image/svg+xml
“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade pública
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1279
“EU NÃO TENHO CARA DE ESTUDANTE DE MEDICINA”: TRAJETÓRIA DE UM
ESTUDANTE E OS GUICHÊS DISCRIMINANTES NA UNIVERSIDADE PÚBLICA
“NO PARECERÉ UN ESTUDIANTE DE MEDICINA”: TRAYECTORIA DE UN
ESTUDIANTE Y LOS GUICHES DISCRIMINANTES EN LA UNIVERSIDAD
PÚBLICA
“I DON'T LOOK LIKE A MEDICAL STUDENT”: TRAJECTORY OF A STUDENT AND
THE DISCRIMINATING GUICHES AT THE PUBLIC UNIVERSITY
Natália Rigueira FERNANDES
1
Breynner Ricardo de OLIVEIRA
2
RESUMO
:
O artigo analisa a trajetória de um estudante de camada popular, as interações com
guichês discriminantes em uma universidade pública mineira e suas percepções sobre seu
cotidiano como estudante-alvo de políticas sociais. A partir de uma abordagem qualitativa,
realizou-se uma entrevista-narrativa, contemplando quatro dimensões: (1) sua trajetória
familiar e escolar antes do ingresso na universidade; (2) estratégias e percepções sobre políticas
de inclusão social que contribuíram para seu ingresso na universidade; (3) sua experiência como
estudante de Medicina e as interações com os pares; (4) sua interação com os setores na
universidade, nos seus
guichês.
Os resultados indicam mudança no perfil socioeconômico nas
universidades públicas a partir do governo Lula e o ingresso dos “estudantes improváveis”, por
meio da Lei de Cotas e outras políticas destinadas às famílias. Revelam, também, guichês
discriminantes e estigmas que se processam, a partir da reprodução de desigualdades no
processo de implementação de políticas.
PALAVRAS-CHAVE
: Implementação de políticas públicas. Trajetórias escolares.
Desigualdade e oportunidades educacionais. Universidade pública.
RESUMEN
:
El artículo analiza la trayectoria de un estudiante de baja renta, las interacciones
con contadores discriminatorios en una universidad pública de Minas Gerais y sus
percepciones sobre su cotidiano como estudiante objetivo de las políticas sociales. A partir de
un enfoque cualitativo, se realizó una entrevista narrativa, abarcando cuatro dimensiones: (1)
su trayectoria familiar y escolar antes de ingresar a la universidad; (2) estrategias y
percepciones sobre las políticas de inclusión social que contribuyeron a su ingreso a la
universidad; (3) su experiencia como estudiante de medicina e interacciones con sus
compañeros; (4) su interacción con los sectores de la universidad, en sus mostradores. Los
resultados indican un cambio en el perfil socioeconómico de las universidades públicas desde
1
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Mariana – MG – Brasil. Doutoranda em Educação pelo Programa
de Pós-Graduação em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7760-7981. E-mail:
natalia.fernandes@ufv.br
2
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Mariana – MG – Brasil. Professor do Programa de Pós-Graduação
em Educação. Doutorado em Educação (UFMG). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0956-4753. E-mail:
breynner@ufop.edu.br
image/svg+xml
Natalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1280
el gobierno de Lula y la entrada de “estudiantes improbables”, a través de la Ley de Cuotas y
otras políticas dirigidas a las familias. También revelan ventanas discriminatorias y estigmas
que se procesan a partir de la reproducción de desigualdades en el proceso de implementación
de políticas.
PALABRAS-CLAVE
:
Implementación de políticas públicas. Trayectorias escolares.
Desigualdad y oportunidades educativas. Universidad pública.
ABSTRACT
:
The article analyzes the trajectory of a low-income student, the interactions with
discriminating counters in a public university in Minas Gerais and his perceptions about his
daily life as a target student of social policies. Based on a qualitative approach, a narrative
interview was carried out, covering four dimensions: (1) her family and school trajectory before
entering the university; (2) strategies and perceptions about social inclusion policies that
contributed to their admission to university; (3) your experience as a medical student and
interactions with peers; (4) its interaction with the sectors at the university, at its counters. The
results indicate a change in the socioeconomic profile in public universities since the Lula
government and the entry of “unlikely students”, through the Quota Law and other policies
aimed at families. They also reveal discriminating windows and stigmas that are processed
from the reproduction of inequalities in the policy implementation process.
KEYWORDS
:
Implementation of public policies. School trajectories. Inequality and
educational opportunities. Public university.
Introdução
Este artigo, tece, inicialmente, algumas problematizações e tensionamentos no que se
refere ao acesso de estudantes de diferentes contextos sociais, culturais e econômicos na
universidade:
como estudantes com trajetórias improváveis, matriculados em universidades
federais, interagem com o Estado e com as políticas sociais ao longo de sua trajetória, enquanto
destinatários dessas políticas? Que dificuldades enfrentam junto à burocracia estatal para terem
seus direitos garantidos? Que percepções têm sobre seus percursos de escolarização e inclusão
social?
O artigo analisa a trajetória de José
3
, um estudante de camada popular matriculado no
curso de medicina, suas experiências e interações com os guichês discriminantes em uma
universidade mineira e como (e porque) muda para outra universidade do mesmo estado para
desviar-se dos estigmas e desigualdades enfrentados. A partir desse olhar, analisamos sua
percepção sobre as dinâmicas associadas aos processos de implementação de programas de
3
Nome fictício a fim de preservar a identidade e garantir o anonimato, conforme protocolos éticos de pesquisa.
image/svg+xml
“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade pública
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1281
inclusão social ao longo de sua trajetória escolar na educação básica e, já na universidade,
discutimos como os guichês discriminantes no âmbito do Estado afetam essas dinâmicas.
Segundo Jaccoud (2005), a partir da eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(2003-2010), presenciou-se o fortalecimento do Sistema Brasileiro de Proteção Social, cujo
objetivo foi equalizar o acesso a oportunidades e o enfrentamento de riscos sociais, da pobreza
e da destruição de direitos. Essa rede de proteção social contribuiu para o que Kerstenetzky
(2008) chama de correção das desigualdades socioeconômicas, a partir de uma ideia de que a
diminuição da desigualdade contribuiria para a inserção de parcela significativa da população
no tecido social.
No campo educacional, os governos Lula e Dilma Rousseff (2011-2016) trataram,
efetivamente, a educação como direito, através de políticas estabelecidas para todos os níveis,
etapas e modalidades de ensino, com ênfase na educação básica e superior, no diálogo com
representantes da sociedade civil e no aumento do percentual destinado ao investimento público
direto. Sobre as políticas voltadas para as universidades, Senkevics (2021), afirma que a
expansão sem precedentes de vagas e matrículas na educação superior, além da implementação
de políticas inclusivas tanto das universidades públicas como privadas, contribuiu para que o
número de jovens de camadas populares aumentasse consideravelmente.
A partir dos primeiros anos da década de 1990, a Sociologia da Educação tem se
debruçado sobre essas questões, interessada em compreender quem são esses estudantes, quais
são suas trajetórias e suas estratégias de longevidade escolar até chegar na universidade.
Destacam-se os trabalhos de Portes (1993), Viana (1998), Silva (1999) e Zago (2006), baseados
na literatura que trata de sucesso escolar de estudantes “improváveis”
4
de camadas populares
através de trajetórias, muitas vezes, conflituosas e desiguais.
Sob a perspectiva da implementação de políticas públicas, a presença desses jovens nas
universidades pode estar submersa na díade (1) ampliação do acesso e (2) efeitos revelados a
partir de limites burocráticos associados à reprodução de desigualdades. A interação entre
usuários/destinatários das políticas públicas voltadas para os cidadãos de camadas populares e
as instituições que as ofertam/implementam pode revelar estigmas e discriminações, ao mesmo
tempo em que colabora para a regulação prática dos comportamentos que o constituem. Assim,
4
Bernanrd Lahire (1997), sociólogo e professor da Universidade de Lyon, contribuiu para a construção da
compreensão do conceito de trajetórias escolares, em sua obra “Sucesso Escolar nos Meios Populares: as razões
do improvável”, onde aprofunda o conceito de sucesso improvável de estudantes de classes populares.
image/svg+xml
Natalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1282
pode-se falar em desigualdade implementada nas políticas nos
guichês
5
, conceito utilizado por
Dubois (2019) para recordar janelas ou mesas pelas quais são realizadas as interações dos
sujeitos com o Estado e, também, para reportar a um lugar simbólico de dominação e revelação
de estigmas que se processam nessas relações. Ao dialogar com a literatura nesses campos, esse
artigo articula, portanto, os referenciais e evidências provenientes da Sociologia da Educação
com as discussões sobre a implementação de políticas e a reprodução de desigualdades sociais.
De acordo com Hirata (2014), Oliveira (2017) e Laisner
et al
.
(2021), essas questões
estão diretamente articuladas com marcadores sociais entrelaçados de forma interseccional –
gênero, raça e estruturas patriarcais, e à forma como ações e políticas específicas geram
opressões, constituindo aspectos dinâmicos de desempoderamento e práticas estigmatizantes –
entendemos que o sujeito da pesquisa, o(a) narrador(a), não poderia ser selecionado(a)
aleatoriamente. Em função dos objetivos da pesquisa, foi preciso, então, “encontrar”, nesse
grupo de alunos(as) matriculado(as) em um curso de alta seletividade
6
, um(a) que tivesse esse
perfil. A partir de sondagens com alunos(as) e professores(as) vinculados(as) ao curso de
medicina, chegamos à José, um típico representante desse universo.
Analisamos, então, sua trajetória como estudante oriundo de uma família em situação
de pobreza e sua passagem por duas universidades federais (a primeira, uma universidade de
médio porte onde se matriculou em 2016 e saiu em 2020, foco dos relatos; e a segunda, uma
universidade de grande porte, onde se encontra matriculado desde 2021), ambas localizadas no
estado de Minas Gerais. José é um homem negro de 28 anos. Seu pai é recepcionista em uma
pousada e sua mãe, dona de casa. José veio de uma família pobre do norte de Minas, que foi
beneficiada pelo Programa Bolsa Família por mais de dez anos. Seu ingresso na universidade
se deu por meio da política de cotas e é usuário dos programas de assistência estudantil
universitária.
A pesquisa desenvolvida por Senkevics (2021) analisa as transformações que marcaram
a expansão recente do sistema de ensino superior brasileiro, baseando-se em dados quantitativos
concentrados no período de 1991 a 2020, em diálogo com uma revisão da literatura. O autor
elenca cinco tendências principais: democratização do acesso, instituição de ações afirmativas,
desequilíbrio público-privado, ampliação do ensino a distância e estratificação horizontal. O
5
Dubois (2019) afirma que, nos
guichês,
as instituições assumem a capacidade de moldar os cidadãos a partir do
momento em que as práticas institucionais são compartilhadas de forma desigual e silenciosa que reproduz as
desigualdades sociais.
6
Piotto (2010) analisa as trajetórias escolares e experiências universitárias de estudantes de camadas populares em
cursos de alta seletividade, versando sobre trajetórias marcadas por novas possibilidades e perspectivas, mas,
também, por humilhação e desenraizamento sofridos por esses estudantes.
image/svg+xml
“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade pública
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1283
autor afirma que a expansão sem precedentes de vagas e matrículas no ensino superior, em
conjunto com a diversificação institucional da oferta e políticas inclusivas, levou à
heterogeneização do público discente e uma crescente estratificação horizontal. É nesse
contexto que José se insere, um dos milhares de estudantes de camadas populares, negros e
pardos, que passaram a fazer parte das instituições de educação superior no Brasil em
decorrência das políticas de proteção social e de expansão e democratização dessa modalidade
de ensino. Segundo Pires (2019), os processos de implementação de políticas sociais, ao mesmo
tempo que mitigam desigualdades, podem reproduzi-las.
A pesquisa, de cunho qualitativo, tem sua proposta metodológica amparada no modelo
experiencial, a partir de novas perspectivas epistemológicas e metodológicas para a análise de
políticas públicas, proposto por Lejano (2012). Da mesma forma, a perspectiva de Dubois
(2019), a partir de seus trabalhos de campo sobre os encontros burocráticos entre sujeitos de
camadas populares e o Estado através dos guichês, e as contribuições de Gofmann (1982), sobre
as interações estigmatizantes entre cidadãos e o Estado, favoreceram a construção do caminho
metodológico desse artigo. O uso das narrativas proposto por Maynard-Moody e Musheno
(2003), enquanto proposta metodológica para compreensão das interações existentes no
processo de implementação de políticas, também subsidiou a proposta metodológica do artigo.
Como instrumento metodológico foi realizada uma entrevista-narrativa em
profundidade que, segundo Jovchelovitch e Bauer (2002), pode ser classificada como método
de pesquisa qualitativa, materializada como uma forma de entrevista não estruturada, de
profundidade e com características específicas, como, por exemplo, um processo
semiautônomo, baseado no contar e escutar história com influência mínima do pesquisador. A
entrevista-narrativa contemplou quatro dimensões: (1) sua trajetória familiar e escolar antes de
seu ingresso na universidade; (2) estratégias e políticas de inclusão social que contribuíram para
seu ingresso; (3) sua experiência cotidiana como estudante de Medicina e as interações com
colegas, professores, funcionários; (4) sua interação com os setores e órgãos na universidade,
nos seus
guichês
e (5) suas motivações e estratégias para mudar de instituição
.
O artigo está organizado em quatro seções, além da introdução e das considerações
f
inais.
Na primeira seção, apresentamos uma breve discussão sobre
políticas de proteção social
e sua contribuição para a chegada de estudantes de camadas populares na universidade pública.
A segunda seção traz uma revisão
sobre encontros burocráticos no processo de implementação
de políticas sob a ótica dos guichês discriminantes e estigmatizantes. Finalmente, a partir da
quarta seção, são apresentados os resultados da pesquisa a partir da entrevista narrativa
image/svg+xml
Natalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1284
realizada com o estudante, na qual é exposta a trajetória da família de José e sua entrada
“improvável” na universidade pública, além de suas experiências com os guichês
discriminantes na universidade.
Das políticas de proteção social à universidade pública: a chegada dos estudantes de
camadas populares à educação superior
Segundo aponta Oliveira, A. L. M. (2019), a eleição presidencial de Luiz Inácio Lula da
Silva (2003-2010) inaugura um período que conjuga um arcabouço institucional que garante,
pela primeira vez, políticas sociais para a população pobre, a educação como direito, a adoção
de uma profusão de políticas públicas para a educação superior, principalmente a partir de 2003.
Kerstenetzky (2008) afirma que a inclusão das políticas sociais na agenda
governamental contribuiu para a correção das desigualdades socioeconômicas. A autora
defende que a promoção da igualdade de oportunidades no Brasil é uma das chaves para se
promover a mobilidade social. Nessa direção, Lavinas e Gentil (2018) afirmam que, entre 2003
e 2014, diversos foram os sinais de crescimento econômico e de esforços para erradicação da
pobreza e ampliação de oportunidades e inclusão social: o aumento na criação de empregos
formais; o aumento do investimento público em educação e saúde; o crescimento da adesão a
planos de saúde; a elevação do poder de compra do salário mínimo em mais de 70% e o êxito
do programa Bolsa Família e outros programas de inclusão, como Minha Casa Minha Vida,
Programa de Prestação Continuada, Luz para Todos, dentre outros.
Com relação aos avanços no campo da educação, Costa, Silveira, Costa e Waltenberg
(2021) mostram que, em 2015, a taxa de escolarização de estudantes de 7 a 14 anos no Brasil
chegou a 98,8%; a de adolescentes de 15 a 17 anos, chegou a 85%. Nessa perspectiva, tal
expansão, conjugada às políticas de inclusão social voltadas às famílias em situação de pobreza,
contribuiu para que os jovens considerados improváveis vislumbrassem à oportunidade de
acesso à educação superior.
O período foi marcado pela criação de inúmeras universidades federais, financiadas pelo
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais
(REUNI). Em 2018, um decênio após a criação dos Institutos Federais por meio da Lei nº
11.892/2008 (BRASIL, 2008), que criou a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica, foi possível observar a expansão das escolas técnicas brasileiras, que, até 2020,
contava com mais de 600
campi.
A ampliação da educação superior privada foi possibilitada a
partir da concessão de bolsas, renúncia fiscal e empréstimos aos estudantes, através do
image/svg+xml
“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade pública
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1285
Programa Universidade Para Todos (PROUNI) e do Fundo de Financiamento ao Estudante do
Ensino Superior (FIES).
A V Pesquisa de Perfil Socioeconômico e Cultural dos(as) Graduandos(a) das
I
nstituições Federais de Ensino Superior, organizado pelo FONAPRACE
7
(2019), fornece
informações relativas ao perfil socioeconômico e cultural de seus graduandos. Os dados
revelam que houve uma mudança importante no perfil socioeconômico de seus estudantes,
reduzindo sua histórica desigualdade e elitismo: entre 2003 e 2017, a educação superior
brasileira presenciou uma expansão que resultou em um aumento em mais de 260% nas vagas
ofertadas. A Política de Cotas contribuiu para minimizar a desigualdade de acesso e inclusão
social e presença de uma maior diversidade entre estudantes na educação superior brasileira.
Por meio da Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012 (BRASIL, 2012), vagas passaram a
s
er reservadas em um percentual para estudantes de escolas públicas e para minorias étnicas,
aqueles ditos “improváveis” nas universidades até poucos anos atrás. Os dados da Associação
Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) sobre a
população preta nas universidades demonstram que a combinação REUNI e ações afirmativas
fizeram com que o número de estudantes pretos que, em 2003, era de 27.693, avançasse para
143.599 em 2018 (FONAPRACE, 2019).
Com relação ao perfil socioeconômico dos estudantes provenientes de famílias em
s
ituação de pobreza e/ou vulneráveis, a denominação utilizada pela FONAPRACE (2019)
utiliza a variável “Renda mensal bruta do grupo familiar e renda mensal
per capita
” e considera
que os estudantes em vulnerabilidade social se encontram na categoria renda familiar mensal
per capita
de “até um e meio salário mínimo”. Em 2019, a pesquisa revelou que que 53,5%
dos(as) graduandos(as) das IFES estão na faixa de renda mensal familiar
per capita
de até 1
salário mínimo, e 70,2%, estão na faixa de renda mensal familiar
per capita
de até 1 e meio
salário mínimo. Historicamente, pode-se observar, através dos dados, que o percentual de
estudantes pertencentes a famílias com renda mensal
per capita
até 1 e meio salário mínimo
saltou de 44,3%, em 1996, para 66,2% em 2014, alcançando 70,2% em 2018, o maior patamar
da série histórica. Parte desse movimento deriva da forte expansão da educação superior pública
e do investimento em políticas sociais para as camadas mais pobres da população, desde o início
da década de 2000.
É importante destacar, contudo, que as pesquisas também revelam as desigualdades
associadas a esse processo de inclusão. Costa, Silveira, Costa e Waltenberg (2021) chamam
7
Observatório do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Estudantis.
image/svg+xml
Natalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1286
atenção para a necessidade de uma democratização horizontal das universidades, através de
manutenção de condições de acesso e de permanência de estudantes de camadas populares em
cursos universitários de elite, historicamente frequentados por setores da sociedade brancos e
filhos de famílias de classes sociais mais favorecidas.
Os encontros burocráticos no processo de implementação de políticas: os guichês
discriminantes e estigmatizantes
A discussão sobre as políticas públicas parte do pressuposto de que percorrem um
caminho até que sejam disponibilizadas para seus destinatários, através de uma cadeia que
mobiliza um conjunto de atores governamentais, envolvendo, também, características da
própria burocracia. Ao analisar a implementação sob a perspectiva dos agentes que atuam na
ponta – os burocratas de rua ou os
street-level bureucrats,
conforme Lipsky (1980 apud
OLIVEIRA, B. R., 2019) afirma que o processo de implementação de políticas no contexto da
prática envolve distintos atores que têm agendas e interesses distintos, conjugados com suas
crenças, valores e percepções. O autor afirma ainda que os sentidos atribuídos às políticas em
toda essa trajetória de implementação perpassam “lentes” particulares. Essa perspectiva traz à
tona a compreensão de que essa dinâmica é complexa, já que há uma gama de particularidades
que envolvem o processo decisório dos atores, bem como a forma como interpretam a política
e seu próprio papel, como implementadores ou beneficiários das políticas.
Segundo Pires (2019), até que a política seja disponibilizada, seus objetivos ficam
condicionados a um conjunto de fatores que podem não ter sido previstos em sua formulação.
Assim, podem produzir efeitos que não estavam previstos nos processos de formulação e
implementação, reproduzindo ou agravando desigualdades. Pesquisas sobre efeitos não
revelados informam que a implementação produz os efeitos sociais desejáveis e, também, os
indesejáveis, que nascem de externalidades negativas. Mesmo nascendo da norma e da regra,
seu cotidiano diz respeito à forma como os burocratas traduzem a política e como essas questões
afetam a interação com os cidadãos – os destinatários dessas políticas. Nessa direção, Oliveira
e Lacerda (2019) afirmam que há aspectos invisíveis inerentes ao processo de implementação
e que essa invisibilidade pode ser compreendida como a produção de externalidades positivas
e negativas, os efeitos colaterais gerados pela operacionalização das ações no âmbito da ação
estatal, no nível local.
Ao tratar dessas questões, Maynard-M
oody e Musheno (2003), afirmam que os agentes
implementadores têm suas decisões diretamente ligadas aos seus valores, crenças e seus
image/svg+xml
“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade pública
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1287
sistemas de valores. Para os autores, os processos de implementação acionam seus valores
morais, o que afeta a forma como agem e decidem. Ao analisar a atuação dos agentes que atuam
na ponta e sua atribuição “educativa” diante dos cidadãos, Auyero (2012) caracterizou os
usuários como “aprendizes” ou “pacientes” do Estado, a partir da perspectiva de que as sanções,
exigências, julgamentos de valor e desigualdade de poder são personificados nos burocratas.
Diante dessa perspectiva, a implementação pode ser compreendida como um processo
político. A política que se faz na implementação é descrita por Vincent Dubois (2019) como
capaz de perpetuar posições de subordinação em relações estruturais de dominação, no âmbito
do atendimento às camadas populares. As relações existentes nos guichês e os julgamentos que
passam a existir a partir dessas relações são capazes de produzir o que o autor chama de
“políticas
no
guichê”. Mais do que isso, são reveladoras de uma “política
do
guichê”, que tem
a finalidade de reproduzir a desigualdade já existente entre os dois lados do guichê, através do
que o autor chama de um modo de operação de uma intervenção pública que tem o objetivo de
regular essas populações.
O autor afirma que, nas dinâmicas da implementação, podem ocorrer “truques” capazes
de permitir que governos sustentem um “jogo duplo”, que, apesar do discurso de inclusão da
população de camadas populares, é sabotado pelo que chama de “políticas do Guichê” exercidas
na atuação dos trabalhadores de linha de frente no processo de implementação de políticas
públicas. A Expressão
guichê discriminante
refere-se à perspectiva da sociologia do guichê
francesa (
sociologie du guichet
) e pode trazer novas lentes analíticas para o debate brasileiro
sobre temas como implementação de políticas públicas, principalmente quando se trata da
relação entre os burocratas de rua e a população das classes populares. Em seus estudos sobre
essas dinâmicas, Dubois (2019) esclarece o conceito de
guichê
e analisa como tais interações
podem contribuir para a reprodução de desigualdades no contexto da implementação de
políticas públicas. Goffman (1982), ao analisar a “ordem interacional” e as suas relações com
as estruturas sociais, afirma que as interações devem ser vistas como uma unidade de análise
relevante para a investigação sociológica em geral. Para o autor, há uma íntima relação entre
essas interações e as estruturas sociais, como se pudessem ser reproduzidas características
dessas estruturas sociais. Nessa perspectiva é que, servindo de sustentação para a ideias de
Dubois, Goffman (1982) reforça que essas interações podem produzir relações desiguais,
silenciosas e estigmatizantes, agravando as desigualdades sociais.
image/svg+xml
Natalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1288
A trajetória de uma família e de um estudante “improvável” que “furou a bolha” do
acesso à universidade pública
José tem vinte e oito anos. Iniciou, em 2019, seu primeiro curso de Medicina em uma
universidade mineira de médio porte, e, em 2021, decidiu, por causa das dificuldades
financeiras e das questões associadas aos estigmas sofridos nessa instituição, cursar Medicina
em uma universidade mineira de grande porte. O estudante relata que, juntamente com seu
irmão, dois anos mais velho, teve uma infância muito pobre. Seu pai, que não concluiu os anos
iniciais do ensino fundamental, sempre foi quem trabalhou e sustentou a família como
recepcionista de uma pousada. Sua mãe, que concluiu o ensino médio e cursou magistério,
trabalhou por pouco tempo em uma creche quando seus filhos eram pequenos e passou a ser
“dona de casa”, já que entendia que era necessário que alguém cuidasse dos estudos dos filhos.
José relata que sua família morava em uma “casinha clássica de tijolo adobe de
documentários do Vale” e que a família recebia ajuda da igreja local para manutenção das
condições precárias da moradia. Conta que as privações materiais dificultavam a vida cotidiana
e o acesso às políticas de atenção primária era limitado para a família, que encontrava, por
exemplo, muitas dificuldades de acesso a profissionais de saúde, medicamentos e
procedimentos como exames e internações.
O contexto social e político dos anos iniciais da primeira década de 2000, período
correspondente à infância e adolescência de José, foi envolto por um novo paradigma voltado
para a construção políticas de proteção social para a população em situação de pobreza no
Brasil. Com uma agenda voltada para a conformação de uma rede de proteção social voltada
para o enfrentamento de desigualdades associadas a públicos específicos, o governo Lula
inaugurou um momento político de mudanças sociais no qual o Estado reafirmava-se como ator
estratégico, senão central, para enfrentar os problemas relacionados à cidadania, à desigualdade,
às oportunidades e ao bem-estar (JACCOUD; BICHIR; MESQUITA, 2017, p. 39).
José, que nasceu em 1993, relata que, a partir de sua pré-ad
olescência, sua família
passou a ser contemplada pelo Programa Bolsa Família. Ele afirma que a quantia, que era
destinada a comprar comida e pagar as contas da casa, era condicionada à frequência escolar
dos dois irmãos. José reconhece que o Bolsa Família teve grande contribuição para que
pudessem se sustentar, complementando a renda advinda do salário do pai, assim como
contribuiu para que seu irmão e ele não abandonassem a escola. Néri (2012) afirma que o
Programa Bolsa Família ofereceu um grande potencial para a queda da desigualdade no Brasil,
caracterizando o programa como uma das políticas públicas de maior êxito no combate às
image/svg+xml
“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade pública
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1289
desigualdades sociais. O autor ainda afirma que o programa induziu as famílias a
acompanharem a escolarização de seus filhos, contribuindo decisivamente para a redução do
círculo intergeracional de pobreza e para a expansão dos anos de escolaridade de crianças e
jovens.
No Brasil, as duas últimas décadas foram marcadas pela ampliação do acesso às
universidades públicas brasileiras, que têm recebido, de forma expressiva, estudantes de
camadas populares através das políticas de ações afirmativas e expansão de vagas. O estudante
entrevistado expõe, em seu relato, como as políticas de inclusão que integram uma rede de
proteção social no Brasil a partir da primeira década dos anos 2000 contribuíram para sua
trajetória, afirmando que “jamais conseguiria entrar na universidade se não existisse o ENEM”
e que a Política de Cotas foi sua “porta de entrada” para a universidade pública. Para ele, tais
políticas “permitiram que um punhado de estudantes conseguissem superar essa trajetória da
pobreza e da exclusão do diploma”.
Entretanto, José deixa claro que os espaços escolares que frequentou estão marcados em
sua memória pelo estigma da desigualdade. Em seus relatos, demonstra uma ideia de escola
capaz de reproduzir as desigualdades sociais, a partir de sua compreensão sobre a precariedade
da estrutura, da formação de seus professores e dos materiais didáticos a que tinha acesso na
escola que frequentava.
Sobre seu acesso à educação superior pública, José demarcou dois fatores importantes
para que, em suas palavras, conseguisse “furar a bolha da universidade federal”. A trajetória
escolar de sua mãe e o apoio da família para que ele pudesse estudar sem a preocupação em ter
que trabalhar para ajudar a família financeiramente foram decisivos. Sobre a trajetória da mãe
e sobre suas tentativas de ingressar na universidade, o estudante relata que ela teve uma
trajetória de sucesso na educação básica, mas que não conseguiu ingressar em uma
universidade. José relata que o fato de crescer ouvindo de sua mãe suas lembranças de uma
trajetória escolar de sucesso fez com que ele, desde muito novo, vislumbrasse essa possibilidade
de ser um bom estudante. Em seus relatos, deixa claro que a figura da mãe, a vasta coleção de
livros que ela tinha em casa e o fato de criar momentos de leituras com os filhos por meio de
seus livros antigos de escola, contribuíram para que ampliasse seu olhar sobre sua trajetória
escolar.
Ao afirmar que o investimento dos pais na vida escolar dos filhos é um elemento
i
mpulsionador para o sucesso na escolarização, Nogueira (2021) reflete sobre o uso do conceito
de capital cultural na explicação das desigualdades escolares como sinônimo de disposições
image/svg+xml
Natalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1290
culturais e de relação com os bens culturais. Lahire (1997) ressalta que a presença de membros
com capital cultural escolar na família, por si só, não é capaz de produzir efeitos nas gerações
seguintes. Para isso são necessárias interações efetivas e afetivas, o que, no caso do estudante
entrevistado, parece ter relação com o acesso ao acervo de livros da mãe, o incentivo à leitura
e estudo desses livros e a lembrança dos relatos da mãe sobre sua trajetória de sucesso escolar
e a tentativa de entrar em uma universidade. Da mesma forma que as estratégias da mãe são
lembradas pelo estudante, os esforços do pai, um trabalhador assalariado, para que o filho
pudesse estudar e “furar a bolha da universidade”, também são ressaltados em seu relato.
Eu acho que eu consegui furar essa bolha por teimosia e esforço e por ter o
mínimo de possibilidade de conseguir sentar e estudar. Tem muita gente que
não teve esse privilégio que eu tive, sabe? Meu pai me deixou, eu pude
estudar, quieto dentro de casa o ano inteiro, estudando até os 28 anos, sem
ter que trabalhar, sabe?
(José).
Através dos estudos de Lahire (1997), Nogueira (2005), Viana (2005), Thin (2006) e
Portes e Souza, (2012), sabe-se que a família constitui um terreno social indispensável a ser
considerado na constituição de uma trajetória de longevidade escolar, o que é corroborado com
os relatos de José. Tais estudos sobre estratégias familiares de escolarização têm arejado o
debate, abrindo espaço para a importância de se considerar a complexidade dessas trajetórias,
dos sujeitos como fruto de múltiplos processos de socialização, e que sua atuação individual
também é estratégica nesses processos.
Segundo o FONAPRACE (2019), a inclusão de um grande número de estudantes
brasileiros na educação superior, por meio de políticas de fortalecimento da educação básica e
políticas de proteção social desde 2003, fez com que aumentasse o número de “exceções”,
conforme afirma Piotto (2012, p. 3). Em seu relato sobre o fato de estar na universidade, em
um curso de Medicina, José afirma: “eu sou uma exceção da exceção”. Segundo dados da
Fonaprace (2019), José faz parte dos 70,2% de estudantes de camadas populares brasileiras que
ingressaram na universidade pública com renda
per capita
de até 1 e meio salário mínimo. Com
esse movimento, tal composição impõe a essas instituições outras exigências, reveladas pelas
desigualdades associadas à permanência desses estudantes nesses espaços.
Para Terrail (1990), que discutiu as estratégias de universitários pobres, o sucesso
escolar de estudantes de camadas populares envolve o contato com a hostilidade nas relações e
a desigualdade presente nessas relações. Por essa razão é que Dubet (2001) discute sobre a
democratização do ensino segregativa, na perspectiva de que os sujeitos de camadas populares
não fazem parte dos setores de formação mais valorizados socialmente.
image/svg+xml
“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade pública
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1291
Ao analisar essas questões a partir do relato de José, o estudante afirma que não bastou
“furar a bolha”, já que deixa claro que o ingresso na universidade não fez com que os problemas
sociais que conheceu desde a infância desaparecessem. As desigualdades de oportunidades com
relação à escola se revelam, agora, nas dificuldades enfrentadas pelo estudante para ter acesso
às políticas de assistência na universidade pública, na interação por meio de seus
guichês
. Além
disso, a convivência cotidiana com os demais atores que transitam nesse universo também
emerge como reprodutora de desigualdades e de estigmas, objetos da próxima seção.
“
Eu não tenho a cara de um estudante de medicina
”: as experiências de um estudante de
c
amada popular com os guichês discriminantes na universidade
José idealizou, desde a adolescência, ser um médico oncologista, ou, “um médico do
Vale”, para atuar em sua região e dar às pessoas de sua comunidade o que ele e sua família não
tiveram: acesso às políticas de saúde pública. Sua trajetória, entre desistências e aprovações, foi
extensa e tortuosa: se formou no ensino médio em 2010 e tentou, entre 2011 e 2014, ser
aprovado em Medicina. José afirma que tem conhecimento “de suas condições diante daqueles
que ele julgava serem muito mais preparados”. Sem poder pagar pelos cursinhos preparatórios,
adotou uma estratégia calculada: ingressar na universidade por meio de um “curso trampolim”
para chegar no curso de Medicina. Em 2015, foi aprovado no curso de Engenharia Mecânica
em uma universidade de médio porte no interior de Minas Gerais – o “trampolim” para
concretizar seu anseio de cursar Medicina.
Nos dois anos seguintes, 2016 e 2017, José relata que cursou várias disciplinas na área
de português, matemática, física e química, com a estratégia de, dentro do curso de Engenharia
Mecânica, ter seu cursinho preparatório para um futuro ENEM e ser aprovado em Medicina.
José não foi aprovado em 2016 e em 2017, o que o fez solicitar o “trancamento” do curso de
Engenharia Mecânica e retornar para a casa de seus pais. Estudando em casa e com apoio de
canais no
Youtube,
no final de 2018, José foi aprovado em Medicina na mesma universidade.
Em 2019, passou a cursar Medicina.
O estudante relata que continuou usufruindo do auxílio moradia e da bolsa alimentação,
at
ravés do restaurante universitário, assim como fazia quando estava matriculado em
Engenharia Mecânica. Em seus relatos, explicita as dificuldades que teve com relação ao
alojamento, já que era preciso “entrar no banheiro e fechar a porta para estudar”, e que dividia
o quarto com mais quatro colegas que cursavam cursos diferentes.
image/svg+xml
Natalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1292
Indagado sobre as políticas de assistência estudantil nessa universidade, José relata que
passou por dificuldades financeiras para se manter no curso por causa da ausência de uma bolsa
manutenção, o que o impossibilitava de comprar as apostilas deixadas pelos professores nas
papelarias que as comercializavam e, também, para arcar com os custos das passagens de ônibus
para atividades práticas do curso que eram realizadas em bairros distantes da universidade. O
estudante relata que decidiu solicitar à universidade o auxílio moradia, pois o alojamento
prejudicava seus estudos. Assim, ele relata que, para conseguir esse auxílio, era necessário que
escrevesse uma carta relatando o porquê não gostaria de morar no alojamento, comprovando
com atentado médico ou psicológico a necessidade de morar sozinho e/ou na cidade, o que fez
com que se sentisse humilhado.
Você tem que escrever uma carta, pedindo, por que você queria (sair do
alojamento), sabe? Você se sente humilhado para poder ganhar 230 reais e
você não acha lugar na cidade, para morar, por 230 reais. Não tem condição.
Aí eles pedem para você escrever o motivo que você quer deixar o alojamento.
Aí você tem que relatar lá porque que você quer deixar, e aí eles vão aprovar
ou não a sua saída. Aí eles pedem que, se você tiver alguma questão
psicológica, algum laudo médico, que associa que o alojamento tá te fazendo
mal, te prejudicando, aí você faz um anexo e manda. Então parece ser, para
mim, muita burocracia
(José).
Dubois (2019) afirma que as interações que ocorrem no
guichê
, ou seja, relações no
tratamento da miséria, papéis burocráticos, que à princípio parecem impessoais, revelam-se
altamente permeáveis às disposições de quem os desempenha. O
guichê
revelado pelo autor,
com seu recorrente potencial de violência simbólica, impõe aos indivíduos o convencimento de
sua condição de subordinação com relação aos agentes e ao próprio Estado, reforçando sua
ideia de uma interação estigmatizante, que Goffman (1982) chama de interações desiguais e
silenciosas que reproduzem as desigualdades sociais. Em sua narrativa, o estudante deixa claro
que o caminho pelo qual seria preciso percorrer para solicitar que a bolsa moradia fosse
convertida em auxílio moradia era, particularmente, humilhante. Diante do
guichê
de
assistência estudantil, ele deixa claro que recebeu orientações que o constrangeram sobre como
deveria ser feita a solicitação.
A experiência de José é um exemplo claro dos efeitos do processo de implementação e
r
eprodução de desigualdades sociais na prestação dos serviços públicos, conforme analisado
por Pires (2019). O estudante deixa claro que escrever uma carta com comprovações de que,
realmente, não tinha condições de morar no alojamento para conseguir um auxílio moradia, o
fez passar por um processo de ansiedade e tristeza. As repetições de padrões de exclusão
image/svg+xml
“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade pública
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1293
também se deram, segundo o estudante, pelo tipo de tratamento através do qual era recebido
nos guichês da assistência estudantil. Sua percepção pessoal era de que era tratado com descaso,
frieza e pressa em algumas situações. Assim, torna-se necessário discutir sobre a atuação dos
agentes implementadores na ponta, burocratas de nível de rua que, com capacidade
discricionária, podem reproduzir desigualdades a partir de sua posição no processo de produção
de políticas, ou que, segundo Maynard Mood e Musheno (2003), podem atuar a partir de
posições de poder com os cidadãos. Essa é uma das razões pelas quais “a atuação de burocratas
de rua pode impactar processos de inclusão e exclusão social” (PIRES; LOTTA; TORRES
JUNIOR, 2019, p. 258).
Em sua narrativa, José afirma que o sentimento de pertencimento como estudante do
curso de Medicina nessa universidade era frágil e dolorido. O estudante relata que passou por
várias situações pelas quais se sentiu distanciado dos demais colegas por causa de sua cor ou
classe social.
Quando eu entrei no curso teve aquele discurso dos veteranos, da sala unida.
E aí você entra com a sensação que você faz parte disso. Mas, com o decorrer
do curso, você percebe que há uma segmentação natural da sala por contexto
social, por contexto socioeconômico, há uma segmentação. Você percebe que
tem gente que não te olha direito. Você percebe que tem gente que é
incomodado com a sua presença, sabe, que te olha tolerando você estar ali,
como se você não fosse merecedor de estar ali. Isso é bem perceptível, sabe?
Entre os alunos sim
(José).
Sobre os colegas em sala, ele afirma que se sentia excluído de algumas decisões
coletivas, afirmando que é “como uma pessoa que tá pegando carona num carro que não é seu,
sabe? Você não tem direito nenhum ali”. O mesmo aconteceu com relação aos funcionários do
Departamento de Medicina ou com outros órgãos da universidade. Como um exemplo de
distância desigual e discriminante entre as classes populares e as instituições, conforme Dubois
(2019), José afirma que passou por constrangimentos com atendentes do Departamento,
conforme relato abaixo:
Já aconteceu de eu tá sentado ali no departamento, a pessoa chega, com
vários estudantes lá, e um funcionário chega para mim e pergunta se eu estava
ali esperando para fazer o concurso para técnicos. Por que ele perguntou só
para mim se eu estava no meio de todos os meus colegas? É uma questão de
visualização, que eu não tenho a cara de um estudante de Medicina
(José).
Dubois (2020) enfatiza que encontros burocráticos “frente e frente” entre os cidadãos
que se encontram nos dois lados do guichê podem revelar que todas as normas sociais e morais
que fazem parte dessa interação são capazes de produzir dinâmicas de classificação entre os
image/svg+xml
Natalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1294
cidadãos e, ainda, perpetuarem as desigualdades entre eles. Nos guichês, dispositivos concretos
de atendimento e/ou simbólicos que revelam a burocracia e discricionariedade dos agentes de
implementação, é que ocorrem relações de poder, discriminação, perpetuação da desigualdade
e estigmatização. Pires, Lotta e Torres Júnior (2019) também reforçam sobre a necessidade de
compreensão dos processos de (re)produção de desigualdades sociais engendrados na ação
estatal.
Ao tratar dessas questões, José relata que “até a posição de sentar na sala é segmentada.
As pessoas não se misturam. Você tem a galera pobre e a outra galera”. O estudante conta sobre
uma situação em que um colega, em meio a vários estudantes, o perguntou, em voz alta, em
que curso estava matriculado na universidade.
Todo mundo falava: “é História! Geografia”. Então você já tem um
personagem, quem que é o estudante de Medicina e não tem as minhas
características né? Ninguém fala, nem pensa que o cara é estudante de
Medicina. Então, eu vejo que isso é uma coisa que é muito complicada de
tentar resolver. É uma coisa que já é estrutural. Eu acho que com o tempo,
mas com muito tempo, que esses estudantes conseguirem ingressar e mais
estudantes conseguirem ter acesso a esses postos que hoje são de outras
pessoas, eu acho que aí há uma tendência de melhora quanto a isso
(José).
José relata que todos os estigmas relacionados à falta de privacidade e espaço para
estudar, além de “situação de baixa renda e falta de apoio da universidade” materializada na
ausência de bolsa manutenção e dificuldades encontradas com relação à moradia estudantil,
fizeram com que tentasse novamente o ENEM, no final de 2019. Mas, dessa vez, seu objetivo
era cursar Medicina, a partir de 2020, em uma universidade de grande porte no estado de Minas
Gerais. O estudante foi, então, aprovado no curso de Medicina dessa universidade, localizada
na capital de Minas Gerais.
Mesmo com a aprovação em 2020, José relata que desistiu de ir para a capital, porque
f
oi informado que seria mais difícil conseguir auxílio moradia provisório até pleitear o
alojamento. O receio de não ter recursos financeiros para se manter o fez desistir. Dessa forma,
manteve sua matrícula na primeira universidade, no interior do estado. Em março de 2020,
quando o distanciamento social e
lockdown
foram propostos por causa da pandemia de
Covid-
19
, José voltou para a casa de seus pais. A situação se agravou porque, justamente nessa época,
seu pai ficou desempregado e ele não poderia contar com nenhuma ajuda para permanecer na
universidade e nem mesmo na casa dos pais. Sua percepção é que a primeira universidade
“largou mão dos estudantes pobres”, o que o fez tomar nova decisão: tentar novamente o ENEM
para ingressar em Medicina na universidade da capital do estado de Minas Gerais, a partir de
image/svg+xml
“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade pública
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1295
2021. José, ao afirmar que começaria o curso “do zero novamente”, passa a ser estudante regular
do curso de Medicina nessa universidade de grande porte. Mesmo que tenha migrado para outra
universidade, reconhece que as políticas de assistência estudantil pelas quais foi atendido na
primeira universidade foram fundamentais para sua permanência e, também, dos colegas de
camadas populares. Ele destaca a importância da Bolsa Alimentação para o período que ali
permaneceu.
Eu acho que as políticas de assistência aos estudantes pobres são necessárias,
por mínimas que sejam. Tem uma universidade na minha cidade. Não seria
mais fácil eu ter entrado lá? Tinha Engenharia Mecânica na minha cidade.
Por que eu não entrei em Engenharia Mecânica lá? Eu fui prá primeira
universidade por causa do restaurante universitário
(José).
Assim como muitos jovens de camadas populares que estão presentes nas universidades
públicas brasileiras, José expõe, com clareza, a partir de sua trajetória, que o debate sobre acesso
e permanência nas universidades públicas precisa ser aprofundado, seja a partir da ótica das
políticas de assistência estudantil ou do olhar mais criterioso sobre a forma como são
implementadas essas políticas nessas instituições.
Considerações finais
Apesar dos limites metodológicos e analíticos desse artigo, a narrativa do estudante
contribui para revelar as dimensões histórica, coletiva e social nas suas experiências, vinculadas
ao processo de implementação de políticas sociais. Gussi e Oliveira (2016, p. 95) enfatizam a
importância da noção de trajetória e do contexto social dos sujeitos, definindo-a como um
“referencial metodológico estratégico para a compreensão dos processos sociais, construindo
um diálogo entre temporalidades e territorialidades, revelando uma dimensão histórica, coletiva
e social”. Assim, o estudante fornece subsídios que permitem desvelar as interações entre os
agentes que atuam nos guichês e nos grupos sociais onde esse sujeito transita, bem como os
efeitos que tais processos de implementação podem produzir.
Ancorada em Jaccoud (2005), Kerstenetzky (2008), Portes e Souza (2012) e Senkevics
(
2021), a narrativa de José revela que a rede de proteção social no qual sua família foi inserida,
juntamente com as estratégias familiares para que tivesse uma escolarização longeva,
contribuiu para que “furasse a bolha” de cursos de alta seletividade da universidade pública. A
presença de estudantes “improváveis” nas universidades, principalmente públicas, marca o
debate sobre a ampliação de vagas e democratização do acesso à educação, o que impõe a
image/svg+xml
Natalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1296
discussão sobre a ausência de afiliação universitária (COULON, 2012) na educação superior
pública brasileira.
Nessa perspectiva, a presença de um estudante de camada popular em um curso de alta
seletividade em uma universidade pública trouxe à tona dinâmicas e estigmas associados,
simultaneamente, às estratégias de inclusão pretendidas por essa mesma rede de proteção social,
conforme explicitado por Goffman (1982), Dubois (2019, 2020) e Pires (2019): discriminação
por gênero ou raça, interações discriminantes nos guichês locais onde a implementação de
políticas se materializa cotidianamente, e dificuldades, tensões e desencontros burocráticos nos
processo associados à provisão das políticas de assistência estudantil.
A distância desigual e discriminante entre as classes populares e as instituições pode
ficar clara entre os cidadãos que se encontram nos dois lados do
guichê,
o que pode perpetuar
a solidão presente nas trajetórias improváveis de sucesso e longevidade escolar de estudantes
de camadas populares. Dubois (2019) afirma que os sentidos atribuídos na conduta exercida
pelos agentes da implementação podem exercer um mecanismo de regulação moral,
constituindo efeitos simbólicos que podem produzir e reproduzir, através das interações que
ocorrem no serviço público, a internalização de um valor social aos usuários, com autoimagem
subordinada e estigmatização desses cidadãos.
Devem os formuladores, gestores e implementadores de políticas voltadas para a
democratização da educação superior e para a permanência universitária (em todos os escalões
e níveis institucionais) conhecer e mitigar os efeitos associados à implementação dessas
políticas, especialmente no nível local. Sob a mesma ótica, urge debater a interação associada
à atuação dos agentes públicos que atuam na ponta, sua capacidade discricionária e as
desigualdades que podem ser reveladas nas dinâmicas processadas nos guichês, na relação com
os estudantes de camadas populares, cidadãos-alvo de programas de inclusão e redução das
assimetrias sociais historicamente existentes no Brasil.
REFERÊNCIAS
AUYERO, J. Patients of the state: An Ethnographic Account of Poor People is waiting.
Latin
American Research Review
,
v. 46, n. 1, p. 5-29, 2012. Disponível em:
https://www.jstor.org/stable/41261368. Acesso em: 16 maio 2020.
BRASIL.
Lei n. 11.892, de 29 de dezembro de 2008
. Institui a Rede Federal de Educação
P
rofissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2008.
image/svg+xml
“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade pública
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1297
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm.
Acesso em: 14 out. 2021.
BRASIL.
Lei n. 12.711, de 29 de agosto de 2012
. Dispõe sobre o ingresso nas universidades
federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências.
Brasília, DF: Presidência da República, 2012. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm. Acesso em: 14 out.
2021.
COSTA, J.; SILVEIRA, F. G.; COSTA, R.; WALTENBERG, F. (org.).
Expansão da
educação superior e progressividade do investimento público.
Brasília, DF: Ipea, 2021.
COULON, A. O sucesso estudantil e sua avaliação: Que política universitária é possível?
In
:
SANTOS, G.; SAMPAIO, S. (org.).
Observatório da Vida Estudantil
. Estudos sobre a vida
e cultura universitárias. Salvador: EDUFBA, 2012.
DUBET, F. As desigualdades multiplicadas.
Revista Brasileira de Educação
, n. 17, p. 5-19,
2001. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n17/n17a01. Acesso em: 23 dez. 2021.
DUBOIS, V. Políticas no guichê, políticas do guichê.
In
: PIRES, R.
Implementando
Desigualdades:
Reprodução de desigualdades na implementação de políticas públicas. Rio de
Janeiro: IPEA, 2019.
DUBOIS, V.
Lower Classes and Public Institutions
: A research program. France:
University of Strasbourg, 2020.
FONAPRACE.
V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos(as)
Graduandos(as) das IFES – 2018.
Brasília, DF: Observatório do Fórum Nacional de Pró-
Reitores de Assuntos Estudantis 2019. 318 p. Disponível em: https://www.andifes.org.br/wp-
content/uploads/2019/05/V-Pesquisa-Nacional-de-Perfil-Socioeconomico-e-Cultural-dos-as-
Graduandos-as-das-IFES-2018.pdf. Acesso em: 14 out. 2021.
GOFFMAN, E.
Estigma:
Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Rio de
Janeiro: Zahar Editores S. A., 1982.
GUSSI, A. F.; OLIVEIRA, B. R. Políticas públicas e outra perspectiva de avaliação: Uma
abordagem antropológica.
Revista Desenvolvimento em Debate
, v. 4, n. 1, p. 83-101, 2016.
Disponível em: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/32515. Acesso em: 12 abr. 2021.
HIRATA, H. Gênero, classe e raça: Interseccionalidade e consubstancialidade das relações
sociais.
Tempo Social, revista de sociologia da USP
, v. 26, n. 1, jun. 2014. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ts/a/LhNLNH6YJB5HVJ6vnGpLgHz/?format=pdf&lang=pt
. Acesso
em: 4 abr. 2021
JACCOUD, L.
Questão Social e Políticas Sociais no Brasil Contemporâneo.
Brasília, DF:
IPEA, 2005.
JACCOUD, L.; BICHIR, R.; MESQUITA, A. C
. O SUAS na proteção social brasileira:
Transformações recentes e perspectivas.
Novos estud. – CEBRAP
, São Paulo, v. 36, n. 02, p.
image/svg+xml
Natalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1298
37-53, jul. 2017. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/nec/a/Vkv7r47xGw7Hd6XmZdh7HfL/abstract/?lang=pt. Acesso em:
15 mar. 2021.
KERSTENETZKY, C. L. Desigualdade como questão política.
CEDE
, Texto para discussão
n. 11, 2008. Disponível em: https://cede.uff.br/wp-content/uploads/sites/251/2021/04/TD-
001-KERSTENETZKY-C.-2008.-Desigualdade-como-questao-politica.pdf. Acesso em: 12
fev. 2021.
LAHIRE, B.
Sucesso escolar nos meios populares
: As razões do improvável. São Paulo:
Ática, 1997.
LAISNER, R. C.
et
al
. O reconhecimento a partir da diferença: Olhares interseccionais para a
construção de ferramentas de avaliação de políticas públicas.
Revista AVAL
, v. 5, n. 19,
jan./jun. 2021. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/63394. Acesso em: 25
out. 2021.
LAVINAS, L. GENTIL, D. L. Brasil anos 2000: A política social sob regência da
financeirização.
Dossiê balanço crítico da economia brasileira (2003-2016).
Novos estudos
– CEBRAP
, São Paulo, v. 37, n. 2, p. 191-211, maio/ago. 2018. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/nec/a/5fqGSvyFTytWTNkQBJNGM3M/abstract/?lang=pt. Acesso
em: 11 ago. 2021.
LEJANO, R.
Parâmetros para análise de políticas:
Fusão de texto e contexto. Campinas:
Arte Escrita, 2012.
LIPSKY, M.
Burocracia de nível de rua
: Dilemas do indivíduo nos serviços públicos.
Brasília, DF: Enap, 2019. Disponível em:
https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/4158/1/Burocracia%20de%20nível%20de%20
rua_Michael%20Lipsky.pdf. Acesso em: 11 ago. 2021.
MAYNARD-MOODY, S.; MUSHENO, M.
Cops, teachers, counselors
: Narratives of street-
level judgment. Ann Arbor: University of Michigan Press, 2003.
NERI, M. C. A Década Inclusiva (2001-2011): Desigualdade, Pobreza e Políticas de Renda”.
Rio de Janeiro:
IPEA
, 2012. Disponível em:
http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/4639
. Acesso em: 03 maio 2020.
NOGUEIRA, M. A. O capital cultural e a produção das desigualdades escolares
contemporâneas.
Cadernos de Pesquisa
, São Paulo, v. 51, e07468, 2021. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/cp/a/pdTJTSCfQhzpWjZSGGy8gqK/abstract/?lang=pt. Acesso em:
15 maio 2020.
NOGUEIRA, M. A. A relação família-escola na contemporaneidade: Fenômeno
social/interrogações sociológicas.
Análise Social
, v. 40, n. 176, p. 563-578, 2005. Disponível
em: https://www.jstor.org/stable/41012165. Acesso em: 14 maio 2020.
OLIVEIRA, A. L. M.
Educação Superior brasileira no início do sécul
o XXI
: Inclusão
interrompida? 2019. Tese (Doutorado) – IE, UNICAMP, Campinas, São Paulo, 2019.
image/svg+xml
“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade pública
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1299
Disponível em: https://repositorio.unicamp.br/Acervo/Detalhe/1088834. Acesso em: 14 mar.
2021.
OLIVEIRA, B. R. A implementação de políticas educacionais no nível micro: uma análise a
partir dos profissionais da escola no contexto da prática.
Revista de Estudios Teóricos y
Epistemológicos en Política Educativa,
v. 4, p. 1-17, 2019. Disponível em:
https://www.revistas2.uepg.br/index.php/retepe/article/view/12972. Acesso em: 22 dez. 2021.
OLIVEIRA, B. R.; LACERDA, M. C. R. Trazendo à tona aspectos invisíveis no processo de
implementação de políticas públicas: uma análise a partir do Programa Oportunidades.
In:
PIRES, R. R. C. (org.).
Implementando desigualdades
: Reprodução de desigualdades na
Implementação de políticas públicas. Rio de Janeiro: IPEA, 2019.
PNAD. Pesquisa nacional por amostra de domicílios.
Microdados
. Rio de Janeiro: IBGE,
2019. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br
. Acesso em: 29 dez. 2021.
P
IRES, R.
Implementando desigualdades
: Reprodução de desigualdades na Implementação
de políticas públicas. Rio de Janeiro: IPEA, 2019.
PIRES, R.; LOTTA, G.; TORRES JUNIOR, R. D. Burocracias Implementadoras e a (Re)
produção de Desigualdades sociais: perspectivas de análise no debate internacional.
In
:
PIRES, R.; LOTTA, G.; OLIVEIRA, V. E.
Burocracia e políticas públicas no Brasil
interseções analíticas.
Brasília, DF: IPEA; ENAP, 2019.
PORTES, E. A.
Estratégias escolares do universitário das camadas populares:
A
insubordinação aos determinantes. 1993. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade
de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1993.
PORTES, E. A.; SOUSA, L.
O nó da questão:
A permanência de jovens dos meios populares
no ensino superior público. Rio de Janeiro: Flacso, 2012. Disponível em: http:
//flacso.org.br/files/2015/03/Apresentacao_Ecio_Portes.pdf. Acesso em: 21 dez. 2021.
SENKEVICS, A. A expansão recente do ensino superior: Cinco tendências de 1991 a 2020.
Cadernos de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais
, v. 3, n. 4, p. 199-246, 2021.
Disponível em: http://www.emaberto.inep.gov.br/ojs3/index.php/cadernos/article/view/4892.
Acesso em: 19 set. 2021.
SILVA, J. S.
Por que uns e não outros?
Caminhada de estudantes da Maré para a
universidade. 1999. Tese (Doutorado em Educação) – PUC, Rio de Janeiro, 1999.
TERRAIL, J-
P. L’issue scolaire: de quelques histoires de transfuges.
In
: TERRAIL, J-P.
Destins ouvriers
– La fin d’une classe? Paris: PUF, 1990.
THIN, D. Para uma análise das relações entre famílias populares e escola: Confrontação entre
lógicas socializadoras.
Revista Brasileira de Educação
, v. 11, n. 32, p. 211- 225. maio/ago.
2006. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/8gBjdVbfWbNyNft4Gg7THbM/abstract/?lang=pt. Acesso
em: 10 abr. 2021.
image/svg+xml
Natalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1300
VIANA, M. J. B.
Longevidade escolar em famílias de camadas populares
: Algumas
condições de possibilidade. 1998. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1998. Disponível em:
https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/FAEC-85SJUP. Acesso em: 16 maio 2020.
VIANA, M. J. B. As práticas socializadoras familiares como lócus de constituição de
disposições facilitadoras de longevidade escolar em meios populares.
Educação e Sociedade
,
Campinas, v. 26, n. 90, p. 107-125. jan./abr. 2005. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/es/a/JSkvyDGwXQJRWvyJBWdqQxN/abstract/?lang=pt. Acesso em:
06 maio 2020.
ZAGO, N. Do acesso à permanência no ensino superior: Percursos de estudantes
universitários de camadas populares.
Revista Brasileira de Educação
, São Paulo, v. 11, n.
32, p. 226-237, 2006. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/wVchYRqNFkssn9WqQbj9sSG/abstract/?lang=pt. Acesso
em: 22 mar. 2021.
Como referenciar este artigo
F
ERNANDES, N. R.; OLIVEIRA, B. R. “Eu não tenho cara de estudante de medicina”:
Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade pública.
Revista Ibero-
Americana de Estudos em Educação
, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022.
e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
Submetido em:
14/01/2022
Revisões requeridas em
: 07/03/2022
Aprovado em
: 22/04/2022
Publicado em
: 30/06/2022
Processamento e edição: Editoria Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, padronização e tradução.
image/svg+xml
“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad pública
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1282
“NO PARECERÉ UN ESTUDIANTE DE MEDICINA”: TRAYECTORIA DE UN
ESTUDIANTE Y LOS GUICHES DISCRIMINANTES EN LA UNIVERSIDAD
PÚBLICA
“EU NÃO TENHO CARA DE ESTUDANTE DE MEDICINA”: TRAJETÓRIA DE UM
ESTUDANTE E OS GUICHÊS DISCRIMINANTES NA UNIVERSIDADE PÚBLICA
“I DON'T LOOK LIKE A MEDIC
AL
STUDENT”:
TRAJECTORY OF A STUDENT AND
THE DISCRIMINATING GUICHES AT THE PUBLIC UNIVERSITY
Natália Rigueira FERNANDES
1
Breynner Ricardo de OLIVEIRA
2
RESUMEN
:
El artículo analiza la trayectoria de un estudiante de baja renta, las interacciones
con contadores discriminatorios en una universidad pública de Minas Gerais y sus percepciones
sobre su cotidiano como estudiante objetivo de las políticas sociales. A partir de un enfoque
cualitativo, se realizó una entrevista narrativa, abarcando cuatro dimensiones: (1) su trayectoria
familiar y escolar antes de ingresar a la universidad; (2) estrategias y percepciones sobre las
políticas de inclusión social que contribuyeron a su ingreso a la universidad; (3) su experiencia
como estudiante de medicina e interacciones con sus compañeros; (4) su interacción con los
sectores de la universidad, en sus mostradores. Los resultados indican un cambio en el perfil
socioeconómico de las universidades públicas desde el gobierno de Lula y la entrada de
“estudiantes improbables”, a través de la Ley de Cuotas y otras políticas dirigidas a las familias.
También revelan ventanas discriminatorias y estigmas que se procesan a partir de la
reproducción de desigualdades en el proceso de implementación de políticas.
PALABRAS-CLAVE
:
Implementación de políticas públicas. Trayectorias escolares.
Desigualdad y oportunidades educativas. Universidad pública.
RESUMO
:
O artigo analisa a trajetória de um estudante de camada popular, as interações
com guichês discriminantes em uma universidade pública mineira e suas percepções sobre seu
cotidiano como estudante-alvo de políticas sociais. A partir de uma abordagem qualitativa,
realizou-se uma entrevista-narrativa, contemplando quatro dimensões: (1) sua trajetória
familiar e escolar antes do ingresso na universidade; (2) estratégias e percepções sobre
políticas de inclusão social que contribuíram para seu ingresso na universidade; (3) sua
experiência como estudante de Medicina e as interações com os pares; (4) sua interação com
os setores na universidade, nos seus guichês. Os resultados indicam mudança no perfil
socioeconômico nas universidades públicas a partir do governo Lula e o ingresso dos
1
Universidad Federal de Ouro Preto (UFOP), Mariana
–
MG
–
Brasil. Estudiante de doctorado en Educación en
el Programa de Posgrado en Educación. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7760-7981. E-mail:
natalia.fernandes@ufv.br
2
Universidad Federal de Ouro Preto (UFOP), Mariana
–
MG
–
Brasil. Profesor del Programa de Posgrado en
Educación. Doctorado en Educación (UFMG). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0956-4753. E-mail:
breynner@ufop.edu.br
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1283
“estudantes improváveis”, por meio da Lei de Cotas e outras políticas destinadas às famílias.
Revelam, também, guichês discriminantes e estigmas que se processam, a partir da reprodução
de desigualdades no processo de implementação de políticas.
PALAVRAS-CHAVE
: Implementação de políticas públicas. Trajetórias escolares.
Desigualdade e oportunidades educacionais. Universidade pública.
ABSTRACT
:
The article analyzes the trajectory of a low-income student, the interactions with
discriminating counters in a public university in Minas Gerais and his perceptions about his
daily life as a target student of social policies. Based on a qualitative approach, a narrative
interview was carried out, covering four dimensions: (1) her family and school trajectory before
entering the university; (2) strategies and perceptions about social inclusion policies that
contributed to their admission to university; (3) your experience as a medical student and
interactions with peers; (4) its interaction with the sectors at the university, at its counters. The
results indicate a change in the socioeconomic profile in public universities since the Lula
government and the entry of “unlikely students”, through the Quota Law and other policies
aimed at families. They also reveal discriminating windows and stigmas that are processed
from the reproduction of inequalities in the policy implementation process.
KEYWORDS
:
Implementation of public policies. School trajectories. Inequality and
educational opportunities. Public university.
Introdução
Este artículo, inicialmente, teje algunas problematizaciones y tensiones con respecto al
acceso de estudiantes de diferentes contextos sociales, culturales y económicos en la
universidad: ¿cómo interactúan estudiantes con trayectorias improbables, matriculados en
universidades federales, con el Estado y con las políticas sociales a lo largo de su trayectoria,
como receptores de estas políticas? ¿Qué dificultades enfrenta con la burocracia estatal para
tener garantizados sus derechos? ¿Qué percepciones tiene sobre sus trayectorias escolares y de
inclusión social?
El artículo analiza la trayectoria de José
3
, un popular estudiante de capa inscrito en la
escuela de medicina, sus experiencias e interacciones con las ventanillas discriminante en una
universidad minera y cómo (y por qué) se traslada a otra universidad en el mismo estado para
desviarse de los estigmas y desigualdades enfrentados. Desde esta visión, analizamos su
percepción de las dinámicas asociadas a los procesos de implementación de programas de
inclusión social a lo largo de su trayectoria escolar en educación básica y, ya en la universidad,
discutimos cómo las ventanillas discriminadoras dentro del Estado afectan estas dinámicas.
3
Nome fictício a fim de preservar a identidade e garantir o anonimato, conforme protocolos éticos de pesquisa.
image/svg+xml
“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad pública
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1284
Según Jaccoud (2005), desde la elección del presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-
2010), se fortaleció el sistema de protección social brasileño, cuyo objetivo era igualar el acceso
a las oportunidades y enfrentar los riesgos sociales, la pobreza y la destrucción de derechos.
Esta red de protección social contribuyó a lo que Kerstenetzky (2008) llama la corrección de
las desigualdades socioeconómicas, basada en la idea de que la reducción de la desigualdad
contribuiría a la inserción de una parte significativa de la población en el tejido social.
En el campo educativo, los gobiernos de Lula y Dilma Rousseff (2011-2016) trataron
efectivamente la educación como un derecho, a través de políticas establecidas para todos los
niveles, etapas y modalidades de educación, con énfasis en la educación básica y superior, el
diálogo con representantes de la sociedad civil y el aumento del porcentaje destinado a la
inversión pública directa. Sobre las políticas dirigidas a las universidades, Senkevics (2021),
afirma que la expansión sin precedentes de las vacantes y la matrícula en la educación superior,
además de la implementación de políticas inclusivas de las universidades públicas y privadas,
contribuyó a que el número de jóvenes de las clases más bajas aumentara considerablemente.
Desde principios de la década de 1990, la sociología de la educación se ha centrado en
estos temas, interesada en comprender quiénes son estos estudiantes, cuáles son sus trayectorias
y sus estrategias de longevidad escolar hasta llegar a la universidad. Lasobras de Portes (1993),
Viana (1998), Silva (1999) y Zago (2006), basadas en la literatura que trata sobre el éxito
escolar de estudiantes "improbables"
4
de capas populares a través de trayectorias a menudo
conflictivas y desiguales.
Desde la perspectiva de la implementación de políticas públicas, la presencia de estos
jóvenes en las universidades puede estar sumergida en la díada (1) ampliación del acceso y (2)
efectos revelados desde límites burocráticos asociados a la reproducción de las desigualdades.
La interacción entre usuarios/receptores de políticas públicas dirigidas a ciudadanos de las
clases populares y las instituciones que las ofrecen/implementan puede revelar estigmas y
discriminación, a la vez que contribuye a la regulación práctica de los comportamientos que la
constituyen. Así, se puede hablar de desigualdad implementada en las políticas en el
“
guichet
5
”
,
concepto utilizado por Dubois (2019) para recordar ventanas o mesas a través de las cuales se
realizan las interacciones de los sujetos con el Estado y también para reportar a un lugar
4
Bernanrd Lahire (1997), sociólogo y profesor de la Universidad de Lyon, contribuyó a la construcción de la
comprensión del concepto de trayectorias escolares, en su obra "Éxito escolar en los medios populares: las razones
de lo improbable", donde profundiza en el concepto de éxito improbable de los estudiantes de clases populares.
5
Dubois (2019) afirma que,
en las ventanillas (guichet),
las instituciones asumen la capacidad de moldear a los
ciudadanos desde el momento en que las prácticas institucionales se comparten de manera desigual y silenciosa
que reproduce las desigualdades sociales.
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1285
simbólico de dominación y revelación de estigmas que ocurren en estas relaciones. Al dialogar
con la literatura en estos campos, este artículo articula, por lo tanto, las referencias y evidencias
derivadas de la Sociología de la Educación con discusiones sobre la implementación de
políticas y la reproducción de las desigualdades sociales.
Según Hirata (2014), Oliveira (2017) y Laisner
et al.
(2021), estas preguntas se articulan
directamente con marcadores sociales entrelazados de manera interseccional
–
género, raza y
estructuras patriarcales, y la forma en que acciones y políticas específicas generan opresión,
constituyendo aspectos dinámicos de prácticas de desempoderamiento y estigmatización
–
entendemos que el sujeto de investigación, el narrador, no podría ser seleccionado al azar.
Dependiendo de los objetivos de la investigación, era necesario, entonces, "encontrar", en este
grupo de estudiantes matriculados en un curso de alta selectividad
6
, un perfil que tenía este
perfil. A partir de encuestas con alumnos y profesores vinculados al curso de medicina,
llegamos a José, un representante típico de este universo.
Analizamos, entonces, su trayectoria como estudiante de una familia en situación de
pobreza y su paso por dos universidades federales (la primera, una universidad mediana donde
se matriculó en 2016 y se fue en 2020, el foco de los informes; y la segunda, una gran
universidad, donde está matriculado desde 2021), ambas ubicadas en el estado de Minas Gerais.
Joseph es un hombre negro de 28 años. Su padre es recepcionista en una posada y su madre,
ama de casa. José provenía de una familia pobre en el norte de Minas Gerais, que se benefició
del Programa Bolsa Familia durante más de diez años. Se unió a la universidad a través de la
política de cuotas y es usuario de programas de asistencia estudiantil universitaria.
La investigación desarrollada por Senkevics (2021) analiza las transformaciones que
marcaron la reciente expansión del sistema de educación superior brasileño, a partir de datos
cuantitativos concentrados en el período de 1991 a 2020, en diálogo con una revisión de la
literatura. El autor enumera cinco tendencias principales: democratización del acceso,
institución de acciones afirmativas, desequilibrio público-privado, expansión de la educación a
distancia y estratificación horizontal. El autor afirma que la expansión sin precedentes de las
vacantes y la matrícula en la educación superior, junto con la diversificación institucional de la
oferta y las políticas inclusivas, ha llevado a la heterogeneización del público estudiantil y a
una creciente estratificación horizontal. Es en este contexto que José forma parte de los miles
6
Piotto (2010) analiza las trayectorias escolares y experiencias universitarias de estudiantes de clases populares
en cursos de alta selectividad, abordando trayectorias marcadas por nuevas posibilidades y perspectivas, pero
también por la humillación y el desarraigo sufrido por estos estudiantes.
image/svg+xml
“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad pública
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1286
de estudiantes de las clases populares, negros y morenos, que pasaron a formar parte de las
instituciones de educación superior en Brasil debido a las políticas de protección social y
expansión y democratización de este tipo de educación. Según Pires (2019), los procesos de
implementación de políticas sociales, a la vez que mitigan las desigualdades, pueden
reproducirlas.
La investigación cualitativa tiene su propuesta metodológica basada en el modelo
experiencial, desde nuevas perspectivas epistemológicas y metodológicas para el análisis de
políticas públicas, propuesto por Lejano (2012). Del mismo modo, la perspectiva de Dubois
(2019), basada en su trabajo de campo sobre encuentros burocráticos entre sujetos de capas
populares y el Estado a través de las ventanillas, y los aportes de Gofmann (1982), sobre las
interacciones estigmatizantes entre los ciudadanos y el Estado, favoreció la construcción del
camino metodológico de este artículo. El uso de las narrativas propuestas por Maynard-Moody
y Musheno (2003), como propuesta metodológica para comprender las interacciones existentes
en el proceso de implementación de políticas, también apoyó la propuesta metodológica del
artículo.
Se realizó un instrumento narrativo-narrativo en profundidad como instrumento
metodológico que, según Jovchelovitch y Bauer (2002), puede clasificarse como un método de
investigación cualitativa, materializado como una forma de entrevista no estructurada, de
mirada profunda con características específicas, como un proceso semiautónomo, basado en
contar y escuchar la historia con mínima influencia del investigador. La entrevista narrativa
incluyó cuatro dimensiones: (1) su trayectoria familiar y escolar antes de su ingreso a la
universidad; (2) estrategias y políticas de inclusión social que contribuyeron a su entrada; (3)
su experiencia diaria como estudiante de medicina y las interacciones con colegas, maestros,
empleados; (4) su interacción con los sectores y órganos de la universidad, en
sus ventanillas
de boletos
y (5) sus motivaciones y estrategias para cambiar las instituciones
.
El artículo está organizado en cuatro secciones, además de la introducción y las
consideraciones finales.
En la primera sección, presentamos una breve discusión sobre
las
políticas de protección social y su contribución a la llegada de estudiantes de clases bajas a la
universidad pública.
La segunda sección ofrece una revisión
de las reuniones burocráticas en el
proceso de implementación de políticas desde la perspectiva de discriminar y estigmatizar a las
ventanillas. Finalmente, a partir del cuarto apartado, se presentan los resultados de la
investigación a partir de la entrevista narrativa realizada al estudiante, en la que se expone la
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1287
trayectoria de la familia de José y su "improbable" ingreso a la universidad pública, además de
sus experiencias con ventanillas discriminadoras en la universidad.
De las políticas de protección social a la universidad pública: la llegada de estudiantes de
las clases bajas a la educación superior
Según Oliveira, A. L. M. (2019), la elección presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva
(2003-2010) inaugura un período que combina un marco institucional que garantiza, por
primera vez, políticas sociales para la población pobre, la educación como derecho, la adopción
de una profusión de políticas públicas para la educación superior, especialmente a partir de
2003.
Kerstenetzky (2008) afirma que la inclusión de las políticas sociales en la agenda
gubernamental contribuyó a la corrección de las desigualdades socioeconómicas. El autor
sostiene que la promoción de la igualdad de oportunidades en Brasil es una de las claves para
promover la movilidad social. En este sentido, Lavinas y Gentil (2018) afirman que, entre 2003
y 2014, hubo varios signos de crecimiento económico y esfuerzos para erradicar la pobreza y
ampliar las oportunidades y la inclusión social: el aumento en la creación de empleos formales;
aumentar la inversión pública en educación y salud; el crecimiento de la adhesión al plan de
salud; el aumento del poder adquisitivo del salario mínimo en más del 70% y el éxito del
programa Bolsa Familia y otros programas de inclusión, como Mi casa mi vida, Programa de
Beneficios Continuos, Luz para Todos, entre otros.
En cuanto a los avances en el campo de la educación, Costa, Silveira, Costa y
Waltenberg (2021) muestran que, en 2015, la tasa de escolaridad de los estudiantes de 7 a 14
años en Brasil alcanzó el 98,8%; adolescentes de 15 a 17 años, alcanzaron el 85%. En esta
perspectiva, esta expansión, combinada con políticas de inclusión social dirigidas a familias en
situación de pobreza, contribuyó a que los jóvenes consideraran poco probable que visualizaran
la oportunidad de acceder a la educación superior.
El período estuvo marcado por la creación de numerosas universidades federales,
financiadas por el Programa de Apoyo a los Planes de Reestructuración y Expansión de las
Universidades Federales (REUNI). En 2018, una década después de la creación de institutos
federales a través de la Ley Nº 11.892/2008 (BRASIL, 2008), que creó la Red Federal de
Educación Profesional, Científica y Tecnológica, fue posible observar la expansión de las
escuelas técnicas brasileñas, que, hasta 2020, tenían más de 600
campis.
La expansión de la
educación superior privada fue posible gracias al otorgamiento de becas, exenciones de
image/svg+xml
“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad pública
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1288
impuestos y préstamos a estudiantes, a través del Programa Universidad para Todos (PROUNI)
y el Fondo de Financiamiento estudiantil para la educación superior (FIES).
La V Encuesta de Perfil Socioeconómico y Cultural de Estudiantes de Pregrado de
Instituciones Federales de Educación Superior, organizada por FONAPRACE
7
(2019),
proporciona información sobre el perfil socioeconómico y cultural de sus estudiantes
universitarios. Los datos revelan que hubo un cambio importante en el perfil socioeconómico
de sus estudiantes, reduciendo su desigualdad histórica y elitismo: entre 2003 y 2017, la
educación superior brasileña fue testigo de una expansión que resultó en un aumento de más
del 260% en las vacantes ofrecidas. La Política de Cuotas contribuyó a minimizar la
desigualdad de acceso e inclusión social y la presencia de una mayor diversidad entre los
estudiantes de la educación superior brasileña.
A través de la Ley N° 12.711, del 29 de agosto de 2012 (BRASIL, 2012), las vacantes
comenzaron a reservarse en porcentaje para estudiantes de escuelas públicas y para minorías
étnicas, aquellas que se dice que son "improbables" en las universidades hasta hace unos años.
Datos de la Asociación Nacional de Líderes de Instituciones Federales de Educación Superior
(ANDIFES) sobre la población negra en las universidades muestran que la combinación de
REUNI y acciones afirmativas hizo que el número de estudiantes negros que, en 2003, era de
27.693, avanzara a 143.599 en 2018 (FONAPRACE, 2019).
En cuanto al perfil socioeconómico de los estudiantes de familias en situación de
pobreza y/o vulnerabilidad, el nombre utilizado por FONAPRACE (2019) utiliza la variable
"Ingreso mensual bruto del grupo familiar e
ingreso mensual per cápita
" y considera que los
estudiantes en vulnerabilidad social se encuentran en la categoría ingreso familiar mensual
per
cápita.
de "hasta un salario mínimo y medio". En 2019, la investigación reveló que el 53.5% de
los estudiantes universitarios de IFES están en el
rango de ingreso familiar mensual per cápita
de hasta
1 salario mínimo, y el 70.2% están en el
rango de ingreso mensual familiar per cápita
de hasta 1 salario mínimo y medio. Históricamente, se puede observar, a través de los datos,
que el porcentaje de
estudiantes pertenecientes a familias con ingresos per cápita mensuales
de hasta
1 salario mínimo y medio saltó de 44,3% en 1996 a 66,2% en 2014, alcanzando 70,2%
en 2018, el nivel más alto de la serie histórica. Parte de este movimiento se deriva de la fuerte
expansión de la educación superior pública y la inversión en políticas sociales para las capas
más pobres de la población desde principios de la década de 2000.
7
Observatorio del Foro Nacional de Pro-rectores de Asuntos Estudiantiles.
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1289
Es importante destacar, sin embargo, que la investigación también revela las
desigualdades asociadas a este proceso de inclusión. Costa, Silveira, Costa y Waltenberg (2021)
llaman la atención sobre la necesidad de una democratización horizontal de las universidades,
a través del mantenimiento de condiciones de acceso y permanencia de estudiantes de origen
popular en cursos universitarios de élite, históricamente atendidos por sectores blancos de la
sociedad e hijos de familias de clases sociales más favorecidas.
Reuniones burocráticas en el proceso de implementación de políticas: discriminar y
estigmatizar las ventanillas
La discusión sobre las políticas públicas asume que siguen un camino hasta ponerlas a
disposición de sus destinatarios, a través de una cadena que moviliza a un conjunto de actores
gubernamentales, involucrando también características de la propia burocracia. Al analizar la
implementación desde la perspectiva de los agentes que trabajan en la punta
–
los burócratas de
la calle o
los burócratas a nivel de calle,
según Lipsky (1980 apud OLIVEIRA, B. R., 2019)
afirma que el proceso de implementación de políticas en el contexto de la práctica involucra a
diferentes actores que tienen diferentes agendas e intereses, combinados con sus creencias,
valores y percepciones. El autor también afirma que los significados atribuidos a las políticas a
lo largo de esta trayectoria de implementación impregnan "lentes" particulares. Esta perspectiva
pone de relieve la comprensión de que esta dinámica es compleja, ya que existen una serie de
particularidades que involucran el proceso de toma de decisiones de los actores, así como la
forma en que interpretan la política y su propio papel, como ejecutores o beneficiarios de las
políticas.
Según Pires (2019), hasta que la política no esté disponible, sus objetivos están
condicionados a un conjunto de factores que pueden no haber sido previstos en su formulación.
Así, pueden producir efectos no previstos en los procesos de formulación e implementación,
reproduciendo o agravando las desigualdades. La investigación sobre los efectos no revelados
informa que la implementación produce efectos sociales deseables y también efectos
indeseables, que nacen de externalidades negativas. Incluso cuando nacen de la norma y el
gobierno, sus vidas cotidianas se refieren a la forma en que los burócratas traducen la política
y cómo estos problemas afectan la interacción con los ciudadanos, los destinatarios de estas
políticas. En este sentido, Oliveira y Lacerda (2019) afirman que existen aspectos invisibles
inherentes al proceso de implementación y que esta invisibilidad puede entenderse como la
image/svg+xml
“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad pública
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1290
producción de externalidades positivas y negativas, los efectos secundarios generados por la
operacionalización de acciones dentro del ámbito de la acción estatal, a nivel local.
Al abordar estas cuestiones, Maynard-Moody y Musheno (2003) afirman que los
agentes implementadores tienen sus decisiones directamente vinculadas a sus valores, creencias
y sistemas de valores. Para los autores, los procesos de implementación desencadenan sus
valores morales, lo que afecta la forma en que actúan y deciden. Al analizar el desempeño de
los agentes que trabajan en la punta y su atribución "educativa" a los ciudadanos, Auyero (2012)
caracterizó a los usuarios como "aprendices" o "pacientes" del Estado, desde la perspectiva de
que las sanciones, demandas, juicios de valor y desigualdad de poder se personifican en los
burócratas.
Desde esta perspectiva, la aplicación puede entenderse como un proceso político. La
política que se hace en la implementación es descrita por Vincent Dubois (2019) como capaz
de perpetuar posiciones de subordinación en relaciones estructurales de dominación, en el
contexto de servir a las capas populares. Las relaciones existentes en las ventanillas y los juicios
que surgen de estas relaciones son capaces de producir lo que el autor llama "políticas
en
el
mostrador". Más que eso, revelan una "política de la ventanilla
”,
que tiene el propósito de
reproducir la desigualdad existente entre los dos lados de la ventana, a través de lo que el autor
llama un modo de operación de una intervención pública que tiene como objetivo regular a
estas poblaciones.
El autor afirma que, en la dinámica de implementación, pueden darse "trucos" capaces
de permitir a los gobiernos sostener un "doble juego", que, a pesar del discurso de inclusión de
la población de clases populares, es saboteado por lo que él llama "políticas de Guiche
(ventanilla)" ejercidas en el desempeño de los trabajadores de primera línea en el proceso de
implementación de políticas públicas. La ventana discriminante
se refiere a
la perspectiva de
la sociología de la ventana francesa. (
sociologie du guichet
) y puede aportar nuevas lentes
analíticas al debate brasileño sobre temas como la implementación de políticas públicas,
especialmente cuando se trata de la relación entre los burócratas callejeros y la población de las
clases populares. En sus estudios sobre estas dinámicas, Dubois (2019) aclara el concepto de
ventana y analiza cómo tales interacciones pueden contribuir a la reproducción de las
desigualdades en el contexto de la implementación de políticas públicas. Goffman (1982), al
analizar el "orden interaccional" y sus relaciones con las estructuras sociales, afirma que las
interacciones deben ser vistas como una unidad de análisis relevante para la investigación
sociológica en general. Para el autor, existe una relación íntima entre estas interacciones y las
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1291
estructuras sociales, como si las características de estas estructuras sociales pudieran
reproducirse. Desde esta perspectiva, sirviendo de apoyo a las ideas de Dubois, Goffman (1982)
refuerza que estas interacciones pueden producir relaciones desiguales, silenciosas y
estigmatizantes, agravando las desigualdades sociales.
La trayectoria de una familia y estudiante "improbable" que "metió la burbuja" de
acceso a la universidad pública
José tiene veintiocho años. Comenzó, en 2019, su primer curso de medicina en una
universidad mediana de Minas Gerais, y en 2021 decidió, debido a las dificultades financieras
y los problemas asociados con los estigmas sufridos en esta institución, asistir a Medicina en
una gran universidad minera. El estudiante relata que, junto con su hermano, dos años mayor,
tuvo una infancia muy pobre. Su padre, que no completó los primeros años de la escuela
primaria, siempre fue quien trabajó y mantuvo a la familia como recepcionista de una posada.
Su madre, que terminó la escuela secundaria y asistió a la enseñanza, trabajó brevemente en
una guardería cuando sus hijos eran pequeños y se convirtió en "ama de casa", ya que entendía
que era necesario que alguien se ocupara de los estudios de sus hijos.
José informa que su familia vivía en una "clásica casa de adobe de documentales del
Valle" y que la familia recibió ayuda de la iglesia local para mantener las precarias condiciones
de la casa. Dijo que la privación material tensaba la vida cotidiana y el acceso a las políticas de
atención primaria era limitado para la familia, que se encontraba, por ejemplo, con muchas
dificultades para acceder a los profesionales de la salud, los medicamentos y procedimientos
como los exámenes y las hospitalizaciones.
El contexto social y político de los primeros años de la primera década de 2000, período
correspondiente a la infancia y adolescencia de José, estuvo rodeado de un nuevo paradigma
orientado a construir políticas de protección social para la población en situación de pobreza en
Brasil. Con una agenda enfocada en la conformación de una red de protección social orientada
a abordar las desigualdades asociadas a audiencias específicas, el gobierno de Lula inauguró un
momento político de cambio social en el que el Estado se reafirmó como un actor estratégico,
si no central, para enfrentar problemas relacionados con la ciudadanía, la desigualdad, las
oportunidades y el bienestar (JACCOUD; BICHIR; MEZQUITA, 2017, p. 39).
José, quien nació en 1993, relata que, desde su preadolescencia, su familia comenzó a
ser contemplada por el Programa Bolsa Familia. Afirma que la cantidad, que estaba destinada
a comprar comida y pagar las facturas de la casa, estaba condicionada a la asistencia escolar de
image/svg+xml
“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad pública
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1292
los dos hermanos. José reconoce que Bolsa Familia hizo un gran aporte para que pudieran
mantenerse, complementando los ingresos del salario de su padre, además de contribuir a que
su hermano y él no salieran de la escuela. Néri (2012) afirma que el Programa Bolsa Familia
ofreció un gran potencial para la caída de la desigualdad en Brasil, caracterizando el programa
como una de las políticas públicas más exitosas en la lucha contra las desigualdades sociales.
El autor también afirma que el programa indujo a las familias a monitorear la escolarización de
sus hijos, contribuyendo decisivamente a la reducción del círculo intergenerational de pobreza
y a la expansión de los años de escolaridad de niños y jóvenes.
En Brasil, las últimas dos décadas han estado marcadas por la expansión del acceso a
las universidades públicas brasileñas, que han recibido significativamente estudiantes de clases
populares a través de políticas de acción afirmativa y expansión de vacantes. El estudiante
entrevistado explica, en su informe, cómo las políticas de inclusión que integran una red de
protección social en Brasil desde la primera década de la década de 2000 contribuyeron a su
trayectoria, afirmando que "nunca podría ingresar a la universidad si la ENEM no existiera" y
que la Política de Cuotas era su "puerta de entrada" a la universidad pública. Para él, tales
políticas "permitieron a un puñado de estudiantes superar esta trayectoria de pobreza y la
exclusión del diploma".
Sin embargo, José deja claro que los espacios escolares a los que asistió están marcados
en su memoria por el estigma de la desigualdad. En sus informes, demuestra una idea de una
escuela capaz de reproducir las desigualdades sociales, basada en su comprensión de la
precariedad de la estructura, la formación de sus maestros y los materiales didácticos a los que
tuvo acceso en la escuela a la que asistió.
Sobre su acceso a la educación superior pública, José detuvo dos factores importantes
para que, en sus palabras, pudiera "perforar la burbuja de la universidad federal". La carrera
escolar de su madre y el apoyo familiar para que pudiera estudiar sin la preocupación de tener
que trabajar para ayudar económicamente a la familia fueron decisivos. Sobre la trayectoria de
la madre y sus intentos de ingresar a la universidad, la estudiante informa que tuvo una
trayectoria exitosa en la educación básica, pero que no pudo ingresar a una universidad. José
relata que crecer escuchando los recuerdos de su madre de una exitosa carrera escolar le hizo,
desde muy joven, imaginar esta posibilidad de ser un buen estudiante. En sus relatos, deja claro
que la figura de la madre, la vasta colección de libros que tenía en casa y el hecho de crear
momentos de lectura con sus hijos a través de sus viejos libros escolares, contribuyeron a que
ampliara su mirada sobre su carrera escolar.
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1293
Afirmando que la inversión de los padres en la vida escolar de sus hijos es un factor
impulsor del éxito en la escolarización, Nogueira (2021) reflexiona sobre el uso del concepto
de capital cultural para explicar las desigualdades escolares como sinónimo de disposiciones
culturales y relación con los bienes culturales. Lahire (1997) señala que la presencia de
miembros con capital cultural escolar en la familia por sí sola no es capaz de producir efectos
en las siguientes generaciones. Para ello son necesarias interacciones efectivas y afectivas, que,
en el caso de la alumna entrevistada, parecen estar relacionadas con el acceso a la colección de
libros de la madre, el incentivo para leer y estudiar estos libros y la memoria de los informes de
la madre sobre su trayectoria de éxito escolar y el intento de ingresar a una universidad. De la
misma manera que las estrategias de la madre son recordadas por el estudiante, también se
destacan en su relato los esfuerzos del padre, un trabajador asalariado, para que el niño pudiera
estudiar y "perforar la burbuja universitaria".
Creo que logré perforar esta burbuja por mucho esfuerzo y por tener la menor
posibilidad de poder sentarme y estudiar. Hay mucha gente que no ha tenido
ese privilegio que yo he tenido, ¿sabes? Mi papá me dejó, pude estudiar,
tranquilo en el interior todo el año, estudiando hasta los 28 años, sin tener
que trabajar, ¿sabes?
(José).
A través de los estudios de Lahire (1997), Nogueira (2005), Viana (2005), Thin (2006)
y Portes e Souza, (2012), se sabe que la familia constituye un fundamento social indispensable
para ser considerado en la constitución de una trayectoria de longevidad escolar, lo que es
corroborado por los informes de José. Tales estudios sobre estrategias familiares de
escolarización han ventilado el debate, dando cabida a la importancia de considerar la
complejidad de estas trayectorias, de los sujetos como resultado de múltiples procesos de
socialización, y que su acción individual sea también estratégica en estos procesos.
Según FONAPRACE (2019), la inclusión de un gran número de estudiantes brasileños
en la educación superior, a través de políticas para fortalecer la educación básica y las políticas
de protección social desde 2003, ha aumentado el número de "excepciones", según Piotto (2012,
p. 3). En su relato de estar en la universidad en un curso de medicina, José afirma: "Soy una
excepción a la excepción". Según datos de FONAPRACE (2019), José forma parte del 70,2%
de los estudiantes de origen popular brasileño que ingresaron a la
universidad pública con un
ingreso per cápita
de hasta 1 salario mínimo y medio. Con este movimiento, esta composición
impone a estas instituciones otros requisitos, revelados por las desigualdades asociadas a la
permanencia de estos estudiantes en estos espacios.
image/svg+xml
“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad pública
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1294
Para Terrail (1990), quien discutió las estrategias de los estudiantes universitarios
pobres, el éxito escolar de los estudiantes de clases bajas implica el contacto con la hostilidad
en las relaciones y la desigualdad presente en estas relaciones. Por esta razón, Dubet (2001)
discute la democratización de la educación segregativa, en la perspectiva de que los sujetos de
las clases populares no forman parte de los sectores de formación más valorados socialmente.
Al analizar estos temas a partir del relato de José, el estudiante afirma que no bastaba
con "pegarse a la burbuja", ya que deja claro que ingresar a la universidad no hizo desaparecer
los problemas sociales que había conocido desde la infancia. Las desigualdades de
oportunidades en relación a la escuela se revelan ahora en las dificultades que enfrenta el
estudiante para tener acceso a las políticas de atención en la universidad pública, en la
interacción a
través de sus ventanillas
. Además, la convivencia cotidiana con otros actores que
transitan en este universo también emerge como productora de desigualdades y estigmas,
objetos de la siguiente sección.
"
No tengo la cara de un estudiante de medicina
": las experiencias de un estudiante de capa
popular con ventanillas discriminadoras en la universidad
José idealizó, desde la adolescencia, ser oncólogo, o, "médico del Valle", para trabajar
en su región y dar a la gente de su comunidad lo que él y su familia no tenían: acceso a políticas
de salud pública. Su trayectoria, entre renuncias y aprobaciones, fue extensa y tortuosa: se
graduó de la escuela secundaria en 2010 e intentó, entre 2011 y 2014, ser aprobado en Medicina.
José afirma que es consciente de "sus condiciones ante aquellos que pensaba que estaban mucho
más preparados". Sin poder pagar los cursos preparatorios, adoptó una estrategia calculada:
ingresar a la universidad a través de un "curso de trampolín" para llegar a la escuela de medicina.
En 2015, fue aprobado en el curso de ingeniería mecánica en una universidad mediana en el
interior de Minas Gerais, el "trampolín" para realizar su anhelo de estudiar medicina.
En los dos años siguientes, 2016 y 2017, José informa que estudió varias disciplinas en
el área de portugués, matemáticas, física y química, con la estrategia de, dentro del curso de
ingeniería mecánica, tener su curso preparatorio para un futuro ENEM y ser aprobado en
Medicina. José no fue aprobado en 2016 y 2017, lo que le hizo solicitar el "candado" del curso
de Ingeniería Mecánica y regresar a casa de sus padres. Estudiando en casa y con el apoyo de
canales en
Youtube,
a finales de 2018, José fue aprobado en Medicina en la misma universidad.
En 2019, pasó a estudiar medicina.
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1295
El estudiante relata que continuó disfrutando de la asistencia de vivienda y la beca de
alimentación, a través del restaurante de la universidad, como lo hizo cuando se matriculó en
Ingeniería Mecánica. En sus informes, explica las dificultades que tuvo con respecto a la
vivienda, ya que era necesario "entrar al baño y cerrar la puerta para estudiar", y que compartía
habitación con otros cuatro compañeros que asistieron a diferentes cursos.
Consultado sobre las políticas de asistencia estudiantil en esta universidad, José relata
que pasó por dificultades económicas para mantenerse en el curso por la ausencia de una beca
de mantenimiento, lo que le imposibilitó comprar las limosnas dejadas por los profesores en las
papelerías que las comercializaban y también asumir los costos de los pasajes de bus para
actividades prácticas del curso que se realizaban en barrios alejados de la universidad. El
estudiante informa que decidió pedir ayuda a la universidad para la vivienda, porque el
alojamiento perjudicó sus estudios. Así, relata que, para obtener esta ayuda, fue necesario que
escribiera una carta diciéndole por qué no querría vivir en el alojamiento, demostrando con
ataque médico o psicológico la necesidad de vivir solo y/o en la ciudad, lo que le hizo sentir
humillado.
Tienes que escribir una carta, preguntando, ¿por qué querías (dejar el
alojamiento), ya sabes? Te sientes humillado por poder ganar 230 reales y no
encuentras sitio en la ciudad, para vivir, por 230 reales. No hay condición.
Luego te piden que escribas la razón por la que quieres dejar el alojamiento.
Luego tienes que reportarte allí porque quieres irte, y luego aprobarán o no
tu salida. Luego te piden que, si tienes alguna pregunta psicológica, algún
informe médico, que asocie que el alojamiento te está lastimando, te está
perjudicando, entonces hagas un archivo adjunto y lo envíes. Así que parece
ser, para mí, mucha
burocracia (José).
Dubois (2019) afirma que las interacciones que ocurren en
el mostrador
, es decir, las
relaciones en el tratamiento de la miseria, los roles burocráticos, que al principio parecen
impersonales, resultan ser altamente permeables a las disposiciones de quienes los realizan. La
ventana revelada por
el autor, con su recurrente potencial de violencia simbólica, impone a los
individuos la convicción de su condición de subordinación en relación con los agentes y con el
propio Estado, reforzando su idea de una interacción estigmatizante, que Goffman (1982) llama
interacciones desiguales y silenciosas que reproducen las desigualdades sociales. En su
narrativa, el estudiante deja claro que el camino que tendría que tomar para solicitar que el
subsidio de vivienda se convirtiera en ayuda a la vivienda fue particularmente humillante.
Frente la
ventanilla de asistencia estudiantil
deja en claro que recibió orientación que lo
avergonzó sobre cómo se debe hacer la solicitud.
image/svg+xml
“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad pública
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1296
La experiencia de José es un claro ejemplo de los efectos del proceso de implementación
y reproducción de las desigualdades sociales en la prestación de servicios públicos, según lo
analizado por Pires (2019). El estudiante deja en claro que escribir una carta demostrando que
realmente no pudo vivir en el alojamiento para obtener asistencia de vivienda, lo puso a través
de un proceso de ansiedad y tristeza. Las repeticiones de los patrones de exclusión también
fueron, según el estudiante, por el tipo de tratamiento a través del cual se recibió en las
ventanillas de asistencia estudiantil. Su percepción personal era que era tratado con casualidad,
frialdad y prisa en algunas situaciones. Por lo tanto, es necesario discutir el desempeño de los
agentes implementadores en la punta, burócratas a nivel de calle que, con capacidad
discrecional, pueden reproducir las desigualdades desde su posición en el proceso de
producción de políticas, o que, según Maynard y Musheno (2003), pueden actuar desde
posiciones de poder con los ciudadanos. Esta es una de las razones por las que "el desempeño
de los burócratas de calle puede impactar en los procesos de inclusión y exclusión social"
(PIRES; LOTTA; TORRES JUNIOR, 2019, p. 258).
En su narración, José afirma que el sentimiento de pertenencia como estudiante de
medicina en esta universidad era frágil y doloroso. El estudiante relata que pasó por varias
situaciones por las que se sintió distanciado de otros colegas debido a su color o clase social.
Cuando entré en el curso, hubo ese discurso de veteranos, desde la sala unida. Y
luego entras con la sensación de que eres parte de ella. Pero a medida que avanza el
curso, se nota que hay una segmentación natural de la sala por contexto social, por
contexto socioeconómico, hay una segmentación. Te das cuenta de que hay personas
que no te miran bien. Te das cuenta de que hay personas a las que les molesta tu
presencia, ya sabes, que te miran tolerando que estés allí, como si no fueras digno de
estar allí. Eso es bastante notable, ¿sabes? Entre los estudiantes sí
(José).
Sobre sus compañeros de clase en la sala, dice que se sintió excluido de algunas
decisiones colectivas, afirmando que es "como una persona que está haciendo autostop en un
automóvil que no es tuyo, ¿sabes? No tienes derecho allí". Lo mismo ocurrió con los
funcionarios del Departamento de Medicina o con otros órganos de la universidad. Como
ejemplo de distancia desigual y discriminatoria entre las clases populares y las instituciones,
según Dubois (2019), José afirma que ha experimentado limitaciones con los asistentes de
departamento, como se informa a continuación:
Resulta que estoy sentado allí en el departamento, llega la persona, con varios
estudiantes allí, y un empleado se me acerca y me pregunta si estaba allí esperando
para hacer el concurso de técnicos. ¿Por qué me preguntó si estaba en medio de todos
mis colegas? Es una cuestión de visualización, que no tengo la cara de un estudiante
de medicina
(José).
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1297
Dubois (2020) enfatiza que las reuniones burocráticas de "frente y frente" entre
ciudadanos que están a ambos lados de la ventana pueden revelar que todas las normas sociales
y morales que forman parte de esta interacción son capaces de producir dinámicas de
clasificación entre los ciudadanos y, además, perpetuar las desigualdades entre ellos. En
ventanillas, dispositivos concretos y/o simbólicos que revelan la burocracia y discreción de los
agentes implementadores, es que se producen relaciones de poder, discriminación, perpetuación
de la desigualdad y estigmatización. Pires, Lotta y Torres Júnior (2019) también refuerzan la
necesidad de comprender los procesos de (re)producción de las desigualdades sociales
engendradas en la acción estatal.
Al abordar estos temas, José informa que "incluso la posición de sentarse en la sala está
segmentada. La gente no se mezcla. Tienes a la pobre multitud y a la otra multitud". El
estudiante cuenta una situación en la que un colega, entre varios estudiantes, le preguntó en voz
alta en qué curso estaba matriculado en la universidad.
Todos dijeron: "¡Es historia! Geografía". Así que ya tienes un personaje, ¿quién es
el estudiante de medicina y no tiene mis características verdad? Nadie habla, no creen
que el tipo sea un estudiante de medicina. Así que veo que esto es algo que es muy
complicado de tratar de resolver. Es algo que ya es estructural. Creo que, con el
tiempo, pero con mucho tiempo, que estos alumnos puedan sumarse y más alumnos
puedan tener acceso a estos posts que hoy son otras personas, creo que hay una
tendencia a mejorar en esto
(José).
José informa que todos los estigmas relacionados con la falta de privacidad y espacio
para estudiar, además de "situación de bajos ingresos y falta de apoyo de la universidad"
materializados en ausencia de beca de manutención y dificultades encontradas en relación con
la vivienda estudiantil, lo llevaron a volver a intentar la ENEM, a finales de 2019. Pero esta
vez, su objetivo era estudiar Medicina, a partir de 2020, en una gran universidad del estado de
Minas Gerais. El estudiante fue aprobado en el curso de medicina de esta universidad, ubicada
en la capital de Minas Gerais.
Incluso con la aprobación en 2020, José informa que renunció a ir a la capital, porque
le dijeron que sería más difícil obtener ayudas temporales de vivienda hasta que solicitara
alojamiento. El miedo a no tener los recursos financieros para mantenerlo fuera. Así, mantuvo
su matrícula en la primera universidad, en el interior del estado. En marzo de 2020, cuando se
propuso el
distanciamiento social y el confinamiento
debido a la pandemia de
Covid-19
, Joseph
regresó a la casa de sus padres. La situación empeoró porque, justo en ese momento, su padre
se quedó sin trabajo y no pudo contar con ninguna ayuda para permanecer en la universidad y
ni siquiera en la casa de sus padres. Su percepción es que la primera universidad "renunció a
image/svg+xml
“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad pública
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1298
los estudiantes pobres", lo que lo hizo tomar una nueva decisión: intentar nuevamente la ENEM
para ingresar a la medicina en la universidad de la capital del estado de Minas Gerais, a partir
de 2021. José, al afirmar que comenzaría el curso "desde cero de nuevo", se convierte en un
estudiante regular del curso de medicina en esta gran universidad. A pesar de que emigró a otra
universidad, reconoce que las políticas de asistencia estudiantil que atendió en la primera
universidad fueron fundamentales para su estadía y también para sus compañeros en las clases
más bajas. Destaca la importancia de la Subvención alimentaria para el período que permaneció
allí.
Creo que las políticas de asistencia a los estudiantes pobres son necesarias, por muy
malas que sean. Hay una universidad en mi ciudad. ¿No sería más fácil para mí entrar
allí? Tenía ingeniería mecánica en mi ciudad. ¿Por qué no me metí en Ingeniería
Mecánica allí? Fui a la primera universidad por el restaurante de la universidad
(José).
Al igual que muchos jóvenes de clases populares que están presentes en las
universidades públicas brasileñas, José explica claramente desde su trayectoria que el debate
sobre el acceso y la permanencia en las universidades públicas debe profundizarse, ya sea desde
la perspectiva de las políticas de asistencia estudiantil o desde la visión más juiciosa de cómo
se implementan estas políticas en estas instituciones.
Consideraciones finales
A pesar de los límites metodológicos y analíticos de este artículo, la narrativa del
estudiante contribuye a revelar las dimensiones históricas, colectivas y sociales en sus
experiencias, vinculadas al proceso de implementación de políticas sociales. Gussi y Oliveira
(2016, p. 95) enfatizan la importancia de la noción de trayectoria y contexto social de los
sujetos, definiéndola como un "marco metodológico estratégico para comprender los procesos
sociales, construyendo un diálogo entre temporalidades y territorialidades, revelando una
dimensión histórica, colectiva y social". Así, el estudiante otorga subsidios que permiten
desconocer las interacciones entre los agentes que trabajan en las ventanillas y en los grupos
sociales por donde transita esta asignatura, así como los efectos que dichos procesos de
implementación pueden producir.
Anclado en Jaccoud (2005), Kerstenetzky (2008), Portes e Souza (2012) y Senkevics
(2021), la narrativa de José revela que la red de protección social en la que se insertó su familia,
junto con las estrategias familiares para tener una larga escolaridad, contribuyeron a "pegarse a
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1299
la burbuja" de los cursos de alta selectividad de la universidad pública. La presencia de
estudiantes "improbables" en las universidades, principalmente públicas, marca el debate sobre
la expansión de las vacantes y la democratización del acceso a la educación, lo que impone la
discusión sobre la ausencia de afiliación universitaria (COULON, 2012) en la educación
superior pública brasileña.
En esta perspectiva, la presencia de un estudiante de capa popular en un curso de alta
selectividad en una universidad pública sacó a la luz dinámicas y estigmas asociados,
simultáneamente, con las estrategias de inclusión deseadas por esta misma red de protección
social, como explican Goffman (1982), Dubois (2019, 2020) y Pires (2019): discriminación por
género o raza, interacciones discriminatorias en las ventanillas locales donde la implementación
de políticas se materializa diariamente, y dificultades, tensiones y desajustes burocráticos en
los procesos asociados a la provisión de políticas de asistencia estudiantil.
La distancia desigual y discriminatoria entre las clases populares y las instituciones
puede ser clara entre los ciudadanos a ambos lados de la
ventana,
lo que puede perpetuar la
soledad presente en las improbables trayectorias de éxito y longevidad escolar de los estudiantes
de las clases populares. Dubois (2019) afirma que los significados atribuidos en la conducta
realizada por los agentes implementadores pueden ejercer un mecanismo de regulación moral,
constituyendo efectos simbólicos que pueden producir y reproducir, a través de las
interacciones que se producen en el servicio público, la interiorización de un valor social a los
usuarios, con autoimagen subordinada y estigmatización de estos ciudadanos.
Los formuladores de políticas, los gestores y los ejecutores de políticas destinadas a la
democratización de la educación superior y la permanencia universitaria (en todos los niveles
e institucionales) deben conocer y mitigar los efectos asociados con la implementación de estas
políticas, especialmente a nivel local. Desde la misma perspectiva, es urgente discutir la
interacción asociada al desempeño de los agentes públicos que actúan en la punta, su capacidad
discrecional y las desigualdades que pueden revelarse en las dinámicas procesadas en las
ventanillas, en la relación con los estudiantes de las clases populares, los ciudadanos objetivo
de los programas de inclusión y la reducción de las asimetrías sociales históricamente existentes
en Brasil.
image/svg+xml
“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad pública
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1300
REFERENCIAS
AUYERO, J. Patients of the state: An Ethnographic Account of Poor People is waiting.
Latin
American Research Review
,
v. 46, n. 1, p. 5-29, 2012. Disponible en:
https://www.jstor.org/stable/41261368. Acceso: 16 mayo 2020.
BRASIL.
Lei n. 11.892, de 29 de dezembro de 2008
. Institui a Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2008.
Disponible en: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm.
Acceso: 14 oct. 2021.
BRASIL.
Lei n. 12.711, de 29 de agosto de 2012
. Dispõe sobre o ingresso nas universidades
federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências.
Brasília, DF: Presidência da República, 2012. Disponible en:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm. Acceso: 14 oct.
2021.
COSTA, J.; SILVEIRA, F. G.; COSTA, R.; WALTENBERG, F. (org.).
Expansão da
educação superior e progressividade do investimento público.
Brasília, DF: Ipea, 2021.
COULON, A. O sucesso estudantil e sua avaliação: Que política universitária é possível?
In
:
SANTOS, G.; SAMPAIO, S. (org.).
Observatório da Vida Estudantil
. Estudos sobre a vida
e cultura universitárias. Salvador: EDUFBA, 2012.
DUBET, F. As desigualdades multiplicadas.
Revista Brasileira de Educação
, n. 17, p. 5-19,
2001. Disponible en: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n17/n17a01. Acceso: 23 dic. 2021.
DUBOIS, V. Políticas no guichê, políticas do guichê.
In
: PIRES, R.
Implementando
Desigualdades:
Reprodução de desigualdades na implementação de políticas públicas. Rio de
Janeiro: IPEA, 2019.
DUBOIS, V.
Lower Classes and Public Institutions
: A research program. France:
University of Strasbourg, 2020.
FONAPRACE.
V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos(as)
Graduandos(as) das IFES
–
2018.
Brasília, DF: Observatório do Fórum Nacional de Pró-
Reitores de Assuntos Estudantis 2019. 318 p. Disponible en: https://www.andifes.org.br/wp-
content/uploads/2019/05/V-Pesquisa-Nacional-de-Perfil-Socioeconomico-e-Cultural-dos-as-
Graduandos-as-das-IFES-2018.pdf. Acceso: 14 oct. 2021.
GOFFMAN, E.
Estigma:
Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Rio de
Janeiro: Zahar Editores S. A., 1982.
GUSSI, A. F.; OLIVEIRA, B. R. Políticas públicas e outra perspectiva de avaliação: Uma
abordagem antropológica.
Revista Desenvolvimento em Debate
, v. 4, n. 1, p. 83-101, 2016.
Disponible en: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/32515. Acceso: 12 abr. 2021.
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1301
HIRATA, H. Gênero, classe e raça: Interseccionalidade e consubstancialidade das relações
sociais.
Tempo Social, revista de sociologia da USP
, v. 26, n. 1, jun. 2014. Disponible en:
https://www.scielo.br/j/ts/a/LhNLNH6YJB5HVJ6vnGpLgHz/?format=pdf&lang=pt
. Acceso:
4 abr. 2021
JACCOUD, L.
Questão Social e Políticas Sociais no Brasil Contemporâneo.
Brasília, DF:
IPEA, 2005.
JACCOUD, L.; BICHIR, R.; MESQUITA, A. C. O SUAS na proteção social brasileira:
Transformações recentes e perspectivas.
Novos estud.
–
CEBRAP, São Paulo, v. 36, n. 02, p.
37-53, jul. 2017. Disponible en:
https://www.scielo.br/j/nec/a/Vkv7r47xGw7Hd6XmZdh7HfL/abstract/?lang=pt. Acceso: 15
marzo 2021.
KERSTENETZKY, C. L. Desigualdade como questão política.
CEDE
, Texto para discussão
n. 11, 2008. Disponible en: https://cede.uff.br/wp-content/uploads/sites/251/2021/04/TD-001-
KERSTENETZKY-C.-2008.-Desigualdade-como-questao-politica.pdf. Acceso: 12 feb. 2021.
LAHIRE, B.
Sucesso escolar nos meios populares
: As razões do improvável. São Paulo:
Ática, 1997.
LAISNER, R. C.
et
al
. O reconhecimento a partir da diferença: Olhares interseccionais para a
construção de ferramentas de avaliação de políticas públicas.
Revista AVAL
, v. 5, n. 19,
jan./jun. 2021. Disponible en: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/63394. Acceso: 25 oct.
2021.
LAVINAS, L. GENTIL, D. L. Brasil anos 2000: A política social sob regência da
financeirização.
Dossiê balanço crítico da economia brasileira (2003-2016).
Novos estudos
–
CEBRAP
, São Paulo, v. 37, n. 2, p. 191-211, maio/ago. 2018. Disponible en:
https://www.scielo.br/j/nec/a/5fqGSvyFTytWTNkQBJNGM3M/abstract/?lang=pt. Acceso:
11 agosto 2021.
LEJANO, R.
Parâmetros para análise de políticas:
Fusão de texto e contexto. Campinas:
Arte Escrita, 2012.
LIPSKY, M.
Burocracia de nível de rua
: Dilemas do indivíduo nos serviços públicos.
Brasília, DF: Enap, 2019. Disponible en:
https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/4158/1/Burocracia%20de%20nível%20de%20
rua_Michael%20Lipsky.pdf. Acceso: 11 de agosto. 2021.
MAYNARD-MOODY, S.; MUSHENO, M.
Cops, teachers, counselors
: Narratives of street-
level judgment. Ann Arbor: University of Michigan Press, 2003.
NERI, M. C. A Década Inclusiva (2001-
2011): Desigualdade, Pobreza e Políticas de Renda”.
Rio de Janeiro:
IPEA
, 2012. Disponible en:
http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/4639
.
Acceso: 03 de mayo de 2020.
NOGUEIRA, M. A. O capital cultural e a produção das desigualdades escolares
contemporâneas.
Cadernos de Pesquisa
, São Paulo, v. 51, e07468, 2021. Disponible en:
image/svg+xml
“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad pública
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1302
https://www.scielo.br/j/cp/a/pdTJTSCfQhzpWjZSGGy8gqK/abstract/?lang=pt. Acceso: 15 de
mayo de 2020.
NOGUEIRA, M. A. A relação família-escola na contemporaneidade: Fenômeno
social/interrogações sociológicas.
Análise Social
, v. 40, n. 176, p. 563-578, 2005. Disponible
en: https://www.jstor.org/stable/41012165. Acceso: 14 de mayo de 2020.
OLIVEIRA, A. L. M.
Educação Superior brasileira no início do século XXI
: Inclusão
interrompida? 2019. Tese (Doutorado)
–
IE, UNICAMP, Campinas, São Paulo, 2019.
Disponible en: https://repositorio.unicamp.br/Acervo/Detalhe/1088834. Acceso: 14 Mar.
2021.
OLIVEIRA, B. R. A implementação de políticas educacionais no nível micro: uma análise a
partir dos profissionais da escola no contexto da prática.
Revista de Estudios Teóricos y
Epistemológicos en Política Educativa,
v. 4, p. 1-17, 2019. Disponible en:
https://www.revistas2.uepg.br/index.php/retepe/article/view/12972. Acceso: 22 dic. 2021.
OLIVEIRA, B. R.; LACERDA, M. C. R. Trazendo à tona aspectos invisíveis no processo de
implementação de políticas públicas: uma análise a partir do Programa Oportunidades.
In:
PIRES, R. R. C. (org.).
Implementando desigualdades
: Reprodução de desigualdades na
Implementação de políticas públicas. Rio de Janeiro: IPEA, 2019.
PNAD. Pesquisa nacional por amostra de domicílios.
Microdados
. Rio de Janeiro: IBGE,
2019. Disponible en:
http://www.ibge.gov.br
. Acceso: 29 dic. 2021.
PIRES, R.
Implementando desigualdades
: Reprodução de desigualdades na Implementação
de políticas públicas. Rio de Janeiro: IPEA, 2019.
PIRES, R.; LOTTA, G.; TORRES JUNIOR, R. D. Burocracias Implementadoras e a (Re)
produção de Desigualdades sociais: perspectivas de análise no debate internacional.
In
:
PIRES, R.; LOTTA, G.; OLIVEIRA, V. E.
Burocracia e políticas públicas no Brasil
interseções analíticas.
Brasília, DF: IPEA; ENAP, 2019.
PORTES, E. A.
Estratégias escolares do universitário das camadas populares:
A
insubordinação aos determinantes. 1993. Dissertação (Mestrado em Educação)
–
Faculdade
de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1993.
PORTES, E. A.; SOUSA, L.
O nó da questão:
A permanência de jovens dos meios populares
no ensino superior público. Rio de Janeiro: Flacso, 2012. Disponible en: http:
//flacso.org.br/files/2015/03/Apresentacao_Ecio_Portes.pdf. Acceso: 21 dic. 2021.
SENKEVICS, A. A expansão recente do ensino superior: Cinco tendências de 1991 a 2020.
Cadernos de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais
, v. 3, n. 4, p. 199-246, 2021.
Disponible en: http://www.emaberto.inep.gov.br/ojs3/index.php/cadernos/article/view/4892.
Acceso: 19 sept. 2021.
SILVA, J. S.
Por que uns e não outros?
Caminhada de estudantes da Maré para a
universidade. 1999. Tese (Doutorado em Educação)
–
PUC, Rio de Janeiro, 1999.
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1303
TERRAIL, J-
P. L’issue scolaire: de quelques histoires de transfuges.
In
: TERRAIL, J-P.
Destins ouvriers
–
La fin d’une classe?
Paris: PUF, 1990.
THIN, D. Para uma análise das relações entre famílias populares e escola: Confrontação entre
lógicas socializadoras.
Revista Brasileira de Educação
, v. 11, n. 32, p. 211- 225. maio/ago.
2006. Disponible en:
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/8gBjdVbfWbNyNft4Gg7THbM/abstract/?lang=pt. Acceso:
10 abr. 2021.
VIANA, M. J. B.
Longevidade escolar em famílias de camadas populares
: Algumas
condições de possibilidade. 1998. Tese (Doutorado em Educação)
–
Faculdade de Educação,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1998. Disponible en:
https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/FAEC-85SJUP. Acceso: 16 mayo 2020.
VIANA, M. J. B. As práticas socializadoras familiares como lócus de constituição de
disposições facilitadoras de longevidade escolar em meios populares.
Educação e Sociedade
,
Campinas, v. 26, n. 90, p. 107-125. jan./abr. 2005. Disponible en:
https://www.scielo.br/j/es/a/JSkvyDGwXQJRWvyJBWdqQxN/abstract/?lang=pt. Acceso: 06
mayo 2020.
ZAGO, N. Do acesso à permanência no ensino superior: Percursos de estudantes
universitários de camadas populares.
Revista Brasileira de Educação
, São Paulo, v. 11, n.
32, p. 226-237, 2006. Disponible en:
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/wVchYRqNFkssn9WqQbj9sSG/abstract/?lang=pt. Acceso:
22 marzo 2021.
Cómo hacer referencia a este artículo
FERNANDES, N. R.; OLIVEIRA, B. R.
“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria
de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad pública.
Revista Ibero-
Americana de Estudos em Educação
, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022.
e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
Enviado en:
14/01/2022
Revisiones requeridas en
: 07/03/2022
Aprobado en
: 22/04/2022
Publicado en
: 30/06/2022
Procesamiento y edición: Editora Ibero-Americana de Educação.
Corrección, formateo, normalización y traducción.
image/svg+xml
“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1273
“I DON'T LOOK LIKE A MEDICAL STUDENT”: TRAJECTORY OF A STUDENT
AND THE DISCRIMINATING GUICHES AT THE PUBLIC UNIVERSITY
“EU NÃO TENHO CARA DE ESTUDANTE DE MEDICINA”: TRAJETÓRIA DE UM
ESTUDANTE E OS GUICHÊS DISCRIMINANTES NA UNIVERSIDADE PÚBLICA
“NO PARECERÉ UN ESTUDIANTE DE MEDICINA”: TRAYECTORIA DE UN
ESTUDIANTE Y LOS GUICHES DISCRIMINANTES EN LA UNIVERSIDAD
PÚBLICA
Natalia Rigueira FERNANDES
1
Breynner Ricardo de OLIVEIRA
2
ABSTRACT
:
The article analyzes the trajectory of a low-income student, the interactions
with discriminating counters in a public university in Minas Gerais and his perceptions about
his daily life as a target student of social policies. Based on a qualitative approach, a narrative
interview was carried out, covering four dimensions: (1) her family and school trajectory
before entering the university; (2) strategies and perceptions about social inclusion policies
that contributed to their admission to university; (3) your experience as a medical student and
interactions with peers; (4) its interaction with the sectors at the university, at its counters. The
results indicate a change in the socioeconomic profile in public universities since the Lula
government and the entry of “unlikely students”, through the Quota Law and other policies
aimed at families. They also reveal discriminating windows and stigmas that are processed
from the reproduction of inequalities in the policy implementation process.
KEYWORDS
:
Implementation of public policies. School trajectories. Inequality and
educational opportunities. Public university.
RESUMO
:
O artigo analisa a trajetória de um estudante de camada popular, as interações
com guichês discriminantes em uma universidade pública mineira e suas percepções sobre
seu cotidiano como estudante-alvo de políticas sociais. A partir de uma abordagem
qualitativa, realizou-se uma entrevista-narrativa, contemplando quatro dimensões: (1) sua
trajetória familiar e escolar antes do ingresso na universidade; (2) estratégias e percepções
sobre políticas de inclusão social que contribuíram para seu ingresso na universidade; (3)
sua experiência como estudante de Medicina e as interações com os pares; (4) sua interação
com os setores na universidade, nos seus guichês. Os resultados indicam mudança no perfil
socioeconômico nas universidades públicas a partir do governo Lula e o ingresso dos
“estudantes improváveis”, por meio da Lei de Cotas e outras políticas destinadas às famílias.
1
Federal University of Ouro Preto (UFOP), Mariana – MG – Brazil. Doctoral Student in Education at the
Graduate Program in Education. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7760-7981. E-mail:
natalia.fernandes@ufv.br
2
Federal University of Ouro Preto (UFOP), Mariana – MG – Brazil. Professor of the Graduate Program in
Education. Doctorate in Education (UFMG). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0956-4753. E-mail:
breynner@ufop.edu.br
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1274
Revelam, também, guichês discriminantes e estigmas que se processam, a partir da
reprodução de desigualdades no processo de implementação de políticas.
PALAVRAS-CHAVE
: Implementação de políticas públicas. Trajetórias escolares.
Desigualdade e oportunidades educacionais. Universidade pública.
RESUMEN
:
El artículo analiza la trayectoria de un estudiante de baja renta, las
interacciones con contadores discriminatorios en una universidad pública de Minas Gerais y
sus percepciones sobre su cotidiano como estudiante objetivo de las políticas sociales. A
partir de un enfoque cualitativo, se realizó una entrevista narrativa, abarcando cuatro
dimensiones: (1) su trayectoria familiar y escolar antes de ingresar a la universidad; (2)
estrategias y percepciones sobre las políticas de inclusión social que contribuyeron a su
ingreso a la universidad; (3) su experiencia como estudiante de medicina e interacciones con
sus compañeros; (4) su interacción con los sectores de la universidad, en sus mostradores.
Los resultados indican un cambio en el perfil socioeconómico de las universidades públicas
desde el gobierno de Lula y la entrada de “estudiantes improbables”, a través de la Ley de
Cuotas y otras políticas dirigidas a las familias. También revelan ventanas discriminatorias y
estigmas que se procesan a partir de la reproducción de desigualdades en el proceso de
implementación de políticas.
PALABRAS-CLAVE
:
Implementación de políticas públicas. Trayectorias escolares.
Desigualdad y oportunidades educativas. Universidad pública.
Introduction
This article, initially, weaves together some problematizations and tensions regarding
the access of students from different social, cultural and economic backgrounds to university:
how do students with unlikely trajectories, enrolled in federal universities, interact with the
State and social policies throughout their trajectory, as recipients of these policies? What
difficulties do they face with the state bureaucracy to have their rights guaranteed? What
perceptions do they have about their schooling and social inclusion?
The article analyzes the trajectory of José
3
, a popular student enrolled in a medical
course, his experiences and interactions with the discriminating windows in a university in
Minas Gerais and how (and why) he moves to another university in the same state to deviate
from the stigmas and inequalities he faces. From this perspective, we analyze his perception
of the dynamics associated with the implementation processes of social inclusion programs
throughout his school career in basic education and, already at university, we discuss how the
discriminating windows within the state affect these dynamics.
3
Fictitious name in order to preserve identity and ensure anonymity, according to research ethics protocols.
image/svg+xml
“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1275
According to Jaccoud (2005), since the election of President Luiz Inácio Lula da Silva
(2003-2010), we have witnessed the strengthening of the Brazilian Social Protection System,
whose goal was to equalize access to opportunities and confront social risks, poverty and the
destruction of rights. This social protection network contributed to what Kerstenetzky (2008)
calls the correction of socioeconomic inequalities, based on the idea that reducing inequality
would contribute to the insertion of a significant portion of the population into the social
fabric.
In the educational field, the Lula and Dilma Rousseff governments (2011-2016)
effectively treated education as a right, through policies established for all levels, stages, and
modalities of education, with emphasis on basic and higher education, in dialogue with
representatives of civil society, and in increasing the percentage destined to direct public
investment. Senkevics (2021) states that the unprecedented expansion of places and
enrollments in higher education, in addition to the implementation of inclusive policies in
both public and private universities, contributed to a considerable increase in the number of
young people from low-income backgrounds.
From the early 1990s on, Sociology of Education has focused on these questions,
interested in understanding who these students are, their trajectories, and their strategies for
school longevity until they reach university. The works of Portes (1993), Viana (1998), Silva
(1999), and Zago (2006) stand out, based on the literature that deals with the school success
of "improbable" students”
4
of popular classes through trajectories that are often conflictive
and unequal.
From the perspective of the implementation of public policies, the presence of these
young people in universities may be submerged in the dyad (1) expansion of access and (2)
effects revealed from bureaucratic limits associated with the reproduction of inequalities. The
interaction between users/recipients of public policies aimed at low-income citizens and the
institutions that offer/implement them may reveal stigmas and discriminations, at the same
time that it collaborates to the practical regulation of the behaviors that constitute it. Thus, one
can speak of inequality implemented in the policies at the
guichês
5
, concept used by Dubois
(2019) to recall windows or tables through which the interactions of subjects with the State
are performed and, also, to report to a symbolic place of domination and revelation of stigmas
4
BernanrdLahire (1997), sociologist and professor at the University of Lyon, has contributed to the construction
of the understanding of the concept of school trajectories, in his work "School Success in Popular Backgrounds:
The Reasons of the Improbable", where he deepens the concept of improbable success of popular class students.
5
Dubois (2019) asserts that at the
guichês
, institutions assume the ability to shape citizens from the moment
institutional practices are shared in unequal and silent ways that reproduce social inequalities.
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1276
that are processed in these relations. By dialoguing with the literature in these fields, this
article articulates, therefore, the references and evidence from the Sociology of Education
with the discussions about policy implementation and the reproduction of social inequalities.
According to Hirata (2014), Oliveira (2017), and Laisner
et al
., (2021), these issues
are directly articulated with intersectionally intertwined social markers - gender, race, and
patriarchal structures, and the way specific actions and policies generate oppressions,
constituting dynamic aspects of disempowerment and stigmatizing practices - we understand
that the research subject, the narrator, could not be randomly selected. Due to the objectives
of the research, it was necessary, then, to "find", in this group of students enrolled in a highly
selective course, one who had this profile. Based on surveys with students and professors
linked to the medical course, we found José, a typical representative of this universe.
We analyze, then, his trajectory as a student coming from a family in poverty and his
passage through two federal universities (the first, a medium-sized university where he
enrolled in 2016 and left in 2020, the focus of the reports; and the second, a large university,
where he has been enrolled since 2021), both located in the state of Minas Gerais. José is a
28-year-old black male. His father is a receptionist in a pousada and his mother is a
housewife. José comes from a poor family in the north of Minas Gerais, which has benefited
from the
Bolsa Família
Program for more than ten years. He entered the university through
the quota policy and is a user of the university student assistance programs.
The research developed by Senkevics (2021) analyzes the transformations that have
marked the recent expansion of the Brazilian higher education system, based on quantitative
data concentrated in the period from 1991 to 2020, in dialogue with a literature review. The
author lists five main trends: democratization of access, institution of affirmative action,
public-private imbalance, expansion of distance learning, and horizontal stratification. The
author states that the unprecedented expansion of vacancies and enrollments in higher
education, together with the institutional diversification of supply and inclusive policies, has
led to the heterogenization of the student body and a growing horizontal stratification. It is in
this context that José is inserted, one of the thousands of students from working class
backgrounds, black and brown, who became part of higher education institutions in Brazil as
a result of the policies of social protection and expansion and democratization of this
education modality. According to Pires (2019), the processes of implementation of social
policies, while mitigating inequalities, can reproduce them.
image/svg+xml
“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1277
The research, qualitative in nature, has its methodological proposal supported by the
experiential model, from new epistemological and methodological perspectives for the
analysis of public policies, proposed by Lejano (2012). Likewise, the perspective of Dubois
(2019), from his fieldwork on the bureaucratic encounters between subjects of popular strata
and the State through the counters, and the contributions of Gofmann (1982), on the
stigmatizing interactions between citizens and the State, favored the construction of the
methodological path of this article. The use of narratives proposed by Maynard-Moody and
Musheno (2003), as a methodological proposal for understanding the interactions existing in
the process of policy implementation, also subsidized the methodological proposal of this
article.
As a methodological instrument, an in-depth narrative interview was carried out
which, according to Jovchelovitch and Bauer (2002), can be classified as a qualitative
research method, materialized as a form of non-structured, in-depth interview with specific
characteristics, such as, for example, a semi-autonomous process, based on telling and
listening to the story with minimal influence from the researcher. The interview-narrative
contemplated four dimensions: (1) his family and school trajectory before entering the
university; (2) strategies and policies of social inclusion that contributed to his entry; (3) his
daily experience as a medical student and interactions with colleagues, professors, employees;
(4) his interaction with sectors and agencies in the university, in its counters and (5) his
motivations and strategies to change institution
.
The article is organized in four sections, besides the introduction and final
considerations. In the first section, we present a brief discussion on social protection policies
and their contribution to the arrival of students from popular strata in public universities. The
second section brings a review about bureaucratic encounters in the process of policy
implementation from the perspective of discriminating and stigmatizing counters. Finally, the
fourth section presents the results of the research based on the narrative interview conducted
with the student, in which the trajectory of José's family and his "improbable" entry into the
public university are exposed, as well as his experiences with the discriminating counters at
the university.
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1278
From social protection policies to public universities: the arrival of poor students to
higher education
As Oliveira, A. L. M. (2019) points out, the presidential election of Luiz Inácio Lula
da Silva (2003-2010) inaugurates a period that conjures an institutional framework that
guarantees, for the first time, social policies for the poor population, education as a right, the
adoption of a profusion of public policies for higher education, especially from 2003 onwards.
Kerstenetzky (2008) states that the inclusion of social policies in the governmental
agenda contributed to the correction of socioeconomic inequalities. The author argues that the
promotion of equal opportunities in Brazil is one of the keys to promote social mobility. In
this direction, Lavinas and Gentil (2018) state that, between 2003 and 2014, there were
several signs of economic growth and efforts to eradicate poverty and expand opportunities
and social inclusion: the increase in the creation of formal jobs; the increase in public
investment in education and health; the growth in adherence to health plans; the increase in
the purchasing power of the minimum wage by more than 70%; and the success of the Bolsa
Família program and other inclusion programs, such as
Minha Casa Minha Vida
,
Programa
de Prestação Continuada
,
Luz para Todos
, among others.
Regarding the advances in the field of education, Costa, Silveira, Costa, and
Waltenberg (2021) show that, in 2015, the schooling rate for students aged 7 to 14 years in
Brazil reached 98.8%; for adolescents aged 15 to 17 years, it reached 85%. From this
perspective, such expansion, coupled with social inclusion policies aimed at families living in
poverty, has contributed to young people considered unlikely to have a glimpse of the
opportunity to access higher education.
The period was marked by the creation of numerous federal universities, funded by the
Support Program for Restructuring and Expansion Plans of Federal Universities (REUNI). In
2018, a decade after the creation of the Federal Institutes through Law No. 11.892/2008
(BRASIL, 2008), which created the Federal Network of Professional, Scientific and
Technological Education, it was possible to observe the expansion of Brazilian technical
schools, which, by 2020, had more than 600 campuses. The expansion of private higher
education was made possible from the granting of scholarships, tax waivers and loans to
students, through the University for All Program (PROUNI, in the Portuguese acronym) and
the Higher Education Student Financing Fund (FIES, in the Portuguese acronym).
image/svg+xml
“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1279
The V Pesquisa de Perfil Socioeconômico e Cultural dos Graduandos(a) das
Graduandos(a) das Instituições Federais de Ensino Superior, organized by FONAPRACE
6
(2019), provides information regarding the socioeconomic and cultural profile of its
undergraduates. The data reveals that there has been an important change in the
socioeconomic profile of its students, reducing its historical inequality and elitism: between
2003 and 2017, Brazilian higher education witnessed an expansion that resulted in an increase
of more than 260% in vacancies offered. The Quotas Policy has contributed to minimize
inequality of access and social inclusion and the presence of greater diversity among students
in Brazilian higher education.
Through Law No. 12,711, of August 29, 2012 (BRASIL, 2012), vacancies began to be
reserved in a percentage for students from public schools and ethnic minorities, those said to
be "unlikely" in universities until a few years ago. Data from the National Association of
Directors of Federal Institutions of Higher Education (ANDIFES) on the black population in
universities show that the combination REUNI and affirmative action have caused the number
of black students, which in 2003 was 27,693, to advance to 143,599 in 2018 (FONAPRACE,
2019).
Regarding the socioeconomic profile of students from families in poverty and/or
vulnerable, the denomination used by FONAPRACE (2019) uses the variable "Gross monthly
income of the family group and per capita monthly income" and considers that students in
social vulnerability are in the per capita monthly family income category of "up to one and a
half minimum wages". In 2019, the survey revealed that 53.5% of undergraduates in the IFES
are in the per capita monthly family income range of up to one minimum wage, and 70.2%,
are in the per capita monthly family income range of up to one and a half minimum wages.
Historically, one can observe through the data that the percentage of students belonging to
families with monthly per capita income up to 1 and a half minimum wage jumped from
44.3% in 1996 to 66.2% in 2014, reaching 70.2% in 2018, the highest level in the historical
series. Part of this movement stems from the strong expansion of public higher education and
investment in social policies for the poorest layers of the population, since the early 2000s.
It is important to highlight, however, that research also reveals the inequalities
associated with this inclusion process. Costa, Silveira, Costa, and Waltenberg (2021) call
attention to the need for a horizontal democratization of universities, through the maintenance
of conditions of access and permanence of students from popular strata in elite university
6
Observatory of the National Forum of Pro-Rectors of Student Affairs.
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1280
courses, historically attended by white sectors of society and children of families from more
favored social classes.
The bureaucratic encounters in the process of policy implementation: the discriminating
and stigmatizing counters
The discussion on public policies starts from the assumption that they travel a path
until they are made available to their addressees, through a chain that mobilizes a set of
government actors, involving, also, characteristics of the bureaucracy itself. When analyzing
implementation from the perspective of the agents who work at the tip - the street bureaucrats
or street-level bureaucrats, according to Lipsky (1980 apud OLIVEIRA, B. R., 2019) states
that the process of policy implementation in the context of practice involves distinct actors
who have distinct agendas and interests, coupled with their beliefs, values, and perceptions.
The author further asserts that the meanings attributed to policies throughout this
implementation trajectory go through particular "lenses." This perspective brings to light the
understanding that this dynamic is complex, since there are a range of particularities that
involve the decision-making process of the actors, as well as how they interpret the policy and
their own role, as implementers or beneficiaries of the policies.
According to Pires (2019), until the policy is made available, its objectives are
conditioned to a set of factors that may not have been foreseen in its formulation. Thus, they
may produce effects that were not foreseen in the formulation and implementation processes,
reproducing or exacerbating inequalities. Research on unrevealed effects informs us that
implementation produces desirable social effects, and also undesirable ones, which arise from
negative externalities. Even though they are born from the norm and the rule, their everyday
life concerns the way bureaucrats translate politics and how these issues affect the interaction
with citizens - the recipients of these policies. In this direction, Oliveira and Lacerda (2019)
state that there are invisible aspects inherent to the implementation process and that this
invisibility can be understood as the production of positive and negative externalities, the side
effects generated by the operationalization of actions within the scope of state action, at the
local level.
In addressing these issues, Maynard-Moody and Musheno (2003), state that the
implementing agents have their decisions directly linked to their values, beliefs, and their
value systems. For the authors, the implementation processes trigger their moral values,
image/svg+xml
“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1281
which affects the way they act and decide. When analyzing the performance of agents who act
at the tip and their "educational" attribution before citizens, Auyero (2012) characterized users
as "learners" or "patients" of the state, from the perspective that sanctions, demands, value
judgments, and power inequality are personified in bureaucrats.
From this perspective, implementation can be understood as a political process. The
politics that takes place in implementation is described by Vincent Dubois (2019) as capable
of perpetuating positions of subordination in structural relations of domination, in the context
of serving the working classes. The relationships that exist at the counters and the judgments
that come into existence from these relationships are capable of producing what the author
calls "policies at the
guichê
." More than that, they reveal a "
guichê
policy" that aims to
reproduce the inequality already existing between the two sides of the counter, through what
the author calls a mode of operation of a public intervention that aims to regulate these
populations.
The author states that, in the dynamics of implementation, "tricks" can occur that
allow governments to sustain a "double game", which, despite the discourse of inclusion of
the working class population, is sabotaged by what he calls "
guichê
policies" exercised by
front-line workers in the process of public policy implementation. The expression "
guichê
discriminant" refers to the perspective of the French sociology of the guichet (sociologie du
guichet) and can bring new analytical lenses to the Brazilian debate on issues such as public
policy implementation, especially when it comes to the relationship between street-level
bureaucrats and the working-class population. In his studies on these dynamics, Dubois
(2019) clarifies the concept of
guichê
and analyzes how such interactions can contribute to the
reproduction of inequalities in the context of public policy implementation. Goffman (1982),
when analyzing the "interactional order" and its relations with social structures, states that
interactions should be seen as a relevant unit of analysis for sociological research in general.
For the author, there is a close relationship between these interactions and social structures, as
if characteristics of these social structures could be reproduced. It is in this perspective that,
supporting Dubois' ideas, Goffman (1982) reinforces that these interactions can produce
unequal, silent and stigmatizing relations, aggravating social inequalities.
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1282
The trajectory of a family and an "unlikely" student who "broke the bubble" of access
to public university
José is twenty-eight years old. In 2019, he started his first medical course at a
medium-sized university in Minas Gerais, and in 2021, he decided, because of financial
difficulties and issues associated with the stigmas suffered at this institution, to attend medical
school at a large university in Minas Gerais. The student reports that, alongside his brother,
who is two years older, he had a very poor childhood. His father, who did not finish the first
years of elementary school, was always the one who worked and supported the family as a
receptionist in a hostel. His mother, who finished high school and was a teacher, worked for a
short time in a daycare center when her children were small and became a "housewife", since
she understood that it was necessary to have someone to take care of her children's studies.
José relates that his family lived in a "classic adobe brick house from documentaries in
the Valley" and that the family received help from the local church to maintain the precarious
housing conditions. She says that material privations made daily life difficult, and access to
primary care policies was limited for the family, which found, for example, many difficulties
in access to health professionals, medicines, and procedures such as exams and
hospitalizations.
The social and political context of the early years of the first decade of 2000, the
period corresponding to José's childhood and adolescence, was shrouded by a new paradigm
focused on the construction of social protection policies for the population living in poverty in
Brazil. With an agenda focused on the conformation of a social protection network aimed at
addressing inequalities associated with specific publics, the Lula government inaugurated a
political moment of social change in which the State reaffirmed itself as a strategic, if not
central, actor to address problems related to citizenship, inequality, opportunities, and well-
being (JACCOUD; BICHIR; MESQUITA, 2017, p. 39).
José, who was born in 1993, reports that, starting when he was a pre-teen, his family
became eligible for the Bolsa Família Program. He says that the amount, which was used to
buy food and pay the household bills, was conditional on the two brothers' school attendance.
José recognizes that the
Bolsa Família
Program made a great contribution to their ability to
support themselves, supplementing the income from their father's salary, as well as helping
his brother and him not to drop out of school. Néri (2012) states that the
Bolsa Família
Program offered great potential for the fall of inequality in Brazil, characterizing the program
as one of the most successful public policies in the fight against social inequality. The author
image/svg+xml
“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1283
further states that the program induced families to keep up with the schooling of their
children, contributing decisively to the reduction of the intergenerational circle of poverty and
to the expansion of the years of schooling of children and youth.
In Brazil, the last two decades have been marked by the expansion of access to
Brazilian public universities, which have been receiving, in a significant way, students from
popular classes through affirmative action policies and expansion of openings. In his account,
the interviewed student explains how the inclusion policies that have been part of a social
protection network in Brazil since the first decade of the 2000s have contributed to his
trajectory, stating that "I would never have been able to get into university if there was no
ENEM (National High School Exam)," and that the Quota Policy was his "gateway" to the
public university. For him, such policies "allowed a handful of students to overcome this
trajectory of poverty and exclusion from the diploma.
However, José makes it clear that the school spaces he attended are marked in his
memory by the stigma of inequality. In his accounts, he demonstrates an idea of a school
capable of reproducing social inequalities, based on his understanding of the precariousness of
the structure, the training of his teachers, and the teaching materials to which he had access in
the school he attended.
About his access to public higher education, José pointed out two important factors
that, in his words, allowed him to "break through the bubble of the federal university". His
mother's schooling trajectory and the family's support so that he could study without worrying
about having to work to help the family financially were decisive. About his mother's
trajectory and her attempts to enter university, the student reports that she had a successful
trajectory in basic education, but was not able to get into a university. José says that growing
up hearing his mother's memories of a successful school career made him, from a very young
age, see the possibility of being a good student. In his reports, he makes it clear that his
mother's figure, the vast collection of books she had at home, and the fact that she created
reading moments with her children through her old school books, contributed to expand his
view about his school career.
By stating that the parents' investment in their children's school life is a driving
element for success in schooling, Nogueira (2021) reflects on the use of the concept of
cultural capital in explaining school inequalities as a synonym of cultural dispositions and
relationship with cultural goods. Lahire (1997) emphasizes that the presence of members with
school cultural capital in the family, by itself, is not able to produce effects in the following
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1284
generations. For this, effective and affective interactions are necessary, which, in the case of
the student interviewed, seems to be related to the access to his mother's collection of books,
the encouragement to read and study these books, and the memory of his mother's accounts of
his school success and his attempt to enter a university. In the same way that the mother's
strategies are remembered by the student, the efforts of the father, a salaried worker, so that
his son could study and "break through the university bubble," are also highlighted in his
account.
I think I was able to break through that bubble by stubbornness and effort
and by having the slightest possibility of being able to sit down and study.
There are many people who did not have this privilege that I had, you know?
My father let me, I was able to study, quietly inside the house the whole year,
studying until I was 28, without having to work, you know.?
(José).
Through the studies of Lahire (1997), Nogueira (2005), Viana (2005), Thin (2006),
and Portes and Souza, (2012), it is known that the family constitutes an indispensable social
ground to be considered in the constitution of a trajectory of school longevity, which is
corroborated with the reports of José. Such studies on family strategies for schooling have
opened up the debate, making room for the importance of considering the complexity of these
trajectories, of the subjects as the result of multiple processes of socialization, and that their
individual performance is also strategic in these processes.
According to FONAPRACE (2019), the inclusion of a large number of Brazilian
students in higher education, through policies to strengthen basic education and social
protection policies since 2003, has caused the number of "exceptions" to increase, as stated by
Piotto (2012, p. 3). In his account of being at university, in a medical course, José states, "I
am an exception of the exception." According to data from Fonaprace (2019), José is part of
the 70.2% of Brazilian working-class students who entered the public university with per
capita income of up to one and a half minimum wages. With this movement, such
composition imposes on these institutions other demands, revealed by the inequalities
associated with the permanence of these students in these spaces. For Terrail (1990), who
discussed the strategies of poor university students, the academic success of students from
popular classes involves contact with hostility in relationships and the inequality present in
these relationships. For this reason, Dubet (2001) discusses the segregative democratization of
education, from the perspective that poor students are not part of the most socially valued
educational sectors.
image/svg+xml
“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1285
In analyzing these issues based on José's account, the student states that it was not
enough to "break through the bubble," since he makes it clear that entering the university did
not make the social problems he had known since childhood disappear. The inequalities of
opportunities with regard to school are now revealed in the difficulties faced by the student to
access the assistance policies at the public university, in the interaction through its
guichês
.
Besides this, the daily coexistence with the other actors who pass through this universe also
emerges as a reproducer of inequalities and stigmas, objects of the next section.
"
I don't look like a medical student
"
:
the experiences of a student from a popular layer
with the discriminating counters at university
José idealized, since adolescence, to be a medical oncologist, or, "a doctor from the
Valley", to work in his region and give people in his community what he and his family did
not have: access to public health policies. His trajectory, between dropouts and approvals, was
extensive and tortuous: he graduated from high school in 2010 and tried, between 2011 and
2014, to be approved in Medicine. José says he is aware of "his conditions in front of those he
thought were much more prepared". Unable to pay for preparatory courses, he adopted a
calculated strategy: to enter university through a "springboard course" to get into the medical
course. In 2015, he was approved in the Mechanical Engineering course in a medium-sized
university in the interior of Minas Gerais - the "springboard" to achieve his desire to study
medicine.
In the two following years, 2016 and 2017, José reports that he took several subjects in
Portuguese, mathematics, physics, and chemistry, with the strategy of, within the Mechanical
Engineering course, having his preparatory course for a future ENEM and being approved in
Medicine. José was not approved in 2016 and in 2017, which made him request the "lock" of
the Mechanical Engineering course and return to his parents' home. Studying at home and
with support from Youtube channels, in late 2018, Jose was approved in Medicine at the same
university. In 2019, he went on to study Medicine.
The student reports that he continued to receive the housing allowance and the meal
allowance through the university restaurant, just as he did when he was enrolled in
Mechanical Engineering. In his accounts, he explains the difficulties he had regarding the
housing, since he had to "go into the bathroom and close the door to study", and that he
shared the room with four other colleagues who were studying different courses.
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1286
When asked about the student assistance policies at this university, José reports that he
had financial difficulties to stay in the course because of the absence of a maintenance grant,
which made it impossible for him to buy the handouts left by the professors in the stationery
stores that sold them, and also to pay for the bus fares for the practical activities of the course
that were held in neighborhoods far from the university. The student reports that he decided to
apply to the university for a housing allowance, because the housing hindered his studies.
Thus, he reports that in order to get this aid it was necessary to write a letter explaining why
he didn't want to live in the lodging, proving with a medical or psychological evidence the
need to live alone and/or in the city, which made him feel humiliated.
You have to write a letter, asking why you wanted to leave, you know? You
feel humiliated to be able to earn 230 reals and you can't find a place in the
city to live for 230 reals. You can't afford it. Then they ask you to write down
the reason why you want to leave the dorm. Then you have to tell them why
you want to leave, and then they will approve or not your leaving. Then they
ask that, if you have some psychological issue, some medical report, that
associates that the lodging is harming you, that you make an attachment and
send it. So, to me, it seems to be a lot of bureaucracy
(José).
Dubois (2019) states that the interactions that occur at the counter, that is,
relationships in the treatment of misery, bureaucratic roles, which at first seem impersonal,
reveal themselves to be highly permeable to the dispositions of those who perform them. The
counter revealed by the author, with its recurrent potential of symbolic violence, imposes on
individuals the conviction of their condition of subordination in relation to agents and to the
State itself, reinforcing his idea of a stigmatizing interaction, which Goffman (1982) calls
unequal and silent interactions that reproduce social inequalities. In his narrative, the student
makes it clear that the path he had to go through to request that the housing grant be converted
into housing aid was particularly humiliating. In front of the student assistance counter, he
makes it clear that he received instructions that embarrassed him on how the request should be
made.
José's experience is a clear example of the effects of the process of implementation
and reproduction of social inequalities in the provision of public services, as analyzed by Pires
(2019). The student makes it clear that writing a letter with proof that he really could not
afford to live in the accommodation in order to get a housing allowance put him through a
process of anxiety and sadness. The repetitions of patterns of exclusion also occurred,
according to the student, by the type of treatment through which he was received at the
student assistance counters. His personal perception was that he was treated with disregard,
image/svg+xml
“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1287
coldness, and haste in some situations. Thus, it becomes necessary to discuss the performance
of the implementing agents at the top, street-level bureaucrats who, with discretionary power,
can reproduce inequalities from their position in the policy-making process, or who,
according to Maynard Mood and Musheno (2003), can act from positions of power with
citizens. This is one of the reasons why "the actions of street-level bureaucrats can impact
processes of social inclusion and exclusion" (PIRES; LOTTA; TORRES JUNIOR, 2019, p.
258).
In his narrative, José states that his sense of belonging as a medical student at this
university was fragile and painful. The student reports that he went through several situations
in which he felt distanced from other colleagues because of his color or social class.
When I started the course there was that speech of the veterans, of the united
room. And then you enter with the feeling that you are part of it. But, as the
course goes on, you realize that there is a natural segmentation of the class
by social context, by socioeconomic context, there is a segmentation. You
realize that there are people who don't look at you properly. You realize that
there are people who are bothered by your presence, you know, who look at
you tolerating you being there, as if you were not worthy of being there. This
is very noticeable, you know? Among the students yes
(José).
About his classmates, he says that he felt excluded from some collective decisions,
stating that it is "like a person who is hitchhiking in a car that is not yours, you know? You
don't have any rights there. The same happened in relation to the employees of the
Department of Medicine or with other organs of the university. As an example of unequal and
discriminating distance between the popular classes and institutions, according to Dubois
(2019), José states that he experienced embarrassment with Department attendants, as
reported below:
It has happened that I am sitting there in the department, a person arrives,
with several students there, and an employee comes up to me and asks if I
was there waiting to take the contest for technicians. Why did he ask only me
if I was in the middle of all my colleagues? It is a question of visualization,
that I don't have the face of a medical student
(José).
Dubois (2020) emphasizes that "face-to-face" bureaucratic encounters between
citizens who are on both sides of the counter can reveal that all the social and moral norms
that are part of this interaction are capable of producing dynamics of classification among
citizens and, furthermore, perpetuate inequalities among them. At the counter, concrete
service and/or symbolic devices that reveal the bureaucracy and discretion of the
implementing agents, power relations, discrimination, perpetuation of inequality, and
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1288
stigmatization occur. Pires, Lotta, and Torres Júnior (2019) also reinforce on the need to
understand the processes of (re)production of social inequalities engendered in state action.
In addressing these issues, José reports that "even the position of sitting in the room is
segmented. People don't mix. You have the poor crowd and the other crowd. The student tells
about a situation in which a colleague, in the midst of several students, asked him aloud in
which course he was enrolled at the university.
Everyone said: "It's History! Geography". So you already have a character,
who is a medical student and doesn't have my characteristics, right? Nobody
talks, nobody even thinks that the guy is a medical student. So, I see that this
is something that is very complicated to try to solve. It is something that is
already structural. I think that with time, but with a lot of time, as these
students manage to get in and more students manage to have access to these
positions that today belong to other people, I think that there is a tendency to
improve in this respect.
(José).
José reports that all the stigmas related to the lack of privacy and space to study, in
addition to the "low-income situation and lack of support from the university" materialized in
the absence of a maintenance grant and difficulties encountered in relation to student housing,
made him try again to take the ENEM at the end of 2019. But this time, his goal was to study
medicine, starting in 2020, at a large university in the state of Minas Gerais. The student was
then approved in the Medicine course of this university, located in the capital of Minas
Gerais.
Even with the approval in 2020, José reports that he gave up going to the capital
because he was informed that it would be more difficult to get provisional housing allowance
until he applied for housing. The fear of not having financial resources to support himself
made him give up. So he kept his enrollment at the first university, in the interior of the state.
In March 2020, when social distancing and lockdown were proposed because of the Covid-19
pandemic, Jose returned to his parents' home. The situation was aggravated because just at
that time his father became unemployed and he could not count on any help to stay at the
university and not even at his parents' home. His perception is that the first university "let go
of poor students", which made him take a new decision: to try again the ENEM to enter
medicine in the university of the capital of Minas Gerais, starting in 2021. José, stating that he
would start the course "from scratch again", becomes a regular student of the medical course
at this large university. Even though he has migrated to another university, he recognizes that
the student assistance policies he received at the first university were fundamental for him and
image/svg+xml
“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1289
his classmates to remain there. He highlights the importance of the Food Grant for the period
he stayed there.
I think that assistance policies for poor students are necessary, however
minimal they may be. There is a university in my town. Wouldn't it have been
easier for me to get in there? There was Mechanical Engineering in my
town. Why didn't I get into Mechanical Engineering there? I went to the first
university because of the university restaurant
(José).
Just like many young people from lower social classes who are present in Brazilian
public universities, José clearly exposes, from his trajectory, that the debate about access and
permanence in public universities needs to be deepened, whether from the standpoint of
student assistance policies or a more careful look at how these policies are implemented in
these institutions.
Final remarks
Despite the methodological and analytical limits of this article, the student's narrative
contributes to reveal the historical, collective, and social dimensions in their experiences,
linked to the process of social policy implementation. Gussie Oliveira (2016, p. 95)
emphasize the importance of the notion of trajectory and the social context of the subjects,
defining it as a "strategic methodological referential for understanding social processes,
building a dialogue between temporalities and territorialities, revealing a historical, collective,
and social dimension." Thus, the student provides subsidies that allow the unveiling of the
interactions between the agents that act in the
guichês
and the social groups where these
subject transits, as well as the effects that such implementation processes can produce.
Anchored in Jaccoud (2005), Kerstenetzky (2008), Portes and Souza (2012), and
Senkevics (2021), José's narrative reveals that the social protection network in which his
family was inserted, along with the family strategies for him to have a long schooling,
contributed to "break the bubble" of highly selective courses of public university. The
presence of "unlikely" students in universities, especially public ones, marks the debate about
the expansion of openings and democratization of access to education, which imposes the
discussion about the absence of university affiliation (COULON, 2012) in Brazilian public
higher education.
From this perspective, the presence of a student from a popular stratum in a highly
selective course at a public university brought to light dynamics and stigmas associated,
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1290
simultaneously, with the inclusion strategies intended by this same social protection network,
as explained by Goffman (1982), Dubois (2019, 2020), and Pires (2019): discrimination by
gender or race, discriminating interactions in the local counters where the implementation of
policies materializes daily, and difficulties, tensions, and bureaucratic mismatches in the
processes associated with the provision of student assistance policies.
The unequal and discriminating distance between the popular classes and the
institutions can become clear among citizens who are on both sides of the counter, which can
perpetuate the loneliness present in the unlikely trajectories of success and school longevity of
students from popular classes. Dubois (2019) states that the meanings attributed in the
conduct exercised by the agents of implementation can exert a mechanism of moral
regulation, constituting symbolic effects that can produce and reproduce, through the
interactions that occur in public service, the internalization of a social value to users, with
subordinated self-image and stigmatization of these citizens.
The formulators, managers, and implementers of policies aimed at the democratization
of higher education and university permanence (at all levels and institutional levels) must
know and mitigate the effects associated with the implementation of these policies, especially
at the local level. From the same perspective, there is an urgent need to discuss the interaction
associated with the actions of public agents who work at the top, their discretionary capacity
and the inequalities that can be revealed in the dynamics processed at the counters, in the
relationship with students from lower social classes, target citizens of inclusion programs and
reduction of social asymmetries historically existing in Brazil.
REFERENCES
AUYERO, J. Patients of the state: An Ethnographic Account of Poor People is waiting.
Latin
American Research Review
,
v. 46, n. 1, p. 5-29, 2012. Available at:
https://www.jstor.org/stable/41261368. Access on: 16 May 2020.
BRASIL.
Lei n. 11.892, de 29 de dezembro de 2008
. Institui a Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2008. Available
at: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm. Access on: 14
Oct. 2021.
BRASIL.
Lei n. 12.711, de 29 de agosto de 2012
. Dispõe sobre o ingresso nas universidades
federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências.
Brasília, DF: Presidência da República, 2012. Available at:
image/svg+xml
“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1291
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm. Access on: 14 Oct.
2021.
COSTA, J.; SILVEIRA, F. G.; COSTA, R.; WALTENBERG, F. (org.).
Expansão da
educação superior e progressividade do investimento público.
Brasília, DF: Ipea, 2021.
COULON, A. O sucesso estudantil e sua avaliação: Que política universitária é possível?
In
:
SANTOS, G.; SAMPAIO, S. (org.).
Observatório da Vida Estudantil
. Estudos sobre a vida
e cultura universitárias. Salvador: EDUFBA, 2012.
DUBET, F. As desigualdades multiplicadas.
Revista Brasileira de Educação
, n.17, p.5-
19,2001. Available at: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n17/n17a01. Access on: 23 Dec. 2021.
DUBOIS, V. Políticas no guichê, políticas do guichê.
In
: PIRES, R.
Implementando
Desigualdades:
Reprodução de desigualdades na implementação de políticas públicas. Rio de
Janeiro: IPEA, 2019.
DUBOIS, V.
Lower Classes and Public Institutions
: A research program. France:
Universityof Strasbourg, 2020.
FONAPRACE.
V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos(as)
Graduandos(as) das IFES – 2018.
Brasília, DF: Observatório do Fórum Nacional de Pró-
Reitores de Assuntos Estudantis2019. 318 p. Available at: https://www.andifes.org.br/wp-
content/uploads/2019/05/V-Pesquisa-Nacional-de-Perfil-Socioeconomico-e-Cultural-dos-as-
Graduandos-as-das-IFES-2018.pdf. Access on: 14 Oct. 2021.
GOFFMAN, E.
Estigma:
Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Rio de
Janeiro: Zahar Editores S. A., 1982.
GUSSI, A. F.; OLIVEIRA, B. R. Políticas públicas e outra perspectiva de avaliação: Uma
abordagem antropológica.
Revista Desenvolvimento em Debate
, v.4, n.1, p.83-101, 2016.
Available at: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/32515. Access on: 12 Apr. 2021.
HIRATA, H. Gênero, classe e raça: Interseccionalidade e consubstancialidade das relações
sociais.
Tempo Social, revista de sociologia da USP
, v. 26, n. 1, jun. 2014. Available at:
https://www.scielo.br/j/ts/a/LhNLNH6YJB5HVJ6vnGpLgHz/?format=pdf&lang=pt
. Access
on: 4 Apr. 2021
JACCOUD, L.
Questão Social e Políticas Sociais no Brasil Contemporâneo.
Brasília, DF:
IPEA, 2005.
JACCOUD, L.; BICHIR, R.; MESQUITA, A.C. O SUAS na proteção social brasileira:
Transformações recentes e perspectivas.
Novos estud.
– CEBRAP, São Paulo, v. 36, n. 02, p.
37-53, jul. 2017. Available at:
https://www.scielo.br/j/nec/a/Vkv7r47xGw7Hd6XmZdh7HfL/abstract/?lang=pt. Access on:
15 Mar. 2021.
KERSTENETZKY, C. L. Desigualdade como questão política.
CEDE
, Texto para discussão
n. 11, 2008. Available at: https://cede.uff.br/wp-content/uploads/sites/251/2021/04/TD-001-
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1292
KERSTENETZKY-C.-2008.-Desigualdade-como-questao-politica.pdf. Available at: 12 Feb.
2021.
LAHIRE, B.
Sucesso escolar nos meios populares
: As razões do improvável. São Paulo:
Ática, 1997.
LAISNER, R. C.
etal
. O reconhecimento a partir da diferença: Olhares interseccionais para a
construção de ferramentas de avaliação de políticas públicas.
Revista AVAL
, v. 5, n. 19,
jan./jun. 2021. Available at: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/63394. Access on: 25 Oct.
2021.
LAVINAS, L. GENTIL, D. L. Brasil anos 2000: A política social sob regência da
financeirização.
Dossiê balanço crítico da economia brasileira (2003-2016).Novosestudos
– CEBRAP
,São Paulo, v. 37, n. 2, p. 191-211, maio/ago. 2018. Available at:
https://www.scielo.br/j/nec/a/5fqGSvyFTytWTNkQBJNGM3M/abstract/?lang=pt. Access on
11 Aug. 2021.
LEJANO, R.
Parâmetros para análise de políticas:
Fusão de texto e contexto. Campinas:
Arte Escrita, 2012.
LIPSKY, M.
Burocracia de nível de rua
: Dilemas do indivíduo nos serviços públicos.
Brasília, DF: Enap, 2019. Available at:
https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/4158/1/Burocracia%20de%20nível%20de%20
rua_Michael%20Lipsky.pdf. Access on: 11 Aug. 2021.
MAYNARD-MOODY, S.; MUSHENO, M.
Cops, teachers, counselors
: Narratives of street-
level judgment. Ann Arbor: Universityof Michigan Press, 2003.
NERI, M. C. A Década Inclusiva (2001-2011): Desigualdade, Pobreza e Políticas de Renda”.
Rio de Janeiro:
IPEA
, 2012. Available at:
http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/4639
.
Access on: 03 May 2020.
NOGUEIRA, M. A. O capital cultural e a produção das desigualdades escolares
contemporâneas.
Cadernos de Pesquisa
, São Paulo, v. 51, e07468, 2021. Available at:
https://www.scielo.br/j/cp/a/pdTJTSCfQhzpWjZSGGy8gqK/abstract/?lang=pt. Access on: 15
May 2020.
NOGUEIRA, M. A. A relação família-escola na contemporaneidade: Fenômeno
social/interrogações sociológicas.
Análise Social
, v. 40, n. 176, p. 563-578, 2005. Available
at: https://www.jstor.org/stable/41012165. Access on: 14 May 2020.
OLIVEIRA, A. L. M.
Educação Superior brasileira no início do século XXI
: Inclusão
interrompida? 2019. Tese (Doutorado) – IE, UNICAMP, Campinas, São Paulo, 2019.
Available at: https://repositorio.unicamp.br/Acervo/Detalhe/1088834. Access on: 14 Mar.
2021.
OLIVEIRA, B. R. A implementação de políticas educacionais no nível micro: uma análise a
partir dos profissionais da escola no contexto da prática.
Revista de Estudios Teóricos y
image/svg+xml
“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1293
Epistemológicos en Política Educativa,
v. 4, p. 1-17, 2019. Available at:
https://www.revistas2.uepg.br/index.php/retepe/article/view/12972. Access on: 22 Dec. 2021.
OLIVEIRA, B. R.; LACERDA, M. C. R. Trazendo à tona aspectos invisíveis no processo de
implementação de políticas públicas: uma análise a partir do Programa Oportunidades.
In:
PIRES, R. R. C. (org.).
Implementando desigualdades
: Reprodução de desigualdades na
Implementação de políticas públicas. Rio de Janeiro: IPEA, 2019.
PNAD. Pesquisa nacional por amostra de domicílios.
Microdados
. Rio de Janeiro: IBGE,
2019. Available at:
http://www.ibge.gov.br
. Access on: 29 Dec. 2021.
PIRES, R.
Implementando desigualdades
: Reprodução de desigualdades na Implementação
de políticas públicas. Rio de Janeiro: IPEA, 2019.
PIRES, R.; LOTTA, G.; TORRES JUNIOR, R. D. Burocracias Implementadoras e a (Re)
produção de Desigualdades sociais: perspectivas de análise no debate internacional.
In
:
PIRES, R.; LOTTA, G.; OLIVEIRA, V. E.
Burocracia e políticas públicas no Brasil
interseções analíticas.
Brasília, DF: IPEA; ENAP, 2019.
PORTES, E. A.
Estratégias escolares do universitário das camadas populares:
A
insubordinação aos determinantes. 1993. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade
de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1993.
PORTES, E. A.; SOUSA, L.
O nó da questão:
A permanência de jovens dos meios populares
no ensino superior público. Rio de Janeiro: Flacso, 2012. Available at: http:
//flacso.org.br/files/2015/03/Apresentacao_Ecio_Portes.pdf. Access on: 21 Dec. 2021.
SENKEVICS, A. A expansão recente do ensino superior: Cinco tendências de 1991 a 2020.
Cadernos de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais
, v. 3, n. 4, p. 199-246, 2021.
Available at: http://www.emaberto.inep.gov.br/ojs3/index.php/cadernos/article/view/4892.
Access on: 19 Sept. 2021.
SILVA, J. S.
Por que uns e não outros?
Caminhada de estudantes da Maré para a
universidade. 1999. Tese (Doutorado em Educação) – PUC, Rio de Janeiro, 1999.
TERRAIL, J-P. L’issuescolaire: de quelqueshistoires de transfuges.
In
: TERRAIL, J-P.
Destinsouvriers
– La fin d’uneclasse? Paris: PUF, 1990.
THIN, D. Para uma análise das relações entre famílias populares e escola: Confrontação entre
lógicas socializadoras.
Revista Brasileira de Educação
, v. 11, n. 32, p. 211- 225. maio/ago.
2006. Available at:
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/8gBjdVbfWbNyNft4Gg7THbM/abstract/?lang=pt. Access on:
10 Apr. 2021.
VIANA, M. J. B.
Longevidade escolar em famílias de camadas populares
: Algumas
condições de possibilidade. 1998. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1998. Available at:
https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/FAEC-85SJUP. Access on: 16 May 2020.
image/svg+xml
Natália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
1294
VIANA, M. J. B. As práticas socializadoras familiares como lócus de constituição de
disposições facilitadoras de longevidade escolar em meios populares.
Educação e Sociedade
,
Campinas, v. 26, n. 90, p.107-125. jan./abr. 2005. Available at:
https://www.scielo.br/j/es/a/JSkvyDGwXQJRWvyJBWdqQxN/abstract/?lang=pt. Access on:
06 May 2020.
ZAGO, N. Do acesso à permanência no ensino superior: Percursos de estudantes
universitários de camadas populares.
Revista Brasileira de Educação
, São Paulo, v. 11, n.
32, p. 226-237, 2006. Available at:
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/wVchYRqNFkssn9WqQbj9sSG/abstract/?lang=pt. Access on:
22 Mar. 2021.
How to reference this article
FERNANDES, N. R.; OLIVEIRA, B. R. “I don't look like a medical student”: Trajectory of a
student and the discriminating guiches at the public university.
Revista Ibero-Americana de
Estudos em Educação
, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-
5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111
Submitted
:
14/01/2022
Revisions required
: 07/03/2022
Approved
: 22/04/2022
Published
: 30/06/2022
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.