image/svg+xmlPráticas, valores e atitudes dos jovens: Um estudo de caso a partir de alunos da Universidade do Minho RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171991994 PRÁTICAS, VALORES E ATITUDES DOS JOVENS: UM ESTUDO DE CASO A PARTIR DE ALUNOS DA UNIVERSIDADE DO MINHO PRÁCTICAS, VALORES Y ACTITUDES DE LOS JÓVENES: UN ESTUDIO DE CASO DE LOS ESTUDIANTES DE LA UNIVERSIDAD DE MINHO PRACTICES, VALUES AND ATTITUDES OF YOUNG PEOPLE: A CASE STUDY BASED ON STUDENTS OF THE UNIVERSITY OF MINHOSara MADUREIRA1Eduardo DUQUE2Durán VÁZQUEZ3RESUMO:Analisar os comportamentos, valores e atitudes da juventude permite que se faça um exame impiedoso sobre o nosso tempo, ajudando a perceber as enredadas raízes da nossa vivência coletiva, pelo que, ao analisar as suas opções, estamos não só a estudar o tempo presente, mas também a vislumbrar o futuro da nossa sociedade. Exposto isto, o presente estudo visa analisar as práticas, valores e atitudes dos jovens de forma a melhor compreender as suas atuais tendências valorativas e religiosas. Através de uma metodologia quantitativa, inqueriu-se estudantes na Universidade do Minho, com idades compreendidas entre os 18 e os 35 anos. Das conclusões depreende-se que os jovens procuram atividades de ocupação mais individualistas e menos sociais, possibilitando-lhes momentos de satisfação pessoal. Quanto à sua dimensão religiosa e valorativa, verificou-se que poucoou nadaparticipam nos serviços religiosos e que manifestam níveis elevados de justificação para determinados comportamentos, aparentando reagir abertamente a práticas que, normalmente, são desaprovadas pela sociedade. A Proteção doambiente, o Racismo e a xenofobia e a Violência de géneroconstituem os temas da atualidade que merecem maior preocupação por parte dos jovens universitários. PALAVRAS-CHAVE:Valores. Juventude. Religiosidade. Pós-modernidade. Globalização.RESUMEN:El análisis de los comportamientos, valores y actitudes de los jóvenes nos permite hacer un examen implacable de nuestro tiempo, ayudándonos a comprender las raíces enmarañadas de nuestra experiencia colectiva, de modo que al analizar sus elecciones no sólo estamos estudiando el tiempo presente, sino que también vislumbramos el futuro de nuestra sociedad. Por ello, el presente estudio pretende analizar las prácticas, los valores y las actitudes de los jóvenes para comprender mejor sus tendencias valorativas y religiosas actuales. A través de una metodología cuantitativa, se encuestó a estudiantes de la Universidad 1Universidade Católica Portuguesa (UCP), Braga Portugal. Socióloga. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2879-0329. E-mail: saramadureira99@gmail.com 2Universidade Católica Portuguesa (UCP), Braga Portugal. Professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais. Membro Integrado do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho (UM). Doutorado em Sociologia (UCM Espanha). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4719-3148. E-mail: eduardoduque@ucp.pt 3Universidade de Vigo (UVIGO), Vigo Espanha. Professor de Sociologia. Doutorado em Sociologia. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7440-0168. E-mail: joseduran@uvigo.es
image/svg+xmlSara MADUREIR; Eduardo DUQUE e Durán VÁZQUEZ RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171991995 de Minho, de entre 18 y 35 años. De las conclusiones se desprende que los jóvenes buscan actividades ocupacionales más individualistas y menos sociales, que les posibilitan momentos de satisfacción personal. En cuanto a su dimensión religiosa y de valores, se constató que participan poco o nada en los servicios religiosos, y que manifiestan altos niveles de justificación de ciertos comportamientos, pareciendo reaccionar abiertamente ante prácticas que normalmente son desaprobadas por la sociedad. La protección del Medio Ambiente, el Racismo, la xenofobia y la Violencia de Género son los temas de actualidad que merecen una mayor preocupación por parte de los jóvenes universitarios. PALABRAS CLAVE: Valores. Juventud. Religiosidad. Posmodernidad. Globalización. ABSTRACT:Analyzing the behaviors, values and attitudes of youth allows us to make a merciless examination of our time, helping to understand the tangled roots of our collective experience, so that, when analyzing their options, we are not only studying the present time, but also to envision the future of our society. Having said that, the present study aims to analyze the practices, values and attitudes of young people in order to better understand their current evaluative and religious tendencies. Through a quantitative methodology, students at the University of Minho were surveyed, aged between 18 and 35 years. From the conclusions it appears that young people look for more individualistic and less social occupations, allowing them moments of personal satisfaction. Regarding their religious and evaluative dimension, it was found that little or no participation in religious services and that they show high levels of justification for certain behaviors, appearing to react openly to practices that are normally disapproved of by society. Environmental Protection, Racism and Xenophobia and Gender Violence are the current topics that deserve greater concern on the part of young university students. KEYWORDS:Values. Youth. Religiosity. Postmodernity. Globalization. Introdução Jovens. Quem são? Como vivem? O que os motiva? Quais as suas práticas? O que sentem? Como agem perante a sociedade? Qual a sua importância para um melhor funcionamento da sociedade? Qual o lugar da juventude na contemporaneidade? São vários os motivos que nos levam a indagar sobre a vivência dos jovens, sendo que um dos mais fortes é a tentativa de compreender o aparecimento do novo imaginário social que se vem a afigurar no contexto das profundas mudanças sociais que estamos a viver. Cada um de nós marca e é marcado pela sua geração e cada pessoa contribui para a construção da sociedade, abrindo possibilidades de novos modelos e de novas construções sociais dando lugar, assim, a transições societárias. Mas estas não significam abandonar o velho pelo novo, mas sim o convívio do velho com o novo durante muito tempo.
image/svg+xmlPráticas, valores e atitudes dos jovens: Um estudo de caso a partir de alunos da Universidade do Minho RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171991996 A única certeza que temos em relação ao futuro, é que somos nós a construí-lo. Somos nós os responsáveis pela produção da sociedade, por razões, exclusivamente, geracionais. Ao olhar para a juventude como um espaço de distintas trajetórias, vamos ter jovens que querem mudar o mundo e outros que querem conservar modelos tradicionais de família e de sociedade. A investigação que nos propomos desenvolver pretende apurar as atuais tendências e sensibilidades dos jovens em relação à dimensão religiosa, expressa nas práticas, valores e atitudes em ambiente académico. Neste sentido, ao longo deste estudo, procuraremos analisar a relação entre a modernização e o consequente aparecimento de novas formas religiosas entre os jovens; indagar as causas do processo de individualização social dos jovens; apurar as causas que levaram à pluralização e personalização das crenças religiosas dos jovens e, por último, procurar entender se estamos perante o surgimento ou a reconfiguração de novos valores. De uma forma geral, visa-se proporcionar o aprofundamento da experiência religiosa e dos valores entre os jovens universitários da Universidade do Minho, reunindo esforços no sentido de captar a multiplicidade de formas e sentidos que preenchem a vida de cada um. Ciência, razão e religião na sociedade contemporânea A partir do século XVIII, começavam a registar-se na Europa o despertar de forças que iriam revolucionar o mundo dos dogmas estabelecidos da Igreja. Com o Iluminismo, nasce uma mentalidade orientada pelos ideais racionais e científicos, sendo estes a principal fonte de autoridade e legitimidade. A partir desta nova sensibilidade, os indivíduos veem-se libertos das amarras do absolutismo, e a ciênciapropõe-se substituir o papel, que era até então atribuído à religião, como se a religião fosse a nova ciência, facto este que gera, no entender de Duque (2019), um excesso de confiança “na ideia do progresso infinito que cria uma espectativa nas pessoas de que todos os problemas terão uma resposta forjada à luz da ciência”.Lyotard (1989, p. 5) a este propósito refere que o saber se tornou a principal força de produção e constitui o principal ponto de estrangulamento para os países em via de desenvolvimento”.Aracionalizaçãoe o sabertécnico-científicotransformaram-se, assim, em dois elementos fundamentais para a consolidação de uma modernidade plena, tornando-se visíveis nos mais variados domínios da vida.
image/svg+xmlSara MADUREIR; Eduardo DUQUE e Durán VÁZQUEZ RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171991997 Para Weber (1973, p. 157-159) “a intelectualização e a racionalização crescentes não significamum crescente conhecimento geral das condições gerais da vida. O seu significado é muito diferente; significam que se sabe ou se acredita que, em qualquer momento em que se queira, se pode chegar a saber; que, portanto, não existem em torno das nossas vidas poderes ocultos e imprevisíveis, mas que, pelo contrário, tudo pode ser dominado através do cálculo e da previsão. Isto significa simplesmente que se excluiu o mágico do mundo [...]. Isto é coisa que se consegue graças aos meios técnicos e à previsão”Quando referimos as mudanças ocorridas na sociedade, não nos podemos descuidar do papel da religião no decorrer de tais transformações. Com a modernização também se tornou evidente o nascimento de novos sentidos de vida e novas práticas rituais, muito presentes na vivência dos jovens, sendo estes os protagonistas do despertar de uma geração, o que leva Bourdieu (2003), a caracterizá-los como uma unidade social, um grupo dotado de interesses comuns. Já nas palavras de Machado Pais (1990, p. 141), “a juventude tem sido encarada como uma fase de vida marcada por uma certa instabilidade associada a determinados problemas sociais. Se os jovens não se esforçam por contornar esses problemas, correm mesmo riscos de serem apelidados de irresponsáveisou desinteressados’”. É percetível, neste contexto, a palavra “jovem”. Quando a proferimos torna-se evidente nas nossas consciências que se trata de uma camada de pessoas agregadas numa certa categoria de idade, um certo número de comportamentos e características, como por exemplo, a revolta ou uma atitude pouco convencional. De acordo com os teóricos da juventude, este é um conceito que muda conforme a cultura, a época, o contexto social e a classe social, de aí que, de acordo com as diferentes culturas e sociedades, se fale de juventudes, no seu plural. Como refere Duque (2007, p. 22): Desde uma perspetiva sociológica poder-se-á dizer que a juventude é considerada como função das estruturas produtivas e demográficas. Entende-se a transição como um processo social, como tal relativo, isto é, que não está presente em todas as culturas, dependendo do contexto social em que o mesmo se desenvolve. É possível, assim, deste modo, distinguir uma pluralidade de juventudes e de grupos sociais dentro deste intervalo de idade, das que resultariam a variável dependente, relacionada com outras variáveis estruturais como classe social, situação económica e família de procedência. Um dos problemas que se tem vindo a observar no cenário da contemporaneidade em relação aos jovens é de como estes se têm apropriado das condutas normativas e das crenças, na medida em que eles têm tomado dianteira das suas próprias conceções do sentido de vida (FEATHERSTONE, 2000), com todas as glorificações da individualidade, liberdade e
image/svg+xmlPráticas, valores e atitudes dos jovens: Um estudo de caso a partir de alunos da Universidade do Minho RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171991998 autorrealização pessoal, conquistas estas que, aos poucos, vão redesenhando um novo cenário religioso-juvenil. A questão que se tem colocado, no âmbito das mudanças sociais e das novas formas de vida, é se a religião faz sentido na vida dos jovens ou se se dissipou do seu universo de vivências. Na tentativa de dar resposta a esta questão procuraremos precisar, em primeiro lugar, o conceito de religiãoe com ela alguns conceitos relacionados, como o de crenças, práticase valores, para que se possa entender o papel destes na vida das pessoas. Posteriormente, procurar-se-á enquadrar os conceitos no seio das mudanças dos tempos que estamos a viver. A religião,“religa” a humanidade com a divindade, assim nos diz a sua origem etimológica. Contudo, existem várias formas de nos “re-ligarmos”às divindades, variando de acordo com o contexto cultural. No Ocidente, altamente marcado pela cultura judaico-cristã, a religião manifesta-se na relação com Deus único e transcendente. Já nas sociedades orientais, maioritariamente budistas e hinduístas, a dimensão transcendental não está presente, como nas nossas sociedades, mas assume uma expressão mais horizontal, panteísta, onde a divindade se concretiza em todas as coisas. Assim, a religião não é uma ligação a um ente superior e transcendente, mas à própria natureza. Durkheim (200, p. 46), por sua vez, valoriza muito as dimensões práticas e rituais, pelo que vai definir a religião como “um sistema unificado de crenças e de práticas relativo a coisas sagradas [] que unem os seus aderentes numa comunidade moral única denominada igreja”. Tal como nos diz Durkheim nesta citação, as crenças e as práticas são, normalmente, os aspetos mais salientes nas religiões. Assim, procurando desconstruir esta definição, percebemos que a religião é um sistema composto por crenças, as quais dão um sentido ao mundo e á vida, através de práticas, meios, sinais experiências de ligação a esse sagrado, de acordo com os nossos valores, orientações normativas do comportamento. Em termos funcionais, e já não substantivos, ou descritivos, a religião, permite regular e justificar a conduta individual (normativa), providenciar coesão social (coesiva), consolar e aliviar (tranquilizante), fortificar a vontade (estimulante), dar sentido à vida (significante), possibilitar a experiência do sagrado (experiencial), crescer e amadurecer (maturativa), proporcionar identidade (identitária) e ministrar salvação (redentora) (COUTINHO, 2012, p. 187). Duque (2014, p. 25), procurando fugir a definições exclusivamente substantivas, define a religião “como um conjunto de crenças e valores, dadores de estabilidade, dinâmica e sentido,
image/svg+xmlSara MADUREIR; Eduardo DUQUE e Durán VÁZQUEZ RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171991999 organizados em representações simbólicas e referentes a uma realidade que transcende o indivíduo”.Diz-nos este mesmo autor que “esta definição supõe o ajuste do espírito humano à realidade, com toda a sua carga simbólica e imaginativa que esta envolve. Falamos de ajuste porque, em rigor, a religião implica uma situação, isto é, um contexto humano e social”(DUQUE, 2014, p. 25). Por outro lado, importa enquadrar a religião e os jovens no contexto das transformações da pós-modernidade. É um facto que o fenómeno da individualização das nossas sociedades, do relativismo perante a dimensão valorativa e do impacto da globalização têm marcado fortemente as instituições, levando a que, por exemplo, a Igreja tenha diminuído a sua expressão pública na sociedade, assumindo agora posições mais periféricas e, ao fazê-lo, abre-se naturalmente espaço para que novas estruturas de sentido e novos grupos de pertença surjam. Apesar do processo de secularização de grande parte das sociedades ocidentais, a religião tem-se revelado resiliente, mas isso não significa que não se transforme. Ela assume as formas do tempo, manifestando-se, assim, em novas tendências. Contexto religioso português e europeu É objetivo deste capítulo determinar a situação religiosa em Portugal, no contexto das mudanças provocadas pela modernização, delimitando o cenário de mudança em Portugal, em relação à Europa. Como refletimos anteriormente, a revolução imperialista, que ocorreu na Europa do século XIX ameaçada pelo conflito entre as ideias tradicionais da Igreja e as ideias da liberdade, do progresso e da razão, que pareciam ser a favor de um profundo renascimento intelectual começava a criar um certo afastamento de pessoas da Igreja, desprovida de meios que ajudassem a fazer frente às forças modernizadoras, fazendo evidenciar os primeiros sinais daquilo que viria a ser o início de um divórcio entre fé e razão que, nas palavras de Rodrigues (RODRIGUES, 1980), conduziria a um certo humanismo ateu. Para comprovar a tendência do progressivo abandono da religião, vários pensadores delimitaram algumas dimensões conceptuais que nos são úteis para compreender tal facto. É o caso de Leok Halman (2001) que considerou o conceito de individualização social para assumir uma maior autonomia nos comportamentos e na forma de pensar dos indivíduos. Recorrendo à perspetiva de Menéndez (2007, p. 770), a individualização social de Halman é como um processo histórico e social onde os valores, as crenças, as atitudes e os comportamentos são
image/svg+xmlPráticas, valores e atitudes dos jovens: Um estudo de caso a partir de alunos da Universidade do Minho RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171992000 orientados por escolhas pessoais e são menos dependentes da tradição e das instituições sociais”.Relativamente à situação portuguesa em relação a outros países europeus, a partir do estudo de Menéndez (2007), verificou-se que Portugal é um país de elevada identidade católica, ainda que a sua prática religiosa não seja tão alta como a sua identidade, de níveis altos de confiança na Igreja, bem como de crença em Deus. Depois de um brevíssimo enquadramento teórico, partimos para a parte empírica deste estudo, formulando a seguinte hipótese de investigação: com o desenvolvimento das sociedades, os jovens sentem a necessidade de criar novas formas de relação com Deus, evidenciando o aparecimento de uma nova mentalidade, visível nas suas práticas, valores e atitudes. Metodologia Sendo o fenómeno religioso complexo e múltiplo, poder-se-iam combinar vários procedimentos metodológicos, de forma a melhor compreender a religiosidade dos jovens, bem como outros conceitos subjacentes a este fenómeno. Porém, por razões de tempo, optou-se somente pela abordagem quantitativa. Quanto ao processo amostral, e tendo em conta as intencionalidades do estudo, definiu-se como população-alvo todos os indivíduos do ensino superior, com idades entre os 18 e os 35 anos, de ambos os sexos, estudantes na Universidade do Minho, dos polos de Gualtar e Azurém. Recorreu-se a uma amostra não probabilística por conveniência, dado que não havia critérios, à partida, para considerar que determinada pessoa fizesse parte do processo amostral. Foram obtidos 191 questionários. Todos eles devidamente preenchidos e dentro dos critérios definidos na amostra. A idade dos inquiridos variou entre os 18 e 35 anos (M = 22,80, DP = 3,88). Houve uma prevalência expressiva dos estudantes do sexo feminino, representando 74% da amostra, sendo apenas 26% corresponde ao sexo masculino. Quanto à distribuição por curso, verificou-se que os respondentes frequentavam Medicina, Sociologia, Engenharia Biológica e Química. A maioria dos respondentes encontrava-se matriculado no 2º ou 3º anos, com 28,3% em cada um dos anos. Cerca de 43% disse residir em zona urbana. O questionário foi elaborado tendo em conta os objetivos da investigação e, uma vez que o objetivo central visava analisar a dimensão valorativa dos jovens tendo em conta o cenário de mudança e o consequente aparecimento de novas formas de religiosidade, optou-se,
image/svg+xmlSara MADUREIR; Eduardo DUQUE e Durán VÁZQUEZ RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171992001 preferencialmente, pela realização de um questionário que pudesse ser útil na medição dos valores, perceções, atitudes e opiniões dos estudantes do ensino superior. Na sua elaboração foram definidas três dimensões: na primeira pretendeu-se analisar as principais atividades que ocupam o tempo livredos jovens. Nesta dimensão, foi ainda elaborada uma questão que pretendeu avaliar a credibilidade que os jovens têm em relação às instituições: Governo, Universidade, Igreja Católica, Tribunal, Polícia, Sistema Nacional de Saúde, Serviços Sociais e União Europeia. A segunda dimensão consistiu na análise da dimensão religiosa e valorativados jovens, tendo em conta a tendência de afastamento e anemiano campo moral, político e religioso dos jovens na sociedade atual. Deste modo, foram elaboradas, nesta dimensão, uma série de perguntas de modo a analisar a sua posição religiosa e moral. A terceira e última dimensão, visou definir a caracterização sociodemográficados inquiridos. Análise e interpretação dos dados Propomo-nos analisar dois grupos de questões formuladas no inquérito. No primeiro grupo, questionam-se as principais atividades em que os jovens universitários ocupam o seu tempo livre, bem como, a ligação e confiança que estes têm em relação a algumas instituições da sociedade. No segundo grupo, as questões formuladas incidem sobre a dimensão religiosa e valorativa dos jovens. Tempos livres e dimensão institucional Nesta parte do estudo, procederemos à análise do primeiro grupo de questões, nas quais se pretende conhecer as principais atividades de ocupação do tempo livre dos universitários e avaliar a credibilidade que estes atribuem às instituições. Atividades de ocupação de tempos livres Os dados analisados e atendendo somente aos de maior relevância demonstram que 7 em cada 10 jovens refere que ocupam mais o seu tempo livre a ficar em casa a ler, ouvir música e a ver filmes(73,3%) ou a sair com os amigos(69,1%), por sua vez, 4 em cada 10 menciona que ocupa o seu tempo livre a sair com a família ou visitar familiares (38,2%)ou a praticar desporto e atividades ao ar livre (37,7%).
image/svg+xmlPráticas, valores e atitudes dos jovens: Um estudo de caso a partir de alunos da Universidade do Minho RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171992002 Estas prioridades são iguais em ambos os sexos, já que tanto as jovens raparigas como os jovens rapazes referem ocupar mais o seu tempo livre a ficar em casa a ler, ouvir música e a ver filmesou a sair com os amigos. Pertença a um grupo ou organização A distribuição dos estudantes universitários segundo a pertença a um grupo ou organização revela que as Organizações ou movimentos de voluntariadosão as que acolhem o número mais expressivo de jovens universitários, já que 3 em cada 10 diz pertencer a este tipo de organizações, seguido das Associações ou núcleos de estudantesou grupos ou movimentos de jovens religiososque em ambos os casos congregam 2 em cada 10 jovens. As organizaçõesde proteção dos direitos dos animaisou as organizações de proteção do meio ambiente/ecologiasão aquelas em que os jovens menos se vinculam (5,2% e 1,6%, respetivamente). Analisando esta mesma questão, tendo em conta o sexo dos jovens inquiridos, vemos que a prioridade nas escolhas é ligeiramente diferente. Enquanto que as jovens mulheres se vinculam com maior expressividade em organizações ou movimentos de voluntariado; associações ou núcleos de estudantese em grupos ou movimentos de jovens religioso, pela ordem de preferência, os homens, por sua vez, apresentam uma prioridade diferente, referindo pertencer de forma mais expressiva, em primeiro lugar, a associações ou núcleos de estudantes, seguido das associações ou grupos desportivose, posteriormente, em grupos ou movimentos de jovens religiosos. É importante salientar que os jovens homens inquiridos não se identificam com as organizaçõesde proteção dos direitos dos animaisou as organizações de proteção do meio ambiente/ecologia, já que nenhum dos inquiridos diz pertencer a estas organizações. Nível de confiança nas instituições O grau de confiança das instituições por parte dos jovens universitários é relativamente alto, destacando-se, por ordem de preferência, a Universidade, em que 9 em cada 10 jovens refere ter muita (59,2%)ou alguma confiança(30,9%); o Sistema Nacional de Saúde (com 31,4% e 56,5%, respetivamente) e a União Europeia(22% e 66%, respetivamente); 8 em cada 10 refere ter muita (21,5%)ou alguma confiança(59,7%) na Polícia; 7 em cada 10 diz ter muita (11%)ou alguma confiança(62,8%) nos Serviços Sociais, nosTribunais (212% e 59,2%, respetivamente) e Governo(8,9% e 61,3%, respetivamente); 6 em cada 10 diz ter muita (19,4%)
image/svg+xmlSara MADUREIR; Eduardo DUQUE e Durán VÁZQUEZ RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171992003 ou alguma confiança(35,1%) na Igreja católica e é à Comunicação Social que os jovens universitários menos confiança atribuem, já que apenas 5 em cada 10 jovens diz atribuir muita (4,2%)ou alguma confiança(44%). Daqui é possível depreender que as instituições em que os jovens depositam mais confiança são o Serviço Nacional de Saúde, a Universidade e a União Europeia. Por sua vez, o menor nível de confiança atribuído a instituições como a Comunicação Social, a Igreja Católica e o Governo pode estar relacionado com a mentalidade contemporânea que não aceita que as instituições “ditem verdades em que acreditar” ou proponham “caminhos a seguir”, reconhecendo somente a legitimidade da verdade individual. Dimensão religiosa e valorativa Neste tópico analisaremos a dimensão religiosa e valorativa dos jovens universitários e, para isso, ter-se-á em conta valores, princípios, normas de conduta e comportamentos que se irão articular com sua dimensão moral e religiosa. De uma forma geral, a moral é um conjunto de regras que orienta os indivíduos em sociedade, norteando e dando sentido às suas ações, categorizando-as como certas ou erradas, segundo a sociedade e grupos sociais e religiosos (GONÇALVES, 2000; LIPOVESTKY, 2004; RACHELS, 2003). Quanto à posição religiosa dos jovens, verificou-se que a maioria, 8 em cada 10 universitários, diz ser católico(80%), enquanto 1 em cada 10 diz ser ateu (13%). Apenas, 6% refere pertencer a outra religião cristãe 1% a religiões orientais. Tal como vários outros estudos mostraram, também este revela que as mulheres se dizem mais católicas do que os homens. Participação em serviços religiosos Quando se analisa a frequência com que os jovens participam nos serviços religiosos, sem contar com os funerais e os casamentos, o número mais expressivo de jovens, 3 em cada 10, diz que nunca participa (27,2%) ou participa poucas vezes ao anoem serviços religiosos (26,7%). Cerca de 24% dos jovens universitários diz participar uma vez por semana, 12% participa apenas nos dias religiosos/festivos, 7,9% pelo menos uma vez por mêse apenas 2,6% refere participar mais de uma vez por semana(3%). Estes números permitem-nos perceber que
image/svg+xmlPráticas, valores e atitudes dos jovens: Um estudo de caso a partir de alunos da Universidade do Minho RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171992004 a maioria dos jovens universitários não tem qualquer prática religiosa ou, se a tem, ela é pouco regular, evidenciando um vínculo muito frágil com a prática religiosa. Se analisarmos a mesma questão, segundo o sexo, verifica-se que as jovens universitárias têm uma prática mais assídua do que os homens. Por sua vez, como também é frequente, é entre os universitários homens que se verifica um maior absentismo na frequência aos serviços religiosos. Religiosidade Diante da questão “Independentemente de pertencer a uma religião em particular, numa escala de 1 a 10, em que 1 significa “Nada religiosa” e 10 “Muito religiosa”, diria que é uma pessoa”, a média da religiosidade dos jovens universitários é de 4,93, sendo que as estudantes do sexo feminino são em média mais religiosas do que os estudantes do sexo masculino, apresentando-se ligeiramente acima da média da escala, 5,15 e 4,27, respetivamente. É interessante verificar que os estudantes com um nível de religiosidade mais elevado frequentam o 6ºano de estudos (5,78), seguindo-se os estudantes do 4º ano (5,62) e os estudantes do 1ºano (5,17). Crença em Deus Quando questionados sobre as suas crenças, 4 em cada 10 universitários, refere que acredita que existe um Deus. Por sua vez, 2 em cada 10 diz acreditar que existe uma espécie de Deus ou força viva; outros tantos jovens, pensam que não existe nenhum espírito absoluto, Deus ou força vivae, também 2 em cada 10 universitários, refere que não sabe realmente o que pensar. Se tivermos em conta esta mesma questão, analisando-a segundo o sexo, vemos que são as jovens mulheres que manifestam mais a sua crença na existência de Deus(45,1%) ou uma espécie de Deus ou força viva(24,6%), ou seja, 7 em cada 10 mulheres acredita na existência de uma divindade, sendo que apenas metade dos jovens homens, 5 em cada 10, acredita nessa mesma existência.
image/svg+xmlSara MADUREIR; Eduardo DUQUE e Durán VÁZQUEZ RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171992005 Visão da Igreja Católica Procura-se neste tópico salientar a visão que os jovens universitários têm relativamente à Igreja Católica. Foram propostas várias perspetivas sobre a Igreja Católica, possibilitando diferentes visões da mesma, de modo a que os inquiridos pudessem posicionar-se em relação a esta dimensão. Ao analisar os dados, vemos que há posições mais claras em relação a algumas visões da Igreja Católica do que de outras. Quando questionados sobre o facto da Igreja Católica ser conservadora, 7 em cada 10 jovens universitários refere que está totalmente de acordo (38,7%) ou parcialmente de acordo (35,5%). Por sua vez, 2 em cada 10 considera a Igreja moderna (3,1% diz estar totalmente de acordo e 15,2% parcialmente de acordo). Perante a questão se a Igreja é dialoganteou repulsiva, os jovens universitários evidenciam a sua posição mais de acordo com a ideia de que a Igreja Católica é mais dialogante do que repulsiva, já que 4 em cada 10 jovens refere concordarem total (8,9%) ou parcialmente (33,5%) com a visão de que ela é dialogante, enquanto apenas 3 em cada 10 concorda total (10,5%) ou parcialmente (15,2%) de que a Igreja é repulsiva. Importa destacar que 5 em cada 10 jovens não concorda totalmente (20,9%) ou parcialmente (30,4%) com a visão de uma Igreja repulsiva. Quanto à visão da Igreja Católica como sendo alegre, 5 em cada 10 jovens diz concordar totalmente (9,9%) ou parcialmente (35,1%) com esta perspetiva. Sendo que apenas 3 em cada 10 menciona estar totalmente (6,8%) ou parcialmente em desacordo (18,8%). Importa também evidenciar a posição neutrade muitos jovens em relação a algumas visões sobre a Igreja, sendo mais expressiva quando se têm de pronunciar sobre a perspetiva da Igreja como sendo dialogante (36,1%), moderna(33,5%) ou alegre (29,3%). Os dados permitiram-nos também concluir que, no geral, asjovens universitárias têm uma posição mais positiva da Igreja Católica do que os elementos do sexo masculino. Temas da atualidade Os temas da atualidade que mais preocupam os jovens universitários são o Ambiente(58,1%), o Racismo e a xenofobia(51,8%), a Violência de género(48,7%) e a Pobreza nos países menos desenvolvidos(32,5%). Em contrapartida, os temas da atualidade que menos
image/svg+xmlPráticas, valores e atitudes dos jovens: Um estudo de caso a partir de alunos da Universidade do Minho RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171992006 atenção têm dos jovens universitários são a Intolerância religiosa (6,8%), os Idosos (9,9%) e a Proteção dos animais(14%). Destes dados podemos concluir que os jovens parecem estar mais envolvidos em temas mediáticos da atualidade, como a preocupação pelo meio ambiente, que se tem vindo a evidenciar na criação de vários movimentos ecológicos, e a luta constante contra a violência de género, que tem eco nos direitos de liberdade e igualdade. Justificação de algumas ações Numa escala que varia de 1 (nunca justificável) a 10 (sempre justificável), em média, os jovens universitários consideram quase todos os comportamentos justificáveis, uma vez que, à exceção do consumo das drogas, os demais comportamentos encontram-se acima do valor médio da escala. A homossexualidadeapresenta-se como o comportamento mais justificável, apresentando uma média acima dos restantes valores (8,8), seguindo-se a entrada no país de trabalhadores imigrantes(7,34) e da maternidade de substituição (barrigas de aluguer)(7,14). Por outro lado, a média do consumo de drogas(3,86) situa-se no nível mais baixo das restantes, indicando ser uma ação, para os estudantes, pouco ou nada justificável. Ao analisarmos a mesma questão segundo o sexo, verificamos que, à exceção da média do consumo de drogas(3,65 para o sexo feminino e 4,45 para o masculino,), as mulheres apresentam valores superiores às médias dos homens, o que indica que as jovens mulheres consideram sempre mais aceitáveis estes comportamentos do que os homens. Qualidades/Princípios As qualidades que a maioria dos jovens universitários considera ser mais importantes na educação passam por ser tolerante e respeitar os outrose tersentido de responsabilidade(82,2% em ambas), seguindo-se a qualidade de ter boas maneiras(71,7%). Há outras qualidades que merecem a atenção dos mesmos, mas não para a maioria, como ser independente(46,1%) ou ser determinado e perseverante(42,4%). Por sua vez, há qualidades que os inquiridos não valorizam tanto na educação, como ser obediente(5,2%), ter fé religiosa(8,9%) ouser poupado com o dinheiro e com as coisas (16,8%).
image/svg+xmlSara MADUREIR; Eduardo DUQUE e Durán VÁZQUEZ RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171992007 Análise exploratória Depois desta análise descritiva do inquérito, apresentamos agora uma análise mais robusta para perceber com maior profundidade o que os dados nos podem revelar sobre os comportamentos e atitudes dos universitários. Para isso, vamos trabalhar somente sobre as questões medidas em escala ou ordinais que nos permitem proceder à respetiva análise. São elas: a questão do nível de confiança nas instituições(Q3), da visão da Igreja Católica(Q9) e da justificação das práticas ou questões de consciência(Q11). Recorrendo ao alpha de Cronbachpara medir a confiabilidade destes três fatores, verificou-se que o fator confiança nas instituições(formado por 9 itens) apresentou um valor médio de 2,85 e um teste do alphade 0,84. Por sua vez, o fator relativo às questões de consciência(formado por 7 itens) apresentou um valor médio de 6,8 e um valor alphade 0,86. Por último, o fator visão da Igreja Católica(formado por 5 itens) apresentou um valor médio de 3,12 e alphade 0,04, valor muito baixo, pelo que foram removidos os itens: conservadorae repulsiva, para permitirem um aumento dos valores médios da escala de 2,9 para 8,96 e um aumento do alpha de Cronbachde 0,37 para 0,74. O fator final da experiência religiosacontou, assim, apenas, com 3 itens: dialogante, alegre emoderna. Tabela 1Análise de várias dimensões de comportamentos e atitudes dos universitários Nº de itens Média dos fatores Alpha de Cronbachpadronizado Confiança nas instituições 9 2,85 0,84 Questões de consciência 7 6,8 0,86 Visão da Igreja Católica Conservadora Dialogante Alegre Repulsiva Moderna 5 3,12 0,04 Visão da Igreja Católica Dialogante Alegre Repulsiva Moderna 4 2,9 0,37 Visão da Igreja Católica Dialogante Alegre Moderna 3 8,96 0,74 Fonte: Elaboração própria a partir do Inquérito sobre as práticas, valores e atitudes, 2020
image/svg+xmlPráticas, valores e atitudes dos jovens: Um estudo de caso a partir de alunos da Universidade do Minho RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171992008 A partir dos 9 itens relativos às instituições, dos 7 itens sobre as questões de consciência e os 3 itens relativos à visão da Igreja Católica, aplicou-se a análise de componentes principais e obteve-se uma solução de três fatores. O valor de KMO = 0,84 valida este resultado da AFCP e o teste de esfericidade de Bartlettsignificativo, X2 (153) = 1298,721, p>,001 permitem rejeitar a hipótese nula da matriz de correlações ser igual à matriz de identidade (validando também o resultado fatorial). Os valores de comunalidades dos itens superiores a 0,3 não requerem a remoção adicional de qualquer um dos itens incluídos. A matriz da componente obtida pela rotação Varimax(e o fator de Normalização de Kaiser) resulta numa estrutura de três fatores. O primeiro fator tem uma capacidade explicativa de 23,7% da variabilidade dos dados, o segundo 23,1% e o terceiro 8,1%. No seu conjunto, estes três fatores explicam 55% da variância dos dados. Através da figura abaixo indicada, observa-se que os três fatores obtidos foram coincidentes com a “divisão teórica”: o primeiro fator integra as questões de consciência(prática do aborto, entrada de imigrantes no país, barrigas de aluguer, eutanásia, consumo de drogas, homossexualidade e relações sexuais com parceiros ocasionais); o segundo fatorrefere-se aograu de confiança nas instituições; o terceiro fatoré relativoàforma como se vê a Igreja Católica.Este resultado da AFCP permitiu avaliar a fiabilidade dos itens. Figura 1Resultados da análise de Componentes PrincipaisFonte: Elaboração própria a partir do Inquérito sobre as práticas, valores e atitudes, 2020 O dendograma que se segue revela os resultados da Análise de Clusters Hierárquica. Esta análise permite-nos indicar a organização dos valores em dois agrupamentos. Por um lado, podemos observar as questões de consciência(como o aborto, eutanásia, entrada de imigrantes,
image/svg+xmlSara MADUREIR; Eduardo DUQUE e Durán VÁZQUEZ RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.171992009 barrigas de aluguer, homossexualidade e parceiros ocasionais), por outro lado, num segundo cluster, as demais variáveis. Figura 2 Resultados da Análise de Clusters HierárquicaFonte: Elaboração própria a partir do Inquérito sobre as práticas, valores e atitudes, 2020 Foi aplicada a técnica MDS (algoritmo de escalonamento multidimensional) para a representação das semelhanças/dissemelhanças em múltiplas dimensões. De acordo com os critérios de avaliação da qualidade dos resultados, a solução das duas dimensões apresenta-se adequada (STRESS-I = 0,14; DAF = 0,98). O quadro “Decomposition of Normalized Raw Stress” mostra que não existem objetos que não contribuam para os valores de Raw Stressnormalizado (STRESS-I) uma vez que todos os objetos apresentam valores de STRESS-I < 0,05, revelando um bom ajustamento da solução obtida.