image/svg+xmlGestão algorítmica da docência e educação em tempos de incertezaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1094 GESTÃO ALGORÍTMICA DA DOCÊNCIA E EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE INCERTEZA GESTIÓN ALGORÍMICA DE LA ENSEÑANZA Y LA EDUCACIÓN EN TIEMPOS DE INCERTIDUMBRE ALGORITHMIC TEACHING MANAGEMENT AND EDUCATION IN TIMES OF UNCERTAINTY André CECHINEL1Rafael Rodrigo MUELLER2RESUMO: Este artigo propõe-se a discutir as memórias educativas em tempos pandêmicos a partir da análise de um fenômeno recente, a saber, o crescente controle algorítmico da docência e da educação. Em poucas palavras, a pandemia da Covid-19 serviu e tem servido ao propósito de produzir o alinhamento entre, por um lado, o chamado capitalismo atencional e sua produção e acúmulo permanente de estímulos e dados, e, por outro, o espaço institucional das práticas educativas, até então pensado em termos de relativa autonomia e autocentramento. Para defender o argumento, dividimos o artigo em dois momentos: primeiro, assinalamos o surgimento de uma desconfortável figura para o campo da educação, o duplo ou Doppelgänger educacional; a seguir, discutimos o laço, cada vez mais sólido, entre gestão algorítmica e educação. O que se busca demonstrar, em suma, é que a educação constitui um campo fértil para o acúmulo de dados e a produção de estímulos segundo as demandas do capitalismo hoje, e que a pandemia da Covid-19 serviu para acelerar um processo de aclimatação e controle do campo já antes em curso. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Covid-19. Doppelgänger. Algoritmos. Atenção.RESUMEN: Este artículo propone discutir las memorias educativas en tiempos de pandemia a partir del análisis de un fenómeno reciente, a saber, el creciente control algorítmico de la enseñanza y la educación. En pocas palabras, la pandemia de Covid-19 sirvió y ha servido para producir el alineamiento entre, por un lado, el llamado capitalismo atencional y su producción y acumulación permanente de estímulos y datos, y, por otro, el espacio institucional de las prácticas educativas, hasta entonces pensado en términos de relativa autonomía. Para defender el argumento, dividimos el artículo en dos momentos: en primer lugar, señalamos la aparición de una figura incómoda para el campo de la educación, el doble educativo o Doppelgänger; a continuación, discutimos el vínculo cada vez más sólido entre la gestión algorítmica y la educación. Lo que se pretende demostrar, en resumen, es que la educación constituye un campo fértil para la acumulación de datos y la producción de 1Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Criciúma – SC – Brasil. Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação. Doutorado em Programa de Pós-graduação em Literatura (UFSC). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6620-3447. E-mail: andrecechinel@unesc.net 2Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Criciúma – SC – Brasil. Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação. Doutorado em Educação (UFSC). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6637-2948. E-mail: rrmueller@unesc.net
image/svg+xmlAndré CECHINEL e Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1095 estímulos de acuerdo con las demandas del capitalismo actual, y que la pandemia de la Covid-19 sirvió para acelerar un proceso de aclimatación y control de campo ya en marcha. PALABRAS CLAVE: Educación. Covid-19. Doppelgänger. Algoritmos. Atención. ABSTRACT: This article intends to discuss educational memories in pandemic times based on the analysis of a recent phenomenon, namely, the growing algorithmic control of teaching and education. In a few words, the Covid-19 pandemic served and has served the purpose of producing an alignment between, on the one hand, the so-called attentional capitalism and its production and permanent accumulation of stimuli and data, and, on the other hand, the institutional space of educational practices, until recently thought of in terms of relative autonomy and self-centeredness. In order to defend this thesis, the article is divides into two moments: first, it points out the emergence of an uncomfortable figure for the field of education, the educational double or Doppelgänger; after that, it discusses the increasingly solid link between algorithmic management and education. What is intended to demonstrate, in short, is that education constitutes a fertile field for the accumulation of data and the production of stimuli according to the demands of capitalism today, and that the Covid-19 pandemic has served to accelerate a process of acclimatization and field control already in course. KEYWORDS: Education. Covid-19. Doppelgänger. Algorithms. Attention. IntroduçãoO arrefecimento momentâneo da pandemia de Covid-19 no Brasil abre espaço e convida, especialmente o campo da Educação, a refletir tanto sobre as reconfigurações das práticas educativas resultantes das experiências acumuladas durante os anos 2020-2021 quanto, em particular, sobre as memórias docentes, os deslocamentos identitários e os trânsitos afetivos que passaram a reordenar e transformar radicalmente o que até então concebíamos como o horizonte final de nossas atividades pedagógicas. Seja recolhido em casa para ministrar aulas remotas num espaço muitas vezes improvisado, não raro atravessado por interrupções constantes de estímulos exteriores que agora compõem também esse novo espaço escolar, seja por meio da produção de materiais – vídeos, áudios, apostilas, recursos visuais etc. – para encontros síncronos ou assíncronos, presenciais ou remotos, o certo é que nenhum professor saiu ileso dos novos contornos educacionais em salas de aula medidas em polegadas. Aguardando cautelosamente o “novo normal” – desde sempre anunciado, porém até hoje preterido devido aos improvisos resultantes das frequentes retomadas e suspensões de uma presencialidade que, ao que parece, já não será mais a mesma –, permanecemos suspensos, como nos versos de Eliot (2004, p. 181), “entre a ideia / E a realidade / Entre o
image/svg+xmlGestão algorítmica da docência e educação em tempos de incertezaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1096 movimento / E a ação [...] / Entre a concepção / E a criação / Entre a emoção / E a reação”. É tempo de, como se diz, “fecharmos para balanço”. E não se trata precisamente de uma tarefa simples, essa de realizar um balanço do que se passou. A princípio, poderíamos supor que, depois de quase dois anos de escolas funcionando de modo intermitente, de aulas precariamente ministradas por meio de dispositivos eletrônicos, de pouco ou nenhum contato com as demais pessoas – com um “outro” fadado a ser associado ao contágio de uma doença ou mesmo à companhia virtual da morte –, professores e alunos estariam, a essa altura, passado o instante mais grave da pandemia, ansiosos pela restituição de uma presencialidade forte, de um conceito caro de educação abandonado a contragosto, de uma atuação física do corpo sem a qual o próprio conceito de formação perde o seu sentido mais veemente. Poderíamos imaginar tudo isso, mas esse não corresponde com precisão ao cenário que de fato representa o que está ocorrendo neste momento. Não estamos falando aqui apenas da morosidade que toma conta do Ensino Superior e que, ao contrário do que ocorre na Educação Básica, adia indefinidamente o retorno à presencialidade sob um argumento de saúde pública que já não parece se sustentar em nenhum outro espaço social; nem nos reportamos somente à chamada “síndrome da gaiola” (cf. ZANFER, 2021), expressão utilizada para designar a crescente sensação entre os jovens – muito acentuada pela pandemia de Covid-19 – de que os processos de socialização produzem sofrimento e reservam imprevistos de todo ausentes de uma vida passada entre quatro paredes, no quarto de casa, porém conectada ao exterior pelas telas de computadores e celulares. Esses sintomas de “ensimesmamento” e de gestão privada da vida, que revelam um crescente abandono do sentido de formação como mergulho num mundo de alteridades e atritos produtivos, são profundamente reveladores e merecem a devida atenção, porém não constituem o centro do que aqui nos preocupa. Ora, o que alguns estudos na verdade revelam – e esse dado anuncia uma faceta imprevista das memórias da pandemia que poderíamos esperar – é que, para muitos docentes, apesar dos imensos desafios por ela introduzidos, a pandemia de Covid-19 foi também um momento de “alívio” para todo um quadro geral de depressão, esgotamento físico, desilusão profissional e instabilidade psicológica vinculado à profissão. Segundo uma pesquisa sobre saúde mental e bem-estar dos professores, coordenada pelo pesquisador Flavio Comim, docente na Universidade Ramon Llull (Barcelona) e de Cambridge (Reino Unido), “o período abrandou os altos índices de depressão e síndrome de burnoutidentificados entre os professores brasileiros”. Em outras palavras, “é como se o trabalho nas escolas brasileiras
image/svg+xmlAndré CECHINEL e Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1097 fosse mais danoso para a saúde mental desses profissionais do que a instabilidade provocada por uma pandemia” (SALDAÑA, 2021). Se os dados da pesquisa estão corretos – e eles servem, no mínimo, como elemento para reflexão –, os professores estavam simplesmente esgotados antes da Covid-19, que acabou por lhes servir de desvio momentâneo de uma rotina massacrante, em que pese, como dito, todo o sofrimento oriundo das dificuldades de adaptação à nova realidade docente e o cenário mais amplo da própria pandemia, que jamais pôde descolar-se dos improvisos didáticos e de uma “sala de aula” sem sala de aula. No fim das contas, talvez o estudo aponte para uma tendência que apenas se agravou com a pandemia, mas que certamente se antecipa a ela: o encanto exercido por uma virtualização da educação que promete esclarecimento formativo sem o desconforto de ter de lidar com muitos dos infortúnios da profissão e da sala de aula. Essa indecisão entre a forma presencial e a virtualização dos processos formativos – cravada agora na subjetividade dos próprios professores – parece atualizar, para o campo da educação, uma lógica de complementaridade entre o virtual e o real que já se expande para todos os campos da vida humana. Em poucas palavras, um dos legados da pandemia de Covid-19 para a área foi, então, a concretização final de um novo regime já antes em curso que diz respeito à acomodação do professorado à produção inevitável de uma subjetividade ajustada ao gosto do tempo e ao ser social-virtual exigido de todas as demais profissões. Em vez de ocupar uma sala de aula capaz de arrancar os alunos do espaço da virtualidade de jogos, computadores e celulares, e que, insistindo nas quatro paredes como um espaço autônomo, restitui momentaneamente a possibilidade de uma energia atencional coletiva autocentrada, os professores passam a atuar como agentes cindidos entre um espaço escolar lido como anacrônico e os estímulos constantes que devem ser produzidos nas plataformas virtuais que acumulam dados e informações sobre todos e qualquer um. O presente artigo propõe-se, em linhas gerais, a argumentar que a pandemia nos coloca na antessala de algo que poderíamos chamar de uma “gestão algorítmica da docência”, reconfigurando a figura do professor como uma espécie de Doppelgänger contemporâneo, um sujeito dividido entre, por um lado, um discurso de vida em comum, de comunidade, e, por outro, a vida instituída algoritmicamente por telas, acúmulos de dados e virtualização dos contatos sociais. Para defender essa posição, dividimos o texto em dois momentos principais: primeiro, realizamos uma exposição da gênese moderna do Doppelgängercomo exemplo de cisão moderna do “eu”; a seguir, debatemos especificamente o laço entre educação e gestão algorítmica da vida e, também, da educação. O que se espera indicar, por fim, é que a cisão real/virtual do
image/svg+xmlGestão algorítmica da docência e educação em tempos de incertezaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1098 professor, acentuada pela pandemia da Covid-19, corresponde à atualização algorítmica de um destino histórico ao qual o professorado e a área da educação deveriam resistir, a saber, o controle ordenador da noção de formação cultural. A Formação Cultural do Duplo A evidência dessa descoberta foi como passou a me imitar com perfeição no modo de falar e de agir, e na forma admirável como desempenhava seu papel. [...] não se arriscava, é claro, em meus timbres mais altos, mas o tom era idêntico: seu peculiar sussurro tornou-se um impecável eco do meu (POE, 2018, p. 39). Em sua obra DeCaligari a Hitler– uma história psicológica do Cinema Alemão(1974), Siegfried Kracauer desenvolve uma análise do cinema expressionista alemão como forma de compreender as tendências psicológicas3dominantes da Alemanha no período de 1918 a 1933. O livro não se ocupa do cinema em si, mas de uma análise social e psicológica da Alemanha pré-Hitler, tomando o cinema mais como meio investigativo do que propriamente como objeto de sua pesquisa. Para Kracauer (1998), na análise cinematográfica, a partir da especificidade de uma determinada época e contexto, poderia nos ajudar a compreender não só o fenômeno em si, mas também o “espírito de época”. Os filmes figuravam como expressões de um inconsciente coletivo da nação (“multidões anônimas”), externalizando o interiorizado (inconsciente) e expressando, nem sempre de forma clara, os desejos e ansiedades das massas e do seu átomo constitutivo, o sujeito. Segundo o autor, o filme O estudante de Praga, de 1913, introduziu no cinema um tema que se tornaria uma obsessão da cinematografia alemã da época: “[...] uma profunda e terrível preocupação com os fundamentos do eu” (KRACAUER, 1988, p. 44). Nesses termos, o conflito interno do eu se exteriorizaria por meio da constituição de um Doppelgänger: eu e o outro, o sujeito e a multidão etc., e esse duplo marcaria a representação do conflito interno da classe média alemã. Filmes como O Golem(1915) e Homunculus(1916) retratam personagens cujos traços de personalidade teriam origem em uma anormalidade, ou, mais propriamente, Kracauer afirma que o “eu” desses personagens externalizaria o inconsciente coletivo alemão baseado em suas características próprias como ressentimento, frustração, inferioridade, desprezo e 3Outras obras tentaram post factoanalisar o período de domínio do Terceiro Reich sob esse mesmo viés psicológico: Sonhos no Terceiro Reich, de Charlotte Beradt (1966), e A mente de Adolf Hitler, de Walter Langer (1972).
image/svg+xmlAndré CECHINEL e Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1099 ódio. Nesse caso, o “eu coletivo” se expressa pela figura do Doppelgänger a partir de uma moral cindida, na qual os personagens “anormais” agrupariam em si as características indesejadas da classe média alemã, tornando o duplo germânico (o “outro”) responsável pelas mazelas e crises vivenciadas no período, bem como pelo aumento gradativo do nível de instabilidade social no país. A figura fantasmagórica e sobrenatural do duplo presente nos filmes do Expressionismo alemão pré-Hitler representava as aflições que o eu coletivo não se permitia exteriorizar; desse modo, tal como na tela do cinema, as representações simbólicas do outro exerciam uma espécie de dominação social organizada a partir de um circuito de afetos como o ressentimento, a vingança e o ódio. Assim, pela figura do Doppelgänger, os extratos médios da sociedade alemã da época poderiam expurgar seus demônios, normalizando seu sofrimento psíquico e moral ao estabilizar artificialmente a instabilidade social que se vislumbrava no horizonte histórico. A função do Doppelgängernos filmes, conforme a análise de Kracauer (1988), era representar no plano cinematográfico a forma-sujeito atormentada na e pela vida cotidiana, sugerindo que essa entidade fantasmática cindida (um “sujeito-virtual”) estabelecia uma vinculação orgânica com o ser-coletivo real de certos extratos da sociedade alemã, a ponto de a representação se tornar o referente para o sujeito em si. Numa primeira leitura, a constatação do autor estaria circunscrita aos elementos espaço-temporais e às dimensões políticas e culturais da Alemanha durante a ascensão do nazismo; no entanto, é possível identificar no argumento presente na obra que tais características psicológicas, supostamente restritas ao país analisado, seriam desdobramentos de algo presente na constituição da própria forma social moderna e que encontraram um terreno fértil para germinarem no contexto posto. Nesse caso, estamos nos referindo a um processo de cisão que institui determinada forma de organização e ordenamento centrado na dominação e hierarquização social, e que demanda um necessário assujeitamento por parte do indivíduo de modo a se acomodar nessa estrutura. Tal processo estaria assentado centralmente numa razão instrumental que depende, para se efetivar, de uma racionalidade matemática e estatística, em que a presente ordenação institui o futuro em bases exatas e, por isso, sólidas em sua objetividade. Ou seja, se as características de tal cisão identificadas nas obras do Expressionismo representavam simbolicamente um fenômeno que já se manifestava objetivamente na vida cotidiana alemã e para além dela, seria possível prever que essa estrutura social não só se desenvolveria no decorrer do século XX, mas que adentraria o século XXI sob o mesmo manto da razão calculadora que a municiou de elementos para a
image/svg+xmlGestão algorítmica da docência e educação em tempos de incertezaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1100 gestão da sociedade moderna, nesse caso, uma nova forma de organização e ordenamento social vinculado a uma base científico-tecnológica em conformidade com as demandas dos nossos tempos. O Doppelgängerdo século XXI, figura cindida socialmente, teria guarida na mesma forma social, porém agora plenamente desenvolvida por uma fusão entre tecnologias de informação e comunicação (TICs) e a ciência computacional, fatalmente constatada pela onipresença dos algoritmos em nossa vida cotidiana. Se a indeterminação seria a representação do horror moderno, e a forma de eliminá-la consistiria na busca incessante por um ordenamento e hierarquização social, pode-se concluir então, em conformidade com Silveira (2019, p. 18), que “[u]ma sociedade operada por algoritmos parece ser um destino pretendido pelos modernos”. A crença na objetividade e neutralidade do conhecimento, assim como a sua necessidade de organização e classificação – típicas promessas científicas da modernidade – são de fato o núcleo duro de tipificação dos algoritmos. De certo modo, é na ambivalência entre os sintomas de uma modernidade do século XXI e a algoritmização das relações sociais que identificamos um processo de gestão algorítmica da docência, na qual a educação estaria submetida a uma mesma estrutura de regulação dos algoritmos, reproduzindo junto ao coletivo docente, desse modo, um Doppelgänger formativo: um sujeito que diante da impossibilidade de não ter a sua imagem circulando nas diversas redes sociais estabelece um “duplo eu” a partir dos dados que disponibiliza no universo midiático, mais propriamente, uma identidade algorítmica. Aqui defendemos a tese, como dito, de que a naturalização da gestão algorítmica no âmbito da educação compromete a docência tanto a partir de uma dimensão coletiva como também em seus aspectos individuais. Algoritmo e Educação Oh, dizei-me, quem foi o primeiro a declarar, a proclamar que o homem comete ignomínias unicamente por desconhecer os seus reais interesses, e que bastaria instruí-lo, abrir-lhe os olhos para os seus verdadeiros e normais interesses, para que ele imediatamente [...] se tonasse bondoso e nobre? Oh, criancinha de peito! Oh, inocente e pura criatura! (DOSTOIÉVSKI, 2000, p. 32-33). Para os professores, assim como para os demais trabalhadores, o tempo de isolamento durante a pandemia não foi sinônimo de tempo livre, como muitos insistem em afirmar, associando o home officea algo positivo em si. O que de fato se constatou objetivamente foi uma profusão de atividades escolares ocorrendo na modalidade remota, gerando
image/svg+xmlAndré CECHINEL e Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1101 invariavelmente um quantum considerável de teletrabalho por parte dos professores. Apartados do espaço físico da escola e acolhidos pelas diversas telas, o controverso conforto do ambiente privado, aliado a uma espécie de nova “liberdade” individual, contrasta com a vigilância velada operada pelas Big Techs, que não só organizam o conteúdo (dados), mas também a forma como esses são apropriados (big data). A oferta “gratuita” de ferramentas e serviços educacionais por partes dessas empresas tecnológicas, assim como a maciça disponibilidade de dados pessoais na webpor parte dos professores e alunos, como parte do processo de adequação ao estado pandêmico, ou ao possível “novo normal”, fez com que a gestão algorítmica (em nível coletivo) e as identidades algorítmicas (em nível individual) reorganizassem o cotidiano institucional da educação a ponto de naturalizarem tanto o isolamento como uma nova presencialidade às custas de uma opacidade formativa que nubla as fronteiras do real e do virtual no que se refere ao trabalho docente. Nesse contexto, o Doppelgängerformativo se constitui nesses espaços sombreados entre o presencial e o virtual submetidos a um modelo de organização social que privilegia o algoritmo, a representação da objetividade quantificada, em detrimento do ser em si. Mesmo que hoje já convivamos com variadas representações virtuais de atividades docente, como, por exemplo, os edutubers4, o teletrabalho dos professores durante a pandemia, por meio das aulas remotas, borrou as fronteiras que antes permaneciam discretamente visíveis. O uso ampliado das telas por parte dos professores estabelece novas formas de controle do trabalho docente por meio de dispositivos como, por exemplo, os amplamente difundidos “diários de classe online”, onde os professores disponibilizam informações referentes, entre outros, ao desempenho dos estudantes e ao controle de presença. O ponto central dessas ferramentas é que o acesso ao seu banco de dados gera uma infinidade de informações sobre o próprio trabalho docente, criando possibilidades que vão desde o ranqueamento do desempenho até casos concretos de demissão. Essa situação, inclusive, do ponto de vista histórico, não seria necessariamente uma novidade: em seu livro Algoritmos de destruição em Massa(2020), Cathy O’Neil utiliza amplamente, como exemplo de uma forma de gestão algorítmica que vem se aperfeiçoando desde a década de 1980, casos relacionados à educação nos Estados Unidos, que incluem tanto o ranqueamento descontextualizado de instituições de ensino superior, quanto demissões de professores bem avaliados a partir da 4Com mais de 3 milhões de seguidores em seu canal no Youtube, Débora Aladim, também conhecida como a “musa do ENEM”, é a edutuber de maior destaque no cenário nacional, tendo vendido cerca de 200 mil cursos online e cerca de 20 mil exemplares do seu livro Redação Infalível. Sobre a prova de 2021, uma reportagem recente indica que “9 entre 10 estudantes estavam mais ansiosos em descobrir a opinião da musa do Enem, Débora Aladim, sobre a prova do que especular sobre tema da redação” (DIAS, 2021).
image/svg+xmlGestão algorítmica da docência e educação em tempos de incertezaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1102 implementação, em certos estados americanos, de sistemas algorítmicos baseados em critérios não condizentes com a realidade docente. O desafio identificado nos casos citados por O’Neil no âmbito da educação se referia à dificuldade de se estabelecer a avaliação (seja de professores ou até mesmo de instituições de ensino superior) efetivamente calcada em critérios objetivos; portanto caberia aos sistemas algorítmicos desempenharem a tarefa de retirar todo e qualquer resquício de subjetividade que poderia prejudicar o processo avaliativo tão necessário para o bom desempenho dos sujeitos e instituições. O que se constata diante dessa dinâmica específica é a mútua retirada do humano do processo avaliativo, bem como a onipresença do sujeito algorítmico no espaço da educação, delegando-se a este as decisões relevantes que interferem diretamente no modo como o trabalho docente deve ser organizado e gerido. E esse parece ser o elemento central que vem permeando o contexto educacional particularmente em sua versão virtual online: a possibilidade inconteste, por parte dos algoritmos, de ditar sutilmente o ritmo e o tom da docência, fazendo com que a identidade algorítmica prevaleça por meio do Doppelgänger formativo ao qual o professor se encontra submetido. A concretude do trabalho docente perde força e visibilidade junto ao rizoma multidimensional que a sua representação virtual estabelece, tanto a partir da gestão algorítmica – o sujeito sem corpo –, quanto de seus avatares, os edutubers, que conquistam a atenção de centenas de milhares de estudantes com seus aparatos reluzentes e de pouca reflexão. O paradoxo da presencialidade não-presencial deixou suas marcas no cotidiano escolar não só pela inconstância da aprendizagem, mas também pela instabilidade praxiológica na qual o sujeito da docência se encontra em termos de sua dupla atuação dimensional: por um lado, o distanciamento do espaço escolar propiciou também o afastamento de uma série de situações indesejadas (que vão desde violência física até síndrome de burnout, por exemplo); por outro, a ubiquidade 24/7 das aulas onlinegeraram uma pré-disposição algorítmica por parte dos professores no que se refere ao controle da sua vida profissional pelas Big Techs. Contraditoriamente, as linhas de fuga possíveis no trabalho docente da sala de aula presencial desapareceram durante o preenchimento dos diários onlinee no fluxo ininterrupto característico das aulas virtuais por meio dos contatos permanentes entre alunos e professores via WhatsApp, potencializando substancialmente a gestão algorítmica docente. É no e pelo controle dos dados disponibilizados pelos professores nas diversas plataformas online(desde diários até teleconferências) que atualmente torna-se possível avaliar o desempenho individual e coletivo docente em níveis que até então não
image/svg+xmlAndré CECHINEL e Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1103 seriam considerados sem o isolamento providenciado pela pandemia de Covid-19. Vivenciamos no espaço da educação o que Naomi Klein identifica como a doutrina do choque: [...] o desastre original – golpe, ataque terrorista, liquidez de mercado, guerra, tsunami, furacão – põe toda a população em estado de choque coletivo. [...] Como o preso aterrorizado que entrega o nome de seus companheiros e renuncia a própria fé, as sociedades em estado de choque frequentemente desistem de coisas que em outras situações teriam defendido com toda a força (KLEIN, 2008, p. 26-27). Mesmo que a vigilância algorítmica já fosse sentida anteriormente à pandemia, o estado de choque via isolamento providenciou a livre passagem para que novos espaços pudessem evidenciar a onipresença da gestão via big data, como é o caso da escola. A defesa de uma atuação presencial inconteste por parte dos professores já não se apresenta com a mesma força se comparada aos primeiros dias da pandemia, até porque o ser social virtual docente, em certa medida, acabou se tornando o referente ideal do Doppelgängerformativo. O espaço da escola não é visto como o não-lugar da gestão algorítmica, um contraponto situacional não habitado pelos likese selfiesque se multiplicam na noosfera virtual; de fato, o que sobram nos documentos oficiais para a Educação Básica – como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) –, são as diversas formas de estímulos onlineque devem então ser incorporados incondicionalmente no processo formativo enquanto possibilidades de alinhar o currículo escolar às demandas da sociedade, tanto é que uma das dez competências gerais que orientam a BNCC é a chamada “cultural digital”. Nesses termos, as demandas postas pela estrutura normativa da Educação Básica já estimulavam aquilo que a pandemia tratou de potencializar: a naturalização, em nossos tempos, de uma sociedade gerenciada pelas Big Techsa partir de big data. No documentário Coded Bias, de2020, vimos o caso de um professor do ensino fundamental da cidade de Houston, Texas, com um histórico exemplar sendo demitido após uma análise tendenciosa feita por um algoritmo de avaliação de desempenho. No livro de Cathy O’Neil, a reitora do sistema de escolas de Ensino Médio de Washington, DC, implementou um sistema de avaliação docente que “pretendia medir a eficácia do professor [...] ao ensinar matemática e habilidades linguísticas” (O'NEIL, 2020, p. 10). O que se diagnosticou após a implementação do referido sistema de modelagem de valor agregado foi, na verdade, que mesmo professores positivamente avaliados pelo grupo de pais e alunos das escolas, a partir dos critérios estabelecidos pelo sistema de algoritmos, foram considerados
image/svg+xmlGestão algorítmica da docência e educação em tempos de incertezaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1104 didaticamente inaptos em seu ofício. O diagnóstico acerca de uma gestão algorítmica da docência já não seria uma tendência por vir, mas uma presença fantasmática que não se apresenta em sua totalidade. Tudo isso se dá seja pelo Doppelgängerformativo do eu docente, que concorre consigo mesmo pela atenção dos alunos/espectadores, seja pelo quantumde dados disponibilizados e geridos nas plataformas educacionais online, ou então pela positivação inconteste de uma sociedade conectada que considera a tarefa mais urgente da escola do nosso tempo aquela de providenciar a imersão profunda dos alunos no mundo da hiperconectividade. Os rastros deixados pela presença algorítmica sensível/suprassensível ora se mostram na e pela condição individual, ora perfazem os contornos da sociedade ampliada, de modo que a mensagem transmitida é a de que quanto mais se busca a objetividade e a organização social via algoritmização, menos circula o ser e mais circula a coisa – ou, pelo menos, o que gozaria de um maior grau de autonomia seria a representação de si, a identidade algorítmica do sujeito. Se na obra de Kracauer o Doppelgänger– enquanto representação simbólica de um extrato da sociedade alemã da época –, tinha por função exteriorizar a partir da figura do “outro” o sofrimento psíquico na tentativa de reordenar o caos social, a educação, baseada na tecno-ciência do século XXI, constituiu o seu Doppelgängerformativo, mais propriamente um sujeito algorítmico docente, como uma representação de si virtualizada e alternativa ao sofrimento psíquico produzido no espaço presencial. A cisão do sujeito docente providenciada pela gestão algorítmica institui simultaneamente uma dupla identidade ao professor, fazendo-o circular por dois espaços concomitantes para exercer o seu ofício. Por conta do redimensionamento desses mesmos espaços formativos a partir do isolamento pandêmico, o virtual se sobrepôs – numa escala hierárquica social – ao presencial. Nesse sentido, é como se o sujeito algorítmico docente, ou o quantumde dados que esse mesmo docente disponibiliza sobre si nas diversas redes sociais e plataformas online, estabelecesse não só um ideal de si, mas também um ideal docente de si, facultando ao sujeito que frequenta o espaço da sala de aula presencial um lugar menor na escala da representação social. Nesses termos, a figura do “estranho”, “anormal”, “maligno”, atribuída ao Doppelgängerna Literatura ou nas peças cinematográficas, não estaria mais atrelada ao “sujeito-virtual”, mas sim ao sujeito real, àquele que agora, por sua incapacidade midiática e algorítmica, encara o seu duplo eu com rancor e ressentimento, reinstituindo um circuito de sofrimento psíquico que se produz numa dimensão e reproduz em outra. E se os dados (big data) mascaram o sofrimento individual por meio da sua circulação ininterrupta, a gestão algorítmica docente possibilita o que
image/svg+xmlAndré CECHINEL e Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1105 supostamente o mundo real jamais conseguiu: o controle full timesobre o desempenho docente baseado em critérios objetivos e quantificáveis. A identificação do que seriam os possíveis indícios do que aqui nomeamos como a gestão algorítmica docente parece ser uma das tarefas do nosso tempo no que se refere à experiência formativa, e talvez por isso seja necessário propor a seguinte questão: se a educação e o seu lócus preferencial, a escola, não se colocam como meio e espaço político de contraponto ao processo de gestão algorítmica, onde estaria localizado socialmente o “freio de emergência” para tal condição? Considerações finais [...] Logo, todas as coisas pareciam apontar para isso: que lentamente perdia o controle de meu eu original e melhor, e lentamente me incorporava ao segundo e pior (STEVENSON, 2019, p. 314). Pensar a reconfiguração cindida da subjetividade dos agentes educacionais hoje significa pensar, ao mesmo tempo, a posição desconfortável que a própria formação institucional é forçada a ocupar contra o pano de fundo do neoliberalismo algorítmico e seus desdobramentos durante a pandemia da Covid-19. À educação, mais que nunca, parece caber a tarefa de ajustar-se definitivamente entre duas posições ou lugares que, a bem da verdade, são irreconciliáveis, e que delimitam o seu conceito e as fronteiras de sua atividade. De um lado, educar é meramente adaptar, ajustar para a sobrevida individual num mundo instituído a priori, numa realidade cujas regras são sintomas apenas de uma impotência geral e incontornável. De outro lado, a educação poderia ser pensada como esfera autônoma que, diante das crescentes pressões de atualização de sua natureza – seja pelas chamadas novas tecnologias, pelo mundo empresarial que se espraia para todas as esferas da vida, pela necessidade de afrouxar o “eu” a ponto de produzir um sujeito maleável e em conformidade com o fluxo instável do campo do trabalho, entre outras –, sustenta que a força da sua realidade está justamente nesse desajuste entre o que dela se solicita e o que ela opta por elaborar como necessidade comum. Em outras palavras, a educação corresponderia à inatualidade de um conceito, ou melhor, à materialização crítica, inclusive institucional, da má consciência da época, ou seja, do resíduo formativo que já não encontra abrigo em outros espaços sociais. Esse conceito de educação seria consciente de que quando caem os muros institucionais da escola e da universidade, quando desmoronam as quatro paredes da sala de aula como esfera autônoma, o que resta não é o surgimento de uma formação “alternativa”,
image/svg+xmlGestão algorítmica da docência e educação em tempos de incertezaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1106 “desierarquizada”, mas sim a apropriação do seu conteúdo pela lógica da mercadoria que é, na verdade, a sua enfática negação. E quando o interior do conceito de educação por fim se partir, cabe pensar se não devemos também alterar esse nome. Apesar da relação bastante produtiva entre a circulação de mercadorias e o que ocorre nas escolas e universidades – o livro Sem Logo, de Naomi Klein (2002), constitui um retrato potente do convívio pacífico entre forças aparentemente contraditórias, como educação, marketing e consumo –, a verdade é que noções como “introspeção”, “atenção”, “formação” etc., que até ontem instituíam o horizonte mínimo das práticas educativas, tornaram-se formas antipáticas ao regime de tempo do capitalismo 24/7 e suas mecânicas de produção e circulação de estímulos e produtos. Longe de qualquer lição crítica acerca da relevância de uma presencialidade que nos foi subitamente roubada, da indissociabilidade entre corpo, alteridade e educação, a herança mais concreta deixada pela Covid-19, até o momento, tem sido aquela de perfurar o que entendemos sobre o conceito de Educação de modo a atualizá-lo em relação às exigências do capitalismo atencional emergente e da gestão ampliada da atenção. O campo da educação é cada vez mais atravessado, também ele, por todo um contexto “de excesso de conteúdos visuais, informacionais e interativos”, e “o que está em disputa é a atenção (e o tempo) para acessar e consumir todo este oceano de ofertas” (BENTES, 2021, p. 47). A sala de aula é vazada, transpassada, e com ela se parte a própria subjetividade dos docentes e demais agentes escolares, que agora precisam “estimular” os alunos, “capturar” o seu olhar, “gerenciar” os seus comportamentos e “averiguar” a interatividade dos recursos de que dispõem. Esses mesmos docentes, vale lembrar, estão submetidos a um semelhante esquema de controle do rendimento e do esforço atencional, suas ações sendo averiguadas, entre outros, por dispositivos de controle do número de acessos, tempo de utilização e rotina de interações que se dão em diários digitais, plataformas interativas, salas de estudos virtuais etc. Essa nova nomenclatura educacional, que passa a ser o campo conceitual corrente do que ainda hoje chamamos de escola ou universidade, corresponde a nada mais, nada menos do que aquilo que poderíamos classificar como uma “virada algorítmica” da docência, ou seja, um ajustamento e atualização da sala de aula a uma formação hiperpessoal, “otimizada” segundo uma temporalidade estritamente individual e direcionada para a produção de um Homo Economicusque vive e trabalha em função das plataformas digitais, da produção e circulação de estímulos e da captura da atenção do outro. Tudo isso pode parecer, neste momento, um exercício de futurologia, uma antecipação precoce de um futuro imprevisível, fechado ao nosso olhar. Mas não devemos aqui nos
image/svg+xmlAndré CECHINEL e Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1107 enganar: as sementes desse processo estão espalhadas por todos os lados, em campos muitíssimo férteis, como, por exemplo, a Base Nacional Comum Curricular brasileira, aprovada sob a forma de lei em 2017. “Itinerários formativos”, “projetos de vida”, “competências socioemocionais”, “trilhas formativas” – todos estes conceitos que expressam uma formação centrada no indivíduo e em sintonia com a nova razão do mundo, como não deixam de testemunhar muitas das competências gerais previstas para a Educação Básica no mesmo documento do MEC: “cultura digital”, “trabalho e projeto de vida”, “autoconhecimento e autocuidado”, “empatia e cooperação”, “responsabilidade e autonomia”. Jamais poderíamos antecipar na medida exata o quanto essa abundância do prefixo “auto” na BNCC ganharia contornos dramáticos e muito reais durante a pandemia da Covid-19, instante em que a formação passou a corresponder, quase que exclusivamente, ao sujeito que se posiciona em frente às telas e, abandonado à própria sorte – como a de ter ou não uma tela de qualidade para si –, administra uma torrente de estímulos não raro desconcertados. Na literatura, o encontro ou convívio com o duplo fantasmático, com o Doppelgänger, costuma ser prenúncio de morte iminente, ou de que a morte até mesmo já aconteceu, silenciosamente, sem ser notada. É isso que ocorre em livros como O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson, O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, nos contos fantásticos de Henry James, entre tantos outros. Mas essa regra tem suas exceções. No conto The secret sharer, de Joseph Conrad, por exemplo, é por meio do contato com o seu duplo, com o seu “cúmplice” ou “parceiro secreto”, que o jovem capitão de um navio – um jovem capitão recusado e confrontado por todos os demais tripulantes – retoma o autocontrole e decide a segurança final de sua jornada. O encontro com o outro que logo sou, neste caso, menos que anúncio da dissolução de si, significa retomada da autonomia exigida de quem conduz a viagem. Agora que o Doppelgänger da educação nos olha como uma fera à espreita, resta-nos imaginar se algum novo saber, se alguma síntese produtiva, poderá advir de um tal confronto, de modo que o conceito de formação possa se reconstruir em meio à sua crescente recusa. AGRADECIMENTOS: Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (FAPESC).
image/svg+xmlGestão algorítmica da docência e educação em tempos de incertezaRIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1108 REFERÊNCIAS BENTES, A. A indústria da influência e a gestão algorítmica da atenção. In:FERREIRA, M.; BOCK, A. M. B.; GONÇALVES, M. G. M. Estamos sob ataque! Tecnologia de comunicação na disputa de subjetividades. São Paulo: Instituto Silvia Lane, 2021. CODED Bias. Direção: Shalini Kantayya. Netflix, jan. 2020. (85 min). Disponível em: https://www.netflix.com/watch/81328723. Acesso em: 18 dez. 2020. DIAS, P. Nove entre 10 estudantes estavam mais ansiosos em descobrir opinião da musa do Enem, Débora Aladim, sobre a prova do que especular sobre tema da redação. Yahoo!notícias, nov. 2021 Disponível em: https://br.noticias.yahoo.com/nove-entre-10-estudantes-estavam-182349658.html. Acesso em: 30 nov. 2021. DOSTOIÉVSKI, F. Memórias do Subsolo. Tradução: Boris Schnaiderman. São Paulo: Editora 34, 2000. ELIOT, T. S. Obra Completa: Poesia. São Paulo: Arx, 2004. KLEIN, N. A doutrina do choque: A ascensão do capitalismo de desastre. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. KLEIN, N. Sem Logo. A tirania das marcas em mundo vendido. Rio de Janeiro: Record, 2002. KRACAUER, S. De Calighari à Hitler: Uma história psicológica do Cinema Alemão. Rio de Janeiro: Zahar, 1988. O'NEIL, C. Algoritmos de destruição de massa: Como o big data aumenta a desigualdade e destrói a democracia. Santo André: Editora Rua do Sabão, 2020. POE, E. A. Medo clássico. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2018. SALDAÑA, P. Pandemia desafia professores e traz alívio a quadro geral de depressão e burnout. In: Folha de São Paulo, jan. 2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/01/pandemia-desafia-professores-e-traz-alivio-a-quadro-geral-de-depressao-e-burnout.shtml?origin=folha. Acesso em: 08 dez. 2021. SILVEIRA, S. A. Democracia e os códigos invisíveis:Como os algoritmos estão modulando comportamentos e escolhas políticas. São Paulo: Edições SESC, 2019. STEVENSON, R. L. O médico e o monstro e outros experimentos. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2019. ZANFER, G. Síndrome da Gaiola caracteriza jovens que não querem contato com o mundo exterior. Jornal da USP, 2021. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/sindrome-da-gaiola-caracteriza-jovens-que-nao-querem-contato-com-o-mundo-exterior/. Acesso em: 08 dez. 2021.
image/svg+xmlAndré CECHINEL e Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1109 Como referenciar este artigo CECHINEL, A.; MUELLER, R. R. Gestão algorítmica da docência e educação em tempos de incerteza. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 Submetidoem: 22/12/2021 Revisões requeridas: 16/02/2022 Aprovado em: 10/04/2022 Publicado em: 30/06/2022 Processamento e edição: Editoria Ibero-Americana de Educação. Revisão, formatação, padronização e tradução.
image/svg+xmlGestión algorímica de la enseñanza y la educación en tiempos de incertidumbre RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831094 GESTIÓN ALGORÍMICA DE LA ENSEÑANZA Y LA EDUCACIÓN EN TIEMPOS DE INCERTIDUMBRE GESTÃO ALGORÍTMICA DA DOCÊNCIA E EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE INCERTEZA ALGORITHMIC TEACHING MANAGEMENT AND EDUCATION IN TIMES OF UNCERTAINTY André CECHINEL1Rafael Rodrigo MUELLER2RESUMEN: Este artículo propone discutir las memorias educativas en tiempos de pandemia a partir del análisis de un fenómeno reciente, a saber, el creciente control algorítmico de la enseñanza y la educación. En pocas palabras, la pandemia de Covid-19 sirvió y ha servido para producir el alineamiento entre, por un lado, el llamado capitalismo atencional y su producción y acumulación permanente de estímulos y datos, y, por otro, el espacio institucional de las prácticas educativas, hasta entonces pensado en términos de relativa autonomía. Para defender el argumento, dividimos el artículo en dos momentos: en primer lugar, señalamos la aparición de una figura incómoda para el campo de la educación, el doble educativo o Doppelgänger; a continuación, discutimos el vínculo cada vez más sólido entre la gestión algorítmica y la educación. Lo que se pretende demostrar, en resumen, es que la educación constituye un campo fértil para la acumulación de datos y la producción de estímulos de acuerdo con las demandas del capitalismo actual, y que la pandemia de la Covid-19 sirvió para acelerar un proceso de aclimatación y control de campo ya en marcha. PALABRAS CLAVE: Educación. Covid-19. Doppelgänger. Algoritmos. Atención. RESUMO: Este artigo propõe-se a discutir as memórias educativas em tempos pandêmicos a partir da análise de um fenômeno recente, a saber, o crescente controle algorítmico da docência e da educação. Em poucas palavras, a pandemia da Covid-19 serviu e tem servido ao propósito de produzir o alinhamento entre, por um lado, o chamado capitalismo atencional e sua produção e acúmulo permanente de estímulos e dados, e, por outro, o espaço institucional das práticas educativas, até então pensado em termos de relativa autonomia e autocentramento. Para defender o argumento, dividimos o artigo em dois momentos: primeiro, assinalamos o surgimento de uma desconfortável figura para o campo da educação, o duplo ou Doppelgänger educacional; a seguir, discutimos o laço, cada vez mais sólido, entre gestão algorítmica e educação. O que se busca demonstrar, em suma, é que a educação constitui um campo fértil para o acúmulo de dados e a produção de estímulos 1Universidad del Extremo Sur de Santa Catarina (UNESC), Criciúma SC Brasil. Profesor del Programa de Posgrado en Educación. Doctorado en Programa de Posgrado en Literatura (UFSC). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6620-3447. E-mail: andrecechinel@unesc.net 2Universidad del Extremo Sur de Santa Catarina (UNESC), Criciúma SC Brasil. Profesor del Programa de Posgrado en Educación. Doctorado en Educación (UFSC). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6637-2948. E-mail: rrmueller@unesc.net
image/svg+xmlAndré CECHINEL y Rafael Rodrigo MUELLER RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831095 segundo as demandas do capitalismo hoje, e que a pandemia da Covid-19 serviu para acelerar um processo de aclimatação e controle do campo já antes em curso. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Covid-19. Doppelgänger. Algoritmos. Atenção. ABSTRACT: This article intends to discuss educational memories in pandemic times based on the analysis of a recent phenomenon, namely, the growing algorithmic control of teaching and education. In a few words, the Covid-19 pandemic served and has served the purpose of producing an alignment between, on the one hand, the so-called attentional capitalism and its production and permanent accumulation of stimuli and data, and, on the other hand, the institutional space of educational practices, until recently thought of in terms of relative autonomy and self-centeredness. In order to defend this thesis, the article is divides into two moments: first, it points out the emergence of an uncomfortable figure for the field of education, the educational double or Doppelgänger; after that, it discusses the increasingly solid link between algorithmic management and education. What is intended to demonstrate, in short, is that education constitutes a fertile field for the accumulation of data and the production of stimuli according to the demands of capitalism today, and that the Covid-19 pandemic has served to accelerate a process of acclimatization and field control already in course. KEYWORDS: Education. Covid-19. Doppelgänger. Algorithms. Attention. IntroducciónEl enfriamiento momentáneo de la pandemia de Covid-19 en Brasil abre espacio e invita, especialmente al campo de la Educación, a reflexionar tanto sobre las reconfiguraciones de las prácticas educativas resultantes de las experiencias acumuladas durante los años 2020-2021 como, en particular, sobre las memorias didácticas, los desplazamientos identitarios y los tránsitos afectivos que comenzaron a reordenar y transformar radicalmente lo que hasta entonces concebíamos como el horizonte final de nuestras actividades pedagógicas. Ya sea recogido en casa para impartir clases a distancia en un espacio muchas veces improvisado, a menudo atravesado por constantes interrupciones de estímulos externos que ahora también conforman este nuevo espacio escolar, ya sea a través de la producción de materiales -vídeos, audios, folletos, recursos visuales, etc.- para encuentros sincrónicos o asíncronos, presenciales o remotos, es cierto que ningún docente ha salido indemne de los nuevos contornos educativos en aulas medidos en centímetros. Esperando con cautela la "nueva normalidad" -siempre anunciada, pero hasta hoy en desuso por las improvisaciones resultantes de las frecuentes reanudaciones y suspensiones de un cara a cara que, al parecer, ya no será el mismo- seguimos suspendidos, como en los versos de
image/svg+xmlGestión algorímica de la enseñanza y la educación en tiempos de incertidumbre RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831096 Eliot (2004, p. 181), "entre la idea / E realidad / Entre el movimiento / Y la acción [...] / Entre la concepción / Y la creación / Entre la emoción / Y la reacción". Es hora, como dicen, "cerca del equilibrio". Y no es precisamente una tarea sencilla, la de hacer balance de lo sucedido. En un primer momento, podríamos suponer que, después de casi dos años de escuelas funcionando de forma intermitente, a partir de clases precariamente impartidas a través de dispositivos electrónicos, de poco o ningún contacto con otras personas -con un "otro" condenado a asociarse al contagio de una enfermedad o incluso a la virtual compañía de la muerte-, profesores y alumnos estarían, en este punto, después del momento más grave de la pandemia, ansiosos por la restitución de un fuerte cara a cara, un costoso concepto de educación abandonado al disgusto, de un rendimiento físico del cuerpo sin el cual el concepto mismo de formación pierde su significado más vehemente. Podríamos imaginar todo esto, pero esto no se corresponde con precisión con el escenario que realmente representa lo que está sucediendo en este momento. No solo estamos hablando de la lentitud que se apodera de la Educación Superior y que, al contrario de lo que ocurre en la Educación Básica, denota indefinidamente el retorno al presencial bajo un argumento de salud pública que ya no parece sostenerse en ningún otro espacio social; tampoco informamos sólo al llamado "síndrome de la jaula" (cf. ZANFER, 2021), expresión utilizada para designar la creciente sensación entre los jóvenes -muy acentuada por la pandemia del Covid-19- de que los procesos de socialización producen sufrimiento y reservan imprevistos de todos los ausentes de una vida pasada entre cuatro paredes, en el dormitorio de la casa, pero conectados al exterior por pantallas informáticas y celulares. Estos síntomas de "ensimismamiento" y gestión privada de la vida, que revelan un creciente abandono del sentido de formación como inmersión en un mundo de alteridades y fricciones productivas, son profundamente reveladores y merecen la debida atención, pero no son el centro de lo que aquí nos preocupa. Ahora bien, lo que realmente revelan algunos estudios -y estos datos anuncian una faceta imprevista de los recuerdos de la pandemia que podríamos esperar- es que, para muchos docentes, a pesar de los inmensos desafíos introducidos por ella, la pandemia de Covid-19 también fue un momento de "alivio" para todo un cuadro general de depresión, agotamiento físico, desilusión profesional e inestabilidad psicológica vinculada a la profesión. Según una investigación sobre salud mental y bienestar de los docentes, coordinada por el investigador Flavio Comim, profesor de la Universidad Ramon Llull (Barcelona) y Cambridge (Reino Unido), "el período frenó las altas tasas de depresión y síndrome de
image/svg+xmlAndré CECHINEL y Rafael Rodrigo MUELLER RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831097 burnoutidentificadas entre los profesores brasileños". En otras palabras, "es como si el trabajo en las escuelas brasileñas fuera más perjudicial para la salud mental de estos profesionales que la inestabilidad causada por una pandemia" (SALDAÑA, 2021). Si los datos de la investigación son correctos -y sirven, como mínimo, como elemento de reflexión-, los docentes simplemente estaban agotados ante el Covid-19, que acabó sirviéndoles como desviación momentánea de una rutina de masas, a pesar, como se ha dicho, de todo el sufrimiento derivado de las dificultades de adaptación a la nueva realidad docente y al escenario más amplio de la propia pandemia, que nunca podrían bajarse de la enseñanza de improvisaciones y de un "aula" sin aula. Al final, quizás el estudio apunte a una tendencia que no ha hecho más que empeorar con la pandemia, pero que sin duda lo anticipa: el encanto que ejerce una virtualización de la educación que promete una iluminación formativa sin el malestar de tener que lidiar con muchas de las desgracias de la profesión y el aula. Esta indecisión entre la forma presencial y la virtualización de los procesos formativos -ahora incrustados en la subjetividad de los propios docentes- parece actualizar, para el campo de la educación, una lógica de complementariedad entre lo virtual y lo real que ya se está expandiendo a todos los campos de la vida humana. En pocas palabras, uno de los legados de la pandemia de Covid-19 para el área fue entonces la implementación final de un nuevo régimen ya en curso que concierne a la acomodación del docente a la inevitable producción de una subjetividad ajustada al gusto del tiempo y al ser social-virtual requerido de todas las demás profesiones. En lugar de ocupar un aula capaz de arrancar a los alumnos del espacio de virtualidad de los juegos, los ordenadores y los teléfonos móviles, y que, insistiendo en las cuatro paredes como espacio autónomo, restablezca momentáneamente la posibilidad de una energía atencional colectiva egocéntrica, los profesores comienzan a actuar como agentes divididos entre un espacio escolar leído como anacrónico y los estímulos constantes que deben producirse en plataformas virtuales que acumulan datos e información sobre todo y nadie. Este artículo propone, en términos generales, argumentar que la pandemia nos pone en la sala de algo que podríamos llamar una "gestión algorítmica de la enseñanza", reconfigurando la figura del profesor como una especie de Doppelgänger contemporáneo, un tema dividido entre, por un lado, un discurso de vida común, de comunidad, y, por otro, la vida instituida algorítmicamente por pantallas, acumulaciones de datos y virtualización de contactos sociales. Para defender esta posición, dividimos el texto en dos momentos principales: primero, realizamos una exposición de la génesis moderna del Doppelgängercomo ejemplo de división moderna del "yo"; luego debatimos específicamente el vínculo
image/svg+xmlGestión algorímica de la enseñanza y la educación en tiempos de incertidumbre RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831098 entre la educación y la gestión algorítmica de la vida y también de la educación. Finalmente, lo que se espera indicar es que la división real/virtual del docente, acentuada por la pandemia del Covid-19, corresponde a la actualización algorítmica de un destino histórico al que el docente y el área de educación deben resistir, es decir, el control ordenado de la noción de formación cultural. La formación cultural del doble La evidencia de este descubrimiento fue cómo comenzó a imitarme perfectamente en la forma de hablar y actuar, y en la admirable forma en que desempeñó su papel. [...] No me aventuré, por supuesto, en mis más altos timbres, pero el tono era idéntico: su peculiar susurro se convirtió en un impecable eco mío (POE, 2018, p. 39). En su obra De Caligari a Hitleruna historia psicológica del cine alemán(1974), Siegfried Kracauer desarrolla un análisis del cine expresionista alemán como una forma de entender las tendencias psicológicas3Alemania de 1918 a 1933. El libro no trata del cine en sí, sino de un análisis social y psicológico de la Alemania pre-Hitleriana, tomando el cine más como un medio de investigación que como el objeto de su investigación. Para Kracauer (1998), en el análisis cinematográfico, a partir de la especificidad de un tiempo y contexto dados, podría ayudarnos a comprender no solo el fenómeno en sí, sino también el "espíritu del tiempo". Las películas figuraban como expresiones de un inconsciente colectivo de la nación ("multitudes anónimas"), exteriorizando lo internalizado (inconsciente) y expresando, no siempre con claridad, los deseos y ansiedades de las masas y su átomo constitutivo, el sujeto. Según el autor, la película El estudiante de Praga, de 1913, introdujo en el cine un tema que se convertiría en una obsesión de la cinematografía alemana de la época: "[...] una profunda y terrible preocupación por los fundamentos de la i" (KRACAUER, 1988, p. 44). En estos términos, el conflicto interno de la i se exteriorizaría a través de la constitución de un Doppelgänger: yo y el otro, el sujeto y la multitud, etc., y este doble marcaría la representación del conflicto interno de la clase media alemana. Películas como El Golem(1915) y Homúnculo(1916) representan personajes cuyos rasgos de personalidad se originan en una anormalidad, o, más propiamente, Kracauer afirma que la "i" de estos personajes exteriorizaría el inconsciente colectivo alemán en función de sus 3Otras obras intentaron a posteriorianalizar el período de dominación del Tercer Reich bajo ese mismo sesgo psicológico: Sueños en el Tercer Reich de Charlotte Beradt (1966), y La mente de Adolf Hitler, deWalter Langer (1972).
image/svg+xmlAndré CECHINEL y Rafael Rodrigo MUELLER RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831099 propias características como el resentimiento, la frustración, la inferioridad, el desprecio y el odio. En este caso, el "yo colectivo" se expresa por la figura del Doppelgänger desde una moral dividida, en la que los personajes "anormales" agruparían en sí mismos las características no deseadas de la clase media alemana, haciendo al doble germánico (el "otro") responsable de los males y crisis experimentados en el período, así como del aumento gradual del nivel de inestabilidad social en el país. La figura fantasmal y sobrenatural del doble presente en las películas del expresionismo alemán pre-Hitler representaba las aflicciones que el colectivo no se dejaba exteriorizar; así, como en la pantalla de cine, las representaciones simbólicas del otro ejercían una especie de dominación social organizada a partir de un circuito de afectos como el resentimiento, la venganza y el odio. Así, por la figura del Doppelgänger, los extractos medios de la sociedad alemana de la época podían purgar sus demonios, normalizando su sufrimiento psíquico y moral estabilizando artificialmente la inestabilidad social que se vislumbraba en el horizonte histórico. El papel de Doppelgängeren las películas, según el análisis de Kracauer (1988), era representar en el plano cinematográfico la forma-sujeto atormentado en y por la vida cotidiana, sugiriendo que esta entidad fantasiosa dividida (un "sujeto virtual") estableció un vínculo orgánico con el ser colectivo real de ciertos extractos de la sociedad alemana, hasta el punto de que la representación se convierte en la referencia para el sujeto mismo. En primera lectura, el hallazgo del autor se limitaría a los elementos espaciotemporales y las dimensiones políticas y culturales de Alemania durante el ascenso del nazismo; sin embargo, es posible identificar en el argumento presente en el trabajo que tales características psicológicas, supuestamente restringidas al país analizado, serían consecuencias de algo presente en la constitución de la propia forma social moderna y que encontraron terreno fértil para germinar en el contexto puesto. En este caso, nos referimos a un proceso de división que establece una cierta forma de organización y ordenamiento centrada en la dominación social y la jerarquía, y que exige una sujeción necesaria por parte del individuo para acomodarse en esta estructura. Este proceso se basaría centralmente en una razón instrumental que depende, para ser eficaz, de una racionalidad matemática y estadística, en la que el ordenamiento presente instituye el futuro sobre bases exactas y, por tanto, sólidas en su objetividad. Es decir, si las características de tal división identificadas en las obras del expresionismo representaran simbólicamente un fenómeno que ya se manifestaba objetivamente en la vida cotidiana alemana y más allá, sería posible predecir que esta
image/svg+xmlGestión algorímica de la enseñanza y la educación en tiempos de incertidumbre RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831100 estructura social no solo se desarrollaría durante el siglo XX, sino que entraría en el siglo 21 bajo el mismo manto de razón calculadora que le ha proporcionado elementos para la gestión de la sociedad moderna, en este caso, una nueva forma de organización y orden social vinculada a una base científico-tecnológica acorde con las exigencias de nuestros tiempos. El Doppelgängerdel siglo 21, una figura socialmente dividida, habría sido protegido en la misma forma social, pero ahora completamente desarrollado por una fusión entre las tecnologías de la información y la comunicación (TICs) y la ciencia computacional, fatalmente verificada por la omnipresencia de los algoritmos en nuestra vida cotidiana. Si la indeterminación fuera la representación del horror moderno, y la forma de eliminarlo sería la búsqueda incesante de un ordenamiento social y una jerarquización, se puede concluir entonces, según Silveira (2019, p. 18), que "la sociedad operada por algoritmos parece ser un destino pretendido por lo moderno". La creencia en la objetividad y neutralidad del conocimiento, así como su necesidad de organización y clasificación, promesas científicas típicas de la modernidad, son, de hecho, el núcleo duro de la tipificación de los algoritmos. En cierto modo, es en la ambivalencia entre los síntomas de una modernidad del siglo 21 y la algorítmica de las relaciones sociales que identificamos un proceso de gestión algorítmica de la enseñanza, en el que la educación estaría sometida a la misma estructura de regulación de los algoritmos, reproduciéndose con el colectivo docente, por lo tanto, un Doppelgänger formativo: un sujeto que, ante la imposibilidad de no tener su imagen circulando en las distintas redes sociales, establece una "doble i" a partir de los datos que aporta en el universo mediático, más concretamente, una identidad algorítmica. Aquí defendemos la tesis, como se ha dicho, de que la naturalización de la gestión algorítmica en el ámbito de la educación compromete la enseñanza tanto desde una dimensión colectiva como también en sus aspectos individuales. Algoritmo y Educación Oh, dime, ¿quién fue el primero en declarar, en proclamar que el hombre comete ignominias únicamente por no conocer sus intereses reales, y que bastaría con instruirlo, abrir los ojos a sus intereses verdaderos y normales, para que pueda ser inmediatamente ... amable y noble? ¡Oh, pequeño niño de pecho! ¡Oh, criatura inocente y pura! (DOSTOIÉVSKI, 2000, p. 32-33). Para los docentes, así como para otros trabajadores, el tiempo de aislamiento durante la pandemia no era sinónimo de tiempo libre, como muchos insisten en afirmar, asociando el home officecon algo positivo en sí mismo. Lo que en realidad se verificó objetivamente fue
image/svg+xmlAndré CECHINEL y Rafael Rodrigo MUELLER RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831101 una profusión de actividades escolares que se desarrollan en la modalidad remota, generando invariablemente una considerable cantidad de teletrabajo por parte de los docentes. Aparte del espacio físico de la escuela y acogido por las diversas pantallas, la controvertida comodidad del entorno privado, combinada con una especie de nueva "libertad" individual, contrasta con la vigilancia velada operada por lasBig Techs, que no solo organizan el contenido (datos), sino también la forma en que estos son apropiados(big data). La oferta "gratuita" de herramientas y servicios educativos por parte de partes de estas empresas tecnológicas, así como la disponibilidad masiva de datos personales en lawebpor parte de docentes y estudiantes, como parte del proceso de adaptación al estado pandémico, o la posible "nueva normalidad", provocaron que la gestión algorítmica (a nivel colectivo) y las identidades algorítmicas (a nivel individual) reorganizaran la vida cotidiana institucional de la educación hasta el punto de naturalizar tanto el aislamiento del aislamiento (a nivel colectivo) como las identidades algorítmicas (a nivel individual) para reorganizar la vida cotidiana institucional de la educación hasta el punto de naturalizar tanto el aislamiento del aislamiento (tanto aislamiento) como el aislamiento tanto del aislamiento del como un nuevo cara a cara a costa de una opacidad formativa que nubla los límites de lo real y lo virtual en lo que respecta al trabajo docente. En este contexto, el Doppelgänger formativose constituye en estos espacios sombreados entre lo presencial y lo virtual sometido a un modelo de organización social que privilegia el algoritmo, la representación de la objetividad cuantificada, en detrimento del propio ser. Apesar de que hoy ya condonamos con diversas representaciones virtuales de actividades docentes, comoedutubers4, el teletrabajo de los docentes durante la pandemia, a través de clases a distancia, desdibujó los límites que antes permanecían discretamente visibles. El uso ampliado de pantallas por parte de los docentes establece nuevas formas de controlar el trabajo docente a través de dispositivos como los ampliamente difundidos "diarios de clase en línea", donde los profesores proporcionan información sobre, entre otros, el rendimiento de los estudiantes y el control de presencia. El punto central de estas herramientas es que el acceso a su base de datos genera multitud de información sobre la propia labor docente, creando posibilidades que van desde el ranking de rendimiento hasta casos concretos de despido. Esta situación, incluso desde un punto de vista histórico, no sería 4Con más de 3 millones de seguidores en su canal de Youtube, Débora Aladim, también conocida como la "musa de ENEM", es la edutuber más destacada del panorama nacional, habiendo vendido cerca de 200.000 cursos online y cerca de 20.000 ejemplares de su libro Escritura infalible. Sobre la prueba de 2021, un informe reciente indica que "9 de cada 10 estudiantes estaban más ansiosos por descubrir la opinión de la musa de Enem, Deborah Aladim, sobre la prueba que por especular sobre el tema de la escritura" (DIAS, 2021).
image/svg+xmlGestión algorímica de la enseñanza y la educación en tiempos de incertidumbre RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831102 necesariamente una novedad: en su libro Algoritmos de Destrucción Masiva (2020), Cathy O'Neil utiliza, como ejemplo, como ejemplo de una forma de gestión algorítmica que ha ido mejorando desde la década de 1980, casos relacionados con la educación en Estados Unidos, que incluyen tanto el ranking descontextualizado de instituciones de educación superior, como los despidos de docentes bien evaluados por la implementación, en ciertos estados americanos, de sistemas algorítmicos basados en criterios no consistentes con la realidad docente. El reto identificado en los casos citados por O'Neil en el ámbito de la educación se refería a la dificultad de establecer la evaluación (ya sea de docentes o incluso de instituciones de educación superior) basada efectivamente en criterios objetivos; por lo tanto, correspondería a los sistemas algorítmicos realizar la tarea de eliminar cualquier remanente de subjetividad que pudiera perjudicar el proceso de evaluación tan necesario para el buen desempeño de sujetos e instituciones. Lo que se observa en vista de esta dinámica específica es el retiro mutuo del ser humano del proceso de evaluación, así como la omnipresencia del sujeto algorítmico en el espacio educativo, delegando en él las decisiones relevantes que interfieren directamente en la forma en que se debe organizar y gestionar el trabajo docente. Y ese parece ser el elemento central que ha permeado el contexto educativo particularmente en su versión virtual. online: la posibilidad incontestable, por parte de los algoritmos, de dictar sutilmente el ritmo y el tono de la enseñanza, haciendo que la identidad algorítmica prevalezca a través delDoppelgänger formativoal que está sometido el profesor. El trabajo concreto de la labor docente pierde fuerza y visibilidad con el rizoma multidimensional que establece su representación virtual, tanto desde la gestión algorítmica -el sujeto sin cuerpo- como desde sus avatares, losedutubers, que llaman la atención de cientos de miles de alumnos con su escalofrío y poca reflexión. La paradoja del no presencialismo dejó sus huellas en la rutina escolar no solo por la inconstancia del aprendizaje, sino también por la inestabilidad praxeológica en la que se encuentra el sujeto de enseñanza en cuanto a su desempeño bidimensional: por un lado, el distanciamiento del espacio escolar también llevó a la eliminación de una serie de situaciones no deseadas (que van desde la violencia física hasta el síndrome de burnout, por ejemplo); por otro lado, la ubicuidad de las clases online generóuna predisposición algorítmica por parte de los docentes respecto al control de su vida profesional por parte de las Big Techs. Contradictoriamente, las posibles líneas de escape en la labor docente del aula desaparecieron durante el llenado de los diarios onliney en el flujo ininterrumpido característico de las clases virtuales a través de contactos permanentes entre
image/svg+xmlAndré CECHINEL y Rafael Rodrigo MUELLER RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831103 estudiantes y profesores a través de WhatsApp, mejorando sustancialmente la gestión algorítmica del profesorado. Está en y por el control de los datos puestos a disposición por los profesores en las diversas plataformas online(de diarios a teleconferencias) que actualmente es posible evaluar el desempeño docente individual y colectivo a niveles que hasta entonces no se considerarían sin el aislamiento que brinda la pandemia del Covid-19. Experimentamos en el espacio de la educación lo que Naomi Klein identifica como la doctrina del shock: [...] el desastre original golpe de Estado, ataque terrorista, liquidez del mercado, guerra, tsunami, huracánpone a toda la población en un estado de shock colectivo. [...] Al igual que el prisionero aterrorizado que renuncia a los nombres de sus compañeros y renuncia a su propia fe, las sociedades en estado de shock a menudo renuncian a cosas que en otras situaciones habrían defendido con todas sus fuerzas (KLEIN, 2008, p. 26-27). Aunque la vigilancia algorítmica ya se sentía antes de la pandemia, el estado de shock vía aislamiento proporcionaba paso libre para que nuevos espacios pudieran evidenciar la omnipresencia de la gestión a través delBig Data, como es el caso de la escuela. La defensa de una actuación presencial incontestable por parte de los docentes ya no se presenta con la misma fuerza respecto a los primeros días de la pandemia, pues el ser social virtual docente, en cierta medida, acabó convirtiéndose en el referente ideal del Formativo Doppelgänger. El espacio escolar no es visto como el no-lugar de la gestión algorítmica, un contrapunto situacional no habitado por likesy selfiesque se multiplican en la noosfera virtual; de hecho, lo que queda en los documentos oficiales para la Educación Básica como la Base Curricular Nacional Común (BNCC)son las diversas formas de estímulos onlineque luego deben incorporarse incondicionalmente al proceso formativo como posibilidades de alinear el currículo escolar con las demandas de la sociedad, tanto que una de las diez competencias generales que guían el BNCC es la llamada "cultural digital". En estos términos, las exigencias que planteaba la estructura normativa de la Educación Básica ya estimulaban lo que la pandemia intentaba potenciar: la naturalización, en nuestros tiempos, de una sociedad gestionada por lasBigTechsa partir delBig Data. En el documental de 2020 Coded Bias, vimos el caso de un maestro de escuela primaria de Houston, Texas, con una historia ejemplar que fue despedido después de un análisis sesgado por un algoritmo de evaluación del desempeño. En el libro de Cathy O'Neil, el decano del sistema de escuelas secundarias de Washington, D.C., implementó un sistema de evaluación de maestros que "tenía como objetivo medir la efectividad del maestro [...]
image/svg+xmlGestión algorímica de la enseñanza y la educación en tiempos de incertidumbre RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831104 enseñanza de matemáticas y habilidades lingüísticas" (O'NEIL, 2020, p. 10). Lo que se diagnosticó tras la implementación del mencionado sistema de modelización de valor agregado fue, de hecho, que incluso los docentes evaluados positivamente por el grupo de padres y alumnos de los centros escolares, en base a los criterios establecidos por el sistema algorítmico, fueron considerados didácticamente no aptos en su despacho. El diagnóstico sobre una gestión algorítmica de la enseñanza ya no sería una tendencia a venir, sino una presencia fantasmal que no se presenta en su totalidad. Todo esto se hace bien por el Doppelgänger formativode la enseñanza es, que compite consigo mismo por la atención de los alumnos/espectadores, o bien por el quantumdatos disponibles y gestionados en plataformas educativas online, o por la indiscutible positivización de una sociedad conectada que considera la tarea más urgente de la escuela de nuestro tiempo la de proporcionar la inmersión profunda de los estudiantes en el mundo de la hiperconectividad. Las huellas dejadas por la presencia algorítmica sensible/supersensible se muestran en y por la condición individual, ahora conforman los contornos de la sociedad ampliada, de modo que el mensaje transmitido es que cuanta más objetividad y organización social se busca a través de la algorítmica, menos circula el ser y más circula la cosa o, al menos, lo que gozaría de un mayor grado de autonomía sería la representación de unos, la identidad algorítmica del sujeto. Si en la obra de Kracauer elDoppelgängercomo representación simbólica de un extracto de la sociedad alemana de la época tenía la función de exteriorizar desde la figura del "otro" sufrimiento psíquico en un intento de reordenar el caos social, la educación, basada en la tecnociencia del siglo 21, constituyó suDoppelgängermás concretamente la asignatura algorítmica de un profesor, como representación de una persona virtualizada y alternativa al sufrimiento psíquico producido en el espacio presencial. La división de la asignatura docente que proporciona la gestión algorítmica establece simultáneamente una doble identidad al docente, haciendo que circule por dos espacios concomitantes para ejercer su cargo. Debido al redimensionamiento de estos mismos espacios formativos a partir del aislamiento pandémico, lo virtual se superpuso -en una escala social jerárquica- con lo presencial. En este sentido, es como si la asignatura algorítmica del profesor, o el quantum datos que ese mismo profesor pone a disposición sobre sí mismo en las distintas redes sociales y plataformas online, establecer no sólo un ideal de sí mismo, sino también un ideal de enseñanza de sí mismo, proporcionar al sujeto que asiste al espacio del aula un lugar más pequeño en la escala de representación social. En estos términos, la figura del "extraño", "anormal", "maligno", atribuida al Doppelgänger en laliteratura o en piezas cinematográficas, ya no estaría ligada al
image/svg+xmlAndré CECHINEL y Rafael Rodrigo MUELLER RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831105 "sujeto virtual", sino al sujeto real, al que ahora, por su incapacidad mediática y algorítmica, se enfrenta a su doble yo con resentimiento y resentimiento, reinstituyendo un circuito de sufrimiento psíquico que se produce en una dimensión y se reproduce en otra. Y si los datos (big data) enmascaran el sufrimiento individual a través de su circulación ininterrumpida, la gestión algorítmica de la enseñanza permite lo que supuestamente el mundo real nunca ha logrado: un control atiempo completosobre el desempeño docente basado en criterios objetivos y cuantificables. La identificación de lo que serían los posibles indicios de lo que aquí llamamos la gestión algorítmica de la enseñanza parece ser una de las tareas de nuestro tiempo con respecto a la experiencia formativa, y quizás por ello sea necesario plantear la siguiente pregunta: si la educación y su lugar preferido, la escuela, no se sitúan como medio y espacio político de contrapunto al proceso de gestión algorítmica, ¿Dónde estaría ubicado socialmente el "freno de emergencia" para tal condición? Consideraciones finales [...] Pronto, todas las cosas parecieron apuntar a esto: que lentamente perdí el control de mi idea original y mejor, y lentamente me incorporé a la segunda y peor (STEVENSON, 2019, p. 314). Pensar en la reconfiguración dividida de la subjetividad de los agentes educativos hoy significa pensar, al mismo tiempo, la incómoda posición que la propia formación institucional se ve obligada a ocupar en el contexto del neoliberalismo algorítmico y su desarrollo durante la pandemia del Covid-19. La educación, más que nunca, parece encajar en la tarea de ajustar definitivamente entre dos posiciones o lugares que, en aras de la verdad, son irreconciliables, y que delimitan su concepto y los límites de su actividad. Por un lado, educar es simplemente adaptarse, ajustarse para la supervivencia individual en un mundo instituido a priori, en una realidad cuyas reglas son síntomas sólo de una impotencia general e inevitable. Por otro lado, la educación podría ser pensada como una esfera autónoma que, ante las crecientes presiones de actualización de su naturaleza, ya sea por las llamadas nuevas tecnologías, por el mundo de los negocios que se facilita a todas las esferas de la vida, por la necesidad de aflojar la "i" hasta el punto de producir un sujeto maleable y de acuerdo con el flujo inestable del campo de trabajo, entre otros, sostiene que la fuerza de su realidad radica precisamente en este desajuste entre lo que se le pide y lo que ella elige elaborar como necesidad común. En otras palabras, la educación correspondería a la no actualidad de un concepto, o más bien a la
image/svg+xmlGestión algorímica de la enseñanza y la educación en tiempos de incertidumbre RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831106 materialización crítica, incluso institucional, de la escasa conciencia de la época, es decir, del residuo formativo que ya no encuentra cobijo en otros espacios sociales. Este concepto de educación sería consciente de que cuando caen los muros institucionales de la escuela y la universidad, cuando las cuatro paredes del aula se derrumban como una esfera autónoma, lo que queda no es el surgimiento de una formación "alternativa", "desierarquizada", sino más bien la apropiación de su contenido por la lógica de la mercancía que es, de hecho, su rotunda negación. Y cuando el interior del concepto de educación finalmente se vaya, vale la pena preguntarse si no deberíamos cambiar también ese nombre. A pesar de la relación muy productiva entre el movimiento de mercancías y lo que sucede en las escuelas y universidades el libro de Naomi KleinSin logotipo(2002), es un poderoso retrato de la convivencia pacífica entre fuerzas aparentemente contradictorias, como la educación, el marketing y el consumo las nociones como "introspección "atención", "formación", etc., que hasta ayer establecían el horizonte mínimo de las prácticas educativas, se convirtieron en formas antipáticas al régimen temporal del capitalismo 24/7 y su mecánica de producción y circulación de estímulos y productos. Lejos de cualquier lección crítica sobre la relevancia de un cara a cara que nos ha sido robado repentinamente, la indisociabilidad entre cuerpo, alteridad y educación, el legado más concreto que ha dejado el Covid-19, hasta la fecha, ha sido el de perforar lo que entendemos sobre el concepto de Educación para actualizarlo en relación con las demandas del capitalismo emergente y la gestión ampliada de la atención. El campo de la educación está cada vez más atravesado, él también, a través de todo un contexto "de exceso de contenido visual, informativo e interactivo", y "lo que está en disputa es la atención (y el tiempo) para acceder y consumir todo este océano de ofertas" (BENTES, 2021, p. 47). El aula se filtra, se transciende, y con ella parte la subjetividad de los docentes y otros agentes escolares, que ahora necesitan "estimular" a los alumnos, "captar" su mirada, "gestionar" sus comportamientos e "investigar" la interactividad de los recursos de los que disponen. Estos mismos docentes, vale la pena recordar, son sometidos a un esquema similar para controlar los ingresos y el esfuerzo asistencial, siendo investigadas sus acciones, entre otros, mediante dispositivos para controlar el número de accesos, tiempo de uso e interacciones rutinarias que se producen en diarios digitales, plataformas interactivas, salas de estudio virtuales, etc. Esta nueva nomenclatura educativa, que se convierte en el campo conceptual actual de lo que todavía llamamos escuela o universidad, corresponde nada más, nada menos que a lo que podríamos clasificar como un "giro algorítmico" de la enseñanza, es decir, un ajuste y actualización del aula a una formación hiperpersonal, "optimizada" según
image/svg+xmlAndré CECHINEL y Rafael Rodrigo MUELLER RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831107 una temporalidad estrictamente individual y dirigida a la producción de un Homo Economicusque vive y trabaja de acuerdo a las plataformas digitales, la producción y circulación de estímulos y la captación de la atención de los demás. Todo esto puede parecer, en este momento, un ejercicio de futurología, una anticipación temprana de un futuro impredecible, cerrado a nuestros ojos. Pero no debemos engañarnos aquí: las semillas de este proceso están dispersas por todas partes, en campos muy fértiles, como la Base Curricular Nacional Común de Brasil, aprobada en forma de ley en 2017. "Itinerarios formativos", "proyectos de vida", "habilidades socioemocionales", "senderos formativos": todos estos conceptos que expresan una formación centrada en el individuo y en armonía con la nueva razón del mundo, como se atestiguan muchas de las competencias generales previstas para la Educación Básica en el mismo documento del MEC: "cultura digital", "proyecto de trabajo y vida", "autoconocimiento y autocuidado”, “empatía y cooperación", "responsabilidad y autonomía". Nunca pudimos anticipar en la medida exacta cuánto ganaría esta abundancia del prefijo "auto" en el BNCC contornos dramáticos y muy reales durante la pandemia de Covid-19, instante en que la formación comenzó a corresponder, casi exclusivamente, al sujeto que se para frente a las pantallas y, abandonado a su propia suerte como tener o no una pantalla de calidad para sí mismo, administra un torrente de estímulos a menudo desconcertados. En la literatura, el encuentro o convivencia con el doble fantasista, con el Doppelgänger, suele ser un presagio de muerte inminente, o que la muerte incluso ha sucedido, en silencio, sin ser notado. Esto es lo que sucede en libros como El médico y el monstruo, por Robert Louis Stevenson, El retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, en los fantásticos cuentos de Henry James, entre muchos otros. Pero esta regla tiene sus excepciones. En el cuento de Joseph Conrad,The secret sharer, por ejemplo, es a través del contacto con su doble, con su "cómplice" o "compañero secreto", que el joven capitán de un barco -un joven capitán rechazado y confrontado por todos los demás miembros de la tripulación- recupera el autocontrol y decide la seguridad final de su viaje. El encuentro con el otro que pronto soy, en este caso, menos que el anuncio de la disolución de sí mismo, significa la reanudación de la autonomía requerida de quienes realizan el viaje. Ahora que el Doppelgänger de la educación nos mira como una bestia al acecho, solo podemos preguntarnos si algún conocimiento nuevo, si es que hay una síntesis productiva, puede provenir de tal confrontación, de modo que el concepto de formación pueda reconstruirse en medio de su creciente rechazo.
image/svg+xmlGestión algorímica de la enseñanza y la educación en tiempos de incertidumbre RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831108 GRACIAS: Fundación de Apoyo a la Investigación Científica y Tecnológica del Estado de Santa Catarina (FAPESC). REFERENCIAS BENTES, A. A indústria da influência e a gestão algorítmica da atenção. In:FERREIRA, M.; BOCK, A. M. B.; GONÇALVES, M. G. M. Estamos sob ataque! Tecnologia de comunicação na disputa de subjetividades. São Paulo: Instituto Silvia Lane, 2021. CODED Bias. Direção: Shalini Kantayya. Netflix, jan. 2020. (85 min). Disponible en: https://www.netflix.com/watch/81328723. Acceso: 18 dic. 2020. DIAS, P. Nove entre 10 estudantes estavam mais ansiosos em descobrir opinião da musa do Enem, Débora Aladim, sobre a prova do que especular sobre tema da redação. Yahoo!notícias, nov. 2021 Disponible en: https://br.noticias.yahoo.com/nove-entre-10-estudantes-estavam-182349658.html. Acceso: 30 nov. 2021. DOSTOIÉVSKI, F. Memórias do Subsolo. Tradução: Boris Schnaiderman. São Paulo: Editora 34, 2000. ELIOT, T. S. Obra Completa: Poesia. Sao Paulo: Arx, 2004. KLEIN, N. A doutrina do choque: A ascensão do capitalismo de desastre. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. KLEIN, N. Sem Logo. A tirania das marcas em mundo vendido. Rio de Janeiro: Record, 2002. KRACAUER, S. De Calighari à Hitler: Uma história psicológica do Cinema Alemão. Rio de Janeiro: Zahar, 1988. O'NEIL, C. Algoritmos de destruição de massa: Como o big data aumenta a desigualdade e destrói a democracia. Santo André: Editora Rua do Sabão, 2020. POE, E. A. Medo clássico. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2018. SALDAÑA, P. Pandemia desafia professores e traz alívio a quadro geral de depressão e burnout. In: Folha de São Paulo, jan. 2021. Disponible en: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/01/pandemia-desafia-professores-e-traz-alivio-a-quadro-geral-de-depressao-e-burnout.shtml?origin=folha. Acceso: 08 dic. 2021. SILVEIRA, S. A. Democracia e os códigos invisíveis:Como os algoritmos estão modulando comportamentos e escolhas políticas. São Paulo: Edições SESC, 2019. STEVENSON, R. L. O médico e o monstro e outros experimentos. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2019.
image/svg+xmlAndré CECHINEL y Rafael Rodrigo MUELLER RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1108, jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.169831109 ZANFER, G. Síndrome da Gaiola caracteriza jovens que não querem contato com o mundo exterior. Jornal da USP, 2021. Disponible en: https://jornal.usp.br/atualidades/sindrome-da-gaiola-caracteriza-jovens-que-nao-querem-contato-com-o-mundo-exterior/. Acceso: 08 dic. 2021. Cómo hacer referencia a este artículo CECHINEL, A.; MUELLER, R. R. Gestión algorímica de la enseñanza y la educación en tiempos de incertidumbre. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1094-1109, 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 Presentado en: 22/12/2021 Revisiones requeridas: 16/02/2022 Aprobado en: 10/04/2022 Publicado en: 30/06/2022 Procesamiento y edición: Editora Ibero-Americana de Educação. Corrección, formateo, normalización y traducción.
image/svg+xmlAlgorithmic teaching management and education in times of uncertainty RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1091-1105, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1091 ALGORITHMIC TEACHING MANAGEMENT AND EDUCATION IN TIMES OF UNCERTAINTY GESTÃO ALGORÍTMICA DA DOCÊNCIA E EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE INCERTEZA GESTIÓN ALGORÍMICA DE LA ENSEÑANZA Y LA EDUCACIÓN EN TIEMPOS DE INCERTIDUMBRE AndréCECHINEL1Rafael Rodrigo MUELLER2RESUMO: Este artigo propõe-se a discutir as memórias educativas em tempos pandêmicos a partir da análise de um fenômeno recente, a saber, o crescente controle algorítmico da docência e da educação. Em poucas palavras, a pandemia da Covid-19 serviu e tem servido ao propósito de produzir o alinhamento entre, por um lado, o chamado capitalismo atencional e sua produção e acúmulo permanente de estímulos e dados, e, por outro, o espaço institucional das práticas educativas, até então pensado em termos de relativa autonomia e autocentramento. Para defender o argumento, dividimos o artigo em dois momentos: primeiro, assinalamos o surgimento de uma desconfortável figura para o campo da educação, o duplo ou Doppelgänger educacional; a seguir, discutimos o laço, cada vez mais sólido, entre gestão algorítmica e educação. O que se busca demonstrar, em suma, é que a educação constitui um campo fértil para o acúmulo de dados e a produção de estímulos segundo as demandas do capitalismo hoje, e que a pandemia da Covid-19 serviu para acelerar um processo de aclimatação e controle do campo já antes em curso. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Covid-19. Doppelgänger. Algoritmos. Atenção.RESUMEN: Este artículo propone discutir las memorias educativas en tiempos de pandemia a partir del análisis de un fenómeno reciente, a saber, el creciente control algorítmico de la enseñanza y la educación. En pocas palabras, la pandemia de Covid-19 sirvió y ha servido para producir el alineamiento entre, por un lado, el llamado capitalismo atencional y su producción y acumulación permanente de estímulos y datos, y, por otro, el espacio institucional de las prácticas educativas, hasta entonces pensado en términos de relativa autonomía. Para defender el argumento, dividimos el artículo en dos momentos: en primer lugar, señalamos la aparición de una figura incómoda para el campo de la educación, el doble educativo o Doppelgänger; a continuación, discutimos el vínculo cada vez más sólido entre la gestión algorítmica y la educación. Lo que se pretende demostrar, en resumen, es que la educación constituye un campo fértil para la acumulación de datos y la producción de 1University of the Extreme South of Santa Catarina (UNESC), Criciúma – SC – Brazil. Professor of the Graduate Program in Education. Doctorate in the Graduate Program in Literature (UFSC). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6620-3447. E-mail: andrecechinel@unesc.net 2University of the Extreme South of Santa Catarina (UNESC), Criciúma – SC – Brazil. Professor of the Graduate Program in Education. Doctorate in Education (UFSC). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6637-2948. E-mail: rrmueller@unesc.net
image/svg+xmlAndré CECHINEL and Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1091-1105, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1092 estímulos de acuerdo con las demandas del capitalismo actual, y que la pandemia de la Covid-19 sirvió para acelerar un proceso de aclimatación y control de campo ya en marcha. PALABRAS CLAVE: Educación. Covid-19. Doppelgänger. Algoritmos. Atención. ABSTRACT: This article intends to discuss educational memories in pandemic times based on the analysis of a recent phenomenon, namely, the growing algorithmic control of teaching and education. In a few words, the Covid-19 pandemic served and has served the purpose of producing an alignment between, on the one hand, the so-called attentional capitalism and its production and permanent accumulation of stimuli and data, and, on the other hand, the institutional space of educational practices, until recently thought of in terms of relative autonomy and self-centeredness. In order to defend this thesis, the article is divides into two moments: first, it points out the emergence of an uncomfortable figure for the field of education, the educational double or Doppelgänger; after that, it discusses the increasingly solid link between algorithmic management and education. What is intended to demonstrate, in short, is that education constitutes a fertile field for the accumulation of data and the production of stimuli according to the demands of capitalism today, and that the Covid-19 pandemic has served to accelerate a process of acclimatization and field control already in course. KEYWORDS: Education. Covid-19. Doppelgänger. Algorithms. Attention. IntroductionThe momentary cooling down of the Covid-19 pandemic in Brazil opens space and invites, especially the field of Education, to reflect both on the reconfigurations of educational practices resulting from the experiences accumulated during the years 2020-2021 and, in particular, on the teaching memories, the identity displacements, and the affective transits that have radically reorganized and transformed what we had previously conceived as the final horizon of our pedagogical activities. Whether it is being gathered at home to give remote classes in an often improvised space, often crossed by constant interruptions of external stimuli that now also make up this new school space, or through the production of materials - videos, audios, handouts, visual resources, etc. - for synchronous or asynchronous, face-to-face or remote meetings, what is certain is that no teacher has emerged unscathed from the new educational contours in classrooms measured in inches. Cautiously waiting for the "new normal" - which has always been announced, but until today has been rejected due to the improvisations resulting from the frequent resumes and suspensions of a presence that, it seems, will no longer be the same - we remain suspended, as in the verses of Eliot (2004, p. 181), "between idea / And reality / Between movement / And action [...] / Between
image/svg+xmlAlgorithmic teaching management and education in times of uncertainty RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1091-1105, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1093 conception / And creation / Between emotion / And reaction". It is time to, as they say, "close for balance". And it is not exactly a simple task to take stock of what has happened. At first, we could assume that, after almost two years of schools functioning intermittently, of classes precariously taught through electronic devices, of little or no contact with other people - with an "other" that was fated to be associated to the contagion of a disease or even to the virtual company of death -, teachers and students would be, at this point, past the most serious moment of the pandemic, anxious for the restitution of a strong presence, of an expensive concept of education grudgingly abandoned, of a physical performance of the body without which the very concept of education loses its strongest meaning. We could imagine all of this, but it does not accurately correspond to the scenario that actually represents what is happening right now. We are not only talking here about the slow pace that takes over Higher Education and that, unlike what happens in Basic Education, indefinitely postpones the return to presence under a public health argument that no longer seems to hold in any other social space; nor are we only referring to the so-called "cage syndrome" (cf. ZANFER, 2021), an expression used to designate the growing feeling among young people - greatly accentuated by the Covid-19 pandemic - that socialization processes produce suffering and reserve unforeseen things that are completely absent from a life spent between four walls, in the bedroom of the home, but connected to the outside by computer screens and cell phones. These symptoms of "self-absorption" and private management of life, which reveal a growing abandonment of the sense of formation as a plunge into a world of alterities and productive friction, are deeply revealing and deserve due attention, but do not constitute the core of our concern here. Now, what some studies actually reveal - and this fact announces an unforeseen facet of the memories of the pandemic that we might expect - is that for many teachers, despite the immense challenges introduced by it, the Covid-19 pandemic was also a moment of "relief" for a whole general picture of depression, physical exhaustion, professional disillusionment, and psychological instability linked to the profession. According to a research on the mental health and well-being of teachers, coordinated by researcher Flavio Comim, professor at the Ramon Llull University (Barcelona) and Cambridge University (United Kingdom), "the period slowed down the high rates of depression and burnout syndrome identified among Brazilian teachers. In other words, "it is as if the work in Brazilian schools was more damaging to the mental health of these professionals than the instability caused by a
image/svg+xmlAndré CECHINEL and Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1091-1105, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1094 pandemic" (SALDAÑA, 2021). If the data from the survey are correct - and they serve, at least, as an element for reflection - the teachers were simply exhausted before Covid-19, which ended up serving them as a momentary detour from a massacring routine, despite, as said, all the suffering arising from the difficulties of adaptation to the new teaching reality and the broader scenario of the pandemic itself, which could never detach itself from the improvised teaching and a "classroom" without a classroom. In the end, perhaps the study points to a trend that only worsened with the pandemic, but certainly anticipates it: the charm exerted by a virtualization of education that promises formative enlightenment without the discomfort of having to deal with many of the misfortunes of the profession and the classroom. This indecision between the face-to-face form and the virtualization of formative processes - now embedded in the subjectivity of teachers themselves - seems to update, for the field of education, a logic of complementarity between the virtual and the real that is already expanding to all fields of human life. In short, one of the legacies of the Covid-19 pandemic for the field was, then, the final concretization of a new regime already underway that concerns the accommodation of teachers to the inevitable production of a subjectivity adjusted to the taste of time and to the social-virtual being required of all other professions. Instead of occupying a classroom capable of pulling students out of the virtual space of games, computers and cell phones, and which, by insisting on the four walls as an autonomous space, momentarily restores the possibility of a collective self-centered attentional energy, teachers start acting as agents torn between a school space read as anachronistic and the constant stimuli that must be produced in the virtual platforms that accumulate data and information about everyone and everyone. This article proposes, in general terms, to argue that the pandemic places us in the antechamber of something that we could call an "algorithmic management of teaching", reconfiguring the figure of the teacher as a kind of contemporary Doppelgänger, a subject divided between, on the one hand, a discourse of life in common, of community, and, on the other, the life algorithmically instituted by screens, accumulation of data and virtualization of social contacts. To defend this position, we divide the text into two main moments: first, we present the modern genesis of the Doppelgänger as an example of the modern split of the self; then, we specifically discuss the link between education and the algorithmic management of life and, also, of education. What we hope to indicate, finally, is that the real/virtual schism of the teacher, accentuated by the Covid-19 pandemic, corresponds to the algorithmic actualization of a historical destiny
image/svg+xmlAlgorithmic teaching management and education in times of uncertainty RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1091-1105, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1095 that teachers and education should resist, namely, the ordering control of the notion of cultural formation. The Cultural Formation of the Double The evidence of this discovery was how perfectly he imitated me in the way he spoke and acted, and in the admirable way he played his part. [...] he did not, of course, venture into my higher tones, but the tone was identical: his peculiar whisper became an impeccable echo of mine (POE, 2018, p. 39). In his work From Caligari to Hitler - A Psychological History of German Cinema (1974), Siegfried Kracauer develops an analysis of German expressionist cinema as a way to understand the dominant psychological tendencies in Germany during the period from 1918 to 1933. The book is not concerned with cinema per se, but with a social and psychological analysis of pre-Hitler Germany, taking cinema more as an investigative medium than as the object of his research. For Kracauer (1998), cinematographic analysis, based on the specificity of a given time and context, could help us understand not only the phenomenon itself, but also the "spirit of the times". The films appeared as expressions of a collective unconscious of the nation ("anonymous crowds"), externalizing the internalized (unconscious) and expressing, not always clearly, the desires and anxieties of the masses and their constitutive atom, the subject. According to the author, the 1913 film The Student from Prague introduced in cinema a theme that would become an obsession in German cinematography of the time: "[...] a deep and terrible concern with the fundamentals of the self" (KRACAUER, 1988, p. 44). In these terms, the internal conflict of the self would be exteriorized through the constitution of a Doppelgänger: self and other, subject and crowd, etc., and this double would mark the representation of the internal conflict of the German middle class. Films such as The Golem (1915) and Homunculus (1916) portray characters whose personality traits have originated in an abnormality, or, more properly, Kracauer states that the "I" of these characters would externalize the German collective unconscious based on its own characteristics such as resentment, frustration, inferiority, contempt and hatred. In this case, the "collective self" is expressed through the figure of the Doppelgängera from a split moral, in which the "abnormal" characters would group in themselves the undesirable characteristics of the German middle class, making the Germanic double (the "other") responsible for the ills and crises experienced in the period, as well as for the gradual increase in the level of social instability in the country.
image/svg+xmlAndré CECHINEL and Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1091-1105, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1096 The phantasmagoric and supernatural figure of the double present in pre-Hitler German Expressionist films represented the afflictions that the collective self was not allowed to externalize; in this way, just like on the movie screen, the symbolic representations of the other exercised a kind of social domination organized from a circuit of affections such as resentment, revenge and hatred. Thus, through the figure of the Doppelgänger, the middle strata of German society at the time could purge their demons, normalizing their psychic and moral suffering by artificially stabilizing the social instability that was visible on the historical horizon. The function of the Doppelgänger in the films, according to Kracauer's (1988) analysis, was to represent on the cinematographic plane the subject-form tormented in and by everyday life, suggesting that this split phantasmatic entity (a "virtual-subject") established an organic link with the real collective-being of certain strata of German society, to the point that the representation became the referent for the subject itself. At first reading, the author's observation would be limited to the space-time elements and the political and cultural dimensions of Germany during the rise of Nazism; however, it is possible to identify in the argument present in the work that such psychological characteristics, supposedly restricted to the country analyzed, would be developments of something present in the constitution of the modern social form itself and that found a fertile ground to germinate in the given context. In this case, we are referring to a process of schism that institutes a certain form of organization and ordering centered on social domination and hierarchization, and that demands a necessary subjection on the part of the individual in order to accommodate to this structure. Such process would be centrally based on an instrumental reason that depends, in order to be effective, on a mathematical and statistical rationality, in which the present order establishes the future on exact bases and, therefore, solid in its objectivity. That is, if the characteristics of such a split identified in the works of Expressionism symbolically represented a phenomenon that was already objectively manifested in German daily life and beyond, it would be possible to predict that this social structure would not only develop during the 20th century, but that it would enter the 21st century under the same mantle of the calculating reason that provided it with elements for the management of modern society, in this case, a new form of organization and social order linked to a scientific-technological basis in accordance with the demands of our times. The Doppelgänger of the 21st century, a socially split figure, would have a home in the same social form, but now fully developed by a fusion between information and communication technologies (ICTs) and computational science, fatally demonstrated by the
image/svg+xmlAlgorithmic teaching management and education in times of uncertainty RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1091-1105, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1097 omnipresence of algorithms in our daily lives. If indeterminacy would be the representation of modern horror, and the way to eliminate it would consist in the incessant search for social order and hierarchization, one can then conclude, in accordance with Silveira (2019, p. 18), that "[a]n algorithmically operated society seems to be a fate intended by moderns." The belief in the objectivity and neutrality of knowledge, as well as its need for organization and classification-typical scientific promises of modernity-are in fact the hard core typification of algorithms. In a way, it is in the ambivalence between the symptoms of a modernity of the 21st century and the algorithmization of social relations that we identify a process of algorithmic management of teaching, in which education would be submitted to the same regulatory structure of algorithms, thus reproducing with the teaching collective a Doppelgängerformative: a subject who, faced with the impossibility of not having his image circulating in the various social networks, establishes a "double self" from the data he makes available in the media universe, more properly, an algorithmic identity. Here we defend the thesis, as said, that the naturalization of algorithmic management in the field of education compromises teaching from a collective dimension as well as in its individual aspects. Algorithm and Education Oh, tell me, who was the first to declare, to proclaim that man commits ignominies only because he does not know his real interests, and that it would be enough to instruct him, to open his eyes to his real and normal interests, so that he would immediately [...] become kind and noble? Oh, little child! Oh, innocent and pure creature! (DOSTOIÉVSKI, 2000, p. 32-33). For teachers, as well as for other workers, the isolation time during the pandemic was not synonymous of free time, as many insist in stating, associating the home office to something positive in itself. What was in fact objectively verified was a profusion of school activities taking place remotely, invariably generating a considerable amount of telework by the teachers. Separated from the physical space of the school and welcomed by several screens, the controversial comfort of the private environment, combined with a kind of new individual "freedom", contrasts with the veiled surveillance operated by Big Techs, which not only organize the content (data), but also the way these are appropriated (big data). The "free" offer of educational tools and services by these technology companies, as well as the massive availability of personal data on the web by teachers and students, as part of the process of adjustment to the pandemic state, or the possible "new normal", has caused algorithmic
image/svg+xmlAndré CECHINEL and Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1091-1105, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1098 management (at the collective level) and algorithmic identities (at the individual level) to reorganize the institutional daily life of education to the point of naturalizing both isolation and a new presence at the expense of a formative opacity that blurs the boundaries of the real and the virtual in terms of the teaching work. In this context, the formative Doppelgänger is constituted in these shadowed spaces between the presential and the virtual, submitted to a model of social organization that privileges the algorithm, the representation of quantified objectivity, to the detriment of the being in itself. Even though today we already live with various virtual representations of teaching activities, such as, for example, the edutubers3, the teleworking of teachers during the pandemic, through remote classes, blurred the boundaries that previously remained discreetly visible. The expanded use of screens by teachers establishes new forms of control over teaching work through devices such as, for example, the widespread "online class diaries", where teachers provide information regarding, among other things, student performance and attendance control. The central point of these tools is that access to their database generates an infinite amount of information about the teaching work itself, creating possibilities that range from performance ranking to concrete cases of dismissal. This situation, even from a historical point of view, would not necessarily be new: in her book Algorithms of Mass Destruction (2020), Cathy O'Neil uses extensively, as an example of a form of algorithmic management that has been improving since the 1980s, cases related to education in the United States, which include both the decontextualized ranking of higher education institutions, as well as the dismissal of highly evaluated teachers from the implementation, in certain American states, of algorithmic systems based on criteria that are not consistent with the reality of teaching.. The challenge identified in the cases cited by O'Neil in the field of education referred to the difficulty of establishing the evaluation (whether of teachers or even higher education institutions) effectively based on objective criteria; therefore, it would be up to the algorithmic systems to perform the task of removing any remnant of subjectivity that could harm the evaluation process so necessary for the good performance of subjects and institutions. What we see in face of this specific dynamic is the mutual removal of the human from the evaluation process, as well as the omnipresence of the algorithmic subject in the 3With more than 3 million followers on her YouTube channel, Débora Aladim, also known as the "ENEM muse," is the most prominent edutuber on the national scene, having sold nearly 200,000 online courses and about 20,000 copies of her book Redação Infalível. About the 2021 exam, a recent report indicates that "9 out of 10 students were more anxious to find out what the muse of Enem, Débora Aladim, had to say about the exam than to speculate about the theme of the composition” (DIAS, 2021).
image/svg+xmlAlgorithmic teaching management and education in times of uncertainty RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1091-1105, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1099 educational space, delegating to it the relevant decisions that directly interfere in the way the teaching work should be organized and managed. And this seems to be the central element that has been permeating the educational context, particularly in its online virtual version: the uncontested possibility, on the part of algorithms, to subtly dictate the pace and tone of teaching, making the algorithmic identity prevail through the Doppelgängerformative to which the teacher is subjected. The concreteness of the teaching work loses strength and visibility next to the multidimensional rhizome that its virtual representation establishes, both from algorithmic management - the subject without a body -, and from its avatars, the edutubers, who conquer the attention of hundreds of thousands of students with their shiny gadgets and little reflection. The paradox of non-presential presence has left its marks on daily school life not only because of the inconstancy of learning, but also because of the praxeological instability in which the teaching subject finds himself in terms of his double dimensional performance: on the one hand, the distancing from the school space has also propitiated the removal of a series of unwanted situations (ranging from physical violence to burnout syndrome, for example); on the other hand, the 24/7 ubiquity of online classes has generated an algorithmic predisposition on the part of teachers with regard to the control of their professional lives by Big Techs. Contradictorily, the possible escape lines in the teaching work of the classroom disappeared during the filling of online diaries and in the uninterrupted flow characteristic of virtual classes through the permanent contacts between students and teachers via WhatsApp, substantially enhancing the algorithmic teaching management. It is in and through the control of the data made available by teachers on the various online platforms (from diaries to teleconferences) that it is currently possible to evaluate individual and collective teaching performance at levels that would not have been considered without the isolation provided by the Covid-19 pandemic. We experience in the space of education what Naomi Klein identifies as the shock doctrine: [...] the original disaster - coup, terrorist attack, market liquidity, war, tsunami, hurricane - puts the entire population in a state of collective shock. [...] Like the terrified prisoner who gives up the names of his comrades and renounces his own faith, societies in a state of shock often give up things they would otherwise have defended with all their might (KLEIN, 2008, p. 26-27). Even if the algorithmic surveillance was already felt before the pandemic, the shock state via isolation provided the free passage so that new spaces could show the omnipresence
image/svg+xmlAndré CECHINEL and Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1091-1105, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1100 of management via big data, as is the case of the school. The defense of an uncontested face-to-face performance by teachers no longer presents itself with the same force if compared to the first days of the pandemic, even because the virtual social being of teachers, to a certain extent, has become the ideal referent of the formative Doppelgänger. The school space is not seen as the non-place of algorithmic management, a situational counterpoint not inhabited by the likes and selfies that multiply in the virtual noosphere; In fact, what is left in official documents for Basic Education - such as the Common National Curricular Base (BNCC in the Portuguese acronym) -, are the various forms of online stimuli that should then be unconditionally incorporated into the training process as possibilities to align the school curriculum to the demands of society, so much so that one of the ten general competencies that guide the BNCC is called "digital culture". In these terms, the demands posed by the normative structure of Basic Education have already stimulated what the pandemic has tried to enhance: the naturalization, in our times, of a society managed by Big Techs based on big data. In the 2020 documentary Coded Bias, we saw the case of an elementary school teacher in the city of Houston, Texas, with an exemplary record being fired after a biased analysis by a performance evaluation algorithm. In Cathy O'Neil's book, the dean of the Washington, DC high school system implemented a teacher evaluation system that was "intended to measure teacher effectiveness [...] in teaching math and language skills" (O'NEIL, 2020, p. 10). What was diagnosed after the implementation of the aforementioned value-added modeling system was, in fact, that even teachers positively evaluated by the schools' parent and student group from the criteria established by the algorithmic system were found to be didactically inept in their craft. The diagnosis of an algorithmic management of teaching is no longer a tendency to come, but a phantasmatic presence that does not present itself in its totality, whether by the formative doppelgänger of the teaching self, which competes with itself for the attention of the students/spectators, or by the quantum of data made available and managed in online educational platforms, or by the uncontested positivization of a connected society that considers the most urgent task of the school of our time to be that of providing the deep immersion of the students in the world of hyperconnectivity. The traces left by the sensitive/supersensitive algorithmic presence are sometimes shown in and by the individual condition, sometimes they make up the contours of the expanded society, so that the message transmitted is that the more one seeks objectivity and social organization via algorithmization, less circulates the being and more circulates the thing - or, at least, what would enjoy a greater
image/svg+xmlAlgorithmic teaching management and education in times of uncertainty RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1091-1105, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1101 degree of autonomy would be the representation of the self, the algorithmic identity of the subject. If in Kracauer's work the Doppelgänger - as a symbolic representation of an extract of German society at the time - had the function of externalizing psychic suffering through the figure of the "other" in an attempt to reorder the social chaos, education, based on 21st century techno-science, has constituted its formative Doppelgänger, more precisely a teaching algorithmic subject, as a virtualized representation of the self and an alternative to the psychic suffering produced in the face-to-face space. The splitting of the teaching subject provided by algorithmic management simultaneously institutes a double identity for the teacher, making him/her circulate through two concomitant spaces to exercise his/her office. In this sense, it is as if the algorithmic teaching subject, or the amount of data that this same teacher makes available about himself in the various social networks and online platforms, established not only an ideal of himself, but also a teaching ideal of himself, giving the subject who attends the face-to-face classroom a smaller place in the scale of social representation. In these terms, the figure of the "strange", "abnormal", "evil", attributed to the Doppelgänger in Literature or in movie plays, would no longer be linked to the "virtual-subject", but to the real subject, the one who now, due to his or her media and algorithmic incapacity, faces his or her double self with resentment and resentment, reinstituting a circuit of psychic suffering that is produced in one dimension and reproduced in another. And if data (big data) mask individual suffering through their uninterrupted circulation, algorithmic teacher management enables what the real world supposedly never achieved: full time control over teacher performance based on objective and quantifiable criteria. The identification of what would be the possible indications of what we name here as the algorithmic management of teachers seems to be one of the tasks of our time regarding the formative experience, and maybe that is why it is necessary to propose the following question: if education and its preferred locus, the school, are not placed as a means and political space to counteract the algorithmic management process, where would the "emergency brake" for such a condition be socially located? Final remarks [...] Then everything seemed to point to this: that I was slowly losing control of my original, better self, and slowly merging into the second, worse self.. (STEVENSON, 2019, p. 314).
image/svg+xmlAndré CECHINEL and Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1091-1105, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1102 Thinking about the split reconfiguration of the subjectivity of educational agents today means thinking, at the same time, about the uncomfortable position that institutional formation itself is forced to occupy against the backdrop of algorithmic neoliberalism and its unfoldings during the Covid-19 pandemic. Education, more than ever, seems to have the task of definitively adjusting itself between two positions or places that, to tell the truth, are irreconcilable, and that delimit its concept and the frontiers of its activity. On one side, to educate is merely to adapt, to adjust for individual survival in a world instituted a priori, in a reality whose rules are only symptoms of a general and unavoidable impotence. On the other hand, education could be thought of as an autonomous sphere that, faced with the increasing pressures to update its nature - be it due to the so-called new technologies, by the business world that spreads to all spheres of life, by the need to loosen the "I" to the point of producing a malleable subject in conformity with the unstable flow of the work field, among others -, maintains that the strength of its reality lies precisely in this mismatch between what is requested of it and what it chooses to elaborate as a common need. In other words, education would correspond to the outdatedness of a concept, or rather, to the critical materialization, including institutional, of the bad conscience of the time, that is, of the formative residue that no longer finds shelter in other social spaces. This concept of education would be conscious that when the institutional walls of the school and the university fall down, when the four walls of the classroom crumble as an autonomous sphere, what remains is not the emergence of an "alternative", "de-hierarchized" education, but the appropriation of its content by the logic of the merchandise that is, in fact, its emphatic negation. And when the interior of the concept of education finally breaks down, one wonders if we should not also change this name. Despite the quite productive relationship between the circulation of goods and what happens in schools and universities - the book “No Logo”, by Naomi Klein (2002), constitutes a powerful portrait of the peaceful coexistence between apparently contradictory forces, such as education, marketing and consumption - the truth is that notions like "introspection," "attention," "training," etc., that until yesterday established the minimum horizon of educational practices, have become antipathetic forms to the time regime of 24/7 capitalism and its mechanics of production and circulation of stimuli and products. Far from any critical lesson about the relevance of a presence that was suddenly stolen from us, of the inseparability between body, otherness, and education, the most concrete legacy left by Covid-19, so far, has been that of perforating what we understand about the concept of
image/svg+xmlAlgorithmic teaching management and education in times of uncertainty RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1091-1105, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1103 Education in order to update it in relation to the demands of the emerging attentional capitalism and the expanded management of attention. The field of education is also increasingly crossed by a whole context "of excess visual, informational, and interactive content", and "what is in dispute is the attention (and the time) to access and consume all this ocean of offers" (BENTES, 2021, p. 47). The classroom is leaked, transpassed, and with it the subjectivity of teachers and other school agents, who now need to "stimulate" the students, "capture" their look, "manage" their behavior, and "check" the interactivity of the resources at their disposal. These same teachers, it is worth remembering, are submitted to a similar control scheme of performance and attentional effort, their actions being checked, among others, by devices that control the number of accesses, time of use, and routine of interactions that take place in digital diaries, interactive platforms, virtual study rooms, etc. This new educational nomenclature, which becomes the current conceptual field of what we still call school or university, corresponds to nothing more and nothing less than what we could classify as an "algorithmic turn" in teaching, that is, an adjustment and updating of the classroom to a hyperpersonal training, "optimized" according to a strictly individual temporality and directed to the production of a Homo Economicusthat lives and works in function of digital platforms, the production and circulation of stimuli and the capture of the other's attention. All this may seem, at this point, an exercise in futurology, an early anticipation of an unpredictable future, closed to our gaze. But we should not deceive ourselves here: the seeds of this process are scattered everywhere, in extremely fertile fields, such as, for example, the Brazilian Common National Curricular Base, approved in the form of law in 2017. "Formative itineraries", "life projects", "socioemotional competencies", "formative trails" - all these concepts that express a formation centered on the individual and in tune with the new reason of the world, as many of the general competencies foreseen for Basic Education in the same MEC document do not fail to testify: "digital culture", "work and life project", "self-knowledge and self-care", "empathy and cooperation", "responsibility and autonomy". We could never anticipate exactly how much this abundance of the prefix "self" in the BNCC would gain dramatic and very real contours during the pandemic of Covid-19, an instant in which the training has come to correspond, almost exclusively, to the subject that stands in front of the screens and, abandoned to their own fate - such as whether or not to have a quality screen for himself -, manages a torrent of stimuli not infrequently disconcerted.
image/svg+xmlAndré CECHINEL and Rafael Rodrigo MUELLER RIAEE– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. esp. 2, p. 1091-1105, June 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17iesp.2.16983 1104 In literature, the encounter or conviviality with the phantasmagoric double, with the Doppelgänger, is usually a harbinger of imminent death, or that death has even already happened, silently, without being noticed. This is what occurs in books such as Robert Louis Stevenson's Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde, Oscar Wilde's The Picture of Dorian Gray, Henry James' fantastic tales, and many others. But this rule has its exceptions. In the short story The secret sharer, by Joseph Conrad, for example, it is through contact with his double, with his "accomplice" or "secret partner", that the young captain of a ship - a young captain rejected and confronted by all the other crew members - regains self-control and decides the final safety of his journey. The encounter with the other who I soon am, in this case, less than an announcement of the dissolution of the self, means a resumption of the autonomy required of the one who leads the voyage. Now that the Doppelgänger of education stares at us like a beast on the prowl, we can only wonder if any new knowledge, if any productive synthesis, can come from such a confrontation, so that the concept of formation can be reconstructed in the midst of its growing refusal. ACKNOWLEDGEMENTS: Foundation for the Support of Scientific and Technological Research of the State of Santa Catarina (FAPESC). REFERENCES BENTES, A. A indústria da influência e a gestão algorítmica da atenção. In:FERREIRA, M.; BOCK, A. M. B.; GONÇALVES, M. G. M.Estamos sob ataque! Tecnologia de comunicação na disputa de subjetividades. São Paulo: Instituto Silvia Lane, 2021. CODED Bias. Direção: ShaliniKantayya. Netflix,jan. 2020. (85 min). Available at: https://www.netflix.com/watch/81328723. Access on: 18 Dec. 2020. DIAS, P. Nove entre 10 estudantes estavam mais ansiosos em descobrir opinião da musa do Enem, Débora Aladim, sobre a prova do que especular sobre tema da redação. Yahoo!notícias, nov. 2021 Available at: https://br.noticias.yahoo.com/nove-entre-10-estudantes-estavam-182349658.html. Access on: 30 Nov. 2021. DOSTOIÉVSKI, F. Memórias do Subsolo. Tradução: Boris Schnaiderman. São Paulo: Editora 34, 2000. ELIOT, T. S. Obra Completa: Poesia. São Paulo: Arx, 2004. KLEIN, N. A doutrina do choque: A ascensão do capitalismo de desastre. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
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