RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 1
VIOLÊNCIAS CURRICULARES: A (IN)VISIBILIDADE DO CORPO LGBTQIA+ NA
FORMAÇÃO MÉDICA
VIOLENCIAS CURRICULARES: LA (IN)VISIBILIDAD DEL CUERPO LGBTQIA+ EM
LA FORMACIÓN MÉDICA
CURRICULAR VIOLENCES: THE (IN)VISIBILITY OF THE LGBTQIA+ BODY IN
MEDICAL TRAINING
Fabíola Jundurian BOLONHA1
e-mail: fjbolonha@gmail.com
Aldo Gonçalves de OLIVEIRA2
e-mail: aldogeografia@gmail.com
Como referenciar este artigo:
BOLONHA, F. J.; OLIVEIRA, A. G. Violências curriculares: A
(in)visibilidade do corpo LGBTQIA+ na formação médica. Revista
Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n.
00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818
| Submetido em: 12/10/2022
| Revisões requeridas em: 18/11/2022
| Aprovado em: 20/12/2022
| Publicado em: 01/01/2023
Editor:
Prof. Dr. José Luís Bizelli
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Cajazeiras PB Brasil. Professora Adjunta da Unidade
Acadêmica de Ciências da Vida.
2
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Cajazeiras PB Brasil. Professor Adjunto da Unidade
Acadêmica de Geografia.
Violências curriculares: A (in)visibilidade do corpo LGBTQIA+ na formação médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 2
RESUMO: O presente estudo se insere nas discussões sobre formação médica, e de modo
específico, sobre currículo médico e as dimensões de corpo, gênero e sexualidade. Da conexão
entre esses temas, o presente trabalho objetivou analisar como o corpo, gênero e sexualidade
são acionados no Projeto Político Pedagógico (PPC) do curso de medicina da Unidade
Acadêmica de Ciências da Vida UACV/CFP/UFCG (Campus de Cajazeiras). Para dar conta
dessa proposta de investigação, fundamentamos o referencial teórico-metodológico nos estudos
pós-críticos sobre currículo. Tomamos como objeto de análise documental as DCN de 2001
para o curso de graduação em medicina e o PPC do curso em questão. Argumentamos ser
múltiplas as formações discursivas das normativas e diretrizes oficiais, científicas,
biológicas/biomédicas, sociais, pedagógicos que entram em disputa na composição
curricular para a abordagem de saberes sobre gênero e sexualidade.
PALAVRAS-CHAVE: Currículo. Formação médica. Gênero. Sexualidade. LGBTQIA+.
RESUMEN: El presente estúdio forma parte de las discusiones sobre la formación médica, y
especificamente, sobre el currículo médico y las dimensiones de cuerpo, género y sexualidade.
A partir de la conexión entre estos temas, el presente trabajo tuvo como objetivo analizar como
el cuerpo, el género y la sexualidade se activan em el Proyecto Político Pedagógico (PPC) de
la carrera de medicina de la Unidad Académica de Ciencias de la Vida UACV/CFP/UFCG
(Campus de Cajazeiras). Para dar cuenta de esta propuesta de investigación, nos basamos em
el marco teórico-metodológico de los estúdios poscríticos sobre el currículo. Se tomó como
objeto de análisis documental la DCN de 2001 de la carrera de Medicina y el PPC de la carrera
em mención. Sostenemos que existem múltiples formaciones discursivas desde normas y
directrices oficialies, científicas, biológicas/biomédicas, sociales, pedagógicas que entran em
disputa em la composición curricular para el abrodaje de saberes sobre género y sexualidade.
PALABRAS CLAVE: Currículo. Formación médica. Género. Sexualidade. LGBTQIA+.
ABSTRACT: This study is part of discussions about medical education, specifically about
medical curriculum and the dimensions of body, gender, and sexuality. From the connection
between these themes, the present work aimed to analyze how the body, gender, and sexuality
are addressed in the Political Pedagogical Project (PPC) of the medical course of the Academic
Unit of Life Sciences - UACV/CFP/UFCG (Cajazeiras Campus). To account for this research
proposal, we based the theoretical and methodological framework on post-critical studies on
curriculum. As the object of document analysis, we took the DCN of 2001 for the undergraduate
medical course and the PPC of the course in question. Finally, we argue that multiple
discursive formations - from the official norms and guidelines, scientific, biological/biomedical,
social, and pedagogical - enter into a dispute in the curriculum composition for the approach
to knowledge about gender and sexuality.
KEYWORDS: Curriculum. Medical education. Gender. Sexuality. LGBTQIA+.
Fabíola Jundurian BOLONHA e Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 3
Introdução
“Numa tarde, antes de iniciarmos a aula, um estudante (médico) começou a
contar detalhes de uma consulta realizada por ele no dia anterior. Fiquei
surpresa com a falta de ética e pelos detalhes que foram expostos com
naturalidade, escancarando um conteúdo extremamente homofóbico,
transfóbico e foi apoiado por falas de outros colegas que ali estavam presentes
que, juntos riam e debochavam de pacientes gays e trans que chegavam a eles
em busca de atendimento, numa encenação performática de um verdadeiro
teatro de horror. Inclusive um deles disse: “esse povo trans, sei o quê, é
precisando levar uma surra e não de passar em consulta com ginecologista
não” e, logo em seguida uma médica arrematou a fala do colega: “surra, acho
é pouco”.
O relato transcrito acima é trecho de pesquisa de doutorado e ele expõe LGBTFobia por
parte de um grupo de médicos e médicas, momentos antes de iniciarem uma aula de um curso
de pós-graduação de educação em saúde em que estavam matriculados. Uma pós-graduação
cujas estratégias de ensino-aprendizagem eram metodologias ativas pautadas no
construtivismo, ou seja, as atividades educacionais eram desenvolvidas em torno de análises
crítico-reflexivas, dialogias, buscas, encontros e ressignificação. A presença da professora na
sala não impediu que ocorresse constrangimento durante o relato. Eles compreenderam que,
sob sua perspectiva branca (todos ali eram brancos) ela era uma igual branca, heterossexual
e cisgênero.
Como podem pessoas a quem confiamos nossas vidas e expomos a intimidade de nossos
corpos, ridicularizar e destilar ódio com tanta intensidade? Reverberou no nosso imaginário
como teria transcorrido a consulta, o quão violenta em diversos aspectos teria sido. Os
protagonistas do relato acima são médicos que atuas como preceptores de internato e residência
médica. Dessa forma, somos instigados a refletir sobre a formação médica e os modelos de
professores que acompanham o estudante de medicina do início até o final de sua jornada
acadêmica.
A Constituição Brasileira, através do Sistema Único de Saúde (SUS), assegura o direito
à saúde, porém, no que se refere às demandas e especificidades em saúde de grupos em
vulnerabilidade social a exemplo da população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais,
Transgêneros, Travestis, Queer, Intersexo (LGBTQIA+) , existem barreiras perante uma
sociedade conservadora e heterocisnormativa. Mesmo após a implementação da Política
Nacional de Saúde Integral de LGBT (PNSILGBT) em 2011, é descrito na literatura um acesso
aos serviços de saúde pela população LGBTQIA+ caracterizado por obstáculos que vão desde
atendimento discriminatório dos profissionais de saúde, desinformação quanto às
Violências curriculares: A (in)visibilidade do corpo LGBTQIA+ na formação médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 4
especificidades e direitos desta população, e até violências físicas durante consulta com o(a)
médico(a), o que pode originar uma barreira intransponível no acesso a estes serviços essenciais
(SAADEH et al., 2018; GIANNA; MARTINS; SHIMMA, 2018; CALAZANS et al., 2018;
LONGHI, 2018).
Paralelamente aos desafios de efetivação dos direitos adquiridos pela comunidade
LGBTQIA+, a maioria dos artigos científicos publicados sobre a implantação PNSILGBT,
trazem informações sobre a implantação em capitais e grandes centros urbanos (SENA;
SOUTO, 2017; CALAZANS et al., 2018) e é recorrente os autores ressaltarem a necessidade
de incluir na formação de profissionais médicos, aspectos não meramente biológicos acerca da
sexualidade humana e do cuidado em saúde com minorias sexuais, seja ainda na graduação ou
no percurso profissional nos serviços de saúde (RUFINO; MADEIRO, 2017; Negreiros et al.,
2019).
A garantia de profissionais de saúde capacitados, que compreendam as demandas da
população LGBTQIA+, que reconhecem o livre exercício da sexualidade como um direito
humano a ser respeitado e promovido, que compreendam que o campo da saúde é um espaço
de acolhimento e respeito, principalmente quando as pessoas que o procuram estão em situação
de vulnerabilidade, deve estar refletida nas diretrizes curriculares, assim como no Projeto
Pedagógico de Curso (PPC) e descrito nas ementas das disciplinas teóricas e práticas dos cursos
da área da saúde (BOLONHA et al., 2022). Essa reflexão corrobora com Lionço (2008) que
ressalta que é necessário que os profissionais da área da saúde tenham maior proximidade com
as políticas públicas e com as problemáticas específicas da população LGTQIA+ para a
qualificação dos serviços prestados pelas diversas áreas.
Nessa perspectiva, o presente trabalho tomou por objetivo problematizar como a
formação médica, expressa principalmente nos documentos curriculares, ambienta violências
trouxemos como, exemplo a LGBTQIA+fobia pelos médicos(as) descrita no início do artigo,
e pelos “debates ausentes” no contexto da formação profissional especialmente no que diz
respeito à negação das diversidades, o endosso aos binarismos e o posicionamento da vida no
cenário de relações capitalistas desiguais e excludentes. Destarte, tomamos como objeto de
investigação o currículo oficial de formação dos estudantes do Curso de Graduação em
Medicina da Unidade Acadêmica de Ciências da Vida UACV/CFP/UFCG, onde
analisaremos como as dimensões de corpo, gênero e sexualidade constituem o Projeto
Pedagógico de Curso (PPC); visamos identificar que tipo de sujeito médico é produzido por
Fabíola Jundurian BOLONHA e Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 5
este currículo e se este sujeito dialoga com a atuação requerida pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) no que tange o atendimento da população LGBTQIA+.
Inspirações metodológicas
Para atingir os objetivos propostos que atuam na investigação sobre as relações
presentes em currículo, corpo, sexualidade, gênero, as inspirações metodológicas foram nas
abordagens teóricas e metodológicas das pesquisas pós-críticas em educação. As teorias pós-
críticas em educação questionam, o conhecimento (e seus efeitos de verdade e poder), o sujeito
(e os diferentes modos e processos de subjetivação), os textos educacionais (e as diferentes
práticas que estes produzem e instituem), e discutido, também, questões de gênero, etnia, raça,
sexualidade, idade (PARAÍSO, 2004; SILVA, 2017). Deste modo, estudar o currículo por essa
teoria pós-crítica promove o movimento de olhar para qualquer currículo, para qualquer
discurso, como uma invenção. E mais, instiga-nos a fazer outras invenções, a enriquecer este
território curricular com novos sentidos. Na esteira das relações de saber e poder, a ciência, a
universidade, sobretudo, o currículo e os sujeitos da saúde, são constituídos.
Realizamos uma análise documental das Diretrizes Nacionais Curriculares (DCN) para
o curso de graduação em medicina e o respectivo PPC. Salientamos que, as DCN que
conduziram a elaboração do PPC foram as publicadas em 2001, deste modo estes documentos
constituem os objetos centrais da presente análise.
Na discussão aqui proposta, é o currículo do curso de Medicina que funciona como o
dispositivo de articulação entre as relações assimétricas de poder encabeçadas pelo Estado, pelo
Mercado e as práticas de saber, materializadas em procedimentos médicos que incidem sobre
os corpos dos sujeitos e populações. Para Foucault (2017) o corpo é essencial ao poder “Todo
poder é físico e uma conexão direta entre o corpo e o poder político” (FOUCAULT, 2017,
p. 15). Ele é o organizador, é o ponto de inflexão dessa circulação de saberes e do regime de
verdade que produz o que é falso e o que é verdadeiro. Nas palavras de Veiga-Neto (2002, p.
165) “[…] na medida em que o currículo opera a distribuição dos saberes pondo-os e
dispondo-os, hierarquizando-os, matizando-os e classificando-os, atribuindo-lhes valores ,
ele estabelece o fundo para que tudo o mais (no mundo) seja entendido geometricamente”.
O currículo é resultante de do modo como a educação é vista, com referenciais e
contextos socioeconômicos, políticos e culturais hegemônicos num dado momento. Ele exerce
Violências curriculares: A (in)visibilidade do corpo LGBTQIA+ na formação médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 6
papel como elemento de formação e direcionador de práticas profissionais, envolto em uma teia
de relações, conflitos, poder, interesses, normatividades e também possibilidades.
Podemos entender, deste modo, que a educação tem sido instrumento estratégico para
atender a (dado) modelo de normatividade, seja no caráter religioso ou laico, liberal ou
neoliberal, servindo a ordem sociopolítica vigente.
As DCN para o curso de medicina e o gerenciamento do PPC quais encontros e
desencontros são promovidos?
As DCN para os cursos da saúde foram resultados de um processo que envolveu
aspectos políticos, culturais, institucionais e educacionais e, são exemplos desses processos a
Constituição Federal de 1988, que tornou público a criação de um sistema de saúde o SUS,
e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n.º 9394/1996, que permitiu a
flexibilização dos currículos educacionais. Entre os anos de 2001 e 2004, o Ministério da
Educação (MEC) em parceria com o Ministério da Saúde (MS), através das reuniões do
Conselho Nacional de Saúde (CNS) e Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovaram as
DCN (2001). Elas são documentos oficiais que orientam as Instituições de Ensino Superior
(IES) a elaborarem os PPC dos cursos da saúde e, para tanto, foram instituídas com “o objetivo
de oferecer uma formação que possibilite a qualificação do cuidado da assistência à saúde,
contemplando os princípios do SUS” (COSTA et al., 2018, p. 2).
Os movimentos sociais, organizados em torno da reforma sanitária, contribuíram para a
institucionalização do processo de formação em saúde no país, de tal maneira que a
Constituição Federal estabelece, em seu artigo 200, que compete ao Sistema Único de Saúde
(SUS) “ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde” (BRASIL, 1988). Raimondi
et al. (2020), observa ainda que, a formação dos profissionais de saúde deve, portanto, estar em
consonância com as reais necessidades em saúde da população, e para tanto, promoveu-se a
inclusão da perspectiva da social accountability
3
como um elemento central para o paradigma
de educação na saúde para o novo milênio, e esse referencial está ausente nas DCN de 2001,
pois, foi publicado em 2010.
3
Este termo ainda carece de tradução, pois não se restringe apenas à responsabilidade social. Trata-se do
compromisso de prestação de contas, de uma relação que se inicia no acolhimento das preocupações
sociossanitárias das comunidades, regiões ou nações para o direcionamento das atividades de ensino, pesquisa e
serviço. Caracteriza-se, portanto, pela necessidade de as instituições educacionais estarem engajadas para melhorar
o desempenho dos sistemas de saúde, adaptando as competências profissionais essenciais para contextos e cenários
específicos (FERREIRA et al., 2019).
Fabíola Jundurian BOLONHA e Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 7
As DCN de 2001 para curso de graduação em medicina foram revisadas e ampliadas -
um documento originalmente composto por seis páginas e 14 artigos foi revisado e ampliado
para 14 páginas e 41 artigos nas novas DCN de 2014. O PPC do curso graduação em medicina
da UACV/CFP/UFCG teve sua aprovação em 2017, dez anos após o início do curso; e teve
como referencial teórico as DCN de 2001. Para além desse ponto observado, as DCN de 2001
não fazem nenhuma menção sobre a diversidade biológica, subjetiva, étnico-racial, de gênero
e tampouco sobre orientação sexual. A ausência desses termos nas DCN de 2001 fortalece
discursos que abastecem o currículo em medicina que constrói seu PPC baseado nessas
diretrizes, e cuja base é formada por masculinidades hegemônicas, que deixam claro o potencial
generificado e heteronormativo das condutas apresentadas
De acordo com essas perspectivas, os processos formativos em saúde ensino, pesquisa
e extensão e a oferta de serviços em saúde, devem ser construídos e orientados em sintonia
com as prioridades de saúde da comunidade, incluindo as mais vulneráveis. Lembrando que o
SUS traz equidade como um dos seus princípios doutrinários, isso remete o reconhecimento da
diversidade de grupos populacionais com suas necessidades específicas, acolhendo até o limite
do que o sistema pode oferecer para todos (BRASIL, 1990). É consensual a expectativa de que,
deste modo, a graduação em Medicina deva assumir como compromisso formar profissionais
capacitados para reconhecer tais diferenças entre seus pacientes, a fim de promover cuidados
guiados pela equidade.
Para dialogar em consonância com os princípios do SUS, foram criadas em 2001 as
primeiras Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o Curso de Medicina (Resolução
CNE/CES n.º 4, de 7 de novembro de 2001). No entanto, é válido lembrar que toda
reformulação curricular se vale de estratégias simbólicas que têm como objetivo criar uma
retórica forte para alcançar as mudanças desejadas e direcionar a criação de conhecimentos,
sujeitos e realidades. No caso da Medicina, essas estratégias se encontram expressas na
instituição do Programa Nacional de Incentivo a Mudanças Curriculares nos Cursos de
Medicina (PROMED), ocorrido em 2002, numa parceria entre Ministério da Saúde e Ministério
da Educação (BRASIL, 2002), e o Programa Nacional de Reorientação da Formação
Profissional em Saúde (Pró-Saúde I) em 2005
4
. Esses programas visam incentivar as Escolas
de Medicina de todo o país a incorporarem mudanças pedagógicas significativas nos currículos
dos cursos de Medicina, reafirmando as Diretrizes Curriculares Nacionais de 2001. Fica
evidente a iminente articulação entre Instituições de Ensino, Políticas Públicas em Educação e
4
Disponível em: https://www.pucsp.br/prosaude/sobre_o_pro_saude.html. Acesso em: 10 dez. 2022.
Violências curriculares: A (in)visibilidade do corpo LGBTQIA+ na formação médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 8
Saúde para adaptarem a formação em saúde conforme as necessidades, demandas e
características da população.
Essas Diretrizes assumem perfil de regulação e controle que são observadas quando
definem os conteúdos curriculares do PPC de graduação em Medicina afirmando:
Art. . Os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Medicina
devem estar relacionados com todo o processo saúde-doença do cidadão, da
família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional,
proporcionando a integralidade das ações do cuidar em medicina (BRASIL,
2001, p. 03).
Ao chamar de essenciais os conteúdos que selecionam, esse currículo acaba incluindo,
em sua proposta, formas específicas de saberes e de conhecimentos. Ao definir os conteúdos
considerados adequados para a formação médica, esse currículo exclui outros conhecimentos
ou os coloca como menos importantes em sua proposta, como, por exemplo, se fixar em
conteúdos biologizantes sobre os corpos sem considerar a diversidade humana. Assim, os
conteúdos tomam a doença como um processo natural, biológico, e não dando a devida
importância para o social, o coletivo, o público e a comunidade como fundamentais para o
ensino médico e tampouco os viam como implicados no processo de saúde-doença. Ao excluir
esses conhecimentos, ao considerá-los inadequados ou menos importantes para a formação
médica, uma quantidade imensurável de população sofre a violência da invisibilidade, de ter
seu cuidado em saúde subestimado e ineficiente. Ou seja, é fundamental, por exemplo, o debate
da violência contra a mulher, do sexismo, do racismo e da LGBTfobia em articulação com os
marcadores sociais da diferença no processo de saúde-adoecimento-cuidado e na organização
do cuidado em saúde.
Após a elaboração da PNSI-LGBT em 2011, esse conteúdo é revisto pelas DCN de 2014
e reconhecida sua importância, sendo incorporado nas novas DCN, porém, sem orientação de
como o mesmo deva ser abordado e em quais componentes curriculares deve ser trabalhado
(BRASIL, 2014). Além de selecionar conteúdos, o currículo aqui em discussão faz questão de
especificar com o que tais conteúdos deveriam estar relacionados: com saúde-doença do
cidadão, da família e da comunidade; da criança e do adolescente; saúde da mulher (UFCG,
2017, p. 31). Deste modo, ele impõe que os profissionais médicos devem realizar seus serviços
tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico,
mas, sim, com a resolução do problema de saúde, tanto ao nível individual como coletivo.
Fabíola Jundurian BOLONHA e Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 9
De acordo com Meyer (2003), no campo da educação, o currículo se constitui como um
dos elementos centrais dos debates sobre a escola em sentido amplo, e seu significado social.
A teorização educacional crítica, muito tempo, consolidou a ideia de que o currículo não
envolve apenas questões técnicas, relativas a conteúdos de ensino, procedimentos didáticos,
métodos e técnicas pedagógicas, tal como ele era concebido pelas pedagogias tecnicistas dos
anos 70 ou 80, enfatizando que ele é um artefato social e cultural que precisa ser compreendido
e discutido considerando-se as suas determinações históricas, sociais e linguísticas. É
enfatizado que, para garantir esse olhar ampliado do(a) médico(a) sobre o cuidado em saúde,
as DCN definem estratégias a serem incorporadas nos currículos médicos, objetivando conduzir
a aquisição de habilidade e atitudes pelos(as) egressos(as) de medicina. Isso é observado nas
determinações previstas no Art. 12 da Resolução de 2001, que determina a inserção precoce
dos estudantes em atividades práticas.
Aqui é válido apontar que, uma vez que essa diretriz pede a inserção dos(as) alunos(as)
nas redes de serviço de saúde, ela objetiva formar um sujeito queo se restrinja ao isolamento
de consultório particular. Isso é reafirmado no próprio PPC do curso que descreve em seu perfil
“[…] que tem como eixo formativo central a atenção primária e secundária à saúde, além da
competência técnica que envolve a intervenção naquilo que é mais prevalente no campo das
urgências e emergências e atenção terciária” (UFCG, 2017, p. 27).
Por outro lado, ao colocar os estudantes como responsáveis pelo desempenho em temas
que lhes são negados na teoria e, na prática, como gênero, diversidade e sexualidade, sem
comprometer o aprendizado e a qualidade de atendimento prestado, é indiscutivelmente
inviável. Também vale ressaltar que, aos estudantes, supostamente está sendo feito o convite
para visitarem a “realidade” do serviço médico e assim, “pôr a mão na massa” e aprendendo,
também, a partir do modelo de médicos preceptores e demais profissionais em saúde que,
tiveram um currículo de formação médica muito provavelmente deficiente nesses temas e
reflexões, gerando um cuidado em saúde deficiente e excludente. É transmitida, então, a
responsabilidade de uma prática sem embasamento teórico aos estudantes. É gerada a
expectativa da existência de uma medicina sensibilizada para diversidade de corpos biológicos
e sociais, diversidade em seus sentidos mais amplos, mas o é efetivada nem na teoria, nem,
na prática.
Os estudantes, assim como a maioria da sociedade brasileira, são profundamente
marcados pela heterocisnormatividade, com pré-conceitos e leituras de corpos concebidos
dentro deste padrão normativo. Com o intuito de se promover um atendimento humanizado,
Violências curriculares: A (in)visibilidade do corpo LGBTQIA+ na formação médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 10
integral, com equidade e eficiência, é indiscutível a importância de se trabalhar conteúdos
curriculares que promovam a desconstrução desta normatividade antes que estes estudantes
sejam convocados ao campo de prática. Observamos que são negadas aos estudantes que se
formam a partir deste PPC, experiências de vida acadêmica que os aproximem do perfil do
médico(a) generalista, humanizado(a), que se coloca na prática e na existência para além das
relações assimétricas de saber e poder.
As dimensões corpo, gênero e sexualidade são inseridas no PPC
Analisando o PPC, observamos que essas dimensões se misturam corpo, gênero e
sexualidade são inseridos em discursos difusos, em alguns momentos capturei o corpo na
análise e, logo, este atravessa gênero e por consequência, atravessa sexualidade. Ao pensar na
história de produção de saberes sobre os corpos, Veiga-Neto e Lopes (2007) destacam que, para
Michel Foucault, as forças, as quais ele nomeou de poder, atuam sobre o que os sujeitos tem de
mais concreto e material; ou seja, seus corpos. Se foi possível constituir um saber sobre o corpo,
foi através de um conjunto de disciplinas militares e escolares. E a partir de um poder sobre o
corpo que foi possível um saber fisiológico, orgânico (FOUCAULT, 2014, p. 148-149).
O corpo estrutura, sem identidade, surge nas ementas das disciplinas carregado de uma
visão biologicista, marcado por regulações morfofuncionais do corpo humano e, corroborando
com essa afirmação, trago os exemplos: Objetivos da disciplina M3 “Princípios Físicos e
Químicos do Ser Humano” CH: 180, Cr: 12: “Descrever e distinguir os componentes
moleculares do corpo humano”; Objetivos da disciplina M4 “Biologia e Fisiologia Celular
e Tecidual” CH: 120, Cr: 08: “Descrever e distinguir a organização e as funções dos diferentes
elementos celulares e teciduais do corpo humano”; Ementa e Objetivo da disciplina M6
Anatomia Humana CH: 60, Cr: 04: “Divisão do corpo (planos e eixos); anatomia macroscópica
dos diferentes sistemas de corpo; identificar, nomear e caracterizar as diversas estruturas do
corpo humano” (UFCG, 2017, p. 49).
Esse corpo como estrutura, como objeto é apresentado aos estudantes de medicina no
primeiro período do curso, por peças de anatomia, lâminas de histologia, descrições
moleculares em bioquímica. Não se trata, evidentemente, do corpo como os que os estudantes
vêm na rua, em casa, na televisão, nas redes sociais, em suas relações sociais. Trata-se de um
corpo, estrutura, objeto, que apenas existe nas aulas práticas e teóricas dessas disciplinas e
livros. Sobre esse corpo, objeto tomado como único” e “verdadeiro” no início do curso, meu
pensamento vai de encontro a corpos que ocupam lugares que não pertencem a espaço algum.
Fabíola Jundurian BOLONHA e Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 11
Foucault, 2013, chama de corpo utópico o corpo sem corpo, o corpo incorporal e, nesse
sentido, ele utiliza de exemplo os corpos de múmias, que persistem através do tempo, uma
utopia dos mortos. O que são as peças e dispositivos para simulações relacionadas ao exame
físico do laboratório de habilidades clínicas (UFCG, 2017, p. 17); as peças anatômicas
sintéticas, os cadáveres e suas partes mutiladas utilizados em aulas de anatomia (UFCG, 2017,
p. 55), as lâminas histológicas, senão corpos utópicos, defuntos cuja utopia dos corpos é
oferecida para estudo acadêmico, dos estudantes de medicina? Este questionamento surge pelo
fato de as utopias narrarem um lugar que não existe (o corpo do defunto e seus membros
esquartejados; as lâminas histológicas) e desabrocham em um espaço imaginário e, por isso,
“situam-se na linha reta do discurso”, pois, a linguagem se entrecruza com o espaço. Deste
modo, os estudantes iniciam o curso em utopias e heterotopias, entre discursos e saberes que
articulam o visível e o enunciável a linguagem, o olhar e o espaço. Dessa forma, a saúde o
é apenas a ausência de doença, uma vez que o ser humano é um corpo que é uma máquina, e
todas as explicações sobre o paciente serão dadas a partir de um "corpo vazio" e dividido em
partes cujos mistérios do funcionamento apenas o médico domina. Saudável significa
funcionando perfeitamente na maquinaria previsível e acessível ao entendimento médico
mas apenas a ele enquanto profissional, não aos demais profissionais da saúde. E muito menos
aos próprios pacientes.
Consideramos essencial que, concomitante ao estudo do corpo “incorporal”, seja
trabalhado o corpo nos seus aspectos histórico, social, cultural e com suas diversidades. É a
somatória desses aspectos que compõe os corpos que os estudantes encontrarão na articulação
teoria-prática do curso, pois, trabalhar corpos meramente biologizados e generificados é
remeter o uso de utopias nas quais se fazem surgir corpos e outras que fazem anular corpos.
Mais adiante no curso, os estudantes fazem a sua entrada na clínica e veem “corpos
reais” nas aulas teóricas e práticas, jamais fazendo encontro com esse corpo objetificado com
o qual eles aprenderam até o momento. Corpos, entre eles o da mulher. Observa-se no PPC que
existe a construção de um estigma diferença “natural” / “normal” entre os corpos, o que
implicou a atribuição de um corpo particular às mulheres. E isso chama a atenção para o fato
de o corpo medicalizado ter-se tornado um referente privilegiado para a construção de
identidades pessoais generificadas. Nos referimos à disciplina Saúde da Mulher que se destina
ao ensino de Ginecologia e Obstetrícia (UFCG, 2017, p. 90) ofertada no período do curso,
sendo marcada por termos como “diagnóstico de gravidez”; “Modificações fisiológicas da
Gravidez”; “Parto”; “Cirurgias obstétricas”; “Semiologia Ginecológica”; “Fisiologia do ciclo
Violências curriculares: A (in)visibilidade do corpo LGBTQIA+ na formação médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 12
menstrual”; “Infertilidade”; “Doenças da Mama”; “Corrimentos Vaginais”; “Doenças
Sexualmente transmissíveis”; “Neoplasias de Colo do Útero, Vulva, Vagina e Ovários” (UFCG,
2017, p. 90).
A partir desta leitura, fica evidente que a mulher é reduzida ao mérito da Abordagem
clínica, diagnóstica e terapêutica das principais enfermidades na área da saúde da mulher”. A
própria definição de saúde da mulher me parece distorcida. Os objetivos desta disciplina
revelam a visão mecanicista do sistema reprodutor como as peças são, como se encaixam,
como funcionam para reproduzir e destinando o conhecimento para a capacidade de
reprodução, sem discutir órgãos sexuais, mas sim, órgãos/sistema reprodutor. É possível
também reconhecer que, do 2º para o período do curso, o estudante continua sendo conduzido
por uma leitura de corpos destinados a servir como matrizes reprodutoras, objetos do
patriarcado instalado no Brasil desde o período colonial, reduzidos às suas genitálias e mamas.
A medicina da mulher não encontra correspondente para o sexo masculino. O homem
encontra-se pulverizado ao longo dos componentes curriculares, desmembrado em próstata e
desempenho sexual: “Androgenia básica: impotência, infertilidade masculina e ejaculação
precoce” (UFCG, 2017, p. 80) trecho da ementa de Clínica Cirúrgica I na unidade de
Urologia. Portador de um falo, o homem é resumido a este e próstata, ou seja, ele é visto como
um corpo que deve gozar (potência) e fertilizar. a mulher, deve gestar e amamentar,
desprezando quaisquer outros aspectos que remetam sua sexualidade. Os estudantes do curso
não são provocados a refletir e expandir a leitura sobre os corpos femininos quando são
excluídos, por exemplo, orgasmo feminino, orientação sexual, métodos contraceptivos,
planejamento familiar, histerectomia facultativa e eletiva, mulheres transexuais, transgêneras,
travestis, homens transexuais.
Apoiado nesse essencialismo, naturalismo e biologicismo, o pensamento misógino
confina as mulheres às exigências biológicas da reprodução, na suposição de que, em virtude
de certas transformações biológicas, fisiológicas e endocrinológicas específicas, as mulheres,
de algum modo, são mais corporais e mais naturais do que os homens. Sobretudo, ao garantir a
leitura do corpo do homem em Urologia (Clínica Cirúrgica I) (UFCG, 2017, p. 80) e do corpo
da mulher como Saúde da Mulher, esse currículo atualiza formas de heteronormatividade no
discurso médico, pressupondo dois tipos de corpos generificados como naturais e
complementares entre si e organizando a própria natureza da sexualidade.
Pode-se observar, também, uma pulverização da dimensão etária do corpo nos
componentes curriculares, não atentando para as especificidades do corpo idoso na relação com
Fabíola Jundurian BOLONHA e Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 13
os atravessamentos de gênero, sexualidade e saúde. Contraditoriamente, esses grupos excluídos
do currículo têm suas especificidades mascaradas a partir do conceito de saúde da família, que
funciona como instrumento biopolítico, uma vez que se destina, sendo direcionado a um grupo
normativo de pessoas e não à especificidade de cada um de seus corpos. Muitas vezes a pessoa
LGBTQIA+ é expulsa de casa, acaba por ressignificar o conceito de família e qual o conceito
de família para Saúde da Família e Comunitária? Esbarramos em outro padrão hegemônico, o
da formação familiar.
Analisando discursos nos objetivos da disciplina Saúde da Criança e do Adolescente,
ofertada no período do curso, com 120 horas de carga horária, destacam-se “fatores de risco”;
“etiopatogenia das enfermidades”; “fisiologia e fisiopatologia”; “conjunto de exames
complementares” e “terapêutica adequada, farmacológica ou cirúrgica” (UFCG, 2017, p. 89).
Os discursos observados são biologizantes e lidam com esses corpos como reservatórios
de doenças e comorbidades, corpos com urgência de tratamento e normalização. Temas como
transgenitalidade, intersexualidade, homossexualidade e travestilidade, bissexualidade de um
modo para além de faixa etária, surgem em uma taxonomia que hierarquiza, subalterniza,
patologiza, medicaliza e mutila sujeitos, automaticamente considerados anormais, destoantes,
estranhos, abjetos e, por conseguinte, tratáveis/corrigíveis pela Medicina. Um curso que visa
geral proporcionar uma formação baseada “[…] também na sensibilidade humanística e na
responsabilidade social […]” (UFCG, 2017, p. 258) não atinge esse objetivo quando silencia
esses corpos ao longo de todo o PPC analisado. É negar violentamente a existência dessas
pessoas e negar aos médicos em formação e egressos o conhecimento acerca dessas existências
e fragilizar a formação desses profissionais. Assim, sujeitos LGBTQIA+ seguem
invisibilizados nos temas e ações de saúde na nossa sociedade.
É no currículo que “confrontam-se diferentes culturas e linguagens, e professores,
estudantes e administradores frequentemente divergem em relação às aprendizagens e práticas
que devem ser escolhidas e valorizadas” (MEYER; KRUSE, 2003, p. 337). Minha busca por
corpos intersexos, através do uso de descritores como hermafroditas e ambiguidade de sexo,
não trouxe resultado algum. Talvez uma justificativa para ausência do conteúdo sobre seres
hermafroditas, pode estar associada as teorias biológicas, que defendem não haver espaço para
alguém com os dois sexos/gêneros, apenas pessoas com um sexo e seu pressuposto gênero
correspondente. Deste modo, é no corpo das pessoas com algum tipo de ambiguidade sexual ou
que deixam margens para este tipo de dúvida que a medicina focará sua atenção, promover
intervenção e criar uma maneira de interpretar os sexos.
Violências curriculares: A (in)visibilidade do corpo LGBTQIA+ na formação médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 14
Do ao 12º período do curso, os estudantes circulam pelo estágio curricular
supervisionado, que corresponde ao Internato. Os internatos são em Clínica Médica I e II
este ocorre em Serviços de Pronto Socorro, UTI e Enfermarias; Clínica Cirúrgica; Pediatria I e
II e neste conteúdo há uma repetição de ementa e objetivos do internato em Clínica Cirúrgica e
acredito que seja um erro documental, pois, os objetivos deste internato (Pediatria) estão
definidos como aplicar conhecimentos teórico-práticos em condutas médicas em cirurgia geral
e anestesia” (UFCG, 2017, p. 95) porém, a bibliografia básica e complementar é específica de
pediatria e neonatologia; Ginecologia e Obstetrícia cujos objetivos é a aplicação dos
conhecimentos teórico-práticos adquiridos em Saúde da Mulher e por fim, Saúde Coletiva I e
II cujos objetivos são:
Promover a integração do discente a serviços de atenção primária à saúde,
com enfoque na integralidade, prezando pelo desenvolvimento de
competência técnica, sensibilidade humanística e responsabilidade social
necessárias ao médico generalista (UFCG, 2017, p. 97).
Fica evidente que, nesta etapa do curso de graduação, o estudante de internato seja o
sujeito médico preterido, que em teoria dialogue com o perfil do sujeito médico requerido pelo
SUS e determinado pelas DCN. Deste modo, é constituído um ciclo que envolve o SUS com
suas Políticas Públicas em Saúde, as Políticas Públicas em Educação juntamente com as DCN,
as Instituições de Ensino Superior juntamente com seus PPCs, e os profissionais da saúde
juntamente com sua atuação no SUS.
Porém, observamos que, o sujeito médico que este currículo de formação produziu, foi
um sujeito médico normalizado e normalizador, cujo olhar e ações foram direcionados para
corpos normalizados tanto na sua biologia como também na sua sexualidade.
Tomamos o PPC do curso de graduação em medicina da UACV/UFCG como artefato
pedagógico que constitui os sujeitos em formação. Os discursos observados são biologizantes
e, sem pautas de gênero, sexualidade, idade ou aspectos sociais. Uma vez que o currículo é uma
potente ferramenta que molda pensamentos, condutas, tomadas de decisão dos sujeitos,
demonstra um caminho de construção de sujeitos médicos condicionados ao olhar seletivo,
puramente biológico e generificado sobre esses corpos corpos com vulva, vagina, útero e
ovários; corpos reduzidos ao falo e seu desempenho; corpos da criança e/ou do adolescente e/ou
da pessoa idosa.
Reconhecemos que não se faz um currículo de formação médica sem os componentes
curriculares acerca das dimensões biológicas (como exemplos, as disciplinas de anatomia,
Fabíola Jundurian BOLONHA e Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 15
histologia, embriologia), fisiopatológicas, propedêuticas, terapêuticas, enfim, isso é
indiscutível. Porém, o discutível é, precisamos apenas destas dimensões de ensino-
aprendizagem para formar nossos(as) médicos(as)? Este conteúdo exclui vidas, exclui corpos
dissidentes e essa exclusão impede que tenhamos egressos eficazes, humanizados, generalistas,
capazes de atuar no SUS exercendo os princípios da equidade e integralidade. Desta forma, a
qualidade do sistema de saúde supostamente é sinérgica à formação de seus profissionais, pois,
a formação dos profissionais em saúde deve refletir a realidade em transformação constante.
Assim, seria uma garantia de universalidade, onde as especificidades de uma nação estivessem,
em contrapartida, contribuindo para a efetividade do sistema que a acolhe e serve. Foi no
biológico que os currículos se mantiveram por muito tempo e para o modelo biopicossocial que
se deseja deslocar. Porém, é evidente que ainda são carregados de discursos biologizantes e
masculinos, onde as relações de poder operam e se mantêm fortalecidamente, abraçando um
sistema que se mantém influenciando e influenciado.
O curso analisado segue as normativas comprometidas em uma lógica, onde há
valorização da vida biológica reprodutiva que promove a base dos cuidados em saúde as
DCN de 2001. E esses sujeitos produzidos nessa norma masculina, heterocisnormativa,
constituem-se como profissionais do cuidado fragmentado, pois, seguem um modelo de
formação em saúde fortemente influenciada pelo modelo biomédico de ensino. Não é com
essa visão de mundo biológico que facilmente normatiza e ditas as regras em currículo, mas
pela forma de suas relações com outros aspectos formativos, criando-se uma imagem que está
posto para as relações sociais. O que observamos é uma base biológica que se coloca muitas
vezes isolada e ditando os caminhos. Um currículo de formação médica que seleciona os corpos
que acolherão no seu cuidado, é exemplo de violências curriculares que reforça e perpetua o
cistema de relações assimétricas de poder.
Considerações finais
A medicina domina um saber legitimado pelo poder científico sobre o corpo
humano, impondo um estado ideal e saudável norma de como deveríamos ser e estar no
mundo. Se, porventura, nos desviamos do idealizado estado “natural” do qual deveríamos nos
apresentar e portar, logo somos rendidos e conduzidos ao olhar clínico da medicalização, o
único “olhar” capaz de nos (re)conduzir, ao imperativo maior da normalização. Estamos sempre
sendo vigiados, nossos corpos estão sempre sendo vigiados e rotulados, normalizados,
Violências curriculares: A (in)visibilidade do corpo LGBTQIA+ na formação médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 16
disciplinados. Nascemos e morremos em instituições disciplinares nascemos em um
hospital, somos educados em escolas e universidades, somos “sequestrados” pelo exército,
igreja, temos que estar adestrados para inserção no mercado de trabalho onde passamos o resto
de nossas vidas. Se desviamos, somos conduzidos a manicômios, clínicas de reabilitação,
presídios e, por fim, morremos em um hospital. Sempre estamos em alguma ou em algumas
dessas instituições que objetivam nos tornar indivíduos dóceis, úteis, saudáveis, enfim,
disciplinados. Eis que, nessa microfísica, nesse micro capilaridade do poder, o discurso médico
atua como uma expressão do saber-poder, autorizado, incontestável.
Atentemos que, a escolha dos conteúdos a serem trabalhados em sala de aula não se
constitui no campo da neutralidade. Ela se conecta, entre outras coisas, com os pontos de vistas
pessoais, com os valores morais, com as escolhas políticas e religiosas dos(as) profissionais
envolvidos(as) nesse processo.
Compreendemos serem múltiplas as formações discursivas das normativas e
diretrizes oficiais, científicas, biológicas/biomédicas, sociais, pedagógicos que entram em
disputa na composição curricular para a abordagem de saberes sobre gênero e sexualidade que
acabam silenciando corpos LGBTQIA+ na formação médica, silenciando a diversidade ou
diferença. Percorrendo esse argumento, identificamos que a produção de médicos(as) pelo
currículo da UACV/UFCG aciona estratégias e técnicas de poder articuladas, ainda
centradas no modelo biomédico, garantindo, como uma instituição de poder, a manutenção das
relações de dominação e efeitos de hegemonia.
Fabíola Jundurian BOLONHA e Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 17
REFERÊNCIAS
BOLONHA, F. J. et al. Barreiras de acesso aos serviços de saúde enfrentadas pela população
trans no Brasil: uma revisão narrativa. In: NASCIMENTO, A. R. S. et al. (org.). Nem tudo é
arco-íris: interfaces de saúde da população LGBTQIA+. João Pessoa: Ative, 2022. E-book. p.
93-104. DOI 10.29327/562998. Disponível em: https://editoraative.wixsite.com/editoraative.
Acesso em: 9 set. 2022.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado Federal, 2016. 496 p. Disponível em:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf.
Acesso em: 24 maio 2022.
BRASIL. Ministério da Saúde; Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Lei Orgânica da
Saúde. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
Brasília, DF: MS, 1990. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm.
Acesso em: 24 maio 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução n. 04 do CNE/CES, de 7 de novembro de
2001. Dispõe sobre as diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação em
medicina. Brasília, DF: MEC, 2001 Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES04.pdf. Acesso em: 24 maio 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Ministério da Saúde. Portaria Interministerial n. 610, de
26 de março de 2002. Institui o Programa Nacional de Incentivo a Mudanças Curriculares
nos Cursos de Medicina (PROMED). Brasília, DF: MEC, MS, 2002. Disponível em:
http://www.pp.ufu.br/Port_Inter.htm. Acesso em: 10 jul. 2021.
CALAZANS, G. J. et al. A experiência de Implantação da Política de Saúde Integral para
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) no município de São Paulo. BIS
Boletim do Instituto de Saúde, v, 19, n. 2, 2018.
COSTA, D. A. S. et al. Diretrizes curriculares nacionais das profissões da Saúde 2001-2004:
análise à luz das teorias de desenvolvimento curricular. Interface, v. 22, n. 67, Oct./Dec.
2018. DOI: 10.1590/1807-57622017.0376. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/icse/a/GZsw79s7SZGBXZ3QNBhNppn/abstract/?lang=pt. Acesso
em: 15 set. 2022.
FERREIRA, M. J. M. et al. Novas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de
Medicina: oportunidades para ressignificar a formação. Interface, Botucatu, v. 23, n. Supl. 1,
e170920, 2019. DOI: 10.1590/Interface.170920. Disponível em:
http://old.scielo.br/pdf/icse/v23s1/pt_1807-5762-icse-23-s1-e170920.pdf. Acesso em: 15 set.
2022.
FOUCAULT, M. O corpo utópico: As Heterotopias. São Paulo. N-1 Edições, 2013.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: Nascimento da prisão. Tradução: Raquel Ramalhete.
Petrópolis, Vozes, 2014. 302 p.
Violências curriculares: A (in)visibilidade do corpo LGBTQIA+ na formação médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 18
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Organização e revisão de Roberto Machado. 5. ed.
Rio de Janeiro; São Paulo: Paz e Terra, 2017.
GIANNA, M. C.; MARTINS, R. B.; SHIMMA, E. Ambulatório de Saúde Integral para
Travestis e Transexuais: desafios e realizações. BIS. Boletim do Instituto de Saúde, São
Paulo, v. 19, n. 2, p. 98-104, 2018. DOI: 10.52753/bis.2018.v19.34595. Disponível em:
https://periodicos.saude.sp.gov.br/bis/article/view/34595. Acesso em: 9 set. 2022.
LIONÇO, T. Que direito à saúde para a população GLBT? Considerando direitos humanos,
sexuais e reprodutivos em busca da integralidade e da eqüidade. Saude soc., São Paulo, n. 2
p. 11-21, jun. 2008. DOI: 10.1590/S0104-12902008000200003. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/sausoc/a/NdCpsvRwnJVYHZhSwRNhnfs/?lang=pt. Acesso em: 9 set.
2022.
LONGHI, M. P. Ampliando o olhar para a população LGBT em um grupo de discussão com
trabalhadores de saúde: potencialidade e desafios. BIS Boletim do Instituto de Saúde, v. 19,
n. 2, p. 116-124, 2018.
MEYER, D. E.; KRUSE, M. H. L. Acerca de diretrizes curriculares e projetos pedagógicos:
um início de reflexão. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 56, n. 4, p. 335-339, 2003.
DOI: 10.1590/S0034-71672003000400002. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/reben/a/69S9Mz8Fyw5S8NRwrCLDPbs/abstract/?lang=pt. Acesso
em: 9 set. 2022.
NEGREIROS, F. R.N. et al. Saúde de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais:
da Formação Médica à Atuação Profissional. Rev. bras. educ. med., Brasília, v. 43, n. 1,
p. 23-31, mar. 2019. DOI: 10.1590/1981-52712015v43n1RB20180075. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rbem/a/tfbkrZY79FzFFHCnHpcffCw/abstract/?lang=pt. Acesso em:
9 set. 2022.
PARAÍSO, M. A. Pesquisas pós-críticas em educação no Brasil: esboço de um mapa.
Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 122, p. 283-303, 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-
15742004000200002. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/cp/a/JrF5H8r96wRTvTDLSzhYpcM/abstract/?lang=pt. Acesso em: 9
set. 2022.
RAIMONDI, G. A. et al. Análise Crítica das DCN à Luz das Diversidades: Educação Médica
e Pandemia da Covid-19. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 44, n. Suppl. 1, e135,
2020. DOI: 10.1590/1981-5271v44.supl.1-20200361. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rbem/a/ptG7YLFjwNjmbgsj7KYBwjH/?lang=pt. Acesso em: 9 set.
2022.
RUFINO, A. C.; MADEIRO, A. P. 6 Práticas Educativas em Saúde: Integrando
Sexualidade e Gênero na Graduação em Medicina. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro,
v. 41, n. 1, p. 170-178, jan. 2017.
SAADEH, A. et al. AMTIGOS - Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e
Orientação Sexual, do IPq-HCFM/USP: proposta de trabalho com crianças, adolescentes e
Fabíola Jundurian BOLONHA e Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 19
adultos. BIS. Boletim do Instituto de Saúde, São Paulo, v. 19, n. 2, p. 86-97, 2018.
Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1016648. Acesso em: 9
set. 2022.
SENA, A. G. N.; SOUTO, K. M. B. Avanços e desafios na implementação da Política
Nacional de Saúde Integral LGBT. Tempus actas de saúde coletiva, v. 11, n. 1, p. 9-29,
2017. DOI: 10.18569/tempus.v11i1.1923. Disponível em:
https://www.tempus.unb.br/index.php/tempus/article/view/1923. Acesso em: 9 set. 2022.
SILVA, T.T. Documentos de identidade: Uma introdução às teorias de currículo. 3. ed. 10.
reimp. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE (UFCG). Projeto Pedagógico do
Curso de Medicina UFCG. Campina Grande, PB: UFCG, 2017.
VEIGA-NETO, A. geometrias, currículo e diferenças. Educação & Sociedade, Campinas, v.
23, n. 79, p. 163-186, 2002. DOI: 10.1590/S0101-73302002000300009. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/es/a/t4HbTMmJ4tHrJMV8xNQXMvm/?lang=pt. Acesso em: 9 set.
2022.
VEIGA-NETO, A.; LOPES, M. Inclusão e governamentalidade. Educação & Sociedade,
Campinas, v. 28, n. 100, p. 947-963, 2007. DOI: 10.1590/S0101-73302007000300015.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/es/a/CdwxsTyRncJRf8nmrhmYjsg/?lang=pt. Acesso
em: 9 set. 2022.
Violências curriculares: A (in)visibilidade do corpo LGBTQIA+ na formação médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 20
CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Ao programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
de Sergipe (PPGED/UFS).
Financiamento: Não há.
Conflitos de interesse: Não há.
Aprovação ética: O trabalho respeitou a ética em pesquisa. Não passou em nenhum comitê
de ética em pesquisa, por se tratar de análise documental que não envolve seres humanos.
Disponibilidade de dados e material: Os dados e materiais que compõem a presente
pesquisa estão em trâmite para serem disponibilizados no Repositório Institucional da
Universidade Federal de Sergipe RI/UFS.
Contribuições dos autores: Fabíola Jundurian Bolonha: Desenvolvimento da pesquisa
e escrita do artigo. Aldo Gonçalves de Oliveira: Orientação na fundamentação teórica e
metodológica da pesquisa; orientação da escrita do texto.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 1
VIOLENCIAS CURRICULARES: LA (IN)VISIBILIDAD DEL CUERPO LGBTQIA+
EM LA FORMACIÓN MÉDICA
VIOLÊNCIAS CURRICULARES: A (IN)VISIBILIDADE DO CORPO LGBTQIA+ NA
FORMAÇÃO MÉDICA
CURRICULAR VIOLENCES: THE (IN)VISIBILITY OF THE LGBTQIA+ BODY IN
MEDICAL TRAINING
Fabíola Jundurian BOLONHA1
e-mail: fjbolonha@gmail.com
Aldo Gonçalves de OLIVEIRA 2
e-mail: aldogeografia@gmail.com
Como hacer referencia a este artículo:
BOLONHA, F. J.; OLIVEIRA, A. G. Violencias curriculares: La
(in)visibilidad del cuerpo LGBTQIA+ em la formación médica.
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara,
v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818
| Presentado en: 12/10/2022
| Revisiones requeridas en: 18/11/2022
| Aprobado en: 20/12/2022
| Publicado en: 01/01/2023
Editor:
Prof. Dr. José Luís Bizelli
Editor Ejecutivo Adjunto:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Universidad Federal de Campina Grande (UFCG), Cajazeiras PB Brasil. Profesora Adjunta, Unidad
Académica de Ciencias de la Vida.
2
Universidad Federal de Campina Grande (UFCG), Cajazeiras PB Brasil. Profesor Adjunto de la Unidad
Académica de Geografía.
Violencias curriculares: La (in)visibilidad del cuerpo LGBTQIA+ em la formación médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 2
RESUMEN: El presente estúdio forma parte de las discusiones sobre la formación médica, y
especificamente, sobre el currículo médico y las dimensiones de cuerpo, género y sexualidade.
A partir de la conexión entre estos temas, el presente trabajo tuvo como objetivo analizar como
el cuerpo, el género y la sexualidade se activan em el Proyecto Político Pedagógico (PPC) de
la carrera de medicina de la Unidad Académica de Ciencias de la Vida UACV/CFP/UFCG
(Campus de Cajazeiras). Para dar cuenta de esta propuesta de investigación, nos basamos em
el marco teórico-metodológico de los estúdios poscríticos sobre el currículo. Se tomó como
objeto de análisis documental la DCN de 2001 de la carrera de Medicina y el PPC de la carrera
em mención. Sostenemos que existem múltiples formaciones discursivas desde normas y
directrices oficialies, científicas, biológicas/biomédicas, sociales, pedagógicas que entran em
disputa em la composición curricular para el abrodaje de saberes sobre género y sexualidade.
PALABRAS CLAVE: Currículo. Formación médica. Género. Sexualidade. LGBTQIA+.
RESUMO: O presente estudo se insere nas discussões sobre formação médica, e de modo
específico, sobre currículo médico e as dimensões de corpo, gênero e sexualidade. Da conexão
entre esses temas, o presente trabalho objetivou analisar como o corpo, gênero e sexualidade
são acionados no Projeto Político Pedagógico (PPC) do curso de medicina da Unidade
Acadêmica de Ciências da Vida UACV/CFP/UFCG (Campus de Cajazeiras). Para dar conta
dessa proposta de investigação, fundamentamos o referencial teórico-metodológico nos
estudos pós-críticos sobre currículo. Tomamos como objeto de análise documental as DCN de
2001 para o curso de graduação em medicina e o PPC do curso em questão. Argumentamos
ser múltiplas as formações discursivas das normativas e diretrizes oficiais, científicas,
biológicas/biomédicas, sociais, pedagógicos que entram em disputa na composição
curricular para a abordagem de saberes sobre gênero e sexualidade.
PALAVRAS-CHAVE: Currículo. Formação médica. Gênero. Sexualidade. LGBTQIA+.
ABSTRACT: This study is part of discussions about medical education, specifically about
medical curriculum and the dimensions of body, gender, and sexuality. From the connection
between these themes, the present work aimed to analyze how the body, gender, and sexuality
are addressed in the Political Pedagogical Project (PPC) of the medical course of the Academic
Unit of Life Sciences - UACV/CFP/UFCG (Cajazeiras Campus). To account for this research
proposal, we based the theoretical and methodological framework on post-critical studies on
curriculum. As the object of document analysis, we took the DCN of 2001 for the undergraduate
medical course and the PPC of the course in question. Finally, we argue that multiple
discursive formations - from the official norms and guidelines, scientific, biological/biomedical,
social, and pedagogical - enter into a dispute in the curriculum composition for the approach
to knowledge about gender and sexuality.
KEYWORDS: Curriculum. Medical education. Gender. Sexuality. LGBTQIA+.
Fabíola Jundurian BOLONHA y Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 3
Introducción
"Una tarde, antes de comenzar la lección, un estudiante (médico) comenzó a
contar detalles de una cita que tenía el día anterior. Me sorprendió la falta de
ética y los detalles que quedaban naturalmente expuestos, deleitando un
contenido extremadamente homofóbico, transfóbico y que estaba apoyado por
discursos de otros colegas que estaban presentes allí que juntos se reían y se
burlaban de los pacientes homosexuales y trans que acudían a ellos en busca
de atención, en una puesta en escena performativa de un verdadero teatro de
horror. Incluso uno de ellos dijo: "estas personas trans, no qué, necesitan
recibir una paliza y no pasar en consulta con el ginecólogo" y poco después
un médico terminó el discurso de la colega: "golpeando, creo que es poco".
El informe transcrito anteriormente es un extracto de la investigación doctoral y expone
LGBTFobia por un grupo de médicos y médicas, momentos antes de que comiencen una clase
de un curso de posgrado en educación para la salud en el que estaban inscritos. Un egresado
cuyas estrategias de enseñanza-aprendizaje fueron metodologías activas basadas en el
constructivismo, es decir, las actividades educativas se desarrollaron en torno a análisis crítico-
reflexivos, diálogos, búsquedas, encuentros y resignificación. La presencia del maestro en la
sala no evitó que ocurriera vergüenza durante el informe. Entendieron que desde su perspectiva
blanca (todos eran blancos) ella era igual: blanca, heterosexual y cisgénero.
¿Cómo pueden las personas a quienes confiamos nuestras vidas y exponemos la
intimidad de nuestros cuerpos, ridiculizar y destilar odio con tanta intensidad? Revirtió en
nuestra imaginación cómo habría ocurrido la consulta, cuán violenta habría sido en muchos
sentidos. Los protagonistas del informe anterior son los médicos que actúan como preceptores
del internado y la residencia médica. Por lo tanto, se nos anima a reflexionar sobre la educación
médica y los modelos de profesores que acompañan al estudiante de medicina desde el principio
hasta el final de su viaje académico.
La Constitución brasileña, a través del Sistema Único de Salud (SUS), garantiza el
derecho a la salud, pero con respecto a las demandas y especificidades de salud de los grupos
en vulnerabilidad social, como la población de lesbianas, gays, bisexuales, transexuales,
transgéneros, travestis, queer, intersexuales (LGBTQIA +), existen barreras para una sociedad
conservadora y heterocisnormativa. Incluso después de la implementación de la Política
Nacional de Salud Integral LGBT (PNSILGBT) en 2011, el acceso a los servicios de salud por
parte de la población LGBTQIA+ está descrito en la literatura, caracterizado por obstáculos que
van desde la atención discriminatoria de los profesionales de la salud, la desinformación sobre
las especificidades y derechos de esta población, e incluso la violencia física durante la consulta
con el médico, que puede conducir a una barrera insuperable en el acceso a estos servicios
Violencias curriculares: La (in)visibilidad del cuerpo LGBTQIA+ em la formación médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 4
esenciales (SAADEH et al., 2018; GIANNA; MARTINS; SHIMMA, 2018; CALAZANS et
al., 2018; LONGHI, 2018).
En paralelo con los desafíos de derechos efectivos adquiridos por la comunidad
LGBTQIA+, la mayoría de los artículos científicos publicados sobre la implementación del
PNSILGBT brindan información sobre la implementación en capitales y grandes centros
urbanos (SENA; SOUTO, 2017; CALAZANS et al., 2018) y los autores son recurrentes para
resaltar la necesidad de incluir en la formación de los profesionales médicos, aspectos no
meramente biológicos sobre la sexualidad humana y la atención de la salud con minorías
sexuales, ya sea todavía en la carrera de pregrado o profesional en los servicios de salud
(RUFINO; MADEIRO, 2017; NEGREIROS et al., 2019).
La garantía de profesionales de la salud capacitados, que entiendan las demandas de la
población LGBTQIA+, que reconozcan el libre ejercicio de la sexualidad como un derecho
humano a ser respetado y promovido, que entiendan que el campo de la salud es un espacio de
acogida y respeto, especialmente cuando las personas que lo buscan se encuentran en situación
de vulnerabilidad, debe reflejarse en las directrices curriculares, así como en el Proyecto de
Curso Pedagógico (PPC) y describirse en los menús de las disciplinas teóricas y prácticas de
los cursos de salud (BOLONHA et al., 2022). Esta reflexión corrobora con Lionço (2008) quien
enfatiza que es necesario que los profesionales de la salud tengan una mayor proximidad a las
políticas públicas y a los problemas específicos de la población LGTQIA+ para la calificación
de los servicios prestados por las diversas áreas.
En esta perspectiva, el presente trabajo tuvo como objetivo problematizar cómo la
educación médica, expresada principalmente en documentos curriculares, la violencia
ambiental traímos, por ejemplo, la LGBTQIA + fobia por los médicos descritos al principio
del artículo, y por los "debates ausentes" en el contexto de la educación profesional
especialmente con respecto a la negación de las diversidades, el respaldo de los binarismos y el
posicionamiento de la vida en el escenario de relaciones capitalistas desiguales y excluyentes.
Así, tomamos como objeto de investigación el currículo oficial de formación de estudiantes del
Curso de Licenciatura en Medicina de la Unidad Académica de Ciencias de la Vida -
UACV/CFP/UFCG, donde analizaremos cómo las dimensiones de cuerpo, género y sexualidad
constituyen el Proyecto de Curso Pedagógico (PPC); nuestro objetivo es identificar qué tipo de
asignatura médica produce este currículo y si esta asignatura dialoga con la acción requerida
por el Sistema Único de Salud (SUS) con respecto a la atención de la población LGBTQIA+.
Fabíola Jundurian BOLONHA y Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 5
Inspiraciones metodológicas
Para alcanzar los objetivos propuestos que trabajan en la investigación de las relaciones
presentes en el currículo, cuerpo, sexualidad, género, las inspiraciones metodológicas fueron
en los enfoques teóricos y metodológicos de la investigación postcrítica en educación. Las
teorías postcríticas en la educación cuestionan, el conocimiento (y sus efectos de verdad y
poder), el sujeto (y los diferentes modos y procesos de subjetivación), los textos educativos (y
las diferentes prácticas que estos producen e instituyen), y también discutieron temas de género,
etnia, raza, sexualidad, edad (PARAÍSO, 2004; SILVA, 2017). Por lo tanto, estudiar el currículo
mediante esta teoría postcrítica promueve el movimiento de mirar cualquier currículo, para
cualquier discurso, como una invención. Además, nos anima a hacer otros inventos, para
enriquecer este territorio curricular con nuevos significados. En la estela de las relaciones de
conocimiento y poder, se constituyen la ciencia, la universidad, sobre todo, el currículo y las
asignaturas de salud.
Se realizó un análisis documental de las Directrices Curriculares Nacionales (DCN) para
la carrera de pregrado en medicina y el respectivo PPC. Señalamos que las ENT que condujeron
a la elaboración del PPC fueron las publicadas en 2001, por lo que estos documentos son los
objetos centrales de este análisis.
En la discusión aquí propuesta, es el currículo del curso médico el que funciona como
el dispositivo de articulación entre las relaciones asimétricas de poder encabezadas por el
Estado, el Mercado y las prácticas del conocimiento, materializadas en procedimientos médicos
que afectan los cuerpos de sujetos y poblaciones. Para Foucault (2017) el cuerpo es esencial
para el poder: "Todo poder es físico y existe una conexión directa entre el cuerpo y el poder
político" (FOUCAULT, 2017, p. 15, nuestra traducción). Él es el organizador, es el punto de
inflexión de esta circulación del conocimiento y el régimen de verdad que produce lo que es
falso y lo que es verdadero. En palabras de Veiga-Neto (2002, p. 165, nuestra traducción) "[...]
En la medida en que el currículo opera la distribución del conocimiento colocándolo y
disponiéndolo, jerarquizándolo, matizándolo, clasificándolos, asignándoles valores,
establece el trasfondo para que todo lo demás (en el mundo) se entienda geométricamente".
El currículo es el resultado de la forma en que se ve la educación, con referencias y
contextos sociopolíticos y culturales hegemónicos en un momento dado. Desempeña un papel
como elemento de formación e impulsor de las prácticas profesionales, envuelto en una telaraña
de relaciones, conflictos, poder, intereses, normas y también posibilidades.
Violencias curriculares: La (in)visibilidad del cuerpo LGBTQIA+ em la formación médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 6
Por lo tanto, podemos entender que la educación ha sido un instrumento estratégico para
cumplir con el modelo (dado) de normatividad, ya sea en el carácter religioso o secular, liberal
o neoliberal, al servicio del orden sociopolítico actual.
Las DCN para el curso médico y la gestión del PPC: ¿qué reuniones y desajustes se
promueven?
Las DCN para los cursos de salud fueron el resultado de un proceso que involucró
aspectos políticos, culturales, institucionales y educativos y, ejemplos de estos procesos, la
Constitución Federal de 1988, que hizo pública la creación de un sistema de salud, el SUS, y la
Ley de Directrices y Bases de la Educación Nacional (LDB) 9394/1996, que permitió la
flexibilización de los planes de estudio. Entre 2001 y 2004, el Ministerio de Educación (MEC)
en asociación con el Ministerio de Salud (MS), a través de reuniones del Consejo Nacional de
Salud (CNS) y el Consejo Nacional de Educación (CNE) aprobó el DCN (2001). Son
documentos oficiales que orientan a las instituciones de educación superior (IES) para preparar
el PPC de los cursos de salud y, para ello, fueron instituidos con "el objetivo de ofrecer una
formación que permita la calificación de la atención de salud, contemplando los principios del
SUS" (COSTA et al., 2018, p. 2, nuestra traducción).
Los movimientos sociales, organizados en torno a la reforma de salud, contribuyeron a
la institucionalización del proceso de educación en salud en el país, de tal manera que la
Constitución Federal establece, en su artículo 200, que es responsabilidad del Sistema Único
de Salud (SUS) "ordenar la formación de recursos humanos en el área de la salud" (BRASIL,
1988). Raimondi et al. (2020), señala asimismo que la formación de los profesionales de la
salud debe estar en consonancia con las necesidades sanitarias reales de la población y, para
ello, la inclusión de la perspectiva de social accountability
3
como elemento central para el
paradigma de la educación en salud para el nuevo milenio, y esta referencia está ausente en la
DCN de 2001, porque fue publicada en 2010.
La DCN de 2001 para cursos médicos de pregrado fue revisada y ampliada: un
documento compuesto originalmente de seis páginas y 14 artículos fue revisado y ampliado a
3
Este término todavía carece de traducción, ya que no se limita solo a la responsabilidad social. Este es el
compromiso con la rendición de cuentas, una relación que comienza en la acogida de las preocupaciones
sociosanitarias de las comunidades, regiones o naciones para la dirección de las actividades de enseñanza,
investigación y servicio. Se caracteriza, por lo tanto, por la necesidad de que las instituciones educativas se
comprometan a mejorar el desempeño de los sistemas de salud, adaptando las competencias profesionales
esenciales para contextos y escenarios específicos (FERREIRA et al., 2019).
Fabíola Jundurian BOLONHA y Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 7
14 páginas y 41 artículos en la nueva DCN 2014. El PPC del curso de pregrado en medicina en
UACV / CFP / UFCG fue aprobado en 2017, diez años después del comienzo del curso; y tuvo
como referencia teórica la DCN de 2001. Además de este punto observado, las DCN de 2001
no mencionan la orientación biológica, subjetiva, étnico-racial, de género y sexual. La ausencia
de estos términos en las DCN de 2001 fortalece los discursos que suministran el currículo en
medicina que construye su PPC basado en estas directrices, y cuya base está formada por
masculinidades hegemónicas, que dejan en claro el potencial de género y heteronormativo de
las conductas presentadas
De acuerdo con estas perspectivas, los procesos de educación en salud enseñanza,
investigación y extensión y la prestación de servicios de salud deben construirse y orientarse
de acuerdo con las prioridades de salud de la comunidad, incluidos los más vulnerables.
Recordando que el SUS trae la equidad como uno de sus principios doctrinales, esto se refiere
al reconocimiento de la diversidad de grupos de población con sus necesidades específicas,
acogiendo hasta el límite de lo que el sistema puede ofrecer a todos (BRASIL, 1990). Se
concuerda la expectativa de que, de esta manera, la licenciatura en Medicina debe asumir como
compromiso formar profesionales capacitados para reconocer tales diferencias entre sus
pacientes, con el fin de promover una atención guiada por la equidad.
En 2001, se crearon las primeras Directrices Curriculares Nacionales para dialogar en
línea con los principios del SUS (DCN) Curso de Medicina (Resolución CNE/CES 4 de 7
de noviembre de 2001). Sin embargo, vale la pena recordar que toda reformulación curricular
se basa en estrategias simbólicas que tienen como objetivo crear una retórica fuerte para lograr
los cambios deseados y dirigir la creación de conocimientos, sujetos y realidades. En el caso de
la Medicina, estas estrategias se expresan en la institución del Programa Nacional de Incentivo
a los Cambios Curriculares en los Cursos de Medicina (PROMED), que ocurrió en 2002, en
asociación entre el Ministerio de Salud y el Ministerio de Educación (BRASIL, 2002), y el
Programa Nacional de Reorientación de la Formación Profesional en Salud (Pró-Saúde I) en
2005
4
. Estos programas tienen como objetivo alentar a las escuelas de medicina de todo el país
a incorporar cambios pedagógicos significativos en los planes de estudio de los cursos de
medicina, reafirmando las Directrices Curriculares Nacionales de 2001. Es evidente la
inminente articulación entre Instituciones Educativas, Políticas Públicas en Educación y Salud
para adaptar la educación para la salud de acuerdo a las necesidades, demandas y características
de la población.
4
Disponible en: https://www.pucsp.br/prosaude/sobre_o_pro_saude.html. Acceso: 10 dic. 2022.
Violencias curriculares: La (in)visibilidad del cuerpo LGBTQIA+ em la formación médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 8
Estas Directrices asumen un perfil normativo y de control que se observa cuando definen
los contenidos curriculares del PPC de pregrado en medicina señalando:
Artículo 6. Los contenidos esenciales para el Curso de Graduación en
Medicina deben estar relacionados con todo el proceso salud-enfermedad del
ciudadano, familia y comunidad, integrados a la realidad epidemiológica y
profesional, proporcionando la integralidad de las acciones asistenciales en
medicina (BRASIL, 2001, p. 03, nuestra traducción).
Al llamar esenciales los contenidos que seleccionan, este currículo termina incluyendo,
en su propuesta, formas específicas de conocimiento y conocimiento. Al definir los contenidos
considerados apropiados para la educación médica, este currículo excluye otros conocimientos
o los coloca como menos importantes en su propuesta, como conformarse con biologizar
contenidos sobre cuerpos sin considerar la diversidad humana. Así, los contenidos toman la
enfermedad como un proceso natural, biológico, y no dan la debida importancia a lo social, lo
colectivo, lo público y la comunidad como fundamentales para la educación médica y tampoco
los ven como implicados en el proceso salud-enfermedad. Al excluir estos conocimientos, al
considerarlos inadecuados o menos importantes para la educación dica, una cantidad
inconmensurable de población sufre la violencia de la invisibilidad, de tener su atención médica
subestimada e ineficiente. En otras palabras, es fundamental, por ejemplo, el debate sobre la
violencia contra las mujeres, el sexismo, el racismo y la LGBTfobia junto con los marcadores
sociales de diferencia en el proceso salud-enfermedad-atención y en la organización de la
atención de salud.
Después de la preparación del PNSI-LGBT en 2011, este contenido es revisado por la
DCN 2014 y reconocido su importancia, siendo incorporado a las nuevas DCN, sin embargo,
sin orientación sobre cómo debe abordarse y en qué componentes curriculares deben trabajarse
(BRASIL, 2014). Además de seleccionar los contenidos, el currículo que aquí se discute hace
hincapié en especificar con qué deben relacionarse dichos contenidos: con la salud-enfermedad
del ciudadano, la familia y la comunidad; del niño y del adolescente; salud de la mujer (UFCG,
2017, p. 31). Por lo tanto, requiere que los profesionales médicos realicen sus servicios,
teniendo en cuenta que la responsabilidad de la atención de salud no se cierra con el acto
técnico, sino con la resolución del problema de salud, tanto a nivel individual como colectivo.
Según Meyer (2003), en el campo de la educación, el currículo es uno de los elementos
centrales de los debates sobre la escuela, en un sentido amplio, y su significado social. La
teorización educativa crítica ha consolidado durante mucho tiempo la idea de que el currículo
Fabíola Jundurian BOLONHA y Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 9
no solo involucra cuestiones técnicas, relacionadas con los contenidos de enseñanza, los
procedimientos didácticos, los métodos y técnicas pedagógicas, como fue concebido por las
pedagogías técnicas de los años 70 u 80, enfatizando que es un artefacto social y cultural que
necesita ser entendido y discutido considerando sus determinaciones históricas, cuestiones
sociales y lingüísticas. Se enfatiza que, para garantizar esta visión ampliada de los médicos
sobre la atención de salud, las DCN definen estrategias que se incorporarán en los planes de
estudio médicos, con el objetivo de conducir a la adquisición de habilidades y actitudes por
parte de los graduados en medicina. Esto se observa en las determinaciones previstas en el art.
12 de la Resolución de 2001, que determina la inserción temprana de los estudiantes en
actividades prácticas.
Aquí vale la pena señalar que, dado que esta directriz llama a la inserción de los
estudiantes en las redes de servicios de salud, tiene como objetivo formar un sujeto que no se
limite al aislamiento de una práctica privada. Así se reafirma en el propio PPC del curso que
describe en su perfil "[...] que tiene como eje formativo central la atención primaria y secundaria
de salud, además de la competencia técnica que implica la intervención en lo más prevalente en
el campo de las emergencias y emergencias y la atención terciaria" (UFCG, 2017, p. 27, nuestra
traducción).
Por otro lado, colocar a los estudiantes como responsables de actuar en temas que se les
niegan en la teoría y, en la práctica, como el género, la diversidad y la sexualidad, sin
comprometer el aprendizaje y la calidad de la atención brindada, es indudablemente inviable.
También vale la pena mencionar que, supuestamente se está invitando a los estudiantes a visitar
la "realidad" del servicio médico y así, "meter una mano en la masa" y también aprender del
modelo de médicos preceptores y otros profesionales de la salud que, tenían un currículo de
formación médica muy probablemente deficiente en estos temas y reflexiones, generando
pobres y excluyendo la atención médica. Se transmite la responsabilidad de una práctica sin
base teórica a los estudiantes. Se genera la expectativa de la existencia de una medicina
sensibilizada a la diversidad de cuerpos biológicos y sociales, diversidad en sus sentidos más
amplios, pero no es efectiva ni en la teoría ni en la práctica.
Los estudiantes, como la mayoría de la sociedad brasileña, están profundamente
marcados por la heterocisnormatividad, con preconceptos y lecturas corporales concebidas
dentro de este estándar normativo. Con el fin de promover una atención humanizada, integral,
justa y eficiente, es indiscutible la importancia de trabajar contenidos curriculares que
promuevan la deconstrucción de esta normatividad antes de que estos estudiantes sean invitados
Violencias curriculares: La (in)visibilidad del cuerpo LGBTQIA+ em la formación médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 10
al campo de la práctica. Observamos que a los estudiantes que se gradúan de este PPC se les
niegan experiencias de vida académica que los acercan al perfil del médico generalista,
humanizado, que se coloca en la práctica y en la existencia más allá de las relaciones asimétricas
de conocimiento y poder.
Las dimensiones cuerpo, género y sexualidad se insertan en el PPC
Analizando el PPC, observamos que estas dimensiones son mixtas: cuerpo, género y
sexualidad se insertan en discursos difusos, en algunos momentos capturé el cuerpo en el
análisis y, por lo tanto, cruza el género y, en consecuencia, cruza la sexualidad. Al pensar en la
historia de producir conocimiento sobre los cuerpos, Veiga-Neto y Lopes (2007) destacan que,
para Michel Foucault, las fuerzas, que él llamó poder, actúan sobre lo que los sujetos tienen
más concreto y material; es decir, sus cuerpos. Si era posible constituir un conocimiento sobre
el cuerpo, era a través de un conjunto de disciplinas militares y escolares. Y de un poder sobre
el cuerpo que era posible un conocimiento fisiológico, orgánico (FOUCAULT, 2014, p. 148-
149).
La estructura corporal, sin identidad, aparece en los menús de disciplinas cargadas de
una visión biológica, marcada por regulaciones morfofuncionales del cuerpo humano y,
corroborando esta afirmación, traigo los ejemplos: Objetivos de la disciplina M3 "Principios
físicos y químicos del ser humano" CH: 180, Cr: 12: "Describir y distinguir los componentes
moleculares del cuerpo humano"; Objetivos de la disciplina M4 "Biología y fisiología
celular y tisular" CH: 120, Cr: 08: "Describir y distinguir la organización y funciones de los
diferentes elementos celulares y tisulares del cuerpo humano"; Menú y Objetivo de la disciplina
M6 - Anatomía Humana CH: 60, Cr: 04: "División del cuerpo (planos y ejes); anatomía
macroscópica de diferentes sistemas corporales; identificar, nombrar y caracterizar las diversas
estructuras del cuerpo humano" (UFCG, 2017, p. 49, nuestra traducción).
Este cuerpo como estructura, como objeto se presenta a los estudiantes de medicina en
el primer período del curso, por piezas de anatomía, diapositivas de histología, descripciones
moleculares en bioquímica. No se trata, por supuesto, del cuerpo como los que los estudiantes
ven en la calle, en casa, en la televisión, en las redes sociales, en sus relaciones sociales. Es un
cuerpo, estructura, objeto, que existe sólo en las clases prácticas y teóricas de estas disciplinas
y libros. Sobre ese cuerpo, objeto tomado como "único" y "verdadero" al comienzo del curso,
mi pensamiento va en contra de los cuerpos que ocupan lugares que no pertenecen a ningún
espacio.
Fabíola Jundurian BOLONHA y Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 11
Foucault, 2013, Llama al cuerpo sin cuerpo, al cuerpo sin cuerpo, al cuerpo sin cuerpo,
y en este sentido, utiliza por ejemplo los cuerpos de momias, que persisten en el tiempo, una
utopía de los muertos. ¿Cuáles son las partes y dispositivos para simulaciones relacionadas con
el examen físico del laboratorio de habilidades clínicas (UFCG, 2017, p. 17); las partes
anatómicas sintéticas, los cadáveres y sus partes mutiladas utilizadas en las clases de anatomía
(UFCG, 2017, p. 55), las diapositivas histológicas, si no cuerpos utópicos, fallecidos cuya
utopía de cuerpos se ofrece para el estudio académico, de estudiantes de medicina? Este
cuestionamiento surge del hecho de que las utopías narran un lugar que no existe (el cuerpo del
difunto y sus miembros desmembrados; las diapositivas histológicas) y florecen en un espacio
imaginario y, por lo tanto, "se sitúan en la línea recta del discurso", porque el lenguaje se cruza
con el espacio. De esta manera, los estudiantes comienzan el curso en utopías y heterotopías,
entre discursos y conocimientos que articulan lo visible y lo enunciable: lenguaje, mirada y
espacio. Por lo tanto, la salud no es solo la ausencia de enfermedad, ya que el ser humano es un
cuerpo que es una máquina, y todas las explicaciones sobre el paciente se darán desde un
"cuerpo vacío" y se dividirán en partes cuyos misterios de funcionamiento solo domina el
médico. Saludable significa trabajar perfectamente en maquinaria predecible y accesible a la
comprensión médica, pero solo para ella como profesional, no para otros profesionales de la
salud. Y mucho menos los propios pacientes.
Consideramos esencial que, concomitantemente con el estudio del cuerpo "incorpóreo",
El organismo trabaja en sus aspectos históricos, sociales, culturales y de diversidad. Es la suma
de estos aspectos la que compone los cuerpos que los estudiantes encontrarán en la articulación
teoría-práctica del curso, porque trabajan cuerpos meramente biologizados y de generificadas
es referirse al uso de utopías en las que se anulan los cuerpos y otras que hacen cuerpos.
Más adelante en el curso, los estudiantes hacen su entrada a la clínica y ven "cuerpos
reales" en clases teóricas y prácticas, nunca encontrándose con este cuerpo objetivado con el
que han aprendido hasta ahora. Cuerpos, incluidos los de la mujer. Se observa en el PPC que
existe la construcción de un estigma "natural" / "normal" diferencia entre los cuerpos, que
implicaba la atribución de un cuerpo particular a las mujeres. Y esto llama la atención sobre el
hecho de que el cuerpo medicalizado se ha convertido en una referencia privilegiada para la
construcción de identidades personales de género. Nos referimos a la disciplina Salud de la
Mujer que está destinada a la enseñanza de Ginecología y Obstetricia (UFCG, 2017, p. 90)
ofrecida en el periodo del curso, estando marcada por términos como "diagnóstico de
embarazo"; "Cambios fisiológicos en el embarazo"; "Parto"; "Cirugías obstétricas";
Violencias curriculares: La (in)visibilidad del cuerpo LGBTQIA+ em la formación médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 12
"Semiología Ginecológica"; "Fisiología del ciclo menstrual"; "Infertilidad"; "Enfermedades de
la mama"; "Descargas vaginales"; "Enfermedades de transmisión sexual"; "Neoplasias del
cuello uterino, vulva, vagina y ovarios" (UFCG, 2017, p. 90).
De esta lectura, es evidente que las mujeres se reducen al mérito del "Enfoque clínico,
diagnóstico y terapéutico de las principales enfermedades en el área de la salud de la mujer".
La definición misma de la salud de la mujer me parece distorsionada. Los objetivos de esta
disciplina revelan la visión mecanicista del sistema reproductivo: cómo son las piezas, cómo
encajan, cómo funcionan para reproducirse y asignar conocimiento a la capacidad de
reproducirse, sin discutir órganos sexuales, sino más bien, órganos / sistema reproductivo.
También es posible reconocer que, del 2º al 8º período del curso, el estudiante continúa siendo
guiado por una lectura de cuerpos destinados a servir como matrices reproductivas, objetos del
patriarcado instalado en Brasil desde el período colonial, reducidos a sus genitales y senos.
La medicina de la mujer no encuentra correspondencia para el hombre. El hombre es
rociado a lo largo de los componentes curriculares, desmembrado en la próstata y el rendimiento
sexual: "Androginia básica: impotencia, infertilidad masculina y eyaculación precoz" (UFCG,
2017, p. 80) - extracto del menú de la Clínica Quirúrgica I en la unidad de Urología. Portando
un falo, el hombre se resume a este y próstata, es decir, se ve como un cuerpo que debe disfrutar
(potencia) y fertilizar. Por otro lado, la mujer debe amamantar y amamantar, sin tener en cuenta
cualquier otro aspecto que requiera su sexualidad. Los estudiantes del curso no son provocados
a reflexionar y ampliar la lectura sobre los cuerpos femeninos cuando están excluidos, por
ejemplo, el orgasmo femenino, la orientación sexual, los métodos anticonceptivos, la
planificación familiar, la histerectomía opcional y electiva, las mujeres transexuales, los
transgéneros, los travestis, los hombres transexuales.
Basado en este esencialismo, naturalismo y biologicismo, el pensamiento misógino
confina a las mujeres a las demandas biológicas de la reproducción, asumiendo que, debido a
ciertas transformaciones biológicas, fisiológicas y endocrinas específicas, las mujeres son de
alguna manera más corporales y más naturales que los hombres. Sobre todo, al garantizar la
lectura del cuerpo del hombre en Urología (Clínica Quirúrgica I) (UFCG, 2017, p. 80) y el
cuerpo de la mujer como Salud de la Mujer, este currículo actualiza las formas de
heteronormatividad en el discurso médico, presuponiendo dos tipos de cuerpos de género como
naturales y complementarios entre sí y organizando la naturaleza misma de la sexualidad.
También se puede observar una pulverización de la dimensión de edad del cuerpo en los
componentes curriculares, no mirando las especificidades del cuerpo del anciano en la relación
Fabíola Jundurian BOLONHA y Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 13
con los cruces de género, sexualidad y salud. Contradictoriamente, estos grupos excluidos del
currículo tienen sus especificidades enmascaradas del concepto de salud de la familia, que
funciona como un instrumento biopolítico, ya que se pretende, dirigiéndose a un grupo
normativo de personas y no a la especificidad de cada uno de sus cuerpos. A menudo la persona
LGBTQIA+ es expulsada de casa, termina resignificando el concepto de familia y ¿cuál es el
concepto de familia para la Salud Familiar y Comunitaria? Nos topamos con otro patrón
hegemónico, el de la formación familiar.
Analizando los discursos en los objetivos de la disciplina Salud Infantil y del
Adolescente, ofrecida en el período del curso, con 120 horas de carga de trabajo, destacan
"factores de riesgo"; "etiopatogenia de enfermedades"; "fisiología y fisiopatología"; "conjunto
de pruebas complementarias" y "terapia farmacológica o quirúrgica apropiada" (UFCG, 2017,
p. 89, nuestra traducción).
Los discursos observados son biologizantes y tratan estos cuerpos como reservorios de
enfermedades y comorbilidades, cuerpos con tratamiento urgente y normalización. Temas
como la transgenitalidad, la intersexualidad, la homosexualidad y la travestilidad, la
bisexualidad de una manera más allá de la edad, surgen en una taxonomía que jerarquiza,
subaltera, patologiza, medicaliza y mutila a los sujetos, considerados automáticamente
anormales, detonantes, extraños, abyectos y, en consecuencia, tratables/corregibles por la
medicina. Un curso que pretende ofrecer una formación basada en "[...] también en la
sensibilidad humanista y la responsabilidad social [...]" (UFCG, 2017, p. 258, nuestra
traducción) no logra este objetivo cuando silencia estos cuerpos a lo largo del PPC analizado.
Es negar violentamente la existencia de estas personas y negar a los médicos en formación y
graduados el conocimiento sobre estas existencias y debilitar la formación de estos
profesionales. Por lo tanto, los sujetos LGBTQIA + permanecen invisibles en los temas y
acciones de salud en nuestra sociedad.
Es en el currículo donde se confrontan diferentes culturas e idiomas, y los maestros,
estudiantes y administradores a menudo difieren en relación con el aprendizaje y las prácticas
que deben ser elegidas y valoradas" (MEYER; KRUSE, 2003, p. 337, nuestra traducción). Mi
búsqueda de cuerpos intersexuales, a través del uso de descriptores como hermafroditas y
ambigüedad de sexo, no trajo ningún resultado. Tal vez una justificación para la ausencia de
contenido sobre seres hermafroditas puede estar asociada con teorías biológicas, que
argumentan que no hay lugar para alguien con ambos sexos / géneros, solo personas con un
sexo y su correspondiente suposición de género. Así, es en el cuerpo de las personas con algún
Violencias curriculares: La (in)visibilidad del cuerpo LGBTQIA+ em la formación médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 14
tipo de ambigüedad sexual o que dejan márgenes para este tipo de dudas que la medicina
centrará su atención, promoverá la intervención y creará una forma de interpretar los sexos.
Del al 12º periodo del curso, los alumnos circulan a través de las prácticas curriculares
tuteladas, que corresponde al Internado. El internado está en la Clínica Médica I y II, esto ocurre
en los Servicios de Emergencia, la UCI y las salas; Clínica Quirúrgica; Pediatría I y II y en este
contenido hay una repetición del menú y objetivos de la pasantía en Clínica Quirúrgica y creo
que es un error documental, porque los objetivos de esta pasantía (Pediatría) se definen como
"aplicar conocimientos teóricos y prácticos en conductas médicas en cirugía general y
anestesia" (UFCG, 2017, p. 95, nuestra traducción) sin embargo, la bibliografía básica y
complementaria es específica de pediatría y neonatología; Ginecología y Obstetricia cuyos
objetivos es la aplicación de los conocimientos teóricos y prácticos adquiridos en Salud de la
Mujer y finalmente, Salud Colectiva I y II cuyos objetivos son:
Promover la integración de los estudiantes con los servicios de atención
primaria de salud, centrándose en la integralidad, valorando el desarrollo de
la competencia técnica, la sensibilidad humanística y la responsabilidad social
necesarias para el médico general (UFCG, 2017, p. 97, nuestra traducción).
Es evidente que, en esta etapa del curso de graduación, el internado es el sujeto médico
obsoleto, que en teoría dialoga con el perfil del sujeto médico requerido por el SUS y
determinado por el DCN. Así, se constituye un ciclo que involucra al SUS con sus Políticas
Públicas en Salud, políticas públicas en educación junto con las DCN, instituciones de
educación superior junto con sus PPC’s y profesionales de la salud junto con su desempeño en
el SUS.
Sin embargo, observamos que la asignatura médica que produjo este currículo formativo
fue una asignatura médica normalizada y normalizadora, cuya mirada y acciones se dirigieron
a cuerpos normalizados tanto en su biología como en su sexualidad.
Tomamos el PPC del curso de pregrado en medicina de la UACV/UFCG como un
artefacto pedagógico que constituye los sujetos en formación. Los discursos observados son
biologizantes y, sin pautas de género, sexualidad, edad o aspectos sociales. Dado que el
currículo es una herramienta poderosa que moldea los pensamientos, las conductas, la toma de
decisiones de los sujetos, demuestra un camino de construcción de sujetos médicos
condicionados por la mirada selectiva, puramente biológica y de género sobre estos cuerpos:
cuerpos con vulva, vagina, útero y ovarios; cuerpos reducidos al falo y su rendimiento; cuerpos
del niño y/o del adolescente y/o del anciano.
Fabíola Jundurian BOLONHA y Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 15
Reconocemos que un currículo de formación médica no se hace sin los componentes
curriculares sobre dimensiones biológicas (como las disciplinas de anatomía, histología,
embriología), fisiopatológicas, propedéuticas, terapéuticas, en resumen, esto es indiscutible. Sin
embargo, lo discutible es, ¿solo necesitamos estas dimensiones de enseñanza-aprendizaje para
capacitar a nuestros médicos? Este contenido excluye vidas, excluye cuerpos disidentes y esta
exclusión nos impide tener graduados efectivos, humanizados, generalistas, capaces de actuar
en el SUS ejerciendo los principios de equidad e integralidad. Por lo tanto, la calidad del sistema
de salud es supuestamente sinérgica para la formación de sus profesionales, porque la formación
de los profesionales de la salud debe reflejar la realidad en constante cambio. Por lo tanto, sería
una garantía de universalidad, donde las especificidades de una nación estuvieran, por otro lado,
contribuyendo a la eficacia del sistema que la acoge y la sirve. Fue en lo biológico que los
currículos permanecieron durante mucho tiempo y para el modelo biopsicosocial Quieres
moverte. Sin embargo, es evidente que todavía están cargados de discursos biologizantes y
masculinos, donde las relaciones de poder operan y permanecen fortalecidas, abrazando un
sistema que sigue influyendo e influenciando.
El curso analizado sigue las regulaciones comprometidas en una lógica, donde hay una
apreciación de la vida biológica reproductiva que promueve la base de la atención de la salud:
las DCN de 2001. Y estos sujetos producidos en esta norma masculina, heterocisnormativa, se
constituyen como profesionales de cuidados fragmentados, porque siguen un modelo de
educación para la salud fuertemente influenciado por el modelo biomédico de enseñanza. No
es solo con esta cosmovisión biológica que fácilmente estandariza y dicta las reglas en el
currículo, sino por la forma de sus relaciones con otros aspectos formativos, creando una
imagen que se pone a las relaciones sociales. Lo que observamos es una base biológica que a
menudo está aislada y dictando los caminos. Un currículo de formación médica que selecciona
los cuerpos que serán acogidos en su cuidado, es un ejemplo de violencia curricular que refuerza
y perpetúa el cistema de relaciones de poder asimétricas.
Violencias curriculares: La (in)visibilidad del cuerpo LGBTQIA+ em la formación médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 16
Consideraciones finales
La medicina domina un conocimiento, legitimado por el poder científico, sobre el
cuerpo humano, imponiendo un estado ideal y saludable, norma, de cómo debemos ser y ser en
el mundo. Si, tal vez, evitamos el estado "natural" idealizado del que debemos presentarnos y
comportarnos, pronto somos rendidos y conducidos a la mirada clínica de la medicalización, la
única "mirada" capaz de (re)conducirnos al mayor imperativo de la normalización. Siempre
estamos siendo observados, nuestros cuerpos siempre están siendo observados y etiquetados,
normalizados, disciplinados. Nacemos y morimos en instituciones disciplinarias: nacemos en
un hospital, somos educados en escuelas y universidades, somos "secuestrados" por el ejército,
la iglesia, tenemos que ser entrenados para ingresar al mercado laboral donde pasamos el resto
de nuestras vidas. Si nos desviamos, nos llevan a asilos, clínicas de rehabilitación, prisiones y
finalmente morimos en un hospital. Siempre estamos en algunas o algunas de estas instituciones
que aspiran a convertirse en individuos dóciles, útiles, saludables y, en última instancia,
disciplinados. He aquí, en esta microfísica, en esta micro capilaridad del poder, el discurso
médico actúa como una expresión del conocimiento-poder, autorizado, incontestable.
Tenga en cuenta que la elección de los contenidos a trabajar en el aula no es el campo
de la neutralidad. Se conecta, entre otras cosas, con puntos de vista personales, con valores
morales, con las opciones políticas y religiosas de los profesionales involucrados en este
proceso.
Entendemos que existen múltiples formaciones discursivas de normas y directrices
oficiales, científicas, biológicas/biomédicas, sociales, pedagógicas que entran en disputa en
la composición curricular por el enfoque de conocimientos sobre género y sexualidad que
terminan silenciando los cuerpos LGBTQIA+ en la formación médica, silenciando la diversidad
o la diferencia. A través de este argumento, identificamos que la producción de médicos por el
Currículo de la UACV/UFCG desencadena estrategias y técnicas de poder articulado, aún
centradas en el modelo biomédico, asegurando, como institución de poder, el mantenimiento
de relaciones de dominación y efectos de hegemonía.
Fabíola Jundurian BOLONHA y Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 17
REFERENCIAS
BOLONHA, F. J. et al. Barreiras de acesso aos serviços de saúde enfrentadas pela população
trans no Brasil: uma revisão narrativa. In: NASCIMENTO, A. R. S. et al. (org.). Nem tudo é
arco-íris: interfaces de saúde da população LGBTQIA+. João Pessoa: Ative, 2022. E-book. p.
93-104. DOI 10.29327/562998. Disponible en: https://editoraative.wixsite.com/editoraative.
Acceso: 9 sept. 2022.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado Federal, 2016. 496 p. Disponible en:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf.
Acceso: 24 mayo 2022.
BRASIL. Ministério da Saúde; Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Lei Orgânica da
Saúde. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
Brasília, DF: MS, 1990. Disponible en: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm.
Acceso: 24 mayo 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução n. 04 do CNE/CES, de 7 de novembro de
2001. Dispõe sobre as diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação em
medicina. Brasília, DF: MEC, 2001 Disponible en:
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES04.pdf. Acceso: 24 mayo 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Ministério da Saúde. Portaria Interministerial n. 610, de
26 de março de 2002. Institui o Programa Nacional de Incentivo a Mudanças Curriculares
nos Cursos de Medicina (PROMED). Brasília, DF: MEC, MS, 2002. Disponible en:
http://www.pp.ufu.br/Port_Inter.htm. Acceso: 10 jul. 2021.
CALAZANS, G. J. et al. A experiência de Implantação da Política de Saúde Integral para
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) no município de São Paulo. BIS
Boletim do Instituto de Saúde, v, 19, n. 2, 2018.
COSTA, D. A. S. et al. Diretrizes curriculares nacionais das profissões da Saúde 2001-2004:
análise à luz das teorias de desenvolvimento curricular. Interface, v. 22, n. 67, Oct./Dec.
2018. DOI: 10.1590/1807-57622017.0376. Disponible en:
https://www.scielo.br/j/icse/a/GZsw79s7SZGBXZ3QNBhNppn/abstract/?lang=pt. Acceso: 15
sept. 2022.
FERREIRA, M. J. M. et al. Novas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de
Medicina: oportunidades para ressignificar a formação. Interface, Botucatu, v. 23, n. Supl. 1,
e170920, 2019. DOI: 10.1590/Interface.170920. Disponible en:
http://old.scielo.br/pdf/icse/v23s1/pt_1807-5762-icse-23-s1-e170920.pdf. Acceso: 15 sept.
2022.
FOUCAULT, M. O corpo utópico: As Heterotopias. São Paulo. N-1 Edições, 2013.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: Nascimento da prisão. Tradução: Raquel Ramalhete.
Petrópolis, Vozes, 2014. 302 p.
Violencias curriculares: La (in)visibilidad del cuerpo LGBTQIA+ em la formación médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 18
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Organização e revisão de Roberto Machado. 5. ed.
Rio de Janeiro; São Paulo: Paz e Terra, 2017.
GIANNA, M. C.; MARTINS, R. B.; SHIMMA, E. Ambulatório de Saúde Integral para
Travestis e Transexuais: desafios e realizações. BIS. Boletim do Instituto de Saúde, São
Paulo, v. 19, n. 2, p. 98-104, 2018. DOI: 10.52753/bis.2018.v19.34595. Disponible en:
https://periodicos.saude.sp.gov.br/bis/article/view/34595. Acceso: 9 sept. 2022.
LIONÇO, T. Que direito à saúde para a população GLBT? Considerando direitos humanos,
sexuais e reprodutivos em busca da integralidade e da eqüidade. Saude soc., São Paulo, n. 2
p. 11-21, jun. 2008. DOI: 10.1590/S0104-12902008000200003. Disponible en:
https://www.scielo.br/j/sausoc/a/NdCpsvRwnJVYHZhSwRNhnfs/?lang=pt. Acceso: 9 sept.
2022.
LONGHI, M. P. Ampliando o olhar para a população LGBT em um grupo de discussão com
trabalhadores de saúde: potencialidade e desafios. BIS Boletim do Instituto de Saúde, v. 19,
n. 2, p. 116-124, 2018.
MEYER, D. E.; KRUSE, M. H. L. Acerca de diretrizes curriculares e projetos pedagógicos:
um início de reflexão. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 56, n. 4, p. 335-339, 2003.
DOI: 10.1590/S0034-71672003000400002. Disponible en:
https://www.scielo.br/j/reben/a/69S9Mz8Fyw5S8NRwrCLDPbs/abstract/?lang=pt. Acceso: 9
sept. 2022.
NEGREIROS, F. R.N. et al. Saúde de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais:
da Formação Médica à Atuação Profissional. Rev. bras. educ. med., Brasília, v. 43, n. 1, p.
23-31, mar. 2019. DOI: 10.1590/1981-52712015v43n1RB20180075. Disponible en:
https://www.scielo.br/j/rbem/a/tfbkrZY79FzFFHCnHpcffCw/abstract/?lang=pt. Acceso: 9
sept. 2022.
PARAÍSO, M. A. Pesquisas pós-críticas em educação no Brasil: esboço de um mapa.
Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 122, p. 283-303, 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-
15742004000200002. Disponible en:
https://www.scielo.br/j/cp/a/JrF5H8r96wRTvTDLSzhYpcM/abstract/?lang=pt. Acceso: 9
sept. 2022.
RAIMONDI, G. A. et al. Análise Crítica das DCN à Luz das Diversidades: Educação Médica
e Pandemia da Covid-19. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 44, n. Suppl. 1, e135,
2020. DOI: 10.1590/1981-5271v44.supl.1-20200361. Disponible en:
https://www.scielo.br/j/rbem/a/ptG7YLFjwNjmbgsj7KYBwjH/?lang=pt. Acceso: 9 sept.
2022.
RUFINO, A. C.; MADEIRO, A. P. 6 Práticas Educativas em Saúde: Integrando
Sexualidade e Gênero na Graduação em Medicina. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro,
v. 41, n. 1, p. 170-178, jan. 2017.
SAADEH, A. et al. AMTIGOS - Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e
Orientação Sexual, do IPq-HCFM/USP: proposta de trabalho com crianças, adolescentes e
Fabíola Jundurian BOLONHA y Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 19
adultos. BIS. Boletim do Instituto de Saúde, São Paulo, v. 19, n. 2, p. 86-97, 2018.
Disponible en: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1016648. Acceso: 9 sept.
2022.
SENA, A. G. N.; SOUTO, K. M. B. Avanços e desafios na implementação da Política
Nacional de Saúde Integral LGBT. Tempus actas de saúde coletiva, v. 11, n. 1, p. 9-29,
2017. DOI: 10.18569/tempus.v11i1.1923. Disponible en:
https://www.tempus.unb.br/index.php/tempus/article/view/1923. Acceso: 9 sept. 2022.
SILVA, T.T. Documentos de identidade: Uma introdução às teorias de currículo. 3. ed. 10.
reimp. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE (UFCG). Projeto Pedagógico do
Curso de Medicina UFCG. Campina Grande, PB: UFCG, 2017.
VEIGA-NETO, A. geometrias, currículo e diferenças. Educação & Sociedade, Campinas, v.
23, n. 79, p. 163-186, 2002. DOI: 10.1590/S0101-73302002000300009. Disponible en:
https://www.scielo.br/j/es/a/t4HbTMmJ4tHrJMV8xNQXMvm/?lang=pt. Acceso: 9 sept.
2022.
VEIGA-NETO, A.; LOPES, M. Inclusão e governamentalidade. Educação & Sociedade,
Campinas, v. 28, n. 100, p. 947-963, 2007. DOI: 10.1590/S0101-73302007000300015.
Disponible en: https://www.scielo.br/j/es/a/CdwxsTyRncJRf8nmrhmYjsg/?lang=pt. Acceso:
9 sept. 2022.
Violencias curriculares: La (in)visibilidad del cuerpo LGBTQIA+ em la formación médica
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 20
CRediT Author Statement
Reconocimientos: Al Programa de Postgrado en Educación de la Universidad Federal de
Sergipe (PPGED/UFS).
Financiación: No aplica.
Conflictos de intereses: No aplica.
Aprobación ética: El estudio se ajustó a la ética de la investigación. No pasó por ningún
comité de ética de la investigación, ya que se trata de un análisis documental en el que no
intervienen seres humanos.
Disponibilidad de datos y material: Los datos y materiales que componen esta
investigación están en proceso de ser puestos a disposición en el Repositorio Institucional
de la Universidad Federal de Sergipe - RI/UFS.
Contribuciones de los autores: Fabíola Jundurian Bolonha: Desarrollo de la investigación
y redacción del artículo. Aldo Gonçalves de Oliveira: Orientación sobre los fundamentos
teóricos y metodológicos de la investigación; orientación para la redacción del texto.
Procesamiento y edición: Editora Iberoamericana de Educación - EIAE.
Corrección, formateo, normalización y traducción.
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 1
CURRICULAR VIOLENCES: THE (IN)VISIBILITY OF THE LGBTQIA+ BODY IN
MEDICAL TRAINING
VIOLÊNCIAS CURRICULARES: A (IN)VISIBILIDADE DO CORPO LGBTQIA+ NA
FORMAÇÃO MÉDICA
VIOLENCIAS CURRICULARES: LA (IN)VISIBILIDAD DEL CUERPO LGBTQIA+ EM
LA FORMACIÓN MÉDICA
Fabíola Jundurian BOLONHA1
e-mail: fjbolonha@gmail.com
Aldo Gonçalves de OLIVEIRA2
e-mail: aldogeografia@gmail.com
How to reference this paper:
BOLONHA, F. J.; OLIVEIRA, A. G. Curricular violences: The
(in)visibility of the LGBTQIA+ body in medical training. Revista
Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n.
00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818
| Submitted: 12/10/2022
| Revision required: 18/11/2022
| Approved: 20/12/2022
| Published: 01/01/2023
Editor:
Prof. Dr. José Luís Bizelli
Executive Deputy Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Federal University of Campina Grande (UFCG), Cajazeiras PB Brazil. Assistant professor of the Academic
Unit of Life Sciences.
2
Federal University of Campina Grande (UFCG), Cajazeiras PB Brazil. Assistant professor of the Geography
Academic Unit.
Curricular violences: The (in)visibility of the LGBTQIA+ body in medical training
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 2
ABSTRACT: This study is part of discussions about medical education, specifically about
medical curriculum and the dimensions of body, gender, and sexuality. From the connection
between these themes, the present work aimed to analyze how the body, gender, and sexuality
are addressed in the Political Pedagogical Project (PPC) of the medical course of the Academic
Unit of Life Sciences - UACV/CFP/UFCG (Cajazeiras Campus). To account for this research
proposal, we based the theoretical and methodological framework on post-critical studies on
curriculum. As the object of document analysis, we took the DCN of 2001 for the undergraduate
medical course and the PPC of the course in question. Finally, we argue that multiple discursive
formations - from the official norms and guidelines, scientific, biological/biomedical, social,
and pedagogical - enter into a dispute in the curriculum composition for the approach to
knowledge about gender and sexuality.
KEY WORDS: Curriculum. Medical education. Gender. Sexuality. LGBTQIA+.
RESUMO: O presente estudo se insere nas discussões sobre formação médica, e de modo
específico, sobre currículo médico e as dimensões de corpo, gênero e sexualidade. Da conexão
entre esses temas, o presente trabalho objetivou analisar como o corpo, gênero e sexualidade
são acionados no Projeto Político Pedagógico (PPC) do curso de medicina da Unidade
Acadêmica de Ciências da Vida UACV/CFP/UFCG (Campus de Cajazeiras). Para dar conta
dessa proposta de investigação, fundamentamos o referencial teórico-metodológico nos
estudos pós-críticos sobre currículo. Tomamos como objeto de análise documental as DCN de
2001 para o curso de graduação em medicina e o PPC do curso em questão. Argumentamos
ser múltiplas as formações discursivas das normativas e diretrizes oficiais, científicas,
biológicas/biomédicas, sociais, pedagógicos que entram em disputa na composição
curricular para a abordagem de saberes sobre gênero e sexualidade.
PALAVRAS-CHAVE: Currículo. Formação médica. Gênero. Sexualidade. LGBTQIA+.
RESUMEN: El presente estúdio forma parte de las discusiones sobre la formación médica, y
especificamente, sobre el currículo médico y las dimensiones de cuerpo, género y sexualidade.
A partir de la conexión entre estos temas, el presente trabajo tuvo como objetivo analizar como
el cuerpo, el género y la sexualidade se activan em el Proyecto Político Pedagógico (PPC) de
la carrera de medicina de la Unidad Académica de Ciencias de la Vida UACV/CFP/UFCG
(Campus de Cajazeiras). Para dar cuenta de esta propuesta de investigación, nos basamos em
el marco teórico-metodológico de los estúdios poscríticos sobre el currículo. Se tomó como
objeto de análisis documental la DCN de 2001 de la carrera de Medicina y el PPC de la carrera
em mención. Sostenemos que existem múltiples formaciones discursivas desde normas y
directrices oficialies, científicas, biológicas/biomédicas, sociales, pedagógicas que entran em
disputa em la composición curricular para el abrodaje de saberes sobre género y sexualidade.
PALABRAS CLAVE: Currículo. Formación médica. Género. Sexualidade. LGBTQIA+.
Fabíola Jundurian BOLONHA and Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 3
Introduction
"One afternoon, before we started the class, a student (doctor) told us details
about his consultation the day before. I was surprised by the lack of ethics and
by the details that were exposed naturally, exposing extremely homophobic
and transphobic content, and supported by speeches of other colleagues who
were present there, who laughed and debauched gay and trans patients who
came to them in search of care, in a performative staging of a true theater of
horror. One of them even said: "these trans people, I don't know what, they
need to be beaten up, and not to be seen by a gynecologist, no" and, right after
that, a doctor finished his colleague's speech: "a beating, I think is not
enough".
The report-transcribed account is an excerpt from doctoral research, and it exposes
LGBTphobia by a group of physicians, moments before starting a class in a graduate course in
health education in which they were enrolled. A graduate course whose teaching-learning
strategies were active methodologies based on constructivism, that is, the educational activities
were developed around critical-reflective analysis, dialogues, searches, encounters, and re-
signification. The teacher's presence in the room did not prevent embarrassment during the
report. They understood that from her white perspective (everyone there was white), she was
an equal white, heterosexual, and cisgender.
How can people to whom we entrust our lives and expose the intimacy of our bodies
ridicule and distill hate with such intensity? It reverberated in our imagination how the
consultation would have gone and how violent it would have been in many ways. The
protagonists of the above story are doctors who act as preceptors in internship and residency
programs. Thus, we are instigated to reflect on medical training and the models of teachers that
accompany medical students from the beginning to the end of their academic journey.
The Brazilian Constitution, through the Unified Health System (SUS), ensures the right
to health; however, when it comes to the demands and specificities in the health of socially
vulnerable groups - such as the Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Transsexual, Transvestite,
Queer, Intersex (LGBTQIA+) population - there are barriers before a conservative and
heterosexual-cisgender-normative society. Even after the implementation of the National
Policy for LGBT Integral Health (PNSILGBT) in 2011, access to health services by the
LGBTQIA+ population is described in the literature as characterized by obstacles ranging from
discriminatory care by health professionals, misinformation regarding the specificities and
rights of this population, and even physical violence during a consultation with the doctor,
which can give rise to an insurmountable barrier in accessing these essential services (SAADEH
Curricular violences: The (in)visibility of the LGBTQIA+ body in medical training
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 4
et al., 2018; GIANNA; MARTINS; SHIMMA, 2018; CALAZANS et al., 2018; LONGHI,
2018).
In parallel to the challenges of enforcing the rights acquired by the LGBTQIA+
community, most scientific articles published on the implementation of PNSILGBT bring
information about the implementation in capitals and large urban centers (SENA; SOUTO,
2017; CALAZANS et al., 2018) and it is recurrent for authors to highlight the need to include
in the training of medical professionals, aspects that are not merely biological about human
sexuality and health care with sexual minorities, either still in the undergraduate course or the
professional path in health services (RUFINO; MADEIRO, 2017; NEGREIROS et al., 2019).
The guarantee of trained health professionals who understand the demands of the
LGBTQIA+ population, who recognize the free exercise of sexuality as a human right to be
respected and promoted, who know that the health field is a space for welcome and respect,
especially when the people who seek it are in a situation of vulnerability, should be reflected in
the curricular guidelines, as well as in the Pedagogical Course Project (PPC) and described in
the menus of the theoretical and practical disciplines of health courses (BOLONHA et al.,
2022). This reflection corroborates Lionço (2008), who points out that health professionals
must have greater proximity to public policies and the specific issues of the LGTQIA+
population to qualify for services the various areas provide.
From this perspective, the present work aims to problematize how medical training,
expressed mainly in curriculum documents, creates an environment of violence - we bring as
an example the LGBTQIA+phobia by doctors described at the beginning of the article, and by
the "absent debates" in the context of professional training - especially regarding the denial of
diversities, the endorsement of binarisms and the positioning of life in the scenario of unequal
and excluding capitalist relations. Therefore, we take as the object of investigation the official
curriculum for the training of students of the Undergraduate Medical School of the Academic
Unit of Life Sciences - UACV/CFP/UFCG, where we will analyze how the dimensions of body,
gender, and sexuality constitute the Pedagogical Course Project (PPC); we aim to identify what
kind of medical subject is produced by this curriculum and if this subject dialogues with the
performance required by the Unified Health System (SUS) regarding the care of the
LGBTQIA+ population.
Fabíola Jundurian BOLONHA and Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 5
Methodological inspirations
To achieve the proposed objectives that investigate the relations that are present in the
curriculum, body, sexuality, and gender, the methodological inspirations were in the theoretical
and methodological approaches of post-critical research in education. The post-critical theories
in education question the knowledge (and its effects of truth and power), the subject (and the
different modes and processes of subjectivization), the educational texts (and the different
practices that these products and institute), and discussed, also, issues of gender, ethnicity, race,
sexuality, age (PARAÍSO, 2004; SILVA, 2017). Thus, studying the curriculum by this post-
critical theory promotes looking at any curriculum or discourse as an invention. And more, it
instigates us to make other inventions to enrich this curricular territory with new meanings. In
the wake of the relations of knowledge and power, science, the university, especially the
curriculum and the healthy subjects, are constituted.
We carried out a documental analysis of the National Curricular Guidelines (NCG) for
the undergraduate course in Medicine and the respective PPC. We emphasize that the DCN that
led to the elaboration of the PPC were those published in 2001; thus, these documents constitute
the central objects of this analysis.
In the discussion proposed here, the medical course curriculum functions as the
articulation device between asymmetric power relations headed by the State, the Market, and
the practices of knowledge materialized in medical procedures that affect the bodies of subjects
and populations. For Foucault (2017), the body is essential to power - "All power is physical,
and there is a direct connection between the body and political power" (FOUCAULT, 2017, p.
15, our translation). The organizer, the inflection point of this circulation of knowledge, and the
regime of truth produce what is false and what is true. In the words of Veiga-Neto (2002, p.
165, our translation), "[...] to the extent that the curriculum operates the distribution of
knowledge - placing and arranging it, hierarchizing it, tinting them and classifying it, assigning
values to it - it establishes the background for everything else (in the world) to be understood
geometrically".
The curriculum results from how education is seen, with hegemonic socioeconomic,
political, and cultural contexts and references at a given moment. It plays a role in forming and
guiding professional practices involved in a web of relationships, conflicts, power, interests,
normativity, and possibilities.
Curricular violences: The (in)visibility of the LGBTQIA+ body in medical training
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 6
We can understand, in this way, that education has been a strategic instrument to meet
a (given) model of normativity, whether religious or secular, liberal or neoliberal, serving the
current sociopolitical order.
The DCN for the medical course and the management of the PPC - which meetings and
mismatches are promoted?
The DCN for health courses resulted from a political, cultural, institutional, and
educational process. Examples of these processes are the Federal Constitution of 1988, which
made public the creation of a health system - the SUS, and the Law of Directives and Bases for
National Education (LDB) No. 9394/1996 allowed the flexibility of educational curricula.
Between 2001 and 2004, the Ministry of Education (MEC), in partnership with the Ministry of
Health (MS), through meetings of the National Health Council (CNS) and the National
Education Council (CNE), approved the DCN (2001). They are official documents that guide
Higher Education Institutions (IES) to prepare the PPC of health courses and, therefore, were
instituted with "the goal of offering a training that enables the qualification of health care,
contemplating the principles of the SUS" (COSTA et al., 2018, p. 2, our translation).
Social movements, organized around the sanitary reform, contributed to the
institutionalization of the process of health training in the country so that the Federal
Constitution establishes, in its article 200, that the Unified Health System (SUS) is responsible
for "ordering the training of human resources in health" (BRASIL, 1988, our translation).
Raimondi et al. (2020) also note that the training of health professionals should therefore be in
line with the real health needs of the population. For this, the inclusion of the social
accountability
3
perspective was promoted as a central element for the paradigm of health
education for the new millennium. This reference is absent in the DCN of 2001 because it was
published in 2010.
The DCN of 2001 for the undergraduate medical course was revised and expanded - a
document composed of six pages and 14 articles was expanded to 14 pages and 41 articles in
the new DCN of 2014. The PPC of the undergraduate medical course at UACV/CFP/UFCG
approve in 2017, ten years after the beginning of the course, and it had the DCN of 2001 as its
3
This term must still be translated because it is not restricted to social responsibility. It is a commitment to
accountability, to a relationship that begins by welcoming the social and health concerns of communities, regions,
or nations for teaching, research, and service activities. It is characterized, therefore, by the need for educational
institutions to be engaged in improving the performance of health systems, adapting the essential professional
competencies to specific contexts and scenarios (FERREIRA et al., 2019).
Fabíola Jundurian BOLONHA and Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 7
theoretical reference. In addition to this point, the DCN of 2001 does not mention biological,
subjective, racial-ethnic, gender diversity, or sexual orientation. The absence of these terms in
the DCN of 2001 strengthens the discourses that fuel the medical curriculum that builds its PPC
based on these guidelines and whose basis is formed by hegemonic masculinities, which make
clear the gentrified and heteronormative potential of the behaviors presented.
According to these perspectives, the formative processes in health - teaching, research,
and extension - and the offer of health services should be built and guided in line with the
community's health priorities, including the most vulnerable. Remembering that the SUS brings
equity as one of its doctrinal principles, this refers to recognizing the diversity of population
groups with their specific needs, welcoming up to the limit of what the system can offer to all
(BRASIL, 1990). It is consensual the expectation that, in this way, the graduation in Medicine
must assume a commitment to training professionals capable of recognizing such differences
among their patients to promote care guided by equity.
To dialogue in consonance with the principles of the SUS, the first National Curricular
Guidelines (DCN) for the Medicine Course were created in 2001 (Resolution CNE/CES no. 4,
of November 7, 2001). However, it is worth remembering that every curricular reformulation
uses symbolic strategies to create strong rhetoric to achieve the desired changes and to direct
the creation of knowledge, subjects, and realities. In the case of Medicine, these strategies are
expressed in the institution of the National Program of Incentive to Curricular Changes in the
Courses of Medicine (PROMED), which occurred in 2002 in a partnership between the Ministry
of Health and the Ministry of Education (BRASIL, 2002), and the National Program of
Reorientation of Professional Training in Health (Pro-Health I) in 2005
4
. These programs aim
to encourage medical schools all over the country to incorporate significant pedagogical
changes in the curricula of medical courses, reaffirming the National Curricular Guidelines of
2001. Finally, it is evident the imminent articulation between Educational Institutions, Public
Policies in Education, and Health to adapt health education according to the population's needs,
demands, and characteristics.
These Directives assume a regulation and control profile observed when defining the
curricular contents of the PPC of the undergraduate course in Medicine, affirming:
Article 6º. The essential contents for the Medicine Undergraduate Course
must be related to the entire citizen, family, and community health-disease
process, integrated into the epidemiological and professional reality,
4
Available at: https://www.pucsp.br/prosaude/sobre_o_pro_saude.html. Access: 10 Dec. 2022.
Curricular violences: The (in)visibility of the LGBTQIA+ body in medical training
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 8
providing the integrality of care actions in medicine (BRASIL, 2001, p. 03,
our translation).
By calling the contents they select essential, this curriculum includes specific forms of
knowledge and expertise in its proposal. When defining the contents considered adequate for
medical education, this curriculum excludes other knowledge or places them as less important
in its proposal, such as, for example, fixing itself in biologizing contents about the bodies
without considering human diversity. Thus, the content takes disease as a natural, biological
process and do not give due importance to the social, the collective, the public, and the
community as fundamental to medical education, nor see them as implicated in the health-
disease process. By excluding this knowledge, by considering it inadequate or less important
for medical training, an immeasurable amount of the population suffers the violence of
invisibility, of having their health care underestimated and inefficient. That is, it is fundamental,
for example, the debate about violence against women, sexism, racism, and LGBTphobia in
articulation with the social markers of difference in the health-disease-care process and health
care organization.
After the elaboration of the PNSI-LGBT in 2011, this content was reviewed by the DCN
of 2014, and its importance is recognized, being incorporated into the new DCN; however,
without guidance on how should address it and in which curriculum components it should be
worked (BRASIL, 2014). In addition to selecting content, the curriculum under discussion here
specifies what content should be related to a citizen, family, and community health-illness; child
and adolescent health; women's health (UFCG, 2017, p. 31). Thus, it imposes that medical
professionals should perform their services, taking into account that the responsibility of health
care does not end with the technical act but, rather, with the resolution of the health problem,
both at the individual and collective level.
According to Meyer (2003), in education, the curriculum is one of the central elements
in the debates about the school - in a broad sense and its social meaning. The critical educational
theorization, long ago, consolidated the idea that the curriculum does not involve only technical
issues related to teaching content, teaching procedures, methods, and pedagogical techniques,
as it was conceived by the technicist pedagogies of the 70s or '80s, emphasizing that it is a
social and cultural artifact that needs to be understood and discussed considering its historical,
social and linguistic determinations. It is emphasized that to guarantee this expanded view of
health care by physicians, the DCN defines strategies to be incorporated into medical curricula,
aiming to lead to the acquisition of skills and attitudes by graduates of medicine. This is
Fabíola Jundurian BOLONHA and Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 9
observed in the determinations provided in Article 12 of the 2001 Resolution, which determines
the early insertion of students in practical activities.
Here it is valid to point out that since this guideline calls for the insertion of students in
the health service networks, it aims to form a subject that is not restricted to the isolation of the
private office. This is reaffirmed in the course's PPC, which describes in its profile "[...] that its
central formative axis is primary and secondary health care, in addition to the technical
competence that involves intervention in what is most prevalent in the field of urgencies and
emergencies and tertiary care" (UFCG, 2017, p. 27, our translation).
On the other hand, placing students as responsible for performance in topics denied to
them in theory and, in practice, such as gender, diversity, and sexuality, without compromising
the learning and quality of care provided is arguably unfeasible. It is also worth mentioning that
students are supposedly being invited to visit the "reality" of the medical service and, thus, "put
their hands to the wheel" and learn, also, from the model of preceptors and other health
professionals who, in all probability, had a deficient medical training curriculum in these topics
and reflections, generating a deficient and excluding health care. The responsibility of a practice
without a theoretical foundation is then transmitted to the students. The expectation of the
existence of a medicine sensitized to the diversity of biological and social bodies, diversity in
its broadest sense, is generated, but it is not realized in theory or practice.
The students and most of the Brazilian society is deeply marked by heterosexual-
cisgender-normativity, with preconceptions and readings of bodies conceived within this
normative standard. To promote humanized, integral care with equity and efficiency, it is
unquestionably essential to work with curricular contents that promote the deconstruction of
this normativity before these students call to the practice field. Furthermore, we observe that
the students who graduate from this PPC are denied academic life experiences that bring them
closer to the profile of the generalist doctor, humanized, who places themself in practice and
existence beyond the asymmetrical relations of knowledge and power.
The dimensions of body, gender, and sexuality are inserted in the PPC
Analyzing the PPC, we observe that these dimensions are mixed - body, gender, and
sexuality are inserted in diffuse discourses; in some moments, I captured the body in the
analysis, and, therefore, this crosses gender and, consequently, crosses sexuality. When
thinking about the history of producing knowledge about the bodies, Veiga-Neto and Lopes
(2007) point out that, for Michel Foucault, the forces he named power to act on what the subjects
Curricular violences: The (in)visibility of the LGBTQIA+ body in medical training
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 10
have of most concrete and material; that is, their bodies. If it was possible to constitute
knowledge about the body, it was through a set of military and school disciplines. And from a
power over the body, possibly a physiological, organic knowledge (FOUCAULT, 2014, p. 148-
149, our translation).
The body structure, without identity, appears in the menus of the disciplines loaded with
a biological vision, marked by morphofunctional regulations of the human body and,
corroborating this statement, I bring the examples: Objectives of discipline M3 - "Physical and
Chemical Principles of the Human Being" CH: 180, Cr: 12: "Describe and distinguish the
molecular components of the human body"; Objectives of discipline M4 - "Cell and Tissue
Biology and Physiology" CH: 120, Cr: 08: "Describe and distinguish the organization and
functions of the different cellular and tissue elements of the human body"; Syllabus topic and
Objective of discipline M6 - Human Anatomy CH: 60, Cr: 04: "Division of the body (planes
and axes); macroscopic anatomy of the different body systems; identify, name and characterize
the various structures of the human body" (UFCG, 2017, p. 49, our translation).
This body as structure, as an object, is presented to medical students in the first period
of the course through anatomy pieces, histology slides, and molecular descriptions in
biochemistry. It is not the body like the ones the students see on the street, at home, on
television, in social networks, and in their social relationships. It is a body, structure, or object
only in the practical and theoretical classes of these disciplines and books. About this body, an
object is taken as "unique" and "true" at the beginning of the course; my thoughts go towards
bodies that occupy places that do not belong to any space.
Foucault (2013) calls the utopian body the body without a body, the embodied body,
and in this sense, he uses as an example the bodies of mummies, which persist through time, a
utopia of the dead. What are the parts and devices for simulations related to the physical
examination in the clinical skills laboratory (UFCG, 2017, p. 17); the synthetic anatomical
parts, the cadavers, and their mutilated parts used in anatomy classes (UFCG, 2017, p. 55), the
histological slides, if not utopian bodies, dead people whose utopia of bodies is offered for
academic study, of medical students? This questioning arises from the fact that utopias narrate
a place that does not exist (the body of the deceased and its butchered limbs; the histological
slides) and blossom in an imaginary space and, therefore, "lie in the straight line of discourse,"
for, language intersects with space. In this way, students start the course in utopias and
heterotopias, among discourses and knowledge that articulate the visible and the enunciable -
language, the look, and space. In this way, health is not only the absence of disease since the
Fabíola Jundurian BOLONHA and Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 11
human being is a body that is a machine, and all explanations about the patient will be given
from an "empty body" and divided into parts whose mysteries of functioning only the doctor
masters. Healthy means functioning perfectly in the predictable machinery accessible to the
physician's understanding - but only to him as a professional, not to other health professionals.
And even less to the patients themselves.
We consider it essential that, concomitant to the study of the "incorporate" body, the
body in its historical, social, and cultural aspects and its diversities be worked on. The sum of
these aspects that make up the bodies that the students will find in the articulation between
theory and practice of the course because to work on merely biologized and gentrified bodies
is to refer to the use of utopias in which bodies emerge and others that annul bodies.
Later in the course, the students enter the clinic and see "real bodies" in the theoretical
and practical classes, never meeting the objectified body they have learned so far. Bodies,
among them, that of the woman; it is observed in the PPC that there is the construction of a
stigma of "natural" / "normal" differences between bodies, which implies the attribution of a
particular body to women. And this calls attention to the fact that the medicalized body has
become a privileged referent for constructing gentrified personal identities. We refer to the
subject Women's Health that is intended to teach Gynecology and Obstetrics (UFCG, 2017, p.
90) offered in the 8th period of the course, being marked by terms such as "pregnancy
diagnosis"; "Physiological modifications of pregnancy"; "Childbirth"; "Obstetric surgeries";
"Gynecological semiology"; "Physiology of the menstrual cycle"; "Infertility"; "Breast
diseases"; "Vaginal discharge"; "Sexually transmitted diseases"; "Cervical, Vulva, Vagina and
Ovarian neoplasms" (UFCG, 2017, p. 90, our translation).
This reading shows that women's health is reduced to the merit of "Clinical, diagnostic
and therapeutic approach to the main diseases in women's health". The very definition of
women's health seems distorted to me. The objectives of this discipline reveal the mechanistic
view of the reproductive system - how the parts are, how they fit together, how they work to
reproduce, and allocating the knowledge to the ability to reproduce, without discussing sexual
organs, but rather, reproductive organs/system. It is also possible to recognize that, from the
2nd to the 8th period of the course, the student continues to be led by a reading of bodies
destined to serve as reproductive matrices, objects of the patriarchy installed in Brazil since the
colonial period, reduced to their genitals and breasts.
Women's medicine has no correspondent for men. Men are pulverized throughout the
curricular components, broken down into prostate and sexual performance: "Basic androgeny:
Curricular violences: The (in)visibility of the LGBTQIA+ body in medical training
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 12
impotence, male infertility, and premature ejaculation" (UFCG, 2017, p. 80, our translation) -
excerpt from the menu of Surgical Clinic I in the Urology unit. Bearer of a phallus, the man is
summarized to this and prostate; that is, he is seen as a body that must enjoy (potency) and
fertilize. Also, women should gestate and breastfeed, disregarding any other aspects that refer
to their sexuality. The course students are not provoked to reflect and expand the reading about
female bodies when female orgasm, sexual orientation, contraceptive methods, family
planning, optional and elective hysterectomy, transgender women, transgender women,
travesty, and transgender men, for example, are excluded.
Supported by this essentialism, naturalism, and biologics, misogynistic thinking
confines women to the biological demands of reproduction on the assumption that by certain
specific biological, physiological, and endocrinological transformations, women are somehow
more bodily and more natural than men. Above all, by ensuring the reading of men's bodies as
Urology (Surgical Clinic I) (UFCG, 2017, p. 80) and women's bodies as Women's Health, this
curriculum updates forms of heteronormativity in medical discourse, presupposing two types
of bodies gentrified as natural and complementary to each other and organizing the very nature
of sexuality.
One can also observe a pulverization of the age dimension of the body in the curricular
components, not paying attention to the specificities of the elderly body about the crossings of
gender, sexuality, and health. Contradictorily, these groups excluded from the curriculum have
their specificities masked from the concept of family health, which works as a biopolitical
instrument since it intends to be directed to a normative group of people and not to the
specificity of each one of their bodies. Many times, the LGBTQIA+ person is thrown out of the
house, resigning the concept of family, and what is the concept of family for Family and
Community Health? We run into another hegemonic standard, that of family formation.
Analyzing speeches in the objectives of the subject Child and Adolescent Health,
offered in the 8th period of the course, with 120 hours of course load, we highlight "risk
factors,"; "etiopathogenesis of diseases,"; "physiology and pathophysiology"; "set of
complementary tests" and "appropriate therapy, pharmacological or surgical" (UFCG, 2017, p.
89, our translation).
The observed discourses are biologizing and deal with these bodies as reservoirs of
diseases and comorbidities, bodies with urgency for treatment and normalization. Themes such
as transgenically, intersexuality, homosexuality, and transvestism, bisexuality in a way beyond
age group arise in a taxonomy that hierarchizes, subalterns, pathologizes, medicalizes, and
Fabíola Jundurian BOLONHA and Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 13
mutilates subjects, automatically considers abnormal, out of place, strange, abject and,
therefore, treatable/correctable by Medicine. A course that aims to provide a general education
based "[...] also in humanistic sensitivity and social responsibility [...]" (UFCG, 2017, p. 258,
our translation) does not achieve this goal when it silences these bodies throughout the analyzed
PPC. It is violently denying the existence of these people and denying doctors in training and
graduates the knowledge about these existences and weakening the formation of these
professionals. Thus, LGBTQIA+ subjects continue to be invisible in health issues and actions
in our society.
In the curriculum, "different cultures and languages confront each other, and teachers,
students, and administrators often differ about the learning and practices that should be chosen
and valued" (MEYER; KRUSE, 2003, p. 337, our translation). My search for intersex bodies,
using descriptors such as hermaphrodites and gender ambiguity, yielded no results. Perhaps one
justification for the absence of content on hermaphroditic beings may be associated with
biological theories, which hold that there is no room for someone with both sexes/genders, only
people with one sex and its assumed corresponding gender. Thus, it is in the body of people
with sexual ambiguity or who leave room for this kind of doubt that Medicine will focus its
attention, promote intervention and create a way to interpret the sexes.
From the 9th to the 12th period of the course, students go through the supervised
curricular internship corresponding to the internship. The internships are in Clinical Medicine
I and II - this occurs in Emergency Departments, ICU, and Wards; Clinical Surgery; Pediatrics
I and II and in this context, there is a repetition of the content and objectives of the internship
in Clinical Surgery, and I believe it is a documentary error because the purposes of this
internship (Pediatrics) are defined as "apply theoretical and practical knowledge in medical
procedures in general surgery and anesthesia" (UFCG, 2017, p. 95, our translation) however,
the basic and complementary bibliography is specific to pediatrics and neonatology;
Gynecology and Obstetrics whose objectives are to apply theoretical and practical knowledge
acquired in Women's Health and finally, Collective Health I and II whose objectives are:
Promote the integration of students into primary health care services, focusing
on integrality, valuing the development of technical competence, humanistic
sensitivity, and social responsibility necessary for the general practitioner
(UFCG, 2017, p. 97, our translation).
It is evident that, at this stage of the undergraduate course, the internship student is the
preferred medical subject, who, in theory, dialogues with the profile of the medical subject
Curricular violences: The (in)visibility of the LGBTQIA+ body in medical training
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 14
required by SUS and determined by the DCNs. In this way, a cycle involves the SUS with its
Public Health Policies, the Public Education Policies along with the DCNs, the Higher
Education Institutions along with their PPCs, and the health professionals along with their
performance in the SUS.
However, we observe that the medical subject that this training curriculum produced
was a normalized and normalizing medical subject whose gaze and actions were directed to
normalized bodies in their biology and sexuality.
We take the PPC of the undergraduate medical course at UACV/UFCG as a pedagogical
artifact that constitutes the subjects in formation. The observed discourses are biologizing and
without guidelines of gender, sexuality, age, or social aspects. Since the curriculum is a
powerful tool that shapes the thoughts, behaviors, and decision-making of the subjects, it
demonstrates a path of construction of medical subjects conditioned to a selective, purely
biological, and gendered look over these bodies - bodies with vulva, vagina, uterus, and ovaries;
bodies reduced to the phallus and its performance; bodies of the child or adolescent and the
elderly.
We recognize that a medical training curriculum cannot be made without the curricular
components about the biological dimensions (for example, the disciplines of anatomy,
histology, embryology), pathophysiological, propaedeutic, therapeutic, and finally, this is
unquestionable. However, what is debatable is, do we need only these teaching-learning
dimensions to train our physicians? This content excludes lives, excludes dissident bodies, and
this exclusion prevents us from having effective, humanized, generalist graduates capable of
working in the SUS and exercising the principles of equity and integrality. In this way, the
health system's quality is supposed to be synergistic with the training of its professionals
because the training of health professionals should reflect the constantly changing reality. Thus,
it would guarantee universality, where the specificities of a nation would be, on the other hand,
contributing to the effectiveness of the system that receives and serves it. It was in the biological
that the curricula were kept for a long time, and it is desired to move to the biopic social model.
However, they are still laden with biologizing and masculine discourses, where power relations
operate and hold strong, embracing an effective system.
The course analyzed follows the norms committed to a logic where there is valorization
of reproductive biological life that promotes the basis of health care - the DCN of 2001. And
these subjects produced in this masculine, heterosexual, cisgender normative norm, are
constituted as professionals of fragmented care, because they follow a health training model
Fabíola Jundurian BOLONHA and Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 15
strongly influenced by the biomedical model of teaching. It is not only this biological
worldview that easily dictates the rules in curriculum, but by the way it relates to other formative
aspects, creating an image that is set for social relations. What we observe is a biological base
that is often placed isolated and dictating the paths. A medical training curriculum that selects
the bodies it will welcome into its care is an example of curricular violence that reinforces and
perpetuates the system of asymmetrical power relations.
Final considerations
Medicine dominates a knowledge - legitimated by scientific power - about the human
body, imposing an ideal and healthy state - the norm - of how we should be and be in the world.
Suppose, by any chance, we deviate from the idealized "natural" state in which we should
present ourselves and behave. In that case, we are soon surrendered and led to the clinical gaze
of medicalization, the only "gaze" capable of (re)leading us to the greater imperative of
normalization. We are always being watched; our bodies are always being watched and labeled,
normalized, and disciplined. We are born, and we die in disciplinary institutions - we are born
in a hospital, we are educated in schools and universities, we are "kidnapped" by the army and
the church, and we have to be trained for insertion in the labor market where we spend the rest
of our lives. If we go astray, we are led to insane asylums, rehabilitation clinics, and prisons,
and finally, we die in a hospital. We are always in one or some of these institutions that aim to
make us docile, useful, healthy, and disciplined individuals. In this microphysics, the medical
discourse acts as an authorized, unquestionable expression of knowledge power.
Let's pay attention to the fact that the choice of content to be worked on in the classroom
is not a neutral field. Instead, it is connected, among other things, with the personal points of
view, moral values, with the political and religious choices of the professionals involved in this
process.
We understand that there are multiple discursive formations - from official norms and
guidelines, scientific, biological/biomedical, social, and pedagogical - that enter into the dispute
in the curricular composition for the approach of knowledge about gender and sexuality that
end up silencing LGBTQIA+ bodies in medical education, silencing diversity or difference.
Following this argument, we identify that the production of doctors by the curriculum of the
UACV/UFCG triggers articulated strategies and techniques of power, still centered on the
Curricular violences: The (in)visibility of the LGBTQIA+ body in medical training
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 16
biomedical model, ensuring, as an institution of power, the maintenance of relations of
domination and effects of hegemony.
REFERENCES
BOLONHA, F. J. et al. Barreiras de acesso aos serviços de saúde enfrentadas pela população
trans no Brasil: uma revisão narrativa. NASCIMENTO, A. R. S. et al. (org.). Nem tudo é
arco-íris: interfaces de saúde da população LGBTQIA+. João Pessoa: Ative, 2022. E-book. p.
93-104. DOI 10.29327/562998. Available: https://editoraative.wixsite.com/editoraative.
Access: 9 Sept. 2022.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado Federal, 2016. 496 p. Available:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf.
Access: 24 May 2022.
BRASIL. Ministério da Saúde; Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Lei Orgânica da
Saúde. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
Brasília, DF: MS, 1990. Available: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm.
Access: 24 May 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução n. 04 do CNE/CES, de 7 de novembro de
2001. Dispõe sobre as diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação em
medicina. Brasília, DF: MEC, 2001 Available:
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES04.pdf. Access: 24 May 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Ministério da Saúde. Portaria Interministerial n. 610, de
26 de março de 2002. Institui o Programa Nacional de Incentivo a Mudanças Curriculares
nos Cursos de Medicina (PROMED). Brasília, DF: MEC, MS, 2002. Available:
http://www.pp.ufu.br/Port_Inter.htm. Access: 10 July 2021.
CALAZANS, G. J. et al. A experiência de Implantação da Política de Saúde Integral para
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) no município de São Paulo. BIS
Boletim do Instituto de Saúde, v, 19, n. 2, 2018.
COSTA, D. A. S. et al. Diretrizes curriculares nacionais das profissões da Saúde 2001-2004:
análise à luz das teorias de desenvolvimento curricular. Interface, v. 22, n. 67, Oct./Dec.
2018. DOI: 10.1590/1807-57622017.0376. Available:
https://www.scielo.br/j/icse/a/GZsw79s7SZGBXZ3QNBhNppn/abstract/?lang=pt. Access: 15
Sept. 2022.
FERREIRA, M. J. M. et al. Novas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de
Medicina: oportunidades para ressignificar a formação. Interface, Botucatu, v. 23, n. Supl. 1,
e170920, 2019. DOI: 10.1590/Interface.170920. Available:
http://old.scielo.br/pdf/icse/v23s1/pt_1807-5762-icse-23-s1-e170920.pdf. Access: 15 Sept.
2022.
Fabíola Jundurian BOLONHA and Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 17
FOUCAULT, M. O corpo utópico: As Heterotopias. São Paulo: N-1 Edições, 2013.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: Nascimento da prisão. Tradução: Raquel Ramalhete.
Petrópolis, Vozes, 2014. 302 p.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Organização e revisão de Roberto Machado. 5. ed.
Rio de Janeiro; São Paulo: Paz e Terra, 2017.
GIANNA, M. C.; MARTINS, R. B.; SHIMMA, E. Ambulatório de Saúde Integral para
Travestis e Transexuais: desafios e realizações. BIS. Boletim do Instituto de Saúde, São
Paulo, v. 19, n. 2, p. 98-104, 2018. DOI: 10.52753/bis.2018.v19.34595. Available:
https://periodicos.saude.sp.gov.br/bis/article/view/34595. Access: 9 Sept. 2022.
LIONÇO, T. Que direito à saúde para a população GLBT? Considerando direitos humanos,
sexuais e reprodutivos em busca da integralidade e da eqüidade. Saude soc., São Paulo, n. 2
p. 11-21, jun. 2008. DOI: 10.1590/S0104-12902008000200003. Available:
https://www.scielo.br/j/sausoc/a/NdCpsvRwnJVYHZhSwRNhnfs/?lang=pt. Access: 9 Sept.
2022.
LONGHI, M. P. Ampliando o olhar para a população LGBT em um grupo de discussão com
trabalhadores de saúde: potencialidade e desafios. BIS Boletim do Instituto de Saúde, v. 19,
n. 2, p. 116-124, 2018.
MEYER, D. E.; KRUSE, M. H. L. Acerca de diretrizes curriculares e projetos pedagógicos:
um início de reflexão. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 56, n. 4, p. 335-339, 2003.
DOI: 10.1590/S0034-71672003000400002. Available:
https://www.scielo.br/j/reben/a/69S9Mz8Fyw5S8NRwrCLDPbs/abstract/?lang=pt. Access: 9
Sept. 2022.
NEGREIROS, F. R.N. et al. Saúde de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais:
da Formação Médica à Atuação Profissional. Rev. bras. educ. med., Brasília, v. 43, n. 1,
p. 23-31, mar. 2019. DOI: 10.1590/1981-52712015v43n1RB20180075. Available:
https://www.scielo.br/j/rbem/a/tfbkrZY79FzFFHCnHpcffCw/abstract/?lang=pt. Access: 9
Sept. 2022.
PARAÍSO, M. A. Pesquisas pós-críticas em educação no Brasil: esboço de um mapa.
Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 122, p. 283-303, 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-
15742004000200002. Available:
https://www.scielo.br/j/cp/a/JrF5H8r96wRTvTDLSzhYpcM/abstract/?lang=pt. Access: 9
Sept. 2022.
RAIMONDI, G. A. et al. Análise Crítica das DCN à Luz das Diversidades: Educação Médica
e Pandemia da Covid-19. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 44, n. Suppl. 1, e135,
2020. DOI: 10.1590/1981-5271v44.supl.1-20200361. Available:
https://www.scielo.br/j/rbem/a/ptG7YLFjwNjmbgsj7KYBwjH/?lang=pt. Access: 9 Sept.
2022.
Curricular violences: The (in)visibility of the LGBTQIA+ body in medical training
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 18
RUFINO, A. C.; MADEIRO, A. P. 6 Práticas Educativas em Saúde: Integrando
Sexualidade e Gênero na Graduação em Medicina. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro,
v. 41, n. 1, p. 170-178, jan. 2017.
SAADEH, A. et al. AMTIGOS - Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e
Orientação Sexual, do IPq-HCFM/USP: proposta de trabalho com crianças, adolescentes e
adultos. BIS. Boletim do Instituto de Saúde, São Paulo, v. 19, n. 2, p. 86-97, 2018.
Available: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1016648. Access: 9 Sept.
2022.
SENA, A. G. N.; SOUTO, K. M. B. Avanços e desafios na implementação da Política
Nacional de Saúde Integral LGBT. Tempus actas de saúde coletiva, v. 11, n. 1, p. 9-29,
2017. DOI: 10.18569/tempus.v11i1.1923. Available:
https://www.tempus.unb.br/index.php/tempus/article/view/1923. Access: 9 Sept. 2022.
SILVA, T.T. Documentos de identidade: Uma introdução às teorias de currículo. 3. ed. 10.
reimp. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE (UFCG). Projeto Pedagógico do
Curso de Medicina UFCG. Campina Grande, PB: UFCG, 2017.
VEIGA-NETO, A. geometrias, currículo e diferenças. Educação & Sociedade, Campinas, v.
23, n. 79, p. 163-186, 2002. DOI: 10.1590/S0101-73302002000300009. Available:
https://www.scielo.br/j/es/a/t4HbTMmJ4tHrJMV8xNQXMvm/?lang=pt. Access: 9 Sept.
2022.
VEIGA-NETO, A.; LOPES, M. Inclusão e governamentalidade. Educação & Sociedade,
Campinas, v. 28, n. 100, p. 947-963, 2007. DOI: 10.1590/S0101-73302007000300015.
Available: https://www.scielo.br/j/es/a/CdwxsTyRncJRf8nmrhmYjsg/?lang=pt. Access: 9
Sept. 2022.
Fabíola Jundurian BOLONHA and Aldo Gonçalves de OLIVEIRA
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17818 19
CRediT Author Statement
Acknowledgments: Graduate Program in Education at the Federal University of Sergipe
(PPGED/UFS).
Funding: Not applicable.
Conflicts of interest: Not applicable.
Ethical approval: The work respected the research ethics. It did not pass through any
research ethics committee, since it is a documental analysis that does not involve human
beings.
Data and material availability: The data and materials that make up this research are in
the process of being made available in the Institutional Repository of the Federal University
of Sergipe - RI/UFS.
Authors' contributions: Fabíola Jundurian Bolonha: Development of the research and
writing of the article. Aldo Gonçalves de Oliveira: Guidance on the theoretical and
methodological foundations of the research; guidance for writing the text.
Processing and publication by the Editora Ibero-Americana de Educação.
Correction, formatting, standardization and translation.