image/svg+xml
As contribuições da educomunicação para a formação de sujeitos críticos: Um diálogo entre os pressupostos teóricos de Paulo Freire e do
círculo de Mikhail Bakhtin
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1819
AS CONTRIBUIÇÕES DA EDUCOMUNICAÇÃO PARA A FORMAÇÃO DE
SUJEITOS CRÍTICOS: UM DIÁLOGO ENTRE OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
DE PAULO FREIRE E DO CÍRCULO DE MIKHAIL BAKHTIN
LOS APORTES DE LA EDUCOMUNICACIÓN A LA EDUCACIÓN DE SUJETOS
CRÍTICOS: UN DIÁLOGO ENTRE LOS SUPUESTOS TEÓRICOS DE PAULO FREIRE
Y EL CIRCULO DE MIKHAIL BAKHTIN
THE CONTRIBUTIONS OF EDUCOMMUNICATION TO THE EDUCATION OF
CRITICAL SUBJECTS: A DIALOGUE BETWEEN PAULO FREIRE'S THEORETICAL
ASSUMPTIONS AND MIKHAIL BAKHTIN'S CIRCLE
Madalena Pereira da SILVA
1
Helena Maria FERREIRA
2
Joel Cezar BONIN
3
RESUMO
: A Educomunicação tem favorecido uma ressignificação das bases epistemológicas
e metodológicas do lugar das mídias no contexto escolar, bem como uma discussão axiológica
do papel do professor nesse novo contexto histórico multimidiático. Para evidenciar as
contribuições da Educomunicação na formação de sujeitos críticos, o artigo suscita um diálogo
entre duas vertentes fundamentais à compreensão da Educomunicação: Freire e Bakhtin (e seu
Círculo). A metodologia caracteriza-se por uma investigação teórica, de natureza qualitativa e
de abordagem epistemológica de cunho interpretativo, que busca aproximações entre as teorias
e apresenta posicionamentos acerca de duas questões fulcrais: a noção de sujeito e da palavra
ideológica. Nas discussões, viu-se que os pressupostos teóricos permitem uma abordagem que
considera as dimensões do uso da linguagem em contextos midiáticos com vistas a uma
pedagogia libertadora. Como fechamento, aponta-se para a ideia de que dialogicamente os
sujeitos se constituem na/pela linguagem, pois ela favorece uma educação crítica e
emancipatória.
PALAVRAS-CHAVE
: Educomunicação. Freire. Bakhtin. Formação. Sujeitos críticos.
1
Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (UNIARP), Caçador
–
SC
–
Brasil. Professora no Programa de Mestrado
em Educação Básica e Professora no Programa de Mestrado em Educação (PPGE/UNIPLAC). Doutorado em
Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC). ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-8886-2822. E-mail:
prof.madalena@uniplaclages.edu.br
2
Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras
–
MG
–
Brasil. Professora no Programa de Pós-Graduação em
Educação e do Programa de Pós-graduação em Letras. Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da
Linguagem (PUC/SP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8749-5426. E-mail: helenaferreira@ufla.br
3
Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (UNIARP), Caçador
–
SC
–
Brasil. Professor no Programa de Mestrado
em Educação Básica. Doutorado em Filosofia (PUC/PR). ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-0437-7609. E-
mail: joel@uniarp.edu.br
image/svg+xml
Madalena Pereira da SILVA, Helena Maria FERREIRA e Joel Cezar BONIN
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1820
RESUMEN
:
La Educomunicación propone una resignificación de las bases epistemológicas y
metodológicas del sitio de las medias en el contexto escolar, así como una discusión axiológica
del papel del profesor en ese nuevo contexto histórico multimediático. Para evidenciar las
contribuciones de la Educomunicación en la formación de sujetos críticos, el artigo suscita un
diálogo entre dos vertientes fundamentales a la comprensión de la Educomunicación: - Freire
y Bakhtin (y su Círculo). La metodología se caracteriza por una investigación teórica, de
naturaleza cualitativa y abordaje epistemológica de carácter interpretativo, que busca por
aproximaciones entre las teorías y presenta posicionamientos acerca de dos cuestiones
basales: la noción de sujeto y de la palabra ideológica. En las discusiones, se percibe que los
presupuestos teóricos permiten un abordaje que considera las dimensiones del uso del lenguaje
en contextos mediáticos que se vuelven a una pedagogía libertadora. Como cierre, se apunta
la idea de que dialógicamente los sujetos se constituyen en/por el lenguaje, pues él ampara una
educación crítica y emancipatoria.
PALABRAS CLAVE
:
Educomunicación. Freire. Bakhtin. Formación. Sujetos críticos.
ABSTRACT
: Educommunication has favored a re-signification of the epistemological and
methodological bases of the media's place in the school context, as well as an axiological
discussion of the teacher's role in this new multimedia historical context. To highlight the
contributions of Educommunication in the formation of critical subjects, the article raises a
dialogue between two fundamental aspects to the understanding of Educommunication: - Freire
and Bakhtin (and their Circle). The methodology is characterized by a theoretical investigation,
qualitative nature and an epistemological approach of an interpretive nature, which seeks
approximations between theories and presents positions on two key issues: the notion of subject
and the ideological word. In the discussions, it was seen that the theoretical assumptions allow
an approach that considers the dimensions of the use of language in media contexts with a view
to a liberating pedagogy. As a conclusion, we point to the idea that subjects are constituted
dialogically in/by language, as it favors a critical and emancipatory education.
KEYWORDS
: Educommunication. Freire. Bakhtin. Formation. Critical subjects.
Introdução
Comunicar es una aptitud, una capacidad. Pero es sobre todo una actitud.
Suponemos en disposición de comunicar, cultivar en nosotros la voluntad de
entrar en comunicación con nuestros interlocutores. Nuestro destinatário
tiene sus intereses, sus preocupaciones, sus necesidades, sus expectativas.
Está esperando que le hablemos de las cosas que le interesan a él, no de las
que nos interesan a nosotros. Y sólo si partimos de sus intereses, de sus
percepciones, será posible entablar el diálogo con él. Tan importante como
preguntarnos qué queremos nosotros decir, es preguntarnos qué esperan
nuestros destinatários escuchar. Y, a partir de ahí, buscar el punto de
convergencia, de encuentro. La verdadera comunicación no comienza
hablando sino escuchando. La principal condición del buen comunicador es
saber escuchar (KAPLÚN, 1985, p. 115).
image/svg+xml
As contribuições da educomunicação para a formação de sujeitos críticos: Um diálogo entre os pressupostos teóricos de Paulo Freire e do
círculo de Mikhail Bakhtin
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1821
Com a democratização do acesso às tecnologias da informação e da comunicação, as
interações sociais têm sido redimensionadas, seja em função da dinamicidade dos tempos e dos
espaços, seja em função da multiplicidade semiótica e cultural que constitui os processos de
comunicação. Nesse contexto, surgem demandas de novas reflexões acerca dos modos como as
mídias podem ser inseridas no currículo escolar como uma prática de formação. Pensar a inter-
relação entre as produções midiáticas e os processos de ensino e de aprendizagem implica, entre
outras estratégias, articular saberes produzidos pela área da Educação e da Comunicação.
Nessa perspectiva, a Educomunicação tem se constituído como uma área de
conhecimento notadamente profícua, ao utilizar os meios da esfera midiática como suportes
didáticos não somente como recursos para o acesso à informação, mas, sobretudo, como
possibilidades para a problematização de discursos que circulam socialmente, para uma
formação crítico-reflexiva, para uma atuação cidadã mais efetiva e para a promoção de práticas
de linguagens que viabilizem um posicionamento mais ativo e responsivo, seja por meio de
uma mídia que educa, seja por uma educação que informa.
As discussões empreendidas pelo campo da Educomunicação têm favorecido uma
ressignificação das bases epistemológicas e metodológicas do lugar das mídias no contexto
escolar, bem como uma discussão axiológica sobre o papel do professor nesse contexto
histórico multimidiático. Essas questões assumem relevância na medida em que fundamentam
o desenvolvimento de abordagens didáticas teoricamente sustentadas, “de maneira a ultrapassar
o caráter técnico e do consumo, mas reconhecendo estas tecnologias como portadoras de
discursos e de práticas culturais” (ARRUDA, 2013, p. 238).
Nessa direção, a Base Nacional Curricular Comum
–
BNCC (BRASIL, 2018, p. 61),
um dos documentos parametrizadores da educação brasileira, destaca que
[...] é importante que a instituição escolar preserve seu compromisso de
estimular a reflexão e a análise aprofundada e contribua para o
desenvolvimento no estudante, de uma atitude crítica em relação ao conteúdo
e à multiplicidade de ofertas midiáticas e digitais. Contudo, também é
imprescindível que a escola compreenda e incorpore mais as novas linguagens
e seus modos de funcionamento, desvendando possibilidades de comunicação
(e também de manipulação), e que eduque para usos mais democráticos das
tecnologias e para uma participação mais consciente na cultura digital. Ao
aproveitar o potencial de comunicação do universo digital, a escola pode
instituir novos modos de promover a aprendizagem, a interação e o
compartilhamento de significados entre professores e estudantes.
Assim, práticas educativas que contemplem a comunicação do universo digital, tal como
proposto pelo excerto supracitado, demandam uma formação docente pautada em pressupostos
teóricos e metodológicos fundamentados em uma concepção de linguagem como processo
image/svg+xml
Madalena Pereira da SILVA, Helena Maria FERREIRA e Joel Cezar BONIN
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1822
dialógico-discursivo e em uma concepção de educação como possibilidade de transformação
social. Pensar em comunicação, na contemporaneidade, implica pensar nos usos sociais da
linguagem, nos processos de produção, de circulação e de recepção dos discursos, nas redes de
sentidos historicamente situados, na enunciação como um ato responsável e responsivo, na
(des)construção de pontos de vista como ação basilar para o processo de produção de sentidos,
bem como conceber a educação como espaço de formação para o exercício da cidadania.
Assim, mesmo reconhecendo a multiplicidade de direcionamentos que a articulação
entre comunicação e educação convoca, este artigo delimita sua proposta de discussão nas
contribuições dos pressupostos teóricos defendidos por Paulo Freire (1983, 1987, 1996, 2002)
e pelo Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 2011; VOLÓCHINOV, 2017) para uma reflexão acerca
do campo da Educomunicação. A seleção desses teóricos como aportes bibliográficos para a
reflexão aqui proposta se fundamenta na perspectiva da educação libertadora, de Paulo Freire,
e na concepção de comunicação como processo discursivo-dialógico, defendida pelo Círculo
de Bakhtin. Essa articulação encontra respaldo em pesquisas realizadas por Xavier (2018), que
destaca as contribuições de tais teóricos para a fundamentação epistemológica dos estudos no
campo da Educomunicação, seja em relação à concepção de educação (pedagogia libertadora),
seja em relação às concepções de linguagem e de sujeito, que engendram modos de ser e de
estar no mundo.
Para Xavier, Almeida e Nascimento (2015, p. 86-87):
A Educomunicação, área do conhecimento que estabelece o diálogo entre
Educação e Comunicação, enfatiza a produtividade da utilização dos meios da
esfera midiática como suportes didáticos. A ênfase está na preocupação em
desenvolver no aluno a capacidade de se posicionar criticamente diante de sua
realidade social. Trazer para o espaço escolar o uso de recursos midiáticos se
justifica pela necessidade de se refletir sobre Educação e Comunicação, visto
que ambas instâncias letradas, escola e mídia, buscam informar o indivíduo
na perspectiva da formação, da construção identitária de um sujeito que pensa
e que age ativamente na sua sociedade. Esta prática reforça a função
pedagógica emitida pela produção de conteúdos informativos em textos
midiáticos e estimula a formação de um sujeito crítico-reflexivo, objetivo
principal da Educação.
Partindo do princípio de que o papel da escola é formar para a cidadania, toda ação
educativa deve estar articulada à vida cotidiana, constituindo-se como um processo
essencialmente humano e histórico e, portanto, inconcluso. Assim, articular educação e
comunicação representa uma possibilidade de uso das produções midiáticas, tanto para
aprofundar conhecimentos, quanto para desenvolver estratégias de transformação da vida
image/svg+xml
As contribuições da educomunicação para a formação de sujeitos críticos: Um diálogo entre os pressupostos teóricos de Paulo Freire e do
círculo de Mikhail Bakhtin
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1823
social, favorecendo um agir discursivo dos sujeitos na sociedade e na história, como
instrumento de “construção” e “apreensão” do mundo.
Nessa direção, o presente artigo se caracteriza por uma investigação teórica, de natureza
qualitativa, mais especificamente, por uma abordagem epistemológica de cunho interpretativo,
buscando aproximações entre teorias e apresentando posicionamentos acerca de duas questões:
a noção de sujeito e a noção da palavra ideológica, que constituem as bases para a articulação
entre comunicação e educação. Desse modo, não se busca construir uma nova teoria, mas
analisar a complexidade de conceitos basilares para uma compreensão das interações
possibilitadas pelas mídias.
Para fins de organização, este trabalho apresenta uma reflexão acerca dos pressupostos
teóricos e metodológicos da Educomunicação e das contribuições dos aportes do Círculo de
Bakhtin e de Paulo Freire para uma abordagem dialógico-discursiva das mídias no contexto da
educação, constituída a partir das seções que seguem.
Educomunicação: pressupostos epistemológicos e metodológicos
Considerando que a escola pode ser a principal instituição capaz de minimizar as
desigualdades e de promover transformações sociais, as Tecnologias Digitais da Informação e
Comunicação (TDIC) podem ser incorporadas ao processo educativo, de forma crítica,
reconhecendo suas repercussões na formação ou na deformação humana em virtude de uma
construção do sujeito empresário de si decorrente do neoliberalismo (FOUCAULT, 2008) ou
na missão de uma educação em um contexto de globalização, amparada no compromisso
colaborativo,
que visa “[…] fortalecer as condições de possibilidade da emergência de uma
sociedade-mundo composta por cidadãos protagonistas, conscientes e criticamente
comprometidos com a construção de uma civilização planetária” (MORIN; CI
URANA;
MOTTA, 2003, p. 98).
Na sociedade-mundo, o conhecimento é construído historicamente pelas condições
culturais, políticas, econômicas, antropológicas, entre outras. Nesse contexto, as TDIC têm
contribuído para disseminar a informação, ampliar “[...]
as relações, usos e sentidos que os
sujeitos estabelecem com os meios tecnológicos, produzindo uma rede tecnológica intelectual
ou informacional [...]” (RABELO, 2008, p. 155). Contudo, há que se considerar que “[...] a
tecnologia contribuiu pouco para a emancipação dos excluídos se não for associada ao exercício
da cidadania” (GADOTTI, 2000, p. 10).
Nessa direção, é válido destacar que, segundo Freire e Guimarães (1984, p. 83),
image/svg+xml
Madalena Pereira da SILVA, Helena Maria FERREIRA e Joel Cezar BONIN
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1824
[...] é impossível pensar o problema dos meios sem pensar a questão do poder.
Os meios de comunicação não são bons nem ruins em si mesmos. Servindo-
se de técnicas, eles são o resultado do avanço da tecnologia, são expressões
da criatividade humana, da ciência desenvolvida pelo ser humano. O problema
é perguntar a serviço do que e à serviço de quem os meios de comunicação se
acham. E esta é uma questão que tem a ver com o poder e é política, portanto.
É preciso destacar que o uso das TDIC não se limita apenas como recurso educativo,
“[...]
mas como recursos midiáticos capazes de ajudar a religar saberes, colaborar e fornecer
métodos às demais áreas do conhecimento, de promover a inclusão, a interatividade, a
colaboração e a dialogicidade [...]” (SILVA; AGUIAR; JURADO, 20
20, p. 186).
Nessa perspectiva, parte-se do pressuposto que é necessária à construção dos
“ecossistemas comunicativos” provenientes das inter
-relações da Educação e Comunicação
(MARTÍN-BARBERO, 1996). Esse conceito foi articulado pelo autor, não apenas pensando
nas tecnologias e meios de comunicação, mas também pela trama de configurações constituída
pelo conjunto de linguagens, representações e narrativas presentes em nossa vida cotidiana de
modo transversal (MARTÍN-BARBERO, 2000).
Para Martín-Barbero (1996, p. 215), é preciso
[...] pensar no ecossistema comunicativo que constitui o entorno educacional
difuso e descentrado em que estamos imersos. Um entorno difuso, pois está
composto de uma mescla de linguagens e saberes que circulam por diversos
dispositivos midiáticos, mas densa e intrinsecamente interconectados; e
descentrados pela relação com os dois centros: escola e livro que há vários
séculos organizam o sistema educacional [...].
Soares (2002) defende um ecossistema comunicativo que oportunize um ambiente de
diálogo equilibrado, no qual todos os agentes sociais se manifestam livre e respeitosamente em
uma dialogicidade em prol dos interesses coletivos. Para o autor, o ecossistema
educomunicativo persegue o “[...] ideal de relações, construído coletivame
nte em dado espaço,
em decorrência de uma decisão estratégica de favorecer o diálogo social, levando em conta,
inclusive, as potencialidades dos meios de comunicação e de suas tecnologias” (SOARES,
2011, p. 44).
A educomunicação, uma vez que se apropria de diferentes recursos midiáticos (rádio
escola,
web
rádio virtual, jornal comunitário, videogames,
softwares
de aprendizagem
online
,
podcasts, blogs
, fotografia, produção de notícias para veiculação em mídias livres, entre
outros), dinamiza o diálogo, a participação e a criatividade dos agentes interdiscursivos, na
educação formal, não formal e informal, enfim, “[...] no interior do ecossistema comunicativo”
(CITELLI; COSTA, 2011, p. 8). É pautada na abordagem interdisciplinar (possivelmente
image/svg+xml
As contribuições da educomunicação para a formação de sujeitos críticos: Um diálogo entre os pressupostos teóricos de Paulo Freire e do
círculo de Mikhail Bakhtin
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1825
transdisciplinar) e midiática, se compromete em evidenciar as demandas e propor ações em prol
das transformações sociais.
Nesse sentido, é válido ponderar que a Educomunicação tem como grande desafio
“aproximar a comunicação da educação e a educação da comunicação”, porta
nto, é muito mais
que a união das duas áreas do conhecimento, embora precedente desta junção, vai além ao tratar
da inter-relação entre ambas, resultando em um novo campo teórico-prático de intervenção
social, colocado pelo autor como “caminho para a cidadania” (SOARES, 2003).
Para o autor, a intervenção da educação para a comunicação busca refletir sobre o lugar
da mídia na sociedade, suas funções e contradições, e tem como objetivo compreender os
fenômenos da comunicação em nível interpessoal, grupal, organizacional e massivo. Essa área
é “[...] constituída pelas reflexões em torno da relação entre os pólos vivos do processo de
comunicação, assim como, no campo pedagógico, pelos programas de formação de receptores
autônomos e críticos ante aos meios” (SOAR
ES, 2011, p. 26).
Diante do exposto por Soares (2011), se faz assaz necessário apresentar um outro teórico
(mesmo que não seja o principal em nossa discussão), que pode ser considerado um dos
pioneiros no debate acerca da ação comunicativa. Tal conceito não é algo tão novo quanto
aparenta, pois nos anos 1980 o pensador alemão Jürgen Habermas foi um dos grandes
debatedores acerca do problema das relações comunicativas. Segundo Habermas (2012)
4
, as
relações sociais estariam delineadas por um agir instrumental, segundo o qual os seres humanos
agiriam somente marcados por cálculos de ganho e perda, de vantagens e desvantagens. Essa
instrumentalização no agir teria solapado o mundo cotidiano e reduzido tudo a ações destituídas
de valor ou sentido. Nesse caso, Habermas (2012) propõe um agir comunicativo capaz de religar
o mundo da vida cotidiana com proposições e sentidos mais amplos, nos quais os seres humanos
seriam capazes de reconhecer eticamente o valor de si e dos outros, numa perspectiva
intersubjetiva. Luiz Martins da Silva (1999, p. 182) explica isso de modo muito claro quando
diz que:
[...] uma teoria da ação comunicativa pode encontrar numa prática
comunicativa cotidiana
–
inclusive de comunicação de massa e num contexto
de cultura de massa
–
interações dialógicas e autônomas e, portanto,
construtivas e emancipatórias [...].
Exatamente por isso, é preciso entender que, como já nos afirmou Freire (1984, p. 182):
[...] por si, a mídia
–
como qualquer outro engenho técnico
–
não é nem boa
nem ruim, mas o uso que se faz dela é que pode estar a serviço da colonização
4
Vale salientar que o texto original foi publicado em 1981 (
Theorie des Kommunikativen Handels
, vol. 1).
image/svg+xml
Madalena Pereira da SILVA, Helena Maria FERREIRA e Joel Cezar BONIN
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1826
do mundo da vida pelo mundo sistêmico (do poder e do dinheiro) ou, ao
contrário, em favor da promoção do mundo da vida, no que este depende de
interações isentas de ações estratégicas, aquelas que privilegiam, acima de
tudo, o êxito instrumental de um sujeito sobre o outro [...].
Dessa forma, quando Silva aponta a questão da possível “neutralidade midiática”, isso
envolveria fortemente o mundo virtual ou tecnológico com o qual condividimos a vida, para
além das ações interpessoais dadas de forma presencial. Desse modo, a internet representaria
uma grande
ágora
virtual, onde a
isegoria
se manifestaria plenamente, sem rótulos ou
instrumentalizações. Isso é muito bem exposto por Francisco Paulo Jamil Almeida Marques
(2006, p. 167), quando afirma que:
O direito de uso da palavra, a isegoria, conforme chamavam os atenienses, o
poder falar em "assembléia", daria à internet [...] a propriedade fundamental
para o estabelecimento de um espaço argumentativo digital, o que tornaria o
computador um meio de comunicação diferenciado em termos políticos.
(destaque do autor)
É evidente que essa ideia não dá conta de abarcar toda compreensão acerca da amplitude
da Educomunicação, mas é uma forma de salientar que o trabalho de pesquisa sobre o papel da
comunicação não é dado apenas em função da grande proliferação hodierna de meios
comunicativos. O debate acerca da comunicação tem ganhado grande notoriedade em virtude
da expansão e celeridade dos processos de divulgação de informações, mas isso não quer dizer
que seja algo absolutamente novo. Não obstante, há uma questão nova: como a educação, algo
tão antigo, se alia a essas novas formas de comunicação? O nó górdio não está no tema em si,
mas na forma como essas novas formas impactam os processos de formação social e
educacional. E, por esse motivo, quer-se apresentar neste momento o pensamento do Círculo
de Bakhtin e de Freire como fundamento para essa associação entre educação e comunicação.
As contribuições de Freire e do Círculo de Bakhtin para a formação de sujeitos críticos:
bases para a construção de referenciais para o campo da Educomunicação
Considerando que o objeto de estudo da Educomunicação consiste na articulação entre
dois campos do conhecimento: comunicação e educação, é relevante relacionar pressupostos
teóricos que permitam uma abordagem interdisciplinar convocada por esse campo. Nesse
sentido, este artigo se pauta na teoria da ação dialógica de Freire (1983, 1987, 1996, 2002) e na
Filosofia da Linguagem, do Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 2011; VOLÓCHINOV, 2017).
A aproximação entre as obras desses dois autores e a mobilização de suas referências
epistemológicas e teóricas para se pensar o campo da Educomunicação poderão favorecer uma
image/svg+xml
As contribuições da educomunicação para a formação de sujeitos críticos: Um diálogo entre os pressupostos teóricos de Paulo Freire e do
círculo de Mikhail Bakhtin
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1827
fundamentação capaz de promover uma abordagem pautada em uma dimensão dialógico-
discursiva das produções midiáticas, de modo a formar leitores críticos e responsivos.
Embora em seus escritos o Círculo de Bakhtin não aborde, de modo recorrente, a
temática da educação, suas contribuições residem na caracterização da natureza dialógica da
linguagem, na constituição dos sujeitos e nos processos ideológicos
5
. Já Freire (1983, 1987)
traz contribuições para se pensar a dimensão pedagógica. Para a organização da discussão aqui
proposta serão abordados dois conceitos que sistematizam a aproximação entre os dois teóricos
supracitados.
O primeiro deles reside no princípio de que as bases epistemológicas inerentes ao campo
da Educomunicação assumem uma concepção de sujeito ativo, o que coaduna com as teorias
de Freire e do Círculo de Bakhtin. Para Freire, a atividade educativa deve se pautar na relação,
na troca, no diálogo, na desconstrução e no debate acerca dos conteúdos e dos valores sociais.
O autor critica a ideia de “educação bancária”, em que “o educador aparece como seu
indiscutível agente, como seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é ‘encher’ os educandos dos
con
teúdos de sua narração” (FREIRE, 1987, p. 37
, destaque do autor). Nessa mesma direção,
Volóchinov (2017) considera que a comunicação humana se efetiva no processo dialógico entre
os interlocutores investidos nessa ação, envolvendo não apenas os locutores imediatos, mas
também o outro discursivo da relação dialógica.
Nessa direção, Freire (1987, p. 108) destaca que:
A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco
pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os
homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo,
é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado
aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar.
Em relação à concepção de sujeitos, Bakhtin (2011) considera que o sujeito da
enunciação não é um ser passivo, mas responsável e responsivo; responsável porque pressupõe
a consciência de que as opções epistemológicas feitas por ele são sempre de natureza ideológica
e política e têm implicações éticas na vida de outrem; responsivo porque todo sujeito adota para
consigo uma atitude responsiva, podendo assumir posições diversas (concordar, discordar,
discutir, direcionar, ampliar, aplicar, associar, exemplificar) em relação ao que está sendo
5
Para Szundy (2014, p. 15), “por pr
essupor que em diálogos sempre situados cultural, histórica e ideologicamente
somos transformados e capazes de transformar os inúmeros contextos em que interagimos com outrem, as
concepções do Círculo [de Bakhtin] são constantemente ressituadas e ressignificadas no campo educacional, o que
certamente ocorre porque esse movimento dialético de transformar e ser transformado abre caminhos para o que
Freire (1992) designou pedagogia da esperança”. Para a autora, é possível estabelecer um diálogo profícuo entre
as concepções do Círculo e da Pedagogia Freiriana, seja pela convergência de pressupostos, seja pela possibilidade
de revolucionar e redesenhar os processos históricos.
image/svg+xml
Madalena Pereira da SILVA, Helena Maria FERREIRA e Joel Cezar BONIN
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1828
“dito”, atuando de forma ativa no ato enunciativo. Nos projetos ligados à proposta da
Educomunicação, é relevante considerar a relação entre os sujeitos (interlocutores: produtores,
personagens representados ou profissionais, professores, alunos) e textos/discursos, uma vez
que esses sujeitos participam, de algum modo, no processo de produção de sentidos.
Para Xavier (2018, p. 92),
A Educomunicação é, sem dúvida, uma prática discursiva e está atenta aos
discursos circulados pela mídia, interessa-se por questionar e por responder,
num exercício de leitura crítica, não apenas o que foi dito, mas principalmente,
o como foi dito, quem e quando disse, sob que/quais condições históricas
disseram, a que vozes sociais se filiam. Nessa textura dialógica, a busca pelas
respostas - numa proposta de compreensão delas e não, unicamente, de
identificação, pois ler criticamente não é uma identificação, mas uma
compreensão que incide nos efeitos de sentidos que os enunciados proferidos
pela mídia podem suscitar, que jogos de interesses estão sendo convocados.
O segundo conceito a ser destacado refere-se ao enunciado, como base do processo de
comunicação discursiva. Esse conceito abarca os usos da linguagem, em situações concretas,
possui dimensão valorativa do produtor com o conteúdo do objeto e do sentido e impele o
receptor a exercer uma atitude responsiva, ou seja, expressa uma relação entre interlocutores.
Todo enunciado é apenas um momento, um elo, na cadeia de comunicação discursiva, que é
ininterrupta. Esse elo integra a interação discursiva concreta e a situação extraverbal, que são
partes necessárias de sua constituição e de seu sentido. Essa questão é bastante cara aos estudos
da comunicação, uma vez que explicita o fato de não existir um enunciado absolutamente
neutro. Assim, o uso do termo “palavra” n
ão se aproxima da ideia de termo designativo, mas
de possibilidades de sentido. Assim, cabe uma ponderação, pois existe a palavra da língua
(significação constante, normalmente encontrada em dicionário) e a palavra ideológica (signo
ideológico, situado sócio historicamente e valorado pelos sujeitos no tempo e no espaço).
Assumindo a ideia de palavra no sentido de signo, Freire (1987, p. 10, grifo do autor),
compreende que “a palavra como comportamento humano, significante do mundo, não designa
apenas as coisas, transforma-
as. Não é só pensamento, é ‘práxis’. Assim considerada,
a
semântica é existência e a palavra viva plenifica-
se no trabalho”. Em outras palavras, “a palavra
viva é diálogo existencial. Expressa e elabora o mundo, em comunicação e colaboração. O
diálogo autêntico
–
reconhecimento do outro e reconhecimento de si, no outro
–
é decisão e
compromisso de colaborar na construção do mundo comum” (FREIRE, 1987, p. 28).
Nessa concepção de palavra viva, Volóchinov (2017, p. 106) atesta que
O importante não é tanto a natureza sígnica das palavras, mas a sua
onipresença social. Pois a palavra participa literalmente de toda interação e de
image/svg+xml
As contribuições da educomunicação para a formação de sujeitos críticos: Um diálogo entre os pressupostos teóricos de Paulo Freire e do
círculo de Mikhail Bakhtin
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1829
todo contato entre as pessoas: da colaboração no trabalho, da comunicação
ideológica, dos contatos eventuais cotidianos, das relações políticas etc. Na
palavra se realizam os inúmeros fios ideológicos que penetram todas as áreas
da comunicação social. É bastante óbvio que a palavra será o indicador mais
sensível das mudanças sociais, sendo que isso ocorre lá onde essas mudanças
ainda estão se formando, onde elas ainda não se construíram em sistemas
ideológicos organizados. [...] A palavra é capaz de fixar todas as fases
transitórias das mudanças sociais, por mais delicadas e passageiras que elas
sejam.
Ao considerarem que a palavra não se reduz a mera nomenclatura, Freire e o Círculo de
Bakhtin emprestam contribuições para uma reflexão acerca do trabalho com produções
midiáticas em contexto escolar, uma vez que apontam para o potencial transformador das
interações sociais. É na e pela linguagem que os sujeitos se constituem, que os sentidos são
produzidos e as interações são construídas.
Para Volóchinov (2017, p. 205, destaque do autor),
A importância da orientação da palavra para o interlocutor é extremamente
grande. Em sua essência, a palavra é um ato bilateral. Ela é determinada tanto
por aquele de quem ela procede quanto por aquele para quem se dirige.
Enquanto palavra, ela é justamente o produto das interrelações do falante com
o ouvinte. Toda palavra serve de expressão ao "um" em relação ao "outro".
Na palavra, eu dou forma a mim mesmo do ponto de vista do outro e, por fim,
da perspectiva da minha coletividade. A palavra é uma ponte que liga o eu ao
outro. Ela apoia uma das extremidades em mim e a outra no interlocutor. A
palavra é o território comum entre o falante e o interlocutor.
Ao considerar a relação entre
o “eu” e o “outro”, tanto Freire quanto o Círculo de Bakhtin
apontam para a dimensão dialógica do processo de comunicação, permitindo compreender as
produções midiáticas como enunciados. Essa concepção fundamenta as propostas
educomunicativas, possibilitando uma análise dos contextos de produção, de circulação, de
recepção, a problematização das escolhas e dos efeitos de sentidos dos recursos linguísticos e
semióticos, bem como uma discussão da vinculação dos enunciados às ideologias que situam
posições axiológicas. Assim, no contexto da Educomunicação, é relevante que as propostas de
leitura das produções midiáticas sejam propulsoras de transformações, sejam elas manifestadas
pela ampliação de saberes culturais, sejam elas manifestadas pela mudança de comportamento
ou de pontos de vista. Na E
ducomunicação, “
[...] é importante dispensar o olhar especioso
acerca das mudanças tecnológicas e suas implicações sociais e culturais; entretanto, é
necessário fazê-lo em abertura crítico-
reflexiva” (CITELLI
; SOARES; LOPES, 2019, p. 20).
A Educomunicação pode contribuir para uma formação de sujeitos sociais, uma vez que
assume como objetivos precípuos: (1) promover o acesso democrático à produção e à difusão
de informação; (2) facilitar a percepção crítica da maneira como o mundo é editado nos meios;
image/svg+xml
Madalena Pereira da SILVA, Helena Maria FERREIRA e Joel Cezar BONIN
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1830
(3) facilitar o ensino/aprendizado por meio do uso criativo dos meios de comunicação; (4)
promover a expressão comunicativa dos membros da comunidade educativa; (5) compartilhar,
trocar e formar entendimento entre as pessoas, em relação ao planejamento, à implementação e
à avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e a fortalecer ecossistemas
comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais, ou outros espaços sociais
(SOARES, 2002).
Nesse sentido, a concepção de palavra se amplia para o contexto do processo de
enunciação (contexto de produção e de recepção dos discursos), abarcando dimensões
linguísticas, semióticas, ideológicas e culturais, o que imputa uma necessária articulação com
o conceito de enunciado, que se organiza em forma de cadeia, articulando-se com enunciados
anteriores, suscitando outros e favorecendo processos de produção de sentidos que consideram
a dimensão socio-ideológica das produções midiáticas.
Segundo Arruda (2013, p. 238, destaque do autor),
[...] a escola é espaço para se compreender a transformação advinda das
tecnologias digitais. A escola é lugar da crítica, do posicionamento, da busca
pela compreensão dos significados e significantes destas tecnologias. É onde
se busca compreender os discursos, as estratégias de produção, as maneiras
como as tecnologias são apreendidas e como seus discursos são incorporados
(ou não) pelas nossas ações. Ou seja, espera-se que a escola forme, de maneira
sistematizada, “nas e para as mídias”, uma vez que elas são as atuais
portadoras dos conteúdos apreendidos pelas pessoas.
Diante do exposto, é válido destacar que a escola não é mais o único espaço em que
crianças e jovens aprendem sobre o mundo, interagem e produzem conhecimento. E essa
realidade torna-se ainda mais evidente atualmente, em que o acesso às Novas Tecnologias da
Informação e Comunicação (NTIC) tem sido ampliado, proporcionando experiências lúdicas e
de aprendizagem mais atrativas que o método formal de ensino adotado pelas escolas. E, nesse
contexto, o estudante tem a possibilidade de, além de participar da atividade de recepção de
conteúdos diversos, exercitar a autoria, uma vez que pode estabelecer espaços próprios de
comunicação e, a partir deles, interagir com outros jovens e adultos.
Freire (1996) compreende a educação como uma atividade que depende do ato
comunicativo para a construção do conhecimento. O ato comunicativo não pode ser separado
da situação específica ou do contexto cultural mais amplo que o circunda, daí a importância de
valorizar os conhecimentos prévios dos agentes humanos e trazer para o debate assuntos que
façam sentido aos a
gentes interdiscursivos. A educação como prática da liberdade “não inicia
quando educador-
educando estão em ‘situação pedagógica’, mas quando o educador se
image/svg+xml
As contribuições da educomunicação para a formação de sujeitos críticos: Um diálogo entre os pressupostos teóricos de Paulo Freire e do
círculo de Mikhail Bakhtin
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1831
questiona sobre o ‘conteúdo do diálogo’ e dos ‘conteúdos programáticos da educação’”
(FREIRE, 1996, p. 116, grifo do autor).
Assim, na prática viva da língua, a consciência linguística do locutor e do
receptor nada tem a ver com um sistema abstrato de formas normativas, mas
apenas com a linguagem no sentido de conjunto dos contextos possíveis de
uso de cada forma particular [...] (FREIRE, 1996, p. 96)
Ou seja, o diálogo se estabelece graças aos enunciados concretos que se ouvem ou se
reproduzem na comunicação efetiva com as pessoas envolvidas nas interações. Nessa
perspectiva, Beth Brait (2013) destaca que um enunciado sempre é modulado pelo falante para
o contexto social, histórico, cultural e ideológico, pois do contrário, esse enunciado não será
compreendido.
Miotello (2020) complementa que, por meio do diálogo, as palavras nos constituem, nos
alteram, logo, elas são uma relação de alteridade. E, ao nos alterar, vão nos constituindo e não
nos completando, mas nos fazendo diferentes. Isso porque o diálogo não se limita na relação
eu-
tu, “[...] é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1987, p. 45) que
usamos para pronunciá-lo.
Nessa direção, é relevante que a escola desenvolva estratégias metodológicas para uma
análise “do dizer” proposto pelos produtores de textos midiáticos, de modo a propiciar espaços
para uma formação crítica por parte dos alunos, seja na dimensão dos modos de organização
dessas produções, seja na dimensão dos discursos que são veiculados ou ainda na dimensão das
potencialidades de transformação social emanadas dos processos de interação suscitados pelas
atividades didáticas.
Como forma de contribuir com o desenvolvimento dessas estratégias, no Quadro 1 são
apresentadas possibilidades de exploração das produções midiáticas no âmbito das dimensões
composicional, discursiva e social.
Quadro 1
–
Possibilidades de exploração das produções midiáticas
Dimensões
Possibilidades de análise
Dimensão
composicional
Como a produção encontra-se organizada em termos de configuração:
a)
partes constituintes;
b)
tipos de recursos (linguísticos e semióticos).
Dimensão
discursiva
Como a produção explora a dimensão discursiva:
a)
exploração do projeto de dizer (propósito comunicativo da
produção);
b)
exploração do tempo e do espaço;
image/svg+xml
Madalena Pereira da SILVA, Helena Maria FERREIRA e Joel Cezar BONIN
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1832
Dimensões
Possibilidades de análise
c)
presença de modalidades de linguagens (oral, escrita, sonora e
imagética);
d)
exploração dos efeitos de sentidos suscitados pelas escolhas e
pelas combinações de recursos linguísticos e semióticos;
e)
exploração dos modos de representação (cortes e edições,
enquadramentos, sons, movimentos, ângulos, tempo de exibição,
se for o caso).
Dimensão social
Como a produção insere-se no contexto social:
a)
exploração do conteúdo temático;
b)
análise das condições de recepção por parte dos interlocutores e
dos alunos que interagem com a produção;
c)
modos de representação dos contextos retratados;
d)
posições axiológicas sugestionadas.
Fonte: Elaborado pelos autores
Uma análise das diversas questões que compõem o processo de produção, de circulação
e de recepção dos meios midiáticos pode permitir a instauração de situações educativas, com
intencionalidade pedagógica pautada na reflexão crítica acerca dos modos de configuração e de
funcionamento social das mídias. Isso é confirmado por Mercado (2002, p. 27), quando enuncia
que:
A escola, como agência de socialização, de inserção das novas gerações nos
valores do grupo social, tem o compromisso de propiciar ao aluno o
desenvolvimento de habilidades e competências, como: domínio da leitura,
que implica compreensão da escrita; capacidade de comunicar-se; domínio
das novas tecnologias da informação e de produção; habilidade de trabalhar
em grupo; competência para identificar e resolver problemas; leitura crítica
dos meios de comunicação de massa; capacidade de criticar a mudança social.
Assim, a articulação entre educação e comunicação possibilita uma análise das
especificidades peculiares de cada campo. Considerar os pressupostos epistemológicos,
metodológicos e axiológicos que constituem a ação educativa pode possibilitar uma pedagogia
menos intuitiva. Considerar os princípios e valores da comunicação pode contribuir para a
compreensão das mídias e das tecnologias como espaços de produção de sentidos e como
mediadoras de interações. Soares (2002, p. 20) afirma que o sentido é “que provoca a
aprendizagem, não a tecnologia”.
image/svg+xml
As contribuições da educomunicação para a formação de sujeitos críticos: Um diálogo entre os pressupostos teóricos de Paulo Freire e do
círculo de Mikhail Bakhtin
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1833
Considerações finais
Este artigo se propôs a refletir acerca das contribuições dos pressupostos teóricos
defendidos por Paulo Freire e pelo Círculo de Bakhtin para o campo da Educomunicação. Essa
reflexão foi motivada pela necessidade de se problematizar o contexto social contemporâneo,
marcado pela disseminação das tecnologias e pela ressignificação dos processos de
comunicação, o que tem demandado das instituições escolares novos modos de organização
pedagógica e de instauração de interações entre os sujeitos.
Diante do exposto, ao assumir um posicionamento epistemológico de que a articulação
entre comunicação e educação deve estar pautada na dialogicidade entre sujeitos e visar às
transformações sociais, este estudo considerou que os pressupostos teóricos do Círculo de
Bakhtin e de Paulo Freire assumem relevância para a discussão aqui proposta, uma vez que
permitem uma abordagem que considere as dimensões dos usos da linguagem nos contextos
midiáticos e da pedagogia libertadora. Na perspectiva da dialogicidade, é relevante considerar
que os sujeitos se constituem na e pela linguagem, em interação com outros interlocutores, de
modo responsivo-ativo. Na perspectiva da educação, é importante considerar a ação pedagógica
como um ato político, de construção do conhecimento e de criação de outra sociedade: mais
ética, mais justa, mais humana e mais solidária.
Nessa direção, a Educomunicação se preocupa com os processos formativos e
transformadores, tendo a comunicação como um eixo transversal das práticas humanas; da
inseparabilidade do processo de construção do conhecimento, como sendo um processo
comunicativo. A concepção epistemológica se fundamenta no processo dialógico que se
estabelece por meio da linguagem entre os agentes interdiscursivos. Assim, Paulo Freire (1983,
1987, 1996, 2002) e Bakhtin (2011) e Volóchinov (2017) trazem contribuições para a
construção de aportes teóricos imbricados na educação e na comunicação.
Destaca-se que Paulo Freire, em várias obras, traz contribuições primordiais que
interligam o processo de comunicar (interação) ao processo de educação, pois concebe que o
comunicar constró
i o saber por meio de “sujeitos interlocutores que buscam a construção dos
significados”
(FREIRE, 1983, p. 69). O autor destaca que a comunicação só se efetiva quando
“[...] a expressão verbal de um dos sujeitos tem que ser percebida dentro de um quadro
significativo comum ao outro sujeito” (FREIRE, 1983, p. 45). Além disso, o autor reconhece o
potencial transformador da educação, pois a partir dela, os agentes sociais podem aprender a se
respeitar, praticar a alteridade e se valerem da práxis para reflexão e ação no/pelo/sobre/com o
mundo para transformá-lo. Assim, a partir de uma prática reflexiva sobre os modos de produção
image/svg+xml
Madalena Pereira da SILVA, Helena Maria FERREIRA e Joel Cezar BONIN
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1834
e de recepção dos meios de comunicação, é possível ampliar a formação de habilidades
necessárias a uma consciência crítica. Problematizar os discursos e os silenciamentos das
produções midiáticas pode favorecer uma educação dialógica e emancipatória.
Abordando as contribuições do Círculo de Bakhtin, mereceu destaque na discussão aqui
empreendida a concepção de linguagem como um constante processo de interação mediado
pelo diálogo
–
e não apenas como um sistema autônomo, abstrato. Nesse contexto, os usos da
linguagem se efetivam de modo ininterrupto, realizados por meio da interação verbal, social e
entre interlocutores, não sendo um sistema estável de formas normativamente idênticas. Assim,
os sujeitos são vistos como agentes sociais, pois é por meio de diálogos entre os interlocutores
que ocorrem as trocas de experiências e conhecimentos. A enunciação e a concepção dialógica
da linguagem reforçam a presença do Outro (alteridade) na concepção dos sentidos no discurso,
estando o locutor e interlocutor presentes no processo de construção de sentidos.
Por fim, a partir da reflexão aqui proposta, podemos destacar que os princípios basilares
da Educomunicação não se sustentam na mera junção entre as áreas da comunicação e da
educação, mas na sistematização de um referencial epistemológico que explicite a constituição
da Educomunicação como um campo de conhecimento autônomo. Esse campo apresenta
estatuto político-transformador e dialógico-discursivo que permite problematizar as interações
entre sujeitos mediadas pelas mídias e pelas tecnologias, abarcando escolhas linguístico-
semióticas, sinalizações para a (re)construção de sentidos, bem como as intencionalidades
discursivas e seus efeitos para a organização da sociedade. Nessa perspectiva, a
Educomunicação permite a instauração de interações que possibilitam a formação de sujeitos
críticos, na dimensão do empoderamento, da autonomia e do posicionamento responsivo,
culminando em possibilidades efetivas de transformação social e de reconhecimento das
singularidades constitutivas de cada sujeito, cada aprendiz, assim como das diferenças que
constituem os campos da educação e da linguagem.
image/svg+xml
As contribuições da educomunicação para a formação de sujeitos críticos: Um diálogo entre os pressupostos teóricos de Paulo Freire e do
círculo de Mikhail Bakhtin
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1835
REFERÊNCIAS
ARRUDA, E. P. Ensino e aprendizagem na sociedade do entretenimento: Desafios para a
formação docente.
Educação,
v. 36, n. 2, p. 232-239, maio/ago. 2013. Disponível em:
https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/faced/article/view/12036. Acesso em: 08 dez.
2021.
BAKHTIN, M.
Estética da criação verbal
. 6. ed. Tradução: Paulo Bezerra. São Paulo:
Martins Fontes, 2011.
BRAIT, B.
Bakhtin, dialogismo e construção do sentido
.
2. ed. Campinas: Editora da
Unicamp, 2013.
BRASIL.
Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
. Brasília, DF: MEC, 2018.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf. Acesso
em: 27 maio 2021.
CITELLI, A. O.; COSTA, M. C. C. Apresentação.
In
: CITELLI, A. O.; COSTA, M. C. C.
(org.).
Educomunicação
: Construindo uma nova área de conhecimento. São Paulo: Paulinas,
2011.
CITELLI, A.; SOARES, I. O.; LOPES, M. Immacolata Vassallo de. Educomunicação:
Referências para uma construção metodológica.
Comunicação & Educação,
v. 24, n. 2, p.
12-25, 30 dez. 2019. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/165330/159511. Acesso em: 15 mar.
2021.
FREIRE, P.
Extensão ou Comunicação?
7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
FREIRE, P.; GUIMARÃES, S.
Sobre Educação
: Diálogos. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1984. v. 2.
FREIRE, P.
Pedagogia do Oprimido
. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FREIRE, P.
Pedagogia da autonomia
: Saberes Necessários à Prática educativa. 30. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, P.
Educação como prática de liberdade
. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
FOUCAULT, M.
Nascimento da biopolítica
.
São Paulo: Martins Fontes, 2008.
GADOTTI, M. Saber aprender: Um olhar sobre Paulo Freire e as perspectivas atuais da
educação.
Produção de terceiros sobre Paulo Freire
, Série Artigos, 2000. Disponível em:
http://www.acervo.paulofreire.org:8080/jspui/bitstream/7891/2999/1/FPF_PTPF_01_0366.pd
f. Acesso em: 11 dez. 2021.
HABERMAS, J.
Teoria do Agir Comunicativo
: Racionalidade da Ação e Racionalização
Social. Tradução: Paulo Astor Soethe. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.
KAPLÚN, M.
El Comunicador Popular
. Quito: Ciespal, 1985.
image/svg+xml
Madalena Pereira da SILVA, Helena Maria FERREIRA e Joel Cezar BONIN
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1836
MERCADO, L. P. L. (org.).
Novas tecnologias na educação
: reflexões sobre a prática.
Maceió: EDUFAL, 2002.
MARQUES, F. P. J. A. Debates Políticos na internet: A perspectiva da conversação civil.
OPINIÃO PÚBLICA
, Campinas, v. 12, n. 1, p. 164-187, abr./maio 2006. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/op/a/rSyVrhtppnpwTcs5Ck6Czbv/abstract/?lang=pt. Acesso em: 27
dez. 2021.
MARTÍN-BARBERO, J. M. Heredando el Futuro
.
Pensar la Educación desde la
Comunicación
, n. 5, p. 10-22, sept. 1996.
MARTÍN-BARBERO, J. M. Retos culturales de la comunicación a la educación: Elementos
para una reflexión que está por comenzar.
Revista Reflexiones Académicas,
Santiago, n. 12,
p. 45-57, 2000. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3990512.
Acesso em: 20 dez. 2021.
MIOTELLO, V.
Profa. Fátima recebe Miotello, um grande linguista brasileiro
.
S.l.
:
Hélcia Macedo Academy, 2020. 1 vídeo (247 min). Disponível em: https://youtu.be/mikT--
_A--w?list=PLrGeUYiDeLL59lstewHa_MP6OptC3Ijyv. Acesso em: 02 jun. 2021.
MORIN, E.; CIURANA, E. R.; MOTTA, R. D.
Educar na era planetária
: O Pensamento
complexo como método de aprendizagem pelo erro e incerteza humana. Tradução: Sandra
Trabucco Valenzuela. São Paulo: Cortez, 2003.
RABELO, D. Abordagens complexas: Algumas premissas educacionais no Cepae.
Revista
Polyphonía,
v. 19, n. 2, p. 151-163, 2008. Disponível em:
https://repositorio.bc.ufg.br/handle/ri/17988. Acesso em: 11 jan. 2021.
SILVA, L. M. A Teoria da Ação Comunicativa no ensino de comunicação.
Revista Tempo
Brasileiro
, Rio de Janeiro, p. 173-190, jul./set. 1999.
SILVA, M. P.; AGUIAR, P. A.; JURADO, R. G. As tecnologias digitais da informação e
comunicação como polinizadoras dos projetos criativos ecoformadores na perspectiva da
educação ambiental.
Revista Polyphonía,
v. 31, n. 1, p. 182-204, 2020. Disponível em:
https://revistas.ufg.br/sv/article/view/66957. Acesso em: 13 jan. 2021.
SOARES, I. O.
Educomunicação
: Um campo de mediações.
Comunicação & Educação
,
São Paulo, n. 19, p. 12- 24, set/dez. 2000. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/36934. Acesso em: 12 ago. 2021.
SOARES. I. O. Metodologias da Educação para Comunicação e Gestão Comunicativa no
Brasil e na América Latina.
In
: BACCEGA, M. A. (org.).
Gestão de Processos
Comunicacionais
.
São Paulo: Atlas, 2002.
SOARES. I. O. A Educomunicação e suas áreas de intervenção.
Educom.TV
, tópico 1,
ECA/USP, 2002. Disponível mediante senha em: http://www.educomtv.see.inf.br/. Acesso
em: 14 set. 2003.
image/svg+xml
As contribuições da educomunicação para a formação de sujeitos críticos: Um diálogo entre os pressupostos teóricos de Paulo Freire e do
círculo de Mikhail Bakhtin
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1837
SOARES. I. O.
Educomunicação
: O conceito, o profissional, a aplicação. São Paulo:
Paulinas, 2011.
SZUNDY, P. T. C. Educação como ato responsável: A formação de professores de linguagens
à luz da filosofia da linguagem do círculo de Bakhtin.
Trabalhos em Linguística Aplicada
,
Campinas, v. 53, n. 1, p. 13-32, 2014. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/tla/a/xdSSh3qFDMRbNpLRm5W4xjh/?format=pdf&lang=pt. Acesso
em: 20 fev. 2022.
VOLÓCHINOV, V.
Marxismo e filosofia da linguagem
: Problemas fundamentais do
método sociológico na ciência da linguagem. Círculo de Bakhtin. Tradução: Sheila Grillo e
Ekaterina V. Américo. São Paulo: Editora 34, 2017.
XAVIER, M. M.; ALMEIDA, M. F.; NASCIMENTO, R. N. A. A educomunicação e a
perspectiva dialógica da linguagem: Por uma educação midiática e uma mídia educativa.
In
.:
PAIVA, R. S.; QUEIROZ, R. (org.).
O texto multifacetado
: Diálogos em língua e literatura.
Campina Grande: Bagagem, 2015.
XAVIER, M. M.
Educomunicação em perspectiva dialógico-discursiva
: Leituras do
jornalismo político no Ensino Médio. 2018. Tese (Doutorado em Linguística)
–
Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 2018. Disponível em:
https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/13775. Acesso em: 19 dez. 2021.
Como referenciar este artigo
SILVA, M. P.; FERREIRA, H. M.; BONIN, J. C. As contribuições da educomunicação para a
formação de sujeitos críticos: Um diálogo entre os pressupostos teóricos de Paulo Freire e do
círculo de Mikhail Bakhtin.
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação
, Araraquara,
v. 17, n. 3, p. 1819-1837, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
Submetido em
:
24/03/2022
Revisões requeridas em
: 19/05/2022
Aprovado em
: 27/06/2022
Publicado em
: 01/07/2022
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
image/svg+xml
Los aportes de la educomunicación a la educación de sujetos críticos: Un diálogo entre los supuestos teóricos de Paulo Freire y el circulo
de Mikhail Bakhtin
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1827-1845, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1827
LOS APORTES DE LA EDUCOMUNICACIÓN A LA EDUCACIÓN DE SUJETOS
CRÍTICOS: UN DIÁLOGO ENTRE LOS SUPUESTOS TEÓRICOS DE PAULO
FREIRE Y EL CIRCULO DE MIKHAIL BAKHTIN
AS CONTRIBUIÇÕES DA EDUCOMUNICAÇÃO PARA A FORMAÇÃO DE SUJEITOS
CRÍTICOS: UM DIÁLOGO ENTRE OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DE PAULO
FREIRE E DO CÍRCULO DE MIKHAIL BAKHTIN
THE CONTRIBUTIONS OF EDUCOMMUNICATION TO THE EDUCATION OF
CRITICAL SUBJECTS: A DIALOGUE BETWEEN PAULO FREIRE'S THEORETICAL
ASSUMPTIONS AND MIKHAIL BAKHTIN'S CIRCLE
Madalena Pereira da SILVA
1
Helena Maria FERREIRA
2
Joel Cezar BONIN
3
RESUMEN
:
La Educomunicación propone una resignificación de las bases epistemológicas y
metodológicas del sitio de las medias en el contexto escolar, así como una discusión axiológica
del papel del profesor en ese nuevo contexto histórico multimediático. Para evidenciar las
contribuciones de la Educomunicación en la formación de sujetos críticos, el artigo suscita un
diálogo entre dos vertientes fundamentales a la comprensión de la Educomunicación: - Freire
y Bakhtin (y su Círculo). La metodología se caracteriza por una investigación teórica, de
naturaleza cualitativa y abordaje epistemológica de carácter interpretativo, que busca por
aproximaciones entre las teorías y presenta posicionamientos acerca de dos cuestiones basales:
la noción de sujeto y de la palabra ideológica. En las discusiones, se percibe que los
presupuestos teóricos permiten un abordaje que considera las dimensiones del uso del lenguaje
en contextos mediáticos que se vuelven a una pedagogía libertadora. Como cierre, se apunta la
idea de que dialógicamente los sujetos se constituyen en/por el lenguaje, pues él ampara una
educación crítica y emancipatoria.
PALABRAS CLAVE
:
Educomunicación. Freire. Bakhtin. Formación. Sujetos críticos.
1
Universidad Alto Vale Do Rio do Peixe (UNIARP), Caçador – SC – Brasil. Docente en el Programa de Maestría
en Educación Básica y Docente en el Programa de Maestría en Educación (PPGE/UNIPLAC). Doctorado en
Ingeniería y Gestión del Conocimiento (UFSC). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8886-2822. E-mail:
prof.madalena@uniplaclages.edu.br
2
Universidad Federal de Lavras (UFLA), Lavras – MG – Brasil. Docente en el Programa de Posgrado en
Educación y en el Programa de Posgrado en Letras. Doctorado en Lingüística Aplicada y Estudios del Lenguaje
(PUC/SP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8749-5426. E-mail: helenaferreira@ufla.br
3
Universidad Alto Vale Do Rio do Peixe (UNIARP), Caçador – SC – Brasil. Docente en el Programa de Maestría
en Educación Básica. Doctorado en Filosofía (PUC/PR). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0437-7609. E-mail:
joel@uniarp.edu.br
image/svg+xml
Madalena Pereira da SILVA, Helena Maria FERREIRA
y
Joel Cezar BONIN
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1827-1845, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1828
RESUMO
: A Educomunicação tem favorecido uma ressignificação das bases epistemológicas
e metodológicas do lugar das mídias no contexto escolar, bem como uma discussão axiológica
do papel do professor nesse novo contexto histórico multimidiático. Para evidenciar as
contribuições da Educomunicação na formação de sujeitos críticos, o artigo suscita um diálogo
entre duas vertentes fundamentais à compreensão da Educomunicação: Freire e Bakhtin (e seu
Círculo). A metodologia caracteriza-se por uma investigação teórica, de natureza qualitativa
e de abordagem epistemológica de cunho interpretativo, que busca aproximações entre as
teorias e apresenta posicionamentos acerca de duas questões fulcrais: a noção de sujeito e da
palavra ideológica. Nas discussões, viu-se que os pressupostos teóricos permitem uma
abordagem que considera as dimensões do uso da linguagem em contextos midiáticos com
vistas a uma pedagogia libertadora. Como fechamento, aponta-se para a ideia de que
dialogicamente os sujeitos se constituem na/pela linguagem, pois ela favorece uma educação
crítica e emancipatória.
PALAVRAS-CHAVE
: Educomunicação. Freire. Bakhtin. Formação. Sujeitos críticos.
ABSTRACT
: Educommunication has favored a re-signification of the epistemological and
methodological bases of the media's place in the school context, as well as an axiological
discussion of the teacher's role in this new multimedia historical context. To highlight the
contributions of Educommunication in the formation of critical subjects, the article raises a
dialogue between two fundamental aspects to the understanding of Educommunication: - Freire
and Bakhtin (and their Circle). The methodology is characterized by a theoretical investigation,
qualitative nature and an epistemological approach of an interpretive nature, which seeks
approximations between theories and presents positions on two key issues: the notion of subject
and the ideological word. In the discussions, it was seen that the theoretical assumptions allow
an approach that considers the dimensions of the use of language in media contexts with a view
to a liberating pedagogy. As a conclusion, we point to the idea that subjects are constituted
dialogically in/by language, as it favors a critical and emancipatory education.
KEYWORDS
: Educommunication. Freire. Bakhtin. Formation. Critical subjects.
Introducción
Comunicar es una aptitud, una capacidad. Pero es sobre todo una actitud.
Suponemos en disposición de comunicar, cultivar en nosotros la voluntad de
entrar en comunicación con nuestros interlocutores. Nuestro destinatário
tiene sus intereses, sus preocupaciones, sus necesidades, sus expectativas.
Está esperando que le hablemos de las cosas que le interesan a él, no de las
que nos interesan a nosotros. Y sólo si partimos de sus intereses, de sus
percepciones, será posible entablar el diálogo con él. Tan importante como
preguntarnos qué queremos nosotros decir, es preguntarnos qué esperan
nuestros destinatários escuchar. Y, a partir de ahí, buscar el punto de
convergencia, de encuentro. La verdadera comunicación no comienza
hablando sino escuchando. La principal condición del buen comunicador es
saber escuchar (KAPLÚN, 1985, p. 115).
image/svg+xml
Los aportes de la educomunicación a la educación de sujetos críticos: Un diálogo entre los supuestos teóricos de Paulo Freire y el circulo
de Mikhail Bakhtin
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1827-1845, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16599
1829
Con la democratización del acceso a las tecnologías de la información y la
comunicación, las interacciones sociales se han redimensionado, ya sea por la dinamización de
tiempos y espacios, o por la multiplicidad semiótica y cultural que constituyen los procesos de
comunicación. En este contexto, se demandan nuevas reflexiones sobre las formas en que los
medios de comunicación pueden insertarse en el currículo escolar como práctica formativa.
Pensar en la interrelación entre las producciones mediáticas y los procesos de enseñanza y
aprendizaje implica, entre otras estrategias, articular el conocimiento producido por el área de
Educación y Comunicación.
En esta perspectiva, educomunicação se ha constituido como un área de conocimiento
notablemente fructífera, utilizando los medios de comunicación de la esfera mediática como
soportes educativos no solo como recursos de acceso a la información, sino, sobre todo, como
posibilidades para la problematización de discursos que circulan socialmente, para una
formación crítico-reflexiva, para una acción ciudadana más efectiva y para la promoción de
prácticas lingüísticas que permitan un posicionamiento más activo y receptivo, ya sea a través
de un medio de comunicación que educa, o por una educación que informa.
Las discusiones emprendidas por el campo de la Educomunicación han favorecido una
resignificación de las bases epistemológicas y metodológicas del lugar de los medios de
comunicación en el contexto escolar, así como una discusión axiológica sobre el papel del