image/svg+xml“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade públicaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1279 “EU NÃO TENHO CARA DE ESTUDANTE DE MEDICINA”: TRAJETÓRIA DE UM ESTUDANTE E OS GUICHÊS DISCRIMINANTES NA UNIVERSIDADE PÚBLICA “NO PARECERÉ UN ESTUDIANTE DE MEDICINA”: TRAYECTORIA DE UN ESTUDIANTE Y LOS GUICHES DISCRIMINANTES EN LA UNIVERSIDAD PÚBLICA “I DON'T LOOK LIKE A MEDICAL STUDENT”: TRAJECTORY OF A STUDENT AND THE DISCRIMINATING GUICHES AT THE PUBLIC UNIVERSITY Natália Rigueira FERNANDES1Breynner Ricardo de OLIVEIRA2RESUMO:O artigo analisa a trajetória de um estudante de camada popular, as interações com guichês discriminantes em uma universidade pública mineira e suas percepções sobre seu cotidiano como estudante-alvo de políticas sociais. A partir de uma abordagem qualitativa, realizou-se uma entrevista-narrativa, contemplando quatro dimensões: (1) sua trajetória familiar e escolar antes do ingresso na universidade; (2) estratégias e percepções sobre políticas de inclusão social que contribuíram para seu ingresso na universidade; (3) sua experiência como estudante de Medicina e as interações com os pares; (4) sua interação com os setores na universidade, nos seus guichês. Os resultados indicam mudança no perfil socioeconômico nas universidades públicas a partir do governo Lula e o ingresso dos “estudantes improváveis”, por meio da Lei de Cotas e outras políticas destinadas às famílias. Revelam, também, guichês discriminantes e estigmas que se processam, a partir da reprodução de desigualdades no processo de implementação de políticas. PALAVRAS-CHAVE: Implementação de políticas públicas. Trajetórias escolares. Desigualdade e oportunidades educacionais. Universidade pública. RESUMEN:El artículo analiza la trayectoria de un estudiante de baja renta, las interacciones con contadores discriminatorios en una universidad pública de Minas Gerais y sus percepciones sobre su cotidiano como estudiante objetivo de las políticas sociales. A partir de un enfoque cualitativo, se realizó una entrevista narrativa, abarcando cuatro dimensiones: (1) su trayectoria familiar y escolar antes de ingresar a la universidad; (2) estrategias y percepciones sobre las políticas de inclusión social que contribuyeron a su ingreso a la universidad; (3) su experiencia como estudiante de medicina e interacciones con sus compañeros; (4) su interacción con los sectores de la universidad, en sus mostradores. Los resultados indican un cambio en el perfil socioeconómico de las universidades públicas desde 1Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Mariana – MG – Brasil. Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7760-7981. E-mail: natalia.fernandes@ufv.br 2Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Mariana – MG – Brasil. Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação. Doutorado em Educação (UFMG). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0956-4753. E-mail: breynner@ufop.edu.br
image/svg+xmlNatalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1280 el gobierno de Lula y la entrada de “estudiantes improbables”, a través de la Ley de Cuotas y otras políticas dirigidas a las familias. También revelan ventanas discriminatorias y estigmas que se procesan a partir de la reproducción de desigualdades en el proceso de implementación de políticas.PALABRAS-CLAVE: Implementación de políticas públicas. Trayectorias escolares. Desigualdad y oportunidades educativas. Universidad pública. ABSTRACT:The article analyzes the trajectory of a low-income student, the interactions with discriminating counters in a public university in Minas Gerais and his perceptions about his daily life as a target student of social policies. Based on a qualitative approach, a narrative interview was carried out, covering four dimensions: (1) her family and school trajectory before entering the university; (2) strategies and perceptions about social inclusion policies that contributed to their admission to university; (3) your experience as a medical student and interactions with peers; (4) its interaction with the sectors at the university, at its counters. The results indicate a change in the socioeconomic profile in public universities since the Lula government and the entry of “unlikely students”, through the Quota Law and other policies aimed at families. They also reveal discriminating windows and stigmas that are processed from the reproduction of inequalities in the policy implementation process.KEYWORDS: Implementation of public policies. School trajectories. Inequality and educational opportunities. Public university. IntroduçãoEste artigo, tece, inicialmente, algumas problematizações e tensionamentos no que se refere ao acesso de estudantes de diferentes contextos sociais, culturais e econômicos na universidade:como estudantes com trajetórias improváveis, matriculados em universidades federais, interagem com o Estado e com as políticas sociais ao longo de sua trajetória, enquanto destinatários dessas políticas? Que dificuldades enfrentam junto à burocracia estatal para terem seus direitos garantidos? Que percepções têm sobre seus percursos de escolarização e inclusão social? O artigo analisa a trajetória de José3, um estudante de camada popular matriculado no curso de medicina, suas experiências e interações com os guichês discriminantes em uma universidade mineira e como (e porque) muda para outra universidade do mesmo estado para desviar-se dos estigmas e desigualdades enfrentados. A partir desse olhar, analisamos sua percepção sobre as dinâmicas associadas aos processos de implementação de programas de 3Nome fictício a fim de preservar a identidade e garantir o anonimato, conforme protocolos éticos de pesquisa.
image/svg+xml“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade públicaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1281 inclusão social ao longo de sua trajetória escolar na educação básica e, já na universidade, discutimos como os guichês discriminantes no âmbito do Estado afetam essas dinâmicas. Segundo Jaccoud (2005), a partir da eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), presenciou-se o fortalecimento do Sistema Brasileiro de Proteção Social, cujo objetivo foi equalizar o acesso a oportunidades e o enfrentamento de riscos sociais, da pobreza e da destruição de direitos. Essa rede de proteção social contribuiu para o que Kerstenetzky (2008) chama de correção das desigualdades socioeconômicas, a partir de uma ideia de que a diminuição da desigualdade contribuiria para a inserção de parcela significativa da população no tecido social. No campo educacional, os governos Lula e Dilma Rousseff (2011-2016) trataram, efetivamente, a educação como direito, através de políticas estabelecidas para todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, com ênfase na educação básica e superior, no diálogo com representantes da sociedade civil e no aumento do percentual destinado ao investimento público direto. Sobre as políticas voltadas para as universidades, Senkevics (2021), afirma que a expansão sem precedentes de vagas e matrículas na educação superior, além da implementação de políticas inclusivas tanto das universidades públicas como privadas, contribuiu para que o número de jovens de camadas populares aumentasse consideravelmente. A partir dos primeiros anos da década de 1990, a Sociologia da Educação tem se debruçado sobre essas questões, interessada em compreender quem são esses estudantes, quais são suas trajetórias e suas estratégias de longevidade escolar até chegar na universidade. Destacam-se os trabalhos de Portes (1993), Viana (1998), Silva (1999) e Zago (2006), baseados na literatura que trata de sucesso escolar de estudantes “improváveis”4de camadas populares através de trajetórias, muitas vezes, conflituosas e desiguais. Sob a perspectiva da implementação de políticas públicas, a presença desses jovens nas universidades pode estar submersa na díade (1) ampliação do acesso e (2) efeitos revelados a partir de limites burocráticos associados à reprodução de desigualdades. A interação entre usuários/destinatários das políticas públicas voltadas para os cidadãos de camadas populares e as instituições que as ofertam/implementam pode revelar estigmas e discriminações, ao mesmo tempo em que colabora para a regulação prática dos comportamentos que o constituem. Assim, 4Bernanrd Lahire (1997), sociólogo e professor da Universidade de Lyon, contribuiu para a construção da compreensão do conceito de trajetórias escolares, em sua obra “Sucesso Escolar nos Meios Populares: as razões do improvável”, onde aprofunda o conceito de sucesso improvável de estudantes de classes populares.
image/svg+xmlNatalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1282 pode-se falar em desigualdade implementada nas políticas nos guichês5, conceito utilizado por Dubois (2019) para recordar janelas ou mesas pelas quais são realizadas as interações dos sujeitos com o Estado e, também, para reportar a um lugar simbólico de dominação e revelação de estigmas que se processam nessas relações. Ao dialogar com a literatura nesses campos, esse artigo articula, portanto, os referenciais e evidências provenientes da Sociologia da Educação com as discussões sobre a implementação de políticas e a reprodução de desigualdades sociais. De acordo com Hirata (2014), Oliveira (2017) e Laisner et al.(2021), essas questões estão diretamente articuladas com marcadores sociais entrelaçados de forma interseccional – gênero, raça e estruturas patriarcais, e à forma como ações e políticas específicas geram opressões, constituindo aspectos dinâmicos de desempoderamento e práticas estigmatizantes – entendemos que o sujeito da pesquisa, o(a) narrador(a), não poderia ser selecionado(a) aleatoriamente. Em função dos objetivos da pesquisa, foi preciso, então, “encontrar”, nesse grupo de alunos(as) matriculado(as) em um curso de alta seletividade6, um(a) que tivesse esse perfil. A partir de sondagens com alunos(as) e professores(as) vinculados(as) ao curso de medicina, chegamos à José, um típico representante desse universo. Analisamos, então, sua trajetória como estudante oriundo de uma família em situação de pobreza e sua passagem por duas universidades federais (a primeira, uma universidade de médio porte onde se matriculou em 2016 e saiu em 2020, foco dos relatos; e a segunda, uma universidade de grande porte, onde se encontra matriculado desde 2021), ambas localizadas no estado de Minas Gerais. José é um homem negro de 28 anos. Seu pai é recepcionista em uma pousada e sua mãe, dona de casa. José veio de uma família pobre do norte de Minas, que foi beneficiada pelo Programa Bolsa Família por mais de dez anos. Seu ingresso na universidade se deu por meio da política de cotas e é usuário dos programas de assistência estudantil universitária. A pesquisa desenvolvida por Senkevics (2021) analisa as transformações que marcaram a expansão recente do sistema de ensino superior brasileiro, baseando-se em dados quantitativos concentrados no período de 1991 a 2020, em diálogo com uma revisão da literatura. O autor elenca cinco tendências principais: democratização do acesso, instituição de ações afirmativas, desequilíbrio público-privado, ampliação do ensino a distância e estratificação horizontal. O 5Dubois (2019) afirma que, nos guichês,as instituições assumem a capacidade de moldar os cidadãos a partir do momento em que as práticas institucionais são compartilhadas de forma desigual e silenciosa que reproduz as desigualdades sociais. 6Piotto (2010) analisa as trajetórias escolares e experiências universitárias de estudantes de camadas populares em cursos de alta seletividade, versando sobre trajetórias marcadas por novas possibilidades e perspectivas, mas, também, por humilhação e desenraizamento sofridos por esses estudantes.
image/svg+xml“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade públicaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1283 autor afirma que a expansão sem precedentes de vagas e matrículas no ensino superior, em conjunto com a diversificação institucional da oferta e políticas inclusivas, levou à heterogeneização do público discente e uma crescente estratificação horizontal. É nesse contexto que José se insere, um dos milhares de estudantes de camadas populares, negros e pardos, que passaram a fazer parte das instituições de educação superior no Brasil em decorrência das políticas de proteção social e de expansão e democratização dessa modalidade de ensino. Segundo Pires (2019), os processos de implementação de políticas sociais, ao mesmo tempo que mitigam desigualdades, podem reproduzi-las. A pesquisa, de cunho qualitativo, tem sua proposta metodológica amparada no modelo experiencial, a partir de novas perspectivas epistemológicas e metodológicas para a análise de políticas públicas, proposto por Lejano (2012). Da mesma forma, a perspectiva de Dubois (2019), a partir de seus trabalhos de campo sobre os encontros burocráticos entre sujeitos de camadas populares e o Estado através dos guichês, e as contribuições de Gofmann (1982), sobre as interações estigmatizantes entre cidadãos e o Estado, favoreceram a construção do caminho metodológico desse artigo. O uso das narrativas proposto por Maynard-Moody e Musheno (2003), enquanto proposta metodológica para compreensão das interações existentes no processo de implementação de políticas, também subsidiou a proposta metodológica do artigo. Como instrumento metodológico foi realizada uma entrevista-narrativa em profundidade que, segundo Jovchelovitch e Bauer (2002), pode ser classificada como método de pesquisa qualitativa, materializada como uma forma de entrevista não estruturada, de profundidade e com características específicas, como, por exemplo, um processo semiautônomo, baseado no contar e escutar história com influência mínima do pesquisador. A entrevista-narrativa contemplou quatro dimensões: (1) sua trajetória familiar e escolar antes de seu ingresso na universidade; (2) estratégias e políticas de inclusão social que contribuíram para seu ingresso; (3) sua experiência cotidiana como estudante de Medicina e as interações com colegas, professores, funcionários; (4) sua interação com os setores e órgãos na universidade, nos seus guichês e (5) suas motivações e estratégias para mudar de instituição.O artigo está organizado em quatro seções, além da introdução e das considerações finais. Na primeira seção, apresentamos uma breve discussão sobre políticas de proteção social e sua contribuição para a chegada de estudantes de camadas populares na universidade pública. A segunda seção traz uma revisão sobre encontros burocráticos no processo de implementação de políticas sob a ótica dos guichês discriminantes e estigmatizantes. Finalmente, a partir da quarta seção, são apresentados os resultados da pesquisa a partir da entrevista narrativa
image/svg+xmlNatalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1284 realizada com o estudante, na qual é exposta a trajetória da família de José e sua entrada “improvável” na universidade pública, além de suas experiências com os guichês discriminantes na universidade. Das políticas de proteção social à universidade pública: a chegada dos estudantes de camadas populares à educação superior Segundo aponta Oliveira, A. L. M. (2019), a eleição presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) inaugura um período que conjuga um arcabouço institucional que garante, pela primeira vez, políticas sociais para a população pobre, a educação como direito, a adoção de uma profusão de políticas públicas para a educação superior, principalmente a partir de 2003. Kerstenetzky (2008) afirma que a inclusão das políticas sociais na agenda governamental contribuiu para a correção das desigualdades socioeconômicas. A autora defende que a promoção da igualdade de oportunidades no Brasil é uma das chaves para se promover a mobilidade social. Nessa direção, Lavinas e Gentil (2018) afirmam que, entre 2003 e 2014, diversos foram os sinais de crescimento econômico e de esforços para erradicação da pobreza e ampliação de oportunidades e inclusão social: o aumento na criação de empregos formais; o aumento do investimento público em educação e saúde; o crescimento da adesão a planos de saúde; a elevação do poder de compra do salário mínimo em mais de 70% e o êxito do programa Bolsa Família e outros programas de inclusão, como Minha Casa Minha Vida, Programa de Prestação Continuada, Luz para Todos, dentre outros. Com relação aos avanços no campo da educação, Costa, Silveira, Costa e Waltenberg (2021) mostram que, em 2015, a taxa de escolarização de estudantes de 7 a 14 anos no Brasil chegou a 98,8%; a de adolescentes de 15 a 17 anos, chegou a 85%. Nessa perspectiva, tal expansão, conjugada às políticas de inclusão social voltadas às famílias em situação de pobreza, contribuiu para que os jovens considerados improváveis vislumbrassem à oportunidade de acesso à educação superior. O período foi marcado pela criação de inúmeras universidades federais, financiadas pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). Em 2018, um decênio após a criação dos Institutos Federais por meio da Lei nº 11.892/2008 (BRASIL, 2008), que criou a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, foi possível observar a expansão das escolas técnicas brasileiras, que, até 2020, contava com mais de 600 campi.A ampliação da educação superior privada foi possibilitada a partir da concessão de bolsas, renúncia fiscal e empréstimos aos estudantes, através do
image/svg+xml“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade públicaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1285 Programa Universidade Para Todos (PROUNI) e do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES). A V Pesquisa de Perfil Socioeconômico e Cultural dos(as) Graduandos(a) das Instituições Federais de Ensino Superior, organizado pelo FONAPRACE7(2019), fornece informações relativas ao perfil socioeconômico e cultural de seus graduandos. Os dados revelam que houve uma mudança importante no perfil socioeconômico de seus estudantes, reduzindo sua histórica desigualdade e elitismo: entre 2003 e 2017, a educação superior brasileira presenciou uma expansão que resultou em um aumento em mais de 260% nas vagas ofertadas. A Política de Cotas contribuiu para minimizar a desigualdade de acesso e inclusão social e presença de uma maior diversidade entre estudantes na educação superior brasileira. Por meio da Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012 (BRASIL, 2012), vagas passaram a ser reservadas em um percentual para estudantes de escolas públicas e para minorias étnicas, aqueles ditos “improváveis” nas universidades até poucos anos atrás. Os dados da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) sobre a população preta nas universidades demonstram que a combinação REUNI e ações afirmativas fizeram com que o número de estudantes pretos que, em 2003, era de 27.693, avançasse para 143.599 em 2018 (FONAPRACE, 2019). Com relação ao perfil socioeconômico dos estudantes provenientes de famílias em situação de pobreza e/ou vulneráveis, a denominação utilizada pela FONAPRACE (2019) utiliza a variável “Renda mensal bruta do grupo familiar e renda mensal per capita” e considera que os estudantes em vulnerabilidade social se encontram na categoria renda familiar mensal per capitade “até um e meio salário mínimo”. Em 2019, a pesquisa revelou que que 53,5% dos(as) graduandos(as) das IFES estão na faixa de renda mensal familiar per capitade até 1 salário mínimo, e 70,2%, estão na faixa de renda mensal familiar per capitade até 1 e meio salário mínimo. Historicamente, pode-se observar, através dos dados, que o percentual de estudantes pertencentes a famílias com renda mensal per capitaaté 1 e meio salário mínimo saltou de 44,3%, em 1996, para 66,2% em 2014, alcançando 70,2% em 2018, o maior patamar da série histórica. Parte desse movimento deriva da forte expansão da educação superior pública e do investimento em políticas sociais para as camadas mais pobres da população, desde o início da década de 2000. É importante destacar, contudo, que as pesquisas também revelam as desigualdades associadas a esse processo de inclusão. Costa, Silveira, Costa e Waltenberg (2021) chamam 7Observatório do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Estudantis.
image/svg+xmlNatalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1286 atenção para a necessidade de uma democratização horizontal das universidades, através de manutenção de condições de acesso e de permanência de estudantes de camadas populares em cursos universitários de elite, historicamente frequentados por setores da sociedade brancos e filhos de famílias de classes sociais mais favorecidas. Os encontros burocráticos no processo de implementação de políticas: os guichês discriminantes e estigmatizantes A discussão sobre as políticas públicas parte do pressuposto de que percorrem um caminho até que sejam disponibilizadas para seus destinatários, através de uma cadeia que mobiliza um conjunto de atores governamentais, envolvendo, também, características da própria burocracia. Ao analisar a implementação sob a perspectiva dos agentes que atuam na ponta – os burocratas de rua ou os street-level bureucrats, conforme Lipsky (1980 apud OLIVEIRA, B. R., 2019) afirma que o processo de implementação de políticas no contexto da prática envolve distintos atores que têm agendas e interesses distintos, conjugados com suas crenças, valores e percepções. O autor afirma ainda que os sentidos atribuídos às políticas em toda essa trajetória de implementação perpassam “lentes” particulares. Essa perspectiva traz à tona a compreensão de que essa dinâmica é complexa, já que há uma gama de particularidades que envolvem o processo decisório dos atores, bem como a forma como interpretam a política e seu próprio papel, como implementadores ou beneficiários das políticas. Segundo Pires (2019), até que a política seja disponibilizada, seus objetivos ficam condicionados a um conjunto de fatores que podem não ter sido previstos em sua formulação. Assim, podem produzir efeitos que não estavam previstos nos processos de formulação e implementação, reproduzindo ou agravando desigualdades. Pesquisas sobre efeitos não revelados informam que a implementação produz os efeitos sociais desejáveis e, também, os indesejáveis, que nascem de externalidades negativas. Mesmo nascendo da norma e da regra, seu cotidiano diz respeito à forma como os burocratas traduzem a política e como essas questões afetam a interação com os cidadãos – os destinatários dessas políticas. Nessa direção, Oliveira e Lacerda (2019) afirmam que há aspectos invisíveis inerentes ao processo de implementação e que essa invisibilidade pode ser compreendida como a produção de externalidades positivas e negativas, os efeitos colaterais gerados pela operacionalização das ações no âmbito da ação estatal, no nível local. Ao tratar dessas questões, Maynard-Moody e Musheno (2003), afirmam que os agentes implementadores têm suas decisões diretamente ligadas aos seus valores, crenças e seus
image/svg+xml“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade públicaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1287 sistemas de valores. Para os autores, os processos de implementação acionam seus valores morais, o que afeta a forma como agem e decidem. Ao analisar a atuação dos agentes que atuam na ponta e sua atribuição “educativa” diante dos cidadãos, Auyero (2012) caracterizou os usuários como “aprendizes” ou “pacientes” do Estado, a partir da perspectiva de que as sanções, exigências, julgamentos de valor e desigualdade de poder são personificados nos burocratas. Diante dessa perspectiva, a implementação pode ser compreendida como um processo político. A política que se faz na implementação é descrita por Vincent Dubois (2019) como capaz de perpetuar posições de subordinação em relações estruturais de dominação, no âmbito do atendimento às camadas populares. As relações existentes nos guichês e os julgamentos que passam a existir a partir dessas relações são capazes de produzir o que o autor chama de “políticasnoguichê”. Mais do que isso, são reveladoras de uma “política doguichê”, que tem a finalidade de reproduzir a desigualdade já existente entre os dois lados do guichê, através do que o autor chama de um modo de operação de uma intervenção pública que tem o objetivo de regular essas populações. O autor afirma que, nas dinâmicas da implementação, podem ocorrer “truques” capazes de permitir que governos sustentem um “jogo duplo”, que, apesar do discurso de inclusão da população de camadas populares, é sabotado pelo que chama de “políticas do Guichê” exercidas na atuação dos trabalhadores de linha de frente no processo de implementação de políticas públicas. A Expressão guichê discriminante refere-se à perspectiva da sociologia do guichê francesa (sociologie du guichet) e pode trazer novas lentes analíticas para o debate brasileiro sobre temas como implementação de políticas públicas, principalmente quando se trata da relação entre os burocratas de rua e a população das classes populares. Em seus estudos sobre essas dinâmicas, Dubois (2019) esclarece o conceito de guichêe analisa como tais interações podem contribuir para a reprodução de desigualdades no contexto da implementação de políticas públicas. Goffman (1982), ao analisar a “ordem interacional” e as suas relações com as estruturas sociais, afirma que as interações devem ser vistas como uma unidade de análise relevante para a investigação sociológica em geral. Para o autor, há uma íntima relação entre essas interações e as estruturas sociais, como se pudessem ser reproduzidas características dessas estruturas sociais. Nessa perspectiva é que, servindo de sustentação para a ideias de Dubois, Goffman (1982) reforça que essas interações podem produzir relações desiguais, silenciosas e estigmatizantes, agravando as desigualdades sociais.
image/svg+xmlNatalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1288 A trajetória de uma família e de um estudante “improvável” que “furou a bolha” do acesso à universidade pública José tem vinte e oito anos. Iniciou, em 2019, seu primeiro curso de Medicina em uma universidade mineira de médio porte, e, em 2021, decidiu, por causa das dificuldades financeiras e das questões associadas aos estigmas sofridos nessa instituição, cursar Medicina em uma universidade mineira de grande porte. O estudante relata que, juntamente com seu irmão, dois anos mais velho, teve uma infância muito pobre. Seu pai, que não concluiu os anos iniciais do ensino fundamental, sempre foi quem trabalhou e sustentou a família como recepcionista de uma pousada. Sua mãe, que concluiu o ensino médio e cursou magistério, trabalhou por pouco tempo em uma creche quando seus filhos eram pequenos e passou a ser “dona de casa”, já que entendia que era necessário que alguém cuidasse dos estudos dos filhos. José relata que sua família morava em uma “casinha clássica de tijolo adobe de documentários do Vale” e que a família recebia ajuda da igreja local para manutenção das condições precárias da moradia. Conta que as privações materiais dificultavam a vida cotidiana e o acesso às políticas de atenção primária era limitado para a família, que encontrava, por exemplo, muitas dificuldades de acesso a profissionais de saúde, medicamentos e procedimentos como exames e internações. O contexto social e político dos anos iniciais da primeira década de 2000, período correspondente à infância e adolescência de José, foi envolto por um novo paradigma voltado para a construção políticas de proteção social para a população em situação de pobreza no Brasil. Com uma agenda voltada para a conformação de uma rede de proteção social voltada para o enfrentamento de desigualdades associadas a públicos específicos, o governo Lula inaugurou um momento político de mudanças sociais no qual o Estado reafirmava-se como ator estratégico, senão central, para enfrentar os problemas relacionados à cidadania, à desigualdade, às oportunidades e ao bem-estar (JACCOUD; BICHIR; MESQUITA, 2017, p. 39). José, que nasceu em 1993, relata que, a partir de sua pré-adolescência, sua família passou a ser contemplada pelo Programa Bolsa Família. Ele afirma que a quantia, que era destinada a comprar comida e pagar as contas da casa, era condicionada à frequência escolar dos dois irmãos. José reconhece que o Bolsa Família teve grande contribuição para que pudessem se sustentar, complementando a renda advinda do salário do pai, assim como contribuiu para que seu irmão e ele não abandonassem a escola. Néri (2012) afirma que o Programa Bolsa Família ofereceu um grande potencial para a queda da desigualdade no Brasil, caracterizando o programa como uma das políticas públicas de maior êxito no combate às
image/svg+xml“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade públicaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1289 desigualdades sociais. O autor ainda afirma que o programa induziu as famílias a acompanharem a escolarização de seus filhos, contribuindo decisivamente para a redução do círculo intergeracional de pobreza e para a expansão dos anos de escolaridade de crianças e jovens. No Brasil, as duas últimas décadas foram marcadas pela ampliação do acesso às universidades públicas brasileiras, que têm recebido, de forma expressiva, estudantes de camadas populares através das políticas de ações afirmativas e expansão de vagas. O estudante entrevistado expõe, em seu relato, como as políticas de inclusão que integram uma rede de proteção social no Brasil a partir da primeira década dos anos 2000 contribuíram para sua trajetória, afirmando que “jamais conseguiria entrar na universidade se não existisse o ENEM” e que a Política de Cotas foi sua “porta de entrada” para a universidade pública. Para ele, tais políticas “permitiram que um punhado de estudantes conseguissem superar essa trajetória da pobreza e da exclusão do diploma”. Entretanto, José deixa claro que os espaços escolares que frequentou estão marcados em sua memória pelo estigma da desigualdade. Em seus relatos, demonstra uma ideia de escola capaz de reproduzir as desigualdades sociais, a partir de sua compreensão sobre a precariedade da estrutura, da formação de seus professores e dos materiais didáticos a que tinha acesso na escola que frequentava. Sobre seu acesso à educação superior pública, José demarcou dois fatores importantes para que, em suas palavras, conseguisse “furar a bolha da universidade federal”. A trajetória escolar de sua mãe e o apoio da família para que ele pudesse estudar sem a preocupação em ter que trabalhar para ajudar a família financeiramente foram decisivos. Sobre a trajetória da mãe e sobre suas tentativas de ingressar na universidade, o estudante relata que ela teve uma trajetória de sucesso na educação básica, mas que não conseguiu ingressar em uma universidade. José relata que o fato de crescer ouvindo de sua mãe suas lembranças de uma trajetória escolar de sucesso fez com que ele, desde muito novo, vislumbrasse essa possibilidade de ser um bom estudante. Em seus relatos, deixa claro que a figura da mãe, a vasta coleção de livros que ela tinha em casa e o fato de criar momentos de leituras com os filhos por meio de seus livros antigos de escola, contribuíram para que ampliasse seu olhar sobre sua trajetória escolar. Ao afirmar que o investimento dos pais na vida escolar dos filhos é um elemento impulsionador para o sucesso na escolarização, Nogueira (2021) reflete sobre o uso do conceito de capital cultural na explicação das desigualdades escolares como sinônimo de disposições
image/svg+xmlNatalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1290 culturais e de relação com os bens culturais. Lahire (1997) ressalta que a presença de membros com capital cultural escolar na família, por si só, não é capaz de produzir efeitos nas gerações seguintes. Para isso são necessárias interações efetivas e afetivas, o que, no caso do estudante entrevistado, parece ter relação com o acesso ao acervo de livros da mãe, o incentivo à leitura e estudo desses livros e a lembrança dos relatos da mãe sobre sua trajetória de sucesso escolar e a tentativa de entrar em uma universidade. Da mesma forma que as estratégias da mãe são lembradas pelo estudante, os esforços do pai, um trabalhador assalariado, para que o filho pudesse estudar e “furar a bolha da universidade”, também são ressaltados em seu relato. Eu acho que eu consegui furar essa bolha por teimosia e esforço e por ter o mínimo de possibilidade de conseguir sentar e estudar. Tem muita gente que não teve esse privilégio que eu tive, sabe? Meu pai me deixou, eu pude estudar, quieto dentro de casa o ano inteiro, estudando até os 28 anos, sem ter que trabalhar, sabe? (José). Através dos estudos de Lahire (1997), Nogueira (2005), Viana (2005), Thin (2006) e Portes e Souza, (2012), sabe-se que a família constitui um terreno social indispensável a ser considerado na constituição de uma trajetória de longevidade escolar, o que é corroborado com os relatos de José. Tais estudos sobre estratégias familiares de escolarização têm arejado o debate, abrindo espaço para a importância de se considerar a complexidade dessas trajetórias, dos sujeitos como fruto de múltiplos processos de socialização, e que sua atuação individual também é estratégica nesses processos. Segundo o FONAPRACE (2019), a inclusão de um grande número de estudantes brasileiros na educação superior, por meio de políticas de fortalecimento da educação básica e políticas de proteção social desde 2003, fez com que aumentasse o número de “exceções”, conforme afirma Piotto (2012, p. 3). Em seu relato sobre o fato de estar na universidade, em um curso de Medicina, José afirma: “eu sou uma exceção da exceção”. Segundo dados da Fonaprace (2019), José faz parte dos 70,2% de estudantes de camadas populares brasileiras que ingressaram na universidade pública com renda per capita de até 1 e meio salário mínimo. Com esse movimento, tal composição impõe a essas instituições outras exigências, reveladas pelas desigualdades associadas à permanência desses estudantes nesses espaços. Para Terrail (1990), que discutiu as estratégias de universitários pobres, o sucesso escolar de estudantes de camadas populares envolve o contato com a hostilidade nas relações e a desigualdade presente nessas relações. Por essa razão é que Dubet (2001) discute sobre a democratização do ensino segregativa, na perspectiva de que os sujeitos de camadas populares não fazem parte dos setores de formação mais valorizados socialmente.
image/svg+xml“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade públicaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1291 Ao analisar essas questões a partir do relato de José, o estudante afirma que não bastou “furar a bolha”, já que deixa claro que o ingresso na universidade não fez com que os problemas sociais que conheceu desde a infância desaparecessem. As desigualdades de oportunidades com relação à escola se revelam, agora, nas dificuldades enfrentadas pelo estudante para ter acesso às políticas de assistência na universidade pública, na interação por meio de seus guichês. Além disso, a convivência cotidiana com os demais atores que transitam nesse universo também emerge como reprodutora de desigualdades e de estigmas, objetos da próxima seção. Eu não tenho a cara de um estudante de medicina”: as experiências de um estudante de camada popular com os guichês discriminantes na universidade José idealizou, desde a adolescência, ser um médico oncologista, ou, “um médico do Vale”, para atuar em sua região e dar às pessoas de sua comunidade o que ele e sua família não tiveram: acesso às políticas de saúde pública. Sua trajetória, entre desistências e aprovações, foi extensa e tortuosa: se formou no ensino médio em 2010 e tentou, entre 2011 e 2014, ser aprovado em Medicina. José afirma que tem conhecimento “de suas condições diante daqueles que ele julgava serem muito mais preparados”. Sem poder pagar pelos cursinhos preparatórios, adotou uma estratégia calculada: ingressar na universidade por meio de um “curso trampolim” para chegar no curso de Medicina. Em 2015, foi aprovado no curso de Engenharia Mecânica em uma universidade de médio porte no interior de Minas Gerais – o “trampolim” para concretizar seu anseio de cursar Medicina.Nos dois anos seguintes, 2016 e 2017, José relata que cursou várias disciplinas na área de português, matemática, física e química, com a estratégia de, dentro do curso de Engenharia Mecânica, ter seu cursinho preparatório para um futuro ENEM e ser aprovado em Medicina. José não foi aprovado em 2016 e em 2017, o que o fez solicitar o “trancamento” do curso de Engenharia Mecânica e retornar para a casa de seus pais. Estudando em casa e com apoio de canais no Youtube,no final de 2018, José foi aprovado em Medicina na mesma universidade. Em 2019, passou a cursar Medicina. O estudante relata que continuou usufruindo do auxílio moradia e da bolsa alimentação, através do restaurante universitário, assim como fazia quando estava matriculado em Engenharia Mecânica. Em seus relatos, explicita as dificuldades que teve com relação ao alojamento, já que era preciso “entrar no banheiro e fechar a porta para estudar”, e que dividia o quarto com mais quatro colegas que cursavam cursos diferentes.
image/svg+xmlNatalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1292 Indagado sobre as políticas de assistência estudantil nessa universidade, José relata que passou por dificuldades financeiras para se manter no curso por causa da ausência de uma bolsa manutenção, o que o impossibilitava de comprar as apostilas deixadas pelos professores nas papelarias que as comercializavam e, também, para arcar com os custos das passagens de ônibus para atividades práticas do curso que eram realizadas em bairros distantes da universidade. O estudante relata que decidiu solicitar à universidade o auxílio moradia, pois o alojamento prejudicava seus estudos. Assim, ele relata que, para conseguir esse auxílio, era necessário que escrevesse uma carta relatando o porquê não gostaria de morar no alojamento, comprovando com atentado médico ou psicológico a necessidade de morar sozinho e/ou na cidade, o que fez com que se sentisse humilhado. Você tem que escrever uma carta, pedindo, por que você queria (sair do alojamento), sabe? Você se sente humilhado para poder ganhar 230 reais e você não acha lugar na cidade, para morar, por 230 reais. Não tem condição. Aí eles pedem para você escrever o motivo que você quer deixar o alojamento. Aí você tem que relatar lá porque que você quer deixar, e aí eles vão aprovar ou não a sua saída. Aí eles pedem que, se você tiver alguma questão psicológica, algum laudo médico, que associa que o alojamento tá te fazendo mal, te prejudicando, aí você faz um anexo e manda. Então parece ser, para mim, muita burocracia (José).Dubois (2019) afirma que as interações que ocorrem no guichê, ou seja, relações no tratamento da miséria, papéis burocráticos, que à princípio parecem impessoais, revelam-se altamente permeáveis às disposições de quem os desempenha. O guichêrevelado pelo autor, com seu recorrente potencial de violência simbólica, impõe aos indivíduos o convencimento de sua condição de subordinação com relação aos agentes e ao próprio Estado, reforçando sua ideia de uma interação estigmatizante, que Goffman (1982) chama de interações desiguais e silenciosas que reproduzem as desigualdades sociais. Em sua narrativa, o estudante deixa claro que o caminho pelo qual seria preciso percorrer para solicitar que a bolsa moradia fosse convertida em auxílio moradia era, particularmente, humilhante. Diante doguichêde assistência estudantil, ele deixa claro que recebeu orientações que o constrangeram sobre como deveria ser feita a solicitação. A experiência de José é um exemplo claro dos efeitos do processo de implementação e reprodução de desigualdades sociais na prestação dos serviços públicos, conforme analisado por Pires (2019). O estudante deixa claro que escrever uma carta com comprovações de que, realmente, não tinha condições de morar no alojamento para conseguir um auxílio moradia, o fez passar por um processo de ansiedade e tristeza. As repetições de padrões de exclusão
image/svg+xml“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade públicaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1293 também se deram, segundo o estudante, pelo tipo de tratamento através do qual era recebido nos guichês da assistência estudantil. Sua percepção pessoal era de que era tratado com descaso, frieza e pressa em algumas situações. Assim, torna-se necessário discutir sobre a atuação dos agentes implementadores na ponta, burocratas de nível de rua que, com capacidade discricionária, podem reproduzir desigualdades a partir de sua posição no processo de produção de políticas, ou que, segundo Maynard Mood e Musheno (2003), podem atuar a partir de posições de poder com os cidadãos. Essa é uma das razões pelas quais “a atuação de burocratas de rua pode impactar processos de inclusão e exclusão social” (PIRES; LOTTA; TORRES JUNIOR, 2019, p. 258). Em sua narrativa, José afirma que o sentimento de pertencimento como estudante do curso de Medicina nessa universidade era frágil e dolorido. O estudante relata que passou por várias situações pelas quais se sentiu distanciado dos demais colegas por causa de sua cor ou classe social. Quando eu entrei no curso teve aquele discurso dos veteranos, da sala unida. E aí você entra com a sensação que você faz parte disso. Mas, com o decorrer do curso, você percebe que há uma segmentação natural da sala por contexto social, por contexto socioeconômico, há uma segmentação. Você percebe que tem gente que não te olha direito. Você percebe que tem gente que é incomodado com a sua presença, sabe, que te olha tolerando você estar ali, como se você não fosse merecedor de estar ali. Isso é bem perceptível, sabe? Entre os alunos sim(José). Sobre os colegas em sala, ele afirma que se sentia excluído de algumas decisões coletivas, afirmando que é “como uma pessoa que tá pegando carona num carro que não é seu, sabe? Você não tem direito nenhum ali”. O mesmo aconteceu com relação aos funcionários do Departamento de Medicina ou com outros órgãos da universidade. Como um exemplo de distância desigual e discriminante entre as classes populares e as instituições, conforme Dubois (2019), José afirma que passou por constrangimentos com atendentes do Departamento, conforme relato abaixo: Já aconteceu de eu tá sentado ali no departamento, a pessoa chega, com vários estudantes lá, e um funcionário chega para mim e pergunta se eu estava ali esperando para fazer o concurso para técnicos. Por que ele perguntou só para mim se eu estava no meio de todos os meus colegas? É uma questão de visualização, que eu não tenho a cara de um estudante de Medicina (José). Dubois (2020) enfatiza que encontros burocráticos “frente e frente” entre os cidadãos que se encontram nos dois lados do guichê podem revelar que todas as normas sociais e morais que fazem parte dessa interação são capazes de produzir dinâmicas de classificação entre os
image/svg+xmlNatalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1294 cidadãos e, ainda, perpetuarem as desigualdades entre eles. Nos guichês, dispositivos concretos de atendimento e/ou simbólicos que revelam a burocracia e discricionariedade dos agentes de implementação, é que ocorrem relações de poder, discriminação, perpetuação da desigualdade e estigmatização. Pires, Lotta e Torres Júnior (2019) também reforçam sobre a necessidade de compreensão dos processos de (re)produção de desigualdades sociais engendrados na ação estatal. Ao tratar dessas questões, José relata que “até a posição de sentar na sala é segmentada. As pessoas não se misturam. Você tem a galera pobre e a outra galera”. O estudante conta sobre uma situação em que um colega, em meio a vários estudantes, o perguntou, em voz alta, em que curso estava matriculado na universidade. Todo mundo falava: “é História! Geografia”. Então você já tem um personagem, quem que é o estudante de Medicina e não tem as minhas características né? Ninguém fala, nem pensa que o cara é estudante de Medicina. Então, eu vejo que isso é uma coisa que é muito complicada de tentar resolver. É uma coisa que já é estrutural. Eu acho que com o tempo, mas com muito tempo, que esses estudantes conseguirem ingressar e mais estudantes conseguirem ter acesso a esses postos que hoje são de outras pessoas, eu acho que aí há uma tendência de melhora quanto a isso (José). José relata que todos os estigmas relacionados à falta de privacidade e espaço para estudar, além de “situação de baixa renda e falta de apoio da universidade” materializada na ausência de bolsa manutenção e dificuldades encontradas com relação à moradia estudantil, fizeram com que tentasse novamente o ENEM, no final de 2019. Mas, dessa vez, seu objetivo era cursar Medicina, a partir de 2020, em uma universidade de grande porte no estado de Minas Gerais. O estudante foi, então, aprovado no curso de Medicina dessa universidade, localizada na capital de Minas Gerais. Mesmo com a aprovação em 2020, José relata que desistiu de ir para a capital, porque foi informado que seria mais difícil conseguir auxílio moradia provisório até pleitear o alojamento. O receio de não ter recursos financeiros para se manter o fez desistir. Dessa forma, manteve sua matrícula na primeira universidade, no interior do estado. Em março de 2020, quando o distanciamento social e lockdownforam propostos por causa da pandemia de Covid-19, José voltou para a casa de seus pais. A situação se agravou porque, justamente nessa época, seu pai ficou desempregado e ele não poderia contar com nenhuma ajuda para permanecer na universidade e nem mesmo na casa dos pais. Sua percepção é que a primeira universidade “largou mão dos estudantes pobres”, o que o fez tomar nova decisão: tentar novamente o ENEM para ingressar em Medicina na universidade da capital do estado de Minas Gerais, a partir de
image/svg+xml“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade públicaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1295 2021. José, ao afirmar que começaria o curso “do zero novamente”, passa a ser estudante regular do curso de Medicina nessa universidade de grande porte. Mesmo que tenha migrado para outra universidade, reconhece que as políticas de assistência estudantil pelas quais foi atendido na primeira universidade foram fundamentais para sua permanência e, também, dos colegas de camadas populares. Ele destaca a importância da Bolsa Alimentação para o período que ali permaneceu. Eu acho que as políticas de assistência aos estudantes pobres são necessárias, por mínimas que sejam. Tem uma universidade na minha cidade. Não seria mais fácil eu ter entrado lá? Tinha Engenharia Mecânica na minha cidade. Por que eu não entrei em Engenharia Mecânica lá? Eu fui prá primeira universidade por causa do restaurante universitário (José). Assim como muitos jovens de camadas populares que estão presentes nas universidades públicas brasileiras, José expõe, com clareza, a partir de sua trajetória, que o debate sobre acesso e permanência nas universidades públicas precisa ser aprofundado, seja a partir da ótica das políticas de assistência estudantil ou do olhar mais criterioso sobre a forma como são implementadas essas políticas nessas instituições. Considerações finais Apesar dos limites metodológicos e analíticos desse artigo, a narrativa do estudante contribui para revelar as dimensões histórica, coletiva e social nas suas experiências, vinculadas ao processo de implementação de políticas sociais. Gussi e Oliveira (2016, p. 95) enfatizam a importância da noção de trajetória e do contexto social dos sujeitos, definindo-a como um “referencial metodológico estratégico para a compreensão dos processos sociais, construindo um diálogo entre temporalidades e territorialidades, revelando uma dimensão histórica, coletiva e social”. Assim, o estudante fornece subsídios que permitem desvelar as interações entre os agentes que atuam nos guichês e nos grupos sociais onde esse sujeito transita, bem como os efeitos que tais processos de implementação podem produzir. Ancorada em Jaccoud (2005), Kerstenetzky (2008), Portes e Souza (2012) e Senkevics (2021), a narrativa de José revela que a rede de proteção social no qual sua família foi inserida, juntamente com as estratégias familiares para que tivesse uma escolarização longeva, contribuiu para que “furasse a bolha” de cursos de alta seletividade da universidade pública. A presença de estudantes “improváveis” nas universidades, principalmente públicas, marca o debate sobre a ampliação de vagas e democratização do acesso à educação, o que impõe a
image/svg+xmlNatalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1296 discussão sobre a ausência de afiliação universitária (COULON, 2012) na educação superior pública brasileira. Nessa perspectiva, a presença de um estudante de camada popular em um curso de alta seletividade em uma universidade pública trouxe à tona dinâmicas e estigmas associados, simultaneamente, às estratégias de inclusão pretendidas por essa mesma rede de proteção social, conforme explicitado por Goffman (1982), Dubois (2019, 2020) e Pires (2019): discriminação por gênero ou raça, interações discriminantes nos guichês locais onde a implementação de políticas se materializa cotidianamente, e dificuldades, tensões e desencontros burocráticos nos processo associados à provisão das políticas de assistência estudantil. A distância desigual e discriminante entre as classes populares e as instituições pode ficar clara entre os cidadãos que se encontram nos dois lados doguichê, o que pode perpetuar a solidão presente nas trajetórias improváveis de sucesso e longevidade escolar de estudantes de camadas populares. Dubois (2019) afirma que os sentidos atribuídos na conduta exercida pelos agentes da implementação podem exercer um mecanismo de regulação moral, constituindo efeitos simbólicos que podem produzir e reproduzir, através das interações que ocorrem no serviço público, a internalização de um valor social aos usuários, com autoimagem subordinada e estigmatização desses cidadãos. Devem os formuladores, gestores e implementadores de políticas voltadas para a democratização da educação superior e para a permanência universitária (em todos os escalões e níveis institucionais) conhecer e mitigar os efeitos associados à implementação dessas políticas, especialmente no nível local. Sob a mesma ótica, urge debater a interação associada à atuação dos agentes públicos que atuam na ponta, sua capacidade discricionária e as desigualdades que podem ser reveladas nas dinâmicas processadas nos guichês, na relação com os estudantes de camadas populares, cidadãos-alvo de programas de inclusão e redução das assimetrias sociais historicamente existentes no Brasil. REFERÊNCIASAUYERO, J. Patients of the state: An Ethnographic Account of Poor People is waiting. Latin American Research Review, v. 46, n. 1, p. 5-29, 2012. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/41261368. Acesso em: 16 maio 2020. BRASIL. Lei n. 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2008.
image/svg+xml“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade públicaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1297 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm. Acesso em: 14 out. 2021. BRASIL. Lei n. 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm. Acesso em: 14 out. 2021. COSTA, J.; SILVEIRA, F. G.; COSTA, R.; WALTENBERG, F. (org.). Expansão da educação superior e progressividade do investimento público.Brasília, DF: Ipea, 2021. COULON, A. O sucesso estudantil e sua avaliação: Que política universitária é possível? In: SANTOS, G.; SAMPAIO, S. (org.). Observatório da Vida Estudantil. Estudos sobre a vida e cultura universitárias. Salvador: EDUFBA, 2012. DUBET, F. As desigualdades multiplicadas. Revista Brasileira de Educação, n. 17, p. 5-19, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n17/n17a01. Acesso em: 23 dez. 2021. DUBOIS, V. Políticas no guichê, políticas do guichê. In: PIRES, R. Implementando Desigualdades: Reprodução de desigualdades na implementação de políticas públicas. Rio de Janeiro: IPEA, 2019. DUBOIS, V. Lower Classes and Public Institutions: A research program. France: University of Strasbourg, 2020. FONAPRACE. V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos(as) Graduandos(as) das IFES – 2018.Brasília, DF: Observatório do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Estudantis 2019. 318 p. Disponível em: https://www.andifes.org.br/wp-content/uploads/2019/05/V-Pesquisa-Nacional-de-Perfil-Socioeconomico-e-Cultural-dos-as-Graduandos-as-das-IFES-2018.pdf. Acesso em: 14 out. 2021. GOFFMAN, E. Estigma:Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores S. A., 1982. GUSSI, A. F.; OLIVEIRA, B. R. Políticas públicas e outra perspectiva de avaliação: Uma abordagem antropológica. Revista Desenvolvimento em Debate, v. 4, n. 1, p. 83-101, 2016. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/32515. Acesso em: 12 abr. 2021. HIRATA, H. Gênero, classe e raça: Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 26, n. 1, jun. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ts/a/LhNLNH6YJB5HVJ6vnGpLgHz/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 4 abr. 2021 JACCOUD, L. Questão Social e Políticas Sociais no Brasil Contemporâneo.Brasília, DF: IPEA, 2005. JACCOUD, L.; BICHIR, R.; MESQUITA, A. C. O SUAS na proteção social brasileira: Transformações recentes e perspectivas. Novos estud. – CEBRAP, São Paulo, v. 36, n. 02, p.
image/svg+xmlNatalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1298 37-53, jul. 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/nec/a/Vkv7r47xGw7Hd6XmZdh7HfL/abstract/?lang=pt. Acesso em: 15 mar. 2021. KERSTENETZKY, C. L. Desigualdade como questão política. CEDE, Texto para discussão n. 11, 2008. Disponível em: https://cede.uff.br/wp-content/uploads/sites/251/2021/04/TD-001-KERSTENETZKY-C.-2008.-Desigualdade-como-questao-politica.pdf. Acesso em: 12 fev. 2021. LAHIRE, B. Sucesso escolar nos meios populares: As razões do improvável. São Paulo: Ática, 1997. LAISNER, R. C. etal. O reconhecimento a partir da diferença: Olhares interseccionais para a construção de ferramentas de avaliação de políticas públicas. Revista AVAL, v. 5, n. 19, jan./jun. 2021. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/63394. Acesso em: 25 out. 2021. LAVINAS, L. GENTIL, D. L. Brasil anos 2000: A política social sob regência da financeirização.Dossiê balanço crítico da economia brasileira (2003-2016).Novos estudos – CEBRAP, São Paulo, v. 37, n. 2, p. 191-211, maio/ago. 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/nec/a/5fqGSvyFTytWTNkQBJNGM3M/abstract/?lang=pt. Acesso em: 11 ago. 2021. LEJANO, R. Parâmetros para análise de políticas:Fusão de texto e contexto. Campinas: Arte Escrita, 2012. LIPSKY, M. Burocracia de nível de rua: Dilemas do indivíduo nos serviços públicos. Brasília, DF: Enap, 2019. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/4158/1/Burocracia%20de%20nível%20de%20rua_Michael%20Lipsky.pdf. Acesso em: 11 ago. 2021. MAYNARD-MOODY, S.; MUSHENO, M. Cops, teachers, counselors: Narratives of street-level judgment. Ann Arbor: University of Michigan Press, 2003. NERI, M. C. A Década Inclusiva (2001-2011): Desigualdade, Pobreza e Políticas de Renda”. Rio de Janeiro:IPEA, 2012. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/4639. Acesso em: 03 maio 2020. NOGUEIRA, M. A. O capital cultural e a produção das desigualdades escolares contemporâneas.Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 51, e07468, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cp/a/pdTJTSCfQhzpWjZSGGy8gqK/abstract/?lang=pt. Acesso em: 15 maio 2020. NOGUEIRA, M. A. A relação família-escola na contemporaneidade: Fenômeno social/interrogações sociológicas. Análise Social, v. 40, n. 176, p. 563-578, 2005. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/41012165. Acesso em: 14 maio 2020. OLIVEIRA, A. L. M. Educação Superior brasileira no início do século XXI: Inclusão interrompida? 2019. Tese (Doutorado) – IE, UNICAMP, Campinas, São Paulo, 2019.
image/svg+xml“Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade públicaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1299 Disponível em: https://repositorio.unicamp.br/Acervo/Detalhe/1088834. Acesso em: 14 mar. 2021. OLIVEIRA, B. R. A implementação de políticas educacionais no nível micro: uma análise a partir dos profissionais da escola no contexto da prática. Revista de Estudios Teóricos y Epistemológicos en Política Educativa, v. 4, p. 1-17, 2019. Disponível em: https://www.revistas2.uepg.br/index.php/retepe/article/view/12972. Acesso em: 22 dez. 2021. OLIVEIRA, B. R.; LACERDA, M. C. R. Trazendo à tona aspectos invisíveis no processo de implementação de políticas públicas: uma análise a partir do Programa Oportunidades. In:PIRES, R. R. C. (org.). Implementando desigualdades: Reprodução de desigualdades na Implementação de políticas públicas. Rio de Janeiro: IPEA, 2019. PNAD. Pesquisa nacional por amostra de domicílios. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2019. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 29 dez. 2021. PIRES, R. Implementando desigualdades: Reprodução de desigualdades na Implementação de políticas públicas. Rio de Janeiro: IPEA, 2019. PIRES, R.; LOTTA, G.; TORRES JUNIOR, R. D. Burocracias Implementadoras e a (Re) produção de Desigualdades sociais: perspectivas de análise no debate internacional. In: PIRES, R.; LOTTA, G.; OLIVEIRA, V. E. Burocracia e políticas públicas no Brasil interseções analíticas. Brasília, DF: IPEA; ENAP, 2019. PORTES, E. A. Estratégias escolares do universitário das camadas populares:A insubordinação aos determinantes. 1993. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1993. PORTES, E. A.; SOUSA, L. O nó da questão:A permanência de jovens dos meios populares no ensino superior público. Rio de Janeiro: Flacso, 2012. Disponível em: http: //flacso.org.br/files/2015/03/Apresentacao_Ecio_Portes.pdf. Acesso em: 21 dez. 2021. SENKEVICS, A. A expansão recente do ensino superior: Cinco tendências de 1991 a 2020. Cadernos de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais, v. 3, n. 4, p. 199-246, 2021. Disponível em: http://www.emaberto.inep.gov.br/ojs3/index.php/cadernos/article/view/4892. Acesso em: 19 set. 2021. SILVA, J. S. Por que uns e não outros?Caminhada de estudantes da Maré para a universidade. 1999. Tese (Doutorado em Educação) – PUC, Rio de Janeiro, 1999. TERRAIL, J-P. L’issue scolaire: de quelques histoires de transfuges. In: TERRAIL, J-P. Destins ouvriers– La fin d’une classe? Paris: PUF, 1990. THIN, D. Para uma análise das relações entre famílias populares e escola: Confrontação entre lógicas socializadoras. Revista Brasileira de Educação, v. 11, n. 32, p. 211- 225. maio/ago. 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/8gBjdVbfWbNyNft4Gg7THbM/abstract/?lang=pt. Acesso em: 10 abr. 2021.
image/svg+xmlNatalia Rigueira FERNANDES e Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1300 VIANA, M. J. B. Longevidade escolar em famílias de camadas populares: Algumas condições de possibilidade. 1998. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1998. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/FAEC-85SJUP. Acesso em: 16 maio 2020. VIANA, M. J. B. As práticas socializadoras familiares como lócus de constituição de disposições facilitadoras de longevidade escolar em meios populares. Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 90, p. 107-125. jan./abr. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/es/a/JSkvyDGwXQJRWvyJBWdqQxN/abstract/?lang=pt. Acesso em: 06 maio 2020. ZAGO, N. Do acesso à permanência no ensino superior: Percursos de estudantes universitários de camadas populares. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, v. 11, n. 32, p. 226-237, 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/wVchYRqNFkssn9WqQbj9sSG/abstract/?lang=pt. Acesso em: 22 mar. 2021. Como referenciar este artigo FERNANDES, N. R.; OLIVEIRA, B. R. “Eu não tenho cara de estudante de medicina”: Trajetória de um estudante e os guichês discriminantes na universidade pública. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1279-1300, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 Submetido em: 14/01/2022 Revisões requeridas em: 07/03/2022 Aprovado em: 22/04/2022 Publicado em: 30/06/2022 Processamento e edição: Editoria Ibero-Americana de Educação. Revisão, formatação, padronização e tradução.
image/svg+xml“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad públicaRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111282 “NO PARECERÉ UN ESTUDIANTE DE MEDICINA”: TRAYECTORIA DE UN ESTUDIANTE Y LOS GUICHES DISCRIMINANTES EN LA UNIVERSIDAD PÚBLICA “EU NÃO TENHO CARA DE ESTUDANTE DE MEDICINA”: TRAJETÓRIA DE UM ESTUDANTE E OS GUICHÊS DISCRIMINANTES NA UNIVERSIDADE PÚBLICA “I DON'T LOOK LIKE A MEDICAL STUDENT”:TRAJECTORY OF A STUDENT AND THE DISCRIMINATING GUICHES AT THE PUBLIC UNIVERSITY Natália Rigueira FERNANDES1Breynner Ricardo de OLIVEIRA2RESUMEN:El artículo analiza la trayectoria de un estudiante de baja renta, las interacciones con contadores discriminatorios en una universidad pública de Minas Gerais y sus percepciones sobre su cotidiano como estudiante objetivo de las políticas sociales. A partir de un enfoque cualitativo, se realizó una entrevista narrativa, abarcando cuatro dimensiones: (1) su trayectoria familiar y escolar antes de ingresar a la universidad; (2) estrategias y percepciones sobre las políticas de inclusión social que contribuyeron a su ingreso a la universidad; (3) su experiencia como estudiante de medicina e interacciones con sus compañeros; (4) su interacción con los sectores de la universidad, en sus mostradores. Los resultados indican un cambio en el perfil socioeconómico de las universidades públicas desde el gobierno de Lula y la entrada de “estudiantes improbables”, a través de la Ley de Cuotas y otras políticas dirigidas a las familias. También revelan ventanas discriminatorias y estigmas que se procesan a partir de la reproducción de desigualdades en el proceso de implementación de políticas.PALABRAS-CLAVE: Implementación de políticas públicas. Trayectorias escolares. Desigualdad y oportunidades educativas. Universidad pública. RESUMO:O artigo analisa a trajetória de um estudante de camada popular, as interações com guichês discriminantes em uma universidade pública mineira e suas percepções sobre seu cotidiano como estudante-alvo de políticas sociais. A partir de uma abordagem qualitativa, realizou-se uma entrevista-narrativa, contemplando quatro dimensões: (1) sua trajetória familiar e escolar antes do ingresso na universidade; (2) estratégias e percepções sobre políticas de inclusão social que contribuíram para seu ingresso na universidade; (3) sua experiência como estudante de Medicina e as interações com os pares; (4) sua interação com os setores na universidade, nos seus guichês. Os resultados indicam mudança no perfil socioeconômico nas universidades públicas a partir do governo Lula e o ingresso dos 1Universidad Federal de Ouro Preto (UFOP), Mariana MG Brasil. Estudiante de doctorado en Educación en el Programa de Posgrado en Educación. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7760-7981. E-mail: natalia.fernandes@ufv.br 2Universidad Federal de Ouro Preto (UFOP), Mariana MG Brasil. Profesor del Programa de Posgrado en Educación. Doctorado en Educación (UFMG). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0956-4753. E-mail: breynner@ufop.edu.br
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111283 “estudantes improváveis”, por meio da Lei de Cotas e outras políticas destinadas às famílias. Revelam, também, guichês discriminantes e estigmas que se processam, a partir da reprodução de desigualdades no processo de implementação de políticas. PALAVRAS-CHAVE: Implementação de políticas públicas. Trajetórias escolares. Desigualdade e oportunidades educacionais. Universidade pública. ABSTRACT:The article analyzes the trajectory of a low-income student, the interactions with discriminating counters in a public university in Minas Gerais and his perceptions about his daily life as a target student of social policies. Based on a qualitative approach, a narrative interview was carried out, covering four dimensions: (1) her family and school trajectory before entering the university; (2) strategies and perceptions about social inclusion policies that contributed to their admission to university; (3) your experience as a medical student and interactions with peers; (4) its interaction with the sectors at the university, at its counters. The results indicate a change in the socioeconomic profile in public universities since the Lula government and the entry of “unlikely students”, through the Quota Law and other policies aimed at families. They also reveal discriminating windows and stigmas that are processed from the reproduction of inequalities in the policy implementation process.KEYWORDS: Implementation of public policies. School trajectories. Inequality and educational opportunities. Public university. IntroduçãoEste artículo, inicialmente, teje algunas problematizaciones y tensiones con respecto al acceso de estudiantes de diferentes contextos sociales, culturales y económicos en la universidad: ¿cómo interactúan estudiantes con trayectorias improbables, matriculados en universidades federales, con el Estado y con las políticas sociales a lo largo de su trayectoria, como receptores de estas políticas? ¿Qué dificultades enfrenta con la burocracia estatal para tener garantizados sus derechos? ¿Qué percepciones tiene sobre sus trayectorias escolares y de inclusión social? El artículo analiza la trayectoria de José3, un popular estudiante de capa inscrito en la escuela de medicina, sus experiencias e interacciones con las ventanillas discriminante en una universidad minera y cómo (y por qué) se traslada a otra universidad en el mismo estado para desviarse de los estigmas y desigualdades enfrentados. Desde esta visión, analizamos su percepción de las dinámicas asociadas a los procesos de implementación de programas de inclusión social a lo largo de su trayectoria escolar en educación básica y, ya en la universidad, discutimos cómo las ventanillas discriminadoras dentro del Estado afectan estas dinámicas. 3Nome fictício a fim de preservar a identidade e garantir o anonimato, conforme protocolos éticos de pesquisa.
image/svg+xml“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad públicaRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111284 Según Jaccoud (2005), desde la elección del presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), se fortaleció el sistema de protección social brasileño, cuyo objetivo era igualar el acceso a las oportunidades y enfrentar los riesgos sociales, la pobreza y la destrucción de derechos. Esta red de protección social contribuyó a lo que Kerstenetzky (2008) llama la corrección de las desigualdades socioeconómicas, basada en la idea de que la reducción de la desigualdad contribuiría a la inserción de una parte significativa de la población en el tejido social. En el campo educativo, los gobiernos de Lula y Dilma Rousseff (2011-2016) trataron efectivamente la educación como un derecho, a través de políticas establecidas para todos los niveles, etapas y modalidades de educación, con énfasis en la educación básica y superior, el diálogo con representantes de la sociedad civil y el aumento del porcentaje destinado a la inversión pública directa. Sobre las políticas dirigidas a las universidades, Senkevics (2021), afirma que la expansión sin precedentes de las vacantes y la matrícula en la educación superior, además de la implementación de políticas inclusivas de las universidades públicas y privadas, contribuyó a que el número de jóvenes de las clases más bajas aumentara considerablemente. Desde principios de la década de 1990, la sociología de la educación se ha centrado en estos temas, interesada en comprender quiénes son estos estudiantes, cuáles son sus trayectorias y sus estrategias de longevidad escolar hasta llegar a la universidad. Lasobras de Portes (1993), Viana (1998), Silva (1999) y Zago (2006), basadas en la literatura que trata sobre el éxito escolar de estudiantes "improbables"4de capas populares a través de trayectorias a menudo conflictivas y desiguales. Desde la perspectiva de la implementación de políticas públicas, la presencia de estos jóvenes en las universidades puede estar sumergida en la díada (1) ampliación del acceso y (2) efectos revelados desde límites burocráticos asociados a la reproducción de las desigualdades. La interacción entre usuarios/receptores de políticas públicas dirigidas a ciudadanos de las clases populares y las instituciones que las ofrecen/implementan puede revelar estigmas y discriminación, a la vez que contribuye a la regulación práctica de los comportamientos que la constituyen. Así, se puede hablar de desigualdad implementada en las políticas en el guichet5, concepto utilizado por Dubois (2019) para recordar ventanas o mesas a través de las cuales se realizan las interacciones de los sujetos con el Estado y también para reportar a un lugar 4Bernanrd Lahire (1997), sociólogo y profesor de la Universidad de Lyon, contribuyó a la construcción de la comprensión del concepto de trayectorias escolares, en su obra "Éxito escolar en los medios populares: las razones de lo improbable", donde profundiza en el concepto de éxito improbable de los estudiantes de clases populares. 5Dubois (2019) afirma que, en las ventanillas (guichet),las instituciones asumen la capacidad de moldear a los ciudadanos desde el momento en que las prácticas institucionales se comparten de manera desigual y silenciosa que reproduce las desigualdades sociales.
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111285 simbólico de dominación y revelación de estigmas que ocurren en estas relaciones. Al dialogar con la literatura en estos campos, este artículo articula, por lo tanto, las referencias y evidencias derivadas de la Sociología de la Educación con discusiones sobre la implementación de políticas y la reproducción de las desigualdades sociales. Según Hirata (2014), Oliveira (2017) y Laisner et al.(2021), estas preguntas se articulan directamente con marcadores sociales entrelazados de manera interseccional género, raza y estructuras patriarcales, y la forma en que acciones y políticas específicas generan opresión, constituyendo aspectos dinámicos de prácticas de desempoderamiento y estigmatización entendemos que el sujeto de investigación, el narrador, no podría ser seleccionado al azar. Dependiendo de los objetivos de la investigación, era necesario, entonces, "encontrar", en este grupo de estudiantes matriculados en un curso de alta selectividad 6, un perfil que tenía este perfil. A partir de encuestas con alumnos y profesores vinculados al curso de medicina, llegamos a José, un representante típico de este universo. Analizamos, entonces, su trayectoria como estudiante de una familia en situación de pobreza y su paso por dos universidades federales (la primera, una universidad mediana donde se matriculó en 2016 y se fue en 2020, el foco de los informes; y la segunda, una gran universidad, donde está matriculado desde 2021), ambas ubicadas en el estado de Minas Gerais. Joseph es un hombre negro de 28 años. Su padre es recepcionista en una posada y su madre, ama de casa. José provenía de una familia pobre en el norte de Minas Gerais, que se benefició del Programa Bolsa Familia durante más de diez años. Se unió a la universidad a través de la política de cuotas y es usuario de programas de asistencia estudiantil universitaria. La investigación desarrollada por Senkevics (2021) analiza las transformaciones que marcaron la reciente expansión del sistema de educación superior brasileño, a partir de datos cuantitativos concentrados en el período de 1991 a 2020, en diálogo con una revisión de la literatura. El autor enumera cinco tendencias principales: democratización del acceso, institución de acciones afirmativas, desequilibrio público-privado, expansión de la educación a distancia y estratificación horizontal. El autor afirma que la expansión sin precedentes de las vacantes y la matrícula en la educación superior, junto con la diversificación institucional de la oferta y las políticas inclusivas, ha llevado a la heterogeneización del público estudiantil y a una creciente estratificación horizontal. Es en este contexto que José forma parte de los miles 6Piotto (2010) analiza las trayectorias escolares y experiencias universitarias de estudiantes de clases populares en cursos de alta selectividad, abordando trayectorias marcadas por nuevas posibilidades y perspectivas, pero también por la humillación y el desarraigo sufrido por estos estudiantes.
image/svg+xml“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad públicaRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111286 de estudiantes de las clases populares, negros y morenos, que pasaron a formar parte de las instituciones de educación superior en Brasil debido a las políticas de protección social y expansión y democratización de este tipo de educación. Según Pires (2019), los procesos de implementación de políticas sociales, a la vez que mitigan las desigualdades, pueden reproducirlas. La investigación cualitativa tiene su propuesta metodológica basada en el modelo experiencial, desde nuevas perspectivas epistemológicas y metodológicas para el análisis de políticas públicas, propuesto por Lejano (2012). Del mismo modo, la perspectiva de Dubois (2019), basada en su trabajo de campo sobre encuentros burocráticos entre sujetos de capas populares y el Estado a través de las ventanillas, y los aportes de Gofmann (1982), sobre las interacciones estigmatizantes entre los ciudadanos y el Estado, favoreció la construcción del camino metodológico de este artículo. El uso de las narrativas propuestas por Maynard-Moody y Musheno (2003), como propuesta metodológica para comprender las interacciones existentes en el proceso de implementación de políticas, también apoyó la propuesta metodológica del artículo. Se realizó un instrumento narrativo-narrativo en profundidad como instrumento metodológico que, según Jovchelovitch y Bauer (2002), puede clasificarse como un método de investigación cualitativa, materializado como una forma de entrevista no estructurada, de mirada profunda con características específicas, como un proceso semiautónomo, basado en contar y escuchar la historia con mínima influencia del investigador. La entrevista narrativa incluyó cuatro dimensiones: (1) su trayectoria familiar y escolar antes de su ingreso a la universidad; (2) estrategias y políticas de inclusión social que contribuyeron a su entrada; (3) su experiencia diaria como estudiante de medicina y las interacciones con colegas, maestros, empleados; (4) su interacción con los sectores y órganos de la universidad, en sus ventanillas de boletos y (5) sus motivaciones y estrategias para cambiar las instituciones.El artículo está organizado en cuatro secciones, además de la introducción y las consideraciones finales. En la primera sección, presentamos una breve discusión sobre las políticas de protección social y su contribución a la llegada de estudiantes de clases bajas a la universidad pública. La segunda sección ofrece una revisión de las reuniones burocráticas en el proceso de implementación de políticas desde la perspectiva de discriminar y estigmatizar a las ventanillas. Finalmente, a partir del cuarto apartado, se presentan los resultados de la investigación a partir de la entrevista narrativa realizada al estudiante, en la que se expone la
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111287 trayectoria de la familia de José y su "improbable" ingreso a la universidad pública, además de sus experiencias con ventanillas discriminadoras en la universidad. De las políticas de protección social a la universidad pública: la llegada de estudiantes de las clases bajas a la educación superior Según Oliveira, A. L. M. (2019), la elección presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) inaugura un período que combina un marco institucional que garantiza, por primera vez, políticas sociales para la población pobre, la educación como derecho, la adopción de una profusión de políticas públicas para la educación superior, especialmente a partir de 2003. Kerstenetzky (2008) afirma que la inclusión de las políticas sociales en la agenda gubernamental contribuyó a la corrección de las desigualdades socioeconómicas. El autor sostiene que la promoción de la igualdad de oportunidades en Brasil es una de las claves para promover la movilidad social. En este sentido, Lavinas y Gentil (2018) afirman que, entre 2003 y 2014, hubo varios signos de crecimiento económico y esfuerzos para erradicar la pobreza y ampliar las oportunidades y la inclusión social: el aumento en la creación de empleos formales; aumentar la inversión pública en educación y salud; el crecimiento de la adhesión al plan de salud; el aumento del poder adquisitivo del salario mínimo en más del 70% y el éxito del programa Bolsa Familia y otros programas de inclusión, como Mi casa mi vida, Programa de Beneficios Continuos, Luz para Todos, entre otros. En cuanto a los avances en el campo de la educación, Costa, Silveira, Costa y Waltenberg (2021) muestran que, en 2015, la tasa de escolaridad de los estudiantes de 7 a 14 años en Brasil alcanzó el 98,8%; adolescentes de 15 a 17 años, alcanzaron el 85%. En esta perspectiva, esta expansión, combinada con políticas de inclusión social dirigidas a familias en situación de pobreza, contribuyó a que los jóvenes consideraran poco probable que visualizaran la oportunidad de acceder a la educación superior. El período estuvo marcado por la creación de numerosas universidades federales, financiadas por el Programa de Apoyo a los Planes de Reestructuración y Expansión de las Universidades Federales (REUNI). En 2018, una década después de la creación de institutos federales a través de la Ley Nº 11.892/2008 (BRASIL, 2008), que creó la Red Federal de Educación Profesional, Científica y Tecnológica, fue posible observar la expansión de las escuelas técnicas brasileñas, que, hasta 2020, tenían más de 600 campis.La expansión de la educación superior privada fue posible gracias al otorgamiento de becas, exenciones de
image/svg+xml“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad públicaRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111288 impuestos y préstamos a estudiantes, a través del Programa Universidad para Todos (PROUNI) y el Fondo de Financiamiento estudiantil para la educación superior (FIES). La V Encuesta de Perfil Socioeconómico y Cultural de Estudiantes de Pregrado de Instituciones Federales de Educación Superior, organizada por FONAPRACE7(2019), proporciona información sobre el perfil socioeconómico y cultural de sus estudiantes universitarios. Los datos revelan que hubo un cambio importante en el perfil socioeconómico de sus estudiantes, reduciendo su desigualdad histórica y elitismo: entre 2003 y 2017, la educación superior brasileña fue testigo de una expansión que resultó en un aumento de más del 260% en las vacantes ofrecidas. La Política de Cuotas contribuyó a minimizar la desigualdad de acceso e inclusión social y la presencia de una mayor diversidad entre los estudiantes de la educación superior brasileña. A través de la Ley N° 12.711, del 29 de agosto de 2012 (BRASIL, 2012), las vacantes comenzaron a reservarse en porcentaje para estudiantes de escuelas públicas y para minorías étnicas, aquellas que se dice que son "improbables" en las universidades hasta hace unos años. Datos de la Asociación Nacional de Líderes de Instituciones Federales de Educación Superior (ANDIFES) sobre la población negra en las universidades muestran que la combinación de REUNI y acciones afirmativas hizo que el número de estudiantes negros que, en 2003, era de 27.693, avanzara a 143.599 en 2018 (FONAPRACE, 2019). En cuanto al perfil socioeconómico de los estudiantes de familias en situación de pobreza y/o vulnerabilidad, el nombre utilizado por FONAPRACE (2019) utiliza la variable "Ingreso mensual bruto del grupo familiar e ingreso mensual per cápita" y considera que los estudiantes en vulnerabilidad social se encuentran en la categoría ingreso familiar mensual per cápita.de "hasta un salario mínimo y medio". En 2019, la investigación reveló que el 53.5% de los estudiantes universitarios de IFES están en el rango de ingreso familiar mensual per cápita de hasta1 salario mínimo, y el 70.2% están en el rango de ingreso mensual familiar per cápitade hasta 1 salario mínimo y medio. Históricamente, se puede observar, a través de los datos, que el porcentaje de estudiantes pertenecientes a familias con ingresos per cápita mensuales de hasta1 salario mínimo y medio saltó de 44,3% en 1996 a 66,2% en 2014, alcanzando 70,2% en 2018, el nivel más alto de la serie histórica. Parte de este movimiento se deriva de la fuerte expansión de la educación superior pública y la inversión en políticas sociales para las capas más pobres de la población desde principios de la década de 2000. 7Observatorio del Foro Nacional de Pro-rectores de Asuntos Estudiantiles.
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111289 Es importante destacar, sin embargo, que la investigación también revela las desigualdades asociadas a este proceso de inclusión. Costa, Silveira, Costa y Waltenberg (2021) llaman la atención sobre la necesidad de una democratización horizontal de las universidades, a través del mantenimiento de condiciones de acceso y permanencia de estudiantes de origen popular en cursos universitarios de élite, históricamente atendidos por sectores blancos de la sociedad e hijos de familias de clases sociales más favorecidas. Reuniones burocráticas en el proceso de implementación de políticas: discriminar y estigmatizar las ventanillas La discusión sobre las políticas públicas asume que siguen un camino hasta ponerlas a disposición de sus destinatarios, a través de una cadena que moviliza a un conjunto de actores gubernamentales, involucrando también características de la propia burocracia. Al analizar la implementación desde la perspectiva de los agentes que trabajan en la punta los burócratas de la calle o los burócratas a nivel de calle, según Lipsky (1980 apud OLIVEIRA, B. R., 2019) afirma que el proceso de implementación de políticas en el contexto de la práctica involucra a diferentes actores que tienen diferentes agendas e intereses, combinados con sus creencias, valores y percepciones. El autor también afirma que los significados atribuidos a las políticas a lo largo de esta trayectoria de implementación impregnan "lentes" particulares. Esta perspectiva pone de relieve la comprensión de que esta dinámica es compleja, ya que existen una serie de particularidades que involucran el proceso de toma de decisiones de los actores, así como la forma en que interpretan la política y su propio papel, como ejecutores o beneficiarios de las políticas. Según Pires (2019), hasta que la política no esté disponible, sus objetivos están condicionados a un conjunto de factores que pueden no haber sido previstos en su formulación. Así, pueden producir efectos no previstos en los procesos de formulación e implementación, reproduciendo o agravando las desigualdades. La investigación sobre los efectos no revelados informa que la implementación produce efectos sociales deseables y también efectos indeseables, que nacen de externalidades negativas. Incluso cuando nacen de la norma y el gobierno, sus vidas cotidianas se refieren a la forma en que los burócratas traducen la política y cómo estos problemas afectan la interacción con los ciudadanos, los destinatarios de estas políticas. En este sentido, Oliveira y Lacerda (2019) afirman que existen aspectos invisibles inherentes al proceso de implementación y que esta invisibilidad puede entenderse como la
image/svg+xml“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad públicaRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111290 producción de externalidades positivas y negativas, los efectos secundarios generados por la operacionalización de acciones dentro del ámbito de la acción estatal, a nivel local. Al abordar estas cuestiones, Maynard-Moody y Musheno (2003) afirman que los agentes implementadores tienen sus decisiones directamente vinculadas a sus valores, creencias y sistemas de valores. Para los autores, los procesos de implementación desencadenan sus valores morales, lo que afecta la forma en que actúan y deciden. Al analizar el desempeño de los agentes que trabajan en la punta y su atribución "educativa" a los ciudadanos, Auyero (2012) caracterizó a los usuarios como "aprendices" o "pacientes" del Estado, desde la perspectiva de que las sanciones, demandas, juicios de valor y desigualdad de poder se personifican en los burócratas. Desde esta perspectiva, la aplicación puede entenderse como un proceso político. La política que se hace en la implementación es descrita por Vincent Dubois (2019) como capaz de perpetuar posiciones de subordinación en relaciones estructurales de dominación, en el contexto de servir a las capas populares. Las relaciones existentes en las ventanillas y los juicios que surgen de estas relaciones son capaces de producir lo que el autor llama "políticasenel mostrador". Más que eso, revelan una "política de la ventanilla”, que tiene el propósito de reproducir la desigualdad existente entre los dos lados de la ventana, a través de lo que el autor llama un modo de operación de una intervención pública que tiene como objetivo regular a estas poblaciones. El autor afirma que, en la dinámica de implementación, pueden darse "trucos" capaces de permitir a los gobiernos sostener un "doble juego", que, a pesar del discurso de inclusión de la población de clases populares, es saboteado por lo que él llama "políticas de Guiche (ventanilla)" ejercidas en el desempeño de los trabajadores de primera línea en el proceso de implementación de políticas públicas. La ventana discriminante se refiere a la perspectiva de la sociología de la ventana francesa. (sociologie du guichet) y puede aportar nuevas lentes analíticas al debate brasileño sobre temas como la implementación de políticas públicas, especialmente cuando se trata de la relación entre los burócratas callejeros y la población de las clases populares. En sus estudios sobre estas dinámicas, Dubois (2019) aclara el concepto de ventana y analiza cómo tales interacciones pueden contribuir a la reproducción de las desigualdades en el contexto de la implementación de políticas públicas. Goffman (1982), al analizar el "orden interaccional" y sus relaciones con las estructuras sociales, afirma que las interacciones deben ser vistas como una unidad de análisis relevante para la investigación sociológica en general. Para el autor, existe una relación íntima entre estas interacciones y las
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111291 estructuras sociales, como si las características de estas estructuras sociales pudieran reproducirse. Desde esta perspectiva, sirviendo de apoyo a las ideas de Dubois, Goffman (1982) refuerza que estas interacciones pueden producir relaciones desiguales, silenciosas y estigmatizantes, agravando las desigualdades sociales. La trayectoria de una familia y estudiante "improbable" que "metió la burbuja" de acceso a la universidad pública José tiene veintiocho años. Comenzó, en 2019, su primer curso de medicina en una universidad mediana de Minas Gerais, y en 2021 decidió, debido a las dificultades financieras y los problemas asociados con los estigmas sufridos en esta institución, asistir a Medicina en una gran universidad minera. El estudiante relata que, junto con su hermano, dos años mayor, tuvo una infancia muy pobre. Su padre, que no completó los primeros años de la escuela primaria, siempre fue quien trabajó y mantuvo a la familia como recepcionista de una posada. Su madre, que terminó la escuela secundaria y asistió a la enseñanza, trabajó brevemente en una guardería cuando sus hijos eran pequeños y se convirtió en "ama de casa", ya que entendía que era necesario que alguien se ocupara de los estudios de sus hijos. José informa que su familia vivía en una "clásica casa de adobe de documentales del Valle" y que la familia recibió ayuda de la iglesia local para mantener las precarias condiciones de la casa. Dijo que la privación material tensaba la vida cotidiana y el acceso a las políticas de atención primaria era limitado para la familia, que se encontraba, por ejemplo, con muchas dificultades para acceder a los profesionales de la salud, los medicamentos y procedimientos como los exámenes y las hospitalizaciones. El contexto social y político de los primeros años de la primera década de 2000, período correspondiente a la infancia y adolescencia de José, estuvo rodeado de un nuevo paradigma orientado a construir políticas de protección social para la población en situación de pobreza en Brasil. Con una agenda enfocada en la conformación de una red de protección social orientada a abordar las desigualdades asociadas a audiencias específicas, el gobierno de Lula inauguró un momento político de cambio social en el que el Estado se reafirmó como un actor estratégico, si no central, para enfrentar problemas relacionados con la ciudadanía, la desigualdad, las oportunidades y el bienestar (JACCOUD; BICHIR; MEZQUITA, 2017, p. 39). José, quien nació en 1993, relata que, desde su preadolescencia, su familia comenzó a ser contemplada por el Programa Bolsa Familia. Afirma que la cantidad, que estaba destinada a comprar comida y pagar las facturas de la casa, estaba condicionada a la asistencia escolar de
image/svg+xml“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad públicaRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111292 los dos hermanos. José reconoce que Bolsa Familia hizo un gran aporte para que pudieran mantenerse, complementando los ingresos del salario de su padre, además de contribuir a que su hermano y él no salieran de la escuela. Néri (2012) afirma que el Programa Bolsa Familia ofreció un gran potencial para la caída de la desigualdad en Brasil, caracterizando el programa como una de las políticas públicas más exitosas en la lucha contra las desigualdades sociales. El autor también afirma que el programa indujo a las familias a monitorear la escolarización de sus hijos, contribuyendo decisivamente a la reducción del círculo intergenerational de pobreza y a la expansión de los años de escolaridad de niños y jóvenes. En Brasil, las últimas dos décadas han estado marcadas por la expansión del acceso a las universidades públicas brasileñas, que han recibido significativamente estudiantes de clases populares a través de políticas de acción afirmativa y expansión de vacantes. El estudiante entrevistado explica, en su informe, cómo las políticas de inclusión que integran una red de protección social en Brasil desde la primera década de la década de 2000 contribuyeron a su trayectoria, afirmando que "nunca podría ingresar a la universidad si la ENEM no existiera" y que la Política de Cuotas era su "puerta de entrada" a la universidad pública. Para él, tales políticas "permitieron a un puñado de estudiantes superar esta trayectoria de pobreza y la exclusión del diploma". Sin embargo, José deja claro que los espacios escolares a los que asistió están marcados en su memoria por el estigma de la desigualdad. En sus informes, demuestra una idea de una escuela capaz de reproducir las desigualdades sociales, basada en su comprensión de la precariedad de la estructura, la formación de sus maestros y los materiales didácticos a los que tuvo acceso en la escuela a la que asistió. Sobre su acceso a la educación superior pública, José detuvo dos factores importantes para que, en sus palabras, pudiera "perforar la burbuja de la universidad federal". La carrera escolar de su madre y el apoyo familiar para que pudiera estudiar sin la preocupación de tener que trabajar para ayudar económicamente a la familia fueron decisivos. Sobre la trayectoria de la madre y sus intentos de ingresar a la universidad, la estudiante informa que tuvo una trayectoria exitosa en la educación básica, pero que no pudo ingresar a una universidad. José relata que crecer escuchando los recuerdos de su madre de una exitosa carrera escolar le hizo, desde muy joven, imaginar esta posibilidad de ser un buen estudiante. En sus relatos, deja claro que la figura de la madre, la vasta colección de libros que tenía en casa y el hecho de crear momentos de lectura con sus hijos a través de sus viejos libros escolares, contribuyeron a que ampliara su mirada sobre su carrera escolar.
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111293 Afirmando que la inversión de los padres en la vida escolar de sus hijos es un factor impulsor del éxito en la escolarización, Nogueira (2021) reflexiona sobre el uso del concepto de capital cultural para explicar las desigualdades escolares como sinónimo de disposiciones culturales y relación con los bienes culturales. Lahire (1997) señala que la presencia de miembros con capital cultural escolar en la familia por sí sola no es capaz de producir efectos en las siguientes generaciones. Para ello son necesarias interacciones efectivas y afectivas, que, en el caso de la alumna entrevistada, parecen estar relacionadas con el acceso a la colección de libros de la madre, el incentivo para leer y estudiar estos libros y la memoria de los informes de la madre sobre su trayectoria de éxito escolar y el intento de ingresar a una universidad. De la misma manera que las estrategias de la madre son recordadas por el estudiante, también se destacan en su relato los esfuerzos del padre, un trabajador asalariado, para que el niño pudiera estudiar y "perforar la burbuja universitaria". Creo que logré perforar esta burbuja por mucho esfuerzo y por tener la menor posibilidad de poder sentarme y estudiar. Hay mucha gente que no ha tenido ese privilegio que yo he tenido, ¿sabes? Mi papá me dejó, pude estudiar, tranquilo en el interior todo el año, estudiando hasta los 28 años, sin tener que trabajar, ¿sabes? (José). A través de los estudios de Lahire (1997), Nogueira (2005), Viana (2005), Thin (2006) y Portes e Souza, (2012), se sabe que la familia constituye un fundamento social indispensable para ser considerado en la constitución de una trayectoria de longevidad escolar, lo que es corroborado por los informes de José. Tales estudios sobre estrategias familiares de escolarización han ventilado el debate, dando cabida a la importancia de considerar la complejidad de estas trayectorias, de los sujetos como resultado de múltiples procesos de socialización, y que su acción individual sea también estratégica en estos procesos. Según FONAPRACE (2019), la inclusión de un gran número de estudiantes brasileños en la educación superior, a través de políticas para fortalecer la educación básica y las políticas de protección social desde 2003, ha aumentado el número de "excepciones", según Piotto (2012, p. 3). En su relato de estar en la universidad en un curso de medicina, José afirma: "Soy una excepción a la excepción". Según datos de FONAPRACE (2019), José forma parte del 70,2% de los estudiantes de origen popular brasileño que ingresaron a la universidad pública con un ingreso per cápita de hasta 1 salario mínimo y medio. Con este movimiento, esta composición impone a estas instituciones otros requisitos, revelados por las desigualdades asociadas a la permanencia de estos estudiantes en estos espacios.
image/svg+xml“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad públicaRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111294 Para Terrail (1990), quien discutió las estrategias de los estudiantes universitarios pobres, el éxito escolar de los estudiantes de clases bajas implica el contacto con la hostilidad en las relaciones y la desigualdad presente en estas relaciones. Por esta razón, Dubet (2001) discute la democratización de la educación segregativa, en la perspectiva de que los sujetos de las clases populares no forman parte de los sectores de formación más valorados socialmente. Al analizar estos temas a partir del relato de José, el estudiante afirma que no bastaba con "pegarse a la burbuja", ya que deja claro que ingresar a la universidad no hizo desaparecer los problemas sociales que había conocido desde la infancia. Las desigualdades de oportunidades en relación a la escuela se revelan ahora en las dificultades que enfrenta el estudiante para tener acceso a las políticas de atención en la universidad pública, en la interacción a través de sus ventanillas. Además, la convivencia cotidiana con otros actores que transitan en este universo también emerge como productora de desigualdades y estigmas, objetos de la siguiente sección. "No tengo la cara de un estudiante de medicina": las experiencias de un estudiante de capa popular con ventanillas discriminadoras en la universidad José idealizó, desde la adolescencia, ser oncólogo, o, "médico del Valle", para trabajar en su región y dar a la gente de su comunidad lo que él y su familia no tenían: acceso a políticas de salud pública. Su trayectoria, entre renuncias y aprobaciones, fue extensa y tortuosa: se graduó de la escuela secundaria en 2010 e intentó, entre 2011 y 2014, ser aprobado en Medicina. José afirma que es consciente de "sus condiciones ante aquellos que pensaba que estaban mucho más preparados". Sin poder pagar los cursos preparatorios, adoptó una estrategia calculada: ingresar a la universidad a través de un "curso de trampolín" para llegar a la escuela de medicina. En 2015, fue aprobado en el curso de ingeniería mecánica en una universidad mediana en el interior de Minas Gerais, el "trampolín" para realizar su anhelo de estudiar medicina.En los dos años siguientes, 2016 y 2017, José informa que estudió varias disciplinas en el área de portugués, matemáticas, física y química, con la estrategia de, dentro del curso de ingeniería mecánica, tener su curso preparatorio para un futuro ENEM y ser aprobado en Medicina. José no fue aprobado en 2016 y 2017, lo que le hizo solicitar el "candado" del curso de Ingeniería Mecánica y regresar a casa de sus padres. Estudiando en casa y con el apoyo de canales en Youtube,a finales de 2018, José fue aprobado en Medicina en la misma universidad. En 2019, pasó a estudiar medicina.
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111295 El estudiante relata que continuó disfrutando de la asistencia de vivienda y la beca de alimentación, a través del restaurante de la universidad, como lo hizo cuando se matriculó en Ingeniería Mecánica. En sus informes, explica las dificultades que tuvo con respecto a la vivienda, ya que era necesario "entrar al baño y cerrar la puerta para estudiar", y que compartía habitación con otros cuatro compañeros que asistieron a diferentes cursos. Consultado sobre las políticas de asistencia estudiantil en esta universidad, José relata que pasó por dificultades económicas para mantenerse en el curso por la ausencia de una beca de mantenimiento, lo que le imposibilitó comprar las limosnas dejadas por los profesores en las papelerías que las comercializaban y también asumir los costos de los pasajes de bus para actividades prácticas del curso que se realizaban en barrios alejados de la universidad. El estudiante informa que decidió pedir ayuda a la universidad para la vivienda, porque el alojamiento perjudicó sus estudios. Así, relata que, para obtener esta ayuda, fue necesario que escribiera una carta diciéndole por qué no querría vivir en el alojamiento, demostrando con ataque médico o psicológico la necesidad de vivir solo y/o en la ciudad, lo que le hizo sentir humillado. Tienes que escribir una carta, preguntando, ¿por qué querías (dejar el alojamiento), ya sabes? Te sientes humillado por poder ganar 230 reales y no encuentras sitio en la ciudad, para vivir, por 230 reales. No hay condición. Luego te piden que escribas la razón por la que quieres dejar el alojamiento. Luego tienes que reportarte allí porque quieres irte, y luego aprobarán o no tu salida. Luego te piden que, si tienes alguna pregunta psicológica, algún informe médico, que asocie que el alojamiento te está lastimando, te está perjudicando, entonces hagas un archivo adjunto y lo envíes. Así que parece ser, para mí, mucha burocracia (José).Dubois (2019) afirma que las interacciones que ocurren en el mostrador, es decir, las relaciones en el tratamiento de la miseria, los roles burocráticos, que al principio parecen impersonales, resultan ser altamente permeables a las disposiciones de quienes los realizan. La ventana revelada porel autor, con su recurrente potencial de violencia simbólica, impone a los individuos la convicción de su condición de subordinación en relación con los agentes y con el propio Estado, reforzando su idea de una interacción estigmatizante, que Goffman (1982) llama interacciones desiguales y silenciosas que reproducen las desigualdades sociales. En su narrativa, el estudiante deja claro que el camino que tendría que tomar para solicitar que el subsidio de vivienda se convirtiera en ayuda a la vivienda fue particularmente humillante. Frente la ventanilla de asistencia estudiantildeja en claro que recibió orientación que lo avergonzó sobre cómo se debe hacer la solicitud.
image/svg+xml“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad públicaRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111296 La experiencia de José es un claro ejemplo de los efectos del proceso de implementación y reproducción de las desigualdades sociales en la prestación de servicios públicos, según lo analizado por Pires (2019). El estudiante deja en claro que escribir una carta demostrando que realmente no pudo vivir en el alojamiento para obtener asistencia de vivienda, lo puso a través de un proceso de ansiedad y tristeza. Las repeticiones de los patrones de exclusión también fueron, según el estudiante, por el tipo de tratamiento a través del cual se recibió en las ventanillas de asistencia estudiantil. Su percepción personal era que era tratado con casualidad, frialdad y prisa en algunas situaciones. Por lo tanto, es necesario discutir el desempeño de los agentes implementadores en la punta, burócratas a nivel de calle que, con capacidad discrecional, pueden reproducir las desigualdades desde su posición en el proceso de producción de políticas, o que, según Maynard y Musheno (2003), pueden actuar desde posiciones de poder con los ciudadanos. Esta es una de las razones por las que "el desempeño de los burócratas de calle puede impactar en los procesos de inclusión y exclusión social" (PIRES; LOTTA; TORRES JUNIOR, 2019, p. 258). En su narración, José afirma que el sentimiento de pertenencia como estudiante de medicina en esta universidad era frágil y doloroso. El estudiante relata que pasó por varias situaciones por las que se sintió distanciado de otros colegas debido a su color o clase social. Cuando entré en el curso, hubo ese discurso de veteranos, desde la sala unida. Y luego entras con la sensación de que eres parte de ella. Pero a medida que avanza el curso, se nota que hay una segmentación natural de la sala por contexto social, por contexto socioeconómico, hay una segmentación. Te das cuenta de que hay personas que no te miran bien. Te das cuenta de que hay personas a las que les molesta tu presencia, ya sabes, que te miran tolerando que estés allí, como si no fueras digno de estar allí. Eso es bastante notable, ¿sabes? Entre los estudiantes sí(José). Sobre sus compañeros de clase en la sala, dice que se sintió excluido de algunas decisiones colectivas, afirmando que es "como una persona que está haciendo autostop en un automóvil que no es tuyo, ¿sabes? No tienes derecho allí". Lo mismo ocurrió con los funcionarios del Departamento de Medicina o con otros órganos de la universidad. Como ejemplo de distancia desigual y discriminatoria entre las clases populares y las instituciones, según Dubois (2019), José afirma que ha experimentado limitaciones con los asistentes de departamento, como se informa a continuación: Resulta que estoy sentado allí en el departamento, llega la persona, con varios estudiantes allí, y un empleado se me acerca y me pregunta si estaba allí esperando para hacer el concurso de técnicos. ¿Por qué me preguntó si estaba en medio de todos mis colegas? Es una cuestión de visualización, que no tengo la cara de un estudiante de medicina (José).
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111297 Dubois (2020) enfatiza que las reuniones burocráticas de "frente y frente" entre ciudadanos que están a ambos lados de la ventana pueden revelar que todas las normas sociales y morales que forman parte de esta interacción son capaces de producir dinámicas de clasificación entre los ciudadanos y, además, perpetuar las desigualdades entre ellos. En ventanillas, dispositivos concretos y/o simbólicos que revelan la burocracia y discreción de los agentes implementadores, es que se producen relaciones de poder, discriminación, perpetuación de la desigualdad y estigmatización. Pires, Lotta y Torres Júnior (2019) también refuerzan la necesidad de comprender los procesos de (re)producción de las desigualdades sociales engendradas en la acción estatal. Al abordar estos temas, José informa que "incluso la posición de sentarse en la sala está segmentada. La gente no se mezcla. Tienes a la pobre multitud y a la otra multitud". El estudiante cuenta una situación en la que un colega, entre varios estudiantes, le preguntó en voz alta en qué curso estaba matriculado en la universidad. Todos dijeron: "¡Es historia! Geografía". Así que ya tienes un personaje, ¿quién es el estudiante de medicina y no tiene mis características verdad? Nadie habla, no creen que el tipo sea un estudiante de medicina. Así que veo que esto es algo que es muy complicado de tratar de resolver. Es algo que ya es estructural. Creo que, con el tiempo, pero con mucho tiempo, que estos alumnos puedan sumarse y más alumnos puedan tener acceso a estos posts que hoy son otras personas, creo que hay una tendencia a mejorar en esto (José). José informa que todos los estigmas relacionados con la falta de privacidad y espacio para estudiar, además de "situación de bajos ingresos y falta de apoyo de la universidad" materializados en ausencia de beca de manutención y dificultades encontradas en relación con la vivienda estudiantil, lo llevaron a volver a intentar la ENEM, a finales de 2019. Pero esta vez, su objetivo era estudiar Medicina, a partir de 2020, en una gran universidad del estado de Minas Gerais. El estudiante fue aprobado en el curso de medicina de esta universidad, ubicada en la capital de Minas Gerais. Incluso con la aprobación en 2020, José informa que renunció a ir a la capital, porque le dijeron que sería más difícil obtener ayudas temporales de vivienda hasta que solicitara alojamiento. El miedo a no tener los recursos financieros para mantenerlo fuera. Así, mantuvo su matrícula en la primera universidad, en el interior del estado. En marzo de 2020, cuando se propuso el distanciamiento social y el confinamientodebido a la pandemia de Covid-19, Joseph regresó a la casa de sus padres. La situación empeoró porque, justo en ese momento, su padre se quedó sin trabajo y no pudo contar con ninguna ayuda para permanecer en la universidad y ni siquiera en la casa de sus padres. Su percepción es que la primera universidad "renunció a
image/svg+xml“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad públicaRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111298 los estudiantes pobres", lo que lo hizo tomar una nueva decisión: intentar nuevamente la ENEM para ingresar a la medicina en la universidad de la capital del estado de Minas Gerais, a partir de 2021. José, al afirmar que comenzaría el curso "desde cero de nuevo", se convierte en un estudiante regular del curso de medicina en esta gran universidad. A pesar de que emigró a otra universidad, reconoce que las políticas de asistencia estudiantil que atendió en la primera universidad fueron fundamentales para su estadía y también para sus compañeros en las clases más bajas. Destaca la importancia de la Subvención alimentaria para el período que permaneció allí. Creo que las políticas de asistencia a los estudiantes pobres son necesarias, por muy malas que sean. Hay una universidad en mi ciudad. ¿No sería más fácil para mí entrar allí? Tenía ingeniería mecánica en mi ciudad. ¿Por qué no me metí en Ingeniería Mecánica allí? Fui a la primera universidad por el restaurante de la universidad (José). Al igual que muchos jóvenes de clases populares que están presentes en las universidades públicas brasileñas, José explica claramente desde su trayectoria que el debate sobre el acceso y la permanencia en las universidades públicas debe profundizarse, ya sea desde la perspectiva de las políticas de asistencia estudiantil o desde la visión más juiciosa de cómo se implementan estas políticas en estas instituciones. Consideraciones finales A pesar de los límites metodológicos y analíticos de este artículo, la narrativa del estudiante contribuye a revelar las dimensiones históricas, colectivas y sociales en sus experiencias, vinculadas al proceso de implementación de políticas sociales. Gussi y Oliveira (2016, p. 95) enfatizan la importancia de la noción de trayectoria y contexto social de los sujetos, definiéndola como un "marco metodológico estratégico para comprender los procesos sociales, construyendo un diálogo entre temporalidades y territorialidades, revelando una dimensión histórica, colectiva y social". Así, el estudiante otorga subsidios que permiten desconocer las interacciones entre los agentes que trabajan en las ventanillas y en los grupos sociales por donde transita esta asignatura, así como los efectos que dichos procesos de implementación pueden producir. Anclado en Jaccoud (2005), Kerstenetzky (2008), Portes e Souza (2012) y Senkevics (2021), la narrativa de José revela que la red de protección social en la que se insertó su familia, junto con las estrategias familiares para tener una larga escolaridad, contribuyeron a "pegarse a
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111299 la burbuja" de los cursos de alta selectividad de la universidad pública. La presencia de estudiantes "improbables" en las universidades, principalmente públicas, marca el debate sobre la expansión de las vacantes y la democratización del acceso a la educación, lo que impone la discusión sobre la ausencia de afiliación universitaria (COULON, 2012) en la educación superior pública brasileña. En esta perspectiva, la presencia de un estudiante de capa popular en un curso de alta selectividad en una universidad pública sacó a la luz dinámicas y estigmas asociados, simultáneamente, con las estrategias de inclusión deseadas por esta misma red de protección social, como explican Goffman (1982), Dubois (2019, 2020) y Pires (2019): discriminación por género o raza, interacciones discriminatorias en las ventanillas locales donde la implementación de políticas se materializa diariamente, y dificultades, tensiones y desajustes burocráticos en los procesos asociados a la provisión de políticas de asistencia estudiantil. La distancia desigual y discriminatoria entre las clases populares y las instituciones puede ser clara entre los ciudadanos a ambos lados de laventana, lo que puede perpetuar la soledad presente en las improbables trayectorias de éxito y longevidad escolar de los estudiantes de las clases populares. Dubois (2019) afirma que los significados atribuidos en la conducta realizada por los agentes implementadores pueden ejercer un mecanismo de regulación moral, constituyendo efectos simbólicos que pueden producir y reproducir, a través de las interacciones que se producen en el servicio público, la interiorización de un valor social a los usuarios, con autoimagen subordinada y estigmatización de estos ciudadanos. Los formuladores de políticas, los gestores y los ejecutores de políticas destinadas a la democratización de la educación superior y la permanencia universitaria (en todos los niveles e institucionales) deben conocer y mitigar los efectos asociados con la implementación de estas políticas, especialmente a nivel local. Desde la misma perspectiva, es urgente discutir la interacción asociada al desempeño de los agentes públicos que actúan en la punta, su capacidad discrecional y las desigualdades que pueden revelarse en las dinámicas procesadas en las ventanillas, en la relación con los estudiantes de las clases populares, los ciudadanos objetivo de los programas de inclusión y la reducción de las asimetrías sociales históricamente existentes en Brasil.
image/svg+xml“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad públicaRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111300 REFERENCIASAUYERO, J. Patients of the state: An Ethnographic Account of Poor People is waiting. Latin American Research Review, v. 46, n. 1, p. 5-29, 2012. Disponible en: https://www.jstor.org/stable/41261368. Acceso: 16 mayo 2020. BRASIL. Lei n. 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2008. Disponible en: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm. Acceso: 14 oct. 2021. BRASIL. Lei n. 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2012. Disponible en: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm. Acceso: 14 oct. 2021. COSTA, J.; SILVEIRA, F. G.; COSTA, R.; WALTENBERG, F. (org.). Expansão da educação superior e progressividade do investimento público.Brasília, DF: Ipea, 2021. COULON, A. O sucesso estudantil e sua avaliação: Que política universitária é possível? In: SANTOS, G.; SAMPAIO, S. (org.). Observatório da Vida Estudantil. Estudos sobre a vida e cultura universitárias. Salvador: EDUFBA, 2012. DUBET, F. As desigualdades multiplicadas. Revista Brasileira de Educação, n. 17, p. 5-19, 2001. Disponible en: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n17/n17a01. Acceso: 23 dic. 2021. DUBOIS, V. Políticas no guichê, políticas do guichê. In: PIRES, R. Implementando Desigualdades: Reprodução de desigualdades na implementação de políticas públicas. Rio de Janeiro: IPEA, 2019. DUBOIS, V. Lower Classes and Public Institutions: A research program. France: University of Strasbourg, 2020. FONAPRACE. V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos(as) Graduandos(as) das IFES 2018.Brasília, DF: Observatório do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Estudantis 2019. 318 p. Disponible en: https://www.andifes.org.br/wp-content/uploads/2019/05/V-Pesquisa-Nacional-de-Perfil-Socioeconomico-e-Cultural-dos-as-Graduandos-as-das-IFES-2018.pdf. Acceso: 14 oct. 2021. GOFFMAN, E. Estigma:Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores S. A., 1982. GUSSI, A. F.; OLIVEIRA, B. R. Políticas públicas e outra perspectiva de avaliação: Uma abordagem antropológica. Revista Desenvolvimento em Debate, v. 4, n. 1, p. 83-101, 2016. Disponible en: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/32515. Acceso: 12 abr. 2021.
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111301 HIRATA, H. Gênero, classe e raça: Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 26, n. 1, jun. 2014. Disponible en: https://www.scielo.br/j/ts/a/LhNLNH6YJB5HVJ6vnGpLgHz/?format=pdf&lang=pt. Acceso: 4 abr. 2021 JACCOUD, L. Questão Social e Políticas Sociais no Brasil Contemporâneo.Brasília, DF: IPEA, 2005. JACCOUD, L.; BICHIR, R.; MESQUITA, A. C. O SUAS na proteção social brasileira: Transformações recentes e perspectivas. Novos estud. CEBRAP, São Paulo, v. 36, n. 02, p. 37-53, jul. 2017. Disponible en: https://www.scielo.br/j/nec/a/Vkv7r47xGw7Hd6XmZdh7HfL/abstract/?lang=pt. Acceso: 15 marzo 2021. KERSTENETZKY, C. L. Desigualdade como questão política. CEDE, Texto para discussão n. 11, 2008. Disponible en: https://cede.uff.br/wp-content/uploads/sites/251/2021/04/TD-001-KERSTENETZKY-C.-2008.-Desigualdade-como-questao-politica.pdf. Acceso: 12 feb. 2021. LAHIRE, B. Sucesso escolar nos meios populares: As razões do improvável. São Paulo: Ática, 1997. LAISNER, R. C. etal. O reconhecimento a partir da diferença: Olhares interseccionais para a construção de ferramentas de avaliação de políticas públicas. Revista AVAL, v. 5, n. 19, jan./jun. 2021. Disponible en: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/63394. Acceso: 25 oct. 2021. LAVINAS, L. GENTIL, D. L. Brasil anos 2000: A política social sob regência da financeirização.Dossiê balanço crítico da economia brasileira (2003-2016).Novos estudos CEBRAP, São Paulo, v. 37, n. 2, p. 191-211, maio/ago. 2018. Disponible en: https://www.scielo.br/j/nec/a/5fqGSvyFTytWTNkQBJNGM3M/abstract/?lang=pt. Acceso: 11 agosto 2021. LEJANO, R. Parâmetros para análise de políticas:Fusão de texto e contexto. Campinas: Arte Escrita, 2012. LIPSKY, M. Burocracia de nível de rua: Dilemas do indivíduo nos serviços públicos. Brasília, DF: Enap, 2019. Disponible en: https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/4158/1/Burocracia%20de%20nível%20de%20rua_Michael%20Lipsky.pdf. Acceso: 11 de agosto. 2021. MAYNARD-MOODY, S.; MUSHENO, M. Cops, teachers, counselors: Narratives of street-level judgment. Ann Arbor: University of Michigan Press, 2003. NERI, M. C. A Década Inclusiva (2001-2011): Desigualdade, Pobreza e Políticas de Renda”. Rio de Janeiro:IPEA, 2012. Disponible en: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/4639. Acceso: 03 de mayo de 2020. NOGUEIRA, M. A. O capital cultural e a produção das desigualdades escolares contemporâneas.Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 51, e07468, 2021. Disponible en:
image/svg+xml“No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad públicaRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111302 https://www.scielo.br/j/cp/a/pdTJTSCfQhzpWjZSGGy8gqK/abstract/?lang=pt. Acceso: 15 de mayo de 2020. NOGUEIRA, M. A. A relação família-escola na contemporaneidade: Fenômeno social/interrogações sociológicas. Análise Social, v. 40, n. 176, p. 563-578, 2005. Disponible en: https://www.jstor.org/stable/41012165. Acceso: 14 de mayo de 2020. OLIVEIRA, A. L. M. Educação Superior brasileira no início do século XXI: Inclusão interrompida? 2019. Tese (Doutorado) IE, UNICAMP, Campinas, São Paulo, 2019. Disponible en: https://repositorio.unicamp.br/Acervo/Detalhe/1088834. Acceso: 14 Mar. 2021. OLIVEIRA, B. R. A implementação de políticas educacionais no nível micro: uma análise a partir dos profissionais da escola no contexto da prática. Revista de Estudios Teóricos y Epistemológicos en Política Educativa, v. 4, p. 1-17, 2019. Disponible en: https://www.revistas2.uepg.br/index.php/retepe/article/view/12972. Acceso: 22 dic. 2021. OLIVEIRA, B. R.; LACERDA, M. C. R. Trazendo à tona aspectos invisíveis no processo de implementação de políticas públicas: uma análise a partir do Programa Oportunidades. In:PIRES, R. R. C. (org.). Implementando desigualdades: Reprodução de desigualdades na Implementação de políticas públicas. Rio de Janeiro: IPEA, 2019. PNAD. Pesquisa nacional por amostra de domicílios. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2019. Disponible en: http://www.ibge.gov.br. Acceso: 29 dic. 2021. PIRES, R. Implementando desigualdades: Reprodução de desigualdades na Implementação de políticas públicas. Rio de Janeiro: IPEA, 2019. PIRES, R.; LOTTA, G.; TORRES JUNIOR, R. D. Burocracias Implementadoras e a (Re) produção de Desigualdades sociais: perspectivas de análise no debate internacional. In: PIRES, R.; LOTTA, G.; OLIVEIRA, V. E. Burocracia e políticas públicas no Brasil interseções analíticas. Brasília, DF: IPEA; ENAP, 2019. PORTES, E. A. Estratégias escolares do universitário das camadas populares:A insubordinação aos determinantes. 1993. Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1993. PORTES, E. A.; SOUSA, L. O nó da questão:A permanência de jovens dos meios populares no ensino superior público. Rio de Janeiro: Flacso, 2012. Disponible en: http: //flacso.org.br/files/2015/03/Apresentacao_Ecio_Portes.pdf. Acceso: 21 dic. 2021. SENKEVICS, A. A expansão recente do ensino superior: Cinco tendências de 1991 a 2020. Cadernos de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais, v. 3, n. 4, p. 199-246, 2021. Disponible en: http://www.emaberto.inep.gov.br/ojs3/index.php/cadernos/article/view/4892. Acceso: 19 sept. 2021. SILVA, J. S. Por que uns e não outros?Caminhada de estudantes da Maré para a universidade. 1999. Tese (Doutorado em Educação) PUC, Rio de Janeiro, 1999.
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES y Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.161111303 TERRAIL, J-P. L’issue scolaire: de quelques histoires de transfuges. In: TERRAIL, J-P. Destins ouvriersLa fin d’une classe? Paris: PUF, 1990. THIN, D. Para uma análise das relações entre famílias populares e escola: Confrontação entre lógicas socializadoras. Revista Brasileira de Educação, v. 11, n. 32, p. 211- 225. maio/ago. 2006. Disponible en: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/8gBjdVbfWbNyNft4Gg7THbM/abstract/?lang=pt. Acceso: 10 abr. 2021. VIANA, M. J. B. Longevidade escolar em famílias de camadas populares: Algumas condições de possibilidade. 1998. Tese (Doutorado em Educação) Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1998. Disponible en: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/FAEC-85SJUP. Acceso: 16 mayo 2020. VIANA, M. J. B. As práticas socializadoras familiares como lócus de constituição de disposições facilitadoras de longevidade escolar em meios populares. Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 90, p. 107-125. jan./abr. 2005. Disponible en: https://www.scielo.br/j/es/a/JSkvyDGwXQJRWvyJBWdqQxN/abstract/?lang=pt. Acceso: 06 mayo 2020. ZAGO, N. Do acesso à permanência no ensino superior: Percursos de estudantes universitários de camadas populares. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, v. 11, n. 32, p. 226-237, 2006. Disponible en: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/wVchYRqNFkssn9WqQbj9sSG/abstract/?lang=pt. Acceso: 22 marzo 2021. Cómo hacer referencia a este artículo FERNANDES, N. R.; OLIVEIRA, B. R. “No pareceré un estudiante de medicina”: Trayectoria de un estudiante y los guiches discriminantes en la universidad pública. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1282-1303, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 Enviado en: 14/01/2022 Revisiones requeridas en: 07/03/2022 Aprobado en: 22/04/2022 Publicado en: 30/06/2022 Procesamiento y edición: Editora Ibero-Americana de Educação. Corrección, formateo, normalización y traducción.
image/svg+xml“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1273 “I DON'T LOOK LIKE A MEDICAL STUDENT”: TRAJECTORY OF A STUDENT AND THE DISCRIMINATING GUICHES AT THE PUBLIC UNIVERSITY “EU NÃO TENHO CARA DE ESTUDANTE DE MEDICINA”: TRAJETÓRIA DE UM ESTUDANTE E OS GUICHÊS DISCRIMINANTES NA UNIVERSIDADE PÚBLICA “NO PARECERÉ UN ESTUDIANTE DE MEDICINA”: TRAYECTORIA DE UN ESTUDIANTE Y LOS GUICHES DISCRIMINANTES EN LA UNIVERSIDAD PÚBLICA Natalia Rigueira FERNANDES1Breynner Ricardo de OLIVEIRA2ABSTRACT:The article analyzes the trajectory of a low-income student, the interactions with discriminating counters in a public university in Minas Gerais and his perceptions about his daily life as a target student of social policies. Based on a qualitative approach, a narrative interview was carried out, covering four dimensions: (1) her family and school trajectory before entering the university; (2) strategies and perceptions about social inclusion policies that contributed to their admission to university; (3) your experience as a medical student and interactions with peers; (4) its interaction with the sectors at the university, at its counters. The results indicate a change in the socioeconomic profile in public universities since the Lula government and the entry of “unlikely students”, through the Quota Law and other policies aimed at families. They also reveal discriminating windows and stigmas that are processed from the reproduction of inequalities in the policy implementation process.KEYWORDS: Implementation of public policies. School trajectories. Inequality and educational opportunities. Public university. RESUMO:O artigo analisa a trajetória de um estudante de camada popular, as interações com guichês discriminantes em uma universidade pública mineira e suas percepções sobre seu cotidiano como estudante-alvo de políticas sociais. A partir de uma abordagem qualitativa, realizou-se uma entrevista-narrativa, contemplando quatro dimensões: (1) sua trajetória familiar e escolar antes do ingresso na universidade; (2) estratégias e percepções sobre políticas de inclusão social que contribuíram para seu ingresso na universidade; (3) sua experiência como estudante de Medicina e as interações com os pares; (4) sua interação com os setores na universidade, nos seus guichês. Os resultados indicam mudança no perfil socioeconômico nas universidades públicas a partir do governo Lula e o ingresso dos “estudantes improváveis”, por meio da Lei de Cotas e outras políticas destinadas às famílias. 1Federal University of Ouro Preto (UFOP), Mariana – MG – Brazil. Doctoral Student in Education at the Graduate Program in Education. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7760-7981. E-mail: natalia.fernandes@ufv.br 2Federal University of Ouro Preto (UFOP), Mariana – MG – Brazil. Professor of the Graduate Program in Education. Doctorate in Education (UFMG). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0956-4753. E-mail: breynner@ufop.edu.br
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1274 Revelam, também, guichês discriminantes e estigmas que se processam, a partir da reprodução de desigualdades no processo de implementação de políticas. PALAVRAS-CHAVE: Implementação de políticas públicas. Trajetórias escolares. Desigualdade e oportunidades educacionais. Universidade pública. RESUMEN:El artículo analiza la trayectoria de un estudiante de baja renta, las interacciones con contadores discriminatorios en una universidad pública de Minas Gerais y sus percepciones sobre su cotidiano como estudiante objetivo de las políticas sociales. A partir de un enfoque cualitativo, se realizó una entrevista narrativa, abarcando cuatro dimensiones: (1) su trayectoria familiar y escolar antes de ingresar a la universidad; (2) estrategias y percepciones sobre las políticas de inclusión social que contribuyeron a su ingreso a la universidad; (3) su experiencia como estudiante de medicina e interacciones con sus compañeros; (4) su interacción con los sectores de la universidad, en sus mostradores. Los resultados indican un cambio en el perfil socioeconómico de las universidades públicas desde el gobierno de Lula y la entrada de “estudiantes improbables”, a través de la Ley de Cuotas y otras políticas dirigidas a las familias. También revelan ventanas discriminatorias y estigmas que se procesan a partir de la reproducción de desigualdades en el proceso de implementación de políticas.PALABRAS-CLAVE: Implementación de políticas públicas. Trayectorias escolares. Desigualdad y oportunidades educativas. Universidad pública. IntroductionThis article, initially, weaves together some problematizations and tensions regarding the access of students from different social, cultural and economic backgrounds to university: how do students with unlikely trajectories, enrolled in federal universities, interact with the State and social policies throughout their trajectory, as recipients of these policies? What difficulties do they face with the state bureaucracy to have their rights guaranteed? What perceptions do they have about their schooling and social inclusion? The article analyzes the trajectory of José3, a popular student enrolled in a medical course, his experiences and interactions with the discriminating windows in a university in Minas Gerais and how (and why) he moves to another university in the same state to deviate from the stigmas and inequalities he faces. From this perspective, we analyze his perception of the dynamics associated with the implementation processes of social inclusion programs throughout his school career in basic education and, already at university, we discuss how the discriminating windows within the state affect these dynamics. 3Fictitious name in order to preserve identity and ensure anonymity, according to research ethics protocols.
image/svg+xml“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1275 According to Jaccoud (2005), since the election of President Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), we have witnessed the strengthening of the Brazilian Social Protection System, whose goal was to equalize access to opportunities and confront social risks, poverty and the destruction of rights. This social protection network contributed to what Kerstenetzky (2008) calls the correction of socioeconomic inequalities, based on the idea that reducing inequality would contribute to the insertion of a significant portion of the population into the social fabric. In the educational field, the Lula and Dilma Rousseff governments (2011-2016) effectively treated education as a right, through policies established for all levels, stages, and modalities of education, with emphasis on basic and higher education, in dialogue with representatives of civil society, and in increasing the percentage destined to direct public investment. Senkevics (2021) states that the unprecedented expansion of places and enrollments in higher education, in addition to the implementation of inclusive policies in both public and private universities, contributed to a considerable increase in the number of young people from low-income backgrounds. From the early 1990s on, Sociology of Education has focused on these questions, interested in understanding who these students are, their trajectories, and their strategies for school longevity until they reach university. The works of Portes (1993), Viana (1998), Silva (1999), and Zago (2006) stand out, based on the literature that deals with the school success of "improbable" students”4of popular classes through trajectories that are often conflictive and unequal. From the perspective of the implementation of public policies, the presence of these young people in universities may be submerged in the dyad (1) expansion of access and (2) effects revealed from bureaucratic limits associated with the reproduction of inequalities. The interaction between users/recipients of public policies aimed at low-income citizens and the institutions that offer/implement them may reveal stigmas and discriminations, at the same time that it collaborates to the practical regulation of the behaviors that constitute it. Thus, one can speak of inequality implemented in the policies at the guichês5, concept used by Dubois (2019) to recall windows or tables through which the interactions of subjects with the State are performed and, also, to report to a symbolic place of domination and revelation of stigmas 4BernanrdLahire (1997), sociologist and professor at the University of Lyon, has contributed to the construction of the understanding of the concept of school trajectories, in his work "School Success in Popular Backgrounds: The Reasons of the Improbable", where he deepens the concept of improbable success of popular class students. 5Dubois (2019) asserts that at the guichês, institutions assume the ability to shape citizens from the moment institutional practices are shared in unequal and silent ways that reproduce social inequalities.
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1276 that are processed in these relations. By dialoguing with the literature in these fields, this article articulates, therefore, the references and evidence from the Sociology of Education with the discussions about policy implementation and the reproduction of social inequalities. According to Hirata (2014), Oliveira (2017), and Laisner et al., (2021), these issues are directly articulated with intersectionally intertwined social markers - gender, race, and patriarchal structures, and the way specific actions and policies generate oppressions, constituting dynamic aspects of disempowerment and stigmatizing practices - we understand that the research subject, the narrator, could not be randomly selected. Due to the objectives of the research, it was necessary, then, to "find", in this group of students enrolled in a highly selective course, one who had this profile. Based on surveys with students and professors linked to the medical course, we found José, a typical representative of this universe. We analyze, then, his trajectory as a student coming from a family in poverty and his passage through two federal universities (the first, a medium-sized university where he enrolled in 2016 and left in 2020, the focus of the reports; and the second, a large university, where he has been enrolled since 2021), both located in the state of Minas Gerais. José is a 28-year-old black male. His father is a receptionist in a pousada and his mother is a housewife. José comes from a poor family in the north of Minas Gerais, which has benefited from the Bolsa FamíliaProgram for more than ten years. He entered the university through the quota policy and is a user of the university student assistance programs. The research developed by Senkevics (2021) analyzes the transformations that have marked the recent expansion of the Brazilian higher education system, based on quantitative data concentrated in the period from 1991 to 2020, in dialogue with a literature review. The author lists five main trends: democratization of access, institution of affirmative action, public-private imbalance, expansion of distance learning, and horizontal stratification. The author states that the unprecedented expansion of vacancies and enrollments in higher education, together with the institutional diversification of supply and inclusive policies, has led to the heterogenization of the student body and a growing horizontal stratification. It is in this context that José is inserted, one of the thousands of students from working class backgrounds, black and brown, who became part of higher education institutions in Brazil as a result of the policies of social protection and expansion and democratization of this education modality. According to Pires (2019), the processes of implementation of social policies, while mitigating inequalities, can reproduce them.
image/svg+xml“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1277 The research, qualitative in nature, has its methodological proposal supported by the experiential model, from new epistemological and methodological perspectives for the analysis of public policies, proposed by Lejano (2012). Likewise, the perspective of Dubois (2019), from his fieldwork on the bureaucratic encounters between subjects of popular strata and the State through the counters, and the contributions of Gofmann (1982), on the stigmatizing interactions between citizens and the State, favored the construction of the methodological path of this article. The use of narratives proposed by Maynard-Moody and Musheno (2003), as a methodological proposal for understanding the interactions existing in the process of policy implementation, also subsidized the methodological proposal of this article. As a methodological instrument, an in-depth narrative interview was carried out which, according to Jovchelovitch and Bauer (2002), can be classified as a qualitative research method, materialized as a form of non-structured, in-depth interview with specific characteristics, such as, for example, a semi-autonomous process, based on telling and listening to the story with minimal influence from the researcher. The interview-narrative contemplated four dimensions: (1) his family and school trajectory before entering the university; (2) strategies and policies of social inclusion that contributed to his entry; (3) his daily experience as a medical student and interactions with colleagues, professors, employees; (4) his interaction with sectors and agencies in the university, in its counters and (5) his motivations and strategies to change institution.The article is organized in four sections, besides the introduction and final considerations. In the first section, we present a brief discussion on social protection policies and their contribution to the arrival of students from popular strata in public universities. The second section brings a review about bureaucratic encounters in the process of policy implementation from the perspective of discriminating and stigmatizing counters. Finally, the fourth section presents the results of the research based on the narrative interview conducted with the student, in which the trajectory of José's family and his "improbable" entry into the public university are exposed, as well as his experiences with the discriminating counters at the university.
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1278 From social protection policies to public universities: the arrival of poor students to higher education As Oliveira, A. L. M. (2019) points out, the presidential election of Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) inaugurates a period that conjures an institutional framework that guarantees, for the first time, social policies for the poor population, education as a right, the adoption of a profusion of public policies for higher education, especially from 2003 onwards. Kerstenetzky (2008) states that the inclusion of social policies in the governmental agenda contributed to the correction of socioeconomic inequalities. The author argues that the promotion of equal opportunities in Brazil is one of the keys to promote social mobility. In this direction, Lavinas and Gentil (2018) state that, between 2003 and 2014, there were several signs of economic growth and efforts to eradicate poverty and expand opportunities and social inclusion: the increase in the creation of formal jobs; the increase in public investment in education and health; the growth in adherence to health plans; the increase in the purchasing power of the minimum wage by more than 70%; and the success of the Bolsa Família program and other inclusion programs, such as Minha Casa Minha Vida, Programa de Prestação Continuada, Luz para Todos, among others. Regarding the advances in the field of education, Costa, Silveira, Costa, and Waltenberg (2021) show that, in 2015, the schooling rate for students aged 7 to 14 years in Brazil reached 98.8%; for adolescents aged 15 to 17 years, it reached 85%. From this perspective, such expansion, coupled with social inclusion policies aimed at families living in poverty, has contributed to young people considered unlikely to have a glimpse of the opportunity to access higher education. The period was marked by the creation of numerous federal universities, funded by the Support Program for Restructuring and Expansion Plans of Federal Universities (REUNI). In 2018, a decade after the creation of the Federal Institutes through Law No. 11.892/2008 (BRASIL, 2008), which created the Federal Network of Professional, Scientific and Technological Education, it was possible to observe the expansion of Brazilian technical schools, which, by 2020, had more than 600 campuses. The expansion of private higher education was made possible from the granting of scholarships, tax waivers and loans to students, through the University for All Program (PROUNI, in the Portuguese acronym) and the Higher Education Student Financing Fund (FIES, in the Portuguese acronym).
image/svg+xml“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1279 The V Pesquisa de Perfil Socioeconômico e Cultural dos Graduandos(a) das Graduandos(a) das Instituições Federais de Ensino Superior, organized by FONAPRACE 6(2019), provides information regarding the socioeconomic and cultural profile of its undergraduates. The data reveals that there has been an important change in the socioeconomic profile of its students, reducing its historical inequality and elitism: between 2003 and 2017, Brazilian higher education witnessed an expansion that resulted in an increase of more than 260% in vacancies offered. The Quotas Policy has contributed to minimize inequality of access and social inclusion and the presence of greater diversity among students in Brazilian higher education. Through Law No. 12,711, of August 29, 2012 (BRASIL, 2012), vacancies began to be reserved in a percentage for students from public schools and ethnic minorities, those said to be "unlikely" in universities until a few years ago. Data from the National Association of Directors of Federal Institutions of Higher Education (ANDIFES) on the black population in universities show that the combination REUNI and affirmative action have caused the number of black students, which in 2003 was 27,693, to advance to 143,599 in 2018 (FONAPRACE, 2019). Regarding the socioeconomic profile of students from families in poverty and/or vulnerable, the denomination used by FONAPRACE (2019) uses the variable "Gross monthly income of the family group and per capita monthly income" and considers that students in social vulnerability are in the per capita monthly family income category of "up to one and a half minimum wages". In 2019, the survey revealed that 53.5% of undergraduates in the IFES are in the per capita monthly family income range of up to one minimum wage, and 70.2%, are in the per capita monthly family income range of up to one and a half minimum wages. Historically, one can observe through the data that the percentage of students belonging to families with monthly per capita income up to 1 and a half minimum wage jumped from 44.3% in 1996 to 66.2% in 2014, reaching 70.2% in 2018, the highest level in the historical series. Part of this movement stems from the strong expansion of public higher education and investment in social policies for the poorest layers of the population, since the early 2000s. It is important to highlight, however, that research also reveals the inequalities associated with this inclusion process. Costa, Silveira, Costa, and Waltenberg (2021) call attention to the need for a horizontal democratization of universities, through the maintenance of conditions of access and permanence of students from popular strata in elite university 6Observatory of the National Forum of Pro-Rectors of Student Affairs.
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1280 courses, historically attended by white sectors of society and children of families from more favored social classes. The bureaucratic encounters in the process of policy implementation: the discriminating and stigmatizing counters The discussion on public policies starts from the assumption that they travel a path until they are made available to their addressees, through a chain that mobilizes a set of government actors, involving, also, characteristics of the bureaucracy itself. When analyzing implementation from the perspective of the agents who work at the tip - the street bureaucrats or street-level bureaucrats, according to Lipsky (1980 apud OLIVEIRA, B. R., 2019) states that the process of policy implementation in the context of practice involves distinct actors who have distinct agendas and interests, coupled with their beliefs, values, and perceptions. The author further asserts that the meanings attributed to policies throughout this implementation trajectory go through particular "lenses." This perspective brings to light the understanding that this dynamic is complex, since there are a range of particularities that involve the decision-making process of the actors, as well as how they interpret the policy and their own role, as implementers or beneficiaries of the policies. According to Pires (2019), until the policy is made available, its objectives are conditioned to a set of factors that may not have been foreseen in its formulation. Thus, they may produce effects that were not foreseen in the formulation and implementation processes, reproducing or exacerbating inequalities. Research on unrevealed effects informs us that implementation produces desirable social effects, and also undesirable ones, which arise from negative externalities. Even though they are born from the norm and the rule, their everyday life concerns the way bureaucrats translate politics and how these issues affect the interaction with citizens - the recipients of these policies. In this direction, Oliveira and Lacerda (2019) state that there are invisible aspects inherent to the implementation process and that this invisibility can be understood as the production of positive and negative externalities, the side effects generated by the operationalization of actions within the scope of state action, at the local level. In addressing these issues, Maynard-Moody and Musheno (2003), state that the implementing agents have their decisions directly linked to their values, beliefs, and their value systems. For the authors, the implementation processes trigger their moral values,
image/svg+xml“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1281 which affects the way they act and decide. When analyzing the performance of agents who act at the tip and their "educational" attribution before citizens, Auyero (2012) characterized users as "learners" or "patients" of the state, from the perspective that sanctions, demands, value judgments, and power inequality are personified in bureaucrats. From this perspective, implementation can be understood as a political process. The politics that takes place in implementation is described by Vincent Dubois (2019) as capable of perpetuating positions of subordination in structural relations of domination, in the context of serving the working classes. The relationships that exist at the counters and the judgments that come into existence from these relationships are capable of producing what the author calls "policies at the guichê." More than that, they reveal a "guichêpolicy" that aims to reproduce the inequality already existing between the two sides of the counter, through what the author calls a mode of operation of a public intervention that aims to regulate these populations. The author states that, in the dynamics of implementation, "tricks" can occur that allow governments to sustain a "double game", which, despite the discourse of inclusion of the working class population, is sabotaged by what he calls "guichêpolicies" exercised by front-line workers in the process of public policy implementation. The expression "guichêdiscriminant" refers to the perspective of the French sociology of the guichet (sociologie du guichet) and can bring new analytical lenses to the Brazilian debate on issues such as public policy implementation, especially when it comes to the relationship between street-level bureaucrats and the working-class population. In his studies on these dynamics, Dubois (2019) clarifies the concept of guichêand analyzes how such interactions can contribute to the reproduction of inequalities in the context of public policy implementation. Goffman (1982), when analyzing the "interactional order" and its relations with social structures, states that interactions should be seen as a relevant unit of analysis for sociological research in general. For the author, there is a close relationship between these interactions and social structures, as if characteristics of these social structures could be reproduced. It is in this perspective that, supporting Dubois' ideas, Goffman (1982) reinforces that these interactions can produce unequal, silent and stigmatizing relations, aggravating social inequalities.
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1282 The trajectory of a family and an "unlikely" student who "broke the bubble" of access to public university José is twenty-eight years old. In 2019, he started his first medical course at a medium-sized university in Minas Gerais, and in 2021, he decided, because of financial difficulties and issues associated with the stigmas suffered at this institution, to attend medical school at a large university in Minas Gerais. The student reports that, alongside his brother, who is two years older, he had a very poor childhood. His father, who did not finish the first years of elementary school, was always the one who worked and supported the family as a receptionist in a hostel. His mother, who finished high school and was a teacher, worked for a short time in a daycare center when her children were small and became a "housewife", since she understood that it was necessary to have someone to take care of her children's studies. José relates that his family lived in a "classic adobe brick house from documentaries in the Valley" and that the family received help from the local church to maintain the precarious housing conditions. She says that material privations made daily life difficult, and access to primary care policies was limited for the family, which found, for example, many difficulties in access to health professionals, medicines, and procedures such as exams and hospitalizations. The social and political context of the early years of the first decade of 2000, the period corresponding to José's childhood and adolescence, was shrouded by a new paradigm focused on the construction of social protection policies for the population living in poverty in Brazil. With an agenda focused on the conformation of a social protection network aimed at addressing inequalities associated with specific publics, the Lula government inaugurated a political moment of social change in which the State reaffirmed itself as a strategic, if not central, actor to address problems related to citizenship, inequality, opportunities, and well-being (JACCOUD; BICHIR; MESQUITA, 2017, p. 39). José, who was born in 1993, reports that, starting when he was a pre-teen, his family became eligible for the Bolsa Família Program. He says that the amount, which was used to buy food and pay the household bills, was conditional on the two brothers' school attendance. José recognizes that the Bolsa FamíliaProgram made a great contribution to their ability to support themselves, supplementing the income from their father's salary, as well as helping his brother and him not to drop out of school. Néri (2012) states that the Bolsa FamíliaProgram offered great potential for the fall of inequality in Brazil, characterizing the program as one of the most successful public policies in the fight against social inequality. The author
image/svg+xml“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1283 further states that the program induced families to keep up with the schooling of their children, contributing decisively to the reduction of the intergenerational circle of poverty and to the expansion of the years of schooling of children and youth. In Brazil, the last two decades have been marked by the expansion of access to Brazilian public universities, which have been receiving, in a significant way, students from popular classes through affirmative action policies and expansion of openings. In his account, the interviewed student explains how the inclusion policies that have been part of a social protection network in Brazil since the first decade of the 2000s have contributed to his trajectory, stating that "I would never have been able to get into university if there was no ENEM (National High School Exam)," and that the Quota Policy was his "gateway" to the public university. For him, such policies "allowed a handful of students to overcome this trajectory of poverty and exclusion from the diploma. However, José makes it clear that the school spaces he attended are marked in his memory by the stigma of inequality. In his accounts, he demonstrates an idea of a school capable of reproducing social inequalities, based on his understanding of the precariousness of the structure, the training of his teachers, and the teaching materials to which he had access in the school he attended. About his access to public higher education, José pointed out two important factors that, in his words, allowed him to "break through the bubble of the federal university". His mother's schooling trajectory and the family's support so that he could study without worrying about having to work to help the family financially were decisive. About his mother's trajectory and her attempts to enter university, the student reports that she had a successful trajectory in basic education, but was not able to get into a university. José says that growing up hearing his mother's memories of a successful school career made him, from a very young age, see the possibility of being a good student. In his reports, he makes it clear that his mother's figure, the vast collection of books she had at home, and the fact that she created reading moments with her children through her old school books, contributed to expand his view about his school career. By stating that the parents' investment in their children's school life is a driving element for success in schooling, Nogueira (2021) reflects on the use of the concept of cultural capital in explaining school inequalities as a synonym of cultural dispositions and relationship with cultural goods. Lahire (1997) emphasizes that the presence of members with school cultural capital in the family, by itself, is not able to produce effects in the following
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1284 generations. For this, effective and affective interactions are necessary, which, in the case of the student interviewed, seems to be related to the access to his mother's collection of books, the encouragement to read and study these books, and the memory of his mother's accounts of his school success and his attempt to enter a university. In the same way that the mother's strategies are remembered by the student, the efforts of the father, a salaried worker, so that his son could study and "break through the university bubble," are also highlighted in his account. I think I was able to break through that bubble by stubbornness and effort and by having the slightest possibility of being able to sit down and study. There are many people who did not have this privilege that I had, you know? My father let me, I was able to study, quietly inside the house the whole year, studying until I was 28, without having to work, you know.? (José). Through the studies of Lahire (1997), Nogueira (2005), Viana (2005), Thin (2006), and Portes and Souza, (2012), it is known that the family constitutes an indispensable social ground to be considered in the constitution of a trajectory of school longevity, which is corroborated with the reports of José. Such studies on family strategies for schooling have opened up the debate, making room for the importance of considering the complexity of these trajectories, of the subjects as the result of multiple processes of socialization, and that their individual performance is also strategic in these processes. According to FONAPRACE (2019), the inclusion of a large number of Brazilian students in higher education, through policies to strengthen basic education and social protection policies since 2003, has caused the number of "exceptions" to increase, as stated by Piotto (2012, p. 3). In his account of being at university, in a medical course, José states, "I am an exception of the exception." According to data from Fonaprace (2019), José is part of the 70.2% of Brazilian working-class students who entered the public university with per capita income of up to one and a half minimum wages. With this movement, such composition imposes on these institutions other demands, revealed by the inequalities associated with the permanence of these students in these spaces. For Terrail (1990), who discussed the strategies of poor university students, the academic success of students from popular classes involves contact with hostility in relationships and the inequality present in these relationships. For this reason, Dubet (2001) discusses the segregative democratization of education, from the perspective that poor students are not part of the most socially valued educational sectors.
image/svg+xml“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1285 In analyzing these issues based on José's account, the student states that it was not enough to "break through the bubble," since he makes it clear that entering the university did not make the social problems he had known since childhood disappear. The inequalities of opportunities with regard to school are now revealed in the difficulties faced by the student to access the assistance policies at the public university, in the interaction through its guichês. Besides this, the daily coexistence with the other actors who pass through this universe also emerges as a reproducer of inequalities and stigmas, objects of the next section. "I don't look like a medical student":the experiences of a student from a popular layer with the discriminating counters at university José idealized, since adolescence, to be a medical oncologist, or, "a doctor from the Valley", to work in his region and give people in his community what he and his family did not have: access to public health policies. His trajectory, between dropouts and approvals, was extensive and tortuous: he graduated from high school in 2010 and tried, between 2011 and 2014, to be approved in Medicine. José says he is aware of "his conditions in front of those he thought were much more prepared". Unable to pay for preparatory courses, he adopted a calculated strategy: to enter university through a "springboard course" to get into the medical course. In 2015, he was approved in the Mechanical Engineering course in a medium-sized university in the interior of Minas Gerais - the "springboard" to achieve his desire to study medicine. In the two following years, 2016 and 2017, José reports that he took several subjects in Portuguese, mathematics, physics, and chemistry, with the strategy of, within the Mechanical Engineering course, having his preparatory course for a future ENEM and being approved in Medicine. José was not approved in 2016 and in 2017, which made him request the "lock" of the Mechanical Engineering course and return to his parents' home. Studying at home and with support from Youtube channels, in late 2018, Jose was approved in Medicine at the same university. In 2019, he went on to study Medicine. The student reports that he continued to receive the housing allowance and the meal allowance through the university restaurant, just as he did when he was enrolled in Mechanical Engineering. In his accounts, he explains the difficulties he had regarding the housing, since he had to "go into the bathroom and close the door to study", and that he shared the room with four other colleagues who were studying different courses.
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1286 When asked about the student assistance policies at this university, José reports that he had financial difficulties to stay in the course because of the absence of a maintenance grant, which made it impossible for him to buy the handouts left by the professors in the stationery stores that sold them, and also to pay for the bus fares for the practical activities of the course that were held in neighborhoods far from the university. The student reports that he decided to apply to the university for a housing allowance, because the housing hindered his studies. Thus, he reports that in order to get this aid it was necessary to write a letter explaining why he didn't want to live in the lodging, proving with a medical or psychological evidence the need to live alone and/or in the city, which made him feel humiliated. You have to write a letter, asking why you wanted to leave, you know? You feel humiliated to be able to earn 230 reals and you can't find a place in the city to live for 230 reals. You can't afford it. Then they ask you to write down the reason why you want to leave the dorm. Then you have to tell them why you want to leave, and then they will approve or not your leaving. Then they ask that, if you have some psychological issue, some medical report, that associates that the lodging is harming you, that you make an attachment and send it. So, to me, it seems to be a lot of bureaucracy (José).Dubois (2019) states that the interactions that occur at the counter, that is, relationships in the treatment of misery, bureaucratic roles, which at first seem impersonal, reveal themselves to be highly permeable to the dispositions of those who perform them. The counter revealed by the author, with its recurrent potential of symbolic violence, imposes on individuals the conviction of their condition of subordination in relation to agents and to the State itself, reinforcing his idea of a stigmatizing interaction, which Goffman (1982) calls unequal and silent interactions that reproduce social inequalities. In his narrative, the student makes it clear that the path he had to go through to request that the housing grant be converted into housing aid was particularly humiliating. In front of the student assistance counter, he makes it clear that he received instructions that embarrassed him on how the request should be made. José's experience is a clear example of the effects of the process of implementation and reproduction of social inequalities in the provision of public services, as analyzed by Pires (2019). The student makes it clear that writing a letter with proof that he really could not afford to live in the accommodation in order to get a housing allowance put him through a process of anxiety and sadness. The repetitions of patterns of exclusion also occurred, according to the student, by the type of treatment through which he was received at the student assistance counters. His personal perception was that he was treated with disregard,
image/svg+xml“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1287 coldness, and haste in some situations. Thus, it becomes necessary to discuss the performance of the implementing agents at the top, street-level bureaucrats who, with discretionary power, can reproduce inequalities from their position in the policy-making process, or who, according to Maynard Mood and Musheno (2003), can act from positions of power with citizens. This is one of the reasons why "the actions of street-level bureaucrats can impact processes of social inclusion and exclusion" (PIRES; LOTTA; TORRES JUNIOR, 2019, p. 258). In his narrative, José states that his sense of belonging as a medical student at this university was fragile and painful. The student reports that he went through several situations in which he felt distanced from other colleagues because of his color or social class. When I started the course there was that speech of the veterans, of the united room. And then you enter with the feeling that you are part of it. But, as the course goes on, you realize that there is a natural segmentation of the class by social context, by socioeconomic context, there is a segmentation. You realize that there are people who don't look at you properly. You realize that there are people who are bothered by your presence, you know, who look at you tolerating you being there, as if you were not worthy of being there. This is very noticeable, you know? Among the students yes (José). About his classmates, he says that he felt excluded from some collective decisions, stating that it is "like a person who is hitchhiking in a car that is not yours, you know? You don't have any rights there. The same happened in relation to the employees of the Department of Medicine or with other organs of the university. As an example of unequal and discriminating distance between the popular classes and institutions, according to Dubois (2019), José states that he experienced embarrassment with Department attendants, as reported below: It has happened that I am sitting there in the department, a person arrives, with several students there, and an employee comes up to me and asks if I was there waiting to take the contest for technicians. Why did he ask only me if I was in the middle of all my colleagues? It is a question of visualization, that I don't have the face of a medical student (José). Dubois (2020) emphasizes that "face-to-face" bureaucratic encounters between citizens who are on both sides of the counter can reveal that all the social and moral norms that are part of this interaction are capable of producing dynamics of classification among citizens and, furthermore, perpetuate inequalities among them. At the counter, concrete service and/or symbolic devices that reveal the bureaucracy and discretion of the implementing agents, power relations, discrimination, perpetuation of inequality, and
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1288 stigmatization occur. Pires, Lotta, and Torres Júnior (2019) also reinforce on the need to understand the processes of (re)production of social inequalities engendered in state action. In addressing these issues, José reports that "even the position of sitting in the room is segmented. People don't mix. You have the poor crowd and the other crowd. The student tells about a situation in which a colleague, in the midst of several students, asked him aloud in which course he was enrolled at the university. Everyone said: "It's History! Geography". So you already have a character, who is a medical student and doesn't have my characteristics, right? Nobody talks, nobody even thinks that the guy is a medical student. So, I see that this is something that is very complicated to try to solve. It is something that is already structural. I think that with time, but with a lot of time, as these students manage to get in and more students manage to have access to these positions that today belong to other people, I think that there is a tendency to improve in this respect. (José). José reports that all the stigmas related to the lack of privacy and space to study, in addition to the "low-income situation and lack of support from the university" materialized in the absence of a maintenance grant and difficulties encountered in relation to student housing, made him try again to take the ENEM at the end of 2019. But this time, his goal was to study medicine, starting in 2020, at a large university in the state of Minas Gerais. The student was then approved in the Medicine course of this university, located in the capital of Minas Gerais. Even with the approval in 2020, José reports that he gave up going to the capital because he was informed that it would be more difficult to get provisional housing allowance until he applied for housing. The fear of not having financial resources to support himself made him give up. So he kept his enrollment at the first university, in the interior of the state. In March 2020, when social distancing and lockdown were proposed because of the Covid-19 pandemic, Jose returned to his parents' home. The situation was aggravated because just at that time his father became unemployed and he could not count on any help to stay at the university and not even at his parents' home. His perception is that the first university "let go of poor students", which made him take a new decision: to try again the ENEM to enter medicine in the university of the capital of Minas Gerais, starting in 2021. José, stating that he would start the course "from scratch again", becomes a regular student of the medical course at this large university. Even though he has migrated to another university, he recognizes that the student assistance policies he received at the first university were fundamental for him and
image/svg+xml“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1289 his classmates to remain there. He highlights the importance of the Food Grant for the period he stayed there. I think that assistance policies for poor students are necessary, however minimal they may be. There is a university in my town. Wouldn't it have been easier for me to get in there? There was Mechanical Engineering in my town. Why didn't I get into Mechanical Engineering there? I went to the first university because of the university restaurant (José). Just like many young people from lower social classes who are present in Brazilian public universities, José clearly exposes, from his trajectory, that the debate about access and permanence in public universities needs to be deepened, whether from the standpoint of student assistance policies or a more careful look at how these policies are implemented in these institutions. Final remarks Despite the methodological and analytical limits of this article, the student's narrative contributes to reveal the historical, collective, and social dimensions in their experiences, linked to the process of social policy implementation. Gussie Oliveira (2016, p. 95) emphasize the importance of the notion of trajectory and the social context of the subjects, defining it as a "strategic methodological referential for understanding social processes, building a dialogue between temporalities and territorialities, revealing a historical, collective, and social dimension." Thus, the student provides subsidies that allow the unveiling of the interactions between the agents that act in the guichêsand the social groups where these subject transits, as well as the effects that such implementation processes can produce. Anchored in Jaccoud (2005), Kerstenetzky (2008), Portes and Souza (2012), and Senkevics (2021), José's narrative reveals that the social protection network in which his family was inserted, along with the family strategies for him to have a long schooling, contributed to "break the bubble" of highly selective courses of public university. The presence of "unlikely" students in universities, especially public ones, marks the debate about the expansion of openings and democratization of access to education, which imposes the discussion about the absence of university affiliation (COULON, 2012) in Brazilian public higher education. From this perspective, the presence of a student from a popular stratum in a highly selective course at a public university brought to light dynamics and stigmas associated,
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1290 simultaneously, with the inclusion strategies intended by this same social protection network, as explained by Goffman (1982), Dubois (2019, 2020), and Pires (2019): discrimination by gender or race, discriminating interactions in the local counters where the implementation of policies materializes daily, and difficulties, tensions, and bureaucratic mismatches in the processes associated with the provision of student assistance policies. The unequal and discriminating distance between the popular classes and the institutions can become clear among citizens who are on both sides of the counter, which can perpetuate the loneliness present in the unlikely trajectories of success and school longevity of students from popular classes. Dubois (2019) states that the meanings attributed in the conduct exercised by the agents of implementation can exert a mechanism of moral regulation, constituting symbolic effects that can produce and reproduce, through the interactions that occur in public service, the internalization of a social value to users, with subordinated self-image and stigmatization of these citizens. The formulators, managers, and implementers of policies aimed at the democratization of higher education and university permanence (at all levels and institutional levels) must know and mitigate the effects associated with the implementation of these policies, especially at the local level. From the same perspective, there is an urgent need to discuss the interaction associated with the actions of public agents who work at the top, their discretionary capacity and the inequalities that can be revealed in the dynamics processed at the counters, in the relationship with students from lower social classes, target citizens of inclusion programs and reduction of social asymmetries historically existing in Brazil. REFERENCESAUYERO, J. Patients of the state: An Ethnographic Account of Poor People is waiting. Latin American Research Review, v. 46, n. 1, p. 5-29, 2012. Available at: https://www.jstor.org/stable/41261368. Access on: 16 May 2020. BRASIL. Lei n. 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2008. Available at: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm. Access on: 14 Oct. 2021. BRASIL. Lei n. 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2012. Available at:
image/svg+xml“I don't look like a medical student”: Trajectory of a student and the discriminating guiches at the public university RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1291 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm. Access on: 14 Oct. 2021. COSTA, J.; SILVEIRA, F. G.; COSTA, R.; WALTENBERG, F. (org.). Expansão da educação superior e progressividade do investimento público.Brasília, DF: Ipea, 2021. COULON, A. O sucesso estudantil e sua avaliação: Que política universitária é possível? In: SANTOS, G.; SAMPAIO, S. (org.). Observatório da Vida Estudantil. Estudos sobre a vida e cultura universitárias. Salvador: EDUFBA, 2012. DUBET, F. As desigualdades multiplicadas. Revista Brasileira de Educação, n.17, p.5-19,2001. Available at: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n17/n17a01. Access on: 23 Dec. 2021. DUBOIS, V. Políticas no guichê, políticas do guichê. In: PIRES, R. Implementando Desigualdades: Reprodução de desigualdades na implementação de políticas públicas. Rio de Janeiro: IPEA, 2019. DUBOIS, V. Lower Classes and Public Institutions: A research program. France: Universityof Strasbourg, 2020. FONAPRACE. V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos(as) Graduandos(as) das IFES – 2018.Brasília, DF: Observatório do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Estudantis2019. 318 p. Available at: https://www.andifes.org.br/wp-content/uploads/2019/05/V-Pesquisa-Nacional-de-Perfil-Socioeconomico-e-Cultural-dos-as-Graduandos-as-das-IFES-2018.pdf. Access on: 14 Oct. 2021. GOFFMAN, E. Estigma:Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores S. A., 1982. GUSSI, A. F.; OLIVEIRA, B. R. Políticas públicas e outra perspectiva de avaliação: Uma abordagem antropológica. Revista Desenvolvimento em Debate, v.4, n.1, p.83-101, 2016. Available at: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/32515. Access on: 12 Apr. 2021. HIRATA, H. Gênero, classe e raça: Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 26, n. 1, jun. 2014. Available at: https://www.scielo.br/j/ts/a/LhNLNH6YJB5HVJ6vnGpLgHz/?format=pdf&lang=pt. Access on: 4 Apr. 2021 JACCOUD, L. Questão Social e Políticas Sociais no Brasil Contemporâneo.Brasília, DF: IPEA, 2005. JACCOUD, L.; BICHIR, R.; MESQUITA, A.C. O SUAS na proteção social brasileira: Transformações recentes e perspectivas. Novos estud.– CEBRAP, São Paulo, v. 36, n. 02, p. 37-53, jul. 2017. Available at: https://www.scielo.br/j/nec/a/Vkv7r47xGw7Hd6XmZdh7HfL/abstract/?lang=pt. Access on: 15 Mar. 2021. KERSTENETZKY, C. L. Desigualdade como questão política. CEDE, Texto para discussão n. 11, 2008. Available at: https://cede.uff.br/wp-content/uploads/sites/251/2021/04/TD-001-
image/svg+xmlNatália Rigueira FERNANDES and Breynner Ricardo de OLIVEIRA RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1273-1294, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16111 1292 KERSTENETZKY-C.-2008.-Desigualdade-como-questao-politica.pdf. Available at: 12 Feb. 2021. LAHIRE, B. Sucesso escolar nos meios populares: As razões do improvável. São Paulo: Ática, 1997. LAISNER, R. C. etal. O reconhecimento a partir da diferença: Olhares interseccionais para a construção de ferramentas de avaliação de políticas públicas. Revista AVAL, v. 5, n. 19, jan./jun. 2021. Available at: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/63394. Access on: 25 Oct. 2021. LAVINAS, L. GENTIL, D. L. Brasil anos 2000: A política social sob regência da financeirização.Dossiê balanço crítico da economia brasileira (2003-2016).Novosestudos – CEBRAP,São Paulo, v. 37, n. 2, p. 191-211, maio/ago. 2018. Available at: https://www.scielo.br/j/nec/a/5fqGSvyFTytWTNkQBJNGM3M/abstract/?lang=pt. Access on 11 Aug. 2021. LEJANO, R. Parâmetros para análise de políticas:Fusão de texto e contexto. Campinas: Arte Escrita, 2012. LIPSKY, M. Burocracia de nível de rua: Dilemas do indivíduo nos serviços públicos. Brasília, DF: Enap, 2019. Available at: https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/4158/1/Burocracia%20de%20nível%20de%20rua_Michael%20Lipsky.pdf. Access on: 11 Aug. 2021. MAYNARD-MOODY, S.; MUSHENO, M. Cops, teachers, counselors: Narratives of street-level judgment. Ann Arbor: Universityof Michigan Press, 2003. NERI, M. C. A Década Inclusiva (2001-2011): Desigualdade, Pobreza e Políticas de Renda”. Rio de Janeiro:IPEA, 2012. Available at: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/4639. Access on: 03 May 2020. NOGUEIRA, M. A. O capital cultural e a produção das desigualdades escolares contemporâneas.Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 51, e07468, 2021. Available at: https://www.scielo.br/j/cp/a/pdTJTSCfQhzpWjZSGGy8gqK/abstract/?lang=pt. Access on: 15 May 2020. NOGUEIRA, M. A. A relação família-escola na contemporaneidade: Fenômeno social/interrogações sociológicas. Análise Social, v. 40, n. 176, p. 563-578, 2005. Available at: https://www.jstor.org/stable/41012165. Access on: 14 May 2020. OLIVEIRA, A. L. M. Educação Superior brasileira no início do século XXI: Inclusão interrompida? 2019. Tese (Doutorado) – IE, UNICAMP, Campinas, São Paulo, 2019. Available at: https://repositorio.unicamp.br/Acervo/Detalhe/1088834. Access on: 14 Mar. 2021. OLIVEIRA, B. R. A implementação de políticas educacionais no nível micro: uma análise a partir dos profissionais da escola no contexto da prática. Revista de Estudios Teóricos y
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