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Avaliação da trajetória institucional do Programa Ciência Sem Fronteiras na Universidade Federal do Ceará
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Revista Ibero
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Americana de Estudos em Educação
, Araraquara,
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ISSN: 1982
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DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.3.16579
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AVALIAÇÃO DA TRAJETÓRIA INSTITUCIONAL DO PROGRAMA CIÊNCIA SEM
FRONTEIRAS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
EVALUACIÓN DE LA TRAYECTORIA INSTITUCIONAL DEL PROGRAMA CIENCIA
SIN FRONTERAS EN LA UNIVERSIDAD FEDERAL DE CEARÁ
EVALUATION OF THE
INSTITUTIONAL TRAJECTORY OF SCIENCE WITHOUT
BORDERS PROGRAM AT THE FEDERAL UNIVERSITY OF CEARÁ
Márcia Monalisa de Morais Sousa GARCIA
1
Alcides Fernando GUSSI
2
RESUMO
: Este artigo tem como objetivo avaliar a trajetória institucional do Programa Ciên
cia
sem Fronteiras (CsF) na Universidade Federal do Ceará (UFC), buscando compreender a
percepção dos gestores sobre o Programa a partir de uma perspectiva hermenêutica de análise
de políticas públicas, proposta por Lejano (2012). Nessa pesquisa, de aborda
gem qualitativa,
foram realizadas entrevistas semiestruturadas com reitores, pró
-
reitores de graduação,
coordenador de assuntos internacionais e coordenadores de nove cursos de graduação da
Universidade, contemplando o período de implementação do Programa.
Como resultados,
encontramos distintas interpretações acerca do CsF e sua relação com a internacionalização da
UFC, o que possibilitou uma compreensão mais ampla acerca do Programa na UFC,
considerando os distintos sujeitos envolvidos em sua implementação
, permitindo produzir
indicadores de avaliação sobre o Programa e internacionalização, que contribuem para a
afirmação da educação superior como um direito e um bem público em meio a tensões político
-
institucionais que a qualificam como mercadoria.
PALAVR
AS
-
CHAVE
: Trajetória institucional. Internacionalização. Programa Ciência sem
Fronteiras.
RESUMEN
:
Este artículo tiene como objetivo evaluar la trayectoria institucional del
Programa Ciencia sin Fronteras (CsF) de la Universidad Federal de Ceará (UFC), b
uscando
comprender la percepción de los gestores sobre el Programa, basada en la perspectiva
hermenéutica del análisis de políticas públicas, según Lejano (2012). En esta investigación
cualitativa, fueron realizadas entrevistas semiestructuradas a los deca
nos, prorrectores de
graduación, coordinador de asuntos internacionales y coordinadores de nueve carreras de
grado de la Universidad, abarcando el período de implementación del Programa. Como
resultado, encontramos diferentes interpretaciones sobre el CsF
y su relación con la
internacionalización de la UFC, lo que permitió una comprensión más amplia del Programa,
1
Universidade Federal do Ceará
(UFC), Fortaleza
–
CE
–
Brasil. Doutoranda em Educação
.
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0001
-
5799
-
733X
.
E
-
mail: marciamonalisa@yahoo.com.br
2
Universidade Federal do Ceará
(UFC), Fortaleza
–
C
E
–
Brasil. Docente vinculado ao Programa de Pós
-
Graduação em Educação (PPGE/UFC) e ao Programa da Pós
-
Graduação em Avaliação de Políticas Públicas
(PPGAP/UFC). Doutorado em Educação (UNICAMP). ORCID: https://orcid.org/0000
-
0002
-
5510
-
5286.
E
-
mail:
alcidesfernandogussi@gmail.com
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Márcia Monalisa de Morais Sousa GARCIA e
Alcides Fernando GUSSI
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considerando los diferentes sujetos involucrados en su implementación, permitiendo la
producción de indicadores de evaluación sobre el Programa y
la internacionalización, que
contribuyen a la afirmación la educación superior como derecho y bien público en medio de
tensiones político
-
institucionales que la califican como mercancía.
PALABRAS CLAVE
:
Trayectoria institucional.
Internacionalización.
Programa Ciencia sin
Fronteras
.
ABSTRACT
:
This article aims to evaluate the institutional trajectory of the Science without
Borders Program (CsF) at the Federal University of Ceará
(UFC), seeking to understand the
perception of managers about the Program based on the hermeneutic perspective of public
policy analysis, proposed by Lejano (2012). Using a qualitative approach, semi
-
structured
interviews were carried out with deans, pro
-
deans of graduation, coordinator of international
affairs and coordinators of nine undergraduate courses at the University, contemplating the
period of implementation of the Program. As a result, we found different interpretations about
the CsF and its rel
ationship with the internationalization, which enabled a broader
understanding of the Program at the UFC, considering the different subjects involved in its
implementation, allowing the production of evaluation indicators, which contribute to the
assertion
of higher education as a right and a public good in the midst of political
-
institutional
tensions that qualify it as a commodity.
KEYWORDS
:
Institutional trajectory. Internationalization. Science without Borders Program.
Introdução
Este artigo aprese
nta a trajetória institucional do Programa Ciência Sem Fronteiras (CsF)
na Universidade Federal do Ceará (UFC) no contexto da internacionalização da educação
superior, a partir da percepção de múltiplos atores institucionais que participaram de sua
impleme
ntação
3
. Para tanto, fundamenta
-
se na perspectiva hermenêutica de análise de políticas
públicas, desenvolvida por Lejano
(2012), centrando
-
se na experiência dos sujeitos e na busca
de sentidos e significados da política para aqueles que a formulam, implementam ou vivenciam,
dentro de um determinado contexto sociopolítico e institucional.
A internacionalização tem sido um te
ma recorrente nas discussões sobre educação
superior no Brasil, sobretudo com a introdução do neoliberalismo no Brasil nos anos 1990,
cujas políticas públicas, especialmente em educação, passaram a ser fomentadas por
organismos multilaterais, como o Banco
Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
3
Esta pesquisa consiste em uma parte de minha dissertação intitulada TTrajetórias da Internacionalização na
Universidade Pública: avaliação do Pro
grama Ciência sem Fronteiras à luz da experiência da Universidade Federal
do Ceará”, defendida em março de 2020, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre, e orientada pelo
Professor Alcides Fernando Gussi.
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Entretanto, foi a partir de 2011 que a internacionalização das universidades brasileiras ganhou
maior evidência por meio do Programa Ciência sem Fronteiras (CsF). (ALMEIDA, 2014).
O Programa CsF foi criado n
o primeiro mandato do Governo Dilma Rousseff (2011
-
2014), com o decreto nº 7642, de 13 de dezembro de 2011, nos seus termos, com a finalidade
de impulsionar a internacionalização do ensino superior por meio da capacitação de pessoas
com elevada qualificaçã
o em universidades de excelência, além de atrair para o Brasil jovens
talentos e pesquisadores estrangeiros de elevada qualificação, em áreas de conhecimento
definidas como prioritárias (BRASIL, 2011).
Entretanto, a crise política e econômica, iniciada no
segundo mandato do Governo
Dilma Rousseff (2014
-
2016), culminou com o
impeachment
em 2016, afetou a continuidade do
Programa. Após o
impeachment
, em um contexto de afirmação de uma agenda de governo
neoliberal do presidente interino Michel Temer (2016
-
2018
), caracterizada pelo ajuste fiscal, as
bolsas para a graduação foram suspensas e o Programa foi sendo paulatinamente suprimido até
ser extinto em 2017.
Para se compreender a abrangência do CsF, no período de 2012 a 2016, dados do painel
de controle do Pro
grama demonstram que foram implementadas 92.880 mil bolsas a alunos da
graduação e pós
-
graduação de todo o Brasil, das quais 78,97% foram destinadas a alunos da
graduação. A Universidade Federal do Ceará (UFC),
lócus
desta avaliação, despontou como
uma das
10 universidades brasileiras que mais enviaram alunos ao Programa, com um total de
2.123 bolsas implementadas, sendo 87% destinadas a alunos da graduação. (CIÊNCIA SEM
FRONTEIRAS, n.d.).
Com números tão expressivos, pretende
-
se aqui analisar o significado
desses dados para
a internacionalização da educação superior, especialmente quando se considera duas vertentes
de concepção sobre a internacionalização, uma de viés acadêmico
-
institucional, nos moldes
sugeridos pela Organização das Nações Unidas para a Ed
ucação (UNESCO, 1998), cujas ações
são voltadas para a cooperação solidária; e outra com viés de mercado, voltada para a formação
de recursos humanos para atender às demandas do mercado de trabalho global, como propõem
o Banco Mundial (BM) e a Organização
Mundial do Comércio (OMC).
Com esse intuito, buscamos avaliar como o Programa CsF foi experienciado e percebido
em um
lócus
institucional específico, a UFC, a partir de seus distintos atores institucionais,
sobretudo no tocante aos processos de internacion
alização pelos quais passava a universidade.
Para tanto, metodologicamente, propõe
-
se a construir a trajetória institucional do
Programa CsF na UFC a partir de cinco eixos analíticos:
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i) Trajetória pessoal e experiência internacional dos atores envolvidos
no CsF, pois a
partir de suas trajetórias de vida, das vivências dos gestores, pode
-
se compreender os
significados que eles atribuíram ao Programa CsF na UFC;
ii) Contextos nacional e institucional, entendendo que a UFC está inserida nas políticas
públicas
da educação superior e, a partir disso, compreender configurações institucionais que
possibilitam apreender os jogos de interesses e as ações dos sujeitos envolvidos na
implementação do CsF;
iii) Concepção de internacionalização, em que se buscou compreen
der as concepções de
internacionalização que orientam os sujeitos implementadores do programa;
iv) Percepção sobre o Programa Ciência sem Fronteiras, em que se buscou, a partir dos
relatos, compreender a percepção dos gestores acerca do processo de formula
ção, planejamento,
implementação e os resultados do programa para a Universidade;
v) Relação entre a internacionalização da UFC e o Programa CsF, em que foi possível
analisar em que medida os gestores relacionam o Programa CsF e a internacionalização da
Un
iversidade.
A construção da trajetória institucional constitui
-
se em um instrumento para se avaliar
a implementação do Programa CsF na UFC, possibilitando uma compreensão mais ampla e
detalhada sobre como se deu o percurso da política nas vias instituciona
is da UFC, a partir dos
distintos sujeitos envolvidos com o CsF.
Para uma melhor organização, este artigo está estruturado em seis seções, sendo a
primeira esta introdução. Na segunda seção, discutem
-
se definições de autores e organismos
internacionais sob
re a internacionalização. Na terceira seção, apresentam
-
se os percursos
teórico
-
metodológicos de construção da pesquisa. Na quarta seção, apresentam
-
se os resultados
da trajetória institucional do CsF na UFC. Na quinta seção, é feita uma análise da trajetó
ria e
são apresentados os indicadores de avaliação produzidos. E, por fim, na última seção, tem
-
se
as considerações sobre a pesquisa.
As visões sobre a internacionalização da educação superior
Há uma variedade de definições e visões sobre o significado de internacionalização da
educação. Knight (2003, p. 2), referência na temática, entende a internacionalização como um
Tprocesso de integrar uma dimensão internacional, intercultural ou global com
o objetivo, as
funções ou o oferecimento do ensino pós
-
secundário”. Wit
et al
. (2015) amplia o conceito de
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Knight (2003), incluindo em sua finalidade a melhoria da qualidade do ensino superior e da
pesquisa, trazendo uma contribuição significativa à socie
dade.
Sob outra perspectiva, para Van der Wende (1997, p. 18), a internacionalização é
Tqualquer esforço sistemático encaminhado a fazer que a educação superior responda aos
requerimentos e desafios relacionados com a globalização das sociedades, da econom
ia e dos
mercados”. Morosini (2006) também entende que a internacionalização consiste em um esforço
sistemático que tem como objetivo tornar a educação superior mais respondente às exigências
e desafios relacionados à globalização da sociedade, da economia
e do mercado de trabalho.
Em meio à diversidade de concepções, quem tem norteado os rumos da
internacionalização da educação superior tem sido as organizações internacionais, sobretudo no
tocante à mobilidade estudantil. Sob a perspectiva da Organização d
as Nações Unidas para a
Educação (UNESCO, 1998), a internacionalização é uma das estratégias de se utilizar a
educação superior para contribuir para o aprimoramento da vida em sociedade, assegurar um
desenvolvimento genuíno e sustentável e reduzir as dispa
ridades econômicas, sociais e políticas
dos países em desenvolvimento por meio da troca de conhecimento.
No entanto, os esforços da UNESCO, com o intuito de garantir os valores do ensino
superior, não foram suficientes para deter a lógica do sistema capita
lista, impulsionado pela
globalização. Sob um outro viés, em 1995, a Organização Mundial do Comércio (OMC) no
âmbito do Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços (GATS), definiu novas regras e novos
princípios para o ensino superior, contrários à concepção
da UNESCO, incluindo a educação
no patamar de mercadoria, com a finalidade de eliminar barreiras ao comércio nessa área,
tornando possível combinar o maior acesso à universidade com lucratividade (WTO, 1998).
Encontram
-
se, portanto, duas visões distintas
sobre a internacionalização do ensino
superior, uma de viés acadêmico
-
institucional, nos moldes sugeridos pela UNESCO, cujas
ações são voltadas para a cooperação solidária, remetendo
-
nos a uma visão mais acadêmica e
sociocultural do processo; e outra com v
iés mercadológico, voltada para a formação de recursos
humanos para atender ao mercado de trabalho global, como propõem o Banco Mundial (BM) e
a OMC. Essas concepções discrepantes no campo analítico acerca da internacionalização
revelam a disputa de intere
sses existente no âmbito da educação superior que impõe um valor
muito tênue sobre a educação como bem social ou como mercadoria. (SOBRINHO, 2004).
Sobre essa questão, Bourdieu (1976) já dizia que o espaço científico é lugar por disputa
de capitais, uma ve
z que a ciência passa a ser uma mercadoria, produzida nas universidades e
apropriada pelo capital. É nesse contexto de embate de ideias que o Brasil desenvolveu políticas
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de internacionalização do ensino superior, cujo marco nacional foi o Programa Ciência
sem
Fronteiras (2012
-
2016). Trata
-
se de um programa de mobilidade acadêmica, criado para
promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação
e da competitividade brasileira, sobre o qual este artigo se debruça a pa
rtir de pesquisa realizada
no contexto institucional da UFC.
Pressupostos teórico
-
metodológicos da pesquisa sobre o Programa Ciência sem Fronteiras
Para avaliar o Programa CsF na UFC, buscou
-
se uma aproximação com o paradigma
hermenêutico de análise de p
olíticas públicas de Lejano (2012), que aponta que uma mesma
política pode sofrer interpretações variadas, delineando uma trajetória institucional, à medida
que adentra nos distintos espaços institucionais. Para Lejano (2012, p. 114),
Quando o significado
está em questão, a realidade é como um texto que está
sujeito à análise e interpretação. Se ninguém puder legalmente declarar
-
se o
autor, ou se a exata noção de autoria é questionada, então a política estará
sujeita a uma série possivelmente interminável
de interpretações.
Dessa forma, na concepção hermenêutica de Lejano (2012), não há um resultado exato
acerca de uma política, pois uma mesma política pode ser implementada de forma distinta em
diferentes instituições, o que ele denomina de Tcoerência inst
itucional”, quando uma política
precisa, de alguma maneira e em diferentes aspectos, Tencaixar
-
se” em uma instituição, como
explicita abaixo:
Coerência, até certo ponto, significa que o texto original deveria ser adaptado
a cada lugar. Assim, essencialmen
te, ao mesmo tempo em que política é, afinal,
texto e é afinal levada de um lugar a outro pelos detentores de poder, ainda
requer ser posta fisicamente em cada lugar, e isso significa, em virtude da
necessidade de ao menos certo grau de coerência, que a po
lítica não será
idêntica em cada situação. Ou seja, o engajamento do texto com o real induz
mudanças na maneira pela qual a política é posta em ação. O que resulta não
é isomorfismo, mas poliformismo (LEJANO, 2012, p. 229).
Articulada à noção de coerência de uma política, aproximamo
-
nos do conceito de
trajetória desenvolvida por Gussi (2008). O autor parte da noção de trajetória de vida de
Bourdieu (1996) em seu ensaio TA Ilusão Biográfica”, para quem trajetória é Tuma série
de
posições sucessivamente ocupadas por um mesmo agente ou um mesmo grupo em um espaço
ele próprio em devir e submetido a transformações incessantes” (BORDIEU, 1996, p. 81). Isto
é, a vida não segue uma ordem lógica, mas se desloca no espaço social e está
vinculada a
distintos agentes sociais. Da mesma forma, para Gussi (2008), ocorre com as políticas públicas
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quando adentram nos espaços institucionais: elas estão circunscritas a ressignificações e vão se
modificando à medida que vão sendo implementadas, de
acordo com a ação dos agentes sociais.
Ademais, quando se adentra em uma instituição para buscar compreender o
desenvolvimento de uma política, ou seja, a sua trajetória institucional (GUSSI, 2008), é preciso
atentar que uma instituição vai além das front
eiras do modelo formal, porque Tas instituições
reais não são apenas regras e estruturas organizacionais, mas se encontram entrelaçadas com
cultura, histórias, personalidades e outras contingências de contexto” (LEJANO, 2012, p. 261).
Essa teia de relações
que se afasta do modelo formal de uma instituição, Lejano (2012)
denominou de Ttopologia das instituições”.
Portanto, sustentamos aqui que para se compreender a trajetória do CsF na UFC, faz
-
se
necessário apreender como esta Universidade se organiza, quem
são e como pensam os
responsáveis pela sua execução e que relevância o programa teve no processo de
internacionalização da UFC, ou seja, nos dizeres de Lejano (2012), compreender a Ttopologia
da instituição”.
Para tanto, metodologicamente, foram realizada
s entrevistas semiestruturadas
abrangendo tanto os gestores da administração superior da UFC
4
, quanto os coordenadores de
cursos, responsáveis pela operacionalização do programa e relacionamento com os alunos
participantes
5
. Dessa forma, buscando abrange
r as gestões que contemplaram o início do
programa (2012
-
2014) e seu final (2014
-
2016), foram entrevistados 2 reitores, 2 pró
-
reitores de
graduação, 1 coordenador de assuntos internacionais e coordenadores de 9 cursos, sendo: 2
cursos do Centro de Ciências
, 3 cursos do Centro de Tecnologia e 4 cursos do Instituto de
Cultura e Arte, totalizando 17 gestores da UFC
6
.
A partir da análise de dados, como se verá a seguir, foi possível compreender a forma
como os gestores interpretam o Programa CsF na UFC, articulando
-
o a processos de
internacionalização da universidade.
4
A implementação do Programa CsF na U
FC envolveu três setores: a Coordenadoria de Assuntos Internacionais
(CAI), a Pró
-
Reitoria de Graduação (PROGRAD) e as coordenações de cada curso.
5
Ressalta
-
se que a
experiência dos alunos participantes do Programa CsF pela UFC não foi
contemplada na
pesquisa, pois este estudo teve como enfoque os arranjos institucionais da UFC para a implementação da política.
6
As entrevistas foram realizadas entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020 e todos os gestores assinaram o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido.
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A trajetória institucional do Programa Ciência se
m Fronteiras sob o olhar dos gestores da
Universidade Federal do Ceará
Com base nos conceitos de Coerência e Topologia das Instituições de Lejano (2012) e
na noção de trajetória de Gussi (2008), foi possível construir a trajetória institucional do
Program
a CsF na UFC, cujos resultados serão apresentados a partir de cinco eixos analíticos,
orientadores da pesquisa: a) trajetória pessoal e experiência internacional; b) contextos nacional
e institucional; c) concepções de internacionalização; d) percepção sob
re o Programa Ciência
sem Fronteiras; e e) relação entre o Programa Ciência sem Fronteiras e a internacionalização
da UFC.
a) Trajetória pessoal e experiência internacional dos gestores
Em relação ao primeiro eixo analítico, observa
-
se que os relatos da
s trajetórias
acadêmica e profissional dialogam com o tempo e o espaço social, revelando sua dimensão
histórica, coletiva e social, possibilitando, assim, formular uma melhor compreensão do
contexto no qual os gestores entrevistados estão inseridos (GUSSI,
2005). Suas trajetórias,
portanto, se entrelaçam com esses contextos e, por conseguinte, influenciam a forma como
vivenciam a universidade e veem as políticas públicas, conforme sintetiza o quadro 1:
Quadro 1
–
Síntese: trajetórias pessoais e experiência
internacional
Gestores
Trajetórias pessoais
Experiência Internacional
Administração Superior (reitores,
pró
-
reitores de graduação e
coordenador de assuntos
internacionais) e coordenadores de
curso
-
As trajetórias de vida dos gestores
se entrelaçam com a história da
UFC e com os contextos históricos,
influenciando a percepção deles
sobre as políticas de educação
superior e Programa CsF na UFC e
sua implementação.
-
Todos os gestores da
administração
superior tiveram
experiência internacional;
enquanto entre os 12
coordenadores, somente 4 não
tiveram;
-
Os gestores foram unânimes em
afirmar que é uma experiência
muito enriquecedora para a
formação, em que o estudante entra
em contato com outras cultur
as,
outras visões de mundo, novas
línguas, novas tecnologias e formas
diferentes de se fazer pesquisa;
-
A experiência internacional dos
gestores contribuiu para o
reconhecimento da relevância da
mobilidade, o que certamente
permitiu à UFC uma maior
apropr
iação do CsF no tocante à
implementação do Programa.
Fonte: Elaborado pelos autores
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Percebe
-
se que o fato de os gestores universitários terem vivenciado uma experiência
internacional contribuiu para reconhecerem a relevância da mobilidade para os estudantes
bolsistas do CsF, o que certamente permitiu à UFC uma maior apropriação institucio
nal do CsF
no tocante à implementação do Programa, pois segundo Lejano (2012, p. 122), Tsomos
inevitavelmente influenciados por nossas predileções pessoais, treino, histórias e crenças”.
b) Contexto nacional e institucional
Em relação ao segundo eixo an
alítico, sob esta perspectiva avaliativa, entende
-
se que
não há como analisar a trajetória de uma política sem considerar as configurações de Estado e
as agendas de Governo em que ela está inserida. A compreensão dos gestores sobre os contextos
nacional e
institucional estão sintetizadas no quadro 2:
Quadro 2
–
Síntese: contexto nacional e institucional
Gestores
Contexto Nacional
Contexto Institucional
Administração Superior (reitores,
pró
-
reitores de graduação e
coordenador de assuntos
internacionais) e coordenadores de
curso
-
Ressaltaram os investimentos no
ensino superior de 2003 a 2016;
-
Apresentaram insegurança quanto
ao futuro das universidades
públicas no atual contexto,
principalmente os coordenadores
do Instituto de Cultura e Art
e
(ICA), área que tem sido atacada
pelo Governo Bolsonaro;
-
Um coordenador do curso de
Engenharia de Produção Mecânica
demonstrou otimismo sobre os
novos rumos do ensino superior.
-
Entre os coordenadores de curso,
observou
-
se um maior receio em
abordar o
contexto da UFC em
decorrência do momento político
-
institucional que a Universidade
tem vivenciado, sobretudo em
2019;
-
A adoção de medidas
neoconservadoras e neoliberais
afetam a UFC e transformam os
sentidos da formação e a trajetória
da internacionaliza
ção.
Fonte: Elaborado pelos autores
No tocante aos contextos, observa
-
se que os gestores foram unânimes em reconhecer o
investimento em políticas públicas do ensino superior entre 2003 e 2016. Entretanto,
manifestaram incertezas quanto ao futuro das univ
ersidades públicas, especialmente no atual
contexto de medidas neoconservadoras e neoliberais
7
, que afetam as universidades e
transformam os sentidos da formação e a trajetória da internacionalização, salvo um
coordenador do curso de Engenharia de Produção Mecânica, que demonstrou otimismo em
7
A partir de 2019, no Governo Bolsonaro (2019
-
2022), com a adoção da corrente política do neoconservador
ismo,
caracterizado como liberal na economia e o conservador nos costumes (CASTRO, 2018), as universidades públicas
foram as que mais sofreram com os ataques, não
somente ideológicos, mas econômicos do Governo, resultando
no maior corte de recursos decorre
nte da política de
ajuste fiscal, inicialmente anunciado como 30% da verba total
e,
depois, 30% do orçamento
discricionário (ou seja, de gastos não obrigatórios), o equivalente a mais de R$ 1,5
(BBC, 2019).
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Márcia Monalisa de Morais Sousa GARCIA e
Alcides Fernando GUSSI
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
v. 17, n. esp. 3, p.
2194
-
2214
, nov. 2022
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.3.16579
2203
relação aos novos rumos do ensino superior.
Entre os coo
rdenadores de curso, percebeu
-
se um
maior receio em abordar o contexto da UFC em decorrência das polarizações políticas em que
o país se encontra e, em especial, pelo momento político
-
institucional que a Universidade tem
vivenciado, sobretudo a partir de 2
019
8
.
c) Concepções de internacionalização
Considerando as duas vertentes de internacionalização tratadas nesta pesquisa,
apreender o que pensam os gestores acerca da internacionalização das universidades e como
conduzem esse processo é fundamental para
se compreender como o CsF foi implementado na
instituição. Para tal, buscou
-
se compreender a percepção dos gestores sobre o lugar que a
internacionalização ocupa nas universidades atualmente e como percebem a
internacionalização da UFC. Os resultados fora
m sintetizados no quadro 3:
Quadro 3
–
Síntese: concepções de internacionalização
Gestores
Concepção de
Internacionalização
Percepção sobre a
Internacionalização da UFC
Administração Superior (reitores,
pró
-
reitores de graduação e
coordenador de
assuntos
internacionais)
-
Apresentam a mesma concepção
de internacionalização definida
pela UNESCO, voltada para a
cooperação mútua e a solidariedade
entre as instituições.
-
Atribuem o destaque da
internacionalização no período de
2012 a 2016 à mobilidade
pelo
CsF;
-
Avaliam a internacionalização da
UFC com base no destaque da
Universidade nos
rankings
internacionais e na criação da Pró
-
Reitoria de Relações Internacionais
(PROINTER).
Coordenadores de cursos
-
A maioria ap