image/svg+xmlPráticas educativas pautadas no Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1904-1925, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.170871904 PRÁTICAS EDUCATIVAS PAUTADAS NO DESENHO UNIVERSAL PARA APRENDIZAGEM (DUA) PRÁCTICAS EDUCATIVAS BASADAS EN EL DISEÑO UNIVERSAL PARA EL APRENDIZAJE (DUA)EDUCATIONAL PRACTICES BASED ON UNIVERSAL DESIGN FOR LEARNING (UDL)Eladio SEBASTIÁN-HEREDERO1Samantha Ferreira da Costa MOREIRA2Fernando Ricardo MOREIRA3RESUMO: Este artigo objetiva apresentar o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA), os princípios e uso no desenvolvimento de práticas educativas relacionadas aos componentes essenciais do currículo: objetivos, estratégias de ensino, materiais, recursos e avaliação. Trata-se de um estudo qualitativo, cunhado pela pesquisa bibliográfica acerca do DUA, e direcionado para a Educação Superior. O DUA pode significar uma mudança no pensamento da prática educacional, a partir de um trabalho de motivação para com os estudantes, servindo-se da flexibilização da maneira como a informação é apresentada e na maneira proposta para que os estudantes respondam ou expressem conhecimentos e habilidades. Constatamos que os pesquisadores conseguiram propor outras formas de organizar suas aulas e/ou ministrar os conteúdos, de modo que todos os estudantes pudessem interagir, participar e aprender ativamente; ter a experiência de um processo de reflexão sobre suas próprias aprendizagens, ficando mais engajados no processo. Isso evidencia a necessidade de pensar na inclusão dos princípios do DUA nos planejamentos docentes para uma escola de qualidade, com equidade e para todos. PALAVRAS-CHAVE: Desenho Universal para Aprendizagem. DUA. Práticas educativas. Inclusão. RESUMEN:Este trabajo tiene como objetivo presentar el Diseño Universal para el Aprendizaje (DUA), con sus principios y su utilización en prácticas educativas relacionadas a los componentes esenciales del currículo: objetivos, metodologías, materiales, recursos y evaluación. A partir de una investigación de tipo cualitativo, desarrollada por medio de búsqueda bibliográfica sobre el DUA con foco en la Educación Superior. Nos planteamos que trabajar con DUA puede significar un cambio en la forma de pensar sobre las prácticas 1Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande MS Brasil. Professor visitante estrangeiro no PPGEDU, FAED/UFMS. Professor aposentado (UAH) - Espanha. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0293-4395. E-mail: eladio.sebastian@gmail.com 2Centro Universitário de Mineiros (UNIFIMES), Mineiros GO Brasil. Professora Adjunta do Curso de Medicina. Doutoranda em Educação (UFMS). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5144-2595. E-mail: samantha.ferreira@unifimes.edu.br 3Universidade Federal de Jataí (UFJ), Jataí GO Brasil. Professor Adjunto e Coordenador do curso de Matemática. Doutorado em Engenharia Mecânica (UFU). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7245-3525. E-mail: frmoreira@ufj.edu.br
image/svg+xmlEladio SEBASTIÁN-HEREDERO; Samantha Ferreira da Costa MOREIRA e Fernando Ricardo MOREIRARIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1904-1925, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.170871905 educativas, pues propone, desde el planteamiento de ideas para conseguir la motivación de los aprendices, una flexibilización de las formas como la información es presentada y en la manera propuesta para que los estudiantes expresen los conocimientos adquiridos. Constatamos que diversos investigadores propusieron otras formas de organizar sus clases y/o programar las actividades, de modo que todos los estudiantes pudiesen interactuar, participar y aprender, así como poder reflexionar sobre sus propios aprendizajes, con una connotación más motivadora. Eso pone de manifiesto la necesidad de pensar sobre la inclusión de los principios del DUA en la planificación docente para una escuela de calidad, equidad y para todos. PALABRAS CLAVE: Diseño Universal para el Aprendizaje. DUA. Prácticas educativas. Inclusión.ABSTRACT:This article intends to present the Universal Design for Learning, with its principles and its use in educational practices fundamentally on the essential components of the curriculum: objectives, methodologies, resources and evaluation. From a qualitative research, developed through a bibliographic research on the UDL with a focus on Higher Education. We consider that working with UDL can mean a change in the way of thinking about educational practices, since it proposes, from the approach of ideas to achieve the motivation of the learners, a flexibility in the ways in which the information is presented and in the way proposal for students to express the knowledge acquired. We found that various researchers proposed other ways of organizing their classes and/or scheduling activities, so that all students could interact and learn, as well as be able to reflect on their own learning, with a more motivating connotation. This shows the need to think about the inclusion of the UDL principles in teaching planning for a school of quality, equity and for all. KEYWORDS: Universal Design for Learning. UDL. Educational Practices. Inclusion.Introdução Na tentativa de atender a uma crescente demanda de inclusão e minimizar as barreiras na escolarização de todos os alunos, dentre eles aqueles com deficiência, é apresentada a perspectiva do Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) como mais uma possibilidade de prática educativa no processo de desenvolvimento de ambientes educacionais flexíveis e organizados, cujos princípios e diretrizes possibilitam a não hierarquização ou privilegiando um único modo de aprender, mas promovendo uma maior interação e aprendizagem para estudantes e docentes (CHA; AHN, 2014; EDYBURN, 2010; RAO; OK; BRYANT, 2014; ROSE et al.,2006). Para poder materializar as práticas do ensino inclusivo faz-se necessário, dentre outras coisas, alguma forma de reorganização do currículo escolar, desde a proposta de ser considerado, pela normativa brasileira, como aberto e flexível. Conceitualmente, devemos
image/svg+xmlPráticas educativas pautadas no Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1904-1925, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.170871906 considerar que encontramos, dentro desta perspectiva, as chamadas adaptações ou adequações, as flexibilizações e, também, as diferenciações curriculares. Uma das ferramentas que demonstram uma completude para um desenvolvimento da educação inclusiva é a chamada diferenciação curricular, que se concretiza no DUA com seus três princípios, que possibilitam criar ambientes de aprendizagem desafiadores e envolventes para todos os alunos. O modelo de organização curricular do DUA constitui-se como uma ferramenta com muito potencial no combate à discriminação e à exclusão, em confronto com outras práticas pedagógicas inclusivas, não menos válidas, porém dirigidas a apenas um estudante. Na atualidade, já existe uma compreensão de que todos os estudantes podem aprender, tanto pelo DUA, quanto pelas formas individualizadas de organização curricular. A utilização do Desenho Universal para a Aprendizagem, a partir do exposto na Lei de Oportunidades do Ensino Superior de 2008 (BRASIL, 2008), tem uma série de referências cientificamente válidas para guiar a prática educativa que: a) Proporciona flexibilidade nas formas em que as informações são apresentadas, e nos modos com que os estudantes respondem ou demonstram seus conhecimentos e habilidades, e nas maneiras em que os estudantes são motivados e se comprometem com seu próprio aprendizado; b) Reduz as barreiras na forma de ensinar, proporciona adaptações, apoios/ajudas e desafios apropriados, e mantém altas expectativas de êxito para todos os estudantes, incluindo aqueles com deficiências e aqueles que se encontram limitados pela sua competência linguística no idioma da aprendizagem. A partir do exposto, este artigo tem por objetivo apresentar o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA), bem como os princípios e uso no desenvolvimento de práticas educativas relacionadas aos componentes essenciais do currículo, a saber: objetivos, estratégias de ensino, materiais, recursos e avaliação. Trata-se de um estudo qualitativo, cunhado pela pesquisa bibliográfica acerca do DUA, em que, no Brasil, há ainda poucas pesquisas, sendo elas direcionadas também para a Educação Superior. Descreveremos os princípios filosóficos do DUA e as práticas educativas sob a perspectiva do DUA. O Desenho Universal para Aprendizagem Inicialmente, para poder entender do que estamos falando, devemos partir da explicação e da compreensão dos princípios do DUA: as múltiplas formas de acesso à informação e
image/svg+xmlEladio SEBASTIÁN-HEREDERO; Samantha Ferreira da Costa MOREIRA e Fernando Ricardo MOREIRARIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1904-1925, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.170871907 conhecimento (“o quê” da aprendizagem); as várias maneiras de abordar tarefas estratégicas (o “como” da aprendizagem) e as várias maneiras de tornar-se e permanecer engajado no aprendizado (o “porquê” da aprendizagem) (EDYBURN, 2010; MEYER; ROSE; GORDON, 2014; ROSE; MEYER, 2002). Estes três princípios que fundamentam esta forma de prática educativa se complementam com pautas ou diretrizes para sua aplicação em qualquer nível educacional. Princípio I:Proporcionar Modos Múltiplos de Apresentação (O “quê” da aprendizagem). Os estudantes diferem nos modos como percebem e compreendem a informação que lhes é apresentada. Por exemplo, aqueles com deficiências sensoriais (cegos e surdos), com dificuldades de aprendizagem ou transtornos específicos de aprendizagem (dislexia, discalculia, disortografia, transtorno do déficit de atenção e/ou hiperatividade), com outras línguas ou culturas, podem requerer maneiras distintas de ascender aos conteúdos. Outros, simplesmente, poderão captar a informação de forma mais rápida ou mais eficiente através de formatos visuais ou auditivos do que com um texto impresso. O DUA parte da base de que a aprendizagem e a transferência do aprendizado devem ocorrer proporcionando múltiplas formas de apresentações, diversas formas de apresentar um mesmo conteúdo, atividade, pois isso permite atender a variabilidade dos estudantes, desde a consideração das inteligências múltiplas e, no tempo, fazer conexões interiores, assim como entre os conceitos. Em resumo, não há um meio de representação ótima ou ideal para todos os estudantes; proporcionar modos múltiplos de apresentação dos conteúdos é essencial para chegar a todos. Princípio II:Proporcionar Modos Múltiplos de Ação e Expressão (O “como” da aprendizagem). Os estudantes diferem nas formas como procuram o conhecimento e expressam o que sabem. Por exemplo, as pessoas com alterações significativas de movimento (paralisia cerebral), aqueles com dificuldades nas habilidades estratégicas e organizativas (transtorno da função executiva), os que apresentam barreiras com a comunicaçãoetc., fazem a ação e expressão de aprendizagem de forma muito diferente. Alguns podem ser capazes de expressar-se bem com um texto escrito, mas não de forma oral, e vice-versa. Neste princípio se parte do reconhecimento de que a ação e a expressão requerem uma grande quantidade de estratégias, práticas e organização, pois cada um pode ter formas diferentes de expor o mesmo, sendo este outro aspecto em que os estudantes se diferenciam, relacionado com a criatividade e o pensamento divergente. Na realidade, não há um meio de ação e expressão ótimo ou ideal para todos os estudantes, os modelos de prova única para todos não são eficientes na hora de comprovar ou
image/svg+xmlPráticas educativas pautadas no Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1904-1925, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.170871908 compreender os processos de aprendizagem, por isso há de se promover opções variadas para que a ação e a expressão se manifestem. Princípio III:Proporcionar Modos Múltiplos de Implicação, Engajamento e Envolvimento (O “porquê” da aprendizagem). As emoções das pessoas e a afetividade são um elemento crucial para a aprendizagem, e os estudantes diferem notoriamente nos modos em que podem ser provocados e motivados para aprender. Existe diversidade de fontes que influenciam na hora de explicar a variabilidade individual afetiva e de envolvimento. Podem ser fatores neurológicos e culturais, interesses pessoais, subjetividade e conhecimentos prévios, junto com outra variedade de fatores presentes nestas diretrizes. Alguns estudantes se interessam muito espontaneamente perante as novidades, enquanto outros não possuem o interesse em se incluir e assustam-se com esses fatos, preferindo as atividades rotineiras. Alguns estudantes preferem trabalhar sozinhos, enquanto outros preferem trabalhar com os companheiros. Na realidade, não há um único meio que seja ótimo para todos os estudantes em todos os contextos. Portanto, é essencial proporcionar modos múltiplos de implicação e envolvimento. Visando representar este processo de elaboração do planejamento, na imagem 1 expomos os objetivos de cada princípio, para que o professor possa se subsidiar nesse processo investigativo de organização de sua atividade de ensino, em uma perspectiva inclusiva. Imagem 1Princípios básicos do DUA para o planejamento docente na perspectiva inclusiva Fonte: CAST (2011).
image/svg+xmlEladio SEBASTIÁN-HEREDERO; Samantha Ferreira da Costa MOREIRA e Fernando Ricardo MOREIRARIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1904-1925, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.170871909 Rose e Meyer (2002) reconhecem que estes três princípios estão diretamente relacionados com as três principais redes neurais uma relação intrínseca com a neurociência que estão envolvidas na variabilidade do processo de aprendizagem, em que se compreendem: as redes de reconhecimento (reunir e categorizar o que se vê, se ouve e se lê); as redes estratégicas (organizar e expressar ideias); as redes afetivas (ligam a experiência de aprendizagem a um fundo emocional, determinando o envolvimento e a motivação). A primeira rede, a de reconhecimento, que tem por princípio os Meios de Representação, abarca as diferentes maneiras de acessar uma informação ou conteúdo, seja por meio de habilidades visuais, auditivas e outras (ROSE et al.,2006). O princípio da representação aponta caminhos que podem ser oferecidos ao aprendiz, para que acessem conhecimentos prévios, conceitos e ideias a partir das informações apresentadas, ou seja, fornece suporte para construir o conhecimento sobre o assunto ensinado. Para isso, devem ser apresentados diversos exemplos, destacando as características marcantes e importantes de cada um, através de vários tipos de mídias e outros formatos que oferecem estas informações. Exemplos práticos envolveriam a utilização de livros digitais, softwares especializados e recursos de sites específicos, elaboração de cartazes, de esquemas e resumos de textos, construção de cartões táteis e visuais com códigos de cores, entre outros (ROSE; MEYER, 2002). A segunda rede, denominada de Rede Estratégica, tem como princípio a ação e a expressão, e engloba a demonstração daquilo que o estudante aprendeu, o que leva em consideração as escolhas do estudante, preservando sua autonomia (CAST, 2011). O professor deve ser o provedor aos alunos de oportunidades para que demonstrem o que sabem, por meio de atividades diferenciadas, que incluem ações físicas, meios de comunicação, construção de objetos, produção escritas, entre outras (ZERBATO; MENDES, 2018). A terceira rede é a afetiva, que corresponde ao princípio do engajamento, ou seja, o porquê da aprendizagem, a motivação que um estudante tem para aprender e a flexibilização e a disponibilização de vários meios que permite acolher as características de cada um, sua cultura, sua subjetividade e conhecimentos básicos, pois não existe uma norma para que a participação ocorra (CAST, 2011).
image/svg+xmlPráticas educativas pautadas no Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1904-1925, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.170871910 Práticas educativas com o DUA Segundo o Centro de Tecnologia Especial Aplicada (CAST, 2011), instituição que fundou o conceito do DUA, liderada por Meyer e pesquisadores, a instituição educativa que fundamenta suas práticas no Desenho Universal para Aprendizagem compreende o currículo de forma flexível, construído a partir das características dos alunos e edificado em espaços comumente heterogêneos como a escola, em específico, a sala de aula. O reconhecimento destas diversidades dos estudantes pode direcionar o docente e a instituição a gerar mudanças e a criação e implementação de estratégias de ensino capazes de reduzir e minimizar as diferenças de aprendizado e das diferentes formas de se aprender. Este conhecimento nos permite uma reflexão sobre a variabilidade no processo da aprendizagem e a necessidade de repensar o modo como é realizado o ensino em uma relação mais próxima com as premissas do DUA na educação geral. O modelo atual nos leva à necessidade de repensarmos que ser “universal” não significa ser “igual para todos”, mas implica que currículos e materiais devam ser concebidos/projetados para acomodar a maior variedade possível de preferências e necessidades dos aprendizes, o que é fortemente defendido pelos autores Rappolt-Schlichtmann et al. (2013). É necessário e de fundamental importância antecipar o diagnóstico de uma turma, para que a variabilidade dos estudantes seja considerada como uma força no processo de planejamento instrucional (SMITH, 2012). Mesmo tendo consciência das diferenças da aprendizagem, ainda vivenciamos uma situação de grande dilema, tanto no Brasil quanto em outros países com outras realidades e necessidades educacionais, pois a construção de uma educação inclusiva permanece profundamente enraizada no discurso da Educação Especial (BAGLIERI et al., 2011), e a diversidade é algo bem mais amplo. Prais (2016) destaca a importância da construção de materiais didáticos pelos professores através de perspectivas inclusivas, a partir da identificação dos subsídios teóricos e práticos sobre a organização do ensino na educação inclusiva. Embora os recursos utilizados na construção dos materiais educativos para promover acessibilidade não sejam novos, seguir um guia a partir do DUA foi importante para entender as necessidades de adaptação de conteúdo didático (MARTINS; AMATO; ELISEO, 2018). Os princípios do DUA devem ser considerados para o planejamento das aulas, passando pela execução e indo até a avaliação. Os princípios do DUA devem atender essa reorganização,
image/svg+xmlEladio SEBASTIÁN-HEREDERO; Samantha Ferreira da Costa MOREIRA e Fernando Ricardo MOREIRARIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1904-1925, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.170871911 chamada diferenciação, dos componentes essenciais do currículo, a saber (NATIONAL CENTER ON UNIVERSAL DESIGN FOR LEARNING, 2012): objetivos; estratégias de ensino; materiais e recursos; avaliação. Práticas DUA direcionadas para o desenho de objetivos Bock, Gesser e Nuernberg (2019), durante sua pesquisa, ouviram os participantes com o objetivo de compreender se os princípios e diretrizes do DUA atendiam às suas expectativas no que se refere à oferta dos recursos e estratégias metodológicas que contemplem diferentes perfis de aprendizagem. Segundo os autores, o frameworkdo DUA contemplou as falas dos participantes e revelou ser adequado para a aplicabilidade no planejamento e na oferta de cursos que se pretendem acessíveis, considerando, a priori, a existência de pessoas com diferentes características para participação e permanência nos cursos à distância, na Educação Superior. O DUA tem sido utilizado como uma ferramenta estratégica para a construção de cursos, materiais e conteúdo, que objetivam equiparar a aprendizagem de todas as pessoas com diferentes estilos de aprendizagem, sem a adaptação ou substituição de equipamento (ZHONG, 2012). Complementarmente a essa ideia, é preciso reforçar que o DUA não remove desafios acadêmicos, ele remove barreiras ao seu acesso (NIELSEN, 2013). Iniciativas como os Nano Online Open Courses, construídos sob as perspectivas inclusivas do DUA, podem ajudar a complementar a formação de estudantes através do desenvolvimento aprofundado de certos conteúdos e/ou capacidades. Certas Universidades, como, por exemplo, a Universidade de Alicante (Espanha), estão incentivando seus professores a desenvolverem iniciativas de formação continuada baseada nos princípios do DUA (GOMÉZ-PUERTA et al.,2018). O trabalho de Izzo (2012) enfatiza a importância dos professores estarem em sintonia com as necessidades educacionais de seus alunos e de uma maior flexibilidade no designinstrucional. A autora defende que o DUA oferece uma abordagem promissora para atender às necessidades de aprendizagem de todos os alunos, que sua estrutura desafia os educadores a repensarem a natureza do currículo escolar e capacita-os com a flexibilidade necessária para atender a uma população diversificada de alunos.
image/svg+xmlPráticas educativas pautadas no Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1904-1925, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.170871912 Kennette e Wilson (2019), ao analisar a perspectiva dos alunos sobre o DUA, observaram que, em geral, os estudantes consideram que os princípios do DUA são úteis para a aprendizagem e que consideram importante que seus professores incluam esses elementos em seus currículos ministrados. Ao elaborar o currículo, considerações específicas podem ser dadas aos elementos que os alunos consideraram especialmente benéficos, porém o corpo docente também deve garantir que eles incluam elementos dos três princípios do DUA no mesmo. Lima e Oliveira (2020) concluíram que a inclusão do DUA no contexto educacional trouxe inúmeras implicações, uma vez que vem contribuindo para gerar oportunidades iguais de aprendizagem. Dessa forma, conhecer o modelo de design inserido nas organizações educacionais é fundamental para entender as características, desafios, limites e suas contribuições para o alcance dos objetivos educacionais. Segundo Bock (2019), o DUA contribuiu para a construção de processos educativos voltados ao acolhimento das necessidades dos diferentes perfis de estudantes do ensino a distância, na Educação Superior e, ainda, coaduna com as bases teóricas e conceituais adotadas no que se refere à concepção de deficiência. Todos os autores citados nesta seção consideram que a inclusão dos princípios do DUA, na construção dos objetivos a serem alcançados nos currículos escolares, trouxeram inúmeros benefícios para o entendimento do conteúdo pelos alunos com diferentes perfis e variadas necessidades educacionais. Sendo assim, é de fundamental importância que o currículo seja pensado a partir dos princípios inclusivistas do DUA. Práticas DUA direcionadas para o desenho de estratégias de ensino O estudo realizado por Prais (2020) apresenta o DUA como subsídio em processos de formação docente com o intuito de fazer com que as docentes refletissem sobre o ato de planejar e desenvolvessem estratégias mais acessíveis para favorecer a participação e a aprendizagem de todos os alunos nas atividades pedagógicas. Além disso, fora percebido que professores, ao longo do processo de formação proposto, se percebiam como peças fundamentais no processo de ensino de alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE), ou público-alvo da Educação Especial, bem como passaram a acreditar que o ato de aprender é possível a todos os alunos, a depender principalmente da postura e da prática do professor. Ainda segundo Prais (2020), a implementação do DUA na organização da prática pedagógica ofereceu aos professores suporte para reconhecer e atender às necessidades de aprendizagem de todos os alunos por meio da aplicação dos princípios. Em suma, esses estudos
image/svg+xmlEladio SEBASTIÁN-HEREDERO; Samantha Ferreira da Costa MOREIRA e Fernando Ricardo MOREIRARIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1904-1925, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.170871913 defenderam a necessidade de formação docente para que haja a implantação do DUA no planejamento de ensino e a elaboração de atividades pedagógicas inclusivas. Segundo a autora, apenas o fato dos docentes refletirem sobre os princípios do DUA já os fazem repensar nas estratégias metodológicas a serem implementadas com o objetivo de atender às necessidades educacionais dos alunos. Se o objetivo é construir um currículo que atenda a todos os alunos, então é necessário o uso de metodologias de ensino baseadas no DUA. Smith (2012), em sua análise sobre como as pessoas aprendem com as instruções, sobre como diferentes abordagens interferem no aprendizado e como as estratégias de ensino satisfazem as diferenças individuais na aprendizagem, concluiu que o DUA oportuniza abordagens flexíveis inerentes aos formatos digitais e que isso pode ter um impacto positivo nas percepções dos alunos. Muitas das propostas da inclusão e do DUA acontecem por meio de tecnologias que incluem o uso de equipamentos de informática; porém, na contramão desse pensamento, diversos autores concordam que não há necessidade de implementação tecnológica, computadores ou internet, referindo-se às estratégias a serem implementadas como a chamada co-docência ou co-aprendizagem (FREY et al., 2011; KATZ, 2013; LEE; PICANCO, 2013): de fato, o DUA pode ser implementado com ou sem tecnologias. A integração dos princípios do DUA em diferentes cursos tem demonstrado, se for efetivamente implementado, ser um instrumento positivo nos aspectos motivacionais. Um estudo realizado com 92 alunos iraquianos da Educação Superior, em que nenhum deles apresentava algum tipo de deficiência auditiva ou visual ou outra deficiência aparente, obteve resultados que sugerem que o uso de tecnologias educacionais para abordar as limitações curriculares é uma ponte para aprimorar a vontade do aluno de aceitar o e-learning(AL-AZAWEI; PARSLOW; LUNDQVIST, 2017). Em um estudo realizado por Scott e Temple (2017), os autores chegaram à conclusão de que a criação de um softwarebaseado em princípios do DUA pode ajudar na mesclagem da Educação Especial e pedagogia em cursos onlinee no designe entrega de conteúdo em uma Educação Especial. Segundo Gronseth (2018), as estratégias de envolvimento do DUA ajudaram os alunos participantes do estudo a se sentirem mais conectados ao professor do curso e a outros alunos: o uso de uma estrutura baseada no DUA é um método válido para aumentar a motivação dos alunos.
image/svg+xmlPráticas educativas pautadas no Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1904-1925, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.170871914 O DUA foi aplicado também como uma proposta que englobava orientações para a elaboração do material didático adaptado. Toyama (2019, p. 58) “ressaltou a essencialidade em trabalhar o conteúdo utilizando os princípios de inclusão, tal como o DUA”.Outras estratégias simples, eficazes e de baixo custo são atitudes que deveriam permear as práticas docentes, tais como: o destaque de conceitos chaves ao longo dos textos, a disponibilização de atividades de maneira escrita e oral, o fornecimento de resumos e de perguntas norteadoras juntamente aos textos indicados para leitura (DAVIES; SCHELLY; SPOONER, 2013; FREY et al.,2011; NIELSEN, 2013). No entanto, as estratégias devem ser pensadas intencionalmente e com muita responsabilidade, contemplando a premissa da ética e do cuidado. Sabemos que os alunos aprendem com estímulos diferentes e tempos diferentes. Algo que motiva um aluno pode não servir para motivar outro aluno a aprender. Uma estratégia de ensino pode estimular alunos de diferentes modos. Neste contexto, o uso do DUA é fundamental, pois seus princípios são baseados na flexibilidade dos métodos, despertando o interesse de todos, objetivando a aprendizagem de todos e diminuindo as barreiras do aprendizado. Práticas DUA direcionadas para o desenho de materiais e recursos. Larocco e Wilken (2013) ressaltam que os adultos aprendem melhor quando entendem o porquê de saber alguma coisa, ou seja, quando o que se aprende possui significado para eles. Outros autores identificaram que os estudantes se envolvem e se comprometem mais com a aprendizagem quando as metas de aprendizagem e o porquê de cada atividade a ser desenvolvida ficam evidentes, promovendo um maior engajamento dos aprendizes nos processos de ensino e aprendizagem (KATZ, 2013; KATZ; SUGDEN, 2013; MARINO et al., 2014; SMITH, 2012). Materiais bem elaborados, diversificados, otimização do tempo, mudanças no espaço físico da sala de aula, atividades grupais, entre outras estratégias de ensino, tornam a prática pedagógica um desafio diário, o que exige conhecimento por parte dos profissionais de estratégias que devem ser utilizadas, assim como mais informações sobre seu aluno e suas reais necessidades (GONÇALVES, 2006). Peixoto, Fernandes e Almeida (2020) demonstraram a importância do uso do DUA nas práticas pedagógicas, sobretudo no contexto da matemática para alunos com deficiência intelectual, e trouxeram a importância do conhecimento do DUA na formação de professores.
image/svg+xmlEladio SEBASTIÁN-HEREDERO; Samantha Ferreira da Costa MOREIRA e Fernando Ricardo MOREIRARIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1904-1925, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.170871915 Estudos realizados com professores em duas Universidades na Califórnia, que incorporaram princípios do DUA no conteúdo dos cursos e nas práticas institucionais, evidenciaram a minimização das barreiras de aprendizagem entre alunos do ensino fundamental e médio (LEE; PICANCO, 2013).Em um estudo realizado com 138 eslovenos, cujo objetivo era categorizar as atividades realizadas no ambiente de aprendizagem virtual seguindo os princípios do DUA, o resultado mais positivo evidenciado é que os futuros professores realizam mais atividades com o uso de tecnologias em comparação aos demais professores, o que pode atender as diversas necessidades educacionais dos estudantes, mas ficam para trás na realização de atividades relacionadas ao engajamento e em atividades de colaboração. Seguindo os princípios e diretrizes do DUA, os professores são incentivados a fornecer várias atividades a fim de atender às diversas necessidades dos alunos, juntamente com o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) (LEBENICNIK; PITT; STARCIC, 2015). Chen, Bastedo e Howard (2018) destacaram que o design tecnológico de cursos online avaliados no campo de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), foram satisfatórios aos alunos, pois relataram que por serem apoiados nos princípios de aprendizagem do DUA, beneficiavam não apenas os alunos com deficiência, mas a todos os estudantes. Corroborando com essa afirmação, Martins e Ribeiro (2018) destacam que o DUA é uma proposta que visa garantir o acesso ao conteúdo a todos os acadêmicos. Em outro estudo, desta vez conduzido por Chuquimarca, Rodriguez e Bedón (2018), observou-se a importância do uso de tecnologias baseadas nos princípios do DUA como metodologia de ensino em um curso de Psicologia, com a finalidade de desenvolver competências digitais e a autonomia de aprendizagem nos alunos. Dentre os estudos lidos, salienta-se estudo conduzido por Bryans Bongey, Cizadlo e Kalnbach (2010), em que os autores propuseram o uso de um sitede cursos onlinea alunos de graduação em Biologia, planejado e implementado a fim de fornecer os benefícios do DUA. Essa intervenção foi usada para expandir os aspectos representacionais, estratégicos e afetivos do curso. Sanchez-Fuentes et al. (2016) discutem a necessidade de estudos para endossar o uso de metodologias inclusivas, sendo o DUA o paradigma mais apropriado e atual das leis educacionais chilenas. A perspectiva do DUA corrobora com toda uma proposta de educação inclusiva. Da mesma forma, sabe-se hoje que é impossível pensar em inclusão sem considerar a acessibilidade (SCHMITZ; REIS, 2018).
image/svg+xmlPráticas educativas pautadas no Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1904-1925, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.170871916 Vários autores reconhecem que a abordagem do DUA se debruça nos processos de ensino e, em especial, em como tornar acessível o conhecimento independentemente das características de cada estudante, e que os professores em formação apresentaram certas dificuldades em pensar alternativas, que potencializem uma abordagem que contemple a heterogeneidade dos estudantes (LINDEMANNI; BASTOS; ROMAN, 2017). A construção de materiais e recursos visando o ensino e a aprendizagem também deve ser realizada sob a perspectiva dos princípios de inclusão do DUA. Alguns alunos aprendem mesmo com o uso de abstrações, outros só aprendem se forem utilizados materiais concretos, palpáveis, que facilitem o entendimento de conceitos e que diminuam as barreiras para a visualização de determinadas estruturas. O uso de abordagens e de materiais tecnológicos tem sido amplamente utilizada, com sucesso, sob os princípios do DUA. Porém, nem sempre tais recursos estão disponíveis para todos. Neste contexto, o DUA é um instrumento bastante eficaz para o planejamento de construção de materiais e de recursos visando a aprendizagem de todos os alunos. Práticas DUA direcionadas para a avaliação Neste aspecto reconhecemos que através da utilização do DUA foi possível constatar que os professores conseguiram (NEVES; PEIXOTO, 2020) perspectivar mudanças curriculares e propor outras formas de organizar a sua aula e/ou ministrar os conteúdos. Essas reorganizações devem ocorrer de modo que todos os estudantes possam interagir, participar e atuar de forma ativa; ter a experiência de um processo de reflexão sobre sua própria prática, tencionando-a, problematizando suas ações, analisando a natureza inclusiva ou não de seu fazer docente; avançar nas compreensões sobre os temas deficiência, inclusão, ensino de matemática, conteúdos, e, sobretudo, a respeito de quem é seu aluno, olhando-o antes de tudo como “pessoa”.Foi verificado um completo desconhecimento sobre esses temas e a falta de reflexão sobre suas condições de trabalho docente, que impedem uma prática favorável a todos os estudantes: salas de aula numerosas, falta de articulação com o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e formação continuada para o atendimento na sala comum, etc., crítica à viabilidade da proposta do DUA no contexto das escolas em que estão inseridos (tempo escolar versus conteúdos a ministrar) e a precariedade da profissão docente (carga horária elevada para dar conta).
image/svg+xmlEladio SEBASTIÁN-HEREDERO; Samantha Ferreira da Costa MOREIRA e Fernando Ricardo MOREIRARIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1904-1925, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.170871917 Bell e Swart (2018) conduziram um estudo para alunos com deficiência intelectual avaliando sua percepção sobre o processo inclusivo na Universidade. Os participantes desse estudo fizeram uma série de recomendações importantes para a redução de barreiras no aprendizado, sendo a flexibilidade e a transformação curricular as principais barreiras de enfrentadas. De acordo com Ricardo, Saço e Ferreira (2017), os estudantes necessitam de igualdade de oportunidades e de equidade nas oportunidades. Segundo os autores, o DUA significa uma mudança na forma de pensar a prática educacional, com a flexibilização da maneira como a informação é apresentada e na maneira como os estudantes respondem ou expressam conhecimentos e habilidades. O DUA mostrou ser uma ferramenta que melhora o envolvimento dos alunos e contribui positivamente para as discussões e um melhor entendimento dos conteúdos no método de