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Práticas, valores e atitudes dos jovens: Um estudo de caso a partir de alunos da Universidade do Minho
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.17199
1994
PRÁTICAS, VALORES E ATITUDES DOS JOVENS: UM ESTUDO DE CASO A
PARTIR DE ALUNOS DA UNIVERSIDADE DO MINHO
PRÁCTICAS, VALORES Y ACTITUDES DE LOS JÓVENES: UN ESTUDIO DE CASO
DE LOS ESTUDIANTES DE LA UNIVERSIDAD DE MINHO
PRACTICES, VALUES AND ATTITUDES OF YOUNG PEOPLE: A CASE STUDY
BASED ON STUDENTS OF THE UNIVERSITY OF MINHO
Sara MADUREIRA
1
Eduardo DUQUE
2
Durán VÁZQUEZ
3
RESUMO
:
Analisar os comportamentos, valores e atitudes da juventude permite que se faça
um exame impiedoso sobre o nosso tempo, ajudando a perceber as enredadas raízes da nossa
vivência coletiva, pelo que, ao analisar as suas opções, estamos não só a estudar o tempo
presente, mas também a vislumbrar o futuro da nossa sociedade. Exposto isto, o presente estudo
visa analisar as práticas, valores e atitudes dos jovens de forma a melhor compreender as suas
atuais tendências valorativas e religiosas. Através de uma metodologia quantitativa, inqueriu-
se estudantes na Universidade do Minho, com idades compreendidas entre os 18 e os 35 anos.
Das conclusões depreende-se que os jovens procuram atividades de ocupação mais
individualistas e menos sociais, possibilitando-lhes momentos de satisfação pessoal. Quanto à
sua dimensão religiosa e valorativa, verificou-se que
pouco
ou
nada
participam nos serviços
religiosos e que manifestam níveis elevados de justificação para determinados comportamentos,
aparentando reagir abertamente a práticas que, normalmente, são desaprovadas pela sociedade.
A
Proteção do
ambiente
, o
Racismo e a xenofobia
e a
Violência de género
constituem os temas
da atualidade que merecem maior preocupação por parte dos jovens universitários.
PALAVRAS-CHAVE
:
Valores. Juventude. Religiosidade. Pós-modernidade. Globalização.
RESUMEN
:
El análisis de los comportamientos, valores y actitudes de los jóvenes nos permite
hacer un examen implacable de nuestro tiempo, ayudándonos a comprender las raíces
enmarañadas de nuestra experiencia colectiva, de modo que al analizar sus elecciones no sólo
estamos estudiando el tiempo presente, sino que también vislumbramos el futuro de nuestra
sociedad. Por ello, el presente estudio pretende analizar las prácticas, los valores y las
actitudes de los jóvenes para comprender mejor sus tendencias valorativas y religiosas
actuales. A través de una metodología cuantitativa, se encuestó a estudiantes de la Universidad
1
Universidade Católica Portuguesa (UCP), Braga
–
Portugal. Socióloga. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-
2879-0329. E-mail: saramadureira99@gmail.com
2
Universidade Católica Portuguesa (UCP), Braga
–
Portugal. Professor da Faculdade de Filosofia e Ciências
Sociais. Membro Integrado do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho (UM).
Doutorado em Sociologia (UCM Espanha). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4719-3148. E-mail:
eduardoduque@ucp.pt
3
Universidade de Vigo (UVIGO), Vigo
–
Espanha. Professor de Sociologia. Doutorado em Sociologia. ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-7440-0168. E-mail: joseduran@uvigo.es
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Sara MADUREIR; Eduardo DUQUE e Durán VÁZQUEZ
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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de Minho, de entre 18 y 35 años. De las conclusiones se desprende que los jóvenes buscan
actividades ocupacionales más individualistas y menos sociales, que les posibilitan momentos
de satisfacción personal. En cuanto a su dimensión religiosa y de valores, se constató que
participan poco o nada en los servicios religiosos, y que manifiestan altos niveles de
justificación de ciertos comportamientos, pareciendo reaccionar abiertamente ante prácticas
que normalmente son desaprobadas por la sociedad. La protección del Medio Ambiente, el
Racismo, la xenofobia y la Violencia de Género son los temas de actualidad que merecen una
mayor preocupación por parte de los jóvenes universitarios.
PALABRAS CLAVE
: Valores. Juventud. Religiosidad. Posmodernidad. Globalización.
ABSTRACT
:
Analyzing the behaviors, values and attitudes of youth allows us to make a
merciless examination of our time, helping to understand the tangled roots of our collective
experience, so that, when analyzing their options, we are not only studying the present time,
but also to envision the future of our society. Having said that, the present study aims to analyze
the practices, values and attitudes of young people in order to better understand their current
evaluative and religious tendencies. Through a quantitative methodology, students at the
University of Minho were surveyed, aged between 18 and 35 years. From the conclusions it
appears that young people look for more individualistic and less social occupations, allowing
them moments of personal satisfaction. Regarding their religious and evaluative dimension, it
was found that little or no participation in religious services and that they show high levels of
justification for certain behaviors, appearing to react openly to practices that are normally
disapproved of by society. Environmental Protection, Racism and Xenophobia and Gender
Violence are the current topics that deserve greater concern on the part of young university
students.
KEYWORDS
:
Values. Youth. Religiosity. Postmodernity. Globalization.
Introdução
Jovens. Quem são? Como vivem? O que os motiva? Quais as suas práticas? O que
sentem? Como agem perante a sociedade? Qual a sua importância para um melhor
funcionamento da sociedade? Qual o lugar da juventude na contemporaneidade? São vários os
motivos que nos levam a indagar sobre a vivência dos jovens, sendo que um dos mais fortes é
a tentativa de compreender o aparecimento do novo imaginário social que se vem a afigurar no
contexto das profundas mudanças sociais que estamos a viver.
Cada um de nós marca e é marcado pela sua geração e cada pessoa contribui para a
construção da sociedade, abrindo possibilidades de novos modelos e de novas construções
sociais dando lugar, assim, a transições societárias. Mas estas não significam abandonar o velho
pelo novo, mas sim o convívio do velho com o novo durante muito tempo.
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A única certeza que temos em relação ao futuro, é que somos nós a construí-lo. Somos
nós os responsáveis pela produção da sociedade, por razões, exclusivamente, geracionais. Ao
olhar para a juventude como um espaço de distintas trajetórias, vamos ter jovens que querem
mudar o mundo e outros que querem conservar modelos tradicionais de família e de sociedade.
A investigação que nos propomos desenvolver pretende apurar as atuais tendências e
sensibilidades dos jovens em relação à dimensão religiosa, expressa nas práticas, valores e
atitudes em ambiente académico.
Neste sentido, ao longo deste estudo, procuraremos analisar a relação entre a
modernização e o consequente aparecimento de novas formas religiosas entre os jovens; indagar
as causas do processo de individualização social dos jovens; apurar as causas que levaram à
pluralização e personalização das crenças religiosas dos jovens e, por último, procurar entender
se estamos perante o surgimento ou a reconfiguração de novos valores.
De uma forma geral, visa-se proporcionar o aprofundamento da experiência religiosa e
dos valores entre os jovens universitários da Universidade do Minho, reunindo esforços no
sentido de captar a multiplicidade de formas e sentidos que preenchem a vida de cada um.
Ciência, razão e religião na sociedade contemporânea
A partir do século XVIII, começavam a registar-se na Europa o despertar de forças que
iriam revolucionar o mundo dos dogmas estabelecidos da Igreja. Com o Iluminismo, nasce uma
mentalidade orientada pelos ideais racionais e científicos, sendo estes a principal fonte de
autoridade e legitimidade. A partir desta nova sensibilidade, os indivíduos veem-se libertos das
amarras do absolutismo, e a
ciência
propõe-se substituir o papel, que era até então atribuído à
religião
, como se a religião fosse a nova ciência, facto este que gera, no entender de Duque
(2019),
um excesso de confiança “na ideia do progresso infinito que cria uma espectativa nas
pessoas de que todos os problemas terão uma resposta forjada à luz da ciência”.
Lyotard (1989, p. 5) a este propósito refere que o saber se tornou
“
a principal força de
produção e constitui o principal ponto de estrangulamento para os países em via de
desenvolvimento”.
A
racionalização
e o
saber
técnico-científico
transformaram-se, assim, em
dois elementos fundamentais para a consolidação de uma modernidade plena, tornando-se
visíveis nos mais variados domínios da vida.
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Sara MADUREIR; Eduardo DUQUE e Durán VÁZQUEZ
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1997
Para Weber (1973, p. 157-159)
“a intelectualização e a racionalização crescentes não significam
um crescente
conhecimento geral das condições gerais da vida. O seu significado é muito
diferente; significam que se sabe ou se acredita que, em qualquer momento
em que se queira, se pode chegar a saber; que, portanto, não existem em torno
das nossas vidas poderes ocultos e imprevisíveis, mas que, pelo contrário, tudo
pode ser dominado através do cálculo e da previsão. Isto significa
simplesmente que se excluiu o mágico do mundo [...]. Isto é coisa que se
consegue graças aos meios técnicos e à previsão”
Quando referimos as mudanças ocorridas na sociedade, não nos podemos descuidar do
papel da religião no decorrer de tais transformações. Com a modernização também se tornou
evidente o nascimento de novos sentidos de vida e novas práticas rituais, muito presentes na
vivência dos jovens, sendo estes os protagonistas do despertar de uma geração, o que leva
Bourdieu (2003), a caracterizá-los como uma unidade social, um grupo dotado de interesses
comuns. Já nas palavras de Machado Pais (1990, p. 141)
, “a juventude tem sido encarada como
uma fase de vida marcada por uma certa instabilidade associada a determinados
‘
problemas
sociais
’
. Se os jovens não se esforçam por contornar esses
‘
problemas
’
, correm mesmo riscos
de serem apelidados de
‘
irresponsáveis
’
ou
‘
desinteressados
’”
. É percetível, neste contexto, a
palavra “jovem”
. Quando a proferimos torna-se evidente nas nossas consciências que se trata
de uma camada de pessoas agregadas numa certa categoria de idade, um certo número de
comportamentos e características, como por exemplo, a revolta ou uma atitude pouco
convencional. De acordo com os teóricos da juventude, este é um conceito que muda conforme
a cultura, a época, o contexto social e a classe social, de aí que, de acordo com as diferentes
culturas e sociedades, se fale de juventudes, no seu plural. Como refere Duque (2007, p. 22):
Desde uma perspetiva sociológica poder-se-á dizer que a juventude é
considerada como função das estruturas produtivas e demográficas. Entende-
se a transição como um processo social, como tal relativo, isto é, que não está
presente em todas as culturas, dependendo do contexto social em que o mesmo
se desenvolve. É possível, assim, deste modo, distinguir uma pluralidade de
juventudes e de grupos sociais dentro deste intervalo de idade, das que
resultariam a variável dependente, relacionada com outras variáveis
estruturais como classe social, situação económica e família de procedência.
Um dos problemas que se tem vindo a observar no cenário da contemporaneidade em
relação aos jovens é de como estes se têm apropriado das condutas normativas e das crenças,
na medida em que eles têm tomado dianteira das suas próprias conceções do sentido de vida
(FEATHERSTONE, 2000), com todas as glorificações da individualidade, liberdade e
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autorrealização pessoal, conquistas estas que, aos poucos, vão redesenhando um novo cenário
religioso-juvenil.
A questão que se tem colocado, no âmbito das mudanças sociais e das novas formas de
vida, é se a religião faz sentido na vida dos jovens ou se se dissipou do seu universo de
vivências.
Na tentativa de dar resposta a esta questão procuraremos precisar, em primeiro lugar, o
conceito de religião
e com ela alguns conceitos relacionados, como o de
crenças
,
práticas
e
valores
, para que se possa entender o papel destes na vida das pessoas. Posteriormente,
procurar-se-á enquadrar os conceitos no seio das mudanças dos tempos que estamos a viver.
A
religião,
“religa” a humanidade com a divindade, assim nos diz a sua origem
etimológica. Contudo, existem várias formas de nos “
re-
ligarmos”
às divindades, variando de
acordo com o contexto cultural. No Ocidente, altamente marcado pela cultura judaico-cristã, a
religião manifesta-se na relação com Deus único e transcendente. Já nas sociedades orientais,
maioritariamente budistas e hinduístas, a dimensão transcendental não está presente, como nas
nossas sociedades, mas assume uma expressão mais horizontal, panteísta, onde a divindade se
concretiza em todas as coisas. Assim, a religião não é uma ligação a um ente superior e
transcendente, mas à própria natureza. Durkheim (200, p. 46), por sua vez, valoriza muito as
dimensões práticas e rituais, pelo que vai definir a religião como “um sistema unificado de
crenças e de práticas relativo a coisas sagradas [
…
] que unem os seus aderentes numa
comunida
de moral única denominada igreja”
. Tal como nos diz Durkheim nesta citação, as
crenças e as práticas são, normalmente, os aspetos mais salientes nas religiões. Assim,
procurando desconstruir esta definição, percebemos que a religião é um sistema composto por
crenças
, as quais dão um sentido ao mundo e á vida, através de
práticas
, meios, sinais
experiências de ligação a esse sagrado, de acordo com os nossos
valores
, orientações
normativas do comportamento. Em termos funcionais, e já não substantivos, ou descritivos, a
religião,
permite regular e justificar a conduta individual (normativa), providenciar
coesão social (coesiva), consolar e aliviar (tranquilizante), fortificar a vontade
(estimulante), dar sentido à vida (significante), possibilitar a experiência do
sagrado (experiencial), crescer e amadurecer (maturativa), proporcionar
identidade (identitária) e ministrar salvação (redentora) (COUTINHO, 2012,
p. 187).
Duque (2014, p. 25), procurando fugir a definições exclusivamente substantivas, define
a religião “como um conjunto de crenças e valores, dadores de estabilidade, dinâmica e sentido,
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organizados em representações simbólicas e referentes a uma realidade que transcende o
indi
víduo”.
Diz-
nos este mesmo autor que “esta definição supõe o ajuste do espírito humano à
realidade, com toda a sua carga simbólica e imaginativa que esta envolve. Falamos de ajuste
porque, em rigor, a religião implica uma situação, isto é, um contexto huma
no e social”
(DUQUE, 2014, p. 25).
Por outro lado, importa enquadrar a religião e os jovens no contexto das transformações
da pós-modernidade. É um facto que o fenómeno da individualização das nossas sociedades,
do relativismo perante a dimensão valorativa e do impacto da globalização têm marcado
fortemente as instituições, levando a que, por exemplo, a Igreja tenha diminuído a sua expressão
pública na sociedade, assumindo agora posições mais periféricas e, ao fazê-lo, abre-se
naturalmente espaço para que novas estruturas de sentido e novos grupos de pertença surjam.
Apesar do processo de secularização de grande parte das sociedades ocidentais, a
religião tem-se revelado resiliente, mas isso não significa que não se transforme. Ela assume as
formas do tempo, manifestando-se, assim, em novas tendências.
Contexto religioso português e europeu
É objetivo deste capítulo determinar a situação religiosa em Portugal, no contexto das
mudanças provocadas pela modernização, delimitando o cenário de mudança em Portugal, em
relação à Europa.
Como refletimos anteriormente, a revolução imperialista, que ocorreu na Europa do
século XIX
–
ameaçada pelo conflito entre as ideias tradicionais da Igreja e as ideias da
liberdade, do progresso e da razão, que pareciam ser a favor de um profundo renascimento
intelectual
–
começava a criar um certo afastamento de pessoas da Igreja, desprovida de meios
que ajudassem a fazer frente às forças modernizadoras, fazendo evidenciar os primeiros sinais
daquilo que viria a ser o início de um divórcio entre fé e razão que, nas palavras de Rodrigues
(RODRIGUES, 1980), conduziria a um certo
“
humanismo ateu
”
.
Para comprovar a tendência do progressivo abandono da religião, vários pensadores
delimitaram algumas dimensões conceptuais que nos são úteis para compreender tal facto. É o
caso de Leok Halman (2001) que considerou o conceito de individualização social para assumir
uma maior autonomia nos comportamentos e na forma de pensar dos indivíduos. Recorrendo à
perspetiva de Menéndez (2007, p. 770), a individualização social de Halman é
“
como um
processo histórico e social onde os valores, as crenças, as atitudes e os comportamentos são
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–
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orientados por escolhas pessoais e são menos dependentes da tradição e das instituições
sociais
”.
Relativamente à situação portuguesa em relação a outros países europeus, a partir do
estudo de Menéndez (2007), verificou-se que Portugal é um país de elevada identidade católica,
ainda que a sua prática religiosa não seja tão alta como a sua identidade, de níveis altos de
confiança na Igreja, bem como de crença em Deus.
Depois de um brevíssimo enquadramento teórico, partimos para a parte empírica deste
estudo, formulando a seguinte hipótese de investigação: com o desenvolvimento das
sociedades, os jovens sentem a necessidade de criar novas formas de relação com Deus,
evidenciando o aparecimento de uma nova mentalidade, visível nas suas práticas, valores e
atitudes.
Metodologia
Sendo o fenómeno religioso complexo e múltiplo, poder-se-iam combinar vários
procedimentos metodológicos, de forma a melhor compreender a religiosidade dos jovens, bem
como outros conceitos subjacentes a este fenómeno. Porém, por razões de tempo, optou-se
somente pela abordagem quantitativa.
Quanto ao processo amostral, e tendo em conta as intencionalidades do estudo, definiu-
se como população-alvo todos os indivíduos do ensino superior, com idades entre os 18 e os 35
anos, de ambos os sexos, estudantes na Universidade do Minho, dos polos de Gualtar e Azurém.
Recorreu-se a uma amostra não probabilística por conveniência, dado que não havia
critérios, à partida, para considerar que determinada pessoa fizesse parte do processo
amostral. Foram obtidos 191 questionários. Todos eles devidamente preenchidos e dentro
dos critérios definidos na amostra.
A idade dos inquiridos variou entre os 18 e 35 anos (M = 22,80, DP = 3,88). Houve uma
prevalência expressiva dos estudantes do sexo feminino, representando 74% da amostra, sendo
apenas 26% corresponde ao sexo masculino. Quanto à distribuição por curso, verificou-se que
os respondentes frequentavam Medicina, Sociologia, Engenharia Biológica e Química. A
maioria dos respondentes encontrava-se matriculado no 2º ou 3º anos, com 28,3% em cada um
dos anos. Cerca de 43% disse residir em zona urbana.
O
questionário
foi elaborado tendo em conta os objetivos da investigação e, uma vez
que o objetivo central visava analisar a dimensão valorativa dos jovens tendo em conta o cenário
de mudança e o consequente aparecimento de novas formas de religiosidade, optou-se,
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preferencialmente, pela realização de um questionário que pudesse ser útil na medição dos
valores, perceções, atitudes e opiniões dos estudantes do ensino superior.
Na sua elaboração foram definidas três dimensões: na primeira pretendeu-se analisar as
principais atividades que ocupam o
tempo livre
dos jovens. Nesta dimensão, foi ainda elaborada
uma questão que pretendeu avaliar a credibilidade que os jovens têm em relação às instituições:
Governo, Universidade, Igreja Católica, Tribunal, Polícia, Sistema Nacional de Saúde, Serviços
Sociais e União Europeia. A segunda dimensão consistiu na análise da
dimensão religiosa e
valorativa
dos jovens, tendo em conta a tendência de afastamento e
“
anemia
”
no campo moral,
político e religioso dos jovens na sociedade atual. Deste modo, foram elaboradas, nesta
dimensão, uma série de perguntas de modo a analisar a sua posição religiosa e moral. A terceira
e última dimensão, visou definir a caracterização
sociodemográfica
dos inquiridos.
Análise e interpretação dos dados
Propomo-nos analisar dois grupos de questões formuladas no inquérito. No primeiro
grupo, questionam-se as principais atividades em que os jovens universitários ocupam o seu
tempo livre, bem como, a ligação e confiança que estes têm em relação a algumas instituições
da sociedade. No segundo grupo, as questões formuladas incidem sobre a dimensão religiosa e
valorativa dos jovens.
Tempos livres e dimensão institucional
Nesta parte do estudo, procederemos à análise do primeiro grupo de questões, nas quais
se pretende conhecer as principais atividades de ocupação do tempo livre dos universitários e
avaliar a credibilidade que estes atribuem às instituições.
Atividades de ocupação de tempos livres
Os dados analisados
–
e atendendo somente aos de maior relevância
–
demonstram que
7 em cada 10 jovens refere que ocupam mais o seu tempo livre a
ficar em casa a ler, ouvir
música e a ver filmes
(73,3%) ou a
sair com os amigos
(69,1%), por sua vez, 4 em cada 10
menciona que ocupa o seu tempo livre a
sair com a família ou visitar familiares
(38,2%)
ou a
praticar desporto e atividades ao ar livre
(37,7%).
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2002
Estas prioridades são iguais em ambos os sexos, já que tanto as jovens raparigas como
os jovens rapazes referem ocupar mais o seu tempo livre a
ficar em casa a ler, ouvir música e
a ver filmes
ou a
sair com os amigos
.
Pertença a um grupo ou organização
A distribuição dos estudantes universitários segundo a pertença a um grupo ou
organização revela que as
Organizações ou movimentos de voluntariado
são as que acolhem o
número mais expressivo de jovens universitários, já que 3 em cada 10 diz pertencer a este tipo
de organizações, seguido das
Associações ou núcleos de estudantes
ou
grupos ou movimentos
de jovens religiosos
que em ambos os casos congregam 2 em cada 10 jovens. As
organizações
de proteção dos direitos dos animais
ou as
organizações de proteção do meio
ambiente/ecologia
são aquelas em que os jovens menos se vinculam (5,2% e 1,6%,
respetivamente).
Analisando esta mesma questão, tendo em conta o sexo dos jovens inquiridos, vemos
que a prioridade nas escolhas é ligeiramente diferente. Enquanto que as jovens mulheres se
vinculam com maior expressividade em
organizações ou movimentos de voluntariado
;
associações ou núcleos de estudantes
e em
grupos ou movimentos de jovens religioso
, pela
ordem de preferência, os homens, por sua vez, apresentam uma prioridade diferente, referindo
pertencer de forma mais expressiva, em primeiro lugar, a
associações ou núcleos de estudantes
,
seguido das
associações ou grupos desportivos
e, posteriormente, em
grupos ou movimentos
de jovens religiosos
. É importante salientar que os jovens homens inquiridos não se identificam
com as
organizações
de proteção dos direitos dos animais
ou as
organizações de proteção do
meio ambiente/ecologia
, já que nenhum dos inquiridos diz pertencer a estas organizações.
Nível de confiança nas instituições
O grau de confiança das instituições por parte dos jovens universitários é relativamente
alto, destacando-se, por ordem de preferência, a Universidade, em que 9 em cada 10 jovens
refere ter
muita
(59,2%)
ou alguma confiança
(30,9%); o
Sistema Nacional de Saúde
(com
31,4% e 56,5%, respetivamente) e a
União Europeia
(22% e 66%, respetivamente); 8 em cada
10 refere ter
muita
(21,5%)
ou alguma confiança
(59,7%) na Polícia; 7 em cada 10 diz ter
muita
(11%)
ou alguma confiança
(62,8%) nos
Serviços Sociais
, nos
Tribunais
(212% e 59,2%,
respetivamente) e
Governo
(8,9% e 61,3%, respetivamente); 6 em cada 10 diz ter
muita
(19,4%)
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2003
ou alguma confiança
(35,1%) na Igreja católica e é à
Comunicação Social
que os jovens
universitários menos confiança atribuem, já que apenas 5 em cada 10 jovens diz atribuir
muita
(4,2%)
ou alguma confiança
(44%).
Daqui é possível depreender que as instituições em que os jovens depositam mais
confiança são o Serviço Nacional de Saúde, a Universidade e a União Europeia. Por sua vez, o
menor nível de confiança atribuído a instituições como a Comunicação Social, a Igreja Católica
e o Governo pode estar relacionado com a mentalidade contemporânea que não aceita que as
instituições “ditem verdades em que acreditar” ou proponham “caminhos a seguir”
,
reconhecendo somente a legitimidade da verdade individual.
Dimensão religiosa e valorativa
Neste tópico analisaremos a dimensão religiosa e valorativa dos jovens universitários e,
para isso, ter-se-á em conta valores, princípios, normas de conduta e comportamentos que se
irão articular com sua dimensão moral e religiosa.
De uma forma geral, a moral é um conjunto de regras que orienta os indivíduos em
sociedade, norteando e dando sentido às suas ações, categorizando-as como certas ou erradas,
segundo a sociedade e grupos sociais e religiosos (GONÇALVES, 2000; LIPOVESTKY, 2004;
RACHELS, 2003).
Quanto à
posição religiosa
dos jovens, verificou-se que a maioria, 8 em cada 10
universitários, diz ser
católico
(80%), enquanto 1 em cada 10 diz ser
ateu
(13%). Apenas, 6%
refere pertencer a
outra religião cristã
e 1% a
religiões orientais
. Tal como vários outros
estudos mostraram, também este revela que as mulheres se dizem mais católicas do que os
homens.
Participação em serviços religiosos
Quando se analisa a frequência com que os jovens participam nos serviços religiosos,
sem contar com os funerais e os casamentos, o número mais expressivo de jovens, 3 em cada
10, diz que n
unca
participa (27,2%) ou participa
poucas vezes ao ano
em serviços religiosos
(26,7%). Cerca de 24% dos jovens universitários diz participar
uma vez por semana
, 12%
participa apenas nos
dias religiosos/festivos
, 7,9%
pelo menos uma vez por mês
e apenas 2,6%
refere participar
mais de uma vez por semana
(3%). Estes números permitem-nos perceber que
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i3.17199
2004
a maioria dos jovens universitários não tem qualquer prática religiosa ou, se a tem, ela é pouco
regular, evidenciando um vínculo muito frágil com a
prática religiosa
.
Se analisarmos a mesma questão, segundo o sexo, verifica-se que as jovens
universitárias têm uma prática mais assídua do que os homens. Por sua vez, como também é
frequente, é entre os universitários homens que se verifica um maior absentismo na frequência
aos serviços religiosos.
Religiosidade
Diante da questão
“Independentemente de pertencer a uma religião em particular,
numa escala de 1 a 10, em que 1 significa “Nada religiosa” e 10 “Muito religiosa”, diria que
é uma pessoa”
, a média da religiosidade dos jovens universitários é de 4,93, sendo que as
estudantes do sexo feminino são em média mais religiosas do que os estudantes do sexo
masculino, apresentando-se ligeiramente acima da média da escala, 5,15 e 4,27, respetivamente.
É interessante verificar que os estudantes com um nível de religiosidade mais elevado
frequentam o 6ºano de estudos (5,78), seguindo-se os estudantes do 4º ano (5,62) e os estudantes
do 1ºano (5,17).
Crença em Deus
Quando questionados sobre as suas crenças, 4 em cada 10 universitários, refere que
acredita que
existe um
Deus. Por sua vez, 2 em cada 10 diz acreditar que
existe uma espécie de
Deus ou força viva
; outros tantos jovens,
pensam que não existe nenhum espírito absoluto,
Deus ou força viva
e, também 2 em cada 10 universitários, refere que
não sabe realmente o que
pensar
.
Se tivermos em conta esta mesma questão, analisando-a segundo o sexo, vemos que são
as jovens mulheres que manifestam mais a sua crença na
existência de Deus
(45,1%) ou uma
espécie de Deus ou força viva
(24,6%), ou seja, 7 em cada 10 mulheres acredita na existência
de uma divindade, sendo que apenas metade dos jovens homens, 5 em cada 10, acredita nessa
mesma existência.
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Sara MADUREIR; Eduardo DUQUE e Durán VÁZQUEZ
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2005
Visão da Igreja Católica
Procura-se neste tópico salientar a visão que os jovens universitários têm relativamente
à Igreja Católica. Foram propostas várias perspetivas sobre a Igreja Católica, possibilitando
diferentes visões da mesma, de modo a que os inquiridos pudessem posicionar-se em relação a
esta dimensão.
Ao analisar os dados, vemos que há posições mais claras em relação a algumas visões
da Igreja Católica do que de outras.
Quando questionados sobre o facto da Igreja Católica ser
conservadora
, 7 em cada 10
jovens universitários refere que está
totalmente de acordo
(38,7%) ou
parcialmente de acordo
(35,5%). Por sua vez, 2 em cada 10 considera a Igreja
moderna
(3,1% diz estar
totalmente de
acordo
e 15,2%
parcialmente de acordo
).
Perante a questão se a Igreja é
dialogante
ou
repulsiva
, os jovens universitários
evidenciam a sua posição mais de acordo com a ideia de que a Igreja Católica é mais dialogante
do que repulsiva, já que 4 em cada 10 jovens refere concordarem total (8,9%) ou parcialmente
(33,5%) com a visão de que ela é
dialogante
, enquanto apenas 3 em cada 10 concorda total
(10,5%) ou parcialmente (15,2%) de que a Igreja é
repulsiva
. Importa destacar que 5 em cada
10 jovens não concorda totalmente (20,9%) ou parcialmente (30,4%) com a visão de uma Igreja
repulsiva
.
Quanto à visão da Igreja Católica como sendo
alegre
, 5 em cada 10 jovens diz concordar
totalmente (9,9%) ou parcialmente (35,1%) com esta perspetiva. Sendo que apenas 3 em cada
10 menciona estar
totalmente
(6,8%) ou
parcialmente em desacordo
(18,8%).
Importa também evidenciar a posição
neutra
de muitos jovens em relação a algumas
visões sobre a Igreja, sendo mais expressiva quando se têm de pronunciar sobre a perspetiva da
Igreja como sendo
dialogante
(36,1%)
, moderna
(33,5%) ou
alegre
(29,3%).
Os dados permitiram-nos também concluir que, no geral,
as
jovens universitárias têm
uma posição mais positiva da Igreja Católica do que
os
elementos do sexo masculino.
Temas da atualidade
Os temas da atualidade que mais preocupam os jovens universitários são o
Ambiente
(58,1%), o
Racismo e a xenofobia
(51,8%),
a Violência de género
(48,7%) e a
Pobreza nos
países menos desenvolvidos
(32,5%). Em contrapartida, os temas da atualidade que menos
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2006
atenção têm dos jovens universitários são a
Intolerância religiosa
(6,8%), os
Idosos
(9,9%) e a
Proteção dos animais
(14%).
Destes dados podemos concluir que os jovens parecem estar mais envolvidos em temas
mediáticos da atualidade, como a preocupação pelo meio ambiente, que se tem vindo a
evidenciar na criação de vários movimentos ecológicos, e a luta constante contra a violência de
género, que tem eco nos direitos de liberdade e igualdade.
Justificação de algumas ações
Numa escala que varia de 1 (
nunca justificável
) a 10 (
sempre justificável
), em média, os
jovens universitários consideram quase todos os comportamentos justificáveis, uma vez que, à
exceção do
consumo das drogas
, os demais comportamentos encontram-se acima do valor
médio da escala. A
homossexualidade
apresenta-se como o comportamento mais justificável,
apresentando uma média acima dos restantes valores (8,8), seguindo-se a
entrada no país de
trabalhadores imigrantes
(7,34) e da
maternidade de substituição (barrigas de aluguer)
(7,14).
Por outro lado, a média do
consumo de drogas
(3,86) situa-se no nível mais baixo das restantes,
indicando ser uma ação, para os estudantes, pouco ou nada justificável.
Ao analisarmos a mesma questão segundo o sexo, verificamos que, à exceção da média
do
consumo de drogas
(3,65 para o sexo feminino e 4,45 para o masculino,), as mulheres
apresentam valores superiores às médias dos homens, o que indica que as jovens mulheres
consideram sempre mais aceitáveis estes comportamentos do que os homens.
Qualidades/Princípios
As qualidades que a maioria dos jovens universitários considera ser mais importantes
na educação passam por
ser tolerante e respeitar os outros
e ter
sentido de responsabilidade
(82,2% em ambas), seguindo-se a qualidade de
ter boas maneiras
(71,7%). Há outras
qualidades que merecem a atenção dos mesmos, mas não para a maioria, como s
er independente
(46,1%) ou
ser determinado e perseverante
(42,4%). Por sua vez, há qualidades que os
inquiridos não valorizam tanto na educação, como
ser obediente
(5,2%),
ter fé religiosa
(8,9%)
ou
ser poupado com o dinheiro e com as coisas
(16,8%).
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Sara MADUREIR; Eduardo DUQUE e Durán VÁZQUEZ
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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2007
Análise exploratória
Depois desta análise descritiva do inquérito, apresentamos agora uma análise mais
robusta para perceber com maior profundidade o que os dados nos podem revelar sobre os
comportamentos e atitudes dos universitários. Para isso, vamos trabalhar somente sobre as
questões
–
medidas em escala ou ordinais
–
que nos permitem proceder à respetiva análise. São
elas: a questão do nível de
confiança nas instituições
(Q3), da
visão da Igreja Católica
(Q9) e
da
justificação das práticas ou questões de consciência
(Q11).
Recorrendo ao
alpha de Cronbach
para medir a confiabilidade destes três fatores,
verificou-se que o fator
confiança nas instituições
(formado por 9 itens) apresentou um valor
médio de 2,85 e um teste do
alpha
de 0,84. Por sua vez, o fator relativo às
questões de
consciência
(formado por 7 itens) apresentou um valor médio de 6,8 e um valor
alpha
de 0,86.
Por último, o fator
visão da Igreja Católica
(formado por 5 itens) apresentou um valor médio
de 3,12 e
alpha
de 0,04, valor muito baixo, pelo que foram removidos os itens:
conservadora
e
repulsiva
, para permitirem um aumento dos valores médios da escala de 2,9 para 8,96 e um
aumento do
alpha de Cronbach
de 0,37 para 0,74. O fator final da
experiência religiosa
contou,
assim, apenas, com 3 itens:
dialogante, alegre
e
moderna
.
Tabela 1
–
Análise de várias dimensões de comportamentos e atitudes dos universitários
Nº de itens
Média dos
fatores
Alpha de Cronbach
padronizado
Confiança nas instituições
9
2,85
0,84
Questões de consciência
7
6,8
0,86
Visão da Igreja Católica
Conservadora
Dialogante
Alegre
Repulsiva
Moderna
5
3,12
0,04
Visão da Igreja Católica
Dialogante
Alegre
Repulsiva
Moderna
4
2,9
0,37
Visão da Igreja Católica
Dialogante
Alegre
Moderna
3
8,96
0,74
Fonte: Elaboração própria a partir do Inquérito sobre as práticas, valores e atitudes, 2020
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Práticas, valores e atitudes dos jovens: Um estudo de caso a partir de alunos da Universidade do Minho
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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2008
A partir dos 9 itens relativos às
instituições
, dos 7 itens sobre as
questões de consciência
e os 3 itens relativos à
visão da Igreja Católica
, aplicou-se a análise de componentes principais
e obteve-se uma solução de três fatores. O valor de KMO = 0,84 valida este resultado da AFCP
e o teste de
esfericidade de Bartlett
significativo, X
2
(153) = 1298,721,
p
>,001 permitem
rejeitar a hipótese nula da matriz de correlações ser igual à matriz de identidade (validando
também o resultado fatorial). Os valores de comunalidades dos itens superiores a 0,3 não
requerem a remoção adicional de qualquer um dos itens incluídos.
A matriz da componente obtida pela rotação
Varimax
(e o fator de Normalização de
Kaiser) resulta numa estrutura de três fatores. O primeiro fator tem uma capacidade explicativa
de 23,7% da variabilidade dos dados, o segundo 23,1% e o terceiro 8,1%. No seu conjunto,
estes três fatores explicam 55% da variância dos dados.
Através da figura abaixo indicada, observa-se que os três fatores obtidos foram
coincidentes com a “divisão teórica”: o primeiro fator integra as
questões de consciência
(prática do aborto, entrada de imigrantes no país, barrigas de aluguer, eutanásia, consumo de
drogas, homossexualidade e relações sexuais com parceiros ocasionais); o segundo fator
refere-
se ao
grau de
confiança nas instituições
; o terceiro fator
é relativo
à
forma como se vê a Igreja
Católica
.
Este resultado da AFCP permitiu avaliar a fiabilidade dos itens.
Figura 1
–
Resultados da análise de Componentes Principais
Fonte: Elaboração própria a partir do Inquérito sobre as práticas, valores e atitudes, 2020
O dendograma que se segue revela os resultados da Análise de Clusters Hierárquica.
Esta análise permite-nos indicar a organização dos valores em dois agrupamentos. Por um lado,
podemos observar as
questões de consciência
(como o aborto, eutanásia, entrada de imigrantes,
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Sara MADUREIR; Eduardo DUQUE e Durán VÁZQUEZ
RIAEE
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 3, p. 1994-2023, jul./set. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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2009
barrigas de aluguer, homossexualidade e parceiros ocasionais), por outro lado, num segundo
cluster, as demais variáveis.
Figura 2
–
Resultados da Análise de Clusters Hierárquica
Fonte: Elaboração própria a partir do Inquérito sobre as práticas, valores e atitudes, 2020
Foi aplicada a técnica MDS (algoritmo de escalonamento multidimensional) para a
representação das semelhanças/dissemelhanças em múltiplas dimensões.
De acordo com os critérios de avaliação da qualidade dos resultados, a solução das duas
dimensões apresenta-se adequada (STRESS-I = 0,14; DAF = 0,98)
. O quadro “Decomposition
of Normalized Raw Stress” mostra que não existem objetos que não contribuam para os valores
de
Raw Stress
normalizado (STRESS-I) uma vez que todos os objetos apresentam valores de
STRESS-I < 0,05, revelando um bom ajustamento da solução obtida.