image/svg+xml
Paulo Freire e o ensino fundamental: Reflexões sobre uma formação crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1514
PAULO FREIRE E O ENSINO FUNDAMENTAL: REFLEXÕES SOBRE UMA
FORMAÇÃO CRÍTICA
PAULO FREIRE Y LA EDUCACIÓN PRIMARIA: REFLEXIONES SOBRE UNA
FORMACIÓN CRÍTICA
PAULO FREIRE AND ELEMENTARY SCHOOL: REFLECTIONS ON A CRITICAL
FORMATION
Marco Antônio Batista CARVALHO
1
Adrian Alvarez ESTRADA
2
Fabio Lopes ALVES
3
Valdecir SOLIGO
4
RESUMO
: A formação de estudantes, em qualquer que seja o nível de escolarização, enseja
sempre a necessidade e a expectativa de que esses sejam sujeitos críticos. Esse texto, com uma
abordagem qualitativa, se ocupa em provocar, a partir de uma perspectiva freireana, o que pode
ser essa formação e esse exercitar da criticidade, não se ocupando com um corolário de
definições, mesmo que de renomados pesquisadores, sobre o que venha a ser um sujeito crítico,
uma necessidade básica para se poder pensar em um processo de escolarização que viabilize
essa almejada formação crítica. Para isso, o texto apresenta e discute algumas ações que, no
transcorrer da história, marcaram seus idealizadores por conta de posicionamentos, ideias e
ações questionadoras em seu tempo histórico e que demarcam, para essa análise, um pensar e
agir crítico e que pode ser refletido por todos os envolvidos direta e indiretamente com o
processo educativo.
PALAVRAS-CHAVE
: Paulo Freire. Formação crítica. Educação. Sujeito crítico.
RESUMEN
:
La formación de los estudiantes, cualquiera que sea el nivel educativo, siempre
suscita la necesidad y la expectativa de que sean sujetos críticos. Este texto se preocupa de
provocar, desde una perspectiva freireana, lo que puede ser esta formación y este ejercicio de
la criticidad, no tratando un corolario de definiciones, aunque sean de reconocidos
investigadores, sobre lo que será un sujeto crítico, una necesidad básica de poder pensar en
un proceso de escolarización que haga posible esta deseada formación crítica. Para ello, el
1
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel
–
PR
–
Brasil. Professor do Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PPGECEM). Doutorado em Letras e Linguística (UFBA).
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6811-2661. E-mail: marcoab_carvalho@yahoo.com.br
2
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel
–
PR
–
Brasil. Professor do Programa de Pós-
Graduação em Sociedade, Cultura e Fronteiras (PPGSCF). Doutorado em Educação (USP). ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-0980-8925. E-mail: adrianalvarez.estrada@gmail.com
3
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel
–
PR
–
Brasil. Professor do Programa de Pós-
Graduação em Sociedade, Cultura e Fronteiras (PPGSCF). Doutorado em Ciências Sociais (UNISINOS). ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-2114-3831. E-mail: fabiobidu@hotmail.com
4
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel
–
PR
–
Brasil. Professor do Programa de Pós-
Graduação em Sociedade, Cultura e Fronteiras (PPGSCF). Doutorado em Educação (UNISINOS). ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-2618-009X. E-mail: valdecir_soligo@yahoo.com.br
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES e Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1515
texto presenta y discute algunas acciones que, en el transcurso de la historia, marcaron a sus
creadores al cuestionar posiciones, ideas y acciones en su tiempo histórico y que demarcan,
para este análisis, un pensamiento y un actuar críticos que pueden reflejarse por todos los
involucrados directa e indirectamente en el proceso educativo.
PALABRAS CLAVE
:
Paulo Freire. Formación crítica. Educación. Sujeto crítico
ABSTRACT
: The student’s formation, in any level of schooling, always entails the need and
expectation that they become critical subjects. This text aims to provoke, from Paulo Freire’s
perspective, what this formation and the criticality practice can be, not occupying with a
corollary of definitions, even of renowned researchers, about what will become a critical
subject, a basic need to be able to think in a schooling process that makes this desired critical
formation viable. For this, the text presents and discusses some actions that, throughout history,
marked the creators due to their positions, ideas and questioning actions in their historical time
and that demarcate, for this analysis, a critical thinking and acting that can be reflected by all
those involved directly and indirectly with the educational process.
KEYWORDS
: Paulo Freire. Critical formation. Education. Critical subject.
Introdução
Estudar seriamente um texto é estudar o estudo de quem, estudando, o
escreveu. É perceber o condicionamento histórico-sociológico do
conhecimento. É buscar as relações entre o conteúdo em estudo e outras
dimensões afins do conhecimento. Estudar é uma forma de reivindicar, de
recriar, de reescrever
–
tarefa de sujeito e não de objeto. [...] A compreensão
de texto não é algo que se recebe de presente. Exige trabalho paciente de
quem por ele se sente problematizado.
Paulo Freire
Na América Latina, um dos discursos que reconheceu a necessidade de uma educação
escolar que propiciasse uma formação crítica é o da Conferência de Ministros da Educação.
Esse evento, que ocorreu em Caracas, de 6 a 15 de dezembro de 1971, ficou marcado pela
afirmação de que “toma corpo a ideia de uma educação libertadora que contribua para a
consciência crítica” e que essa formação viesse a “estimular a participação responsável do
indivíduo nos processos culturais, sociais, políticos e econômicos” (FREIRE, 1980, p. 7).
O Estado Brasileiro, por sua vez, defende a formação de sujeitos críticos pelo processo
de escolarização. O discurso que expressa essa intenção pode ser observado no texto da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação
–
LDB nº 9.394/1996 (BRASIL, 1996), em seu Art. 35, no
Inciso III: “o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e
o desen
volvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”. Nota
-se, porém, que a
indicação de uma formação crítica, nos três níveis, aparece, somente, na seção que trata do
image/svg+xml
Paulo Freire e o ensino fundamental: Reflexões sobre uma formação crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1516
ensino médio. Quanto à formação nos primeiros anos da educação,
i.e.
, na educação infantil e
no ensino fundamental, a finalidade da educação é assim enunciada:
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica,
tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em
seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social
, complementando a ação
da família e da comunidade.
Art. 32. O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório
e gratuito na escola, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:
I
–
o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos
o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo.
(BRASIL, 1999, grifo
nosso)
É perceptível que, além de não se fazer menção alguma a uma formação crítica na
educação infantil e tampouco no ensino fundamental, o aprendizado da leitura e da escrita
aparecem no texto da lei como uma aquisição mecanicista em que o aprender a ler e a escrever
é o que se basta por si mesmo, ou seja, não se vincula o aprendizado da leitura e da escrita a
uma potencial ferramenta ou instrumento crítico para a leitura de mundo. Uma formação muito
distante daquela que pode mostrar ao aluno que, por exemplo, a linguagem é, antes de tudo,
uma prática social e, como tal, não desprovida de caráter ideológico e permeada por relações
de poder.
Quanto ao ensino superior, o texto da LDB nº 9.394/1996 (BRASIL, 1996), em seu Art.
43, diz que a sua finalidade é “estimu
lar a criação cultural e o desenvolvimento do espírito
científico e do pensamento reflexivo”. Nesse recorte, se observa um discurso que evoca uma
formação crítica do aluno, isto se considerarmos que desenvolver um espírito científico e um
pensamento reflexivo é tarefa que não se imagina sem uma postura crítica. Enfim, a escola deve
formar sujeitos ativos, participativos, e transformadores da sociedade como enuncia a LDB nº
9.394/1996 (BRASIL, 1996).
Diante desse discurso que evoca uma formação crítica, podemos dizer que o conjunto
da obra do educador Paulo Freire e, obviamente, muito do que já se produziu sobre ela e sobre
ele, apontam, de forma contundente, para uma educação, no campo escolar, que seja marcada
pela criticidade, ou seja, que os homens e mulheres no exercício do uso dos saberes que lhe são
trabalhados no processo de escolarização, e não somente transmitidos, exercitarem sua
capacidade de pensar e, principalmente, de pensar criticamente.
Assim, entendemos que seja oportuno mais essa provocação, no sentido de teorizar o
que seria uma formação crítica a partir já do ensino básico, ou seja, aquela etapa escolar que
pode dar alicerce, fundamentos para uma melhor reflexão dos conteúdos trabalhados em relação
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES e Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1517
com as práticas sociais mais imediatas dos alunos, ação que nos parece, na atualidade, ter se
transformado em um jargão, qual seja,
partir da realidade do aluno
. Mas perguntemo-nos: Será
que o professor que insere esse objetivo em seu plano de trabalho conhece mesmo essa tal
realidade? É crítico bastante para percebê-la e, portanto, intermediar os saberes de sua área com
essa realidade, ou seja, com os saberes que permeiam o mundo das vivencias de seus alunos?
Essas questões culminam para duas questões basilares: podemos mesmo, como educadores da
educação básica, formar sujeitos críticos? Que conceito possuímos de sujeito crítico?
Para discutir essas questões basilares é importante, primeiramente, referendar que, de
fato, para Freire (1992), a educação escolar deve ter seu ponto de partida centrado nas
experiências mais imediatas que o aluno possui em suas vivencias. Sobre isso, ao comentar a
necessidade do respeito aos saberes que o educando traz para a escola, Freire (1992, p. 86, grifo
do autor) diz que “a localidade dos educandos é o ponto de par
tida para o conhecimento que
eles vão criando do mundo. ‘Seu’ mundo, em última análise é a primeira e inevitável face do
mundo mesmo”.
Logo, conhecer a dinâmica dessas relações sociais imediatas dos alunos é uma
necessidade para que os conteúdos que serão dinamizados pelo trabalho escolar ganhem uma
dimensão para além de seu caráter meramente informativo, ou seja, a busca constante da
superação de práticas pedagógicas repetitivas, marcadas por um ensino teórico memorístico,
fragmentado e, na maioria das vezes, dissociado da realidade social dos alunos.
Trabalhar por essa perspectiva, implica, minimamente, de todos os atores sociais
envolvidos, o desejo e a busca por uma formação crítica. Contudo, retomando as questões
basilares, cabe agora questionar: Afinal, o que é ser crítico?
Conceituando o ser crítico - por uma vertente religiosa
A palavra
crítica
é oriunda do termo grego
crinein,
que significa separar e julgar. Por
essa definição, bastaria dizer que uma pessoa crítica é aquela que separa o objeto a ser apreciado
e lança sobre ele um determinado juízo de valor,
i.e.
, um julgamento. Assim, socialmente
criamos a função do crítico por profissão, uma vez que temos, na atualidade, o crítico de arte,
de cinema, de futebol, da política, o crítico literário, entre outros. É importante destacar que,
embora tenhamos criado o crítico por profissão e o crítico político, tal qual o literário, essas não
são funções criadas na atualidade. Aristóteles já exercia sua análise crítica sobre a política.
Afinal, para ele,
“o ser humano é fundamentalmente político”.
image/svg+xml
Paulo Freire e o ensino fundamental: Reflexões sobre uma formação crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1518
O emprego dessa palavra já pode ser observado no texto bíblico. No
Gênesis
, há o
emprego da palavra
crítica
com o mesmo sentido de um julgamento contrário a uma
determinada prática. Nota-se que o primeiro livro da Bíblia, cuja escrita em hebraico é atribuída
ao profeta Moisés, é datado de aproximadamente mais de 1.500 anos antes de Cristo. No
Gênesis,
em seu vigésimo primeiro capítulo, no versículo 25, há a referência de que “Abraão
criticou severamente a Abimeleq
ue” (BÍBLIA, 2006, p. 39). Essa referência, presente no
contexto Bíblico, exemplifica o emprego da crítica para questionar o já estabelecido ou o que
foi feito fora do pré-estabelecido.
Assim, na tentativa de dissertar sobre o que é ser crítico e, para isso, fugir de um
desenrolar de definições, ainda que sejam de renomados pesquisadores, procuramos definir o
ser crítico a partir das ações, posturas que, se entende, sejam de um sujeito crítico. Esse sujeito,
ou melhor, esses sujeitos, cujos nomes ficaram marcados na história em diferentes áreas do
saber, são identificados por demonstrarem posicionamentos, ideias e ações questionadoras em
seu tempo histórico e que demarcam, portanto, um pensar e agir crítico.
Essa postura crítica de sujeitos críticos é extremamente perceptível na história de uma
das grandes religiões. Na história do catolicismo, é possível perceber como a postura crítica de
alguns dos católicos atuantes foi decisiva na promoção de mudanças de postura e
encaminhamentos da Igreja. As críticas que o monge agostiniano Martinho Lutero dirigiu a
certos dogmas do catolicismo levaram a Igreja de Roma a não somente enfrentar severas baixas
em seu contingente, mas também a reestruturar-se em muitas de suas ações por conta do
movimento que historicamente ficou conhecido como a Reforma. Entre essas ações tomadas
pela Igreja está o efetivo envolvimento com a educação escolarizada.
No movimento reformista promovido por Martinho Lutero, que contou com a adesão
de muitos outros correligionários, as críticas contra determinados dogmas da Igreja eram
pontuais e culminaram com as conhecidas 95 teses de Lutero. Todavia, é com a crítica veemente
à concessão de indulgências em troca de contribuições financeiras para a Catedral de São Pedro,
em Roma, que Lutero instaurou toda uma luta contra o poder autoritário do catolicismo sob o
papado de Leão X
–
Giovanni de Medici. Instaurava-se, assim, uma luta, não somente contra
práticas litúrgicas e posturas ideológicas da Igreja, mas contra o poder,
i.e.
, contra aquilo que
os reformistas consideravam como abuso do poder da Igreja que, à época, produzia um
engessamento na capacidade de pensar e de se expressar do homem. Sobre isso, é importante o
comentário de Chassot (1994, p.
89): “os reformadores desejavam diminuir o controle
dogmático exercido pela igreja e assegurar, assim, maior liberdade de pensamento”.
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES e Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1519
A crítica que Lutero dirigiu à Igreja Católica incita à reflexão acerca da importância de
uma postura crítica capaz de questionar a hegemonia de quem utiliza o poder visando a
manipular as maneiras de pensar, sentir e agir dos outros. Com a contundente crítica de Lutero
aos inabaláveis dogmas e ao inquestionável poder da Igreja, os homens puderam despertar para
a compreensão dos grilhões que tolhem sua liberdade de pensamento, de expressão e de ação.
Nesse sentido, Chassot (1994, p. 89) comenta que a postura crítica dos reformistas foi decisiva
“para as conquistas do humanismo e para novas posturas ante a ciência, facilitan
do, sem dúvida,
o surgimento de novas mentalidades”.
Esse embate, que não se encerrou com a reforma, uma vez que houve o movimento da
contrarreforma, nada mais é do que um dos muitos exemplos da potencialidade do pensamento
crítico em impulsionar movimentos que, no limite, podem transformar-se em amplas reformas,
ou seja, em relações sociais mais humanizadas e humanizantes. Em seu romance intitulado
O
nome da rosa
, Umberto Eco (1983) elabora um enredo no qual descreve o poder determinista
da Igreja e os embates que ocorriam em sua esfera interna. Entre outras razões, esses embates
ocorreram justamente por conta da postura crítica despertada por acontecimentos que ocorriam
fora dos portões da Igreja: o avanço da ciência e das artes, e a difusão de outras ideologias.
Esses acontecimentos produziram não somente posturas dissidentes, mas também posturas que
se mostraram ferrenhamente contrárias aos ditames dogmáticos da Igreja, abalando, assim, sua
poderosa hegemonia no período final da Idade Média.
É importante frisar que o movimento reformista não foi obra de um único visionário.
Na realidade, ele foi um movimento que se gestou, gradativamente, nas mais variadas
localidades e nos mais variados conventos, muitas vezes, saltando os muros que isolavam a
Igreja das demais práticas sociais que ocorriam fora de seus muros. Dito de outra maneira, o
movimento reformista foi um embate entre concepções ideológicas diferenciadas que se
encontravam em processo de formação e que contavam com a postura crítica de diferentes
pessoas, que, mesmo sendo portadoras de ideologias diferentes, tinham em comum o fato de se
posicionarem contra uma determinada hegemonia,
i.e.
, a hegemonia da Igreja. Essa postura
crítica e de luta dos reformistas culminou com a queima da Bula Papal em 31 de outubro de
1517, com a publicação das 95 teses de Lutero na porta da Capela de Wittenberg e com os
inevitáveis desdobramentos que se sucederam, como por exemplo, a guerra dos camponeses
que ocorreu de 1524 a 1525.
Essa reflexão, no campo histórico e de cunho religioso, que apresenta como diferentes
ideologias produzem posturas críticas, nos remete a lembrar que, no campo educativo, Freire
enfatiza sobre a importância de pedagogias críticas para identificar e combater ideologias
image/svg+xml
Paulo Freire e o ensino fundamental: Reflexões sobre uma formação crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1520
deterministas. Para Freire
(2004, p. 19), é fundamental “trabalhar contra a ideologia fatalista
dominante e seu poder de incentivar a imobilidade por parte dos oprimidos e sua adaptação à
realidade injusta”. Isso implica também entendermos que, no campo educativo, estas ideologias
dominantes que quase sempre são veladas, visam anular e extinguir pedagogias críticas que
contribuem para que estudantes leiam e releiam o mundo.
Assim, o objetivo dessa narrativa, sobre como a postura crítica no interior da Igreja, de
alguns de seus membros, foi determinante para o surgimento de novas ideias, foi o de mostrar
que esse episódio coaduna-se com a afirmação de Gruppi (1978)
5
de que a luta hegemônica
também se manifesta pelo embate de uma ideologia sobre outra, de forma a suplantá-la ou, de
coexistir em um mesmo espaço de lutas. De fato, o que se pode observar nesse relato foi o
surgimento de uma ideologia, a protestante, que, em dado momento, se opôs terminantemente
à ideologia católica, e foi, paulatinamente, ganhando espaço. Porém, nesse episódio específico,
merece destaque que um dos possíveis fatores da luta ideológica travada pelo protestantismo
está diretamente ligado à leitura, ou seja, ao ser leitor: a leitura de textos bíblicos que antes eram
feitos somente em voz alta, agora, com uma modalidade alternativa de leitura, proporcionou o
surgimento de um novo leitor.
Essa afirmativa é decorrente das reflexões propostas nas obras de Roger Chartier (1999)
e Manguel (1997), que, ao se dedicarem ao estudo da leitura, afirmam que o advento da
invenção da escrita alfabética originou a leitura em voz alta. Como registra Alberto Manguel
(1997, p. 61): “As palavras escritas, desde os tempos das primeiras tabuletas sumérias,
destinavam-se a ser pronunciadas em voz alta, uma vez que os signos traziam implícito, como
se fosse sua alma, um som particular”. Entretanto, a partir de outras necessidades, Chartier
(1999) e Manguel (1997) revelam que a leitura também passou a ser silenciosa, ou seja, surge
a figura do leitor silencioso.
Para caracterizar esse leitor silencioso, podemos fazer uso da mesma analogia
empregada por Manguel (1997) quando afirmou que a leitura em voz alta possuía um “som
particular”, audível e inconteste. Entretanto, no caso da leitura silenciosa, o leitor passa a ouvir
outros sons, o som de suas reflexões, das reflexões sobre o que está lendo. Por sua vez, como
essa nova modalidade de leitura e de ser leitor se dá, principalmente, nas clausuras dos
mosteiros medievais, é significativo citar que Manguel (1997) faz referência a como a leitura
silenciosa contribuiu para o nascimento da ideologia protestante e, até hoje, a leitura silenciosa
5
Uma discussão aprofundada sobre o conceito de hegemonia pode ser encontrada, por exemplo, nas obras:
MARCCIOCCHI, M-A.
A favor de Gramsci
. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980 e GRUPPI, L.
O conceito de
hegemonia em Gramsci
. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES e Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1521
tem produzido outros olhares, outras interpretações, outras ideias, outras lutas, nos mais
diferentes contextos. Ao se referir a uma representação gráfica de santo Agostinho observando
a leitura silenciosa de santo Ambrosio, Manguel (
1997, p. 71)
nos revela que:
Observando a leitura de santo Ambrósio naquela tarde de 384, Agostinho
dificilmente poderia saber o que estava diante dele. Pensou estar vendo um
leitor tentando evitar visitantes intrusos, economizando a voz para o ensino.
Na verdade, ele estava vendo uma multidão de leitores silenciosos que ao
longo dos séculos seguintes iria incluir Lutero, Calvino, Emerson e nós, que
o lemos hoje.
Argumentando que a leitura silenciosa exerceu influência no movimento reformista,
Simone Borges também ressalta a significativa importância que essa modalidade de leitura tem
na formação do leitor e dos desdobramentos para a sociedade:
[...] A leitura silenciosa transformou a ordem social, pois, criou novas funções
para a escrita, reformulou e introduziu comportamentos, desestabilizou
antigos conceitos como o de biblioteca. Ela esteve na base da Reforma de
Lutero e da Santa Inquisição. Fez desencadear novas práticas de letramento
que fomentaram, por sua vez, a formação de novos leitores e escritores, a
criação de novos gêneros e novos portadores de textos [...] (BORGES, 2010,
p. 04).
A questão da leitura, seja ela silenciosa ou não, se mostra, a partir da exposição destes
interlocutores pesquisados, como fundamental meio de promover e desenvolver a postura
crítica diante do objeto da leitura. Em Freire, a leitura e também a escrita, são tomados como
elemento fundante da necessária interpretação e interação com o mundo. Para demonstrar essa
importância, Freire publica
A importância do ato de ler: em três artigos que se completam
(1982) e, no transcurso de suas obras, a temática da leitura e de uma leitura crítica, será sempre
tratada com relevância pois ela será o alicerce para a compreensão, do que denomina de
“tramas” que estão presentes no mundo. Assim, dedicou
-se a propor um processo de
alfabetização baseado na necessária postura crítica diante do texto a ser lido, pensado,
dialogado. Comentando sobre esse processo, Freire (2001b, p. 21, grifo do autor) afirma que
“no fundo, esse conjunto de representações de situações concretas possibilitava aos grupos
populares uma “leitura” da “leitura” anterior do mundo, antes da leitura da palavra”.
Conceituando o ser crítico - por uma vertente filosófica
Saindo do campo religioso, verifica-se que o uso do termo
crítica
também é utilizado
na filosofia. Nicolla Abbagnano (2000, p. 223) faz referência ao filósofo modernista Emanuel
Kant como o filósofo que introduziu o termo
crítica
“para designar o processo através do qual
image/svg+xml
Paulo Freire e o ensino fundamental: Reflexões sobre uma formação crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1522
a razão empreende o conhecimento de si”. Para Kant, influenciado pelo iluminismo de John
Locke, a função da crítica é propiciar ao homem a possibilidade de conhecer a sua real
capacidade intelectiva e de conhecer as diversas maneiras de perceber, conhecer e apreender o
mundo em que vive. Tanto é assim que sua obra mais conhecida
Crítica da Razão Pura,
foi
pensada, inicialmente, com o título:
Os limites da sensibilidade e da razão
. Kant fora
fortemente influenciado pelos pressupostos do iniciador da teoria do liberalismo, Locke, para
quem a ação mais importante do homem é dedicar-se a analisar cada uma de nossas formas de
conhecer o objeto cognoscível, ou seja, conhecer a origem de nossas ideias e de nossos
discursos, rejeitando totalmente a corrente cartesiana que defendia a teoria de que as ideias são
inatas.
Porém, muitos séculos antes de Kant exercer sua postura crítica, a filosofia, que, em seu
nascedouro se alicerçou sob a égide de analisar, refletir e criticar a capacidade e a finalidade do
homem de conhecer e de agir sobre o objeto a ser conhecido, já se deparava com questões que
colocavam os homens em constantes indagações e embates. Esses embates podem ser
identificados a partir das diferentes correntes filosóficas que se seguiram em meio à divisão
entre a filosofia antiga, também conhecida como filosofia grega, e a filosofia ocidental. Já na
filosofia antiga, é perceptível a postura crítica de seus mais destacados pensadores nos seus
quatro períodos, a saber, o cosmológico ou pré-socrático, o antropológico, também conhecido
como socrático, o sistemático e o greco-romano, também conhecido como helenístico.
Enquanto a filosofia pré-socrática empregava todos os sentidos,
i.e.
, as percepções
sensoriais para buscar entender a própria existência e a origem do universo e suas
transformações, Sócrates e Platão, representantes máximos do período antropológico,
afirmaram que os sentidos, nunca poderiam levar ao conhecimento, à verdade plena, uma vez
que as percepções sensoriais conduziam ao erro e eram passíveis de influência da mentira e da
falsidade. Assim, para a filosofia socrática, o conhecimento era algo dado aprioristicamente ao
homem, fruto de suas ideias puras, desprovidas de opiniões e das falsas percepções do mundo
dos sentidos. Cria-se, pois, a concepção de que o conhecimento se dá pela via racionalista, ou
seja, pelo emprego da razão.
Quem se contrapôs a essa forma de conceber o conhecimento foi justamente um
seguidor de Platão: Aristóteles. Esse filósofo postula que o conhecimento somente será possível
se tomado pela via experimental. Ao criticar a abordagem de seu mestre, Aristóteles cria uma
nova concepção filosófica que ficou conhecida como sistêmica. Formula, assim, três ações que
devem fundamentar a ação crítica do homem que busca conhecer: a observação fiel da natureza,
o rigor do método e o empirismo. Na primeira ação, a experiência deve ser sempre tomada
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES e Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1523
como o ponto de partida. A segunda ação consistia em elaborar um conjunto de ações para se
poder chegar a um conhecimento, o que implicava a organização de procedimentos claros e
definidos para se poder realizar um estudo sistêmico do objeto a ser conhecido. Essa formulação
teórica de Aristóteles em idealizar uma via possível de se chegar ao conhecimento ficou
conhecida como empirismo, transcendendo seu tempo. Aristóteles foi apontado como o criador
da lógica, ou seja, do instrumento possível de se chegar ao conhecimento em qualquer área do
saber. A sua lógica foi reconhecida posteriormente por importantes ícones do pensamento
filosófico moderno, como, por exemplo, George Wilhelm Friedrich Hegel e Karl Marx, que
ampliaram a sua lógica propondo uma forma de pensar dialética e não linear.
Embora haja muitos outros filósofos que se destacaram entre Aristóteles e Marx, o
destaque inicial que se deu a Kant é justamente porque ele figura entre aqueles filósofos que
iniciaram uma discussão crítica sobre as possibilidades e os limites do conhecimento,
contrapondo-se, portanto, ao racionalismo e ao empirismo em suas proposições originais.
Contudo, é Kant quem processa uma síntese que busca integrar os postulados do racionalismo
e do empirismo numa relação dialética. Sua postura crítica ao analisar essas duas formas
filosóficas de conceber o conhecimento fornecerá a base para a criação de uma nova teoria: o
interacionismo.
Essa incursão na história, no campo religioso e no campo da filosofia é para destacar
como a atitude crítica foi determinante tanto para a negação como para a afirmação das grandes
teorias do conhecimento, a saber: o racionalismo, o empirismo e o interacionismo. Essas três
grandes teorias subsidiaram outras vertentes filosóficas, como o estruturalismo, a
fenomenologia e a teoria crítica. A pesquisadora Marilena Chauí (1995), ao tratar das atitudes
filosóficas capazes de submeter à crítica os dizeres e as ações sobre o mundo e de promover a
reformulação e a criação de novas concepções teóricas e visões de mundo, faz a seguinte
argumentação:
A primeira característica da atitude filosófica é
negativa
, isto é, um dizer não
ao senso comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às ideias da
experiência cotidiana, ao que “todo mundo diz e pensa”, ao estabelecido.
A segunda característica da atitude filosófica é
positiva
, isto é, uma
interrogação sobre
o que são
as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os
comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação sobre
o porquê disso tudo e de nós, e uma interrogação sobre como tudo isso é assim
e não de outra maneira. O que? Por que é? Como é? Essas são as indagações
fundamentais da atitude filosófica.
image/svg+xml
Paulo Freire e o ensino fundamental: Reflexões sobre uma formação crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1524
A face negativa e a face positiva da atitude filosófica constituem o que
chamamos de
atitude crítica
e
pensamento crítico
(CHAUÍ, 1995, p. 12,
grifos da autora).
É extremamente relevante destacar a importância da postura crítica para a vida social.
São as posturas críticas que provocam o nascimento e a evolução das diferentes concepções de
mundo e de homem ao longo da história da humanidade, concepções que, por sua vez, incidem
diretamente nas relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza. Essas diferentes
concepções do campo filosófico, como, por exemplo, o humanismo, ceticismo, estruturalismo,
formalismo, fenomenologia e a teoria crítica, que se desmembraram de concepções basilares
do racionalismo, do empirismo e do interacionismo, estabeleceram-se a partir da leitura crítica
que os homens faziam acerca da teoria filosófica que até então lhes servia para responder suas
questões existenciais. Nesse processo de questionamento, os sujeitos críticos não somente
questionam as ideias de seu tempo, mas também contribuem decisivamente para que novas
ideias deem novos contornos ao mundo e estabeleçam novas relações entre os homens.
Sobre essa possibilidade de posturas críticas promoverem diferentes concepções de
compreendermos o mundo por uma abordagem filosófica que se vem discutindo, cabe citar que
esse conceito, o de possibilidade de mudanças, no campo da educação, também é evidenciado
na obra freireana. Par
a Freire, o termo “possiblidade”, está intimamente relacionado com uma
postura crítica que é, por sua natureza, transformadora, ou seja, a educação só pode exercer esse
processo de fomentar mudanças quando seus diferentes atores atuam de forma crítica,
compreendendo-se no tempo e no espaço. Para tanto, Freire (2001a, p. 84) nos ensina sobre
essa potencialidade por dizer que “porque, histórico, vivo a História como tempo de
possibilidade e não de determinação”.
O homem que se posiciona criticamente é o sujeito que contribui tanto para o
desenvolvimento do conhecimento como para o desvelamento de relações de dominação
presentes nas mais diferentes facetas da atividade humana. Jean-Jacques Rousseau foi um
desses grandes homens de pensamento crítico aguçado. Pode-se perceber, no conjunto de suas
obras, como ele colocou em questionamento certas verdades estabelecidas e como esses
questionamentos influenciaram a sua geração e as gerações que o sucederam. Para demonstrar
a influência do pensamento crítico de Rousseau na maneira de pensar do homem
contemporâneo, é oportuno citar João Carlos Brum Torres (2011) que, ao escrever a introdução
do livro
Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens
, uma das obras clássicas de
Rousseau, comenta sobre a extensão de suas ideias. Nessa introdução, Torres
(2011, p. 9, grifo
do autor)
faz o seguinte comentário sobre o pensador suíço:
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES e Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1525
O reconhecimento do papel decisivo do
Segundo discurso
e, em geral, da obra
rousseauniana, na conformação do imaginário crítico da modernidade pode
ser expresso mais diretamente se dissermos que Rousseau é o
fundador
das
duas principais linhagens do pensamento crítico, que caracterizam essa época
histórica.
Para demonstrar como a postura crítica é determinante no processo de transformação da
forma de pensar dos homens e de sua forma de agir socialmente, Hans Joachim Störing (
2008,
p. 330, grifo do autor)
ao fazer um percurso na história da filosofia, faz a seguinte afirmação:
As exigências dos filósofos pela aplicação da razão (também em relação a
tudo o que foi tradicionalmente transmitido, palavra de ordem “crítica”, por
liberdade, tolerância, humanidade se impuseram de modo generalizado no
longo prazo. [...] A esses ideais devemos conquistas fundamentais como a
eliminação da tortura, o fim da perseguição a bruxas, o tratamento humano
dos doentes mentais, a eliminação de castigos corporais hediondos como a
roda ou o esquartejamento, o fim da escravidão, o reconhecimento da divisão
dos poderes nas constituições dos estados, [...] em suma: a paulatina
imposição dos direitos humanos, como eles estão formulados na declaração
de independência americana de 1776, e depois na “Déclaration des droits de
l’home”, da assembléia nacional de 1789, e que agora aparecem no estatuto
das Nações Unidas.
A constatação de que a postura crítica foi e continua sendo determinante para mudanças
que alteram as mais diferentes relações sociais pode ser também percebida no campo educativo.
Isso implica reconhecer que, da mesma forma como no campo religioso e no campo filosófico,
sujeitos críticos pensaram a educação de seu tempo e questionaram concepções, valores e
metodologias utilizadas no processo educativo e, mesmo sem essa pretensão, contribuíram para
a criação de modelos e práticas educativas que perduram por séculos. O que também pode ser
constado é que a postura crítica, que pode ser identificada em diferentes campos sociais, acaba,
em geral, influenciando também o processo de educação dos homens.
Para pegar um gancho na afirmação feita anteriormente acerca da postura crítica no
interior da Igreja de Roma, vale comentar um dos desdobramentos que ocorreram no período
da Reforma que teve impacto significativo para a educação. Para o reformista Martinho Lutero,
a educação era algo de importância fundamental para a formação cultural e espiritual da criança.
Essa observação pode ser percebida em um de seus discursos, intitulado
Sermão sobre a
necessidade de mandar os filhos à escola
, de 1530, e também na carta que escreveu, em 1524,
para os prefeitos e conselheiros de todas as cidades da Alemanha, na qual reivindicava a criação
de escolas cristãs. Um dos trechos dessa carta é citado por Gadotti (1999, p. 72), e nele, Lutero
afirma que “não há nenhuma outra o
fensa visível que, aos olhos de Deus, seja um fardo tão
pesado para o mundo e mereça castigo tão duro quanto à negligência na educação das crianças”.
image/svg+xml
Paulo Freire e o ensino fundamental: Reflexões sobre uma formação crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1526
Essa preocupação com a educação do povo evocada por Lutero dá início a um processo de
criação de estruturas educativas com conteúdos culturais próprios, elaborados principalmente
por Felipe Melanchton, que posteriormente ficou conhecido como preceptor da Alemanha.
Sobre a criação dessas escolas no interior do movimento reformista, Cambi (1999, p. 250) diz
que Melanchton era
Muito ativo em promover e organizar escolas em diversas localidades da
Alemanha, o seu objetivo educativo é inicialmente expresso no
De corrigendis
adolescentia estudiis
de 1518, no qual defende a importância da instrução e a
validade da cultura antiga para penetrar a verdade das Escrituras.
O franco envolvimento dessa nova e crescente doutrina religiosa, a protestante, no
processo educativo, obrigou a Igreja Católica a elaborar e desenvolver um grande projeto na
área da educação. Mario Alighiero Manacorda (2000) diz que a Igreja realizou uma defesa
intransigente quanto à prerrogativa de atuar na educação dos homens. Tal orientação educativa
da Igreja Católica, como resposta ao protestantismo, segundo Manacorda (2000, p. 200) “foi
fixada no Concílio de Trento (1545-
1564)”.
Comentando a importância do Concílio de Trento para os rumos da educação, que se
destinava não à população em geral, mas a um determinado grupo, Franco Gambi (1999, p.
256) afirma:
Com o concílio de Trento, de fato, a Igreja de Roma adquire uma maior
consciência de sua própria função educativa e dá vida a significativo
florescimento de congregações religiosas destinadas de maneira especifica a
atividades de formação não só dos eclesiásticos, mas também dos jovens
descendentes dos grupos dirigentes.
Um fato muito importante que determinou diretrizes no campo da educação ocorridas
durante o Concílio de Trento é descrito por Manacorda (2000, p. 201, grifo do autor):
Basta lembrar, entre as vozes que ecoaram nas salas do concílio a de
Beccatelli, bispo de Ragusa, que, sem meio-termos e em tom muito áspero,
dissera: “Não há nenhuma necessidade de livros; o mundo, especialmente
depois da invenção da imprensa, tem livros demais; é melhor proibir mil livros
sem razão, do que per
mitir um merecedor de punição”.
Esse é um dos registros da história da educação no ocidente no qual o uso do poder pode
ser observado por meio da imposição da censura, uma imposição oficializada e que atingia, em
especial, o campo educativo. Muitos livros foram classificados como heréticos, dentre os quais,
obviamente, os escritos de Lutero, Calvino e outros reformistas que figuravam no
índex
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES e Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1527
librorum proibitorum
6
. Embora, nessa época, os livros fossem utilizados somente pelos
professores, pois raro era um aluno que dispunha de uma obra, a ideia aqui é a de destacar o
antagonismo presente no processo educativo, pois, enquanto a Igreja posicionava-se contrária
ao uso de livros que não tivessem a sua aprovação, o outro modelo educativo propunha
justamente o contrário.
Em um mundo que já fervilhava em termos de descobertas e de desenvolvimento nas
mais diferentes áreas do conhecimento, como, por exemplo, a invenção da imprensa e as
grandes navegações, as quais propiciaram o desenvolvimento do capitalismo comercial, as
teorias que se opunham aos dogmas sustentados pela Igreja, como foi o caso da teoria
heliocêntrica, proposta inicialmente por Nicolau Copérnico, não constavam no plano de estudos
criado pela Igreja durante os anos de 1586 a 1599, o chamado
Ratio Atque Institutio Studiorum
Societatis Jesu,
ou somente de
Ratio Studiorum
7
. Manacorda (2000, p. 202) ao comentar sobre
o plano, afirma que ele “regulamentou rigo
rosamente todo o sistema escolástico jesuítico: a
organização em classes, os horários, os programas e a disciplina”.
Entretanto, embora o plano de educação católico regulamentado pela
Ratio Studiorum
tenha influenciado quase todo o mundo em sua época, como afirma Gadotti (1999), pode-se
observar que na outra via,
i.e.
, no protestantismo, a educação, pela postura crítica de alguns,
que, nesse cenário de franco embate, se tornava uma postura política, também exercia forte
influência. Um desses críticos, talvez um dos maiores expoentes da educação de seu tempo, é
o morávio Jan Amos Seges, ou João Amós Comenius. Comenius propôs, em sua obra máxima,
intitulada
Didática magna
, exatamente o contrário do que se apregoava no movimento
reformista quanto ao uso de livros. Embora também questionasse a utilização de livros, cujos
autores Comenius chamava de pagãos, sua visão crítica da educação, sintonizada com o
desenvolvimento de seu tempo, o fez propor a criação de livros que pudessem agregar o saber
de todas as áreas e a utilização de livros como ferramentas, as quais analogamente chamava de
partitura
,
para a regência em sala de aula pelo maestro, no caso, o professor.
Sobre a distinção entre a proposta educativa de Comenius e a da Igreja de Roma,
sintetizada no
Ratio Studiorum
, João Luiz Gasparin (1994, p. 14) escreveu:
A didática sempre existiu na história dos homens, porque sempre se ensinou
e sempre se aprendeu. Em Comenius, todavia, ela adquire dimensões
peculiares que a diferenciam de todas as outras formulações anteriores ou
6
Índice de livros proibidos.
7
O Ratio Studiorum é o plano educacional que a Companhia de Jesus pôs à frente dos seus colégios à época da
Contra-Reforma) Sobre o material: SCHMITZ, E. F.
Os jesuítas e a educação
: Filosofia educacional da
companhia de Jesus. São Leopoldo, RS: Ed. Unisinos, 1994.
image/svg+xml
Paulo Freire e o ensino fundamental: Reflexões sobre uma formação crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1528
contemporâneas, como, por exemplo, as de Ratke ou da
Ratio Studiorum
dos
Jesuítas.
Ainda, para destacar o ponto fulcral da diferença entre a proposta educativa da Reforma
e da Contra-Reforma, Cambi (1999, p. 256) faz a seguinte afirmação:
Nisso consiste a diferença mais significativa no plano educativo entre o
movimento da Reforma e o da Contra-Reforma. O primeiro privilegia a
instrução dos grupos burgueses e populares com o fim de criar as condições
mínimas para uma leitura pessoal dos textos sagrados, enquanto o segundo,
sobretudo com a obra dos jesuítas, repropõe um modelo cultural e formativo
tradicional em estreita conexão com o modelo político e social expresso pela
classe dirigente.
Quanto ao uso de livros e à criação de livros didáticos que, aliás, lhe é atribuída,
Comenius (2002, p. 365) faz a seguinte analogia:
O tipógrafo perfeito tem caracteres de todas as espécies, para nunca deixar de
ter algum de que possa necessitar. Do mesmo modo, nossos livros devem
conter tudo o que diz respeito à educação completa das mentes, para que, com
esses subsídios, ninguém possa deixar de aprender tudo o que é preciso
aprender.
Cabe salientar que a leitura pontual que se fez acima, de que no campo educativo
também é perfeitamente possível teorizar como a postura crítica de determinados sujeitos foi
decisiva para que ocorressem profundas alterações nas abordagens da educação de seu tempo,
não foi baseada em uma leitura linear somente do embate religioso entre a Igreja de Roma e o
Protestantismo. Levado a termo, em uma visão de totalidade, as questões, principalmente de
ordem econômicas e filosóficas, são condicionantes sociais que, em seu somatório,
contribuíram para que a proposta educativa de Comenius fosse idealizada e desenvolvida,
sendo, portanto, objeto de discussão até os nossos dias.
Considerações finais
Os relatos supracitados buscaram demonstrar o que se pode chamar de postura crítica,
logo, ação de sujeitos críticos. Esses exemplos, e, logicamente, poderiam ser outros, foram
selecionados uma vez que os desdobramentos da ação de Aristóteles, Lutero, Comenius,
Rousseau e Kant tiveram direta influência na educação de seu tempo e, muito mais, na
organização e nas práticas educativas escolares que se seguiram, algumas, inclusive que
praticamos até hoje em nossa modelo educacional escolar.
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES e Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1529
Resta-nos, uma vez apresentada a postura crítica que pode idealizar um sujeito crítico,
provocar o leitor a pensar como isso pode influenciar os profissionais que atuam no ensino
fundamental a formar sujeitos críticos. Primeiramente por dizer que é exatamente isso que se
espera deles, seja pelo teor do texto da Lei apresentado no início desse artigo, seja pelo consenso
comum de toda a sociedade, ainda que não se saiba definir o que seja um sujeito crítico.
Incluir no diálogo o pensador Paulo Freire significa, a princípio, o reconhecimento de
que, em seu legado que é vasto em especial na área da educação, a formação crítica dos
diretamente envolvidos no processo, ou seja, alunos em formação, professores e gestores em
ação, necessita, imperiosamente, que suas posturas sejam marcadas pela criticidade, pois
somente assim poderíamos idealizar uma formação crítica, que pode e deve ter seu nascedouro
logo nos primórdios da educação escolar.
No conjunto das obras de Paulo Freire se observa como essa postura crítica é
fundamental para a formação de nossos estudantes ao longo de seu percurso no processo de
escolarização, para que estes compreendam e, inclusive, reajam a condição de possível
oprimidos diante da ação do opressor. Obviamente que esse entendimento conceitual, por si só,
já foi e continua sendo objeto de teses, escritas para estudar e discutir não somente o conceito
de oprimido, mas como, a partir dele, podemos avançar para outras reflexões no plano
educativo, histórico, sociológico, filosófico entre outros. Por isso mesmo, reafirmamos no
fechamento dessa reflexão, que a necessária formação crítica é uma das compreensões possíveis
para definirmos o conceito de oprimido em Paulo Freire que, de forma mais objetiva, implica
reconhecermos que existe polos antagônicos, a saber, o do oprimido e do opressor e, por conta
disso, a formação crítica é fundamental para essa compreensão, afinal, Freire (1979, p. 48, grifo
do autor) nos ensina que “a consciência crítica dos oprimidos significa, pois, consciência de si,
enquanto ‘classe para si’”.
Assim, por esse simples arrazoado, este texto referenda a importância dos escritos
freireanos como possível fonte de reflexões, não somente da importância de, desde os primeiros
anos da escolarização, se trabalhar na perspectiva de uma formação crítica, como também do
perfil necessário para o professor objetive e busque trabalhar com essa perspectiva de formação
crítica desde os anos iniciais. Sobre essas duas importantes reflexões podemos citar uma
advertência de Freire quanto a necessidade de o professor buscar a coerência entre o seu
discurso e as suas ações, logo, implica dizer ao professor que almejar trabalhar em prol de uma
formação crítica de seus alunos deve, minimamente, refletir como realiza sua autoavaliação na
qualidade de sujeito crítico.
image/svg+xml
Paulo Freire e o ensino fundamental: Reflexões sobre uma formação crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1530
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, N.
Dicionário de filosofia
. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BÍBLIA. Português.
Tradução do novo mundo das escrituras sagradas
. Tradução da
versão inglesa de 1961. Revisão de 1986. Cesário Lange, SP: Associação torre de vigia de
bíblias e tratados, 2006.
BORGES, S. B. As múltiplas facetas da formação em leituras.
In
: ENCONTRO DO
CELSUL, 9., 2010, Palhoça.
Anais
[...]. Palhoça, SC: Universidade Federal de Santa Maria,
2010.
BRASIL,
Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996
. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Brasília, DF: Presidência da República, 1996. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 07 ago. 2021.
CAMBI, F.
História da Pedagogia
. Tradução: Álvaro Lorencini. São Paulo: Editora UNESP,
1999.
CHARTIER, R.
A Aventura do Livro
: Do leitor ao navegador. Tradução: Reginaldo de
Moraes. São Paulo: Editora UNESP, 1999.
CHASSOT, A.
A Ciência através dos tempos
. São Paulo: Moderna, 1994.
CHAUÍ, M.
Convite a Filosofia
. 5. ed. São Paulo: Editora Ática, 1995.
COMENIUS, J. A.
Didática magna
. 2. ed. Tradução: Ivone Castilho Benedetti. São Paulo:
Martins Fontes, 2002.
ECO, U.
O nome da rosa
. Tradução: Aurora Bernardini e Homero Freitas de Andrade. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
FREIRE, P.
Ação cultural para a liberdade
. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
FREIRE, P.
Conscientização
:
Teoria e prática da libertação: Uma introdução ao pensamento
de Paulo Freire. Tradução: Kátia de Mello e Silva. 3. ed. São Paulo: Moraes, 1980.
FREIRE, P.
Ação cultural para a liberdade e outros escritos
. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1982.
FREIRE, P
Pedagogia da esperança
:
Um reencontro com a pedagogia do oprimido. 5. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
FREIRE, P.
Pedagogia da autonomia
: Saberes necessários à prática educativa. 20. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2001a.
FREIRE, P.
A importância do ato de ler
: Em três artigos que se completam. 42. ed. São
Paulo: Cortez, 2001b.
FREIRE, P.
Pedagogy of indignatíon
. Boulder: Paradigm Publishers, 2004.
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES e Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1531
GADOTTI, M.
História das ideias pedagógicas
.
São Paulo: Ática, 1999.
GASPARIN, J. L.
Comênio ou da arte de ensinar tudo a todos
. Campinas, SP: Papirus,
1994.
GRUPPI, L.
O Conceito de Hegemonia em Gramsci
. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
MANACORDA, M. A.
História da educação
: Da antiguidade aos nossos dias. 8. ed.
Tradução: Gaetano Lo Mônaco. São Paulo: Cortez, 2000.
MANGUEL, A.
Uma História da Leitura
. Tradução: Pedro Maia Soares. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.
SCHMITZ, E. F.
Os jesuítas e a educação
:
Filosofia educacional da Companhia de Jesus.
São Leopoldo, RS: Ed. UNISINOS, 1994.
STÖRING, H. J.
História geral da filosofia
. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
TORRES, J. C. B. Introdução.
In
: ROUSSEAU, J. J.
Discurso sobre a origem e os
fundamentos da desigualdade entre os homens
. Tradução: Paulo Neves. Porto Alegre:
L&PM, 2011.
Como referenciar este artigo
CARVALHO, M. A. B.; ESTRADA, A. A.; ALVES, F. L.; SOLIGO, V. Paulo Freire e o ensino
fundamental: Reflexões sobre uma formação crítica.
Revista Ibero-Americana de Estudos
em Educação
, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
Submetido em:
20/12/2021
Revisões requeridas em
: 03/02/2022
Aprovado em
: 19/04/2022
Publicado em
: 01/07/2022
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
image/svg+xml
Paulo Freire y la educación primaria: Reflexiones sobre una formación crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1515
PAULO FREIRE E O ENSINO FUNDAMENTAL: REFLEXÕES SOBRE UMA
FORMAÇÃO CRÍTICA
PAULO FREIRE Y LA EDUCACIÓN PRIMARIA: REFLEXIONES SOBRE UNA
FORMACIÓN CRÍTICA
PAULO FREIRE AND ELEMENTARY SCHOOL: REFLECTIONS ON A CRITICAL
FORMATION
Marco Antônio Batista CARVALHO
1
Adrian Alvarez ESTRADA
2
Fabio Lopes ALVES
3
Valdecir SOLIGO
4
RESUMEN
:
La formación de los estudiantes, cualquiera que sea el nivel educativo, siempre
suscita la necesidad y la expectativa de que sean sujetos críticos. Este texto se preocupa de
provocar, desde una perspectiva freireana, lo que puede ser esta formación y este ejercicio de
la criticidad, no tratando un corolario de definiciones, aunque sean de reconocidos
investigadores, sobre lo que será un sujeto crítico, una necesidad básica de poder pensar en un
proceso de escolarización que haga posible esta deseada formación crítica. Para ello, el texto
presenta y discute algunas acciones que, en el transcurso de la historia, marcaron a sus creadores
al cuestionar posiciones, ideas y acciones en su tiempo histórico y que demarcan, para este
análisis, un pensamiento y un actuar críticos que pueden reflejarse por todos los involucrados
directa e indirectamente en el proceso educativo.
PALABRAS CLAVE
:
Paulo Freire. Formación crítica. Educación. Sujeto crítico
RESUMO
: A formação de estudantes, em qualquer que seja o nível de escolarização, enseja
sempre a necessidade e a expectativa de que esses sejam sujeitos críticos. Esse texto, com uma
abordagem qualitativa, se ocupa em provocar, a partir de uma perspectiva freireana, o que
pode ser essa formação e esse exercitar da criticidade, não se ocupando com um corolário de
definições, mesmo que de renomados pesquisadores, sobre o que venha a ser um sujeito crítico,
uma necessidade básica para se poder pensar em um processo de escolarização que viabilize
essa almejada formação crítica. Para isso, o texto apresenta e discute algumas ações que, no
1
Universidad Estatal del Oeste de Paraná (UNIOESTE), Cascavel
–
PR
–
Brasil. Profesor del Programa de
Posgrado en Enseñanza de Ciencias y Matemáticas (PPGECEM). Doctor en Letras y Lingüística (UFBA). ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-6811-2661. E-mail: marcoab_carvalho@yahoo.com.br
2
Universidad Estatal del Oeste de Paraná (UNIOESTE), Cascavel
–
PR
–
Brasil. Profesor del Programa de
Posgrado en Sociedad, Cultura y Fronteras (PPGSCF). Doctorado en Educación (USP). ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-0980-8925. E-mail: adrianalvarez.estrada@gmail.com
3
Universidad Estatal del Oeste de Paraná (UNIOESTE), Cascavel
–
PR
–
Brasil. Profesor del Programa de
Posgrado en Sociedad, Cultura y Fronteras (PPGSCF). Doctor en Ciencias Sociales (UNISINOS). ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-2114-3831. E-mail: fabiobidu@hotmail.com
4
Universidad Estatal del Oeste de Paraná (UNIOESTE), Cascavel
–
PR
–
Brasil. Profesor del Programa de
Posgrado en Sociedad, Cultura y Fronteras (PPGSCF). Doctorado en Educación (UNISINOS). ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-2618-009X. E-mail: valdecir_soligo@yahoo.com.br
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES y Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1516
transcorrer da história, marcaram seus idealizadores por conta de posicionamentos, ideias e
ações questionadoras em seu tempo histórico e que demarcam, para essa análise, um pensar e
agir crítico e que pode ser refletido por todos os envolvidos direta e indiretamente com o
processo educativo.
PALAVRAS-CHAVE
: Paulo Freire. Formação crítica. Educação. Sujeito crítico.
ABSTRACT
: The student’s formation, in any level of schooling, always entails the need and
expectation that they become critical subjects. This text aims to provoke, from Paulo Freire’s
perspective, what this formation and the criticality practice can be, not occupying with a
corollary of definitions, even of renowned researchers, about what will become a critical
subject, a basic need to be able to think in a schooling process that makes this desired critical
formation viable. For this, the text presents and discusses some actions that, throughout history,
marked the creators due to their positions, ideas and questioning actions in their historical time
and that demarcate, for this analysis, a critical thinking and acting that can be reflected by all
those involved directly and indirectly with the educational process.
KEYWORDS
: Paulo Freire. Critical formation. Education. Critical subject.
Introducción
Estudiar seriamente un texto es estudiar el estudio de quién, estudiando, lo
escribió. Es percibir el condicionamiento histórico-sociológico del
conocimiento. Se trata de buscar las relaciones entre el contenido en estudio
y otras dimensiones relacionadas del conocimiento. Estudiar es una forma de
reclamar, recrear, reescribir: tarea del sujeto y no objeto. [...] La
comprensión de textos no es algo que recibas como regalo. Requiere un
trabajo paciente de aquellos que se sienten problematizados por él.
Paulo Freire
En América Latina, uno de los discursos que reconoció la necesidad de una educación
escolar que proporcionara una formación crítica es el de la Conferencia de Ministros de
Educación. Este evento, que tuvo lugar en Caracas del 6 al 15 de diciembre de 1971, estuvo
marcado por la afirmación de que "toma forma la idea de una educación liberadora que
contribuya a la conciencia crítica" y que esta formación "estimularía la participación
responsable del individuo en los procesos culturales, sociales, políticos y económicos"
(FREIRE, 1980, p. 7).
El Estado brasileño, a su vez, defiende la formación de sujetos críticos a través del
proceso de escolarización. El discurso que expresa esta intención puede observarse en el texto
de la Ley de Lineamientos y Bases de la Educación - LDB Nº 9.394/1996 (BRASIL, 1996), en
su Art. 35, en el Ítem III: "la mejora del estudiante como persona humana, incluyendo la
formación ética y el desarrollo de la autonomía intelectual y el pensamiento crítico". Cabe
image/svg+xml
Paulo Freire y la educación primaria: Reflexiones sobre una formación crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1517
señalar, sin embargo, que la indicación de una formación crítica, en los tres niveles, sólo aparece
en la sección que trata de la escuela secundaria. En cuanto a la formación en los primeros años
de la educación, es
decir
, en la educación de la primera infancia y la escuela primaria, el
propósito de la educación se establece así:
Artículo 29. La educación de la primera infancia, primera etapa de la
educación básica
tiene como objetivo el desarrollo integral de los niños hasta
los seis años de edad, en sus aspectos físicos, psicológicos, intelectuales y
sociales
, complementando la acción de la familia y la comunidad.
Artículo 32. La educación primaria, con una duración mínima de ocho años,
obligatoria y gratuita en la escuela, tendrá como objetivo la formación básica
del ciudadano, a través de: I
–
el desarrollo de la capacidad de aprender,
teniendo como medio básico el dominio pleno de la lectura, la escritura y el
cálculo.
(BRASIL, 1999, nuestro grifo)
Es notable que, además de no mencionar ninguna formación crítica en educación infantil
o en primaria, el aprendizaje de la lectura y la escritura aparecen en el texto de la ley como una
adquisición mecanicista en la que aprender a leer y escribir es lo que es suficiente para sí mismo,
es decir, aprender a leer y escribir no está vinculado a una herramienta potencial o instrumento
crítico para la lectura mundial. Una formación alejada de la que puede mostrar al alumno que,
por ejemplo, el lenguaje es, ante todo, una práctica social y, como tal, no exenta de carácter
ideológico e impregnada de relaciones de poder.
En cuanto a la educación superior, el texto de la LDB Nº 9.394/1996 (BRASIL, 1996),
en su Art. 43, dice que su propósito es "estimular la creación cultural y el desarrollo del espíritu
científico y el pensamiento reflexivo". En este apartado, observamos un discurso que evoca una
formación crítica del alumno, si consideramos que desarrollar un espíritu científico y un
pensamiento reflexivo es una tarea que no se imagina sin una postura crítica. Finalmente, la
escuela debe formar sujetos activos, participativos y transformadores de la sociedad como lo
establece la LDB Nº 9.394/1996 (BRASIL, 1996).
En vista de este discurso que evoca una formación crítica, podemos decir que toda la
obra del educador Paulo Freire y, obviamente, mucho de lo que ya se ha producido sobre ella y
sobre ella, apuntan fuertemente a una educación, en el ámbito escolar, que está marcada por la
criticidad, es decir, que hombres y mujeres en el ejercicio del uso del conocimiento que se
trabaja en él en el proceso de escolarización, y no solo transmiten, ejercen su capacidad de
pensar y, principalmente, de pensar críticamente.
Así, entendemos que es oportuna más esta provocación, con el fin de teorizar lo que
sería una formación crítica desde la educación básica, es decir, esa etapa escolar que pueda dar
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES y Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1518
fundamento, fundamentos para una mejor reflexión de los contenidos trabajados en relación
con las prácticas sociales más inmediatas de los alumnos, una acción que nos parece, hoy en
día, se han convertido en una jerga, es decir, de
la realidad del alumno
. Pero preguntémonos:
¿El maestro que inserta esta meta en su plan de trabajo realmente conoce esta realidad? ¿Es lo
suficientemente crítico como para entenderlo y, por tanto, mediar el conocimiento de tu área
con esta realidad, es decir, con el conocimiento que impregna el mundo de las experiencias de
sus alumnos? Estas preguntas culminan en dos preguntas básicas: ¿podemos realmente, como
educadores de educación básica, formar sujetos críticos? ¿Qué concepto tenemos como tema
crítico?
Para discutir estos temas básicos, es importante, en primer lugar, referir que, de hecho,
para Freire (1992), la educación escolar debe tener su punto de partida centrado en las
experiencias más inmediatas que el estudiante tiene en sus experiencias. Sobre esto, al comentar
la necesidad de respetar los conocimientos que el estudiante trae a la escuela, Freire (1992, p.
86, grifo del autor) dice que "la localidad de los estudiantes es el punto de partida para el
conocimiento que están creando del mundo". Es el mundo, en última instancia, es la primera e
inevitable cara del mismo mundo".
Por lo tanto, conocer la dinámica de estas relaciones sociales inmediatas de los
estudiantes es una necesidad para que los contenidos que serán dinamizados por el trabajo
escolar adquieran una dimensión más allá de su carácter meramente informativo, es decir, la
búsqueda constante de superación de prácticas pedagógicas repetitivas, marcadas por una
enseñanza teórica memorística, fragmentada y, en la mayoría de los casos, disociado de la
realidad social de los estudiantes.
Trabajar desde esta perspectiva implica, mínimamente, todos los actores sociales
involucrados, el deseo y la búsqueda de una formación crítica. Sin embargo, volviendo a las
preguntas básicas, ahora es necesario preguntarse: Después de todo, ¿qué es crítico?
Conceptualizar el ser crítico - por un aspecto religioso
La palabra
crítico proviene
del término griego
crinein, que
significa separar y juzgar.
Según esta definición, bastaría con decir que una persona crítica es la que separa el objeto a
apreciar y le arroja un cierto juicio de valor,
es decir
, un juicio. Así, socialmente creamos la
función del crítico de profesión, ya que actualmente tenemos al crítico de arte, cine, fútbol,
política, el crítico literario, entre otros. Es importante destacar que, aunque hemos creado el
crítico de profesión y el crítico político, como el literario, estas no son funciones creadas hoy
image/svg+xml
Paulo Freire y la educación primaria: Reflexiones sobre una formación crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1519
en día. Aristóteles ya ejercía su análisis crítico de la política. Después de todo, para él, "el ser
humano es fundamentalmente político".
El uso de esta palabra ya se puede observar en el texto bíblico. En
Génesis, existe
el uso
de la palabra crítica con el mismo significado de un juicio contrario a una determinada práctica.
Se observa que el primer libro de la Biblia, cuya escritura hebrea se atribuye al profeta Moisés,
está fechado aproximadamente más de 1.500 años antes de Cristo. En
Génesis, en
su vigésimo
primer capítulo en el versículo 25, hay una referencia de que "Abraham criticó severamente a
Abimeleque" (BIBLIA [2006)39]. Esta referencia, presente en el contexto bíblico, ejemplifica
el uso de la crítica para cuestionar lo que ya se ha establecido o lo que se ha hecho fuera de lo
preestablecido.
Así, en un intento de diseccionar sobre lo que es ser crítico y, para ello, escapar de un
desarrollo de definiciones, aunque sean de investigadores de renombre, intentamos definir el
ser crítico a partir de las acciones, posturas que, se entiende, son de un sujeto crítico. Este sujeto,
o, mejor dicho, estos sujetos, cuyos nombres fueron marcados en la historia en diferentes áreas
del conocimiento, se identifican demostrando posiciones, ideas y acciones cuestionadoras en su
tiempo histórico y que demarcaron, por lo tanto, un pensamiento y actuación críticos.
Esta postura crítica de los sujetos críticos es extremadamente notable en la historia de
una de las grandes religiones. En la historia del catolicismo, es posible ver cómo la postura
crítica de algunos de los católicos activos fue decisiva para promover cambios en la postura y
las referencias de la iglesia. La crítica que el monje agustino Martín Lutero dirigió a ciertos
dogmas del catolicismo llevó a la Iglesia de Roma no solo a enfrentar severas bajas en su
contingente, sino también a reestructurarse en muchas de sus acciones debido al movimiento
que históricamente se conoció como la Reforma. Entre estas acciones tomadas por la Iglesia se
encuentra la participación efectiva en la educación escolar.
En el movimiento reformista promovido por Martín Lutero, que contó con el apoyo de
muchos otros correligionarios, las críticas contra ciertos dogmas de la Iglesia fueron puntuales
y culminaron en las conocidas 95 tesis de Lutero. Sin embargo, es con la crítica vehemente de
la concesión de indulgencias a cambio de contribuciones financieras a la Catedral de San Pedro
en Roma que Lutero ha lanzado toda una lucha contra el poder autoritario del catolicismo bajo
el papado de León X
–
Giovanni de Medici. Así, se estableció una lucha, no sólo contra las
prácticas litúrgicas y las posturas ideológicas de la Iglesia, sino contra el poder,
es decir
, contra
lo que los reformadores consideraban un abuso del poder de la Iglesia, que en ese momento
producía un enlucido en la capacidad de pensar y expresarse del hombre. El comentario de
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES y Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1520
Chassot (1994, p. 89) es importante al respecto: "los reformadores deseaban reducir el control
dogmático ejercido por la iglesia y así asegurar una mayor libertad de pensamiento".
La crítica de Lutero a la Iglesia Católica alienta a reflexionar sobre la importancia de
una postura crítica capaz de cuestionar la hegemonía de quienes usan el poder para manipular
las formas de pensar, sentir y actuar de los demás. Con la crítica mordaz de Lutero a los dogmas
inquebrantables y al poder incuestionable de la Iglesia, los hombres pudieron despertar a la
comprensión de los grilletes que tiñen su libertad de pensamiento, expresión y acción. En este
sentido, Chassot (1994, p. 89) comenta que la postura crítica de los reformistas fue decisiva
"para los logros del humanismo y para las nuevas posturas ante la ciencia, facilitando sin duda
el surgimiento de nuevas mentalidades".
Este choque, que no terminó con la reforma, ya que existía el movimiento contra
reformista, no es más que uno de los muchos ejemplos de la potencialidad del pensamiento
crítico para impulsar movimientos que, al límite, pueden convertirse en reformas amplias, es
decir, en relaciones sociales más humanizadas y humanizadoras. En su novela
Titulada El
nombre de la rosa
, Umberto Eco (1983) elabora una trama en la que describe el poder
determinista de la Iglesia y los enfrentamientos que se produjeron en su esfera interior. Entre
otras razones, estos choques ocurrieron precisamente por la postura crítica suscitada por los
acontecimientos que ocurrieron fuera de las puertas de la Iglesia: el avance de la ciencia y las
artes, y la difusión de otras ideologías. Estos acontecimientos produjeron no sólo posturas
disidentes, sino también posturas que eran ferozmente contrarias a los dictados dogmáticos de
la Iglesia, sacudiendo así su poderosa hegemonía a finales de la Edad Media.
Es importante enfatizar que el movimiento reformista no fue obra de un solo visionario.
De hecho, fue un movimiento que poco a poco tuvo lugar en las más variadas localidades y en
los más variados conventos, saltando a menudo los muros que aislaban a la Iglesia de otras
prácticas sociales que tenían lugar fuera de sus muros. En otros sentidos, el movimiento
reformista fue un choque entre diferentes concepciones ideológicas que estaban en proceso de
formación y que tenían la actitud crítica de diferentes personas, quienes, a pesar de ser
portadores de ideologías diferentes, tenían en común el hecho de que se oponían a una cierta
hegemonía,
es decir
, la hegemonía de la Iglesia. Esta postura crítica y de lucha de los
reformadores culminó en la quema de la bula papal el 31 de octubre de 1517, con la publicación
de las 95 tesis de Lutero en la puerta de la capilla de Wittenberg y con los inevitables desarrollos
que siguieron, como la guerra campesina que tuvo lugar de 1524 a 1525.
Esta reflexión, en el ámbito histórico y religioso, que presenta cómo las diferentes
ideologías producen posturas críticas, nos recuerda que, en el ámbito educativo, Freire enfatiza
image/svg+xml
Paulo Freire y la educación primaria: Reflexiones sobre una formación crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1521
la importancia de las pedagogías críticas para identificar y combatir las ideologías
deterministas. Para Freire (2004, p. 19), es fundamental "trabajar contra la ideología fatalista
dominante y su poder para fomentar la inmovilidad por parte de los oprimidos y su adaptación
a la realidad injusta". Esto implica también entender que, en el ámbito educativo, estas
ideologías dominantes que casi siempre están veladas pretenden anular y extinguir pedagogías
críticas que contribuyen a que los estudiantes lean y relean el mundo.
Así, el objetivo de esta narración, sobre cómo la postura crítica dentro de la Iglesia, de
algunos de sus miembros, fue decisiva para el surgimiento de nuevas ideas, fue mostrar que
este episodio es consistente con la declaración de Gruppi (1978)
5
que la lucha hegemónica se
manifiesta también por el choque de una ideología sobre otra, para suplantarla o convivir en un
mismo espacio de lucha. De hecho, lo que se puede ver en este relato fue el surgimiento de una
ideología, la protestante, que, en un momento dado, se opuso terminalmente a la ideología
católica, y poco a poco fue ganando terreno. Sin embargo, en este episodio específico, vale la
pena mencionar que uno de los posibles factores de la lucha ideológica librada por el
protestantismo está directamente relacionado con la lectura, es decir, al ser un lector: la lectura
de textos bíblicos que antes se hacían solo en voz alta, ahora, con un modo alternativo de lectura,
proporcionó el surgimiento de un nuevo lector.
Esta afirmación se debe a las reflexiones propuestas en las obras de Roger Chartier
(1999) y Manguel (1997), quienes, al dedicarse al estudio de la lectura, afirman que el
advenimiento de la invención de la escritura alfabética originó la lectura en voz alta. Como
registra Alberto Manguel (1997, p. 61): "Las palabras escritas, desde la época de las primeras
tablillas sumerias, estaban destinadas a ser pronunciadas en voz alta, ya que los signos
implicaban, como si fuera su alma, un sonido particular". Sin embargo, a partir de otras
necesidades, Chartier (1999) y Manguel (1997) revelan que la lectura también se ha vuelto
silenciosa, es decir, aparece la figura del lector silencioso.
Para caracterizar a este lector silencioso, podemos hacer uso de la misma analogía
empleada por Manguel (1997) cuando afirmó que la lectura en voz alta tenía un "sonido
particular", audible e indiscutible. Sin embargo, en el caso de la lectura silenciosa, el lector
comienza a escuchar otros sonidos, el sonido de sus reflexiones, de reflexiones sobre lo que
está leyendo. A su vez, como este nuevo modo de leer y ser lector se produce principalmente
en los claustros de los monasterios medievales, es significativo mencionar que Manguel (1997)
5
Una discusión en profundidad sobre el concepto de hegemonía se puede encontrar, por ejemplo, en las obras:
MARCCIOCCHI, M-A.
A favor de Gramsci
. Río de Janeiro: Paz e Terra, 1980 y GRUPPI, L.
El concepto de
hegemonía en Gramsci
. Río de Janeiro: Grial, 1978.
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES y Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1522
se refiere a cómo la lectura silenciosa contribuyó al nacimiento de la ideología protestante y,
hasta el día de hoy, la lectura silenciosa ha producido otras miradas, otras interpretaciones, otras
ideas, otras luchas, diferentes contextos. Al referirse a una representación gráfica de San
Agustín observando la lectura silenciosa de San Ambrosio, Manguel (
1997, p. 71)
nos revela
que:
Al observar la lectura de San Ambrosio aquella tarde de 384, Agustín apenas
podía saber lo que tenía ante sí. Pensó que estaba viendo a un lector tratando
de evitar a los visitantes intrusos, guardando su voz para la enseñanza. De
hecho, estaba viendo una multitud de lectores silenciosos que durante los
próximos siglos incluirían a Lutero, Calvino, Emerson y nosotros, que lo
leemos hoy.
Argumentando que la lectura silenciosa ejerció influencia en el movimiento reformista,
Simone Borges también enfatiza la importancia significativa que este tipo de lectura tiene en la
formación del lector y las consecuencias para la sociedad:
[...] La lectura silenciosa transformó el orden social, porque creó nuevas
funciones para la escritura, reformuló e introdujo comportamientos,
desestabilizó viejos conceptos como la biblioteca. Ella estuvo en la base de la
reforma de Lutero y la Santa Inquisición. Desencadenó nuevas prácticas de
alfabetización que fomentaron, a su vez, la formación de nuevos lectores y
escritores, la creación de nuevos géneros y nuevos portadores de textos [...]
(BORGES, 2010, p. 04).
La cuestión de la lectura, ya sea silenciosa o no, se muestra, a partir de la exposición de
estos interlocutores investigados, como un medio fundamental para promover y desarrollar la
postura crítica ante el objeto de lectura. En Freire, la lectura y también la escritura se toman
como elemento fundador de la necesaria interpretación e interacción con el mundo. Para
demostrar esta importancia, Freire publica
La importancia de la lectura: en tres artículos que
se completan
(1982) y, en el transcurso de sus obras, el tema de la lectura y una lectura crítica
siempre será tratado con relevancia porque será la base para la comprensión, de lo que él llama
"tramas" que están presentes en el mundo. Así, se dedicó a proponer un proceso de
alfabetización basado en la postura crítica necesaria ante el texto para ser leído, pensado,
dialogado. Comentando este proceso, Freire (2001b, p. 21, el grifo del autor) afirma que "en el
fondo, este conjunto de representaciones de situaciones concretas permitió a los grupos
populares "leer" la "lectura" anterior del mundo, antes de leer la palabra".
image/svg+xml
Paulo Freire y la educación primaria: Reflexiones sobre una formación crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1523
Conceptualizar el ser crítico - por un aspecto filosófico
Saliendo del campo religioso, se verifica que el uso del
término
crítico también se utiliza
en filosofía. Nicolla Abbagnano (2000, p. 223) se refiere al filósofo modernista Emanuel Kant
como el filósofo que introdujo el término crítico "para designar el proceso a través del cual la
razón impresa el conocimiento de los demás". Para Kant, influenciado por la ilustración de John
Locke, la función de la crítica es proporcionar al hombre la posibilidad de conocer su verdadera
capacidad intelectual y de conocer las diversas formas de percibir, conocer y aprehender el
mundo en el que vive. Tanto es así que su obra más conocida
Crítica de la
razón pura fue
pensada inicialmente con el título:
Los límites de la sensibilidad y la razón
. Kant había sido
fuertemente influenciado por los supuestos del iniciador de la teoría del liberalismo, Locke,
para quien la acción más importante del hombre es dedicarse a analizar cada una de nuestras
formas de conocer el objeto cognoscible, es decir, conocer el origen de nuestras ideas y nuestros
discursos, rechazando totalmente la corriente cartesiana que defendía la teoría de que las ideas
son innatas.
Sin embargo, muchos siglos antes de que Kant ejerciera su postura crítica, la filosofía,
que, en su nacimiento, se basaba bajo la égida de analizar, reflexionar y criticar la capacidad y
el propósito del hombre para conocer y actuar sobre el objeto a conocer, ya se enfrentaba a
preguntas que ponían a los hombres en constantes indagaciones y enfrentamientos. Estos
choques se pueden identificar a partir de las diferentes corrientes filosóficas que siguieron en
medio de la división entre la filosofía antigua, también conocida como filosofía griega, y la
filosofía occidental. En filosofía antigua, es notable la postura crítica de sus pensadores más
destacados en sus cuatro períodos, a saber, cosmológicos o presocráticos, antropológicos,
también conocidos como socráticos, sistemáticos y grecorromanos, también conocidos como
helenísticos.
Mientras que la filosofía presocrática empleaba todos los sentidos,
es decir
, las
percepciones sensoriales para tratar de comprender la existencia y el origen mismos del
universo y sus transformaciones, Sócrates y Platón, máximos representantes del período
antropológico, afirmaron que los sentidos nunca podrían conducir al conocimiento, a la verdad
completa, ya que las percepciones sensoriales conducían al error y eran susceptibles a la
influencia de la mentira y la falsedad. Así, para la filosofía socrática, el conocimiento era algo
dado a priororizado al hombre, fruto de sus ideas puras, desprovisto de opiniones y falsas
percepciones del mundo de los sentidos. Crea, por lo tanto, la concepción de que el
conocimiento tiene lugar a través del camino racionalista, es decir, por el uso de la razón.
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES y Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1524
El que se opuso a esta forma de concebir el conocimiento fue precisamente un seguidor
de Platón: Aristóteles. Este filósofo postula que el conocimiento sólo será posible si es tomado
por el camino experimental. Al criticar el enfoque de su maestro, Aristóteles crea una nueva
concepción filosófica que se ha conocido como sistémica. Así, formula tres acciones que deben
apoyar la acción crítica del hombre que busca conocer: la observación fiel de la naturaleza, el
rigor del método y el empirismo. En la primera acción, la experiencia siempre debe tomarse
como punto de partida. La segunda acción consistió en desarrollar un conjunto de acciones para
llegar a un conocimiento, lo que implicaba la organización de procedimientos claros y definidos
con el fin de poder realizar un estudio sistémico del objeto a conocer. La formulación teórica
de Aristóteles de idealizar un posible camino para alcanzar el conocimiento se conoció como
empirismo, trascendiendo su tiempo. Aristóteles fue designado como el creador de la lógica, es
decir, del posible instrumento de alcanzar el conocimiento en cualquier área del conocimiento.
Su lógica fue reconocida más tarde por importantes iconos del pensamiento filosófico moderno,
como George Wilhelm Friedrich Hegel y Karl Marx, quienes ampliaron su lógica al proponer
una forma dialéctica y no lineal de pensar.
Aunque hay muchos otros filósofos que destacaron entre Aristóteles y Marx, el destaque
inicial que se le dio a Kant es precisamente porque figura entre aquellos filósofos que iniciaron
una discusión crítica sobre las posibilidades y límites del conocimiento, oponiéndose así al
racionalismo y al empirismo en sus proposiciones originales. Sin embargo, es Kant quien
procesa una síntesis que busca integrar los postulados del racionalismo y el empirismo en una
relación dialéctica. Su postura crítica al analizar estas dos formas filosóficas de concebir el
conocimiento proporcionará la base para la creación de una nueva teoría: el interaccionismo.
Esta incursión en la historia, en el campo religioso y en el campo de la filosofía es para
resaltar cómo la actitud crítica fue determinante tanto para la negación como para la afirmación
de las grandes teorías del conocimiento, a saber: el racionalismo, el empirismo y el
interaccionismo. Estas tres grandes teorías apoyaron otras líneas filosóficas, como el
estructuralismo, la fenomenología y la teoría crítica. La investigadora Marilena Chauí (1995),
al tratar de actitudes filosóficas capaces de someter a crítica los dichos y acciones sobre el
mundo y de promover la reformulación y creación de nuevas concepciones teóricas y
cosmovisiones, hace el siguiente argumento:
La primera característica de la actitud filosófica
es negativa
, es decir, un no
al sentido común, a las ideas preconcebidas, a los prejuicios, a los hechos e
ideas de la experiencia cotidiana, a los que "todos dicen y piensan", a lo
establecido.
image/svg+xml
Paulo Freire y la educación primaria: Reflexiones sobre una formación crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1525
La segunda característica de la
actitud
filosófica
es positiva, es decir, una
pregunta sobre qué son las cosas, las ideas, los hechos, las situaciones, los
comportamientos, los valores, nosotros mismos. También es un signo de
interrogación sobre por qué todo esto se trata de nosotros, y un signo de
interrogación sobre cómo todo esto es así y no de otra manera. ¿Qué? ¿Por
qué? ¿Cómo es? Estas son las preguntas fundamentales de la actitud filosófica.
El rostro negativo y el rostro positivo de la actitud filosófica constituyen lo
que llamamos
actitud
crítica
y
pensamiento crítico
(CHAUÍ, 1995, p. 12,
grifos del autor).
Es extremadamente importante destacar la importancia de la postura crítica para la vida
social. Son las posturas críticas las que provocan el nacimiento y evolución de las diferentes
concepciones del mundo y del hombre a lo largo de la historia de la humanidad, concepciones
que, a su vez, afectan directamente a las relaciones que los hombres establecen entre sí y con la
naturaleza. Estas diferentes concepciones del campo filosófico, como el humanismo, el
escepticismo, el estructuralismo, el formalismo, la fenomenología y la teoría crítica, que fueron
desmembradas de concepciones básicas del racionalismo, el empirismo y el interaccionismo,
se establecieron a partir de la lectura crítica que los hombres hicieron sobre la teoría filosófica
que hasta entonces les servía para responder a sus preguntas existenciales. En este proceso de
cuestionamiento, los sujetos críticos no solo cuestionan las ideas de su tiempo, sino que también
contribuyen decisivamente a nuevas ideas para nuevos contornos del mundo y establecen
nuevas relaciones entre los hombres.
Sobre esta posibilidad de posturas críticas que promueven diferentes concepciones de la
comprensión del mundo por un enfoque filosófico que se ha discutido, vale la pena mencionar
que este concepto, el de posibilidad de cambios, en el campo de la educación, también se
evidencia en el trabajo freiriano. Para Freire, el término "posibilidad" está estrechamente
relacionado con una postura crítica que es, por su naturaleza, transformadora, es decir, la
educación solo puede ejercer este proceso de fomento del cambio cuando sus diferentes actores
actúan críticamente, entendiéndose a sí mismos en el tiempo y el espacio. En este sentido, Freire
(2001a, p. 84) nos enseña sobre esta potencialidad diciendo que "porque, históricamente, vivo
la historia como un tiempo de posibilidad y no de determinación".
El hombre que está en posición crítica es el sujeto que contribuye tanto al desarrollo del
conocimiento como al implacable de las relaciones de dominación presentes en las más
diferentes facetas de la actividad humana. Jean-Jacques Rousseau fue uno de esos grandes
hombres de agudo pensamiento crítico. Se puede ver, en el conjunto de sus obras, cómo
cuestionó ciertas verdades establecidas y cómo estas preguntas influyeron en su generación y
en las generaciones que lo sucedieron. Para demostrar la influencia del pensamiento crítico de
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES y Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1526
Rousseau en la forma de pensar del hombre contemporáneo, es oportuno citar a João Carlos
Brum Torres (2011) quien, al escribir la introducción del libro
Discurso sobre el origen de la
desigualdad entre
los hombres, una de las obras clásicas de Rousseau, comenta el alcance de
sus ideas. En esta introducción, Torres
(2011, p. 9, el grifo del autor)
hace el siguiente comentario
sobre el pensador suizo:
El reconocimiento del papel decisivo del
Segundo Discurso
y, en general, de
la obra rousseauniana, en la conformación del imaginario crítico de la
modernidad puede expresarse más directamente si decimos que Rousseau es
el
fundador de
los dos linajes principales del pensamiento crítico, que
caracterizan esta época histórica.
Para demostrar cómo la postura crítica es decisiva en el proceso de transformación de
la forma de pensar de los hombres y su forma de actuar socialmente, Hans Joachim Störing
(
2008, p. 330, el grifo del autor)
al hacer un viaje en la historia de la filosofía, hace la siguiente
afirmación:
Las demandas de los filósofos para la aplicación de la razón (también en
relación con todo lo que tradicionalmente se ha transmitido, la palabra de
orden "crítico", para la libertad, la tolerancia, la humanidad se han impuesto
de manera generalizada a largo plazo. [...] A estos ideales debemos logros
fundamentales como la eliminación de la tortura, el fin de la persecución de
las brujas, el trato humano de los enfermos mentales, la eliminación de
castigos corporales atroces como la rueda o el acuartelamiento, el fin de la
esclavitud, el reconocimiento de la división de poderes en las constituciones
de los estados, [...] en resumen: la imposición gradual de los derechos
humanos, tal como se formulan en la Declaración de Independencia
Americana de 1776, y luego en la "Déclaration des droits de l'home", de la
asamblea nacional de 1789, y que ahora aparecen en el estatuto de las
Naciones Unidas.
El hallazgo de que la postura crítica fue y sigue siendo determinante para los cambios
que alteran las relaciones sociales más diferentes también se puede percibir en el campo
educativo. Esto implica reconocer que, al igual que en el ámbito religioso y en el filosófico, los
sujetos críticos pensaron sobre la educación de su tiempo y cuestionaron concepciones, valores
y metodologías utilizadas en el proceso educativo y, aún sin esta pretensión, contribuyeron a la
creación de modelos y prácticas educativas que perduran durante siglos. Lo que también se
puede ver es que la postura crítica, que se puede identificar en diferentes campos sociales,
termina, en general, influyendo también en el proceso educativo de los hombres.
Para atrapar un gancho en la declaración hecha anteriormente sobre la postura crítica
dentro de la Iglesia de Roma, vale la pena comentar uno de los desarrollos que ocurrieron en el
período de la Reforma que tuvo un impacto significativo en la educación. Para el reformador
image/svg+xml
Paulo Freire y la educación primaria: Reflexiones sobre una formación crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1527
Martín Lutero, la educación era algo de importancia fundamental para la formación cultural y
espiritual del niño. Esta observación se puede percibir en uno de sus discursos, titulado
Sermón
sobre la necesidad de enviar a sus hijos a la escuela
en 1530, y también en la carta que escribió
en 1524 a los alcaldes y concejales de todas las ciudades de Alemania, en la que pidió la
creación de escuelas cristianas. Uno de los extractos de esta carta es citado por Gadotti (1999,
p. 72), y en él, Lutero afirma que "no hay otra ofensa visible que, a los ojos de Dios, sea una
carga tan pesada para el mundo y merezca un castigo tan severo como la negligencia en la
educación de los niños". Esta preocupación por la educación de las personas evocadas por
Lutero inicia un proceso de creación de estructuras educativas con contenidos culturales
propios, elaborado principalmente por Felipe Melanchton, quien más tarde se hizo conocido
como el preceptor de Alemania. Sobre la creación de estas escuelas dentro del movimiento
reformista, Cambi (1999, p. 250) dice que Melanchton fue
Muy activo en la promoción y organización de escuelas en diversos lugares
de Alemania, su objetivo educativo se expresa inicialmente en
la De
corrigendis adolescentia estudiis
de 1518, en la que defiende la importancia
de la instrucción y la validez de la cultura antigua para penetrar en la verdad
de la Escritura.
La franca implicación de esta nueva y creciente doctrina religiosa, la protestante, en el
proceso educativo, obligó a la Iglesia Católica a elaborar y desarrollar un gran proyecto en el
área de la educación. Mario Alighiero Manacorda (2000) dice que la Iglesia hizo una defensa
intransigente de la prerrogativa de actuar en la educación de los hombres. Esta orientación
educativa de la Iglesia Católica, como respuesta al protestantismo, según Manacorda (2000, p.
200) "se fijó en el Concilio de Trento (1545-1564)".
Comentando la importancia del Concilio de Trento para las direcciones de la educación,
que no estaba destinado a la población en general, sino a un grupo en particular, Franco Gambi
(1999, p. 256) afirma:
Con el concilio de Trento, de hecho, la Iglesia de Roma adquiere una mayor
conciencia de su propia función educativa y da vida al florecimiento
significativo de congregaciones religiosas específicamente destinadas a
actividades de formación no solo de los eclesiásticos, sino también de los
jóvenes descendientes de los grupos gobernantes.
Un hecho muy importante que determinó las pautas en el campo de la educación que
ocurrieron durante el Concilio de Trento es descrito por Manacorda (2000, p. 201, el grifo del
autor):
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES y Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1528
Basta recordar, entre las voces que resonaron en los salones del concilio la de
Beccatelli, obispo de Ragusa, quien, sin medias legislaturas y en un tono muy
áspero, había dicho: "No hay necesidad de libros; el mundo, especialmente
después de la invención de la prensa, tiene demasiados libros; es mejor
prohibir mil libros sin razón, que permitir uno digno de castigo".
Este es uno de los registros de la historia de la educación en Occidente en el que se
puede observar el uso del poder a través de la imposición de la censura, una imposición oficial
que llegó, en particular, al ámbito educativo. Muchos libros fueron clasificados como heréticos,
entre los cuales, por supuesto, los escritos de Lutero, Calvino y otros reformadores que
figuraban en el
librorum proibitorum
6
. Aunque, en aquella época, los libros eran utilizados
únicamente por los maestros, porque era raro ser un alumno que tuviera una obra, la idea aquí
es resaltar el antagonismo presente en el proceso educativo, pues, mientras la Iglesia se oponía
al uso de libros que no contaban con su aprobación, el otro modelo educativo proponía
precisamente lo contrario.
En un mundo que ya estaba repleto de descubrimientos y desarrollo en las más diversas
áreas del conocimiento, como la invención de la prensa y las grandes navegaciones, que
fomentaron el desarrollo del capitalismo comercial, las teorías que se oponían a los dogmas
sostenidos por la Iglesia, como fue el caso de la teoría heliocéntrica, propuesta inicialmente por
Nicolás Copérnico, no se incluyeron en el plan de estudios creado por la Iglesia durante los
años 1586 a 1599, la
llamada Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Jesu,
o sólo
ratio
studiorum
7
. Manacorda (2000, p. 202) al comentar el plan, afirma que "reguló estrictamente
todo el sistema escolético jesuita: organización en clases, horarios, programas y disciplina".
Sin embargo, aunque el plan de educación católica regulado por
Ratio Studiorum
influyó en casi todos en su tiempo, como afirma Gadotti (1999), se puede observar que de otra
manera,
es decir
,
en el protestantismo, la educación, por la postura crítica de algunos, que, en
este escenario de choque franco, se convirtió en una postura política, también ejerció una fuerte
influencia. Uno de estos críticos, quizás uno de los máximos exponentes de la educación de su
tiempo, es el moravo Jan Amos Seges, o John Amos Comenius. Comenio propuso, en su obra
máxima,
titulada Didáctica magna
, exactamente lo contrario de lo proclamado en el
movimiento de reforma sobre el uso de los libros. Aunque también cuestionó el uso de los
libros, cuyos autores Comenio llamó paganos, su visión crítica de la educación, en sintonía con
el desarrollo de su tiempo, le hizo proponer la creación de libros que pudieran agregar el
6
Índice de libros prohibidos.
7
La Ratio Studiorum es el plan educativo que la Compañía de Jesús puso a la cabeza de sus escuelas en el momento
de la Contrarreforma) Sobre el material: SCHMITZ, E. F.
Los jesuitas y la educación
: Filosofía educativa de la
compañía de Jesús. São Leopoldo, RS: Ed. Unisinos, 1994.
image/svg+xml
Paulo Freire y la educación primaria: Reflexiones sobre una formación crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1529
conocimiento de todas las áreas y el uso de los libros como herramientas, a las que de manera
similar llamó partituras
,
para la dirección en el aula por el director, en este caso, el profesor.
Sobre la distinción entre la propuesta educativa de Comenio y la de la Iglesia de Roma,
resumida
en la Ratio Studiorum
, João Luiz Gasparin (1994, p. 14) escribió:
La didáctica siempre ha existido en la historia de los hombres, porque siempre
se ha enseñado y siempre se ha aprendido. En Comenius, sin embargo,
adquiere dimensiones peculiares que lo diferencian de todas las demás
formulaciones anteriores o contemporáneas, como las de Ratke o
la jesuita
Ratio Studiorum
.
Además, para resaltar el punto central de la diferencia entre la propuesta educativa de la
Reforma y la Contrarreforma, Cambi (1999, p. 256) hace la siguiente afirmación:
Esta es la diferencia más significativa en el plan educativo entre el movimiento
de Reforma y el movimiento de la Contrarreforma. El primero privilegia la
instrucción de grupos burgueses y populares para crear las condiciones
mínimas para una lectura personal de los textos sagrados, mientras que el
segundo, especialmente con el trabajo de los jesuitas, repropone un modelo
cultural y formativo tradicional en estrecha conexión con el modelo político y
social expresado por la clase dominante.
En cuanto al uso de libros y la creación de libros de texto que se le atribuyen, Comenius
(2002, p. 365) hace la siguiente analogía:
El tipógrafo perfecto tiene caracteres de todas las especies, por lo que nunca
dejarás de tener alguno que puedas necesitar. Asimismo, nuestros libros deben
contener todo lo que concierne a la educación completa de las mentes, para
que, con estos subsidios, nadie pueda dejar de aprender todo lo que necesita
ser aprendido.
Cabe señalar que la lectura puntual que se hizo anteriormente, que en el campo
educativo también es perfectamente posible teorizar cómo la postura crítica de ciertos sujetos
fue decisiva para cambios profundos en los enfoques de la educación de su tiempo, no se basó
en una lectura lineal solo del choque religioso entre la Iglesia de Roma y el protestantismo.
Llevados a término, en vista de totalidad, las cuestiones, principalmente de orden económico y
filosófico, son condicionantes sociales que, en su suma, contribuyeron a que la propuesta
educativa de Comenio se idealizara y desarrollara, siendo, por tanto, objeto de discusión hasta
nuestros días.
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES y Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1530
Consideraciones finales
Los informes antes mencionados buscaban demostrar lo que se puede llamar una postura
crítica, por lo tanto, la acción de los sujetos críticos. Estos ejemplos, y, por supuesto, podrían
ser otros, fueron seleccionados ya que las consecuencias de la acción de Aristóteles, Lutero,
Comenio, Rousseau y Kant tuvieron una influencia directa en la educación de su tiempo y,
mucho más, en la organización y prácticas educativas escolares que siguieron, algunas,
incluyendo la que practicamos hasta el día de hoy en nuestro modelo educativo escolar.
Nos queda, una vez presentada la postura crítica que puede idealizar un tema crítico,
provocar que el lector piense en cómo esto puede influir en los profesionales que trabajan en la
escuela primaria para formar asignaturas críticas. En primer lugar, decir que esto es
exactamente lo que se espera de ellos, ya sea por el contenido del texto de la Ley presentado al
principio de este artículo, o por el consenso común de toda la sociedad, aunque no se sepa
definir lo que es un tema crítico.
Incluir en el diálogo al pensador Paulo Freire significa, en un primer momento, el
reconocimiento de que, en su legado que es vasto especialmente en el área de la educación, la
formación crítica de quienes están directamente involucrados en el proceso, es decir, estudiantes
en formación, maestros y gerentes en acción, necesita urgentemente que sus posturas estén
marcadas por la criticidad, porque solo así podríamos idealizar una formación crítica, que
puede y debe tener su nacimiento pronto en los primeros días de la educación escolar.
En el conjunto de obras de Paulo Freire, se observa cómo esta postura crítica es
fundamental para la formación de nuestros estudiantes a lo largo de su camino en el proceso
escolar, para que comprendan e incluso reaccionen ante la condición de posibles oprimidos
frente a la acción del opresor. Obviamente esta comprensión conceptual, por sí misma, ha sido
y sigue siendo objeto de tesis, escritas para estudiar y discutir no solo el concepto de oprimido,
sino cómo, a partir de él, podemos pasar a otras reflexiones en lo educativo, histórico,
sociológico, filosófico, entre otros. Por esta razón, reafirmamos en el cierre de esta reflexión,
que la necesaria formación crítica es uno de los entendimientos posibles para definir el concepto
de oprimido en Paulo Freire, lo que, más objetivamente, implica reconocer que existen polos
antagónicos, a saber, el del oprimido y opresor y, por ello, la formación crítica es fundamental
para esta comprensión, después de todo, Freire (1979, p. 48, el grifo del autor) nos enseña que
"la conciencia crítica de los oprimidos significa, por lo tanto, autoconciencia como una 'clase
para uno mismo'".
image/svg+xml
Paulo Freire y la educación primaria: Reflexiones sobre una formación crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1531
Así, por esta sencilla razón, este texto avala la importancia de los escritos freirianos
como posible fuente de reflexiones, no sólo de la importancia de trabajar desde los primeros
años de escolaridad, trabajando desde la perspectiva de una formación crítica, sino también del
perfil necesario para el docente objetivo y buscando trabajar con esta perspectiva de formación
crítica desde los primeros años. Respecto a estas dos importantes reflexiones podemos citar la
advertencia de Freire sobre la necesidad de que el docente busque la coherencia entre su
discurso y sus acciones, por lo tanto, implica decirle al docente que apuntar a trabajar por una
formación crítica de sus alumnos debe reflejar mínimamente cómo realiza su autoevaluación
como asignatura crítica.
REFERENCIAS
ABBAGNANO, N.
Dicionário de filosofia
. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BÍBLIA. Português.
Tradução do novo mundo das escrituras sagradas
. Tradução da
versão inglesa de 1961. Revisão de 1986. Cesário Lange, SP: Associação torre de vigia de
bíblias e tratados, 2006.
BORGES, S. B. As múltiplas facetas da formação em leituras.
In
: ENCONTRO DO
CELSUL, 9., 2010, Palhoça.
Anais
[...]. Palhoça, SC: Universidade Federal de Santa Maria,
2010.
BRASIL,
Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996
. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Brasília, DF: Presidência da República, 1996. Disponible en:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acceso: 07 agosto 2021.
CAMBI, F.
História da Pedagogia
. Tradução: Álvaro Lorencini. São Paulo: Editora UNESP,
1999.
CHARTIER, R.
A Aventura do Livro
: Do leitor ao navegador. Tradução: Reginaldo de
Moraes. São Paulo: Editora UNESP, 1999.
CHASSOT, A.
A Ciência através dos tempos
. São Paulo: Moderna, 1994.
CHAUÍ, M.
Convite a Filosofia
. 5. ed. São Paulo: Editora Ática, 1995.
COMENIUS, J. A.
Didática magna
. 2. ed. Tradução: Ivone Castilho Benedetti. São Paulo:
Martins Fontes, 2002.
ECO, U.
O nome da rosa
. Tradução: Aurora Bernardini e Homero Freitas de Andrade. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
FREIRE, P.
Ação cultural para a liberdade
. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
FREIRE, P.
Conscientização
:
Teoria e prática da libertação: Uma introdução ao pensamento
de Paulo Freire. Tradução: Kátia de Mello e Silva. 3. ed. São Paulo: Moraes, 1980.
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES y Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1532
FREIRE, P.
Ação cultural para a liberdade e outros escritos
. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1982.
FREIRE, P
Pedagogia da esperança
:
Um reencontro com a pedagogia do oprimido. 5. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
FREIRE, P.
Pedagogia da autonomia
: Saberes necessários à prática educativa. 20. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2001a.
FREIRE, P.
A importância do ato de ler
: Em três artigos que se completam. 42. ed. São
Paulo: Cortez, 2001b.
FREIRE, P.
Pedagogy of indignatíon
. Boulder: Paradigm Publishers, 2004.
GADOTTI, M.
História das ideias pedagógicas
.
São Paulo: Ática, 1999.
GASPARIN, J. L.
Comênio ou da arte de ensinar tudo a todos
. Campinas, SP: Papirus,
1994.
GRUPPI, L.
O Conceito de Hegemonia em Gramsci
. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
MANACORDA, M. A.
História da educação
: Da antiguidade aos nossos dias. 8. ed.
Tradução: Gaetano Lo Mônaco. São Paulo: Cortez, 2000.
MANGUEL, A.
Uma História da Leitura
. Tradução: Pedro Maia Soares. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.
SCHMITZ, E. F.
Os jesuítas e a educação
:
Filosofia educacional da Companhia de Jesus.
São Leopoldo, RS: Ed. UNISINOS, 1994.
STÖRING, H. J.
História geral da filosofia
. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
TORRES, J. C. B. Introdução.
In
: ROUSSEAU, J. J.
Discurso sobre a origem e os
fundamentos da desigualdade entre os homens
. Tradução: Paulo Neves. Porto Alegre:
L&PM, 2011.
image/svg+xml
Paulo Freire y la educación primaria: Reflexiones sobre una formación crítica
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1533
Cómo hacer referencia a este artículo
CARVALHO, M. A. B.; ESTRADA, A. A.; ALVES, F. L.; SOLIGO, V. Paulo freire e o ensino
fundamental: Reflexões sobre uma formação crítica.
Revista Ibero-Americana de Estudos
em Educação
, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1515-1533, jul./sept.
2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
Enviado en
:
20/12/2021
Revisiones requeridas en
: 03/02/2022
Aprobado en
: 19/04/2022
Publicado en
: 01/07/2022
Procesamiento y edición: Editora Ibero-Americana de Educação.
Corrección, formateo, normalización y traducción.
image/svg+xml
Paulo Freire and elementary school: Reflections on a critical formation
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1514
PAULO FREIRE AND ELEMENTARY SCHOOL: REFLECTIONS ON A CRITICAL
FORMATION
PAULO FREIRE E O ENSINO FUNDAMENTAL: REFLEXÕES SOBRE UMA
FORMAÇÃO CRÍTICA
PAULO FREIRE Y LA EDUCACIÓN PRIMARIA: REFLEXIONES SOBRE UNA
FORMACIÓN CRÍTICA
Marco Antônio Batista CARVALHO
1
Adrian Alvarez ESTRADA
2
Fabio Lopes ALVES
3
Valdecir SOLIGO
4
ABSTRACT
: The student’s formation, in any level of schooling, always entails the need and
expectation that they become critical subjects. This text aims to provoke, from Paulo Freire’s
perspective, what this formation and the criticality practice can be, not occupying with a
corollary of definitions, even of renowned researchers, about what will become a critical
subject, a basic need to be able to think in a schooling process that makes this desired critical
formation viable. For this, the text presents and discusses some actions that, throughout
history, marked the creators due to their positions, ideas and questioning actions in their
historical time and that demarcate, for this analysis, a critical thinking and acting that can be
reflected by all those involved directly and indirectly with the educational process.
KEYWORDS
: Paulo Freire. Critical formation. Education. Critical subject.
RESUMO
: A formação de estudantes, em qualquer que seja o nível de escolarização, enseja
sempre a necessidade e a expectativa de que esses sejam sujeitos críticos. Esse texto, com
uma abordagem qualitativa, se ocupa em provocar, a partir de uma perspectiva freireana, o
que pode ser essa formação e esse exercitar da criticidade, não se ocupando com um
corolário de definições, mesmo que de renomados pesquisadores, sobre o que venha a ser um
sujeito crítico, uma necessidade básica para se poder pensar em um processo de
escolarização que viabilize essa almejada formação crítica. Para isso, o texto apresenta e
discute algumas ações que, no transcorrer da história, marcaram seus idealizadores por
1
Western Paraná State University (UNIOESTE), Cascavel
–
PR
–
Brazil. Professor of the Graduate Program in
Science and Mathematics Teaching (PPGECEM). Doctorate in Letters and Linguistics (UFBA). ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-6811-2661. E-mail: marcoab_carvalho@yahoo.com.br
2
Western Paraná State University (UNIOESTE), Cascavel
–
PR
–
Brazil. Professor of the Postgraduate Program
in Society, Culture and Borders (PPGSCF). Doctorate in Education (USP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-
0980-8925. E-mail: adrianalvarez.estrada@gmail.com
3
Western Paraná State University (UNIOESTE), Cascavel
–
PR
–
Brazil. Professor of the Postgraduate Program
in Society, Culture and Borders (PPGSCF). Doctorate in Social Sciences (UNISINOS).
ORCID:https://orcid.org/0000-0002-2114-3831. E-mail: fabiobidu@hotmail.com
4
Western Paraná State University (UNIOESTE), Cascavel
–
PR
–
Brazil. Professor of the Postgraduate Program
in Society, Culture and Borders (PPGSCF). Doctorate in Education (UNISINOS).
ORCID:https://orcid.org/0000-0003-2618-009X. E-mail: valdecir_soligo@yahoo.com.br
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES and Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1515
conta de posicionamentos, ideias e ações questionadoras em seu tempo histórico e que
demarcam, para essa análise, um pensar e agir crítico e que pode ser refletido por todos os
envolvidos direta e indiretamente com o processo educativo.
PALAVRAS-CHAVE
: Paulo Freire. Formação crítica. Educação. Sujeito crítico.
RESUMEN
:
La formación de los estudiantes, cualquiera que sea el nivel educativo, siempre
suscita la necesidad y la expectativa de que sean sujetos críticos. Este texto se preocupa de
provocar, desde una perspectiva freireana, lo que puede ser esta formación y este ejercicio de
la criticidad, no tratando un corolario de definiciones, aunque sean de reconocidos
investigadores, sobre lo que será un sujeto crítico, una necesidad básica de poder pensar en
un proceso de escolarización que haga posible esta deseada formación crítica. Para ello, el
texto presenta y discute algunas acciones que, en el transcurso de la historia, marcaron a sus
creadores al cuestionar posiciones, ideas y acciones en su tiempo histórico y que demarcan,
para este análisis, un pensamiento y un actuar críticos que pueden reflejarse por todos los
involucrados directa e indirectamente en el proceso educativo.
PALABRAS CLAVE
:
Paulo Freire. Formación crítica. Educación. Sujeto crítico
Introduction
To seriously study a text is to study the study of who, studying it, wrote it. It
is to understand the historical-sociological conditioning of knowledge. It is
to seek the relationships between the content under study and other related
dimensions of knowledge. Studying is a way to claim, to recreate, to rewrite
- the task of the subject, not of the object. [...] Understanding a text is not
something that is given as a gift. It requires patient work by those who feel
problematized by it.
Paulo Freire
In Latin America, one of the speeches that recognized the need for a school education
that would provide a critical formation is that of the Conference of Ministers of Education.
This event, which took place in Caracas, December 6-15, 1971, was marked by the statement
that "the idea of a liberating education that contributes to critical consciousness" and that this
training would "stimulate the responsible participation of the individual in cultural, social,
political and economic processes" (FREIRE, 1980, p. 7).
The Brazilian State, in turn, defends the formation of critical subjects through the
schooling process. The discourse that expresses this intention can be observed in the text of
the Education Directives and Bases Law - LDB No. 9.394/1996 (BRAZIL, 1996), in its
Article 35, item III: "the enhancement of the student as a human being, including ethical
training and the development of intellectual autonomy and critical thinking. It should be
noted, however, that the indication of a critical formation, at all three levels, appears only in
image/svg+xml
Paulo Freire and elementary school: Reflections on a critical formation
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1516
the section that deals with high school. As for the education in the early years of education,
i.e., early childhood education and elementary school, the purpose of education is stated thus:
Art. 29 - Early childhood education, the first stage of basic education,
is
aimed at the integral development of children up to six years of age, in their
physical, psychological, intellectual and social aspects
, complementing the
action of the family and the community.
Art. 32. Elementary school, which lasts at least eight years, is compulsory
and free of charge, and its objective is the basic formation of the citizen, by
means of: I -
the development of the ability to learn, with full command of
reading, writing and arithmetic as the basic means
. (BRAZIL, 1999, our
emphasis)
It is noticeable that, in addition to making no mention of critical training in early
childhood education or in elementary school, the learning of reading and writing appears in
the text of the law as a mechanistic acquisition in which learning to read and write is enough
by itself, that is, the learning of reading and writing is not linked to a potential tool or critical
instrument for reading the world. A very distant formation from that which can show the
student that, for example, language is, above all, a social practice and, as such, not devoid of
ideological character and permeated by power relations.
As for higher education, the text of LDB No. 9.394/1996 (BRAZIL, 1996), in its
Article 43, states that its purpose is to "stimulate cultural creation and the development of
scientific spirit and reflective thinking. In this excerpt, we can observe a discourse that evokes
a critical formation of the student, if we consider that developing a scientific spirit and a
reflective thinking is a task that cannot be imagined without a critical posture. Finally, the
school should form active subjects, participative and transformers of society, as stated in the
LDB nº 9.394/1996 (BRAZIL, 1996).
In view of this discourse, which evokes a critical education, we can say that the body
of Paulo Freire's work and, obviously, much of what has already been produced about him
and his work, point clearly to an education in the school field that is marked by criticality, that
is, that men and women exercise their ability to think and, above all, to think critically, not
only by using the knowledge that they are taught during the schooling process, but also by the
knowledge that is transmitted to them.
Thus, we understand that this provocation is opportune, in the sense of theorizing what
would be a critical formation starting in elementary school, that is, that school stage that can
give foundation, fundamentals for a better reflection of the contents worked in relation to the
students' most immediate social practices, an action that seems to us, nowadays, to have
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES and Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1517
become a jargon, that is, starting from the students' reality. But let's ask ourselves: Does the
teacher who includes this objective in his/her work plan really know this reality? Is he/she
critical enough to perceive it and, therefore, to mediate the knowledge of his/her area with this
reality, that is, with the knowledge that permeates the world of his/her students' experiences?
These questions culminate in two basic questions: can we, as educators in basic education,
really form critical subjects? What concept do we have of a critical subject?
In order to discuss these basic questions, it is important, first of all, to refer that, in
fact, for Freire (1992), school education should have its starting point centered on the most
immediate experiences that the student has in his experiences. In this regard, Freire (1992, p.
86, emphasis added), when commenting on the need to respect the knowledge that the student
brings to school, says that "the place of the students is the starting point for the knowledge
that they will create about the world.
Therefore, to know the dynamics of these immediate social relations of the students is
a necessity so that the contents that will be dynamized by the school work gain a dimension
beyond its merely informative character, that is, the constant search for overcoming repetitive
pedagogical practices, marked by a memoristic theoretical teaching, fragmented and, most of
the times, dissociated from the students' social reality.
Working from this perspective implies, minimally, from all social actors involved, the
desire and the search for a critical education. However, resuming the basic issues, we must
now ask: After all, what does it mean to be critical?
Conceptualizing the critical being - from a religious perspective
The word criticism comes from the Greek word
crinein
, which means to separate and
to judge. By this definition, it would be enough to say that a critic is one who separates the
object to be appreciated and passes a certain value judgment on it, i.e., a judgment. Thus,
socially we have created the function of the critic by profession, since we have, nowadays, the
art critic, the movie critic, the soccer critic, the political critic, the literary critic, among
others. It is important to point out that, although we have created the critic by profession and
the political critic, just like the literary critic, these are not functions created nowadays.
Aristotle already exercised his critical analysis on politics. After all, for him, "the human
being is fundamentally political
”.
The use of this word can already be observed in the biblical text. In Genesis, the word
criticism is used with the same meaning as a judgment against a certain practice. Note that the
image/svg+xml
Paulo Freire and elementary school: Reflections on a critical formation
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1518
first book of the Bible, whose writing in Hebrew is attributed to the prophet Moses, is dated
approximately more than 1,500 years before Christ. In Genesis, in its twenty-first chapter,
verse 25, there is the reference that "Abraham severely criticized Abimelech" (BIBLE, 2006,
p. 39). This reference, present in the Biblical context, exemplifies the use of criticism to
question what is already established or what has been done outside the pre-established.
Thus, in an attempt to dissertate on what it is to be critical and, for this, to avoid an
unrolling of definitions, even if they are from renowned researchers, we seek to define being
critical from the actions, postures that, it is understood, are from a critical subject. This
subject, or better, these subjects, whose names have been marked in history in different areas
of knowledge, are identified by demonstrating questioning positions, ideas, and actions in
their historical time and that mark, therefore, a critical thinking and acting.
This critical posture of critical subjects is extremely noticeable in the history of one of
the great religions. In the history of Catholicism, it is possible to see how the critical posture
of some of the active Catholics was decisive in promoting changes in the Church's posture
and directions. The criticism that the Augustinian monk Martin Luther directed at certain
dogmas of Catholicism led the Church of Rome not only to face severe losses in its
contingent, but also to restructure itself in many of its actions because of the movement that
historically became known as the Reformation. Among these actions taken by the Church is
the effective involvement with school education.
In the reformist movement promoted by Martin Luther, who counted on the adhesion
of many other followers, the criticism against certain dogmas of the Church was punctual and
culminated with the well-known Luther's 95 theses. However, it was with the vehement
criticism against the concession of indulgences in exchange for financial contributions to
Saint Peter's Cathedral, in Rome, that Luther started a fight against the authoritarian power of
Catholicism under Pope Leo X - Giovanni de Medici. Thus, a fight was established, not only
against liturgical practices and ideological positions of the Church, but against power, i.e.,
against what the reformists considered as abuse of the Church's power that, at the time,
produced a plastering on man's ability to think and express himself. On this, Chassot's (1994,
p. 89) comment is important: "the reformers wished to diminish the dogmatic control
exercised by the church and thus ensure greater freedom of thought
”.
Luther's criticism of the Catholic Church encourages us to reflect about the importance
of a critical posture capable of questioning the hegemony of those who use power aiming to
manipulate the ways of thinking, feeling, and acting of others. With Luther's blunt criticism of
the unshakable dogmas and the unquestionable power of the Church, men were able to
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES and Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1519
awaken to the understanding of the fetters that hinder their freedom of thought, expression
and action. In this sense, Chassot (1994, p. 89) comments that the reformists' critical stance
was decisive "for the conquests of humanism and for new attitudes towards science,
undoubtedly facilitating the emergence of new mentalities.
This struggle, which did not end with the reform, since there was the counter-reform
movement, is nothing more than one of the many examples of the potential of critical thinking
in driving movements that, in the limit, can become broad reforms, that is, in more humanized
and humanizing social relations. In his novel The Name of the Rose, Umberto Eco (1983)
develops a plot in which he describes the determinist power of the Church and the clashes that
occurred in its internal sphere. Among other reasons, these clashes occurred precisely because
of the critical posture aroused by events that took place outside the gates of the Church: the
advance of science and the arts, and the spread of other ideologies. These events produced not
only dissident postures, but also postures that were fiercely opposed to the dogmatic dictates
of the Church, thus shaking its powerful hegemony in the late Middle Ages.
It is important to emphasize that the reform movement was not the work of a single
visionary. In reality, it was a movement that gradually took shape in the most varied localities
and in the most varied convents, many times overcoming the walls that isolated the Church
from the other social practices that occurred outside its walls. In other words, the reformist
movement was a clash between different ideological conceptions that were in the process of
formation and that counted on the critical stance of different people, who, even though
carrying different ideologies, had in common the fact of standing against a certain hegemony,
i.e., the hegemony of the Church. This critical and fighting attitude of the reformists
culminated with the burning of the Papal Bull on October 31, 1517, with the publication of
Luther's 95 theses on the door of the Wittenberg Chapel, and with the inevitable consequences
that followed, such as, for example, the peasants' war that took place from 1524 to 1525.
This reflection, in the historical and religious field, which shows how different
ideologies produce critical postures, reminds us that, in the educational field, Freire
emphasizes the importance of critical pedagogies to identify and combat deterministic
ideologies. For Freire (2004, p. 19), it is fundamental to "work against the dominant fatalistic
ideology and its power to encourage immobility on the part of the oppressed and their
adaptation to an unjust reality. This also implies that, in the educational field, these dominant
ideologies, which are almost always veiled, aim to annul and extinguish critical pedagogies
that contribute to students reading and re-reading the world.
image/svg+xml
Paulo Freire and elementary school: Reflections on a critical formation
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1520
Thus, the purpose of this narrative, about how the critical posture of some of its
members inside the Church was determinant to the emergence of new ideas, was to show that
this episode is in line with Gruppi's (1978) statement that the hegemonic struggle is also
manifested by the clash of one ideology over another, in order to supplant it or, to coexist in
the same space of struggles. In fact, what can be observed in this account was the emergence
of an ideology, the Protestant one, which, at a given moment, opposed the Catholic ideology,
and gradually gained space. However, in this specific episode, it is worth mentioning that one
of the possible factors of the ideological struggle waged by Protestantism is directly linked to
reading, that is, to being a reader: the reading of biblical texts that used to be done only out
loud, now, with an alternative way of reading, provided the emergence of a new reader.
This statement is based on the reflections proposed in the works of Roger Chartier
(1999) and Manguel (1997), who, by dedicating themselves to the study of reading, state that
the advent of the invention of alphabetic writing originated reading aloud. As Alberto
Manguel (1997, p. 61) records: "Written words, since the time of the first Sumerian tablets,
were intended to be pronounced aloud, since the signs carried implicitly, as if it were their
soul, a particular sound." However, based on other needs, Chartier (1999) and Manguel
(1997) reveal that reading also became silent, that is, the figure of the silent reader emerged.
To characterize this silent reader, we can use the same analogy employed by Manguel
(1997) when he stated that reading aloud had a "particular sound", audible and unmistakable.
However, in the case of silent reading, the reader begins to hear other sounds, the sound of his
reflections, of the reflections on what he is reading. In turn, since this new way of reading and
of being a reader takes place mainly in the cloisters of medieval monasteries, it is significant
to mention that Manguel (1997) refers to how silent reading contributed to the birth of the
Protestant ideology and, until today, silent reading has produced other looks, other
interpretations, other ideas, other struggles, in the most different contexts. When referring to a
graphic representation of St. Augustine observing the silent reading of St. Ambrose, Manguel
(1997, p. 71) reveals that:
Watching St. Ambrose reading that afternoon in 384, Augustine could hardly
have known what was before him. He thought he was seeing a reader trying
to avoid intruding visitors by saving his voice for teaching. In fact, he was
seeing a multitude of silent readers who over the following centuries would
include Luther, Calvin, Emerson, and us who read him today.
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES and Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1521
Arguing that silent reading was influential in the reform movement, Simone Borges
also points out the significant importance of this reading modality in the formation of the
reader and the consequences for society:
[...]Silent reading transformed the social order, as it created new functions
for writing, reformulated and introduced behaviors, and destabilized old
concepts such as the library. It was at the base of Luther's Reformation and
of the Holy Inquisition. It sparked new literacy practices that fostered, in
turn, the formation of new readers and writers, the creation of new genres
and new text carriers [...] (BORGES, 2010, p. 04).
The issue of reading, whether silent or not, is shown by the researched interlocutors as
a fundamental means of promoting and developing a critical attitude towards the object of
reading. Freire sees reading and also writing as a fundamental element of the necessary
interpretation and interaction with the world. In order to demonstrate this importance, Freire
publishes
A
importância do ato de ler: em três artigos que se completam
(1982) and,
throughout his works, the theme of reading and critical reading will always be treated with
relevance because it will be the foundation for understanding what he calls the "plots" present
in the world. Thus, he dedicated himself to proposing a literacy process based on the
necessary critical posture before the text to be read, thought, dialogued. Commenting on this
process, Freire (2001b, p. 21, emphasis added) states that "deep down, this set of
representations of concrete situations enabled popular groups to "read" the previous "reading"
of the world, before reading the word
”.
Conceptualizing the critical being - from a philosophical perspective
Leaving the religious field, it can be seen that the term criticism is also used in
philosophy. Nicolla Abbagnano (2000, p. 223) refers to the modernist philosopher Emanuel
Kant as the philosopher who introduced the term criticism "to designate the process by which
reason undertakes the knowledge of itself". For Kant, influenced by John Locke's
enlightenment, the function of criticism is to provide man with the possibility of knowing his
real intellectual capacity and the various ways of perceiving, knowing and apprehending the
world in which he lives. So much so that his best known work, Critique of Pure Reason, was
initially conceived under the title: The limits of sensibility and reason. Kant was strongly
influenced by the assumptions of the initiator of the liberalism theory, Locke, for whom man's
most important action is to dedicate himself to analyze each of our ways of knowing the
image/svg+xml
Paulo Freire and elementary school: Reflections on a critical formation
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1522
knowable object, that is, to know the origin of our ideas and of our discourses, totally
rejecting the Cartesian current that defended the theory that ideas are innate.
However, many centuries before Kant exercised his critical stance, philosophy, which,
at its birth, was founded on the aegis of analyzing, reflecting on and criticizing man's ability
and purpose to know and act on the object to be known, was already facing issues that put
men in constant questioning and clashes. These conflicts can be identified from the different
philosophical currents that followed in the middle of the division between ancient philosophy,
also known as Greek philosophy, and Western philosophy. Already in ancient philosophy, the
critical stance of its most prominent thinkers is noticeable in its four periods, namely, the
cosmological or pre-Socratic, the anthropological, also known as Socratic, the systematic, and
the Greco-Roman, also known as Hellenistic.
While pre-Socratic philosophy employed all the senses, i.e., sensory perceptions, to
seek to understand the very existence and origin of the universe and its transformations,
Socrates and Plato, the leading representatives of the anthropological period, asserted that the
senses could never lead to knowledge, to the full truth, since sensory perceptions led to error
and were susceptible to the influence of lies and falsehood. Thus, for Socratic philosophy,
knowledge was something aprioristically given to man, the fruit of his pure ideas, free of
opinions and false perceptions of the world of the senses. Thus, the conception is created that
knowledge is given by the rationalist way, that is, by the use of reason.
One who opposed this way of conceiving knowledge was precisely a follower of
Plato: Aristotle. This philosopher postulates that knowledge is only possible if taken by the
experimental way. By criticizing his master's approach, Aristotle created a new philosophical
conception that became known as systemic. He formulates, thus, three actions that should be
the basis of the critical action of the man who seeks knowledge: the faithful observation of
nature, the rigor of the method, and empiricism. In the first action, experience must always be
taken as the starting point. The second action consisted in elaborating a set of actions to reach
knowledge, which implied the organization of clear and defined procedures to carry out a
systemic study of the object to be known. This theoretical formulation by Aristotle in
idealizing a possible way to reach knowledge became known as empiricism, transcending his
time. Aristotle was named as the creator of logic, that is, the possible instrument to reach
knowledge in any area of knowledge. His logic was later recognized by important icons of
modern philosophical thought, such as, for example, George Wilhelm Friedrich Hegel and
Karl Marx, who extended his logic by proposing a dialectical and non-linear way of thinking.
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES and Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1523
Although there are many other philosophers who stood out between Aristotle and
Marx, the initial emphasis given to Kant is precisely because he figures among those
philosophers who initiated a critical discussion about the possibilities and limits of
knowledge, thus opposing rationalism and empiricism in their original propositions. However,
it is Kant who processes a synthesis that seeks to integrate the postulates of rationalism and
empiricism in a dialectical relationship. His critical posture in analyzing these two
philosophical ways of conceiving knowledge will provide the basis for the creation of a new
theory: interactionism.
This incursion into history, the religious field, and the field of philosophy is to
highlight how the critical attitude was determinant for both the negation and the affirmation of
the great theories of knowledge, namely: rationalism, empiricism, and interactionism. These
three great theories subsidized other philosophical strands, such as structuralism,
phenomenology, and critical theory. The researcher Marilena Chauí (1995), when dealing
with philosophical attitudes capable of submitting to criticism the sayings and actions about
the world and of promoting the reformulation and creation of new theoretical conceptions and
worldviews, makes the following argument:
The first characteristic of the philosophical attitude is
negative
, that is, a
saying no to common sense, to preconceptions, to pre-judgments, to the facts
and ideas of everyday experience, to what "everybody says and thinks," to
the established.
The second characteristic of the philosophical attitude is
positive
, that is, an
interrogation of what things, ideas, facts, situations, behaviors, values,
ourselves, are. It is also an interrogation of why all this is so and why we are
so, and an interrogation of how all this is so and not otherwise. What? Why
is it? How is it? These are the fundamental questions of the philosophical
attitude.
The negative and the positive sides of the philosophical attitude constitute
what we call the
critical attitude
and
critical thinking
(CHAUÍ, 1995, p.
12, author´s emphasis).
It is extremely relevant to highlight the importance of a critical stance for social life. It
is the critical stances that provoke the birth and evolution of different conceptions of the
world and of mankind throughout human history, conceptions that, in turn, have a direct
impact on the relationships that men establish with each other and with nature. These different
conceptions of the philosophical field, such as, for example, humanism, skepticism,
structuralism, formalism, phenomenology, and critical theory, which broke away from the
basic conceptions of rationalism, empiricism, and interactionism, were established from the
image/svg+xml
Paulo Freire and elementary school: Reflections on a critical formation
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1524
critical reading that men made about the philosophical theory that, until then, had served to
answer their existential questions. In this process of questioning, the critical subjects not only
question the ideas of their time, but also contribute decisively so that new ideas can give new
contours to the world and establish new relations among men.
About this possibility of critical stances to promote different conceptions of
understanding the world through a philosophical approach that has been discussed, it is worth
mentioning that this concept, the possibility of change, in the field of education, is also
evidenced in Freire's work. For Freire, the term "possibility" is closely related to a critical
stance which is, by its nature, transformative. In other words, education can only exercise this
process of promoting change when its different actors act in a critical manner, understanding
themselves in time and space. To this end, Freire (2001a, p. 84) teaches us about this
potentiality by saying that "because I am historical, I live history as a time of possibility and
not of determination".
The man who takes a critical stance is the subject that contributes both to the
development of knowledge and to the unveiling of relations of domination present in the most
different facets of human activity. Jean-Jacques Rousseau was one of these great men of sharp
critical thinking. One can see, in his works, how he questioned certain established truths and
how these questionings influenced his generation and the generations that succeeded him. To
demonstrate the influence of Rousseau's critical thinking on contemporary man's way of
thinking, it is appropriate to quote João Carlos Brum Torres (2011) who, when writing the
introduction of the book Discourse on the Origin and Basis of Inequality Among Men, one of
Rousseau's classic works, comments on the extent of his ideas. In this introduction, Torres
(2011, p. 9, emphasis added) makes the following comment about the Swiss thinker:
The recognition of the decisive role of the Second Discourse and, in general,
of the Rousseau’s
work, in the conformation of the critical imaginary of
modernity can be expressed more directly if we say that Rousseau is the
founder of the two main lineages of critical thought that characterize this
historical epoch.
To demonstrate how critical thinking is a determining factor in the process of
transforming men's way of thinking and acting socially, Hans Joachim Störing (2008, p. 330),
while going through the history of philosophy, makes the following statement:
The philosophers' demands for the application of reason (also with regard to
all that has been traditionally handed down, the watchword "criticism", for
freedom, tolerance, humanity have become widespread in the long run. [...]
To these ideals we owe fundamental achievements such as the elimination of
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES and Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1525
torture, the end of the persecution of witches, the humane treatment of the
mentally ill, the elimination of hideous corporal punishment such as the
wheel or quartering, the end of slavery, the recognition of the division of
powers in state constitutions, [. ...] in short: the gradual imposition of human
rights as they are formulated in the American Declaration of Independence
of 1776, and then in the "Déclaration des droits de l'homme", of the National
Assembly of 1789, and that now appear in the statute of the United Nations.
The observation that critical thinking has been and continues to be determinant for
changes that alter the most different social relations can also be perceived in the educational
field. This implies recognizing that, just like in the religious and philosophical fields, critical
individuals have thought about the education of their time and questioned conceptions, values,
and methodologies used in the educational process, and, even without such pretension, have
contributed to the creation of educational models and practices that have lasted for centuries.
What can also be noted is that the critical stance, which can be identified in different social
fields, ends up, in general, influencing the process of human education as well.
To take a hook from the statement made earlier about the critical stance within the
Church of Rome, it is worth commenting on one of the developments that occurred during the
Reformation period that had a significant impact on education. For the reformist Martin
Luther, education was something of fundamental importance for the cultural and spiritual
formation of the child. This observation can be seen in one of his speeches, entitled A Sermon
on keeping children in school, from 1530, and also in the letter he wrote, in 1524, to the
mayors and councilors of all German cities, in which he called for the creation of Christian
schools. One of the passages of this letter is quoted by Gadotti (1999, p. 72), and in it, Luther
states that "there is no other visible offense which, in the eyes of God, is so heavy a burden to
the world and deserves such a severe punishment as the neglect of the education of children".
This concern with the education of the people evoked by Luther initiates a process of creation
of educational structures with their own cultural contents, elaborated mainly by Philip
Melanchton, who later became known as the preceptor of Germany. About the creation of
these schools within the reform movement, Cambi (1999, p. 250) says that Melanchton was
Very active in promoting and organizing schools in various locations in
Germany, his educational aim is first expressed in the De
corrigendisadolescentiaestudiis of 1518, in which he advocates the
importance of instruction and the validity of ancient culture for penetrating
the truth of Scripture.
The frank involvement of this new and growing religious doctrine, the Protestant, in
the educational process, forced the Catholic Church to elaborate and develop a great project in
image/svg+xml
Paulo Freire and elementary school: Reflections on a critical formation
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1526
the field of education. Mario Alighiero Manacorda (2000) says that the Church made an
uncompromising defense of its prerogative to act in the education of men. This educational
orientation of the Catholic Church, as a response to Protestantism, according to Manacorda
(2000, p. 200) "was fixed in the Council of Trent (1545-1564)".
Commenting on the importance of the Council of Trent for the directions of education,
which was intended not for the population in general, but for a certain group, Franco Gambi
(1999, p. 256) states:
With the Council of Trent, in fact, the Church of Rome acquires a greater
awareness of its own educational function and gives life to a significant
flowering of religious congregations specifically destined for formation
activities not only for ecclesiastics, but also for young people descended
from the ruling groups.
A very important fact that determined guidelines in the field of education that occurred
during the Council of Trent is described by Manacorda (2000, p. 201):
It is enough to recall, among the voices that echoed in the council halls, that
of Beccatelli, Bishop of Ragusa, who, without mincing his words and in a
very harsh tone, had said: "There is no need for books; the world, especially
after the invention of the press, has too many books; it is better to forbid a
thousand books without reason, than to allow one deserving punishment
”.
This is one of the records of the history of education in the West in which the use of
power can be observed through the imposition of censorship, an official imposition that
affected, especially, the educational field. Many books were classified as heretical, among
which, obviously, the writings of Luther, Calvin and other reformers that figured in the
índex
librorum proibitorum
5
. Although, at that time, books were used only by teachers, since it was
rare for a student to have a book at his disposal, the idea here is to highlight the antagonism
present in the educational process, since, while the Church was against the use of books that
did not have its approval, the other educational model proposed just the opposite.
In a world that was already boiling in terms of discoveries and development in the
most different areas of knowledge, such as, for example, the invention of the printing press
and the great navigations, which enabled the development of commercial capitalism, the
theories that opposed the dogmas supported by the Church, as was the case of the heliocentric
theory, initially proposed by Nicolau Copernicus, were not included in the syllabus created by
the Church between 1586 and 1599, the so-called
Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis
Jesu
, or simply
Ratio Studiorum
. Manacorda (2000, p. 202) when commenting on the plan,
5
Index of Forbidden Books.
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES and Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1527
states that it "strictly regulated the whole Jesuit scholastic system: the organization in classes,
the timetables, the programs, and the discipline".
However, although the Catholic education plan regulated by the RatioStudiorum
influenced almost the whole world in its time, as Gadotti (1999) states, it can be observed that
in the other way, i.e., in Protestantism, education, due to the critical posture of some, which,
in this scenario of open conflict, became a political posture, also exerted a strong influence.
One of these critics, perhaps one of the greatest exponents of education in his time, is the
Moravian Jan Amos Seges, or John Amos Comenius. Comenius proposed in his magnum
opus, Didacticus Magna, the exact opposite of what was being advocated in the reform
movement regarding the use of books. Although he also questioned the use of books, whose
authors Comenius called pagan, his critical vision of education, in tune with the development
of his time, made him propose the creation of books that could aggregate the knowledge of all
areas and the use of books as tools, which he analogously called score, for the conductor in
the classroom, in this case, the teacher.
On the distinction between the educational proposal of Comenius and that of the
Church of Rome, synthesized in the Ratio Studiorum, João Luiz Gasparin (1994, p. 14) wrote:
Didactics has always existed in human history, because it has always been
taught and always learned. In Comenius, however, it acquires peculiar
dimensions that differentiate it from all other previous or contemporary
formulations, such as, for example, those of Ratke or the Ratio Studiorum of
the Jesuits.
Still, to highlight the central point of difference between the educational proposal of
the Reformation and the Counter-Reformation, Cambi (1999, p. 256) makes the following
statement:
This is the most significant difference between the Reformation and the
Counter-Reformation movements on the educational level. The former
privileged the instruction of bourgeois and popular groups in order to create
the minimum conditions for a personal reading of the sacred texts, while the
latter, especially with the work of the Jesuits, reproposed a traditional
cultural and formative model in close connection with the political and social
model expressed by the ruling class.
Regarding the use of books and the creation of textbooks that is attributed to him,
Comenius (2002, p. 365) makes the following analogy:
The perfect printer has characters of all kinds, so that he never lacks any that
he may need. In the same way, our books must contain everything that
pertains to the complete education of the minds, so that, with these aids, no
one can fail to learn everything that needs to be learned.
image/svg+xml
Paulo Freire and elementary school: Reflections on a critical formation
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1528
It is worth pointing out that the above pointed reading, that in the educational field it is
also perfectly possible to theorize how the critical posture of certain subjects was decisive for
profound changes to occur in the approaches to education of their time, was not based on a
linear reading only of the religious clash between the Church of Rome and Protestantism. In a
totality view, the issues, mainly economic and philosophical, are social conditioning factors
that, as a whole, contributed to the idealization and development of the educational proposal
of Comenius, which is, therefore, a subject of discussion until our days.
Final remarks
The aforementioned reports sought to demonstrate what can be called a critical
posture, therefore, the action of critical subjects. These examples, and, of course, could be
others, were selected since the unfolding of the action of Aristotle, Luther, Comenius,
Rousseau and Kant had a direct influence on the education of their time and, much more, on
the organization and educational practices in schools. that followed, some, including that we
practice until today in our school educational model.
It remains for us, once the critical posture that can idealize a critical subject is
presented, to provoke the reader to think about how this can influence professionals who work
in elementary education to form critical subjects. Firstly, by saying that this is exactly what is
expected of them, either by the content of the text of the Law presented at the beginning of
this article, or by the common consensus of the whole society, even though it is not known
how to define what a critical subject is.
Including the thinker Paulo Freire in the dialogue means, in principle, the recognition
that, in his vast legacy, especially in the area of education, the critical training of those
directly involved in the process, that is, students in training, teachers and managers in action,
imperatively needs that their positions are marked by criticality, because only in this way
could we idealize a critical formation, which can and must have its birth right in the
beginnings of school education.
In the set of Paulo Freire's works, it is observed how this critical posture is
fundamental for the formation of our students throughout their path in the schooling process,
so that they understand and even react to the condition of possible oppressed in the face of the
oppressor's action. Obviously, this conceptual understanding, by itself, has already been and
continues to be the object of theses, written to study and discuss not only the concept of the
oppressed, but how, from it, we can advance to other reflections on the educational, historical,
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES and Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1529
sociological level, philosophical among others. For this reason, we reaffirm at the end of this
reflection that the necessary critical training is one of the possible understandings to define
the concept of oppressed in Paulo Freire, which, in a more objective way, implies recognizing
that there are antagonistic poles, namely, the oppressed and the oppressed. of the oppressor
and, because of that, the critical formation is fundamental for this understanding, after all,
Freire (1979, p. 48, author's emphasis) teaches us that “the critical conscience of the
oppressed means, therefore, conscience of the self
”.
Thus, for this simple reasoning, this text refers to the importance of Freire's writings as
a possible source of reflections, not only on the importance of working with a critical
education since the early years of schooling, but also on the necessary profile for the teacher
to aim and seek to work with this perspective of critical education since the early years.
Regarding these two important reflections, we can mention Freire's warning about the need
for the teacher to seek coherence between his discourse and his actions. This implies that the
teacher who aims to work towards a critical formation of his students should at least reflect on
how he performs his self-evaluation as a critical subject.
REFERENCES
ABBAGNANO, N.
Dicionário de filosofia
. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BIBLE. Português.
Tradução do novo mundo das escrituras sagradas
. Tradução da versão
inglesa de 1961. Revisão de 1986. Cesário Lange, SP: Associação torre de vigia de bíblias e
tratados, 2006.
BORGES, S. B. As múltiplas facetas da formação em leituras.
In
: ENCONTRO DO
CELSUL, 9., 2010, Palhoça.
Anais
[...]. Palhoça, SC: Universidade Federal de Santa Maria,
2010.
BRASIL,
Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996
. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Brasília, DF: Presidência da República, 1996. Available at:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Access on: 07 Aug. 2021.
CAMBI, F.
História da Pedagogia
. Tradução: Álvaro Lorencini. São Paulo: Editora UNESP,
1999.
CHARTIER, R.
A Aventura do Livro
: Do leitor ao navegador. Tradução: Reginaldo de
Moraes. São Paulo: Editora UNESP, 1999.
CHASSOT, A.
A Ciência através dos tempos
. São Paulo: Moderna, 1994.
CHAUÍ, M.
Convite a Filosofia
. 5. ed. São Paulo: Editora Ática, 1995.
image/svg+xml
Paulo Freire and elementary school: Reflections on a critical formation
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1530
COMENIUS, J. A.
Didática magna
. 2. ed. Tradução: Ivone Castilho Benedetti. São Paulo:
Martins Fontes, 2002.
ECO, U.
O nome da rosa
. Tradução: Aurora Bernardini e Homero Freitas de Andrade. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
FREIRE, P.
Ação cultural para a liberdade
. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
FREIRE, P.
Conscientização
: Teoria e prática da libertação: Uma introdução ao pensamento
de Paulo Freire. Tradução: Kátia de Mello e Silva. 3. ed. São Paulo: Moraes, 1980.
FREIRE, P.
Ação cultural para a liberdade e outros escritos
. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1982.
FREIRE, P
Pedagogia da esperança
:
Um reencontro com a pedagogia do oprimido. 5. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
FREIRE, P.
Pedagogia da autonomia
: Saberes necessários à prática educativa. 20. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2001a.
FREIRE, P.
A importância do ato de ler
: Em três artigos que se completam. 42. ed. São
Paulo: Cortez, 2001b.
FREIRE, P.
Pedagogyofindignatíon
. Boulder: ParadigmPublishers, 2004.
GADOTTI, M.
História das ideias pedagógicas
.
São Paulo: Ática, 1999.
GASPARIN, J. L.
Comênio ou da arte de ensinar tudo a todos
. Campinas, SP: Papirus,
1994.
GRUPPI, L.
O Conceito de Hegemonia em Gramsci
. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
MANACORDA, M. A.
História da educação
: Da antiguidade aos nossos dias. 8. ed.
Tradução: Gaetano Lo Mônaco. São Paulo: Cortez, 2000.
MANGUEL, A.
Uma História da Leitura
. Tradução: Pedro Maia Soares. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.
SCHMITZ, E. F.
Os jesuítas e a educação
:
Filosofia educacional da Companhia de Jesus.
São Leopoldo, RS: Ed. UNISINOS, 1994.
STÖRING, H. J.
História geral da filosofia
. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
TORRES, J. C. B. Introdução.
In
: ROUSSEAU, J. J.
Discurso sobre a origem e os
fundamentos da desigualdade entre os homens
. Tradução: Paulo Neves. Porto Alegre:
L&PM, 2011.
image/svg+xml
Marco Antônio Batista CARVALHO; Adrian Alvarez ESTRADA; Fabio Lopes ALVES and Valdecir SOLIGO
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
1531
How to reference this article
CARVALHO, M. A. B.; ESTRADA, A. A.; ALVES, F. L.; SOLIGO, V. Paulo Freire and
elementary school: Reflections on a critical formation.
Revista Ibero-Americana de Estudos
em Educação
, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1514-1531, July/Sept. 2022. e-ISSN: 1982-5587.
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.16834
Submitted
:
20/12/2021
Revisions required
: 03/02/2022
Approved
: 19/04/2022
Published:
01/07/2022
Processing and publishing by the Editora Ibero-Americana de Educação.
Correction, formatting, standardization and translation.