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O brincar possível em tempos de isolamento: O desenvolvimento das funções psíquicas superiores da memória e da imaginação
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1254-1271, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16055
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O BRINCAR POSSÍVEL EM TEMPOS DE ISOLAMENTO: O
DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES PSÍQUICAS SUPERIORES DA MEMÓRIA
E DA IMAGINAÇÃO
LOS JUEGOS POSIBLES EN TIEMPOS DE AISLAMENTO: EL DESARROLLO DE
LAS FUNCIONES PSÍQUICAS SUPERIORES DE LA MEMORIA Y LA
IMAGINACIÓN
POSSIBLE PLAY IN TIMES OF ISOLATION: THE DEVELOPMENT OF SUPERIOR
PSYCHOLOGICAL FUNCTIONS OF MEMORY AND IMAGINATION
Aline Patricia Campos Tolentino de LIMA
1
Joana de Jesus de ANDRADE
2
RESUMO
: Este estudo busca investigar o desenvolvimento das funções psíquicas superiores
da memória e da imaginação no momento da brincadeira de faz de conta. A pesquisa está
fundamentada na Psicologia Histórico-Cultural que contempla o desenvolvimento das funções
psíquicas superiores, considerando que o processo de desenvolvimento cultural da criança é o
alicerce para a constituição das funções psíquicas. Partindo desse referencial teórico, a pesquisa,
de cunho qualitativo, foi realizada com os seguintes recursos metodológicos: investigação
participativa e a observação. Com este estudo, foi possível ampliar a discussão teórica sobre
como se constituiu a brincadeira de faz de conta mesmo em um momento de isolamento e
distanciamento social no cotidiano da Educação Infantil, contribuindo para o desenvolvimento
da memória e da imaginação.
PALAVRAS-CHAVE
: Funções psíquicas superiores. Memória. Imaginação. Brincadeira de
faz de conta.
RESUMEN
: Este estudio busca investigar el desarrollo de las funciones psíquicas superiores
de la memoria y la imaginación durante los juegos de fantasía. El objetivo general de esta
investigación fue analizar a partir de la investigación participativa el desarrollo de las
funciones psíquicas superiores de la memoria y la imaginación. La investigación se basa en la
psicología Histórico-Cultural que aborda un estudio amplio sobre el desarrollo de las
funciones psíquicas superiores, considerando que el proceso de desarrollo cultural del niño es
la base para la constitución de las funciones psíquicas. A partir de este marco teórico la
investigación cualitativa se realizó con los siguientes recursos metodológicos: la investigación
participativa y la observación. Con este estudio, fue posible ampliar la discusión teórica sobre
cómo se constituyeron los juegos de fantasía incluso en un momento de aislamiento y
1
Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto – SP – Brasil. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em
Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6834-7209. E-mail: alinetolentino@usp.br
2
Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto – SP – Brasil. Docente do Departamento de Química e
Educação. Doutorado em Educação (UNICAMP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6161-2209. E-mail:
joanaj@ffclrp.usp.br
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Aline Patricia Campos Tolentino de LIMA e Joana de Jesus de ANDRADE
RIAEE
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Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1221-1238, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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distanciamiento social en la vida cotidiana de la Educación Infantil, contribuyendo al
desarrollo de la memoria y la imaginación.
PALABRAS CLAVE
: Funciones psíquicas superiores. Memoria. Imaginación. Juego de
fantasía.
ABSTRACT
:
This study aims to investigate the development of superior psychological
functions of memory and imagination during role-play. The general aim of this research was
to analyze the development of superior psychological functions of memory and imagination
through participatory investigation. The research is based on historical-cultural psychology
which encompasses a broad study on the development of superior psychological functions,
considering that the process of cultural of the child is the foundation for the constitution of
psychic functions. Based on this theoretical background, this qualitative research was
conducted with the following methodological resources: participatory investigation and
observation. Through the study, it was possible to broaden the theoretical discussion of how
role-play was set up, even in moments of isolation and social distancing in the routine of
Children’s Education, contributing to the development of memory and imagination.
KEYWORDS
:
Superior psychological functions. Memory. Imagination. Role-play.
Introdução
A brincadeira é a atividade pela qual a criança se apropria do mundo ao seu redor
(ELKONIN, 2009; VIGOTSKI, 2010)
3
. E, ao adentrar neste mundo, a criança tem em seu corpo
a possibilidade primeira de contato e, ao mesmo tempo em que ultrapassa os limites do corpo,
delimita, organiza e cria seu mundo psíquico, seu eu. A imbricada relação entre corpo, mundo
e o outro é uma tríade que não se define em descrições isoladas, senão pela imensidão de
possibilidades de inter-relação que constrói agora um novo mundo.
Mas as ações naturais e naturalizadas do brincar infantil, assim como das interações
sociais de maneira geral, foram completamente alteradas pelo advento da pandemia do Sars-
Cov2. A pandemia da doença Covid-19 impactou o mundo, as relações e, especialmente, as
crianças, que, sem ver o vírus, sem entender como ou porque um toque poderia ser perigoso,
foram (re)significando uma série de informações/ações/relações. Nas escolas, o retorno parcial
às aulas, a partir do segundo semestre de 2021, foi marcado pela emergência de “novos
normais” nessas relações. Para um retorno seguro foi necessário que as unidades escolares
seguissem os protocolos de segurança estabelecidos no Guia elaborado pelo Ministério da
3
A grafia do nome de Lev Semionovich Vigotski neste texto será feita utilizando as traduções mais atuais
diretamente da língua russa, que utilizam apenas a letra ‘i’ e não mais a letra ‘y’, como acontece nas traduções do
inglês ou do espanhol. Nas referências do texto, serão utilizadas as grafias originais de cada publicação.
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Saúde em nosso país, que contempla, por exemplo, o distanciamento social de um metro entre
as pessoas (crianças e adultos), o uso de máscaras, higienização periódica das mãos, não
utilização de objetos e restrição de uso de espaços coletivos. Nesse contexto, as interações entre
as crianças se constituíram de uma forma completamente diferente. E, se por mais de um ano
elas não puderam se tocar ou trocar objetos entre si, agora o “quase normal” vai sendo refeito
num misto de olhares desconfiados, ansiosos, mas ainda sob uma fiscalização adulta que as
crianças nem sempre entendem muito bem.
Assim, a imensidão de possibilidades de inter-relação que construiria um novo mundo
vai se moldando a situações menos diversificadas. E os questionamentos que surgem a partir
deste cenário são muitos: será que as crianças brincaram menos? Como e com quem brincaram?
Com que linguagens, objetos e brincadeiras? Por quais transformações passaram suas
percepções e conceitualizações? Enfim, como se desenvolveram e como tem sido o retorno às
atividades presenciais nas escolas?
Tais questionamentos, que têm a função aqui de suscitar reflexões, apontam para uma
das principais premissas da abordagem Histórico-cultural, que é a inter-relação entre biologia
e cultura. Ao afirmar que os processos mentais, que incluem sensações, percepções, linguagem,
memória, imaginação e raciocínio lógico, não devem ser considerados aspectos isolados da
psique ou do cérebro humano, Luria (1976/2017), com base em Vigotski (1932/1996), destaca
a complexidade da relação entre o biológico, o psicológico e o cultural. E, a partir da
consideração do funcionamento cerebral como um conjunto de sistemas funcionais complexos,
os autores colocam em foco que o estudo do desenvolvimento humano deve contemplar a
dinamicidade e a interfuncionalidade como premissas para qualquer interpretação.
Como pano de fundo, a investigação busca entender a construção de significados como
u
m “lugar”/“espaço-tempo” de expressão deste desenvolvimento, considerando que os sentidos
dos instrumentos e signos de sua cultura vão sendo ressignificados no ato de brincar. Ou seja,
a centralidade da cultura construída previamente ao nascimento da criança é fundamental para
definir o desenvolvimento das próximas gerações. Sobre isso, com base em Vigotski, Duarte
(2000) afirma que a relação adulto-criança é a fonte que impulsiona o desenvolvimento cultural
da criança e seria este o diferencial com o desenvolvimento orgânico. Isso porque, em termos
filogenéticos, diferentemente dos ontogenéticos, não havia alguém “mais evoluído” para que a
espécie humana se relacionasse e aprendesse, mas isso ocorre em termos ontogenéticos, ou seja,
a criança interage com pessoas que vivenciam uma cultura, hábitos e linguagens que vão então
balizando seu desenvolvimento cultural. Segundo Duarte (2000), “Isso torna extremamente
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Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1221-1238, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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complexa a análise do desenvolvimento infantil e põe no centro dessa análise a questão da
educação, pois tal desenvolvimento é fruto do processo educativo” (p. 106).
Isto posto, destaca-se que o fundamento do presente artigo é o estudo do
desenvolvimento humano de crianças em fase pré-escolar, portanto, entre quatro e cinco anos
de idade, no cotidiano de instituições de Educação Infantil, considerando um corpo em inter-
relação com o outro e com os objetos do mundo, num momento pós isolamento social. E, como
forma de circunscrever a investigação, apresentam-se aqui os resultados do estudo dos
processos de significação que abarcam o desenvolvimento das funções psíquicas superiores,
especificamente da memória e da imaginação em situações do cotidiano escolar. Para a
elaboração deste artigo foi realizado um recorte de uma pesquisa de campo tendo como
objetivos principais: analisar como as crianças se apropriam das funções psíquicas superiores
da memória e da imaginação no momento das brincadeiras de faz de conta.
O desenvolvimento das funções psíquicas da memória e da imaginação
O bebê humano é o mais frágil dos mamíferos e é totalmente dependente da
solidariedade e do cuidado de seus semelhantes, pois não consegue sobreviver por conta própria
(PINO, 2005). Desde o início ele precisa do outro para se desenvolver e se constituir como ser
(cultural) humano. Linhares e Facci (2021) destacam que “[...] as pesquisas sobre o
desenvolvimento do cérebro nos animais permitem afirmar que, geralmente, as novas
edificações acontecem a partir dos níveis do estágio anterior, e que para cada desenvolvimento
decisivo biológico existe uma mudança na estrutura e nas funções do sistema nervoso.” (p. 33).
No caso dos outros animais as mudanças evolutivas são estudadas a partir dos dados
filogenéticos, no plano biológico, enquanto nos seres humanos as mudanças extrapolam o plano
biológico e ocorrem de forma evidente no plano cultural, espaço no qual a evolução parece não
ter limites, e que é descrita por Vigotski (1932/1996) como sendo o lugar das revoluções.
Assim:
O curso da evolução biológica do homem termina antes de começar o
desenvolvimento histórico. As tentativas de explicar a forma de pensar do
homem não se fixam mais nas particularidades morfofisiológicas transmitidas
por hereditariedade, mas no trabalho que inaugura um novo dinamismo de
transmissão das conquistas às novas gerações (LINHARES; FACCI, 2021, p.
33).
O nascimento de um bebê humano não é, deste modo, apenas um acontecimento
bi
ológico, mas também um acontecimento social. De acordo com Vigotski (1932/1996), o
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desenvolvimento acontece a partir dos chamados planos genéticos: a
filogênese
define
características de nossa espécie como viver em grupo, a bipedia, sermos mamíferos etc. A
ontogênese
descreve a história do desenvolvimento do indivíduo em sua espécie, e um exemplo
deste plano genético seria o fato da criança, após certo período de tempo (de meses a um ou
dois anos) provavelmente se sentar para depois aprender a engatinhar e andar. Ambos os planos
genéticos estariam relacionados aos aspectos biológicos do desenvolvimento. O terceiro plano
seria a
sociogênese
,
que diz respeito ao desenvolvimento do ser humano a partir do seu meio
social e cultural – os costumes da sociedade em que o sujeito está inserido. E o quarto plano
seria a
microgênese
,
que é “[...] a história do desenvolvimento de processos psíquicos
particulares de dada pessoa junto a outras num intervalo de tempo relativamente curto”
(DELARI, 2009, p. 29). De acordo com Linhares e Facci (2021, p. 32):
A história real do desenvolvimento do psiquismo humano reflete a história da
complexificação da vida em sociedade, sendo que o psiquismo humano só
pode ser explicado na qualidade de construção social. A historicidade do ser
humano relacionado às funções psíquicas superiores, expressa características
que distinguem o homem como pertencente ao gênero humano.
Ao considerar o “nascimento” humano a partir dos diferentes planos genéticos, podemos
pensar que os elementos da cultura acabam, de fato, delineando o modo como estes nascimentos
vão acontecendo. Neste sentido, o domínio da natureza (enquanto aspecto “externo”) e da
própria conduta (enquanto aspecto “interno”) estão estritamente relacionados, pois a alteração
da natureza por parte do homem altera, por sua vez, a própria natureza do homem (VIGOTSKI,
1932/1996). Esta é a base marxista do pressuposto dialético de toda a Psicologia Histórico-
Cultural (SOUZA, 2016).
A relação mediada com o mundo, marcada pelo instrumento e pelo trabalho,
materializa-se nas ações propositadas, conferindo assim a instrumentalidade semiótica também
da atividade humana sobre si e o mundo. Na ação instrumental, entre o objeto e a operação
psicológica dirigida, de acordo com a psicologia Histórico-Cultural, surge um novo
componente: o instrumento psicológico, que provoca o desenvolvimento de uma série de
funções novas, as chamadas Funções Psíquicas Superiores (FPS). A sequência ou quantidade
das FPS aparecem na obra de Vigotski de forma espraiada
4
. Aqui, convencionamos delimitar
em: atenção, percepção, linguagem, memória, emoções, raciocínio-lógico e imaginação. De
4
Informações sobre as diferentes nomeações são sumarizadas no diagrama elaborado por Achilles Delari e
disponível em site próprio do autor: http://www.estmir.net/diagrama-para-funcao-psiquica-superior.html. Acesso
em: dez. 2021.
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Aline Patricia Campos Tolentino de LIMA e Joana de Jesus de ANDRADE
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Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1221-1238, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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acordo com Delari (2011, p. 24), a origem social é “[...] a força motriz e o princípio explicativo
da gênese das funções psíquicas propriamente humanas”.
Como forma de organização do estudo dos termos, que não deve se confundir com a
compreensão do fenômeno em si, serão abordadas as FPS da memória e da imaginação como
pressupostos para a discussão de situações reais, complexas e multifacetadas.
De acordo com a Psicologia Histórico-Cultural, a memória, enquanto fenômeno de
apropriação e rememoração de informações, existe desde muito cedo no desenvolvimento da
criança e se desenvolve com o tempo, de uma forma “oculta” relativamente às outras funções.
O desenvolvimento da memória é tão complexo que não podemos representá-la de forma linear,
pois ela subsidia todas as outras funções, sustentando sempre novas formas de experienciar o
mundo.
Os estudos comparativos da memória humana, realizados pela Psicologia Histórico-
Cultural, revelam que mesmo em estágios mais primitivos do desenvolvimento social existem
dois tipos fundamentalmente diferentes de memória. Uma delas, dominante no comportamento
de povos primitivos, se caracteriza pela retenção das experiências reais como base dos traços
de memória: esse tipo de memória está muito próximo da percepção, pois surge como
consequência da influência direta dos estímulos externos (LURIA, 1976/2017). A memória
como produto do desenvolvimento social é uma organização nova, que evolui a partir da cultura
elaborada do comportamento humano. Um exemplo de operações simples como fazer um nó
ou marcar em um pedaço de madeira com a finalidade de ajudar na memorização modificam a
estrutura psicológica do processo de memória (VIGOTSKI, 2007).
As funções elementares têm como característica fundamental o fato de serem
total e diretamente determinadas pela estimulação ambiental. No caso das
funções superiores, a característica essencial é a estimulação autogerada, isto
é, a criação e o uso de estímulos artificiais que se tornam a causa imediata do
comportamento (VIGOTSKI, 2007, p. 33).
Esse fato, por si só, é suficiente para demonstrar a característica fundamental das formas
superiores de comportamento. Na forma elementar alguma coisa é lembrada; na forma superior
os seres humanos lembram alguma coisa (VIGOTSKI, 2007, p. 50).
De modo também diferenciado, Vigotski e Luria destacam a complexidade da chamada
função psíquica da imaginação. Ela é definida como uma função de natureza aglutinadora, e
sobre ela Vigotski afirma:
[...] é errado considerar a imaginação como uma função especial entre outras
funções, como uma forma de atividade cerebral do mesmo tipo, que se repete
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regularmente. A imaginação deve ser considerada como uma forma mais
complexa de atividade psíquica, como a união real de várias funções e suas
peculiares relações (VIGOTSKI, 1983, p. 436).
O autor destaca que a imaginação é uma função psíquica superior que está relacionada
diretamente com todas as outras funções psíquicas superiores, como a memória, a linguagem
oral, a percepção e as emoções, mas que não se assemelha ou equivale às suas “somas”, mas se
aproxima da conceituação de síntese nos termos hegelianos ou de mônada em termos
espinozianos.
A função psíquica da imaginação representa um potencial da atividade criadora que
possibilita ao homem planejar, projetar e construir suas próprias condições de existência
(SMOLKA; NOGUEIRA, 2011). Assim sendo, com exceção da natureza, tudo que nos cerca
foi feito pelo homem, sendo produto da sua imaginação e da criação como produto da
capacidade plástica do cérebro, que não apenas conserva e reproduz as experiências, mas
combina e o reelabora de forma criadora.
A imaginação, apesar de seu caráter de aparente repetição, não pode ser confundida com
a função psíquica superior da memória. Como Vigotski (1983) afirma, existe uma diferença
importante entre o restante das formas de atividade psíquica humana e a imaginação, que é seu
caráter de novidade. Ou seja, a imaginação não é apenas uma repetição de combinações e
formas de impressões isoladas, acumuladas anteriormente, mas sim um fenômeno que
reconstitui novas séries, a partir das impressões acumuladas anteriormente.
A atividade da memória consiste na aparição, na consciência humana, de cenas vividas
anteriormente e que nem sempre têm relação com um motivo novo para a sua reprodução. Já
na atividade da imaginação, que está estritamente relacionada com a atividade da memória,
quando opera com as imagens anteriores se diferencia por ser uma atividade criativa, fazendo
surgir novas combinações. A imaginação é a base da atividade que permite representar de forma
totalmente nova as imagens e impressões registradas pela atividade da memória, em uma nova
combinação de todas as impressões acumuladas anteriormente (VIGOTSKI, 1995/1983). Nesse
sentido, imaginar pode ser entendido como uma transformação da atividade da memória que
abarca tanto a lembrança, a reprodução, a presentificação, quanto a criação do novo.
As capacidades de reprodução e criação, bem descritas por Vigotski
(2009) em
Imaginação e criação na infância, consideram ainda os aspectos biológicos destes processos. E,
apesar dos incipientes trabalhos do início do século XX, vividos por Vigotski e Luria, havia em
seus escritos o apontamento fundamental para a os estudos do funcionamento do cérebro neste
processo. Para além da contribuição aos campos da Psicologia e da Educação, o autor contribui
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significativamente para o campo das Neurociências, embrionárias à época, mas que atualmente
têm tido papel cada vez mais contundente nos estudos sobre desenvolvimento humano em seu
sentido mais amplo. Para Vigotski (2009, p. 14) “O cérebro não é apenas o órgão que conserva
e reproduz nossa experiência anterior, mas também o que combina e reelabora, de forma
criadora, elementos da experiência anterior, erigindo novas situações e novo comportamento”.
Em um período em que o conceito de plasticidade cerebral ainda era bastante singelo, tal
afirmação lançava luz e mostrava caminhos futuros que estão sendo trilhados até hoje.
A brincadeira de faz de conta como fonte do desenvolvimento infantil
O desenvolvimento infantil, desde o seu início, é marcado pelas relações estabelecidas
com o outro e com o mundo, marcadas por um complexo processo de construção de significados
e sentidos. A criança é apresentada ao mundo pelo outro, que vai possibilitando a exploração
via palavras/gestos e objetos, construindo novas vontades e necessidades. Por meio das
mediações que a interação proporciona, a criança irá se constituir e colocar-se no mundo
(ARCE; DUARTE, 2006). A brincadeira surge como fruto desses processos de interação
mediados pelo outro e proporciona à criança agir sobre o mundo e, assim, atribuir sentidos
tentando compreender/classificar/nomear/organizar o que a cerca.
Para Leontiev (2010), a brincadeira não é instintiva, é uma atividade objetiva porque
constitui a base da percepção que a criança tem do mundo, dos objetos e das relações humanas
que determinam o conteúdo de suas brincadeiras de faz de conta. Essas percepções suscitaram
na criança uma necessidade de agir como o adulto, de agir da maneira que ela vê os outros
agirem, da maneira que lhe disseram, e assim por diante (LEONTIEV, 2010). Segundo o autor,
a criança quer, ela mesma, dirigir o carro, remar um barco sozinha, realizar as atividades que
ela sabe que são possíveis, mas que, de todo modo, ela ainda não consegue. Porém, na atividade
lúdica, por meio da imaginação e da brincadeira de faz de conta, ela consegue satisfazer suas
vontades e necessidades.
A brincadeira pode criar a impressão, para quem está “de fora”, de que a criança “perdeu
a noção” da realidade. Porém, é exatamente o contrário, pois na brincadeira a criança já é capaz
de se comparar ao adulto e por meio da representação dos papéis se perceber criança
(BATISTA; SILVA; PASQUALINI, 2021, p. 87).
Para Elkonin (2009), qua
ndo a criança adota um nome próprio, prepara-se para o
aparecimento do papel no jogo, ou seja, o exercício de estar no lugar de outro, fazendo ou
imitando ações de um outro mais “competente” que ela, é um passo fundamental para o
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desenvolvimento do psiquismo, pois representa o exercício da vida adulta, com as nuances de
regras e hábitos diferentes daquela que ela conhece e vivencia.
Apenas entre dois anos e meio e os três anos de idade que a criança começa a representar
um papel e assumir-se como outro. Elkonin (2009) caracteriza esse comportamento a partir de
duas séries de fatores, as quais observou por meio de seus experimentos em relação ao jogo de
papéis. A primeira seria quando a criança coloca no brinquedo o nome de uma personagem,
representando-o de modo diferente. A segunda característica seria quando a criança começa a
falar em nome do brinquedo. Essas ações podem se repetir muitas vezes com o mesmo objeto,
sem mudar o conteúdo.
A criança, a partir do jogo de papéis, conhece o mundo ao seu redor e as regras de
convivência social, formando uma atividade orientadora. O jogo de papéis faz com que a
criança aprenda o significado dos objetos e ao mesmo tempo as suas funções sociais
(ELKONIN, 2009). Vigotski (2008) afirma que a criança aprende a agir em função do que tem
em mente, ou seja, do que está pensando, mas não está visível, apoiando-se nas tendências e
nos motivos internos. A situação lúdica permite, assim, que as representações deem espaço para
o aparecimento de regras externas (coletivas) e regras internas (individuais) de comportamento.
Assim, quanto mais elaborado for o jogo de papéis, maior a possibilidade de criação, interação,
imaginação e argumentação. Assim,
A brincadeira é fonte do desenvolvimento e cria a zona de desenvolvimento
iminente
5
. A ação num campo imaginário, numa situação imaginária, a
criação de uma intenção voluntária, a formação de um plano de vida, de
motivos volitivos – tudo isso surge na brincadeira, colocando-a num nível
superior de desenvolvimento, elevando-a para a crista da onda e fazendo dela
a onda decúmana do desenvolvimento na idade pré-escolar, que se eleva das
águas mais profundas, porém relativamente calmas (VIGOTSKI, 2008, p. 35).
A brincadeira cria uma zona de desenvolvimento iminente, ou seja, no momento do
brincar a criança pode assumir ações de uma criança de maior idade (VIGOTSKI, 2008). A
brincadeira, como uma lente de aumento, permite que haja um salto no desenvolvimento da
criança.
5
Em algumas traduções para o português também é utilizado o termo zona de desenvolvimento proximal, zona de
desenvolvimento próximo e zona de desenvolvimento iminente, que foi escolhido para este estudo por trazer a
ideia de proximidade e possibilidade ao mesmo tempo.
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Aspectos metodológicos
O principal instrumento metodológico da pesquisa de campo é a investigação
participativa e observação. Ao pesquisador cabe observar a criança observando, cabe analisar
os diferentes modos de participação e reconstruir o processo, analisando os detalhes de
significação e de apropriação vivenciados pela criança. Tal pressuposto sustenta que a criança
assume um papel ativo na observação, na descrição, na interpretação, agindo, assumindo-se
como um sujeito, com um papel ativo e transformador no processo de pesquisa, sendo sua voz
e a sua ação social aspectos centrais para o processo de desenvolvimento das dinâmicas da
investigação (FERNANDES; MARCHI, 2020).
Com relação ao percurso metodológico, gostaríamos de destacar dois aspectos: o
primeiro é a centralidade e respeito às crianças enquanto sujeitos ativos e participativos do
processo, e o segundo refere-se à constatação da limitação das interpretações aqui apresentadas.
O inacabamento das análises é tido, portanto, como parte integrante do processo mesmo de
investigar e entender ou pressupor como o outro atribui significados, considerando que a
imaginação e memória têm sido um exercício constante.
Para Qvortrup (2011), a infância deve ser entendida como uma categoria social
permanente, uma categoria social em que todas as crianças ocupam este lugar (de diferentes
grupos étnicos, econômicos, gênero entre outros), e que sempre será ocupada por crianças, pois
as crianças crescem e se transformam em adultos, mas logo outras crianças virão. É um processo
permanente da sociedade humana. Um conceito importante para a discussão da metodologia do
estudo com crianças, discutido tanto por Qvortrup (2011) quanto por Castro (2001), refere-se à
invisibilidade da infância que, historicamente, é “encoberta” pelas famílias ou pela instituição
escolar; e isso implica no fato de que geralmente não nos colocamos no lugar da criança para
falar sobre seu mundo. Mas, do nosso mundo de adultos, falamos como a criança deve estar
pensando, como agiu, como representou etc. Este apontamento faz com que repensemos o lugar
da criança na pesquisa, para que se possa priorizar justamente a participação e escuta das
crianças em pesquisas de campo.
Tendo como aporte teórico a Psicologia Histórico-C
ultural, a pesquisa, além de
promover um estudo sobre o desenvolvimento das funções psicológicas superiores no momento
do jogo de papéis, também se preocupa em trazer a opinião das crianças sobre suas brincadeiras
preferidas. Por isso a discussão abrange conceitos teóricos da sociologia da infância, justamente
para fundamentar e elucidar as escolhas metodológicas da pesquisa.
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O brincar possível em tempos de isolamento: O desenvolvimento das funções psíquicas superiores da memória e da imaginação
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1254-1271, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16055
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Como é colocado por Corsaro (2005), as crianças se desenvolvem individualmente, mas
ao longo deste desenvolvimento o processo coletivo do qual fazem parte também está em
mudança. Entendemos como mudanças justamente considerar a criança como capaz e
participativa nas suas próprias escolhas, ressignificando ativamente a prática social. Ferreira
(2005) também destaca a importância de considerarmos as crianças como atores sociais, pois
elas reconstroem e ressignificam através de múltiplas e complexas interações com os pares,
com interesses e modos de pensar, agir e sentir capazes de gerar relações diferenciadas como
um grupo social. Demartini (2009) ressalta ainda a importância de que cada vez mais, em
tempos atuais, pesquisadores e professores aprendam a ouvir as crianças e jovens. Cabe ao
pesquisador ter esse olhar atento às diferentes formas de manifestação e especificidades da
criança, considerando suas histórias de vida e seu contexto.
Para que isso possa acontecer efetivamente, o estudo foi realizado com atenção às
formas participativas das crianças no cotidiano da Educação Infantil, tendo o momento do
brincar de faz de conta como objeto de estudo central. A pesquisa de campo foi autorizada pelo
Comitê de Ética com número de parecer 4.235.627, e teve início em março de 2021. Os sujeitos
que participaram desta pesquisa de campo foram trinta e cinco crianças com faixa etária de
cinco a seis anos, em duas instituições de Educação Infantil de uma cidade do interior do estado
de São Paulo. A pesquisa de campo foi realizada durante duas horas por dia e as visitas
aconteceram duas vezes por semana, durante o primeiro semestre de 2021.
A pesquisadora produziu um vídeo informativo sobre a pesquisa de campo, que foi
encaminhado aos pais e responsáveis pelo grupo de interação da escola com as famílias no
aplicativo
Telegram
. As crianças que foram autorizadas pelos responsáveis a participar da
pesquisa de campo foram convidadas a conversar com a pesquisadora, que apresentou a elas o
termo de assentimento. Durante a conversa entre as crianças e a pesquisadora foi perguntado se
elas gostariam de participar da pesquisa, respeitando todos os critérios éticos da realização de
pesquisa com crianças.
Durante todo o processo de pesquisa de campo a pesquisadora registrou, por meio de
fotografias, vídeos e diário de campo, o cotidiano da volta à escola após um período de
isolamento social (devido à pandemia da Covid-19).
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Apresentação e análise dos dados
Neste artigo será apresentado um recorte da pesquisa de campo, com foco em uma
reflexão sobre os aspectos de aparente “não interação” entre as crianças. O registro aconteceu
no dia 14 de março de 2021: havia oito crianças presentes na sala de aula e cada criança estava
em sua mesinha com blocos coloridos de montar. O contexto foi registrado pela pesquisadora
por vídeo e no diário de campo.
A professora organizou as mesas das crianças respeitando as normas de distanciamento
social de 1,5m de distância de forma individual. As crianças manuseavam individualmente seus
blocos quando uma das crianças se levantou e começou a utilizar um bloco como se fosse um
telefone.
Figura 1
– Registro fotográfico “
Brincadeira do telefone
”
Fonte: Elaborado pelas autoras
Segue abaixo a transcrição do vídeo, que tem duração de um minuto e três segundos. Os
nomes utilizados para apresentação dos dados são fictícios, para garantir o sigilo e o anonimato
dos participantes desta pesquisa.
EPISÓDIO 1-
“Brincadeira de telefone”
(6. dia, 14/03/2018, gravador de vídeo)
(1)
Beatriz: Bi, bi, bi, bi, bi, bi [...] (
imitando o som de um telefone tocando
).
(2)
Bruno: Oi Beatriz, tudo bem? Beatriz? Beatriz? [...] (
Bruno estava do outro
lado da sala e tentou se comunicar com a Beatriz, mas não teve resposta
).
(3)
Beatriz: Bi, bi, bi, bi, bi, bi [...] (
continua imitando o som do telefone
chamando
).
(4)
Maria Cecília: Alô, quem é?
(5)
Beatriz: Oi, tudo bem? É a Beatriz, o que você está fazendo?
(6)
Maria Cecília: Eu estou ligando para você, uai.
(7)
Bruno: Eu estou trabalhando.
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(8)
Professora: Hora de pegar a garrafa de água (
a brincadeira é interrompida
).
No episódio nomeado como
“Brincadeira de telefone”
, a professora havia entregado
blocos de montar para as crianças e a Beatriz foi a primeira a montar um telefone. No registro
fotográfico é possível ver as crianças manuseando o monta-monta e a Beatriz em pé segurando
o seu telefone, logo depois as outras crianças também construíram um telefone e começaram a
conversar uns com os outros.
Notamos no episódio acima que, mesmo com as regras estabelecidas pelo
distanciamento social, por meio da função psíquica superior da imaginação e da brincadeira de
faz de conta, as crianças encontram uma forma de interagir e comunicar. A “
brincadeira do
telefone”
começa pela Beatriz, porém, aos poucos, os outros colegas da turma também
constroem um telefone para se comunicar entre eles, estabelecendo uma relação entre o grupo
de crianças.
Colussi (2016) afirma que as interações infantis no momento do jogo de papéis
favorecem o desenvolvimento global das crianças pois, nessas brincadeiras, as crianças
constituem sua personalidade, aprendem a agir diante das coisas e das pessoas, uma vez que as
ações práticas que realizam em suas figurações estruturam processos internos que orientam
outras ações práticas. Assim, desenvolvem mais autonomia e complexificam os processos
internos por meio do exercício da imaginação e da memória, enriquecimento e aprimoramento
das funções psicológicas superiores.
Ainda acerca do episódio acima, a partir da brincadeira de faz de conta as crianças
representam uma vivência que tem sido um canal de comunicação muito utilizado pelos adultos
neste momento de pandemia. O uso do telefone aqui tem funções aparentemente paradoxais: as
crianças estão distantes pouco mais de um metro, ou seja, podem se falar presencialmente, mas
elas subvertem este fato e criam uma situação que certamente é o motivo da criação, pelos
adultos, do instrumento técnico e semiótico telefone: a distância e a necessidade de
comunicação.
Em termos interpretativos poderíamos inferir aqui que o termo “distância” é um dos
pr
incipais conceitos elaborados pelas crianças. Elas têm ouvido sobre ficarem distantes e não
se encostarem durante todo este período de pandemia. Então elas sabem que a distância tem
alguma função relativa à cuidado, à preservação da vida, à perigo. Como uma esponja
(VIGOTSKI, 2010), este termo vai sendo significado de várias formas. Mas, ao mesmo tempo,
nessa brincadeira uma grande distância foi completamente inventada para que pudesse sustentar
uma interação. Assim, uma comunicação real aqui é inventada, imaginada, presentificada,
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significada por meio desta subversão. O telefone aqui representa a distância, mas, também, a
comunicação e o contato.
Na situação criada as crianças reconstituem uma vivência, representam o mundo adulto
e fazem isso lembrando dos gestos e falas de um contexto que não é o da sala de aula. Elas
criam uma situação por meio do uso de imagens em ação, ou seja, a imaginação é a prática de
transformar um objeto qualquer em algo com significado social (o telefone). Elas falam os
termos/palavras e entonações usadas pelos adultos e com isso repetem, mas também criam
formas de interação, novas maneiras de se relacionar. Pelo fato de estarem ao lado umas das
outras, a função adulta do instrumento telefone não teria sentido real, no entanto, elas não o
usam porque precisam, mas sim porque é possível, porque querem repetir os adultos
(LEONTIEV, 2010).
Na interpretação de relações sociais, que é uma característica fundamental na atividade
simbólica, a criança atribui significações aos papéis interpretados, que partem das relações do
mundo que a cerca, sendo que o jogo de papéis se intensifica por volta dos cinco anos, atingindo
o seu nível máximo (ELKONIN, 2009).
A atividade da criança no jogo tende a representar diversas ações (nadar, lavar
a roupa, cozinhar etc.). Representa-se a própria ação. Assim começam os
jogos-ações. A atividade das crianças adquire caráter construtivo: aparecem
os jogos de alvenaria e construção, nos quais tampouco costuma haver papéis.
Por último, destacam-se os jogos protagonizados, nos quais a criança produz
uma ou outra imagem. Esses jogos têm dois rumos visíveis: jogos de
encenação, quando a criança dirige o brinquedo (ou seja, ela atua por
intermédio do brinquedo) e jogos em que o papel é interpretado pessoalmente
pela própria criança (faz de mamãe, de aviador etc.) (ELKONIN, 2009, p.
237).
No decorrer da brincadeira de faz de conta “[...] as coisas, os brinquedos e o ambiente
recebem significados lúdicos concretos que se conservam durante todo o jogo. As crianças
jogam juntas e as ações de uma criança estão ligadas às outras” (ELKONIN, 2009, p. 243). Isso
pode ser identificado no episódio apresentado neste estudo, pois as crianças representaram na
“
brincadeira de telefone”
uma forma de interagirem e se comunicarem, mesmo com o
distanciamento social que foi estabelecido pelos adultos.
Foi possível perceber que as crianças, a partir da vivência da brincadeira, desenvolveram
a
s suas funções psíquicas superiores, como, por exemplo: a memória, ao reconstituírem uma
situação do seu cotidiano por meio da imaginação; a linguagem oral, ao se comunicarem; e suas
emoções, ao demonstrarem interesse em saber como o colega estava. Conforme já mencionado,
no desenvolvimento infantil, a memória é uma das funções psíquicas centrais. É a função que
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organiza todas as outras funções, desempenhando um papel decisivo em todas as construções
mentais (VIGOTSKI, 2009), como foi possível ver na reconstituição da brincadeira de telefone.
A brincadeira relaciona-se diretamente com as experiências cotidianas da criança e
depende, portanto, das condições sociais oferecidas. Mesmo as regras presentes nas situações
imaginárias são derivadas do mundo real, estabelecendo uma relação dialética entre imaginação
e realidade (FARIA; HAI, 2020).
Na infância, no processo de humanizar-se, a brincadeira de faz de conta colabora no
processo de separar o significado da palavra do objeto, inicia o processo de separação entre
ideia e objeto. Não é mais o objeto que guia a ação, mas a ação, de acordo com as regras, começa
a ser determinada pelas ideias, e isso leva a uma mudança radical das estruturas psicológicas
que determinam a relação da criança com a realidade (PRESTES, 2016).
Considerações finais
Devemos considerar, de acordo com a Psicologia Histórico-Cultural, que as funções
biológicas que um indivíduo traz ao nascer são essenciais, mas não são suficientes para garantir
sua sobrevivência e a sua vida em sociedade. Para constituir-se como sujeito é necessário que
ele interaja com um grupo social e, a partir das experiências vividas coletivamente, construa
ativamente as funções psicológicas superiores, que caracterizam o funcionamento tipicamente
humano pelas relações sociais que vão se estabelecendo neste processo de humanizar-se.
A brincadeira de faz de conta possibilita o desenvolvimento pleno da criança de forma
s
ignificativa a partir do seu entorno social, vivências e experiências que podem ser
representadas na atividade simbólica. Como foi possível analisar neste estudo, o brincar de faz
de conta contribui de forma significativa para o desenvolvimento das funções psíquicas
superiores da memória e da imaginação, por isso é importante que ele, mais do que estar
presente no cotidiano da Educação Infantil, seja a condição, o motivo, a força motriz da vida
da criança na escola e fora dela. A experiência vivenciada, portanto, pelas crianças, é a base
para a possibilidade de qualquer desenvolvimento. E, para além do cerne do presente texto,
finalizamos apontando para outros aspectos sociais, legais e políticos que devem garantir a
possibilidade dessas experiências. Assim, ressalta-se a importância da constante reanálise dos
espaços e tempos na educação infantil; da preocupação com a disponibilização constante de
recursos pedagógicos adequados, sejam eles blocos de montar ou a própria natureza dentro e
fora da sala de aula. Ressalta-se a premência de que o tempo de brincar seja realmente
compreendido como sendo o lugar por excelência da interação entre as crianças, com menor
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Aline Patricia Campos Tolentino de LIMA e Joana de Jesus de ANDRADE
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interferência direta dos adultos, e que a liberdade de expressão por diferentes formas de
linguagem seja efetivamente garantida no chão da escola, tal como consta nos documentos
legais da educação infantil de nosso país.
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Como referenciar este artigo
LIMA, A. P. C. T. ANDRADE, J. J. O brincar possível em tempos de isolamento: O
desenvolvimento das funções psíquicas superiores da memória e da imaginação.
Revista Ibero-
Americana de Estudos em Educação
, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1221-1238, jun. 2022.
e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16055
Submetido em
:
29/12/2021
Revisões requeridas em
: 13/02/2022
Aprovado em
: 06/04/2022
Publicado em
: 30/06/2022
Processamento e edição: Editoria Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, padronização e tradução.
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Los juegos posibles en tiempos de aislamento: El desarrollo de las funciones psíquicas superiores de la memoria y la imaginación
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1223-1240, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16055
1223
LOS JUEGOS POSIBLES EN TIEMPOS DE AISLAMENTO: EL DESARROLLO DE
LAS FUNCIONES PSÍQUICAS SUPERIORES DE LA MEMORIA Y LA
IMAGINACIÓN
O BRINCAR POSSÍVEL EM TEMPOS DE ISOLAMENTO: O DESENVOLVIMENTO
DAS FUNÇÕES PSÍQUICAS SUPERIORES DA MEMÓRIA E DA IMAGINAÇÃO
POSSIBLE PLAY IN TIMES OF ISOLATION: THE DEVELOPMENT OF SUPERIOR
PSYCHOLOGICAL FUNCTIONS OF MEMORY AND IMAGINATION
Aline Patricia Campos Tolentino de LIMA
1
Joana de Jesus de ANDRADE
2
RESUMEN
: Este estudio busca investigar el desarrollo de las funciones psíquicas superiores
de la memoria y la imaginación durante los juegos de fantasía. El objetivo general de esta
investigación fue analizar a partir de la investigación participativa el desarrollo de las funciones
psíquicas superiores de la memoria y la imaginación. La investigación se basa en la psicología
Histórico-Cultural que aborda un estudio amplio sobre el desarrollo de las funciones psíquicas
superiores, considerando que el proceso de desarrollo cultural del niño es la base para la
constitución de las funciones psíquicas. A partir de este marco teórico la investigación
cualitativa se realizó con los siguientes recursos metodológicos: la investigación participativa
y la observación. Con este estudio, fue posible ampliar la discusión teórica sobre cómo se
constituyeron los juegos de fantasía incluso en un momento de aislamiento y distanciamiento
social en la vida cotidiana de la Educación Infantil, contribuyendo al desarrollo de la memoria
y la imaginación.
PALABRAS CLAVE
: Funciones psíquicas superiores. Memoria. Imaginación. Juego de
fantasía.
RESUMO
: Este estudo busca investigar o desenvolvimento das funções psíquicas superiores
da memória e da imaginação no momento da brincadeira de faz de conta. A pesquisa está
fundamentada na Psicologia Histórico-Cultural que contempla o desenvolvimento das funções
psíquicas superiores, considerando que o processo de desenvolvimento cultural da criança é o
alicerce para a constituição das funções psíquicas. Partindo desse referencial teórico, a
pesquisa, de cunho qualitativo, foi realizada com os seguintes recursos metodológicos:
investigação participativa e a observação. Com este estudo, foi possível ampliar a discussão
teórica sobre como se constituiu a brincadeira de faz de conta mesmo em um momento de
isolamento e distanciamento social no cotidiano da Educação Infantil, contribuindo para o
desenvolvimento da memória e da imaginação.
1
Universidad de São Paulo (USP), Ribeirão Preto
–
SP
–
Brasil. Estudiante de doctorado del Programa de
Posgrado en Educación. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6834-7209. E-mail: alinetolentino@usp.br
2
Universidad de São Paulo (USP), Ribeirão Preto
–
SP
–
Brasil. Profesora del Departamento de Química y
Educación. Doctorado en Educación (UNICAMP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6161-2209. E-mail:
joanaj@ffclrp.usp.br
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Aline Patricia Campos Tolentino de LIMA y Joana de Jesus de ANDRADE
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1223-1240, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16055
1224
PALAVRAS-CHAVE
: Funções psíquicas superiores. Memória. Imaginação. Brincadeira de
faz de conta.
ABSTRACT
:
This study aims to investigate the development of superior psychological
functions of memory and imagination during role-play. The general aim of this research was
to analyze the development of superior psychological functions of memory and imagination
through participatory investigation. The research is based on historical-cultural psychology
which encompasses a broad study on the development of superior psychological functions,
considering that the process of cultural of the child is the foundation for the constitution of
psychic functions. Based on this theoretical background, this qualitative research was
conducted with the following methodological resources: participatory investigation and
observation. Through the study, it was possible to broaden the theoretical discussion of how
role-play was set up, even in moments of isolation and social distancing in the routine of
Children’s Education, contributing to the development of memory and imagination.
KEYWORDS
:
Superior psychological functions. Memory. Imagination. Role-play.
Introducción
El juego es la actividad mediante la cual los niños se apropian del mundo que los rodea
(ELKONIN, 2009; VIGOTSKI, 2010)
3
. Y al entrar en este mundo, el niño tiene en su cuerpo
la primera posibilidad de contacto y, al mismo tiempo más allá de los límites del cuerpo,
delimita, organiza y crea su mundo psíquico, su i. La relación entrelazada entre cuerpo, mundo
y el otro es una tríada que no se define en descripciones aisladas, sino por la inmensidad de
posibilidades de interrelación que ahora construye un nuevo mundo.
Pero las acciones naturales y naturalizadas del juego infantil, así como las interacciones
sociales en general, se vieron completamente alteradas por el advenimiento de la pandemia de
Sars-Cov2. La pandemia de la enfermedad covid-19 impactó en el mundo, en las relaciones y
especialmente en los niños, quienes, sin ver el virus, sin entender cómo o por qué un toque
podía ser peligroso, estaban (re)significando una serie de informaciones/acciones/relaciones.
En las escuelas, el regreso parcial a clases, a partir del segundo semestre de 2021, estuvo
marcado por la aparición de "nuevas normalidades" en estas relaciones. Para un retorno seguro
era necesario que las unidades escolares siguieran los protocolos de seguridad establecidos en
la Guía elaborada por el Ministerio de Salud en nuestro país, que incluye, por ejemplo, el
3
La ortografía del nombre de Lev Semionovich Vigotski en este texto se realizará utilizando las traducciones más
actuales directamente del idioma ruso, que utilizan solo la letra 'i' y ya no la letra 'y', como sucede en las
traducciones de inglés o español. En las referencias del texto se utilizará la ortografía original de cada publicación.
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Los juegos posibles en tiempos de aislamento: El desarrollo de las funciones psíquicas superiores de la memoria y la imaginación
RIAEE
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1223-1240, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16055
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distanciamiento social de un metro entre personas (niños y adultos), el uso de mascarillas, la
higiene periódica de manos, el no uso de objetos y la restricción del uso de espacios colectivos.
En este contexto, las interacciones entre los niños se constituyeron de una manera
completamente diferente. Y si durante más de un año no pudieron tocarse ni intercambiar
objetos entre sí, ahora lo "casi normal" se está rehaciendo en una mezcla de miradas
sospechosas y ansiosas, pero aún bajo una supervisión adulta que los niños no siempre
entienden muy bien.
Así, la inmensidad de posibilidades de interrelación que construirían un nuevo mundo
se está configurando a situaciones menos diversificadas. Y las preguntas que surgen de este
escenario son muchas: ¿jugaron menos los niños? ¿Cómo y con quién jugaste? ¿Con qué
lenguajes, objetos y juegos? ¿Por qué transformaciones han pasado sus percepciones y
conceptualizaciones? Por último, ¿cómo se han desarrollado y cómo ha sido la vuelta a las
actividades presenciales en los centros educativos?
Tales preguntas, que tienen aquí la función de suscitar reflexiones, apuntan a una de las
premisas principales del enfoque histórico-cultural, que es la interrelación entre biología y
cultura. Al afirmar que los procesos mentales, que incluyen sensaciones, percepciones,
lenguaje, memoria, imaginación y razonamiento lógico, no deben considerarse aspectos
aislados de la psique o el cerebro humano, Luria (1976/2017), basada en Vigotski (1932/1996),
destaca la complejidad de la relación entre lo biológico, lo psicológico y lo cultural. Y, a partir
de la consideración del funcionamiento cerebral como un conjunto de sistemas funcionales
complejos, los autores se centran en el estudio del desarrollo humano que debe contemplar el
dinamismo y la interoperalidad como premisas para cualquier interpretación.
Como antecedente, la investigación busca entender la construcción de significados
como un "lugar"/"espacio-tiempo" de expresión de este desarrollo, considerando que los
significados de los instrumentos y signos de su cultura están siendo refirmados en el acto de
tocar. Es decir, la centralidad de la cultura construida antes del nacimiento del niño es
fundamental para definir el desarrollo de las próximas generaciones. Sobre esto, basado en
Vigotski, Duarte (2000) afirma que la relación adulto-niño es la fuente que impulsa el desarrollo
cultural del niño y este sería el diferencial con el desarrollo orgánico. Isso porque, em termos
filogenéticos, diferentemente dos ontogenéticos, não havia alguém “mais evoluído”
para que a
espécie humana se relacionasse e aprendesse, mas isso ocorre em termos ontogenéticos, ou seja,
a criança interage com pessoas que vivenciam uma cultura, hábitos e linguagens que vão então
balizando seu desenvolvimento cultural. Segundo Duarte (2000),
“
Esto hace que el análisis del
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desarrollo infantil sea extremadamente complejo y pone el tema de la educación en el centro de
este análisis, porque dicho desarrollo es el resultado del proceso educativo" (p. 106).
Dicho esto, cabe destacar que el fundamento de este artículo es el estudio del desarrollo
humano de los niños en edad preescolar, por lo tanto, entre los cuatro y cinco años de edad, en
la vida cotidiana de las instituciones de Educación Infantil, considerando un cuerpo en
interrelación con el otro y con los objetos del mundo, en un momento después del aislamiento
social. Y, como una forma de circunscribir la investigación, aquí se presentan los resultados del
estudio de los procesos de significado que abarcan el desarrollo de funciones psíquicas
superiores, específicamente la memoria y la imaginación en situaciones escolares cotidianas.
Para la elaboración de este artículo, se realizó un recorte de una investigación de campo con los
objetivos principales: analizar cómo los niños se apropian de las funciones psíquicas superiores
de la memoria y la imaginación a la hora de hacer-hacer-jugar.
El desarrollo de las funciones psíquicas de la memoria y la imaginación
El bebé humano es el más frágil de los mamíferos y depende totalmente de la solidaridad
y el cuidado de sus pares, porque no puede sobrevivir por sí solo (PINO, 2005). Desde el
principio necesita del otro para desarrollarse y constituirse como un ser humano (cultural).
Linhares y Facci (2021) destacan que "[...] La investigación sobre el desarrollo del cerebro en
animales nos permite afirmar que, generalmente, los nuevos edificios tienen lugar a partir de
los niveles de la etapa anterior, y que para cada desarrollo biológico decisivo hay un cambio en
la estructura y las funciones del sistema nervioso" (p. 33).
En el caso de otros animales, los cambios evolutivos se estudian a partir de datos
filogenéticos, a nivel biológico, mientras que en los humanos los cambios van más allá del
plano biológico y se producen evidentemente a nivel cultural, un espacio en el que la evolución
parece no tener límites, y que es descrito por Vigotski (1932/1996) como el lugar de las
revoluciones. Así:
El curso de la evolución biológica del hombre termina antes de que comience
el desarrollo histórico. Los intentos de explicar la forma de pensar del hombre
ya no se fijan en particularidades morfofisiológicas transmitidas por la
herencia, sino en el trabajo que inaugura un nuevo dinamismo de transmisión
de conquistas a las nuevas generaciones (LINHARES; FACCI, 2021, p. 33).
Por lo tanto, el nacimiento de un bebé humano no es solo un evento biológico, sino
también un evento social. Según Vigotski (1932/1996), el desarrollo tiene lugar a partir de los
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llamados planes genéticos:
La filogénesis
define características
de nuestra especie como la vida
en grupo, la bipedia, ser mamíferos, etc. La
Ontogénesis
describe la
historia del desarrollo del
individuo en su especie, y un ejemplo de este plan genético sería el hecho de que el niño,
después de un cierto período de tiempo (de meses a uno o dos años) probablemente se sentará
para luego aprender a gatear y caminar. Ambos planos genéticos estarían relacionados con los
aspectos biológicos del desarrollo. El tercer plan sería la
sociogénesis
, que se refiere al
desarrollo del ser humano desde su entorno social y cultural, las costumbres de la sociedad en
la que se inserta el sujeto. Y el cuarto plan sería la
microgénesis,
que es "[...] la historia del
desarrollo de procesos psíquicos particulares de una persona dada con otros en un período de
tiempo relativamente corto" (DELARI, 2009, p. 29). Según Linhares y Facci (2021, p. 32):
La historia real del desarrollo de la psique humana refleja la historia de la
complejización de la vida en sociedad, y la psique humana sólo puede
explicarse en la calidad de la construcción social. La historicidad del ser
humano relacionada con funciones psíquicas superiores expresa
características que distinguen al hombre como perteneciente a la raza humana.
Al considerar el "nacimiento" humano desde los diferentes planos genéticos, podemos
pensar que los elementos de la cultura terminan, de hecho, esbozando cómo ocurren estos
nacimientos. En este sentido, el dominio de la naturaleza (como aspecto "externo") y de la
conducta misma (como aspecto "interno") están estrictamente relacionados, porque el cambio
de la naturaleza por parte del hombre altera, a su vez, la naturaleza misma del hombre
(VIGOTSKI, 1932/1996). Esta es la base marxista de la presuposición dialéctica de toda
Psicología Histórico-Cultural (SOUZA, 2016).
La relación mediada con el mundo, marcada por el instrumento y el trabajo, se
materializa en las acciones propositivas, confiriendo así la instrumentalidad semiótica también
de la actividad humana a los demás y al mundo. En la acción instrumental, entre el objeto y la
operación psicológica dirigida, según la psicología histórico-cultural, surge un nuevo
componente: el instrumento psicológico, que provoca el desarrollo de una serie de nuevas
funciones, las llamadas Funciones Psíquicas Superiores (FPS). La secuencia o cantidad de FPS
aparece en la obra de Vigotski de forma suavizada
4
. Aquí, acordamos delimitar en: atención,
percepción, lenguaje, memoria, emociones, razonamiento lógico e imaginación. Según Delari
4
La información sobre las diferentes nominaciones se resume en el diagrama elaborado por Achilles Delari y
disponible en el propio sitio web del autor: http://www.estmir.net/diagrama-para-funcao-psiquica-superior.html.
Acceso: dic. 2021.
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(2011, p. 24), el origen social es "[...] la fuerza motriz y el principio explicativo de la génesis
de las funciones psíquicas propiamente humanas".
Como forma de organizar el estudio de los términos, que no deben confundirse con la
comprensión del fenómeno en sí, los FPS de la memoria y la imaginación se abordarán como
presupuestos para la discusión de situaciones reales, complejas y multifacéticas.
Según la Psicología Histórico-Cultural, la memoria, como fenómeno de apropiación y
rememoración de la información, existe desde una edad muy temprana en el desarrollo del niño
y se desarrolla con el tiempo, de forma "oculta" en relación con otras funciones. El desarrollo
de la memoria es tan complejo que no podemos representarla de manera lineal, porque
subvenciona todas las demás funciones, sosteniendo siempre nuevas formas de experimentar el
mundo.
Los estudios comparativos de la memoria humana, realizados por la Psicología
Histórico-Cultural, revelan que incluso en etapas más primitivas del desarrollo social hay dos
tipos de memoria fundamentalmente diferentes. Uno de ellos, dominante en el comportamiento
de los pueblos primitivos, se caracteriza por la retención de experiencias reales como base de
los rasgos de memoria: este tipo de memoria está muy cerca de la percepción, ya que surge
como consecuencia de la influencia directa de estímulos externos (LURIA, 1976/2017). La
memoria como producto del desarrollo social es una nueva organización que evoluciona a partir
de la elaborada cultura del comportamiento humano. Un ejemplo de operaciones simples como
hacer un nudo o marcar en un trozo de madera con el propósito de ayudar a la memorización a
modificar la estructura psicológica del proceso de memoria (VIGOTSKI, 2007).
Las funciones elementales tienen como característica fundamental el hecho de
que son totales y directamente determinadas por la estimulación ambiental. En
el caso de las funciones superiores, la característica esencial es la estimulación
autogenerada, es decir, la creación y uso de estímulos artificiales que se
convierten en la causa inmediata del comportamiento (VIGOTSKI, 2007, p.
33).
Este hecho por sí solo es suficiente para demostrar la característica fundamental de las
formas superiores de comportamiento. En la forma elemental algo se recuerda; en la forma
superior los humanos recuerdan algo (VIGOTSKI, 2007, p. 50).
También diferenciados, Vigotski y Luria destacan la complejidad de la llamada función
psíquica de la imaginación. Se define como una función unificadora de la naturaleza, y Vigotski
dice al respecto:
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[...] es un error considerar la imaginación como una función especial entre
otras funciones, como una forma de actividad cerebral del mismo tipo, que se
repite regularmente. La imaginación debe considerarse como una forma más
compleja de actividad psíquica, como la unión real de varias funciones y sus
relaciones peculiares (VIGOTSKI, 1983, p. 436).
El autor señala que la imaginación es una función psíquica superior que está
directamente relacionada con todas las demás funciones psíquicas superiores, como la memoria,
el lenguaje oral, la percepción y las emociones, pero que no se asemeja ni igual a sumas, sino
que se acerca a la conceptualización de la síntesis en términos hegelianos o mónada en términos
spinozianos.
La función psíquica de la imaginación representa un potencial de actividad creativa que
permite al hombre planificar, diseñar y construir sus propias condiciones de existencia
(SMOLKA; NOGUEIRA, 2011). Por lo tanto, con la excepción de la naturaleza, todo lo que
nos rodea ha sido hecho por el hombre, siendo el producto de su imaginación y creación como
producto de la capacidad plástica del cerebro, que no solo preserva y reproduce experiencias,
sino que lo combina y reelabora de una manera creativa.
La imaginación, a pesar de su carácter de aparente repetición, no puede confundirse con
la función psíquica superior de la memoria. Como afirma Vigotski (1983), existe una diferencia
importante entre el resto de las formas de la actividad psíquica humana y la imaginación, que
es su carácter de novedad. Es decir, la imaginación no es solo una repetición de combinaciones
y formas de impresiones aisladas, acumuladas anteriormente, sino un fenómeno que
reconstituye nuevas series, a partir de las impresiones acumuladas anteriormente.
La actividad de la memoria consiste en la aparición, en la conciencia humana, de escenas
previamente vividas y que no siempre tienen relación con una nueva razón para su
reproducción. En la actividad de la imaginación, que está estrictamente relacionada con la
actividad de la memoria, cuando opera con imágenes anteriores se diferencia por ser una
actividad creativa, dando lugar a nuevas combinaciones. La imaginación es la base de la
actividad que permite representar de una manera totalmente nueva las imágenes e impresiones
registradas por la actividad de la memoria, en una nueva combinación de todas las impresiones
previamente acumuladas (VIGOTSKI, 1995/1983). En este sentido, la imaginación puede
entenderse como una transformación de la actividad de la memoria que abarca tanto la memoria,
la reproducción, la presentificación y la creación de lo nuevo.
Las habilidades reproductivas y de creación, bien descritas por Vigotski (2009) en
Imaginación y creación en la infancia, también consideran los aspectos biológicos de estos
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procesos. Y, a pesar de las incipientes obras de principios del siglo XX, vividas por Vigotski y
Luria, había en sus escritos la nota fundamental para los estudios del funcionamiento del
cerebro en este proceso. Además de contribuir a los campos de la Psicología y la Educación, el
autor contribuye significativamente al campo de las Neurociencias, embrionarias en su
momento, pero que actualmente han jugado un papel cada vez más contundente en los estudios
sobre el desarrollo humano en su sentido más amplio. Para Vigotski (2009, p. 14) "El cerebro
no es sólo el órgano que preserva y reproduce nuestra experiencia previa, sino también lo que
combina y reelabora, de manera creativa, elementos de la experiencia previa, erigiendo nuevas
situaciones y nuevos comportamientos". En un período en que el concepto de plasticidad
cerebral todavía era bastante simple, tal declaración arrojó luz y mostró los caminos futuros que
se están pisando hasta el día de hoy.
Hacer un juego de cuentas como fuente de desarrollo infantil
El desarrollo infantil, desde sus inicios, está marcado por las relaciones establecidas con
el otro y con el mundo, marcadas por un complejo proceso de construcción de significados y
significados. El niño es presentado al mundo por el otro, lo que permite la exploración a través
de palabras / gestos y objetos, construyendo nuevas voluntades y necesidades. A través de las
mediaciones que proporciona la interacción, el niño se constituirá y se pondrá en el mundo
(ARCE; DUARTE, 2006). El juego surge como resultado de estos procesos de interacción
mediados por el otro y proporciona al niño actuar sobre el mundo y, por lo tanto, atribuir
significados tratando de entender / clasificar / nombrar / organizar lo que lo rodea.
Para Leontiev (2010), el juego no es instintivo, es una actividad objetiva porque
constituye la base de la percepción del niño del mundo, los objetos y las relaciones humanas
que determinan el contenido de sus juegos de fantasía. Estas percepciones despertaron en el
niño la necesidad de actuar como adulto, de actuar de la manera en que ve actuar a los demás,
como le dijeron, y así sucesivamente (LEONTIEV, 2010). Según la autora, la niña quiere
conducir el coche ella misma, remar en un bote sola, realizar las actividades que sabe que son
posibles, pero que, de todos modos, todavía no puede. Sin embargo, en la actividad lúdica, a
través de la imaginación y el juego de fantasía, logra satisfacer sus voluntades y necesidades.
El juego puede crear la impresión, para aquellos que están "afuera", de que el niño ha
"perdido la noción" de la realidad. Sin embargo, es exactamente lo contrario, porque en el juego
el niño ya es capaz de compararse con el adulto y a través de la representación de los roles para
percibir a un niño (BATISTA; SILVA; PASQUALINI, 2021, p. 87).
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Para Elkonin (2009), cuando el niño adopta un nombre propio, se prepara para la
aparición del rol en el juego, es decir, el ejercicio de estar en el lugar de otro, haciendo o
imitando acciones de otro más "competente" que ella, es un paso fundamental para el desarrollo
de la psique, pues representa el ejercicio de la vida adulta, con los matices de reglas y hábitos
diferentes a los que conoce y experimenta.
Solo entre los dos años y medio y los tres años de edad el niño comienza a desempeñar
un papel y a asumirse como otro. Elkonin (2009) caracteriza este comportamiento a partir de
dos series de factores, que observó a través de sus experimentos en relación con el juego de
roles. La primera sería cuando el niño pone el nombre de un personaje en el juguete,
representándolo de manera diferente. La segunda característica sería cuando el niño comienza
a hablar en nombre del juguete. Estas acciones se pueden repetir muchas veces con el mismo
objeto, sin cambiar el contenido.
El niño, a partir del juego de roles, conoce el mundo que le rodea y las normas de
convivencia social, formando una actividad orientadora. El juego de roles hace que el niño
aprenda el significado de los objetos y al mismo tiempo sus funciones sociales (ELKONIN,
2009). Vigotski (2008) afirma que el niño aprende a actuar de acuerdo con lo que tiene en
mente, es decir, lo que está pensando, pero no es visible, apoyándose en tendencias y motivos
internos. La situación lúdica permite, por lo tanto, que las representaciones hagan espacio para
la aparición de reglas externas (colectivas) y reglas internas (individuales) de comportamiento.
Por lo tanto, cuanto más elaborado sea el juego de roles, mayor será la posibilidad de creación,
interacción, imaginación y argumentación. Así
El juego es una fuente de desarrollo y crea la zona de desarrollo inminente
5
.
La acción en un campo imaginario, en una situación imaginaria, la creación
de una intención voluntaria, la formación de un plan de vida, de motivos
volitivos, todo esto surge en juego, colocándolo en un nivel superior de
desarrollo, elevándolo a la cresta de la ola y convirtiéndolo en la ola decúbito
de desarrollo en la edad preescolar, que se eleva desde las aguas más
profundas (VIGOTSKI, 2008, p. 35).
El juego crea una zona de desarrollo inminente, es decir, a la hora de jugar el niño puede
asumir las acciones de un niño mayor (VIGOTSKI, 2008). El juego, como una lupa, permite
que haya un salto en el desarrollo del niño.
5
En algunas traducciones para el portugués también se utiliza el término zona de desarrollo proximal, zona de
desarrollo cercano y zona de desarrollo inminente, que fue elegido para este estudio por traer la idea de proximidad
y posibilidad al mismo tiempo.
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Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1223-1240, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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1232
Aspectos metodológicos
El principal instrumento metodológico de la investigación de campo es la investigación
participativa y la observación. El investigador es responsable de observar al niño, vale la pena
analizar los diferentes modos de participación y reconstruir el proceso, analizando los detalles
de significado y apropiación experimentados por el niño. Este supuesto sostiene que el niño
asume un papel activo en la observación, descripción, interpretación, actuación, asumiéndose
como sujeto, con un papel activo y transformador en el proceso de investigación, y su voz y
acción social son centrales para el proceso de desarrollo de la dinámica de la investigación
(FERNANDES; MARZO, 2020).
Con respecto al camino metodológico, nos gustaría destacar dos aspectos: el primero es
la centralidad y el respeto a los niños como sujetos activos y participativos del proceso, y el
segundo se refiere al hallazgo de la limitación de las interpretaciones aquí presentadas. Por lo
tanto, lo incompleto de los análisis se toma como parte integral del proceso de investigación y
comprensión o presupuesto de cómo los otros atributos significan, considerando que la
imaginación y la memoria han sido un ejercicio constante.
Para Qvortrup (2011), la infancia debe entenderse como una categoría social
permanente, una categoría social en la que todos los niños ocupan este lugar (de diferentes
etnias, económicas, de género, entre otras), y que siempre estará ocupada por niños, porque los
niños crecen y se convierten en adultos, pero pronto vendrán otros niños. Es un proceso
permanente de la sociedad humana. Un concepto importante para la discusión de la metodología
del estudio con niños, discutido tanto por Qvortrup (2011) como por Castro (2001), se refiere a
la invisibilidad de la infancia, que, históricamente, es "encubierta" por las familias o la
institución escolar; y esto implica el hecho de que generalmente no nos ponemos en los zapatos
del niño para hablar de su mundo. Pero desde nuestro mundo adulto, hablamos de cómo debe
estar pensando el niño, cómo actuó, cómo representó, etc. Esta nota nos hace repensar el lugar
del niño en la investigación, para que podamos priorizar la participación y la escucha de los
niños en la investigación de campo.
Teniendo como aporte teórico a la Psicología Histórico-Cultural, la investigación,
además de promover un estudio sobre el desarrollo de funciones psicológicas superiores a la
hora del juego de roles, también se preocupa por acercar la opinión de los niños sobre sus juegos
favoritos. Por lo tanto, la discusión abarca conceptos teóricos de la sociología de la infancia,
precisamente para apoyar y dilucidar las opciones metodológicas de la investigación.
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Como plantea Corsaro (2005), los niños se desarrollan individualmente, pero a lo largo
de este desarrollo también está cambiando el proceso colectivo del que forman parte.
Entendemos cómo los cambios consideran correctamente al niño como capaz y participativo en
sus propias elecciones, resignificando activamente la práctica social. Ferreira (2005) también
destaca la importancia de considerar a los niños como actores sociales, ya que se reconstruyen
y reconstruyen a través de múltiples y complejas interacciones con los pares, con intereses y
formas de pensar, actuar y sentirse capaces de generar relaciones diferenciadas como grupo
social. Demartini (2009) también destaca la importancia de que cada vez más, en los tiempos
actuales, investigadores y docentes aprendan a escuchar a los niños y jóvenes. Corresponde al
investigador tener esta mirada atenta a las diferentes formas de manifestación y especificidades
del niño, considerando sus historias de vida y su contexto.
De esta manera, esto puede suceder de manera efectiva, el estudio se realizó con
atención a las formas participativas de los niños en la rutina diaria de Educación Infantil, con
el momento de jugar a la fantasía como objeto central de estudio. La investigación de campo
fue autorizada por el Comité de Ética con un número de opinión de 4.235.627, y comenzó en
marzo de 2021. Los sujetos que participaron en esta investigación de campo fueron treinta y
cinco niños de cinco a seis años, en dos instituciones de educación infantil en una ciudad del
interior del estado de São Paulo. La encuesta de campo se realizó durante dos horas al día y las
visitas tuvieron lugar dos veces por semana durante el primer semestre de 2021.
El investigador produjo un video informativo sobre la investigación de campo, que se
envió a los padres y tutores del grupo de interacción de la escuela con las familias en la
aplicación
Telegram
. Los niños que fueron autorizados por los tutores para participar en la
investigación de campo fueron invitados a hablar con el investigador, quien les presentó el
término de asentimiento. Durante la conversación entre los niños y el investigador, se les
preguntó si les gustaría participar en la investigación, respetando todos los criterios éticos de la
investigación con niños.
A lo largo del proceso de investigación de campo, el investigador registró, a través de
fotografías, videos y diario de campo, la vida cotidiana de regreso a la escuela después de un
período de aislamiento social (debido a la pandemia de covid-19).
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Presentación y análisis de datos
Este artículo presentará un recorte de la investigación de campo, centrándose en una
reflexión sobre los aspectos de la aparente "no interacción" entre los niños. La inscripción tuvo
lugar el 14 de marzo de 2021: había ocho niños presentes en el aula y cada niño estaba en su
mesa con bloques de colores para montar. El contexto fue grabado por el investigador por video
y en el diario de campo.
La maestra organizó las mesas de los niños respetando las normas de distanciamiento
social de 1,5 m de distancia individualmente. Los niños manejaron individualmente sus bloques
cuando uno de los niños se levantó y comenzó a usar una almohadilla como si fuera un teléfono.
Figura 1
- Registro fotográfico "
Broma telefónica
"
Fuente: Elaboración propia
A continuación, se muestra la transcripción del video, que dura un minuto y tres
segundos. Los nombres utilizados para presentar los datos son ficticios, para garantizar la
confidencialidad y el anonimato de los participantes de esta investigación.
EPISODIO 1-
"Broma telefónica"
(6º día, 14/03/2018, grabadora de vídeo)
1.
Beatriz: Bi, bi, bi, bi, bi, bi , bi [...] (
imitando el sonido de un teléfono
sonando
).
1.
Bruno: Hola Beatriz, ¿de acuerdo? ¿Beatriz? ¿Beatriz? [...] (
Bruno estaba al
otro lado de la habitación y trató de comunicarse con Beatrice, pero no tuvo
respuesta
).
1.
Beatriz: Bi, bi, bi, bi, bi, bi , bi [...] (
continúa imitando el sonido del teléfono
que llama
).
2.
María Cecilia: Hola, ¿quién es?
3.
Beatriz: Hola, ¿de acuerdo? Es Beatrice, ¿qué estás haciendo?
4.
María Cecilia: Te llamo, vaya.
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Los juegos posibles en tiempos de aislamento: El desarrollo de las funciones psíquicas superiores de la memoria y la imaginación
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1223-1240, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16055
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5.
Bruno: Estoy trabajando.
6.
Profesor: Hora de coger la botella de agua (
el juego se interrumpe
).
En el episodio nombrado como
"Broma telefónica"
, la maestra había entregado bloques
de equitación para los niños y Beatrice fue la primera en armar un teléfono. En el registro
fotográfico es posible ver a los niños manejando la montura y a Beatrice de pie sosteniendo su
teléfono, poco después los otros niños también construyeron un teléfono y comenzaron a hablar
entre sí.
Notamos en el episodio anterior que, incluso con las reglas establecidas por el
distanciamiento social, a través de la función psíquica superior de la imaginación y el juego de
fantasía, los niños encuentran una manera de interactuar y comunicarse. La "
broma telefónica"
comienza con Beatriz, pero poco a poco, los otros compañeros también construyen un teléfono
para comunicarse entre sí, estableciendo una relación entre el grupo de niños.
Colussi (2016) afirma que las interacciones de los niños a la hora del juego de roles
favorecen el desarrollo integral de los niños porque, en estos juegos, los niños constituyen su
personalidad, aprenden a actuar frente a las cosas y las personas, ya que las acciones prácticas
que realizan en sus figuraciones estructuran procesos internos que guían otras acciones
prácticas. Así, desarrollan más autonomía y procesos internos complejos a través del ejercicio
de la imaginación y la memoria, el enriquecimiento y la mejora de las funciones psicológicas
superiores.
Aún sobre el episodio anterior, desde el juego los niños representan una experiencia que
ha sido un canal de comunicación muy utilizado por los adultos en este momento de pandemia.
El uso del teléfono aquí tiene funciones aparentemente paradójicas: los niños están a poco más
de un metro de distancia, es decir, pueden hablar en persona, pero subvierten este hecho y crean
una situación que es ciertamente la razón de la creación, por parte de los adultos, del
instrumento telefónico técnico y semiótico: la distancia y la necesidad de comunicación.
En términos interpretativos podríamos inferir aquí que el término "distancia" es uno de
los principales conceptos elaborados por los niños. Han estado escuchando sobre distanciarse
y no inclinarse durante todo este período de pandemia. Así que saben que la distancia tiene
alguna función relacionada con el cuidado, la preservación de la vida, el peligro. Como una
esponja (VIGOTSKI, 2010), este término se entiende de muchas maneras. Pero al mismo
tiempo, en este chiste se inventó por completo una gran distancia para que pudiera sostener una
interacción. Por lo tanto, la comunicación real aquí se inventa, se imagina, se presenta, se
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significa a través de esta subversión. El teléfono aquí representa la distancia, pero también la
comunicación y el contacto.
En la situación creada los niños reconstituyen una experiencia, representan el mundo
adulto y lo hacen recordando los gestos y discursos de un contexto que no es el del aula. Crean
una situación a través del uso de imágenes en acción, es decir, la imaginación es la práctica de
transformar un objeto en algo con significado social (el teléfono). Hablan los términos/palabras
y entonaciones utilizadas por los adultos y con esta repetición, pero también crean formas de
interacción, nuevas formas de relacionarse. Debido a que están uno al lado del otro, la función
adulta del instrumento telefónico no tendría un significado real, sin embargo, no lo usan porque
lo necesiten, sino porque es posible, porque quieren repetir adultos (LEONTIEV, 2010).
En la interpretación de las relaciones sociales, que es una característica fundamental en
la actividad simbólica, el niño atribuye significados a los roles interpretados, que parten de las
relaciones del mundo que lo rodea, y el juego de roles se intensifica alrededor de cinco años,
alcanzando su nivel máximo (ELKONIN, 2009).
La actividad del niño en el juego tiende a representar varias acciones (nadar,
lavarse, cocinar, etc.). Representa la acción misma. Así que comienzan los
juegos de acciones. La actividad de los niños adquiere un carácter
constructivo: aparecen los juegos de albañilería y construcción, en los que no
suele haber papeles. Por último, destacan los juegos en los que el niño produce
una u otra imagen. Estos juegos tienen dos direcciones visibles: juegos de
puesta en escena, cuando el niño conduce el juguete (es decir, actúa a través
del juguete) y juegos en los que el papel es desempeñado personalmente por
el propio niño (juega mamá, aviador, etc.) (ELKONIN, 2009, p. 237).
En el transcurso del juego
“[...]
las cosas, los juguetes y el medio ambiente reciben
significados lúdicos concretos que se conservan a lo largo del juego. Los niños juegan juntos y
las acciones de un niño están vinculadas a los demás" (ELKONIN, 2009, p. 243). Esto se puede
identificar en el episodio presentado en este estudio, ya que los niños representados en la
"
broma telefónica"
una forma de interactuar y comunicarse, incluso con el distanciamiento
social que han establecido los adultos.
Fue posible notar que los niños, a partir de la experiencia del juego, desarrollaron sus
funciones psíquicas superiores, tales como: memoria, reconstituyendo una situación de su vida
cotidiana a través de la imaginación; lenguaje oral, al comunicarse; y sus emociones, ya que
mostraron interés en saber cómo estaba el colega. Como ya se mencionó, en el desarrollo
infantil, la memoria es una de las funciones psíquicas centrales. Es la función que organiza
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todas las demás funciones, jugando un papel decisivo en todas las construcciones mentales
(VIGOTSKI, 2009), como se pudo ver en la reconstitución del juego telefónico.
El juego está directamente relacionado con las experiencias cotidianas del niño y
depende, por tanto, de las condiciones sociales ofrecidas. Incluso las reglas presentes en
situaciones imaginarias se derivan del mundo real, estableciendo una relación dialéctica entre
imaginación y realidad (FARIA; HAI, 2020).
En la infancia, en el proceso de humanización entre sí, el juego de hacer por cuenta
colabora en el proceso de separar el significado de la palabra del objeto, inicia el proceso de
separación entre idea y objeto. Ya no es el objeto el que guía la acción, sino que la acción, según
las reglas, comienza a estar determinada por las ideas, y esto lleva a un cambio radical en las
estructuras psicológicas que determinan la relación del niño con la realidad (PRESTES, 2016).
Consideraciones finales
Debemos considerar, según la Psicología Histórico-Cultural, que las funciones
biológicas que un individuo aporta al nacer son esenciales, pero no son suficientes para
garantizar su supervivencia y su vida en sociedad. Para constituirse como sujeto es necesario
que interactúe con un grupo social y, a partir de las experiencias vividas colectivamente,
construya activamente las funciones psicológicas superiores, que caracterizan el
funcionamiento típicamente humano por las relaciones sociales que se establecen en este
proceso de humanización entre sí.
El juego de fantasía permite el pleno desarrollo del niño de manera significativa a partir
de su entorno social, experiencias y experiencias que pueden ser representadas en la actividad
simbólica. Como se pudo analizar en este estudio, la creación de juegos contribuye
significativamente al desarrollo de las funciones psíquicas superiores de la memoria y la
imaginación, por lo que es importante que, en lugar de estar presente en la vida cotidiana de la
Educación Infantil, sea la condición, la razón, la fuerza motriz de la vida del niño en la escuela
y fuera de ella. La experiencia experimentada, por lo tanto, por los niños, es la base para la
posibilidad de cualquier desarrollo. Además del meollo de este texto, concluimos señalando
otros aspectos sociales, jurídicos y políticos que deben asegurar la posibilidad de estas
experiencias. Así, se enfatiza la importancia de la reanálisis constante de espacios y tiempos en
la educación de la primera infancia; de la preocupación por la disponibilidad constante de
recursos pedagógicos adecuados, ya sean bloques de construcción o la propia naturaleza dentro
y fuera del aula. Se enfatiza que el tiempo de juego se entiende realmente como el lugar por
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Aline Patricia Campos Tolentino de LIMA y Joana de Jesus de ANDRADE
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excelencia de la interacción entre niños, con menos interferencia directa de los adultos, y que
la libertad de expresión por diferentes formas de lenguaje está efectivamente garantizada en el
piso escolar, como lo establecen los documentos legales de educación infantil de nuestro país.
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Aline Patricia Campos Tolentino de LIMA y Joana de Jesus de ANDRADE
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Cómo hacer referencia a este artículo
LIMA, A. P. C. T. ANDRADE, J. J. Los juegos posibles en tiempos de aislamento: El desarrollo
de las funciones psíquicas superiores de la memoria y la imaginación.
Revista Ibero-
Americana de Estudos em Educação
, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1223-1240, jun. 2022.
e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16055
Enviado en
:
29/12/2021
Revisiones requeridas en
: 13/02/2022
Aprobado en
: 06/04/2022
Publicado en
: 30/06/2022
Procesamiento y edición: Editora Ibero-Americana de Educação.
Corrección, formateo, normalización y traducción.
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Possible play in times of isolation: The development of superior psychological functions of memory and imagination
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1216-1233, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16055
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POSSIBLE PLAY IN TIMES OF ISOLATION: THE DEVELOPMENT OF
SUPERIOR PSYCHOLOGICAL FUNCTIONS OF MEMORY AND IMAGINATION
O BRINCAR POSSÍVEL EM TEMPOS DE ISOLAMENTO: O DESENVOLVIMENTO
DAS FUNÇÕES PSÍQUICAS SUPERIORES DA MEMÓRIA E DA IMAGINAÇÃO
LOS JUEGOS POSIBLES EN TIEMPOS DE AISLAMENTO: EL DESARROLLO DE
LAS FUNCIONES PSÍQUICAS SUPERIORES DE LA MEMORIA Y LA
IMAGINACIÓN
Aline Patricia Campos Tolentino de LIMA
1
Joana de Jesus de ANDRADE
2
ABSTRACT
:
This study aims to investigate the development of superior psychological
functions of memory and imagination during role-play. The general aim of this research was
to analyze the development of superior psychological functions of memory and imagination
through participatory investigation. The research is based on historical-cultural psychology
which encompasses a broad study on the development of superior psychological functions,
considering that the process of cultural of the child is the foundation for the constitution of
psychic functions. Based on this theoretical background, this qualitative research was
conducted with the following methodological resources: participatory investigation and
observation. Through the study, it was possible to broaden the theoretical discussion of how
role-play was set up, even in moments of isolation and social distancing in the routine of
Children’s Education, contributing to the development of memory and imagination.
KEYWORDS
:
Superior psychological functions. Memory. Imagination. Role-play.
RESUMO
: Este estudo busca investigar o desenvolvimento das funções psíquicas superiores
da memória e da imaginação no momento da brincadeira de faz de conta. A pesquisa está
fundamentada na Psicologia Histórico-Cultural que contempla o desenvolvimento das
funções psíquicas superiores, considerando que o processo de desenvolvimento cultural da
criança é o alicerce para a constituição das funções psíquicas. Partindo desse referencial
teórico, a pesquisa, de cunho qualitativo, foi realizada com os seguintes recursos
metodológicos: investigação participativa e a observação. Com este estudo, foi possível
ampliar a discussão teórica sobre como se constituiu a brincadeira de faz de conta mesmo em
um momento de isolamento e distanciamento social no cotidiano da Educação Infantil,
contribuindo para o desenvolvimento da memória e da imaginação.
1
University of São Paulo (USP), Ribeirão Preto – SP – Brazil. Doctoral Student of the Graduate Program in
Education. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6834-7209. E-mail: alinetolentino@usp.br
2
University of São Paulo (USP), Ribeirão Preto – SP – Brazil. Professor at the Department of Chemistry and
Education. Doctorate in Education (UNICAMP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6161-2209. E-
mail:joanaj@ffclrp.usp.br
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Aline Patricia Campos Tolentino de LIMA and Joana de Jesus de ANDRADE
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1216-1233, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
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1217
PALAVRAS-CHAVE
: Funções psíquicas superiores. Memória. Imaginação. Brincadeira de
faz de conta.
RESUMEN
: Este estudio busca investigar el desarrollo de las funciones psíquicas superiores
de la memoria y la imaginación durante los juegos de fantasía. El objetivo general de esta
investigación fue analizar a partir de la investigación participativa el desarrollo de las
funciones psíquicas superiores de la memoria y la imaginación. La investigación se basa en
la psicología Histórico-Cultural que aborda un estudio amplio sobre el desarrollo de las
funciones psíquicas superiores, considerando que el proceso de desarrollo cultural del niño
es la base para la constitución de las funciones psíquicas. A partir de este marco teórico la
investigación cualitativa se realizó con los siguientes recursos metodológicos: la
investigación participativa y la observación. Con este estudio, fue posible ampliar la
discusión teórica sobre cómo se constituyeron los juegos de fantasía incluso en un momento
de aislamiento y distanciamiento social en la vida cotidiana de la Educación Infantil,
contribuyendo al desarrollo de la memoria y la imaginación.
PALABRAS CLAVE
: Funciones psíquicas superiores. Memoria. Imaginación. Juego de
fantasía.
Introduction
Playing is the activity by which the child appropriates the world around him.
(ELKONIN, 2009; VIGOTSKI, 2010)
3
. And, when entering this world, the child has in his
body the first possibility of contact and, at the same time that he goes beyond the limits of the
body, delimits, organizes and creates his psychic world, his self. The imbricated relationship
between body, world and the other is a triad that is not defined in isolated descriptions, but by
the immensity of possibilities of interrelation that now builds a new world.
But the natural and naturalized actions of children's play, as well as social interactions
in general, were completely altered by the advent of the Sars-Cov2 pandemic. The Covid-19
disease pandemic impacted the world, the relationships, and especially the children, who,
without seeing the virus, without understanding how or why a touch could be dangerous, were
(re)meaning a series of information/actions/relationships. In the schools, the partial return to
classes, starting in the second semester of 2021, was marked by the emergence of "new
normal" in these relationships. For a safe return to school, it was necessary that the school
3
The spelling of Lev Semionovich Vygotsky's name in this text will be made using the most current translations
directly from the Russian language, which use only the letter 'i' and no longer the letter 'y'. In the text references,
the original spellings of each publication will be used.
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Possible play in times of isolation: The development of superior psychological functions of memory and imagination
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1216-1233, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16055
1218
units followed the safety protocols established in the Guide prepared by the Ministry of
Health in our country, which includes, for example, the social distance of one meter between
people (children and adults), the use of masks, periodic hand washing, not using objects, and
restricting the use of collective spaces. In this context, the interactions between the children
were constituted in a completely different way. And if for more than a year they were not
allowed to touch each other or exchange objects, now the "almost normal" is being remade in
a mixture of suspicious, anxious looks, but still under adult supervision that the children do
not always understand very well.
Thus, the immensity of possibilities of inter-relationship that would build a new world
is being molded to less diverse situations. And the questions that arise from this scenario are
many: did the children play less? How and with whom did they play? With what languages,
objects and games? What changes did their perceptions and conceptualizations go through?
Finally, how did they develop and how has the return to classroom activities been in schools?
Such questions, which have the function here of raising reflections, point to one of the
main premises of the Cultural-Historical approach, which is the interrelation between biology
and culture. By stating that mental processes, which include sensations, perceptions,
language, memory, imagination, and logical reasoning, should not be considered isolated
aspects of the human psyche or brain, Luria (1976/2017), based on Vigotski (1932/1996),
highlights the complexity of the relationship between the biological, the psychological, and
the cultural. And, from the consideration of brain functioning as a set of complex functional
systems, the authors put in focus that the study of human development must contemplate
dynamics and interfunctionality as premises for any interpretation.
As a backdrop, the research seeks to understand the construction of meanings as a
"place"/"space-time" of expression of this development, considering that the meanings of the
instruments and signs of their culture are being re-signified in the act of playing. In other
words, the centrality of the culture built before the child's birth is fundamental to define the
development of the next generations. About this, based on Vigotski, Duarte (2000) states that
the adult-child relationship is the source that drives the child's cultural development and this
would be the differential with the organic development. This is because, in phylogenetic
terms, unlike ontogenetic, there was not someone "more evolved" for the human species to
relate and learn, but this occurs in ontogenetic terms, that is, the child interacts with people
who experience a culture, habits, and languages that will then mark his cultural development.
According to Duarte (2000), "This makes the analysis of child development extremely
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Aline Patricia Campos Tolentino de LIMA and Joana de Jesus de ANDRADE
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– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1216-1233, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16055
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complex and puts the issue of education at the center of this analysis, since such development
is the result of the educational process" (p. 106).
That said, it is emphasized that the foundation of this article is the study of the human
development of preschool children, therefore, between four and five years of age, in the daily
life of Early Childhood Education institutions, considering a body in interaction. relationship
with the other and with the objects of the world, in a post-social isolation moment. And, as a
way of circumscribing the investigation, we present here the results of the study of the
processes of meaning that encompass the development of higher psychic functions,
specifically memory and imagination in everyday school situations. For the elaboration of this
article, an excerpt of a field research was carried out with the main objectives: to analyze how
children appropriate the superior psychic functions of memory and imagination at the time of
make-believe games.
The development of the psychic functions of memory and imagination
The human baby is the most fragile of mammals and is totally dependent on the
solidarity and care of his fellows, because he cannot survive on his own (PINO, 2005). From
the beginning he needs the other to develop and constitute himself as a human (cultural)
being. Linhares and Facci (2021) point out that "[...] research on the development of the brain
in animals allows us to state that, generally, new edifices take place from the levels of the
previous stage, and that for each decisive biological development there is a change in the
structure and functions of the nervous system." (p. 33).
In the case of other animals the evolutionary changes are studied from the
phylogenetic data, on the biological plane, while in human beings the changes extrapolate the
biological plane and occur evidently on the cultural plane, a space in which evolution seems
to have no limits, and which is described by Vigotski (1932/1996) as being the place of
revolutions. Thus:
The course of man's biological evolution ends before historical development
begins. Attempts to explain man's way of thinking no longer focus on
morphophysiological particularities transmitted by heredity, but on work that
inaugurates a new dynamism of transmitting achievements to new
generations (LINHARES; FACCI, 2021, p. 33).
The birth of a human baby is thus not only a biological event, but also a social one.
According to Vigotski (1932/1996), development happens from the so-called genetic planes:
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phylogenesis
defines characteristics of our species such as group living, bipedia, being
mammals, etc.
Ontogenesis
describes the history of development of the individual in its
species, and an example of this genetic plane would be the fact that the child, after a certain
period of time (from months to one or two years) probably sits up and then learns to crawl and
walk. Both genetic planes would be related to the biological aspects of development. The
third plane would be
sociogenesis
, which concerns the development of the human being from
his or her social and cultural environment - the customs of the society in which the subject is
inserted. And the fourth plan would be
microgenesis
, which is "[...] the history of the
development of particular psychic processes of a given person along with others in a
relatively short period of time" (DELARI, 2009, p. 29). According to Linhares and Facci
(2021, p. 32):
The real history of the development of the human psychism reflects the
history of the complexification of life in society, and the human psychism
can only be explained as a social construction. The historicity of the human
being related to the higher psychic functions, expresses characteristics that
distinguish man as belonging to the human gender.
When considering human "birth" from the different genetic planes, we can think that
the elements of culture end up, in fact, delineating the way in which these births happen. In
this sense, the mastery of nature (as an "external" aspect) and of behavior itself (as an
"internal" aspect) are strictly related, since man's alteration of nature alters, in turn, man's own
nature (VIGOTSKI, 1932/1996). This is the Marxist basis of the dialectical assumption of all
Cultural-Historical Psychology (SOUZA, 2016).
The mediated relationship with the world, marked by the instrument and the work,
materializes in the purposeful actions, thus conferring the semiotic instrumentality also of
human activity about itself and the world. In the instrumental action, between the object and
the directed psychological operation, according to the Cultural-Historical psychology, a new
component emerges: the psychological instrument, which causes the development of a series
of new functions, the so-called Higher Psychic Functions (HPF). The sequence or quantity of
the HPF appear in Vigotski's work in a widespread way
4
. Here, we delimit in: attention,
perception, language, memory, emotions, logical reasoning, and imagination. According to
4
Information on the different nominations is summarized in the diagram prepared by Achilles Delari and
available on the author's own website: http://www.estmir.net/diagrama-para-funcao-psiquica-superior.html.
Accessed on: Dec. 2021.
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Delari (2011, p. 24), the social origin is "[...] the driving force and the explanatory principle of
the genesis of the human psychological functions themselves”.
As a way of organizing the study of the terms, which should not be confused with the
understanding of the phenomenon itself, the HPF of memory and imagination will be
addressed as assumptions for the discussion of real, complex and multifaceted situations.
According to Cultural-Historical Psychology, memory, as a phenomenon of
appropriation and recall of information, exists very early in the child's development and
develops over time, in a "hidden" way relative to the other functions. The development of
memory is so complex that we cannot represent it in a linear way, because it subsidizes all the
other functions, always supporting new ways of experiencing the world.
Comparative studies of human memory, carried out by Cultural-Historical
Psychology, reveal that even in more primitive stages of social development there are two
fundamentally different types of memory. One, dominant in the behavior of primitive peoples,
is characterized by the retention of actual experiences as the basis of memory traces: this type
of memory is very close to perception, because it arises as a consequence of the direct
influence of external stimuli (LURIA, 1976/2017). Memory as a product of social
development is a new organization that evolves from the elaborate culture of human behavior.
An example of simple operations such as making a knot or marking on a piece of wood for
the purpose of aiding memorization modify the psychological structure of the memory
process (VIGOTSKI, 2007).
The fundamental characteristic of elementary functions is that they are
completely and directly determined by environmental stimulation. In the
case of higher functions, the essential characteristic is self-generated
stimulation, that is, the creation and use of artificial stimuli that become the
immediate cause of behavior (VIGOTSKI, 2007, p. 33).
This fact alone is sufficient to demonstrate the fundamental characteristic of higher
forms of behavior. In the elementary form something is remembered; in the higher form
human beings remember something (VIGOTSKI, 2007, p. 50).
In an equally different way, Vigotski and Luria highlight the complexity of the so-
called psychic function of imagination. It is defined as a function of agglutinative nature, and
Vigotski says about it:
[...] it is wrong to regard imagination as a special function among other
functions, as a form of brain activity of the same kind, which repeats itself
regularly. Imagination must be considered as a more complex form of
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psychic activity, as the real union of various functions and their peculiar
relations (VIGOTSKI, 1983, p. 436).
The author emphasizes that imagination is a higher psychic function that is directly
related to all other higher psychic functions, such as memory, oral language, perception, and
emotions, but it does not resemble or equate to their "sums," but is close to the
conceptualization of synthesis in Hegelian terms or monad in Spinozian terms.
The psychic function of imagination represents a potential of the creative activity that
enables man to plan, project and build his own conditions of existence (SMOLKA;
NOGUEIRA, 2011). Thus, with the exception of nature, everything that surrounds us was
made by man, being the product of his imagination and creation as a product of the brain's
plastic capacity, which not only preserves and reproduces experiences, but combines and
reworks it in a creative way.
Imagination, despite its character of apparent repetition, cannot be confused with the
higher psychic function of memory. As Vigotski (1983) states, there is an important
difference between the rest of the forms of human psychic activity and imagination, which is
its character of novelty. That is, imagination is not just a repetition of combinations and forms
of isolated impressions accumulated before, but a phenomenon that reconstitutes new series
from the impressions accumulated before.
The activity of memory consists in the appearance, in human consciousness, of scenes
previously experienced and that are not always related to a new motive for their reproduction.
On the other hand, the activity of imagination, which is strictly related to the activity of
memory, when it operates with the previous images, differs because it is a creative activity,
giving rise to new combinations. Imagination is the basis of the activity that allows
representing in a totally new way the images and impressions registered by the memory
activity, in a new combination of all previously accumulated impressions (VIGOTSKI,
1995/1983). In this sense, imagining can be understood as a transformation of memory
activity that encompasses both remembering, reproduction, presentification, and the creation
of the new.
The capacities of reproduction and creation, well described by Vigotski (2009) in
Imagination and Creation in Childhood, still consider the biological aspects of these
processes. And, despite the incipient works of the early twentieth century, lived by Vigotski
and Luria, there was in their writings the fundamental point for the studies of the brain
functioning in this process. In addition to the contribution to the fields of Psychology and
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Education, the author contributed significantly to the field of Neuroscience, embryonic at the
time, but that currently has had an increasingly strong role in studies on human development
in its broadest sense. For Vigotski (2009, p. 14) "The brain is not only the organ that preserves
and reproduces our previous experience, but also the one that combines and reworks, in a
creative way, elements of previous experience, erecting new situations and new behavior". In
a period when the concept of brain plasticity was still quite simple, such statement shed light
and showed future paths that are being followed until today.
Make-believe play as a source of child development
Child development, from its very beginning, is marked by the relationships established
with the other and with the world, marked by a complex process of construction of meanings
and senses. The child is introduced to the world by the other, who enables the exploration via
words/gestures and objects, building new desires and needs. Through the mediations that
interaction provides, the child will constitute and place itself in the world (ARCE; DUARTE,
2006). Play emerges as a result of these interaction processes mediated by the other and
allows the child to act on the world and, thus, assign meanings trying to
understand/classify/name/organize what surrounds them.
For Leontiev (2010), play is not instinctive, it is an objective activity because it forms
the basis of the child's perception of the world, of objects, and of human relations that
determine the content of his make-believe games. These perceptions aroused in the child a
need to act like the adult, to act the way he sees others act, the way he was told, and so on
(LEONTIEV, 2010). According to the author, the child wants to drive the car herself, row a
boat by herself, perform the activities that she knows are possible, but that she cannot yet do
anyway. But in playful activity, through imagination and make-believe play, she can satisfy
her wants and needs.
Play can create the impression to outsiders that the child has "lost track" of reality.
However, it is exactly the opposite, because in play the child is already able to compare
himself to the adult and through the representation of the roles he perceives himself as a child
(BATISTA; SILVA; PASQUALINI, 2021, p. 87).
For Elkonin (2009), when the child adopts a proper name, it prepares for the
appearance of the role in the game, that is, the exercise of being in the place of another, doing
or imitating actions of another more "competent" than her, is a fundamental step for the
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development of the psychism, because it represents the exercise of adult life, with the nuances
of rules and habits different from the one she knows and experiences.
It is only between two and a half and three years of age that the child begins to act out
a role and assume itself as another. Elkonin (2009) characterizes this behavior based on two
series of factors, which he observed through his experiments on role-playing. The first would
be when the child puts the name of a character on the toy, representing him differently. The
second characteristic would be when the child begins to speak on behalf of the toy. These
actions can be repeated many times with the same object, without changing the content.
The child, through role-play, gets to know the world around him and the rules of social
coexistence, forming a guiding activity. Role playing makes the child learn the meaning of
objects and at the same time their social functions (ELKONIN, 2009). Vigotski (2008) states
that the child learns to act according to what he has in mind, that is, what he is thinking, but is
not visible, relying on internal tendencies and motives. The play situation thus allows the
representations to make room for the appearance of external (collective) rules and internal
(individual) rules of behavior. Thus, the more elaborate the role play, the greater the
possibility of creation, interaction, imagination, and argumentation. Thus,
Play is the source of development and creates the zone of imminent
development
5
. Action in an imaginary field, in an imaginary situation, the
creation of a voluntary intention, the formation of a life plan, of volitional
motives - all these arise in play, placing it on a higher level of development,
raising it to the crest of the wave and making it the decuminal wave of
development in the preschool age, which rises from the deeper but relatively
calm waters (VIGOTSKI, 2008, p. 35).
Play creates a zone of imminent development, that is, at the moment of play the child
can take on the actions of an older child (VIGOTSKI, 2008). Play, like a magnifying glass,
allows for a leap in the child's development.
Methodological aspects
The main methodological tool of field research is participatory research and
observation. The researcher is responsible for observing the child, for analyzing the different
modes of participation and reconstructing the process, analyzing the details of meaning and
5
In some translations the terms zone of proximal development and zone of imminent development are used
interchangeably, the latter was chosen for this study because it brings the idea of proximity and possibility at the
same time.
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appropriation experienced by the child. This assumption holds that the child assumes an
active role in observation, description, interpretation, acting, assuming itself as a subject, with
an active and transforming role in the research process, being its voice and its social action
central aspects for the development process of the research dynamics (FERNANDES;
MARCHI, 2020).
Regarding the methodological path, we would like to highlight two aspects: the first is
the centrality and respect for children as active and participatory subjects of the process, and
the second refers to the realization of the limitation of the interpretations presented here. The
unfinishedness of the analyses is taken, therefore, as an integral part of the very process of
investigating and understanding or presupposing how the other assigns meanings, considering
that imagination and memory have been a constant exercise.
For Qvortrup (2011), childhood should be understood as a permanent social category,
a social category in which all children occupy this place (from different ethnic, economic,
gender and other groups), and that will always be occupied by children, because children
grow up and become adults, but soon other children will come. It is a permanent process in
human society. An important concept for the discussion of the methodology of the study with
children, discussed by both Qvortrup (2011) and Castro (2001), refers to the invisibility of
childhood that, historically, is "covered up" by families or the school institution; and this
implies the fact that we generally do not put ourselves in the place of the child to talk about
his or her world. But, from our adult world, we talk about how the child must be thinking,
how he/she acted, represented, etc. This point makes us rethink the place of the child in
research, so that we can prioritize the participation and listening to children in field research.
Having the Cultural-Historical Psychology as a theoretical basis, the research, besides
promoting a study about the development of higher psychological functions at the moment of
role-playing, is also concerned with bringing the children's opinion about their favorite games.
For this reason, the discussion covers theoretical concepts from the sociology of childhood,
precisely to ground and elucidate the methodological choices of the research.
As stated by Corsaro (2005), children develop individually, but throughout this
development the collective process of which they are part is also changing. We understand as
changes precisely to consider the child as capable and participative in their own choices,
actively re-signifying the social practice. Ferreira (2005) also highlights the importance of
considering children as social actors, because they reconstruct and resignify through multiple
and complex interactions with peers, with interests and ways of thinking, acting and feeling
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capable of generating differentiated relations as a social group. Demartini (2009) also
emphasizes the importance that increasingly, in current times, researchers and teachers learn
to listen to children and young people. It is up to the researcher to have this attentive look at
the different forms of manifestation and specificities of the child, considering their life stories
and their context.
For this to happen effectively, the study was carried out with attention to the
participatory forms of children in everyday life in Early Childhood Education, with the
moment of make-believe play as the central object of study. The field research was authorized
by the Ethics Committee with opinion number 4,235,627, and started in March 2021. The
subjects who participated in this field research were thirty-five children aged five to six years
old, in two institutions of Early Childhood Education in a city in the interior of the state of
São Paulo. The field research was conducted for two hours a day and the visits took place
twice a week, during the first semester of 2021.
The researcher produced an informational video about the field research, which was
forwarded to parents and guardians through the school's interaction group with families on the
Telegram app. Children who were authorized by their guardians to participate in the field
research were invited to talk to the researcher, who presented them with the consent form.
During the conversation between the children and the researcher they were asked if they
would like to participate in the research, respecting all the ethical criteria for conducting
research with children.
Throughout the field research process, the researcher registered, by means of
photographs, videos, and a field diary, the daily life back to school after a period of social
isolation (due to the Covid-19 pandemic).
Data presentation and analysis
In this article, we will present a section of the field research, focusing on a reflection
on the aspects of apparent "non-interaction" among children. The record took place on March
14, 2021: there were eight children present in the classroom and each child was at their own
little table with colored building blocks. The context was recorded by the researcher by video
and in the field diary.
The teacher arranged the children's tables respecting the norms of social distance of
1.5m apart individually. The children were handling their blocks individually when one of the
children got up and started to use a block as if it were a telephone.
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Figure 1
– Photographic record "Telephone game”
Source: Devised by the authors
Below is the transcript of the video, which is one minute and three seconds long. The
names used for the presentation of the data are fictitious, to ensure the confidentiality and
anonymity of the participants in this research.
EPISODE 1- "Phone Play
"(day 6, 03/14/2018, video recorder)
(1) Beatrice: bi, bi, bi, bi, bi, bi [...] (imitating the sound of a ringing phone).
(2) Bruno: Hi Beatriz, how are you? Beatriz? Beatrice? [...] (Bruno was on the other
side of the room and tried to communicate with Beatrice, but got no response).
(3) Beatrice: bi, bi, bi, bi, bi, bi [...] (keeps imitating the sound of the phone calling).
(4) Maria Cecilia: Hello, who is it?
(5) Beatrice: Hi, how are you? It's Beatrice, what are you doing?
(6) Maria Cecilia: I am calling you.
(7) Bruno: I'm working.
(8) TEACHER: Time to get the water bottle (play is interrupted).
In the episode named "Telephone Play", the teacher had handed out building blocks to
the children and Beatriz was the first to build a telephone. In the photographic record it is
possible to see the children handling the building blocks and Beatriz standing holding her
phone, soon afterwards the other children also built a phone and started talking to each other.
We notice in the episode above that, even with the rules established by social
distancing, through the higher psychic function of imagination and make-believe play,
children find a way to interact and communicate. The "telephone game" starts with Beatriz,
but, little by little, the other classmates also build a telephone to communicate among
themselves, establishing a relationship among the group of children.
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Colussi (2016) states that children's interactions at the time of role play favor the
overall development of children because, in these games, children form their personality,
learn to act towards things and people, since the practical actions they perform in their
figurations structure internal processes that guide other practical actions. Thus, they develop
more autonomy and make the internal processes more complex through the exercise of
imagination and memory, enriching and improving the higher psychological functions.
Still about the episode above, through make-believe games, the children represent an
experience that has been a communication channel used a lot by adults in this moment of
pandemic. The use of the telephone here has apparently paradoxical functions: the children
are a little more than a meter away, that is, they can talk to each other in person, but they
subvert this fact and create a situation that is certainly the reason for the creation, by adults, of
the technical and semiotic instrument telephone: the distance and the need for communication.
In interpretative terms we could infer here that the term "distance" is one of the main
concepts elaborated by the children. They have heard about staying away and not touching
each other during this whole pandemic period. So they know that distance has some function
related to care, to preservation of life, to danger. Like a sponge (VIGOTSKI, 2010), this term
is being meant in many ways. But at the same time, in this play a great distance was
completely invented in order to be able to sustain an interaction. Thus, a real communication
here is invented, imagined, presentified, signified through this subversion. The telephone here
represents distance, but also communication and contact.
In the situation created, the children reconstitute an experience, represent the adult
world and do this by remembering the gestures and speech of a context that is not that of the
classroom. They create a situation through the use of images in action, that is, imagination is
the practice of transforming any object into something with social meaning (the telephone).
They speak the terms/words and intonations used by the adults and thus repeat, but also create
forms of interaction, new ways of relating. Because they are next to each other, the adult
function of the telephone instrument would have no real meaning, however, they do not use it
because they need to, but because it is possible, because they want to repeat the adults
(LEONTIEV, 2010).
In the interpretation of social relations, which is a fundamental characteristic of
symbolic activity, the child assigns meanings to the interpreted roles, based on relations in the
surrounding world (ELKONIN, 2009).
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The child's activity in play tends to represent various actions (swimming,
washing clothes, cooking, etc.). One represents the action itself. This is how
action-games begin. The children's activity acquires a constructive character:
masonry and construction games appear, in which there are usually no roles
either. Finally, there are the protagonism games, in which the child produces
one or another image. These games have two visible paths: role-playing
games, when the child directs the toy (that is, she acts through the toy) and
games in which the role is played personally by the child herself (playing
mom, flying, etc.) (ELKONIN, 2009, p. 237).
In the course of make-believe play "[...] things, toys, and the environment are given
concrete playful meanings that are retained throughout the game. The children play together
and one child's actions are linked to the others" (ELKONIN, 2009, p. 243). This can be
identified in the episode presented in this study, because the children represented in the
"telephone game" a way to interact and communicate, even with the social distance that was
established by the adults.
It was possible to notice that the children, from the experience of playing, developed
their higher psychic functions, such as: memory, by reconstituting a situation of their daily
life through imagination; oral language, by communicating; and their emotions, by showing
interest in knowing how their classmates were doing. As already mentioned, in child
development, memory is one of the central psychological functions. It is the function that
organizes all other functions, playing a decisive role in all mental constructions (VIGOTSKI,
2009), as it was possible to see in the reconstitution of the telephone game.
Play is directly related to the child's everyday experiences and therefore depends on
the social conditions offered. Even the rules present in imaginary situations are derived from
the real world, establishing a dialectical relationship between imagination and reality
(FARIA; HAI, 2020).
In childhood, in the process of humanizing itself, make-believe play collaborates in the
process of separating the meaning of the word from the object, begins the process of
separation between idea and object. It is no longer the object that guides the action, but the
action, according to the rules, begins to be determined by the ideas, and this leads to a radical
change in psychological structures that determine the child's relationship with reality
(PRESTES, 2016).
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Final remarks
We must consider, according to the Cultural-Historical Psychology, that the biological
functions that an individual brings at birth are essential, but not sufficient to ensure his
survival and his life in society. To constitute himself as a subject, it is necessary that he
interacts with a social group and, from the experiences lived collectively, actively builds the
higher psychological functions, which characterize the typically human functioning through
social relations that are established in this process of humanizing oneself.
Make-believe play enables the full development of the child in a significant way based
on his/her social environment, experiences, and experiences that can be represented in the
symbolic activity. As it was possible to analyze in this study, make-believe play contributes
significantly to the development of the higher psychic functions of memory and imagination,
so it is important that it, more than being present in the daily routine of Kindergarten, is the
condition, the reason, the driving force of the child's life at school and outside of it. Therefore,
the experience lived by children is the basis for the possibility of any development. And,
beyond the core of this text, we end by pointing to other social, legal, and political aspects
that should guarantee the possibility of these experiences. Thus, we emphasize the importance
of the constant re-examination of spaces and times in early childhood education; of the
concern with the constant availability of adequate pedagogical resources, be they building
blocks or nature itself, inside and outside the classroom. We emphasize the urgency for
playtime to be truly understood as the place par excellence of interaction among children,
with less direct interference from adults, and that freedom of expression through different
forms of language be effectively guaranteed on the school floor, as stated in the legal
documents of early childhood education in our country.
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:29/12/2021
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: 13/02/2022
Approved
: 06/04/2022
Published
: 30/06/2022
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