image/svg+xmlNietzsche educador e a afirmação da singularidadeRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212776NIETZSCHE EDUCADOR E A AFIRMAÇÃO DA SINGULARIDADE NIETZSCHE EDUCADOR Y LA AFIRMACIÓN DE LA SINGULARIDADNIETZSCHE AS AN EDUCATOR AND THE AFFIRMATION OF SINGULARITYLúcia Schneider HARDT1RESUMO:O artigo tem por objetivo explicitar o impacto de Schopenhauer sobre Nietzsche como um estilo de mestre,incorporando a singularidade como aquilo que a educação promove. Para contemplar esta tarefa e atualizar a reflexão para o nosso tempo, faz-se necessário enfrentar a tensão entre as demandas das instituições educacionais e a potência de um mestre na prática do seu ofício,a fim de buscar em cada estudante aquilo que ele tem de genuíno e original.Trata-se de um ensaio de abordagem qualitativaque reflete a trajetória formativa do próprio Nietzsche,capaz de promover sua condição extemporânea e enfrentar a cultura de sua época.Educar, formar-se, é uma tarefa que exige paciência, persistência, rigor, disciplina. Para isso, um mestre é necessário, de preferência, como nos indica Nietzsche, portador de uma serenidade admirável, cheio de um fogo forte e devorador para ser capaz de promover a singularidade do seu aluno.PALAVRAS-CHAVE:Nietzsche. Educação. Singularidade.RESUMEN:El artículo tiene como objetivo explicar el impacto de Schopenhauer en Nietzsche como estilo de maestro/profesor, incorporando la singularidad como lo que la educación promove. Para contemplar esta tarea y actualizar la reflexión en nuestro tiempo, es necesario enfrentar la tensión entre las exigencias de las instituciones educativas y el poder de un maestro/profesor en el ejercicio desu oficio, a fin de buscar en cada alumno lo que él tiene de genuino y original.Este es un ensayo con un enfoque cualitativo que refleja la trayectoria formativa del propio Nietzsche, capaz de promover su condición extemporánea y enfrentar a la cultura de su tiempo.Para ello se necesita un maestro, preferentemente, como indica Nietzsche, portador de una serenidad admirable, lleno de un fuego fuerte y devorador para poder potenciar la singularidad de su alumno.PALABRAS CLAVE:Nietzsche. Educación. Singularidad.1Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis SCBrasil. ProfessoraTitular.Doutorado em Educação (UFRGS). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4939-0156. E-mail: luciashardt@gmail.com
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212777ABSTRACT:The article aims to explain Schopenhauer's impact on Nietzsche as a style of master/teacher, incorporating the singularity as the crucial thing that education should promote. To contemplate this task and update the reflection for our time and context, it is necessary to fight the tension between the demands of educational institutions and the power of a master/teacher in the practice of his acting, in order to seek in each student what he has of genuine and original.Thisis an essay with a qualitative approach that reflects the formative trajectory of Nietzsche himself, capable of promoting his extemporaneous condition and facing the culture of his time.For this, a master is needed, preferably, as Nietzsche indicates, the bearer of admirable serenity, full of a strong and devouring fire to be able to promote the singularity of his student.KEYWORDS:Nietzsche. Education. Singularity.IntroduçãoEm que medida as instituições educacionais conseguem favorecer a singularidade em seus processos formativos? Considerando os debates e formulações de diretrizes para as instituições, para a definição de currículos,existe uma forte tendência em apelar para um mesmo padrão de formação para todos como condição para a democracia. Existiria nesse horizonte espaço para a diferenciação, para a singularidade? Para o genuíno? Afinal,aquilo que se constitui como genuíno em cada um não é fruto do acaso. Asingularidade não acontece magicamente;como então não ser impedida quando a meta é o desenvolvimento de um suposto padrão que deveria ser alcançado por todos nas instituiçõeseducacionais?Como fazer da singularidade um objetivo pedagógico nas instituições?Para compreender essa eventual falta pedagógica, precisamos retomar a perspectivada modernidade e suas promessas. As narrativas de emancipação destacam um sujeito racional, consciente, voltado para uma dimensão do progresso e da valorização de um individualismo como recurso para a consolidação da liberdade. Uma narrativa com tempero metafísico e idealista. Para construir uma maneira diferente depensar a formação humana,será necessárioempreenderuma crítica radicaldos pressupostos metafísicose,para tanto,recorremos ao filósofo Nietzsche,que já indicava os indícios desta narrativa em seu tempo,e nessa direção encaminha sua crítica para pensar a formação humana para além do registro da lógica moderna. Sua crítica enfrenta seu próprio tempo (e por extensão o nosso tempo) e seu tema prioritário é a questão da cultura.A cultura expressae analisada nostextos de Nietzsche,considerando a atmosfera espiritual da Alemanha do século XVIII,parece ter muito a nos dizer hoje ainda. Na constelação das luzes,a ideia de formação e cultura acabam constituindo-se a partir de uma subordinação às exigências políticas do cidadão para a vida em sociedade. Cultura é assim um acúmulode
image/svg+xmlNietzsche educador e a afirmação da singularidadeRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212778conhecimento, o estabelecimento de uma performance de um indivíduo sintonizado com seu tempo, a serviço dele para gerar progresso, inserçãono mercado de trabalho einovação. A incorporação dessa perspectiva,para Nietzsche,ativa ao máximo o conceito de gregariedade, necessário para a sobrevivência humana,mas restrito a considerar os humanos para além dos rebanhos. Para estefilósofo, odesejo de massificação da educação já não tem mais um interesse própriopela cultura, mas o gosto de formar “homenscorrentes”,úteis àsua época e integrados ao mercado e àprodução, aptos a atender as demandas do Estado. Toda cultura que afirmasse outra dimensão tende a ser descartada e o desejo é aproximar o indivíduo do rebanho, impedindo qualquer singularidade queo levasse para outra direção que não seja a dimensão gregária. Instinto forte nos humanos, pois ele necessita da comunidade para sobreviver, mas para Nietzsche não pode impedir aquilo que pode ser mais genuíno em cada um. Tornar-se escravo do bem-estar,dos objetivos do Estado,empobrece qualquer formação humana e enfraquece a cultura. Nietzsche avalia que o indivíduo vem sendo educado para pertencer a uma totalidade e que ali estariamtodas as metas a serem alcançadas. Qualquer desvio designa um perigo, portanto,todo acúmulo de conhecimento está dirigido para a preservação da sociedade. Indivíduos que anunciam outras possibilidades são desprezados.A sedução pela busca deste bem-estarvive entre nós, nem Nietzsche despreza esta necessidade.Contudo,é preciso cautela, pois toda segurança vem acompanhadapela presença de umespírito dominador e da exigência de uma obediência. Neste cenário podemos compreender as conferências proferidas por Nietzsche,que compõem a obra intitulada Sobre o futuro dos nossos estabelecimentos de ensino, entre janeiro e março do ano de 1872, onde o filósofo faz críticas à educação e cultura de sua época, tendo como foco os estabelecimentos de ensinoe suas reformas educacionais. Nietzsche reflete sobre a educação de seu tempo e levanta uma série de questionamentos ao denunciar aquilo que ele define como a decadência dos processos formativos. Segundo o filósofo,seria necessário restabelecer os critérios de exigência, autoridade e obediência fundamentais para o conhecimento. Para ele: Duas correntes aparentemente opostas, ambas nefastas nos seus efeitos e finalmente unidas nos seus resultados, dominam hoje os nossos estabelecimentos de ensino, originariamente fundados em bases totalmente diferentes: por umlado, a tendência de estender tanto quanto possível a cultura, por outro lado, a tendência de reduzi-la e enfraquecê-la. De acordo com a primeira tendência, a cultura deve ser levada a círculos cada vez mais amplos; de acordo com a segunda, se exige da cultura que ela abandone suas
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212779mais elevadas pretensões de soberania e se submeta como uma serva a uma outra forma de vida, especialmente aquela do Estado (NIETZSCHE,2003, p.44,grifos do autor).Tais tendências a da extensão e a da redução são o sinal de um descuido com a formação e,mais do que isso,um desconhecimento dos próprios desígnios da natureza. A cultura como força e expressão do original é oriunda do trabalho de poucos e seria um equívoco imaginar que ela seja fruto da massificação.Nestes termos,o jovem Nietzsche defende uma cultura pautada por um estilo próprio, capaz de sustentar o original de um povo, e,por isso mesmo,ter cautela com os propósitos da política. Os homens raros enfrentam perigose, por vezes,são excluídos, perdem prazeres básicos da vida, pois estão em busca de coisasmais elevadas que os perturbam;tal como Schopenhauer, pois ele sabia que para buscar coisas mais elevadas não seria possível ajustar-se às condições de seu tempo, render-se aos modismos,e para ele sempre esteve presente uma indagação: No mais profundo do teu coração, dizes sim a esta existência? Ela te é suficiente?(NIETZSCHE,2003, p.163).A imagem de um povo, de uma cultura,não encontra um ponto fixo, ela é capturada de diferentes formas. O exemplo maior foi a diversidade de possibilidades no processo de apropriar-se de uma Grécia a partir de alternativas muito peculiares e diversas. Nietzsche apreciava o lado sombrio, mais vinculado àspulsões originárias. Formação,nessa direção,adquire sentido reunindo arte, cultura, natureza, passadoefuturo para contemplar o presente como um desafio a ser enfrentado a partir de um legado recebido, de preferência nas instituições de ensino. Educar implica refletir o plano do individual, mas também cultural e histórico. O risco de evadir-se do presente é grande;por isso,a tarefa prioritária da formação é respeitar e cultivar a autoridade do pensamento por meio da cultura. Em outros termos,Nietzsche criticava o princípio da profissionalização estendido às instituições, o que não nos dá o direito de sentenciá-lo como elitista, mas compreender efetivamente o que ele denuncia: as coisas devem ter nome e finalidade conforme suas especificidades: escolas técnicas, necessárias àsociedade, não são escolasde cultura e de formação. Aquilo que o mercado quer é diferente do que a cultura deseja cultivar. Neste momento,Nietzsche defende instituições que,inspiradas pela Grécia, almejemalcançar a totalidade da formação do homem,resistindo àsarmadilhas de uma especialização. Mais tarde,Nietzsche vai abandonar algumas posturas desta época, contudo,jamais vai abrir mão de sua crítica àespecialização e redução da cultura aos interesses do Estado.
image/svg+xmlNietzsche educador e a afirmação da singularidadeRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212780Nietzsche admite que muitas promessas e discursos universalizantes são um engodo, uma vez que prometem o que nem sempre conseguem cumprir. O desafio da proposta de Nietzsche em educação,afirmando que a opção por uma formação mais elevada,que em síntese promete mais dificuldades que alegrias, exige dedicação plena, e nenhuma garantia de reconhecimento. Isso seria motivo para “vulgarizar as exigências”? De forma alguma,afinal, afirma Weber(2011, p. 143): respeitar e reconhecer a limitação linguística dos analfabetos não nos obriga a aceitar o analfabetismo como destino da humanidade”. Da mesmaforma, segue Weber(2011),apontando quea dificuldade sempre presente no uso da língua não pode nos tornar condescendentes com o seu uso. Nesse horizonte está a defesa da educação em Nietzsche:a necessidade de encontrar mestres para estas tarefas, o quenunca significou desprezar outras alternativas.A defesa da singularidadeO que seria então uma formação não subordinada aos ditames do Estado?Nietzsche vai defender a necessidade da solidão, um afastamento de tudo que convoca o humano a ser presença em uma conjuntura já definida. Já nesse ponto a tão prometida liberdade moderna parecenão ser contemplada, pois os pequenos sinais de discordância em relação àsociedade e aos tantos rebanhos nela configurados são considerados imorais. Podemos concluir que o instinto gregário contou com os processos institucionais e formativos para conservar-se no tempoepara dirigir os indivíduos a seus propósitos.Nesse contexto faz sentido a expressão de Nietzsche “tornar-se o que se é”,o que implica desprender-se do instinto de rebanho para assumir sua forma. Não existe um manual de condutas para seguir essa trajetória, implica ativar em si mesmo todos os recursose não apenas a racionalidade. Nãose trata de buscar um “eu verdadeiro, mas ousar fazer experiênciascom o corpo compreendido como a grande razão,implicado por instintos e pulsões.Ser artista de si mesmo, criando e inventando sua própria vida. Um humano capaz de não apenas obedecer, ser hábil para selecionar o legado que recebeu pelos estabelecimentos de ensinoe ter coragem para combaterseu próprio tempo. Hierarquizar, calibrar aquilo que ainda pode ser preservado das normas do convívio sem perder a força para afirmar sua singularidade que,por vezes,o leva a viver solitariamente.Vale ressaltar que este indivíduo não é indiferente a sua comunidade, afasta-se para ativar forças e deseja voltar para compartilhar experiências e outros modos de viver.O homem singular consegue também ter outro convívio com a história,e o próprio filósofo tratou disso em suas obras. Destaca a ideia do esquecimento como necessário para a
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212781criação. Esvaziar a memória considerando os excessos da afirmação de verdades que nãose justifica. Uma formação que apenas exige a memorização, repetição do passado,sem deles tomar o direito àinvenção,designa uma precariedade que pode ser superadapela educação.Da falta de sipara a singularidadeNietzsche na sua própria vida nos ensinou possibilidades de acesso a nossa singularidade. Ele próprio deixou-seconduzir pela atmosfera do romantismo, seduzido pela música de Wagner e tudo que a ele dizia respeito. Tornou-se um seguidor, adepto de um movimento que o consumiu por muito tempo. Em sua produção no período intermediário, especialmente em Humano, demasiado humano, Nietzsche consegue àdistância analisar sua própria fidelidade a esse tempo e perceber que isso é também uma das causas talvez de sua enfermidade. Afinal, sugere nosso filósofo:Em que medida a devoção obscureceEm séculos posteriores, o grande homem é presenteado com todas as grandes características e virtudes do seu século assim, tudo de melhor é constantemente obscurecidopela devoção,que o vê como uma imagem sagrada, em que são penduradas e expostas oferendas de todo tipo; até ser enfim totalmente coberto e envolto por elas, tornando-se mais um objeto de fé que de observação (NIETZSCHE, 2008, p.95, grifo do autor).Por vezes,Nietzsche fala de si, mas fala de todos nós, sempre ainda devotos às demandas de nosso tempo, fiéis a algumas promessas ou adeptos de certas narrativas que nos seduzem e nos encantam para nos conduzir ainda a um modo estético-metafísico de olhar para a existência. Na devoção às narrativas,o que pode estar em falta é o “si mesmo”;pedagógico também é afastar-se,passar pelas privaçõesde narcóticos educacionais, olhar parasi mesmo, aventurar-se em criar experiências, tentar afastar-se das teias que desejam nos capturar.A abordagem “da falta de si” está muito bem apresentada no texto de Adami (2016),quando avalia a própria caminhada de Nietzsche,que precisou voltar a si mesmo, decidir sobre o afastamento em relação àfilologia.Seu desejo era mesmo ser filósofo, afastar-se do romantismo, afastar-se inclusive do seu mestre Schopenhauer para não perder a força do si mesmo e construir seu próprio destino. Nesses termos,Nietzsche fala do necessário, inclusive de sua doença, que exigiu uma alteração do olhar construindo uma nova crítica,agora dirigida a sua própriatrajetória. E esse processo é infinito desde que tenhamos coragem para também enfrentar nós mesmos e nossas atitudes devotas tão frequentes na atualidade.Em que medida nossa configuração e formação pedagógica tem incentivado esta crítica de nós mesmos?
image/svg+xmlNietzsche educador e a afirmação da singularidadeRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212782Nietzsche descreve a vida como imperfeita, em constante devir, inaugurando sempre novos movimentos, outros horizontes. Os humanos vivem no interior dessa tensão, desafiados a criar novas respostas,adequadas a novas circunstâncias. A tarefa humana,assim,implica encontrar novas medidas e valores capazes de dar prosseguimento àgrande aventura que é viver. Nesse ponto,a história e aquilo que se revela pela prática do esquecer e do lembrar podem ser uma boa orientação que o passado pode oferecer para o presente. Esquecer implica afastar-se de questões já conhecidas e resolvidas para entregar-se a novoshorizontes sedentos de outras respostas. Devemos evitar o risco de sempre repetir a mesma resposta, importa reconhecer os novos problemas e necessidades, experimentá-los,para efetivamente dar àvida a dignidade que merece. Contudo,importa também lembrar e analisar situações passadas para refletir sobre aquilo que,já experimentado,pode eventualmente nos ensinar na busca de novas respostas. De certa forma, diante de novos horizontes não estamos em plena obscuridade, temos como recorrer a uma tradição, da qual devemos cuidar para enfrentar experiências novas oferecidas pelo devir.Como bem sugere Rangel (2009, p. 212-213):As experiências já realizadas pelos homens ganham sentido a partir do enfrentamento sincero do presente, de uma entrega às novas configurações históricas, o que Nietzsche chama de atitude a-histórica. Vive-se primeiro e, depois, se necessário for, se busca, no diálogo com o passado, medidas ca-pazes de orientação. O estudo do passado para a vida, aí reside a vantagem da ciência histórica. Enquanto vivemos bem sem o passado, devemos continuar longe dele, afirma Nietzsche, mas se encontramos dificuldades em lidar com os novos problemas que nos são oferecidos, incessantemente, pela vida, o apoio das experiências já realizadas é bem-vindo.Quando então precisamos da história? Em que medida as instituições são responsáveis pela formação pedagógica nesta direção do entendimento da vida e da capacidade de lembrar e esquecer?Como o legado da cultura pode abrigar esta finalidade e sustentar também a função do mestre nas instituições?Sobre as práticas institucionaisdas necessidades coletivas para o direito à singularidadeO Nietzsche jovem destaca a importância das instituições quando assumem o compromisso com a cultura, com a gestação e a criação do genuíno nos indivíduos. Deixar-se capturar pelo hábito, atender demandas mais imediatas, seguir modismose tendências,revela o início de um processo de decadência. A reverência àcultura nas instituições deveria ser protegida, os indivíduos raros deveriam ser preservados, o que não significa a defesa de
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212783qualquer elitismo no campo da educação. Trata-se sim da defesa de uma elevação espiritual oriunda da cultura. Oque está em questão é uma espécie de “culto” à cultura,que protegida e consolidada na memória coletiva,necessita da educação para ser conhecida e divulgadapara a sociedade.Existe,nas instituições,um sentido histórico que sabe da necessidade da preservação da tradição, inclusive para ruminar as questões do presente. Não se pode recorrer ao passado para soterrar o presente;e nem desejar consolidar sentidos que não foram no passado plenamente vividos. Escapar do presente idealizando o passado é,em última instância,empobrecer a vida.A IIExtemporânea2sobre a utilidade e os inconvenientes da História para a vidafoi,antes de tudo,um ataque contra o historicismo, a condenação das visões cientificistas da história. O critério mais justo para abordar a história é a própria vida. A história pode ser muito relevante para a vida, mas pode ser também um discurso vazio. Assim,as instituições devem preservar a memória cultural do passado para garantir,pela educação e pelos processos formativos,que algo pode ser buscado no passado para construir o futuro. O próprio Nietzsche fez esta experimentação a partir dos gregos,ao destacar os princípios apolíneos e dionisíacos. Abusar deste olhar para o passado faz esquecer o presente e desprezar o futuro. Buscar o passado nunca implica repeti-lo, mas apropriar-se dele para pensar o presente. Quem pode criar as condições para esta tarefa? Descuidar-se da cultura produz um adoecimento que impede que o legado cultural seja cultivado. Precisamos captar e decifrar valores de um povoede uma cultura para compreender as forças ativas dos indivíduos em relação àsociedade. Nietzsche,assim,cria categorias para compreender as várias perspectivas da história e ressalta o valor da memória e do esquecimento,como já apontamos. Conhecer o passado já implica uma ciência, é uma metodologia de reflexão que deve ser mais destacada do que a compulsão em produzir quadros narrativos e descritivos pautados por causas e consequências. Nietzsche identifica três atitudes básicas em relação àhistória, posturas que podem servir àvida,enfrentando os desafios que sempresurgem, mas podem também servir a uma tendência a sacralizar o passado,imaginando assim encontrar proteção. Estamos neste ponto nos referindo àhistória monumental, tradicional ou antiquária e àhistória crítica.A primeira versão de história nos desafiou a buscar no passado modelos para a ação, conhecer oque é exemplar para orientar-se em direção ao futuro. Nietzsche buscou estudar 2Neste ponto estamos nosorientandopela obra Escritos sobre Históriade Nietzsche, apresentadae traduzidapor Noéli Correia de Melo Sobrinho (2005).
image/svg+xmlNietzsche educador e a afirmação da singularidadeRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212784grandes indivíduos para entender como responderam a grandes desafios de seu tempo, sem criar com isso nenhum ídolo, pois não está em questão produzir uma história de heróis, mas aprender como,em épocas diferentes,o humano deu seu testemunho de originalidade no enfrentamento de questões vitais. Encontrar indivíduos singulares, não para imitá-los, mas para encorajar cada indivíduo a enfrentar sua história singularno tempo em que vive. Está em questão lembrar da força, da coragem como possibilidade humana. Isso se aprende também nas instituições, por meio dos processos formativos,sem deixar-se seduzir por uma história que apenas deseja revelar grandes indivíduos e seus feitos. Ahistória existe para ensinar aos homens do presente que as turbulênciasda vida já foram enfrentadas em outros períodos,e que ainda podemos fazer isso com outras performances próprias de nosso tempo.A história tradicional busca uma eterna origem de sua comunidade, como se ela estivesse travestida de luz e se revelasse como relíquia. Enfeitiçados pela sedução,não conseguem capturar os fenômenos históricos em toda sua profundidade. Aprisionados em excesso no passado e obcecados pela origem, seus representantes pretendem elaborar explicações:eles não têm interesse nos “grandes homens”, mas descrevempráticas, convicções, ideologias no interior das quais a vida se movimenta. É preciso cultivar ideias, símbolos e práticas culturais. Por outro lado, esta perspectiva da história descuida-se da reflexão sobre as próprias crenças, da necessidade de preparar-se para o novo, tende a estacionar em uma determinada tradição. Ela pode perder força nas travessias do devir, e assim deverá abrir espaço para outros sentidos e valores.Por fim,a história crítica, que avalia as duas anteriores e indica alguns riscos. O passado pode ser uma armadilha, pode acabar soterrando o presente. A perspectiva crítica da história nega o passado sempre que ele ocupa em demasia o espaço na reflexão dos humanos. O passado não pode inibir a força no presente, fazer definhar a coragem e a originalidade no enfrentamento do que é novo e de outro modo já vivenciado. A dimensão crítica deve ser instigante, presente, forte,para impedir que os humanos fiquem subordinados aosheróis ou àstradições bem delineadas,desistindo daquilo que está colocado a sua frente como desafio.Não temos como propósito nos debruçar sobre a II Extemporânea considerando toda sua profundidade, ela aqui está sendo ressaltada para afirmar uma das funções da educação nas instituições sob o ponto de vista de Nietzsche. E,para além disso,ajudar a refletir sobre aindagação necessária nesse texto: o que pode o mestre nas instituições?No texto Schopenhauer como educador(NIETZSCHE, 2003), o destaque fica por conta da definição de quem é o mestre, quais suas principais características e como deveria ser, uma
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212785vez que,operando pedagogicamente,levaria o indivíduo a assumir sua autoformação. Afinal,qual é esse embate entreos objetivos de uma instituição e o papel do mestre na formação dos indivíduos em busca do que é genuíno, original em cada um?Este texto pretende contemplar a reflexão sobre este problema e esta tensão: o que pode um professor no interior de uma instituição,considerando as demandas institucionais? O que eventualmente a instituição impede ou inibe na tarefa do mestre na direção de buscar o genuíno nos alunos?Para compreender isso,poderíamos reunir duasinsinuações de Nietzsche(2003), na obra Sobre o futuro dos nossos estabelecimentos de ensino, quando o filósofo,em tempos de docência,afirma que não quer dedicar-se àsquestões administrativas nas instituições, deseja sim percorrer as profundezas da experiência e enfrentar os verdadeiros problemas da cultura, coisa que horários e quadros jamais vão garantir;deseja,mesmo com as instituições,gozar de um horizonte mais livre, e nesta defesa sabia que jamais poderia contar com os amantes da administração de horários e quadros de aulas. Pelo contraditório,Nietzsche(2003, p. 46)afirma no mesmo texto que em tempos de “homens sérios, a serviço de uma cultura inteiramente renovada e purificada” em algum momento a parte administrativa será muito importante, mas por outros motivosque as demandasatuais, por exemplo,para formar leitores calmos, “capazes de escolher e buscar as boas horas do dia e seus momentos fecundos e poderosos para meditar […] não para escrever um resumo ou ainda um livro, mas para meditar!”(NIETZSCHE, 2003, p. 46-47). Leitores apressados corrompem a obra. Um educador deve indagar a seu discípulo,e aqui reafirmamos a provocação de Schopenhauer(NIETZSCHE, 2003, p. 145): “No mais profundo do teu coração, dizes sim a esta existência? Ela te é suficiente?”.Segundo Nietzsche(2003),os homens raros, capazes de responder com firmeza a esta questão,demonstram algum tipo de desprezo àqueles que desperdiçam sua possibilidade de formação.Afinal: “homem que não quer pertencer à massa só precisa deixar de ser indulgente para consigomesmo; que ele siga a sua consciência que lhe grita: Sêtu mesmo! Tu não és isto que agora fazes, pensas e desejas(NIETZSCHE, 2003, p.139).Assim,as narrativas indigestas que,por vezes,avaliamos no texto de Nietzsche,precisam ser contempladas pelos argumentos que ele mesmo nos oferece na defesa da função das instituições e de um mestre que efetivamente deseja educar. O desprezo por um leitor apressado, pela obsessão emresumir obras antes de compreendê-las, revela fortemente o desejo de enfrentar a submissão a um tempo já mergulhado no empobrecimento da própria reflexão. A felicidade e a boa formação não virãoenquanto o indivíduo estiver subordinado “nas cadeias
image/svg+xmlNietzsche educador e a afirmação da singularidadeRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212786da opinião corrente e do medo” (NIETZSCHE, 2003, p.139). Por isso, afirma Nietzsche(2003, p. 139), que não existe na natureza criatura mais sinistra do que aquela “que foi despojada do seu próprio gênio e que se extravia agora a torto e direito em todas as direções”.Impedir esse deixar-se levar a qualquer direção é tarefa do bom mestre. Ou como já anunciamos antes, um mestre deve evitar “a falta de si” em cada estudante. A pedagogia de um mestre sensível deseja encontrar estudantes capazes de fazer experiências, aptos a destinar a si mesmo um olhar crítico para reorientar-se infinitamente em direção a múltiplas possibilidades. Neste ponto,somos convocados como mestres também a pensar nossa prática, quando seguimos em demasia as demandas desenhadas pelas instituições. Nós, mestres, igualmente não podemos estar ajustados plenamente ao nosso tempo, afinal como não se deixar capturar pelas inúmeras direções que as instituições,por vezes,querem nos levar? Assim,uma boa expressão de um mestre fica indicado no texto de NietzscheSchopenhauer como educador:Mas, ainda que o futuro não nos deixasse qualquer esperança, a singularidade da nossa existência neste momento preciso e o que nos encorajaria mais fortemente a viver segundo a nossa própria lei e conforme a nossa própria medida: quero falar sobre este fato inexplicável de vivermos justamente hoje, quando dispomos da extensão infinita do tempo para nascer, quando não possuímos senão o curto lapso de tempo de um hoje e quando épreciso mostrar nele, por que razões e para que fins, aparecemos exatamente agora. Temos de assumir diante de nós mesmos a responsabilidade por nossa existência, por conseguinte, queremos agir como os verdadeiros timoneiros desta vida e não permitir que nossa existência pareça uma contingência privada de pensamento. Esta existência quer que a abordemos com ousadia e também com temeridade, até porque, no melhor ou no pior dos casos, sempre a perderemos. Por que se agarrar a este pedaço de terra, a esta profissão, por que dar ouvidos aos propósitos do vizinho? É igualmente provinciano jurar obediência a concepções que, em centenas de outros lugares, já não obrigam mais. O Ocidente e o Oriente são linhas imaginárias que alguém traça com um giz diante dos nossos olhos, para enganar a nossa pusilanimidade (NIETZSCHE, 2003, p.140-141).A provocação de Nietzsche é muito desafiadora afinal,por que razões e para que fins aparecemos exatamente agora?Porque este é o nosso tempo de vida? Temos de assumir diante de nós mesmos a responsabilidade por nossa existência, deixar fecundar nossa singularidade. Porque de repente nosso tempo é o tempo de uma pandemia, porque justamente agora estou sendo convocado a pensar a educação outra vez, criar novas medidas para o ensino, para a leitura, para seminários e eventos?Na esteira de Nietzsche,seria de nossa parte uma covardia aguardar,outra vez,a normalidade dos processos pedagógicos para então agir. Sem dúvidas,não desejamos estacionar no lugar em que estamos, mas certamente o impacto da “doença” produziu algo de genuíno em todos nós,na condição de mestre e também de discípulos.
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212787“Teus educadores não podem ser outra coisa senão libertadores, afirma Nietzsche(2003, p. 142). A formação “não busca membros artificiais, narizes de cera”(NIETZSCHE, 2003,p.142), e em nossos tempos também não nos quer ver seduzidos pelos recursos tecnológicos que tanto necessitamos agora. Certamente,a tecnologia oferece novidades, está viabilizando a comunicação, as práticas docentes, eventos de grande repercussão teórica,reunindo pessoas de todos os continentes. Contudo,é preciso cuidar com as armadilhas. Em nosso tempo,estamos de certa forma impactados, assistindo instituições encantadas com a possibilidade de,por meio de uma tela,contemplar 100, 200 ou mais estudantes,afirmando que isso seria a nova sala de aula, reduzindo o número de educadores, convertendo a pedagogia em uma ferramenta que apenas administra imagens, quadros, horários, cores e itinerários pré-formatados. Precisamos ficar atentos,pois ainda que tomados pelo nosso tempo e necessitando de outros recursos para educar,não podemos esquecer que educação é libertação quando for também capaz de “extirpar todas as ervas daninhas, os dejetos, os vermes, que querem atacar as tenras sementes das plantas” (NIETZSCHE, 2003, p.142).Em tempos pandêmicos,precisamos,em alguma medida,cultivar nossa singularidade, arrancar de nós o genuíno,assim como cultivar isso nos estudantes para evitar que as ervas daninhas, os vermes, os dejetos, às vezes travestidos de cores, imagenserecursos tecnológicos acabem por instalar outra vez as duas tendências nefastas apontadas por Nietzsche: massificação e redução da cultura com prejuízo absoluto da formação.Quando nos deparamos com as nuvens sombrias, diz Nietzsche, o melhor é lembrar de nossos mestres e educadores. Neste contexto,nosso filósofo lembra de Schopenhauer, o único mestre de quem ele se orgulha. Afirma Nietzsche(2003, p. 146):Jamais tivemos tanta necessidade de educadores morais e jamais foi tão pouco provável encontrá-los; nas épocas em que os médicos são mais necessários, na ocasião das grandes epidemias, é então que eles estão também mais expostos ao perigo. Pois: onde estão os médicos da humanidade moderna que fossem, eles próprios, suficientemente firmes e sólidos nos pés, para que pudessem além disso aguentar um outro e o guiar pela mão? Um certo assombro, uma certa apatia,pesam sobre as melhores personalidades da nossa época, um sempiterno fastígio com esta luta entre a dissimulação e a honestidade que se trava no seu seio, uma inquietude que turva a confiança que têm em si mesmas -o que as torna totalmente incapazes de ser ao mesmo tempo, para os outros, os guias e os censores.Encontrar educadores em tempos sombrios:condição necessária no enfrentamento do medo e dos perigos. E,além disso,encontrar educadores morais, pois não são as práticas educacionais,formais ou não, ações de fortalecimento e propagação de valores? E quais valores
image/svg+xmlNietzsche educador e a afirmação da singularidadeRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212788são necessários em tempos sombrios? Dirá Nietzsche (na obra Humano Demasiado Humano I) que a educação deve ser conduzida pelo rigor da ciência e deve também abandonar sua submissão àreligião. Neste ponto encontramos, dizem alguns, um Nietzsche “iluminista”,pois,conforme analisa Weber (2011,p.66),“apesar do anti-iluminismo de Nietzsche, da sua crítica à ideia iluminista de progresso e melhora da humanidade, a proposta de junção da ciência e da crítica à religião foi um dos projetos centrais do iluminismo reformista após a Revolução Francesa e,emalguma medida, nosso filósofo integra essa crítica quando discute educação. Existe em Nietzsche o componente corrosivo em sua crítica àmoral, mas faz-se necessário realçar também as proposições construtivas da moral nietzschiana que o acompanharam por todaavida, uma vez que o autor priorizava o debate em torno dos valores. A perspectiva moral também é um caminho para libertar o indivíduo da tradição quando ela se mostra como uma tirania coletiva. Neste ponto,outra vez,a história tem seu lugar. Regras existem para nossa sobrevivência, mas devem sempre ser analisadas sob esta perspectiva, pois não existem valores em si e para sempre. Quando a estupidez de uma regra se revela,é preciso coragem e autonomia para alterá-la. Submeter-se a uma moralidade estúpida é abrir mão de nossa singularidade e impedir que algo de genuíno possa nascer em nós. Segundo Weber(2011, p. 71, grifo do autor), a obra:Humano, demasiado humanoé, ao juízo do próprio Nietzsche “[...] o monumento de uma crise. Ele se proclama umlivro para espíritos livres: quase cada frase, ali, expressa uma vitória”. [....] O significado da figura do Espírito Livretem forte relação, numa primeira acepção, com a crise de Nietzsche, mas também com a sua vitória sobre a incerteza que esta obra erige em monumento. Portanto, possui relação com os movimentos de autossuperação do próprio filósofo. Há, também, um segundo sentido, este mais geral, em que o Espírito Livre figura como tipologia característica dos movimentos de liberação da moralidade dos costumes, uma etapa necessária, mas não suficiente, para a liberação da humanidade do império da vingança. Essas duas dimensões, embora distintas, são indissociáveis.O espírito livre parece ser o fruto maduro da crítica já iniciada na juventude do filósofo e que é a expressão de sua própria originalidade. Pelo exercício do espírito livre, aprendeu a enfrentar e criticar a moralidade dos costumese,também,criticar a si mesmo. O genuíno é pensar de modo diverso do que se esperaria considerando seu tempo, sua inserção social. Como diz Nietzsche,é preciso enfrentar o espírito cativo, preso a uma fé:o espírito livre busca razões para compreender o mundo. Paradoxalmente,a ideia do espírito livre em Nietzsche é também oriunda da ruptura com seu mestre, Schopenhauer, pois apesar de reconhecer nele um educador moral, percebeu ser necessário voltar a si mesmo, precisou da solidão, do afastamento do mestre
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212789para produzir em si anos de experimentação para aproximar-se da vida outra vez,considerando sua mais genuína forma de pensar. De fato, como ele diz em Assim falou Zaratustra, Retribui-se mal um mestre, quando se permanece sempre e somente discípulo” (Assim falou Zaratustra)(NIETZSCHE, 2010, p.105).Para pensar nosso tempo,é preciso ter cuidado e cautela com todos aqueles que por hora se apresentam como esclarecidos e capazes de toda a crítica a um tempo pandêmico. Existem ainda muitos enigmas a serem enfrentados por uma crítica capaz de preservar a lucidez de quem não quer ser regido pelo império da vingança.Parece que isso Nietzsche(2003, p. 148)ainda aprendeu com seu velho mestre: “o estilo de Schopenhauer me lembra um pouco Goethe[...], pois sabe dizer sobre o que é profundo simplesmente, o que é comovente sem retórica e o que é científico sem pedantismo”.Neste caminho seguirá o próprio Nietzsche sua reflexão sobre a ciência, sempre valorizada, mas sempre sujeita a erros, a sucessivas revisões, uma vez que ela não poderia abrigar a verdade, aspiração indevida dos humanos,assim como o gosto compulsivo para julgamento e correção do outro. Sugere nosso filósofo uma tarefa difícil: defender a ciência sem pedantismo. Precisamos resistir a escritores medíocres que revelam uma alegria sem fôlego e sem curiosidade,tal como,para Nietzsche,era o pensador David Strauss.Assim,Nietzsche (2003, p. 150) revela por fim o impacto de seu mestre sobre ele:Ele é honesto porque fala e escreve por si mesmo e para si mesmo; sereno porque venceu pelo pensamento o que há de mais difícil, e constante porque assim deve ser. Sua força cresce reta e ligeira como uma chama no ar tranquilo, certa de si, sem tremer, seminquietude. Em cada uma destas qualidades, ele encontra seu caminho sem que inclusive notemos que ele o tenha procurado; pelo contrário, como movido por uma lei da gravidade, ele aí se lança, firme e ágil, inexorável. E aquele que algum dia sentiu o que é, na nossa época de humanidade híbrida, encontrar um ser inteiro, coerente, móvel nos seus próprios eixos, isento de hesitação e de entraves, este compreenderá minha felicidade e minha surpresa quando descobri Schopenhauer: pressentia que tinha encontrado nele este educador e este filósofo que eu tinha por tanto tempo procurado. Porém, isto se dava certamente apenas através de livro, e havia nisso uma grande deficiência. Eu me esforçava cada vez mais para ver através do livro e para representar o homem vivo, de quem eu tinha lido o grande testamento e que prometia não escolher para seus herdeiros senão aqueles que quisessem e pudessem ser mais do que simples leitores: quer dizer, seus filhos e seus discípulos.O que mais Nietzsche apreciou em Schopenhauer foi sua crítica e insubmissão às tendências filosóficas de seu tempo. Conheceu no mestre o direito àsingularidade, ànecessidade do autoconhecimento. Foi capaz,por meio desta aprendizagem,de pensar a oposição entre o individual e o coletivo, tão propagadas pela modernidade. Afinal,o singular
image/svg+xmlNietzsche educador e a afirmação da singularidadeRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212790é,como diz Weber (2009, p. 253),muito mais que o individual”. Afinal,como explicar que a singularidade é a exceção e a regra é o rebanho? É inevitável que estejamos inseridos em uma sociedade,marcando nossa presença individual.Contudo,ela não pode reduzir-se a ancorar-se no coletivo simplesmente, não pode abdicar de si, e afinal,por que é tão difícil ao homem manter-se na presença de si sem evadir-se de si mesmo?A vida em sociedade exige uma uniformização dos comportamentos e dos valores, uma busca por proteção e segurança,e acabamos,muitas vezes,capturados por essa lógica. Weber(2009, p. 259)nos ajuda a pensar nesta direção e escreve: Tememos o vizinho, como sugerido por Nietzsche no início do texto sobre Schopenhauer. Indispor-se com o próximo, com a comunidade, poderia implicar na ruína social. Assim, tanto a força da coerção social sobre o indivíduo quanto a sua covardia, associados à sua preguiça, são fortes condicionantes, criadores de inautenticidade, também chamada por Nietzsche de falta de estilo.O indivíduo sem estilo não alcançou sua singularidade, não tem a virtude da força para enfrentar seu tempo e as regras estúpidas. O autoconhecimento preconizado por Nietzsche (2003, p. 260) será “a tarefa da águia, não da toupeira”, e cria uma novarelação do homem com o mundo, outra territorialidade com a suspeita. Implica debruçar-se sobre o interior e o exterior que constituiu o ser humano, fazer experimentos formativos consigo mesmo e com os outros. A libertação é um dos requisitos para alcançara singularidade.Considerações finaisEnquanto educadores em nosso tempo, enfrentando tempos sombrios por motivos os mais diversos,e desejando enfrentar a tensão entre o que as instituições desejam dos humanos e o que um mestre pode fazer por estudantes, talvez cheguemosao ponto neste artigo em queseja possível afirmar que a grande tarefa da educação implica descobrir e cultivar o ponto forte de cada um para aprender a calibrar e hierarquizar suas forças e impedir que uma delas aniquile a outra. Surgiria,assim, um ser forte, duro, autêntico e honesto com seu tempo e com os outros. Surge alguém que aprecia as disputas, sem desejar aniquilar ninguém, que deseja argumentar para testar seu pensamento, colocar em um tribunal os valores que nos regem para fazer pensar outra vez a vida e suas inúmeras possibilidades. Implica aperfeiçoar a moralidade em benefício da vida, liberar o homem da submissão ao coletivo, da vulgaridade dos modismos, da repetição sem reflexão de itinerários formativos já desgastados eempobrecedores. Por fim,não faltam
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212791tarefas para quem deseja ser mestre e afirmar o direito àsingularidade dos seres humanos em um horizonte múltiplo e aberto.A educação,por fim,é um processo de autoeducação estimulado pelo mestre que deseja contemplar em cada estudante o cultivo do espírito livre, aquele capaz de fazer pensarassumindo todos os riscos. Qual o propósito? O interesse pela vida, o que implica conhecer nosso tempo, e por vezes,pensar contra ele. O Estado, como nos diz Schopenhauer,não éo fim supremo da humanidade,e insistir que o dever dos humanos seria servir ao Estado é uma estupidez. Será precisopela educação enfrentar o empobrecimento da formação, a “barbárie cultivada”,o que não nos dá o direito de desejar aniquilar o outro quando este nos frustra e decepciona, mas enfrentar,por meio das instituições de ensino,o que de fato é tarefa da educação. Para isso,importa prioritariamente o indivíduo, cada aluno, afinal as coisas humanas são atraentesepodem despertar nele a busca pelo conhecimento. O fazer pedagógico deve capturar as virtudes de cada aluno, insistir para que elas se desenvolvam, educar inclusive para a solidão, uma vez que esse é umcaminho viável para desviar-se de obrigações quando essas estão apenas comprometidas com o mundo do mercado e daburocracia estatal. (OLIVEIRA, 2013, p. 145). Enfim,educar, formar-se,é uma tarefa que exige paciência, persistência, rigor, disciplina. Para isso,um mestre é necessário, de preferência,como nos indica Nietzsche,que seja portador de uma serenidade admirável, cheio de um fogo forte e devorador para ser capaz de nos lançar para fora de nós mesmos e outra vez pensar. As instituições educacionais com financiamento público devem constantemente trabalhar nessa direção, garantir que o rigor e a beleza do conhecimento instaurem uma luta contra a barbárie para “que nosso olhar sagaz para as coisas próximas possam indicar o quanto ainda nossa miopia impede um olhar mais apurado para o longínquo e o geral” (NIETZSCHE, 2003, p.193),o que certamente nos conduziria a possibilidades formativas mais originais e criativas. Oxalá um dia o próprio Estado poderá surpreender-se com aquilo que surge e nasce nos estabelecimentos de ensino, nos quais os indivíduos de fato se insubordinem a serem apenas úteis e devotos, mas,pelo contrário,sejam capazes de consolidar olhares sagazes para seu tempo, contra seu tempo, enfrentando sua própria miopia e,assim,poderemefetivamente abrir-se ao devir,com a leveza de quem mantém-se curioso e comprometido com a vida e com a história.AGRADECIMENTOS: Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio na realização da pesquisa em Nietzsche no campo da educação.
image/svg+xmlNietzsche educador e a afirmação da singularidadeRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212792REFERÊNCIASADAMI, J. D. VIS CREATIVA:A singularidade da vivência criadora no pensamento nietzschiano.Dissertação de Mestrado. 2016. Dissertação (Mestrado em Filosofia) Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo, PR, 2016. Disponível em: https://tede.unioeste.br/handle/tede/3052. Acesso em: 14 abr. 2021.NIETZSCHE, F. Escritos sobre educação. Sobre o futuro dos nossos estabelecimentos de ensino III Consideração intempestiva Schopenhauer como educador. Tradução: Noéli Correia de Melo Sobrinho. 2. ed. Rio de Janeiro: PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2003.NIETZSCHE, F. Escritos sobre a História. Apresentação, tradução e notas: Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de janeiro: ED. PUC; São Paulo: Loyola, 2005.NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano: Um livro paraespíritos livres. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. v. 2.NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra, um livro para todos e para ninguém. Tradução:Mario da Silva. 18.ed.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.OLIVEIRA, J. Educação como autolibertação na Filosofia de Nietzsche. Cadernos de Pesquisa:Pensamento Educacional, Curitiba, v. 8, n. 19, p. 132-146, maio/ago. 2013.RANGEL, M. M. Sobre a utilidade e desvantagem da ciência histórica, segundo Nietzsche e Gumbrecht. Revista Dimensões, Goiabeiras,Vitória, v. 24, p. 208-241, jun. 2009. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/dimensoes/article/view/2531. Acesso em: 23 abr. 2021.WEBER, J. F. Singularidade e formação (Bildung) em Schopenhauer como educador de Nietzsche.Educação e Pesquisa, São Paulo, v.35, n. 2, p. 251-264, maio/ago. 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ep/a/RBBjHsBzwhGtcwrRVD4Q35m/?format=html&lang=pt. Acesso em: 08 jun. 2021.WEBER,J. F.Crítica à moral e educação: Sobre o espírito livre de Nietzsche.Educação, Porto Alegre, v. 34, n. 1, p. 65-74, jan./abr. 2011. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/848/84818591009.pdf. Acesso em: 21 jul. 2021.
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212793Como referenciar este artigoHARDT, L. S. Nietzsche educador e a afirmação da singularidade. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, out./dez. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.16121Submetido em:16/01/2022Revisões requeridas em:24/05/2022Aprovado em: 07/09/2022Publicado em: 30/12/2022Processamento e editoração: Editora Ibero-Americanade Educação.Revisão, formatação, normalização e tradução.
image/svg+xmlNietzsche educador y la afirmación de la singularidadRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212776NIETZSCHE EDUCADOR Y LA AFIRMACIÓN DE LA SINGULARIDADNIETZSCHE EDUCADOR E A AFIRMAÇÃO DA SINGULARIDADE NIETZSCHE AS AN EDUCATOR AND THE AFFIRMATION OF SINGULARITYLúcia Schneider HARDT1RESUMEN: El artículo tiene como objetivo explicar el impacto de Schopenhauer en Nietzsche como estilo de maestro/profesor, incorporando la singularidad como lo que la educación promove. Para contemplar esta tarea y actualizar la reflexión en nuestro tiempo, es necesario enfrentar la tensión entre las exigencias de las instituciones educativas y el poder de un maestro/profesor en el ejercicio de su oficio, a fin de buscar en cada alumno lo que él tiene de genuino y original. Este es un ensayo con un enfoque cualitativo que refleja la trayectoria formativa del propio Nietzsche, capaz de promover su condición extemporánea y enfrentar a la cultura de su tiempo. Para ello se necesita un maestro, preferentemente, como indica Nietzsche, portador de una serenidad admirable, lleno de un fuego fuerte y devorador para poder potenciar la singularidad de su alumno.PALABRAS CLAVE: Nietzsche. Educación. Singularidad.RESUMO:O artigo tem por objetivo explicitar o impacto de Schopenhauer sobre Nietzsche como um estilo de mestre,incorporando a singularidade como aquilo que a educação promove. Para contemplar esta tarefa e atualizar a reflexão para o nosso tempo, faz-se necessário enfrentar a tensão entre as demandas das instituições educacionais e a potência de um mestre na prática do seu ofício,a fim de buscar em cada estudante aquilo que ele tem de genuíno e original.Trata-se de um ensaio de abordagem qualitativaque reflete a trajetória formativa do próprio Nietzsche,capaz de promover sua condição extemporânea e enfrentar acultura de sua época.Educar, formar-se, é uma tarefa que exige paciência, persistência, rigor, disciplina. Para isso, um mestre é necessário, de preferência, como nos indica Nietzsche, portador de uma serenidade admirável, cheio de um fogo forte e devorador para ser capaz de promover a singularidade do seu aluno.PALAVRAS-CHAVE:Nietzsche. Educação. Singularidade.1Universidad Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis SCBrasil. Profesor Titular. Doctorado en Educación(UFRGS). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4939-0156. E-mail: luciashardt@gmail.com
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212777ABSTRACT:The article aims to explain Schopenhauer's impact on Nietzsche as a style of master/teacher, incorporating the singularity as the crucial thing that education should promote. To contemplate this task and update the reflection for our time and context, it is necessary to fight the tension between the demands of educational institutions and the power of a master/teacher in the practice of his acting, in order to seek in each student what he has of genuine and original.This is an essay with a qualitative approach that reflects the formative trajectory of Nietzsche himself, capable of promoting his extemporaneous condition and facing the culture of his time.For this, a master is needed, preferably, as Nietzsche indicates, the bearer of admirable serenity, fullof a strong and devouring fire to be able to promote the singularity of his student.KEYWORDS:Nietzsche. Education. Singularity.Introducción¿En qué medida las instituciones educativas pueden favorecer la singularidad en sus procesos formativos? Teniendo en cuenta los debates y la formulación de directrices para las instituciones, para la definición de los planes de estudio, hay una fuerte tendencia a apelar al mismo nivel de formación para todos como condición para la democracia. ¿Habría espacio en este horizonte para la diferenciación, para la singularidad? ¿Para lo genuino? Después de todo, lo que se constituye como genuino en cada uno no es fruto del azar. La singularidad no sucede mágicamente; ¿Cómo entonces no ser evitado cuando el objetivo es el desarrollo de un supuesto estándar que debe ser alcanzado por todos en las instituciones educativas? ¿Cómo hacer de la singularidad un objetivo pedagógico en las instituciones?Para entender esta eventual carencia pedagógica, necesitamos retomar la perspectiva de la modernidad y sus promesas. Las narrativas de emancipación destacan un sujeto racional, consciente, centrado en una dimensión de progreso y la valorización del individualismo como recurso para la consolidación de la libertad. Unanarrativa con especias metafísicas e idealistas. Para construir una forma diferente de pensar sobre la formación humana, será necesario emprender una crítica radical de los supuestos metafísicos y, para ello, nos dirigimos al filósofo Nietzsche, quien ya indicó las pistas de esta narrativa en su tiempo, y en esta dirección dirige su crítica a pensar en la formación humana más allá del registro de la lógica moderna. Su crítica se enfrenta a su propio tiempo (y por extensión a nuestro tiempo) y su tema prioritario es el tema de la cultura.La cultura expresada y analizada en los textos de Nietzsche, considerando la atmósfera espiritual de la Alemania del siglo 18, parece tener mucho que decirnos hoy. En la constelación de luces, la idea de formación y culturaterminan constituyéndose a partir de una subordinación a las demandas políticas del ciudadano para la vida en sociedad. La cultura es así una
image/svg+xmlNietzsche educador y la afirmación de la singularidadRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212778acumulación de conocimiento, el establecimiento de una actuación de un individuo en sintonía con su tiempo, al servicio de él para generar progreso, inserción en el mercado laboral e innovación. La incorporación de esta perspectiva, para Nietzsche, activa tanto como sea posible el concepto de griego, necesario para la supervivencia humana, pero restringido a considerar a los humanos más allá de los rebaños. Para este filósofo, el deseo de masificación de la educación ya no tiene un interés propio en la cultura, sino el gusto de formar "hombres actuales", útiles a su tiempo e integrados al mercado y la producción, capaces de satisfacer las demandas del Estado. Toda cultura que afirma otra dimensión tiende a ser descartada y el deseo es acercar al individuo al rebaño, evitando cualquier singularidad que lo lleve a otra dirección que no sea la dimensión gregaria. Fuerte instinto en los humanos, porque necesita de la comunidad para sobrevivir, pero para Nietzsche no puede impedir lo que puede ser más genuino en cada uno. Al convertirse en esclavo del bienestar, los objetivos del Estado empobrecen cualquier formación humanay debilitan la cultura. Nietzsche evalúa que el individuo ha sido educado para pertenecer a una totalidad y que habría todas las metas a alcanzar.Cualquier desviación designa un peligro, por lo que cada acumulación de conocimiento está dirigida a la preservación de la sociedad. Las personas que anuncian otras posibilidades son despreciadas. La seducción para la búsqueda de este bienestar vive entre nosotros, ni Nietzsche desprecia esta necesidad. Sin embargo, se necesita precaución, porque toda seguridad va acompañada de la presencia de un espíritu dominante y la exigencia de obediencia. En este escenario podemos entender las conferencias impartidas por Nietzsche, que conforman la obra titulada Sobre el futuro de nuestros establecimientos educativos, entre enero y marzo de 1872, donde el filósofo critica la educación y la cultura de su tiempo, centrándose en los establecimientos educativos y sus reformas educativas.Nietzsche reflexiona sobre la educación de su tiempo y plantea una serie de preguntas denunciando lo que define como la decadencia de los procesos formativos. Según el filósofo, sería necesario restablecer los criterios de exigencia fundamental, autoridad y obediencia al conocimiento. Para él: Dos corrientes aparentemente opuestas, ambas dañinas en sus efectos y finalmente unidas en sus resultados, dominan hoy nuestros establecimientos educativos, originalmente fundados sobre bases totalmente diferentes: por un lado, la tendencia a extender la cultura tanto como sea posible, por otro lado, la tendencia a reducirla y debilitarla.Según la primera tendencia, la cultura debe ser llevada a círculos cada vez más amplios; según la segunda, se requiere que la cultura abandone sus más altas pretensiones de soberanía y se someta como servicio a otra forma de vida, especialmente la del Estado. (NIETZSCHE,2003, p.44, los grifos del autor, nuestra traducción).
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212779Tales tendencias, la de extensión y reducción, son el signo de un descuido con la formación y, más que eso, una ignorancia de los propios diseños de la naturaleza. La cultura como fuerza y expresión del original proviene del trabajo de unos pocos y sería un error imaginar que es fruto de la masificación. En estos términos, el joven Nietzsche defiende una cultura basada en su propio estilo, capaz de sostener el original de un pueblo y, por lo tanto, ser cauteloso con los propósitos de la política. Los hombres raros enfrentan peligros y a veces son excluidos, pierden los placeres básicos de la vida, porque están en busca de cosas más elevadas que los perturban; como Schopenhauer, porque sabía que para buscar cosas más elevadas no sería posible ajustarse a lascondiciones de su tiempo, rendirse a las modas, y para él siempre había una pregunta: "En lo más profundo de tu corazón, ¿dices sí a esta existencia? ¿Es suficiente para ti?" (NIETZSCHE, 2003, p. 163, nuestra traducción).La imagen de un pueblo, de una cultura, no encuentra un punto fijo, se captura de diferentes maneras. El mayor ejemplo fue la diversidad de posibilidades en el proceso de apropiación de una Grecia de alternativas muy peculiares y diversas. Nietzsche apreció el lado oscuro, más ligado a launidad original. La formación, en esta dirección, adquiere sentido reuniendo arte, cultura, naturaleza, pasado y futuro para contemplar el presente como un desafío a afrontar desde un legado recibido, preferentemente en las instituciones educativas. Educar implica reflejar el plan del individuo, pero también cultural e histórico. El riesgo de escapar del presente es grande; Por lo tanto, la tarea prioritaria de la formación es respetar y cultivar la autoridad del pensamiento a través de la cultura. En otras palabras, Nietzsche criticó el principio de profesionalización extendido a las instituciones, que no nos da el derecho de sentenciarlo como elitista, sino entender efectivamente lo que denuncia: las cosas deben tener un nombre y un propósito de acuerdo con sus especificidades: las escuelas técnicas, necesarias para la sociedad, no son escuelas de cultura y formación. Lo que el mercado quiere es diferente de lo que el cultivo quiere cultivar. Por el momento, Nietzsche aboga por instituciones que, inspiradas por Grecia, quieren alcanzar la plena formación del hombre, resistiendo las trampas de la especialización. Más tarde, Nietzsche abandonará algunas posturas de esta época, sin embargo, nunca renunciará a su crítica de especialización y reducción culturala los intereses del Estado. Nietzsche admite que muchas promesas y discursos universalizadores son un señuelo, ya que prometen lo que no siempre pueden cumplir. El desafío de la propuesta de Nietzsche en educación, afirmando que la opción por la formación superior, que en resumen promete más
image/svg+xmlNietzsche educador y la afirmación de la singularidadRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212780dificultades que alegrías, requiere dedicación plena y ninguna garantía de reconocimiento. ¿Sería esa una razón para "vulgarizar las demandas"? De ninguna manera, después de todo, Weber dice (2011, p. 143, nuestra traducción): "respetar y reconocer la limitación lingüística de los analfabetos no nos obliga a aceptar el analfabetismo como el destino de la humanidad". Del mismo modo, Weber (2011) sigue, señalando que la dificultad siempre presente en el uso del lenguaje no puede hacernos condescendientes con su uso. En este horizonte está la defensa de la educación en Nietzsche: la necesidad de encontrar maestros para estas tareas, que nunca quisieron despreciar otras alternativas.La defensa de la singularidad¿Cuál sería entonces una formación no subordinada a los dictados del Estado? Nietzsche defenderá la necesidad de soledad, una desviación de todo lo que llama al humano a estar presente en una coyuntura ya definida. En este punto, la tan prometida libertad moderna no parece contemplarse, porque los pequeños signos de desacuerdo con la sociedad y los muchos rebaños configurados en ella se consideran inmorales. Podemos concluir que el instinto gregario se basó en procesos institucionales y formativos para conservar el tiempo y dirigir a los individuos a sus propósitos.En este contexto, tiene sentido la expresión de Nietzsche: "convertirse en lo que uno es", lo que implica desprenderse del instinto de rebaño para tomar su forma. No existe un manual de conductas para seguir esta trayectoria, implica activar en sí mismo todos los recursos y no solo la racionalidad. No se trata de buscar un "verdadero yo", sino de atreverse a experimentar con el cuerpo entendido como la gran razón, implícita por instintos y saltos. Ser un artista de ti mismo, creando e inventando tu propia vida. Un ser humano capaz no solo de obedecer, de poder seleccionar el legado que recibió por parte de los establecimientos educativos y tener el coraje de luchar contra su propio tiempo. Jerarquiza, calibra lo que aún se puede preservar de las normas de convivencia sin perder la fuerza para afirmar su singularidad que a veces te lleva a vivir con sencillez. Vale la pena mencionar que este individuo no es indiferente a su comunidad, se aleja para activar fuerzas y desea volver a compartir experiencias y otras formas de vida. El hombre singular también puede tener otra convivencia con la historia, y el filósofo mismo lo trató en sus obras. Destaca la idea del olvido como necesario para la creación. Vaciar la memoria considerando los excesos de la afirmación de verdades que no está justificada. Una formación que sólo requiere memorización, repetición del pasado, sin que
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212781tomen el derecho a la invención, designa una precariedad que puede ser superada por la educación.De la falta de unidad a la singularidadNietzsche en su propia vida nos enseñó posibilidades de acceso a nuestra singularidad. Él mismo se dejó llevar por la atmósfera del romanticismo, seducido por la música de Wagner y todo lo que le concernía. Se convirtió en un seguidor, adepto a un movimiento que lo consumió durante mucho tiempo. En su producción en el período intermedio, especialmente en Humano, demasiado humano,Nietzsche logra a distancia analizar su propia fidelidad a este tiempo y darse cuenta de que esta es también una de las causas quizás de su enfermedad. Después de todo, nuestro filósofo sugiere:En los siglos posteriores, al gran hombre se le presentan todas las grandes características y virtudes de su siglo, por lo tanto, todo lo mejor está constantemente oscurecido por ladevoción, que lo ve como una imagen sagrada, en la que se cuelgan y exhiben ofrendas de todo tipo; hasta que finalmente esté completamente cubierto y envuelto por ellos, convirtiéndose más en un objeto de fe que de observación (NIETZSCHE, 2008, p. 95, grifo delautor, nuestra traducción).A veces Nietzsche habla de sí mismo, pero habla de todos nosotros, siempre devotos a las exigencias de nuestro tiempo, fieles a algunas promesas o adherentes de ciertas narrativas que nos seducen y deleitan para llevarnos aún a una forma estético-metafísica de ver la existencia. En la devoción a las narrativas, lo que puede faltar es "tú mismo"; Pedagógico es también alejarse, atravesar las privaciones de los narcóticos educativos, mirarse a sí mismo, aventurarse a crear experiencias, tratar de alejarse de las instilaciones que desean capturarnos.El enfoque de la "falta de yo" está muy bien presentadoen el texto de Adami(2016), cuando evalúa el propio viaje de Nietzsche, que tuvo que volver a sí mismo, para decidir sobre la eliminación en relación con la filología. Su deseo era ser filósofo, alejarse del romanticismo, alejarse incluso de su maestro Schopenhauer para no perder la fuerza de sí mismo y construir su propio destino. En estos términos, Nietzsche habla delo necesario, incluida su enfermedad, que requería un cambio de mirada mediante la construcción de una nueva crítica, ahora dirigida a su propia trayectoria. Yeste proceso es infinito mientras tengamos el coraje de enfrentarnos también a nosotros mismos y a nuestras actitudes devotas tan frecuentes hoy. ¿Hasta qué punto nuestra configuración y formación pedagógica ha fomentado esta crítica de nosotros mismos?
image/svg+xmlNietzsche educador y la afirmación de la singularidadRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212782Nietzsche describe la vida como imperfecta, en constante devenir, siempre inaugurando nuevos movimientos, otros horizontes. Los seres humanos viven dentro de esta tensión, desafiados a crear nuevas respuestas, apropiadas a las nuevas circunstancias. La tarea humana implica, pues, encontrar nuevas medidas y valores capaces de continuar la gran aventura de vivir. En este punto, la historia y lo que revela la práctica de olvidar y recordar puede ser una buena orientación que el pasado puede ofrecer para el presente. Olvidar implica alejarse de cuestiones conocidas y resueltas para ceder a nuevos horizontes sedientos de otras respuestas. Debemos evitar el riesgo de repetir siempre la misma respuesta, es importante reconocer los nuevos problemas y necesidades, experimentarlos, dar efectivamente a la vida la dignidad que merece. Sin embargo, también es importante recordar y analizar situaciones pasadas para reflexionar sobre lo que, ya experimentado, puede eventualmente enseñarnos en la búsqueda de nuevas respuestas. En cierto modo, ante nuevos horizontes no estamos en plena oscuridad, tenemos que recurrir a una tradición, que debemos cuidar para afrontar las nuevas experiencias que nos ofrece el futuro.Como sugiere Rangel (2009, p. 212-213, nuestra traducción):Las experiencias ya realizadas por los hombres adquieren sentido a partir de la confrontación sincera del presente, de una rendición a las nuevas configuraciones históricas, lo que Nietzsche llama la actitud a-histórica. Uno primero y luego, si es necesario, se busca, en diálogo con el pasado, medidas capaces de orientación. El estudio del pasado para la vida, ahí radica la ventaja de la ciencia histórica. Mientras vivimos bien sin el pasado, debemos mantenernos alejados de él, dice Nietzsche, pero si nos resulta difícil lidiar con los nuevos problemas que nos ofrecen, incesantemente, la vida, el apoyo de las experiencias ya realizadas es bienvenido.¿Cuándo necesitamos la historia? ¿Hasta qué punto son las instituciones responsables de la formación pedagógica en esta dirección de comprensión de la vida y la capacidad de recordar y olvidar? ¿Cómo puede el legado de la cultura sostener este propósito y también sostener el papel del maestro en las instituciones?
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212783Sobre las prácticas institucionales: necesidades colectivas del derecho a la singularidadEl joven Nietzsche destaca la importancia de las instituciones cuando están comprometidas con la cultura, el embarazo y la creación de lo genuino en los individuos. Dejarse atrapar por el hábito, satisfacer demandas más inmediatas, seguir modas y tendencias, revela el comienzo de un proceso de decadencia. La reverencia por la cultura en las instituciones debe ser protegida, las personas raras deben ser preservadas, lo que no significa defender ningún elitismo en el campo de la educación. Es más bien la defensa de una elevación espiritual derivada de la cultura. Lo que está en juego es una especie de "culto" a la cultura, que protegido y consolidado en la memoria colectiva, necesita que la educación sea conocida y difundida a la sociedad.Hay, en las instituciones, un sentido histórico que conoce la necesidad de preservar la tradición, incluso de rumiar los problemas del presente. No se puede recurrir al pasado para enterrar el presente; ni desean consolidar significados que no se han vivido plenamente en el pasado. Escapar del presente idealizando el pasado es, en última instancia, empobrecer la vida.El II Extemporánea2Sobre la utilidad y los inconvenientes de la historia para la vida, fue, en primer lugar, un ataque al historicismo, la condena de los puntos de vista científicos de la historia. El criterio más justo para acercarse a la historia es la vida misma. La historia puede ser muy relevante para la vida, pero también puede ser un discurso vacío. Por lo tanto, las instituciones deben preservar la memoria cultural del pasado para asegurar, a través de la educación y los procesos formativos, que se pueda buscar algo en el pasado para construir el futuro. El propio Nietzsche hizo este experimento de los griegos destacando los principios apolineanos y dionisíacos. Abusar de esta mirada al pasado te hace olvidar el presente y despreciar el futuro. Buscar el pasado nunca implica repetirlo, sino apropiarse de él para pensar en el presente. ¿Quién puede crear las condiciones para esta tarea? Descuidar la cultura produce una enfermedad que impide cultivar el legado cultural. Necesitamos capturar y descifrar los valores de un pueblo y una cultura para comprender las fuerzas activas de los individuos en relación con la sociedad. Nietzsche crea así categorías para comprender las diversas perspectivas de la historia y enfatiza el valor de la memoria y el olvido, como ya hemos señalado. Conocer el pasado ya implica una ciencia, es una metodología de reflexión que debe destacarse más que la compulsión de producir imágenes narrativas y descriptivas basadas en causas y consecuencias. Nietzsche identifica tres actitudes básicas hacia 2En este punto nos guiamos por la obra Escritos sobre la Historia de Nietzsche, presentada y traducida por Noéli Correia de Melo Sobrinho (2005).
image/svg+xmlNietzsche educador y la afirmación de la singularidadRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212784la historia, posturas que pueden servir a la vida, frente a los desafíos que siempre se presentan, pero también pueden servir a una tendencia a sacralizar el pasado, imaginando así encontrar protección. Nos referimos en este punto a la historia monumental, tradicional o anticuaria y a la historia crítica.La primera versión de la historia nos desafió a buscar en el pasado modelos de acción, a saber qué es ejemplar para orientarnos hacia el futuro. Nietzsche buscó estudiar a grandes individuos para comprender cómo respondieron a los grandes desafíos de su tiempo, sin crear con ello ningún ídolo, porque no se trata de producir una historia de héroes, sino de aprender cómo, en diferentes épocas, el humano dio su testimonio de originalidad al enfrentar cuestiones vitales. Encontrar individuos únicos, no para imitarlos, sino para animar a cada individuo a enfrentar su historia única en el tiempo en que viven. Es una cuestión de recordar la fuerza, el coraje como unaposibilidad humana. Esto también se aprende en las instituciones, a través de procesos formativos, sin dejarse seducir por una historia que solo desea revelar grandes individuos y sus hechos. La historia existe para enseñar a los hombres del presente que las turbulencias de la vida ya se han enfrentado en otros períodos, y que todavía podemos hacer esto con otras actuaciones de nuestro tiempo.La historia tradicional busca un origen eterno de su comunidad, como si estuviera vestida de luz y se revelara como una reliquia. Hechizados por la seducción, no pueden capturar fenómenos históricos en toda su profundidad. Encarcelados en exceso del pasado y obsesionados con el origen, sus representantes pretenden elaborar explicaciones: no tienen interés en los "grandes hombres", sino que describen prácticas, convicciones, ideologías dentro de las cuales se mueve la vida. Es necesario cultivar ideas, símbolos y prácticas culturales. Por otro lado, esta perspectiva de la historia descuida la reflexión sobre las propias creencias, la necesidad de prepararse para lo nuevo tiende a estacionarse en una cierta tradición. Puede perder fuerza en los cruces del devenir, por lo que debe dar cabida a otros sentidos y valores.Finalmente, la historia crítica, que evalúa lasdos anteriores e indica algunos riesgos. El pasado puede ser una trampa, puede terminar enterrando el presente. La perspectiva crítica de la historia niega el pasado cada vez que supera el espacio en el reflejo de los humanos. El pasado no puede inhibir la fuerza en el presente, languidecer coraje y originalidad para hacer frente a lo que es nuevo y de otra manera ya experimentado. La dimensión crítica debe ser estimulante, presente, fuerte, para evitar que los humanos se subordinen a héroes o tradiciones bien diseñados, renunciando a lo que se les coloca frente a ellos como un desafío.
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212785No tenemos el propósito de mirar a Extemporánea II considerando toda su profundidad, se enfatiza aquí para afirmar una de las funciones de la educación en las instituciones desde el punto de vista de Nietzsche. Y, además, ayudar a reflexionar sobre la indagación necesaria en este texto: ¿qué puede hacer el máster en las instituciones?En el texto Schopenhauer como educador (NIETZSCHE, 2003), el punto culminante se debe a la definición de quién es el maestro, cuáles son sus principales características y cómo debe ser, ya que, operando pedagógicamente, llevaría al individuo a asumir su autoformación. Después de todo, ¿qué es este choque entre los objetivos de una institución y el papel del maestro en la formación de individuos en busca de lo que es genuino, original en cada uno? Este texto pretende contemplar la reflexión sobre este problema y esta tensión: ¿qué puede hacer un profesor dentro de una institución, teniendo en cuenta las demandas institucionales? ¿Qué es lo que eventualmente impide o inhibe la institución en la tarea del maestro en la búsqueda de lo genuino en los estudiantes? Para entender esto, podríamos reunir dos insinuaciones de Nietzsche (2003), en la obra Sobre el futuro de nuestros establecimientos educativos, cuando el filósofo, en tiempos de enseñanza, afirma que no quiere dedicarse a cuestiones administrativas en las instituciones, sino que quiere atravesar las profundidades de la experiencia y enfrentar los problemas reales de la cultura, algo que los horarios y las mesas nunca garantizarán; él desea,Incluso con las instituciones, gozaba de un horizonte más libre, y en esta defensa sabía que nunca podría contar con amantes de la administración de horariosy mesas de clases. Por contradictorio, Nietzsche (2003, p. 46, nuestra traducción) afirma en el mismo texto que en tiempos de "hombres serios, al servicio de una cultura totalmente renovada y purificada" en algún momento la parte administrativa será muy importante, pero por otras razones que la corriente exige, por ejemplo, formar lectores tranquilos, "capaces de elegir y buscar las buenas horas del día y sus momentos fructíferos y poderosos para meditar [...] ¡No para escribir un resumen o incluso un libro, sino para meditar!" (NIETZSCHE, 2003, p. 46-47, nuestra traducción). Los lectores apresurados corrompen el trabajo. Un educador debe interrogar a su discípulo, y aquí reafirmamos la provocación de Schopenhauer (NIETZSCHE, 2003, p. 145, nuestra traducción): "En lo más profundo de tu corazón, ¿dices sí a esta existencia? ¿Es suficiente para ti?" Según Nietzsche (2003), los hombres raros, capaces de responder a esta pregunta con firmeza, muestran algún tipo de desprecio por aquellos que desperdician su posibilidad de formación. Después de todo: "un hombre que no quiere pertenecer a la misa sólo necesita dejar de ser indulgente consigo mismo;
image/svg+xmlNietzsche educador y la afirmación de la singularidadRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212786que sigue su conciencia que le grita: "¡Sé tú mismo! No eres esto que ahora haces, piensas y deseas" (NIETZSCHE, 2003, p. 139, nuestra traducción).Por lo tanto, las narrativas indigestas que a veces evaluamos en el texto de Nietzsche necesitan ser contempladas por los argumentos que él mismo nos ofrece en defensa de la función de las instituciones y de un maestro que efectivamente desea educar. El desprecio por un lector apresurado, por la obsesión por resumir las obras antes de comprenderlas, revela con fuerza el deseo de enfrentar la sumisión a un tiempo ya inmerso en el empobrecimiento de la propia reflexión. La felicidad y la buena formación no vendrán mientras el individuo esté subordinado a "las cadenas de la opinión y el miedo actuales" (NIETZSCHE, 2003, p. 139, nuestra traducción). Por lo tanto, Nietzsche (2003, p. 139, nuestra traducción) afirma que no hay criatura más siniestra en la naturaleza que aquella "que fue despojada de su propio genio y que ahora está de izquierda a derecha en todas las direcciones".Evitar que este conduzca a cualquier dirección es tarea del buen maestro. O como hemos anunciado antes, un maestro debe evitar "la falta de sí mismo" en cada alumno. La pedagogía de un maestro sensible desea encontrar estudiantes capaces de hacer experimentos, capaces de darse una mirada crítica para reorientarse infinitamente hacia múltiples posibilidades. En este punto, estamos llamados como maestros también a pensar nuestra práctica, cuando seguimos demasiado las demandas dibujadas por las instituciones. Nosotros, los amos, tampoco podemos ajustarnos completamente a nuestro tiempo, después de todo, como si no fuéramos capturados por las innumerables direcciones que las instituciones a veces quieren llevarnos. Así, una buena expresión de un maestro se indica en el texto de Nietzsche Schopenhauer como educador:Pero incluso si el futuro no nos dejara ninguna esperanza, la singularidad de nuestra existencia en este preciso momento y lo que nos alentaría más fuertemente a vivir de acuerdo con nuestra propia ley y de acuerdo con nuestra propia medida: Quiero hablar de este hecho inexplicable de vivir justo hoy, cuando tenemos la extensión infinita del tiempo para nacer,Cuando no tenemos más que el corto lapso de tiempo de un hoy y cuando necesitamos mostrarlo, por qué y con qué propósitos, aparecemos exactamente ahora. Debemos asumir la responsabilidad denuestra existencia ante nosotros mismos, por lo que queremos actuar como los verdaderos timoneles de esta vida y no permitir que nuestra existencia parezca una contingencia privada de pensamiento. Esta existencia quiere que nos acerquemos a ella con valentía y también con valentía, sobre todo porque, en el mejor o en el peor de los casos, siempre la perderemos. ¿Por qué aferrarse a este pedazo de tierra, a esta profesión, por qué escuchar los propósitos del prójimo? También es provincial jurar obediencia aconcepciones que, en cientos de otros lugares, ya no obligan. Occidente y Oriente son líneas imaginarias que alguien dibuja con tiza ante nuestros ojos, para engañar nuestra pusilanimidad (NIETZSCHE, 2003, p. 140-141, nuestra traducción).
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212787La provocaciónde Nietzsche es muy desafiante: después de todo, ¿por qué y con qué propósitos aparecemos exactamente ahora? ¿Por qué es esta nuestra vida? Debemos asumir la responsabilidad de nuestra existencia ante nosotros mismos, dejar que nuestra singularidad sea fructífera. ¿Por qué de repente nuestro tiempo es el momento de una pandemia, por qué ahora estoy siendo llamado a pensar en la educación de nuevo, crear nuevas medidas para la enseñanza, para la lectura, para seminarios y eventos? En la estela de Nietzsche,sería de nuestra parte esperar, nuevamente, a que actuara la normalidad de los procesos pedagógicos. Sin duda, no queremos aparcar donde estamos, pero ciertamente el impacto de la "enfermedad" ha producido algo genuino en todos nosotros, como maestro y también de discípulos. "Sus educadores no pueden ser más que libertadores", dice Nietzsche (2003, p. 142, nuestra traducción). La formación "no busca miembros artificiales, narices de cera" (NIETZSCHE, 2003, p. 142, nuestra traducción), y en nuestros tiempos tampoco quiere vernos seducidos por los recursos tecnológicos que necesitamos ahora. Ciertamente, la tecnología ofrece novedades, está posibilitando la comunicación, las prácticas docentes, eventos de gran repercusión teórica, reuniendo a personas de todos los continentes. Sin embargo, debemos cuidar las trampas. En nuestro tiempo, estamos algo impactados, viendo instituciones encantadas con la posibilidad de, a través de una pantalla, contemplar a 100, 200 o más estudiantes, afirmando que esta sería la nueva aula, reduciendo el número de educadores, convirtiendo la pedagogía en una herramienta que solo maneja imágenes, tablas, horarios, colores e itinerarios preformateados. Tenemos que estar atentos, porque aunque tomemos por nuestro tiempo y necesitemos otros recursos para educar, no debemos olvidar que la educación es liberación cuando también es capaz de "extirpara todas las malas hierbas, desechos, alimañas, que quieran atacar las tiernas semillas de las plantas" (NIETZSCHE, 2003, p.142, nuestra traducción).En tiempos de pandemia, necesitamos, hasta cierto punto, cultivar nuestra singularidad, arrancarnos lo genuino, así como cultivar esto en los estudiantes para evitar que las malas hierbas, los versos, el desperdicio, a veces intercambiando colores, imágenes y recursos tecnológicos finalmente instalen nuevamente las dos tendencias dañinas señaladas por Nietzsche: masificación y reducción de la cultura con pérdida absoluta de formación.Cuando se nos ocurren las nubes oscuras, dice Nietzsche, es mejor recordar a nuestros maestros y educadores. En este contexto, nuestro filósofo recuerda a Schopenhauer, el único maestro del que está orgulloso. Nietzsche (2003, p. 146, nuestra traducción):
image/svg+xmlNietzsche educador y la afirmación de la singularidadRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212788Nunca hemos tenido tanta necesidad de educadores morales, y nunca ha sido tan improbable encontrarlos; En los momentos en que los médicos son más necesarios, en el momento de grandes epidemias, es entonces cuando también están más expuestos al peligro. Porque: ¿dónde están los doctores de la humanidad moderna que eran lo suficientemente firmes y sólidos en sus pies, para que también pudieran soportar a otro y guiarlos de la mano? Un cierto asombro, una cierta apatía, pesan sobre las mejores personalidades de nuestro tiempo, un fastigio sempiterno con esta lucha entre el ocultamiento y la honestidad que está atrapada en su seno, una inquietud que nubla la confianza que tienen en sí mismos, que los hace totalmente incapaces de ser al mismo tiempo, para los demás, guíasy censores. Encontrar educadores en tiempos oscuros: una condición necesaria para hacer frente al miedo y los peligros. Y, además, ¿encontrar educadores morales, porque las prácticas educativas no son, formales o no, acciones para fortalecer y difundir valores? ¿Y qué valores se necesitan en tiempos oscuros? Nietzsche dirá (en Human Too Human I) que la educación debe ser impulsada por el rigor de la ciencia y también debe abandonar su sumisión a la religión. En este punto encontramos, algunos dicen, un "Ilustrado" de Nietzsche, porque, como analiza Weber (2011, p. 66, nuestra traducción), "a pesar de la anti-Ilustración de Nietzsche, su crítica a la idea de la Ilustración de progreso y mejora de la humanidad", la propuesta de unir la ciencia y lacrítica de la religión fue uno de los proyectos centrales de la Ilustración reformista después de la Revolución Francesa y,Hasta cierto punto, nuestro filósofo integra esta crítica cuando habla de educación. Nietzsche tiene el componente corrosivo en su crítica de la moral, pero también es necesario destacar las proposiciones constructivas de la moral nietzscheana que lo acompañaron a lo largo de su vida, ya que el autor priorizó el debate en torno a los valores. La perspectiva moral es también una forma de liberar al individuo de la tradición cuando se muestra como una tiranía colectiva. En este punto, de nuevo, la historia tiene su lugar. Las reglas existen para nuestra supervivencia, pero siempre deben analizarse desde esta perspectiva, ya que no hay valores en ellas y para siempre. Cuando se revela la estupidez de una regla, se necesita coraje y autonomía para cambiarla. Someterse a una moralidad estúpida es renunciar a nuestra singularidad y evitar que algo genuino nazca en nosotros. Según Weber (2011, p. 71, el grifo del autor, nuestra traducción), la obra:Humano, demasiadohumano, es, a juicio del propio Nietzsche "[...] El monumento de una crisis. Se proclama a sí mismo un libro para espíritus libres: casi todas las frases allí expresan una victoria". [....] El significado de la figura del Espíritu Libretiene una fuerte relación, en un primer sentido, con la crisis de Nietzsche, pero también con su victoria sobre la incertidumbre, que esta obra erige en monumento. Por lo tanto, está relacionado con los propios movimientos de autosuperación del filósofo. También hay un segundo sentido, este más general, en el que el Espíritu Libre figura como tipología
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212789característica de los movimientos de liberación de la moralidad de las costumbres, un paso necesario, pero no suficiente para la liberación de la humanidad del imperio de la venganza. Estas dos dimensiones, aunque distintas, son inseparables.El espíritu libre parece ser el fruto maduro de la crítica ya iniciada en la juventud del filósofo y que es la expresión de su propia originalidad. Al ejercer el espíritu libre, aprendió a confrontar y criticar la moralidad de las costumbres y también a criticarse a sí mismo. Lo genuino es pensar diferente de lo que uno esperaría considerando su tiempo, su inserción social. Como dice Nietzsche, hay que enfrentarse al espíritu cautivo, atado a una fe: el espíritu libre busca razones para entender el mundo. Paradójicamente, la idea del espíritu libre en Nietzsche también proviene de la ruptura con su maestro, Schopenhauer, pues a pesar de reconocer en él a un educador moral, percibió que era necesario volver a sí mismo, necesitaba soledad, del distanciamiento del maestro para producir años de experimentación para acercarse nuevamente a la vida, considerando su forma más genuina de pensar. De hecho, como dice en Zaratustra, "Un maestro es correspondido erróneamente cuando uno siempre permanece y solo un discípulo" (Así habló Zaratustra) (NIETZSCHE, 2010, p. 105, nuestra traducción).Para pensar en nuestro tiempo, es necesario ser cuidadoso y cauteloso con todos aquellos que se presentan durante la hora como iluminados y capaces de toda crítica en un momento de pandemia. Todavía quedan muchos acertijos a los que enfrentarse un crítico capaz de preservar la lucidez de aquellos que no quieren ser gobernados por el imperio de la venganza.Parece que Nietzsche (2003, p. 148, nuestra traducción) todavía aprendió de su viejo maestro: "El estilo de Schopenhauer me recuerda un poco a Goethe [...], porque sabe decir sobre lo que es profundo simplemente, lo que se mueve sin retórica y lo que es científico sin pedantería". En este camino el propio Nietzsche seguirá su reflexión sobre la ciencia, siempre valorada, pero siempre sujeta a errores, a revisiones sucesivas, ya que no podía albergar la verdad, la aspiración indebida de los humanos, así como el gusto compulsivo por el juicio y la corrección del otro. Sugere nosso filósofo uma tarefa difícil: defender a ciência sem pedantismo. Necesitamos resistir a los escritores mediocres que revelan una alegría sin aliento y sin curiosidad, como, para Nietzsche, lo fue el pensador David Strauss.Así, Nietzsche (2003, p. 150, nuestra traducción) finalmente revela el impacto de su maestro en él:Es honesto porque habla y escribe para sí mismo y para sí mismo; Tan de tiempo porque ha superado con el pensamiento lo que es más difícil, y constante porque debe ser así. Su fuerza crece recta y ligera como una llama
image/svg+xmlNietzsche educador y la afirmación de la singularidadRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212790en el aire tranquilo, segura de sí misma, sin temblor, sin inquietud. En cada una de estas cualidades, encuentra su camino sin siquiera notar que lo ha buscado; Por el contrario, movido por una ley de la gravedad, se arroja allí, firme y ágil, inexorable. Y el que una vez sintió lo que es, ennuestro tiempo de humanidad híbrida, encontrar un ser completo, coherente, móvil en sus propios ejes, libre de vacilaciones y puntos retrospectivos, comprenderá mi felicidad y mi sorpresa cuando descubrí a Schopenhauer: sentí que había encontrado en él a este educador y a este filósofo que había buscado durante tanto tiempo. Sin embargo, esto fue ciertamente solo a través de un libro, y había una gran deficiencia en él. Luché cada vez más para ver a través del libro y representar al hombre vivo, de quien había leído el gran testamento y que prometió no elegir a sus herederos, sino a aquellos que querían y podían ser más que meros lectores: es decir, sus hijos y sus discípulos.Lo que Nietzsche más apreció en Schopenhauer fue su crítica y sumisión a las tendencias filosóficas de su tiempo. Conocía en el maestro el derecho a la singularidad, a la necesidad de autoconocimiento. A través de este aprendizaje, fue capaz de pensar en la oposición entre lo individual y lo colectivo, tan propagada por la modernidad.Después de todo, el singular es, como dice Weber (2009, p. 253, nuestra traducción), "mucho más que el individuo". Después de todo, ¿cómo explicar que la singularidad es la excepción y la regla es el rebaño? Es inevitable que estemos insertados en una sociedad, marcando nuestra presencia individual. Sin embargo, no puede reducirse a anclarse en lo colectivo simplemente, no puede renunciar a sí mismo, y después de todo, ¿por qué es tan difícil para el hombre permanecer en presencia de sí mismo sin escapar de sí mismo?La vida en sociedad requiere una uniformidad de comportamientos y valores, una búsqueda de protección y seguridad, y a menudo terminamos capturados por esta lógica. Weber (2009, p. 259, nuestra traducción) nos ayuda a pensar en esta dirección yescribe: Tememos al prójimo, como sugiere Nietzsche al principio del texto sobre Schopenhauer. No estar dispuesto a estar con otros, con la comunidad, podría llevar a la ruina social. Así, tanto la fuerza del esfuerzo social sobre el individuo como su cobardía, asociada a su pereza, son fuertes condicionamientos, creadores de falta de autenticidad, también llamada Nietzsche de falta de estilo.El individuo sin estilo no ha alcanzado su singularidad, no tiene la virtud de la fuerza para enfrentar su tiempo y sus reglas estúpidas. El autoconocimiento de Nietzsche (2003, p. 260) será "la tarea del águila, no del topo", y crea una nueva relación entre el hombre y el mundo, otra territorialidad con sospecha. Implica mirar sobre el interior y el exterior que constituía al ser humano, para hacer experimentos formativos consigo mismo y con los demás. La liberación es uno de los requisitos para lograr la singularidad.
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212791Consideraciones finalesComo educadores en nuestro tiempo, enfrentando tiempos oscuros por lasmás diversas razones, y deseando enfrentar la tensión entre lo que las instituciones quieren de los humanos y lo que un maestro puede hacer por los estudiantes, podemos llegar al punto en este artículo donde es posible afirmar que la gran tarea de la educación implica descubrir y cultivar la fuerza de cada uno para aprender a calibrar y jerarquizar sus fortalezas y prevenir una de ellas. aniquilar al otro. Así, un ser fuerte, duro, auténtico y honesto surgiría con su tiempo y con los demás. Surge alguien que aprecia las disputas, sin querer aniquilar a nadie, que desea argumentar para poner a prueba su pensamiento, poner en un tribunal los valores que nos rigen para hacernos pensar de nuevo la vida y sus innumerables posibilidades. Implica perfeccionar la moral en beneficio de la vida, liberando al hombre de la sumisión a lo colectivo, de la vulgaridad de las modas, de la repetición sin reflejo de itinerarios formativos ya desgastados y empobrecidos. Finalmente, no faltan tareas para aquellos que desean ser maestros y afirmar el derecho a la singularidad de los seres humanos en un horizonte múltiple y abierto.A La educación, finalmente, es un proceso de autoeducación estimulado por el maestro que desea contemplar en cada estudiante el cultivo del espíritu libre, el capaz de hacer pensar tomando todos los riesgos. ¿Cuál es el punto? El interés por la vida, que implica conocer nuestro tiempo, y a veces pensar en contra de él. El Estado, como nos dice Schopenhauer, no es el fin supremo de la humanidad, e insistir en que el deber de los humanos sería servir al Estado es estúpido. Será necesario a través de la educación afrontar el empobrecimiento de la formación, la "barbarie cultivada", que no nos da derecho a querer aniquilar al otro cuando nos frustra y nos decepciona, sino a afrontar, a través de las instituciones educativas, lo que es de hecho la tarea de la educación. Para esto, es primordialmente importante que el individuo, cada estudiante, después de todo las cosas humanas sean atractivas y puedan despertar en él la búsqueda del conocimiento. La práctica pedagógica debe captar las virtudes de cada alumno, insistir en que se desarrollen, educar incluso para la soledad, ya que esta es una forma viable de desviarse de las obligaciones cuando solo están comprometidos con el mundo del mercado y la burocracia estatal (OLIVEIRA, 2013, p. 145). Finalmente, educar, graduarse es una tarea que requiere paciencia, persistencia, rigor, disciplina. Para esto, un maestro es necesario, preferiblemente, como nos indica Nietzsche, ser portador de una serenidad admirable, lleno de un fuego fuerte y devorador para poder expulsarnos de nosotros mismos y volver a pensar. Las instituciones educativas financiadas con fondos públicos deben trabajar constantemente en esta dirección, garantizar que el rigor y la
image/svg+xmlNietzsche educador y la afirmación de la singularidadRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212792belleza del conocimiento inicien una lucha contra la barbarie para que nuestra mirada astuta a las cosas cercanas pueda indicar cuánto impide nuestra miopía una mirada más aguda a lo lejano y lo general" (NIETZSCHE, 2003, p. 193, nuestra traducción), lo que sin duda nos llevaría a posibilidades formativas más originales y creativas. Espero que algún día el propio Estado se sorprenda por lo que surge y nace en los establecimientos educativos, en los que los individuos, de hecho, no se dan cuenta de ser solo útiles y devotos, pero, por el contrario, pueden consolidar miradas astutas para su tiempo, contra su tiempo, frente a su propia miopía y, por lo tanto, pueden abrirse efectivamente al futuro.con la ligereza de aquellos que siguen siendo curiosos y comprometidos con la vida y la historia.GRACIAS: Agradezco al Consejo Nacional de Desarrollo Científico y Tecnológico (CNPq) por su apoyo en la realización de investigaciones en Nietzsche en el campo de la educación.REFERENCIASADAMI, J. D. VIS CREATIVA: A singularidade da vivência criadora no pensamento nietzschiano.Dissertação de Mestrado. 2016. Dissertação (Mestrado em Filosofia) Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo, PR, 2016. Disponible en: https://tede.unioeste.br/handle/tede/3052. Acceso: 14 de abril de 2021.NIETZSCHE, F. Escritos sobre educação. Sobre o futuro dos nossos estabelecimentos de ensino III Consideração intempestiva Schopenhauer como educador. Tradução: Noéli Correia de Melo Sobrinho. 2. ed. Rio de Janeiro: PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2003.NIETZSCHE, F. Escritos sobre a História. Apresentação, tradução e notas: Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de janeiro: ED. PUC; São Paulo: Loyola, 2005.NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano: Um livro para espíritos livres. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. v. 2.NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra, um livro para todos e para ninguém. Tradução:Mario da Silva. 18.ed.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.OLIVEIRA, J. Educação como autolibertação na Filosofia de Nietzsche. Cadernos de Pesquisa:Pensamento Educacional, Curitiba, v. 8, n. 19, p. 132-146, maio/ago. 2013.RANGEL, M. M. Sobre a utilidade e desvantagem da ciência histórica, segundo Nietzsche e Gumbrecht. Revista Dimensões, Goiabeiras,Vitória, v. 24, p. 208-241, jun. 2009. Disponible en: https://periodicos.ufes.br/dimensoes/article/view/2531. Acceso: 23 de abril de 2021.WEBER, J. F. Singularidade e formação (Bildung) em Schopenhauer como educador de Nietzsche.Educação e Pesquisa, São Paulo, v.35, n. 2, p. 251-264, maio/ago. 2009.
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212793Disponible en: https://www.scielo.br/j/ep/a/RBBjHsBzwhGtcwrRVD4Q35m/?format=html&lang=pt. Acceso: 08 jun. 2021.WEBER, J. F.Crítica à moral e educação: Sobre o espírito livre de Nietzsche.Educação, Porto Alegre, v. 34, n. 1, p. 65-74, jan./abr. 2011. Disponible en: https://www.redalyc.org/pdf/848/84818591009.pdf. Acceso: 21 jul. 2021.Cómo hacer referencia a este artículoHARDT, L. S. Nietzsche educador y la afirmación de la singularidad. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2776-2793, oct./dic. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.16121Presentado en:16/01/2022Revisiones requeridas en: 24/05/2022Aprobado en: 07/09/2022Publicado en: 30/12/2022Procesamiento y edición: Editora Iberoamericana de Educación -EIAE.Corrección, formateo, normalización y traducción.
image/svg+xmlNietzsche as an educator and the affirmation of singularityRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212775NIETZSCHE AS AN EDUCATOR AND THE AFFIRMATION OF SINGULARITYNIETZSCHE EDUCADOR E A AFIRMAÇÃO DA SINGULARIDADE NIETZSCHE EDUCADOR Y LA AFIRMACIÓN DE LA SINGULARIDADLúcia Schneider HARDT1ABSTRACT:The article aims to explain Schopenhauer's impact on Nietzsche as a style of master/teacher, incorporating the singularity as the crucial thing that education should promote. To contemplate this task and update the reflection for our time and context, it is necessary to fight the tension between the demands of educational institutions and the power of a master/teacher in the practice of his acting, in order to seek in each student what he has of genuine and original. This is an essay with a qualitative approach that reflects the formative trajectory of Nietzsche himself, capable of promoting his extemporaneous condition and facing the culture of his time. For this, a master is needed, preferably, as Nietzsche indicates, the bearer of admirable serenity, fullof a strong and devouring fire to be able to promote the singularity of his student.KEYWORDS: Nietzsche. Education. Singularity.RESUMO:O artigo tem por objetivo explicitar o impacto de Schopenhauer sobre Nietzsche como um estilo de mestre,incorporando a singularidade como aquilo que a educação promove. Para contemplar esta tarefa e atualizar a reflexão para o nosso tempo, faz-se necessário enfrentar a tensão entre as demandas das instituições educacionais e a potência de um mestre na prática do seu ofício,a fim de buscar em cada estudante aquilo que ele tem de genuíno e original.Trata-se de um ensaio de abordagem qualitativaque reflete a trajetória formativa do próprio Nietzsche,capaz de promover sua condição extemporânea e enfrentar a cultura de sua época.Educar, formar-se, é uma tarefa que exige paciência, persistência, rigor, disciplina. Para isso, um mestre é necessário, de preferência, como nos indica Nietzsche, portador deuma serenidade admirável, cheio de um fogo forte e devorador para ser capaz de promover a singularidade do seu aluno.PALAVRAS-CHAVE:Nietzsche. Educação. Singularidade.1Federal University of Santa Catarina(UFSC), Florianópolis SCBrazil. Full Professor. PhD in Education(UFRGS). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4939-0156. E-mail: luciashardt@gmail.com
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212776RESUMEN:El artículo tiene como objetivo explicar el impacto de Schopenhauer en Nietzsche como estilo de maestro/profesor, incorporando la singularidad como lo que la educación promove. Para contemplar esta tarea y actualizar la reflexión en nuestro tiempo, es necesario enfrentar la tensión entre las exigencias de las instituciones educativas y el poder de un maestro/profesor en el ejercicio de su oficio, a fin de buscar en cada alumno lo que él tiene de genuino y original.Este es un ensayo con un enfoque cualitativo que refleja la trayectoria formativa del propio Nietzsche, capaz de promover su condición extemporánea y enfrentar a la cultura de su tiempo.Para ello se necesita un maestro, preferentemente, como indica Nietzsche, portador de una serenidad admirable, lleno de un fuego fuerte y devorador para poder potenciar la singularidad de su alumno.PALABRAS CLAVE:Nietzsche. Educación. Singularidad.IntroductionTo what extent do educational institutions manage to favor singularity in their formative processes? Considering the debates and formulation of guidelines for institutions, for the definition of curricula, there is a strong tendency to call for the same standard of education for all as a condition for democracy. Is there room in this horizon for differentiation, for uniqueness? For the genuine? After all, what is constituted as genuine in each person is not the result of chance. Uniqueness doesn't happen magically; how then can it not be prevented when the goal is the development of a supposed standard that should be reached by everyone in educational institutions? How to make uniqueness a pedagogical goal in institutions?To understand this possible pedagogical lack, we need to return to the perspective of modernity and its promises. Emancipation narratives emphasize a rational, conscious, progress-oriented subject and the valorization of individualism as a resource for theconsolidation of freedom. A narrative with metaphysical and idealistic spice. To build a different way of thinking about human formation, it will be necessary to undertake a radical critique of the metaphysical assumptions and, to do so, we resort to the philosopher Nietzsche, who already indicated the signs of this narrative in his time, and in this direction,he directs his critique to think about human formation beyond the register of modern logic. His critique faces his own time (and by extension our time) and his main theme is the question of culture.The culture expressed and analyzed in Nietzsche's texts, considering the spiritual atmosphere of Germany in the 18th century, seems to have much to tell us today. In the constellation of the Enlightenment, the idea of formation and culture ends up being constituted from a subordination to the political demands of the citizen for life in society. Culture is thus an accumulation of knowledge, the establishment of a performance of an individual in tune with
image/svg+xmlNietzsche as an educator and the affirmation of singularityRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212777his time, at his service to generate progress, insertion in the job market, and innovation. The incorporation of this perspective, for Nietzsche, activates to the maximum the concept of gregariousness, necessary for human survival, but restricted to consider humans beyond flocks. For this philosopher, the desire for the massification of education no longer has its own interest in culture, but the taste for forming "ordinary men", useful to their times and integrated into the market and production, able to meet the demands of the State. Any culture that would affirm another dimension tends to be discarded, and the desire is to bring the individual closer to the herd, preventing any singularity that would take him in another direction than the gregarious dimension. Strong instinct in humans, for he needs the community to survive, but for Nietzsche it cannot prevent what can be more genuine in each one. Becoming a slave to welfare, to the goals of the state, impoverishes any human formation and weakens culture. Nietzsche believes that the individual is being educated to belong to a totality and that all goals to be reached are there. Any deviation designates a danger;therefore, all accumulation of knowledge is directed toward the preservation of society. Individuals who announce other possibilities are despised. The seduction for the pursuit of this well-being lives among us, nor does Nietzsche despise this need. However, caution is needed, for all security is accompanied by the presence of a domineering spirit and the demand for obedience. In this scenario, we can understand the lectures given by Nietzsche, which make up the work entitled On the future of our educational institutes, between January and March 1872, where the philosopher criticizes the education and culture of his time, focusing on educational establishments and their educational reforms. Nietzsche reflects on the education of his time and raises a series of questions by denouncing what he defines as the decadence of the educational processes. According to the philosopher, it would be necessary to reestablish the criteria of demand, authority, and obedience that are fundamental to knowledge. For him: Two apparently opposing currents, both harmful in their effects and ultimately united in their results, dominate our educational establishments today, originally founded on totally different bases: on the one hand, the tendency to extend culture as far as possible, on the other, the tendency to reduceand weaken it. According to the first tendency, culture must be taken into ever wider circles; according to the second, culture is required to abandon its highest claims to sovereignty and submit itself as a servant to another form of life, especially that of the State (NIETZSCHE, 2003, p. 44, emphasis added, our translation).Such tendencies -that of extension and that of reduction -are the sign of a carelessness with formation and, more than that, an ignorance of nature's own designs. Culture as a force
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212778and expression of the original comes from the work of the few, and it would be a mistake to imagine that it is the fruit of massification. In these terms, the young Nietzsche defends a culture guided by its own style, capable of sustaining the originality of a people, and, for this very reason, to be cautious with the purposesof politics. Rare men face dangers and are sometimes excluded, they lose basic pleasures of life, because they are in search of higher things that disturb them; just like Schopenhauer, for he knew that to seek higher things it would not be possible to adjust to the conditions of his time, to surrender to fads, and for him there was always a question: "In the depths of your heart, do you say yes to this existence? Is it enough for you?" (NIETZSCHE, 2003, p. 163, our translation).The image of a people, of a culture, does not find a fixed point, it is captured in different ways. The greatest example was the diversity of possibilities in the process of appropriating a Greece from very peculiar and diverse alternatives. Nietzsche appreciated the dark side, more linked to the original impulses. Formation, in this sense, acquires meaning by bringing together art, culture, nature, past and future to contemplate the present as a challenge to be faced from a legacy received, preferably in educational institutions. Educating implies reflecting the plane of the individual, but also cultural and historical. The risk of evading the present is great; therefore, the priority task of education is to respect and cultivate the authority of thought through culture. In other terms, Nietzsche criticized the principle of professionalization extended to institutions, which does not give us the right to sentence him as elitist, but to effectively understand what he denounces: things must have a name and a purpose according to theirspecificities: technical schools, necessary to society, are not schools of culture and training. What the market wants is different from what culture wants to cultivate. At this point, Nietzsche defends institutions that, inspired by Greece, aim to reach the totality of man's formation, resisting the traps of specialization. Later on, Nietzsche will abandon some positions of this period, however, he will never give up his criticism of specialization and reduction of culture to the interests of the State. Nietzsche admits that many promises and universalizing discourses are a lure, since they promise what they cannot always deliver. The challenge of Nietzsche's proposal in education, stating that the option for a higher education, which in synthesis promises more difficulties than joys, requires full dedication, and no guarantee of recognition. Would this be a reason to "vulgarize the demands"? Not at all, after all, Weber (2011, p. 143, our translation) states:
image/svg+xmlNietzsche as an educator and the affirmation of singularityRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212779"respecting and recognizing the linguistic limitation of the illiterate does not oblige us to accept illiteracy as the fate of humanity." In the same way, Weber (2011) follows, pointing out that the ever-present difficulty in the use of language cannot make us condescending to its use. In this horizonis the defense of education in Nietzsche: the need to find masters for these tasks, which never meant to despise other alternatives.The defense of singularityWhat would then be a formation not subordinated to the dictates of the State? Nietzsche will defend the need for solitude, a distancing from everything that summons the human being to be a presence in an already defined conjuncture. Already at this point, the much-promisedmodern freedom does not seem to be contemplated, because the small signs of disagreement in relation to society and the many flocks configured in it are considered immoral. We can conclude that the gregarious instinct relied on institutional and formative processes to preserve itself over time and to direct individuals to its purposes.In this context, Nietzsche's expression -"to become what one is" -makes sense, which implies detaching oneself from the herd instinct in order to assume its form. There is no manual of conduct to follow this trajectory, it implies activating in oneself all the resources and not only rationality. It is not about seeking a "true self," but daring to experiment with the body, understood as the great reason, implied by instincts and impulses. To be an artist of oneself, creating and inventing one's own life. A human capable of not only obeying, being able to select the legacy he has received from the educational establishments, and having the courage to fight his own time. To hierarchize, to calibrate that which can still be preserved from the norms of conviviality without losing the strength to affirm his singularity that, at times, leads him to live solitarily. It is worth pointing out that this individual is not indifferent to his community, he goes away to activate his strength, and wishes to return to share experiences and other ways of living. The singular man is also able to have a different relationship with history, and the philosopher himself has dealt with this in his works. He highlights the idea of forgetfulness as necessary for creation. Emptying the memory considering the excesses of the affirmation of truths that is not justified. An education that only demands memorization, repetition of the past, without taking from them the right to invention, designates a precariousness that can be overcome by education.
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212780From lack of self to singularityNietzsche in his own life taught us possibilities of accessing our uniqueness. He himself let himself be led by the atmosphere of romanticism, seduced by Wagner's music and everything related to it. He became a follower, an adept of a movement that consumed him for a long time. In his production in the interim period, especially in Human, All Too Human, Nietzsche is able to analyze from a distance his own fidelity to this time and realize that this is also one of the causes perhaps of his illness. After all, suggests our philosopher:To what extent does devotion obscure -In later centuries the great man is presented with all the great characteristics and virtues of his century -thus all the best is constantly obscured by devotion, which sees him as a sacred image, on which offerings of all kinds are hung and displayed; -until at last he is completely covered and enveloped by them, becoming more an object of faith than of observation (NIETZSCHE, 2008, p. 95, emphasis added, our translation).Sometimes Nietzsche speaks of himself, but he speaks of all of us, always still devoted to the demands of our time, faithful to some promises or adepts of certain narratives that seduce and enchant us to lead us still to an aesthetic-metaphysical way of looking at existence. In the devotion to narratives, what may be missing is the "self"; pedagogical too is to step away, to go through the privations of educational narcotics, to look at oneself, to venture into creating experiences, to try to get away from the webs that wish to capture us.The "lack of self" approach is very well presented in Adami's text (2016), when he evaluates Nietzsche's own journey, who needed to return to himself, to decide on the distance in relation to philology. His desire was really to be a philosopher, to move away from romanticism, even away from his master Schopenhauer so as not to lose the power of the self and build his own destiny. In these terms, Nietzsche speaks of the necessary, including his illness, which demanded a change in his outlook, building a new criticism, now directed to his own trajectory. And this process is infinite as long as we have the courage to also face ourselves and our devout attitudes, so frequent nowadays. To what extent has our pedagogical configurationand formation encouraged this critique of ourselves?Nietzsche describes life as imperfect, in constant becoming, always inaugurating new movements, other horizons. Humans live within this tension, challenged to create new responses, appropriate to new circumstances. The human task, then, implies finding new measures and values capable of continuing the great adventure that is living. At this point, history and what is revealed through the practice of forgetting and remembering can be a good
image/svg+xmlNietzsche as an educator and the affirmation of singularityRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212781orientation that the past can offer for the present. Forgetting implies moving away from questions that are already known and solved in order to surrender to new horizons that are thirsty for other answers. We must avoid the risk of always repeating the same answer, it is important to recognize new problems and needs, to experience them, to effectively give life the dignity it deserves. However, it is also important to remember and analyze past situations to reflect on what, already experienced, can eventually teach us in the search for new answers. In a way, when facing new horizons,we are not in complete darkness, we have recourse to a tradition, of which we must take care to face new experiences offered by the becoming.As Rangel suggests (2009, p. 212-213, our translation):The experiences already made by men gain meaning from the sincere confrontation of the present, from a surrender to the new historical configurations, what Nietzsche calls an ahistorical attitude. One lives first and then, if necessary, one seeks, in the dialogue with the past, capable measures of orientation. The study of the past for life, therein lies the advantage of historical science. As long as we live well without the past, we should stay away from it, says Nietzsche, but if we find it difficult to deal with the new problems that are offered to us, incessantly, by life, the support of the experiences already made is welcome.When then do we need history? To what extent are institutions responsible for pedagogical training in this direction of understanding life and the ability to remember and forget? How can the legacy of culture support this purpose and also sustain the function of the teacher in institutions?On institutional practices -from collective needs to the right to uniquenessThe young Nietzsche emphasizes the importance of institutions when they assume the commitment to culture, to the gestation and creation of the genuine in individuals. To let oneself be captured by habit, to meet more immediate demands, to follow fadsand trends, reveals the beginning of a process of decadence. The reverence for culture in institutions should be protected, the rare individuals should be preserved, which does not mean the defense of any elitism in the field of education. It is the defense of a spiritual elevation that comes from culture. What is in question is a kind of "cult" of culture, which, protected and consolidated in the collective memory, needs education to be known and disseminated to society.There is, in the institutions, a historical sense that knows the necessity of preserving tradition, even to ruminate on the issues of the present. One cannot resort to the past to bury the
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212782present; nor can one wish to consolidate meanings that were not fully lived in the past. To escape the present by idealizing the past is, ultimately, to impoverish life.The II Extemporaneous2about the usefulness and drawbacks of history for life -was, first of all, an attack against historicism, a condemnation of the scientistic views of history. The fairest criterion for approaching history is life itself. History can be very relevant to life, but it can also be an empty discourse. Thus, institutions must preservethe cultural memory of the past to ensure, through education and formative processes, that something can be sought in the past to build the future. Nietzsche himself made this experimentation starting from the Greeks, by highlighting the Apollonian and Dionysian principles. Abusing this look to the past makes one forget the present and despise the future. Searching for the past never implies repeating it, but appropriating it in order to think about the present. Who can create the conditions for this task?Neglecting culture produces a sickness that prevents the cultural legacy from being cultivated. We need to capture and decipher values of a people and a culture in order to understand the active forces of individuals in relation to society. Nietzsche, thus, creates categories to understand the various perspectives of history and highlights the value of memory and forgetfulness, as we have already pointed out. Knowing the past already implies a science, it is a methodology of reflection that should be emphasized more than the compulsion to produce narrative and descriptive pictures based on causes and consequences. Nietzsche identifies three basic attitudes toward history, attitudes that can serve life, facing the challenges that always arise, but can also serve a tendency to sacralize the past, imagining that it will find protection. We are at this point referring to monumental, traditional, or antiquarian history and critical history.The first version of history challenged us to look to the past for models for action, to know what is exemplary in order to orient ourselves toward the future. Nietzsche sought to study great individuals to understand how they responded to the great challenges of their time, without creating any idols, because the point is not to produce a history of heroes, but to learn how, at different times, humans gave their testimony of originality in facing vital issues. To meet unique individuals, not to imitate them, but to encourage each individual to face his unique story in the time in which he lives. The point is to remember strength, courage as a human possibility. This can also be learned in institutions, through formative processes, without being 2At this point we are oriented by the work Escritos sobre Históriade Nietzsche, presented and translated by Noéli Correia de Melo Sobrinho(2005).
image/svg+xmlNietzsche as an educator and the affirmation of singularityRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212783seduced by ahistory that only wants to reveal great individuals and their achievements. History exists to teach men and women of the present that the turbulences of life have already been faced in other periods, and that we can still do this with other performances proper to our time.Traditional history seeks an eternal origin of its community, as if it were clothed in light and revealed itself as a relic. Bewitched by seduction, they cannot capture historical phenomena in all their depth. Overly imprisoned in the past and obsessed by the origin, their representatives want to elaborate explanations: they are not interested in "great men," but describe practices, convictions, ideologies within which life moves. It is necessary to cultivate ideas, symbols, and cultural practices. On the other hand, this perspective of history neglects to reflect on its own beliefs, the need to prepare for the new, and tends to become stationary in a particular tradition. It can lose strength in the traverses of the becoming, and thus it should make room for other meanings and values. Finally, critical history, which evaluates the two previous ones and indicates some risks. The past can be a trap, it can end up burying the present. The critical perspective of history denies the past whenever it takes up too much space in human reflection. The past cannot inhibit the strength of the present, make courage and originality wither away when facing what is new and otherwise already experienced. The critical dimension must be instigating, present, and strong, to prevent humans from becoming subordinated to heroes or to well-defined traditions, giving up on what is placed before them as a challenge.We do not intend to dwell on the II Extemporaneous considering all its depth, it is being highlighted here in order to affirm one of the functions of education in institutions from Nietzsche's point of view. And, furthermore, to help reflect on the necessary question in this text: what can the teacher in the institutions?In the text Schopenhauer as an educator(NIETZSCHE, 2003), the highlight goes to the definition of who the master is, what his main characteristics are, and how he should be, since, operating pedagogically, he would lead the individual to assume his self-formation. After all, what is this clashbetween the goals of an institution and the role of the master in the formation of individuals in search of what is genuine, original in each one? This text intends to contemplate the reflection about this problem and this tension: what can a teacher do inside an institution, considering the institutional demands? What does the institution eventually prevent or inhibit in the teacher's task of searching for what is genuine in the students?To understand this, we could bring together two insinuations of Nietzsche (2003), in the work On the future of our educational institutions, when the philosopher, in times of teaching,
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212784states that he does not want to devote himself to administrative issues in the institutions, but wants to go through the depths of experience and face the real problems of culture, something that schedules and tables will never guarantee; he wants, even with the institutions, to enjoy a freer horizon, and in this defense he knew that he could never count on the lovers of the administration of schedules and class boards. By contradiction, Nietzsche (2003, p. 46) states in the same text that in times of "serious men, at the service of an entirely renewed and purified culture" at some point the administrative part will be very important, but forother reasons than the current demands, for example, to form calm readers, "able to choose and seek the good hours of the day and their fruitful and powerful moments to meditate [...] not to write a summary or even a book, but to meditate!" (NIETZSCHE, 2003, p. 46-47, our translation). Hasty readers corrupt the work. An educator must inquire of his disciple, and here we restate Schopenhauer's provocation (NIETZSCHE, 2003, p. 145, our translation): "In the depths of your heart, do you say yes to this existence? Is it enough for you?". According to Nietzsche (2003), rare men, capable of answering this question firmly, show some kind of contempt to those who waste their possibility of formation. After all: "a man who does not want to belong to the masses needs only to stop being indulgent toward himself; let him follow his conscience which cries out to him, "Be yourself! You are not what you now do, think, and desire" (NIETZSCHE, 2003, p. 139, our translation).Thus, the indigestible narratives that we sometimes evaluate in Nietzsche's text need to be contemplated by the arguments he himself offers us in defense of the function of institutions and of a master who effectively wishes to educate. The contempt for a hasty reader, the obsession with summarizing works before understanding them, strongly reveals the desire to face the submission to a time already steeped in the impoverishment of reflection itself. Happiness and good education will not come as long as the individual is subordinated "in the chains of current opinion and fear" (NIETZSCHE, 2003, p. 139, our translation). This is why Nietzsche (2003, p. 139, our translation) states that there is no creature in nature more sinister than the one "that has been stripped of its own genius and is now wandering willy-nilly in all directions."It is the task of the good master to prevent this letting itself go in any direction. Or as we announced before, a teacher must avoid "the lack of self" in every student. The pedagogy of a sensitive teacher wants to find students capable of experimenting, capable of assigning to themselves a critical look in order to infinitely reorient themselves toward multiple possibilities.
image/svg+xmlNietzsche as an educator and the affirmation of singularityRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212785At this point, we are also called upon as teachers to think about our practice when we follow too much the demands designed by the institutions. We, as teachers, cannot be fully adjusted to our time either; after all, how can we not let ourselves be captured by the countless directions that the institutions sometimes want to take us? Thus, a good expression of a master is indicated in Nietzsche's text -Schopenhauer as an educator:But even if the future left us no hope, the uniqueness of our existence at this precise moment and what would encourage us most strongly to live according to our own law and according to our own measure: I want to talk about this inexplicable fact that we live precisely today, when we have the infinite expanse of time to be born, when we have but the short span of time of a today and when we must show in it, for what reasons andto what ends, we appear exactly now. We have to take responsibility for our existence before ourselves, therefore we want to act as the true helmsmen of this life and not allow our existence to seem like a private contingency of thought. This existence wants us to approach it with boldness and also with temerity, not least because, at best or at worst, we will always lose it. Why cling to this piece of land, to this profession, why listen to the neighbor's purposes? It is equally provincial to swear obedience to conceptions that, in hundreds of other places, no longer compel. West and East are imaginary lines that someone draws with a chalk before our eyes, to fool our pusillanimity (NIETZSCHE, 2003, p.140-141, our translation).Nietzsche's provocation is very challenging -after all, for what reasons and for what purposes do we appear exactly now? Why is this our time of life? We have to take responsibility before ourselves for our existence, to let our uniqueness fecundate. Why is our time suddenly the time of a pandemic, why exactly now am I being called upon to think about education again, to create new measures for teaching, for reading, for seminars and events? In the wake of Nietzsche, it would be cowardly of us to wait again for the normality of the pedagogical processes before we act. No doubt we do not want to stop where we are, but certainly the impact of the "disease" has produced something genuine in all of us, as teachers and also as disciples. "Your educators cannot be anything other than liberators," says Nietzsche (2003, p. 142, our translation). Education "does not seek artificial limbs, wax noses" (NIETZSCHE, 2003, p. 142, our translation), and in our times it also does not want to see us seduced by the technological resources that we need so much now. Certainly, technology offers novelties, it is making communication, teaching practices, and events of great theoretical repercussion possible, bringing together people from all continents. However, we must beware of the pitfalls. In our time, we are in a way impacted, watching institutions enchanted with the possibility of, through a screen, contemplating 100, 200 or more students, claiming that this would be the new classroom, reducing the number of educators, turning pedagogy into a tool that only manages
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212786images, pictures, schedules, colors and pre-formatted itineraries. We need to be alert, because even though we are taken by our time and need other resources to educate, we cannot forget that education is liberationwhen it is also capable of "weeding out all the weeds, the droppings, the worms, that want to attack the tender seeds of the plants"(NIETZSCHE, 2003, p.142, our translation).In pandemic times, we need, to some extent, to cultivate our uniqueness, to extract the genuine from us, as well as to cultivate it in the students to avoid that the weeds, the worms, the waste, sometimes disguised as colors, images, and technological resources, end up installing again the two nefarious tendencies pointed out by Nietzsche: massification and reduction of culture with absolute prejudice to education.When we are faced with dark clouds, says Nietzsche, it is best to remember our masters and educators. In this context, our philosopher remembers Schopenhauer, the only master he is proud of. Nietzsche says (2003, p. 146, our translation):Never have we had so much need of moral educators, and never have we been so unlikely to find them; at the times when doctors are most needed, at the time of great epidemics, it is then that they are also most exposed to danger. For: where are the doctors of modern mankind who were themselves sufficiently firm and solid on their feet, that they could moreover hold up another and guide him by the hand? A certain astonishment, a certain apathy, weighs upon the best personalities of our age, an everlasting fascination with this struggle between dissimulation and honesty that is going on within them, a restlessness that clouds their confidence in themselves -which makes them utterly incapable of being at the same time, for others, the guides and the censors.Finding educators in dark times: a necessary condition when facing fear and dangers. And, moreover, to find moral educators, for aren't educational practices, formal or otherwise, actions that strengthen and propagate values? And what values are necessary in dark times? Nietzsche will say (inHuman All Too Human I) that education must be guided by the rigor of science and must also abandon its submission to religion. Here we find, some say, an "Enlightenment" Nietzsche, because, as Weber (2011, p. 66, our translation) analyzes, "despite Nietzsche's anti-Enlightenment, his criticism of the Enlightenment idea of progress and improvement of humanity," the proposal of joining science and criticism of religion was one of the central projects of the reformist Enlightenment after the French Revolution and, to some extent, our philosopher integrates this criticism when discussing education. There is in Nietzsche the corrosive component in his critique of morality, but it is also necessary to highlight the constructive propositions of Nietzsche's morality that accompanied him
image/svg+xmlNietzsche as an educator and the affirmation of singularityRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212787throughout his life, since the author prioritized the debate around values. The moral perspective is also a way to free the individual from tradition when it shows itself as a collective tyranny. Here again, history has its place. Rules exist for our survival, but they must always be analyzed from this perspective, because there are no values in themselves and forever. When the stupidity of a rule is revealed, it takes courage and autonomy to change it. To submit to a stupid morality is to give up our uniqueness and prevent something genuine from being born in us. According to Weber (2011, p. 71, emphasis added, our translation), the work:Human, All Too Human is, in Nietzsche's own judgment "[...] the monument of a crisis. It proclaims itself a book for free spirits: almost every sentence, there, expresses a victory." [....] The meaning of the figure of Free Spirithas a strong relation, in a first sense, to Nietzsche's crisis, but also to his victory over uncertainty -which this work erects into a monument. Therefore, it is related to the philosopher's own movements of self-overcoming. There is also a second, moregeneral sense, in which the Free Spirit appears as a characteristic typology of the movements for the liberation of the morality of customs, a necessary but not sufficient stage for the liberation of humanity from the empire of revenge. These two dimensions, although distinct, are inseparable.The free spirit seems to be the mature fruit of the criticism already started in the philosopher's youth and which is the expression of his own originality. Through the exercise of the free spirit, he learned to confront and criticize the morality of customs, and also to criticize himself. The genuine is to think differently from what one would expect considering his time, his social insertion. As Nietzsche says, the captive spirit, bound to a faith, must be confronted: the free spirit seeks reasons to understand the world. Paradoxically, the idea of the free spirit in Nietzsche also comes from the rupture with his master, Schopenhauer, because despite recognizing in him a moral educator, he realized it was necessary to return to himself, he needed solitude, the distance from the master to produce in himself years of experimentation to approach life again, considering his most genuine way of thinking. In fact, as he says in Thus Spoke Zarathustra, "One pays back a master badly, when one remains always and only a disciple" (Thus Spoke Zarathustra) (NIETZSCHE, 2010, p. 105, our translation).To think about our time, it is necessary to be careful and cautious with all those who present themselves as enlightened and capableof all the criticism of a pandemic time. There are still many enigmas to be faced by a criticism capable of preserving the lucidity of those who do not want to be ruled by the empire of revenge.
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212788It seems that this Nietzsche (2003, p. 148, our translation)still learned from his old master: "Schopenhauer's style reminds me a little of Goethe [...], for he knows how to say about what is profound simply, what is moving without rhetoric and what is scientific without pedantry". On this path, Nietzsche himself will follow his reflection on science, always valued, but always subject to errors, to successive revisions, since it cannot harbor the truth, undue aspiration of humans, as well as the compulsive taste for judgment and correction of the other. Our philosopher suggests a difficult task: to defend science without pedantry. We need to resist mediocre writers who reveal a breathless joy without curiosity, as, for Nietzsche, was the thinker David Strauss.Thus, Nietzsche (2003, p. 150, our translation) finally reveals his master's impact on him:He is honest because he speaks and writes by himself and for himself; serene because he has conquered by thought what is most difficult, and constant because it must be so. His strength grows straight and light as a flame in the tranquil air, sure of itself, without trembling, without restlessness. In each of these qualities, it finds its way without us even noticing that it has sought it; on the contrary, as moved by a law of gravity, it launches itself there, firm and agile, inexorable. And he who has ever felt what it is like, in our age of hybrid humanity, to find a whole being, coherent, mobile on its own axis, free from hesitation and obstacles, will understand my happiness and surprise when I discovered Schopenhauer: I sensed that I had found in him this educator and this philosopher that I had so long sought. But this was certainly only through books, and there was a great deficiency in that. I was trying harder and harder to see through the book and to represent the living man, of whom I had read thegreat testament and who promised to choose for his heirs only those who were willing and able to be more than mere readers: that is, his sons and his disciples.What Nietzsche appreciated most in Schopenhauer was his criticism and insubordination to the philosophical tendencies of his time. He learned in the master the right to uniqueness, the need for self-knowledge. He was able, through this learning, to think about the opposition between the individual and the collective, so propagated by modernity. After all, the singular is, as Weber (2009, p. 253, our translation) says, "much more than the individual. After all, how to explain that the singularity is the exception and the rule is the herd? It is inevitable that we are inserted in a society, marking our individual presence. However, it cannot simply be reduced to anchoring itself in the collective, it cannot give up on itself, and after all, why is it so difficult for man to remain in the presence of himself without evading himself?
image/svg+xmlNietzsche as an educator and the affirmation of singularityRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212789Life in society requires a standardization of behavior and values, a search for protection and security, and we often end up captured by this logic. Weber (2009, p. 259, our translation) helps us think in this direction and writes: We fear our neighbor, as suggested by Nietzsche at the beginning of his text about Schopenhauer. To be indifferent to one's neighbor, to the community, could imply social ruin. Thus, both the force of social coercion on the individual and his cowardice, associated with his laziness, are strong conditioning factors, creators of inauthenticity, also called by Nietzsche lack of style.The individual without style has not achieved his uniqueness, does not have the virtue of strength to face his time and the stupid rules. The self-knowledge advocated by Nietzsche (2003, p. 260) will be "the task of the eagle, not the mole," and creates a new relationship of man with the world, another territoriality with suspicion. It implies to dwell on the inside and outside that constituted the human being, to make formative experiments with oneself and with others. Liberation is one of the requirements to reach singularity.Final remarksAs educators in our time, facing dark times for the most diverse reasons, and wanting to face the tension between what institutions want from humans and what a teacher can do for students, perhaps we have reached the point in this article where it is possible to state that the great task of education involves discovering and cultivating each person's strong point in order to learn to calibrate and prioritize their strengths and prevent one from annihilating the other. Thus, a strong, tough, authentic and honest being would emerge with his time and with others. Someone arises who enjoys disputes, without wanting to annihilate anyone, who wants to argue to test his or her thinking, to put the values that govern us before a tribunal in order to make us think again about life and its countless possibilities. It implies perfecting morality for the benefit of life, freeing man from submission to the collective, from the vulgarity of fads, from the unthinking repetition of worn-out and impoverishing formative itineraries. Finally, there is no lack of tasks for those who want to be masters and affirm the right to the uniqueness of human beings in a multiple and open horizon.Education, finally, is a process of self-education stimulated by the teacher who wishes to contemplate in each student the cultivation of the free spirit, the one capable of making people think by taking all the risks. What is the purpose? The interest in life, which implies knowing
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212790our time, and sometimes thinking against it. The State, as Schopenhauer tells us, is not the supreme end of humanity, and to insist that the duty of humans is to serve the State is stupidity. It will be necessary -through education -to confront the impoverishment of education, the "cultivated barbarism," which does not give us the right to wish to annihilate the other when he or she frustrates and disappoints us, but to confront, through educational institutions, what is in fact the task of education. For this, the individual, each student, is of prime importance; after all, human things are attractive and can awaken in him the search for knowledge. Pedagogy must capture the virtues of each student, insist on their development, and even educate for solitude, since this is a viable way to deviate from obligations when these are only committed to the world of the market and state bureaucracy(OLIVEIRA, 2013, p. 145). In short, to educate,to be formed, is a task that demands patience, persistence, rigor, discipline. For this, a teacher is needed, preferably, as Nietzsche tells us, one who is the bearer of an admirable serenity, full of a strong and devouring fire to be able to throw us outof ourselves and think again. Publicly funded educational institutions should constantly work in this direction, to ensure that the rigor and beauty of knowledge establish a struggle against barbarism so that "our sagacious gaze at things close at hand may indicate how much our shortsightedness still prevents a keener gaze at the distant and the general" (NIETZSCHE, 2003, p. 193, our translation), which would certainly lead us to more original and creative formative possibilities. Hopefully, one day the State itself will be able to be surprised by what emerges and is born in educational establishments, in which individuals will in fact insubordinate themselves to be only useful and devout, but, on the contrary, will be able to consolidate sagacious looks attheir time, against their time, facing their own myopia and, thus, being able to effectively open themselves to the becoming, with the lightness of those who remain curious and committed to life and history.ACKNOWLEDGMENTS: I would like to thank the National Council for Scientific and Technological Development (CNPq) for its support in carrying out research on Nietzsche in the field of education.
image/svg+xmlNietzsche as an educator and the affirmation of singularityRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212791REFERENCESADAMI, J. D. VIS CREATIVA: A singularidade da vivência criadora no pensamento nietzschiano.Dissertação de Mestrado. 2016. Dissertação (Mestrado em Filosofia) Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo, PR, 2016. Available at: https://tede.unioeste.br/handle/tede/3052. Access on: 14 Apr. 2021.NIETZSCHE, F. Escritos sobre educação. Sobre o futuro dos nossos estabelecimentos de ensino III Consideração intempestiva Schopenhauer como educador. Tradução: Noéli Correia de Melo Sobrinho. 2. ed. Rio de Janeiro: PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2003.NIETZSCHE, F. Escritos sobre a História. Apresentação, tradução e notas: Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de janeiro: ED. PUC; São Paulo: Loyola, 2005.NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano: Um livro para espíritos livres. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. v. 2.NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra, um livro para todos e para ninguém. Tradução:Mario da Silva. 18.ed.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.OLIVEIRA, J. Educação como autolibertação na Filosofia de Nietzsche. Cadernos de Pesquisa:Pensamento Educacional, Curitiba, v. 8, n. 19, p. 132-146, maio/ago. 2013.RANGEL, M. M. Sobre a utilidade e desvantagem da ciência histórica, segundo Nietzsche e Gumbrecht. Revista Dimensões, Goiabeiras,Vitória, v. 24, p. 208-241, jun. 2009. Available at: https://periodicos.ufes.br/dimensoes/article/view/2531. Access on: 23 Apr. 2021.WEBER, J. F. Singularidade e formação (Bildung) em Schopenhauer como educador de Nietzsche.Educação e Pesquisa, São Paulo, v.35, n. 2, p. 251-264, maio/ago. 2009. Available at: https://www.scielo.br/j/ep/a/RBBjHsBzwhGtcwrRVD4Q35m/?format=html&lang=pt. Access on: 08 June2021.WEBER, J. F.Crítica à moral e educação: Sobre o espírito livre de Nietzsche.Educação, Porto Alegre, v. 34, n. 1, p. 65-74, jan./abr. 2011. Available at: https://www.redalyc.org/pdf/848/84818591009.pdf. Access on: 21 July2021.
image/svg+xmlLúcia Schneider HARDTRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022.e-ISSN: 1982-5587DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.161212792How to reference this articleHARDT, L. S. Nietzsche as an educator and the affirmation of singularity. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 4, p. 2775-2792, Oct./Dec. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i4.16121Submitted:16/01/2022Revisions required:24/05/2022Approved: 07/09/2022Published: 30/12/2022Processing and publication by the Editora Ibero-Americana de Educação.Correction, formatting, standardization and translation.