image/svg+xmlTabu: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1239 TABU: UM CONVITE A (RE)PENSAR A EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES RACIAIS EM TEMPOS SOMBRIOS TABÚ: UNA INVITACIÓN A (RE)PENSAR LA EDUCACIÓN PARA LAS RELACIONES RAZALES EN TIEMPOS OSCUROS TABU: AN INVITATION TO (RE)THINK EDUCATION FOR RACE RELATIONS IN DARK TIMES Elivaldo Serrão CUSTODIO1Eugénia da Luz Silva FOSTER2RESUMO: O artigo tem por objetivo (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos que se revelam sombrios a partir dofilme “Tabu”. O trabalho trata-se de uma pesquisa exploratória pautada em uma abordagem qualitativa reflexiva. Os resultados apontam que as políticas que vêm buscando instituir novas formas de se encarar e trabalhar as diferenças esbarram na ideia de uma identidade nacional homogênea, que desqualifica diferenças, impedindo que se dê o devido valor às especificidades da condição negra na sociedade. Sabemos que temos muito caminho a percorrer na criação e/ou valorização de outros modos de agir na educação, para além das tentativas de se elaborar um discurso isento, neutro e politicamente correto. É a educação sendo chamada a se posicionar. PALAVRAS-CHAVE: Relações raciais. Identidade. Alteridade. Cultura. Educação. RESUMEN:El artículo tiene como objetivo (re) pensar la educación para lasrelaciones raciales en tiempos que se revelan oscuros después de la película “Tabú”. El trabajo es una investigación exploratoria basada en un enfoque cualitativo reflexivo. Los resultados muestran que a pesar de las políticas que han buscado instituir nuevas formas de enfrentar y trabajar con las diferencias, chocan con la idea de una identidad nacional homogénea que descalifica las diferencias, impidiendo la debida valoración de las especificidades de la condición negra en sociedad. Sabemos que nos queda un largo camino por recorrer en la creación y / o valoración de otras formas de actuar en educación, además de los intentos por desarrollar un discurso imparcial, neutral y políticamente correcto. Es la educación la que está llamada a tomar posición. PALABRAS CLAVE:Relaciones raciales. Identidad. Alteridad. Cultura. Educación. 1Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Macapá – AP – Brasil. Professor no Mestrado em Educação da UNIFAP. Doutorado em Teologia (EST) ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2947-5347. E-mail: elivaldo.pa@hotmail.com 2Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Macapá – AP – Brasil. Professora no Mestrado em Educação. Doutorado em Educação (UFF). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0807-0789.E-mail: daluzeugenia6@gmail.com
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO e Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1240 ABSTRACT: The article aims to (re) think education for race relations intimes that turn out to be gloomy from the film “Tabu”. The work is an exploratory research based on a qualitative reflective approach. The results show that despite the policies that have been seeking to institute new ways of looking at and working on differences, they come up against the idea of a homogeneous national identity that disqualifies differences, preventing the specificities of the black condition in society from being given due importance. We know that we have a long way to go in creating and / or valuing other ways of acting in education, in addition to the attempts to develop an impartial, neutral and politically correct discourse. It is education being called to position itself. KEYWORDS: Race relations. Identity. Alterity. Culture. Education. Introdução Em julho de 2021 comemorou-se (houve motivos para comemorações?) os quarenta e seis anos da independência política da maior parte das ex-colônias portuguesas em África. Quarenta e seis anos de libertação do jugo colonial português, após uma guerra que iniciou pelos idos dos anos de 1960 e culminou com a independência das colônias entre os anos de 1974 e 1975. Importa sublinhar que, se de um lado, as sequelas da dominação colonial reverberam até hoje, em várias dimensões da vida desses países, de outro, os avanços econômicos, educacionais e políticos podem ser claramente percebidos, apesar de ainda essa travessia demandar uma longa caminhada em prol da soberania e da democracia. Talvez seja o momento propício para responder, mais uma vez, à pergunta feita a nós, há uns doze anos, por um amigo brasileiro: “Não teria sido melhor os países africanos continuarem colônias de Portugal, ao invés de encarar as dificuldades que enfrentam ainda hoje, após tinta anos de independência?” Lembramos que nossa primeira resposta foi: “Meu caro amigo, ninguém gosta de ser considerado cidadão de segunda classe, em seu próprio país. Tu gostarias de estar nessa condição?”. Trazer a lume, neste momento, algumas reflexões a respeito de aspectos da memória do processo de colonização/descolonização na África de língua portuguesa, as relações raciais na contemporaneidade e algumas conexões com o campo da educação, torna-se, portanto, especialmente relevante, justamente por ser esta uma época comemorativa. Afinal, o que temos mesmo para comemorar, nestes quarenta e cinco anos, no que diz respeito às relações com o Outro, com o Diferente? O que mudou nas relações raciais internas e externas e que pode ser considerado indício de que aprendemos a encarar o “Outro como legítimo outro na convivência?” Que lugar a educação vem ocupando nesse debate?
image/svg+xmlTabu: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1241 Neste texto, instigado pelo filme Tabu (2012)3do cineasta Miguel Gomes, tentamos nos aproximar um pouco mais da memória da colonização e seus reflexos na atualidade, na mesma perspectiva que nos orienta Benjamin (2001), que é a de tentar recolher, com nossas reflexões, as lutas, os sonhos e os projetos inacabados daqueles que ficaram nas margens de um processo civilizatório excludente e racista, visando dar prosseguimento a eles no presente e no futuro. Assim, o estudo foi orientado por uma pesquisa exploratória, mas também pautado nas vivências e reflexões que fomos acumulando ao longo dos anos em que atuamos na graduação e na pós-graduação latu e stricto sensusobre a temática das relações raciais e seus desdobramentos no campo educacional. A perspectiva de pesquisa pautou-se em uma abordagem qualitativa reflexiva (MELUCCI, 2005). O trabalho encontra-se dividido em três seções. Na primeira, com a finalidade apenas de situar o leitor, trazemos algumas notas a respeito da escolha do filme Tabu. Na segunda seção, traçamos considerações a respeito de alguns aspectos levantados pela película, e que nos instigaram a lançar um olhar mais demorado para alguns desdobramentos da colonização portuguesa na África que reverberam na atualidade. Observações que se pautam em dois questionamentos: as imagens podem recontar histórias, a História? Que desafios nos coloca o filme Tabu? Acreditamos que as imagens trazidas à tona por esse filme “revificam”, nossas memórias, justamente por permitirem uma atualização das mesmas e um trabalho de ressignificação que pode envolver outras formas de conceber práticas sociais, políticas e educativas. Em outras palavras: essas imagens permitem um deslocamento do passado para dentro do presente. Na terceira e última seção, ainda instigados pelo filme, buscamos estabelecer algumas pontes com a educação, nosso campo de atuação e de reflexão, em suas conexões com o debate a respeito das questões de diversidade, diferença, racismo e correlatos. A ideia é mostrar, ainda que de forma breve, a atualidade dessa discussão e as demandas que ela coloca para o campo educacional, na perspectiva de construção de uma educação decolonial e antirracista, em tempos nebulosos como os que estamos vivendo. Por último, as considerações finais. 3O filme narra a anedota sobre um explorador europeu na África que, após perder a esposa, desaparece na floresta, é consumido por um crocodilo e numa antropofagia dos sentimentos se transmuta nele para a partir dali olhar. Tabu é uma meditação sobre nostalgia e, como todos os grandes filmes sobre a História, é uma obra sobre o hoje. Tabué essencialmente um filme sobre a impossibilidade hoje deste olhar eurocêntrico.
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO e Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1242 Notas a respeito da escolha do filme tabu A decisão pela escolha do filme citado, como elemento provocador e condutor das considerações que teceremos aqui neste texto, tem uma explicação um tanto insólita. A primeira vez que o assistimos foi por mero acaso. Exibido por um canal pago de televisão, a história já ia pela metade e, portanto, não tivemos oportunidade de entender bem a trama. No entanto, ainda deu para percebermos que se tratava de uma narrativa ambientada em um país africano de língua oficial portuguesa, no período colonial e também em Portugal, só que num tempo mais contemporâneo. No mesmo instante lembramo-nos que havíamos lido uma reportagem, uns meses antes, no siteda Rádio Moçambique (2015) nolinkCultura, que, justamente, fazia referência a essa película. Portanto, não era a primeira vez que esbarrávamos com essa obra. Recordamo-nos bem o incômodo que, tanto a reportagem quanto o aludido filme provocaram em nós, a ponto de decidirmos não deixar de nos manifestar sobre o tema. Tempos depois, a história continuava ecoando em nós, chamando-nos, incitando-nos a reflexões, que acabam ganhando corpo e voz neste texto. Lembramos aqui a frase do escritor moçambicano Mia Couto usada como epígrafe para abrir este ensaio, quando aponta que “não é o voarmos para os lugares que marca a memória. É o quanto desses lugares continua a voar dentro de nós” (COUTO, 2010). Outra razão que nos parece importante na escolha deste tema é uma suposta similaridade entre as nossas vivências afetivas, sociais e políticas, enquanto experiências étnico-raciais em Cabo Verde, Portugal e Brasil, e as questões que a trama aborda ou parece abordar. Antecipamos aqui a sensação que nos envolveu na maior parte do filme: uma espécie de convocação a agir. Portanto, tudo conspirava para que nós nos debruçássemos um pouco mais sobre essa narrativa da memória colonial. Que experiências temos para narrar desse período triste da vida das colônias e da própria Metrópole colonial, em conjugação com as lutas e movimentos dissidentes e de resistência? O que ressoa desse passado no presente? Em entrevista concedida ao Portal BUALA, o cineasta Miguel Gomes (2012) teria dito que o filme Tabucomeçou a se esboçar na cabeça dele a partir de uma viagem a Moçambique, e pelas coisas que ouviu a respeito das atrocidades cometidas pelos portugueses no período colonial. Resguardadas as devidas comparações, podemos afirmar que algo semelhante aconteceu conosco. As inquietações provocadas pelas questões abordadas pelo autor são indicativas de como o racismo, as lutas pela igualdade racial, os conflitos, as contradições e ambiguidades na construção da identidade racial atravessam a nossa vida, enquanto sujeitos
image/svg+xmlTabu: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1243 colonizados. e ajudam a configurar nosso olhar cotidiano em torno das relações raciais nesses países. Em suma, uma memória que, se de um lado é coletiva e compartilhada por muitos, de outro é individual e afetiva, de resistência e de “(in)submissão” às baixas expectativas, às profecias de fracasso que, historicamente, sustentaram o olhar sobre nós. Por isso, buscamos aqui narrar algumas vivências e experiências, tão-somente com o intuito de fortalecer a discussão, já iniciada por outros, sobre a temática da alteridade e seus desdobramentos nas nossas vidas, como assinala Linhares (2006, p. 8-9). Bem sabemos, até por experiência própria que, sem experiências compartilhadas, que possam subsidiar sentidos comuns, as memórias coletivas, político-sociais se enfraquecem, bem como a capacidade de narrá-las, interligando existências e experiências. Assim, se fragilizam, também, os elos indissolúveis entre a fabricação das experiências, as memórias e as narrações. Voltar a olhar para esse passado e suas repercussões no presente das relações étnicas e raciais é, pois, dar um mergulho nessa memória de lutas, de sonhos, desafios, conquistas, revoltas e desejos. Uma memória que é feita de fragmentos dispersos e sujeita aos caprichos da reminiscência. Ou seja, sujeita ao jogo das lembranças e esquecimentos. É isto que sugere o filme Tabu: um mergulho nas minhas/nossas memórias. Figura 1– Imagens podem recontar histórias, a história? Que desafios nos coloca o filme tabu? Fonte: Domingos (2014) A imagem acima constitui uma cena do filme em questão. O uso de imagem neste texto insere-se em uma discussão mais ampla, que tem nas pesquisadoras Alves e Oliveira (2004) alguns dos expoentes principais. As autoras chamam atenção para o aspecto narrativo das
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO e Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1244 imagens, destacando que nossa leitura de uma imagem e as reflexões que tecemos sobre ela estão sempre condicionadas às nossas lembranças e conhecimentos anteriores sobre o outro e sobre os fenômenos em geral, também essas constituídas por narrativas ou imagens anteriores. Neste sentido, citando Mangüel (2001), acrescentam que uma imagem dá origem a uma história que, por sua vez, dá origem a uma imagem. Que histórias essa imagem, e esse filme em especial, podem (re)contar sobre a presença negra em Portugal, nos dias atuais, sobre o racismo e processos de exclusão étnica e racial, em suas conexões com o passado colonial? Trata-se de uma película de 2012, constituída de duas partes: a primeira parte da narrativa, denominada PARAÍSO PERDIDO, é ambientada em Portugal, na atualidade, onde o autor narra alguns episódios da vida da personagem principal, Aurora, já na terceira idade. Aurora é uma senhora portuguesa, meio senil, de comportamento instável e rebelde, cuja trajetória de vida, boa parte vivida em Moçambique durante o período colonial, esconde um passado obscuro, captado em fragmentos de memória que escapam em seus delírios. Um breve exame de Paraíso Perdidoconduz à conclusão, sempre provisória, de que o autor quer nos colocar diante de alguns aspectos da realidade atual de Portugal, após o processo de descolonização. Um primeiro aspecto que salta aos olhos no filme e que estamos entendendo como uma possível alusão, ainda que breve, aos efeitos do processo de descolonização na atualidade, ou sobre o quanto o processo de colonização ainda ecoa em nós, é o caso, de um lado, da única personagem negra encarnando uma empregada doméstica que, supostamente, simbolizaria a condição dos imigrantes africanos das ex-colônias em Portugal e, de outro, a dos personagens brancos retratando as dificuldade de integração de muitos portugueses que viveram em África – os chamados “retornados”. Isso tudo fica patente quando examinamos os números relativos às dificuldades de integração dessa parcela da população na sociedade portuguesa, nos dados sobre a desigualdade racial e de gênero, na perda dos privilégios dos “retornados”, tudo isso aliado à solidão, à perda dos laços afetivos, bem como outras vicissitudes desse processo. A personagem Aurora é um exemplo interessante das dificuldades mencionadas acima. Ela vive em companhia de sua empregada cabo-verdiana de nome Santa (nota-se que nos créditos do filme a personagem Santa não aparece entre as personagens principais, embora tenha uma participação bastante considerável). Santa apresenta pouca expressão no filme, além de um comportamento subserviente que pode ser resumido na frase: Dona, só faço o que me mandam fazer!Ela não sorri, não expressa nenhum sentimento, mesmo quando demonstra, silenciosamente, solidariedade à patroa quando essa está em crise. Uma mulher negra,
image/svg+xmlTabu: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1245 analfabeta e em processo de alfabetização, apenas sugerido no filme, mas que chama atenção de imediato. A questão da educação dos imigrantes africanos é apenas sugerida no filme, através da personagem Santa. No entanto, pela sua importância acreditamos que é um debate merecedor de um olhar um pouco mais detido. Podemos nos perguntar: Quais são as razões da baixa escolaridade de boa parte das mulheres cabo-verdianas nesse país, em especial? Quais políticas públicas vêm sendo adotadas pelo governo português para combater o racismo e contornar essa realidade? O que existe em solo português que é indicativo de avanços nessa questão, com vistas a garantir o exercício da cidadania dessa parcela da população? Em pesquisa realizada em Portugal, no âmbito de um Doutorado Sanduíche realizado por um dos autores deste texto, ainda nos anos iniciais de 2000, foi possível perceber pistas interessantes dessa realidade. Alguns avanços e retrocessos provocados pela descontinuidade na implementação de determinadas políticas públicas. Algumas explicações se fazem necessárias para ajudar a compreender a representação da mulher cabo-verdiana4como empregada doméstica, no filme de Miguel Gomes: ex-colônia portuguesa até julho de 1975, Cabo Verde, historicamente, tem sido um país exportador de mão-de-obra para Portugal, principalmente, e outros países. A emigração da mão-de-obra feminina é um caso à parte: um exame das minhas memórias dos vinte anos vividos em Cabo Verde, país para o qual sempre retorno por conta dos laços familiares, até minha vinda para o Brasil pelo Programa de Estudantes/Convênio de Graduação (PEC-G)5, me remete para a percepção do recrutamento corriqueiro e frequente de mulheres cabo-verdianas para irem trabalhar como domésticas na Europa, particularmente, em Portugal. Minhas tias, à exceção da minha mãe que decidiu não emigrar e sim continuar batalhando em Cabo Verde, por exemplo, trabalharam durante boa parte de suas vidas como empregadas domésticas em Portugal e na França. Minha irmã mais velha também vivenciou essa experiência, até retornar a Cabo Verde, lá pelos meados dos anos de 1990. Algumas primas ainda residem em Portugal e outros países da Europa, também trabalham ou trabalharam como domésticas e em outras ocupações nesses países. 4A partir daqui os dois parágrafos seguinte trazem algumas memórias pessoais vividas por um/a dos/as autores/as do presente texto, por isso o uso do da primeira pessoa no discurso. 5O Programa de Estudantes/Convênio de Graduação (PEC-G), criado oficialmente em 1965 pelo Decreto nº 55.613, e atualmente regido pelo Decreto nº 7.948, oferece a estudantes de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordo educacional, cultural ou científico-tecnológico a oportunidade de realizar seus estudos de graduação em Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras. O PEC-G é administrado pelo Ministério das Relações Exteriores, por meio da Divisão de Temas Educacionais, e pelo Ministério da Educação, em parceria com Instituições de Ensino Superior em todo o país (BRASIL, 2020b).
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO e Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1246 A pobreza das ilhas, o desemprego, a baixa escolaridade e outras questões as impeliam naquela época e, de certo modo, até hoje, a sonhar/desejar os contratos de trabalho no exterior. Esse processo inicia-se bem antes da independência política, uma vez que as condições das ilhas dominadas por Portugal eram das mais precárias, porém a emigração ganha novo contorno após o processo de descolonização, com as crescentes dificuldades pelas quais atravessava o país, que empurraram e ainda empurram milhares de cabo-verdianos para a emigração. Portugal é um desses países que receberam um contingente elevado de cabo-verdianos. As condições no país de acolhimento não são das melhores para esses imigrantes, em boa parte constituída por analfabetos ou semianalfabetos. Muitos se empregam na construção civil, nos serviços domésticos e de limpeza, além da agricultura, auferindo baixos salários e trabalhando em condições de precarização trabalhista. Acabam se fixando em áreas degradadas e sem condições de habitação. As cabo-verdianas, salvo raras exceções, ainda hoje engrossam as estatísticas que indicam que no quadro das domésticas em Lisboa,até bem pouco tempo, constavamcomo maioria, embora atualmente esse quadro venha mudando, não tanto por melhorias nas condições de vida dos imigrantes cabo-verdianos em Portugal, em decorrência de políticas públicas mais inclusivas, e sim pelo racismo e pela concorrência feita pelas mulheres do leste europeu e pelas brasileiras. Em interessante estudo realizado sobre a Imigração Feminina em Portugal e sua relação com o trabalho doméstico, Baptista (2009) indica alguns elementos que nos ajudam a compreender essa questão do trabalho doméstico em Portugal, bem como o lugar ocupado pela mulher cabo-verdiana nesse mercado. De acordo com ele, no grupo das trabalhadoras domésticas com contribuições pagas pelo serviço doméstico no país, as Cabo-verdianas destacam-se, representando 56% em 2006. No entanto, ainda segundo esse autor, sua representatividade no total das trabalhadoras domésticas imigrantes tem decrescido, contrastando com a situação das trabalhadoras Brasileiras e Ucranianas. A desvalorização e o estereótipo associados ao trabalho doméstico não passam somente pela questão de gênero, mas também pela questão da hierarquização étnica, motivadas, em parte, pelas transformações no mundo globalizado. Estereótipos que associam o trabalho doméstico não só à mulher, como também à mulher com baixa qualificação educacional, proveniente de estratos mais baixos da sociedade portuguesa. A etnia passa a configurar uma nova dimensão dos estereótipos relacionados ao trabalho doméstico remunerado. Por conseguinte, verifica-se um movimento crescente de hierarquização das etnias, sendo preferidas, atualmente, as Ucranianas, com imagem associada
image/svg+xmlTabu: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1247 a qualificações e valores superiores, as Brasileiras, e por fim as Cabo-verdianas. As São Tomenses e as Guineenses são atualmente as mais preteridas nesse mercado (BAPTISTA, 2009, p. 149). Batalha (2008), por sua vez, acrescenta que, até a década de 1960, não havia espaço no mercado de trabalho português para a mulher cabo-verdiana. Assim, primeiro vieram os homens e só mais tarde as mulheres, que começaram vendendo peixe nas ruas, até a imposição de regras de comercialização de peixes por parte do governo português. Daí, elas passaram a dominar o mercado da limpeza, em casas de família como domésticas, nos centros comerciais, empresas e outros espaços públicos e privados. A competição das mulheres imigrantes do leste europeu e, pouco depois, das brasileiras, surge a partir de meados da década de 1990, quando já a maior parte das cabo-verdianas trabalhava nas limpezas. No entanto, o simples fato de a realidade das empregadas domésticas em Portugal ser caracterizada, até bem pouco tempo, como constituído majoritariamente pelas cabo-verdianas, não nos isenta de uma análise mais crítica e profunda dessa conjuntura. Ao contrário, nos obriga a compreender como ela foi construída, seus elementos mais obscuros e pouco visibilizados e também buscar formas de modificá-la. Porque, como nos orienta Linhares (2006), é necessário enveredarmos pelos espaços obscuros, pouco penetrados, silenciados e naturalizados das relações sociais, por mais “normais” e naturais que aparentem ser. São esses espaços que na maioria das vezes encobrem relações desiguais, opressões que precisam ser desmascaradas. Em vista disso, o lugar em que a mulher negra e cabo-verdiana é colocada na narrativa justifica uma análise crítica das tipificações e dos clichês correntes, tanto na sociedade portuguesa quanto na brasileira, sobre determinados grupos sociais. Ainda recentemente circulava nas redes sociais a imagem de uma atriz negra brasileira a desempenhar o papel de empregada em duas novelas, quase em simultâneo. E isso significa dizer que urge ampliar e colocar na berlinda esta e outras representações, de modo a combater o racismo e o sexismo. Enfim, uma questão que exige reflexões mais amplas e profundas sobre o espaço que o(a) negro(a) ocupa na dramaturgia portuguesa e brasileira. Um exame mais frio, por outro lado, dessa mesma representação, nos coloca diante da possibilidade, entre outras prováveis leituras, de o autor nos situar, de forma categórica e intencional, diante de uma explícita e gritante ausência! Uma única atriz negra representando, em um filme, um contingente populacional expressivo como é o dos negros africanos em Portugal é um indício forte de que algo está errado. Desse modo, seja afirmando ou contestando, Miguel Gomes nos situa defronte ao racismo e à exclusão dessa parcela da população na sociedade portuguesa, além de questões de
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO e Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1248 gênero associado à “raça”. Aqui lembramos Benjamin (1996, p. 200) quando ele nos indica que “Nada do que aconteceu pode ser considerado perdido para a História”. A questão que fica é: a experiência colonial, o racismo e a desigualdade que aconteceram em uma história de mais de quinhentos anos de dominação estariam se repetindo agora, no contexto atual, mesmo após tantas lutas e embates em prol de uma sociedade mais justa? Outra questão salta aos olhos, à medida que avançamos na narrativa: a senhora Aurora relaciona-se com a vizinha portuguesa Pilar, uma mulher muito religiosa e envolvida com determinadas causas sociais: Comissão de Justiça e Paz, Campanha por Direitos Humanos, etc. No entanto, uma contradição sobressai: Pilar defende uma posição política e militante em prol dos desfavorecidos, tem atitudes de indignação quanto às iniquidades da sociedade portuguesa, mas não parece se incomodar com a realidade das mulheres cabo-verdianas e africanas em geral, não questionando o racismo e a desigualdade vivida por essas mulheres na sociedade portuguesa. Seria essa mais uma crítica à representação do racismo naturalizado em Portugal? Uma continuidade do racismo presente na história colonial? (RAPOSO, 2015). O que estaria o autor nos instigando? A pensar na suposta indiferença, no racismo velado, na complacência dos portugueses com estas questões? O racismo em Portugal expresso no filme não é só velado através do silêncio e das ausências. É também um racismo explícito, que pode ser conferido na seguinte frase dirigida pela patroa à empregada Santa que, por sua vez, ouve silenciosamente e sem esboçar reação: “Estou cansada das tuas macumbas malditas, preta serva do diabo!”. Ou ainda: “Quem me mandou a preta foi o...” e faz sinal com os dedos, indicando não ser nome que se pronuncie. “Sua preta feiticeira. Puseste minha filha contra mim com as tuas macumbas malditas!”. E mais além: “Temo que minha filha tenha sido envenenada pelas mentiras e bruxedos dessa serva do diabo”. É importante lembrarmos que essa memória constitui a todos. Mesmo em Cabo Verde, o racismo é uma questão presente em nosso cotidiano. A fraca ou quase nula integração dos africanos do continente com os nativos da ilha de São Vicente revela um problema social muito grande, mas que não parece ainda merecer grandes considerações. O cabo-verdiano em geral aparenta ser uma pessoa racista, pois seu discurso e suas emoções em relação aos/as negros/as do continente africano parecem prenhes das teorias raciais do século XIX e seus desdobramentos posteriores. Às vezes explícitas, outras veladas, as relações entre os “crioulos”,
image/svg+xmlTabu: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1249 como são denominados os cabo-verdianos, e os “africanos” em várias situações ainda são de um distanciamento assustador.6Quanto aos “africanos”, é pertinente destacar que é muito comum ouvir-se uma parcela significativa da população cabo-verdiana proferir frases de rejeição à identidade africana. Esta é outra discussão que merece atenção, no bojo dos estudos sobre a identidade cabo-verdiana e sobre racismo. Como incluir a cultura africana nos currículos, por exemplo, se os cabo-verdianos, de modo, geral, não se acham africanos? Outra questão se destaca ainda na primeira parte da película: a realidade vivida pelas duas personagens principais que viveram em África, em seu retorno à Metrópole. Uma delas vive em um asilo e é tida pelos parentes mais próximos como “lelé”; outra, apresentando um comportamento senil, vive praticamente apartada da filha, somente em companhia da empregada. Sem notícias, sem parentes mais próximos. A solidão dessas personagens emerge como uma evidência do desenraizamento dos colonos e suas consequências no retorno à metrópole. Um quadro experimentado por grande parte dos portugueses retornados à casa, após o processo de descolonização. Uma nova expatriação que, diga-se de passagem, para muitos, não se deu por vontade própria e sim por motivos econômicos e políticos. Sem vínculos afetivos, sem amigos, sem raízes, o colono não é mais aquele que era quando deixou seu país de origem, ainda que seus sonhos estivessem sempre voltados para a Metrópole, para onde sonharam um dia voltar a viver, ou morrer. Desenraizamento, sentimento de inadequação, são algumas das emoções experimentadas pelos retornados (MEMI, 1977, p. 23). A segunda parte do filme é narrada por um dos personagens principais, já velho, que também viveu em Moçambique no período colonial. Este se apoia na memória para nos introduzir nesse passado vivido por ele e que representa o passado de muitos como ele. Denominada de PARAÍSO PERDIDO, é ambientada em Moçambique. PARAÍSO PERDIDO é um desenho breve e às vezes superficial da vida nesse país da África colonial. Um deslocamento no tempo que nos leva a pensar em uma tentativa de evidenciar as conexões íntimas entre passado e presente, como nos diria Benjamin (2001). Solidão na juventude, solidão na velhice. O colono não vive a vida dos colonizados, a qual rejeita e despreza, não se identifica com seus costumes e valores que denomina de “rituais repugnantes e heréticos”. Isola-se em seu mundo de privilégios, junto com seus conterrâneos 6Essa afirmação está fundamentada na experiência e vivência de uma das autoras do presente texto, que é cabo-verdiana e que conviveu por muitos anos com pessoas que expressam esse comportamento e/ou atitude.
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO e Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1250 na mesma situação social e econômica. Uma existência solitária, porém, prenhe de privilégios e outras benessesque a empresa colonial possibilitava aos seus, em detrimento das baixas e degradantes condições de vida da maioria dos nativos. Nesse período, caso existisse, a relação entre um branco e uma negra, em geral era marcada por abuso sexual ou, no caso de haver consentimento da parte da mulher, esta era encarada como objeto sexual pelo homem branco. Relações afetivas entre homem branco e mulher negra, na África colonial e, arriscaria afirmar que ainda hoje, eram e são raríssimas. O filme exemplifica bem esse fenômeno quando narra as incursões sexuais do amigo de Gian Luca com as mulheres negras, e do filho que resultou de uma relação entre ele e uma dessas nativas. Um filho que raramente visitava, acrescenta o narrador. A mulher, esta que não aparece no filme. Privilégios, tanto na posse de bens materiais, quanto na de vidas humanas. Um exemplo bem claro dessa forma de encarar o outro como bem material, muito comum nesse período, pode ser percebido na frase do mesmo personagem: “Entre as posses de Aurora, havia um cozinheiro feiticeiro...”. Chama atenção, à medida que vamos concluindo esta parte do texto, a alusão, a nosso ver, um tanto irônica da luta de libertação, quando aponta que o assassinato do amigo de Gian Luca pela Aurora foi assumido pelo movimento moçambicano de libertação nacional. Além disso, revela uma serenidade apática dos moçambicanos diante do quadro de revoltas e massacres perpetrados por rebeldes africanos, sugerindo um conformismo que, na verdade, nunca existiu. A guerra colonial ceifou muitas vidas durante os quase dez anos em que perdurou. Vidas portuguesas, vidas de vários países africanos lutando pela sua independência. Se, de acordo com o filme, os portugueses que viviam na colônia armaram-se como puderam quando explodiram os conflitos, foi porque privilégios estavam em jogo. No caso dos africanos, o que estava em jogo era sua dignidade enquanto sujeitos e cidadãos dentro de seu próprio país, onde eram tidos apenas como uma presença tolerável. Domingos (2014), apoiando-se em Edward Said em “Orientalismos”, por sua vez, alerta que o cinema construiu esse outro quase sempre representado pelo seu exotismo e pelo seu atraso. A “culturalização” do outro, seja para destacar sua inferioridade, seja para mostrar sua diferença, é um poderoso instrumento de ocultação das relações de poder. Nessa perspectiva, adverte que o filme de Miguel Gomes tenta, de forma um tanto velada, tímida e ambígua, fazer uma crítica genérica ao colonialismo português em África, mas se enquadra no debate atual sobre a história do colonialismo português, onde ainda é possível encontrar vertentes que defendem uma suposta brandura nas relações do colonizador português com os nativos
image/svg+xmlTabu: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1251 africanos, quando, na realidade, as relações coloniais foram marcadas pelo racismo e processos de discriminação racial e sexual. Algumas outras contribuições sobre como essa memória racista foi produzida e qual tem sido a responsabilidade e a contribuição da ficção no seu reforço e na sua superação podem ser encontradas também em Foster (2015), entre outros, onde a autora apresenta traços de uma ficção mítica, científica, literária e popular que ressoam ainda hoje como um reforço ao racismo e à desigualdade racial no Brasil e no mundo. As questões suscitadas pelo filme tanto em sua narrativa no passado como no presente nos conduzem para a necessidade de compreender que os resíduos dessa história de subalternização colonial ainda nos desafiam, porém vêm sendo tensionados continuamente pelos movimentos instituintes de uma nova racionalidade e de outra história. Vale ressaltar que os movimentos instituintes não se dispõem como objetos prontos a serem descobertos por investigadores geniais e certeiros; somos todas/os fabricantes nesses e desses processos instituintes/instituídos, pois eles dependem do modo com que os percebemos, os desejamos, intensificando condições e possibilidades de seus caminhos de construção, que não desprezam o aproveitamento de frestas (LINHARES, 2010, p. 801-818). Reflexões sobre diversidade, diferença, racismo e educação em tempos que se revelam sombrios e pandêmicos Como assinalado, o filme Tabunos coloca diante de questões candentes no mundo contemporâneo, cujos desdobramentos na educação são visíveis e podem ser aquilatados quando lançamos um olhar menos enviesado para elas. Assim, resta nos indagarmos, na qualidade de pesquisadores das relações raciais e interculturais na educação: que pontes podemos estabelecer entre as questões sugeridas pelo filme tabue o debate teórico sobre as questões da diversidade, diferenças, racismo, intolerância religiosa e xenofobia presentes no mundo contemporâneo e mesmo no Brasil? De modo mais particular: tendo em vista que nosso campo de atuação e de reflexão é o da educação brasileira, como essas mesmas questões de colocam no debate sobre a realidade educacional brasileira? Neste sentido, como pensar a escola para esse novo quadro que se esboça ou se intensifica, quando, de um lado, as exigências do apelo à diversidade e diferença se fazem mais contundentes, e de outro, verifica-se um estímulo ao individualismo, à homogeneização e à mercantilização e um crescente processo de privatização da educação?
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO e Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1252 Como (re)pensar a escola e a formação de professores para trabalhar a questão da pluralidade cultural e racial, em um mundo em mudança, quando somos obrigados a encarar reformas curriculares que nos colocam defronte a um projeto de Currículo Nacional contido na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e que apresenta um claro esvaziamento de questões pertinentes à temática racial? Como dar conta desse processo, quando além de esvaziar o debate, ainda sobrevaloriza uma política de competências que hierarquizam verticalmente e tendem a horizontalizar as diferenças? E finalmente, que pistas de mudanças, de movimentos instituintes podem ser vislumbradas nesse cenário, um tanto quanto nebuloso? É certo que, não obstante essas tentativas de imposição de uma memória já sobejamente criticada, muitos caminhos nos levam a acreditar que vivenciamos, atualmente, uma crise que se constitui no questionamento do uso de categorias unificadas e universalizantes, na compreensão das diferenças entre os povos, imposta pela racionalidade ocidental. Nesse contexto, adquirem novo vigor as questões das diferenças e da alteridade, ganhando “voz aqueles que normalmente não a têm: os esquecidos, os excluídos, ou [...] os ‘derrotados’” (JOUTARD, 2000, p. 33). Destacamos, assim, o apelo às memórias e identidades dos “de baixo”, que (re)surgem, no cenário mundial, principalmente, com a fragmentação de nações artificialmente constituídas, em cima do esmagamento de etnias e de identidades7. A disputa da memória de que nos fala Pollack (1989), a luta contra a diluição e o esvaziamento de experiências vividas, em uma memória coletiva assimiladora, a busca de um espaço político de resgate e afirmação de memórias silenciadas e subterrâneas, mas também, o recrudescimento do racismo e da discriminação racial dos negros e negras, dos migrantes e excluídos em geral, são fatos a considerar e que interferem diretamente nos rumos que queremos dar para a educação. Não obstante toda essa gama de tensões e conflitos e, apesar desses problemas constituírem parte da agenda de movimentos sociais e de vários organismos internacionais, segundo Sodré (1999), a questão das “diferenças culturais” não tem sido encarada com seriedade, como tema significativo por um determinado tipo de reflexão filosófica em curso na Europa. Na realidade, aponta Sodré (1999), a tolerância, discurso muito em voga nos dias de hoje, seria uma forma camuflada de afirmar a nossa superioridade sobre o outro, o diferente. 7Concepção de identidade. Hall (2015), em seu livro “Identidade cultural na pós-modernidade” aborda a questão das mudanças que vêm sendo operadas na identidade cultural, que seria formada através do pertencimento a uma dada cultura nacional, a partir dos deslocamentos operados por força da globalização.
image/svg+xmlTabu: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1253 Eu tolero aquele que é diferente de mim, a partir de minhas referências e de minha escala de valores. Tolerar, assim, implica em fazer determinadas concessões ao outro, não em respeito a ele ou em posição de igualdade. Tolerar acaba constituindo uma posição etnocêntrica e xenófoba.Com efeito, essa postura revela-se emblemática de um tipo de pensamento sobre a diversidade humana que pretende determinar como universais os valores da cultura ocidental e europeia, ainda muito presente na nossa educação. Valores que espelham convicções e crenças e, portanto, não são neutros. Esse tipo de pensamento não permite o reconhecimento das diferenças concretas, da prática ético-política real, e desconhece a exclusão a que esse outro está submetido, as suas lutas e disputas internas, bem como as especificidades concretas de sua existência. Por trás da lógica culturalista que coloca as diferenças culturais como as causas e consequências das profundas diferenças culturais e conflitos esconde-se uma lógica política e econômica que enfatiza as diferenças culturais, porém monitoradas, para que não ameacem a hegemonia capitalista. A ênfase nas diferenças culturais contribuiria, justamente, para justificar a desigualdade, a segregação, a assimilação e a desconsideração dos direitos dos diferentes ao respeito e à valorização da sua própria diferença e identidades.A crítica de Sodré (1999) em cima do posicionamento a respeito da questão da diversidade humana e o universalismo que dá suporte ao pensamento ocidental nos instigam a buscar compreender um pouco mais essa relação e sua repercussão na construção de uma ideologia racial – tanto no Brasil como em Cabo Verde, Portugal e/ou em qualquer outro país – que está na base da ideia de identidade nacional que por muito tempo desqualificou as outras identidades étnicas. Ou seja, precisamos também entender a complexidade/discussão desse debate para além de nosso país. A ressignificação e reinterpretação das diferenças no contexto atual de crise de uma modalidade de razão e política são aspectos a considerar e uma das formas usadas por movimentos que “costumam ver na cultura o conjunto das mediações simbólicas (língua, artes, leis, costumes, modos de pensar) para abordar a sua singularidade e afirmar suas diferenças” (SODRÉ, 1999, p. 24). Entretanto, é importante nos atentarmos para os riscos do fechamento das “identidades culturais”, de modo a evitar que se desvirtue a análise política dos sentidos que essa universalidade tem adquirido nas relações entre os povos. O importante é não nos fecharmos culturalmente, impedindo o diálogo com o outro. É esse diálogo que nos dá a dimensão das nossas semelhanças, sem perder o fundamento das diferenças.
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO e Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1254 As divergências políticas, ideológicas, culturais podem gerar conflitos, porém, a partir do momento em que não se conceba a diferença como algo cujas premissas básicas estejam intrinsecamente equivocadas, a realidade não se absolutiza. Na verdade, o que gera divergência não é a existência da diferença e sim a atitude que adotamos de aceitação e/ou rejeição das premissas básicas dessa diferença.Ser diferente, nesta perspectiva, não significa ser desigual, ainda que se analise a diferença com base em determinadas “evidências” de uma realidade desigual. Não são os domínios do existir do diferente que fazem dele um desigual porque as condições de sua diferença em si não implicam em desigualdade; elas não são inferiores nem superiores, são diferentes. A diferença só se apresenta como sinônimo de desigualdade para aquele que se acha detentor de uma verdade perante a qual não existiriam outras verdades. A questão racial, como qualquer fenômeno social, seja no Brasil, em Portugal ou outra parte do mundo, não se resume a uma única dimensão, que é a econômica. Ela envolve uma interdependência de relações que vão desde a esfera da produção material às dimensões políticas, culturais, que envolvem a própria economia dos afetos e outras. Portanto, nesta perspectiva de análise, não comungamos da posição defendida por certo senso comum de que a questão racial, no Brasil e/ou em qualquer outro lugar, é meramente econômica. Aliás, sobre a questão da “raça” existe uma discussão interessante. Alguns estudos enfatizam a necessidade do uso do termo como categoria central nas análises sobre a questão do negro, das desigualdades raciais e do racismo nos países que fazem parte do universo das nossas pesquisas, argumentando o seu entrelaçamento com um significado negativo, atribuído às características fenotípicas dos negros que, por sua vez, aliadas a conceitos morais, acabaram definindo o racismo nessas sociedades. O uso do termo “raça”, hoje vem sendo feito a partir de uma nova interpretação, numa perspectiva ressignificada, política e não biológica. Outros intelectuais, porém, o rejeitam, propondo o uso da categoria etnia, com base no argumento de que seus antecedentes históricos e sua ligação com a biologia são desabonadores, uma vez que a biologia não considera a existência de raças, e sim de uma única raça que é a humana. Não obstante esse debate, junto com outros autores e autoras, adotamos o seu uso, não pressupondo um significado biológico, mas porque acreditamos que é o único que, realmente, nos dá a dimensão do racismo nessas sociedades, e também por acreditarmos, como outros estudos, que o racismo não está relacionado somente a aspectos culturais, mas que ele se fundamenta no entrelaçamento de aspectos culturais a uma visão inferiorizada das características que definem a ancestralidade africana. Portanto, no corpo deste texto, sempre que nos referirmos ao termo “raça”, estaremos fazendo-o nesta perspectiva.
image/svg+xmlTabu: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1255 Se trouxermos esse debate para a compreensão da realidade brasileira percebemos o quão importante é adentrar nessa discussão, pois temos a tendência de olhar para fora, nos indignarmos com as práticas racistas que ocorrem em outros países, mas não enxergamos o que acontece de fato em solo brasileiro. Para entender esse debate no que diz respeito à sociedade brasileira, é importante adentrar nos meandros de uma discussão em torno do conceito de “raça” e, como veremos, esta é uma discussão que envolve tanto o questionamento das bases “biológicas” do conceito, como uma crítica ao capitalismo. Falar do racismo no capitalismo merece um estudo mais cuidadoso que chame a atenção para os processos de privatização e o esvaziamento do reconhecimento do outro. Para Mbembe (2018), o conceito de raça não deve ser entendido como um fato natural físico, antropológico ou genético. O autorexpressa que a perda da centralidade da Europa na ordem mundial no final do século XX não esvaziou totalmente os discursos raciais, eles continuam muito presentes em nossos dias. Sobre raça, Mbembe (2018, p. 73) expressa ainda que: Pouco importa que ela não exista enquanto tal, e não só devido à extraordinária homogeneidade genética dos seres humanos. Ela continua a produzir efeitos de mutilação, porque originariamente é e será sempre aquilo em cujo nome se operam cesuras no seio da sociedade. Um dos elementos para explicar essa realidade nos é fornecido por Guimarães (1995). Segundo este, o problema racial especificamente no Brasil está relacionado, entre outros, à construção de uma ideologia racial que tem na cor um dos seus sustentáculos. O racismo estaria revestido de certa especificidade, em relação a outras nações onde o problema se apresenta, e uma delas refere-se à construção de uma nacionalidade que envolveu um ideal de homogeneidade, cujo objetivo era, justamente, suprimir as diferenças. Uma concepção de nação mestiça, apoiada na noção de lugar de nascimento e não na ancestralidade. Um modo eficaz de apagar “ancestralidades desconfortáveis”, pautado em premissas que associam diferença à inferioridade. Enfim, uma estratégia que, até certo ponto, revelou-se eficaz na elaboração de uma representação homogênea que os brasileiros têm de si mesmos e de seu país. Assim, a análise do processo de construção da identidade nacional brasileira reveste-se de grande importância na compreensão do racismo. É onde se poderia dizer que foram lançadas as primeiras pedras para a construção do racismo cordial, disfarçado, sempre camuflado; uma rejeição ao negro e negra disfarçada por frases amigáveis, mas que procuram esconder políticas de convivência hostis. O racismo que ganha força com o mito da democracia racial (FOSTER, 2015).
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO e Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1256 Estudos indicam – de autores/as já citados/as neste texto, dentre outros – que não obstante as políticas que vêm buscando instituir novas formas de se encarar e trabalhar as diferenças, elas esbarram na ideia de uma identidade nacional homogênea que desqualifica diferenças, bem como o mito da democracia racial, o que impede que se dê o devido valor às especificidades da condição negra na sociedade brasileira, às influências da cultura africana na cultura brasileira e em outros domínios. O século XXI marca o desmoronamento do mito da democracia racial – ainda que bastante restrito ao plano teórico – segundo dados da pesquisa da Oxfam Brasil e do Instituto Datafolha, denominada de Pesquisa “Nós e as Desigualdades”, que traze as percepções sobre desigualdades no Brasil em 2019. A pesquisa contou com a contribuição ao debate sobre o tema de 2.086 pessoas entrevistadas em 130 municípios brasileiros, de todas as regiões do país, entre os dias 12 e 18 de fevereiro de 2019. Os dados revelam que: 1) para 72% da população brasileira, a cor da pele define as chances de contratação por parte das empresas; 2) para 81%, a raça define o nível de abordagem policial; 3) para 71%, a justiça é mais dura para os negros; e, 4) para 81%, os pobres negros sofrem mais do que pobres brancos, isto é, presenciamos a demolição do mito e a saída do racismo do armário; 5) 52% concordam que negros ganham menos por serem negros (OXFAM BRASIL, 2019). O assassinato do cidadão negro George Floyd nos Estados Unidos em 25 de maio de 2020 produziu uma onda mundial de protestos. Manifestações antirracistas ocorreram pelo mundo desde a sua morte, quando foi sufocado por um policial branco em Minneapolis-EUA. Vídeos disponíveis na internet mostram que, no momento da tragédia, é possível ouvi-lo dizer “eu não consigo respirar” pelo menos oito vezes antes de perder a consciência. Entretanto, episódios explicitamente racistas como este não são inéditos no Brasil e no mundo. O racismo é um problema bem mais antigo e complexo. E esta realidade continua muito mais viva e assombrosa principalmente a partir de 11 de março de 2020, com o contexto pandêmico (novo coronavírus, nomeado como SARS-CoV-2)8, que causou o pânico em toda humanidade, quando foi caracterizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma pandemia, cujos indicadores de morte e vulnerabilidade indicam que a população negra é a mais atingida. E, neste cenário, percebemos que ao longo desta crise sanitária que continua se estendendo, o racismo e as desigualdades sociais seguem desenfreados. De acordo com um levantamento realizado por Barbon (2020), até o dia 8 de 8Designado como Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus, doença que promove infecção aguda.
image/svg+xmlTabu: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1257 maio de 2020, pretos e pardos correspondiam a 35% dos óbitos pela Covid-19, conforme dados epidemiológicos divulgados pelo Ministério da Saúde (MS). Diante desse contexto, podemos afirmar que o racismo piorou? Não, ele sempre existiu. Só passou a ser mais divulgado/denunciado devido os avanços tecnológicos e o acesso à informação pela grande parte da sociedade. O que nós estamos presenciando nos últimos meses são apenas reflexos em escala crescente de repercussão mundial de uma violência presente na sociedade como forma de controle e de manutenção racista que o Estado põe sobre a população negra. De acordo com Mbembe (2017), em um contexto global na atualidade marcado pela constante produção de “políticas de inimizade”, o racismo, em suas múltiplas dimensões, apresenta-se como uma tecnologia de poder capaz de regular as relações. No Brasil, por exemplo, essa questão é bastante evidente quando olhamos para os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre as desigualdades sociais, onde os índices revelam uma nítida demarcação étnica (BRASIL, 2019). Como consequência das políticas econômicas, ainda a exemplo do Brasil, as políticas educacionaissofrem com a política de restrições de verbas para a educação. Ao mesmo tempo se limitam as esferas de participação crítica dos profissionais que nela atuam e a diversidade de alunos, com a ênfase emum sistema de “scores” e de avaliação com base na estandardização dos exames, como a Prova Brasil, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) nos quais, com certeza, as grandes maiorias de brancos pobres, negros e negras e indígenas, são as mais prejudicadas. Nesse percurso de desmonte das políticas públicas nos dois últimos anos, em particular no atual cenário político brasileiro, lembramos o avanço das políticas conservadoras e de extrema direita a partir de 2019, como: 1) dissolução da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), criada em 2004 por demandas de movimentos sociais, órgão este responsável por programas, ações e políticas, como por exemplo, a Educação Escolar Quilombola, Educação para as Relações Étnico-Raciais, Educação em Direitos Humanos; 2) criação da Subsecretaria de Fomento às Escolas Cívico-Militares9, proposta esta que passou a integrar as competências gerais do MEC, já que era uma das principais bandeiras levantadas por Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial; 3) extinção do Ministério da Cultura (Minc) etc. Estas atitudes/discursos/comportamentos, dentre 9Lembramos que a expansão das escolas militares no Brasil não é novidade. Entre os anos de 2013 e 2018 houve um aumento significativo no número de unidades ofertadas.
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO e Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1258 outros, só demonstram o não comprometimento e sensibilidade na implementação de políticas inclusivas a fim de mitigar as desigualdades históricas presentes no país. Entretanto, numa outra direção, os discursos antirracistas e as análises multiculturais propõem ações educativas que enfatizam o aspecto político das diferenças, uma vez que a ênfase no “score”, tão comum hoje, pressupõe comportamentos e capacidades que estariam localizadas no indivíduo. Assim, questões como quociente intelectual associado ao rendimento escolar, que têm sustentado discursos que reforçam a desigualdade e o preconceito, com base em diferenças “biológicas” entre homens e mulheres, o próprio racismo, ou o uso da cor da pele como elemento justificador de rendimentos acadêmicos, são substituídas por práticas mais integradoras das diferenças. Enfim, reforçar o aspecto político das diferenças e não a sua mera localização no indivíduo seria um dos caminhos para se pensar uma educação mais igualitária. Recentemente, em julho de 2020, o Ministério Público Federal (MPF) enviou recomendação para que a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) adotem medidas que permitam a criação da disciplina de Relações Étnico-raciais em seus cursos de licenciatura. Recomendações estas até por conta da obrigatoriedade e implementação das Leis Federais n. 10.639/2003 e n. 11.645/2008, assim como por conta do Estatuto de Igualdade Racial, que prevê a incorporação de temas que envolvam valores sobre pluralidade étnica e cultural da sociedade brasileira na matriz curricular dos cursos de formação inicial e continuada de professores (BRASIL, 2020a). Nossas pesquisas têm indicado que, para que se promova uma educação efetivamente includente racial e etnicamente é necessário se pensar para além do sistema de “score”. Sabemos que embora ainda persistam as dificuldades, os avanços são grandes e já bastante perceptíveis no campo educacional, no sentido de se ajudar os alunos negros a se valorizarem enquanto negros, e a sentirem orgulho de pertencerem a uma comunidade quilombola, com suas histórias, tradições, experiências e narrativas. As experiências pedagógicas, embora ainda permeadas de contradições e resvalando, ora para a aceitação do negro como igual na sua diferença, ora fortemente ancoradas em discursos de negação, sugerem, contudo, fraturas e brechas por onde podem ser potencializados outros movimentos de valorização da cultura africana e afro-brasileira e da memória oral dos antepassados africanos. Em suma, comungamos com Heckert (2004) que é imperioso vislumbrar com as nossas pesquisas as diversas forças em jogo no campo educacional, pois elas envolvem tanto as prescrições normatizadoras contidas nas políticas oficiais que se pretendem hegemônicas, como também uma diversidade de modos de pensar e de agir que têm a potência de desestabilizar o
image/svg+xmlTabu: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1259 instituído: processos anônimos e imprevisíveis que promovem a instabilidade e ruptura com esse imaginário racista ainda fortemente estabelecido na educação. Sabemos que temos muito caminho a percorrer – principalmente por causa dos tempos sombrios que estamos vivendo – na criação e/ou valorização de outros modos de agir na educação, para além das tentativas de se elaborar um discurso isento, neutro e politicamente correto. É a educação sendo chamada a se posicionar. Considerações finais Não é novidade para ninguém as profundas ligações que o Brasil tem com a África. De lá vieram os/as africanos/as, que trouxeram suas culturas, saberes, tradições, religiosidades, música, dança, culinária e cosmovisões que enriqueceram a cultura brasileira. Não obstante todo o processo de desvalorização dessas contribuições bastante aquilatadas por estudos e pesquisas, hoje verificamos um processo crescente de reconhecimento e preservação da história e cultura africana e afro-brasileira no país, com as comunidades remanescentes de quilombo imprimindo novos sentidos para as suas festividades, tradições religiosas, e outras manifestações culturais. Notamos também que, embora careça de maior reconhecimento e ampliação, esses movimentos têm reverberado na escola. São projetos que indicam possibilidades de superação do racismo na escola e fora dela, também pela via do enaltecimento das contribuições da cultura africana e afro-brasileira na construção da identidade brasileira. Os projetos instituintes em educação, segundo Linhares (2006, 2010), são formas de anunciar reversões na própria racionalidade e política dominante, de forma a preencher lacunas e vazios deixados por uma forma de organização do saber hierarquizado e excludente de outros saberes, de outra corporalidade e de outras memórias. A revisão da posição etnocêntrica assumida pela escola e que sempre predominou em relação ao “outro” revela-se fundamental, juntamente com a revisão da posição xenófoba e racista, de forma a buscar construir novos modos de socialização. Enfim, transformar a escola, reinventá-la, rever seus métodos, suas regras, seus objetivos, suas bases epistemológicas, são alguns dos nossos maiores desafios. Não podemos deixar de destacar trabalhos importantes como o de Gomes (2000, 2010), Munanga (1999, 2008), e outros/as sobre a educação cidadã, que levantam a necessidade de focalizarmos a centralidade da questão racial na nossa prática pedagógica, nos projetos e políticas educacionais, na luta em prol de uma sociedade democrática que garanta a todos o direito de cidadania. O nosso sistema educacional precisa “discernir a especificidade da raça como elemento da nossa condição humana e a construção social da raça ao longo da história da
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO e Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1260 nossa sociedade”. Assim, urge considerar a interferência das diferenças étnico-raciais nas condições de vida do povo brasileiro, de forma a ultrapassar o nível de preocupação somente com as desigualdades econômicas, e encarar outro aspecto dessa desigualdade, que é a questão da diversidade cultural e racial. Reconhecer e respeitar a diversidade dos/as alunos/as é desejado por todos e todas, desde que os nossos esforços não sejam minados por condições estruturais que degradam o indivíduo e o colocam na marginalidade. O importante aqui é considerar a questão da diferença dentro de uma questão mais ampla, que é a da erradicação da pobreza e da desigualdade racial que um projeto neoliberal de sociedade, como nos mostram estudos e pesquisas sobre o assunto, não tem condições de nos oferecer. Portanto, urge prestar mais atenção aos discursos contidos nos documentos oficiais e nas práticas docentes. Assim sendo, para combatermos o racismo ou qualquer outra forma discriminatória e/ou preconceituosa, são necessárias ações, práticas e contínuo exercício do que consideramos pertinentes, tais como: 1) perceber e entender que o racismo está presente em todas as práticas sociais, seja de forma explícita, sutil e/ou camuflada; 2) entender que a luta contra o racismo é responsabilidade de todos, independentemente da cor da pele, da situação econômica e/ou social; 3) não se calar, denunciando toda e qualquer prática racista, discriminatória e/ou preconceituosa; dentre outras. É o filme Tabureverberando na atualidade e nos convidando a escovar nossas histórias e contrapelo. Reflexões cada vez mais urgentes sobre nossas realidades, seja no Brasil, em Cabo Verde, Portugal ou outro país africano. REFERÊNCIAS ALVES, N.; OLIVEIRA, I. B. Imagens de escolas: Espaçostempos de diferenças no cotidiano. Educ. Soc., Campinas, v. 25, n. 86, p. 17-36, abr. 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/es/a/tNr9GNVPHvhZfL3qL8CYFML/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 10 set. 2021. BAPTISTA, P. G. Imigração e trabalho doméstico: O caso português. 2009. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Cooperação Internacional) – Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2009. Disponível em: https://www.repository.utl.pt/handle/10400.5/1653. Acesso em: 10 out. 2021. BARBON, J. Após 2 meses, Brasil não sabe a cor de 29% dos mortos pela Covid-19. Folha de São Paulo, São Paulo,17 maio 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/05/apos-2-meses-brasil-nao-sabe-a-cor-de-29-dos-mortos-pela-covid-19.shtml?origin=uol. Acesso em: 20 dez. 2021.
image/svg+xmlTabu: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1261 BATALHA, L. Cabo-verdianos em Portugal: “Comunidade” e identidade. In: GÓIS, P. (org.). Comunidade(s) cabo-verdiana(s):As múltiplas faces da imigração cabo-verdiana. Lisboa: ACIDI, 2008. BENJAMIN, W. Sobre o conceito da história. In: BENJAMIN, W. Obras Escolhidas: Magia e técnica, arte e política.São Paulo: Brasiliense, 1996. BRASIL. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Brasília, DF: IBGE,2019. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9171-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-mensal.html?=&t=destaques. Acesso em: 12 out. 2021. BRASIL. Procuradoria da República em Pernambuco. MPF encaminha recomendação à UFPE e ao IFPE para adoção da disciplina Educação para as Relações Étnico-raciais.Brasília, DF: MPF, 2020a.Disponível em: http://www.mpf.mp.br. Acesso em: 23 jul. 2020. BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Ministério da Educação. Divisão de Temas Educacionais (DELP). Programa de Estudantes/Convênio de Graduação (PEC-G). Brasília, DF: MEC, 2020b. Disponível em: http://www.dce.mre.gov.br/PEC/PECG.php. Acesso em: 23 jul. 2020. COUTO, M. Pensageiro Frequente. Lisboa: Editorial Caminho, 2010. DOMINGOS, N. Tabu da História: “Desejo de ficção” e imagens do colonialismo. Buala.org, 2014. Disponível em: https://www.buala.org/pt/afroscreen/o-tabu-da-historia. Acesso em: 25 jun. 2019. FOSTER, E. L. S. Garimpando pistas para desmontar racismos e potencializar movimentos instituintes na escola. Curitiba: Editora Appris, 2015. GOMES, N. Educação Cidadã, Etnia e Raça. In: AZEVEDO, J. C.; GENTILI, P.; KRUG, A.; SIMON, C. (org.). Utopia e Democracia na Educação Cidadã. Porto Alegre: UFRGS; Secretaria Municipal de Educação, 2000. GOMES, N. (org.). Um olhar além das fronteiras:Educação e relações raciais. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. GOMES, M. Tabu de Miguel Gomes.Entrevistador: Olivier Barlet.BUALA,Lisboa, 12 dez. 2012. Tradução: de Maria José Cartaxo. Disponível em: https://www.buala.org/pt/afroscreen/tabu-de-miguel-gomes. Acesso em: 02 dez. 2019. GUIMARÃES, A. S. A. Racismo e Antirracismo no Brasil. Revista Novos Estudos - CEBRAP, n. 43, p. 26-44, nov. 1995. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2128310/mod_resource/content/1/ASG_racismo_e_anti_racismo_NE%2043_1995.pdf. Acesso em: 23 abr. 2021. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 12. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2015.
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image/svg+xmlTabu: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1263 Como referenciar este artigo CUSTODIO, E. S.; FOSTER, E. L. S. Tabu: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1239-1263, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 Submetido em:29/12/2021 Revisões requeridas em: 15/02/2022 Aprovado em: 13/04/20212 Publicado em: 30/06/2022 Processamento e edição: Editoria Ibero-Americana de Educação. Revisão, formatação, padronização e tradução.
image/svg+xmlTabú: una invitación a (re)pensar la educación para las relaciones razales en tiempos oscuros RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1241 TABÚ: UNA INVITACIÓN A (RE)PENSAR LA EDUCACIÓN PARA LAS RELACIONES RAZALES EN TIEMPOS OSCUROS TABU: UM CONVITE A (RE)PENSAR A EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES RACIAIS EM TEMPOS SOMBRIOS TABU: AN INVITATION TO (RE)THINK EDUCATION FOR RACE RELATIONS IN DARK TIMES Elivaldo Serrão CUSTODIO1Eugénia da Luz Silva FOSTER2RESUMEN: El artículo tiene como objetivo (re) pensar la educación para lasrelaciones raciales en tiempos que se revelan oscuros después de la película “Tabú”. El trabajo es una investigación exploratoria basada en un enfoque cualitativo reflexivo. Los resultados muestran que a pesar de las políticas que han buscado instituir nuevas formas de enfrentar y trabajar con las diferencias, chocan con la idea de una identidad nacional homogénea que descalifica las diferencias, impidiendo la debida valoración de las especificidades de la condición negra en sociedad. Sabemos que nos queda un largo camino por recorrer en la creación y / o valoración de otras formas de actuar en educación, además de los intentos por desarrollar un discurso imparcial, neutral y políticamente correcto. Es la educación la que está llamada a tomar posición. PALABRAS CLAVE: Relaciones raciales. Identidad. Alteridad. Cultura. Educación. RESUMO: O artigo tem por objetivo (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos que se revelam sombrios a partir dofilme “Tabu”. O trabalho trata-se de uma pesquisa exploratória pautada em uma abordagem qualitativa reflexiva. Os resultados apontam que as políticas que vêm buscando instituir novas formas de se encarar e trabalhar as diferenças esbarram na ideia de uma identidade nacional homogênea, que desqualifica diferenças, impedindo que se dê o devido valor às especificidades da condição negra na sociedade. Sabemos que temos muito caminho a percorrer na criação e/ou valorização de outros modos de agir na educação, para além das tentativas de se elaborar um discurso isento, neutro e politicamente correto. É a educação sendo chamada a se posicionar. PALAVRAS-CHAVE: Relações raciais. Identidade. Alteridade. Cultura. Educação. 1Universidad Federal de Amapá (UNIFAP), Macapá – AP – Brasil. Profesor de la Maestría en Educación de UNIFAP. Doctorado en Teología (EST) ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2947-5347. E-mail: elivaldo.pa@hotmail.com 2Universidad Federal de Amapá (UNIFAP), Macapá – AP – Brasil. Profesora del Máster Universitario en Educación. Doctorado en Educación (UFF). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0807-0789.E-mail: daluzeugenia6@gmail.com
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO y Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1242 ABSTRACT: The article aims to (re) think education for race relations intimes that turn out to be gloomy from the film “Tabu”. The work is an exploratory research based on a qualitative reflective approach. The results show that despite the policies that have been seeking to institute new ways of looking at and working on differences, they come up against the idea of a homogeneous national identity that disqualifies differences, preventing the specificities of the black condition in society from being given due importance. We know that we have a long way to go in creating and / or valuing other ways of acting in education, in addition to the attempts to develop an impartial, neutral and politically correct discourse. It is education being called to position itself. KEYWORDS: Race relations. Identity. Alterity. Culture. Education. Introducción En julio de 2021, se celebraron los cuarenta y seis años de independencia política de la mayoría de las antiguas colonias portuguesas en África (¿había razones para las celebraciones?) Cuarenta y seis años de liberación del yugo colonial portugués, después de una guerra que comenzó en la década de 1960 y culminó con la independencia de las colonias entre 1974 y 1975. Cabe destacar que, si, por un lado, las secuelas de la dominación colonial repercuten hasta el día de hoy, en diversas dimensiones de la vida de estos países, por el otro, se pueden percibir claramente los avances económicos, educativos y políticos, aunque este cruce aún requiere un largo viaje hacia la soberanía y la democracia. Tal vez sea el momento adecuado para responder, una vez más, a la pregunta que nos hizo, hace unos doce años, un amigo brasileño: "¿No habría sido mejor para los países africanos continuar las colonias de Portugal, en lugar de enfrentar las dificultades que enfrentan hoy, después de años de independencia?" Recordamos que nuestra primera respuesta fue: "Mi querido amigo, a nadie le gusta ser considerado un ciudadano de segunda clase en su propio país. ¿Te gustaría estar en esa condición?". Sacar a la luz, en este momento, algunas reflexiones sobre aspectos de la memoria del proceso de colonización/descolonización en el África de habla portuguesa, las relaciones raciales en los tiempos contemporáneos y algunas conexiones con el campo de la educación, se vuelve, por lo tanto, en especial relevante, precisamente porque se trata de una época conmemorativa. Después de todo, ¿qué tenemos que celebrar realmente en estos cuarenta y cinco años con respecto a las relaciones con el Otro, con lo Diferente? ¿Qué ha cambiado en las relaciones raciales internas y externas y que puede considerarse una indicación de que aprendemos a enfrentar al "Otro como un otro legítimo en convivencia? " ¿Qué lugar ha estado ocupando la educación en este debate?
image/svg+xmlTabú: una invitación a (re)pensar la educación para las relaciones razales en tiempos oscuros RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1243 En este texto, instigado por la películaTabú (2012)3del cineasta Miguel Gomes, intentamos acercarnos un poco más a la memoria de la colonización y sus reflexiones actuales, en la misma perspectiva que nos guía Benjamín (2001), que es tratar de recoger, con nuestras reflexiones, las luchas, sueños y proyectos inacabados de quienes se alzaron al margen de un proceso civilizatorio excluyente y racista, para continuarlos en el presente y en el futuro. Así, el estudio se guió por una investigación exploratoria, pero también a partir de las experiencias y reflexiones que hemos ido acumulando a lo largo de los años en los que trabajamos en estudios de grado y posgrado latu y stricto sensusobre el tema de las relaciones raciales y sus consecuencias en el campo educativo. La perspectiva de la investigación se basó en un enfoque reflexivo cualitativo (MELUCCI, 2005). La obra se divide en tres secciones. En la primera, con el propósito de situar únicamente al lector, traemos algunas notas respecto a la elección de la película Tabú. En la segunda sección, esbozamos consideraciones sobre algunos aspectos planteados por la película, y que nos animaron a echar un vistazo más lento a algunos desarrollos de la colonización portuguesa en África que reverberan hoy en día. Observaciones que se basan en dos preguntas: ¿pueden las imágenes volver a contar historias, historia? ¿Qué retos nos plantea la película Tabú? Creemos que las imágenes sacadas a la luz por esta película "revisen", nuestros recuerdos, precisamente porque permiten una actualización de los mismos y un trabajo de resignificación que puede implicar otras formas de concebir prácticas sociales, políticas y educativas. En otras palabras: estas imágenes permiten un cambio del pasado al presente. En la tercera y última sección, aún instigada por la película, buscamos establecer algunos puentes con la educación, nuestro campo de acción y reflexión, en sus conexiones con el debate sobre temas de diversidad, diferencia, racismo y correlatos. La idea es mostrar, aunque sea brevemente, la actualidad de esta discusión y las exigencias que plantea al ámbito educativo, en la perspectiva de construir una educación decolonial y antirracista, en tiempos nublados como los que estamos viviendo. Por último, las consideraciones finales. 3La película cuenta la anécdota sobre un explorador europeo en África que, tras perder a su esposa, desaparece en el bosque, es comido por un cocodrilo y una antropofagia de sentimientos se transmuta en él para mirar desde allí. Taboo es una meditación sobre la nostalgia y, como todas las grandes películas sobre historia, es una obra sobre la actualidad. Taboo esesencialmente una película sobre la imposibilidad hoy en día de esta mirada eurocéntrica.
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO y Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1244 Notas sobre la elección de la películaTabú La decisión de elegir la película citada, como elemento provocador y orientador de las consideraciones que haremos aquí en este texto, tiene una explicación un tanto inusual. La primera vez que lo vimos fue por casualidad. Emitida por un canal de televisión de pago, la historia ya estaba a mitad de camino y, por lo tanto, no tuvimos oportunidad de entender bien la trama. Sin embargo, todavía podíamos darnos cuenta de que era una narrativa ambientada en un país africano con lengua oficial portuguesa, en el período colonial y también en Portugal, solo que en una época más contemporánea. En el mismo momento recordamos que habíamos leído un reportaje unos meses antes en la webde Rádio Moçambique (2015)enel enlaceCultura, que, precisamente, hacía referencia a esta película. Así que no era la primera vez que nos topábamos con este trabajo. Recordamos bien el malestar que nos causó tanto el informe como la citada película, hasta el punto de que decidimos no dejar de hablar sobre el tema. Más tarde, la historia siguió resonando en nosotros, llamándonos, incitándonos a reflexiones, que terminan ganando cuerpo y voz en este texto. Recordamos aquí la frase que la escritora mozambiqueña Mia Couto utilizó como epígrafe para abrir este ensayo, cuando señala que "no es el vuelo a los lugares lo que marca la memoria. Así es como gran parte de estos lugares continúan volando dentro de nosotros" (COUTO, 2010). Otra razón que nos parece importante a la hora de elegir este tema es una supuesta similitud entre nuestras experiencias afectivas, sociales y políticas, mientras que las experiencias étnico-raciales en Cabo Verde, Portugal y Brasil, y los temas que la trama aborda o parece abordar. Aquí anticipamos el sentimiento que nos envolvió en la mayor parte de la película: una especie de llamada a la acción. Así que todo conspiró para que miráramos un poco más sobre esta narrativa de la memoria colonial. ¿Qué experiencias tenemos que narrar de este triste período de la vida de las colonias y de la propia metrópoli colonial, en conjunto con las luchas y los movimientos disidentes y de resistencia? ¿Qué repiensa este pasado en el presente? En una entrevista con BUALA Portal, el cineasta Miguel Gomes (2012) habría dicho que la películaTabúcomenzó a dibujar en su cabeza a partir de un viaje a Mozambique, y por las cosas que escuchó sobre las atrocidades cometidas por los portugueses en el período colonial. Con las debidas opiniones, podemos decir que algo similar nos sucedió. Las preocupaciones causadas por los temas abordados por el autor son indicativas de cómo el racismo, las luchas por la igualdad racial, los conflictos, las contradicciones y las ambigüedades
image/svg+xmlTabú: una invitación a (re)pensar la educación para las relaciones razales en tiempos oscuros RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1245 en la construcción de la identidad racial atraviesan nuestras vidas como sujetos colonizados. y ayudar a configurar nuestra mirada diaria en torno a las relaciones raciales en estos países. En definitiva, un recuerdo que, si por un lado es colectivo y compartido por muchos, por otro es individual y afectivo, de resistencia y de "(in)sumisión" a las bajas expectativas, a las profecías de fracaso que históricamente sostenían la mirada sobre nosotros. Por lo tanto, buscamos aquí narrar algunas experiencias y experiencias, solo para fortalecer la discusión, ya iniciada por otros, sobre el tema de la alteridad y sus consecuencias en nuestras vidas, como señala Linhares (2006, p. 8-9). Sabemos, incluso por experiencia que, sin experiencias compartidas, que puedan sustentar los sentidos comunes, las memorias colectivas, político-sociales debilitan, así como la capacidad de contarlas, interconectando existencias y experiencias. Así, también se debilitan los vínculos indisolubles entre la fabricación de experiencias, recuerdos y narrativas. Mirar hacia atrás en este pasado y sus repercusiones en el presente de las relaciones étnicas y raciales es, por lo tanto, sumergirse en esta memoria de luchas, sueños, desafíos, conquistas, revueltas y deseos. Una memoria que está hecha de fragmentos dispersos y sujeta a los caprichos de la reminiscencia. Es decir, sujeto al juego de los recuerdos y el olvido. Esto es lo que sugiere la película Tabú: un chapuzón en mis recuerdos. Figura 1- ¿Pueden las imágenes volver a contar historias, la historia? ¿Qué retos nos plantea la película Tabú? Fuente: Domingos (2014) La imagen de arriba constituye una escena de la película en cuestión. El uso de la imagen en este texto forma parte de una discusión más amplia, que tiene en los investigadores Alves y Oliveira (2004) algunos de los principales exponentes. Los autores llaman la atención sobre el aspecto narrativo de las imágenes, haciendo hincapié en que nuestra lectura de una imagen y
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO y Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1246 las reflexiones que nos agasajamos sobre ella están siempre condicionadas a nuestros recuerdos y conocimientos previos sobre el otro y sobre fenómenos en general, también los constituidos por narrativas o imágenes anteriores. En este sentido, citando a Mangüel (2001), añaden que una imagen da lugar a una historia que, a su vez, da lugar a una imagen. ¿Qué historias puede (re)contar esta imagen, y esta película en particular, sobre la presencia negra en Portugal hoy, sobre el racismo y los procesos de exclusión étnica y racial, en sus conexiones con el pasado colonial? Se trata de una película de 2012, que consta de dos partes: la primera parte de la narración, llamadaPARAÍSO PERDIDO, está ambientada en el Portugal actual, donde el autor narra algunos episodios de la vida del personaje principal, Aurora, ya en la vejez. Aurora es una dama portuguesa, medio senil, de comportamiento inestable y rebelde, cuya trayectoria vital, muy vivida en Mozambique durante el período colonial, esconde un pasado oscuro, capturado en fragmentos de memoria que escapan en sus delirios. Un breve examen de Paraíso perdidolleva a la conclusión, siempre provisional, de que el autor quiere ponernos ante algunos aspectos de la realidad actual de Portugal, tras el proceso de descolonización. Un primer aspecto que salta a la vista en la película y que estamos entendiendo como una posible alusión, aunque breve, a los efectos del proceso de descolonización actual, o sobre lo mucho que el proceso de colonización aún resuena en nosotros, es el caso, por un lado, del único personaje negro que encarna a una criada que supuestamente simbolizaría la condición de los inmigrantes africanos de las antiguas colonias en Portugal y, por otro lado, la de los personajes blancos que retratan las dificultades de integración de muchos portugueses que vivían en África, los llamados "retornados". Todo esto es evidente cuando examinamos los números relacionados con las dificultades de integración de esta porción de la población en la sociedad portuguesa, en los datos sobre la desigualdad racial y de género, en la pérdida de los privilegios de los "retornados", todo esto combinado con la soledad, la pérdida de los lazos afectivos, así como otras vicisitudes de este proceso. El personaje Aurora es un ejemplo interesante de las dificultades mencionadas anteriormente. Vive en compañía de su criada caboverdiana llamada Santa (se nota que en los créditos de la película el personaje Santa no aparece entre los personajes principales, aunque tiene una participación considerable). Santa tiene poca expresión en la película, además de un comportamiento servil que se puede resumir en la frase: ¡Señora, solo hago lo que me dicen que haga! Ella no sonríe, no expresa ningún sentimiento, incluso cuando se manifiesta en silencio, en solidaridad con el ama cuando está en crisis. Una mujer negra, analfabeta y en proceso de alfabetización, solo sugerida en la película, pero que llama la atención de inmediato.
image/svg+xmlTabú: una invitación a (re)pensar la educación para las relaciones razales en tiempos oscuros RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1247 El tema de la educación de los inmigrantes africanos solo se sugiere en la película, a través del personaje Santa. Sin embargo, por su importancia creemos que es un debate digno de una mirada un poco más detenida. Podemos preguntarnos: ¿Cuáles son las razones de la baja educación de la mayoría de las mujeres caboverdianas en este país, en particular? ¿Qué políticas públicas han adoptado los portugueses para combatir el racismo y eludir esta realidad? ¿Lo que existe en el portugués sobre el terreno es indicativo de los avances en esta cuestión, con miras a garantizar el ejercicio de la ciudadanía de esta parte de la población? En una investigación realizada en Portugal, en el contexto de un Doctorado Sandwich realizado por uno de los autores de este texto, todavía en los primeros años del año 2000, fue posible percibir pistas interesantes de esta realidad. Algunos avances y retrocesos provocados por la discontinuidad en la implementación de ciertas políticas públicas. Algunas explicaciones son necesarias para ayudar a entender la representación de las mujeres caboverdianas4como sirvienta, en la película de miguel Gomes: antigua colonia portuguesa hasta julio de 1975, Cabo Verde ha sido históricamente un país exportador de mano de obra a Portugal, principalmente, y a otros países. La emigración de la mano de obra femenina es un caso aparte: un examen de mis recuerdos de los veinte años vividos en Cabo Verde, un país por el que siempre regreso debido a los lazos familiares, hasta mi llegada a Brasil por el Programa de Estudiantes / Acuerdo de Graduación (PEC-G)5, se refiere a la percepción de la contratación común y frecuente de mujeres caboverdianas para ir a trabajar como empleadas domésticas en Europa, particularmente en Portugal. Mis tías, con la excepción de mi madre que decidió no emigrar sino seguir luchando en Cabo Verde, por ejemplo, trabajaron durante gran parte de sus vidas como sirvientas en Portugal y Francia. Mi hermana mayor también experimentó esta experiencia, hasta que regresó a Cabo Verde, a mediados de la década de 1990. Algunos primos todavía residen en Portugal y otros países europeos, también trabajan o trabajan como domésticos y en otras ocupaciones en estos países. La pobreza de las islas, el desempleo, la baja escolaridad y otros problemas los impulsaron en ese momento y, en cierto modo, hasta el día de hoy, a soñar / desear contratos 4A partir de aquí los dos párrafos siguientes traen algunos recuerdos personales vividos por uno de los autores de este texto, por lo que el uso de la primera persona en el discurso. 5El Programa/Convenio de Estudiantes de Pregrado (PEC-G), creado oficialmente en 1965 por el Decreto Nº 55.613, y actualmente regido por el Decreto Nº 7.948, ofrece a los estudiantes de países en desarrollo con los que Brasil mantiene un acuerdo educativo, cultural o científico-tecnológico la oportunidad de realizar sus estudios de pregrado en Instituciones de Educación Superior (IES) brasileñas. El PEC-G es administrado por el Ministerio de Relaciones Exteriores, a través de la División de Temas Educativos, y por el Ministerio de Educación, en asociación con Instituciones de Educación Superior de todo el país (BRASIL, 2020b).
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO y Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1248 de trabajo en el extranjero. Este proceso comienza mucho antes de la independencia política, ya que las condiciones de las islas dominadas por Portugal eran una de las más precarias, pero la emigración adquiere un nuevo contorno tras el proceso de descolonización, con las crecientes dificultades a través del país, que empujaron y siguen empujando a miles de caboverdianos a la emigración. Portugal es uno de esos países que han recibido un alto contingente de caboverdianos. Las condiciones en el país de acogida no son las mejores para estos inmigrantes, en gran parte formados por analfabetos o semianalfabetos. Muchos están empleados en la construcción, servicios domésticos y de limpieza, además de la agricultura, ganan bajos salarios y trabajan en condiciones de trabajo precario. Terminan fijándose en áreas degradadas y sin condiciones de vivienda. Los caboverdianos, con raras excepciones, aún engrosan las estadísticas que indican que en el marco del ámbito doméstico en Lisboa, hasta hace muy poco, estaban entre la mayoría, aunque actualmente esta situación ha ido cambiando, no tanto por las mejoras en las condiciones de vida de los inmigrantes caboverdianos en Portugal, debido a políticas públicas más inclusivas, sino por el racismo y la competencia realizados por las mujeres de Europa del Este y las mujeres brasileñas. En un interesante estudio realizado sobre la inmigración de mujeres en Portugal y su relación con el trabajo doméstico, Baptista (2009) indica algunos elementos que nos ayudan a comprender este problema del trabajo doméstico en Portugal, así como el lugar ocupado por la mujer caboverdiana en este mercado. Según él, en el grupo de trabajadores domésticos con cotizaciones pagadas por el servicio doméstico en el país, destacan los caboverdianos, representando el 56% en 2006. Sin embargo, según este autor, su representatividad en el total de trabajadores domésticos inmigrantes ha disminuido, contrastando con la situación de los trabajadores brasileños y ucranianos. La devaluación y el estereotipo asociados con el trabajo doméstico no son sólo la cuestión de género, sino también la cuestión de la jerarquía étnica, motivada, en parte, por las transformaciones en el mundo globalizado. Estereotipos que asocian el trabajo doméstico no sólo con las mujeres, sino también con las mujeres con bajas cualificaciones educativas, procedentes de estratos más bajos de la sociedad portuguesa. La etnicidad crea ahora una nueva dimensión de los estereotipos relacionados con el trabajo doméstico remunerado. En consecuencia, hay un creciente movimiento de jerarquía de grupos étnicos, siendo preferidos, actualmente, los ucranianos, con imagen asociada a mayores
image/svg+xmlTabú: una invitación a (re)pensar la educación para las relaciones razales en tiempos oscuros RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1249 calificaciones y valores, los brasileños, y finalmente los caboverdianos. San Tomás y los guineanos son actualmente los más despreciativos en este mercado (BAPTISTA, 2009, p. 149). Batalha (2008), a su vez, agrega que, hasta la década de 1960, no había espacio en el portugués para las mujeres caboverdianas. Así, primero llegaron los hombres y solo más tarde las mujeres, que comenzaron a vender pescado en las calles, hasta la imposición de reglas de comercialización de pescado por parte del gobierno portugués. A partir de ahí, pasaron a dominar el mercado de la limpieza, tanto en viviendas familiares como domésticas, en centros comerciales, negocios y otros espacios públicos y privados. La competencia de las mujeres inmigrantes de Europa del Este y, poco después, de las mujeres brasileñas, viene de mediados de la década de 1990, cuando la mayoría de los caboverdianos ya trabajaban en la limpieza. Sin embargo, el mero hecho de que la realidad de los trabajadores domésticos en Portugal se caracterice, hasta hace muy poco, como constituida en su mayoría por caboverdianos, no nos exime de un análisis más crítico y profundo de esta coyuntura. Por el contrario, nos obliga a entender cómo se construyó, sus elementos más oscuros y poco visibles y también a buscar formas de modificarlo. Porque, como Linhares (2006) nos guía, es necesario atravesar los espacios oscuros, poco penetrados, silenciados y naturalizados de las relaciones sociales, por muy "normales" y naturales que parezcan ser. Son estos espacios los que con mayor frecuencia encubren las relaciones desiguales, las opresiones que necesitan ser desenmascaradas. En vista de esto, el lugar en el que la mujer negra y caboverdiana se coloca en la narrativa justifica un análisis crítico de las tipificaciones y clichés actuales, tanto en la sociedad portuguesa como brasileña, sobre ciertos grupos sociales. Todavía recientemente circuló en las redes sociales la imagen de una actriz negra brasileña interpretando el papel de sirvienta en dos telenovelas, casi simultáneamente. Y eso significa que hay una necesidad urgente de ampliar y poner esta y otras representaciones en el centro de atención para combatir el racismo y el sexismo. Finalmente, un tema que requiere reflexiones más amplias y profundas sobre el espacio que ocupa la persona negra en la dramaturgia portuguesa y brasileña. Un examen más frío, por otro lado, de esta misma representación, nos pone ante la posibilidad, entre otras lecturas probables, de que el autor nos sitúe, categórica e intencionalmente, ante una ausencia explícita y evidente. Una sola actriz negra que representa, en una película, a un contingente expresivo de población como la de los africanos negros en Portugal es una fuerte indicación de que algo anda mal. Así, ya sea afirmando o impugnando, Miguel Gomes nos sitúa frente al racismo y la exclusión de esta porción de la población en la sociedad portuguesa, además de las cuestiones
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO y Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1250 de género asociadas a la "raza". Aquí recordamos a Benjamin (1996, p. 200) cuando nos dice que "Nada de lo que ha sucedido puede considerarse perdido para la historia". La pregunta que queda es: ¿se repetirían ahora, en el contexto actual, la experiencia colonial, el racismo y la desigualdad que han ocurrido en una historia de más de quinientos años de dominación, en el contexto actual, incluso después de tantas luchas y luchas por una sociedad más justa? Otro tema salta a la vista, a medida que avanzamos en la narración: la señora Aurora se relaciona con la vecina portuguesa Pilar, una mujer muy religiosa involucrada con ciertas causas sociales: Comisión de Justicia y Paz, Campaña por los Derechos Humanos, etc. Sin embargo, destaca una contradicción: Pilar defiende una posición política y militante para los desfavorecidos, tiene actitudes de indignación con respecto a las desigualdades de la sociedad portuguesa, pero no parece molestarse con la realidad de las mujeres caboverdianas y africanas en general, sin cuestionar el racismo y la desigualdad que experimentan estas mujeres en la sociedad portuguesa. ¿Es esta otra crítica a la representación del racismo naturalizado en Portugal? ¿Una continuidad del racismo presente en la historia colonial? (RAPOSO, 2015). ¿Qué nos estaría instigando el autor? ¿Pensando en la supuesta indiferencia, el racismo velado, la complacencia de los portugueses con estos temas? El racismo en Portugal expresado en la película no solo se vela a través del silencio y las ausencias. También es un racismo explícito, que se puede conferir en la siguiente frase dirigida por el ama a la doncella Santa que, a su vez, escucha en silencio y sin reacción refutadora: "¡Estoy cansada de tus malditas macumbas, sierva del diablo negro!". O: "Quien me envió el negro fue el..." y señales con sus dedos, indicando que no es un nombre que se pronuncie. "Hechicera negra. ¡Pones a mi hija contra mí con tus malditas macumbas!" Y más allá: "Temo que mi hija haya sido envenenada por las mentiras y los magos de la mano de este diablo". Es importante recordar que este recuerdo constituye a todos. Incluso en Cabo Verde, el racismo es un problema presente en nuestra vida cotidiana. La débil o casi nula integración de los africanos del continente con los nativos de la isla de São Vicente revela un problema social muy grande, pero que no parece merecer grandes consideraciones. El caboverdiano en general parece ser una persona racista, porque su discurso y sus emociones hacia los negros del continente africano parecen estar llenos de las teorías raciales del siglo XIX y sus desarrollos posteriores. A veces explícitas, otras veladas, las relaciones entre los "criollos", como se llama
image/svg+xmlTabú: una invitación a (re)pensar la educación para las relaciones razales en tiempos oscuros RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1251 a los caboverdianos, y los "africanos" en diversas situaciones siguen siendo de un distanciamiento aterrador.6En cuanto a los "africanos", es pertinente señalar que es muy común escuchar a una parte significativa de la población caboverdiana pronunciar frases de rechazo a la identidad africana. Esta es otra discusión que merece atención, en medio de estudios sobre la identidad caboverdiana y el racismo. ¿Cómo se puede incluir la cultura africana en los planes de estudio, por ejemplo, si los caboverdianos generalmente no piensan que son africanos? Otra cuestión también destaca en la primera parte de la película: la realidad vivida por los dos personajes principales que vivieron en África, a su regreso a la Metrópolis. Una de ellas vive en un asilo y es considerada por sus familiares más cercanos como "lelé"; otra, presentando un comportamiento senil, vive prácticamente separada de su hija, solo en compañía de la criada. Sin noticias, sin parientes cercanos. La soledad de estos personajes surge como evidencia del desarraigo de los colonos y sus consecuencias al regresar a la metrópoli. Una imagen experimentada por la mayoría de los portugueses regresó a la casa, después del proceso de descolonización. Una nueva expatriación que, de paso, para muchos, no fue por voluntad propia, sino por razones económicas y políticas. Sin lazos afectivos, sin amigos, sin raíces, el colono ya no es el que era cuando dejó su país de origen, a pesar de que sus sueños siempre estuvieron frente a la Metrópoli, donde soñaron con algún día volver a vivir, o morir. El desarraigo, un sentimiento de insuficiencia, son algunas de las emociones que experimentan los retornados (MEMI, 1977, p. 23). La segunda parte de la película está narrada por uno de los personajes principales, ya viejo, que también vivió en Mozambique en el período colonial. Esto se basa en la memoria para introducirnos en este pasado vivido por él y que representa el pasado de muchos como él. Llamado PARADISE LOST, se encuentra en Mozambique. PARADISE LOST es un breve y a veces superficial dibujo de la vida en este país del África colonial. Un cambio en el tiempo que nos lleva a pensar en un intento de evidenciar las conexiones íntimas entre el pasado y el presente, como nos diría Benjamin (2001). Soledad en la juventud, soledad en la vejez. El colono no vive la vida del colonizado, a quien rechaza y desprecia, no se identifica con sus costumbres y valores que denomina "rituales repugnantes y heréticos". Se aísla en su mundo de privilegios, junto con sus compatriotas en la misma situación social y económica. Una existencia solitaria, sin embargo, tiene privilegios y 6Esta afirmación se basa en la experiencia y experiencia de uno de los autores de este texto, que es caboverdiano y que convivió durante muchos años con personas que expresan este comportamiento y/o actitud.
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO y Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1252 otros beneficios quela empresa colonial hizo posible para sí, en detrimento de las condiciones de vida bajas y degradantes de la mayoría de los nativos. En este período, si existía, la relación entre una mujer blanca y una negra generalmente estaba marcada por el abuso sexual o, si había consentimiento por parte de la mujer, esto era visto como un objeto sexual por el hombre blanco. Las relaciones afectivas entre el hombre blanco y la mujer negra en el África colonial y me atrevería a decir que incluso hoy en día, eran y son muy raras. La película ejemplifica bien este fenómeno cuando narra las incursiones sexuales del amigo de Gian Luca con mujeres negras, y el hijo que resultó de una relación entre él y uno de estos nativos. Un hijo al que rara vez visitaba añade el narrador. La mujer, que no aparece en la película. Privilegios, tanto en posesión de bienes materiales como en la de vidas humanas. Un ejemplo muy claro de esta forma de ver al otro como bien material, muy común en este período, se puede percibir en la frase del mismo personaje: "Entre las posesiones de Aurora, había un cocinero hechicero...". Es nota, al concluir esta parte del texto, la alusión, en nuestra opinión, algo irónica de la lucha de liberación, cuando señala que el asesinato del amigo de Gian Luca por Aurora fue asumido por el movimiento mozambiqueño de liberación nacional. Además, revela una serenidad apática de los mozambiqueños frente a los disturbios y masacres perpetrados por los rebeldes africanos, lo que sugiere un conformismo que nunca existió realmente. La guerra colonial se cobró muchas vidas durante los casi diez años que duró. Vidas portuguesas, vidas de varios países africanos que luchan por su independencia. Si, según la película, los portugueses que vivían en la colonia se armaron como pudieron cuando estallaron los conflictos, fue porque los privilegios estaban en juego. En el caso de los africanos, lo que estaba en juego era su dignidad como súbditos y ciudadanos dentro de su propio país, donde sólo se les consideraba una presencia tolerable. Domingos (2014), apoyándose en Edward Said en "Orientalismos", a su vez, advierte que el cine ha construido este otro casi siempre representado por su exotismo y su retraso. La "culturalización" del otro, ya sea para resaltar su inferioridad, o para mostrar su diferencia, es un poderoso instrumento de ocultación de las relaciones de poder. En esta perspectiva, advierte que la película de Miguel Gomes intenta, de una manera un tanto velada, tímida y ambigua, hacer una crítica genérica al colonialismo portugués en África, pero encaja en el debate actual sobre la historia del colonialismo portugués, donde todavía es posible encontrar hilos que defienden una supuesta suavidad en las relaciones del colonizador portugués con los nativos africanos, cuando, en realidad, las relaciones coloniales estuvieron marcadas por el racismo y los procesos de discriminación racial y sexual.
image/svg+xmlTabú: una invitación a (re)pensar la educación para las relaciones razales en tiempos oscuros RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1253 Algunas otras contribuciones sobre cómo se produjo esta memoria racista y cuál ha sido la responsabilidad y contribución de la ficción en su refuerzo y superación también se pueden encontrar en Foster (2015), entre otros, donde el autor presenta rastros de una ficción mítica, científica, literaria y popular que todavía resuena hoy como un refuerzo al racismo y la desigualdad racial en Brasil y el mundo. Las preguntas planteadas por la película tanto en su narrativa en el pasado como en el presente nos llevan a la necesidad de entender que los residuos de esta historia de subalternización colonial todavía nos desafían, pero han sido continuamente tensionados por los movimientos instituyentes de una nueva racionalidad y otra historia. Vale la pena mencionar que los movimientos instituyentes no tienen como objetos listos para ser descubiertos por investigadores brillantes y precisos; todos somos fabricantes en estos y estos procesos instituyentes, porque dependen de la forma en que los percibimos, los deseamos, intensificando las condiciones y posibilidades de sus caminos de construcción, que no ignoran el uso de huecos (LINHARES, 2010, p. 801-818). Reflexiones sobre la diversidad, la diferencia, el racismo y la educación en tiempos que resultan ser oscuros y pandémicos Como se ha señalado, la películaTabúnos pone ante preguntas tediosas en el mundo contemporáneo, cuyos desarrollos en educación son visibles y pueden ser aquilatados cuando les echamos una mirada menos sesgada. Por lo tanto, queda por preguntarse, como investigadores de la raza y las relaciones interculturales en la educación: ¿qué puentes podemos establecer entre laspreguntas sugeridas por la película tabú y el debate teórico sobre los temas de diversidad, diferencias, racismo, intolerancia religiosa y xenofobia presentes en el mundo contemporáneo e incluso en Brasil? Más particularmente: considerando que nuestro campo de acción y reflexión es el de la educación brasileña, ¿cómo plantean estas mismas preguntas en el debate sobre la realidad educativa brasileña? En este sentido, ¿cómo puede pensar la escuela en este nuevo marco que se perfila o intensifica, cuando, por un lado, se hacen más llamativas las demandas de la apelación a la diversidad y la diferencia, y por otro, hay un estímulo al individualismo, la homogeneización y mercantilización y un proceso creciente de privatización de la educación? ¿Cómo (re)pensar la escuela y la formación de los docentes para trabajar el tema de la pluralidad cultural y racial, en un mundo cambiante, cuando estamos obligados a enfrentar
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO y Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1254 reformas curriculares que nos ponen frente a un proyecto de Currículo Nacional contenido en la Base Curricular Común Nacional (BNCC), y que presenta un claro vaciamiento de temas pertinentes al tema racial? ¿Cómo podemos manejar este proceso, cuando además de vaciar el debate, todavía sobrevalora una política de competencias que jerarquizan verticalmente y tienden a horizontalizar las diferencias? Y, por último, ¿qué pistas de cambio, de movimientos instituyentes se vislumbran en este escenario, algo nublado? Es cierto que, a pesar de estos intentos de imponer una memoria ya ampliamente criticada, muchos caminos nos llevan a creer que actualmente estamos viviendo una crisis que constituye el cuestionamiento del uso de categorías unificadas y universalizadoras, en la comprensión de las diferencias entre pueblos, impuestas por la racionalidad occidental. En este contexto, las cuestiones de las diferencias y la alteridad adquieren un nuevo vigor, ganando "voz a los que normalmente no la tienen: los olvidados, los excluidos, o [...] los 'derrotados'" (JOUTARD, 2000, p. 33). Así, destacamos la apelación a las memorias e identidades de los "abajo", que (re)surgen, en el escenario mundial, principalmente con la fragmentación de naciones constituidas artificialmente, además del aplastamiento de etnias e identidades.7La disputa de la memoria que nos hablas Pollack (1989), la lucha contra la dilución y el vaciamiento de las experiencias vividas, en una memoria colectiva asimiladora, la búsqueda de un espacio político de rescate y afirmación de memorias silenciadas y subterráneas, pero también el resurgimiento del racismo y la discriminación racial de negros y negros, migrantes y excluidos en general, son hechos a considerar y que interfieren directamente en las direcciones que queremos dar a la educación. A pesar de toda esta gama de tensiones y conflictos y, aunque estos problemas forman parte de la agenda de los movimientos sociales y diversas organizaciones internacionales, según Sodré (1999), el tema de las "diferencias culturales" no ha sido tomado en serio como un tema significativo por un cierto tipo de reflexión filosófica en curso en Europa. De hecho, Puntos Sodré (1999), tolerancia, discurso muy en boga hoy en día, sería una forma camuflada de afirmar nuestra superioridad sobre el otro, lo diferente. Tolero a alguien que es diferente de mí, de mis referencias y de mi escala de valores. Por lo tanto, tolerar implica hacer ciertas concesiones al otro, no con respecto a él o en una posición de igualdad. Tolerar termina constituyendo una posición etnocéntrica y xenófoba.7Concepción de la identidad. Hall (2015), en su libro "Identidad cultural en la posmodernidad" aborda el tema de los cambios que se han operado en la identidad cultural, que se formarían a través de la pertenencia a una cultura nacional determinada, a partir de los desplazamientos operados por la fuerza de la globalización.
image/svg+xmlTabú: una invitación a (re)pensar la educación para las relaciones razales en tiempos oscuros RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1255 De hecho, esta actitud es emblemática de un tipo de pensamiento sobre la diversidad humana que pretende determinar cómo universales los valores de la cultura occidental y europea, todavía muy presentes en nuestra educación. Valores que reflejan convicciones y creencias y, por lo tanto, no son neutrales. Este tipo de pensamiento no permite el reconocimiento de diferencias concretas, de práctica ético-política real, y desconoce la exclusión a la que está sometido este otro, sus luchas y disputas internas, así como las especificidades concretas de su existencia. Detrás de la lógica culturalista que sitúa las diferencias culturales como causas y consecuencias de profundas diferencias y conflictos culturales, se esconde una lógica política y económica que enfatiza las diferencias culturales, pero monitoreada, para que no amenacen la hegemonía capitalista. El énfasis en las diferencias culturales contribuiría, precisamente, a justificar la desigualdad, la segregación, la asimilación y el desprecio de los derechos de los diferentes al respeto y la apreciación de sus propias diferencias e identidades. Las críticas de Sodré (1999) sobre la posición sobre el tema de la diversidad humana y el universalismo que sustenta el pensamiento occidental nos animan a tratar de entender un poco más esta relación y su repercusión en la construcción de una ideología racial –tanto en Brasil como en Cabo Verde, Portugal y/o cualquier otro país– que es la base de la idea de identidad nacional que durante mucho tiempo ha descalificado a otros. identidades étnicas. Es decir, también necesitamos entender la complejidad/discusión de este debate más allá de nuestro país. La resignificación y reinterpretación de las diferencias en el actual contexto de crisis de una modalidad de razón y política son aspectos a considerar y una de las formas utilizadas por los movimientos que "suelen ver en la cultura el conjunto de mediaciones simbólicas (lenguaje, artes, leyes, costumbres, formas de pensar) para acercarse a su singularidad y afirmar sus diferencias" (SODRÉ, 1999, pág. 24). Sin embargo, es importante mirar los riesgos de cerrar "identidades culturales", para evitar desvirtúe el análisis político de los significados que esta universalidad ha adquirido en las relaciones entre los pueblos. Lo importante es no encerrarnos culturalmente, impidiendo el diálogo entre nosotros. Es este diálogo el que nos da la dimensión de nuestras similitudes, sin perder el fundamento de las diferencias. Las divergencias políticas, ideológicas y culturales pueden generar conflictos, pero desde el momento en que la diferencia no se concibe como algo cuyas premisas básicas son intrínsecamente equivocadas, la realidad no se absolutiza. De hecho, lo que genera divergencia no es la existencia de la diferencia, sino la actitud que adoptamos de aceptación y/o rechazo de las premisas básicas de esta diferencia.
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO y Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1256 Ser diferente en esta perspectiva no significa ser desigual, incluso si la diferencia se analiza en base a ciertas "evidencias" de una realidad desigual. No son los dominios de la existencia de lo diferente los que lo hacen desigual porque las condiciones de su diferencia en sí mismas no implican desigualdad; no son ni inferiores ni superiores, son diferentes. La diferencia solo se presenta como sinónimo de desigualdad para aquellos que piensan que tienen una verdad ante la cual no habría otras verdades. La cuestión racial, como cualquier fenómeno social, ya sea en Brasil, Portugal u otra parte del mundo, no se limita a una sola dimensión, que es la económica. Implica una interdependencia de relaciones que van desde la esfera de la producción material hasta las dimensiones políticas y culturales, que implican la economía misma de los afectos y otros. Por lo tanto, en esta perspectiva de análisis, no compartimos la posición defendida por un cierto sentido común de que la cuestión racial, en Brasil y/o en cualquier otro lugar, es meramente económica. De hecho, sobre el tema de la "raza" hay una discusión interesante. Algunos estudios enfatizan la necesidad de utilizar el término como una categoría central en los análisis sobre el tema de los negros, las desigualdades raciales y el racismo en los países que forman parte del universo de nuestra investigación, argumentando su entrelazamiento con un significado negativo, atribuido a las características fenotípicas de los negros que, a su vez, se aliaron a conceptos morales, definiendo el racismo en estas sociedades. El uso del término "raza", hoy se ha hecho desde una nueva interpretación, desde una perspectiva resignificada, política y no biológica. Otros intelectuales, sin embargo, lo rechazan, proponiendo el uso de la categoría étnica, basándose en el argumento de que sus antecedentes históricos y su conexión con la biología son desabonadores, ya que la biología no considera la existencia de razas, sino de una sola raza que es humana. Sin embargo, este debate, junto con otros autores y autoras, adoptamos su uso, no presuponiendo un significado biológico, sino porque creemos que es el único que realmente nos da la dimensión del racismo en estas sociedades, y también porque creemos, como otros estudios, que el racismo no solo está relacionado con aspectos culturales, sino que se basa en el entrelazamiento de aspectos culturales a una visión inferiorizada de las características que definen la ascendencia africana. Por lo tanto, en el cuerpo de este texto, siempre que nos refiramos al término "raza", lo haremos en esta perspectiva. Si llevamos este debate a la comprensión de la realidad brasileña nos damos cuenta de lo importante que es entrar en esta discusión, porque tendemos a mirar hacia afuera, estamos indignados por las prácticas racistas que ocurren en otros países, pero no vemos lo que
image/svg+xmlTabú: una invitación a (re)pensar la educación para las relaciones razales en tiempos oscuros RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1257 realmente sucede en suelo brasileño. Para entender este debate con respecto a la sociedad brasileña, es importante entrar en las complejidades de una discusión en torno al concepto de "raza" y, como veremos, esta es una discusión que implica tanto el cuestionamiento de las bases "biológicas" del concepto, como una crítica al capitalismo. Hablar de racismo en el capitalismo merece un estudio más cuidadoso que llame la atención sobre los procesos de privatización y el vaciamiento del reconocimiento del otro. Para Mbembe (2018), el concepto de raza no debe entenderse como un hecho físico, antropológico o genético natural. El autor expresa que la pérdida de centralidad de Europa en el orden mundial a finales del siglo XX no vació por completo los discursos raciales, siguen estando muy presentes en nuestros días. Sobre raza, Mbembe (2018, p. 73) expresa además que: No importa que no exista como tal, y no solo por la extraordinaria homogeneidad genética de los humanos. Sigue produciendo efectos de mutilación, porque es originalmente y siempre será lo que es en nombre de lo cual operan cesuras dentro de la sociedad. Uno de los elementos para explicar esta realidad nos lo proporciona Guimarães (1995). Según esto, el problema racial específicamente en Brasil está relacionado, entre otros, con la construcción de una ideología racial que tiene en color uno de sus apoyos. El racismo estaría cubierto con cierta especificidad, en relación con otras naciones donde se presenta el problema, y una de ellas se refiere a la construcción de una nacionalidad que implicaba un ideal de homogeneidad, cuyo objetivo era precisamente suprimir las diferencias. Una concepción de una nación mestiza, basada en la noción de lugar de nacimiento y no en la ascendencia. Una forma efectiva de borrar la "ascendencia incómoda", basada en premisas que asocian la diferencia con la inferioridad. Finalmente, una estrategia que, en cierta medida, resultó efectiva en la elaboración de una representación homogénea que los brasileños tienen de sí mismos y de su país. Por lo tanto, el análisis del proceso de construcción de la identidad nacional brasileña es de gran importancia en la comprensión del racismo. Es donde se podría decir que se pusieron las primeras piedras para la construcción de un racismo cordial, disfrazado, siempre camuflado; un rechazo al negro y al negro disfrazado de frases amistosas, pero que buscaba ocultar políticas hostiles de convivencia. Racismo que cobra fuerza con el mito de la democracia racial (FOSTER, 2015). Los estudios indican ,a partir de autores ya mencionados en este texto, entre otros- que a pesar de las políticas que han buscado instituir nuevas formas de enfrentar y trabajar las diferencias, se topan con la idea de una identidad nacional homogénea que descalifica las
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO y Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1258 diferencias, así como el mito de la democracia racial, que impide el debido valor de las especificidades de la condición negra en la sociedad brasileña, influencias de la cultura africana en la cultura brasileña y otros campos. El siglo XXI marca el colapso del mito de la democracia racial, aunque muy restringido al nivel teórico, según datos de una investigación de Oxfam Brasil y el Instituto Datafolha, llamada la Investigación "Nosotros y las Desigualdades", que trae percepciones sobre las desigualdades en Brasil en 2019. La investigación incluyó el debate sobre el tema de 2.086 personas entrevistadas en 130 municipios brasileños, de todas las regiones del país, entre el 12 y el 18 de febrero de 2019. Los datos revelan que: 1) para el 72% de la población brasileña, el color de la piel define las posibilidades de contratación por parte de las empresas; 2) al 81%, la raza define el nivel de enfoque policial; 3) al 71%, la justicia es más difícil para los negros; y, 4) al 81%, los negros pobres sufren más que los blancos pobres, es decir, asistimos a la demolición del mito y a la salida del racismo del armario; 5) El 52% está de acuerdo en que los negros ganan menos porque son negros (OXFAM BRASIL, 2019). El asesinato del ciudadano negro George Floyd en Estados Unidos el 25 de mayo de 2020 produjo una ola mundial de protestas. Las manifestaciones antirracistas han tenido lugar en todo el mundo desde su muerte, cuando fue asfixiado por un oficial de policía blanco en Minneapolis, Estados Unidos. Los videos disponibles en Internet muestran que, en el momento de la tragedia, se puede escuchar que dice "No puedo respirar" al menos ocho veces antes de que pierda el conocimiento. Sin embargo, episodios explícitamente racistas como este no son inauditos en Brasil y en todo el mundo. El racismo es un problema mucho más antiguo y complejo. Y esta realidad sigue mucho más viva e inquietante principalmente desde el 11 de marzo de 2020, con el contexto pandémico (nuevo coronavirus, denominado SARS-COV-2), 8que causó pánico en toda la humanidad, cuando fue caracterizada por la Organización Mundial de la Salud (OMS) como una pandemia, cuyos indicadores de muerte y vulnerabilidad indican que la población negra es la más afectada. Y en este escenario, decimos que, a lo largo de esta continua crisis de salud, el racismo y las desigualdades sociales siguen siendo rampantes. Según una encuesta realizada por Barbón (2020), hasta el 8 de mayo de 2020, los negros y marrones correspondían al 35% de las muertes por Covid-19, según datos epidemiológicos publicados por el Ministerio de Salud (EM). 8Designado como Coronavirus del Síndrome Respiratorio Agudo Severo, una enfermedad que promueve la infección aguda.
image/svg+xmlTabú: una invitación a (re)pensar la educación para las relaciones razales en tiempos oscuros RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1259 Ante este contexto, ¿podemos decir que el racismo ha empeorado? No, siempre existió. Solo fue más difundido / denunciado debido a los avances tecnológicos y el acceso a la información por parte de gran parte de la sociedad. Lo que estamos presenciando en los últimos meses son solo reflexiones sobre una escala creciente de repercusión mundial de una violencia presente en la sociedad como forma de control y mantenimiento racista que el Estado impone a la población negra. Según Mbembe (2017), en un contexto global hoy marcado por la producción constante de "políticas de enemistad", el racismo, en sus múltiples dimensiones, se presenta como una tecnología de poder capaz de regular las relaciones. En Brasil, por ejemplo, este problema es bastante evidente cuando observamos los datos publicados por el Instituto Brasileño de Geografía y Estadística (IBGE) sobre desigualdades sociales, donde los índices revelan una clara demarcación étnica (BRASIL, 2019). Como consecuencia de las políticas económicas, al igual que Brasil, las políticas educativas sufren de la política de restricciones de fondos para la educación. Al mismo tiempo, las esferas de participación crítica de los profesionales que trabajan en ella y la diversidad de los estudiantes son limitadas, con énfasis en un sistema de puntajes y evaluación basado en la estandarización de exámenes, como Prova Brasil, el Examen Nacional de Secundaria (ENEM) y el Sistema Nacional de Evaluación de la Educación Básica (SAEB) en el cual, ciertamente, la gran mayoría de los blancos pobres, negros y negros y los pueblos indígenas son los más afectados. En este curso de desmantelamiento de las políticas públicas en los últimos dos años, particularmente en el actual escenario político brasileño, recordamos el avance de las políticas conservadoras y de extrema derecha a partir de 2019, tales como: 1) la disolución de la Secretaría de Educación Continua, Alfabetización, Diversidad e Inclusión (SECADI), creada en 2004 por demandas de los movimientos sociales, una agencia responsable de los programas, acciones y políticas, como la educación escolar cimarrona, la educación para las relaciones étnico-raciales, la educación en derechos humanos; 2) creación de la Subsecretaría de Promoción de Escuelas Cívico-Militares9, esta propuesta pasó a formar parte de los poderes generales del MEC, ya que fue una de las principales banderas levantadas por Jair Bolsonaro durante la campaña presidencial; 3) extinción del Ministerio de Cultura (Minc) etc. Estas actitudes/discursos/comportamientos, entre otros, solo demuestran el no compromiso y la sensibilidad en la implementación de políticas inclusivas para mitigar las desigualdades históricas presentes en el país. 9Les recordamos que la expansión de las escuelas militares en Brasil no es nueva. Entre 2013 y 2018 hubo un aumento significativo en el número de unidades ofrecidas.
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO y Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1260 Sin embargo, en otra dirección, los discursos antirracistas y los análisis multiculturales proponen acciones educativas que enfatizan el aspecto político de las diferencias, ya que el énfasis en la "puntuación", tan común hoy en día, presupone comportamientos y habilidades que se ubicarían en el individuo. Así, cuestiones como un cociente intelectual asociado al rendimiento escolar, que han sostenido discursos que refuerzan la desigualdad y los prejuicios, basados en diferencias "biológicas" entre hombres y mujeres, el propio racismo, o el uso del color de la piel como elemento justificante de los ingresos académicos, son sustituidos por prácticas más integradoras de diferencias. Finalmente, reforzar el aspecto político de las diferencias y no su mera ubicación en el individuo sería una de las formas de pensar en una educación más igualitaria. Recientemente, en julio de 2020, el Ministerio Público Federal (MPF) envió una recomendación para que la Universidad Federal de Pernambuco (UFPE) y el Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) adopten medidas que permitan la creación de la disciplina de Relaciones Étnico-Raciales en sus cursos de pregrado. Recomendaciones, incluso por la obligatoriedad y aplicación de las Leyes Federales Nº 10.639/2003 y Nº 11.645/2008, así como por el Estatuto de Igualdad Racial, que prevé la incorporación de temas relacionados con los valores sobre la pluralidad étnica y cultural de la sociedad brasileña en la matriz curricular de los cursos de formación inicial y continua del profesorado (BRASIL, 2020a). Nuestra investigación ha indicado que en el curso de la promoción de una educación efectivamente inclusiva racial y étnicamente es necesario pensar más allá del sistema de"puntuación".Sabemos que, aunque las dificultades aún persisten, los avances son grandes y ya bastante notables en el campo educativo, con el fin de ayudar a los estudiantes negros a valorarse como negros, y a sentirse orgullosos de pertenecer a una comunidad cimarrone, con sus historias, tradiciones, experiencias y narrativas. Las experiencias pedagógicas, aunque aún impregnadas de contradicciones y resbalones, a veces por la aceptación de los negros como iguales en su diferencia, a veces fuertemente ancladas en discursos de negación, sugieren, sin embargo, fracturas y brechas a través de las cuales se pueden potenciar otros movimientos de apreciación de la cultura africana y afrobrasileña y la memoria oral de los antepasados africanos. En breve, nos comunicamos con Heckert (2004) que es imperativo visualizar con nuestra investigación las diversas fuerzas en juego en el campo educativo, porque involucran tanto las prescripciones normativas contenidas en las políticas oficiales que se pretenden hegemónicas, como una diversidad de formas de pensar y actuar que tienen el poder de
image/svg+xmlTabú: una invitación a (re)pensar la educación para las relaciones razales en tiempos oscuros RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1261 desestabilizar lo instituido: procesos anónimos e impredecibles que promueven la inestabilidad y la ruptura con este imaginario racista aun fuertemente establecido en la educación. Sabemos que nos queda un largo camino por recorrer -principalmente por los tiempos oscuros que vivimos- en la creación y/o valorización de otras formas de actuar en la educación, además de los intentos de elaborar un discurso exento, neutral y políticamente correcto. Es la educación la que está llamada a posicionarse. Consideraciones finales Las profundas conexiones de Brasil con África no son nuevas para nadie. De ahí vinieron los africanos, que trajeron sus culturas, conocimientos, tradiciones, religiosidades, música, danza, gastronomía y cosmovisiones que enriquecieron la cultura brasileña. A pesar de todo el proceso de devaluación de estas contribuciones en gran medida aquilatadas por estudios e investigaciones, hoy vemos un proceso creciente de reconocimiento y preservación de la historia y la cultura africana y afrobrasileña en el país, con las comunidades quilombo restantes imprimiendo nuevos significados para sus festividades, tradiciones religiosas y otras manifestaciones culturales. También notamos que, aunque hay una necesidad de mayor reconocimiento y expansión, estos movimientos han reverberado en la escuela. Se trata de proyectos que indican posibilidades de superación del racismo en la escuela y fuera de ella, también a través del elogio de las contribuciones de la cultura africana y afrobrasileña en la construcción de la identidad brasileña. Los proyectos instituyentes en educación, según Linhares (2006, 2010), son formas de anunciar reversiones en su propia racionalidad y política dominante, con el fin de llenar vacíos y vacíos dejados por una forma de organización del conocimiento jerárquico y excluyente de otros conocimientos, otras corporalidades y otros recuerdos. La revisión de la posición etnocéntrica asumida por la escuela y que siempre ha predominado en relación con el "otro" es fundamental, junto con la revisión de la posición xenófoba y racista, para buscar construir nuevos modos de socialización. Finalmente, transformar la escuela, reinventarla, revisar sus métodos, sus reglas, sus objetivos, sus bases epistemológicas, son algunos de nuestros mayores desafíos. No podemos dejar de destacar obras importantes como Gomes (2000, 2010), Munanga (1999, 2008), y otras sobre educación ciudadana, que plantean la necesidad de enfocar la centralidad de la cuestión racial en nuestra práctica pedagógica, en proyectos y políticas educativas, en la lucha por una sociedad democrática que garantice a todos el derecho a la
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO y Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1262 ciudadanía. Nuestro sistema educativo necesita "discernir la especificidad de la raza como elemento de nuestra condición humana y la construcción social de la raza a lo largo de la historia de nuestra sociedad". Por lo tanto, es urgente considerar la injerencia de las diferencias étnico-raciales en las condiciones de vida del pueblo brasileño, a fin de superar el nivel de preocupación solo por las desigualdades económicas, y enfrentar otro aspecto de esta desigualdad, que es el tema de la diversidad cultural y racial. Reconocer y respetar la diversidad de los estudiantes es deseado por todos y cada uno, siempre que nuestros esfuerzos no se vean socavados por condiciones estructurales que degradan al individuo y lo colocan en la marginalidad. Lo importante aquí es considerar el tema de la diferencia dentro de un tema más amplio, que es la erradicación de la pobreza y la desigualdad racial que un proyecto neoliberal de la sociedad, como se muestra en estudios e investigaciones sobre el tema, no es capaz de ofrecernos. Por lo tanto, es necesario prestar más atención a los discursos contenidos en los documentos oficiales y las prácticas de enseñanza. Por lo tanto, para combatir el racismo o cualquier otra forma discriminatoria y/o prejuiciosa, son necesarias acciones, prácticas y ejercicio continuo de lo que consideramos relevante, tales como: 1) percibir y entender que el racismo está presente en todas las prácticas sociales, ya sea explícita, sutil y/o camuflada; 2) entender que la lucha contra el racismo es responsabilidad de todos, independientemente del color de la piel, situación económica y/o social; 3) no callar, denunciando cualquier práctica racista, discriminatoria y/o prejuiciosa; entre otros. Es la películaTabúreverberando hoy en día e invitándonos a cepillar nuestras historias y contrapelo. Reflexiones cada vez más urgentes sobre nuestras realidades, ya sea en Brasil, Cabo Verde, Portugal u otro país africano. REFERENCIAS ALVES, N.; OLIVEIRA, I. B. Imagens de escolas: Espaçostempos de diferenças no cotidiano. Educ. Soc., Campinas, v. 25, n. 86, p. 17-36, abr. 2004. Disponible en: https://www.scielo.br/j/es/a/tNr9GNVPHvhZfL3qL8CYFML/?format=pdf&lang=pt. Acceso: 10 sept. 2021. BAPTISTA, P. G. Imigração e trabalho doméstico: O caso português. 2009. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Cooperação Internacional) – Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2009. Disponible en: https://www.repository.utl.pt/handle/10400.5/1653. Acceso: 10 oct. 2021. BARBON, J. Após 2 meses, Brasil não sabe a cor de 29% dos mortos pela Covid-19. Folha de São Paulo, São Paulo,17 maio 2020. Disponible en:
image/svg+xmlTabú: una invitación a (re)pensar la educación para las relaciones razales en tiempos oscuros RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1263 https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/05/apos-2-meses-brasil-nao-sabe-a-cor-de-29-dos-mortos-pela-covid-19.shtml?origin=uol. Acceso: 20 dic. 2021. BATALHA, L. Cabo-verdianos em Portugal: “Comunidade” e identidade. In: GÓIS, P. (org.). Comunidade(s) cabo-verdiana(s):As múltiplas faces da imigração cabo-verdiana. Lisboa: ACIDI, 2008. BENJAMIN, W. Sobre o conceito da história. In: BENJAMIN, W. Obras Escolhidas: Magia e técnica, arte e política.São Paulo: Brasiliense, 1996. BRASIL. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Brasília, DF: IBGE,2019. Disponible en: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9171-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-mensal.html?=&t=destaques. Acceso: 12 oct. 2021. BRASIL. Procuradoria da República em Pernambuco. MPF encaminha recomendação à UFPE e ao IFPE para adoção da disciplina Educação para as Relações Étnico-raciais.Brasília, DF: MPF, 2020a.Disponible en: http://www.mpf.mp.br. Acceso: 23 jul. 2020. BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Ministério da Educação. Divisão de Temas Educacionais (DELP). Programa de Estudantes/Convênio de Graduação (PEC-G). Brasília, DF: MEC, 2020b. Disponible en: http://www.dce.mre.gov.br/PEC/PECG.php. Acceso: 23 jul. 2020. COUTO, M. Pensageiro Frequente. Lisboa: Editorial Caminho, 2010. DOMINGOS, N. Tabu da História: “Desejo de ficção” e imagens do colonialismo. Buala.org, 2014. Disponible en: https://www.buala.org/pt/afroscreen/o-tabu-da-historia. Acceso: 25 jun, 2019. FOSTER, E. L. S. Garimpando pistas para desmontar racismos e potencializar movimentos instituintes na escola. Curitiba: Editora Appris, 2015. GOMES, N. Educação Cidadã, Etnia e Raça. In: AZEVEDO, J. C.; GENTILI, P.; KRUG, A.; SIMON, C. (org.). Utopia e Democracia na Educação Cidadã. Porto Alegre: UFRGS; Secretaria Municipal de Educação, 2000. GOMES, N. (org.). Um olhar além das fronteiras:Educação e relações raciais. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. GOMES, M. Tabu de Miguel Gomes.Entrevistador: Olivier Barlet.BUALA,Lisboa, 12 dez. 2012. Tradução: de Maria José Cartaxo. Disponible en: https://www.buala.org/pt/afroscreen/tabu-de-miguel-gomes. Acceso: 02 dic. 2019. GUIMARÃES, A. S. A. Racismo e Antirracismo no Brasil. Revista Novos Estudos - CEBRAP, n. 43, p. 26-44, nov. 1995. Disponible en: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2128310/mod_resource/content/1/ASG_racismo_e_anti_racismo_NE%2043_1995.pdf. Acceso: 23 abr. 2021.
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO y Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1264 HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 12. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2015. HECKERT, A. Narrativas de Resistências: Educação e Políticas. Tese (Doutorado em Educacão) – Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, Rio de Janeiro, 2004. Disponible en: https://app.uff.br/riuff/handle/1/20780. Acceso: 13 oct. 2021. JOUTARD, P. Desafios à História Oral do Século XXI. In:FERREIRA, M. M. (org.). História oral: Desafios para o século XXI. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000. LINHARES, C. F. Experiências Instituintes em escolas públicas e formação docente. Rio de Janeiro: UFF, 2006. LINHARES, C. F. Tempo de recomeçar: movimentos instituintes na escola e na formação docente. In: DALBEN, Â. (org.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. MBEMBE, A. Crítica da razão negra. Tradução: Sebastião Nascimento. São Paulo: N. 1 edições, 2018. MBEMBE, A. Políticas da inimizade. Lisboa: Antígona, 2017. MELUCCI, A. Por uma sociologia reflexiva: Pesquisa qualitativa e cultura. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. MEMI, A. Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. MUNANGA, K. Rediscutindo a Mestiçagem no Brasil: Identidade nacional versus identidade negra. Petrópolis-RJ: Vozes, 1999. MUNANGA, K. Superando o racismo na escola. Brasília, DF: MEC; SEF, 2008. OXFAM BRASIL. Instituto Datafolha. Pesquisa Nós e as desigualdades: Percepções sobre desigualdades no Brasil, 2019. São Paulo: Oxfam Brasil, 2019. Disponible en: ttps://www.oxfam.org.br/um-retrato-das-desigualdades-brasileiras/pesquisa-nos-e-as-desigualdades/pesquisa-nos-e-as-desigualdades-2019/. Acceso: 25 jun. 2020. POLLACK, M. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2278. Acesso em: 15 out. 2020. RAPOSO, O. Violência e racismo na Cova da Moura. Rede Angola, 2015. Disponible en: http://m.redeangola.info/especiais/violencia-e-covardia-na-cova-da-moura/. Acceso: 12 oct. 2021. RÁDIO MOÇAMBIQUE. Filme Tabu, 23 nov. 2015. SODRÉ, M. Claros e Escuros, Identidade, povo e mídia no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
image/svg+xmlTabú: una invitación a (re)pensar la educación para las relaciones razales en tiempos oscuros RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1265 Cómo hacer referencia a este artículo CUSTODIO, E. S.; FOSTER, E. L. S. Tabú: Um convite a (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos sombrios. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1241-1265, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 Enviado en:29/12/2021 Revisiones requeridas en: 15/02/2022 Aprobado en: 13/04/20212 Publicado en: 30/06/2022 Procesamiento y edición: Editora Ibero-Americana de Educação. Corrección, formateo, normalización y traducción.
image/svg+xmlTabu: An invitation to (re)think education for race relations in dark times RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1234 TABU: AN INVITATION TO (RE)THINK EDUCATION FOR RACE RELATIONS IN DARK TIMES TABU: UM CONVITE A (RE)PENSAR A EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES RACIAIS EM TEMPOS SOMBRIOS TABÚ: UNA INVITACIÓN A (RE)PENSAR LA EDUCACIÓN PARA LAS RELACIONES RAZALES EN TIEMPOS OSCUROS Elivaldo Serrão CUSTODIO1Eugénia da Luz Silva FOSTER2ABSTRACT: The article aims to (re) think education for race relations intimes that turn out to be gloomy from the film “Tabu”. The work is an exploratory research based on a qualitative reflective approach. The results show that despite the policies that have been seeking to institute new ways of looking at and working on differences, they come up against the idea of a homogeneous national identity that disqualifies differences, preventing the specificities of the black condition in society from being given due importance. We know that we have a long way to go in creating and / or valuing other ways of acting in education, in addition to the attempts to develop an impartial, neutral and politically correct discourse. It is education being called to position itself. KEYWORDS: Race relations. Identity. Alterity. Culture. Education. RESUMO: O artigo tem por objetivo (re)pensar a educação para as relações raciais em tempos que se revelam sombrios a partir dofilme “Tabu”. O trabalho trata-se de uma pesquisa exploratória pautada em uma abordagem qualitativa reflexiva. Os resultados apontam que as políticas que vêm buscando instituir novas formas de se encarar e trabalhar as diferenças esbarram na ideia de uma identidade nacional homogênea, que desqualifica diferenças, impedindo que se dê o devido valor às especificidades da condição negra na sociedade. Sabemos que temos muito caminho a percorrer na criação e/ou valorização de outros modos de agir na educação, para além das tentativas de se elaborar um discurso isento, neutro e politicamente correto. É a educação sendo chamada a se posicionar. PALAVRAS-CHAVE: Relações raciais. Identidade. Alteridade. Cultura. Educação. 1Federal University of Amapá (UNIFAP), Macapá – AP – Brazil. Professor in the Masters in Education at UNIFAP. Doctorate in Theology (EST). ORCID: http://orcid.org/0000-0002-2947-5347. E-mail: elivaldo.pa@hotmail.com 2Federal University of Amapá (UNIFAP), Macapá – AP – Brazil. Professor at the Masters in Education. Doctorate in Education (UFF). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0807-0789. E-mail: daluzeugenia6@gmail.com
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO and Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1235 RESUMEN:El artículo tiene como objetivo (re) pensar la educación para lasrelaciones raciales en tiempos que se revelan oscuros después de la película “Tabú”. El trabajo es una investigación exploratoria basada en un enfoque cualitativo reflexivo. Los resultados muestran que a pesar de las políticas que han buscado instituir nuevas formas de enfrentar y trabajar con las diferencias, chocan con la idea de una identidad nacional homogénea que descalifica las diferencias, impidiendo la debida valoración de las especificidades de la condición negra en sociedad. Sabemos que nos queda un largo camino por recorrer en la creación y / o valoración de otras formas de actuar en educación, además de los intentos por desarrollar un discurso imparcial, neutral y políticamente correcto. Es la educación la que está llamada a tomar posición. PALABRAS CLAVE:Relaciones raciales. Identidad. Alteridad. Cultura. Educación. Introdução In July 2021, the forty-sixth anniversary of the political independence of most of the former Portuguese colonies in Africa was celebrated (was there reason to celebrate?) Forty-six years of liberation from the Portuguese colonial yoke, after a war that started in the 1960s and ended with the independence of the colonies between 1974 and 1975. influence until today, in several dimensions of the life of these countries, on the other hand, the economic, educational and political advances can be clearly perceived, although this crossing still demands a long walk in favor of sovereignty and democracy. Perhaps this is the right moment to answer, once again, the question asked to us, some twelve years ago, by a Brazilian friend: “Would it not have been better for African countries to remain colonies of Portugal, instead of facing the difficulties they still face? today, after years of independence?” We remember that our first response was: “My dear friend, nobody likes to be considered a second-class citizen in their own country. Would you like to be in that condition?” Bringing to light, at this moment, some reflections on aspects of the memory of the colonization/decolonization process in Portuguese-speaking Africa, racial relations in contemporary times and some connections with the field of education, becomes, therefore, especially relevant, precisely because this is a commemorative season. After all, what do we really have to celebrate, in these forty-five years, with regard to relationships with the Other, with the Different? What has changed in internal and external racial relations and what can be considered an indication that we have learned to face the “Other as a legitimate other in coexistence”? What place has education been occupying in this debate?
image/svg+xmlTabu: An invitation to (re)think education for race relations in dark times RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1236 In this text, instigated by the movie Tabu(2012)3by filmmaker Miguel Gomes, we tried to get a little closer to the memory of colonization and its reflexes today, in the same perspective that guides Benjamin (2001), which is to try to collect, with our reflections, the struggles, dreams, and unfinished projects of those who remained on the margins of an excluding and racist civilizing process, aiming to continue them in the present and in the future. Thus, the study was guided by an exploratory research, but also based on the experiences and reflections that we have accumulated over the years that we have worked in undergraduate and graduate courses on the theme of race relations and its unfoldings in the educational field. The research perspective was based on a reflexive qualitative approach (MELUCCI, 2005). The paper is divided into three sections. In the first, with the sole purpose of introducing the reader, we bring some notes about the choice of the movie Tabu. In the second section, we outline considerations about some aspects raised by the film, which instigated us to take a longer look at some developments of the Portuguese colonization in Africa that reverberate today. Observations that are based on two questions: can images retell stories, history? What challenges does the movie Tabupose? We believe that the images brought to light by this film "revive" our memories, precisely because they allow an updating and a work of re-signification that may involve other forms of conceiving social, political, and educational practices. In other words: these images allow a displacement of the past into the present. In the third and last section, still instigated by the film, we try to establish some bridges with education, our field of action and reflection, in its connections with the debate on the issues of diversity, difference, racism and related issues. The idea is to show, even if briefly, the actuality of this discussion and the demands it poses to the educational field, in the perspective of building a decolonial and anti-racist education, in nebulous times like the ones we are living in. Finally, the final remarks. 3The movie narrates the anecdote about a European explorer in Africa who, after losing his wife, disappears in the forest, is consumed by a crocodile and in an anthropophagy of feelings he is transmuted into it to look from there.Tabuis a meditation on nostalgia and, as all the great films about history, is a work about today. Tabuis essentially a film about the impossibility of this Eurocentric gaze today.
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO and Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1237 Notes regarding the choice of the film Tabu The decision to choose the aforementioned movie, as a provoking and guiding element for the considerations that we will make here in this text, has a somewhat unusual explanation. The first time we watched it was by mere chance. It was shown by a pay TV channel, the story was already half way through, and therefore we didn't have the opportunity to understand the plot well. However, we could still tell that it was a narrative set in a Portuguese-speaking African country, in the colonial period and also in Portugal, but in a more contemporary time. At the same moment we remembered that we had read an article, a few months earlier, on the Radio Mozambique website (2015) on the Culture link, which referred to this very movie. So it was not the first time we had come across this work. We remember well the discomfort that both the report and the alluded film caused in us, to the point of deciding not to stop talking about the subject. We recall here the phrase by the Mozambican writer Mia Couto, used as an epigraph to open this essay, when he points out that "it is not the flying to the places that marks memory. It is how much of those places continues to fly within us". (COUTO, 2010). Another reason that seems important to us in choosing this theme is a supposed similarity between our affective, social and political experiences as ethno-racial experiences in Cape Verde, Portugal and Brazil, and the issues that the plot addresses or seems to address. We anticipate here the feeling that enveloped us during most of the film: a kind of summons to action. What experiences do we have to narrate from this sad period in the life of the colonies and the colonial Metropolis itself, in conjunction with dissident and resistance struggles and movements? What resonates from that past in the present? In an interview granted to BUALA Portal, the filmmaker Miguel Gomes (2012) reportedly said that the film Tabu began to be sketched in his head from a trip to Mozambique, and by the things he heard about the atrocities committed by the Portuguese in the colonial period. The restlessness provoked by the issues addressed by the author are indicative of how racism, the struggles for racial equality, the conflicts, contradictions, and ambiguities in the construction of racial identity cross our lives as colonized subjects and help shape our daily look around race relations in these countries. In short, a memory that, if on the one hand is collective and shared by many, on the other is individual and affective, of resistance and "(in)submission" to low expectations, to the prophecies of failure that, historically, have sustained the view of us. For this reason, we seek
image/svg+xmlTabu: An invitation to (re)think education for race relations in dark times RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1238 here to narrate some experiences, with the sole purpose of strengthening the discussion, already started by others, about the theme of alterity and its unfoldings in our lives, as Linhares points out (2006, p. 8-9). We well know, even from our own experience, that without shared experiences, which can subsidize common meanings, the collective and social-political memories are weakened, as well as the capacity to narrate them, interconnecting existences and experiences. Thus, the indissoluble links between the fabrication of experiences, memories, and narrations are weakened. To look again at this past and its repercussions in the present of ethnic and racial relations is, therefore, to dive into this memory of struggles, dreams, challenges, conquests, revolts, and desires. A memory that is made of scattered fragments and subject to the whims of reminiscence. That is, subject to the game of remembering and forgetting. This is what the film Tabu suggests: a dive into my/our memories. Figure 1– Can images retell stories, history? What challenges does the movie Tabu pose us?? Source:Domingos (2014) The image above is a scene from the movie in question. The use of image in this text is inserted in a wider discussion, which has in the researchers Alves and Oliveira (2004) some of the main exponents. The authors call attention to the narrative aspect of images, highlighting that our reading of an image and the reflections we make about it are always conditioned to our memories and previous knowledge about the other and about phenomena in general, also constituted by previous narratives or images. In this sense, quoting Mangüel (2001), they add that an image gives rise to a story which, in turn, gives rise to an image. What stories can this image, and this film in particular, (re)tell about the black presence in
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO and Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1239 Portugal today, about racism and processes of ethnic and racial exclusion, in its connections with the colonial past? This is a 2012 film, consisting of two parts: the first part of the narrative, called LOST PARADISE, is set in Portugal, nowadays, where the author narrates some episodes of the life of the main character, Aurora, already in her old age. Aurora is a Portuguese lady, half senile, of unstable and rebellious behavior, whose life trajectory, lived mostly in Mozambique during the colonial period, hides an obscure past, captured in fragments of memory that escape in her deliriums. A brief examination of Lost Paradise leads to the conclusion, always provisional, that the author wants to put us before some aspects of the current reality of Portugal, after the decolonization process. A first aspect that stands out in the film and that we understand as a possible allusion, even if brief, to the effects of the decolonization process today, or how much the colonization process still echoes in us, is the case of, on the one hand, the only black character playing a housemaid, who supposedly symbolizes the condition of African immigrants from former colonies in Portugal, and on the other, the white characters portraying the difficulties of integration of many Portuguese who lived in Africa - the so-called "returnees". All this becomes clear when we examine the numbers regarding the difficulties of integration of this part of the population into Portuguese society, the data on racial and gender inequality, the loss of privileges of the "returnees", all this combined with loneliness, loss of emotional ties, and other vicissitudes of this process. The character Aurora is an interesting example of the difficulties mentioned above. She lives in the company of her Cape Verdean maid named Santa (notice that in the credits of the film Santa does not appear among the main characters, although she has a considerable participation). Santa has little expression in the film, besides a subservient behavior that can be summarized in the phrase: "M’am, I only do what I am told to do! She doesn't smile, doesn't express any feelings, even when she silently shows solidarity to her boss when she is in crisis. A black woman, illiterate and in the process of becoming literate, only hinted at in the film, but which draws immediate attention. The issue of the education of African immigrants is only suggested in the film, through the character Santa. However, due to its importance, we believe that it is a debate worthy of a closer look. We can ask ourselves: What are the reasons for the low schooling of a good number of Cape Verdean women in this country, in particular? What public policies have been adopted by the Portuguese government to combat racism and to circumvent this reality? What exists on Portuguese soil that is indicative of progress on this issue, with a view
image/svg+xmlTabu: An invitation to (re)think education for race relations in dark times RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1240 to guaranteeing the exercise of citizenship by this portion of the population? In research carried out in Portugal, as part of a Doctorate program undertaken by one of the authors of this text, in the early 2000s, it was possible to perceive interesting clues to this reality. Some explanations are necessary to help understand the representation of the Cape Verdean woman 4as a maid in Miguel Gomes' film: former Portuguese colony until July 1975, Cape Verde, historically, has been an exporter of labor to Portugal, mainly, and other countries. The emigration of female labor is a case in point: an examination of my memories of twenty years spent in Cape Verde, a country to which I always return because of family ties, until I came to Brazil through the Undergraduate and Graduate Student/Graduate Agreement Program (PEC-G)5, brings me back to the perception of the common and frequent recruitment of Cape Verdean women to work as maids in Europe, particularly in Portugal. My aunts, with the exception of my mother who decided not to emigrate but to continue working in Cape Verde, for instance, worked for most of their lives as domestic workers in Portugal and France. My older sister also lived this experience until she returned to Cape Verde in the mid-1990s. Some cousins still live in Portugal and other European countries, and also work or have worked as maids and in other occupations in these countries. The poverty of the islands, unemployment, low education and other issues drove them at that time and, to some extent, even today, to dream/desire work contracts abroad. This process begins well before the political independence, since the conditions of the islands dominated by Portugal were the most precarious, but the emigration gains new contours after the decolonization process, with the increasing difficulties through which the country was going through, which pushed and still pushes thousands of Cape Verdeans to emigrate. Portugal is one of those countries that received a large contingent of Cape Verdeans. The conditions in the host country are not the best for these immigrants, most of whom are illiterate or semi illiterate. Many are employed in construction, domestic and cleaning services, and agriculture, earning low wages and working under precarious labor conditions. They end up settling in degraded areas with no housing conditions. 4From here on, the next two paragraphs bring some personal memories lived by one of the authors of the present text, therefore the use of the first person in the speech. 5The Undergraduate Student Exchange Program (PEC-G), officially created in 1965 by Decree 55.613, and currently regulated by Decree 7.948, offers students from developing countries with which Brazil has an educational, cultural or scientific-technological agreement the opportunity to pursue their undergraduate studies in Brazilian Higher Education Institutions (HEIs). PEC-G is managed by the Ministry of External Relations, through the Division of Educational Issues, and by the Ministry of Education, in partnership with Higher Education Institutions all over the country (BRAZIL, 2020b).
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO and Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1241 Cape Verdean women, with rare exceptions, still swell the statistics that indicate that, until recently, the majority of domestic workers in Lisbon were women, although currently this picture has been changing, not so much due to improvements in the living conditions of Cape Verdean immigrants in Portugal, as a result of more inclusive public policies, but due to racism and competition from Eastern European and Brazilian women. In an interesting study conducted on Female Immigration in Portugal and its relation to domestic work, Baptista (2009) indicates some elements that help us understand this issue of domestic work in Portugal, as well as the place occupied by Cape Verdean women in this market. According to him, in the group of domestic workers paid for domestic service in the country, Cape Verdean women stand out, accounting for 56% in 2006. However, still according to this author, their representativity in the total of immigrant domestic workers has decreased, contrasting with the situation of Brazilian and Ukrainian workers. The devaluation and stereotyping associated with domestic work is not only due to the gender issue, but also to the issue of ethnic hierarchization, motivated in part by the transformations in the globalized world. Stereotypes that associate domestic work not only with women, but also with women with low educational qualifications, coming from the lower strata of Portuguese society. Ethnicity begins to configure a new dimension of stereotypes related to paid domestic work. Consequently, there is a growing movement of hierarchization of ethnicities, with Ukrainians currently being preferred, with an image associated with superior qualifications and values, Brazilians, and finally Cape Verdeans. São Tomense and Guinean are currently the most sought after in this market (BAPTISTA, 2009, p. 149). Batalha (2008), in turn, adds that until the 1960s, there was no space in the Portuguese labor market for Cape Verdean women. Thus, first came the men and only later the women, who started selling fish in the streets, until the imposition of rules for marketing fish by the Portuguese government. From there, they began to dominate the cleaning market, in family homes as maids, in shopping centers, businesses, and other public and private spaces. Competition from Eastern European immigrant women and, soon after, from Brazilian women, emerged in the mid-1990s, when most Cape Verdean women were already working as cleaners. However, the mere fact that the reality of domestic workers in Portugal is characterized, until recently, as consisting mostly of Cape Verdean women, does not exempt us from a more critical and deeper analysis of this conjuncture. On the contrary, it forces us to understand how it was built, its most obscure and little visible elements, and also to seek ways
image/svg+xmlTabu: An invitation to (re)think education for race relations in dark times RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1242 to change it. Because, as Linhares (2006) points out, it is necessary to delve into the dark, little penetrated, silenced, and naturalized spaces of social relations, no matter how "normal" and natural they may appear to be. It is these spaces that most of the time cover up unequal relations, oppressions that need to be unmasked. In view of this, the place in which the black and Cape Verdean woman is placed in the narrative justifies a critical analysis of the typifications and clichés current in both Portuguese and Brazilian society about certain social groups. Just recently an image of a black Brazilian actress playing the role of a maid in two soap operas, almost simultaneously, circulated in social networks. And this means that it is urgent to broaden and put in the spotlight this and other representations, in order to combat racism and sexism. In short, a question that demands broader and deeper reflections on the space that black people occupy in Portuguese and Brazilian dramaturgy. A colder examination, on the other hand, of this same representation, places us before the possibility, among other probable readings, of the author placing us, in a categorical and intentional way, before an explicit and blatant absence! A single black actress representing, in a film, an expressive population contingent such as that of black Africans in Portugal is a strong indication that something is wrong. In this way, whether affirming or contesting, Miguel Gomes places us in front of racism and the exclusion of this part of the population in Portuguese society, as well as issues of gender associated with "race". Here we recall Benjamin (1996, p. 200) when he indicates that "Nothing that has happened can be considered lost to History. The question that remains is: would the colonial experience, the racism and the inequality that happened in a history of more than five hundred years of domination be repeating itself now, in the current context, even after so many struggles and fights for a more just society? Another question comes to our attention as we advance in the narrative: Mrs. Aurora has a relationship with her Portuguese neighbor Pilar, a very religious woman involved with certain social causes: Justice and Peace Commission, Human Rights Campaign, etc. However, a contradiction stands out: Pilar defends a political and militant position in favor of the disadvantaged, has attitudes of indignation about the inequities of Portuguese society, but does not seem to be bothered by the reality of Cape Verdean and African women in general, not questioning the racism and inequality experienced by these women in Portuguese society. Could this be another criticism of the representation of naturalized racism in Portugal? A continuity of racism present in colonial history? (RAPOSO, 2015). What would the author be
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO and Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1243 instigating us? To think about the supposed indifference, the veiled racism, the complacency of the Portuguese with these issues? The racism in Portugal expressed in the movie is not only veiled through silence and absences. It is also an explicit racism, which can be seen in the following sentence addressed by the boss to the maid Santa, who, in turn, listens silently and without any reaction: "I'm tired of your damned mojo, black servant of the devil! Or again: "The one who sent me the black woman was..." and makes a sign with her fingers, indicating that it is not a name to be pronounced. "You black witch. You have set my daughter against me with your damned mojo And further, "I fear that my daughter has been poisoned by the lies and witchcraft of this servant of the devil." It is important to remember that this memory constitutes everyone. Even in Cape Verde, racism is an issue present in our daily lives. The weak or almost non-existent integration of mainland Africans with the natives of the island of São Vicente reveals a very big social problem, but one that does not seem to deserve much consideration yet. The Cape Verdean in general seems to be a racist person, because his discourse and emotions towards black people from the African continent seem to be full of the racial theories of the 19th century and their subsequent developments. Sometimes explicit, sometimes veiled, the relations between "Creoles", as Cape Verdeans are called, and "Africans" in several situations are still of a frightening distance.6As for the "Africans", it is pertinent to point out that it is very common to hear a significant portion of the Cape Verdean population utter phrases rejecting African identity. This is another discussion that deserves attention in the context of studies on Cape Verdean identity and racism. How to include African culture in the curricula, for example, if Cape Verdeans, in general, do not think they are Africans? Another issue stands out in the first part of the film: the reality lived by the two main characters who lived in Africa, on their return to the Metropolis. One of them lives in an asylum and is considered "lelé" by her closest relatives; the other, with senile behavior, lives practically apart from her daughter, only in the company of her maid. No news, no close relatives. The loneliness of these characters emerges as evidence of the settlers' uprooting and its consequences when they return to the metropolis. A situation experienced by most of the Portuguese who returned home after the decolonization process. A new expatriation that, it 6This statement is based on the experience of one of the authors of this text, who is Cape Verdean and who has lived for many years with people who express this behavior and/or attitude.
image/svg+xmlTabu: An invitation to (re)think education for race relations in dark times RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1244 must be said, for many, did not happen of their own free will but for economic and political reasons. Without emotional ties, without friends, without roots, the settler is no longer the one he was when he left his country of origin, even though his dreams were always directed to the Metropolis, where he dreamed of one day returning to live, or die. Uprootedness, feelings of inadequacy, are some of the emotions experienced by the returnees (MEMI, 1977, p. 23). The second part of the film is narrated by one of the main characters, an old man who also lived in Mozambique during the colonial period. He relies on his memory to introduce us to his past, which represents the past of many people like him. Called LOST PARADISE, it is set in Mozambique. LOST PARADISE is a brief and sometimes superficial sketch of life in this colonial African country. A displacement in time that leads us to think of an attempt to highlight the intimate connections between past and present, as Benjamin (2001) would tell us. Loneliness in youth, loneliness in old age. The settler does not live the life of the colonized, which he rejects and despises, he does not identify with their customs and values that he calls "repugnant and heretical rituals. He isolates himself in his world of privilege, together with his countrymen in the same social and economic situation. A solitary existence, however, full of privileges and other benefits that the colonial enterprise made possible for its own, to the detriment of the low and degrading living conditions of most of the natives. In this period, if it existed, the relationship between a white man and a black woman was generally marked by sexual abuse or, in the case of consent on the part of the woman, she was seen as a sexual object by the white man. Affective relationships between a white man and a black woman in colonial Africa, and, I would risk saying, even today, were and are very rare. The film exemplifies this phenomenon well when it narrates the sexual incursions of Gian Luca's friend with black women, and the son that resulted from a relationship between him and one of these natives. A son that he rarely visited, adds the narrator. Privileges, both in the possession of material goods and human lives. A very clear example of this way of looking at the other as a material good, very common in this period, can be seen in the sentence of the same character: "Among Aurora's possessions, there was a wizard cook...". It draws attention, as we conclude this part of the text, the allusion, in our view, somewhat ironic of the liberation struggle, when he points out that the murder of Gian Luca's friend by Aurora was assumed by the Mozambican national liberation movement. Moreover, it reveals an apathetic serenity of the Mozambicans in the face of the picture of revolts and massacres perpetrated by African rebels, suggesting a conformism that, in fact, never existed.
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO and Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1245 The colonial war claimed many lives during the almost ten years it lasted. Portuguese lives, lives of several African countries fighting for their independence. If, according to the film, the Portuguese living in the colony armed themselves as best they could when the conflicts exploded, it was because privileges were at stake. In the case of the Africans, what was at stake was their dignity as subjects and citizens within their own country, where they were regarded only as a tolerable presence. Domingos (2014), relying on Edward Said in "Easternisms," in turn, warns that cinema constructed this other almost always represented by its exoticism and backwardness. The "culturalization" of the other, whether to highlight his inferiority or to show his difference, is a powerful instrument of concealment of power relations. From this perspective, he warns that Miguel Gomes' film tries, in a somewhat veiled, timid, and ambiguous way, to make a generic criticism of Portuguese colonialism in Africa, but it fits into the current debate on the history of Portuguese colonialism, where it is still possible to find strands that defend a supposed softness in the relations of the Portuguese colonizer with the African natives, when, in reality, colonial relations were marked by racism and processes of racial and sexual discrimination. Some other contributions on how this racist memory was produced and what has been the responsibility and contribution of fiction in reinforcing and overcoming it can also be found in Foster (2015), among others, where the author presents traces of mythical, scientific, literary, and popular fiction that still resonate today as a reinforcement of racism and racial inequality in Brazil and the world. The questions raised by the film, both in its narrative in the past and in the present, lead us to the need to understand that the residues of this history of colonial subalternization still challenge us, but they are being continuously tensioned by movements instituting a new rationality and another history. It is worth pointing out that the instituting movements are not ready-made objects to be discovered by brilliant and accurate researchers; we are all makers in these and these instituting/instituted processes, because they depend on the way we perceive them, on how we desire them, intensifying the conditions and possibilities of their construction paths, which do not despise the use of gaps (LINHARES, 2010, p. 801-818).
image/svg+xmlTabu: An invitation to (re)think education for race relations in dark times RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1246 Reflections on diversity, difference, racism, and education in these dark and pandemic times As pointed out, the movie Tabu puts us before burning issues in the contemporary world, whose unfoldings in education are visible and can be assessed when we take a less biased look at them. Thus, as researchers of race and intercultural relations in education, we must ask ourselves: what bridges can we establish between the questions suggested by the taboo film and the theoretical debate on the issues of diversity, differences, racism, religious intolerance, and xenophobia present in the contemporary world and even in Brazil? In this sense, how can we think the school for this new scenario that is being outlined or intensified, when, on one hand, the demands of the call for diversity and difference become more convincing, and, on the other hand, there is a stimulus to individualism, homogenization and commercialization, and a growing process of privatization of education? How to (re)think the school and teacher training to work the issue of cultural and racial plurality, in a changing world, when we are forced to face curriculum reforms that place us in front of a National Curriculum project contained in the Common National Curricular Base (BNCC), and that presents a clear emptying of issues related to racial issues? How to account for this process, when in addition to emptying the debate, it also overvalues a policy of competencies that hierarchize vertically and tend to horizontalize differences?and finally, what hints of change, of instituting movements can be glimpsed in this scenario, somewhat nebulous? It is certain that, despite these attempts to impose a much-criticized memory, many paths lead us to believe that we are currently experiencing a crisis that is constituted by the questioning of the use of unified and universalizing categories in the understanding of differences among peoples, imposed by Western rationality. In this context, the issues of differences and otherness acquire new vigor, gaining "voice for those who normally do not have one: the forgotten, the excluded, or [...] the 'defeated'" (JOUTARD, 2000, p. 33). We highlight, thus, the appeal to the memories and identities of "those from below", which (re)emerge, in the world scenario, mainly, with the fragmentation of artificially constituted nations, upon the crushing of ethnicities and identities7. 7Conception of identity. Hall (2015), in his book "Cultural Identity in Postmodernity" addresses the issue of changes that have been operated in cultural identity, which would be formed through belonging to a given national culture, from the displacements operated by force of globalization.
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO and Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1247 The dispute of memory that Pollack (1989) talks about, the fight against the dilution and emptying of lived experiences in an assimilative collective memory, the search for a political space of rescue and affirmation of silenced and subterranean memories, but also the increase of racism and racial discrimination of black men and women, of migrants and excluded people in general, are facts to be considered and that directly interfere in the directions we want to give to education. Despite all these tensions and conflicts, and despite these problems being part of the agenda of social movements and of several international organizations, according to Sodré (1999), the issue of "cultural differences" has not been taken seriously as a significant theme by a certain type of philosophical reflection underway in Europe. In reality, points out Sodré (1999), tolerance, a very fashionable discourse nowadays, would be a camouflaged way of asserting our superiority over the other, the different. I tolerate the one who is different from me, based on my references and my scale of values. Tolerating, thus, implies making certain concessions to the other, not in respect to him or in a position of equality. Tolerating ends up constituting an ethnocentric and xenophobic position. In fact, this position is emblematic of a type of thinking about human diversity that intends to determine as universal the values of Western and European culture, still very present in our education. Values that reflect convictions and beliefs and, therefore, are not neutral. This kind of thinking does not allow the recognition of the concrete differences, of the real ethical-political practice, and ignores the exclusion to which this other is submitted, its internal struggles and disputes, as well as the concrete specificities of its existence. Behind the culturalist logic that places cultural differences as the causes and consequences of deep cultural differences and conflicts hides a political and economic logic that emphasizes cultural differences, but monitored, so that they do not threaten the capitalist hegemony. The emphasis on cultural differences would contribute, precisely, to justify inequality, segregation, assimilation, and disregard for the rights of the different to respect and value their own differences and identities. Sodré's (1999) critique of the positioning on the issue of human diversity and the universalism that supports Western thought instigate us to try to understand a little more this relationship and its repercussion on the construction of a racial ideology - in Brazil as well as in Cape Verde, Portugal, and/or in any other country - that is at the base of the idea of national identity that for a long time disqualified other ethnic identities. That is, we also need to understand the complexity/discussion of this debate beyond our country.
image/svg+xmlTabu: An invitation to (re)think education for race relations in dark times RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1248 The re-signification and reinterpretation of differences in the current context of crisis of a mode of reason and politics are aspects to be considered and one of the ways used by movements that "usually see culture as the set of symbolic mediations (language, arts, laws, customs, ways of thinking) to address their singularity and affirm their differences" (SODRÉ, 1999, p. 24). However, it is important to be aware of the risks of closing the "cultural identities", in order to avoid distorting the political analysis of the meanings that this universality has acquired in the relations among people. The important thing is not to close ourselves culturally, preventing dialogue with the other. It is this dialogue that gives us the dimension of our similarities, without losing the foundation of our differences. Political, ideological, cultural divergences can generate conflicts, however, as long as we do not conceive of difference as something whose basic premises are intrinsically wrong, reality is not absolute. In fact, what generates divergence is not the existence of difference but the attitude we adopt of accepting and/or rejecting the basic premises of this difference.Being different, in this perspective, does not mean being unequal, even if one analyzes difference based on certain "evidences" of an unequal reality. It is not the domains of existence of the different person that make him unequal, because the conditions of his difference in themselves do not imply inequality; they are neither inferior nor superior, they are different. Difference is only presented as a synonym of inequality for those who think they hold a truth before which there are no other truths. The racial issue, as any social phenomenon, be it in Brazil, Portugal, or any other part of the world, cannot be reduced to a single dimension, which is the economic one. It involves an interdependence of relations that go from the sphere of material production to the political, cultural dimensions that involve the economy of affections and others. Therefore, in this perspective of analysis, we do not share the position defended by a certain common sense that the racial issue, in Brazil and/or anywhere else, is merely economic. As a matter of fact, there is an interesting discussion about the "race" issue. Some studies emphasize the need to use the term as a central category in the analysis of the black issue, racial inequalities and racism in the countries that are part of our research universe, arguing its intertwining with a negative meaning, attributed to the phenotypical characteristics of blacks, which, in turn, combined with moral concepts, ended up defining racism in these societies. The use of the term "race" today is being made from a new interpretation, in a re-signified perspective, political and not biological. Other intellectuals, however, reject it, proposing the use of the category ethnicity, based on the argument that its historical
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO and Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1249 antecedents and its connection with biology are unacceptable, since biology does not consider the existence of races, but only one race, the human race. Notwithstanding this debate, along with other authors, we adopt its use, not assuming a biological meaning, but because we believe that it is the only one that really gives us the dimension of racism in these societies, and also because we believe, like other studies, that racism is not only related to cultural aspects, but that it is based on the interweaving of cultural aspects with an inferior vision of the characteristics that define African ancestry. Therefore, in this text, whenever we refer to the term "race", we will be doing it from this perspective. If we bring this debate to the understanding of the Brazilian reality we realize how important it is to enter into this discussion, because we tend to look outside, to be indignant about racist practices that occur in other countries, but we don't see what actually happens on Brazilian soil. To understand this debate as it relates to Brazilian society, it is important to enter into the intricacies of a discussion around the concept of "race" and, as we will see, this is a discussion that involves both the questioning of the "biological" bases of the concept and a critique of capitalism. Talking about racism in capitalism deserves a more careful study that draws attention to the processes of privatization and the emptying of the recognition of the other. For Mbembe (2018), the concept of race should not be understood as a natural physical, anthropological, or genetic fact. The author expresses that the loss of Europe's centrality in the world order at the end of the 20th century did not totally empty racial discourses, they are still very present in our days. About race, Mbembe (2018, p. 73) further expresses that: It matters little that it does not exist as such, and not only because of the extraordinary genetic homogeneity of human beings. It continues to produce mutilating effects, because originally it is and always will be that in whose name gaps are made within society. One of the elements to explain this reality is provided by Guimarães (1995). According to him, the racial problem in Brazil is related, among others, to the construction of a racial ideology that has color as one of its supports. Racism has a certain specificity in relation to other nations where the problem is present, and one of them refers to the construction of a nationality that involved an ideal of homogeneity, whose objective was, precisely, to suppress differences. A conception of a mixed nation, supported by the notion of birthplace and not by ancestry. An effective way to erase "uncomfortable ancestry” based on premises that associate difference with inferiority. In short, a strategy that, to a certain extent,
image/svg+xmlTabu: An invitation to (re)think education for race relations in dark times RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1250 has proven effective in the elaboration of a homogeneous representation that Brazilians have of themselves and of their country. Thus, the analysis of the process of construction of the Brazilian national identity is of great importance in understanding racism. It is where it could be said that the first stones were laid for the construction of cordial racism, disguised, always camouflaged; a rejection of black men and women disguised by friendly phrases, but which seek to hide hostile coexistence policies. Racism that gains strength with the myth of racial democracy (FOSTER, 2015). Studies indicate - from authors already mentioned in this text, among others - that despite the policies that have been seeking to institute new ways of facing and working with differences, they come up against the idea of a homogeneous national identity that disqualifies differences, as well as as the myth of racial democracy, which prevents giving due value to the specificities of the black condition in Brazilian society, to the influences of African culture in Brazilian culture and in other domains. The 21st century marks the collapse of the myth of racial democracy – although quite restricted to the theoretical plane – according to data from the research by Oxfam Brasil and the Datafolha Institute, called the “We and Inequalities” Research, which brings perceptions about inequalities in Brazil in different ways. 2019. The survey had the contribution to the debate on the topic of 2,086 people interviewed in 130 Brazilian municipalities, from all regions of the country, between February 12 and 18, 2019. The data reveal that: 1) for 72% of the Brazilian population, skin color defines the chances of being hired by companies; 2) for 81%, race defines the level of police approach; 3) for 71%, justice is tougher for blacks; and 4) for 81%, poor blacks suffer more than poor whites, that is, we witness the demolition of the myth and racism coming out of the closet; 5) 52% agree that black people earn less for being black (OXFAM BRASIL, 2019). The murder of black citizen George Floyd in the United States on May 25, 2020 produced a worldwide wave of protests. Anti-racist demonstrations have taken place around the world since his death, when he was suffocated by a white police officer in Minneapolis, USA. before losing consciousness. However, explicitly racist episodes like this are not unprecedented in Brazil and in the world. Racism is a much older and more complex problem. And this reality remains much more vivid and haunting, especially from March 11, 2020, with the pandemic context (new coronavirus, named as SARS-CoV-2)8, that caused panic in all humanity, when it was characterized by the World Health Organization (WHO) as 8Designated as Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus, a disease that promotes acute infection.
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO and Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1251 a pandemic, whose indicators of death and vulnerability indicate that the black population is the most affected. And, in this scenario, we realize that throughout this health crisis that continues to spread, racism and social inequalities remain rampant. According to a survey carried out by Barbon (2020), until May 8, 2020, blacks and browns corresponded to 35% of deaths from Covid-19, according to epidemiological data released by the Ministry of Health. Against this background, can we say that racism has gotten worse? No, it has always existed. It has only become more publicized/denounced due to the technological advances and the access to information by a large part of society. What we are witnessing in the last few months are only reflections in an increasing scale of worldwide repercussion of a violence present in society as a form of control and racist maintenance that the State puts on the black population. According to Mbembe (2017), in a current global context marked by the constant production of "politics of enmity," racism, in its multiple dimensions, presents itself as a technology of power capable of regulating relations. In Brazil, for example, this issue is quite evident when we look at the data released by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) on social inequalities, where the indices reveal a clear ethnic demarcation (BRAZIL, 2019). As a consequence of economic policies, still following Brazil's example, educational policies suffer from the policy of funding restrictions for education. At the same time, the critical participation of professionals and the diversity of students are limited by the emphasis on a system of "scores" and evaluation based on standardized exams, such as the Prova Brasil, the National High School Exam (Enem), and the National Basic Education Assessment System (SAEB, in the Portuguese acronym), in which the large majorities of poor whites, blacks, and indigenous people are certainly the most affected. In this path of dismantling public policies in the last two years, particularly in the current Brazilian political scenario, we recall the advance of conservative and extreme right-wing policies from 2019, such as: 1) dissolution of the Secretariat of Continuing Education, Literacy, Diversity and Inclusion (SECADI), created in 2004 by demands of social movements, an organ responsible for programs, actions and policies, such as Quilombola School Education, Education for Ethnic-Racial Relations, Human Rights Education; 2) creation of the Undersecretariat of Fomenting Civic-Military Schools9, This proposal became part of the general competencies of the Ministry of Education (MEC), since it was one of the main issues raised by Jair Bolsonaro during the presidential campaign; 3) extinction of the 9Remember that the expansion of military schools in Brazil is nothing new. Between the years 2013 and 2018 there was a significant increase in the number of units offered.
image/svg+xmlTabu: An invitation to (re)think education for race relations in dark times RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1252 Ministry of Culture (Minc) etc. These attitudes/discourses/behaviors, among others, only show the lack of commitment and sensibility in the implementation of inclusive policies in order to mitigate the historical inequalities present in the country. However, in another direction, anti-racist discourses and multicultural analyses propose educational actions that emphasize the political aspect of differences, since the emphasis on "score", so common today, presupposes behaviors and abilities that would be located in the individual. Thus, issues such as intellectual quotient associated with school performance, which have sustained discourses that reinforce inequality and prejudice, based on "biological" differences between men and women, racism itself, or the use of skin color as a justifying element of academic performance, are replaced by practices that are more integrative of differences. In short, reinforcing the political aspect of differences and not their mere location in the individual would be one of the ways to think about a more egalitarian education. Recently, in July 2020, the Federal Public Ministry (MPF) sent a recommendation to the Federal University of Pernambuco (UFPE) and the Federal Institute of Pernambuco (IFPE) to adopt measures that would allow the creation of the discipline of Ethnic-Racial Relations in their undergraduate courses. These recommendations are made because of the mandatory implementation of Federal Laws n. 10.639/2003 and n. 11.645/2008, as well as because of the Racial Equality Statute, which provides for the incorporation of themes that involve values about ethnic and cultural plurality of the Brazilian society in the curricular matrix of initial and continuing education courses for teachers (BRAZIL, 2020a). Our research has indicated that, in order to promote an effectively racially and ethnically inclusive education, it is necessary to think beyond the "score" system. We know that although difficulties still persist, the advances are great and already quite perceptible in the educational field, in the sense of helping black students to value themselves as blacks, and to feel proud of belonging to a quilombola community, with its histories, traditions, experiences, and narratives. The pedagogical experiences, although still permeated with contradictions and slipping, sometimes towards the acceptance of the Black as equal in their difference, sometimes strongly anchored in discourses of negation, suggest, however, fractures and breaches through which other movements of valorization of African and Afro-Brazilian culture and the oral memory of the African ancestors may be potentiated. In short, we agree with Heckert (2004) that it is imperative to glimpse with our research the various forces at play in the educational field, since they involve both the
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO and Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1253 normative prescriptions contained in official policies that claim to be hegemonic, as well as a diversity of ways of thinking and acting that have the power to destabilize the established: anonymous and unpredictable processes that promote instability and rupture with this racist imaginary still strongly established in education. We know that we have a long way to go - mainly because of the dark times we are living through - in the creation and/or valorization of other ways of acting in education, beyond the attempts to elaborate an exempt, neutral, and politically correct discourse. Education is being called to take a stand. Final remarks We take for granted the deep connections that Brazil has with Africa. Africans brought their cultures, knowledge, traditions, religiosities, music, dance, cuisine, and cosmovisions that enriched Brazilian culture. Despite the process of devaluation of these contributions, which have been well documented by studies and research, today we see a growing process of recognition and preservation of African and Afro-Brazilian history and culture in the country, with the remaining quilombocommunities giving new meaning to their festivities, religious traditions, and other cultural manifestations. We also notice that, although lacking greater recognition and expansion, these movements have reverberated in the school. They are projects that indicate possibilities of overcoming racism in school and outside it, also through the appreciation of the contributions of African and Afro-Brazilian culture in the construction of the Brazilian identity. The instituting projects in education, according to Linhares (2006, 2010), are ways of announcing reversals in the dominant rationality and politics, in order to fill gaps and voids left by a form of organization of hierarchical knowledge that excludes other knowledge, other corporality, and other memories. Finally, transforming the school, reinventing it, reviewing its methods, its rules, its objectives, its epistemological bases, are some of our greatest challenges. We cannot fail to highlight important works such as those by Gomes (2000, 2010), Munanga (1999, 2008), and others on citizen education, which raise the need to focus on the centrality of the racial issue in our pedagogical practice, in educational projects and policies, in the struggle for a democratic society that guarantees everyone the right to citizenship. Our educational system needs to "discern the specificity of race as an element of our human condition and the social construction of race throughout the history of our society. Thus, it is
image/svg+xmlTabu: An invitation to (re)think education for race relations in dark times RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1254 urgent to consider the interference of ethno-racial differences in the living conditions of the Brazilian people, in order to overcome the level of concern only with economic inequalities, and face another aspect of this inequality, which is the issue of cultural and racial diversity. Recognizing and respecting the diversity of the students is desired by all, as long as our efforts are not undermined by structural conditions that degrade the individual and place him/her in marginality. The important thing here is to consider the issue of difference within a broader issue, which is the eradication of poverty and racial inequality that a neoliberal society project, as studies and research on the subject show us, is unable to offer us. Therefore, it is urgent to pay more attention to the discourses contained in official documents and in teaching practices. Therefore, in order to fight racism or any other discriminatory and/or prejudiced form, we need actions, practices, and continuous exercise of what we consider to be pertinent, such as: 1) realize and understand that racism is present in all social practices, whether in an explicit, subtle, and/or camouflaged way; 2) understand that the fight against racism is everyone's responsibility, regardless of skin color, economic and/or social status; 3) not to be silent, denouncing any racist, discriminatory, and/or prejudiced practice; among others. It is the movie Tabu reverberating today and inviting us to brush our stories against the grain. Reflections that are increasingly urgent about our realities, whether in Brazil, Cape Verde, Portugal, or any other African country. REFERENCES ALVES, N.; OLIVEIRA, I. B. Imagens de escolas: Espaçostemposde diferenças no cotidiano. Educ. Soc., Campinas, v. 25, n. 86, p. 17-36, abr. 2004. Available at: https://www.scielo.br/j/es/a/tNr9GNVPHvhZfL3qL8CYFML/?format=pdf&lang=pt. Access on: 10 Sept. 2021. BAPTISTA, P. G. Imigração e trabalho doméstico: O caso português. 2009. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Cooperação Internacional) – Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2009. Available at: https://www.repository.utl.pt/handle/10400.5/1653. Access on: 10 Oct. 2021. BARBON, J. Após 2 meses, Brasil não sabe a cor de 29% dos mortos pela Covid-19. Folha de São Paulo,São Paulo,17 maio 2020. Available at: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/05/apos-2-meses-brasil-nao-sabe-a-cor-de-29-dos-mortos-pela-covid-19.shtml?origin=uol. Access on: 20 Dec. 2021. BATALHA, L. Cabo-verdianos em Portugal: “Comunidade” e identidade.In: GÓIS, P. (org.). Comunidade(s) cabo-verdiana(s):As múltiplas faces da imigração cabo-verdiana. Lisboa: ACIDI, 2008.
image/svg+xmlElivaldo Serrão CUSTODIO and Eugénia da Luz Silva FOSTER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1234-1257, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16058 1255 BENJAMIN, W.Sobre o conceito da história. In: BENJAMIN, W.Obras Escolhidas: Magia e técnica, arte e política.São Paulo: Brasiliense, 1996. BRAZIL. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Brasília, DF: IBGE, 2019. Available at: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9171-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-mensal.html?=&t=destaques. Access on: 12 Oct. 2021. BRAZIL. Procuradoria da República em Pernambuco. MPF encaminha recomendação à UFPE e ao IFPE para adoção da disciplina Educação para as Relações Étnico-raciais.Brasília, DF: MPF, 2020a. Available at: http://www.mpf.mp.br. Access on: 23 July. 2020. BRAZIL. Ministério das Relações Exteriores. Ministério da Educação. Divisão de Temas Educacionais (DELP). Programa de Estudantes/Convênio de Graduação (PEC-G). Brasília, DF: MEC, 2020b. Available at: http://www.dce.mre.gov.br/PEC/PECG.php. Access on: 23 July. 2020. COUTO, M. Pensageiro Frequente. Lisboa: Editorial Caminho, 2010. DOMINGOS, N. Tabu da História: “Desejo de ficção” e imagens do colonialismo. Buala.org, 2014. Available at: https://www.buala.org/pt/afroscreen/o-tabu-da-historia. Access on: 25 June 2019. FOSTER, E. L. S. Garimpando pistas para desmontar racismos e potencializar movimentos instituintes na escola. Curitiba: Editora Appris, 2015. GOMES, N. Educação Cidadã, Etnia e Raça. In: AZEVEDO, J. C.; GENTILI, P.; KRUG, A.; SIMON, C. (org.). Utopia e Democracia na Educação Cidadã. Porto Alegre: UFRGS; Secretaria Municipal de Educação, 2000. GOMES, N. (org.). Um olhar além das fronteiras:Educação e relações raciais. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. GOMES, M. Tabu de Miguel Gomes.Entrevistador: Olivier Barlet.BUALA, Lisboa, 12 dez. 2012. Tradução: de Maria José Cartaxo. Available at: https://www.buala.org/pt/afroscreen/tabu-de-miguel-gomes. Access on: 02 Dec. 2019. GUIMARÃES, A. S. A. Racismo e Antirracismo no Brasil. Revista Novos Estudos - CEBRAP, n. 43, p. 26-44, nov. 1995. Available at: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2128310/mod_resource/content/1/ASG_racismo_e_anti_racismo_NE%2043_1995.pdf. Access on: 23 Apr. 2021. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 12. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2015. HECKERT, A. Narrativas de Resistências: Educação e Políticas. Tese (Doutorado em Educacão) – Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, Rio
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