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Política de educação em gênero e diversidade sexual:
Histórico e presente da experiência brasileira
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
v. 17, n. esp. 3, p.
2215
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2234
, nov. 2022
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ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.3.16691
2215
POLÍTICA DE EDUCAÇÃO EM GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL:
HISTÓRICO E PRESENTE
DA EXPERIÊNCIA BRASILEIRA
POLÍTICA EDUCATIVA SOBRE GÉNERO Y DIVERSIDAD SEXUAL: HISTORIA Y
PRESENTE DE LA EXPERIENCIA BRASILEÑA
EDUCATION POLICY ON GENDER AND SEXUAL
DIVERSITY: HISTORY AND
PRESENT OF THE BRAZILIAN EXPERIENCE
Alexandre BORTOLINI
1
Cláudia Pereira VIANNA
2
RESUMO
: Este artigo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa de doutorado dedicada
a analisar o ciclo de desenvolvimento da política educaci
onal em gênero e diversidade sexual
no Brasil. A partir das proposições de Stephen Ball, que acionam noções foucaultianas de poder
e discurso para a análise de políticas educacionais, buscou
-
se, para além da métrica,
compreender as dinâmicas político
-
discu
rsivas que marcaram tanto a produção dessa política
quanto a sistemática reação que se lançou sobre ela. Neste artigo, são apresentados seus
antecedentes, suas principais ações, os agentes envolvidos na sua construção e o discurso
pedagógico que produziram
. São identificados também seus principais opositores, suas táticas
de ação e estratégias discursivas, apontando como se articularam com os movimentos
reacionários que marcaram o país nos últimos anos. Por fim, apontam
-
se indícios de que o
debate sobre gên
ero e diversidade sexual nas escolas sobrevive mesmo em tempos de
conservadorismo, censura e terrorismo ideológico.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Educação. Gênero. Sexualidade.
RESUMEN
:
Este artículo presenta parte de los resultados de una investigación
doctoral
dedicada a analizar el ciclo de desarrollo de la política educativa sobre género y diversidad
sexual en Brasil. A partir de las proposiciones de Stephen Ball, que activan nociones
foucaultianas de poder y discurso para el análisis de políticas edu
cativas, se buscó, más allá
de la métrica, comprender las dinámicas político
-
discursivas que marcaron tanto la
producción de esta política como la reacción sistemática que se lanzó contra ella. Este texto
analiza los antecedentes de esta política, sus prin
cipales acciones, los agentes involucrados en
su construcción y el discurso pedagógico que produjeron. También se identifican sus
principales opositores, sus tácticas de acción y estrategias discursivas, buscando comprender
cómo se articulan con los movimi
entos reaccionarios que han marcado al país en los últimos
años. Finalmente, señalase indicios de que el debate sobre género y diversidad sexual en las
escuelas sobrevive aún en tiempos de conservadurismo, censura y terrorismo ideológico
.
PALABRAS CLAVE
:
Educación. Género. Sexualidad.
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro
–
RJ
–
Brasil. Professor Substituto do Núcleo de
Políticas Públicas em Direitos Humanos.
Doutorado em Educação (USP).
ORCID: https://orcid.org/0000
-
0001
-
8769
-
6837. E
-
mail: bortolini.alexandre@g
mail.com
2
Universidade de São Paulo (USP), São Paulo
–
SP
–
Brasil. Professora Sênior da Faculdade de Educação.
Doutorado em Educação (USP).
ORCID: https://orcid.org/0000
-
0002
-
9366
-
4417. E
-
mail: cpvianna@usp.br
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Alexandre BORTOLINI e Cláudia Pereira VIANNA
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ABSTRACT
: This paper presents part of the results of a doctoral research dedicated to analyze
the cycle of the educational policy on gender and sexual diversity in Brazil. Based on Stephen
Ball's propositions, which applies
Foucault's notions of power and discourse on educational
policies, the analysis aimes,, beyond the metrics, to understand the political
-
discursive
dynamics that marked both the production of this policy as the systematic reaction that has
been organized a
gainst it. This text analyzes the background of this policy, its main initiatives,
the agents involved in its construction and the pedagogical discourse they produced. It also
identifies its main opponents, their tactics and discursive strategies, seeking
to understand how
they are articulated with the reactionary movements that have dominated Brazil in recent years.
Finally, the paper hilights evidences that the debate on gender and sexual diversity in schools
survives even in times of conservatism, censor
ship and ideological terrorism.
KEYWORDS
: Education. Gender. Sexuality.
Introdução
Este artigo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa de doutorado em Educação
dedicada a analisar o conjunto de iniciativas governamentais brasileiras que, nas últimas duas
décadas, propuseram críticas e reformulações de práticas e saberes escolares
com vistas ao
enfrentamento à discriminação sexual e de gênero e à promoção dos direitos de mulheres e
pessoas lésbicas,
gays
, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT+)
na
e
a partir da
educação.
Iniciativas que, ainda que dispersas e descontínuas, se co
nsideradas em conjunto, constituíram
o que se pode definir como uma política educacional em gênero e diversidade sexual.
A construção dessa política pública reuniu acadêmicos, ativistas, gestores, profissionais
de educação e estudantes em uma rede de comu
nicação, articulação e ação que atravessou
escolas, universidades, movimentos sociais e instâncias de governo. Neste espaço de
interlocução foi produzido, de forma articulada e negociada, um discurso pedagógico
diferenciado dos que, até então, tinham habit
ado as políticas educacionais brasileiras. Mesmo
com orçamento pouco relevante e alcance limitado, essa política incitou o debate em inúmeras
escolas, com impacto nos sistemas de ensino, na produção acadêmica e na legislação
educacional.
Desde cedo, essas
iniciativas provocaram reações de grupos conservadores diversos,
cujas ofensivas assumiram, na última década, um caráter sistemático. O embate em torno do
ensino sobre gênero e diversidade sexual nas escolas transbordou as comunidades escolares e
as áreas
de gestão, alcançou o Congresso Nacional e as disputas eleitorais e tornou essa política
educacional, personagem relevante nos principais episódios que marcaram a história política
brasileira recente.
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Para compreender seu ciclo de desenvolvimento dentro d
e um paradigma sócio
-
crítico,
foi fundamental a contribuição do trabalho do pesquisador britânico Stephen Ball. Ao mobilizar
a produção teórica de Michel Foucault para pensar as políticas públicas, Ball (2012) critica
abordagens gerencialistas e aponta a i
mportância de interpretar a política educacional dentro do
contexto social e político mais amplo. Ao aplicar uma noção descentrada de poder à análise das
políticas educacionais, sua abordagem ajudou a construir uma compreensão mais alargada dos
espaços, te
mpos e processos pelos quais essa política pública foi construída. Implicou também
uma percepção mais plural dos agentes envolvidos na sua produção e da qualidade da sua
participação na definição das suas formas e do seu desenvolvimento. A noção foucaultia
na de
discurso operada por Ball ajudou também a perceber essa política educacional como um campo
político onde a função e os sentidos da educação foram forjados, negociados e disputados.
Sob essa perspectiva, construiu
-
se um desenho de pesquisa qualitativ
a focado não em
uma avaliação programática das ações e resultados dessa política educacional (algo já bastante
trabalhado por pesquisas anteriores), mas no conjunto de discursos que ela colocou em disputa
e seus efeitos políticos mais amplos. Para compreen
dê
-
la em sua dimensão político
-
discursiva,
foi realizado um longo estudo bibliográfico, somado a uma análise direta de materiais textuais
produzidos tanto por seus realizadores quanto por seus antagonistas, que buscou mapear as
múltiplas estratégias discur
sivas que estes agentes colocaram em ação e seus efeitos na
produção, desenvolvimento e inflexão desta política
-
e para além dela.
Dentro dos limites deste artigo, apontamos, na primeira parte, alguns antecedentes que
permitiram a emergência de uma
política educacional em gênero e diversidade sexual no Brasil.
Em seguida, identificamos suas principais ações, os agentes envolvidos na sua construção e o
discurso pedagógico que produziram. Na terceira parte, percorremos episódios recentes para
identific
ar seus principais opositores, suas táticas de ação e estratégias discursivas, analisando
como se articularam com os movimentos reacionários que marcaram os últimos anos. Por fim,
trazemos indícios de que o debate sobre gênero e diversidade sexual nas esco
las brasileira
resiste, ainda que sob um contexto de conservadorismo, censura e terrorismo ideológico.
Antecedentes históricos
Não é possível analisar quaisquer políticas de promoção de direitos de mulheres e
LGBT+ no Brasil sem considerar o histórico d
e exclusão, repressão, criminalização e violência
que definiu a atuação do Estado brasileiro sobre grupos subalternizados durante séculos. A
imposição de um sistema de gênero cis
-
heteronormativo masculinista e racializado foi parte
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fundamental dos processo
s de colonização que constituíram sociedades como a nossa
(LUGONES, 2020). Presente desde sua gênese, o caráter patriarcal, classista e racista do Estado
brasileiro persiste mesmo com o avanço de modelos políticos liberais e de nossa inserção
periférica no
capitalismo global
-
e suas marcas podem ser encontradas ainda hoje (BIROLI,
2018).
Tendo em conta esse investimento histórico é que podemos pensar uma variedade de
políticas sexuais e de gênero, desenvolvidas, em especial, a partir da abertura democráti
ca,
como parte de um processo de despatriarcalização do Estado, no sentido de que confrontam,
por dentro, o caráter masculinista, racista e cis
-
heteronormativo das nossas instituições e formas
de governo (MATOS; PARADIS, 2014). Finda a contenção do regime
militar, distintos campos
políticos conseguiram se (re)organizar, entre eles ativismos mobilizados em torno de questões
de gênero e sexualidade (FACCHINI; CARMO; LIMA, 2020). Sustentados na Constituição de
1988 e fortalecidos pelo arcabouço institucional p
roduzido a partir do ciclo de conferências
organizadas pelas Nações Unidas nos anos 1990, esses movimentos iniciaram processos de
diálogo com o Estado brasileiro para a construção de políticas públicas centradas não mais na
repressão, mas na promoção de di
reitos (CORRÊA, 2018).
Esse processo se intensificou com as políticas de participação social implementadas pelo
Partido dos Trabalhadores (PT) (IRINEU, 2016). Em 2004, um ano após a posse de Luís Inácio
Lula da Silva, o Governo Federal realizou a conferên
cia nacional que daria origem ao primeiro
Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM). No mesmo ano, era lançado o Programa
Brasil Sem Homofobia (BSH) com o objetivo declarado de promover a cidadania de pessoas
LGBT+. Se não inauguraram, o PNPM e o
BSH ampliaram o volume, o alcance e a qualidade
das políticas públicas voltadas a esses grupos.
A produção
Ao analisar os planos e programas oriundos dessas políticas de participação social, é
possível perceber um papel estratégico da educação. Por um
lado, afirma
-
se a necessidade de
superar o sexismo, o machismo e a lgbtfobia na escola como barreiras à garantia do direito à
educação de mulheres e LGBT+. Por outro, as instituições de ensino são pensadas como
plataforma para uma transformação cultural ma
is ampla, cujos efeitos iriam muito além dos
pátios e das salas de aula. Estas proposições ganharam corpo a partir da criação, em 2004, da
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) no Ministério da
Educação (MEC). Diversidade f
uncionava, então, como um “guarda
-
chuva” institucional e
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discursivo, agregando estrategicamente um conjunto amplo e variado de políticas educacionais,
demandadas por múltiplos movimentos sociais, que iam da educação indígena à socioeducação
(CARREIRA, 2015
). Dentre as políticas de educação para a diversidade, aquelas voltadas para
as questões de gênero e sexualidade constituíram um dos pontos de maior tensão. O desafio não
era pequeno: transformar as escolas brasileiras, historicamente comprometidas com a
r
eprodução das disposições dominantes de gênero e sexualidade, em instituições promotoras da
diversidade sexual e da igualdade de gênero.
Em 2005, o Ministério da Educação lançou a primeira chamada pública para formação
de profissionais da educação derivad
a do Brasil Sem Homofobia. Os cursos em gênero e
diversidade sexual (GDS) focavam na discriminação por orientação sexual e identidade de
gênero, enquanto promoviam uma visibilidade positiva de pessoas LGBT+, algo bastante
inovador naquele momento. Implemen
tadas inicialmente por organizações não
governamentais, essas formações foram logo assumidas por universidades públicas e realizadas
em todas as regiões do país. Em paralelo, foi lançado, em 2006, o curso Gênero e Diversidade
na Escola (GDE), a partir de u
ma iniciativa da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
(SPM). Construído na relação com um movimento feminista multifacetado, o GDE trazia uma
abordagem inovadora ao buscar trabalhar, de forma articulada, questões de gênero, orientação
sexual e
relações étnico
-
raciais. Criado pelo Centro Latino
-
Americano em Sexualidade e
Direitos Humanos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CLAM), o curso tomaria
múltiplas formas ao ser encampado por instituições de ensino superior de todo o país. Os
pro
jetos de formação desenvolvidos tanto no GDE quanto no GDS incluíram também a
produção de materiais didáticos e a realização de atividades de multiplicação em escolas,
ampliando os sujeitos mobilizados para além daqueles imediatamente alcançados pelos curs
os.
Vale ainda destacar duas outras linhas de ação: o Prêmio Construindo a Igualdade de
Gênero, que premiava escolas e textos produzidos por estudantes
-
e o Projeto Escola Sem
Homofobia
-
que previa produção de material, a realização de pesquisas e a for
mação de uma
rede de gestores. Essas e outras ações, irradiadas a partir do Governo Federal, forçosamente
envolveram, em maior ou menor grau, sistemas estaduais e municipais de educação, e
propiciaram importantes espaços de diálogo entre movimentos sociais
, instituições de pesquisa
e redes de ensino.
Ao examinar os produtos destas iniciativas em diálogo com a literatura já existente (em
especial FERNANDES, 2011; MELLO
et al.
, 2012; CARREIRA, 2015; IRINEU, 2016), é
possível identificar uma multiplicidade de
agentes que atuaram na construção dessas ações:
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Associações, organizações e coletivos ativistas, em especial LGBT+ e feministas foram
os responsáveis por boa parte da incidência política que permitiu a elaboração de uma agenda
de gênero e diversidade sexu
al na educação. Colaboraram na execução das iniciativas, quando
não assumiram eles próprios sua realização. Desses ativismos vêm também noções políticas
que constituíram parte fundamental do repertório dessa política educacional.
Gestores públicos da educ
ação, desde políticos de grande visibilidade, que assumiram
papel central nas disputas legislativas ou funções decisivas no executivo, até sujeitos atuantes
nos espaços menos visíveis da gestão pública foram os responsáveis por criar as condições
políticas
, técnicas e operacionais que permitiram fazer fluir as agendas de gênero e diversidade
sexual no sistema político e nos aparatos governamentais, por vezes se constituindo verdadeiros
militantes a confrontar o patriarcalismo no interior do Estado.
Pesquisa
dores, professores, estudantes e técnicos vinculados a instituições públicas de
ensino superior, em sua maioria atuantes no campo dos estudos de gênero e da sexualidade,
constituíram outro agente coletivo importante. Sua capacidade de circulação pela gestã
o
educacional, sua posição privilegiada de enunciação e a infraestrutura que tinham disponível
em suas instituições foram seus principais instrumentos de ação. Assumiram a coordenação e a
execução de projetos de formação e produção de material, atuaram com
o consultores na
elaboração de diretrizes e tiveram assento na maior parte dos mecanismos de participação
social. Suas pesquisas foram acionadas para fundamentar cientificamente e legitimar a
necessidade de uma política educacional em gênero e diversidade
sexual. Trouxeram consigo
também conceitos e teorias fundamentais à construção de uma pedagogia crítica às regulações
de gênero e sexualidade.
Profissionais de educação, em especial docentes alcançados pela formação continuada,
recorrentemente reduzidos p
ela literatura a meros "implementadores", pouco ouvidos quando
da formulação dos planos e programas, foram os responsáveis por materializar esta política no
chão da escola. Afetados de modo extemporâneo por ações descontínuas de formação, com
pouco ou nenh
um recurso e contando com um amparo institucional vacilante, sua principal
ferramenta foi a criatividade pedagógica. Em sua atuação polivalente e recorrentemente
solitária, confrontaram o conservadorismo, reorganizaram práticas naturalizadas, reordenaram
e
spaços e inventaram formas de trabalhar conteúdos até então ausentes dos currículos da
educação básica.
Por último, mas não menos importantes, estudantes de educação básica, em especial
mulheres e LGBT+a maioria das análises percebidos como público
-
alvo, f
oram os principais
mobilizadores das escolas para o debate sobre gênero e sexualidade, a partir de uma postura de
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afronte que punha em xeque práticas escolares sexistas e lgbtfóbicas até então naturalizadas.
Exerceram também um papel diretamente criativo,
ao se engajarem na produção de recursos
pedagógicos e ações de multiplicação.
Um discurso pedagógico inovador
A interação colaborativa entre esses múltiplos agentes, simultaneamente convergente e
polissêmica, foi capaz de gerar um discurso pedagógico, sob muitos aspectos, inovador. Um
discurso que avançou na proposição da efetiva incorporação de uma perspectiva de
gênero na
educação e inovou ao propor um debate sobre orientação sexual e identidade de gênero na
escola sob a ótica da diversidade e dos direitos humanos. A partir da análise de parte da
produção textual dessa política educacional, foi possível identific
ar alguns de seus núcleos de
sentido.
A noção, subsumida no conceito de gênero, de que os sentidos de feminino e masculino,
assim como as relações entre homens e mulheres, são produto não de uma diferença sexual
inata, fixa e universal, mas sim de uma con
strução social, histórica e mutável é um núcleo
fundamental desse discurso pedagógico. Essa noção se sustenta em uma multiplicidade de
saberes oriundos das ciências sociais e humanas, por um lado, e no aprendizado acumulado dos
movimentos sociais, por outr
o. A partir desses saberes, denuncia
-
se como a naturalização de
uma diferença sexual sustenta a existência de um sistema de dominação masculina, que
privilegia os homens em detrimento das mulheres, garantido, não raro, pelo exercício violento
de um poder m
asculino. Denuncia
-
se também um sistema cis
-
heteronormativo, que impõe por
meio de diferentes técnicas
–
até mesmo violentas
–
uma cadeia vinculante entre sexo,
identidade de gênero e orientação sexual. Propõe
-
se uma compreensão articulada das
regulações d
e gênero e sexualidade, na qual misoginia, machismo, lgbtfobia e sexismo são
pensados como formas integradas de regulação. Soma
-
se ainda uma perspectiva interseccional,
incipiente de início, mas que se intensifica com o tempo, que permite identificar um me
smo
sistema, simultaneamente patriarcal, capitalista, racista e cis
-
heteronormativo, a ser combatido.
Em oposição à ideia de uma diferença sexual naturalizada, essa perspectiva
construcionista percebe corpos, expressões, identidades de gênero, práticas sex
uais e afetivas
não a partir de um padrão normativo naturalizado, mas em sua multiplicidade, investindo no
reconhecimento e valorização das diferenças. A desconstrução da diferença sexual se faz, por
um lado, desvelando os processos históricos e politicame
nte implicados na produção do
conhecimento científico, em especial os saberes produzidos pelas ciências biológicas. E, por
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outro, denunciando o papel histórico do cristianismo na constituição simbólica e política das
regulações de gênero e sexualidade, a q
ue se contrapõe a laicidade como princípio organizador
do Estado e da escola. A partir dessas críticas, são denunciadas como violações de direitos
fundamentais práticas que, intencionalmente ou não, operam pela normalização dos sujeitos a
padrões normativo
s de gênero e sexualidade.
Essa construção discursiva, ao mesmo passo que reconhece a escola enquanto espaço
histórico de reprodução das regulações sexuais e de gênero, acredita e investe em seu potencial
transformador. Convoca
-
se então a escola a rever a
si mesma, no sentido de superar práticas
discriminatórias e se tornar um espaço de promoção da igualdade de gênero e de valorização
da diversidade sexual e de gênero, na sua comunidade e para além dela. A noção de diversidade
a partir da qual se propõe a d
iscussão de gênero e sexualidade na escola aponta para uma tática
não
-
conflitiva, que prioriza um investimento no diálogo pedagógico mais que no confronto.
Sob esse arcabouço comum, no entanto, se construíram práticas pedagógicas muito
diferentes, em sent
ido e em intensidade. Analisando atividades desenvolvidas em escolas por
educadores que participaram de cursos de formação continuada, é possível encontrar práticas
que apostaram na tolerância, no respeito, na superação da violência e na promoção de um
amb
iente de paz, sem que isso significasse, necessariamente, uma mudança substantiva nos
pressupostos sexistas e cis
-
heteronormativos que organizam a vida escolar. Há outras, no
entanto, que atuaram para além do combate à discriminação, investindo na desconst
rução da
escola enquanto tecnologia de normalização sexual e de gênero, propondo uma revisão
profunda das práticas pedagógicas, do currículo e da gestão escolar. A coexistência de
investimentos moderados e radicais é característica dessa política educacion
al.
Ainda que essas noções não fossem em si inéditas e já circulassem nos meios científicos
e nos movimentos sociais, o modo como elas foram trabalhadas e incorporadas a uma
linguagem pedagógica constituiu, de fato, uma inovação na política educacional bra
sileira.
Avanço e precariedade
Desde os seus primeiros anos de execução, a política educacional em gênero e
diversidade sexual sobreviveu em grande parte com recursos oriundos de emendas
parlamentares, não figurando entre as prioridades orçamentárias do
Governo Federal. Ainda
que imprecisos, os registros oficiais mostram investimentos de cerca de 70 milhões de reais
entre 2005 e 2014
-
a partir de 2015 não houve financiamento significativo
-
e mais de 50 mil
profissionais de educação alcançados pelas açõ
es de formação no período. Parecem números
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grandes, mas que se tornam irrisórios diante do orçamento geral do MEC
-
ainda que
considerando apenas os investimentos voltados às políticas de diversidade (CARREIRA, 2015)
-
ou em relação ao número total de doce
ntes atuantes no país
-
mais de 2 milhões de
profissionais.
Estudo produzido pela Universidade Federal de Goiás em 2012 sobre ações educativas
derivadas do programa Brasil Sem Homofobia critica justamente a escala das ações
implementadas, pela sua incapac
idade de atingir a maior parte do sistema educacional do país
(MELLO
et al.
, 2012). Os autores destacam ainda o caráter pontual das ações, que teriam
produzido efeitos muito limitados nas práticas escolares. Essa análise contrasta com a expressa
na avaliaç
ão produzida pelo Centro Latino
-
Americano em Sexualidade e Direitos Humanos a
respeito do curso GDE, que descreve as iniciativas de formação como uma prática bem
-
sucedida e sem precedente na história da educação brasileira (CARRARA
et al.
, 2011).
Pouco
preocupado com a escala, o relatório foca na inovação e na intensidade da experiência vivida
pelos sujeitos e organizações que participaram dessas iniciativas. Outro estudo, também
produzido pelo CLAM alguns anos mais tarde (CARRARA
et al.
, 2017), tr
az indícios de que a
bagagem teórico
-
conceitual, o conjunto de informações, a perspectiva e o exercício do diálogo
ao longo dos cursos permitiram, ao menos para parte dos profissionais da educação envolvidos,
construir instrumentos para atuar no dia a dia
de suas escolas. Mais do que inconciliáveis, essas
análises parecem apontar justamente para a convivência de avanços e precariedades como
marca da política educacional em gênero e diversidade sexual no Brasil. Se é impossível negar
a intensidade qualitativ
a de muitas experiências pedagógicas vivenciadas por escolas e
educadores, os resultados quantitativos dessas ações ficaram ainda bastante distantes do que
seria necessário para produzir mudanças substanciais no sistema escolar brasileiro como um
todo.
P
ara além dos números
Além de mobilizar redes de ensino e escolas, a política educacional em gênero e
diversidade sexual produziu impacto importante no próprio campo científico. A execução dos
cursos nas universidades ficou em sua maioria a cargo de núcleo
s de pesquisa e projetos de
extensão, mobilizando a cada oferta um conjunto significativo de docentes, técnicos, estudantes
de graduação e pós. Isso contribuiu para a consolidação de grupos de pesquisa e extensão em
torno dessas temáticas nas universidades
, gerando impactos também na produção científica
(CARRARA
et al.
, 2017).
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Houve avanços importantes também no quadro normativo das políticas educacionais.
Analisando as diretrizes educacionais aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação ao longo
dos anos
2000 é possível encontrar indícios das agendas de mulheres e LGBT+, materializadas
em referências a gênero, identidade de gênero, orientação sexual e diversidade sexual. No
conjunto, essas diretrizes educacionais afirmam a necessidade de trabalhar questões
ligadas a
gênero e sexualidade desde a educação infantil até o ensino médio, apontando uma abordagem
focada não na padronização de comportamentos, mas na reflexão crítica, na autonomia dos
sujeitos, na liberdade de acesso ao conhecimento, no reconheciment
o das diferenças e no
enfrentamento a toda forma de discriminação e violência.
Embora em termos de alcance e recursos seu programa tenha sido bastante reduzido,
essa política constituiu um posicionamento explícito
–
ainda que precário
–
de diferentes esfe
ras
de governo sobre a pertinência da abordagem de questões de gênero e sexualidade na escola
dentro de uma perspectiva de valorização da diversidade, combate à desigualdade e promoção
dos direitos humanos. Além do aspecto programático, essa dimensão expre
ssiva e comunicativa
das políticas públicas (PECHENY; DE LA DEHESA, 2011) não pode ser desconsiderada. Em
um contexto político progressista, esse posicionamento, ainda que vacilante, serviu como
legitimação para quem queria falar sobre gênero e sexualidade
na escola, permitindo a
proliferação de experiências didáticas que extrapolaram o raio direto de ação dos cursos de
formação.
A reação
Desde sua implementação, a política de educação em gênero e diversidade sexual
provocou reações, de início
esporádicas e pontuais, mas que, ao longo do tempo, ganharam
escala, capilaridade e se tornaram sistemáticas. Encabeçadas por políticos de direita, lideranças
religiosas, grupos conservadores e agentes do militarismo, o antagonismo a essa política ganhou
a
poio de largos setores da sociedade. Após a crise política de 2013, o combate à discussão de
gênero e sexualidade nas escolas passou a integrar de forma central o repertório dos
movimentos reacionários que tomaram o Brasil nos anos seguintes. Para compreen
der a
natureza, a dinâmica e os efeitos políticos mais amplos dessa reação, foram investigados alguns
episódios significativos, cuja análise resumimos a seguir.
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Histórico e presente da experiência brasileira
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A polêmica do “kit
gay
”
O primeiro desses episódios, já amplamente analisado, ocorreu em 2011
, primeiro ano
de governo de Dilma Rousseff, envolvendo o conjunto de materiais produzidos pelo Projeto
Escola Sem Homofobia. Apresentado em um seminário no Congresso Nacional em fins de
2010, o material foi duramente atacado pelo deputado Jair Bolsonaro,
até então, um congressista
pouco expressivo para além de seu próprio círculo militar. Autor do termo "kit
gay
", Bolsonaro
já vinha empreendendo uma sistemática oposição às políticas sexuais e de gênero, em especial,
na educação. No início do novo ano legis
lativo, outros parlamentares se somaram no ataque ao
material, em especial, congressistas ligados às bancadas religiosas.
Ao examinarmos os mais de cem pronunciamentos contrários à distribuição do material
proferidos por parlamentares no plenário da Câmar
a dos Deputados entre fins de 2010 e início
de 2012, foi possível identificar uma linha argumentativa comum. O eixo central de seu discurso
acusava o material de, ao apresentar de forma positiva a vivência de personagens LGBT+, ir
além do combate à discrim
inação para se caracterizar como instrumento de incitação e
promoção de comportamentos supostamente desviantes (tanto do ponto de vista religioso
quanto biológico)
–
que poderiam ser tolerados, mas jamais valorizados, especialmente entre
crianças e jovens.
Essa abordagem, que parlamentares acusavam ser incitada por um ativismo
que teria desproporcional influência sobre o governo, constituiria, na sua visão, uma ameaça à
infância e à juventude. Nas falas desses parlamentares, a valorização de múltiplas práti
cas
sexuais
-
afetivas e identidades de gênero era percebida como um ataque a pressupostos que
constituiriam fundamentos da família
–
entendida sempre no singular, dentro de uma
perspectiva cis
-
heteronormativa. Ao abalar a família, colocariam em risco aquela
que é
identificada como a instituição responsável pela formação moral da sociedade. Nesses
discursos, moral e cristianismo se confundem e a religião é percebida como única linguagem
possível de formação ética. Por supostamente atacar pontos que seriam fun
damentais na
formação moral cristã, o material constituiria uma ameaça capaz de afetar a integridade de toda
a sociedade brasileira.
Pressionado pelas frentes religiosas no Congresso, inclusive por parlamentares
conservadores que compunham naquele momento
sua própria base de sustentação, o Governo
Federal, acabou por suspender a distribuição do material, que foi publicamente vetado pela
presidenta. Em meio ao anúncio da interrupção do material, Dilma Rousseff, ao ser interpelada
por jornalistas, declarou qu
e o governo seguia comprometido com a luta contra práticas
homofóbicas, mas que não seria permitido a nenhum órgão do governo fazer “propaganda de
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opções sexuais”. Ao justificar o veto com base não na pressão política sofrida pelo governo,
mas na suposta i
nadequação do material, Dilma Rousseff acabou por legitimar e reforçar o
discurso reacionário daqueles que identificavam o debate de gênero e diversidade sexual na
educação como inculcação ideológica e ameaça moral.
Esse episódio marcou um momento de grand
e visibilidade da política educacional em
gênero e diversidade sexual, que, até então fora dos holofotes públicos, ganhou espaço inusitado
nos noticiários nacionais. Infelizmente, essa visibilidade não foi positiva, pelo contrário,
excitou estigmas e preco
nceitos enraizados na sociedade brasileira, alimentou ansiedades em
relação às políticas educacionais e teve como desfecho uma derrota pública do campo LGBT+,
cujos efeitos ressoam até hoje. Para além da mera suspensão de um material didático, o veto ao
ki
t marcou um ponto de inflexão, a partir do qual toda a agenda LGBT+ foi contingenciada e
posta sob monitoramento nas diferentes áreas de governo (CARREIRA, 2015).
A disputa dos planos de educação
Dois anos após o veto do kit, em 2013, o Brasil viu emer
gir manifestações massivas de
rua que deram início a uma crise política que mudou consideravelmente as relações de força na
arena pública nacional. Os protestos à esquerda expressavam em parte expectativas frustradas
de mudanças mais radicais, impossibilit
adas pelos acordos que o governo fez para montar uma
sempre instável maioria no Congresso e pelo seu afastamento das bases dos movimentos sociais
(BRINGEL, 2013). Pela direita, o que se viu foi a liberação de discursos explicitamente
conservadores e reacio
nários, até então contidos pela hegemonia do progressismo social e agora
canalizados por novos e antigos atores políticos (NOBRE, 2013). Se não perdeu seus eleitores
de imediato, a esquerda não era mais capaz de definir os sentidos do debate político nacio
nal
(PINTO, 2017).
O embate em torno do Plano Nacional de Educação (PNE) é simbólico desse processo
de mudança nas relações de força e avanço de uma empreitada conservadora. Na análise dos
discursos de congressistas proferidos durante a segunda rodada de
votação do PNE, em 2014,
as menções ao “kit
gay
” vão dando lugar a uma expressão até então pouco conhecida do público
brasileiro: a “ideologia de gênero”. Formulada e difundida pelas redes católicas como reação
aos avanços da agenda dos direitos sexuais e
reprodutivos no cenário internacional (CASE,
2019), a estratégia discursiva da "ideologia de gênero" operou como aglutinadora de uma série
de reações às políticas feministas e LGBT+, até então dispersas e extemporâneas, dando forma
a um poderoso e sistemát
ico investimento reacionário. Funcionando como um significante
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vazio (LACLAU, 2013), essa expressão foi acionada de diferentes formas em múltiplos
contextos ao redor do mundo, em especial na Europa e na América Latina (FASSIN, 2021),
gerando efeitos políti
cos diversos.
Nos discursos dos parlamentares brasileiros, esse termo era usado para se referir a uma
pluralidade de ideias, conceitos, proposições que, de diferentes maneiras, confrontavam noções
normativas e naturalizadas de diferença sexual e propunham
uma perspectiva construcionista
do corpo, da sexualidade, das identidades e relações, representada pelo conceito de gênero. Ao
tratar gênero como uma ideologia, congressistas desqualificavam esses saberes enquanto
científicos, ao mesmo tempo em que os car
acterizavam como parte de uma estratégia de
imposição cultural advinda de um ativismo político minoritário. Como a palavra “gênero” traria
embutida essa “ideologia”, ela deveria ser eliminada dos documentos oficiais, junto com outros
termos relacionados, c
omo forma de impedir que essas ideias chegassem às escolas, pondo em
risco a formação moral de crianças e jovens. Ao fim de 2014, o Congresso brasileiro aprovou
o Plano Nacional de Educação (2014
-
2024), apagando qualquer referência a gênero e
sexualidade.
Embora o PNE tenha mantido, ainda que de forma genérica, o compromisso da educação
com o combate a todas as formas de discriminação, agentes conservadores difundiram uma
narrativa de que a retirada dos termos específicos do plano significou a interdição d
o debate
sobre esses temas nas escolas. Mesmo falsa, essa narrativa contaminou redes e instituições de
ensino, produzindo dúvida e insegurança entre profissionais de educação que queriam abordar
essas questões.
Em um contexto de avanço do conservadorismo,
a bandeira do combate à “ideologia de
gênero” se tornou um interessante instrumento de produção de capital político para múltiplos
agentes, compondo uma ofensiva sistemática contra políticas feministas e LGBT+ que teve a
educação como alvo principal. Nas s
equenciais votações dos planos estaduais e municipais de
educação, a política educacional em gênero e diversidade sexual seria duramente perseguida
(VIANNA; BORTOLINI, 2020), tornando
-
se objeto de inúmeros projetos de lei proibicionistas
nas câmaras legisl
ativas de todo o país.
Atacar o gênero para atacar a esquerda
Se esse não foi o caso em outros países, no Brasil, o léxico da ideologia de gênero foi
instrumentalizado nos últimos anos fundamentalmente como uma tática de ataque não só a
políticas sexuais e de gênero, mas contra a esquerda. Se os opositores ao kit se
esforçavam em
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poupar o governo do qual faziam parte, de 2014 em diante a retórica anti
-
gênero assumiu claros
contornos de oposição e passou a compor de forma central o repertório reacionário em franco
crescimento. Enquanto grupos religiosos e de direita qu
e anteriormente apoiavam o Partido dos
Trabalhadores se moviam para a oposição, esta ofensiva anti
-
gênero estabeleceu uma
articulação estratégica com os crescentes movimentos políticos anti
-
esquerda, como o
movimento Escola Sem Partido (ESP). Articuladas,
essas ofensivas atualizaram uma antiga
tática discursiva, acionada pelo regime militar, que associa políticas sexuais e de gênero à
esquerda, feminismo ao comunismo, tudo junto a compor uma estratégia global supostamente
destinada a destruir a família, o c
ristianismo, o capitalismo e a sociedade ocidental. Ao
incorporar o combate à “ideologia de gênero”, o ESP cresceria em adesão e capilaridade
(MIGUEL, 2016) e, em troca, forneceria às ofensivas anti
-
gênero táticas de exposição,
perseguição e intimidação qu
e dariam início a um verdadeiro terrorismo ideológico nas escolas.
Capilarizadas nas esferas locais, essas ofensivas afetaram o cotidiano escolar e consolidaram,
na prática, um ambiente de censura e interdição desses debates.
O pânico moral criado em torn
o das políticas educacionais em gênero e sexualidade
ajudou a excitar uma narrativa sobre o governo do PT como fonte de corrupção
-
não só política,
mas também moral (KALIL, 2018). Ao tratar questões sexuais como crenças religiosas,
propostas educacionais
fundadas em uma perspectiva de gênero foram descritas como ataques
à fé pessoal, ao cristianismo e à liberdade das famílias. Ao denunciá
-
las como doutrinação
ideológica imposta por um governo corrupto, políticos de oposição apontavam o avanço de um
suposto
autoritarismo de esquerda, inimigo da família, dos valores cristãos e da democracia.
O antagonismo às políticas sexuais e de gênero na educação permitiu que parlamentares
envolvidos em escândalos de corrupção pudessem se apresentar como cristãos defensor
es da
família na tentativa de se desviar do sentimento anti
-
política crescente naquele momento.
Durante a sessão do
impeachment
de Dilma Rousseff em 2016, a política educacional em
gênero e diversidade sexual foi repetidamente citada como símbolo do avanço
de uma suposta
degradação social promovida pelo petismo, contra a qual uma restauração conservadora seria a
única solução.
Durante o governo de Michel Temer (2016
-
2018), embora não tenha havido um
investimento direto do Executivo contra a agenda de gênero
, o avanço das táticas capilares de
intimidação e censura contribuíram para consolidar uma sensação de que não havia espaço para
esses debates na escola. Em 2017, foi aprovada uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
que, tal qual o PNE, não trazia qualqu
er menção explícita a questões de gênero e que localizava
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a sexualidade (ainda que considerada sua dimensão social) apenas entre os conteúdos das
ciências da natureza.
Instrumentalização eleitoral e desmonte
Em 2018, o combate à política de gênero e diversidade sexual na educação seria
novamente instrumentalizado. Através de tecnologias digitais até então pouco utilizadas em
processos eleitorais, a campanha de Jair Bolsonaro divulgou informações falsas sobre m
ateriais
com conteúdo sexual que teriam sido supostamente distribuídos às escolas quando Fernando
Haddad, candidato pelo PT, era Ministro da Educação. Mais do que uma cortina de fumaça, a
excitação de estigmas misóginos e lgbtfóbicos, apoiada de modo centr
al nas políticas
educacionais, ajudou Bolsonaro a construir a imagem de uma autoridade masculina forte, até
hoje central em nossa representação de poder, reforçaram sua associação ao cristianismo e ao
militarismo e avivaram um sentido de restauração moral,
que respondia às emoções políticas
de muitos brasileiros naquele momento.
O início do novo governo marcou o fim, ao menos do ponto de vista institucional, do
ciclo da política educacional em gênero e diversidade sexual, tal qual ela se constitui nas últi
mas
duas décadas. Os ministros da educação nomeados em 2019, Ricardo Vélez Rodríguez e
Abraham Weintraub, assumiram explicitamente o objetivo de eliminar a “ideologia de gênero”
das escolas. A secretaria de onde emanaram as políticas de diversidade foi des
montada e as
estruturas federais de direitos humanos vêm desde então sendo instrumentalizadas para a
implementação de políticas familistas conservadoras (MARANHÃO FILHO; DE FRANCO,
2019). Como símbolo do novo governo, emergiu o programa de militarização da
s escolas, um
evidente investimento disciplinador, com efeitos simbólicos diametralmente opostos às
políticas de diversidade (BORTOLINI, 2021).
Entre retrocessos e resistências
Em meio ao avanço trágico da precarização das políticas sociais, da educação
, da saúde
e da própria democracia que marcou o Brasil entre 2016 e 2022, é possível encontrar
resistências. Nas eleições de 2020 (BARBABELA, 2021) e 2022, ainda que tímido, houve
avanço na representação política de mulheres, enquanto cresceu significativa
mente o número
de pessoas LGBT+ eleitas, o que aponta para a persistência desses grupos na arena política
brasileira. No campo específico da educação, foram derrubadas todas as leis que propuseram a
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proibição do ensino de gênero e diversidade sexual nas es
colas. Ainda que ausentes de menção
explícita no PNE e na BNCC, a abordagem destes temas segue tendo sustentação no quadro
legal e normativo da educação brasileira. Em janeiro de 2018, o Conselho Nacional de
Educação reforçou esse quadro, aprovando resoluç
ão que normatiza o reconhecimento da
identidade de travestis e transexuais na educação básica e orienta as escolas a combaterem
quaisquer formas de discriminação em função de orientação sexual e identidade de gênero.
Em meio a uma agenda anti
-
LGBT+ e anti
-
feminista que segue sendo acionada nas
disputas políticas (DOS PASSOS; BORTOLINI, 2022) e dos efeitos continuados do terrotismo
ideológico, ainda é possível identificar universidades e sistemas de ensino que persistem na
realização de iniciativas voltadas
para a disseminação de perspectivas de gênero e diversidade
sexual na educação. Os cursos de formação ofertados pela Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro ou as atividades sobre direitos de pessoas LGBT+ realizadas pela Secretaria de
Educação de Pe
rnambuco em 2021 são apenas dois exemplos, entre outras iniciativas. Em 2022,
após uma acirrada disputa eleitoral contaminada por notícias falsas sobre fechamento de igrejas
e instalação de banheiros unissex nas escolas, Luís Inácio Lula da Silva foi novam
ente
consagrado como Presidente da República. Embora a equipe de transição do novo governo
apontasse para a recriação de uma secretaria para a diversidade no MEC, o retorno das políticas
de gênero e sexualidade nas escolas ainda é incerto. Dada a configura
ção ampla da coalizão do
novo governo, a contaminação da arena pública e das comunidades escolares pela narrativa da
“ideologia de gênero” e o crescimento do poder político de grupos religiosos e conservadores,
o que o futuro nos aponta é para a retomada d
e uma intensa disputa para superar o medo, a
desinformação e o estigma e construir, através da educação, uma sociedade fundada na
liberdade, na democracia e na justiça social para todos, todas e
todes
.
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AGRADECIMENTOS
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Comissão
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Política de educação em gênero e diversidade sexual:
Histórico e presente da experiência brasileira
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação,
Araraquara,
v. 17, n. esp. 3, p.
2215
-
2234
, nov. 2022
e
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ISSN: 1982
-
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DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.3.16691
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MELLO, L.
et al
. Para além de um kit anti
-
homofobia: políticas públicas de educação para a
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Bagoas
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ract/?lang=pt. Acesso
em: 07 dez. 2021.
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Alexandre BORTOLINI e Cláudia Pereira VIANNA
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Como referenciar este artigo
BORTOLINI, A.; VIANNA, C. P. Política de Educação em gênero e diversidade sexual:
Histórico e presente da experiência Brasileira.
Revista Ibero
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Americana de Estudos em
Educação
,
Arar
aquara,
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ISSN: 1982
-
5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.3.16691.
Submetido em:
27/03/2022
Revisões requeridas em
: 08/06/2022
Aprovado em
: 11/09/20222
Publicado em
: 30/11/2022
Processamento e editoração: Editora Ibero
-
Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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Política educativa sobre género y diversidad sexual: Historia y presente de la
experiencia brasileña
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POLÍTICA EDUCATIVA SOBRE GÉNERO Y DIVERSIDAD SEXUAL: HISTORIA
Y PRESENTE DE LA EXPERIENCIA BRASILEÑA
POLÍTICA DE EDUCAÇÃO EM GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL: HISTÓRICO E
PRESENTE
DA EXPERIÊNCIA BRASILEIRA
EDUCATION POLICY ON GENDER AND SEXUAL DIVERSITY: HISTORY AND
PRESENT OF THE BRAZILIAN EXPERIENCE
Alexandre BORTOLINI
1
Cláudia Pereira VIANNA
2
RESUMEN
: Este
artículo
presenta parte de los resultados de una investigación doctoral
dedicada a analizar el ciclo de desarrollo de la política educativa sobre género y diversidad
sexual en Brasil. A partir de las proposiciones de Stephen Ball, que activan
nociones
foucaultianas de poder y discurso para el análisis de políticas educativas, se buscó, más allá de
la métrica, comprender las dinámicas político
-
discursivas que marcaron tanto la producción de
esta política como la reacción sistemática que se lanz
ó contra ella. Este texto analiza los
antecedentes de esta política, sus principales acciones, los agentes involucrados en su
construcción y el discurso pedagógico que produjeron. También se identifican sus principales
opositores, sus tácticas de acción y
estrategias discursivas, buscando comprender cómo se
articulan con los movimientos reaccionarios que han marcado al país en los últimos años.
Finalmente,
señalase
indicios de que el debate sobre género y diversidad sexual en las escuelas
sobrevive aún en t
iempos de conservadurismo, censura y terrorismo ideológico.
PALABRAS CLAVE
: Educación. Género. Sexualidad.
RESUMO
: Este artigo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa de doutorado dedicada
a analisar o ciclo de desenvolvimento da política
educacional em gênero e diversidade sexual
no Brasil. A partir das proposições de Stephen Ball, que acionam noções foucaultianas de
poder e discurso para a análise de políticas educacionais, buscou
-
se, para além da métrica,
compreender as dinâmicas polític
o
-
discursivas que marcaram tanto a produção dessa política
quanto a sistemática reação que se lançou sobre ela. Neste artigo, são apresentados seus
antecedentes, suas principais ações, os agentes envolvidos na sua construção e o discurso
pedagógico que pro
duziram. São identificados também seus principais opositores, suas táticas
de ação e estratégias discursivas, apontando como se articularam com os movimentos
reacionários que marcaram o país nos últimos anos. Por fim, apontam
-
se indícios de que o
debate so
bre gênero e diversidade sexual nas escolas sobrevive mesmo em tempos de
conservadorismo, censura e terrorismo ideológico.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Educação. Gênero. Sexualidade.
1
Universidad Federal de Rio de Janeiro
(UFRJ), Rio de Janeiro
–
RJ
–
Brasil.
Profesor Sustituto del Centro de
Políticas Públicas en Derechos Humanos. Doctorado en Educación
(USP).
ORCID: https://orcid.org/0000
-
0001
-
8769
-
6837. E
-
mail: bortolini.alexandre@gmail.com
2
Universidad de São Paulo (US
P), São Paulo
–
SP
–
Brasil.
Profesora Titular de la Facultad de Educación.
Doctorado en Educación
(USP).
ORCID: https://orcid.org/0000
-
0002
-
9366
-
4417. E
-
mail: cpvianna@usp.br
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Alexandre BORTOLINI
y
Cláudia Pereira VIANNA
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ABSTRACT
: This paper presents part of the results of a doctoral research dedicated
to analyze
the cycle of the educational policy on gender and sexual diversity in Brazil. Based on Stephen
Ball's propositions, which applies Foucault's notions of power and discourse on educational
policies, the analysis aimes,, beyond the metrics, to und
erstand the political
-
discursive
dynamics that marked both the production of this policy as the systematic reaction that has
been organized against it. This text analyzes the background of this policy, its main initiatives,
the agents involved in its const
ruction and the pedagogical discourse they produced. It also
identifies its main opponents, their tactics and discursive strategies, seeking to understand how
they are articulated with the reactionary movements that have dominated Brazil in recent years.
F
inally, the paper hilights evidences that the debate on gender and sexual diversity in schools
survives even in times of conservatism, censorship and ideological terrorism.
KEYWORDS
: Education. Gender. Sexuality.
Introducción
Este artículo
presenta parte de los resultados de una investigación doctoral en Educación
dedicada a analizar el conjunto de iniciativas del gobierno brasileño que, en las últimas dos
décadas, han propuesto críticas y reformulaciones de las prácticas y conocimientos esc
olares
con miras a hacer frente a la discriminación sexual y de género y promover los derechos de las
mujeres y las personas lesbianas, gay
,
bisexual, travesti y transexual (LGBT+)
en
y desde
la
educación. Iniciativas que, aunque dispersas y discontinuas,
consideradas en conjunto,
constituyeron lo que puede definirse como una política educativa en género y diversidad sexual.
La construcción de esta política pública reunió a académicos, activistas, directivos,
profesionales de la educación y estudiantes en
una red de comunicación, articulación y acción
que atravesó escuelas, universidades, movimientos sociales y organismos gubernamentales. En
este espacio de diálogo, se produjo de manera articulada y negociada un discurso pedagógico
diferenciado de los que h
abían habitado las políticas educativas brasileñas.
Incluso con un
presupuesto de bajo nivel y un alcance limitado, esta política ha incitado el debate en
innumerables escuelas, con un impacto en los sistemas educativos, la producción académica y
la legisl
ación educativa.
Desde temprana edad, estas iniciativas provocaron reacciones de diversos grupos
conservadores, cuyas ofensivas han adquirido un carácter sistemático en la última década. El
choque en torno a la enseñanza sobre género y diversidad sexual en
las escuelas desbordó
comunidades escolares y áreas de gestión, llegó al Congreso Nacional y a las disputas
electorales e hizo de esta política educativa un personaje relevante en los principales episodios
que marcaron la historia política brasileña recie
nte.
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Para entender su ciclo de desarrollo dentro de un paradigma sociocrítico, fue
fundamental la aportación del trabajo del investigador británico Stephen Ball. Al movilizar la
producción teórica de Michel Foucault para pensar en las políticas públicas, Ball (
2012) critica
los enfoques gerenciales y señala la importancia de interpretar la política educativa dentro del
contexto social y político más amplio.
Al aplicar una noción descentrada de poder al análisis de
las políticas educativas, su enfoque ayudó a con
struir una comprensión más amplia de los
espacios, tiempos y procesos por los cuales se construyó esta política pública. También
implicaba una percepción más plural de los agentes implicados en su producción y de la calidad
de su participación en la defini
ción de sus formas y su desarrollo. La noción de discurso de Ball
también ayudó a percibir esta política educativa como un campo político donde la función y los
significados de la educación se forjaron, negociaron y disputaron.
Desde esta perspectiva, se
construyó un diseño de investigación cualitativa centrado no
en una evaluación programática de las acciones y resultados de esta política educativa (algo ya
trabajado por investigaciones anteriores), sino en el conjunto de discursos que puso en disputa
y s
us efectos políticos más amplios. Para entenderlo en su dimensión político
-
discursiva, se
realizó un largo estudio bibliográfico, sumado a un análisis directo de materiales textuales
producidos tanto por sus directores como por sus antagonistas, que buscab
a mapear las
múltiples estrategias discursivas que estos agentes ponen en acción y sus efectos en la
producción, desarrollo e inflexión de esta política, y más allá de ella.
Dentro de los límites de este artículo, señalamos, en la primera parte, algunos
an
tecedentes que permitieron el surgimiento de una política educativa en género y diversidad
sexual en Brasil. A continuación, identificamos sus principales acciones, los agentes
involucrados en su construcción y el discurso pedagógico que produjeron. En la
tercera parte,
recorrimos episodios recientes para identificar a sus principales oponentes, sus tácticas de
acción y estrategias discursivas, analizando cómo se articularon con los movimientos
reaccionarios que marcaron los últimos años. Finalmente, traemo
s evidencia de que el debate
sobre género y diversidad sexual en las escuelas brasileñas resiste, incluso en un contexto de
conservadurismo, censura y terrorismo ideológico.
Antecedentes históricos
No es posible analizar ninguna política para promover los derechos de las mujeres y
LGBT+ en Brasil sin considerar la historia de exclusión, represión, criminalización y violencia
que definió la acción del Estado brasileño sobre los grupos subalternos dura
nte siglos.
La
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imposición de un sistema de género cis
-
heteronormativo masculinista y racializado fue parte
fundamental de los procesos de colonización que constituyeron sociedades como la nuestra
(LUGONES, 2020). Presente desde su génesis, el carácter patr
iarcal, clasista y racista del
Estado brasileño persiste incluso con el avance de los modelos políticos liberales y nuestra
inserción periférica en el capitalismo global, y sus marcas aún se pueden encontrar hoy.
(BIROLI, 2018).
En vista de esta inversión histórica, podemos pensar en una variedad de políticas
sexuales y de género, desarrolladas, en particular, desde la apertura democrática, como parte de
un proceso de despatriarcalización del Estado, en el sentido de que confronta
n, en su interior,
el carácter masculinista, racista y cis
-
heteronormativo de nuestras instituciones y formas de
gobierno (MATOS; PARADIS, 2014). Después de la contención del régimen militar, diferentes
campos políticos pudieron (re)organizarse, entre ello
s el activismo movilizado en torno a temas
de género y sexualidad.
(FACCHINI; CARMO; LIMA, 2020).
Apoyados por la Constitución
de 1988 y fortalecidos por el marco institucional producido a partir del ciclo de conferencias
organizadas por las Naciones Unida
s en la década de 1990, estos movimientos iniciaron
procesos de diálogo con el Estado brasileño para la construcción de políticas públicas centradas
ya no en la represión, sino en la promoción de los derechos
(CORRÊA, 2018).
Este proceso se intensificó co
n las políticas de participación social implementadas por
el Partido de los Trabajadores (PT)
(IRINEU, 2016).
En 2004, un año después de la toma de
posesión de Luís Inácio Lula da Silva, el Gobierno Federal celebró la conferencia nacional que
daría lugar a
l primer Plan Nacional de Política para la Mujer (PNPM). En el mismo año, se
lanzó el Programa Brasil Sin Homofobia (BSH) con el objetivo declarado de promover la
ciudadanía de las personas LGBT+. Si no se inauguraban, el PNPM y la BSH ampliaron el
volumen
, el alcance y la calidad de las políticas públicas dirigidas a estos grupos.
Producción
Al analizar los planes y programas derivados de estas políticas de participación social,
es posible percibir un papel estratégico de la educación. Por un lado, exis
te la necesidad de
superar el sexismo, el machismo y la lgbtfobia en la escuela como barreras para garantizar el
derecho a la educación de las mujeres y LGBT+. Por otro lado, las instituciones educativas se
conciben como una plataforma para una transformac
ión cultural más amplia, cuyos efectos irían
mucho más allá de los patios y las aulas. Estas propuestas cobraron impulso a partir de la
creación en 2004 de la Secretaría de Educación Continua, Alfabetización y Diversidad (Secad)
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en el Ministerio de Educaci
ón (MEC). La diversidad funcionó, entonces, como un "paraguas"
institucional y discursivo, agregando estratégicamente un amplio y variado conjunto de
políticas educativas, demandadas por múltiples movimientos sociales, que van desde la
educación indígena h
asta la socioeducación (CARREIRA, 2015). Entre las políticas educativas
para la diversidad, las centradas en cuestiones de género y sexualidad fueron uno de los puntos
más tensos. El desafío no era pequeño: transformar las escuelas brasileñas, históricamen
te
comprometidas con la reproducción de las disposiciones dominantes de género y sexualidad,
en instituciones que promovieran la diversidad sexual y la igualdad de género.
En 2005, el Ministerio de Educación lanzó la primera convocatoria pública para la
formación de profesionales de la educación derivados de Brasil Sin Homofobia. Los cursos de
género y diversidad sexual (GDS) se centraron en la discriminación por orientación
sexual e
identidad de género, al tiempo que promovieron la visibilidad positiva de las personas LGBT+,
algo muy innovador en ese momento. Inicialmente implementadas por organizaciones no
gubernamentales, estas formaciones pronto fueron asumidas por univer
sidades públicas y
mantenidas en todas las regiones del país. Paralelamente, en 2006 se lanzó el Curso de Género
y Diversidad en la Escuela (GDE), basado en una iniciativa de la Secretaría Especial de Políticas
para la Mujer (SPM). Construido sobre la rela
ción con un movimiento feminista multifacético,
el GDE trajo un enfoque innovador al tratar de trabajar, de manera articulada, las cuestiones de
género, la orientación sexual y las relaciones étnico
-
raciales. Creado por el Centro
Latinoamericano de Sexuali
dad y Derechos Humanos de la Universidad Estatal de Rio de
Janeiro (CLAM), el curso tomaría múltiples formas cuando sea acampado por instituciones de
educación superior en todo el país. Los proyectos de capacitación desarrollados tanto en el GDE
como en el
GDS también incluyeron la producción de materiales didácticos y la realización de
actividades de multiplicación en las escuelas, ampliando las asignaturas movilizadas más allá
de las inmediatamente logradas por los cursos.
También cabe mencionar otras do
s líneas de acción: el Premio Construyendo Igualdad
de Género, que premió escuelas y textos producidos por estudiantes
-
y el Proyecto Escuela Sin
Homofobia
-
que preveía la producción de material, la realización de investigaciones y la
formación de una re
d de gestores. Estas y otras acciones, irradiadas desde el Gobierno Federal,
involucraron forzosamente, en mayor o menor medida, a los sistemas educativos estatales y
municipales, y proporcionaron importantes espacios para el diálogo entre movimientos
soci
ales, instituciones de investigación y redes educativas.
Examinando los productos de estas iniciativas en diálogo con la literatura existente (en
particular
FERNANDES, 2011; MELLO
et al.
, 2012; CARREIRA, 2015; IRINEU, 2016),
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posible identificar una mult
iplicidad de agentes que trabajaron en la construcción de estas
acciones:
Asociaciones, organizaciones y colectivos activistas, especialmente LGBT+ y
feministas, fueron responsables de gran parte del impacto político que permitió el desarrollo de
una agen
da de género y diversidad sexual en la educación. Colaboraron en la implementación
de las iniciativas, cuando no tomaron su propia realización. De estos activismos también surgen
ideas políticas que fueron parte fundamental del repertorio de esta política
educativa.
Los gestores públicos de la educación, desde políticos de alto perfil, que asumieron un
papel central en disputas legislativas o funciones decisivas en el ejecutivo, hasta sujetos que
trabajan en los espacios menos visibles de la gestión públic
a fueron responsables de crear las
condiciones políticas, técnicas y operativas que permitieron el flujo de agendas de género y
diversidad sexual en el sistema político y en eventos gubernamentales, a veces constituyendo
verdaderos militantes que se enfre
ntan al patriarcado dentro del Estado.
Investigadores, docentes, estudiantes y técnicos vinculados a instituciones públicas de
educación superior, en su mayoría activos en el campo de los estudios de género y sexualidad,
constituyeron otro importante agent
e colectivo. Su capacidad de circulación a través de la
gestión educativa, su posición privilegiada de enunciación y la infraestructura que tenía
disponible en sus instituciones fueron sus principales instrumentos de acción.
Asumieron la
coordinación y eje
cución de proyectos de capacitación y producción de materiales, actuaron
como consultores en la elaboración de directrices y tomaron asiento en la mayoría de los
mecanismos de participación social. Su investigación fue impulsada para fundamentar
científica
mente y legitimar la necesidad de una política educativa en género y diversidad sexual.
También trajeron consigo conceptos y teorías fundamentales para la construcción de una
pedagogía crítica con las regulaciones de género y sexualidad.
Los
profesionales de la educación, especialmente los maestros logrados por la educación
continua, repetidamente reducidos por la literatura a meros "implementadores", poco
escuchados al formular planes y programas, fueron responsables de materializar esta polí
tica
en el piso escolar.
Afectada por acciones formativas discontinuas, con escasos o nulos recursos
y relatando un apoyo institucional vacilante, su principal herramienta fue la creatividad
pedagógica. En su trabajo polivalente y recurrentemente solitario
, se enfrentaron al
conservadurismo, reorganizaron prácticas naturalizadas, reordenaron espacios e inventaron
formas de trabajar contenidos que aún estaban ausentes de los currículos de educación básica.
Por último, pero no menos importante, los estudiantes de educación básica,
especialmente las mujeres y LGBT+, la mayoría de los análisis percibidos como públicos
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objetivo, fueron los principales movilizadores de las escuelas para el debate sobre género y
s
exualidad, basado en una postura de afrenta que cuestionaba las prácticas escolares sexistas y
lgbtfóbicas que aún estaban naturalizadas. También desempeñaron un papel directamente
creativo en la producción de recursos pedagógicos y acciones de multiplicac
ión.
Un discurso pedagógico innovador
La interacción colaborativa entre estos múltiples agentes, simultáneamente
convergentes y polisémicos, fue capaz de generar un discurso pedagógico innovador en muchos
aspectos. Un discurso que avanzó en proponer la
incorporación efectiva de la perspectiva de
género en la educación y pronunció al proponer un debate sobre la orientación sexual y la
identidad de género en la escuela desde la perspectiva de la diversidad y los derechos humanos.
A partir del análisis de p
arte de la producción textual de esta política educativa, fue posible
identificar algunos de sus núcleos de significado.
La noción, subsumida en el concepto de género, de que los significados de femenino y
masculino, así como las relaciones entre hombres
y mujeres, son producto no de una diferencia
sexual innata, fija y universal, sino de una construcción social, histórica y cambiante es un
núcleo fundamental de este discurso pedagógico. Esta noción se basa en una multiplicidad de
conocimientos derivados d
e las ciencias sociales y humanas, por un lado, y en el aprendizaje
acumulado de los movimientos sociales, por el otro.
A partir de este conocimiento, se denuncia
como la naturalización de una diferencia sexual sustenta la existencia de un sistema de
domin
ación masculina, que privilegia a los hombres sobre las mujeres, garantizado, a menudo,
por el ejercicio violento de un poder masculino. También se denuncia un sistema cis
-
heteronormativo, que impone a través de diferentes técnicas
-
incluso violentas
-
una
cadena que
une sexo, identidad de género y orientación sexual. Propone una comprensión articulada de las
regulaciones de género y sexualidad, en las que la misoginia, el machismo, la lgbtfobia y el
sexismo se consideran formas integradas de regulación. Tam
bién hay una perspectiva
interseccional, incipiente al principio, pero intensificada con el tiempo, que permite identificar
el mismo sistema, simultáneamente patriarcal, capitalista, racista y cis
-
heteronormativo, a
combatir.
En oposición a la idea de una
diferencia sexual naturalizada, esta perspectiva
construccionista percibe cuerpos, expresiones, identidades de género, prácticas sexuales y
afectivas no desde un estándar normativo naturalizado, sino en su multiplicidad, invirtiendo en
el reconocimiento y
apreciación de las diferencias. La deconstrucción de la diferencia sexual se
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hace, por un lado, despreciando los procesos históricos y políticamente involucrados en la
producción de conocimiento científico, especialmente el conocimiento producido por las
c
iencias biológicas. Por otro lado, denunciando el papel histórico del cristianismo en la
constitución simbólica y política de las normas de género y sexualidad, que se opone al laicado
como principio organizador del Estado y la escuela. A partir de estas c
ríticas, se denuncian
como violaciones de derechos prácticos fundamentales que, intencionalmente o no, operan
mediante la normalización de los sujetos a estándares normativos de género y sexualidad.
Esta construcción discursiva, si bien reconoce a la escue
la como un espacio histórico
para la reproducción de las regulaciones sexuales y de género, cree e invierte en su potencial
transformador. La escuela está llamada a revisarse a sí misma para superar las prácticas
discriminatorias y convertirse en un espaci
o para promover la igualdad de género y valorar la
diversidad sexual y de género en su comunidad y más allá. La noción de diversidad desde la
cual se propone la discusión de género y sexualidad en la escuela apunta a una táctica no
conflictiva, que prioriz
a una inversión en el diálogo pedagógico más que en la confrontación.
Bajo este marco común, sin embargo, se construyeron prácticas pedagógicas muy
diferentes, en el sentido y en la intensidad. Analizando las actividades desarrolladas en las
escuelas por
educadores que participaron en cursos de educación continua, es posible encontrar
prácticas que apuestan por la tolerancia, el respeto, la superación de la violencia y la promoción
de un ambiente de paz, sin que necesariamente signifique un cambio sustanti
vo en los supuestos
sexistas y cis
-
heteronormativos que organizan la vida escolar.
Hay otros, sin embargo, que han
actuado más allá de la lucha contra la discriminación, invirtiendo en la deconstrucción de la
escuela como una tecnología de normalización se
xual y de género, proponiendo una revisión
exhaustiva de las prácticas pedagógicas, el currículo y la gestión escolar. La coexistencia de
inversiones moderadas y radicales es característica de esta política educativa.
Aunque estas concepciones no eran en
sí mismas desconocidas y ya circulaban en
círculos científicos y movimientos sociales, la forma en que fueron trabajadas e incorporadas
en un lenguaje pedagógico fue, de hecho, una innovación en la política educativa brasileña.
Avance y precariedad
Desde sus primeros años de implementación, la política educativa en género y
diversidad sexual ha sobrevivido en gran medida con recursos provenientes de enmiendas
parlamentarias, no estando entre las prioridades presupuestarias del Gobierno Federal.
Aunqu
e
inexactos, los registros oficiales muestran inversiones de alrededor de 70 millones de reales
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Política educativa sobre género y diversidad sexual: Historia y presente de la
experiencia brasileña
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Revista Ibero
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Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 3, p.
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entre 2005 y 2014
-
a partir de 2015 no hubo fondos significativos
-
y más de 50.000
profesionales de la educación logrados por acciones de capacitación en el per
íodo. Parecen
números grandes, pero se vuelven irrisorios en el presupuesto general del MEC
-
aunque
considerando solo inversiones enfocadas en políticas de diversidad (CARREIRA, 2015)
-
o en
relación con el número total de docentes en el país
-
más de 2 mill
ones de profesionales
-
.
Un estudio producido por la Universidad Federal de Goiás en 2012 sobre acciones
educativas derivadas del programa Brasil Sin Homofobia critica con razón la escala de las
acciones implementadas, debido a su incapacidad para llegar a
la mayor parte del sistema
educativo del país
(MELLO
et al.
, 2012).
Los autores también destacan la puntualidad de las
acciones, que habrían producido efectos muy limitados en las prácticas escolares. Este análisis
contrasta con el expresado en la evaluación producida por el Centro Latinoamericano de
Sexualidad y Derechos
Humanos sobre el curso GDE, que describe las iniciativas de formación
como una práctica exitosa e inédita en la historia de la educación brasileña (CARRARA
et al.
,
2011).
Poco preocupado por la escala, el informe se centra en la innovación y la intensidad
de
la experiencia vivida por los sujetos y organizaciones que participaron en estas iniciativas.
Otro
estudio, también producido por el CLAM unos años más tarde
(CARRARA
et al.
, 2017),
muestra evidencia que el bagaje teórico
-
conceptual, el conjunto de info
rmación, la perspectiva
y el ejercicio del diálogo a lo largo de los cursos permitieron, al menos para parte de los
profesionales de la educación involucrados, construir instrumentos para actuar en el día a día
de sus escuelas.
Más que irreconciliables, es
tos análisis parecen apuntar precisamente a la
coexistencia de avances y precariedad como marca de política educativa en género y diversidad
sexual en Brasil. Si bien es imposible negar la intensidad cualitativa de muchas experiencias
pedagógicas experimen
tadas por escuelas y educadores, los resultados cuantitativos de estas
acciones aún estaban muy lejos de lo que sería necesario para producir cambios sustanciales en
el sistema escolar brasileño en su conjunto.
Además de los números
Además de movilizar
redes educativas y escuelas, la política educativa en género y
diversidad sexual ha tenido un impacto importante en el propio campo científico. La ejecución
de cursos en universidades estuvo a cargo en su mayoría de centros de investigación y proyectos
de
extensión, movilizando cada oferta un conjunto significativo de profesores, técnicos,
estudiantes de pregrado y posgrado.
Esto contribuyó a la consolidación de grupos de
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investigación y extensión en torno a estos temas en las universidades, generando tambi
én
impactos en la producción científica
(CARRARA
et al.
, 2017).
También se han producido importantes avances en el marco normativo de las políticas
educativas. Analizando los lineamientos educativos aprobados por el Consejo Nacional de
Educación a lo largo de la década de 2000, es posible encontrar evidencias de las ag
endas de
las mujeres y LGBT+, materializadas en referencias de género, identidad de género, orientación
y diversidad sexuales. En su conjunto, estas directrices educativas afirman la necesidad de
trabajar en temas relacionados con el género y la sexualidad
desde la educación infantil hasta
la escuela secundaria, apuntando a un enfoque centrado no en la estandarización del
comportamiento, sino en la reflexión crítica, en la autonomía de los sujetos, en la libertad de
acceso al conocimiento, en el reconocimie
nto de las diferencias y en el enfrentamiento de todas
las formas de discriminación y violencia.
Aunque en términos de alcance y recursos su programa se ha reducido
considerablemente, esta política constituyó una posición explícita, aunque precaria, de
di
ferentes esferas de gobierno sobre la relevancia de abordar las cuestiones de género y
sexualidad en la escuela dentro de una perspectiva de valoración de la diversidad, lucha contra
la desigualdad y promoción de los derechos humanos. Además del aspecto pr
ogramático, esta
dimensión expresiva y comunicativa de las políticas públicas
(PECHENY; DE LA DEHESA,
2011)
no se puede considerar lo suficiente. En un contexto político progresista, esta posición,
aunque vacilante, sirvió de legitimación para quienes quer
ían hablar de género y sexualidad en
la escuela, permitiendo la proliferación de experiencias didácticas que iban más allá del radio
de acción directo de los cursos de formación.
La reacción
Desde su implementación, la política de educación de género y
diversidad sexual ha
provocado reacciones, desde un inicio esporádico y puntual, pero que, con el tiempo, han
ganado escala, capilaridad y se han vuelto sistemáticas. Encabezado por políticos de derecha,
líderes religiosos, grupos conservadores y agentes
del militarismo, el antagonismo a esta
política ganó el apoyo de grandes sectores de la sociedad.
Después de la crisis política de 2013,
la lucha contra la discusión de género y sexualidad en las escuelas comenzó a integrar
centralmente el repertorio de mo
vimientos reaccionarios que tomó Brasil en los años siguientes.
Para comprender la naturaleza, la dinámica y los efectos políticos más amplios de esta reacción,
se investigaron algunos episodios significativos, cuyo análisis resumimos a continuación.
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La
polémica del "kit
gay
"
El primero de estos episodios, ya ampliamente analizado, ocurrió en 2011, el primer año
de la administración de Dilma Rousseff, involucrando el conjunto de materiales producidos por
el Proyecto Escuela Sin Homofobia. Presentado en un seminario en el Congre
so Nacional a
finales de 2010, el material fue duramente atacado por el congresista Jair Bolsonaro, hasta
entonces, un congresista poco expresivo más allá de su propio círculo militar.
Autor del término
"kit
gay
", Bolsonaro ya había estado emprendiendo una
oposición sistemática a las políticas
sexuales y de género, especialmente en la educación. Al comienzo del nuevo año legislativo,
otros parlamentarios se unieron al ataque al material, en particular, los congresistas vinculados
a las bancadas religiosas.
Al examinar los más de cien pronunciamientos opuestos a la distribución de material
dado por los parlamentarios en el plenario de la Cámara de Representantes entre finales de 2010
y principios de 2012, fue posible identificar una línea argumentativa común
. El eje central de
su discurso acusó al material de, al presentar positivamente la experiencia de los personajes
LGBT+, ir más allá de la lucha contra la discriminación para caracterizarse como un
instrumento de incitación y promoción de comportamientos s
upuestamente desviables (tanto
desde el punto de vista religioso como biológico), que podrían ser tolerados, pero nunca
valorados, especialmente entre niños y jóvenes.
Este enfoque, que los parlamentarios acusaron
de ser incitado por un activismo que tendr
ía una influencia desproporcionada sobre el gobierno,
constituiría, en su opinión, una amenaza para la infancia y la juventud. En las declaraciones de
estos parlamentarios, la valorización de múltiples prácticas afectivo
-
sexuales e identidades de
género fu
e percibida como un ataque a los supuestos que constituirían fundamentos de la
familia, siempre entendidos en singular, dentro de una perspectiva cis
-
heteronormativa.
Al
sacudir a la familia, pondrían en riesgo lo que se identifica como la
institución responsable de
la formación moral de la sociedad. En estos discursos, la moral y el cristianismo se confunden
y la religión se percibe como el único lenguaje posible de formación ética. Al atacar
supuestamente puntos que serían fundamentales en
la formación moral cristiana, el material
constituiría una amenaza capaz de afectar la integridad de toda la sociedad brasileña.
Presionado por frentes religiosos en el Congreso, incluso por legisladores conservadores
que en ese momento constituían su pro
pia base de apoyo, el Gobierno Federal, finalmente
suspendió la distribución del material, que fue vetado públicamente por el presidente. En medio
del anuncio de la interrupción del material, Dilma Rousseff, al ser interrogada por los
periodistas, declaró
que el gobierno seguía comprometido con la lucha contra las prácticas
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homofóbicas, pero que ninguna agencia gubernamental estaría autorizada a "anunciar opciones
sexuales". Al justificar el veto basándose no en la presión política sufrida por el gobierno,
sino
en la supuesta insuficiencia del material, Dilma Rousseff terminó legitimando y reforzando el
discurso reaccionario de quienes identificaron el debate de género y diversidad sexual en la
educación como inculcación ideológica y amenaza moral.
Este epis
odio marcó un momento de gran visibilidad de la política educativa en género
y diversidad sexual, que, hasta entonces fuera del foco público, ganó un espacio inusual en las
noticias nacionales. Desafortunadamente, esta visibilidad no fue positiva, por el c
ontrario,
despertó estigmas y prejuicios arraigados en la sociedad brasileña, alimentó ansiedades sobre
las políticas educativas y tuvo como resultado una derrota pública del campo LGBT+, cuyos
efectos aún resuenan hasta el día de hoy. Además de la mera su
spensión de un material
didáctico, el veto al kit marcó un punto de inflexión, del cual toda la agenda LGBT+ fue
contingente y puesta bajo monitoreo en las diferentes áreas de gobierno (CARREIRA, 2015).
La disputa de los planes educativos
Dos años desp
ués del veto del kit, en 2013, Brasil vio surgir manifestaciones callejeras
masivas que iniciaron una crisis política que ha cambiado considerablemente las relaciones de
fuerza en la arena pública nacional. Las protestas de la izquierda expresaron en parte
expectativas frustradas de cambios más radicales, imposibles por los acuerdos que el gobierno
hizo para montar una mayoría cada vez más inestable en el Congreso y su eliminación de las
bases de los movimientos sociales (BRINGEL, 2013). A la derecha, lo qu
e se vio fue la
liberación de discursos explícitamente conservadores y reaccionarios, hasta entonces
contenidos por la hegemonía del progresismo social y ahora canalizados por nuevos y viejos
actores políticos (NOBRE, 2013). Si no perdía a sus votantes inm
ediatamente, la izquierda ya
no podía definir los significados del debate político nacional (PINTO, 2017).
El choque en torno al Plan Nacional de Educación (PNE) es simbólico de este proceso
de cambio en las relaciones de fuerza y avance de un proyecto co
nservador. En el análisis de
los discursos de los congresistas pronunciados durante la segunda vuelta de votación de la PNE,
en 2014, las menciones al "kit
gay
"
están dando lugar a una expresión hasta entonces poco
conocida por el público brasileño: la "ideología de género".
Formulada y difundida por las redes
católicas como reacción a los avances en la agenda de derechos sexuales y reproductivos en el
escenario i
nternacional (CASE, 2019), la estrategia discursiva de la "ideología de género" operó
como aglutinante de una serie de reacciones a las políticas feministas y LGBT+, que antes
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estaban dispersas y extemporáneas, formando una inversión reaccionaria poderosa
y
sistemática. Funcionando como un significante vacío (LACLAU, 2013), esta expresión se
desencadenó de diferentes maneras en múltiples contextos alrededor del mundo, especialmente
en Europa y América Latina (FASSIN, 2021), generando diversos efectos políti
cos.
En los discursos de los parlamentarios brasileños, este término fue utilizado para
referirse a una pluralidad de ideas, conceptos, proposiciones que, de diferentes maneras,
confrontaron conceptos normativos y naturalizados de diferencia sexual y prop
usieron una
perspectiva construccionista del cuerpo, la sexualidad, las identidades y las relaciones,
representadas por el concepto de género. Al tratar el género como una ideología, los
congresistas descalificaron este conocimiento como científico, al tie
mpo que lo caracterizaron
como parte de una estrategia de imposición cultural que se aparta del activismo político
minoritario.
Como la palabra "género" traería incrustada esta "ideología", debería eliminarse de
los documentos oficiales, junto con otros té
rminos relacionados, como una forma de evitar que
estas ideas lleguen a las escuelas, poniendo en peligro la formación moral de los niños y
jóvenes. A finales de 2014, el Congreso brasileño aprobó el Plan Nacional de Educación (2014
-
2024), borrando cualqui
er referencia al género y la sexualidad.
Aunque la PNE mantuvo, aunque de manera general, el compromiso de la educación
para combatir todas las formas de discriminación, los agentes conservadores difundieron una
narrativa de que la eliminación de términos
específicos del plan significaba la prohibición del
debate sobre estos temas en las escuelas. Incluso falsa, esta narrativa contaminó redes e
instituciones educativas, produciendo dudas e inseguridad entre los profesionales de la
educación que querían abo
rdar estos temas.
En un contexto de avance del conservadurismo, la bandera de la lucha contra la
"ideología de género" se ha convertido en un interesante instrumento de producción de capital
político para múltiples agentes, componiendo una ofensiva
sistemática contra las políticas
feministas y LGBT+ que tenían como objetivo principal la educación. En las votaciones
secuenciales de los planes educativos estatales y municipales, se seguiría con dureza la política
educativa en género y diversidad sexual
(VIANNA; BORTOLINI, 2020), convirtiéndose en
objeto de numerosos proyectos de ley prohibicionistas en las cámaras legislativas de todo el
país.
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Atacar el género para atacar a la izquierda
Si este no fue el caso en otros países, en Brasil, el léxico de la ideología de género ha
sido instrumentalizado en los últimos años principalmente como una táctica de ataque no solo
a las políticas sexuales y de género, sino contra la izquierda. Si los op
ositores del kit lucharon
por salvar al gobierno del que formaban parte, a partir de 2014 la retórica antigénero adquirió
claros contornos de oposición y comenzó a componer centralmente el repertorio reaccionario
en rápido crecimiento. Mientras que los gru
pos religiosos y de derecha que anteriormente
apoyaban al Partido de los Trabajadores se movieron hacia la oposición, esta ofensiva
antigénero estableció una articulación estratégica con crecientes movimientos políticos anti
izquierdistas como el movimient
o Escuela Sin Partido (ESP).
Articuladas, estas ofensivas
actualizaron una vieja táctica discursiva, desencadenada por el régimen militar, que asocia la
política sexual y de género en la izquierda, el feminismo con el comunismo, junto con el inicio
de una
estrategia global supuestamente dirigida a destruir la familia, el cristianismo, el
capitalismo y la sociedad occidental. Al incorporar la lucha contra la "ideología de género",
ESP crecería en adherencia y capilaridad (MIGUEL, 2016) y, a cambio, proporcio
naría
ofensivas antigénero con exposición, persecución e intimidación que iniciarían un verdadero
terrorismo ideológico en las escuelas. Capilares en los ámbitos locales, estas ofensivas afectaron
la rutina escolar y consolidaron, en la práctica, un ambien
te de censura e interdicción de estos
debates.
El pánico moral creado en torno a las políticas educativas en género y sexualidad ayudó
a excitar una narrativa sobre el gobierno pt como fuente de corrupción, no solo política, sino
también moral (KALIL, 201
8). Cuando se trata de cuestiones sexuales como las creencias
religiosas, las propuestas educativas basadas en una perspectiva de género han sido descritas
como ataques a la fe personal, el cristianismo y la libertad de las familias. Al denunciarlos como
a
doctrinamiento ideológico impuesto por un gobierno corrupto, los políticos de la oposición
señalaron el avance de un supuesto autoritarismo de izquierda, enemigo de la familia, los
valores cristianos y la democracia.
El antagonismo a las políticas sexuale
s y de género en la educación permitió a los
parlamentarios involucrados en escándalos de corrupción presentarse como defensores de la
familia cristiana en un intento de desviarse del creciente sentimiento antipolítico en ese
momento. Durante la
sesión de
destitución
de Dilma Rousseff en 2016
, la política educativa
sobre género y diversidad sexual fue citada repetidamente como símbolo del avance de una
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supuesta degradación social promovida por el petismo, contra la cual una restauración
conservadora sería l
a única solución.
Durante el gobierno de Michel Temer (2016
-
2018), aunque no hubo inversión directa
del Ejecutivo contra la agenda de género, el avance de las tácticas capilares de intimidación y
censura contribuyó a consolidar una sensación de que no habí
a espacio para estos debates en la
escuela. En 2017, se aprobó una Base Curricular Nacional Común (BNCC) que, al igual que la
PNE, no trajo ninguna mención explícita a las cuestiones de género y que ubicó la sexualidad
(aunque se considera su dimensión soc
ial) solo entre los contenidos de las ciencias de la
naturaleza.
Instrumentalización y desmantelamiento electoral
En 2018, la lucha contra la política de género y la diversidad sexual en la educación
volvería a ser instrumentalizada. A través de tecnolo
gías digitales hasta ahora poco utilizadas
en procesos electorales, la campaña de Jair Bolsonaro reveló información falsa sobre materiales
con contenido sexual que supuestamente habrían sido distribuidos a las escuelas cuando
Fernando Haddad, candidato por
el PT, era ministro de Educación. Más que una cortina de
humo, la emoción de los estigmas misóginos y lgbtfóbicos, apoyados centralmente en las
políticas educativas, ayudó a Bolsonaro a construir la imagen de una autoridad masculina fuerte,
aún central pa
ra nuestra representación del poder, fortaleció su asociación con el cristianismo
y el militarismo y revivió un sentido de restauración moral, que respondió a las emociones
políticas de muchos brasileños en ese momento.
El inicio del nuevo gobierno marcó
el final, al menos desde el punto de vista
institucional, del ciclo de política educativa en género y diversidad sexual, tal como se ha
constituido en las últimas dos décadas. Los ministros de educación nombrados en 2019, Ricardo
Vélez Rodríguez y Abraham
Weintraub, asumieron explícitamente el objetivo de eliminar la
"ideología de género" de las escuelas. Se desmanteló la secretaría de la que emanaban las
políticas de diversidad y desde entonces se han instrumentalizado las estructuras federales de
derechos
humanos para la aplicación de políticas conservadoras sobre la familia (MARANHÃO
FILHO; FRANCO, 2019). Como símbolo del nuevo gobierno, surgió el programa de
militarización de las escuelas, una clara inversión disciplinaria, con efectos simbólicos
diametr
almente opuestos a las políticas de diversidad
(BORTOLINI, 2021).
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Entre retrocesos y resistencias
En medio del trágico avance de las precarias políticas sociales, educación, salud y
democracia que marcaron Brasil entre 2016 y 2022, es posible encontrar resistencia. En las
elecciones de 2020 (BARBABELA, 2021) y 2022, aunque tímidas, hubo avances en la
r
epresentación política de las mujeres, mientras que el número de personas LGBT+ elegidas,
aumentó significativamente, lo que apunta a la persistencia de estos grupos en la arena política
brasileña. En el ámbito específico de la educación, se anularon todas
las leyes que proponían la
prohibición de la educación de género y la diversidad sexual en las escuelas. Aunque ausente
de mención explícita en el PNE y el BNCC, el enfoque de estos temas sigue siendo apoyado en
el marco legal y normativo de la educación
brasileña. En enero de 2018, el Consejo Nacional
de Educación reforzó este marco, aprobando una resolución que regula el reconocimiento de la
identidad de travestis y transexuales en la educación básica y dirige a las escuelas a combatir
cualquier forma de
discriminación basada en la orientación sexual y la identidad de género.
En medio de una agenda anti
-
LGBT+ y
antifeminista
que continúa disparándose en
disputas políticas (DOS PASSOS; BORTOLINI, 2022) y los efectos continuos del
terrorismo
ideológico, to
davía es posible identificar universidades y sistemas educativos que persisten en
llevar a cabo iniciativas dirigidas a la difusión de las perspectivas de género y la diversidad
sexual en la educación. Los cursos de capacitación ofrecidos por la Universida
d Federal Rural
de Rio de Janeiro o las actividades sobre derechos de las personas LGBT+ realizadas por el
Departamento de Educación de Pernambuco en 2021 son solo dos ejemplos, entre otras
iniciativas. En 2022, después de una feroz disputa electoral manch
ada por noticias falsas sobre
el cierre de iglesias y la instalación de baños unisex en las escuelas, Luís Inácio Lula da Silva
fue consagrado nuevamente como presidente de la República. Aunque el equipo de transición
del nuevo gobierno señaló la recreació
n de una secretaría para la diversidad en el MEC, el
retorno de las políticas de género y sexualidad en las escuelas aún es incierto. Dada la amplia
configuración de la coalición del nuevo gobierno, la contaminación de la arena pública y las
comunidades es
colares por la narrativa de la "ideología de género" y el crecimiento del poder
político de los grupos religiosos y conservadores, lo que apunta el futuro es la reanudación de
una intensa disputa para superar el miedo, la desinformación y el estigma y cons
truir, A través
de la educación, una sociedad fundada en la libertad, la democracia y la justicia social para
todos, todos
y todes
.
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AGRADECIMIENTOS
: A la Coordinación para el Perfeccionamiento del Personal de
Educación Superior, la Comisión
Fulbright
Brasil y el Consejo Nacional de Desarrollo
Científico y Tecnológico
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experiencia brasileña
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Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 3, p.
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ISSN: 1982
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DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.3.16691
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Alexandre BORTOLINI
y
Cláudia Pereira VIANNA
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Cómo hacer referencia a este artículo
BORTOLINI, A.; VIANNA, C. P. Política de Educação em gênero e diversidade sexual:
Histórico e presente da experiência Brasileira.
Revista Ibero
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Araraquara,
v. 17, n. esp. 3, p.
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, nov. 2022. e
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ISSN: 1982
-
5587.
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.3.16691
Presentado en:
27/03/2022
Revisiones requeridas en
: 08/06/2022
Aprobado en
: 11/09/20222
Publicado en
:
30/11/2022
Procesamiento y edición: Editora Iberoamericana de Educación
-
EIAE.
Corrección, formateo, normalización y traducción.
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Education policy on gender and sexual diversity:
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EDUCATION POLICY ON GENDER AND SEXUAL DIVERSITY: HISTORY AND
PRESENT OF THE BRAZILIAN EXPERIENCE
POLÍTICA DE EDUCAÇÃO EM GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL: HISTÓRICO E
PRESENTE
DA EXPERIÊNCIA BRASILEIRA
POLÍTICA EDUCATIVA SOBRE GÉNERO Y DIVERSIDAD SEXUAL: HISTORIA Y
PRESENTE DE LA EXPERIENCIA BRASILEÑA
Alexandre BORTOLINI
1
Cláudia Pereira VIANNA
2
ABSTRACT
: This paper presents part of the results of a doctoral research dedicated to analyze
the cycle of the educational policy on gender and sexual diversity in Brazil. Based on Stephen
Ball's propositions, which applies Foucault's notions of power and
discourse on educational
policies, the analysis aimes,, beyond the metrics, to understand the political
-
discursive
dynamics that marked both the production of this policy as the systematic reaction that has been
organized against it. This text analyzes the
background of this policy, its main initiatives, the
agents involved in its construction and the pedagogical discourse they produced. It also
identifies its main opponents, their tactics and discursive strategies, seeking to understand how
they are articu
lated with the reactionary movements that have dominated Brazil in recent years.
Finally, the paper hilights evidences that the debate on gender and sexual diversity in schools
survives even in times of conservatism, censorship and ideological terrorism.
KEYWORDS
: Education. Gender. Sexuality.
RESUMO
: Este artigo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa de doutorado dedicada
a analisar o ciclo de desenvolvimento da política educacional em gênero e diversidade sexual
no Brasil. A partir das
proposições de Stephen Ball, que acionam noções foucaultianas de
poder e discurso para a análise de políticas educacionais, buscou
-
se, para além da métrica,
compreender as dinâmicas político
-
discursivas que marcaram tanto a produção dessa política
quanto a
sistemática reação que se lançou sobre ela. Neste artigo, são apresentados seus
antecedentes, suas principais ações, os agentes envolvidos na sua construção e o discurso
pedagógico que produziram. São identificados também seus principais opositores, suas
táticas
de ação e estratégias discursivas, apontando como se articularam com os movimentos
reacionários que marcaram o país nos últimos anos. Por fim, apontam
-
se indícios de que o
debate sobre gênero e diversidade sexual nas escolas sobrevive mesmo em temp
os de
conservadorismo, censura e terrorismo ideológico.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Educação. Gênero. Sexualidade.
1
Federal University of Rio de Janeiro
(UFRJ), Rio de Janeiro
–
RJ
–
Bra
z
il.
Substitute Professor at the Center for
Public Policies in Human Rights.
PhD in Education
(USP).
ORCID: https://orcid.org/0000
-
0001
-
8769
-
6837. E
-
mail: bortolini.alexandre@gmail.com
2
University of São Paulo
(USP), São P
aulo
–
SP
–
Bra
z
il.
Senior Lecturer at the
School
of Education.
PhD in
Education
(USP).
ORCID: https://orcid.org/0000
-
0002
-
9366
-
4417. E
-
mail: cpvianna@usp.br
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Alexandre BORTOLINI
and
Cláudia Pereira VIANNA
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ISSN: 1982
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RESUMEN
:
Este artículo presenta parte de los resultados de una investigación doctoral
dedicada a analizar el ciclo de desarrollo de la política educativa sobre género y diversidad
sexual en Brasil. A partir de las proposiciones de Stephen Ball, que activan nociones
foucaultianas de poder y discurso para el análisis de políticas educativas, se buscó, más allá
de la métrica, comprender las dinámicas político
-
discursivas que marcaron tanto la
producción de esta política como la reacción sistemática que se lanzó contra
ella. Este texto
analiza los antecedentes de esta política, sus principales acciones, los agentes involucrados en
su construcción y el discurso pedagógico que produjeron. También se identifican sus
principales opositores, sus tácticas de acción y estrategi
as discursivas, buscando comprender
cómo se articulan con los movimientos reaccionarios que han marcado al país en los últimos
años. Finalmente, señalase indicios de que el debate sobre género y diversidad sexual en las
escuelas sobrevive aún en tiempos de
conservadurismo, censura y terrorismo ideológico
.
PALABRAS CLAVE
: Educación. Género. Sexualidad
.
Introdu
ction
This article presents part of the results of a doctoral research in Education dedicated to
analyzing the set of Brazilian governmental initiatives that, in the last two decades, have
proposed criticism and reformulation of school practices and knowledge wi
th a view to
confronting sexual and gender discrimination and promoting the rights of women and lesbian,
gay, bisexual, transvestite and transgender (LGBT+) people
in
and
from
education. These
initiatives, although disperse and discontinuous, if taken together, have constituted what can be
defined as an educational policy on gender and sexual diversity.
The construction of this public policy brought together academics, activis
ts, managers,
education professionals, and students in a network of communication, articulation, and action
that crossed schools, universities, social movements, and governmental instances. In this space
of interlocution, a pedagogical discourse was produc
ed, in an articulated and negotiated way,
different from the ones that, until then, had inhabited Brazilian educational policies. Even with
a small budget and limited reach, this policy incited debate in countless schools, with an impact
on teaching system
s, academic production, and educational legislation.
Early on, these initiatives provoked reactions from various conservative groups, whose
offensives have taken on a systematic character over the last decade. The clash around the
teaching of gender and se
xual diversity in schools overflowed school communities and
management areas, reached the National Congress and electoral disputes and made this
educational policy, a relevant character in the main episodes that marked the recent Brazilian
political histor
y.
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To understand its development cycle within a socio
-
critical paradigm, the contribution
of the work of British researcher Stephen Ball was fundamental. By mobilizing the theoretical
production of Michel Foucault to think about public policy, Ball (2012)
criticizes managerialist
approaches and points out the importance of interpreting educational policy within the broader
social and political context.
By applying a decentered notion of power to the analysis of
education policy, his approach helped build a
broader understanding of the spaces, times, and
processes through which that public policy was constructed. It also implied a more plural
perception of the agents involved in its production and the quality of their participation in
defining its forms and
development. The Foucauldian notion of discourse operated by Ball also
helped to perceive this educational policy as a political field where the function and meanings
of education were forged, negotiated, and disputed.
From this perspective, we built a qu
alitative research design focused not on a
programmatic evaluation of the actions and results of this educational policy (something already
worked on by previous research), but on the set of discourses that it put in dispute and its broader
political effec
ts. To understand it in its political
-
discursive dimension, a long bibliographical
study was carried out, together with a direct analysis of textual materials produced both by its
creators and its antagonists, which sought to map the multiple discursive st
rategies that these
agents put into action and their effects on the production, development and inflection of this
policy
-
and beyond.
Within the limits of this article, we point out, in the first part, some antecedents that
allowed the emergence of an ed
ucational policy on gender and sexual diversity in Brazil. Next,
we identify its main actions, the agents involved in its construction and the pedagogical
discourse they produced. In the third part, we go through recent episodes to identify their main
oppo
nents, their action tactics and discursive strategies, analyzing how they articulated with the
reactionary movements that marked the last years. Finally, we bring evidence that the debate
on gender and sexual diversity in Brazilian schools resists, even if
under a context of
conservatism, censorship and ideological terrorism.
Historical Background
It is not possible to analyze any policies to promote women's and LGBT+ rights in Brazil
without considering the history of exclusion, repression, criminalizat
ion and violence that
defined the Brazilian State's actions over subalternized groups for centuries. The imposition of
a masculinist and racialized cis
-
heteronormative gender system was a fundamental part of the
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colonization processes that constituted soci
eties like ours (LUGONES, 2020). Present since its
genesis, the patriarchal, classist, and racist character of the Brazilian state persists even with the
advance of liberal political models and our peripheral insertion in global capitalism
-
and its
marks
can still be found today (BIROLI, 2018).
Taking into account this historical investment is that we can think of a variety of sexual
and gender policies, developed, in particular, since the democratic opening, as part of a process
of de
-
patriarchalization of the State, in the sense that they confront, from the inside, the
masculinist, racist, and cis
-
heteronormative character of our institutions and forms of
government (MATOS; PARADIS, 2014). Once the containment of the military regime wa
s
over, different political fields managed to (re)organize themselves, among them activisms
mobilized around issues of gender and sexuality (FACCHINI; CARMO; LIMA, 2020).
Supported by the 1988 Constitution and strengthened by the institutional framework pr
oduced
from the cycle of conferences organized by the United Nations in the 1990s, these movements
began processes of dialogue with the Brazilian state for the construction of public policies
focused no longer on repression, but on the promotion of rights
(CORRÊA, 2018).
This process intensified with the social participation policies implemented by the
Workers' Party (PT) (IRINEU, 2016). In 2004, a year after Luís Inácio Lula da Silva took office,
the Federal Government held the national conference that wo
uld give rise to the first National
Plan for Women's Policies (PNPM). In the same year, the Brazil Without Homophobia Program
(BSH) was launched with the stated goal of promoting the citizenship of LGBT+ people. If not
the first, the PNPM and the BSH expan
ded the volume, scope and quality of public policies
aimed at these groups.
Production
By analyzing the plans and programs arising from these social participation policies, it
is possible to perceive a strategic role for education. On the one hand, the
need to overcome
sexism, machismo, and LGBTophobia in schools as barriers to guaranteeing the right to
education for women and LGBT+ is affirmed. On the other hand, educational institutions are
thought of as a platform for a broader cultural transformation
, whose effects would go far
beyond the schoolyards and classrooms. These propositions took shape with the creation, in
2004, of the Secretariat for Continuing Education, Literacy and Diversity (Secad) in the
Ministry of Education (MEC). Diversity worked,
then, as an institutional and discursive
"umbrella", strategically aggregating a wide and varied set of educational policies, demanded
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by multiple social movements, ranging from indigenous education to socioeducation
(CARREIRA, 2015). Among the education p
olicies for diversity, those focused on issues of
gender and sexuality constituted one of the points of greatest tension. The challenge was not
small: to transform Brazilian schools, historically committed to the reproduction of dominant
dispositions of ge
nder and sexuality, into institutions promoting sexual diversity and gender
equality.
In 2005, the Ministry of Education launched the first public call for training education
professionals derived from Brazil Without Homophobia. The courses in gender and sexual
diversity (GDS) focused on discrimination based on sexual orientation and gender
identity,
while promoting positive visibility of LGBT+ people, something quite innovative at that time.
Initially implemented by non
-
governmental organizations, these trainings were soon taken over
by public universities and held in all regions of the cou
ntry. In parallel, the course Gender and
Diversity at School (GDE) was launched in 2006, from an initiative of the Special Secretariat
of Policies for Women (SPM). Built on the relationship with a multifaceted feminist movement,
the GDE brought an innovati
ve approach by seeking to work, in an articulated manner, with
issues of gender, sexual orientation and ethnic
-
racial relations. Created by the Latin American
Center on Sexuality and Human Rights of the Rio de Janeiro State University (CLAM), the
course wo
uld take multiple forms as it was taken up by higher education institutions all over
the country. The training projects developed both in GDE and GDS also included the production
of didactic materials and the carrying out of multiplication activities in sc
hools, expanding the
subjects mobilized beyond those immediately reached by the courses.
It is also worth mentioning two other lines of action: the Gender Equality Award, which
rewarded schools and texts produced by students
-
and the School Without Homop
hobia Project
-
which included the production of materials, research, and the formation of a network of
managers. These and other actions, irradiated by the Federal Government, necessarily involved,
to a greater or lesser extent, state and municipal educat
ion systems, and provided important
spaces for dialogue between social movements, research institutions and education networks.
By examining the products of these initiatives in dialogue with existing literature
(especially FERNANDES, 2011; MELLO
et al
., 2
012; CARREIRA, 2015; IRINEU, 2016), it
is possible to identify a multiplicity of agents who acted in the construction of these actions:
Associations, organizations, and activist collectives, especially LGBT+ and feminist
ones, were responsible for much of
the political advocacy that allowed the elaboration of a
gender and sexual diversity agenda in education. They collaborated in the execution of the
initiatives, when they did not assume their realization themselves. From these activisms also
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come politica
l notions that have constituted a fundamental part of the repertoire of this
educational policy.
Public managers in education, from highly visible politicians, who took on a central role
in legislative disputes or decisive functions in the executive branc
h, to individuals working in
less visible spaces of public management, were responsible for creating the political, technical,
and operational conditions that allowed the flow of gender and sexual diversity agendas in the
political system and governmental
apparatuses, sometimes becoming true militants confronting
patriarchy within the State.
Researchers, professors, students, and technicians linked to public institutions of higher
education, mostly active in the field of gender and sexuality studies, consti
tuted another
important collective agent. Their ability to circulate through educational management, their
privileged position of enunciation, and the infrastructure they had available in their institutions
were their main instruments of action. They took
over the coordination and execution of training
projects and production of materials, acted as consultants in the elaboration of guidelines, and
had seats in most of the social participation mechanisms. Their researches were used to
scientifically ground a
nd legitimate the need for an educational policy on gender and sexual
diversity. They also brought with them fundamental concepts and theories for the construction
of a critical pedagogy to gender and sexuality regulations.
Education professionals, especi
ally teachers reached by continuing education,
recurrently reduced by the literature to mere "implementers", little heard during the formulation
of plans and programs, were responsible for materializing this policy on the school ground.
Untimely affected b
y discontinuous training actions, with little or no resources and relying on
shaky institutional support, their main tool was pedagogical creativity. In their polyvalent and
recurrently solitary performance, they confronted conservatism, reorganized natura
lized
practices, rearranged spaces, and invented ways to work with contents that were previously
absent in the basic education curricula.
Last but not least, basic education students, especially women and LGBT+ students,
most of the analyses perceived as target audiences, were the main mobilizers in schools for the
debate on gender and sexuality, from a posture of confrontation that challeng
ed sexist and
lgbtophobic school practices that had been naturalized until then. They also played a directly
creative role, by engaging in the production of pedagogical resources and multiplication actions.
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An innovative pedagogical discourse
The colla
borative interaction between these multiple agents, simultaneously convergent
and polysemic, was able to generate a pedagogical discourse, in many aspects, innovative. A
discourse that advanced in the proposition of the effective incorporation of a gender
perspective
in education and innovated by proposing a debate on sexual orientation and gender identity at
school from the perspective of diversity and human rights. From the analysis of part of the
textual production of this educational policy, it was poss
ible to identify some of its core
meanings.
The notion, subsumed in the concept of gender, that the meanings of feminine and
masculine, as well as the relations between men and women, are not the product of an innate,
fixed and universal sexual difference
, but of a social, historical and mutable construction, is a
fundamental core of this pedagogical discourse. This notion is supported by a multiplicity of
knowledge coming from the social and human sciences, on the one hand, and from the
accumulated learni
ng of social movements, on the other. Based on this knowledge, it denounces
how the naturalization of a sexual difference sustains the existence of a system of male
domination, which privileges men to the detriment of women, often guaranteed by the violent
exercise of male power. It also denounces a cis
-
heteronormative system, which imposes through
different techniques
-
even violent ones
-
a binding chain between sex, gender identity, and
sexual orientation. An articulated understanding of the regulations
of gender and sexuality is
proposed, in which misogyny, sexism, lgbtphobia, and sexism are thought of as integrated
forms of regulation. We also add an intersectional perspective, incipient at first, but intensifying
over time, which allows us to identify
a single system, simultaneously patriarchal, capitalist,
racist, and cis
-
heteronormative, to be fought against.
In opposition to the idea of a naturalized sexual difference, this constructionist
perspective perceives bodies, expressions, gender identities,
sexual and affective practices not
from a naturalized normative standard, but in its multiplicity, investing in the recognition and
valorization of differences. The deconstruction of sexual difference is done, on the one hand,
by unveiling the historical
and political processes involved in the production of scientific
knowledge, especially the knowledge produced by the biological sciences. And, on the other
hand, it denounces the historical role of Christianity in the symbolic and political constitution
of
the regulations of gender and sexuality, which is opposed to secularism as an organizing
principle of the State and of the school. Based on these criticisms, practices are denounced as
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violations of fundamental rights that, intentionally or not, operate b
y normalizing subjects to
normative standards of gender and sexuality.
This discursive construction, while recognizing the school as a historical space of
reproduction of sexual and gender regulations, believes and invests in its transformative
potential.
The school is then summoned to review itself, in order to overcome discriminatory
practices and become a space for promoting gender equality and valuing sexual and gender
diversity, in its community and beyond. The notion of diversity from which the discus
sion of
gender and sexuality in school is proposed points to a non
-
confrontational tactic, which
prioritizes an investment in pedagogical dialogue rather than in confrontation.
Under this common framework, however, very different pedagogical
practices have
been built, in meaning and intensity. Analyzing activities developed in schools by educators
who participated in continued education courses, it is possible to find practices that bet on
tolerance, respect, overcoming violence and promoting
a peaceful environment, without this
necessarily meaning a substantive change in the sexist and cis
-
heteronormative assumptions
that organize school life. There are others, however, that acted beyond fighting discrimination,
investing in the deconstruction
of the school as a technology of sexual and gender
normalization, proposing a deep review of pedagogical practices, of the curriculum, and of
school management. The coexistence of moderate and radical investments is characteristic of
this educational poli
cy.
Although these notions were not in themselves new and had already circulated in
scientific circles and social movements, the way they were worked out and incorporated into a
pedagogical language constituted, in fact, an innovation in Brazilian educatio
nal policy.
Advancement and precariousness
Since its first years of implementation, the educational policy on gender and sexual
diversity has survived largely with resources from parliamentary amendments, not figuring
among the budgetary priorities of t
he Federal Government. Although inaccurate, official
records show investments of about 70 million reais between 2005 and 2014
-
from 2015 on
there was no significant funding
-
and more than 50 thousand education professionals reached
by training actions du
ring the period. These seem like large numbers, but they become derisory
when compared to the overall budget of the MEC
-
even when considering only the investments
aimed at diversity policies (CARREIRA, 2015)
-
or in relation to the total number of workin
g
teachers in the country
-
more than 2 million professionals.
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A study produced by the Federal University of Goiás
in 2012 on educational actions
derived from the Brazil Without Homophobia program criticizes precisely the scale of the
implemented actions, for their inability to reach most of the country's educational system
(MELLO
et al
., 2012). The authors also highl
ight the punctual character of the actions, which
would have produced very limited effects on school practices. This analysis contrasts with that
expressed in the evaluation produced by the Latin American Center on Sexuality and Human
Rights regarding the
DGE course, which describes the training initiatives as a successful and
unprecedented practice in the history of Brazilian education (CARRARA
et al
., 2011). Little
concerned with scale, the report focuses on innovation and intensity of the experience live
d by
the subjects and organizations that participated in these initiatives. Another study, also produced
by CLAM a few years later (CARRARA
et al
., 2017), brings evidence that the theoretical and
conceptual background, the set of information, the perspecti
ve and the exercise of dialogue
throughout the courses allowed, at least for part of the education professionals involved, to build
tools to act in the day to day of their schools. More than irreconcilable, these analyses seem to
point precisely to the coe
xistence of advances and precariousness as a mark of the educational
policy on gender and sexual diversity in Brazil. If it is impossible to deny the qualitative
intensity of many pedagogical experiences lived by schools and educators, the quantitative
res
ults of these actions are still far from what would be necessary to produce substantial changes
in the Brazilian school system as a whole.
Beyond the numbers
Besides mobilizing teaching networks and schools, the educational policy on gender and
sexual d
iversity produced an important impact on the scientific field itself. The execution of
courses in universities was mostly in charge of research centers and extension projects,
mobilizing a significant number of professors, technicians, undergraduate and gr
aduate
students. This contributed to the consolidation of research and extension groups around these
themes in universities, also generating impacts on scientific production (CARRARA
et al
.,
2017).
There were also important advances in the normative framework of educational policies.
Analyzing the educational guidelines approved by the National Council of Education
throughout the 2000s, it is possible to find evidence of women's and LGBT+ agendas,
ma
terialized in references to gender, gender identity, sexual orientation, and sexual diversity.
As a whole, these educational guidelines affirm the need to work on issues related to gender
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and sexuality from kindergarten to high school, pointing to an appro
ach focused not on
standardizing behaviors, but on critical reflection, on the subjects' autonomy, on freedom of
access to knowledge, on the recognition of differences, and on confronting all forms of
discrimination and violence.
Although in terms of scop
e and resources its program has been quite reduced, this policy
has constituted an explicit positioning
-
albeit precarious
-
from different spheres of government
on the pertinence of addressing issues of gender and sexuality at school within a perspective
of
valuing diversity, fighting inequality, and promoting human rights. Besides the programmatic
aspect, this expressive and communicative dimension of public policies (PECHENY; DE LA
DEHESA, 2011) cannot be disregarded. In a progressive political context,
this positioning,
albeit shaky, served as legitimization for those who wanted to talk about gender and sexuality
in school, allowing the proliferation of didactic experiences that went beyond the direct radius
of action of the training courses.
The rea
ction
Since its implementation, the policy of gender and sexual diversity education has
provoked reactions, sporadic and punctual at first, but which, over time, gained scale, capillarity
and became systematic. Led by right
-
wing politicians, religious lea
ders, conservative groups,
and agents of militarism, antagonism to this policy gained support from large sectors of society.
After the political crisis of 2013, the fight against the discussion of gender and sexuality in
schools became a central part of th
e repertoire of reactionary movements that took over Brazil
in the following years. To understand the nature, dynamics, and broader political effects of this
reaction, we investigated some significant episodes, whose analysis we summarize below.
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The
"gay kit" controversy
The first of these episodes, already widely analyzed, occurred in 2011, the first year of
Dilma Rousseff's government, involving the set of materials produced by the School Without
Homophobia Project. Presented at a seminar in the Na
tional Congress in late 2010, the material
was harshly attacked by Congressman Jair Bolsonaro, until then, a congressman with little
expression beyond his own military circle. Author of the term "gay kit", Bolsonaro had already
been systematically opposing
sexual and gender policies, especially in education. At the
beginning of the new legislative year, other congressmen joined the attack on the material,
especially congressmen linked to religious groups.
By examining the more than one hundred statements a
gainst the distribution of the
material made by parliamentarians on the floor of the House of Representatives between late
2010 and early 2012, it was possible to identify a common argumentative line. The central axis
of their discourse accused the materia
l of, by presenting in a positive way the experience of
LGBT+ characters, going beyond fighting discrimination to be characterized as an instrument
of incitement and promotion of supposedly deviant behaviors (both from a religious and
biological point of v
iew)
-
which could be tolerated, but never valued, especially among
children and young people. This approach, which parliamentarians accused of being incited by
an activism that would have disproportionate influence on the government, would constitute, in
their view, a threat to childhood and youth. In the speeches of these parliamentarians, the
valorization of multiple sexual
-
affective practices and gender identities was perceived as an
attack on the assumptions that would constitute the foundations of the
family
-
always
understood in the singular, within a cis
-
heteronormative perspective. By shaking the family,
they would put at risk that which is identified as the institution responsible for the moral
formation of society. In these discourses, morality a
nd Christianity are confused, and religion
is perceived as the only possible language of ethical formation. For supposedly attacking points
that would be fundamental in the Christian moral formation, the material would constitute a
threat capable of affect
ing the integrity of the whole Brazilian society.
Under pressure from the religious fronts in Congress, including conservative
congressmen who at the time were its own base of support, the Federal Government ended up
suspending the distribution of the mate
rial, which was publicly vetoed by the president. In the
middle of the announcement of the interruption of the material, Dilma Rousseff, when
questioned by journalists, declared that the government was still committed to the fight against
homophobic practi
ces, but that no government organ would be allowed to "advertise sexual
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options". By justifying the veto not on the basis of political pressure suffered by the
government, but on the supposed inadequacy of the material, Dilma Rousseff ended up
legitimizing
and reinforcing the reactionary discourse of those who identified the debate on
gender and sexual diversity in education as ideological inculcation and moral threat.
This episode marked a moment of great visibility of the educational policy on gender
and
sexual diversity, which, until then out of the public spotlight, gained unusual space in the
national news. Unfortunately, this visibility was not positive; on the contrary, it excited stigmas
and prejudices rooted in Brazilian society, fueled anxieties ab
out educational policies, and had
as its outcome a public defeat of the LGBT+ field, whose effects resonate to this day. Beyond
the mere suspension of a didactic material, the veto to the kit marked a turning point, from
which the entire LGBT+ agenda was c
ontingent and put under monitoring in different areas of
government (CARREIRA, 2015).
The dispute over education plans
Two years after the veto of the kit, in 2013, Brazil saw the emergence of massive street
demonstrations that began a political crisis that considerably changed the power relations in the
national public arena. The protests on the left expressed in part fru
strated expectations of more
radical changes, made impossible by the agreements that the government made to assemble an
always unstable majority in Congress and by its estrangement from the grassroots of social
movements (BRINGEL, 2013). On the right, what
we saw was the release of explicitly
conservative and reactionary discourses, until then contained by the hegemony of social
progressivism and now channeled by new and old political actors (NOBRE, 2013). If it did not
lose its voters immediately, the left
was no longer able to define the directions of the national
political debate (PINTO, 2017).
The debate around the National Education Plan (PNE) is symbolic of this process of
change in power relations and the advance of a conservative endeavor. In the an
alysis of the
speeches of congressmen given during the second round of voting on the PNE, in 2014, the
mentions of the "gay kit" are giving way to an expression hitherto little known to the Brazilian
public: the "gender ideology". Formulated and disseminat
ed by Catholic networks as a reaction
to the advances of the sexual and reproductive rights agenda on the international stage (CASE,
2019), the discursive strategy of "gender ideology" operated as an agglutinator of a series of
reactions to feminist and LG
BT+ policies, until then dispersed and extemporaneous, shaping a
powerful and systematic reactionary investment. Functioning as an empty signifier (LACLAU,
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2013), this expression was triggered in different ways in multiple contexts around the world,
especi
ally in Europe and Latin America (FASSIN, 2021), generating diverse political effects.
In the speeches of Brazilian parliamentarians, this term was used to refer to a plurality
of ideas, concepts, propositions that, in different ways, confronted normative
and naturalized
notions of sexual difference and proposed a constructionist perspective of the body, sexuality,
identities and relationships, represented by the concept of gender. By treating gender as an
ideology, congressmen disqualified these knowledge
s as scientific, while characterizing them
as part of a cultural imposition strategy coming from a minority political activism. Since the
word "gender" would carry embedded this "ideology," it should be eliminated from official
documents, along with other
related terms, as a way to prevent these ideas from reaching
schools, jeopardizing the moral formation of children and youth. At the end of 2014, the
Brazilian Congress approved the National Education Plan (2014
-
2024), erasing any reference
to gender and s
exuality.
Although the PNE maintained, albeit in a generic way, the commitment of education to
combat all forms of discrimination, conservative agents spread a narrative that the removal of
specific terms from the plan meant the interdiction of the
debate on these issues in schools.
Even though false, this narrative contaminated networks and educational institutions, producing
doubt and insecurity among education professionals who wanted to address these issues.
In a context of advancing conservatism
, the banner of fighting "gender ideology"
became an interesting instrument of political capital production for multiple agents, composing
a systematic offensive against feminist and LGBT+ policies that had education as the main
target. In the sequential v
otes on state and municipal education plans, the educational policy on
gender and sexual diversity would be harshly pursued (VIANNA; BORTOLINI, 2020),
becoming the object of numerous prohibitionist bills in legislative chambers across the country.
Attack
ing gender to attack the left
-
wing
If this was not the case in other countries, in Brazil, the lexicon of gender ideology has
been instrumentalized in recent years fundamentally as a tactic to attack not only sexual and
gender policies, but against the
left. If opponents of the kit strove to spare the government of
which they were a part, from 2014 onwards the anti
-
gender rhetoric took on clear contours of
opposition and became a central part of the rapidly growing reactionary repertoire. As religious
an
d right
-
wing groups that previously supported the Workers' Party moved into opposition, this
anti
-
gender offensive established a strategic articulation with the growing anti
-
left political
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movements, such as the School Without Party (ESP) movement. Articul
ated, these offensives
updated an old discursive tactic, triggered by the military regime, that associates sexual and
gender politics with the left, feminism with communism, all together to compose an overall
strategy supposedly aimed at destroying the fam
ily, Christianity, capitalism, and Western
society. By incorporating the fight against "gender ideology," ESP would grow in membership
and capillarity (MIGUEL, 2016) and, in return, provide anti
-
gender offensives with tactics of
exposure, persecution, and
intimidation that would usher in a veritable ideological terrorism in
schools. Capillarized in local spheres, these offensives affected the school daily life and
consolidated, in practice, an environment of censorship and interdiction of these debates.
Th
e moral panic created around educational policies on gender and sexuality helped
excite a narrative about the PT government as a source of corruption
-
not only political, but
also moral (KALIL, 2018). By treating sexual issues as religious beliefs, educat
ional proposals
founded on a gender perspective have been described as attacks on personal faith, Christianity,
and the freedom of families. By denouncing them as ideological indoctrination imposed by a
corrupt government, opposition politicians pointed to
the advance of a supposed leftist
authoritarianism, an enemy of the family, Christian values, and democracy.
The antagonism to sexual and gender policies in education allowed parliamentarians
involved in corruption scandals to present themselves as Chris
tian defenders of the family in an
attempt to deflect from the growing anti
-
politics sentiment at that time. During the impeachment
session of Dilma Rousseff in 2016, the educational policy on gender and sexual diversity was
repeatedly cited as a symbol of
the advance of a supposed social degradation promoted by
petismo, against which a conservative restoration would be the only solution.
During Michel Temer's government (2016
-
2018), although there was no direct
investment by the Executive against the gende
r agenda, the advancement of capillary tactics of
intimidation and censorship contributed to consolidate a feeling that there was no space for
these debates in school. In 2017, a Common National Curricular Base (BNCC) was approved
that, like the PNE, did n
ot bring any explicit mention of gender issues and that located sexuality
(although considering its social dimension) only among the contents of the natural sciences.
Electoral instrumentalization and dismantling
In 2018, the fight against the politics
of gender and sexual diversity in education would
be instrumentalized again. Through digital technologies hitherto rarely used in electoral
processes, Jair Bolsonaro's campaign disseminated false information about materials with
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sexual content that had sup
posedly been distributed to schools when Fernando Haddad,
candidate for the PT, was Minister of Education. More than a smokescreen, the excitation of
misogynistic and lgbtphobic stigmas, centrally supported in education policies, helped
Bolsonaro build the
image of a strong male authority, central to today in our representation of
power, reinforced his association with Christianity and militarism, and revived a sense of moral
restoration, which responded to the political emotions of many Brazilians at that
moment.
The beginning of the new government marked the end, at least from an institutional
point of view, of the cycle of educational policy on gender and sexual diversity as it has been
constituted over the past two decades. The ministers of education ap
pointed in 2019, Ricardo
Vélez Rodríguez and Abraham Weintraub, explicitly took up the goal of eliminating "gender
ideology" from schools. The secretariat from which the diversity policies emanated was
dismantled and the federal human rights structures hav
e since been instrumentalized for the
implementation of conservative familist policies (MARANHÃO FILHO; DE FRANCO, 2019).
As a symbol of the new government, the program of militarization of schools emerged, an
evident disciplining investment, with symbolic
effects diametrically opposed to diversity
policies (BORTOLINI, 2021).
Between setbacks and resistance
Amidst the tragic advance of the precarization
of social policies, education, health, and
democracy itself that marked Brazil between 2016 and 2022, it is possible to find resistance. In
the 2020 (BARBABELA, 2021) and 2022 elections, although timid, there was an advance in
the political representation
of women, while the number of LGBT+ people elected grew
significantly, which points to the persistence of these groups in the Brazilian political arena. In
the specific field of education, all laws that proposed to ban the teaching of gender and sexual
di
versity in schools were overturned. Although absent of explicit mention in the PNE and the
BNCC, the approach of these themes continues to have support in the legal and normative
framework of Brazilian education. In January 2018, the National Education Cou
ncil reinforced
this framework, approving a resolution that regulates the recognition of transvestite and
transgender identity in basic education and guides schools to combat any form of discrimination
on the basis of sexual orientation and gender identity
.
Amidst an anti
-
LGBT+ and anti
-
feminist agenda that continues to be triggered in
political disputes (DOS PASSOS; BORTOLINI, 2022) and the continued effects of ideological
terrotism, it is still possible to identify universities and education systems that
persist in carrying
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out initiatives aimed at the dissemination of gender and sexual diversity perspectives in
education. The training courses offered by the Federal Rural University of Rio de Janeiro or the
activities on the rights of LGBT+ people carried
out by the Pernambuco Secretary of Education
in 2021 are just two examples, among other initiatives. In 2022, after a heated electoral dispute
contaminated by fake news about closing churches and installing unisex bathrooms in schools,
Luís Inácio Lula da
Silva was once again consecrated as President of the Republic. Although
the transition team of the new government pointed to the recreation of a secretariat for diversity
in the MEC, the return of gender and sexuality policies in schools is still uncertai
n. Given the
broad configuration of the new government's coalition, the contamination of the public arena
and school communities by the "gender ideology" narrative, and the growth in political power
of religious and conservative groups, what the future poi
nts to is the resumption of an intense
dispute to overcome fear, misinformation, and stigma and build, through education, a society
founded on freedom, democracy, and social justice for all and everyone.
ACKNOWLEDGEMENTS:
To the Coordination for the Imp
rovement of Higher Education
Personnel, the Fulbright Commission Brazil, and the National Council for Scientific and
Technological Development
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CNPq/PQ (2019
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27/03/2022
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