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Educação popular e expedições pedagógicas na prática educativa do povo indígena Gamela: Direitos e resistências étnicas
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1301-1320, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16979
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EDUCAÇÃO POPULAR E EXPEDIÇÕES PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA
EDUCATIVA DO POVO INDÍGENA GAMELA: DIREITOS E RESISTÊNCIAS
ÉTNICAS
EDUCACIÓN POPULAR Y EXPEDICIONES PEDAGÓGICAS EN LA PRÁCTICA
EDUCATIVA DE LOS INDÍGENAS GAMELA: DERECHOS Y RESISTENCIAS
ÉTNICAS
POPULAR EDUCATION AND PEDAGOGICAL EXPEDITIONS IN THE
EDUCATIONAL PRACTICE OF THE GAMELA INDIGENOUS PEOPLE: RIGHTS
AND ETHNIC RESISTANCE
Maria do Socorro Pereira da SILVA
1
Thaynan Alves dos SANTOS
2
José Wylk Brauna da SILVA
3
RESUMO
:
Os saberes originários e ancestrais do povo indígena Gamela, fundamentados na
Educação Popular, protagonizam a luta pela permanência na terra e a autoidentificação de sua
etnia, e constituem o tema central desse estudo. O questionamento de partida: como a Educação
Popular contribui com processos formativos e educativos na luta do povo indígena Gamela, na
comunidade Laranjeiras no Sul do Piauí? A abordagem qualitativa, a pesquisa do tipo
investigação-ação participante, em Borda (1981), e a análise dialética qualificam a metodologia
de descolonização do conhecimento na luta pelo direito ao território. As expedições
pedagógicas reafirmam as experiências, os processos educativos e formativos do povo indígena
Gamela, baseado na educação para o uso dos recursos hídricos, para o manejo sustentável das
plantas nativas, como o buriti, e a luta pela posse da terra, enfatizando a diferença entre os
direitos da posse da terra indígena e da terra civil, conforme prevê a constituição brasileira.
PALAVRAS-CHAVE
:
Educação popular. Expedições pedagógicas. Povos indígenas Gamela.
Piauí.
RESUMEN
:
El conocimiento originario y ancestral del pueblo indígena Gamela, basado en
la Educación Popular, lidera la lucha por la permanencia en la tierra y la autoidentificación
de su etnia, y constituyen el tema central de este estudio. La pregunta de partida: ¿cómo
contribuye la Educación Popular a los procesos formativos y educativos en la lucha del pueblo
indígena Gamela, en la comunidad Laranjeiras en el sur de Piauí? El enfoque cualitativo, el
tipo de estudio investigación-acción participante, en Borda (1981), y el análisis dialéctico
califican la metodología de descolonización del conocimiento en la lucha por el derecho al
1
Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina – PI – Brasil. Docente do curso de Licenciatura em Educação
do Campo. Doutora em Educação (UFPI). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3877-2420. E-mail:
socorroprof@ufpi.edu.br
2
Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Teixeira de Freitas – BA – Brasil. Mestrando em Ciências e
Sustentabilidade. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0907-421X. E-mail: thaynan12santosalves@hotmail.com
3
Universidade de Brasília (UNB), Planaltina – DF – Brasil. Mestrando em Desenvolvimento Rural e
Sustentabilidade. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1667-6032. E-mail: jwylk9@gmail.com
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Maria do Socorro Pereira da SILVA; Thaynan Alves dos SANTOS e José Wylk BRAUNA
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– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1301-1320, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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territorio. Las expediciones pedagógicas reafirman las experiencias, los procesos educativos
y formativos del pueblo indígena Gamela, basados en la educación para el uso de los recursos
hídricos, para el manejo sostenible de las plantas nativas, como el buriti, y la lucha por la
tenencia de la tierra, enfatizando la diferencia entre los derechos de la posesión de la tierra
indígena y la tierra civil, según lo dispuesto en la Constitución brasileña.
PALABRAS CLAVE
:
Educación popular. Expediciones pedagógicas. Pueblos indígenas
Gamela. Piauí.
ABSTRACT
:
The original and ancestral knowledge of the Gamela indigenous people, based
on Popular Education, play a leading role in the struggle for permanence on the land and the
self-identification of their ethnicity, and constitute the central theme of this study. The starting
question: how does Popular Education contribute to formative and educational processes in
the struggle of the Gamela indigenous people, in the Laranjeiras community in the South of
Piauí? The qualitative approach, the research of the participatory action-research type, in
Borda (1981), and the dialectic analysis qualify the methodology of decolonization of
knowledge in the struggle for the right to territory. The educational expeditions reaffirm the
experiences, the educational and formative processes of the Gamela indigenous people, based
on education for the use of water resources, for the sustainable management of native plants,
such as the buriti, and the fight for land ownership, emphasizing the difference between the
rights of indigenous land ownership and civil land, as provided by the Brazilian constitution.
KEYWORDS
:
Popular education. Pedagogical expeditions. Gamela indigenous people. Piauí.
As vozes indígenas na “última fronteira agrícola”: aproximações dissonantes da
investigação
O legado descolonial das vozes indígenas é, e tem sido, dissonante e dissidente da
política indigenista do Estado brasileiro. Os conhecimentos dos povos originários, apesar das
ideias coloniais, resultam de processos educativos próprios e não escolares, que no contexto do
povo Gamela e dos oprimidos, denominamos de Educação Popular. Outro legado é a luta pela
identidade étnica, ou seja, a autoidentificação como povo indígena, inspirando a luta dos
Gamelas. E, no âmbito da institucionalidade, a questão étnica do reconhecimento do povo
indígena qualifica as narrativas transmitidas oralmente entre as diferentes gerações; pela
memória sobre a ancestralidade; nas experiências socioculturais, modos de vida e usufruto
comum da terra e do território – não há como se falar de povos indígenas sem direito à terra.
Diante desse contexto, a Educação Popular fortalece a auto-organização dos povos
indígenas Gamela, contribuindo na formação para acesso aos direitos e capacitação para
incidência política propositiva e reivindicatória. Por isso, nossa pergunta de partida está situada
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em: como a prática da Educação Popular contribui na luta pelo direito à terra indígena do povo
Gamela na “Última Fronteira Agrícola”, diante do avanço do agronegócio?
Em igual sentido, situamos a relação entre os saberes indígenas e os saberes acadêmicos,
mediados pela prática educativa das expedições pedagógicas inspiradas no pensamento
freireano e nas emergências da realidade dos povos indígenas Gamela, que atualizam as
demandas da universidade. Sobre o pensamento de Paulo Freire, Jardilino e Soto-Arango,
(2020, p. 1084) definem:
O que estou chamando de singularidade e universalidade do pensamento de
Freire não deve ser lido apenas na repercussão da ação prática de seu método
de alfabetização no Brasil e no mundo, mas em sua proposta pedagógica de
uma educação libertadora e conscientizadora, que pode ser universalizada em
qualquer espaço em que homens e mulheres se encontrem em uma situação de
aculturação opressora e desumanizadora.
A prática educativa freireana baseada na Educação Popular inspira o povo Gamela, na
luta pelo direito à terra, a dar visibilidade as tensões e conflitos agrários, em razão do direito à
autoidentificação na comunidade Laranjeiras, no sudoeste do Piauí.
As tensões mais acentuadas
dizem respeito à relação com o estado do Piauí, através do Instituto de Terras do Piauí
(INTERPI), e com o governo federal e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Com o
INTERPI são questões agrárias que envolvem a regularização fundiária de áreas de
assentamento dentro do território indígena, cuja intervenção política do estado ignora a
existência da etnia Gamela.
Com relação à FUNAI, destacamos a morosidade administrativa e institucional no
processo de demarcação da terra indígena Gamela, apesar da existência de estudos de
qualificação da demanda fundiária dessa etnia. Assim, a narrativa do Estado brasileiro vai se
estabelecendo não apenas pela negação étnica do povo Gamela, mas pela ocultação dos
conflitos agrários na “última fronteira agrícola” e as questões socioambientais com a devastação
do bioma do cerrado pelo agronegócio.
Com relação ao
lócus
do estudo, investigamos a comunidade tradicional dos povos
indígenas Gamela, que está localizada no município de Currais-PI, a 35 km da sede do
município, na comunidade rural de Laranjeiras. No território residem 85 (oitenta e cinco)
famílias que se autoidentificam como indígenas Gamelas, que sobrevivem da agricultura
familiar.
A comunidade vive, prioritariamente, dos roçados; da criação de pequenos
a
nimais; da manutenção de quintais produtivos; da produção de farinha e do
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extrativismo do buriti (considerado sagrado e utilizado tanto para a
alimentação das famílias quanto para a confecção de diferentes peças
artesanais) (FUNAI, 2020, p. 16).
Enquanto os órgãos iniciam o processo de reconhecimento do povo Gamela no Piauí,
essa etnia habita há gerações a região sudoeste do estado.
Com relação à delimitação da investigação, consideramos as expedições pedagógicas
descoloniais realizadas pela universidade, através do projeto de extensão Universidade Popular
dos Cursos de Licenciatura em Educação do Campo (LEDOC). As expedições pedagógicas se
articulam pela visibilidade das questões agrárias, ecológicas e direitos de autoidentificação dos
povos indígenas Gamelas, a partir de processos educativos, pedagógicos e políticos que
fortalecem a auto-organização dos povos na comunidade de Laranjeiras.
As expedições pedagógicas descoloniais consideram os princípios do Estado do Bem
Viver, e reafirmam a relação de interconhecimento entre saberes populares e científicos a partir
do intercontexto entre comunidade e universidade. As epistemologias das expedições
descoloniais se realizam a partir dos preceitos e fundamentos do paradigma de Ciência Própria
(BORDA, 1985) e da prática educativa da Educação Popular (FREIRE, 1996). Seus processos
educativos são organizados em: estágio de vivência, oficinas de saberes, sistematização da
experiência e ações de auto-organização da comunidade indígena.
O artigo apresenta a discussão em três seções, além da introdução. Na primeira
apresentamos os fundamentos teóricos e epistemológicos que orientam a investigação. Na
segunda, situamos brevemente o contexto histórico da comunidade Laranjeiras e do povo
Gamela. Na terceira parte, relacionamos os processos educativos das expedições pedagógicas,
destacando como o território educador do povo Gamela atualiza a função social e científica da
universidade pública quanto às questões dos direitos dos povos originários na “última fronteira
agrícola”. Na conclusão, assinalamos como a universidade pública por meio da Educação
Popular contribui para o fortalecimento da luta por direitos junto com os povos indígenas
Gamela, situando a territorialidade das questões educacionais no contexto da luta indígena para
autoidentificação no estado do Piauí.
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Educação popular e expedições pedagógicas descoloniais:
Educação dissidente do povo
Indígena Gamela
Enquanto o Brasil reconhece a existência dos povos indígenas por meio de demarcação
de suas terras em grande parte do território brasileiro, somente em 2020 o governo do Piauí
reconheceu formal e expressamente a existência de povos indígenas no estado. Esse
reconhecimento é resultado da luta dos povos indígenas piauienses, em razão dos conflitos
agrários que se aceleram com o avanço do agronegócio e de instalações de grandes
empreendimentos em comunidades tradicionais e em terras indígenas.
Diante desse contexto, a territorialidade da educação nos processos educativos dos
povos indígenas, especificamente do povo Gamela, encontra na Educação Popular uma
pedagogia alternativa na produção dos conhecimentos fundamentados em uma intervenção
socioeducacional e política dos oprimidos e excluídos no mundo – direito de dizer a sua palavra.
Assim, a Educação Popular considera, como conteúdo central de seus processos educativos, a
realidade social dos sujeitos em formação, ou seja, parte das experiências dos povos indígenas
como etnias que foram historicamente negadas e invisibilizadas na formação social brasileira.
Nesse sentido, os fundamentos epistemológicos e metodológicos da Educação Popular
que orientam as expedições pedagógicas descoloniais na mediação do conhecimento com o
povo Gamela na luta pela permanência na terra indígena são: a realidade e a prática social dos
sujeitos como
lócus
do conhecimento; a pedagogia ação-participante; a construção coletiva do
conhecimento; as metodologias participantes; a transformação da realidade social; o projeto de
sociedade do bem viver como uma construção dos povos originários.
Para falar do Bem Viver, é preciso recorrer às experiências, às visões e às
propostas de povos que, dentro e fora do mundo andino e amazônico,
empenharam-se em viver harmoniosamente com a Natureza, e que são donos
de uma história longa e profunda, ainda bastante desconhecida e, inclusive,
marginalizada. Foram capazes de resistir, a seu modo, a um colonialismo que
dura mais de quinhentos anos, imaginando um futuro distinto que muito
poderia contribuir com os grandes debates globais (COSTA, 2016, p. 19-20).
Essa epistemologia originária está baseada entre os saberes populares e indígenas como
l
eituras próprias, em que a “[...] ‘leitura do mundo’ e a ‘leitura da palavra’ se impõem como
prática indispensável na reinvenção do mundo. A assunção de nós próprios como sujeitos e
objetos da História nos torna seres de decisão, da ruptura, da opção, seres éticos.” (FREIRE,
2014, p. 66). O povo indígena Gamela reivindica o legado histórico da Educação Popular como
lugar epistemológico de organização de sua existência e reexistência.
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A etnia Gamela reencontra na Educação Popular sua relação ancestral com as questões
ambientais, ecológicas e agrárias na terra indígena, como sujeitos históricos que carregam
séculos de resistência por um modo de bem viver. Segundo Relatório de Qualificação da
FUNAI (2020, p. 14): “[...]os(as) indígenas eram responsáveis pela conservação do território,
pois preservavam os brejos, mantinham uma relação sagrada com os buritizais e não
desmatavam áreas de preservação permanente”, ou seja, dados de campo da FUNAI qualificam
os Gamelas como protetores do bioma do cerrado, diante dos conflitos agrários e
socioambientais, pois como demonstram o usufruto comum das áreas de “
cerrado
”, as casas de
farinhada, os “templos das águas”, os diversificados usos conferidos aos buritis, as redes de
solidariedade acionadas entre os núcleos, as relações estabelecidas com os espíritos
“
encantados
” (“
cabocos
”/“
cumpades
”) e, também, as vivências de expropriação territorial
experimentadas a partir de conflitos fundiários e socioambientais.
A territorialidade da Educação Popular no contexto dos processos educativos da
educação indígena reafirma uma pedagogia participante que se contrapõe à pedagogia da
exclusão e da dominação. A Educação Popular, no contexto dos povos indígenas Gamela, tem
como base educativa uma pedagogia dialógica referenciada em uma epistemologia descolonial,
que reafirma a memória histórica de resistência e libertação dos povos indígenas da colonização
europeia.
Considerando esse paradigma, as expedições pedagógicas representam o vínculo da
universidade pública com as exigências da atualidade dos direitos e das lutas dos povos
indígenas Gamela, anunciado a partir de outro paradigma de ciência e de universidade pública.
“Podemos concebir na universidad en diáspora que se juzgue según sus efectos sociales de
conjunto y no por facilidades físicas? Podemos articular este camino y permanentemente el
conocimiento teórico con la práctica?”
4
. Nessa construção, “[...] a Educação Popular possibilita
o diálogo de saberes populares, da cultura popular com os saberes/conhecimentos produzidos e
sistematizados socialmente [...] são saberes de uma epistemologia que une ação-reflexão.”
(STRECK
et al.
, 2014, p. 93). A prática educativa universitária se altera, como também se
transforma quando reconhece outros saberes necessários à produção da ciência para o bem
viver. De modo que os Gamelas empenham-se em fazer do ato educativo um caminho para uma
consciência crítica e participação ativa na transformação da realidade que vivenciam na
comunidade indígena.
4
Tradução: “Podemos conceber uma universidade na diáspora, que seja julgada de acordo com os seus efeitos
sociais do conjunto e não por instalações físicas? Podemos articular esse caminho e conhecimentos
permanentemente teórico com a prática?” (BORDA, 1981, p. 199).
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A inteligibilidade entre o popular e o científico são formas de vivenciar a ciência na
produção de um conhecimento prudente para uma vida decente (SANTOS, 2010). Partindo
desse pressuposto, a universidade deve estar comprometida com a formação de indivíduos que,
em seus conhecimentos, produzam para o bem comum e para uma vida justa de todos e todas.
Para alcançar esse objetivo, ou seja,
para apoiar estes processos, necessitamos de universidades democráticas e
altruístas que estimulem a participação ativa dos estudantes na procura de
novos conhecimentos e, nessa medida, considerem a investigação como
ferramentas pedagógicas do maior valor, como base de uma autonomia
acadêmica (BORDA; MORA-OSEJO, 2003, p. 720).
A universidade pública, por meio das dimensões da pesquisa e da extensão, tem vindo
a contribuir com a emancipação dos oprimidos e dos povos originários na luta por direitos.
Assim, as expedições pedagógicas visam à descolonização do conhecimento científico
e à emancipação das inteligências na produção de uma educação como prática da liberdade. O
interconhecimento entre a pedagogia científica e a pedagogia do oprimido, no âmago da
Educação Popular, resulta do pensamento dissidente da ciência eurocêntrica e do paradigma
tradicional de educação para e sem as classes populares. Assim, como afirma Paulo Freire
(1998, p. 20):
[...] o que vimos chamando de Pedagogia do Oprimido: aquela que tem de ser
forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou povos, na luta incessante
de recuperação de sua humanidade. Pedagogia que faça da opressão e de suas
causas objeto da reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento
necessário na luta por sua libertação, em que esta pedagogia se fará e refará.
A Pedagogia do Oprimido passa a imprimir uma nova concepção educativa na
universidade, com a implantação dos cursos de Licenciaturas em Educação do Campo
(LEDOC) na UFPI. Vale ressaltar que esses cursos são resultados de projetos educativos em
contextos não escolares mediados pela Educação Popular. A extensão universitária de caráter
popular e descolonial tem sido o espaço educativo na universidade para dialogar com o território
educador do povo Gamela, que tem apresentado como demandas para a atualidade da
universidade questões como: os direitos relacionados à demarcação da terra indígena, à
proteção dos recursos hídricos da comunidade como brejos e riachos e nascentes, e a
autoidentificação e construção de sua auto-organização no âmbito das lutas dos povos
indígenas.
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Comunidade tradicional laranjerias como território educador do povo Indígena Gamela
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), 34% da
população do Piauí vive na zona rural. Quando verificamos essa estatística na região sudoeste
do estado, a população rural é de 41%, ou seja, é uma região de ruralidade acentuada. A região
sudoeste apresenta forte potencial hídrico, possui grandes extensões de terra, incidência para
energia solar, produção da monocultura para agricultura empresarial – agronegócio e
agricultura familiar camponesa como vetores para o desenvolvimento econômico do Piauí.
A agricultura familiar tem uma relação direta com a redução da pobreza no estado do
Piauí, pois “as políticas executadas pelo governo estadual em prol da pequena agricultura (a
agricultura familiar). Ou seja, a redução da pobreza por meio da inclusão produtiva” (PIAUÍ,
2013, p. 81). Deste modo, vê-se a agricultura familiar camponesa como campo estratégico de
desenvolvimento econômico naquela região. Apesar disso, populações tradicionais camponesas
e indígenas enfrentam o avanço do processo de expropriação e grilagem de suas terras
produtivas, que desde a década de 1990 vem sendo realizada por empresas do agronegócio. E,
em consonâncias com esse contexto, indígenas sofrem com a falta de investimentos na
agricultura familiar, por parte do Governo do estado, que recentemente começou o processo de
titularização das terras para essas comunidades e grupos étnicos.
Com população de aproximadamente 4.968 habitantes, o município de Currais é
basicamente rural, e a maioria da população vive da agricultura familiar. Esse município fica
localizado a 660 quilômetros da capital, Teresina. Currais é um território com potencial para o
desenvolvimento econômico, ocupando grandes áreas de terra na região do Vale do Gurgueia
na produção da monocultura de soja, no território das chapadas das Mangabeiras. Apesar dos
ganhos econômicos com o agronegócio, essa realidade contrasta como a paisagem urbana e
rural empobrecida, como uma imagem invertida, em que a acumulação da riqueza não significa
a redução da pobreza; ao contrário, aumenta os extratos sociais de miseráveis na região sudoeste
do Piauí.
Currais fica na região sul do Piauí, conhecida como “a última fronteira agrícola” ou,
ainda, como a grande região do desenvolvimento caracterizada pelo MATOPIBA
5
, área que
está no centro da disputa do agronegócio, que avança sobre o bioma do cerrado, promovendo
5
“A expressão MATOPIBA refere-se a um acrônimo formado com as siglas dos estados do Maranhão, Tocantins,
Piauí e Bahia. O MATOPIBA foi oficializado como região por meio do decreto n. 8.447, de 6 de maio de 2015,
que trata do Plano de Desenvolvimento Agropecuário para o MATOPIBA, cuja finalidade era promover e
coordenar políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico sustentável fundado nas atividades agrícolas
e pecuárias” (RIBEIRO
et. al.
, 2020, p. 2).
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transformações socioespaciais e econômicas nos modos de vida da população da região,
sobretudo dos povos originários e das comunidades tradicionais. Portanto, a comunidade
tradicional do povo Gamela fica situada na região do MATOPIBA – que envolve os estados do
Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
No Piauí, essa delimitação geopolítica e econômica intensificou os conflitos agrários e
ambientais no bioma do cerrado. Segundo o Boletim Informativo 1 – Indígenas Gamelas no
Cerrado Piauiense: “Esta situação resultou na eclosão de conflitos socioambientais e na
constituição de ações de mobilização social que vêm resultando na emergência étnica de
núcleos familiares que habitam tradicionalmente a região e que se autodesignam de povos do
Cerrado” (LIMA; NASCIMENTO, 2020, p. 1). Nessa região, a agricultura familiar camponesa
e a expansão do agronegócio se apresentam como projetos antagônicos de desenvolvimento
econômico e de projeto de sustentabilidade ambiental no meio rural.
Enquanto o agronegócio se organiza pela lógica de comercialização da produção em
larga escala para mercados globais de exportações, baseado na monocultura, a agricultura
familiar de base agroecológica e agroflorestal tem sido responsável em garantir alimentos para
80% da população brasileira. Nesse contexto, o agronegócio ocupa grandes extensões
territoriais, em meio à intensa degradação ambiental e hídrica das nascentes, dos brejos e
riachos; impõe relações de trabalho análogas ao trabalho escravo; e é o principal agente de
conflitos agrários e fundiários com os povos indígenas Gamela quanto ao direito à terra.
A narrativa de desenvolvimento econômico oculta conflitos, impasses e desafios para
os povos indígenas Gamela, diante do avanço do agronegócio, que marca a disputa pelas terras
produtivas e pelos recursos hídricos. A territorialidade da educação, especificamente da
Educação do Campo, mediada pela Educação Popular, vem promovendo processos educativos
de autoformação do povo Gamela na autoafirmação de sua etnia.
A LEDOC é o
lócus
organizativo das expedições pedagógicas descoloniais, cujo
compromisso decorre de uma ação pedagógica e política com povos indígenas e camponeses
na luta por direitos, na atualidade, com os povos Gamelas. Segundo Silva (2020, p. 2383-2384):
A Educação do Campo tem as marcas originais de um projeto de educação de
ruptura com o paradigma da ciência hegemônica na universidade. É um giro
epistemológico protagonizado pelos movimentos sociais do campo por uma
política educacional de valorização dos sujeitos, dos contextos e dos saberes
dos camponeses na luta pela Reforma Agrária no Brasil.
A Educação do Campo se soma às vozes dissonantes da universidade com as vozes
dissidentes do povo indígena Gamela no meio rural. Nesse campo de interconhecimento e
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intercontexto, o pensamento freireano assegura as bases epistemológicas de uma universidade
cujo conhecimento científico fundamenta sua intervenção na formulação dos saberes dos povos
originários. É um resgate epistemológico da universidade para o campo da ação cultural e do
compromisso social com a luta dos oprimidos.
Os indígenas Gamelas da comunidade Laranjeiras reconhecem que a regularização
fundiária é uma demanda étnica; e o reconhecimento da terra indígena pelo estado, no sudoeste
do Piauí, passa pelo processo de auto-organização e de fortalecimento da luta coletiva pelo
direito à autoidentificação. Segundo a Convenção 169 da Organização das Nações Unidas sobre
povos indígenas e tribais, a saber:
A autoidentidade indígena ou tribal é uma inovação do instrumento, ao
instituí-la como critério subjetivo, mas fundamental, para a definição dos
povos sujeito da Convenção, isto é, nenhum Estado ou grupo social tem o
direito de negar a identidade a um povo indígena ou tribal que como tal ele
próprio se reconheça (OIT, 2011, p. 8).
Logo, o direito à autoidentificação regulado pela Convenção n. 169 sobre povos
indígenas e tribais garante ao povo Gamela, no Piauí, a retomada de seu processo de auto-
organização na territorialidade da educação, notadamente da Educação Popular, como caminho
indissociável da luta pela libertação.
Expedições pedagógicas descolonias e auto-organização do povo Gamela no contexto da
comunidade laranjeiras
Especificamente, na atualidade das exigências do povo Gamela, a universidade, por
meio de processos educativos das expedições pedagógicas, vem acompanhado como a luta
indígena do povo Gamela aponta para o processo de fortalecimento da auto-organização na luta
pelo direito à terra, a partir da afirmação de identidade étnica. Basicamente partimos da
realidade social dos sujeitos, considerando a construção coletiva do conhecimento, por meio da
pedagogia participante e de metodologias participativas da Educação Popular.
A universidade, por meio de projetos de pesquisa e extensão, acompanha a comunidade
desde 2018. Na atualidade, queremos destacar que processos educativos das expedições foram
fortalecendo as ideias e práticas, auto-organizando para os direitos indígenas. Destacamos como
metodologias participativas das expedições pedagógicas: estágio de vivência e experiência e
oficinas de saberes na comunidade Gamela, que passamos brevemente a descrever e analisar
em sua prática educativa.
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Educação popular e expedições pedagógicas na prática educativa do povo indígena Gamela: Direitos e resistências étnicas
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– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1301-1320, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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Antes, é necessário situar nossa construção conceitual de expedições pedagógicas
descoloniais: são espaços educativos, autônomos e de formação em intercontextos e
interconhecimento entre universidade e comunidade, a partir de uma pedagogia dialógica entre
saberes científicos
– dos sujeitos da vivência e
saberes populares
– dos sujeitos da experiência
vivida, mediados por processos educativos da Educação Popular, paradigma de Ciência Própria
e o pensamento descolonial, que anunciam um novo modo de produção do conhecimento para
o bem viver. Dito isso, passamos a apontar a metodologia dos processos educativos das
expedições, no contexto do território indígena Gamela.
Estágio de Vivência e Experiência
– são as experiências em processo de
formação na
ação
, que resultam de atividades práticas, visitas de campo, mapeamento social do contexto de
atuação dos processos educativos da Educação Popular, ou seja, significa colocar os sujeitos
em processo de formação em contato direto com o campo de pesquisa e estudo, para
qualificação e compreensão adequada da leitura da realidade e dos contextos.
É o que denominamos de observação empírica participante, que se organiza em três
momentos:
participativa
– participação dos sujeitos em formações mediadas pelos aportes
teóricos – estudo da realidade a partir de pesquisa e relatos orais;
interventiva -
aplicação de
instrumentais necessários para levantamento de dados e informações a partir de visita de campo;
e a
autoeducativa –
momento de
organização dos dados de campo para devolução
sistematizada dos resultados em momento formativo com os sujeitos envolvidos na pesquisa e
sujeitos da comunidade, momento de qualificação dos dados a partir do diálogo entre os saberes
científicos e populares.
Essa observação participante, que tem na sistematização da experiência sua força, rejeita
a neutralidade do pensamento, possibilitando a autocrítica para pensar nossa própria prática
educativa. Medeiros (2010, p. 19) enfatiza: “Desse modo, optou-se por uma construção
metodológica que tanto recusa determinismos quanto a suposta neutralidade científica, sendo
tal opção parte de uma intencionalidade pedagógica e ético-política”. Ou seja,
A questão que se põe é, portanto, a de uma pedagogia que articule de forma
crítica e historicizadora a atividade educacional com a construção de uma
prática social revolucionária, ou seja, uma prática social que se posicione na
perspectiva de superação da sociedade burguesa (MARQUES; DUARTE,
2020, p. 2205).
É essa opção que fazemos no contexto histórico da luta do povo Gamela.
Nas expedições pedagógicas, registramos que a comunidade Laranjeiras do povo
indígena Gamela possui uma grande reserva de água doce, com rios, nascentes de olho d’água,
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brejos e riachos, zona estratégica de produção de água. A região do Vale do Gurgueia, com sua
rede hídrica, abastece quase todo o território piauiense, cujo marco hídrico é o Parque das
Nascentes do Rio Parnaíba. Para melhor compreensão dos estágios de vivência no território
Gamela, apresentamos momentos de registro de campo na comunidade:
Figura 1 –
Visita de Campo no Poço na Comunidade Indígena Gamela
Fonte: Universidade Popular (2021)
Figura 2 –
Visita nas roças na Comunidade Indígena Gamela
Fonte: Universidade Popular (2021)
As experiências nos estágios de vivência promovem a reconstituição da situação vivida:
reflexo, reflexão e abertura de possibilidades concretas para novas leituras sobre a realidade,
sobretudo, ao permitir a leitura da coisa em si, possibilita ultrapassar a leitura da coisa para si
– em momentos de sistematização da vivência. Na comunidade indígena do povo Gamela,
pesquisadores imersos na experiência da vivência compartilham com aqueles imersos na
experiencial real e cotidiana de moradores do território indígena, e projetam experiências como
alternativas na superação das tensões e conflitos, e como possibilidade de luta e resistência.
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Educação popular e expedições pedagógicas na prática educativa do povo indígena Gamela: Direitos e resistências étnicas
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Dessa forma, a experiência aponta e se projeta na formulação de uma consciência crítica
e autocrítica para construção de novos projetos existenciais, pois “na experiência histórica da
qual participo, o amanhã não é algo ‘pré-dado’, mas um desafio, um problema”, (FREIRE,
2000, p. 36). Nesse sentido, as expedições pedagógicas descoloniais permitem a experiência
em
lócus
a partir do interconhecimento entre os sujeitos da vivência e os sujeitos da experiência
vivida.
Os estágios de vivência são, portanto, um encontro da leitura da palavra a partir dos
aportes teóricos que iluminam o contexto e a leitura do mundo vivenciado e vivido pelos
sujeitos no território indígena. Após o encontro da teoria com a prática nos estágios de vivência
e experiência, retomamos as leituras teóricas, agora iluminados pelos dados da realidade, que
na pedagogia das oficinas de saberes são sistematizados e partilhados, e passamos a descrever
em síntese.
Oficinas de Saberes
– são espaços educativos e formativos de interconhecimento e
intercontexto entre universidade e comunidade indígena –
formação programada
– momento
em que se realiza a socialização dos resultados coletados e produzidos no campo, já
sistematizados, que deverão ser submetidos à apreciação e problematização da comunidade e
dos sujeitos participantes dos projetos para as novas formulações ou adequação aos conteúdos
da realidade, evitando a negação dos saberes originários, dos contextos e dos conteúdos das
demandas dos povos Gamela. Sobre a experiência das oficinas de saberes, destacamos alguns
momentos, a saber:
Figura 3 –
Oficina de saberes Agroextrativismo Sustentável do Povo Gamela
Fonte: Dados da pesquisa (2021)
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Figura 4 –
Oficina de saberes sobre território e água do Povo Gamela
Fonte: Dados da pesquisa (2020)
Figura 5
– Oficina de Saberes de Direitos do Povo Gamela com OAB- PI
Fonte: Dados da pesquisa (2021)
Nesses momentos de formação e auto-organização do povo indígena Gamela realizamos
a discussão da realidade a partir de temas geradores que envolvem o cotidiano das demandas
por direitos, que incluem as questões agrárias e o direito à terra; as questões ecológicas e
socioambientais, como a proteção de riachos, rios e brejos; as questões sustentáveis, que
envolvem a agricultura familiar. As oficinas de saberes são também espaços de audiência
pública com entidades de defesa dos povos indígenas e de órgãos indigenistas do estado.
Nas oficinas discutimos a visibilidade das questões étnicas do povo Gamela e a
necessidade de criarem uma organização ou associação Indígena do Povo Gamela como
instrumento de luta, conforme destaca a Resolução 169 (OIT, 2011, p. 6, grifo do autor):
[...] os povos indígenas e tribais também despertaram para a realidade de suas
origens étnicas e culturais e, consequentemente, para seu direito de serem
diferentes sem deixarem de ser iguais. Conscientes de sua importância e sob
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a orientação de sólidas organizações de promoção de seus interesses e
proteção de seus direitos, esses povos passaram a assumir, eles próprios, o
direito de reivindicar, acima de tudo, sua identidade étnica, cultural,
econômica e social, rejeitando, inclusive, serem chamados de “populações”.
Nesse sentido, as oficinas de saberes são organizadas de modo pedagógico, visando o
envolvimento dos participantes no processo de reflexão e tomada de decisão. Baseada no
princípio da construção coletiva do conhecimento da Educação Popular, as expedições
pedagógicas estão comprometidas em promover um encontro de amorosidade e esperançar com
a leitura da palavra dos povos originários, situados na leitura do mundo dos povos Gamela no
território indígenas. Esse momento é pedagogicamente subsidiado por palestras temáticas,
exposições fotográficas, elementos ancestrais da cultura indígena, elementos audiovisuais,
textos e contextos, dinâmicas de interação, elementos de leitura da conjuntura política, social e
econômica da comunidade e do território Gamela.
As oficinas de saberes são fundamentais no processo de autoidentificação dos povos
Gamelas, que passam a expressar sua identidade como um direito étnico de dizer sua palavra
depois de décadas de negação de sua identidade, como afirmam os indígenas na oficina de
saberes: “
Sou
indígena da comunidade Laranjeiras, morador, nascido e criado na comunidade
Laranjeiras
”; “
Como
filha de indígena e descendente indígena exigimos a regularização das
terras, sendo os 9 mil hectares
” (Entrevista oral, indígenas Gamelas, 2021). O direito à
autoidentificação, como previsto no relatório de qualificação de demanda fundiária da etnia
Gamela no sul do Piauí, apresentado pela SEI/FUNAI - 1891052 - Informação Técnica, afirma:
Por fornecerem um amplo espectro de dados que caracterizam o território do
Povo Gamela, tais ações se constituíram como fontes de complemento da
demanda fundiária da etnia. Diante disso, organiza-se o presente documento
com o objetivo de apresentar à Coordenação Regional Nordeste II da Funai o
conjunto de informações identificadas em campo e, desse modo, contribuir
para o planejamento e a execução de ações de promoção e proteção dos
direitos indígenas Gamela (FUNAI, 2020, p. 2).
Os indígenas da comunidade de Laranjeira, ao anunciarem sua autoidentificação,
encontram nas expedições pedagógicas, portanto, no papel social da universidade pública, um
espaço educativo de auto-organização e autorreflexão sobre as questões agrárias e fundiárias
que envolvem o direito à terra. Essas experiências apontam para um processo educativo que
Santos (2013, p. 471) chamou de revolução epistemológica no seio da universidade, que “[...]
consiste na promoção de diálogos entre saber científico ou humanístico, que a universidade
produz, e saberes leigos, populares, tradicionais, urbanos, camponeses, provindos de culturas
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não ocidentais (indígena, origem africana, oriental etc.)”. Esse autor definiu esse diálogo como
ecologia dos saberes.
Essa perspectiva aponta um caminho para ressignificação dos sentidos e os significados
de projeto de universidade para uma visão mais democrática e comprometida com os
conhecimentos populares que se realizam fora do espaço acadêmico e nas comunidades
tradicionais. A prática educativa que reencontra o mundo da teoria e o mundo da prática como
possibilidade de produção de um pensamento alternativo de conhecimento em seu conjunto de
relações, como proposto por Lefebvre (1983, p. 235):
A teoria emerge da prática e a ela retorna. A natureza se revela a nós pela
prática, pela experiência; e tão-somente pela prática é que dominamos de
modo efetivo. A prática, portanto, é o momento de toda teoria: momento
primeiro e último, imediato inicial e o retorno ao imediato. E vice-versa, a
teoria é o momento da prática desenvolvida, daquela que supera a simples
satisfação dos carecimentos imediatos.
Essa prática educativa desperta os sujeitos para a autoconsciência, a consciência crítica
em que o próprio ato de conhecer encontra os sentidos das relações sociais. Assim, as
expedições pedagógicas descoloniais está fundamentada na formação na ação – pelo exercício
da prática como critério de um conhecimento prudente, situado no mundo dos indígenas
Gamelas e das questões sociais em que estão submersos. Implica a formação programada que
se concentra em momentos de execução de ações e atividades planejadas com a comunidade –
cursos, oficinas, seminários, aulas públicas, audiências etc.
As experiências educativas do povo indígena Gamela se impõem ao epistemicídio e às
ideias coloniais, que Santos (2005, p. 23) define como: “[...] a morte de conhecimentos
alternativos acarretou a liquidação ou a subalternização dos grupos sociais cujas práticas
assentavam em tais conhecimentos.”. Contra o epistemicídio, a Educação Popular tira da
inviabilidade os saberes dos povos originários, mas decisivamente desoculta os contextos de
opressão que se estabelecem contra os direitos dos povos originários, que há mais de 500 anos
teimam em reproduzir a inferiorização dos conhecimentos dos povos indígenas e a negação de
seus direitos.
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Notas (in)conclusivas
A questão de partida continua aberta, em razão das dinâmicas e do movimento dos
processos educativos da Educação Popular no contexto da luta indígena Gamela, que continua
pulsante, agregando outras demandas educativas e étnicas. Diante dessa abertura dos processos
de luta do povo Gamela e da presença ativa da universidade no território indígena, apontamos
que as expedições pedagógicas descoloniais contribuem para o fortalecimento da auto-
organização dos povos indígenas Gamela na comunidade Laranjeiras.
Em igual sentido, potencializa a luta por direitos, que inclui a demanda fundiária e a
identidade étnica e a necessidade de políticas sociais de fortalecimento da relação dos povos
indígenas com o território. Fortalece uma nova lógica de produção de ciência para os direitos
dos povos originários, fundamentadas em uma epistemologia própria, contra o epistemicídio.
Nesse sentido, os sujeitos da universidade também aprendem como os saberes
originários dos povos indígenas e ressignificam os fundamentos e princípios da Educação
Popular. E, nesse itinerário, a universidade se soma às vozes que historicamente foram
silenciadas e invisibilizadas pelo pensamento colonial, que não apenas se apropriou de terras e
dos recursos naturais dos povos indígenas, mas significou um longo período de apagamento da
cultura dos povos originários, sobretudo no contexto do estado do Piauí.
A Educação Popular reafirma as experiências e os processos educativos e formativos do
povo indígena Gamela, a exemplo de processos educativos que envolvem o uso dos recursos
hídricos, o manejo sustentável das plantas nativas, como o buriti, o uso da terra como um bem
comum, e a luta pela posse da terra, enfatizando a diferença entre os direitos relacionados à
posse da terra indígena e da terra civil.
Há tempos a Educação Popular no Sul do Mundo Latino-americano fundamenta as
ideias de uma ciência própria, da constituição de uma educação contextualizada com a realidade
social e de uma prática educativa como uma construção incansável, que se realiza na luta das
classes populares e dos oprimidos. As ideias de ciência própria de Fals Borda (1981), a
Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire (1997), e os estudos sobre a ciência emergente de
Santos (2010), encontram na Educação Popular um aporte para discutir novos modos de
produção de conhecimento, de democratização da ciência e de universidade, mas,
decisivamente, como instrumento epistemológico que tem como essência um processo
descolonial cognitivo, social, político e econômico da cultura eurocêntrica e dos paradigmas
dominantes do cânone científico.
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Maria do Socorro Pereira da SILVA; Thaynan Alves dos SANTOS e José Wylk BRAUNA
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Esse pensamento alternativo tem sido o principal aporte epistemológico no processo de
descolonização dos sistemas de conhecimento que se impõem como verdade absoluta sobre as
formas de dominação das classes populares no Sul do Mundo Latino-americano, de modo
predatório sobre os povos indígenas no Brasil, como tem sido desde a invasão europeia. As
expedições pedagógicas são experiências descoloniais, o que significa esperançar com os povos
Gamelas.
A Educação Popular, como uma educação originária dos povos colonizados, promove
uma intervenção educativa na ação, transformando os contextos de opressão e subalternização,
compartilhando sonhos enraizados na construção de educação própria, que atualiza a
intervenção educativa da universidade para a defesa e proteção dos povos indígenas e ativa
novos saberes no cotidiano do território Gamela. Nesse sentido, as expedições pedagógicas
potencializam a auto-organização, ressignificam as práticas de resistência, articulam novos
modos de produção do conhecimento por meio das oficinas de saberes, das rodas de conversa,
e promovem a difusão científica mediada pela sistematização das ideias que se realiza nas
vivências, nas experiências e na construção popular na produção das ciências popular e
acadêmica.
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Como referenciar este artigo
SILVA, M. P. S.; SANTOS, T. A.; BRAUNA, J. W. Educação popular e expedições
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação
, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1301-
1320, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16979
Submetido
em
: 16/12/2021
Revisões requeridas
: 06/01/2022
Aprovado em
: 20/03/2022
Publicado em
: 30/06/2022
Processamento e edição: Editoria Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, padronização e tradução.
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Educación popular y expediciones pedagógicas en la práctica educativa de los indígenas Gamela: Derechos y resistencias étnicas
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1304-1324, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16979
1304
EDUCACIÓN POPULAR Y EXPEDICIONES PEDAGÓGICAS EN LA PRÁCTICA
EDUCATIVA DE LOS INDÍGENAS GAMELA: DERECHOS Y RESISTENCIAS
ÉTNICAS
EDUCAÇÃO POPULAR E EXPEDIÇÕES PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA EDUCATIVA
DO POVO INDÍGENA GAMELA: DIREITOS E RESISTÊNCIAS ÉTNICAS
POPULAR EDUCATION AND PEDAGOGICAL EXPEDITIONS IN THE
EDUCATIONAL PRACTICE OF THE GAMELA INDIGENOUS PEOPLE: RIGHTS
AND ETHNIC RESISTANCE
Maria do Socorro Pereira da SILVA
1
Thaynan Alves dos SANTOS
2
José Wylk Brauna da SILVA
3
RESUMEN
:
El conocimiento originario y ancestral del pueblo indígena Gamela, basado en la
Educación Popular, lidera la lucha por la permanencia en la tierra y la autoidentificación de su
etnia, y constituyen el tema central de este estudio. La pregunta de partida: ¿cómo contribuye
la Educación Popular a los procesos formativos y educativos en la lucha del pueblo indígena
Gamela, en la comunidad Laranjeiras en el sur de Piauí? El enfoque cualitativo, el tipo de
estudio investigación-acción participante, en Borda (1981), y el análisis dialéctico califican la
metodología de descolonización del conocimiento en la lucha por el derecho al territorio. Las
expediciones pedagógicas reafirman las experiencias, los procesos educativos y formativos del
pueblo indígena Gamela, basados en la educación para el uso de los recursos hídricos, para el
manejo sostenible de las plantas nativas, como el buriti, y la lucha por la tenencia de la tierra,
enfatizando la diferencia entre los derechos de la posesión de la tierra indígena y la tierra civil,
según lo dispuesto en la Constitución brasileña.
PALABRAS CLAVE
:
Educación popular. Expediciones pedagógicas. Pueblos indígenas
Gamela. Piauí.
RESUMO
:
Os saberes originários e ancestrais do povo indígena Gamela, fundamentados na
Educação Popular, protagonizam a luta pela permanência na terra e a autoidentificação de
sua etnia, e constituem o tema central desse estudo. O questionamento de partida: como a
Educação Popular contribui com processos formativos e educativos na luta do povo indígena
Gamela, na comunidade Laranjeiras no Sul do Piauí? A abordagem qualitativa, a pesquisa do
tipo investigação-ação participante, em Borda (1981), e a análise dialética qualificam a
1
Universidad Federal de Piauí (UFPI), Teresina
–
PI
–
Brasil. Profesora del Curso de Grado en Educación de
Campo. Doctorado en Educación (UFPI). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3877-2420. E-mail:
socorroprof@ufpi.edu.br
2
Universidad Federal del Sur de Bahía (UFSB), Teixeira de Freitas
–
BA
–
Brasil. Estudiante de Maestría en
Ciencias y Sostenibilidad. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0907-421X. E-mail:
thaynan12santosalves@hotmail.com
3
Universidad de Brasilia (UNB), Planaltina
–
DF
–
Brasil. Estudiante de Maestría en Desarrollo Rural y
Sostenibilidad. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1667-6032. E-mail: jwylk9@gmail.com
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Maria do Socorro Pereira da SILVA; Thaynan Alves dos SANTOS y José Wylk BRAUNA
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1304-1324, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16979
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metodologia de descolonização do conhecimento na luta pelo direito ao território. As
expedições pedagógicas reafirmam as experiências, os processos educativos e formativos do
povo indígena Gamela, baseado na educação para o uso dos recursos hídricos, para o manejo
sustentável das plantas nativas, como o buriti, e a luta pela posse da terra, enfatizando a
diferença entre os direitos da posse da terra indígena e da terra civil, conforme prevê a
constituição brasileira.
PALAVRAS-CHAVE
:
Educação popular. Expedições pedagógicas. Povos indígenas Gamela.
Piauí.
ABSTRACT
:
The original and ancestral knowledge of the Gamela indigenous people, based
on Popular Education, play a leading role in the struggle for permanence on the land and the
self-identification of their ethnicity, and constitute the central theme of this study. The starting
question: how does Popular Education contribute to formative and educational processes in
the struggle of the Gamela indigenous people, in the Laranjeiras community in the South of
Piauí? The qualitative approach, the research of the participatory action-research type, in
Borda (1981), and the dialectic analysis qualify the methodology of decolonization of
knowledge in the struggle for the right to territory. The educational expeditions reaffirm the
experiences, the educational and formative processes of the Gamela indigenous people, based
on education for the use of water resources, for the sustainable management of native plants,
such as the buriti, and the fight for land ownership, emphasizing the difference between the
rights of indigenous land ownership and civil land, as provided by the Brazilian constitution.
KEY WORDS
:
Popular education. Pedagogical expeditions. Gamela indigenous people. Piauí.
Voces indígenas en la "última frontera agrícola": enfoques disonares de la investigación
El legado decolonial de las voces indígenas es, y ha sido, disonante y disidente de la
política indigenista del Estado brasileño. El conocimiento de los pueblos originarios, a pesar de
las ideas coloniales, resulta de sus propios procesos educativos y no escolares, que en el
contexto del pueblo Gamela y los oprimidos, llamamos Educación Popular. Otro legado es la
lucha por la identidad étnica, es decir, la autoidentificación como pueblo indígena, inspirando
la lucha de los Gamelas. Y, en el contexto de la institucionalidad, la cuestión étnica del
reconocimiento de los pueblos indígenas califica las narrativas transmitidas oralmente entre las
diferentes generaciones; de memoria sobre la ascendencia; en las experiencias socioculturales,
las formas de vida y el goce común de la tierra y el territorio, no hay forma de hablar de pueblos
indígenas sin el derecho a la tierra.
En este contexto, la Educación Popular fortalece la autoorganización de los pueblos
indígenas Gamela, contribuyendo a la capacitación para el acceso a los derechos y la formación
para la incidencia política propositiva y exigente. Por lo tanto, nuestra pregunta de partida se
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Educación popular y expediciones pedagógicas en la práctica educativa de los indígenas Gamela: Derechos y resistencias étnicas
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sitúa en: ¿cómo contribuye la práctica de la Educación Popular a la lucha por el derecho a la
tierra indígena del pueblo Gamela
en la "Última Frontera Agrícola”, ¿frente al avance de la
agroindustria?
En el mismo sentido, situamos la relación entre el conocimiento indígena y el
conocimiento académico, mediada por la práctica educativa de expediciones pedagógicas
inspiradas en el pensamiento freiriano y el surgimiento de la realidad de los pueblos indígenas
gamela, que actualizan las demandas de la universidad. Sobre el pensamiento de Paulo Freire,
Jardilino y Soto-Arango, (2020, p. 1084) definen:
Lo que llamo la singularidad y universalidad del pensamiento de Freire no
debe leerse sólo en la repercusión de la acción práctica de su método de
alfabetización en Brasil y en el mundo, sino en su propuesta pedagógica de
una educación liberadora y sensibilizadora, que puede universalizarse en
cualquier espacio en el que hombres y mujeres se encuentren en una situación
de aculturación opresiva y deshumanizadora.
La práctica educativa de Freire basada en la Educación Popular inspira al pueblo
Gamela, en la lucha por el derecho a la tierra, a dar visibilidad a las tensiones y conflictos
agrarios, debido al derecho a la autoidentificación en la comunidad Laranjeiras, en el
suroccidente Piauí. Las tensiones más pronunciadas se relacionan con la relación con el estado
de Piauí, a través del Instituto de la Tierra de Piauí (INTERPI), y con el gobierno federal y la
Fundación Nacional del Indio (FUNAI). Con el INTERPI se encuentran cuestiones agrarias que
involucran la regularización de tierras de áreas de asentamiento dentro del territorio indígena,
cuya intervención política del estado ignora la existencia de la etnia gamela.
Con respecto a la FUNAI, destacamos la lentitud administrativa e institucional en el
proceso de demarcación de la tierra indígena Gamela, a pesar de la existencia de estudios para
calificar la demanda de tierras de este grupo étnico. Así, la narrativa del Estado brasileño se
establece no sólo por la negación étnica del pueblo gamela, sino por el ocultamiento de los
conflictos agrarios en la "última frontera agrícola" y los problemas socioambientales con la
devastación del bioma del cerrado por parte de la agroindustria.
Con respecto al
locus
del estudio, investigamos la comunidad tradicional de los pueblos
indígenas Gamela, que se encuentra en el municipio de Currais-PI, a 35 km de la sede del
municipio, en la comunidad rural de Laranjeiras. En el territorio residen 85 (ochenta y cinco)
familias que se autoidentifican como Gamelas Indígenas, que sobreviven de la agricultura
familiar.
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La comunidad vive principalmente de los campos de cultivo; la cría de
animales pequeños; mantenimiento de patios traseros productivos; la
producción de harina y el extractivismo del buriti (considerado sagrado y
utilizado tanto para la alimentación de las familias como para la fabricación
de diferentes piezas hechas a mano) (FUNAI, 2020, p. 16).
Mientras las agencias inician el proceso de reconocimiento del pueblo gamela en Piauí,
este grupo étnico ha habitado la región suroeste del estado durante generaciones.
En cuanto a la delimitación de la investigación, consideramos las expediciones
pedagógicas decoloniales realizadas por la universidad, a través del proyecto de extensión de
la Universidad Popular de los Cursos de Grado en Educación de Campo (LEDOC). Las
expediciones pedagógicas se articulan por la visibilización de los derechos agrarios, ecológicos
y de autoidentificación de los pueblos indígenas Gamelas, a partir de procesos educativos,
pedagógicos y políticos que fortalecen la autoorganización de los pueblos de la comunidad de
Laranjeiras.
Las expediciones pedagógicas decoloniales consideran los principios del Estado de
Buen Vivir, y reafirman la relación de interconocimiento entre el conocimiento popular y
científico a partir del Inter contexto entre comunidad y universidad. Las epistemologías de las
expediciones decoloniales se basan en los preceptos y fundamentos del paradigma de la Auto
ciencia (BORDA, 1985) y la práctica educativa de la Educación Popular (FREIRE, 1996). Sus
procesos educativos se organizan en: etapa de experiencia, talleres de conocimiento,
sistematización de experiencias y acciones de autoorganización de la comunidad indígena.
El artículo presenta la discusión en tres secciones, además de la introducción. En la
primera presentamos los fundamentos teóricos y epistemológicos que guían la investigación.
En el segundo, situamos brevemente el contexto histórico de la comunidad Laranjeiras y el
pueblo Gamela. En la tercera parte, relacionamos los procesos educativos de las expediciones
pedagógicas, destacando cómo el territorio educativo del pueblo Gamela actualiza la función
social y científica de la universidad pública respecto a los temas de derechos de los pueblos
originarios en la "última frontera agrícola". En conclusión, señalamos cómo la universidad
pública a través de la Educación Popular contribuye al fortalecimiento de la lucha por los
derechos junto con los pueblos indígenas Gamela, situando la territorialidad de los temas
educativos en el contexto de la lucha indígena por la autoidentificación en el estado De Piauí.
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Educación popular y expediciones pedagógicas en la práctica educativa de los indígenas Gamela: Derechos y resistencias étnicas
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Educación popular y expediciones pedagógicas decoloniales: Educación disidente del
pueblo indígena gamela
Si bien Brasil reconoce la existencia de pueblos indígenas a través de la demarcación de
sus tierras en gran parte del territorio brasileño, solo en 2020 el gobierno de Piauí reconoció
formal y expresamente la existencia de pueblos indígenas en el estado. Este reconocimiento es
el resultado de la lucha de los pueblos piauienses, debido a los conflictos agrarios que se
aceleran con el avance de la agroindustria y las instalaciones de grandes empresas en
comunidades tradicionales y tierras indígenas.
En este contexto, la territorialidad de la educación en los procesos educativas de los
pueblos indígenas, específicamente del pueblo Gamela, encuentra en la Educación Popular una
pedagogía alternativa en la producción de conocimiento basada en una intervención
socioeducativa y política de los oprimidos y excluidos en el mundo: el derecho a decir su
palabra. Así, la Educación Popular considera, como contenido central de sus procesos
educativos, la realidad social de los sujetos en formación, es decir, parte de las experiencias de
los pueblos indígenas como grupos étnicos que han sido históricamente negados e invisibles en
la formación social brasileña.
En este sentido, los fundamentos epistemológicos y metodológicos de la Educación
Popular que guían las expediciones pedagógicas decoloniales en la mediación del conocimiento
con el pueblo gamela en la lucha por la permanencia en la tierra indígena son: la realidad y
práctica social de los sujetos como locus de conocimiento; la pedagogía de la acción-
participante; la construcción colectiva del conocimiento; las metodologías participantes; la
transformación de la realidad social; el proyecto de sociedad del bien para vivir como un
construcción de los pueblos originarios.
Para hablar del Buen Vivir, es necesario recurrir a las experiencias, visiones y
propuestas de pueblos que, dentro y fuera del mundo andino y amazónico, se
han comprometido a vivir en armonía con la naturaleza, y que poseen una
larga y profunda historia, aún bastante desconocida e incluso marginada.
Fueron capaces de resistir, a su manera, un colonialismo que dura más de
quinientos años, imaginando un futuro distinto que podría contribuir en gran
medida a los grandes debates globales (COSTA, 2016, p. 19-20).
Esta epistemología original se basa entre el conocimiento popular e indígena como
lecturas propias, en las que el "[...] ' lectura del mundo' y la 'lectura de la palabra' se imponen
como una práctica indispensable en la reinvención del mundo. La asunción de nosotros mismos
como sujetos y objetos de la historia nos convierte en seres de decisión, de ruptura, de elección,
seres éticos" (FREIRE, 2014, p. 66). Los indígenas Gamela reivindican el legado histórico de
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la Educación Popular como lugar epistemológico de organización de su existencia y
reexistencia.
La etnia gamela reencuentra en la Educación Popular su relación ancestral con los temas
ambientales, ecológicos y agrarios de la tierra indígena, como sujetos históricos que llevan
siglos de resistencia por una forma de vivir bien. Segundo INFORME DE CALIFICACIÓN de
la FUNAI (2020, p. 14): "[...] los pueblos indígenas eran responsables de la conservación del
territorio, porque preservaban los pantanos, mantenían una relación sagrada con los buritizais
y no deforestaban áreas de preservación permanente", es decir, los datos de campo de la funai
califican a las Gamelas como protectoras del bioma del cerrado, frente a conflictos agrarios y
socioambientales, pues como lo demuestra el goce común de las áreas de
“
cerrado
”
, las casas
harineras, los "templos de las aguas", los usos diversificados conferidos a los buritis, las redes
de solidaridad desencadenadas entre los núcleos, las relaciones establecidas con los espíritus
"
encantados
" ("
cabocos
"/"
cumpades
") y también las experiencias de expropiación territorial
vividas desde la tierra y los conflictos socioambientales.
La territorialidad de la Educación Popular en el contexto de los procesos educativos de
la educación indígena reafirma una pedagogía participante que se opone a la pedagogía de la
exclusión y la dominación. La Educación Popular, en el contexto de los pueblos indígenas
Gamela, tiene como base educativa una pedagogía dialógica referenciada en una epistemología
decolonial, que reafirma la memoria histórica de resistencia y liberación de los pueblos
indígenas de la colonización europea.
Considerando este paradigma, las expediciones pedagógicas representan el vínculo de
la universidad pública con las demandas actuales de los derechos y luchas de los pueblos
indígenas gamelas, anunciadas desde otro paradigma de la ciencia y la universidad pública.
"¿Podemos concebir en la universidad en diaspora que se juzgue según sus efectos sociales de
conjunto y no por facilidades físicas? ¿Podemos articular este camino y permanentemente el
conocimiento teórico con la práctica?"
4
. En esta construcción, "[...] La Educación Popular
posibilita el diálogo del conocimiento popular, la cultura popular con el conocimiento
socialmente producido y sistematizado [...] son conocimientos de una epistemología que une
acción-reflexión". (STRECK
et al.,
2014, p. 93). La práctica educativa universitaria cambia,
como también se transforma cuando reconoce otros conocimientos necesarios para la
producción de ciencia para el bien de vivir. Por eso los Gamelas se esfuerzan por hacer del acto
4
Traducción: "¿Podemos concebir una universidad en la diáspora, que se juzga de acuerdo con sus efectos sociales
del todo y no por las instalaciones físicas? ¿Podemos articular este camino y el conocimiento teórico permanente
con la práctica?" (RIM, 1981, p. 199).
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Educación popular y expediciones pedagógicas en la práctica educativa de los indígenas Gamela: Derechos y resistencias étnicas
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educativo un camino hacia una conciencia crítica y participación activa en la transformación de
la realidad que viven en la comunidad indígena.
La inteligibilidad entre lo popular y lo científico son formas de experimentar la ciencia
en la producción de conocimiento prudente para una vida digna (SANTOS, 2010). Partiendo
de este supuesto, la universidad debe comprometerse con la formación de individuos que, en su
conocimiento, produzcan para el bien común y para una vida justa de todos y todas.
Para lograr este objetivo, es decir,
Para apoyar estos procesos, necesitamos universidades democráticas y
altruistas que fomenten la participación activa de los estudiantes en la
búsqueda de nuevos conocimientos y, en esta medida, consideren la
investigación como herramientas pedagógicas de mayor valor, como base de
la autonomía académica (BORDE; MORA-OSEJO, 2003, p. 720).
La universidad pública, a través de las dimensiones de investigación y extensión, ha
venido contribuyendo a la emancipación de los oprimidos y de los pueblos originarios en la
lucha por los derechos.
Así, las expediciones pedagógicas apuntan a la descolonización del conocimiento
científico y la emancipación de las inteligencias en la producción de una educación como
práctica de libertad. El interconocimiento entre la pedagogía científica y la pedagogía de los
oprimidos, en el núcleo de la Educación Popular, resulta del pensamiento disidente de la ciencia
eurocéntrica y el paradigma tradicional de la educación hacia y sin las clases populares. Así,
como afirma Paulo Freire (1998, p. 20):
[...] lo que hemos llamado la Pedagogía del Oprimido: una que debe forjarse
con él y no para él, como hombres o pueblos, en la lucha incesante por la
recuperación de su humanidad. Pedagogía que hace de la opresión y sus causas
objeto de reflexión de los oprimidos, que resultará en su necesaria
participación en la lucha por su liberación, en la que esta pedagogía será hecha
y rehecha.
La Pedagogía del Oprimido comienza a imprimir una nueva concepción educativa en la
universidad, con la implementación de cursos de Grados en Educación de Campo (LEDOC) en
la UFPI. Cabe destacar que estos cursos son el resultado de proyectos educativos en contextos
no escolares mediados por la Educación Popular. La extensión universitaria de carácter popular
y decolonial ha sido el espacio educativo en la universidad para dialogar con el territorio
educativo del pueblo Gamela, que se ha presentado como demandas para la actualidad de la
universidad temas como: los derechos relacionados con la demarcación de tierras indígenas, la
protección de los recursos hídricos de la comunidad como pantanos y arroyos y manantiales, y
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Maria do Socorro Pereira da SILVA; Thaynan Alves dos SANTOS y José Wylk BRAUNA
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la autoidentificación y construcción de su autoorganización dentro de las luchas de los pueblos
indígenas.
Comunidad tradicional laranjerias como territorio educativo del pueblo indígena Gamela
Según el Instituto Brasileño de Geografía y Estadística (IBGE, 2010), el 34% de la
población de Piauí vive en la zona rural. Cuando revisamos esta estadística en la región suroeste
del estado, la población rural es del 41%, es decir, es una región de marcada ruralidad. La región
suroeste tiene un fuerte potencial hídrico, tiene grandes extensiones de tierra, incidencia para la
energía solar, monocultivos para la agricultura empresarial
–
agroindustria y agricultura
familiar campesina como vectores para el desarrollo económico de Piauí.
La agricultura familiar tiene una relación directa con la reducción de la pobreza en el
estado de Piauí, debido a "las políticas implementadas por el gobierno estatal a favor de la
pequeña agricultura (agricultura familiar). Es decir, la reducción de la pobreza a través de la
inclusión productiva" (PIAUÍ, 2013, p. 81). Por lo tanto, la agricultura familiar campesina es
vista como un campo estratégico de desarrollo económico en esa región. A pesar de ello, las
poblaciones campesinas e indígenas tradicionales enfrentan el avance del proceso de
expropiación y acaparamiento de tierras de sus tierras productivas, que desde la década de 1990
ha sido llevado a cabo por empresas agroindustriales. Y, en línea con este contexto, los pueblos
indígenas sufren la falta de inversiones en agricultura familiar por parte del gobierno estatal,
que recientemente inició el proceso de titularización de tierras para estas comunidades y grupos
étnicos.
Con una población de aproximadamente 4.968 habitantes, el municipio de Currais es
básicamente rural, y la mayoría de la población vive de la agricultura familiar. Este municipio
se encuentra a 660 kilómetros de la capital, Teresina. Currais es un territorio con potencial de
desarrollo económico, ocupando grandes extensiones de tierra en la región del Valle de
Gurgueia en la producción de monocultivo de soja, en el territorio de las chapadas Mangabeiras.
A pesar de las ganancias económicas con la agroindustria, esta realidad contrasta como el
empobrecido paisaje urbano y rural, como una imagen invertida, en la que la acumulación de
riqueza no significa reducción de la pobreza; por el contrario, aumenta los extractos sociales de
personas miserables en la región suroccidental de Piauí.
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Educación popular y expediciones pedagógicas en la práctica educativa de los indígenas Gamela: Derechos y resistencias étnicas
RIAEE
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação
,
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1312
Currais se encuentra en la región sur de Piauí, conocida como "la última frontera
agrícola" o, también, como la gran región de desarrollo caracterizada por MATOPIBA
5
, un área
que se encuentra en el centro de la disputa agroindustrial, que avanza sobre el bioma del cerrado,
promoviendo transformaciones socioespaciales y económicas en las formas de vida de la
población de la región, especialmente de los pueblos originarios y comunidades tradicionales.
Por lo tanto, la comunidad tradicional del pueblo Gamela se encuentra en la región de
MATOPIBA, que involucra a los estados de Maranhão, Tocantins, Piauí y Bahía.
En Piauí, esta delimitación geopolítica y económica intensificó los conflictos agrarios y
ambientales en el bioma del cerrado. Según Boletín 1
–
Gamelas Indígenas en el Cerrado
piauiense: "Esta situación derivó en el estallido de conflictos socioambientales y la constitución
de acciones de movilización social que han derivado en el surgimiento étnico de centros
familiares que tradicionalmente habitan la región y que se designan a sí mismos como pueblos
cerrados" (LIMA; NASCIMENTO, 2020, p. 1). En esta región, la agricultura familiar
campesina y la expansión de la agroindustria se presentan como proyectos antagónicos de
desarrollo económico y proyecto de sostenibilidad ambiental en las zonas rurales.
Si bien la agroindustria está organizada por la lógica de la comercialización de la
producción a gran escala para los mercados mundiales de exportación, basada en el
monocultivo, la agricultura familiar agroecológica y agroforestal ha sido responsable de
asegurar alimentos para el 80% de la población brasileña. En este contexto, la agroindustria
ocupa grandes extensiones territoriales, en medio de la intensa degradación ambiental y hídrica
de manantiales, pantanos y arroyos; impone relaciones laborales análogas al trabajo esclavo; y
es el principal agente de conflictos agrarios y de tierras con los pueblos indígenas gamela en
relación con el derecho a la tierra.
La narrativa del desarrollo económico esconde conflictos, impasses y desafíos para los
pueblos indígenas Gamelas, ante el avance de la agroindustria, que marca la disputa por las
tierras productivas y los recursos hídricos. La territorialidad de la educación, específicamente
de la Educación país, mediada por la Educación Popular, ha venido promoviendo procesos
educativos de autoformación del pueblo Gamela en la autoafirmación de su etnia.
5
"La expresión MATOPIBA se refiere a un acrónimo formado con las siglas de los estados de Maranhão,
Tocantins, Piauí y Bahía. MATOPIBA se oficializó como región a través del Decreto N° 8.447 del 6 de mayo de
2015, que trata sobre el Plan de Desarrollo Agrícola de MATOPIBA, cuyo propósito era promover y coordinar
políticas públicas orientadas al desarrollo económico sostenible basado en actividades agrícolas y ganaderas"
(RIBEIRO
et al.
, 2020, p. 2).
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Maria do Socorro Pereira da SILVA; Thaynan Alves dos SANTOS y José Wylk BRAUNA
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LEDOC es el
locus
organización de expediciones pedagógicas decoloniales, cuyo
compromiso surge de una acción pedagógica y política con pueblos indígenas y campesinos en
la lucha por los derechos, actualmente, con los pueblos Gamelas. Según Silva (2020, p. 2383-
2384):
Campo Educación tiene las marcas originales de un proyecto educativo que
rompe con el paradigma de la ciencia hegemónica en la universidad. Es un
giro epistemológico liderado por los movimientos sociales del campo por una
política educativa de valoración de los sujetos, contextos y conocimientos de
los campesinos en la lucha por la reforma agraria en Brasil.
La Educación de campo se suma a las voces disonares de la universidad con las voces
disidentes de los indígenas Gamelas en las zonas rurales. En este campo de interconocimiento
e intercontexto, el pensamiento freiriano asegura las bases epistemológicas de una universidad
cuyo conocimiento científico subyace a su intervención en la formulación del conocimiento de
los pueblos originarios. Es un rescate epistemológico de la universidad para el campo de la
acción cultural y el compromiso social con la lucha de los oprimidos.
Los Indígenas Gamelas de la comunidad Laranjeiras reconocen que la regularización de
la tierra es una demanda étnica; y el reconocimiento de la tierra indígena por parte del Estado
en el suroccidente Piauí pasa por el proceso de autoorganización y fortalecimiento de la lucha
colectiva por el derecho a la autoidentificación. De conformidad con el Convenio 169 de las
Naciones Unidas sobre pueblos indígenas y tribales, a saber:
La identidad propia indígena o tribal es una innovación del instrumento, al
establecerlo como un criterio subjetivo pero fundamental para la definición de
los pueblos sujetos al Convenio, es decir, ningún Estado o grupo social tiene
derecho a negar la identidad a un pueblo indígena o tribal que como tal se
reconoce a sí mismo (OIT, 2011, p. 8).
Por lo tanto, el derecho a la autoidentificación regulado por el Convenio No. 169 sobre
pueblos indígenas y tribales garantiza al pueblo Gamela, en Piauí, la reanudación de su proceso
de autoorganización en la territorialidad de la educación asiente.
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Expediciones pedagógicas decoloniales y autoorganización del pueblo Gamela en el
contexto de la comunidad Laranjeiras
Específicamente, hoy en día las demandas del pueblo Gamela, la universidad, a través
de procesos educativos de expediciones pedagógicas, se acompaña como la lucha indígena del
pueblo Gamela apunta al proceso de fortalecimiento de la autoorganización en la lucha por el
derecho a la tierra, basada en la afirmación de la identidad étnica. Básicamente partimos de la
realidad social de los sujetos, considerando la construcción colectiva del conocimiento, a través
de la pedagogía participante y las metodologías participativas de la Educación Popular.
La universidad, a través de proyectos de investigación y extensión, acompaña a la
comunidad desde 2018. Hoy en día, queremos destacar que los procesos educativos de
expediciones han ido fortaleciendo ideas y prácticas, autoorganizándose por los derechos
indígenas. Destacamos como metodologías participativas de expediciones pedagógicas: etapa
de experiencia y talleres de experiencia y conocimiento en la comunidad Gamela, que
brevemente comenzamos a describir y analizar en su práctica educativa.
Más bien, es necesario situar nuestra construcción conceptual de las expediciones
pedagógicas decoloniales: son espacios educativos, autónomos y formativos en intercontextos
e interconocimiento entre universidad y comunidad, desde una
pedagogía
dialógica entre el
conocimiento científico
–
desde los sujetos de la experiencia y el
conocimiento popular
–
de
los sujetos de la experiencia vivida, mediados por procesos educativos de Educación Popular,
paradigma de la Autociencia y el pensamiento decolonial, que anuncian un nuevo modo de
producción de conocimiento para el bien de vivir. Dicho esto, comenzamos a señalar la
metodología de los procesos educativos de las expediciones, en el contexto del territorio
indígena Gamela.
Experiencia y Experiencia Pasantía
–
son las experiencias en el proceso de
formación
en acción
, que resultan de actividades prácticas, visitas de campo, mapeo social del contexto
de acción de los procesos educativos de la Educación Popular, es decir, significa poner a los
sujetos en proceso de formación en contacto directo con el campo de la investigación y el
estudio, para la calificación y comprensión adecuada de la lectura de la realidad y los contextos.
Esto es lo que llamamos observación empírica participante, que se organiza en tres
momentos:
participativo
- participación de sujetos en formaciones mediadas por
contribuciones teóricas - estudio de la realidad a partir de investigaciones e informes orales;
intervencionista -
aplicación de instrumentos necesarios para la recolección de datos e
información de la visita de campo; y
autoeducativo -
momento de organización de los datos
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de campo para la devolución sistematizada de resultados en momento formativo con los sujetos
involucrados en la investigación y sujetos de la comunidad, momento de calificación de los
datos a partir del diálogo entre el conocimiento científico y popular.
Esta observación participante, que tiene en la sistematización de la experiencia su
fuerza, rechaza la neutralidad del pensamiento, posibilitando la autocrítica para pensar en
nuestra propia práctica educativa. Medeiros (2010, p. 19) destaca: "Así, optamos por una
construcción metodológica que rechaza tanto los determinismos como la supuesta neutralidad
científica, siendo esta opción parte de una intencionalidad pedagógica y ético-política". Es decir
La cuestión que se plantea es, por tanto, la de una pedagogía que articule de
manera crítica e historizadora la actividad educativa con la construcción de
una práctica social revolucionaria, es decir, una práctica social que se
posicione en la perspectiva de la superación de la sociedad burguesa
(MARQUES; DUARTE, 2020, p. 2205).
Es esta opción la que hacemos en el contexto histórico de la lucha del pueblo Gamela.
En las expediciones pedagógicas, registramos que la comunidad Laranjeiras del pueblo
indígena Gamela cuenta con una gran reserva de agua dulce, con ríos, manantiales de anuros,
pantanos y arroyos, área estratégica de producción de agua. La región del Valle de Gurgueia,
con su red de agua, abastece a casi todo el territorio de Piaui, cuyo hito hídrico es el Parque das
Nascentes da Rio Parnaíba. Para comprender mejor las etapas de la experiencia en el territorio
Gamela, presentamos momentos de registro de campo en la comunidad:
Figura 1
–
Visita de campo en el pozo de la comunidad indígena Gamela
Fuente: Universidad Popular (2021)
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Educación popular y expediciones pedagógicas en la práctica educativa de los indígenas Gamela: Derechos y resistencias étnicas
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Figura 2
–
Visita en los jardines de la Comunidad Indígena Gamela
Fuente: Universidad Popular (2021)
Las experiencias en las etapas de la experiencia promueven la reconstitución de la
situación vivida: la reflexión, la reflexión y la apertura de posibilidades concretas para nuevas
lecturas sobre la realidad, especialmente al permitir la lectura de la cosa misma, permite superar
la lectura de la cosa por sí misma, en momentos de sistematización de la experiencia. En la
comunidad indígena del pueblo Gamela, investigadores inmersos en la experiencia de vivir
comparten con quienes están inmersos en la experiencia experiencial real y cotidiana de los
residentes del territorio indígena, y proyectan experiencias como alternativas en la superación
de tensiones y conflictos, y como una posibilidad de lucha y resistencia.
Así, la experiencia señala y se proyecta en la formulación de una conciencia crítica y
autocrítica para la construcción de nuevos proyectos existenciales, porque "en la experiencia
histórica en la que participo, el mañana no es algo 'pre-dado', sino un desafío, un problema"
(FREIRE, 2000, p. 36). En este sentido, las expediciones pedagógicas decoloniales permiten la
experiencia
locus
desde el interconocimiento entre los sujetos de la experiencia y los sujetos de
la experiencia vivida.
Las etapas de la experiencia son, por lo tanto, un encuentro de la lectura de la palabra a
partir de los aportes teóricos que iluminan el contexto y la lectura del mundo vivido y vivido
por los sujetos en el territorio indígena. Tras el encuentro de la teoría con la práctica en las
etapas de experiencia y experiencia, retomamos las lecturas teóricas, ahora iluminadas por los
datos de la realidad, que en la pedagogía del conocimiento se sistematizan y comparten talleres,
y comenzamos a describir, en síntesis.
Talleres de conocimiento
–
son espacios educativos y formativos de interconocimiento
e intercontexto entre universidad y comunidad indígena
–
capacitación programada
–
cuando
la socialización de los resultados recolectados y producidos en el campo, ya sistematizados, que
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deben ser sometidos a la apreciación y problematización de la comunidad y los sujetos
participantes en los proyectos para las nuevas formulaciones o adaptación a los contenidos de
la realidad, evitando la negación de los conocimientos, contextos y contenidos originales de las
demandas de los pueblos Gamela. Sobre la experiencia de los talleres de conocimiento,
destacamos algunos momentos, es decir:
Figura 3
–
Taller de Conocimiento de Agroextractivismo Sostenible del Pueblo Gamela
Fuente: Datos de la encuesta (2021)
Figura 4
–
Taller de Territorio Popular Gamela y Agua
Fuente: Datos de la encuesta (2020)
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Educación popular y expediciones pedagógicas en la práctica educativa de los indígenas Gamela: Derechos y resistencias étnicas
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Figura 5
–
Taller de conocimiento de los derechos de las personas de Gamela con OAB-PI
Fuente: Datos de la encuesta (2021)
En estos momentos de formación y autoorganización del pueblo indígena Gamela,
discutimos la realidad a partir de la generación de temas que involucran las demandas cotidianas
de derechos, que incluyen temas agrarios y el derecho a la tierra; cuestiones ecológicas y
socioambientales, como la protección de arroyos, ríos y pantanos; cuestiones sostenibles
relacionadas con la agricultura familiar. Los talleres de conocimiento también son espacios
públicos de audiencia con entidades defensoras de los pueblos indígenas y órganos indigenistas
del Estado.
En los talleres discutimos la visibilidad de los problemas étnicos del pueblo Gamela y
la necesidad de crear una organización o asociación indígena del Pueblo Gamela como
instrumento de lucha, como lo destaca la Resolución 169 (OIT, 2011, p. 6, el grifo del autor):
[...] los pueblos indígenas y tribales también despertaron a la realidad de sus
orígenes étnicos y culturales y, en consecuencia, a su derecho a ser diferentes
sin dejar de ser iguales. Conscientes de su importancia y bajo la guía de sólidas
organizaciones promotoras de sus intereses y protegiendo sus derechos, estos
pueblos comenzaron a asumir, por sí mismos, el derecho a reivindicar, sobre
todo, su identidad étnica, cultural, económica y social, rechazando incluso ser
llamados "poblaciones".
En este sentido, los talleres de conocimiento se organizan de forma pedagógica, con el
objetivo de involucrar a los participantes en el proceso de reflexión y toma de decisiones.
Partiendo del principio de la construcción colectiva del conocimiento de la Educación Popular,
las expediciones pedagógicas se comprometen a promover un encuentro de amor y esperanza
con la lectura de la palabra de los pueblos originarios, situados en la lectura del mundo de los
pueblos Gamela en el territorio indígena. Este momento es subvencionado pedagógicamente
por conferencias temáticas, exposiciones fotográficas, elementos ancestrales de la cultura
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indígena, elementos audiovisuales, textos y contextos, dinámicas de interacción, elementos de
lectura de la coyuntura política, social y económica de la comunidad y el territorio Gamela.
Los talleres de conocimiento son fundamentales en el proceso de autoidentificación de
los pueblos Gamelas, quienes comienzan a expresar su identidad como un derecho étnico a
decir su palabra después de décadas de negación de su identidad, como dicen los indígenas en
el taller de conocimiento: "
Soy indígena de la comunidad Laranjeiras, residente, nacido y
criado en la comunidad Laranjeiras
"; "
Como hija de indígenas y descendientes indígenas
exigimos la regularización de la tierra, siendo las 9.000 hectáreas
" (Entrevista oral, Gamelas
Indígenas, 2021). El derecho a la autoidentificación, según lo previsto enel informe de
calificación de la demanda de tierras de la etnia gamela en el sur de Piauí, presentado por
SEI/FUNAI - 1891052 - Información Técnica, establece:
Debido a que proporcionan un amplio espectro de datos que caracterizan el
territorio del Pueblo Gamela, tales acciones se constituyeron como fuentes de
complemento a la demanda de tierras del grupo étnico. Por lo tanto, este
documento se organiza con el objetivo de presentar a la Coordinación
Regional Nordeste II de la FUNAI el conjunto de información identificada en
el campo y, así, contribuir a la planificación y ejecución de acciones para
promover y proteger los derechos indígenas Gamela (FUNAI, 2020, p. 2).
Los pueblos indígenas de la comunidad de Laranjeira, al anunciar su autoidentificación,
encuentran en las expediciones pedagógicas, por lo tanto, en el rol social de la universidad
pública, un espacio educativo de autoorganización y autorreflexión sobre los temas agrarios y
de tierra que involucran el derecho a la tierra. Estas experiencias apuntan a un proceso educativo
que Santos (2013, p. 471) llamó una revolución epistemológica dentro de la universidad, que
"[...] consiste en la promoción de diálogos entre el conocimiento científico o humanístico, que
produce la universidad, y el conocimiento laico, popular, tradicional, urbano, campesino,
proveniente de culturas no occidentales (indígenas, de origen africano, orientales, etc.)". Este
autor definió este diálogo como la ecología del conocimiento.
Esta perspectiva apunta a un camino de resignificación de los significados y significados
de un proyecto universitario hacia una visión más democrática y comprometida con el
conocimiento popular que se da fuera del espacio académico y en las comunidades
tradicionales. La práctica educativa que refina el mundo de la teoría y el mundo de la práctica
como una posibilidad de producir un pensamiento alternativo del conocimiento en su conjunto
de relaciones, como propone Lefebvre (1983, p. 235):
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Educación popular y expediciones pedagógicas en la práctica educativa de los indígenas Gamela: Derechos y resistencias étnicas
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La teoría emerge de la práctica y vuelve a ella. La naturaleza se nos revela por
la práctica, por la experiencia; y sólo por la práctica dominamos
efectivamente. La práctica, por lo tanto, es el momento de toda teoría: primer
y último momento, inmediato inicial y retorno a lo inmediato. Y viceversa, la
teoría es el momento de la práctica desarrollada, de la que supera la simple
satisfacción de los cuidados inmediatos.
Esta práctica educativa despierta a los sujetos a la autoconciencia, la conciencia crítica
en la que el acto mismo de conocer encuentra los significados de las relaciones sociales. Así,
las expediciones pedagógicas decoloniales se basan en la formación en acción, mediante el
ejercicio de la práctica como criterio de conocimiento prudente, situado en el mundo de los
indígenas Gamelas y las cuestiones sociales en las que están sumergidos. Implica la
capacitación programada que se enfoca en momentos de ejecución de acciones y actividades
planificadas con la comunidad
–
cursos, talleres, seminarios, clases públicas, audiencias, etc.
Las experiencias educativas del pueblo indígena Gamela se imponen sobre el
epistemicidio y las ideas coloniales, que Santos (2005, p. 23) define como: "[...] la muerte del
conocimiento alternativo condujo a la liquidación o subalternización de grupos sociales cuyas
prácticas se basaban en dicho conocimiento". Contra el epistemicidio, la Educación Popular
toma de la inviabilidad el conocimiento de los pueblos originarios, pero oculta decididamente
los contextos de opresión que se establecen contra los derechos de los pueblos originarios, que
desde hace más de 500 años insisten en reproducir la inferiorización del conocimiento de los
pueblos indígenas y la negación de sus derechos.
Notas (en)concluyentes
El tema de la partida sigue abierto, debido a la dinámica y movimiento de los procesos
educativos de la Educación Popular en el contexto de la lucha indígena Gamela, que sigue
palpitando, sumando otras demandas educativas y étnicas. Ante esta apertura de los procesos
de lucha del pueblo gamela y la presencia activa de la universidad en el territorio indígena,
señalamos que las expediciones pedagógicas decoloniales contribuyen al fortalecimiento de la
autoorganización de los pueblos indígenas gamelas en la comunidad Laranjeiras.
En el mismo sentido, potencia la lucha por los derechos, que incluye la demanda de
tierras e identidad étnica y la necesidad de políticas sociales que fortalezcan la relación de los
pueblos indígenas con el territorio. Fortalece una nueva lógica de producción científica por los
derechos de los pueblos originarios, basada en su propia epistemología, contra el epistemicidio.
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En este sentido, los sujetos de la universidad también aprenden cómo los conocimientos
originarios de los pueblos indígenas y significan los fundamentos y principios de la Educación
Popular. Y, en este itinerario, la universidad se suma a las voces que históricamente han sido
silenciadas e invisibilizadas por el pensamiento colonial, que no solo se apropió de las tierras y
los recursos naturales de los pueblos indígenas, sino que significó un largo período de borrado
de la cultura de los pueblos originarios, especialmente en el contexto del estado de Piauí.
La Educación Popular reafirma las experiencias y procesos educativos y formativos del
pueblo indígena Gamela, como los procesos educativos que involucran el uso de los recursos
hídricos, el manejo sostenible de las plantas nativas, como el buriti, el uso de la tierra como un
bien común y la lucha por la propiedad de la tierra, enfatizando la diferencia entre los derechos
relacionados con la posesión de la tierra indígena y la tierra civil.
La Educación Popular en el Sur del Mundo Latinoamericano se ha basado durante
mucho tiempo en las ideas de su propia ciencia, la constitución de una educación
contextualizada con la realidad social y una práctica educativa como una construcción
incansable, que tiene lugar en la lucha de las clases populares y los oprimidos. Las ideas de la
propia ciencia de Fals Borda (1981), Pedagogía del Oprimido de Paulo Freire (1997), y los
estudios sobre la ciencia emergente de Santos (2010), encuentran en la Educación Popular un
aporte para discutir nuevos modos de producción de conocimiento, democratización de la
ciencia y la universidad, pero, decisivamente, como instrumento epistemológico que tiene como
esencia un proceso colonial poco cognitivo, social, política y económica de la cultura
eurocéntrica y los paradigmas dominantes del canon científico.
Este pensamiento alternativo ha sido el principal aporte epistemológico en el proceso de
descolonización de los sistemas de conocimiento que se imponen como verdad absoluta sobre
las formas de dominación de las clases populares en el sur del mundo latinoamericano, de
manera depredadora sobre los pueblos indígenas en Brasil, como lo ha sido desde la invasión
europea. Las expediciones pedagógicas son experiencias decoloniales, lo que significa esperar
con los pueblos Gamelas.
La Educación Popular, como educación originada en los pueblos colonizados, promueve
una intervención educativa en la acción, transformando los contextos de opresión y
subalternización, compartiendo sueños arraigados en la construcción de su propia educación,
que actualiza la intervención educativa de la universidad para la defensa y protección de los
pueblos indígenas y activa nuevos conocimientos en la vida cotidiana del territorio Gamela. En
este sentido, las expediciones pedagógicas potencian la autoorganización, resignifican las
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prácticas de resistencia, articulan nuevos modos de producción de conocimiento a través de
talleres de conocimiento, ruedas de conversación, y promueven la difusión científica mediada
por la sistematización de ideas que se da en experiencias, experiencias y construcción popular
en la producción de ciencias populares y académicas.
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Cómo hacer referencia a este artículo
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação
, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1304-
1324, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16979
Enviado en
: 16/12/2021
Revisiones requeridas
: 06/01/2022
Aprobado en
: 20/03/2022
Publicado en
: 30/06/2022
Procesamiento y edición: Editora Ibero-Americana de Educação.
Corrección, formateo, normalización y traducción.
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Popular education and pedagogical expeditions in the educational practice of the Gamela indigenous people: Rights and ethnic resistance
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– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1295-1314, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16979
1295
POPULAR EDUCATION AND PEDAGOGICAL EXPEDITIONS IN THE
EDUCATIONAL PRACTICE OF THE GAMELA INDIGENOUS PEOPLE: RIGHTS
AND ETHNIC RESISTANCE
EDUCAÇÃO POPULAR E EXPEDIÇÕES PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA EDUCATIVA
DO POVO INDÍGENA GAMELA: DIREITOS E RESISTÊNCIAS ÉTNICAS
EDUCACIÓN POPULAR Y EXPEDICIONES PEDAGÓGICAS EN LA PRÁCTICA
EDUCATIVA DE LOS INDÍGENAS GAMELA: DERECHOS Y RESISTENCIAS
ÉTNICAS
Maria do Socorro Pereira da SILVA
1
Thaynan Alves dos SANTOS
2
José Wylk Brauna da SILVA
3
ABSTRACT
:
The original and ancestral knowledge of the Gamela indigenous people, based
on Popular Education, play a leading role in the struggle for permanence on the land and the
self-identification of their ethnicity, and constitute the central theme of this study. The starting
question: how does Popular Education contribute to formative and educational processes in
the struggle of the Gamela indigenous people, in the Laranjeiras community in the South of
Piauí? The qualitative approach, the research of the participatory action-research type, in
Borda (1981), and the dialectic analysis qualify the methodology of decolonization of
knowledge in the struggle for the right to territory. The educational expeditions reaffirm the
experiences, the educational and formative processes of the Gamela indigenous people, based
on education for the use of water resources, for the sustainable management of native plants,
such as the buriti, and the fight for land ownership, emphasizing the difference between the
rights of indigenous land ownership and civil land, as provided by the Brazilian constitution.
KEYWORDS
:
Popular education. Pedagogical expeditions. Gamela indigenous people.
Piauí.
RESUMO
:
Os saberes originários e ancestrais do povo indígena Gamela, fundamentados na
Educação Popular, protagonizam a luta pela permanência na terra e a autoidentificação de
sua etnia, e constituem o tema central desse estudo. O questionamento de partida: como a
Educação Popular contribui com processos formativos e educativos na luta do povo indígena
Gamela, na comunidade Laranjeiras no Sul do Piauí? A abordagem qualitativa, a pesquisa
do tipo investigação-ação participante, em Borda (1981), e a análise dialética qualificam a
metodologia de descolonização do conhecimento na luta pelo direito ao território. As
expedições pedagógicas reafirmam as experiências, os processos educativos e formativos do
1
Federal University of Piauí (UFPI), Teresina – PI – Brazil. Professor of the Degree in Rural Education. Doctor
in Education (UFPI). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3877-2420. E-mail: socorroprof@ufpi.edu.br
2
Federal University of Southern Bahia (UFSB), Teixeira de Freitas – BA – Brazil. Master's in Science and
Sustainability.ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0907-421X. E-mail: thaynan12santosalves@hotmail.com
3
University of Brasília (UNB), Planaltina – DF – Brazil. Master's in Rural Development and Sustainability.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1667-6032. E-mail: jwylk9@gmail.com
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Maria do Socorro Pereira da SILVA; Thaynan Alves dos SANTOS and José Wylk BRAUNA
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1295-1314, June 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16979
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povo indígena Gamela, baseado na educação para o uso dos recursos hídricos, para o
manejo sustentável das plantas nativas, como o buriti, e a luta pela posse da terra,
enfatizando a diferença entre os direitos da posse da terra indígena e da terra civil, conforme
prevê a constituição brasileira.
PALAVRAS-CHAVE
:
Educação popular. Expedições pedagógicas. Povos indígenas
Gamela. Piauí.
RESUMEN
:
El conocimiento originario y ancestral del pueblo indígena Gamela, basado en
la Educación Popular, lidera la lucha por la permanencia en la tierra y la autoidentificación
de su etnia, y constituyen el tema central de este estudio. La pregunta de partida: ¿cómo
contribuye la Educación Popular a los procesos formativos y educativos en la lucha del
pueblo indígena Gamela, en la comunidad Laranjeiras en el sur de Piauí? El enfoque
cualitativo, el tipo de estudio investigación-acción participante, en Borda (1981), y el análisis
dialéctico califican la metodología de descolonización del conocimiento en la lucha por el
derecho al territorio. Las expediciones pedagógicas reafirman las experiencias, los procesos
educativos y formativos del pueblo indígena Gamela, basados en la educación para el uso de
los recursos hídricos, para el manejo sostenible de las plantas nativas, como el buriti, y la
lucha por la tenencia de la tierra, enfatizando la diferencia entre los derechos de la posesión
de la tierra indígena y la tierra civil, según lo dispuesto en la Constitución brasileña.
PALABRAS CLAVE
:
Educación popular. Expediciones pedagógicas. Pueblos indígenas
Gamela. Piauí.
Indigenous voices on the “last agricultural frontier”: dissonant approaches to research
The decolonial legacy of indigenous voices is, and has been, dissonant and dissident
from the indigenous policy of the Brazilian State. The knowledge of the native peoples,
despite colonial ideas, results from their own educational processes and not from school,
which in the context of the Gamela people and the oppressed, we call Popular Education.
Another legacy is the struggle for ethnic identity, that is, self-identification as an indigenous
people, inspiring the Gamelas' struggle. And, within the scope of institutionality, the ethnic
issue of recognition of the indigenous people qualifies the narratives transmitted orally
between different generations; for the memory of ancestry; in sociocultural experiences, ways
of life and common usufruct of land and territory – there is no way to talk about indigenous
peoples without the right to land.
In this context, Popular Education strengthens the self-organization of the Gamela
indigenous peoples, contributing to the training for access to rights and training for
propositive and demanding political incidence. Therefore, our starting question is situated in:
how does the practice of Popular Education contribute to the struggle for the right to
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indigenous land of the Gamela people in the “Last Agricultural Frontier”, in the face of the
advance of agribusiness?
In the same sense, we situate the relationship between indigenous knowledge and
academic knowledge, mediated by the educational practice of the pedagogical expeditions
inspired by Freirean thought and the emergences of the reality of the Gamela indigenous
peoples, which update the demands of the university. About Paulo Freire's thought, Jardilino
and Soto-Arango (2020, p. 1084) define:
What I am calling the uniqueness and universality of Freire's thought should
not be read only in the repercussion of the practical action of his literacy
method in Brazil and in the world, but in his pedagogical proposal of a
liberating and conscientizing education, which can be universalized in any
space where men and women find themselves in a situation of oppressive
and dehumanizing acculturation.
The Freirean educational practice based on Popular Education inspires the Gamela
people, in the struggle for the right to land, to give visibility to the agrarian tensions and
conflicts, due to the right to self-identification in the community Laranjeiras, in the southwest
of Piauí. With INTERPI they are agrarian questions that involve the land regularization of
settlement areas within indigenous territory, whose political intervention by the state ignores
the existence of the Gamela ethnic group.
With regard to FUNAI (National Indigenous People Foundation), we highlight the
administrative and institutional slowness in the process of demarcating the Gamela
indigenous land, despite the existence of studies qualifying the land demand of this ethnic
group. Thus, the narrative of the Brazilian state is being established not only by the ethnic
negation of the Gamela people, but by the concealment of agrarian conflicts in the "last
agricultural frontier" and the socio-environmental issues with the devastation of the cerrado
biome by agribusiness.
Regarding the locus of the study, we investigated the traditional community of the
Gamela indigenous people, which is located in the municipality of Currais-PI, 35 km from the
city center, in the rural community of Laranjeiras. In the territory reside 85 (eighty-five)
families who self-identify as Gamelas, who survive on family farming.
The community lives, primarily, from plantations; from the breeding of
small animals; from the maintenance of productive backyards; from the
production of flour and the extraction of the buriti tree (considered sacred
and used both for the families' food and for the confection of different
handicrafts) (FUNAI, 2020, p. 16).
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While the agencies are beginning the process of recognizing the Gamela people in
Piauí, this ethnic group has inhabited the southwestern region of the state for generations.
Regarding the delimitation of the investigation, we consider the decolonial
pedagogical expeditions carried out by the university, through the extension project
Universidade Popular dos Cursos de Licenciatura em Educação do Campo (LEDOC). The
pedagogical expeditions are articulated by the visibility of agrarian and ecological issues and
the self-identification rights of the Gamelas indigenous peoples, based on educational,
pedagogical and political processes that strengthen the self-organization of the people in the
community of Laranjeiras.
The decolonial pedagogical expeditions consider the principles of the State of Good
Living, and reaffirm the relationship of inter-knowledge between popular and scientific
knowledge from the intercontext between community and university. The epistemologies of
the decolonial expeditions are based on the precepts and foundations of the paradigm of
Proper Science (BORDA, 1985) and the educational practice of Popular Education (FREIRE,
1996). The educational processes are organized into: internships, knowledge workshops,
systematization of the experience, and actions of self-organization of the indigenous
community.
The article presents the discussion in three sections, in addition to the introduction. In
the first, we present the theoretical and epistemological foundations that guide the research. In
the second, we briefly situate the historical context of the Laranjeiras community and the
Gamela people. In the third part, we relate the educational processes of the educational
expeditions, highlighting how the educating territory of the Gamela people actualizes the
social and scientific function of the public university regarding the issues of the rights of
native peoples in the "last agricultural frontier". In the conclusion, we point out how the
public university, by means of Popular Education, contributes to the strengthening of the
struggle for rights together with the Gamela indigenous peoples, situating the territoriality of
the educational issues in the context of the indigenous struggle for self-identification in the
state of Piauí.
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Popular Education and Decolonial Pedagogical Expeditions: Dissident Education of the
Gamela Indigenous People
While Brazil recognizes the existence of indigenous peoples through the demarcation
of their lands in much of the Brazilian territory, it was only in 2020 that the government of
Piauí formally and expressly recognized the existence of indigenous peoples in the state. This
recognition is the result of the struggle of the indigenous peoples of Piauí, due to the agrarian
conflicts that are accelerating with the advance of agribusiness and the installation of large
enterprises in traditional communities and on indigenous lands.
Given this context, the territoriality of education in the educational processes of
indigenous peoples, specifically the Gamela people, finds in Popular Education an alternative
pedagogy in the production of knowledge based on a socio-educational and political
intervention of the oppressed and excluded in the world - right to say their word. Thus,
Popular Education considers, as the central content of its educational processes, the social
reality of the subjects in formation, that is, part of the experiences of indigenous peoples as
ethnic groups that were historically denied and made invisible in the Brazilian social
formation.
In this sense, the epistemological and methodological foundations of Popular
Education that guide the decolonial pedagogical expeditions in the mediation of knowledge
with the Gamela people in the struggle for permanence in the indigenous land are: the reality
and social practice of subjects as the locus of knowledge; the action-participant pedagogy; the
collective construction of knowledge; the participating methodologies; the transformation of
social reality; the project of a society of good living as a construction of native peoples.
To speak of Good Living, it is necessary to resort to the experiences, visions
and proposals of peoples who, inside and outside the Andean and
Amazonian world, have committed themselves to living in harmony with
Nature, and who have a long and profound history. , still largely unknown
and even marginalized. They were able to resist, in their own way, a
colonialism that lasted more than five hundred years, imagining a different
future that could contribute a lot to the great global debates (COSTA, 2016,
p. 19-20).
This original epistemology is based on popular and indigenous knowledge as their
own readings, in which “[...] 'reading the world' and 'reading the word' impose themselves as
an indispensable practice in the reinvention of the world. The assumption of ourselves as
subjects and objects of History makes us beings of decision, of rupture, of choice, ethical
beings” (FREIRE, 2014, p. 66). The Gamela indigenous people claim the historical legacy of
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Popular Education as an epistemological place of organization of their existence and re-
existence.
The Gamela ethnic group rediscovers in Popular Education its ancestral relationship
with environmental, ecological and agrarian issues in the indigenous land, as historical
subjects who carry centuries of resistance for a way of living well. According to FUNAI's
Qualification Report (2020, p. 14): "[... ]the indigenous people were responsible for the
conservation of the territory, since they preserved the marshes, maintained a sacred
relationship with the buritizais and did not deforest areas of permanent preservation", that is,
FUNAI field data qualify the Gamelas as protectors of the cerrado biome, in the face of
agrarian and socioenvironmental conflicts, because as they demonstrate the common use of
the "cerrado" areas the "temples of the waters," the diversified uses given to the buritis, the
networks of solidarity activated among the nuclei, the relations established with the
"enchanted" spirits ("
cabocos"/"cumpades
"), and also the experiences of territorial
expropriation experienced as a result of land and socio-environmental conflicts.
The territoriality of Popular Education in the context of the educational processes of
indigenous education reaffirms a participatory pedagogy that opposes the pedagogy of
exclusion and domination. Popular Education, in the context of the Gamela indigenous
peoples, has as its educational base a dialogical pedagogy referenced in a decolonial
epistemology, which reaffirms the historical memory of resistance and liberation of the
indigenous peoples from European colonization.
Considering this paradigm, the pedagogical expeditions represent the link of the public
university with the current demands of the rights and struggles of the Gamela indigenous
peoples, announced from another paradigm of science and public university. “Podemos
concebir una universidad en diáspora que se juzgue según sus efectos sociales de conjunto y
no por facilidades físicas? Podemos articular este camino y permanentemente el conocimiento
teórico con la práctica?”
4
. In this construction, "[...] Popular Education enables the dialogue
of popular knowledge, of popular culture with the socially produced and systematized
knowledge/knowledge [...] it is knowledge of an epistemology that unites action-reflection”
(STRECK
et al.
, 2014, p. 93). The university educational practice changes, but also
transforms itself when it recognizes other knowledge necessary for the production of science
for the good life. In this way, the Gamelas strive to make the educational act a path to a
4
Translation: "Can we conceive of a university in the diaspora that is judged according to its social effects of the
whole and not by physical facilities? Can we articulate this permanently theoretical path and knowledge with
practice?" (BORDA, 1981, p. 199).
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critical consciousness and active participation in the transformation of the reality that they
experience in the indigenous community.
The intelligibility between the popular and the scientific are ways to experience
science in the production of a prudent knowledge for a decent life (SANTOS, 2010). Based on
this assumption, the university must be committed to the formation of individuals who,
through their knowledge, produce for the common good and for a fair life for all.
To achieve this goal, that is,
to support these processes, we need democratic and altruistic universities
that stimulate the active participation of students in the search for new
knowledge and, as such, consider research as pedagogical tools of the
greatest value, as the basis for academic autonomy (BORDA; MORA-
OSEJO, 2003, p. 720).
The public university, through the dimensions of research and extension, has been
contributing to the emancipation of the oppressed and the original peoples in the struggle for
rights.
Thus, the pedagogical expeditions aim at the decolonization of scientific knowledge
and the emancipation of the intelligences in the production of an education as a practice of
freedom. The interconnection between scientific pedagogy and the pedagogy of the
oppressed, at the core of Popular Education, results from the dissident thinking of Eurocentric
science and the traditional paradigm of education for and without the popular classes. Thus, as
Paulo Freire states (1998, p. 20):
[...]what we have been calling the Pedagogy of the Oppressed: the one that
must be forged with them and not for them, as men or peoples, in the
incessant struggle to recover their humanity. A pedagogy that makes
oppression and its causes the object of reflection of the oppressed, which
will result in their necessary engagement in the struggle for their liberation,
in which this pedagogy will make and remake itself.
The Pedagogy of the Oppressed has imprinted a new educative conception in the
university, with the implementation of the Licentiate's Degree courses in Field Education
(LEDOC) at UFPI. It is worth pointing out that these courses are the result of educative
projects in non-school contexts mediated by Popular Education. The university extension of
popular and decolonial character has been the educational space in the university to dialogue
with the educating territory of the Gamela people, who have presented as demands for the
university today issues such as: the rights related to the demarcation of indigenous land, the
protection of water resources of the community as marshes and streams and springs, and the
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self-identification and construction of their self-organization in the context of the struggles of
indigenous peoples.
Traditional community laranjeiras as educating territory of the Gamela indigenous
people
According to the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE, 2010), 34% of
the population of Piauí lives in rural areas. When we verify this statistic in the southwestern
region of the state, the rural population is 41%, that is, it is a region of accentuated rurality.
The southwest region has a strong hydric potential, has large land extensions, solar energy
incidence, monoculture production for corporate agriculture - agribusiness, and peasant
family agriculture as vectors for the economic development of Piauí.
Family farming has a direct relationship with poverty reduction in the state of Piauí,
because "the policies executed by the state government in favor of small agriculture (family
farming). That is, poverty reduction through productive inclusion" (PIAUÍ, 2013, p. 81).
Thus, peasant family farming is seen as a strategic field for economic development in that
region. Despite this, traditional peasant and indigenous populations face the advancement of
the process of expropriation and squatting of their productive lands, which since the 1990s
has been carried out by agribusiness companies. And, in consonance with this context,
indigenous people suffer with the lack of investments in family agriculture, on the part of the
state government, which recently began the process of land titling for these communities and
ethnic groups.
With a population of approximately 4,968 inhabitants, the municipality of Currais is
basically rural, and the majority of the population lives off family farming. This municipality
is located 660 kilometers from the capital, Teresina. Currais is a territory with potential for
economic development, occupying large areas of land in the region of the Gurgueia Valley for
the production of soybean monoculture, in the territory of the Mangabeiras plateaus. Despite
the economic gains from agribusiness, this reality contrasts with the impoverished urban and
rural landscape, like an inverted image, in which the accumulation of wealth does not mean
the reduction of poverty; on the contrary, it increases the social strata of the miserable in the
southwestern region of Piauí.
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Currais is in the southern region of Piauí, known as "the last agricultural frontier" or,
still, as the great development region characterized by MATOPIBA
5
, area that is at the center
of the agribusiness dispute, which advances over the cerrado biome, promoting socio-spatial
and economic transformations in the ways of life of the region's population, especially the
native peoples and traditional communities. Therefore, the traditional community of the
Gamela people is located in the MATOPIBA region - which involves the states of Maranhão,
Tocantins, Piauí, and Bahia.
In Piauí, this geopolitical and economic delimitation has intensified agrarian and
environmental conflicts in the cerrado biome. According to the Newsletter 1 - Indigenous
Gamelas in the Cerrado Piauí: "This situation resulted in the outbreak of socio-environmental
conflicts and in the constitution of social mobilization actions that have resulted in the ethnic
emergence of family groups that traditionally inhabit the region and that call themselves
peoples of the Cerrado" (LIMA; NASCIMENTO, 2020, p. 1). In this region, peasant family
farming and the expansion of agribusiness present themselves as antagonistic projects of
economic development and environmental sustainability in rural areas.
While agribusiness is organized by the logic of commercialization of large-scale
production for global export markets, based on monoculture, agroecological and agroforestry-
based family farming has been responsible for guaranteeing food for 80% of the Brazilian
population. In this context, agribusiness occupies large territorial extensions, in the midst of
intense environmental and water degradation of springs, marshes, and streams; it imposes
labor relations analogous to slave labor; and it is the main agent of agrarian and land conflicts
with the Gamela indigenous peoples regarding their right to land.
The narrative of economic development hides conflicts, impasses, and challenges for
the Gamela indigenous peoples, in the face of the advance of agribusiness, which marks the
dispute for productive lands and water resources. The territoriality of education, specifically
rural education, mediated by popular education, has been promoting educational processes of
self-training of the Gamela people in the self-affirmation of their ethnicity.
LEDOC is the organizational locus of the decolonial pedagogical expeditions, whose
commitment stems from a pedagogical and political action with indigenous and peasant
5
“The expression MATOPIBA refers to an acronym formed with the acronyms of the states of Maranhão,
Tocantins, Piauí and Bahia. MATOPIBA was made official as a region through Decree No. 8,447, dated May 6,
2015, which deals with the Plan for Agricultural and Livestock Development for MATOPIBA, whose purpose
was to promote and coordinate public policies aimed at sustainable economic development based on agricultural
and livestock activities” (RIBEIRO
et.al.
, 2020, p. 2).
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peoples in the fight for rights, currently with the Gamelas peoples. According to Silva (2020,
p. 2383-2384):
Rural Education bears the original marks of an educational project that
breaks with the paradigm of hegemonic science in the university. It is an
epistemological turn led by the social movements of the countryside for an
educational policy of valorization of the subjects, the contexts and the
knowledge of the peasants in the struggle for Agrarian Reform in Brazil.
Rural Education adds to the dissonant voices of the university the dissenting voices of
the indigenous Gamela people in rural areas. In this field of inter-knowledge and inter-
context, Freirean thought assures the epistemological bases of a university whose scientific
knowledge is the basis for its intervention in the formulation of the knowledge of the original
peoples. It is an epistemological rescue of the university into the field of cultural action and
social commitment to the struggle of the oppressed.
The indigenous Gamelas of the Laranjeiras community recognize that the
regularization of land ownership is an ethnic demand; and the recognition of indigenous land
by the state, in the southwest of Piauí, passes through the process of self-organization and
strengthening of the collective struggle for the right to self-identification. According to the
United Nations Convention 169 on Indigenous and Tribal Peoples:
Indigenous or tribal self-identity is an innovation of the instrument, in
establishing it as a subjective but fundamental criterion for defining the
peoples subject to the Convention, that is, no State or social group has the
right to deny identity to an indigenous or tribal people that it recognizes
itself as such (OIT, 2011, p. 8).
Therefore, the right to self-identification regulated by Convention 169 on Indigenous
and Tribal Peoples guarantees to the Gamela people, in Piauí, the resumption of their self-
organization process in the territoriality of education, especially Popular Education, as a path
inseparable from the struggle for liberation.
Decolonizing pedagogical expeditions and self-organization of the Gamela people in the
context of the Laranjeiras community
Specifically, in the current demands of the Gamela people, the university, through
educational processes of pedagogical expeditions, has accompanied how the indigenous
struggle of the Gamela people points to the process of strengthening self-organization in the
struggle for the right to land, from the affirmation of ethnic identity. Basically we start from
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the social reality of the subjects, considering the collective construction of knowledge,
through participant pedagogy and participatory methodologies of Popular Education.
The university, through research and extension projects, has accompanied the
community since 2018.At present, we want to highlight that educational processes of the
expeditions have been strengthening the ideas and practices, self-organizing for indigenous
rights. We highlight as participatory methodologies of the pedagogical expeditions: living
experience internship and experience and knowledge workshops in the Gamela community,
which we will briefly describe and analyze in their educational practice.
First, it is necessary to situate our conceptual construction of decolonial pedagogical
expeditions: they are educational, autonomous and training spaces in intercontext and
interknowledge between university and community, from a dialogical pedagogy between
scientific knowledge
- of the subjects of the experience and popular
knowledge
- of the
subjects of the lived experience, mediated by Popular Education educative processes, Own
Science paradigm and decolonial thinking, which announce a new way of knowledge
production for the good living. Having said this, we will now point out the methodology of
the educational processes of the expeditions, in the context of the Gamela indigenous
territory.
Experiential and Experience Stage
– are the experiences in the process of
formation
in action
, which result from practical activities, field visits, social mapping of the context of
performance of the educational processes of Popular Education, that is, it means putting the
subjects in the process of formation in direct contact with the field of research and study, for
qualification and adequate understanding of the reading of reality and contexts.
This is what we call participant empirical observation, which is organized in three
moments:
participative
- participation of the subjects in formations mediated by the
theoretical contributions - study of reality from research and oral reports;
interventive
-
application of the necessary instruments to collect data and information from the field visit;
and
self-educative
- moment of organization of the field data for the systematized return of
the results in a formative moment with the subjects involved in the research and the
community subjects, a moment of data qualification from the dialog between scientific and
popular knowledge.
This participant observation, which has in the systematization of the experience its
strength, rejects the neutrality of thought, enabling self-criticism to think about our own
educational practice. Medeiros (2010, p. 19) emphasizes: "Thus, we opted for a
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methodological construction that both refuses determinisms and the supposed scientific
neutrality, such option being part of a pedagogical and ethical-political intentionality". In
other words,
The question is, therefore, that of a pedagogy that critically and
historicistically articulates educational activity with the construction of a
revolutionary social practice, that is, a social practice that positions itself in
the perspective of overcoming bourgeois society (MARQUES; DUARTE,
2020, p. 2205).
It is this choice that we make in the historical context of the Gamela people's struggle.
In the educational expeditions, we registered that the Laranjeiras community of the
Gamela indigenous people has a great reserve of fresh water, with rivers, waterhole springs,
marshes, and streams, a strategic zone of water production. The region of the Gurgueia
Valley, with its water network, supplies almost the entire territory of Piaui, whose water mark
is the Parque das Nascentes do Rio Parnaíba. For a better understanding of the stages of
experience in the Gamela territory, we present moments of field recording in the community:
Figure 1
–
Field Trip to the Well at the Gamela Indigenous Community
Source: Popular University (2021)
Figure 2
– Visita in the fields in the Gamela Indigenous Community
Source: Popular University (2021)
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The experiences in the stages of living experience promote the reconstitution of the
lived situation: reflection, reflection and opening of concrete possibilities for new readings of
reality, above all, by allowing the reading of the thing in itself, it makes it possible to go
beyond the reading of the thing for itself - in moments of systematization of the experience. In
the indigenous community of the Gamela people, researchers immersed in the experience of
living, share it with those immersed in the real and daily experiences of the residents of the
indigenous territory, and project experiences as alternatives in overcoming tensions and
conflicts, and as a possibility of struggle and resistance.
Thus, the experience points to and projects itself in the formulation of a critical and
self-critical consciousness for the construction of new existential projects, because "in the
historical experience in which I participate, tomorrow is not something 'pre-given', but a
challenge, a problem" (FREIRE, 2000, p. 36). In this sense, decolonial pedagogical
expeditions allow the experience in locus based on the inter-knowledge between the subjects
of the experience and the subjects of the lived experience.
The living internships are, therefore, an encounter of the reading of the word from the
theoretical contributions that illuminate the context and the reading of the world experienced
and lived by the subjects in the indigenous territory. After the encounter of theory with
practice in the experiential and experiential internships, we resumed the theoretical readings,
now illuminated by the data from reality, which in the pedagogy of the knowledge workshops
are systematized and shared.
Knowledge Workshops -
are educational and formative spaces of inter-knowledge
and inter-context between the university and the indigenous community - programmed
formation - moment in which the socialization of the results collected and produced in the
field is carried out, already systematized, which should be submitted to the appreciation and
problematization of the community and of the subjects participating in the projects for the
new formulations or adequacy to the contents of reality, avoiding the negation of the original
knowledge, the contexts and the contents of the demands of the Gamela peoples. About the
experience of the knowledge workshops, we highlight some moments, as follows:
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Maria do Socorro Pereira da SILVA; Thaynan Alves dos SANTOS and José Wylk BRAUNA
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Figure 3
–
Sustainable Agro-extractivism Knowledge Workshop of the Gamela People
Source: Research data (2021)
Figure 4
–
Knowledge Workshop on Territory and Water of the Gamela People
Source: Research data (2020)
Figure 5
– Rights Knowledge Workshop of the Gamela People with OAB – PI
Source: Research data (2021)
In these moments of formation and self-organization of the Gamela indigenous people,
we discuss the reality from the point of view of generating themes that involve the daily
demands for rights, which include agrarian issues and the right to land; ecological and socio-
environmental issues, such as the protection of streams, rivers, and wetlands; and sustainable
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Popular education and pedagogical expeditions in the educational practice of the Gamela indigenous people: Rights and ethnic resistance
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issues, which involve family agriculture. The knowledge workshops are also spaces for public
hearings with entities that defend indigenous peoples and the state's indigenous bodies.
In the workshops we discussed the visibility of the ethnic issues of the Gamela people
and the need to create an Indigenous organization or association of the Gamela people as an
instrument of struggle, as emphasized by Resolution 169 (ILO, 2011, p. 6, emphasis added):
[...]Indigenous and tribal peoples have also awakened to the reality of their
ethnic and cultural origins and, consequently, to their right to be different
without ceasing to be equal. Aware of their importance and under the
guidance of strong organizations to promote their interests and protect their
rights, these peoples have assumed, themselves, the right to claim, above all,
their ethnic, cultural, economic and social identity, rejecting even to be
called "indigenous peoples".
In this sense, the knowledge workshops are organized in a pedagogical way, aiming to
involve the participants in the process of reflection and decision-making. Based on the
principle of collective construction of knowledge of Popular Education, the pedagogical
expeditions are committed to promoting an encounter of love and hope with the reading of the
word of the original peoples, situated in the reading of the world of the Gamela peoples in the
indigenous territory. This moment is pedagogically subsidized by thematic lectures,
photographic exhibitions, ancestral elements of the indigenous culture, audiovisual elements,
texts and contexts, interaction dynamics, elements of reading of the political, social and
economic conjuncture of the community and the Gamela territory.
The knowledge workshops are fundamental in the process of self-identification of the
Gamela peoples, who begin to express their identity as an ethnic right to say their word after
decades of denial of their identity, as stated by the indigenous people in the knowledge
workshop: "
I am indigenous of the Laranjeiras community, a resident, born and raised in the
Laranjeiras community"; "As the daughter of an indigenous person and an indigenous
descendant we demand the regularization of the lands, being the 9 thousand hectares
” (Oral
interview, indigenous Gamelas, 2021). The right to self-identification, as provided for in the
report on the qualification of the land demand of the Gamela ethnic group in southern Piauí,
presented by SEI/FUNAI - 1891052 - Technical Information, states:
By providing a broad spectrum of data that characterize the territory of the
Gamela people, these actions have constituted themselves as sources of
complementary information on the land demands of the ethnic group. With
this in mind, the present document is organized with the objective of
presenting to the Northeast Regional Coordination II of FUNAI the set of
information identified in the field, and in this way contributing to the
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Maria do Socorro Pereira da SILVA; Thaynan Alves dos SANTOS and José Wylk BRAUNA
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planning and execution of actions for the promotion and protection of the
Gamela indigenous rights (FUNAI, 2020, p. 2).
In announcing their self-identification, the indigenous people of the Laranjeira
community have found an educational space for self-organization and self-reflection on
agrarian and land issues that involve the right to land in the pedagogical expeditions and,
therefore, in the social role of the public university. These experiences point to an educational
process that Santos (2013, p. 471) called an epistemological revolution within the university,
which "[...] consists in the promotion of dialogues between scientific or humanistic
knowledge, which the university produces, and lay, popular, traditional, urban, peasant, and
non-Western knowledge (indigenous, African, Oriental, etc.). This author defined this
dialogue as the ecology of knowledges.
This perspective points a way to re-signify the senses and meanings of the university
project towards a more democratic vision committed to the popular knowledge that takes
place outside the academic space and in traditional communities.The educational practice that
reunites the world of theory and the world of practice as a possibility of production of an
alternative thought of knowledge in its set of relations, as proposed by Lefebvre (1983, p.
235):
Theory emerges from practice and returns to it. Nature reveals itself to us
through practice, through experience; and only through practice do we
effectively dominate. Practice, therefore, is the moment of every theory: first
and last moment, initial immediacy, and the return to immediacy. And vice-
versa, theory is the moment of developed practice, that which goes beyond
the simple satisfaction of immediate needs.
This educational practice awakens the subjects to self-awareness, critical
consciousness in which the very act of knowing finds the meanings of social relations. Thus,
the decolonial pedagogical expeditions are based on formation in action - through the exercise
of practice as the criterion of prudent knowledge, situated in the world of the Gamelas and the
social issues in which they are immersed. It implies programmed formation that focuses on
moments of execution of actions and activities planned with the community - courses,
workshops, seminars, public classes, hearings, etc.
The educational experiences of the Gamela indigenous people impose themselves
against epistemicide and colonial ideas, which Santos (2005, p. 23) defines as: "[...] the death
of alternative knowledge entailed the liquidation or subalternization of social groups whose
practices were based on such knowledge. Against epistemicide, Popular Education removes
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Popular education and pedagogical expeditions in the educational practice of the Gamela indigenous people: Rights and ethnic resistance
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the knowledge of native peoples from unfeasibility, but decisively unmasks the contexts of
oppression that are established against the rights of native peoples, which for more than 500
years stubbornly reproduce the inferiorization of the knowledge of indigenous peoples and the
denial of their rights.
(In)Conclusive Notes
The starting question remains open, due to the dynamics and the movement of the
educational processes of Popular Education in the context of the Gamela indigenous struggle,
which continues to pulsate, adding other educational and ethnic demands. In view of this
openness of the Gamela people's struggle processes and the active presence of the university
in the indigenous territory, we point out that the decolonial pedagogical expeditions
contribute to the strengthening of the self-organization of the Gamela indigenous people in the
Laranjeiras community.
In the same sense, it potentiates the struggle for rights, which includes the demand for
land and ethnic identity and the need for social policies to strengthen the relationship of
indigenous peoples with the territory. It strengthens a new logic of science production for the
rights of native peoples, based on their own epistemology, against epistemicide.
In this sense, the subjects of the university also learn how the indigenous peoples'
original knowledge and re-signify the foundations and principles of Popular Education. And,
in this itinerary, the university adds to the voices that have historically been silenced and
made invisible by colonial thought, which not only appropriated lands and natural resources
from indigenous peoples, but also meant a long period of erasure of the culture of native
peoples, especially in the context of the state of Piauí.
Popular Education reaffirms the experiences and the educational and formative
processes of the Gamela indigenous people, for example, educational processes that involve
the use of water resources, the sustainable management of native plants, such as the buriti, the
use of land as a common good, and the struggle for land ownership, emphasizing the
difference between rights related to the ownership of indigenous land and civil land.
Popular Education in the South of the Latin American world has long been based on
the ideas of its own science, on the constitution of an education contextualized with the social
reality, and on an educational practice as a tireless construction that takes place in the struggle
of the popular classes and the oppressed. The ideas of Fals Borda's (1981) own science, Paulo
Freire's (1997) Pedagogy of the Oppressed, and Santos' (2010) studies on emergent science,
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find in Popular Education a contribution to discuss new ways of knowledge production,
democratization of science and university, but, decisively, as an epistemological instrument
that has as its essence a cognitive, social, political, and economic decolonial process of the
Eurocentric culture and of the dominant paradigms of the scientific canon.
This alternative thinking has been the main epistemological contribution in the
decolonization process of the knowledge systems that impose themselves as absolute truth
about the forms of domination of the popular classes in the South of the Latin American
world, in a predatory way over the indigenous peoples in Brazil, as it has been since the
European invasion. The pedagogical expeditions are decolonial experiences, which means to
hope with the Gamelas peoples.
Popular Education, as an education originating from colonized peoples, promotes an
educational intervention in action, transforming the contexts of oppression and
subalternization, sharing dreams rooted in the construction of its own education, which
updates the educational intervention of the university for the defense and protection of
indigenous peoples and activates new knowledge in the daily life of the Gamela territory. In
this sense, the pedagogical expeditions potentiate self-organization, re-signify resistance
practices, articulate new modes of production of knowledge by means of knowledge
workshops, conversation rounds, and promote scientific diffusion mediated by the
systematization of ideas that takes place in the experiences, in the experiences and in the
popular construction in the production of popular and academic sciences.
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Popular education and pedagogical expeditions in the educational practice of the Gamela indigenous people: Rights and ethnic resistance
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Submitted
: 16/12/2021
Revisions required
: 06/01/2022
Approved
: 20/03/2022
Published
: 30/06/2022
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.