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Modernidade
truncada e descentralização da gestão educacional no Peru: Aspectos da implementação da municipalização (2006
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Revista Ibero
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Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara,
v. 17, n. esp. 3, p.
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, nov. 2022
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ISSN: 1982
-
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DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.3.16622
2456
MODERNIDADE TRUNCADA E DESCENTRALIZAÇÃO DA GESTÃO
EDUCACIONAL NO PERÚ: ASPECTOS DA IMPLEMENTAÇÃO DA
MUNICIPALIZAÇÃO (2006
-
2011)
MODERNIDAD TRUNCA Y DESCENTRALIZACIÓN DE LA GESTIÓN EDUCATIVA
EN PERÚ:
ASPECTOS DE LA IMPLEMENTACIÓN DE LA MUNICIPALIZACIÓN
(2006
-
2011)
TRUNCATED MODERNITY AND DECENTRALIZATION OF EDUCATIONAL
MANAGEMENT IN PERU: ASPECTS OF THE
IMPLEMENTATION OF
MUNICIPALIZATION (2006
-
2011)
Haydeé Liliana Vera ROJAS
1
Antonia Almeida SILVA
2
RESUMO:
Este artigo analisa a relação entre modernização e descentralização da educação no
Peru, no governo do presidente Alan García Pérez, de 2006 a 2011, quando foi instituído o
Plano de Municipalização da Gestão Educativa e Delineamentos do Plano Piloto em 200
7.
Trata
-
se de uma investigação de natureza documental, com enfoque crítico,
tendo como fontes
documentos oficiais, impressos ou digitais, além da bibliografia qualificada da área. Orientam
as análises as categorias: gestão, descentralização e modernidade.
A investigação revelou que
a implementação da política de descentralização da gestão, amparada na municipalização,
traduziu
-
se na fragmentação das ações do Estado e na promoção da autonomia por decreto. A
modernidade se expressou, no contexto, como ingred
iente de
persuasão
ideológica em favor
dos interesses privados e não alcançou mudanças quanto à desregulação e devolução do poder
do Estado à sociedade.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Descentralização. Modernização. Gestão da educação.
Municipalização. Implementação.
RESUMEN:
Este artículo analiza la relación entre modernización y descentralización de la
educación en el Perú, durante el gobierno del presidente Alan García Pérez, de 2006 a 2011,
cuando se instituyó el Plan de Municipalización de la Gestión Educativa y el Esquema
del Plan
Piloto 2007. Es una investigación documental, con un enfoque crítico, teniendo como fuentes
documentos oficiales, impresos o digitales, además de la bibliografía calificada. Las siguientes
categorías orientan el análisis: gestión, descentralizaci
ón y modernidad. La investigación
reveló que la implementación de la política de descentralización de la gestión, apoyada en la
municipalización, resultó en la fragmentación de las acciones del Estado y la promoción de la
1
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
–
BA
–
Brasil.
Mestre em Educação. Pesquisa apoiada pela
CAPES, por meio de bolsa de mestrado. Professor de educação básica no Peru
.
ORCID
: htttps
://orcid.org/
0000
-
0001
-
7770
-
5875
.
E
-
mail: hveraro2@ucv.edu.pe
2
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Feira de Santana
–
BA
–
Brasil.
Professora de Política
Educacional no Departamento de Educação
.
D
outorado
em Educação
(
USP
)
.
Membro da Rede de Estudos sobre
Implementação de Políticas Públicas Educacionais (REIPPE).
ORCID:
https://orcid.org/
0000
-
0002
-
6790
-
7761.
E
-
mail:
antoniasilva@uefs.br
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Haydeé Liliana Vera ROJAS
e
Antonia Almeida SILVA
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autonomía por decreto. La modernid
ad se expresó, en el contexto, como un ingrediente de la
persuasión ideológica a favor de los intereses privados y no ha logrado cambios en términos
de desregulación y retorno del poder del Estado a la sociedad
.
PALABRAS CLAVES
: Descentralización. Moderni
zación. Gestión educativa.
Municipalización. Implementación.
ABASTRACT
:
This article analyses the relationship between the modernization and the
decentralization of education in Peru during the Alan García Pérez government (2006
-
2011),
when the Plano de Municipalização da Gestão Educativa e Delineamentos of Plano Piloto 2007
w
as founded. With a dialectical approach, the study suggests a historical incursion, and utilizes
document analysis as a central procedure to the research, having official documents (printed
or digitalized), along with newspapers and the area's qualified bi
bliography as fonts. The
categories guiding the analysis are: management, decentralization and modernity. This
research has found that the management decentralization process has translated into the
fragmentation of the State's actions and the promotion of
autonomy by decree. The modernity
has been expressed, in context, as an ideological persuasion ingredient in favor of private
interests, and has not achieved changes regarding the deregulation and devolution of the State's
power to society.
KEYWORDS
:
Dec
entralization
.
Modernization.
Educational
management
.
Municipalization
.
Implementation.
Introdução
Este artigo, baseado na ideia de que o Peru é um país designado por "uma espécie de
modernidade truncada ou incompleta" (TANAKA, 2016, p. 14),
propõe a problematização do
projeto de modernização e descentralização da educação, com base no Plano de
Municipalização da Gestão Educacional e nas Diretrizes do Plano Piloto de 2007,
a partir de
agora, o PPM, instituído sob o governo de Alan García Pér
ez, de 2006 a 2011. Portanto,
interessa
-
nos analisar as relações políticas envolvidas na trilogia modernização,
descentralização e gestão educacional, onde analisaremos o processo de implementação do
PPM e suas repercussões. Assim, será possível demonstrar
a visão da gestão educacional e seu
entrelaçamento com a revisão do papel do Estado em sua versão pós
-
burocrática.
O processo de modernização da gestão educacional peruana através da descentralização
é uma questão atual, uma vez que se viu que um dos gran
des problemas que afetam o
desenvolvimento e o progresso equitativo das regiões é o centralismo, uma vez que, na cidade
de Lima, todos os poderes estão concentrados e é o eixo político e econômico do país.
que
afeta
o resto das províncias e departamentos.
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Modernidade
truncada e descentralização da gestão educacional no Peru: Aspectos da implementação da municipalização (2006
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Uma das áreas em que o centralismo tem causado sérios problemas é o campo
educacional, que é evidente nas desigualdades entre setores do país, neste caso entre Lima e o
resto das regiões. O fosso educativo é preocupante, porque mantém um ciclo complexo de
produção e o aumento da desigualdade social para as pessoas que sofrem diretamente a
exploração, a discriminação e a exclusão.
Como aponta Tanaka (2016, p. 15) em seu breve panorama das relações sociais e da
produção de desigualdade no Peru:
Tudo isso t
eria como consequência a necessidade de explicar como no Peru a
injustiça nas relações sociais cruza componentes de classe, étnicos, regionais,
de gênero, entre outros. Embora essa configuração atravesse toda a estrutura
social, um setor é especial e histo
ricamente oprimido, enquanto as injustiças
contra ele tendem a se sobrepor: a população pobre, andina ou amazônica, de
origem indígena, rural, feminina. Qualquer projeto emancipatório ou
igualitário deve considerar essa configuração complexa, que também se
expressa em uma ordem social extremamente heterogênea e fragmentada.
Diante disso, pensar nas propostas educacionais apresentadas em nome da
modernização nos desafia a olhar além e desvendar a retórica que ela contém. O estudo aqui
proposto, nesse sentido, articula elementos políticos relevantes aos conceitos e, por meio de
les,
examina as diretrizes do PPM e suas implicações, com base na abordagem crítica. Isto é
entendido "como alguém que questiona o status quo e as relações sociais de exploração,
discriminação ou exclusão associadas a ele"
(TANAKA, 2016, p. 13).
A pesquisa
utilizou a análise documental como procedimento central, tomando como
fontes documentos oficiais, impressos ou digitais, além de jornais. Foram adotadas as seguintes
categorias analíticas: gestão, descentralização e modernidade.
A gestão foi identificada
no
estudo como o eixo principal da ideia de mudança que se pretendia alcançar com a
implementação do PPM. Para ir além da noção formal de gestão, o estudo foi inspirado na noção
levantada por Cassasus (2002), pois para ele os modelos de gestão são baseados
em alguma
teoria da ação humana dentro das organizações, o que permite compreender o conceito em
diferentes vieses políticos.
A gestão educacional tornou
-
se o eixo das reformas que vêm sendo
implementadas na educação na América Latina desde a década de 19
80 diante das mudanças
políticas, sociais e econômicas ocorridas nos países da região (CASSASUS, 2002). Apresenta
um caráter teórico
-
prático e é influenciado pelo discurso da política educacional, ou seja, faz
parte da execução de propostas pelo governo na
cional ou por organismos internacionais, que
estão enquadradas em um determinado pensamento político e econômico. Como disciplina
teórica,
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Haydeé Liliana Vera ROJAS
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Antonia Almeida SILVA
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Seu conteúdo disciplinar é determinado tanto pelo conteúdo da gestão
quanto pelo cotidiano de sua prática. A gestão educacional é constituída
pela implementação dos princípios gerais de gestão e os da educação.
Nesse sentido, é uma disciplina aplicada, é u
m campo de ação
(CASSASUS,
2002
, p.
49
).
As categorias de descentralização e modernização posicionaram
-
se como ideias
estruturantes para a formação de consensos em torno dos pressupostos da Reforma do Estado
empreendidos desde a década de 1970, nos diferentes estados nacionais. Esse ideal coloca
o
mercado como agente central para o equilíbrio das relações de poder e um papel estratégico
para a ideologia do Estado mínimo, em favor das doutrinas e políticas liberais. Como aponta
Boron (2003), o uso da palavra reforma menciona o suposto desejo de um
significado positivo,
de acordo com a tradição filosófica ocidental. Na América Latina, no entanto, as reformas
estatais foram na direção oposta. "[...] Portanto, mais do que reformas, o termo mais correto
seria dizer que foram processos de contrarreforma,
processos de destruição, processos que
tiveram consequências processos de descidadanificação. [...]"
(BORON, 2003, p. 33).
As análises compartilhadas dão visibilidade aos processos de municipalização
vivenciados no Peru e às contradições das propostas bas
eadas no achatamento do Estado. De
uma perspectiva contra hegemônica, questiona
-
se o abandono do problema da justiça social e
sua relação com a solidariedade coletiva.
O artigo foi estruturado em quatro partes, incluindo esta introdução. As demais partes
a
bordam, respectivamente, aspectos conceituais e diretrizes da gestão educacional no contexto
peruano, posteriormente, a instituição e os desdobramentos do Plano Piloto de Municipalização,
como instrumento de política educacional. Por fim, são apresentadas
as conclusões.
As dimensões políticas da relação entre modernização, descentralização e gestão
educacional
A questão da modernização na América Latina é marcada pelos aspectos controversos
da expansão do capitalismo no continente, por um lado, a subordinação dos projetos assumidos
aos interesses das frações dominantes locais, por outro, a preservação das dinâmi
cas de
superexploração das classes subalternas, nas diversas esferas da vida social. Nesse sentido, a
modernização refere
-
se a movimentos complexos de realinhamentos político
-
institucionais,
orientados por espécies de clubes de interesse que atuam no âmbit
o da sociedade política e civil
para proteger interesses privados, especialmente os de três grandes grupos que, apesar de suas
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truncada e descentralização da gestão educacional no Peru: Aspectos da implementação da municipalização (2006
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características heterogêneas, conseguem manter alinhamentos para sua autoproteção: militares,
empresários e associações partidári
as burocráticas.
Dardot e Laval (2016), no entanto, mostram que o tamanho do nosso infortúnio transcende
fronteiras, uma vez que elites e "novas esquerdas" convertidas à racionalização das políticas
públicas tendem a consentir com o neoliberalismo sob os
argumentos da "modernidade". O
caráter contraditório da modernidade, no entanto, não é novo, mas foi amplificado no contexto
neoliberal, que trouxe consigo ataques contra o igualitarismo e a solidariedade coletiva. Ao
mesmo tempo, a noção de justiça social
é esvaziada e as noções de liberdade individual e de
mercado são fortalecidas através da combinação de léxicos de menangement e performance.
(
DARDOT; LAVAL
, 2016).
Essas situações ilustram as tendências que atravessam as noções de modernização em
disputa
e apontam seus limites quando são professadas por setores historicamente
comprometidos com as relações de poder de origem colonial. Nessa linha, observam
-
se também
as concepções de descentralização e gestão, em regra limitadas aos procedimentos
administrat
ivos de transferência de responsabilidades entre entidades governamentais, com
forte controle do poder central. Nesse sentido, é possível compreender a centralidade que essas
questões vêm adquirindo para as reformas educacionais, como parte da agenda da Re
forma do
Estado.
No entanto, vimos que os processos de desconcentração e descentralização na América
Latina apresentam uma multiplicidade de variáveis que servem a um uso ambíguo de termos,
na maioria das vezes cumprindo um papel político de difundir a ideia de ineficiênci
a
administrativa e invisibilizar o projeto emancipatório ou igualitário. As propostas políticas a
este respeito visam, portanto, reduzir a descentralização através de um maior envolvimento dos
pais na escola ou transferir novas responsabilidades para os go
vernos. Local; enquanto para
outros equivale a privatizar e reduzir os gastos do Estado. Além disso, como observa Cassasus
(2002), a descentralização da gestão educacional na América Latina ganhou grande
centralidade, como parte das reformas neoliberais, d
esde a década de 1980, diante das mudanças
políticas, sociais e econômicas ocorridas nos países da região. Sua referência a esse período não
nos impede de perceber que, ao longo do tempo, as diversas mediações possíveis entre
sociedade e Estado foram const
ruídas em torno das pretensões modernizadoras dos setores
econômica e culturalmente dominantes, que assumiram que, para atingir esse fim, era
necessário superar as contradições entre nação e anti
-
nação
,
técnica e não técnica, deixando em
um plano secundári
o a luta entre capital e trabalho
. A descentralização aparece nesse processo
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como parte das estratégias para superar os modelos "não técnicos" e ampliar os modelos de
gestão.
De acordo com essa ideologia, pode
-
se afirmar que o mercado é um agente central
para
o equilíbrio das relações de força e deve ocupar um papel estratégico em espaços até então
identificados como pertencentes ao Estado, encurralando
-
os para favorecer a ideologia do
Estado mínimo, sob o olhar neoliberal.
Salvo as diversas experiências
que cada país estava passando, os setores da sociedade
civil viveram o transe inicial de escorregar o senso de "autonomia de classe". Tal deslize foi
acompanhado pela supervalorização dos discursos imediatos de cada organização. Essa nova
forma de organiza
ção popular, embora com viés crítico, de alguma forma favoreceu a
fragmentação das lutas coletivas e deu origem a ideias de ineficiência do Estado e do papel da
sociedade civil, confundindo resistência com assimilação de ideias
-
chave do neoliberalismo.
Em um estudo realizado sobre políticas educacionais, Rivas e Sánchez (2016)
mencionam as tendências comuns sobre medidas educacionais na América Latina focadas em
sete países (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai) e apontam que os
dir
eitos educacionais se expandiram, mas há muitos desafios em relação ao acesso em todos os
níveis, ao crescimento do financiamento estatal e ao reconhecimento de direitos às populações
marginalizadas. Em quase todos os países, exceto no Peru, as horas de en
sino foram estendidas
e o orçamento para a educação foi significativamente aumentado. A descentralização política
tem sido observada como uma retórica atual dos ministérios da educação. O currículo escolar é
ambivalente, pois se desenvolve entre a prescriç
ão e a expansão. Junto com isso, os materiais
curriculares são muito prescritivos ou normativos, enquanto os desenhos curriculares tendem a
ser muito amplos, devido ao excesso de conteúdo. No entanto, observam
-
se discussões sobre o
currículo escolar com en
foque de gênero, o que tem causado conflitos entre grupos
conservadores e progressistas. Outra tendência é a incorporação de mecanismos de avaliação
da qualidade do ensino. Relacionado a isso, tem sido operado o reforço da formação e seleção
de diretores e
scolares. No que diz respeito ao ensino, foram criados novos sistemas de
avaliação, carreiras ligadas ao mérito, nomeações por concursos e até pagamentos diferenciados
de acordo com os resultados de aprendizagem dos alunos. Essas ações não deixam dúvidas
s
obre o caráter contraditório das reformas educacionais no contexto do chamado Estado pós
-
burocrático, estabelecido em processos de des
-
cidadania.
Stramiello (2010)
aponta que na América Latina a modernização educacional tem sido
apresentada por meio de trê
s tendências regionais: modernização como gestão do caos,
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modernização como desenvolvimento econômico
-
social e modernização como reconhecimento
da diversidade. Em seu entendimento, a modernização como gestão do caos tem priorizado a
criação de escritórios
de planejamento educacional no âmbito das unidades ministeriais. Isso
significa o estabelecimento de uma organização para melhorar o sistema educacional.
A
modernização como desenvolvimento econômico
-
social se expressou por meio das propostas
da educação t
écnica e profissional como base para a decolagem das nações subdesenvolvidas;
Além disso, foram implementados planos de educação e formação de adultos para corrigir as
deficiências educativas da população e melhorar a força de trabalho. A modernização como
reconhecimento da diversidade se manifestou por meio de diversas medidas como a inclusão
das línguas indígenas nos currículos, a atenção à interculturalidade linguística e propostas de
descentralização (administrativa, pedagógica ou financeira) para atend
er às necessidades
regionais, dar importância às instituições de ensino e prestar assistência a grupos vulneráveis.
No Peru, essas mudanças são atravessadas por tensões que expressam a multiplicidade
de interesses em jogo, incluindo os
constantes processos negativos de mudança por parte dos
setores que protegem as linhagens coloniais. Assim, a inclusão das línguas indígenas, por
exemplo, foi gerenciada a partir da superação de discursos racistas que apontavam que essas
línguas eram inúte
is para o aprendizado e que apenas o espanhol deveria ser falado, e em
segundo lugar o inglês. Além disso, as ideias opostas de modernidade se chocaram nesse
sentido, pois alguns estudiosos consideravam que o moderno era precisamente a expansão do
espanhol
em todo o Peru e o desaparecimento das línguas indígenas, enquanto outros buscavam
revalorizar as línguas indígenas como parte do fortalecimento da identidade nacional e para
uma melhor compreensão do que era ensinado em sala de aula ao aluno com a primei
ra língua
indígena. Enquanto isso, o atraso e o subdesenvolvimento não são explicados apenas no nível
administrativo, mas dizem respeito a escolhas políticas, ou seja, a quem servem os projetos de
desenvolvimento adotados.
Descentralização educacional e
o Plano Piloto de Municipalização
A descentralização no Peru não é recente, tendo como marco importante a Lei Orgânica
da Educação Pública, em 1941, como testemunhado por Laveriano (2010). No contexto da
implementação do Plano Piloto, a descentralização
baseou
-
se num processo de transferência de
funções dos governos centrais para os regionais.
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Nas palavras de Olarte e
Echeverría
(2008), a descentralização educacional
empreendida no Peru tornou
-
se um objetivo dos governos após a ditadura de Fujimori, um
governo marcado por um forte centralismo.
O primeiro período de descentralização educacional, correspondente ao
mesmo processo em todo o país, seria entre 2001 e 2006. Tem sua origem [...]
no restabelecimento da participação social e política dos cidadãos e na
descentralização na agenda da transiç
ão democrática, que rompeu com o
centralismo do regime de Alberto Fujimori. O centralismo e a autocracia no
poder explicam a velocidade com que o processo de descentralização foi
retomado
(
OLARTE;
ECHEVERRÍA
,
2008, p. 25)
.
Portanto, para
influenciar a descentralização educacional, considerou
-
se que esta seria
administrada pelos governos municipais, uma vez que estavam mais próximos da população e
dos alunos, e de seus problemas, e as escolas teriam maior poder de decisão e autonomia.
Para
isso, a base jurídica necessária foi dada através da Lei de Reforma Constitucional
do Capítulo XIV do Título IV, sobre Descentralização, em 2002 (PERU, 2002a), que
estabeleceu a divisão do poder em três níveis de governo (nacional, regional e local) com
au
tonomia econômica, política e administrativa, e a Lei de Bases da Descentralização.
Nº
27783 (PERU, 2002b
),
que
criou
o
Conselho Nacional de Descentralização (CND), responsável
por dirigir e conduzir o processo (artigo 22). A Lei
definia o modelo e abrang
ia a
descentralização, incluindo a forma como seria realizada a transferência de responsabilidades
do Governo central para os governos subnacionais, conforme indicado no Capítulo II,
Disposições Transitórias, dividido em quatro fases centrais: Primeira Fas
e: Instalação dos
governos regionais numa base departamental, transferência dos ativos e passivos dos Conselhos
de Transição da Administração Regional e eleição das primeiras autoridades regionais;
Segunda Etapa: Consolidação do processo de regionalização
, referente à formulação e
aprovação do plano nacional de investimento descentralizado, divulgação do plano nacional de
regionalização e promoção e assistência técnica para a formação das regiões. Terceira Etapa:
Transferência de funções setoriais, exceto
saúde e educação. Quarta etapa: Transferência e
recepção de competências setoriais em saúde e educação para governos regionais e locais com
responsabilidades de CND (PERU, 2002b).
As leis que ordenavam a descentralização foram complementadas pela Lei Orgân
ica dos
Governos
Regionais (
LOGR)
(PERÚ, 2002c)
e a Lei Orgânica dos Municípios
(LOM)
(PERÚ,
2003a)
,
que estabelecia as funções que correspondiam a cada instância e mais
à Lei Geral da
Educação
(PERÚ,
2003b
)
.
O LOGR estabeleceu uma série de medidas para modernizar os
sistemas descentralizados de gestão educacional, em coordenação com os governos locais,
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truncada e descentralização da gestão educacional no Peru: Aspectos da implementação da municipalização (2006
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enquanto o LOM estabeleceu as Unidades de Coordenação e Gestão Educacional
(PERÚ,
2003
a
)
.
Apesar da ordem dad
a pela Lei de Bases da Descentralização
(PERÚ, 2002b)
,
A Lei nº
27902 (PERU, 2003a) alterou a quarta disposição transitória, complementar e final do LOGR,
estabelecendo uma política de funções de forma rápida e paralela, incluindo saúde e educação.
Foram igualmente incluídas no Plano Anual de Transferência de
Competências Setoriais de
2006 e aplicadas em 2007.
Com este quadro legal, o sector da Educação teve a sua própria estratégia definida no
"Plano de Transferência de Competências do Quinquénio 2005
-
2009 dos Sectores da Saúde e
da Educação"
(PERÚ,
200
5
).
A
Ouvidoria acompanhou o processo de descentralização em cada
uma de suas etapas e, assim, elaborou um relatório intitulado "Conhecendo o Plano de
Transferência de Competências para o Quinquênio 2005
-
2009 dos Setores Saúde e Educação a
partir de uma abordage
m baseada em direitos", no qual relatou as dificuldades enfrentadas pelo
processo de descentralização educacional. Entre suas conclusões estão: a falta de clareza e
precisão para definir quais competências correspondem a cada nível de governo; igual falta
de
demarcação entre as funções dos municípios provinciais e distritais; ausência de mecanismos
de articulação entre os níveis de governo para a coordenação das funções das Unidades Locais
de Gestão Educativa (UGEL). Como lembra Muñoz (2013, p. 6), na análi
se da gestão
educacional e
sua descentralização, é essencial avaliar o funcionamento dos diferentes governos
regionais, "quais são suas capacidades institucionais e como definem e utilizam seus recursos
organizacionais", incluindo a composição dos quadros
de burocratas que rotineiramente operam
políticas educacionais e mantêm relativa autonomia em relação às autoridades.
Como se vê, o Plano de Municipalização da Gestão Educacional foi instituído dentro de
uma sequência de disseminação dos princípios da nov
a gestão pública, iniciada anteriormente.
Assim, por meio do Decreto Supremo nº 078
-
2006
-
PCM (PERU, 2006b), o presidente Alan
García autorizou o Ministério da Educação, liderado por José Antonio Chang Escobedo, a
realizar sua proposta, a partir de 1º de
janeiro de 2007. O PPM combinou a necessidade de
descentralizar a educação por meio da atribuição dessa responsabilidade aos municípios, e da
formulação de diretrizes para sua aplicação, incluindo um Fundo de Compensação pela
Municipalização (Foncomuge) e
seu orçamento. Seu objetivo declarado era "superar uma longa
h
istória de resultados desfavoráveis na aprendizagem de crianças e jovens no país" (PERU,
2006a, p. 17).
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Haydeé Liliana Vera ROJAS
e
Antonia Almeida SILVA
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
v. 17, n. esp. 3, p.
2456
-
2475
, nov. 2022
e
-
ISSN:
1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.3.16622
2465
Na implementação deste projeto, a dinâmica de desenvolvimento da educação centrou
-
se no m
unicípio distrital. Inicialmente seria executado e como teste entre 2007 e 2008, e à
medida que avançasse, seria avaliado e expandido por todo o país. A estratégia de
implementação e implementação teve três etapas: iniciação, expansão e generalização. Como
mostra a Tabela 1, cada etapa teve um processo e seu termo foi definido a partir do cumprimento
de seu progresso.
Tabela 1
–
Estágios do PPM
Palco
Processo
Adiantamentos
Estágio de
Iniciação
Plano Piloto 2007
-
2008.
Implantação do modelo de
gestão e
transferência administrativa para os
municípios
56 municípios em 26 regiões.
Instituições de ensino inicial e
primário.
Em 2008, 88 novos municípios
foram incorporados.
Estágio de
expansão
Aumento do número de distritos
e províncias que
compõem a
municipalização da gestão educacional,
2009
-
2010.
2009 134 municípios
incorporados, 10 municípios retirados do
PPM.
Estágio de
generalização
Crescimento significativo do
número de distritos e províncias;
período 2011
-
2015.
Em 2011, o governo de
Ollanta
Humala revogou a política educacional
do PPM.
Fonte: Plano Piloto de Municipalização da Educação, 2007 (PERU, 2006a)
Na primeira fase do Plano Piloto, 56 municípios distritais de 26 regiões foram
designados para realizá
-
lo, sem consulta aos
governos regionais. Segundo Díaz e Valdivia
(2007) havia 206 UGEL distribuídos em 26 Direções Regionais de Educação. Momentos de