LA CONSTITUCIÓN DEL SER SOCIAL Y LA RELACIÓN HOMBRE X NATURALEZA: PRIMERAS APROXIMACIONES
THE CONSTITUTION OF THE SOCIAL BEING AND THE MAN VS. NATURE RELATIONSHIP: FIRST APPROACHES
João Batista de Souza JUNIOR1 Ricardo Lopes FONSECA2 Luís Fernando MINASI3
RESUMEN: El hombre depende de los recursos naturales, por lo que para asegurar su existencia, necesita actuar sobre la naturaleza. En ese contexto, el presente trabajo pretende sintetizar el camino ontológico de constitución del ser social a partir de los capítulos "Obra" y "Reproducción" de la obra "Hacia una ontología del ser social II" de György Lukács y se estructura en tres apartados: “las esferas básicas: el ser inorgánico y el ser orgánico”, “el trabajo como génesis del ser social” y “como conclusión: la relación entre el hombre y la naturaleza en el proceso de formación del ser social”. A partir de esto, es posible comprender que la constitución del ser social se produce desde el trabajo, estableciendo una relación de dependencia ontológica con las esferas básicas inorgánicas y orgánicas que permea e influye en la relación entre hombre x naturaleza y, en consecuencia, las interacciones sociales.
1 Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina – PR – Brasil. Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5622-6488. E-mail: joaob.junior1994@uel.br
2 Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina – PR – Brasil. Professor Adjunto de Departamento de Geociências, Centro de Ciências Exatas. Docente do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual de Londrina. Doutorado em Geociências (UEL). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2077-2476. E- mail: ricardolopesf@uel.br
3 Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande – RS – Brasil. Professor do Instituto de Educação e do Programa de Pós-graduação em Educação Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande. Doutorado em Educação (UFRGS). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1263-875X. E-mail: lfminasi@terra.com.br
PALABRAS CLAVE: Ontología del ser social. Relación entre el hombre y la naturaleza. Trabajo.
ABSTRACT: Human beings have a relationship of dependence with natural resources, so, to ensure their existence, there is a need to act on nature. Thus, this text aims to synthesize the ontological path of constitution of the social being from the chapters "Work" and "Reproduction" of the work "Towards an ontology of social being II", by György Lukács, and is structured in three sections: “the basic spheres: the inorganic being and the organic being”, “work as the genesis of the social being” and “as a conclusion: the relationship between man and nature in the process of formation of the social being”. From this, it is possible to understand that the constitution of the social being takes place from work, establishing a relationship of ontological dependence with the basic spheres inorganic and organic, that permeates and influences the relationship between man x nature and, consequently, the social interactions.
KEYWORDS: Ontology of the social being. Relationship between man and nature. Work.
A partir da ontologia proposta por Marx e resgatada por Lukásc, compreende-se o trabalho como sendo o elemento fundante da ontologia do ser social, e configura-se como a atividade permanente e necessária da existência humana, isto é, de toda a história, ou seja, o homem, enquanto esse ser social, que faz história, precisa de condições para viver. Mas para viver é preciso, antes de tudo, atender suas necessidades básicas de beber, comer, morar, vestir- se, dado que o ser biológico do homem constitui um momento fundamental desse processo ontológico do ser social, que diferentemente dos outros animais, age sobre a natureza de forma planejada e previamente idealizada, transformando-a e transformando-se concomitantemente.
Assim, Marx, ratificado por Lukács, acaba por atribuir ao trabalho a responsabilidade pelo salto ontológico que dá base ao ser social, fornecendo orientação teórica para a compreensão da relação homem e natureza e o processo de constituição do ser social. Nessa direção, Lukács (2012, p. 199) afirma que o trabalho possibilita uma dupla transformação, na qual o próprio ser humano que trabalha é transformado por seu trabalho ao atuar sobre a natureza exterior e modifica, concomitantemente, sua própria natureza, desenvolvendo “as potências que nela se encontram latentes e sujeita as forças da natureza ‘a seu próprio domínio’. Por outro lado, os objetos e as forças da natureza são transformados em meios de trabalho, em objetos de trabalho, em matérias-primas etc.”
Com essa afirmação, Lukács (2012, p. 199) ressalta que o trabalho tem uma “dupla determinação [que se funda a partir] de uma insuperável base natural e de uma ininterrupta
transformação social dessa base”. Assim, o pensador húngaro reconhece o trabalho como elemento fundante na constituição do ser social e no desenvolvimento histórico de socialização e/ou reprodução social, ou seja, por meio dele o homem se produz e reproduz sobre as bases naturais de um determinado período histórico em um duplo movimento de transformação mútua.
Nesse sentido, “o ser social — em seu conjunto e em cada um dos seus processos singulares — pressupõe o ser da natureza inorgânica e orgânica” (LUKÁCS, 2013, p. 17), isto é, a “atividade do ente natural homem sobre a base do ser inorgânico e o orgânico dele originado faz surgir um estágio específico do ser, mais complicado e mais complexo, precisamente o ser social” (LUKÁCS, 2013, p. 47).
Assim, segundo Vaisman e Fortes (2010, p. 20), para compreender o ser social em seu sentido preciso faz-se necessário um olhar sobre toda a dinâmica existente entre os complexos que compõem a sua totalidade. Assim, é preciso olhar para a relação estabelecida entre a esfera do ser social e as outras formas de ser — a esfera inorgânica e a esfera orgânica. O próprio Lukács (2010) ressalta que, para a compreensão da essência do ser social, não se deve ignorar a conexão e a diferenciação dos três grandes tipos de ser — as naturezas inorgânica e orgânica e a sociedade. Sem a compreensão dessa dinâmica, não se pode formular corretamente as especificidades ontológicas do ser social.
Seguindo essa orientação de Lukács, o presente trabalho estrutura-se em três seções: “as esferas basilares: o ser inorgânico e o ser orgânico”, “o trabalho como gênese do ser social” e “a efeito de conclusão: a relação homem x natureza no processo de formação do ser social”, e tem como objetivo sintetizar o percurso ontológico de constituição do ser social a partir dos capítulos “O trabalho” e “A Reprodução”, da obra “Para uma ontologia do ser social II” de György Lukács.
Para Lukács (2010; 2012; 2013), o ser em geral é formado por três esferas ontológicas: as esferas inorgânica, orgânica e social, cuja formação passa por dois momentos evolutivos importantes que compõem a contínua processualidade evolutiva: a ruptura com a esfera inorgânica, primeiramente, que possibilitou a esfera orgânica, e sua conseguinte ruptura, em segundo momento, que possibilitou a esfera social (PASCHOALOTTE, 2014).
A esfera inorgânica origina-se a partir de “reações químicos-físicas [sic], puramente espontâneas” (LUKÁCS, 2013, p. 219), reorganizando-se e constituindo a matéria inorgânica.
Assim, a “relação dos objetos entre si nessa esfera do ser é essencialmente um mero ser-outro” (LUKÁCS, 2012, p. 80). “A natureza inorgânica não pressupõe qualquer ser biológico ou social. Ela pode existir de modo totalmente autônomo” (LUKÁCS, 2016, p. 140), pois sua existência não depende de nenhuma forma de vida, configurando-se, nesse contexto, como única esfera absolutamente independente das demais.
O desenvolvimento da esfera inorgânica tem como limite a reprodução, pois o contínuo movimento que garante desenvolvimento de suas forças, relações, categorias, leis, etc. revela- se tão somente na reorganização da matéria inorgânica em novas formas, ou seja, torna-se outro a partir da superação das contradições da própria dialética da natureza existente em seus elementos (ANDRADE, 2016).
A ciência atual permite identificar vestígios da gênese do orgânico a partir do inorgânico em processo infindável da transformação da quantidade em qualidade e vice-versa nos diferentes períodos evolutivos do planeta Terra, cujas determinadas circunstâncias (ar, pressão atmosféricas, entre outros elementos da natureza) da organização da matéria inorgânica tornam possível o surgimento de organismos complexos extremamente primitivos. Esses organismos, em sua origem, já continham fundamentalmente características orgânicas, passando a reproduzir a si mesmas e possibilitando a gênese e o desenvolvimento da vida, o que dá origem a um salto ontológico por meio do surgimento de uma forma de organização superior da matéria, a vida (LUKÁCS, 2013). Essa transformação da quantidade de matéria inorgânica em contínuo movimento e desenvolvimento acarreta a passagem da qualidade inorgânica da matéria para a qualidade orgânica, desenvolvendo na nova matéria a vida.
Essa nova esfera ontológica, o ser orgânico, contém constantemente uma inter-relação com o ser que lhe serve de base, o inorgânico, mas ao mesmo tempo estabelece novas categorias, relações, leis etc. próprias. As relações recíprocas estabelecidas entre os dois seres conservam os nexos do ser fundador, mas inserindo-o nos novos nexos originados com o novo ser.
O surgimento de um organismo vivo, que dá origem a um novo complexo movido por forças internas e uma nova maneira de ser, possibilita uma mudança radical em relação à natureza inorgânica. Na esfera orgânica, o desenvolvimento ocorre de tal maneira que os impulsos do mundo exterior no organismo adquirem manifestações especificamente biológicas, e essas determinações “vão se tornando cada vez mais puramente, mais especificamente biológicas” (LUKÁCS, 2013, p. 142), o que só é possível num grau superior de desenvolvimento, isto é, uma forma mais complexa e qualitativamente nova, configurando assim um salto ontológico.
Para Lukács (2013), o salto manifesta-se por meio de uma nova e efetiva constituição do ser, sendo resultante de um longo, desigual e contraditório processo que culmina num nível intensivo e extensivo de desenvolvimento, permitindo ao novo grau do ser constituir-se como um fato definido e fundado em si mesmo.
[...] todo salto implica uma mudança qualitativa e estrutural do ser, onde a fase inicial certamente contém em si determinadas condições e possibilidades das fases sucessivas e superiores, mas estas não podem se desenvolver a partir daquela numa simples e retilínea continuidade. A essência do salto é constituída por essa ruptura com a continuidade normal do desenvolvimento e não pelo nascimento, de forma súbita ou gradativa, no tempo, da nova forma de ser (LUKÁCS, 2013, p. 36).
A nova esfera do ser, resultante do salto ontológico, vai caracterizando-se por meio de novas forças, relações, leis, categorias etc., completamente distintas da(s) esfera(s) existente(s) até o momento do salto. No entanto, por mais que se afaste da(s) esfera(s) que lhe dá base, o novo ser e as “novas categorias jamais conseguirão suprimir totalmente aquelas que predominam na base do seu ser” (LUKÁCS, 2013, p. 240), assim não é possível a eliminação da dependência existente entre o ser originário e aquele que lhe deu base.
Os primeiros organismos vivos surgem a partir de um salto ontológico. Ainda que simples e altamente dependente do ser inorgânico, esse salto dá origem a novas e diferentes determinações resultantes de um longo processo histórico, no qual “a constante reprodução da nova forma do ser produz as categorias, as leis etc. especificamente características dela, de modo cada vez mais desenvolvido, autossuficiente [...], dependente só de si mesma em suas conexões” (LUKÁCS, 2013, p. 141). Assim, mesmo os organismos mais simples já trazem determinações distintas ao que o originou.
De acordo com Lukács (2013, p. 33-34),
[...] o desenvolvimento dos organismos nos mostra como gradualmente, de modo bastante contraditório, com muitos becos sem saída, as categorias específicas da reprodução orgânica alcançam a supremacia nos organismos. É característico, por exemplo, das plantas que toda a sua reprodução – de modo geral, as exceções não são relevantes aqui – se realize na base do metabolismo com a natureza inorgânica. É só no reino animal que esse metabolismo passa a realizar-se unicamente, ou ao menos principalmente, na esfera do orgânico e, sempre de modo geral, o próprio material inorgânico que intervém somente é elaborado passando por essa esfera. Desse modo, o caminho da evolução maximiza o domínio das categorias específicas da esfera da vida sobre aquelas que baseiam a sua existência e eficácia na esfera inferior do ser.
Nos momentos próximos ao salto, anterior ou posterior, a determinação do inorgânico sobre o orgânico e a relação de dependência entre as duas esferas ainda é bastante presente, mas com o passar do tempo “a complexificação dos seres vivos submete o seu metabolismo às determinações da reprodução orgânica, restringindo e reconfigurando em bases reprodutivas as categorias dependentes da sua base inorgânica” (MACENO, 2017, p. 27).
Assim, com o surgimento da vida, o momento predominante, isto é, interação que constitui sentido e direção de modo dinâmico a toda evolução e desenvolvimento do novo ser, é a reprodução biológica da vida, mas, como salienta Lukács (2013, p. 148), “a reprodução que ocorre na natureza orgânica é a reprodução do ser vivo singular”, ou melhor, a reprodução filogenética.
Nessa direção Lessa (2015), aponta que o que diferencia a esfera orgânica da esfera inorgânica, a partir da análise da gênese da vida, é o fato de a primeira apenas existir por meio de um ininterrupto processo de reposição do mesmo, enquanto a processualidade inorgânica é marcada por um infindável tornar-se-outro. Dessa forma, há entre essas esferas uma ruptura ontológica, ou seja, são formas distintas de ser.
Entretanto, mesmo se constituindo uma nova esfera, “o ser biológico pressupõe uma constituição especial do inorgânico e, sem a interação ininterrupta como ele, não é capaz de reproduzir o seu próprio ser nem por um instante” (LUKÁCS, 2013, p. 140) demonstrando assim a dependência ontológica entre a nova esfera e a que lhe dá base, pois na esfera dependente surgem categorias qualitativamente novas, nas quais são preservadas forças, relações, leis etc., presentes na base, sem que tenham condições de transformar a essência do novo ser, assim as novas “ categorias jamais conseguirão suprimir totalmente aquelas que predominam na base do ser” (LUKÁCS, 2013, p.140).
A partir de um desenvolvimento biológico progressivo o salto que deu origem ao ser orgânico criou condições que possibilitaram a gênese de um novo ser, o ser social.
Para Lukács (2010, p. 75), a base ontológica do salto do ser orgânico para o social foi a “transformação da adaptação passiva do organismo ao ambiente em uma adaptação ativa, com o que a sociabilidade surge como nova maneira de generidade (sic) e aos poucos supera, processualmente, seu caráter imediato puramente biológico”. Dessa forma, ao reagir a seu entorno e transformá-lo para atender suas necessidades, o homem, como trabalhador, separa-se de todo ser vivo existente até o momento. Assim, ao agir sobre a base do ser inorgânico e o
orgânico de forma intencional e previamente idealizada, o homem faz surgir um novo e mais complexo estágio específico do ser, o ser social.
O homem certamente permanece irrevogavelmente um ser vivo biologicamente determinado, compartilhando o ciclo necessário de tal ser (nascimento, crescimento, morte), mas modifica radicalmente o caráter de sua inter-relação com o meio ambiente, pelo fato de surgir, através do pôr teleológico no trabalho, uma interferência ativa no meio ambiente, pelo fato de, por meio desse pôr, o meio ambiente ser submetido a transformações de modo consciente e intencional (LUKÁCS, 2013).
Neste contexto, o que ocorre não é mais uma adaptação biológica passiva, o que ocorre com o salto é uma reorientação em direção a relações sociais ativas, possibilitando o desenvolvimento de um patamar superior.
O responsável por esse salto ontológico é o trabalho, que é
[...] capaz de despertar novas capacidades e necessidades no homem, as consequências do trabalho ultrapassam aquilo que nele foi posto de modo imediato e consciente, elas trazem ao mundo novas necessidades e novas capacidades para satisfação destas e não estão pré-traçados – dentro das possibilidades objetivas de cada formação bem determinada – quaisquer limites apriorísticos para esse crescimento na “natureza humana” (LUKÁCS, 2013, p. 219).
Para Lukács (2010; 2012; 2013), assim como para Marx, é o trabalho a atividade fundante do ser social. Por meio dele os seres humanos estabelecem relações com a natureza natural, a fim de atender suas necessidades e garantir sua sobrevivência; ao fazer isso o próprio homem modifica-se e modifica sua relação com seu entorno, afastando-se de suas barreiras naturais. Entretanto,
[...] na medida em que o ser humano, [...] em sua sociabilidade supera sua mera existência biológica, jamais pode deixar de ter uma base de ser biológica, e se reproduz biologicamente, também jamais pode romper sua ligação com a esfera inorgânica. Nesse duplo sentido, o ser humano jamais cessa de ser também ente natural. Mas de tal modo que o natural nele e em seu ambiente (socialmente) remodelado, é cada vez mais fortemente dominado por determinações do ser social, enquanto o biológico pode ser apenas qualitativamente modificado, mas nunca suprimido de modo completo (LUKÁCS, 2010, p. 82).
Nesta direção, Lessa (2010, p. 55) esclarece que o ser social não pode existir sem ter por base a natureza, no entanto a reprodução social tem por momento predominante uma categoria puramente social, e não natural, o trabalho. Desse modo, o trabalho tem por essência ontológica um caráter de transição, estabelecendo essencialmente uma “inter-relação entre
homem (sociedade) e natureza, tanto inorgânica (ferramenta, matéria-prima, objeto do trabalho etc.) como orgânica” (LUKÁCS, 2013, p. 35), resultando na transição do ser meramente biológico ao ser social, ou seja, o homem que trabalha.
O trabalho surge como resposta da espécie humana às determinações ambientais, a fim de satisfazer suas necessidades biológicas como comer, beber, vestir, morar e reproduzir-se. No entanto, o trabalho produz consequências posteriores, ao produzir objetos, meios, conhecimentos etc., o ser humano produz também, indiretamente, complexos, processos, relações, ligações etc. sociais que vão muito além da necessidade imediata da reprodução humano-biológica (ANDRESE, 2016).
Lessa esclarece (2010, p. 135), que o trabalho “sempre remete para além de si próprio. Ao transformar a natureza para atender às suas necessidades mais imediatas, o indivíduo também transforma a si próprio e à sociedade”. Pois, como defende Lukács (2013), o homem que trabalha é transformado por seu trabalho, ao agir sobre a natureza exterior e modificá-la, ao mesmo tempo que produz sua própria natureza, desenvolve potências nela ocultas e subordina as forças da natureza, transformando-as em meios para o trabalho. Assim, “o ser social, em seu conjunto e processos singulares, pressupõe o ser da natureza inorgânica e orgânica. Não se pode considerar o ser social como independente do ser da natureza” (LUKÁCS, 2012, p. 199).
Contudo, Lessa (2010) ressalta que o que determina o desenvolvimento do homem não é sua porção natural-biológica, mas a qualidade das relações sociais por ele estabelecidas. Embora as barreiras naturais (a necessidade da reprodução biológica) não possam ser abolidas, elas se tornam cada vez mais “afastadas”, de modo que exercem sobre os homens ao longo da história uma influência cada vez menor, ainda que sempre presente.
Assim, pode-se considerar que o desenvolvimento social se funda no processo de objetivação, pois o trabalho produz, objetiva e subjetivamente, o “novo”, consubstanciando no decorrer da história humana um longo e contraditório processo de acumulação e desenvolvimento das “capacidades humanas”, de forma cada vez mais eficiente, a fim de atender suas necessidades e transformar o meio nos produtos materiais necessários à produção e reprodução social.
Nessa nova forma do ser, segundo Lukács (2013), o trabalho traz como consequência a consciência humana, que deixa de ser, em sentido ontológico, um epifenômeno, passando por meio deste a partir de seu fim e meios a ser dirigida por ela mesma, é, pois, nesse sentido que a consciência ultrapassa a mera adaptação ao ambiente e executa na própria natureza
modificações que seriam impossíveis e até mesmo inconcebíveis para os demais seres que compõem a esfera orgânica.
O trabalho é capaz de despertar e desenvolver novas capacidades e necessidades no homem, as consequências do trabalho ultrapassam aquilo que nele foi posto de modo imediato e consciente, elas trazem ao mundo novas necessidades e novas capacidades para satisfação destas e não estão pré-traçadas – dentro das possibilidades objetivas de cada formação bem determinada – quaisquer limites apriorísticos para esse crescimento na “natureza humana” (LUKÁCS, 2013, p. 219).
O desenvolvimento social mediado pelo trabalho consubstancia as “capacidades humanas” para produzir os bens materiais necessários à sua reprodução. Esse desenvolvimento acarreta dois polos distintos articulados: o desenvolvimento das forças produtivas e o desenvolvimento das individualidades. O primeiro promove a passagem da sociabilidade aos modos de produção mais complexos e o segundo, concomitantemente, opera relações sociais cada vez mais complexas envolvidas na passagem da sociedade a modos de produção cada vez mais desenvolvidos (LESSA, 2015, p. 135).
Neste contexto, ontologicamente foi o trabalho que possibilitou o desenvolvimento da transformação decisiva do ser natural em ser social, que produz incessantemente o novo por meio do trabalho. Assim, o trabalho é o fundamento ontológico que objetiva as mudanças na estrutura e dinâmica social e a genericidade do homem. Pois, como defende Lukács (2013), a superioridade do homem sobre a natureza se estende no sentido que dá para os objetos e relações que ele pode nomear, de tal modo que:
[...] é enunciada a categoria ontológica central do trabalho: através dele realiza-se, no âmbito do ser material, um pôr teleológico enquanto surgimento de uma nova objetividade. Assim, o trabalho se torna o modelo de toda práxis social, na qual, com efeito – mesmo que através de mediações às vezes muito complexas (LUKÁCS, 2013, p. 37).
Para Lukács (2010, 2012; 2013), o trabalho surge como um complexo de complexos, cujas categorias, leis, relações e ligações estabelecem algo qualitativamente novo e superior perante o ser inorgânico e orgânico da natureza. Assim, esse “pôr teleológico”, o trabalho e as práxis sociais derivados da divisão social do trabalho, do agir comunicativo da linguagem, do direito, da política, da educação, da arte etc. – onde alcançam formas cada vez mais puras e complexas –, permite ao homem, por meio desta rica malha de determinações, geradas pelo trabalho, alterar a totalidade que se expressa imediatamente na vida cotidiana.
Nessa direção, Lessa (2002) em sua obra “Mundo dos homens”, diz que a partir do complexo de mediações que, sob o primado da centralidade do trabalho, produz o “mundo dos homens”, seu movimento histórico, sua vida cotidiana e o processo de construção de seu pensamento, ocorre a desnaturalização da própria natureza, criando assim um mundo cada vez mais produzido pelos próprios homens.
O ser social tem sua gênese no trabalho, com esse há o desenvolvimento de novas categorias e práxis sociais que fundamentam a nova forma do ser e a diferenciam essencialmente do ser inorgânico e orgânico, no entanto, por conta da dependência ontológica, por mais que haja um afastamento das barreiras naturais o ser social não se tornará independente.
O trabalho, atividade intencional e previamente planejada, é o mediador entre ser social e as esferas orgânica e inorgânica da natureza, estabelece inter-relações entre os seres humanos (sociedade) e a natureza inorgânica e orgânica. Assim, para Lukács (2013, p. 35):
Somente o trabalho tem, como sua essência ontológica, um claro caráter de transição: ele é, essencialmente, uma inter-relação entre homem (sociedade) e natureza, tanto inorgânica (ferramenta, matéria-prima, objeto do trabalho etc.) como orgânica, inter-relação que pode figurar em pontos determinados da cadeia a que nos referimos, mas antes de tudo assinala a transição, no homem que trabalha, do ser meramente biológico ao ser social.
Deste modo, o trabalho é considerado, enquanto prática humana, o fenômeno originário do ser social, como defende Lukács (2013, p. 35): “a sociedade, a primeira divisão do trabalho, a linguagem etc. surgem do trabalho”. Assim, as três esferas do ser estão indissoluvelmente articuladas a partir de uma processualidade evolutiva; da esfera inorgânica surge a vida e a partir desta o ser social. Isso significa que, para existência do ser social e sua reprodução é necessária uma contínua e inalienável articulação com a natureza, ou como afirma Lukács (2012, p. 03), “o ser social só pode surgir e se desenvolver sobre a base de um ser orgânico e que esse último pode fazer o mesmo apenas sobre a base do ser inorgânico”.
Mesmo com essa dependência ontológica, Lukács (2013) ressalta que, em seu metabolismo com a natureza, o ente natural homem exerce o trabalho que faz surgir um novo estágio específico do ser, mais completo e mais complexo, com novas leis, categorias, relações, ligações etc., e como consequência traz na consciência humana as condições que podem superar
da simples à mais complexa adaptação ao ambiente, e executa sua própria natureza e especificidades.
Contudo, ao transformar a natureza, o ser humano não tem mais sua sobrevivência garantida por ela, precisando em processo contínuo produzir sua existência. É nas mediações criadas e desenvolvidas pelo trabalho – enquanto prática de produção social – que o ser humano interage com a natureza, produz seus meios de existência e de conhecer a realidade existente.
O todo desse conhecimento historicamente produzido é chamado de cultura humana, da qual as novas gerações vão depender para a apropriação de novos modos de produção material e espiritual construída pelo coletivo de homens – sociedade – garantindo assim o desenvolvimento e a emancipação política e social do ser humano.
A maneira como os indivíduos manifestam sua vida reflete exatamente o que eles são. O que os homens são, no pensamento marxiano de Lukács, coincide com sua produção – com o que fazem com seu trabalho, isto é, tanto o que eles produzem quanto com a maneira como produzem. O desenvolvimento pleno da vocação ontológica do ser social, depende, portanto, das condições materiais da sua produção.
Nesse processo de produção social, para que ocorra a execução da atividade trabalho, a humanidade necessita ininterruptamente de novos “domínios” sobre a natureza. São novos conhecimentos da ciência e da tecnologia, originária do trabalho que promovem, que está a exigir outras qualidades de relações frente às já produzidas, assimiladas e socializadas.
Conhecedores de que o trabalho, antes de mais nada, cria todas essas relações, podemos nos reportar à leitura de Lukács dos “Manuscritos Econômicos-filosóficos”, onde Marx (2004) diz: “Portanto, apenas quando trabalha sobre o mundo objetivo é que o homem se realiza como ser social”, o que Lukács compreende é que essa produção é sua vida “genérica”, pois através dela a natureza se evidencia como resultado de seu trabalho e como sendo sua realidade.
Por fim, a relação ontológica estabelecida entre homem e natureza, a partir de Lukács, é uma relação de dependência ontológica, mediada pelo trabalho, na qual constantemente o ser social se afasta das esferas inorgânica e orgânica, se tornando cada vez mais social, sem, no entanto, superá-las.
Sendo o objeto do trabalho a “objetivação” da vida humana, o homem, segundo a compreensão lukacsiana, se duplica não só intelectualmente, como se dá na formação do ser social pelo desenvolvimento da consciência, mas também ativamente, quando se sente a si mesmo pertencente a um mundo feito por ele.
A tese ontológica levantada por Lukács, e dialogada nesta reflexão, na qual o homem, na medida em que é homem, é um ser social, onde, em todo ato de sua vida, tenha ele
consciência ou não do seu estar no mundo, sem exceções, realizará ao mesmo tempo, e de modo contraditório, a si mesmo e ao respectivo estágio de desenvolvimento de suas forças produtivas como ser humano, ser este que está, não somente no mundo, mas essencialmente com o mundo.
Andrade, Mariana. Ontologia, Dever e Valor em Lukács. 1. ed. Maceió: Coletivo Veredas, 2016.
LESSA, Sérgio. Mundo dos homens: trabalho e ser social. São Paulo: Boitempo, 2002.
LESSA, Sergio. Para compreender a ontologia de Lukács. 4. ed. Maceió: Instituto Lukács, 2015
LUKÁCS, György. Os princípios ontológicos fundamentais de Marx. São Paulo: Ciências Humanas, 1979.
LUKÁCS, Georg. Para uma ontologia do ser social I. São Paulo: Boitempo, 2012. LUKÁCS, Georg. Para uma ontologia do ser social II. São Paulo: Boitempo, 2013.
LUKÁCS, Georg. Prolegômenos para uma ontologia do ser social: questões de princípios para uma ontologia hoje tornada possível. tradução de Lya Luft e Rodnei Nascimento; supervisão editorial de Ester Vaisman. São Paulo: Boitempo, 2010.
MACENO, Talvanes Eugênio. Educação e reprodução social: a perspectiva da crítica marxista. São Paulo: Instituto Lukács, 2017.
MARX, karl. Manuscritos econômico: filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004.
PASCHOALOTTE, Leandro Módolo. O “salto ontológico” no último Lukács: problematizações de um conceito matriz. Revista Espaço Acadêmico, n. 157, jun. 2014.
VAISMAN, Ester; FORTES, Ronaldo Vielmi. Apresentação. In: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos para uma ontologia do ser social: questões de princípios para uma ontologia hoje tornada possível. tradução de Lya Luft e Rodnei Nascimento; supervisão editorial de Ester Vaisman. São Paulo: Boitempo, 2010.
JUNIOR, J. B. S.; FONSECA, R. L.; MINASI, L. F. A constituição do ser social e a relação homem x natureza: Primeiras aproximações. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 1, p. 0614-0626, mar. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.1.16314
LA CONSTITUCIÓN DEL SER SOCIAL Y LA RELACIÓN HOMBRE X NATURALEZA: PRIMERAS APROXIMACIONES
THE CONSTITUTION OF THE SOCIAL BEING AND THE MAN VS. NATURE RELATIONSHIP: FIRST APPROACHES
João Batista de Souza JUNIOR1 Ricardo Lopes FONSECA2 Luís Fernando MINASI3
RESUMO: O homem é dependente dos recursos naturais, assim, para garantir sua existência, necessita agir sobre a natureza. Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo sintetizar o percurso ontológico de constituição do ser social a partir dos capítulos “O trabalho” e “A Reprodução” da obra “Para uma ontologia do ser social II”, de György Lukács, e estrutura-se em três seções: “as esferas basilares: o ser inorgânico e o ser orgânico”, “o trabalho como gênese do ser social” e “a efeito de conclusão: a relação homem x natureza no processo de formação do ser social”. A partir deste trabalho, pode-se compreender que a constituição do ser social se dá a partir do trabalho, estabelecendo uma relação de dependência ontológica com as esferas de base inorgânica e orgânica, que perpassam e influenciam a relação homem x natureza e, consequentemente, as interações sociais.
1 Universidad Estatal de Londrina (UEL), Londrina – PR – Brasil. Máster en el Programa de Posgrado en Educación. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5622-6488. Correo electrónico: joaob.junior1994@uel.br
2 Universidad Estatal de Londrina (UEL), Londrina – PR – Brasil. Profesor Adjunto del Departamento de Geociencias, Centro de Ciencias Exactas. Profesor del Programa de Posgrado en Educación de la Universidad Estatal de Londrina. Doctorado en Geociencias (UEL). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2077-2476. Correo electrónico: ricardolopesf@uel.br
3 Universidad Federal de Rio Grande (FURG), Ro Grande – RS – Brasil. Profesor del Instituto de Educación y del Programa de Posgrado en Educación Ambiental de la Universidad Federal de Rio Grande. Doctorado en Educación (UFRGS). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1263-875X. Correo electrónico: lfminasi@terra.com.br
PALAVRAS-CHAVE: Ontologia do ser social. Relação homem e natureza. Trabalho.
ABSTRACT: Human beings have a relationship of dependence with natural resources, so, to ensure their existence, there is a need to act on nature. Thus, this text aims to synthesize the ontological path of constitution of the social being from the chapters "Work" and "Reproduction" of the work "Towards an ontology of social being II", by György Lukács, and is structured in three sections: “the basic spheres: the inorganic being and the organic being”, “work as the genesis of the social being” and “as a conclusion: the relationship between man and nature in the process of formation of the social being”. From this, it is possible to understand that the constitution of the social being takes place from work, establishing a relationship of ontological dependence with the basic spheres inorganic and organic, that permeates and influences the relationship between man x nature and, consequently, the social interactions.
KEYWORDS: Ontology of the social being. Relationship between man and nature. Work.
A partir de la ontología propuesta por Marx y rescatada por Lukásc, entendemos el trabajo como el elemento fundacional de la ontología del ser social, y se configura como la actividad permanente y necesaria de la existencia humana, es decir, de toda historia, es decir, del hombre, mientras que este ser social, que hace historia, necesita condiciones para vivir. Pero para vivir es necesario, en primer lugar, satisfacer sus necesidades básicas de beber, comer, vivir, vestirse, ya que el ser biológico del hombre constituye un momento fundamental de este proceso ontológico del ser social, que a diferencia de otros animales, actúa sobre la naturaleza de manera planificada y previamente idealizada, transformándola y transformándose concomitantemente.
Así, Marx, ratificado por Lukács, termina dando a la obra la responsabilidad del salto ontológico que da base al ser social, proporcionando orientación teórica para la comprensión de la relación entre el hombre y la naturaleza y el proceso de constitución del ser social. En esta dirección, Lukács (2012, p. 199) afirma que la obra posibilita una doble transformación, en la que el ser humano que trabaja es transformado por su obra actuando sobre la naturaleza exterior y modifica, concomitantemente, su propia naturaleza, desarrollando "los poderes que están latentes en ella y someten las fuerzas de la naturaleza 'a su propio dominio'. Por otro lado, los objetos y las fuerzas de la naturaleza se transforman en medios de trabajo, objetos de trabajo, materias primas, etc."
Con esta afirmación, Lukács (2012, p. 199) señala que el trabajo tiene una "doble determinación [que se basa en] una base natural insuperable y una transformación social ininterrumpida de esa base". Así, el pensador húngaro reconoce el trabajo como elemento fundacional en la constitución del ser social y en el desarrollo histórico de la socialización y/o reproducción social, es decir, a través de él el hombre se produce y se reproduce sobre las bases naturales de un período histórico determinado en un doble movimiento de transformación mutua.
En este sentido, "el ser social —en su conjunto y en cada uno de sus procesos singulares— presupone el ser de naturaleza inorgánica y orgánica" (LUKÁCS, 2013, p. 17), es decir, la "actividad del ser humano natural sobre la base del ser inorgánico y lo orgánico a partir de él da lugar a una etapa específica del ser, más complicada y más compleja, el ser social" (LUKÁCS, 2013, p. 47).
Así, según Vaisman y Fortes (2010, p. 20), para entender al ser social en su sentido preciso, es necesario mirar todas las dinámicas que existen entre los complejos que conforman su totalidad. Por lo tanto, uno debe mirar la relación establecida entre la esfera del ser social y las otras formas de ser: la esfera inorgánica y la esfera orgánica. El propio Lukács (2010) señala que, para comprender la esencia del ser social, no se debe ignorar la conexión y diferenciación de los tres grandes tipos de ser: las naturalezas inorgánicas y orgánicas y la sociedad. Sin comprender esta dinámica, las especificidades ontológicas del ser social no pueden formularse correctamente.
Siguiendo esta orientación de Lukács, el presente trabajo se estructura en tres apartados: "las esferas básicas: el ser inorgánico y el ser orgánico", "el trabajo como génesis del ser social" y "el efecto de la conclusión: la relación entre el hombre y la naturaleza en el proceso de formación del ser social", y pretende sintetizar el camino ontológico de constitución del ser social a partir de los capítulos "La obra" y "La reproducción", de la obra "Por una ontología del ser social II" de György Lukács.
Por Lukács (2010; 2012; 2013), el ser en general está formado por tres esferas ontológicas: las esferas inorgánica, orgánica y social, cuya formación pasa por dos importantes momentos evolutivos que conforman la continua proceduralidad evolutiva: la ruptura con la esfera inorgánica, en primer lugar, que posibilitó la esfera orgánica, y su consecuente ruptura, en segundo lugar, que posibilitó la esfera social (PASCHOALOTTE, 2014).
La esfera inorgánica se origina a partir de "reacciones químico-físicas [sic], puramente espontáneas" (LUKÁCS, 2013, p. 219), reorganizándose y constituyendo materia inorgánica. Asim, la "relación de objetos en esta esfera del ser es esencialmente un mero ser-otro" (LUKÁCS, 2012, p. 80). "La naturaleza inorgánica no presupone ningún ser biológico o social. Puede existir de manera totalmente autónoma" (LUKÁCS, 2016, p. 140), porque su existencia no depende de ninguna forma de vida, configurándose, en este contexto, como la única esfera absolutamente independiente de la otra.
El desarrollo de la esfera inorgánica tiene como límite la reproducción, porque el movimiento continuo que garantiza el desarrollo de sus fuerzas, relaciones, categorías, leyes, etc. se revela solo en la reorganización de la materia inorgánica en nuevas formas, es decir, se convierte en otra de la superación de las contradicciones de la propia dialéctica de la naturaleza existente en sus elementos (ANDRADE, 2016).
La ciencia actual permite identificar rastros de la génesis de lo orgánico a partir de lo inorgánico en interminable proceso de transformación de la cantidad en calidad y viceversa en los diferentes períodos evolutivos del planeta Tierra, cuyas circunstancias ciertas (aire, presión atmosférica, entre otros elementos de la naturaleza) de la organización de la materia inorgánica hacen posible la aparición de organismos complejos extremadamente primitivos. Estos organismos, en su origen, ya contenían características fundamentalmente orgánicas, reproduciéndose y posibilitando la génesis y el desarrollo de la vida, lo que da lugar a un salto ontológico a través de la aparición de una forma superior de organización de la materia, la vida (LUKÁCS, 2013). Esta transformación de la cantidad de materia inorgánica en continuo movimiento y desarrollo conlleva la transición de la calidad inorgánica de la materia a la calidad orgánica, desarrollando la vida en la nueva materia.
Esta nueva esfera ontológica, el ser orgánico, contiene constantemente una interrelación con el ser que sirve de base, lo inorgánico, pero al mismo tiempo establece nuevas categorías, relaciones, leyes, etc. propiamente dichas. Las relaciones recíprocas establecidas entre los dos seres preservan las conexiones del ser fundador, pero insertándolas en las nuevas conexiones originadas con el nuevo ser.
La aparición de un organismo vivo, que da lugar a un nuevo complejo impulsado por fuerzas internas y una nueva forma de ser, permite un cambio radical en relación con la naturaleza inorgánica. En la esfera orgánica, el desarrollo se produce de tal manera que los impulsos del mundo exterior en el organismo adquieren manifestaciones específicamente biológicas, y estas determinaciones "se vuelven cada vez más puras, más específicamente biológicas" (LUKÁCS, 2013, p. 142), lo que solo es posible en un mayor grado de desarrollo,
es decir, una forma más compleja y cualitativamente nueva, configurando así un salto ontológico.
Para Lukács (2013), el salto se manifiesta a través de una nueva y efectiva constitución del ser, resultante de un largo, desigual y contradictorio proceso que culmina en un intenso y extenso nivel de desarrollo, permitiendo que el nuevo grado de ser se constituya como un hecho definido y fundado en sí mismo.
[...] todo salto implica un cambio cualitativo y estructural del ser, donde la fase inicial ciertamente contiene en sí misma ciertas condiciones y posibilidades de las fases sucesivas y superiores, pero estas no pueden desarrollarse a partir de eso en una continuidad simple y rectilínea. La esencia del salto consiste en esta ruptura con la continuidad normal del desarrollo y no por el nacimiento, de forma repentina o gradual, en el tiempo, de la nueva forma de ser (LUKÁCS, 2013, p. 36).
La nueva esfera del ser, resultante del salto ontológico, se caracteriza por nuevas fuerzas, relaciones, leyes, categorías, etc., completamente diferentes de las esferas existentes hasta el momento del salto. Sin embargo, en la medida en que se aparta de la(s) esfera(s) que le da la base, el nuevo ser y las "nuevas categorías nunca podrán suprimir totalmente las que predominan sobre la base de su ser" (LUKÁCS, 2013, p. 240), por lo que no es posible eliminar la dependencia entre el ser originario y quien le dio la base.
Los primeros organismos vivos surgen de un salto ontológico. Ainda que simple y altamente dependiente del ser inorgánico, este salto da lugar a nuevas y diferentes determinaciones resultantes de un largo proceso histórico, en el que "la reproducción constante de la nueva forma de ser produce las categorías, leyes, etc. características específicas del mismo, de una manera cada vez más desarrollada, autosuficiente [...], dependiente solo de sí misma en sus conexiones" (LUKÁCS, 2013, p. 141). Por lo tanto, incluso los organismos más simples ya aportan diferentes determinaciones a lo que lo originó.
Según Lukács (2013, p. 33-34),
[...] el desarrollo de los organismos nos muestra cómo gradualmente, de una manera muy contradictoria, con muchas formas sin esperanza, las categorías específicas de reproducción orgánica logran la supremacía en los organismos. Es característico, por ejemplo, de las plantas que toda su reproducción -en general, las excepciones no son relevantes aquí- se realice sobre la base del metabolismo con naturaleza inorgánica. Es sólo en el reino animal que este metabolismo tiene lugar sólo, o al menos principalmente, en la esfera de lo orgánico y, siempre en general, el propio material inorgánico que interviene sólo se elabora pasando por esta esfera. Así, el camino de la evolución maximiza el dominio de categorías específicas de la esfera de la vida sobre aquellas que basan su existencia y eficacia en la esfera inferior del ser.
En los momentos cercanos al salto, antes o después, la determinación de lo inorgánico sobre lo orgánico y la relación de dependencia entre las dos esferas sigue estando bastante presente, pero con el tiempo "la complejización de los seres vivos somete su metabolismo a las determinaciones de reproducción orgánica, restringiendo y reconfigurando en bases reproductivas las categorías dependientes de su base inorgánica" (MACENO, 2017, p. 27).
Así, con la emergencia de la vida, el momento predominante, es decir, la interacción que constituye sentido y dirección de manera dinámica a toda evolución y desarrollo del nuevo ser, es la reproducción biológica de la vida, pero, como señala Lukács (2013, p. 148), "la reproducción que ocurre en la naturaleza orgánica es la reproducción del ser vivo singular", o mejor dicho, reproducción filogenética.
En esta dirección Lessa (2015), señala que lo que diferencia la esfera orgánica de la esfera inorgánica, del análisis de la génesis de la vida, es el hecho de que la primera sólo existe a través de un proceso ininterrumpido de refutarla, mientras que la proceduralidad inorgánica está marcada por un sinfín de devenir-otro. Así, hay una ruptura ontológica entre estas esferas, es decir, son formas distintas de ser.
Sin embargo, aunque constituya una nueva esfera, "el ser biológico presupone una constitución especial de lo inorgánico y, sin interacción ininterrumpida como ella, no es capaz de reproducir su propio ser ni siquiera por un momento" (LUKÁCS, 2013, p. 140) demostrando así la dependencia ontológica entre la nueva esfera y la que le da la base, porque en la esfera dependiente surgen cualitativamente nuevas categorías, en el que se conservan fuerzas, relaciones, leyes, etc., presentes en la base, sin poder transformar la esencia del nuevo ser, por lo que las nuevas "categorías nunca podrán suprimir totalmente las que predominan sobre la base del ser" (LUKÁCS, 2013, p.140).
A partir de un desarrollo biológico progresivo, el salto que dio lugar a ser orgánico creó condiciones que permitieron la génesis de un nuevo ser, el ser social.
Para Lukács (2010, p. 75), la base ontológica del salto de lo orgánico a lo social fue la "transformación de la adaptación pasiva del organismo al medio ambiente en una adaptación activa, con la que la sociabilidad emerge como una nueva forma de generidad (sic) y supera gradualmente, procedimentalmente, su carácter puramente biológico inmediato". Así, al reaccionar a su entorno y transformarlo para satisfacer sus necesidades, el hombre, como trabajador, se separa de todo ser vivo que existe hasta la fecha. Así, al actuar sobre la base del
ser inorgánico y orgánico intencional y previamente idealizado, el hombre provoca una nueva y más compleja etapa específica del ser, el ser social.
Ciertamente, el hombre sigue siendo irrevocablemente un ser vivo determinado biológicamente, compartiendo el ciclo necesario de tal ser (nacimiento, crecimiento, muerte), pero modifica radicalmente el carácter de su interrelación con el medio ambiente, porque, a través del ser teleológico en el trabajo, una interferencia activa en el medio ambiente, porque, a través de este entorno, el medio ambiente está sujeto a transformaciones consciente e intencionalmente (LUKÁCS, 2013).
En este contexto, lo que ocurre ya no es una adaptación biológica pasiva, lo que ocurre con el salto es una reorientación hacia relaciones sociales activas, posibilitando el desarrollo de un nivel superior.
El responsable de este salto ontológico es la obra, que es
[...] capaces de despertar nuevas capacidades y necesidades en el hombre, las consecuencias del trabajo van más allá de lo que se ha puesto inmediata y conscientemente en él, traen al mundo nuevas necesidades y nuevas capacidades para su satisfacción y no se pre-trazan – dentro de las posibilidades objetivas de cada formación bien determinada – ningún límite apriorístico para este crecimiento en la " naturaleza humana" (LUKÁCS, 2013, p. 219).
Por Lukács (2010; 2012; 2013), en cuanto a Marx, el trabajo es la actividad fundadora del ser social. A través de ella los seres humanos establecen relaciones con la naturaleza natural con el fin de satisfacer sus necesidades y asegurar su supervivencia; al hacerlo, el hombre mismo cambia y modifica su relación con su entorno, alejándose de sus barreras naturales.
Mientras tanto
[...] en la medida en que el ser humano, [...] en su sociabilidad supera su mera existencia biológica, nunca puede dejar de tener una base de ser biológico, y se reproduce biológicamente, tampoco puede romper nunca su conexión con la esfera inorgánica. En este doble sentido, el ser humano nunca deja de ser un ser natural. Pero de tal manera que lo natural en él y en su entorno (socialmente) remodelado, está cada vez más fuertemente dominado por las determinaciones del ser social, mientras que lo biológico solo puede ser modificado cualitativamente, pero nunca completamente suprimido (LUKÁCS, 2010, p. 82).
En esta dirección, Lessa (2010, p. 55) aclara que el ser social no puede existir sin estar basado en la naturaleza, sin embargo, la reproducción social tiene actualmente una categoría de trabajo puramente social, y no natural. Así, la obra tiene como esencia ontológica un carácter de transición, estableciendo esencialmente una "interrelación entre el hombre (sociedad) y la
naturaleza, tanto inorgánica (herramienta, materia prima, objeto de trabajo, etc.) como orgánica" (LUKÁCS, 2013, p. 35), dando lugar a la transición del ser meramente biológico al ser social, es decir, al hombre que trabaja.
El trabajo surge como una respuesta de la especie humana a las determinaciones ambientales, con el fin de satisfacer sus necesidades biológicas como comer, beber, vestirse, vivir y reproducirse. Sin embargo, el trabajo produce consecuencias posteriores, al producir objetos, medios, conocimientos, etc., el ser humano también produce, indirectamente, complejos, procesos, relaciones, conexiones sociales, etc. que van mucho más allá de la necesidad inmediata de reproducción humano-biológica (ANDRESE, 2016).
Lessa explica (2010, p. 135), que la obra "siempre se refiere más allá de sí misma. Al transformar la naturaleza para satisfacer sus necesidades más inmediatas, el individuo también se transforma a sí mismo y a la sociedad". Porque, como sostiene Lukács (2013), el hombre que trabaja es transformado por su obra, actuando sobre la naturaleza externa y modificándola, mientras produce su propia naturaleza, desarrollando poderes ocultos en ella y subordinando las fuerzas de la naturaleza, transformándolas en medios de trabajo. Así, "el ser social, como un todo y procesos singulares, presupone el ser de naturaleza inorgánica y orgánica. No se puede considerar que el ser social sea independiente del ser de la naturaleza" (LUKÁCS, 2012, p. 199).
Sin embargo, Lessa (2010) señala que lo que determina el desarrollo del hombre no es su parte natural-biológica, sino la calidad de las relaciones sociales establecidas por él. Aunque las barreras naturales (la necesidad de reproducción biológica) no pueden ser abolidas, se vuelven cada vez más "remotas", de modo que ejercen sobre los hombres a lo largo de la historia una influencia cada vez menor, aunque esté presente.
Así, se puede considerar que el desarrollo social se basa en el proceso de objetivación, porque el trabajo produce, objetiva y subjetivamente, lo "nuevo", encarnando en el curso de la historia humana un largo y contradictorio proceso de acumulación y desarrollo de "capacidades humanas", de manera cada vez más eficiente, con el fin de satisfacer sus necesidades y transformar el medio ambiente en los productos materiales necesarios para la producción y reproducción social.
Nessa nueva forma de ser, según Lukács (2013), la obra trae como consecuencia la conciencia humana, que deja de ser, en un sentido ontológico, un epifenómeno, pasando por ella desde su fin y medios para ser dirigida por sí misma, es, es, portanto, en este sentido que la conciencia va más allá de la mera adaptación al entorno y realiza en la naturaleza
modificaciones que serían imposibles e incluso inconcebibles para los demás que La componen. la esfera orgánica.
El trabajo es capaz de despertar y desarrollar nuevas capacidades y necesidades en el hombre, las consecuencias del trabajo van más allá de lo que se ha colocado inmediata y conscientemente en él, traen al mundo nuevas necesidades y nuevas capacidades para su satisfacción y no se pre-trazan – dentro de las posibilidades objetivas de cada formación bien determinada – ningún límite apriorístico para este crecimiento en la "naturaleza humana" (LUKÁCS, 2013, p. 219).
El desarrollo social mediado por el trabajo encarna las "capacidades humanas" para producir los bienes materiales necesarios para su reproducción. Este desarrollo implica dos polos articulados distintos: el desarrollo de las fuerzas productivas y el desarrollo de las individualidades. El primero promueve la transición de la sociabilidad a modos de producción más complejos y el segundo, concomitantemente, opera relaciones sociales cada vez más complejas involucradas en la transición de la sociedad a modos de producción cada vez más desarrollados (LESSA, 2015, p. 135).
En este contexto, ontológicamente fue el trabajo el que permitió el desarrollo de la transformación decisiva del ser natural en un ser social, que produce incesantemente lo nuevo a través del trabajo. Por lo tanto, el trabajo es la base ontológica que apunta a los cambios en la estructura social y la dinámica y genericidad del hombre. Porque, como argumenta Lukács (2013), la superioridad del hombre sobre la naturaleza se extiende en el sentido que da a los objetos y relaciones que puede nombrar, de tal manera que:
[...] se enuncia la categoría ontológica central del trabajo: a través de ella, se lleva a cabo un entorno teleológico como la aparición de una nueva objetividad dentro del ámbito del ser material. Así, el trabajo se convierte en el modelo de toda praxis social, en la cual, en efecto, incluso a través de mediaciones a veces muy complejas (LUKÁCS, 2013, p. 37).
Por Lukács (2010, 2012; 2013), la obra surge como un complejo de complejos, cuyas categorías, leyes, relaciones y vínculos establecen algo cualitativamente nuevo y superior al ser inorgánico y orgánico de la naturaleza. Por lo tanto, este "poner teleológica", la praxis laboral y social derivada de la división social del trabajo, la acción comunicativa del lenguaje, el derecho, la política, la educación, el arte, etc. –donde alcanzan formas cada vez más puras y complejas– permite al hombre, a través de esta rica malla de determinaciones, generadas por el trabajo, alterar la totalidad que se expresa inmediatamente en la vida cotidiana.
En esta dirección, Lessa (2002) en su obra "Mundo de hombres", dice que a partir del complejo de mediaciones que, bajo la primacía de la centralidad del trabajo, produce el "mundo de los hombres", su movimiento histórico, su vida cotidiana y el proceso de construcción de su pensamiento, se produce la desnaturalización d la naturaleza misma, creando así un mundo cada vez más producido por los propios hombres.
El ser social tiene su génesis en acción, con esto está el desarrollo de nuevas categorías y praxis social que subyacen a la nueva forma de ser y lo diferencian esencialmente del ser inorgánico y orgánico, sin embargo, debido a la dependencia ontológica, por mucho que exista un distanciamiento de las barreras naturales el ser social no se independizará.
El trabajo, actividad intencional y previamente planificada, es el mediador entre el ser social y las esferas orgánicas e inorgánicas de la naturaleza, establece interrelaciones entre el ser humano (sociedad) y la naturaleza inorgánica y orgánica. Así, para Lukács (2013, p. 35):
Sólo el trabajo tiene, como esencia ontológica, un claro carácter de transición: es esencialmente una interrelación entre el hombre (sociedad) y la naturaleza, tanto inorgánica (herramienta, materia prima, objeto de trabajo, etc.) como orgánica, interrelación que puede aparecer en ciertos puntos de la cadena a la que nos referimos, pero ante todo señala la transición, en el hombre que trabaja, del ser meramente biológico al ser social.
Así, el trabajo es considerado, como práctica humana, el fenómeno originado en el ser social, como sostiene Lukács (2013, p. 35): "la sociedad, la primera división del trabajo, el lenguaje, etc. surgen del trabajo". Así, las tres esferas del ser están inextricablemente articuladas a partir de una proceduralidad evolutiva; de la esfera inorgánica surge la vida y de ella el ser social. Esto significa que, para la existencia del ser social y su reproducción, es necesaria una articulación continua e inalienable con la naturaleza, o como afirma Lukács (2012, p. 03), "el ser social sólo puede surgir y desarrollarse sobre la base de un ser orgánico y que este último puede hacer lo mismo sólo sobre la base del ser inorgánico".
Aun con esta dependencia ontológica, Lukács (2013) señala que, en su metabolismo con la naturaleza, el medio natural el hombre realiza el trabajo que produce una nueva etapa específica del ser, más completa y más compleja, con nuevas leyes, categorías, relaciones, conexiones, etc., y como consecuencia trae en la conciencia humana las condiciones que pueden
superar desde la simple hasta la más compleja adaptación al medio, y ejecuta su propia naturaleza y especificidades.
Sin embargo, al transformar la naturaleza, el ser humano ya no tiene su supervivencia garantizada por él, necesitando en continuo proceso producir su existencia. Es en las mediaciones creadas y desarrolladas por el trabajo -como práctica de producción social- donde el ser humano interactúa con la naturaleza, produce sus medios de existencia y conoce la realidad existente.
El conjunto de este conocimiento producido históricamente se llama cultura humana, de la que dependerán las nuevas generaciones para la apropiación de nuevos modos de producción material y espiritual construidos por el colectivo de hombres – sociedad – asegurando así el desarrollo y la emancipación política y social del ser humano.
La forma en que los individuos manifiestan sus vidas refleja exactamente lo que son. Lo que son los hombres, en el pensamiento marxista de Lukács, coincide con su producción, con lo que hacen con su trabajo, es decir, tanto lo que producen como la forma en que producen. El pleno desarrollo de la vocación ontológica del ser social depende, por tanto, de las condiciones materiales de su producción.
En este proceso de producción social, para realizar la actividad laboral, la humanidad necesita continuamente nuevos "dominios" sobre la naturaleza. Son nuevos conocimientos de la ciencia y la tecnología, originados en el trabajo que promueven, que está exigiendo otras cualidades de relaciones en relación con las ya producidas, asimiladas y socializadas.
Conscientes de que la obra, en primer lugar, crea todas estas relaciones, podemos referirnos a la lectura de Lukács de los "Manuscritos Económico-Filosóficos", donde Marx (2004) dice: "Así que sólo cuando se trabaja en el mundo objetivo es que el hombre se realiza a sí mismo como un ser social", lo que Lukács entiende es que esta producción es su vida "genérica”, porque a través de ella la naturaleza es evidente como resultado de su trabajo y como su realidad.
Finalmente, la relación ontológica establecida entre el hombre y la naturaleza, desde Lukács, es una relación de dependencia ontológica, mediada por el trabajo, en la que el ser social se aleja constantemente de las esferas inorgánica y orgánica, volviéndose cada vez más social, sin, sin embargo, superarlas.
Dado que el objeto del trabajo es la "objetivación" de la vida humana, el hombre, según la comprensión de Lukachian, se duplica no solo intelectualmente, como ocurre en la formación del ser social por el desarrollo de la conciencia, sino también activamente, cuando se siente perteneciente a un mundo hecho por él.
La tesis ontológica planteada por Lukács, y dialogada en esta reflexión, en la que el hombre, en la medida en que es un hombre, es un ser social, donde, en cada acto de su vida, es consciente o no de su ser en el mundo, sin excepciones, se desempeñará al mismo tiempo, y de manera contradictoria, él mismo y la respectiva etapa de desarrollo de sus fuerzas productivas como ser humano, ser el que está, no sólo en el mundo, sino esencialmente con el mundo.
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LESSA, Sérgio. Mundo dos homens: trabalho e ser social. São Paulo: Boitempo, 2002.
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LUKÁCS, György. Os princípios ontológicos fundamentais de Marx. São Paulo: Ciências Humanas, 1979.
LUKÁCS, Georg. Para uma ontologia do ser social I. São Paulo: Boitempo, 2012. LUKÁCS, Georg. Para uma ontologia do ser social II. São Paulo: Boitempo, 2013.
LUKÁCS, Georg. Prolegômenos para uma ontologia do ser social: questões de princípios para uma ontologia hoje tornada possível. tradução de Lya Luft e Rodnei Nascimento; supervisão editorial de Ester Vaisman. São Paulo: Boitempo, 2010.
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VAISMAN, Ester; FORTES, Ronaldo Vielmi. Apresentação. In: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos para uma ontologia do ser social: questões de princípios para uma ontologia hoje tornada possível. tradução de Lya Luft e Rodnei Nascimento; supervisão editorial de Ester Vaisman. São Paulo: Boitempo, 2010.
JUNIOR, J. B. S.; FONSECA, R. L.; MINASI, L. F. La constitución del ser social y la relación hombre x naturaleza: Primeras aproximaciones. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 1, p. 0614-0626, marzo 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.1.16314
LA CONSTITUCIÓN DEL SER SOCIAL Y LA RELACIÓN HOMBRE X NATURALEZA: PRIMERAS APROXIMACIONES
João Batista de Souza JUNIOR1 Ricardo Lopes FONSECA2 Luís Fernando MINASI3
RESUMO: O homem é dependente dos recursos naturais, assim, para garantir sua existência, necessita agir sobre a natureza. Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo sintetizar o percurso ontológico de constituição do ser social a partir dos capítulos “O trabalho” e “A Reprodução” da obra “Para uma ontologia do ser social II”, de György Lukács, e estrutura-se em três seções: “as esferas basilares: o ser inorgânico e o ser orgânico”, “o trabalho como gênese do ser social” e “a efeito de conclusão: a relação homem x natureza no processo de formação do ser social”. A partir deste trabalho, pode-se compreender que a constituição do ser social se dá a partir do trabalho, estabelecendo uma relação de dependência ontológica com as esferas de base inorgânica e orgânica, que perpassam e influenciam a relação homem x natureza e, consequentemente, as interações sociais.
1 University of Londrina (UEL), Londrina – PR – Brazil. Master's student at the Post Graduate Program in Education. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5622-6488. E-mail: joaob.junior1994@uel.br
2 University of Londrina (UEL), Londrina – PR – Brazil. Deputy Professor of the Department of Geosciences, Center for Exact Sciences. Professor of the Graduate Program in Education of the University of Londrina. Doutorado em Geociências (UEL). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2077-2476. E-mail: ricardolopesf@uel.br
3 Federal University of Rio Grande (FURG), Rio Grande – RS – Brazil. Professor at the Institute of Education and the Graduate Program in Environmental Education at the Federal University of Rio Grande. PhD in Education (UFRGS). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1263-875X. E-mail: lfminasi@terra.com.br
PALAVRAS-CHAVE: Ontologia do ser social. Relação homem e natureza. Trabalho.
RESUMEN: El hombre depende de los recursos naturales, por lo que para asegurar su existencia, necesita actuar sobre la naturaleza. En ese contexto, el presente trabajo pretende sintetizar el camino ontológico de constitución del ser social a partir de los capítulos "Obra" y "Reproducción" de la obra "Hacia una ontología del ser social II" de György Lukács y se estructura en tres apartados: “las esferas básicas: el ser inorgánico y el ser orgánico”, “el trabajo como génesis del ser social” y “como conclusión: la relación entre el hombre y la naturaleza en el proceso de formación del ser social”. A partir de esto, es posible comprender que la constitución del ser social se produce desde el trabajo, estableciendo una relación de dependencia ontológica con las esferas básicas inorgánicas y orgánicas que permea e influye en la relación entre hombre x naturaleza y, en consecuencia, las interacciones sociales.
PALABRAS CLAVE: Ontología del ser social. Relación entre el hombre y la naturaleza. Trabajo.
From the ontology proposed by Marx and rescued by Lukásc, work is understood as the founding element of the ontology of social being, and is configured as the permanent and necessary activity of human existence, that is, of all history, i.e., man, as this social being, who makes history, needs conditions to live. But to live, it is necessary, first of all, to meet his basic needs of drinking, eating, living, and dressing, since man's biological being constitutes a fundamental moment in this ontological process of social being, which, unlike other animals, acts upon nature in a planned and previously idealized way, transforming it and transforming himself at the same time.
Thus, Marx, ratified by Lukács, ends up attributing to labor the responsibility for the ontological leap that gives a basis to social being, providing theoretical guidance for understanding the relationship between man and nature and the process of constitution of social being. In this direction, Lukács (2012, p. 199) states that work enables a double transformation, in which the human being himself who works is transformed by his work when acting on external nature and, concomitantly, modifies his own nature, developing "the powers that are latent in it and subjects the forces of nature 'to their own domain'. On the other hand, the objects and forces of nature are transformed into means of labor, objects of labor, raw materials, etc."
With this statement, Lukács (2012, p. 199) points out that labor has a "double determination [that is founded from] an insurmountable natural basis and an uninterrupted social transformation of this basis." Thus, the Hungarian thinker recognizes work as a fundamental element in the constitution of the social being and in the historical development of
socialization and/or social reproduction, that is, through it man produces and reproduces himself over the natural bases of a given historical period in a double movement of mutual transformation.
In this sense, "social being - as a whole and in each of its singular processes - presupposes the being of inorganic and organic nature" (LUKÁCS, 2013, p. 17), that is, the "activity of the natural entity man on the basis of inorganic being and the organic originated from it gives rise to a specific stage of being, more complicated and more complex, precisely the social being" (LUKÁCS, 2013, p. 47).
Thus, according to Vaisman and Fortes (2010, p. 20), to understand the social being in its precise sense, it is necessary to look at all the dynamics existing between the complexes that make up its totality. Thus, it is necessary to look at the relationship established between the sphere of social being and the other forms of being - the inorganic sphere and the organic sphere. Lukács himself (2010) points out that in order to understand the essence of social being, one should not ignore the connection and differentiation of the three major types of being - inorganic and organic natures and society. Without understanding this dynamic, one cannot correctly formulate the ontological specificities of social being.
Following Lukács' orientation, this paper is structured in three sections: "the basic spheres: inorganic and organic being", "work as the genesis of social being", and "the conclusion: the man-nature relationship in the process of formation of social being", and aims to synthesize the ontological path of constitution of social being based on the chapters "Work" and "Reproduction", from György Lukács' "For an ontology of social being II".
For Lukács (2010; 2012; 2013), the general being is formed by three ontological spheres: the inorganic, organic and social spheres, whose formation goes through two important evolutionary moments that make up the continuous evolutionary processuality: the rupture with the inorganic sphere, firstly, that made the organic sphere possible, and its consequent rupture, in a second moment, that made the social sphere possible (PASCHOALOTTE, 2014).
The inorganic sphere originates from "chemical-physical [sic] reactions, purely spontaneous" (LUKÁCS, 2013, p. 219), reorganizing and constituting inorganic matter. Thus, the "relation of objects to each other in this sphere of being is essentially a mere being-other" (LUKÁCS, 2012, p. 80). "Inorganic nature does not presuppose any biological or social being. It can exist completely autonomously" (LUKÁCS, 2016, p. 140), because its existence does not
depend on any form of life, configuring itself, in this context, as the only sphere absolutely independent of the others.
The development of the inorganic sphere has reproduction as its limit, because the continuous movement that ensures the development of its forces, relations, categories, laws, etc. is revealed only in the reorganization of inorganic matter into new forms, that is, it becomes another from the overcoming of the contradictions of the very dialectics of nature existing in its elements (ANDRADE, 2016).
Current science allows us to identify traces of the genesis of the organic from the inorganic in an endless process of the transformation of quantity into quality and vice versa in the different evolutionary periods of planet Earth, whose certain circumstances (air, atmospheric pressure, among other elements of nature) of the organization of inorganic matter make possible the emergence of extremely primitive complex organisms. These organisms, in their origin, already contained fundamentally organic characteristics, starting to reproduce themselves and enabling the genesis and development of life, which gives rise to an ontological leap through the emergence of a higher form of organization of matter, life (LUKÁCS, 2013). This transformation of the quantity of inorganic matter in continuous movement and development entails the passage from the inorganic quality of matter to the organic quality, developing in the new matter life.
This new ontological sphere, the organic being, constantly contains an interrelationship with the being that serves as its basis, the inorganic being, but at the same time establishes new categories, relations, laws, etc. of its own. The reciprocal relations established between the two beings preserve the nexuses of the founding being, but inserting it into the new nexuses originating with the new being.
The emergence of a living organism, which gives rise to a new complex driven by internal forces and a new way of being, enables a radical change in relation to inorganic nature. In the organic sphere, development occurs in such a way that the impulses of the external world in the organism acquire specifically biological manifestations, and these determinations "become more and more purely, more specifically biological" (LUKÁCS, 2013, p. 142), which is only possible in a higher degree of development, that is, a more complex and qualitatively new form, thus configuring an ontological leap.
For Lukács (2013), the leap manifests itself through a new and effective constitution of being, being the result of a long, unequal and contradictory process that culminates in an intensive and extensive level of development, allowing the new degree of being to constitute itself as a defined and grounded fact in itself.
[...] every leap implies a qualitative and structural change of being, where the initial phase certainly contains in itself certain conditions and possibilities of the successive and superior phases, but these cannot develop from that in a simple and rectilinear continuity. The essence of the leap is constituted by this break with the normal continuity of development and not by the birth, suddenly or gradually, in time, of the new form of being (LUKÁCS, 2013, p. 36).
The new sphere of being, resulting from the ontological leap, is characterized by new forces, relations, laws, categories, etc., completely different from the existing sphere(s) up to the moment of the leap. However, no matter how much it moves away from the sphere(s) that gave it its basis, the new being and the "new categories will never manage to completely suppress those that predominate at the base of its being" (LUKÁCS, 2013, p. 240), thus it is not possible to eliminate the existing dependence between the original being and the one that gave it its basis.
The first living organisms arise from an ontological leap. Although simple and highly dependent on the inorganic being, this leap gives rise to new and different determinations resulting from a long historical process, in which "the constant reproduction of the new form of being produces the categories, laws, etc. specifically characteristic of it, in an increasingly developed, self-sufficient manner [...], dependent only on itself in its connections" (LUKÁCS, 2013, p. 141). Thus, even the simplest organisms already bring determinations distinct from the one that originated it.
According to Lukács (2013, p. 33-34),
[...] the development of organisms shows us how gradually, quite contradictorily, with many dead ends, the specific categories of organic reproduction achieve supremacy in organisms. It is characteristic, for example, of plants that all their reproduction - in general, the exceptions are not relevant here - takes place on the basis of metabolism with inorganic nature. It is only in the animal kingdom that this metabolism takes place solely, or at least mainly, in the organic sphere and, always in general, the inorganic material that intervenes is itself elaborated only by passing through this sphere. In this way, the path of evolution maximizes the dominance of the specific categories of the sphere of life over those that base their existence and efficacy in the lower sphere of being.
In moments close to the leap, before or after, the determination of the inorganic over the organic and the dependency relationship between the two spheres is still quite present, but over time "the complexification of living beings submits their metabolism to the determinations of organic reproduction, restricting and reconfiguring on a reproductive basis the categories dependent on their inorganic base" (MACENO, 2017, p. 27).
Thus, with the emergence of life, the predominant moment, that is, interaction that constitutes meaning and direction in a dynamic way to all evolution and development of the new being, is the biological reproduction of life, but, as Lukács (2013, p. 148) points out, "the reproduction that occurs in organic nature is the reproduction of the singular living being," or rather, phylogenetic reproduction.
In this direction, Lessa (2015) points out that what differentiates the organic sphere from the inorganic sphere, from the analysis of the genesis of life, is the fact that the former only exists through an uninterrupted process of replacing the same, while the inorganic processuality is marked by an endless becoming-other. In this way, there is an ontological rupture between these spheres, that is, they are distinct forms of being.
However, even if a new sphere is constituted, "the biological being presupposes a special constitution of the inorganic and, without the uninterrupted interaction with it, is not able to reproduce its own being even for an instant" (LUKÁCS, 2013, p. 140) thus demonstrating the ontological dependence between the new sphere and the one that gives it basis, because in the dependent sphere qualitatively new categories arise, in which forces, relations, laws, etc. are preserved, present at the base, without being able to transform the essence of the new being, so the new "categories will never be able to completely suppress those that predominate at the base of being" (LUKÁCS, 2013, p. 140).
From a progressive biological development, the leap that gave rise to the organic being created conditions that enabled the genesis of a new being, the social being.
For Lukács (2010, p. 75), the ontological basis of the leap from organic to social being was the "transformation of the passive adaptation of the organism to the environment into an active adaptation, with which sociability emerges as a new form of generativity (sic) and gradually overcomes, procedurally, its immediate purely biological character". In this way, by reacting to his environment and transforming it to meet his needs, man, as a worker, separates himself from every living being existing up to that moment. Thus, by acting on the basis of
inorganic and organic being in an intentional and previously idealized way, man brings about a new and more complex specific stage of being, the social being.
Man certainly remains irrevocably a biologically determined living being, sharing the necessary cycle of such being (birth, growth, death), but radically modifies the character of his interrelationship with the environment, by the fact of arising, through the teleological put at work, an active interference in the environment, by the fact that, through this put, the environment is subjected to transformations consciously and intentionally (LUKÁCS, 2013).
In this context, what occurs is no longer a passive biological adaptation, what occurs with the leap is a reorientation toward active social relations, enabling the development of a higher level.
The responsible for this ontological leap is work, which is
[...] capable of awakening new capacities and needs in man, the consequences of work go beyond what has been put into it immediately and consciously, they bring into the world new needs and new capacities for the satisfaction of these, and no aprioristic limits to this growth in "human nature" are pre-drawn
- within the objective possibilities of each well-determined formation (LUKÁCS, 2013, p. 219).
For Lukács (2010; 2012; 2013), as for Marx, work is the founding activity of the social being. Through it, human beings establish relationships with natural nature in order to meet their needs and ensure their survival; in doing so, man himself modifies and changes his relationship with his surroundings, moving away from his natural barriers. However,
[...] insofar as the human being, [...] in his sociability surpasses his mere biological existence, can never cease to have a basis of biological being, and reproduces biologically, he can also never break his link with the inorganic sphere. In this double sense, the human being never ceases also to be a natural being. But in such a way that the natural in him and in his (socially) remodeled environment, is ever more strongly dominated by determinations of social being, while the biological can only be qualitatively modified, but never completely suppressed (LUKÁCS, 2010, p. 82).
In this context, Lessa (2010, p. 55) clarifies that the social being cannot exist without having nature as its basis, however, social reproduction has as its predominant moment a purely social category, not natural, labor. Thus, work has by ontological essence a transitional character, essentially establishing an "interrelationship between man (society) and nature, both inorganic (tool, raw material, object of work, etc.) and organic" (LUKÁCS, 2013, p. 35), resulting in the transition from merely biological being to social being, that is, the man who works.
Work arises as a response of the human species to environmental determinations, in order to satisfy its biological needs such as eating, drinking, dressing, living and reproducing itself. However, work produces subsequent consequences, by producing objects, means, knowledge etc., human beings also indirectly produce social complexes, processes, relations, connections etc. that go far beyond the immediate need for human-biological reproduction (ANDRESE, 2016).
Lessa clarifies (2010, p. 135), that work "always refers beyond itself. By transforming nature to meet his most immediate needs, the individual also transforms himself and society." For, as Lukács (2013) argues, the man who works is transformed by his work, by acting on external nature and modifying it, at the same time he produces his own nature, develops powers hidden in it and subordinates the forces of nature, transforming them into means for work. Thus, "social being, in its totality and singular processes, presupposes the being of inorganic and organic nature. One cannot consider social being as independent from the being of nature" (LUKÁCS, 2012, p. 199).
However, Lessa (2010) points out that what determines the development of man is not his natural-biological portion, but the quality of social relations established by him. Although the natural barriers (the need for biological reproduction) cannot be abolished, they become more and more "removed", so that they exert on men throughout history a lesser influence, although always present.
Thus, one can consider that social development is based on the process of objectification, because work produces, objectively and subjectively, the "new", embodying throughout human history a long and contradictory process of accumulation and development of "human capabilities", in an increasingly efficient way, in order to meet their needs and transform the environment into the material products necessary for production and social reproduction.
In this new form of being, according to Lukács (2013), work brings as a consequence the human consciousness, which ceases to be, in an ontological sense, an epiphenomenon, passing through it from its end and means to be directed by itself, it is, therefore, in this sense that the consciousness goes beyond the mere adaptation to the environment and performs in nature itself modifications that would be impossible and even inconceivable for the other beings that compose the organic sphere.
Work is capable of awakening and developing new capacities and needs in man, the consequences of work go beyond what was put into it immediately and consciously, they bring to the world new needs and new capacities to satisfy them, and no aprioristic limits are pre-
drawn - within the objective possibilities of each well determined formation - for this growth in "human nature" (LUKÁCS, 2013, p. 219).
Social development mediated by labor embodies the "human capacities" to produce the material goods necessary for reproduction. This development entails two distinct articulated poles: the development of the productive forces and the development of individualities. The first promotes the passage of sociability to more complex modes of production and the second, concomitantly, operates increasingly complex social relations involved in the passage of society to increasingly developed modes of production (LESSA, 2015, p. 135).
In this regard, ontologically it was labor that made possible the development of the decisive transformation of natural being into social being, which ceaselessly produces the new through labor. Thus, labor is the ontological foundation that objectifies the changes in the social structure and dynamics and the genericity of man. For, as Lukács (2013) argues, man's superiority over nature extends in the meaning he gives to the objects and relations he can name, such that:
[...] the central ontological category of work is enunciated: through it is realized, in the sphere of material being, a teleological put as the emergence of a new objectivity. Thus, work becomes the model of all social praxis, in which, in effect - even if through mediations sometimes very complex (LUKÁCS, 2013, p. 37).
For Lukács (2010, 2012; 2013), work emerges as a complex of complexes, whose categories, laws, relations, and connections establish something qualitatively new and superior before the inorganic and organic being of nature. Thus, this "teleological putting," the labor and social praxis derived from the social division of labor, language communicative acting, law, politics, education, art, etc. - where they reach increasingly pure and complex forms -, allows man, through this rich mesh of determinations, generated by labor, to change the totality that is immediately expressed in everyday life.
In this direction, Lessa (2002) in his work "World of Men", says that from the complex of mediations that, under the primacy of the centrality of work, produces the "world of men", its historical movement, its daily life and the process of construction of its thought, occurs the denaturalization of nature itself, thus creating a world increasingly produced by men themselves.
The social being has its genesis in work, with this there is the development of new categories and social practices that underlie the new form of being and essentially differentiate it from the inorganic and organic being, however, because of the ontological dependence, however much there is a departure from natural barriers the social being will not become independent.
Work, an intentional and previously planned activity, mediates between the social being and the organic and inorganic spheres of nature, establishing interrelations between human beings (society) and the inorganic and organic nature. Thus, for Lukács (2013, p. 35):
Only labor has, as its ontological essence, a clear character of transition: it is essentially an interrelationship between man (society) and nature, both inorganic (tool, raw material, object of labor, etc.) and organic, an interrelationship that may appear at certain points in the chain to which we refer, but above all it marks the transition, in man who works, from merely biological being to social being.
Thus, work is considered, as a human practice, the original phenomenon of social being, as Lukács (2013, p. 35) argues: "society, the first division of labor, language etc. arise from work". Thus, the three spheres of being are indissolubly articulated from an evolutionary processuality; from the inorganic sphere life arises and from this the social being. This means that, for the existence of the social being and its reproduction, a continuous and inalienable articulation with nature is necessary, or as Lukács (2012, p. 03) states, "the social being can only arise and develop on the basis of an organic being and that the latter can only do the same on the basis of the inorganic being".
Even with this ontological dependence, Lukács (2013) points out that, in its metabolism with nature, the natural entity man exercises the work that makes a new specific stage of being emerge, more complete and more complex, with new laws, categories, relations, connections etc., and as a consequence brings in human consciousness the conditions that can overcome from simple to the most complex adaptation to the environment, and performs its own nature and specificities.
However, by transforming nature, the human being no longer has his survival guaranteed by it, needing in a continuous process to produce his existence. It is in the mediations created and developed by work - as a practice of social production - that human beings interact with nature, produce their means of existence and of knowing the existing reality.
The whole of this historically produced knowledge is called human culture, on which the new generations will depend for the appropriation of new modes of material and spiritual production built by the collective of men - society - thus ensuring the development and the political and social emancipation of the human being.
The way individuals manifest their lives reflects exactly what they are. What men are, in Lukács' Marxian thought, coincides with their production - with what they do with their work, that is, both what they produce and how they produce. The full development of the ontological vocation of social being, therefore, depends on the material conditions of its production.
In this process of social production, in order to carry out the activity of labor, humanity needs new "domains" over nature uninterruptedly. It is new knowledge of science and technology, originating from the work they promote, that is demanding other qualities of relations in relation to those already produced, assimilated and socialized.
Knowing that work, above all, creates all these relations, we can refer to Lukács' reading of the "Economic-Philosophical Manuscripts", where Marx (2004) says: "Therefore, only when man works on the objective world is he realized as a social being", what Lukács understands is that this production is his "generic" life, because through it nature becomes evident as the result of his work and as his reality.
Finally, the ontological relationship established between man and nature, according to Lukács, is a relationship of ontological dependence, mediated by labor, in which the social being constantly moves away from the inorganic and organic spheres, becoming more and more social, without, however, overcoming them.
Since the object of work is the "objectification" of human life, man, according to Lukácsian understanding, duplicates himself not only intellectually, as it happens in the formation of the social being by the development of consciousness, but also actively, when he feels himself belonging to a world made by him.
The ontological thesis raised by Lukács, and discussed in this reflection, in which man, to the extent that he is a man, is a social being, where, in every act of his life, whether he is aware or not of his being in the world, without exceptions, he will realize at the same time, and in a contradictory way, himself and the respective stage of development of his productive forces as a human being, a being who is not only in the world, but essentially with the world.
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Management of translations and versions: Editora Ibero-Americana de Educação Translator: Thiago Faquim Bittencourt
Translation reviewer: Alexander Vinícius Leite da Silva