio de Janeiro
(
UNIRIO
)
, Rio de Janeiro
–
RJ
–
Brasil.
Profesor Adjunto en
el Departamento de Informática Aplicada.
Doctor
ado
en Informática
(PUC
-
Rio).
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0003
-
4370
-
9
944
. E
-
mail: pimentel.mariano@gmail.com
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Felipe CARVALHO
y
Mariano PIMENTEL
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Revista Ibero
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Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
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https://doi
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3084
princípios
têm
potencial para a
ressignifica
ção
das práticas
das/os formadores
no ensino
superior
.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Formação docente
.
E
ducação online
.
P
ráticas educativas
.
D
ocência do
ensino superior
.
E
nsino remoto
.
ABSTRACT
:
In this article, we report an experience in a training course conducted with the
aim of developing competence in designing a class based on the Principles of Online Education.
Through the course, we seek to understand how university professors give new mea
ning to their
online
educational practices. We chose the epistemology of practice and research with the
teaching experience to think about the teachers' narratives throughout the course, especially
those related to the classes that the teachers give, how t
hey rethought, updated and gave them
new meanings. We understand that resignifications occur through multiple processes of
estrangement, self
-
reflective practices, the deconstruction of a mindset, reconstruction of
theoretical
-
epistemic
-
methodological assu
mptions and construction of new teaching
knowledge. We conclude that the discussion about online education and its principles have the
potential to give new meaning to teachers' practices.
KEYWORDS:
Teacher training.
Online
education.
Educational
practice
s.
Higher
education
teaching.
Remote
teaching.
Problematizaciones iniciales
El día en que se anuncia la primera muerte por Covid
-
19 en Brasil
3
,
Las clases
presenciales fueron reemplazadas por "clases en medios digitales, [...] utilizar los
medios y
tecnologías de la información y la comunicación", según lo dispuesto en
la Ordenanza
nº
.
343
del Ministerio de Educación (MEC) publicado el 17 de marzo de 2020 (BRASIL, 2020).
El
escenario pandémico reconfiguró todo el sistema educativo. Las desig
ualdades en las
condiciones de enseñanza
-
aprendizaje se han dilatado aún más. El trabajo docente tuvo que
llevarse a cabo en una emergencia, con poca planificación, en una situación precaria. Se ha
vuelto urgente garantizar la inclusión digital
-
cibercultur
al y la formación continua de los
formadores. Las universidades públicas brasileñas suspendieron las clases para prepararse para
la educación a distancia, tomando medidas para garantizar el acceso a Internet de todos los
estudiantes y ofreciendo cursos de
capacitación continua sobre enseñanza remota de
emergencia. En los meses siguientes, todos los profesores universitarios tuvieron sus primeras
experiencias en esta modalidad inventada en tiempos de crisis sanitaria. Con la nueva forma de
enseñar, surgieron
inquietudes y dilemas.
3
Disponible en: https://g1.globo.com/sp/sao
-
paulo/noticia/2021/03/17/anuncio
-
da
-
primeira
-
morte
-
por
-
covid
-
19
-
no
-
brasil
-
completa
-
um
-
ano.ghtml. Acceso: 30 sep
t
. 2021.
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Resignificaciones de
las
prácticas docentes en educación superior basadas en principios de educación en línea
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Revista Ibero
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Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
v. 17, n.
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3085
En este artículo, relatamos una experiencia en un curso de educación continua ofrecido
a distancia a profesores de una universidad pública brasileña durante el primer semestre de
2021. El objetivo del curso fue desarrollar la compet
encia de los formadores en el diseño de
una clase basada en los
Principios de la Educación en Línea
, que se discutirá en las siguientes
secciones. A través del curso, buscamos entender cómo los profesores universitarios entienden
sus prácticas educativas e
n tiempos de enseñanza remota.
La educación
en línea
y sus principios: teorizaciones sobre la formación del profesorado
universitario
Educación
en línea
(
SANTOS
,
201
9
)
no se refiere a ninguna clase para tecnologías de
redes digitales.
Es un enfoque didáctico
-
pedagógico específico, una metodología específica y
contextualizada que se inspira en las prácticas de la cibercultura para (re)pensar los procesos de
enseñanza
-
apre
ndizaje, que se pueden experimentar en la modalidad remota, a distancia (
EaD
),
híbrida y presencial.
La educación
en línea
se
opone a la pedagogía cibertécnica, que es una
"pedagogía instruccionista, masiva, algoritmizada/automatizada, plataformizada, gami
ficada,
dataificada, uberizada" (
PIMENTEL; CARVALHO, 2021
a
).
La educación
en
línea
surge
de la revolución que nuestra sociedad ha estado viviendo.
Si el siglo pasado estuvo marcado por los medios de comunicación, que efectúan la transmisión
de información en el modelo "uno para todos", en este siglo nuestra cultura contemporánea está
marcada
por la comunicación en red
,
en línea
,
postmasiva, todos conectados con todos. Esta
reconfiguración basada en la interactividad, en la que los sistemas informáticos en red mejoran
la colaboración, la conversación y la (co)autoría, nos lleva a repensar que e
l aula requiere un
cambio fundamental en la relación conversacional entre profesor y alumnos y la relación de los
estudiantes entre sí (
SILVA,
2021
).
La educación
en línea
puede caracterizarse por algunos principios (PIMENTEL;
CARVALHO, 2020): "el conoc
imiento como una obra abierta", posible de ser re
-
pensado y co
-
creado en un movimiento sin fin; "curación de contenido
en
línea
", en el que el profesor y los
estudiantes seleccionan, organizan y comparten contenido sobre el tema estudiado;
"diversos
ambie
ntes computacionales", en los que varias tecnologías de redes digitales se apropian en el
contexto educativo, además del entorno virtual de aprendizaje (AVA);
"aprendizaje
colaborativo, en red", en el que el conocimiento se teje en el colectivo, de forma c
olaborativa,
valorando los conocimientos múltiples de cada alumno de la clase; "conversación entre todos,
en interactividad", en la que se promueve el diálogo entre todos y no sólo el dictado
-
hablar del
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Felipe CARVALHO
y
Mariano PIMENTEL
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Araraquara,
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maestro;
"actividades de derecho de autor inspiradas
en las prácticas de la cibercultura", en las
que es oportunista que el estudiante aplique
-
transforme los conocimientos apre(e)ndidos,
resignificándolos; "mediación docente
en línea
para la colaboración", en la que el
profesor
desempeña el papel de grupo y
mediador del conocimiento que se está tejiendo en el colectivo;
y "evaluación formativa y colaborativa", en la que la evaluación para el aprendizaje se lleva a
cabo continuamente, en cada clase, a través de las actividades de derechos de autor llevadas a
cabo por los estudiantes, conversaciones y otras pistas que dejan en los sistemas
en línea
.
Se
han propuesto los principios de la
educación
en línea
para apoyar a los profesores en la
planificación y conducción de las clases. Trabajamos estos principios en los cursos de
formación del profesorado.
La formación del profesorado se lleva a cabo de diferentes maneras: los profesores
pueden formarse a sí mi
smos (autoformación); formarse en la relación con los demás
(heteroformación); y formar a través de las cosas y su comprensión crítica (ecoformación)
(NÓVOA, 2004). Sobre todo, entendemos que "nadie se forma en el vacío. La formación
significa intercambio,
experiencia, interacciones sociales, aprendizaje, una relación sin fin"
(MOITA, 2014, p. 115
,
nuestra traducción
). Por lo tanto, entendemos la formación de los
formadores "como un proceso en el que el profesor construye su caminar, al hacerlo, se presenta
como un acto dinámico de experiencias subjetivas, percepciones, opiniones y singularidades
creadas colectivamente" (SANTOS, 2015, p. 43
,
nuestra traducción
).
Compartimos la idea de que la formación es un proceso existencial. "No se explica por
las lógica
s de los
modelos teóricos,
no se
deduce, se entiende, se explica
en su
acontecer con
el Ser existente en
formación,
reflexionando/narrando sobre su formación y el 'ser formado'"
(MACEDO, 2010, p. 32
,
nuestra traducción
).
Acrescentamos que “a formação e
m si, como
experiência de um
Ser
que aprende, aparece em ato e em sentido” (MACEDO, 2010, p. 32
,
nuestra traducción
)
.
Se lleva a cabo en "múltiples redes educativas" (ALVES, 2012), como la
escuela, la universidad, los cursos de educación continua, la famil
ia, el trabajo, el movimiento
social,
las redes sociales
en línea
,
los museos, etc.
El entrenamiento ocurre a través de la experiencia. La formación experiencial se
constituye a través de múltiples procesos ético
-
estético
-
políticos experienciales que se han
desarrollado en la construcción de unos, en lo que nos hemos convertido y dicho se
r como
docentes, repercutiendo en nuestras prácticas educativas.
Entendemos que la formación del profesorado "[...] formación para el ejercicio de una
profesión. La profesionalización docente es algo que se construye, apoyándose en
conocimientos diversos" (D'ÁVILA; SONNEVILLE, 2008, p. 41
,
nuestra traducción
).
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Resignificaciones de
las