RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023160, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17937 1
RECURSOS CRIADORES MOBILIZADOS NO FAZ DE CONTA DE CRIANÇAS
COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
RECURSOS CREATIVOS MOVILIZADOS EN EL IMAGINARIO DE NIÑOS CON
DISCAPACIDAD INTELECTUAL
CREATIVE RESOURCES MOBILIZED IN THE MAKE-BELIEVE OF CHILDREN
WITH INTELLECTUAL DISABILITIES
Fabrício Santos Dias de ABREU1
e-mail: fabra201@gmail.com
Daniele Nunes Henrique SILVA2
e-mail: daninunes74@gmail.com
Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA3
e-mail: mtmscosta@gmail.com
Fabiana Luzia de Rezende MENDONÇA4
e-mail: fabianaluzia.rezende@gmail.com
Como referenciar este artigo:
ABREU, F. S. D. de; SILVA, D. N. H.; COSTA, M. T. M. de S.;
MENDONÇA, F. L. R. Recursos criadores mobilizados no faz de
conta de crianças com deficiência intelectual. Revista Ibero-
Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00,
e023160, 2023. e-ISSN: 1982-5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17937
| Submetido em: 01/04/2023
| Revisões requeridas em: 16/05/2023
| Aprovado em: 22/06/2023
| Publicado em: 27/12/2023
Editor:
Prof. Dr. José Luís Bizelli
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF), Centro Universitário Estácio, Brasília DF
Brasil. Professor. Doutorado em Educão pela Universidade de Brasília (UnB).
2
Universidade de Brasília (UnB), Brasília DF Brasil. Professora do Instituto de Psicologia, do Programa de
Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Escolar (UnB) e do Programa de Pós-Graduação em
Educação (Unicamp). Doutora em Educação (Unicamp) e Pós-doutorado em Psicologia Social (PUC-SP). Bolsista
Produtividade do CNPq.
3
Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF), Brasília DF Brasil. Professora Aposentada.
Doutorado em Psicologia (UnB).
4
Secretaria de Estado de Educão do Distrito Federal (SEEDF), Brasília DF Brasil. Professora. Doutorado
em Psicologia (UnB).
Recursos criadores mobilizados no faz de conta de crianças com deficiência intelectual
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023160, 2023. e-ISSN: 1982-5587
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RESUMO: Este estudo investiga a brincadeira de crianças com deficiência intelectual, a partir
da Teoria Histórico-Cultural, com objetivo de problematizar a representação dos papéis, o uso
substitutivo dos objetos de apoio e a participação dos recursos corporais no brincar. Por meio
da pesquisa microgenética, com análise de um episódio de faz de conta, ocorrido em uma escola
blica brasileira, verificou-se que a brincadeira dos participantes envolveu assuão de
personagens e simbolização dos objetos para composição de cenários fictícios. Esse dado
aponta que esse público possui funcionamento imaginativo complexo, porém marcado por
especificidades que merecem ser investigadas.
PALAVRAS-CHAVE: Imaginação. Deficiência Intelectual. Brincar.
RESUMEN: Este estudio investiga el juego de niños con deficiencia intelectual, a partir de la
Teoría Histórico Cultural, con el prosito de cuestionar la representación de roles, el uso
sustitutivo de objetos de apoyo y la participación de recursos corporales en el juego. A través
de una investigación microgenética, con alisis de un episodio, ocurrido en una escuela
blica brasileña, se verificó que el juego de los participantes involucraba la asunción de
personajes y la simbolización de objetos para componer escenarios ficticios. Estos datos
señalan que este público tiene un funcionamiento imaginativo complejo, pero marcado por
especificidades que merecen ser investigadas.
PALABRAS CLAVE: Imaginación. Discapacidad intelectual. Jugar.
ABSTRACT: This study investigates the play of children with intellectual disabilities based on
the Historical Cultural Theory with the purpose of questioning: the representation of roles; the
substitutive use of support objects; and the participation of bodily resources in play. Through
microgenetic research, with analysis of an episode that occurred in a Brazilian public school,
it was verified that the participants' play involved the assumption of characters and the
symbolization of objects to compose fictitious scenarios. These data indicate that this audience
has a complex imaginative functioning but marked by specificities that deserve investigation.
KEYWORDS: Imagination. Intellectual Disability. To play.
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA e Fabiana Luzia de Rezende
MENDONÇA
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023160, 2023. e-ISSN: 1982-5587
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Introdução
Ao longo da produção intelectual de Lev Semionovitch Vygotski (1896-1934), a
imaginação constitutiva do sistema psicológico complexo é discutida sob diferentes vieses
e perspectivas conceituais, levantando diferentes indagações. Seria ela uma atividade, uma
função e/ou um sistema? Esse questionamento mais geral demonstra as diferentes facetas que
compõem o espectro teórico, que atravessa a obra do autor bielorrusso, acerca da referida
temática. Em alguns momentos, a imaginação é concebida como uma atividade especificamente
humana vinculada à ão criadora de transformação da natureza (VYGOTSKI, 2009;
VYGOTSKI, 2022). Em outros, a imaginação é uma função psicogica superior ligada aos
processos artísticos e catárticos (VYGOTSKI, 1999) e mais no final da obra Vygotskiana, a
imaginação é responsável pelo coroamento do sistema psicológico complexo (VYGOTSKI,
2012).
Na obra Psicologia Pedagógica (2010), por exemplo, o autor interessou-se pelos
aspectos que envolvem a educação estética: a instrumentalização pedagógica da arte, os limites
entre a moral e a arte, bem como os aspectos que envolvem a reação estética (a passividade e a
atividade na contemplação artística), trazendo contribuições importantes sobre a criação
artística na formação educacional das crianças. Já, em Psicologia da Arte (1999), Vygotski
problematizou a especificidade da obra de arte, a reação estética e o impacto da vivência
catártica no funcionamento psicológico. Sua ênfase destacava, entre outros, as intrínsecas
relações entre emoção e imaginação implicadas, catalisadas e canalizadas no processo criador
inerente à obra de arte.
Em 1930 (VYGOTSKI, 2022), Vygotski escreve um conjunto de textos sobre a
imaginação no desenvolvimento humano, colocando-a no centro das questões que envolvem o
que é especificamente humano. Essas ideias de Vygotski permitiram aos autores
contemporâneos defender a dimensão ontológica da criação (PINO, 2005, 2006; PEDERIVA;
TUNES, 2013; MAHEIRIE; ZANELLA, 2020, entre outros), posicionando a temática da
imaginação e da liberdade no centro das questões que preocupam a Teoria Histórico-Cultural
(SAWAIA; SILVA, 2015).
Outro aporte foi feito no âmbito dos estudos pedológicos (1931-1934). No texto
“Imaginação e criação do adolescente” (VYGOTSKI, 2022), por exemplo, o autor ressalta a
centralidade da imaginação para o sentido de liberdade, ao focalizar o desenvolvimento de
pessoas com comprometimentos no funcionamento superior. Aqui, Vygotski aponta que a
atividade imaginativa o se caracteriza como uma função primária, autônoma e meramente
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reativa do funcionamento psíquico do adolescente. Na idade de transição, a imaginação apoia-
se nos conceitos complexos, atuando de forma independente dos aspectos concretos, pois
funciona a partir do pensamento abstrato. Vygotski (2012) afirma categoricamente que, na
idade de transição, a imaginação coroa o sistema psicológico superior, como ressaltado
anteriormente.
A fantasia, portanto, não é a função primária, independente e orientadora do
desenvolvimento psíquico do adolescente, seu desenvolvimento é
consequência da função de formação de conceitos, consequência que culmina
e coroa todos os complexos processos de mudanças que o adolescente sofre
em sua vida mental (VYGOTSKI, 2012, p. 208-209).
A obra de Vygotski destaca-se pelo olhar otimista, inédito para a época, quando analisa
o desenvolvimento das pessoas com deficiência. Os textos em que expõe diretamente a temática
foram compilados, em 1983, no Tomo V das Obras Escolhidas Fundamentos de Defectologia
(1997, 2019). Com relação às crianças que apresentam alguma deficiência de ordem cognitiva,
os estudos sobre defectologia de Vygotski (1997) ressaltam que a diferença entre aqueles
considerados normais e os denominados “com deficiência” o se limita aos aspectos
quantitativos da inteligência, mas se refere às relações entre o meio, a estrutura orgânica e a
formação da personalidade (DIAS; OLIVEIRA, 2013). Para o autor, é essencial dar enfoque ao
funcionamento das funções psicológicas superiores, que deve ser entendido em termos
sistêmicos e dependentes das dinâmicas culturais.
O aprofundamento da ideia de funcionamento sistêmico das funções psicológicas
superiores, articulado à deficiência, é uma problemática que está no cerne da Teoria Histórico-
Cultural, afinal: “A patologia nos fornece a chave para entender o desenvolvimento e o
desenvolvimento, a chave para entender as condições patológicas” (VYGOTSKI, 2012, p. 206).
E, no campo do funcionamento imaginativo dentre as ltiplas atividades que envolvem a
criação na ontonese , o brincar parece-nos campo rtil de investigação para dar visibilidade
a essas intrincadas relações.
Para Vygotski, a emergência da situação imaginária na idade é um acontecimento
central para compreeno do desenvolvimento infantil. E não seria diferente para a criança com
deficiência. Seguindo esse argumento, neste artigo, indagamos: o que caracteriza o brincar das
crianças com deficiência intelectual? Quais recursos imaginativos elas mobilizam na
composição de suas brincadeiras?
Como resposta a essas questões, neste texto exploramos analiticamente o brincar de uma
criança com diagnóstico de deficiência intelectual, por meio da análise microgenética de uma
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA e Fabiana Luzia de Rezende
MENDONÇA
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cena de um episódio de brincadeira de faz de conta desenrolado no contexto de recreio de uma
escola pública da periferia do Distrito Federal (centro-oeste do Brasil). Tendo esse caso como
disparador, nosso objetivo é problematizar: 1) a assunção de papéis sociais e a vinculação
voluntária aos princípios que regem o comportamento encenado; 2) a utilização criativa e
substitutiva de objetos de apoio no decurso do ato de brincar; e 3) a atuação performática do
corpo na constituição da cena lúdica. A seguir, iremos explorar os aspectos teóricos que
mobilizam e sustentam a análise do episódio apresentado.
O brincar e a situação imaginária: a força motriz do desenvolvimento infantil
Duas questões são centrais para entender o brincar de faz de conta: a) sua origem no
desenvolvimento e b) qual o seu papel no desenvolvimento da criança. Essas duas questões
abrem o texto: “Le jeu et son rôle dans le veloppement psychologique de l’enfant
(VYGOTSKI, 2022) com uma indagação central: seria o jogo de faz de conta uma força motriz
do desenvolvimento ou uma atividade predominante da criança? Vygotski explica: o brincar
o é a atividade predominante, mas o fio condutor do desenvolvimento da criança.
Crítico das perspectivas que compreendem o brincar como uma atividade movida pelo
prazer, Vygotski enfatiza que a dimensão das necessidades, dos desejos e dos interesses da
criança mobilizam o desenvolvimento da ação. Na posição do autor, é fundamental entender
quais são os elementos que motivam a ação da criança e como eles estão articulados com cada
idade. No caso específico da criança entre aproximadamente 3-7 anos (idade pré-escolar),
Vygotski observa a emergência de um novo tipo de interesse: as tenncias não-realizáveis, os
desejos impossíveis de serem imediatamente satisfeitos e a possibilidade de se descolar do
campo perceptivo algo que o era possível de ser observado na idade anterior. Ele afirma:
“Parece-me que na idade pré-escolar, sem o amadurecimento de impulsos não-realizáveis, o
haveria o brincar” (VYGOTSKI, 2022). O que podemos dizer é que tais necessidades e desejos
o-imediatamente resolvidos caracterizam o desenvolvimento da situação imaginária.
A imaginação, neste caso, é a neoformação que está ausente na primeira infância, que
inexiste nos demais animais e aparece vigorosamente na situação imaginária. Aqui, importa
salientar que a conduta da criaa não está presa aos limites do evento concreto; ela se baseia
na generalização da sua relação afetiva, que emerge na situação imaginária. Isso, contudo, não
quer dizer que a criança tenha consciência dos motivos que a levam à situação imaginária. Ela
brinca porque é impelida à ação imaginativa.
Recursos criadores mobilizados no faz de conta de crianças com deficiência intelectual
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Mas o que importa no brincar de faz de conta? O que dá sentido à situação imaginária?
As regras que estão implicadas no próprio jogo, diria Vygotski. A brincadeira envolve
necessariamente um comportamento regulado pela criança, por meio de uma relação muito
particular com as regras socialmente constituídas. Que regras são essas? Primeiro, as regras de
comportamento, que não são previamente determinadas, mas desenvolvidas ao longo da própria
atividade. A criaa, então, quer ser professora e atua de acordo com as regras de
comportamento de uma professora; o modo como ela percebe, generaliza e vivencia a função
social de ser professora. A regra de comportamento guia a situação imaginária. Por isso, ele
afirma que não há situação imaginária sem regra. Para ele, dizer que a criança é livre, quando
brinca, é um equívoco interpretativo.
Uma outra característica do jogo de faz de conta é aquela que deriva do próprio objeto
que orienta a ação. Afinal, a criança age descolada daquilo que ela vê, pois a sua ação é guiada
pelo sentido que o objeto assume na situação imaginária. Um tijolo pode se transformar em um
rádio; um lápis pode virar um avião. Esse descolamento do campo perceptivo é possível
graças aos recursos linguísticos e expressivos que compõem a situação imaginária. Na primeira
infância, a palavra orienta-se no espaço, na configuração dos lugares que estão delimitados por
uma situação específica. Mas na idade pré-escolar, observamos, pela primeira vez, o
descolamento entre o campo semântico e o campo visual no desenvolvimento.
Desprender o pensamento (o significado da palavra) do objeto é uma tarefa
extremamente complexa para a criança. O jogo se torna uma forma de
transição para isso. No momento em que o bastão, ou seja, o objeto, torna-se
o ponto de apoio para destacar o significado do cavalo do cavalo real, neste
momento crítico uma estrutura psicológica fundamental é radicalmente
transformada, aquela que determina a relação da criança com a realidade
(VYGOTSKI, 2022, p. 225).
E o que permite a transformação do campo perceptivo para o campo semântico? É o
objeto de apoio, muitas vezes traduzido por objeto-pivô, que tamm configura a situação
imaginária.
A criança ainda não pode separar o pensamento do objeto, ela deve ter um
ponto de apoio em outro objeto, é aqui que se expressa a fraqueza da criança;
para pensar no cavalo, ela deve determinar suas ações com o cavalo com o
bastão como ponto de apoio (VYGOTSKI, 2022, p. 223).
O objeto é fundamental para o desenvolvimento da situação imaginária. E, com relação
a ele, é importante também considerarmos certas regras. Não o as regras sociais de
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA e Fabiana Luzia de Rezende
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comportamento, conforme exploramos anteriormente, mas as regras que circunscrevem o
próprio objeto.
Como destacamos, o funcionamento da regra do objeto está na prevalência de seu valor
semântico. Por isso, não é qualquer objeto que pode ser substituído na ação lúdica, mas apenas
um objeto que comporte certa relação com o significado da ação. O cabo de vassoura pode
desempenhar o papel de um cavalo, mas um envelope o pode representar um cavalo para a
criança. Existem conformidades entre o objeto de apoio e a situação imaginária. “Eu diria que
a criança, no jogo, opera com a ajuda do significado separado do objeto, mas isto é inseparável
de uma ação real com um objeto real” (VYGOTSKI, 2022, p. 254).
Leontiev (2012, p. 131), certa feita, exemplificou:
Quando uma criança sentada a uma mesa cria uma situação em que uma
pessoa caminhando representa, por exemplo, um médico correndo para
atender um paciente ou para ir a uma farmácia, um pis, uma vara ou um
palito podem igualmente representar a pessoa. Com esses objetos, a criança
pode executar, com êxito, a operação de mudar as posições, isto é, os
movimentos generalizados requeridos pela ação no brinquedo. Mas a questão
é outra quando a criança tem uma bola macia em suas os. A ação exigida
não pode ser executada com ela; o movimento carece da configuração
característica do “andar, e chega um momento em que a ação lúdica não é
mais possível. Portanto, nem todo objeto pode representar qualquer papel na
brincadeira, ou mesmo brinquedos podem desempenhar diferentes funções,
dependendo de seu caráter, e participar diferentemente da estrutura do jogo.
Para evitar o retorno, especialmente a este ponto, anotemos, de passagem as
principais diferenças que distinguem, nesse aspecto, os rios objetos de
brinquedo.
Todas as considerações elaboradas, até aqui, permitem-nos afirmar que a situação
imaginária se desenvolve a partir daquilo que as crianças vivenciam direta ou indiretamente
em sua relação com a cultura, tal como apresentado na ideia Vygotskiana (ver: a primeira Lei
da relação entre imaginação e realidade em Vygotski, (2022)). Isso nos ajuda a entender que as
regras de comportamento e as regras do objeto, que compõem a situação imaginária, emergem
da cultura. Ocorre que as crianças não se restringem à determinação cultural, pois seus modos
de (re)produção do real implicam certa elaboração criadora. A criação implicada no jogo de faz
de conta nos remete a rias questões teóricas sobre o papel da imaginação uma neoformação
no desenvolvimento infantil. Aqui nos instigam, particularmente, os aspectos envolvidos nos
modos de elaboração sobre o real, via processos criadores, que estão implicados no
desenvolvimento da criança com deficiência intelectual.
Recursos criadores mobilizados no faz de conta de crianças com deficiência intelectual
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O brincar da criança com deficiência intelectual na Teoria Histórico-Cultural
Nos textos organizados no livro Fundamentos de Defectologia (trabalhos publicados
entre 1924-1935), Vygotski (1997, 2019) abordou o problema do sistema funcional complexo.
Sua análise qualitativa sobre o desenvolvimento atípico é, sem dúvida, revolucioria para a
época. De acordo com ele, não é possível definir até onde uma criança vai se desenvolver, e a
limitação orgânica em si não é limitadora, nem mesmo impeditiva para a emergência de fuões
intelectuais. Pelo contrário, devemos nos atentar para emergência de áreas potentes do
desenvolvimento que aparecem nas crianças com deficncias, porque os processos
compensatórios são mais pungentes nelas.
No capítulo “O problema do atraso mental” (1997) um dos últimos textos escritos pelo
autor , Vygotski apresenta, contudo, uma visão um pouco pessimista sobre o desenvolvimento
das crianças comprometidas intelectualmente. Ele afirma que “o pensamento abstrato, assim
como a imaginação, exige uma particular fluidez e mobilidade dos sistemas psicológicos e,
naturalmente, é por isso que em ambas as áreas em particular estão incompletamente
desenvolvidas na criança com retardo mental” (VYGOTSKI, 1997, p. 258).
O mesmo tom pessimista aparece no texto sobre o brincar intitulado “O papel do jogo
no desenvolvimento psicológico da criança” (VYGOTSKI, 2022). Nele, Vygotski (2022, p.
297) aponta que as pesquisas mostram que o é apenas quando estamos lidando com crianças
com desenvolvimento intelectual insuficiente que a brincadeira o se desenvolve, mas também
com crianças cuja esfera afetiva não está suficientemente desenvolvida”.
Essas duas citações quando desarticuladas do contexto geral da obra poderiam nos
dar a impressão de que Vygotski foi contraditório porque, de certa maneira, ele estaria
enfatizando as limitações irreconciliáveis entre o desenvolvimento da criança com atraso
mental e o funcionamento imaginativo. Mas, a partir dessa premissa, seria incoerente com o
conjunto argumentativo defendido em sua obra sobre as questões defectológicas.
Em nossa opinião, Vygotski está, na verdade, demonstrando que , sim,
especificidades no pensamento abstrato da criança com deficiência intelectual, o que traz
implicações aos seus processos criadores. Ele fala em termos de áreas incompletamente
desenvolvidas, mas o elabora exaustivamente o que estava querendo dizer, deixando brechas
para más interpretações. Em suma: o que ele queria dizer por áreas incompletamente
desenvolvidas? Quais são essas implicações?
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA e Fabiana Luzia de Rezende
MENDONÇA
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023160, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17937 9
Para aprofundar esse debate, propomos, neste artigo, colocar em tela o brincar de faz de
conta da criaa com deficiência intelectual, entendendo que a situação imaginária é a força
motriz (atividade-guia) do desenvolvimento infantil.
Método
Na busca por compreender os aspectos que compõem o brincar de faz de conta de
crianças com diagnóstico de deficiência intelectual, optamos por uma metodologia filiada ao
legado de Vygotski. Para o autor (2018, p. 37), o método significa o modo de investigação (ou
de estudo) de uma parte definida da realidade: “é o caminho do conhecimento que conduz à
compreensão de regularidades científicas em algum campo”. Para tanto, as bases que regem
essa investigação encontram-se ancoradas no materialismo histórico-dialético, que permite
desvelar a aparência do objeto estudado a fim de interpretá-lo à luz teórica e analítica.
Interessam-nos “os indivíduos reais, suas ações e suas condições materiais de vida, tanto
aquelas por eles já encontradas como as produzidas por sua própria ação” (MARX; ENGELS,
2009, p. 87).
Para as observações, registros e decomposição dos dados, também, seguimos as
orientações de Vygotsky (2010) que pressupõem a seleção refinada do olhar do pesquisador
para a seleção dos fatos que se deseja perceber analiticamente. Nesses termos, “a primeira
habilidade (regra) do observador científico reside em conhecer o conjunto de fatos que devem
ser isolados dos restantes” (VYGOTSKY, 2010, p. 287). A segunda consiste na capacidade de
o pesquisador categorizar as observações por similaridade, distribuindo-as em grupos analíticos
específicos. a terceira, refere-se ao entendimento dessas categorias como parte de um todo
complexo que se interliga, mesmo quando fracionado por questões metodológicas. Por fim, o
pesquisador precisa ter a habilidade o só para descrever os fatos, mas também para conseguir
explicá-los. Ou seja, “para encontrar as causas e relações situadas na base desses dados”
(VYGOTSKY, 2010, p. 287). Nesse ínterim, nosso foco está na compreensão dos processos
imaginativos e criadores desenvolvidos pela criança com deficiência intelectual em suas
brincadeiras de faz de conta, a partir de uma análise microgenética.
A análise microgenética é um recurso metodológico-analítico bastante utilizado nas
pesquisas fundamentadas na Teoria Histórico-Cultural (SILVA, 2017; ALMEIDA, 2018;
RIBAS, 2021). Ela consiste na análise de microeventos e surge a partir da interpretação dos
estudos de Vygotski de “que era exatamente no aqui e agora das ações e interações diante de
Recursos criadores mobilizados no faz de conta de crianças com deficiência intelectual
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uma situação problema que se encontravam os processos mentais mais ricos” (KELMAN;
BRANCO, 2004, p. 95). Assim, conseguimos, a partir de um olhar minucioso e depurado das
questões intersubjetivas, dialógicas e mediacionais, perceber a emergência das atividades
psicológicas em seu contexto e dentro da ação específica do momento. Portanto, em
movimento, contextualizada e entendida enquanto um processo.
Góes (2000, p. 15) esclarece que esse tipo de análise não é micro devido a sua duração
no espaço-tempo do evento que se pretende analisar, “mas sim por ser orientada para minúcias
indiciais daí resulta a necessidade de recortes num tempo que tende a ser restrito”. A genética
atrela-se à dimensão histórica e processual do que se analisa, e no entrecruzamento dos planos
filogetico, ontogenético e sociogetico, para explicar os fenômenos psicológicos. Recebe
esse nome por focalizar o movimento durante processos e relacionar condições passadas e
presentes, tentando explorar aquilo que, no presente, está impregnado de projeção futura
(GÓES, 2000, p. 15).
Contextualização da pesquisa de campo e dos participantes
O presente estudo desenvolveu-se em uma turma de classe especial
5
de deficiência
intelectual-deficiência ltipla, de uma escola pública, em uma Rego Administrativa do
Distrito Federal, Brasil. A pesquisa foi desenvolvida durante o primeiro semestre de 2018, com
videogravação de 4 horas semanais das situações emergentes na escola, que evidenciaram direta
ou indiretamente o jogo de faz de conta. O total do material construído no campo perfaz 60
horas de dados detalhadamente transcritos. Aqui, recortamos um episódio para a alise das
questões supracitadas.
A turma pesquisada insere-se em uma classe de caráter temporário e transitório,
constituída exclusivamente para estudantes com deficiência intelectual e deficiência múltipla,
sem seriação, totalizando três crianças (Gael, Ana e Iza). A classe é regida por uma professora
(habilitada em Pedagogia e com especialização em atendimento educacional especializado)
com aptidão comprovada na área de ensino especial, no regime de 40 horas semanais, e conta
com o apoio de uma monitora.
Participaram da pesquisa quatro crianças: Iza, Gael, Martin e Ana (7-10 anos). Martin
o era da turma pesquisada, mas de outra classe especial, destinada aos estudantes com
5
No Distrito Federal, admite-se a classe especial, a qual, de acordo com a Orientação Pedagógica do Ensino
Especial da Secretaria de Educação do Distrito Federal (2010), destina-se, extraordinária e temporariamente, aos
estudantes com deficiências e com transtorno do espectro autista.
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA e Fabiana Luzia de Rezende
MENDONÇA
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transtorno do espectro autista, que compartilhava o recreio com as demais crianças e participava
do episódio analisado neste artigo. As crianças demonstravam perfis díspares, principalmente
no que tange aos aspectos cognitivos, linguísticos e de independência na vida diária. Elas são
apresentadas detalhadamente a seguir:
Iza
6
(7 anos) Diagnosticada com deficiência intelectual, deficiência física (fazia uso
de cadeira de rodas) e baixa visão. Ela se expressava bem oralmente, apesar da ecolalia e da
repetição sistemática de temas. Possuía sialorreia acentuada, necessitando de auxílio constante
para a realização das atividades de vida diária.
Gael (8 anos) Possuía laudos médicos de transtorno de ficit de atenção e
hiperatividade, dismorfias, anomalia cromossômica (não especificada) e deficiência intelectual.
Em alguns momentos, utilizava-se da rota de leitura fonológica, decodificando as letras sem
extrair o significado completo. É capaz de reconhecer e escrever o alfabeto relacionando
grafema-fonema, de identificar e escrever com letra bastão o prenome, bem como palavras
simples com auxílio.
Martin (8 anos) Possuía laudo de transtorno do espectro autista. Ele se expressava
relativamente bem e apresentava dificuldades em manter-se na sala de aula, o que prejudicava
sua participação nas tarefas disponibilizadas pela professora.
Ana (10 anos) Apresentava diagnóstico de deficiência intelectual. Demonstrava
dificuldades de se expressar oralmente, emitindo sons silábicos sem completar uma palavra.
Reconhecia algumas letras e expressava uma boa autonomia na resolução de problemas
práticos.
Há um ponto que merece ser considerado com relação à idade cronológica das crianças
pesquisadas, pois elas têm entre 7-10 anos, o que corresponde, na periodização histórico-
cultural do desenvolvimento, à idade escolar. É fato que na idade escolar ainda identificamos a
emergência do faz de conta, mas as situações imaginárias se desenvolvem de forma mais
pujante na idade p-escolar, conforme abordamos anteriormente. Então, seria adequado
perguntar: por que escolher crianças em idade escolar para pesquisar o brincar de faz de conta?
A resposta a essa questão precisa ser entendida pela confluência de três aspectos centrais
da Teoria Histórico-Cultural: o problema da idade, do meio e do desenvolvimento com ênfase
na idade pedológica. Vygotski (2018), quando discutiu essas questões em “Quarta Aula: o
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Os nomes dos participantes foram alterados e a autorização para participar da pesquisa foi dada pelos
responsáveis legais mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido e Termo de Cessão de
Direito de Uso de Imagem e Voz. A pesquisa foi regida pela Resolução nº 466, de 2012, do Conselho Nacional de
Saúde.
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problema do meio na Pedologia”, estava se referindo às crianças com desenvolvimento típico,
mas isso o significa excluir dessas considerações a criança com deficiência intelectual.
Afinal, os três aspectos supracitados merecem ser especialmente considerados nas pesquisas
com deficiência intelectual, pois as contradições entre a idade cronológica e a idade pedogica
são ainda mais contundentes nestes casos, evidenciando que o enfoque da análise não pode estar
nos aspectos maturacionais, cronológicos e quantitativos, mas qualitativos como diria
Vygotski. Sobre isso, ainda vale salientar que, para Vygotski, a idade pedológica envolve o
“nível de desenvolvimento que a criança realmente atingiu” (VYGOTSKI, 2018, p. 20) porque
“o tempo e o conteúdo do desenvolvimento mudam nos diferentes anos de vida e de
desenvolvimento da criança” (VYGOTSKI, 2018, p. 19). Assim, se uma criança de 7 ou 10
anos brinca de faz de conta, o que isso nos revela sobre os seus ciclos desenvolvimentais? Esse
é o ponto que nos interessa aqui, já que “o meio é a fonte de desenvolvimento dessas
características e qualidades especificamente humanas” (VYGOTSKI, 2018, p. 90).
Procedimento e análise dos dados
O material videogravado em campo, por meio de filmadora, foi transcrito na íntegra,
cotejado com o diário de campo e organizado em forma de episódios, com o objetivo de
estabelecer eixos analíticos capazes de responder aos objetivos traçados para esta pesquisa.
Identificamos, no corpo total da pesquisa, dois eixos de análise: 1. A utilização de objeto de
apoio no brincar de crianças com diagnóstico de deficiência intelectual e 2. O vínculo entre os
processos criadores e a realidade na estruturação dos contextos imaginativos das crianças
participantes. Neste artigo, trataremos do primeiro eixo de análise, analisando um episódio
representativo da investigação realizada.
Resultados e análise dos dados
No episódio apresentado a seguir, vivenciado na dinâmica da escola, destacamos quais
elementos particulares perfazem o brincar das crianças com deficiência intelectual, quando
fazem uso de objetos de apoio para combinar e recombinar os elementos da realidade e compor,
assim, a cena lúdica. No breve episódio, evidenciamos as interações entre criança-criança,
criança-adulto e criança-objeto, em que os recursos expressivos e corporais se revelam de forma
contundente.
Episódio 1: Caixa de plástico e pedaço de pau!
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA e Fabiana Luzia de Rezende
MENDONÇA
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Os alunos Gael, Iza e Ana estão na sala de aula. A professora encontra-se sentada ao
lado de Gael, realizando uma atividade de linguagem. Do lado oposto, estão Iza e Ana, que
manipulam a massinha de modelar com a supervisão da monitora. Com a proximidade do
intervalo e percebendo a chuva que caía , Gael pergunta de forma apreensiva à professora:
Tia, terá recreio?
A professora explica que sim. Mas avisa que o recreio será no tio coberto, próximo
ao refeitório.
Gael faz uma expressão facial de descontentamento.
A sirene toca indicando o início do intervalo. A professora solicita que Gael aguarde,
para que ela termine a atividade que estava desenvolvendo com ele. Gael fica impaciente. As
demais alunas não demonstram qualquer reação e continuam a mexer na massa de modelar.
Ao ser autorizado a ir ao intervalo, o aluno pega na mochila uma caixa pequena de
plástico e sai correndo em direção à área coberta. Iza e Ana o conduzidas pela monitora e
ficam sentadas com ela no banco próximo ao espo onde ocorre o intervalo.
Gael, então, começa a correr pelo pátio, fazendo movimentos de atirar com a caixa de
plástico, sons de tiro com a boca e, em alguns momentos, movimenta seu corpo na tentativa de
desviar de tiros. Ele simula os tiros de forma aleatória e solitária. Esconde-se entre as pilastras
como se estivesse se esquivando de um possível ataque.
Martin, que caminhava pelo tio, decide entrar na brincadeira de Gael. Ele pega um
pedaço de pau, mira em Gael e age como se estivesse atirando. Os dois simulam uma
perseguição e, com a caixa de plástico e o pedaço de pau, atiram um no outro.
A monitora, que assistia à cena, intervém. Retira o pedaço de pau da o de Martin e
solicita que os alunos brinquem de outra coisa. Gael escuta as recomendações, coloca a caixa
de plástico na cintura e continua a correr pelo espaço, porém, sem simular tiros e perseguições.
Já Martin, opta por encerrar a brincadeira e senta-se junto com Iza e Ana.
Gael aguarda ansiosamente o intervalo. A chuva e a decisão da professora em continuar
as atividades, mesmo após o soar da sirene, geram angústias e descontentamentos. Na classe,
percebemos que Gael é o único aluno que demonstra certa ansiedade com o intervalo e com as
brincadeiras. Sua vontade é tão grande que, muitas vezes, traz de casa brinquedos e objetos que
pretende usar no recreio. Quando o são instrumentos domésticos, ele pega brinquedos ou
materiais da sala de aula e leva para o pátio. Durante a brincadeira, Gael geralmente faz de
conta que é polícia ou ladrão. A trama sempre envolve perseguição e ação, bem como uma
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cenografia que configura a cena lúdica: as pilastras, por exemplo, agem como proteção de um
ataque.
Ao espectador, é possível perceber que se trata de uma encenação lúdica em que se pode
observar: 1) pais sociais representados; 2) a transgressão simbólica dos objetos (caixa de
plástico que se transforma em arma); e 3) a participação dos recursos corporais e expressivos
na composição da situação imaginária. A seguir, exploramos esses aspectos.
Vygotski (2022) explica que a criança apresenta necessidades e desejos específicos de
atuação na cultura. Seus anseios o objetivamente irrealizáveis. Mas, quando brinca, ela
satisfaz seus desejos de acesso e atuação no universo adulto, por isso “reproduz as relações e
as atividades de trabalho dos adultos de forma lúdica” (MUKHINA, 1997, p. 155). Gael deseja
atirar, manusear uma arma, ser policial/ladrão, porém essas ações são impossíveis para ele, por
isso brinca. A brincadeira, portanto, deve sempre ser entendida como uma realização imaginária
e fantasiosa de desejos irrealizáveis (VYGOTSKI, 2022).
Na brincadeira, cada criança aprende a se comportar de acordo com a situação geral do
jogo e com a composição concreta do grupo” (MUKHINA, 1997, p. 164). Esse comentário da
autora é coerente com a entrada de Martin na brincadeira de Gael. Não há combinados prévios.
Sem trocar palavras, Martin assume um papel coadjuvante no contexto e entra em interação
com Gael, que prontamente o recebe na brincadeira.
Todavia, por mais que o faz de conta de Gael aconteça em um espaço que propicie uma
atividade menos dirigida, a sua ação ao brincar é regida por regras, pois precisamos lembrar
que sempre que há uma situação imaginativa no contexto da brincadeira, essa é regida por regras
(VYGOTSKI, 2022). As regras são inerentes à brincadeira e não necessitam de combinados
prévios, por serem negociadas e desenvolvidas no âmago da situação imaginária. Dessa forma,
a regra que se experimenta na brincadeira é diferente daquelas de caráter normativo-impositivo
que advém dos adultos, pois são determinadas pela própria ação, com o objetivo de coerência
ao que é encenado. Gael, por exemplo, é regido pelas regras sociais que são intrínsecas ao papel
social que assume; ele brinca de ser polícia/ladrão. Sobre isso, Mukhina (1997, p. 160) ressalta
que é brincando que “as crianças conhecem a vida social dos adultos, compreendem melhor as
funções sociais e as regras pelas quais os adultos regem suas relações.
Outro ponto que nos chama atenção no episódio apresentado é que as crianças se
comportam para além do campo perceptivo-imediato: o estão presas ao que elas veem
(VYGOTSKI, 2009; VYGOTSKI, 2022). Por uma espécie de substituição, a pilastra
transforma-se em um aparato de resguardo, a caixa de plástico e o pedaço de pau transformam-
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se em uma arma. Conforme discutimos anteriormente, o descolamento da real função do objeto
para uma ação guiada pelo seu substituto lúdico só é possível de ser observado em crianças na
idade pré-escolar, quando ocorre o desenvolvimento da imaginação como uma neoformação.
Nessa idade, “a criança opera com os objetos como se eles tivessem um sentido, ela opera com
a significação das palavras, que substituem os objetos, isso ocorre porque na brincadeira as
palavras se emancipam dos objetos” (VYGOTSKI, 2022, p. 312). A autêntica atividade criadora
do brincar acontece quando a criança consegue realizar uma ação que subentende outra,
manipulando um objeto supondo outro (MUKINA, 1997; LEONTIEV, 2012).
Como abordamos anteriormente, a deficiência intelectual o é um impeditivo para o
desenvolvimento da situação imaginária; muito pelo contrário. Apesar de ela ser comumente
caracterizada como aquela que gera limitações significativas, no que se refere ao funcionamento
cognitivo, imaginativo e comportamento adaptativo, ocasionando dificuldades de atuação do
sujeito no que diz respeito às habilidades sociais, conceituais e práticas , podemos perceber
que Gael revela elementos importantes sobre seu funcionamento imaginativo. O objeto ganha
sentido no jogo de polícia e ladrão; Gael e Martin seguram a arma, desviam-se de balas, correm,
escondem-se atrás da pilastra. A cena lúdica representada pelos meninos apresenta atividades
imaginativas que não só reproduzem, mas criam, atualizam e ampliam a compreensão que eles
têm da própria realidade social.
Gael, por exemplo, o tem uma arma de brinquedo (ou outros acessórios para
realização da brincadeira desejada), o cenário (no caso, o pátio) com certeza não era o local
ideal para a atividade desenvolvida. Apesar dessas limitações, ele consegue por meio da
imaginação transformar a realidade concreta, os objetos e criar cenários para viabilizar a sua
brincadeira.
Nessa dinâmica, enfatizamos que os movimentos, bem como os recursos expressivos e
corporais utilizados durante a brincadeira compõem a cena lúdica. Martin os movimentos e
os recursos expressivos e corporais que Gael realiza e sendo a cena dica parte de seu
repertório cultural ele decide também participar da brincadeira. Aqui, as crianças interagem
para além da enunciação verbal propriamente dita: afinal, é o corpo que também brinca.
Indissociável da mente, o corpo assume centralidade no acontecimento dico, e pesquisas
recentes têm enfatizado esse aspecto (COSTA, 2018; PACHECO, 2021). A compreensão de
que mente-corpo integra uma unidade é pressuposto fundamental para a análise do brincar,
implicando em novas compreensões acerca dos elementos que envolvem a atividade: modos de
descrevê-la e de interpretá-la. Uma perseguição policial, por exemplo, envolve ões que
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ganham sentido nas expressões que os corpos realizam na brincadeira compartilhada entre os
meninos.
Sobre isso, é importante ressaltar que Martin se torna companheiro na representação de
Gael e eles passam a compor o mesmo enredo. Aqui, podemos notar uma relação dos meninos
com o acontecimento da vida cotidiana, que assume uma dimensão imaginativa. Ao entrar
atirando contra Gael na brincadeira, percebemos a necessidade, o desejo e a motivação de
Martin de fazer parte da brincadeira. Afinal, quando as crianças brincam em coletivo, essa
atividade se torna rica, pois aprendem a coordenar suas ações com os parceiros do faz de conta
e a ajudar-se mutuamente (BARBATO; MIETO, 2015). Em outras palavras, Gael e Martin nos
mostram que pela brincadeira de faz de conta não há necessidade de um convite sistematizado
para que a participação do outro ocorra. Gael realiza a assunção de um papel e brinca. Imagina
e, na ação lúdica, come o seu personagem. A brincadeira é, portanto, marcada sem roteiros
pré-definidos, o que possibilita que, na ação do momento, o enredo se transforme e se
flexibilize, trazendo fluidez à dinâmica lúdica representada.
Além dos aspectos mencionados acima, gostaríamos de problematizar a atitude da
monitora diante do argumento e do conteúdo da brincadeira. Essa questão nos parece importante
porque diz respeito aos modos de intervenção do adulto nas ações lúdicas infantis. Mukhina
(1997) explica que as brincadeiras de cunho dramático, com incorporação de papéis, se
organizam em torno do argumento e do conteúdo. Aquele diz respeito à realidade que é
representada no ato da brincadeira e quanto maior forem as experiências sociais da criança,
mais amplos e variados serão os argumentos. O conteúdo, por sua vez, refere-se à
pormenorização do argumento, quer seja: o roteiro da cena que as crianças apresentam no faz
de conta aquilo que emana do jogo intersubjetivo dos papéis articulados à cena. No episódio
descrito, o argumento é a perseguição policial, e o conteúdo é o modo como Gael e Martin se
relacionam para dar sentido à cena, mantendo a sua coerência; eles atiram um contra o outro,
desviam, escondem-se entre as pilastras etc. O argumento e o conteúdo da brincadeira de Martin
e Gael parecem trazer desconforto à monitora. Qual é a causa do desconforto?
Vivemos em uma cultura em que não é comum e recomendado que crianças manuseiem
armas de brinquedo por estas se vincularem à agressão e à morte. Daí, adm o incômodo da
monitora: um certo sentimento de que aquela brincadeira é inadequada. Contudo, os interesses
de Gael se voltam para essa temática porque a vivência lúdica parece engendrar nos meninos
afetos de bravura, ataque e destemor (entre outros). Aqui, os afetos mobilizadores do brincar
merecem atenção.
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA e Fabiana Luzia de Rezende
MENDONÇA
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Sobre as queses do afeto, Vygotski afirma que a situação imaginária “ensina a
(criança) não seguir cegamente os sentimentos, mas a coordená-los com as regras do jogo e
com seu objetivo final” (VYGOTSKI, 2010, p. 123). Ou seja: no jogo, as emoções das crianças
regulam (e são, dialeticamente, reguladas) pelo sentido daquilo que é encenado. Experimentar
essas situações de polícia e ladrão, por exemplo, é fundamental para o desenvolvimento da
criança. São situações que implicam o alargamento da vivência subjetiva que passa,
necessariamente, por uma maior generalização dos afetos, que são mobilizados durante a
situação imaginária. Aqui, os julgamentos morais, na maioria das vezes, não são positivos para
o desenrolar da brincadeira, pois cerceiam, coíbem e impedem seu acontecimento.
Ocorre que, dentro desse contexto de alise, um outro ponto precisa ser
problematizado: a mobilização afetiva da monitora decorrente da situação imaginária que ela
vivencia como espectadora. Aqui, a monitora revela sua atenção à brincadeira; ela observa o
que os meninos criam e é afetada pela situação imaginária. Como alguém que observa e
perscruta a ação lúdica dos meninos, ela também revela seus modos de reagir ao que está sendo
representado. Ou seja, as implicações afetivas do brincar o se restringem à criança, mas
também apontam para questões importantes sobre o próprio papel do adulto no sentido atribuído
à atividade.
Os apontamentos sinalizados revelam a poncia criadora das crianças investigadas.
Mas o podemos ignorar o fato de que as crianças com deficiência intelectual apresentam
particularidades nos processos que envolvem abstração e generalização. Gael, por exemplo,
durante a pesquisa realizada, brincava preferencialmente de polícia e ladrão. Esse tema lúdico
era sempre sugerido pelo menino, havendo pouca variação no padrão e no enredo da brincadeira
(ABREU, 2019). Podemos dizer que havia um certo enrijecimento, tanto na eleição da temática
como no uso de objetos substitutivos. Isso nos pareceu uma particularidade do brincar da
criança com deficiência intelectual. Não se trata de um obstáculo, mas de uma especificidade
importante de seu psiquismo.
Sobre isso, Vygotski (2019, p. 336), ao concordar parcialmente com as investigações de
Kurt Lewin (1890-1947), afirma, no texto “Problemas do Retardo Mental”, que:
[...] a criança com debilidade mental manifesta, ao mesmo tempo, uma
contenção peculiar e uma fixação que exclui para ela a possibilidade das
atividades de substituição; porém, ela também conserva a tenncia,
claramente expressa, de substituir as atividades difíceis por formas mais fáceis
e primitivas.
Recursos criadores mobilizados no faz de conta de crianças com deficiência intelectual
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Essa afirmação de Vygotski é intrigante e pode ser tomada em sua negatividade. Estaria
o autor contrariando as suas ideias iniciais e focalizando o defeito e as limitações da criança?
A leitura apressada desse denso texto pode conduzir o leitor menos atento a essa precipitada
conclusão. Todavia, Vygotski avança na análise e, ao romper com as concepções hegemônicas
de sua época: o intelectualismo, de Edouard Seguin (1812-1880), e o voluntarismo, de Kurt
Lewin, reorienta a discussão para uma nova direção ao colocar no centro do debate o problema
da consciência humana: a unidade afeto-intelecto.
Para Vygotski, ambas as teorias supracitadas não conseguiram ultrapassar suas
limitações epistemológicas e careciam do materialismo histórico-dialético para melhor explicar
o desenvolvimento da criança com deficiência intelectual. Para ele, era fundamental rever os
preceitos teóricos, colocar a questão de ponta-cabeça, e pensar no problema a partir da unidade
indivisível do intelecto-afeto. Essa posição do autor permite-nos afirmar que a causa e a
consequência trocam de lugar.
As formões psíquicas superiores, quando emergem, sobre a base de determinadas
premissas dinâmicas, exercem uma influência retroativa nos processos que as originam. Na
Psicologia Histórico-cultural, o mais baixo muda para o mais alto: “mudam não só as funções
fisiológicas por si mesmas, mas também em primeiro lugar, variam os nexos interfuncionais e
as relações entre os diferentes processos, particularmente entre o afeto e o intelecto
(VYGOTSKI, 2019, p. 345-346). Aqui, temos a defesa de que os processos intelectuais e as
ações não surgem de modo involuntário, pois são movidas por processos dinâmicos, pelas
necessidades e pelos impulsos afetivos. Assim sendo, nosso pensamento sempre es
psicologicamente condicionado e resulta de um impulso afetivo que o movimenta e o dirige.
Apoiado em Espinosa, Vygotski (2019, p. 351) continua afirmando “o afeto como o que
aumenta ou diminui a capacidade de nosso corpo para a atividade e obriga o pensamento para
mover-se em determinado sentido”. Temos, então, aqui, o nexo funcional central: a relação
entre pensamento (unidade intelecto-afeto) e a atividade. Ou mais especificamente: o sentido
da ação para a criança.
Para Vygotski, isso muda qualitativamente o modo como a criança se engaja na
atividade e mobiliza seus processos psicológicos. Ele toma em consideração os afetos
implicados, a flexibilidade ou a rigidez diante das atividades “e, ao mesmo tempo, a estabilidade
ainda deficiente, a fixação e a difusão dos processos que se realizam no sistema nervoso e na
psique da criança(VYGOTSKI, 2019, nota 147, p. 338). No fio desse argumento, importa-nos
considerar que o brincar é uma atividade dinâmica e fundamental que explora tais nexos
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causais. Isso merece ser ressaltado porque quando a criança brinca, mesmo apresentando suas
particularidades, ela tem potencializada a reorganização de suas funções psicológicas como
forma de superação das limitações que vivencia em sua atuação social: sua brincadeira está
prenhe de sentido e mobiliza novos modos de pensar sobre o real, sobre o outro e sobre si
mesmo.
Comentários finais
Ao longo do texto, procuramos compreender os processos imaginativos e criadores do
brincar da criança com deficiência intelectual. Elegemos o brincar, conforme sugerido por
Vygotski, como a linha motriz do desenvolvimento, tomando um episódio significativo para
reflexão da emergência do faz de conta.
O episódio selecionado revela processos imaginativos e, portanto, criadores, do brincar
da criança com deficiência intelectual. Afinal, Gael (uma das crianças participantes) elabora,
por meio de seus recursos imaginativos, seu faz de conta: ele representa personagens do
universo cultural, transgride as imposições perceptivas dos objetos e compõe cenários dicos
imaginados. Os modos de configuração da sua situação imaginária revelam “um eco do que a
criança viu e ouviu dos adultos” (VYGOTSKI, 2009, p. 17). Aqui, a brincadeira não é
compreendida como uma simples recordão daquilo que se acessou na experiência social, mas
sim “uma reelaboração criativa de impressões vivenciadas” (VYGOTSKI, 2009, p. 17). Isso
nos permite afirmar que há uma marca autoral no faz de conta.
Todas as crianças independente das suas especificidades desenvolvimentais
produzem cultura ao exercerem seu potencial criador, registrando uma assinatura singular
acerca daquilo que criam e elaboram: elas deixam suas marcas. Concordamos que “apostar nas
capacidades intelectuais e artísticas dos sujeitos é partir do pressuposto que todos podem criar
e toda criação, sendo ou não realizada coletivamente, é social” (MAHEIRIE; BARRETO, 2019,
p. 121).
Nessa linha argumentativa, o estudo de Mendonça (2013) merece destaque porque
aponta o caráter criador do desenvolvimento das crianças com deficiência intelectual. Para a
autora, essas crianças desenvolvem uma capacidade de reorganização neurológica mais
potencialmente complexa do que aquelas sem deficiência. Isso ocorre, especialmente, quando
são convocadas a participar ativamente dos contextos culturais e, portanto, educacionais nos
quais estão incluídas. Nesse sentido, a dimensão lúdica é fundamental porque envolve aspectos
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que relacionam a dimensão intelectiva e afetiva do funcionamento psicológico. Em outras
palavras, diminuir, enfraquecer, restringir a emergência de situaçõesdicas em crianças com
deficiência intelectual é mantê-las presas à fixidez de seu comportamento, reforçando padrões
de comportamento e funcionamento psicológico que não contribuem para o seu
desenvolvimento. O foco da escola, especialmente dos professores, deve ser o contrário. As
experiências lúdicas são indispensáveis na vida da criança com deficncia intelectual. Por isso,
os adultos e outras crianças devem brincar com elas, propor cenários e temas lúdicos, operando,
de forma cada vez mais complexa, com a substituição de objetos, enriquecendo e trazendo
vitalidade à brincadeira. O brincar é uma atividade profícua e impulsionadora de novos ciclos
desenvolvimentais, pois permite à criança com deficiência intelectual agir para além de suas
competências habituais e de seu comportamento cotidiano. É uma atividade que deve estar no
foco de interesse dos educadores e, por isso, merece ser profundamente estudada.
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Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA e Fabiana Luzia de Rezende
MENDONÇA
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CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Agradecimento à Universidade de Brasília.
Financiamento: Universidade de Brasília.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovão ética: O trabalho seguiu os princípios éticos estabelecidos para pesquisas com
seres humanos.
Disponibilidade de dados e material: Não aplicável.
Contribuições dos autores: Todos os autores contribuíram de forma igualitária para a
composição do artigo.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023160, 2023. e-ISSN: 1982-5587
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RECURSOS CREATIVOS MOVILIZADOS EN EL IMAGINARIO DE NIÑOS CON
DISCAPACIDAD INTELECTUAL
RECURSOS CRIADORES MOBILIZADOS NO FAZ DE CONTA DE CRIANÇAS COM
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
CREATIVE RESOURCES MOBILIZED IN THE MAKE-BELIEVE OF CHILDREN
WITH INTELLECTUAL DISABILITIES
Fabrício Santos Dias de ABREU1
e-mail: fabra201@gmail.com
Daniele Nunes Henrique SILVA2
e-mail: daninunes74@gmail.com
Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA3
e-mail: mtmscosta@gmail.com
Fabiana Luzia de Rezende MENDONÇA4
e-mail: fabianaluzia.rezende@gmail.com
Cómo hacer referencia a este artículo:
ABREU, F. S. D. de; SILVA, D. N. H.; COSTA, M. T. M. de S.;
MENDONÇA, F. L. R. Recursos creativos movilizados en el
imaginario de niños con discapacidad intelectual. Revista Ibero-
Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00,
e023160, 2023. e-ISSN: 1982-5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17937
| Enviado en: 04/01/2023
| Revisiones requeridas el: 16/05/2023
| Aprobado el: 22/06/2023
| Publicado el: 27/12/2023
Editor:
Prof. Dr. José Luís Bizelli
Editor Adjunto Ejecutivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Secretaría de Educación del Estado del Distrito Federal (SEEDF), Centro Universitario Estácio, Brasilia DF
Brasil. Profesor. Doctorado en Educación por la Universidad de Brasilia (UnB).
2
Universidad de Brasilia (UnB), Brasília DF Brasil. Profesora del Instituto de Psicología, del Programa de
Posgrado en Psicología Evolutiva y Escolar (UnB) y del Programa de Posgrado en Educación (Unicamp). Doctora
en Educación (Unicamp) y Posdoctora en Psicología Social (PUC-SP). Beca de Productividad del CNPq.
3
Secretaría de Educación del Estado del Distrito Federal (SEEDF), Brasília DF Brasil. Profesora jubilada.
Doctora en Psicología (UnB).
4
Secretaría de Educación del Estado del Distrito Federal (SEEDF), Brasília DF Brasil. Profesora. Doctora en
Psicología (UnB).
Recursos creativos movilizados en el imaginario de niños con discapacidad intelectual
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023160, 2023. e-ISSN: 1982-5587
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RESUMEN: Este estudio investiga el juego de niños con deficiencia intelectual, a partir de la
Teoría Histórico Cultural, con el propósito de cuestionar la representación de roles, el uso
sustitutivo de objetos de apoyo y la participación de recursos corporales en el juego. A través
de una investigación microgenética, con análisis de un episodio, ocurrido en una escuela pública
brasileña, se verificó que el juego de los participantes involucraba la asunción de personajes y
la simbolización de objetos para componer escenarios ficticios. Estos datos salan que este
blico tiene un funcionamiento imaginativo complejo, pero marcado por especificidades que
merecen ser investigadas.
PALABRAS CLAVE: Imaginación. Discapacidad intelectual. Jugar.
RESUMO: Este estudo investiga a brincadeira de crianças com deficiência intelectual, a partir
da Teoria Histórico-Cultural, com objetivo de problematizar a representação dos papéis, o uso
substitutivo dos objetos de apoio e a participação dos recursos corporais no brincar. Por meio
da pesquisa microgenética, com análise de um episódio de faz de conta, ocorrido em uma
escola pública brasileira, verificou-se que a brincadeira dos participantes envolveu assunção
de personagens e simbolização dos objetos para composição de cenários fictícios. Esse dado
aponta que esse público possui funcionamento imaginativo complexo, porém marcado por
especificidades que merecem ser investigadas.
PALAVRAS-CHAVE: Imaginação. Deficiência Intelectual. Brincar.
ABSTRACT: This study investigates the play of children with intellectual disabilities based on
the Historical Cultural Theory with the purpose of questioning: the representation of roles; the
substitutive use of support objects; and the participation of bodily resources in play. Through
microgenetic research, with analysis of an episode that occurred in a Brazilian public school,
it was verified that the participants' play involved the assumption of characters and the
symbolization of objects to compose fictitious scenarios. These data indicate that this audience
has a complex imaginative functioning but marked by specificities that deserve investigation.
KEYWORDS: Imagination. Intellectual Disability. To play.
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA y Fabiana Luzia de Rezende
MENDONÇA
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023160, 2023. e-ISSN: 1982-5587
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Introducción
A lo largo de la producción intelectual de Lev Semionovitch Vygotski (1896-1934), la
imaginación, constitutiva del complejo sistema psicológico, es discutida bajo diferentes sesgos
y perspectivas conceptuales, planteando diferentes preguntas. ¿Es una actividad, una función
y/o un sistema? Este cuestionamiento s general demuestra las diferentes facetas que
componen el espectro teórico que atraviesa la obra del autor bielorruso sobre este tema. En
algunos momentos, la imaginación se concibe como una actividad específicamente humana,
ligada a la acción creadora de transformar la naturaleza (VYGOTSKI, 2009; VYGOTSKI,
2022). Em outros, a imaginação é uma função psicológica superior ligada aos processos
artísticos e catárticos (VYGOTSKI, 1999) e mais no final da obra Vygotskiana, a imaginação
é responsável pelo coroamento do sistema psicológico complexo (VYGOTSKI, 2012).
En la obra Psicología Pedagógica (2010), por ejemplo, la autora se interepor los
aspectos que involucran la educación estética: la instrumentalización pedagógica del arte, los
límites entre moral y arte, así como los aspectos que involucran la reacción estética (pasividad
y actividad en la contemplación artística), aportando importantes aportes sobre la creación
artística en la formación educativa de los nos. En Psicología del arte (1999), Vygotski
problematizó la especificidad de la obra de arte, la reacción estética y el impacto de la
experiencia catártica en el funcionamiento psicológico. Su énfasis destacó, entre otros, las
relaciones intrínsecas entre emoción e imaginación implicadas, catalizadas y canalizadas en el
proceso creativo inherente a la obra de arte.
En 1930 (VYGOTSKI, 2022), Vygotski escribió un conjunto de textos sobre la
imaginación en el desarrollo humano, colocándola en el centro de las cuestiones relacionadas
con lo específicamente humano. Estas ideas de Vygotsky han permitido a autores
contemporáneos defender la dimensión ontológica de la creación (PINO, 2005, 2006; DERIVA;
MELODÍAS, 2013; MAHEIRIE; ZANELLA, 2020, entre otros), colocando el tema de la
imaginación y la libertad en el centro de las cuestiones que conciernen a la Teoría Histórico-
Cultural (SAWAIA; SILVA, 2015).
Otra contribución se hizo en el campo de los estudios pedológicos (1931-1934). En el
texto "Imaginación y creación del adolescente" (VYGOTSKI, 2022), por ejemplo, el autor
enfatiza la centralidad de la imaginación en el sentido de libertad, centrándose en el desarrollo
de personas con deficiencias en el funcionamiento superior. Aquí, Vygotski señala que la
actividad imaginativa no se caracteriza como una función primaria, aunoma y meramente
reactiva del funcionamiento psíquico del adolescente. En la era de la transición, la imaginación
Recursos creativos movilizados en el imaginario de niños con discapacidad intelectual
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023160, 2023. e-ISSN: 1982-5587
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se basa en conceptos complejos, actuando independientemente de los aspectos concretos, ya
que funciona desde el pensamiento abstracto. Vygotski (2012) afirma categóricamente que, en
la era de la transición, la imaginación corona el sistema psicológico superior, como se destacó
anteriormente.
La fantasía, por lo tanto, no es la función primaria, independiente y
orientadora del desarrollo psíquico del adolescente, su desarrollo es una
consecuencia de la función de formación de conceptos, consecuencia que
culmina y corona todos los complejos procesos de cambio que el adolescente
experimenta en su vida mental (VYGOTSKI, 2012, p. 208-209, nuestra
traducción).
La obra de Vygotsky destaca por su mirada optimista, inédita para la época, a la hora de
analizar el desarrollo de las personas con discapacidad. Los textos en los que expone
directamente el tema fueron recopilados en 1983 en el Volumen V de las Obras Escogidas
Fundamentos de la Defectología (1997, 2019). Con respecto a los niños con alguna
discapacidad cognitiva, los estudios de Vygotski (1997) sobre defectología enfatizan que la
diferencia entre los considerados normales y los llamados "discapacitados" no se limita a los
aspectos cuantitativos de la inteligencia, sino que se refiere a las relaciones entre el ambiente,
la estructura orgánica y la formación de la personalidad (DIAS; OLIVEIRA, 2013). Para el
autor, es crucial centrarse en el funcionamiento de las funciones psicológicas superiores, que
deben ser entendidas en términos sistémicos y dependientes de las dinámicas culturales.
La profundización de la idea del funcionamiento sistémico de las funciones psicológicas
superiores, articuladas con la discapacidad, es un problema que está en el corazón de la Teoría
Histórico-Cultural, después de todo: "La patología nos proporciona la clave para comprender
el desarrollo y el desarrollo, la clave para comprender las condiciones patológicas"
(VYGOTSKI, 2012, p. 206, nuestra traducción). Y, en el campo del funcionamiento
imaginativo -entre las múltiples actividades que implican la creación en la ontogénesis-, el
juego nos parece un campo fértil de investigación para dar visibilidad a estas intrincadas
relaciones.
Para Vygotski, la emergencia de la situación imaginaria en la edad es un acontecimiento
central para la comprensión del desarrollo infantil. Y no sería diferente para el niño con
discapacidad. Siguiendo este argumento, en este artículo, nos preguntamos: ¿q caracteriza el
juego de los niños con discapacidad intelectual? ¿Qué recursos imaginativos movilizan en la
composición de sus juegos?
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA y Fabiana Luzia de Rezende
MENDONÇA
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Como respuesta a estas preguntas, en este texto exploramos analíticamente el juego de
un niño diagnosticado con discapacidad intelectual, a través del análisis microgenético de una
escena de un episodio de juego de simulación desarrollado en el contexto del patio de una
escuela pública en la periferia del Distrito Federal (centro-oeste de Brasil). Nuestro objetivo es
problematizar: 1) la asunción de roles sociales y el apego voluntario a los principios que rigen
la conducta escenificada; 2) el uso creativo y sustitutivo de objetos de apoyo en el transcurso
del juego; y 3) la actuación performativa del cuerpo en la constitución de la escena lúdica. A
continuación, exploraremos los aspectos teóricos que movilizan y sustentan el alisis del
episodio presentado.
El juego y la situación imaginaria: motor del desarrollo infantil
Dos preguntas son centrales para entender el juego de simulación: a) su origen en el
desarrollo y b) cuál es su papel en el desarrollo del no. Estas dos preguntas abren el texto: "Le
jeu et son rôle dans le développement psychologique de l'enfant" (VYGOTSKI, 2022) con una
pregunta central: ¿es el juego de fantasía una fuerza motriz del desarrollo del niño o una
actividad predominante? Vygotsky explica: el juego no es la actividad predominante, sino el
hilo conductor del desarrollo del niño.
Crítico con las perspectivas que entienden el juego como una actividad impulsada por
el placer, Vygotski enfatiza que la dimensión de las necesidades, deseos e intereses del niño
moviliza el desarrollo de la acción. En la posición del autor, es fundamental entender cuáles
son los elementos que motivan la acción del niño y mo se articulan con cada edad. En el caso
específico del niño entre los 3-7 años de edad aproximadamente (edad preescolar), Vygotsky
observa el surgimiento de un nuevo tipo de interés: las tendencias irrealizables, los deseos que
son imposibles de satisfacer de inmediato, y la posibilidad de desprenderse del campo
perceptivo, algo que no era posible observar en la edad anterior. Afirma: "Me parece que, en la
edad preescolar, sin la maduración de impulsos irrealizables, no habría juego" (VYGOTSKI,
2022). Lo que sí podemos decir es que tales necesidades y deseos no resueltos caracterizan el
desarrollo de la situación imaginaria.
La imaginación, en este caso, es la neoformación que está ausente en la primera infancia,
que no existe en otros animales, y que aparece con fuerza en la situación imaginaria. Aquí, es
importante señalar que la conducta del niño no está limitada por losmites del hecho concreto;
Se basa en la generalización de su relación afectiva, que emerge en la situación imaginaria.
Recursos creativos movilizados en el imaginario de niños con discapacidad intelectual
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Esto, sin embargo, no significa que el niño sea consciente de las razones que lo llevan a la
situación imaginaria. Juega porque se siente impulsada a la acción imaginativa.
Pero, ¿qué importa en el juego de simulación? ¿Qué le da sentido a la situación
imaginaria? Las reglas que están implícitas en el juego mismo dirían Vygotsky. El juego
implica necesariamente una conducta regulada por el niño, a través de una relación muy
particular con las reglas socialmente constituidas. ¿Cuáles son estas reglas? En primer lugar,
las normas de comportamiento, que no se determinan de antemano, sino que se desarrollan a lo
largo de la propia actividad. El niño, entonces, quiere ser maestro y actúa de acuerdo con las
reglas de comportamiento de un maestro; la forma en que percibe generaliza y experimenta la
función social de ser docente. La regla de comportamiento guía la situación imaginaria. Por
ello, afirma que no hay situación imaginaria sin una regla. Para él, decir que el niño es libre
cuando juega es un error interpretativo.
Otra característica del juego de fantasía es que deriva del propio objeto que guía la
acción. Al fin y al cabo, el niño actúa desligado de lo que ve, porque su acción está guiada por
el significado que el objeto asume en la situación imaginaria. Un ladrillo puede convertirse en
una radio; Un piz puede hacer girar un avión. Este desapego del campo perceptivo solo es
posible gracias a los recursos lingüísticos y expresivos que conforman la situación imaginaria.
En la primera infancia, la palabra se orienta en el espacio, en la configuración de lugares que
están delimitados por una situación específica. Pero en la edad preescolar observamos, por
primera vez, el desapego entre el campo semántico y el campo visual en desarrollo.
Separar el pensamiento (el significado de la palabra) del objeto es una tarea
extremadamente compleja para el niño. El juego se convierte en una forma de
transición para eso. En el momento en que el bastón, es decir, el objeto, se
convierte en el punto de apoyo para resaltar el significado del caballo del
caballo real, en este momento crítico se transforma radicalmente una
estructura psicológica fundamental, la que determina la relación del niño con
la realidad (VYGOTSKI, 2022, p. 225, nuestra traducción).
¿Y qpermite la transformación del campo perceptivo en campo semántico? Es el
objeto de soporte, a menudo traducido como objeto pivote, que también configura la situación
imaginaria.
El niño aún no puede separar el pensamiento del objeto, debe tener un punto
de apoyo en otro objeto, es aquí donde se expresa la debilidad del niño; Para
pensar en el caballo, debe determinar sus acciones con el caballo con el palo
como punto de apoyo (VYGOTSKI, 2022, p. 223, nuestra traducción).
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA y Fabiana Luzia de Rezende
MENDONÇA
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El objeto es fundamental para el desarrollo de la situación imaginaria. Y en este sentido,
también es importante que tengamos en cuenta ciertas reglas. No son las reglas sociales de
comportamiento, como hemos explorado anteriormente, sino las reglas que circunscriben el
objeto mismo.
Como hemos destacado, el funcionamiento de la regla del objeto radica en la prevalencia
de su valor semántico. Por lo tanto, no es cualquier objeto el que puede ser sustituido en la
acción lúdica, sino sólo un objeto que guarda cierta relación con el significado de la acción. El
palo de escoba puede desempeñar el papel de un caballo, pero un sobre no puede representar
un caballo para el niño. Hay conformidades entre el objeto de apoyo y la situación imaginaria.
"Yo diría que el niño, en el juego, opera con la ayuda de un significado separado del objeto,
pero esto es inseparable de una accn real con un objeto real". (VYGOTSKI, 2022, p. 254,
nuestra traducción).
Leontiev (2012, p. 131, nuestra traduccn) ejemplificó una vez:
Cuando un niño sentado en una mesa crea una situación en la que una persona
que camina representa, por ejemplo, a un médico que corre a ver a un paciente
o a ir a una farmacia, un lápiz, un palo o un palillo de dientes también pueden
representar a la persona. Con estos objetos, el niño puede realizar con éxito la
operacn de cambio de posición, es decir, los movimientos generalizados que
requiere la acción sobre el juguete. Pero el problema es diferente cuando el
niño tiene una pelota blanda en sus manos. La acción requerida no se puede
realizar con él; El movimiento carece de la configuración característica de
"caminar", y llega un momento en que la acción lúdica ya no es posible. Por
lo tanto, no todos los objetos pueden desempeñar ningún papel en el juego, o
incluso los juguetes pueden realizar diferentes funciones dependiendo de su
carácter y participar de manera diferente en la estructura del juego. Para evitar
volver, especialmente en este punto, señalemos de pasada las principales
diferencias que distinguen, a este respecto, los diversos objetos de juguete.
Todas las consideraciones elaboradas hasta ahora permiten afirmar que la situación
imaginaria se desarrolla a partir de lo que los niños experimentan -directa o indirectamente- en
su relación con la cultura, tal como se presenta en la idea vygotskiana (véase: la primera Ley
de la relación entre imaginación y realidad en Vygotski, (2022)). Esto nos ayuda a comprender
que las reglas de comportamiento y las reglas del objeto, que conforman la situación imaginaria,
emergen de la cultura. Sucede que los niños no están restringidos a la determinación cultural,
ya que sus modos de (re)producción de la realidad implican una cierta elaboración creativa. La
creación implícita en el juego de la fantasía nos lleva a varias preguntas teóricas sobre el papel
de la imaginación -una neoformacn- en el desarrollo infantil. Aquí, nos intrigan especialmente
Recursos creativos movilizados en el imaginario de niños con discapacidad intelectual
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los aspectos implicados en las formas de elaboración de lo real, a través de procesos creativos,
que están implicados en el desarrollo de los niños con discapacidad intelectual.
El juego de los niños con discapacidad intelectual en la Teoría Histórico-Cultural
En los textos organizados en el libro Fundamentos de la defectología (trabajos
publicados entre 1924-1935), Vygotski (1997, 2019) abordó el problema del sistema funcional
complejo. Su análisis cualitativo del desarrollo atípico es, sin duda, revolucionario para su
época. Según él, no es posible definir hasta qué punto se desarrollará un niño, y la limitación
orgánica en sí misma no limita, ni siquiera impide el surgimiento de las funciones intelectuales.
Por el contrario, debemos prestar atención a la aparición de áreas potentes de desarrollo que
aparecen en los niños con discapacidad, porque los procesos compensatorios son más
conmovedores en ellos.
En el capítulo "El problema del retraso mental" (1997), uno de los últimos textos escritos
por el autor, Vygotsky presenta, sin embargo, una visión un tanto pesimista del desarrollo de
los niños intelectualmente comprometidos. Afirma que "el pensamiento abstracto, al igual que
la imaginación, requiere una particular fluidez y movilidad de los sistemas psicológicos y, por
supuesto, es por eso por lo que en ambas áreas en particular se desarrollan de manera incompleta
en el niño retrasado mental" (VYGOTSKI, 1997, p. 258, nuestra traducción).
El mismo tono pesimista aparece en el texto sobre el juego titulado "El papel del juego
en el desarrollo psicogico de los niños" (VYGOTSKI, 2022). En él, Vygotski (2022, p. 297,
nuestra traducción) señala que "la investigación muestra que no solo cuando se trata de niños
con un desarrollo intelectual insuficiente no se desarrolla el juego, sino también de niños cuya
esfera afectiva no está suficientemente desarrollada".
Estas dos citas, al desvincularse del contexto general de la obra, podrían darnos la
impresión de que Vygotsky era contradictorio porque, en cierto modo, estaría enfatizando las
limitaciones irreconciliables entre el desarrollo del niño retrasado mental y el funcionamiento
imaginativo. Pero, partiendo de esta premisa, sería incoherente con el conjunto argumentativo
defendido en su trabajo sobre cuestiones defectológicas.
En nuestra opinión, Vygotski está demostrando que, efectivamente, existen
especificidades en el pensamiento abstracto de los niños con discapacidad intelectual, que
tienen implicaciones para sus procesos creativos. Habla en términos de áreas incompletamente
desarrolladas, pero no elabora exhaustivamente lo que estaba tratando de decir, dejando
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA y Fabiana Luzia de Rezende
MENDONÇA
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resquicios para la mala interpretación. En resumen: ¿a qse refería con áreas incompletamente
desarrolladas? ¿Cuáles son esas implicaciones?
Para profundizar en este debate, proponemos, en este artículo, poner en pantalla el juego
de simulación de nos con discapacidad intelectual, entendiendo que la situación imaginaria
es la fuerza motriz (actividad orientadora) del desarrollo infantil.
Método
En la squeda de comprender los aspectos que conforman el juego de simulación de
niños diagnosticados con discapacidad intelectual, optamos por una metodología afiliada al
legado de Vygotski. Para el autor (2018, p. 37, nuestra traducción), el todo significa el modo
de investigación (o estudio) de una parte definida de la realidad: "es el camino del conocimiento
que conduce a la comprensión de las regularidades científicas en algún campo". Para ello, las
bases que rigen esta investigacn se anclan en el materialismo histórico-dialéctico, que permite
develar la apariencia del objeto estudiado para interpretarlo a la luz teórica y analítica. Nos
interesan "los individuos reales, sus acciones y sus condiciones materiales de vida, tanto las que
ya han encontrado como las producidas por su propia acción" (MARX; ENGELS, 2009, p. 87,
nuestra traducción).
Para las observaciones, registros y descomposición de datos, también seguimos las
pautas de Vygotsky (2010) que presuponen la selección refinada de la mirada del investigador
para la selección de hechos que se desean percibir analíticamente. En estos términos, "la primera
habilidad (regla) del observador científico radica en conocer el conjunto de hechos que deben
aislarse del resto" (VYGOTSKY, 2010, p. 287, nuestra traducción). El segundo consiste en la
capacidad del investigador para categorizar las observaciones por similitud, distribuyéndolas
en grupos analíticos específicos. La tercera, por su parte, se refiere a la comprensión de estas
categorías como parte de un todo complejo que es interconectado, incluso cuando está
fraccionado por cuestiones metodológicas. Por último, el investigador debe tener la capacidad
no solo de describir los hechos, sino también de poder explicarlos. Es decir, "encontrar las
causas y relaciones situadas en la base de estos datos" (VYGOTSKY, 2010, p. 287, nuestra
traducción). Mientras tanto, nos centramos en comprender los procesos imaginativos y
creativos que desarrollan los niños con discapacidad intelectual en su juego de simulación, a
partir de un análisis microgenético.
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El alisis microgenético es un recurso metodológico-analítico ampliamente utilizado
en investigaciones basadas en la Teoría Histórico-Cultural (SILVA, 2017; ALMEIDA, 2018;
RIBAS, 2021). Consiste en el análisis de microeventos y surge de la interpretación de los
estudios de Vygotsky de que "fue precisamente en el aqy ahora de las acciones e interacciones
frente a una situación problemática donde se encontraron los procesos mentales s ricos"
(KELMAN; BRANCO, 2004, p. 95, nuestra traducción). De este modo, somos capaces -a partir
de una mirada detallada y depurada de las cuestiones intersubjetivas, dialógicas y
mediacionales- de percibir la emergencia de las actividades psicológicas en su contexto y dentro
de la acción específica del momento. Por lo tanto, en movimiento, contextualizado y entendido
como un proceso.
Góes (2000, p. 15, nuestra traducción) aclara que este tipo de análisis no es micro por
su duración en el espacio-tiempo del evento que se pretende analizar, "sino porque está
orientado a minucias indicativas, de ahí la necesidad de recortes en un tiempo que tiende a ser
restringido". La genética está ligada a la dimensión histórica y procesual de lo analizado, y a la
intersección de los planos filogenético, ontogetico y sociogenético, para explicar los
fenómenos psicológicos. Recibe este nombre "porque se centra en el movimiento durante los
procesos y relaciona las condiciones pasadas y presentes, tratando de explorar lo que, en el
presente, está impregnado de proyeccn futura" (GÓES, 2000, p. 15, nuestra traducción).
Contextualización de la investigación de campo y de los participantes
El presente estudio fue realizado en una clase de una clase especial
5
de discapacidad
intelectual-discapacidad múltiple, en una escuela pública, en una Región Administrativa del
Distrito Federal, Brasil. La investigación se desarrolló durante el primer semestre de 2018, con
grabación de video de 4 horas semanales de situaciones emergentes en la escuela, que directa o
indirectamente evidenciaron el juego de la fantasía. La cantidad total de material construido en
el campo asciende a 60 horas de datos transcritos en detalle. Aquí, cortamos un episodio para
el análisis de los temas mencionados.
La clase investigada forma parte de una clase temporal y transitoria, constituida
exclusivamente para estudiantes con discapacidad intelectual y discapacidad ltiple, sin
seriación, totalizando tres niños (Gael, Ana e Iza). La clase está dirigida por un profesor
5
En el Distrito Federal se admite la clase especial, la cual, de acuerdo con la Orientación Pedagógica de Educación
Especial de la Secretaría de Educación del Distrito Federal (2010), está destinada, de manera extraordinaria y
temporal, a estudiantes con discapacidad y trastorno del espectro autista.
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(titulado en Pedagogía y con especialización en servicio educativo especializado) con probada
aptitud en el área de educación especial, en el régimen de 40 horas semanales, y cuenta con el
apoyo de un monitor.
En la investigación participaron cuatro niños: Iza, Gael, Martín y Ana (7-10 os).
Martín no era de la clase estudiada, sino de otra clase especial, destinada a alumnos con
trastorno del espectro autista, que compartía recreo con los demás niños y participaba en el
episodio analizado en este artículo. Los niños mostraron diferentes perfiles, especialmente en
lo que respecta a los aspectos cognitivos, lingüísticos y de independencia en la vida diaria. A
continuación, se presentan en detalle:
Iza
6
(7 os) Diagnosticada con discapacidad intelectual, discapacidad física (usaba
silla de ruedas) y baja visión. Se expresaba bien oralmente, a pesar de la ecolalia y la repetición
sistemática de temas. El paciente presentaba babeo severo, requiriendo ayuda constante para
realizar las actividades de la vida diaria.
Gael (8 os) Tenía informes médicos de trastorno por ficit de atención con
hiperactividad, dismorfia, anomalía cromosómica (no especificada) y discapacidad intelectual.
En ocasiones, se utilizaba la vía de lectura fonológica, decodificando las letras sin extraer el
significado completo. Es capaz de reconocer y escribir el alfabeto relacionando grafema con
fonema, identificar y escribir el nombre de pila con una letra de palo, acomo palabras sencillas
con ayuda.
Martin (8 os) Tenía un reporte de trastorno del espectro autista. Se expresaba
relativamente bien y tenía dificultades para mantenerse en el aula, lo que dificultaba su
participación en las tareas que le proporcionaba el profesor.
Ana (10 os) Tenía un diagnóstico de discapacidad intelectual. Tenía dificultades
para expresarse oralmente, haciendo sonidos silábicos sin completar una palabra. Reconoció
algunas cartas y expresó una buena autonomía en la resolución de problemas prácticos.
Hay un punto que merece ser considerado con relación a la edad cronológica de los
niños estudiados, ya que se encuentran entre los 7 y los 10 años, lo que corresponde, en la
periodización histórico-cultural del desarrollo, a la edad escolar. Es un hecho que en la edad
escolar todavía identificamos la aparición de la fantasía, pero las situaciones imaginarias se
desarrollan con más fuerza en la edad preescolar, como hemos comentado anteriormente. Por
6
Se cambiaron los nombres de los participantes y la autorización para participar en la investigación fue otorgada
por los tutores legales a través de la firma del Término de Consentimiento Libre y Esclarecido y el Término de
Cesión del Derecho de Uso de Imagen y Voz. La investigación se rigió por la Resolución N.º 466 de 2012 del
Consejo Nacional de Salud.
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lo tanto, sería apropiado preguntarse: ¿por qué elegir a los escolares para investigar el juego de
simulación?
La respuesta a esta pregunta debe entenderse mediante la confluencia de tres aspectos
centrales de la Teoría Histórico-Cultural: el problema de la edad, el medio ambiente y el
desarrollo, con énfasis en la edad pedológica. Vygotski (2018), cuando abordó estos temas en
"Cuarta Clase: el problema del medio ambiente en Pedología", se refea a los niños con
desarrollo típico, pero esto no significa excluir a los niños con discapacidad intelectual de estas
consideraciones. Al fin y al cabo, los tres aspectos mencionados anteriormente merecen ser
especialmente considerados en la investigación con discapacidad intelectual, porque las
contradicciones entre la edad cronológica y la edad pedológica son aún más llamativas en estos
casos, mostrando que el foco del análisis no puede estar en los aspectos madurativos,
cronogicos y cuantitativos, sino cualitativos, como diría Vygotski. En este sentido, también
cabe destacar que, para Vygotski, la edad pedológica implica el "nivel de desarrollo que el niño
ha alcanzado realmente" (VYGOTSKI, 2018, p. 20, nuestra traducción) porque "el tiempo y el
contenido del desarrollo cambian en los diferentes años de la vida y el desarrollo del niño"
(VYGOTSKI, 2018, p. 19, nuestra traducción). Entonces, si un niño de 7 o 10 años juega a la
fantasía, ¿qué nos dice eso sobre sus ciclos de desarrollo? Este es el punto que aqnos interesa,
ya que "el medio ambiente es la fuente de desarrollo de estas características y cualidades
específicamente humanas" (VYGOTSKI, 2018, p. 90, nuestra traducción).
Procedimiento y análisis de datos
El material grabado en video en campo, por medio de una videocámara, fue transcrito
en su totalidad, cotejado con el diario de campo y organizado en forma de episodios, con el
objetivo de establecer ejes analíticos capaces de responder a los objetivos trazados para esta
investigación. Identificamos, en el conjunto de la investigación, dos ejes de análisis: 1. El uso
de objetos de apoyo en el juego de niños diagnosticados con discapacidad intelectual y 2. El
vínculo entre los procesos creativos y la realidad en la estructuración de los contextos
imaginativos de los niños participantes. En este artículo, abordaremos el primer eje de análisis,
analizando un episodio representativo de la investigación realizada.
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Resultados y análisis de datos
En el episodio que se presenta a continuación, experimentado en la dinámica de la
escuela, destacamos cuáles son los elementos particulares que componen el juego de los niños
con discapacidad intelectual, cuando hacen uso de objetos de apoyo para combinar y
recombinar los elementos de la realidad y así componer la escena lúdica. En el breve episodio,
destacamos las interacciones entre niño-niño, niño-adulto y niño-objeto, en las que los recursos
expresivos y corporales se revelan con fuerza.
Episodio 1: ¡Caja de plástico y palo!
Los estudiantes Gael, Iza y Ana están en el salón de clases. La maestra está sentada al
lado de Gael, haciendo una actividad lingüística. En el lado opuesto, esn Iza y Ana, que
manipulan la plastilina con la supervisión del monitor. A medida que se acercaba el recreo, y
cuando notó que estaba lloviendo, Gael le preguna la maestra con aprensión: "Tía, ¿hab
recreo?"
La maestra explica que sí. Pero advierte que el recreo será en el patio cubierto, junto a
la cafetería.
Gael hace una expresión facial de disgusto.
Suena la sirena que indica el inicio de la pausa. La maestra le pide a Gael que espere a
que ella termine la actividad que estaba haciendo con él. Gael se impacienta. Los otros
estudiantes no muestran ninguna reacción y continúan revolviendo la plastilina.
Al ser autorizado a ir al descanso, el estudiante toma una pequa caja de plástico de su
mochila y corre hacia el área cubierta. Iza y Ana son conducidas por el monitor y se sientan con
ella en el banco junto al espacio donde se produce el descanso.
Gael comienza entonces a correr por el patio, haciendo movimientos de disparos con la
caja de plástico, sonidos de disparos con la boca y, a veces, mueve su cuerpo en un intento de
esquivar los disparos. Simula las tomas de forma aleatoria y solitaria. Se esconde entre los
pilares como esquivando un posible ataque.
Martin, que caminaba por el patio, decide unirse a la broma de Gael. Toma un palo,
apunta a Gael y actúa como si estuviera disparando. Los dos simulan una persecución y, con la
caja de plástico y el palo, se disparan el uno al otro.
El monitor, que estaba observando la escena, interviene. Quita el palo de la mano de
Martin y les pide a los estudiantes que jueguen otra cosa. Gael escucha las recomendaciones,
se pone la caja de plástico en la cintura y sigue corriendo por el espacio, pero sin simular
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disparos y persecuciones. Martín, por otro lado, decide terminar el juego y se sienta con Iza y
Ana.
[...]
Gael espera con impaciencia el descanso. La lluvia y la decisión de la maestra de
continuar con las actividades, incluso después de que suene la sirena, generan angustia y
descontento. En clase, nos dimos cuenta de que Gael es el único estudiante que muestra cierta
ansiedad por el descanso y los juegos. Su deseo es tan grande que a menudo traen juguetes y
objetos de casa que tienen la intención de usar en el recreo. Cuando no son instrumentos
domésticos, toma juguetes o materiales del aula y los lleva al patio. Durante el juego, Gael suele
fingir ser un policía o un ladrón. La trama siempre implica persecución y acción, así como una
escenografía que configura la escena dica: los pilares, por ejemplo, actúan como protección
ante un ataque.
Para el espectador, es posible percibir que se trata de una puesta en escena lúdica en la
que se puede observar: 1) los roles sociales representados; 2) la transgresión simbólica de los
objetos (caja de plástico que se convierte en arma); y 3) la participación de los recursos
corporales y expresivos en la composición de la situación imaginaria. A continuación,
exploramos estos aspectos.
Vygotski (2022) explica que el niño tiene necesidades y deseos específicos para actuar
en la cultura. Sus deseos son objetivamente irrealizables. Sin embargo, cuando juega, satisface
sus deseos de acceder y actuar en el universo adulto, por lo que "reproduce las relaciones y
actividades laborales de los adultos de manera dica" (MUKHINA, 1997, p. 155, nuestra
traducción). Gael quiere disparar, manejar un arma, ser policía/ladrón, pero estas acciones son
imposibles para él, así que bromea. El juego, por lo tanto, debe entenderse siempre como una
realización imaginaria y fantasiosa de deseos irrealizables (VYGOTSKI, 2022).
En el juego, "cada niño aprende a comportarse de acuerdo con la situación general del
juego y la composición concreta del grupo" (MUKHINA, 1997, p. 164, nuestra traducción).
Este comentario del autor es coherente con la entrada de Martin en el chiste de Gael. No hay
arreglos previos. Sin intercambiar palabras, Martin toma un papel secundario en el contexto e
interactúa con Gael, quien rápidamente le da la bienvenida al juego.
Sin embargo, por mucho que la fantasía de Gael ocurra en un espacio que proporciona
una actividad menos dirigida, su acción al jugar se rige por reglas, ya que debemos recordar
que siempre que hay una situación imaginativa en el contexto del juego, se rige por reglas
(VYGOTSKI, 2022). Las reglas son inherentes al juego y no requieren arreglos previos, ya que
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se negocian y desarrollan en el corazón de la situación imaginaria. De esta manera, las reglas
que se experimentan en el juego son diferentes a las de carácter normativo-imponente que
provienen de los adultos, porque están determinadas por la acción misma, con el objetivo de
coherencia a lo que se escenifica. Gael, por ejemplo, se rige por las reglas sociales que son
intrínsecas al rol social que asume; Juega a ser policía/ladrón. Al respecto, Mukhina (1997, p.
160, nuestra traducción) señala que es a través del juego que "los niños llegan a conocer la vida
social de los adultos, comprenden mejor las funciones sociales y las reglas por las que los
adultos gobiernan sus relaciones".
Otro punto que nos llama la atención en el episodio presentado es que los niños se
comportan más allá del campo perceptivo-inmediato: no están atados a lo que ven
(VYGOTSKI, 2009; VYGOTSKI, 2022). Por una especie de sustitución, la pilastra se convierte
en un aparato de protección, la caja de plástico y el palo se convierten en un arma. Como hemos
comentado anteriormente, el desapego de la función real del objeto a una acción guiada por su
sustituto lúdico sólo es posible observarlo en niños de edad preescolar, cuando el desarrollo de
la imaginación se produce como una neoformación. A esta edad, "el niño opera con los objetos
como si tuvieran un significado, opera con el significado de las palabras, que sustituyen a los
objetos, esto ocurre porque en el juego las palabras se emancipan de los objetos" (VYGOTSKI,
2022, p. 312, nuestra traducción). La auténtica actividad creativa del juego sólo se produce
cuando el niño es capaz de realizar una acción que implique otra, manipulando un objeto
asumiendo otro (MUKINA, 1997; LEONTIEV, 2012).
Como hemos comentado anteriormente, la discapacidad intelectual no es un
impedimento para el desarrollo de la situación imaginaria; todo lo contrario. A pesar de que
comúnmente se caracteriza como la que genera limitaciones significativas en cuanto a la
conducta cognitiva, imaginativa y adaptativa ocasionando dificultades en el desempeño del
sujeto con respecto a las habilidades sociales, conceptuales y prácticas podemos ver que Gael
revela elementos importantes sobre su funcionamiento imaginativo. El objeto tiene sentido en
el juego de policías y ladrones; Gael y Martin sostienen el arma, esquivan balas, corren, se
esconden detrás del pilar. La escena lúdica representada por los niños presenta actividades
imaginativas que no solo reproducen, sino que crean, actualizan y amplían su comprensión de
su propia realidad social.
Gael, por ejemplo, no cuenta con una pistola de juguete (u otros accesorios para llevar
a cabo el juego deseado), el escenario (en este caso, el patio) ciertamente no era el lugar ideal
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para la actividad desarrollada. A pesar de estas limitaciones, logra -a través de la imaginación-
transformar la realidad concreta, los objetos y crear escenarios para hacer viable su obra.
En esta dinámica, destacamos que los movimientos, así como los recursos expresivos y
corporales utilizados durante el juego, conforman la escena lúdica. Martin lee los movimientos
y los recursos expresivos y corporales de Gael y, como la escena dica forma parte de su
repertorio cultural, decide unirse también al juego. Aquí, los niños interactúan más allá de la
propia enunciación verbal: al fin y al cabo, es el cuerpo el que también juega. Inseparable de la
mente, el cuerpo asume la centralidad en el evento lúdico, y recientes investigaciones han
enfatizado este aspecto (COSTA, 2018; PACHECO, 2021). La comprensión de que mente-
cuerpo es parte de una unidad es un supuesto fundamental para el alisis del juego, implicando
nuevas comprensiones sobre los elementos que involucran la actividad: formas de describirla e
interpretarla. Una persecución policial, por ejemplo, implica acciones que tienen sentido en las
expresiones que los cuerpos realizan en la obra compartida entre los chicos.
En este sentido, es importante destacar que Martin se convierte en un compañero en la
representacn de Gael y comienzan a componer la misma trama. Aquí se percibe una relación
entre los chicos y el acontecimiento de la vida cotidiana, que adquiere una dimensión
imaginativa. A medida que entramos en disparar a Gael en el juego, nos damos cuenta de la
necesidad, el deseo y la motivación de Martin para ser parte del juego. Al fin y al cabo, cuando
los niños juegan en colectivo, esta actividad se enriquece, ya que aprenden a coordinar sus
acciones con compañeros imaginarios y a ayudarse mutuamente (BARBATO; MIETO, 2015).
En otras palabras, Gael y Martin nos muestran que a través del juego de simulación no hay
necesidad de una invitación sistematizada para que se produzca la participación del otro. Gael
realiza la asunción de un papel y juega. Imagina y, en la accn dica, compone a su personaje.
El juego está, por tanto, marcado sin guiones predefinidos, lo que hace posible que, en la acción
del momento, la trama se transforme y se flexibilice, aportando fluidez a la dinámica lúdica
representada.
Además de los aspectos mencionados anteriormente, nos gustaría problematizar la
actitud del monitor ante el argumento y el contenido del juego. Esta pregunta nos parece
importante porque se refiere a las formas en que los adultos intervienen en las acciones lúdicas
de los niños. Mukhina (1997) explica que los juegos dramáticos, con la incorporación de roles,
se organizan en torno al argumento y al contenido. El primero se refiere a la realidad que se
representa en el acto de jugar, y cuanto mayores son las experiencias sociales del niño, más
amplios y variados son los argumentos. El contenido, a su vez, remite al detalle del guión, es
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decir: el guión de la escena que los niños presentan en la fantasía, aquello que emana del juego
intersubjetivo de los roles articulados a la escena. En el episodio descrito, la trama es la
persecución policial, y el contenido es la forma en que Gael y Martin se relacionan entre para
dar sentido a la escena, manteniendo su coherencia; Se disparan unos a otros, esquivan, se
esconden entre los pilares, etc. La discusión y el contenido de la broma de Martin y Gael parecen
incomodar al monitor. ¿Cuál es la causa de las molestias?
Vivimos en una cultura donde no es común y recomendable que los niños manejen
pistolas de juguete porque están vinculadas a la agresión y la muerte. De a surge la
incomodidad del monitor: una cierta sensación de que el juego es inapropiado. Sin embargo,
los intereses de Gael se vuelven hacia este tema porque la experiencia lúdica parece engendrar
en los niños afectos de valentía, ataque e intrepidez (entre otros). Aquí, los efectos
movilizadores del juego merecen atención.
En cuanto a los temas de afecto, Vygotski afirma que la situación imaginaria "enseña al
(niño) a no seguir ciegamente los sentimientos, sino a coordinarlos con las reglas del juego y
con su objetivo final" (VYGOTSKI, 2010, p. 123, nuestra traducción). En otras palabras: en el
juego, las emociones de los niños están reguladas (y están, dialécticamente, reguladas) por el
significado de lo que se escenifica. Experimentar estas situaciones de policías y ladrones, por
ejemplo, es fundamental para el desarrollo de un niño. Se trata de situaciones que implican la
ampliación de la experiencia subjetiva, lo que implica necesariamente una mayor
generalizacn de los afectos, que se movilizan durante la situación imaginaria. Aquí, los juicios
morales, en la mayoría de los casos, no son positivos para el desarrollo del juego, ya que
restringen, restringen e impiden su ocurrencia.
Sucede que, dentro de este contexto de análisis, es necesario problematizar otro punto:
la movilización afectiva de la monitora resultante de la situación imaginaria que vive como
espectadora. Aquí, el monitor revela su atención al juego; Observa lo que crean los chicos y se
ve afectada por la situación imaginaria. Como alguien que observa y escudriña la acción lúdica
de los chicos, también revela sus formas de reaccionar ante lo que se representa. En otras
palabras, las implicaciones afectivas del juego no se restringen al niño, sino que también
apuntan a preguntas importantes sobre el propio papel del adulto en el significado atribuido a
la actividad.
Las notas resaltadas revelan el poder creativo de los niños investigados. Pero no
podemos ignorar el hecho de que los niños con discapacidad intelectual tienen particularidades
en los procesos que implican abstracción y generalización. Gael, por ejemplo, durante la
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investigación realizada, jugó preferentemente a policías y ladrones. Este tema dico siempre
fue sugerido por el niño, con poca variación en el patrón y la trama del juego (ABREU, 2019).
Podemos decir que hubo una cierta rigidez, tanto en la elección del tema como en el uso de los
objetos sustitutivos. Esto nos pareció una peculiaridad del juego de los niños con discapacidad
intelectual. No es un obstáculo, sino una especificidad importante de tu psique.
Al respecto, Vygotski (2019, p. 336, nuestra traducción), coincidiendo parcialmente con
las investigaciones de Kurt Lewin (1890-1947), afirma, en el texto "Problemas del retraso
mental", que:
[...] el niño con debilidad mental manifiesta, al mismo tiempo, una restricción
peculiar y una fijación que le excluye la posibilidad de actividades de
sustitución; Pero también conserva la tendencia, claramente expresada, de
sustituir las actividades difíciles por formas más fáciles y primitivas.
Esta afirmación de Vygotsky es intrigante y puede ser tomada en su negatividad.
¿Estaba el autor contradiciendo sus ideas iniciales y centrándose en el defecto y las limitaciones
del niño? Una lectura apresurada de este denso texto puede llevar al lector menos atento a esta
conclusión apresurada. Sin embargo, Vygotsky avanza en el análisis y, rompiendo con las
concepciones hegemónicas de su tiempo: el intelectualismo, de Edouard Seguin (1812-1880),
y el voluntarismo, de Kurt Lewin, reorienta la discusión en una nueva dirección al poner en el
centro del debate el problema de la conciencia humana: la unidad del afecto y el intelecto.
Para Vygotsky, ambas teorías eran incapaces de superar sus limitaciones
epistemológicas y carecían del materialismo histórico-dialéctico para explicar mejor el
desarrollo de los niños con discapacidad intelectual. Para él, era imprescindible revisar los
preceptos teóricos, plantear la cuestión al revés y pensar el problema desde la unidad indivisible
intelecto-afecto. Esta posición del autor nos permite afirmar que causa y consecuencia
intercambian lugares.
Las formaciones psíquicas superiores, cuando surgen sobre la base de ciertas premisas
dinámicas, ejercen una influencia retroactiva sobre los procesos que las originan. En Psicología
Histórico-Cultural, lo más bajo cambia a lo más alto: "no solo cambian las funciones
fisiológicas propiamente dichas, sino también, en primer lugar, varían los vínculos
interfuncionales y las relaciones entre los diferentes procesos, particularmente entre el afecto y
el intelecto" (VYGOTSKI, 2019, p. 345-346, nuestra traducción). Aquí, tenemos la defensa de
que los procesos y acciones intelectuales no surgen involuntariamente, ya que son movidos por
procesos dinámicos, necesidades e impulsos afectivos. Por lo tanto, nuestro pensamiento está
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siempre psicológicamente condicionado y es el resultado de un impulso afectivo que lo mueve
y lo dirige.
Basándose en Spinoza, Vygotski (2019, p. 351, nuestra traducción) continúa afirmando
"afecto como aquello que aumenta o disminuye la capacidad de actividad de nuestro cuerpo y
fuerzas que se cree que se mueven en una determinada dirección". Aqtenemos, entonces, el
nexo funcional central: la relación entre el pensamiento (unidad intelecto-afecto) y la actividad.
O más concretamente: el sentido de la acción para el niño.
Para Vygotski, esto cambia cualitativamente la forma en que el niño se involucra en la
actividad y moviliza sus procesos psicológicos. Tiene en cuenta los afectos involucrados, la
flexibilidad o rigidez frente a las actividades "y, al mismo tiempo, la estabilidad aún deficiente,
la fijación y difusión de los procesos que tienen lugar en el sistema nervioso y en la psique del
niño" (VYGOTSKI, 2019, nota 147, p. 338, nuestra traducción). En el hilo conductor de este
argumento, es importante considerar que el juego es una actividad dinámica y fundamental que
explora tales vínculos causales. Esto merece ser enfatizado porque cuando los niños juegan,
incluso con sus particularidades, han potenciado la reorganización de sus funciones
psicológicas como una forma de superar las limitaciones que experimentan en su desempeño
social: su juego está lleno de significado y moviliza nuevas formas de pensar sobre la realidad,
sobre el otro y sobre sí mismos.
Observaciones finales
A lo largo del texto, buscamos comprender los procesos imaginativos y creativos del
juego de los niños con discapacidad intelectual. Elegimos el juego, como sugiere Vygotsky,
como eje conductor del desarrollo, tomando un episodio significativo para reflexionar sobre el
surgimiento de la fantasía.
El episodio seleccionado revela procesos imaginativos y, por tanto, creativos del juego
del niño con discapacidad intelectual. Al fin y al cabo, Gael (uno de los niños participantes)
elabora, a través de sus recursos imaginativos, su imaginación: representa personajes del
universo cultural, transgrede las imposiciones perceptivas de los objetos y compone escenarios
lúdicos imaginados. Las formas en que se configura su situación imaginaria revelan "un eco de
lo que el niño ha visto y oído de los adultos" (VYGOTSKI, 2009, p. 17, nuestra traduccn).
Aquí, el juego no se entiende como un simple recuerdo de lo que se accedió en la experiencia
social, sino s bien como "una reelaboración creativa de las impresiones experimentadas"
Recursos creativos movilizados en el imaginario de niños con discapacidad intelectual
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(VYGOTSKI, 2009, p. 17, nuestra traducción). Esto nos permite afirmar que hay una marca
autoral en la fantasía.
Todos los niños, independientemente de sus especificidades de desarrollo, producen
cultura ejerciendo su potencial creativo, registrando una firma singular sobre lo que crean y
elaboran: dejan sus huellas. Coincidimos en que "apostar por las capacidades intelectuales y
artísticas de los sujetos es partir del supuesto de que todo el mundo puede crear y toda creación,
se realice o no colectivamente, es social" (MAHEIRIE; BARRETO, 2019, p. 121, nuestra
traducción).
En esta línea argumental, el estudio de Mendonça (2013) merece ser destacado porque
señala el carácter creativo del desarrollo de los niños con discapacidad intelectual. Para la
autora, estos niños desarrollan una capacidad potencialmente más compleja de reorganización
neurogica que aquellos sin discapacidades. Esto es especialmente cierto cuando se les llama
a participar activamente en los contextos culturales y, por tanto, educativos en los que se les
incluye. En este sentido, la dimensión lúdica es fundamental porque involucra aspectos que
relacionan las dimensiones intelectual y afectiva del funcionamiento psicológico. En otras
palabras, disminuir, debilitar y restringir la aparición de situaciones lúdicas en niños con
discapacidad intelectual es mantenerlos atrapados en la fijeza de su comportamiento,
reforzando patrones de comportamiento y funcionamiento psicológico que no contribuyen a su
desarrollo. El enfoque de la escuela, especialmente de los maestros, debe ser el contrario. Las
experiencias lúdicas son indispensables en la vida de los niños con discapacidad intelectual.
Por esta razón, los adultos y otros nos deben jugar con ellos, proponer escenarios y temas
lúdicos, operando, de manera cada vez más compleja, con la sustitución de objetos,
enriqueciendo y aportando vitalidad al juego. El juego es una actividad fructífera que impulsa
nuevos ciclos de desarrollo, ya que permite a los niños con discapacidad intelectual actuar más
allá de sus habilidades habituales y su comportamiento diario. Es una actividad que debe ser el
foco de interés de los educadores y, por lo tanto, merece ser estudiada en profundidad.
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA y Fabiana Luzia de Rezende
MENDONÇA
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CRediT Author Statement
Reconocimientos: Reconocimiento a la Universidad de Brasilia.
Financiación: Universidad de Brasilia.
Conflictos de intereses: No hay conflictos de intereses.
Aprobación ética: El trabajo siguió los principios éticos establecidos para la investigación
con seres humanos.
Disponibilidad de datos y material: No aplicable.
Contribuciones de los autores: Todos los autores contribuyeron por igual a la composición
del artículo.
Procesamiento y edición: Editora Iberoamericana de Educación - EIAE.
Corrección, formateo, normalización y traducción.
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CREATIVE RESOURCES MOBILIZED IN THE MAKE-BELIEVE OF CHILDREN
WITH INTELLECTUAL DISABILITIES
RECURSOS CRIADORES MOBILIZADOS NO FAZ DE CONTA DE CRIANÇAS COM
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
RECURSOS CREATIVOS MOVILIZADOS EN EL IMAGINARIO DE NIÑOS CON
DISCAPACIDAD INTELECTUAL
Fabrício Santos Dias de ABREU1
e-mail: fabra201@gmail.com
Daniele Nunes Henrique SILVA2
e-mail: daninunes74@gmail.com
Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA3
e-mail: mtmscosta@gmail.com
Fabiana Luzia de Rezende MENDONÇA4
e-mail: fabianaluzia.rezende@gmail.com
How to reference this article:
ABREU, F. S. D. de; SILVA, D. N. H.; COSTA, M. T. M. de S.;
MENDONÇA, F. L. R. Creative resources mobilized in the make-
believe of children with intellectual disabilities. Revista Ibero-
Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00,
e023160, 2023. e-ISSN: 1982-5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17937
| Submitted: 01/04/2023
| Revisions required: 16/05/2023
| Approved: 22/06/2023
| Published: 27/12/2023
Editor:
Prof. Dr. José Luís Bizelli
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
State Department of Education of the Federal District (SEEDF), Estácio University Center, Brasília DF Brazil.
Professor. PhD in Education from the University of Brasília (UnB).
2
University of Bralia (UnB), Brasília DF Brazil. Professor at the Institute of Psychology, the Postgraduate
Program in Developmental and School Psychology (UnB) and the Postgraduate Program in Education (Unicamp).
PhD in Education (Unicamp) and Post-doctorate in Social Psychology (PUC-SP). CNPq Productivity Scholarship.
3
State Department of Education of the Federal District (SEEDF), Brasília DF Brazil. Retired Professor. PhD
in Psychology (UnB).
4
State Department of Education of the Federal District (SEEDF), Brasília DF Brazil. Professor. PhD in
Psychology (UnB).
Creative resources mobilized in the make-believe of children with intellectual disabilities
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023160, 2023. e-ISSN: 1982-5587
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ABSTRACT: This study investigates the play of children with intellectual disabilities based
on the Historical Cultural Theory with the purpose of questioning: the representation of roles;
the substitutive use of support objects; and the participation of bodily resources in play.
Through microgenetic research, with analysis of an episode that occurred in a Brazilian public
school, it was verified that the participants' play involved the assumption of characters and the
symbolization of objects to compose fictitious scenarios. These data indicate that this audience
has a complex imaginative functioning but marked by specificities that deserve investigation.
KEYWORDS: Imagination. Intellectual Disability. To play.
RESUMO: Este estudo investiga a brincadeira de crianças com deficiência intelectual, a partir
da Teoria Histórico-Cultural, com objetivo de problematizar a representação dos papéis, o uso
substitutivo dos objetos de apoio e a participação dos recursos corporais no brincar. Por meio
da pesquisa microgenética, com análise de um episódio de faz de conta, ocorrido em uma
escola pública brasileira, verificou-se que a brincadeira dos participantes envolveu assunção
de personagens e simbolização dos objetos para composição de cenários fictícios. Esse dado
aponta que esse público possui funcionamento imaginativo complexo, porém marcado por
especificidades que merecem ser investigadas.
PALAVRAS-CHAVE: Imaginação. Deficiência Intelectual. Brincar.
RESUMEN: Este estudio investiga el juego de niños con deficiencia intelectual, a partir de la
Teoría Histórico Cultural, con el prosito de cuestionar la representación de roles, el uso
sustitutivo de objetos de apoyo y la participación de recursos corporales en el juego. A través
de una investigación microgenética, con alisis de un episodio, ocurrido en una escuela
blica brasileña, se verificó que el juego de los participantes involucraba la asunción de
personajes y la simbolización de objetos para componer escenarios ficticios. Estos datos
señalan que este público tiene un funcionamiento imaginativo complejo, pero marcado por
especificidades que merecen ser investigadas.
PALABRAS CLAVE: Imaginación. Discapacidad intelectual. Jugar.
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA and Fabiana Luzia de
Rezende MENDONÇA
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Introduction
Throughout Lev Semionovitch's intellectual production Vygotski (1896-1934),
imagination constitutive of the complex psychological system is discussed from different
biases and conceptual perspectives, raising different questions. Would it be an activity, a
function and/or a system? This more general questioning demonstrates the different facets that
make up the theoretical spectrum, which runs through the work of the Belarusian author, on the
aforementioned theme. At times, imagination is conceived as a specifically human activity
linked to the creative action of transforming nature (VYGOTSKI, 2009; VYGOTSKI, 2022).
In others, imagination is a superior psychological function linked to artistic and cathartic
processes (VYGOTSKI, 1999) and towards the end of Vygotski's work, imagination is
responsible for crowning the complex psychological system (VYGOTSKI, 2012).
In the work Pedagogical Psychology (2010), for example, the author was interested in
the aspects involving aesthetic education: the pedagogical instrumentalization of art, the limits
between morality and art, as well as the aspects involving the aesthetic reaction (the passivity
and activity in artistic contemplation), bringing important contributions to artistic creation in
children's educational training. In Psychology of Art (1999), Vygotski problematized the
specificity of the work of art, the aesthetic reaction and the impact of the cathartic experience
on psychological functioning. His emphasis highlighted, among others, the intrinsic
relationships between emotion and imagination involved, catalyzed and channeled in the
creative process inherent to the work of art.
In 1930 (VYGOTSKI, 2022), Vygotski wrote a set of texts about imagination in human
development, placing it at the center of questions involving what is specifically human. These
ideas from Vygotski allowed contemporary authors to defend the ontological dimension of
creation (PINO, 2005, 2006; PEDERIVA; TUNES, 2013; MAHEIRIE; ZANELLA, 2020,
among others), positioning the theme of imagination and freedom at the center of the issues that
concern Historical-Cultural Theory (SAWAIA; SILVA, 2015).
Another contribution was made in the scope of pedological studies (1931-1934). In the
text “Imagination and creation of the adolescent” (VYGOTSKI, 2022), for example, the author
highlights the centrality of imagination for the sense of freedom, by focusing on the
development of people with compromised higher functioning. Here, Vygotski points out that
imaginative activity is not characterized as a primary, autonomous and merely reactive function
of the adolescent's psychic functioning. In the transitional age, imagination relies on complex
concepts, acting independently of concrete aspects, as it works based on abstract thinking.
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Vygotski (2012) categorically states that, in the transitional age, imagination crowns the
superior psychological system, as highlighted previously.
Fantasy, therefore, is not the primary, independent and guiding function of the
adolescent's psychic development, its development is a consequence of the
concept formation function, a consequence that culminates and crowns all the
complex processes of change that the adolescent undergoes in his mental life.
(VYGOTSKI, 2012, p. 208-209, our translation).
Vygotsky 's work stands out for its optimistic outlook, unprecedented at the time, when
analyzing the development of people with disabilities. The texts in which he directly exposes
the theme were compiled, in 1983, in Volume V of Selected Works Fundamentals of
Defectology (1997, 2019). In relation to children who have some cognitive disability, studies
on defectology by Vygotski (1997) highlight that the difference between those considered
normal and those called “with disabilities” is not limited to quantitative aspects of intelligence,
but refers to relationships between the environment, the organic structure and the formation of
personality (DIAS; OLIVEIRA, 2013). For the author, it is essential to focus on the functioning
of higher psychological functions, which must be understood in systemic terms and dependent
on cultural dynamics.
The deepening of the idea of systemic functioning of higher psychological functions,
linked to disability, is a problem that is at the heart of Historical-Cultural Theory, after all:
“Pathology provides us with the key to understanding development and development, the key
to understanding pathological conditions (VYGOTSKI, 2012, p. 206, our translation). And, in
the field of imaginative functioning among the multiple activities that involve creation in
ontogenesis , playing seems to us to be a fertile field of investigation to give visibility to these
intricate relationships.
For Vygotsky, the emergence of the imaginary situation at age is a central event for
understanding child development. And it would be no different for children with disabilities.
Following this argument, in this article we ask: what characterizes the play of children with
intellectual disabilities? What imaginative resources do they mobilize in the composition of
their games?
As a response to these questions, in this text we analytically explore the play of a child
diagnosed with intellectual disability, through the microgenetic analysis of a scene from an
episode of pretend play unfolding in the context of the playground of a public school on the
outskirts of Brazil. Federal District (central-west of Brazil). Taking this case as a trigger, our
objective is to problematize: 1) the assumption of social roles and voluntary attachment to the
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Rezende MENDONÇA
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principles that govern the behavior enacted; 2) the creative and substitutive use of support
objects during the act of playing; and 3) the performative role of the body in the constitution of
the playful scene. Next, we will explore the theoretical aspects that mobilize and support the
analysis of the episode presented.
Playing and the imaginary situation: the driving force of child development
Two questions are central to understanding pretend play: a) its origin in development
and b) what is its role in the child's development. These two questions open the text: “Le jeu et
son role dans le development psychologique de l'enfant” (VYGOTSKI, 2022) with a central
question: would pretend play be a driving force for development or a predominant activity of
the child? Vygotski explains: playing is not the predominant activity, but the guiding thread of
a child's development.
Critical of perspectives that understand playing as an activity driven by pleasure,
Vygotski emphasizes that the dimension of the child's needs, desires and interests mobilize the
development of action. In the author's position, it is essential to understand what are the
elements that motivate the child's action and how they are articulated at each age. In the specific
case of children between approximately 3-7 years old (preschool age), Vygotsky observes the
emergence of a new type of interest: unrealizable tendencies, desires that are impossible to be
immediately satisfied and the possibility of detaching themselves from the perceptual field
something that was not possible to be observed at a previous age. He states: “It seems to me
that at preschool age, without the maturation of non-realizable impulses, there would be no
playing(VYGOTSKI, 2022). What we can say is that such non-immediately resolved needs
and desires characterize the development of the imaginary situation.
Imagination, in this case, is the new formation that is absent in early childhood, that
does not exist in other animals and appears vigorously in the imaginary situation. Here, it is
important to emphasize that the child's conduct is not bound to the limits of the concrete event;
it is based on the generalization of their affective relationship, which emerges in the imaginary
situation. This, however, does not mean that the child is aware of the reasons that lead him to
the imaginary situation. She plays because she is impelled to imaginative action.
But what's important about pretend play? What gives meaning to the imaginary
situation? The rules that are implied in the game itself, Vygotski would say. Play necessarily
involves behavior regulated by the child, through a very particular relationship with socially
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constituted rules. What rules are these? First, the rules of behavior, which are not determined
in advance, but developed throughout the activity itself. The child then wants to be a teacher
and acts according to a teacher's rules of behavior; the way she perceives, generalizes and
experiences the social function of being a teacher. The rule of behavior guides the imaginary
situation. Therefore, he states that there is no imaginary situation without rules. For him, saying
that children are free when they play is an interpretative mistake.
Another characteristic of the pretend game is that which derives from the object itself
that guides the action. After all, the child acts independently of what he sees, as his action is
guided by the meaning that the object assumes in the imaginary situation. A brick can turn into
a radio; a pencil can turn into a plane. This detachment from the perceptual field is only possible
thanks to the linguistic and expressive resources that make up the imaginary situation. In early
childhood, the word is oriented in space, in the configuration of places that are delimited by a
specific situation. But at preschool age, we observe, for the first time, the detachment between
the semantic field and the visual field in development.
Detaching the thought (the meaning of the word) from the object is an
extremely complex task for the child. The game becomes a way of
transitioning to this. The moment the stick, that is, the object, becomes the
fulcrum to highlight the meaning of the horse from the real horse, at this
critical moment a fundamental psychological structure is radically
transformed, the one that determines the child's relationship with the reality
(VYGOTSKI, 2022, p. 225, our translation).
And what allows the transformation from the perceptual field to the semantic field? It
is the support object, often translated as pivot object, which also configures the imaginary
situation.
The child cannot yet separate thought from the object, he must have a point of
support in another object, this is where the child's weakness is expressed; to
think about the horse, she must determine her actions with the horse with the
stick as a support point (VYGOTSKI, 2022, p. 223, our translation).
The object is fundamental to the development of the imaginary situation. And, in
relation to it, it is also important to consider certain rules. These are not the social rules of
behavior, as we have explored previously, but the rules that circumscribe the object itself.
As we highlighted, the functioning of the object rule lies in the prevalence of its
semantic value. Therefore, it is not just any object that can be replaced in the playful action, but
only an object that bears a certain relationship with the meaning of the action. The broomstick
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA and Fabiana Luzia de
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can play the role of a horse, but an envelope cannot play a horse to the child. There are
conformities between the support object and the imaginary situation. “I would say that the child,
in the game, operates with the help of the meaning separated from the object, but this is
inseparable from a real action with a real object” (VYGOTSKI, 2022, p. 254, our translation).
Leontiev (2012, p. 131, our translation), once exemplified:
When a child sitting at a table creates a situation in which a person walking
represents, for example, a doctor running to see a patient or to go to a
pharmacy, a pencil, stick or toothpick can equally represent the person. With
these objects, the child can successfully perform the operation of changing
positions, that is, the generalized movements required by the action on the toy.
But the matter is different when the child has a soft ball in his hands. The
required action cannot be performed with it; the movement lacks the
characteristic “walking” configuration, and there comes a moment when
playful action is no longer possible. Therefore, not every object can play any
role in play, or even toys can play different roles, depending on their character,
and participate differently in the structure of the game. To avoid returning,
especially to this point, let us note, in passing, the main differences that
distinguish, in this aspect, the various toy objects.
All the considerations elaborated so far allow us to affirm that the imaginary situation
develops from what children experience directly or indirectly in their relationship with
culture, as presented in the Vygotskian idea (see: the first Law of relationship between
imagination and reality in Vygotski, (2022)). This helps us understand that the rules of behavior
and the rules of the object, which make up the imaginary situation, emerge from culture. It turns
out that children are not restricted to cultural determination, as their ways of (re)producing
reality imply a certain creative elaboration. The creation involved in pretend play leads us to
several theoretical questions about the role of imagination a new formation in child
development. Here we are particularly instigated by the aspects involved in the ways of
elaborating on reality, via creative processes, which are involved in the development of children
with intellectual disabilities.
Creative resources mobilized in the make-believe of children with intellectual disabilities
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023160, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.17937 8
The play of children with intellectual disabilities in Historical-Cultural Theory
In the texts organized in the book Fundamentals of Defectology (works published
between 1924-1935), Vygotski (1997, 2019) addressed the problem of the complex functional
system. His qualitative analysis of atypical development is, without a doubt, revolutionary for
the time. According to him, it is not possible to define how far a child will develop, and organic
limitation in itself is not limiting, nor even an impediment to the emergence of intellectual
functions. On the contrary, we must pay attention to the emergence of powerful areas of
development that appear in children with disabilities, because the compensatory processes are
more poignant in them.
In the chapter “The problem of mental retardation” (1997) – one of the last texts written
by the author Vygotsky presents, however, a somewhat pessimistic view of the development
of intellectually compromised children. He states that “abstract thinking, like imagination,
requires a particular fluidity and mobility of psychological systems and, naturally, this is why
in both areas in particular they are incompletely developed in the mentally retarded child”
(VYGOTSKI, 1997, p. 258, our translation).
The same pessimistic tone appears in the text about playing entitled “The role of play
in the child's psychological development” (VYGOTSKI, 2022). In it, Vygotski (2022, p. 297,
our translation) points out that “research shows that it is not only when we are dealing with
children with insufficient intellectual development that play does not develop, but also with
children whose affective sphere is not sufficiently developed”.
These two quotations when disjointed from the general context of the work could
give us the impression that Vygotsky was contradictory because, in a way, he would be
emphasizing the irreconcilable limitations between the development of children with mental
retardation and imaginative functioning. But, based on this premise, it would be inconsistent
with the argumentative set defended in his work on defectological issues.
In our opinion, Vygotsky is, in fact, demonstrating that there are, indeed, specificities
in the abstract thinking of children with intellectual disabilities, which has implications for their
creative processes. He speaks in terms of incompletely developed areas, but does not elaborate
exhaustively on what he meant, leaving room for misinterpretation. In short: what did he mean
by incompletely developed areas? What are these implications?
To deepen this debate, we propose, in this article, to put on screen the pretend play of
children with intellectual disabilities, understanding that the imaginary situation is the driving
force (guiding activity) of child development.
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA and Fabiana Luzia de
Rezende MENDONÇA
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Method
In the search to understand the aspects that make up the pretend play of children
diagnosed with intellectual disabilities, we opted for a methodology affiliated with Vygotsky 's
legacy. For the author (2018, p. 37, our translation), the method means the way of investigating
(or studying) a defined part of reality: it is the path of knowledge that leads to the
understanding of scientific regularities in some field”. To this end, the bases that govern this
investigation are anchored in historical-dialectic materialism, which allows the appearance of
the studied object to be revealed in order to interpret it in theoretical and analytical light. We
are interested in “real individuals, their actions and their material living conditions, both those
already encountered by them and those produced by their own action(MARX; ENGELS,
2009, p. 87, our translation).
For observations, records and decomposition of data, we also followed the guidelines
of Vygotsky (2010) which presuppose the refined selection of the researcher's perspective to
select the facts that we wish to understand analytically. In these terms, “the first skill (rule) of
the scientific observer lies in knowing the set of facts that must be isolated from the rest”
(VYGOTSKY, 2010, p. 287, our translation). The second consists of the researcher's ability to
categorize observations by similarity, distributing them into specific analytical groups. The
third refers to the understanding of these categories as part of a complex whole that is
interconnected, even when divided by methodological issues. Finally, the researcher needs to
have the ability not only to describe the facts, but also to be able to explain them. In other words,
“to find the causes and relationships based on these data(VYGOTSKY, 2010, p. 287, our
translation). In the meantime, our focus is on understanding the imaginative and creative
processes developed by children with intellectual disabilities in their pretend play, based on a
microgenetic analysis.
Microgenetic analysis is a methodological-analytical resource widely used in research
based on Historical-Cultural Theory (SILVA, 2017; ALMEIDA, 2018; RIBAS, 2021). It
consists of the analysis of micro-events and arises from the interpretation of Vygotsky 's studies
that it was exactly in the here and now of actions and interactions in the face of a problem
situation that the richest mental processes were found” (KELMAN; BRANCO, 2004, p. 95, our
translation). Thus, from a detailed and refined look at intersubjective, dialogical and mediational
issues, we are able to perceive the emergence of psychological activities in their context and
within the specific action of the moment. Therefore, in movement, contextualized and
understood as a process.
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Góes (2000, p. 15, our translation) clarifies that this type of analysis is not micro due to
its duration in the space-time of the event that is intended to be analyzed, “but rather because it
is oriented towards indexical minutiae hence the need for cut-offs in time which tends to be
restricted.” Genetics is linked to the historical and procedural dimension of what is analyzed,
and to the intersection of phylogenetic, ontogenetic and sociogenetic planes, to explain
psychological phenomena. It receives this name “because it focuses on movement during
processes and relates past and present conditions, trying to explore what, in the present, is
permeated with future projection” (GÓES, 2000, p. 15, our translation).
Contextualization of field research and participants
The present study was carried out in a class of a special class of
5
intellectual disability-
multiple disability, in a public school, in an Administrative Region of the Federal District,
Brazil. The research was developed during the first semester of 2018, with video recording of
4 hours per week of emerging situations at school, which directly or indirectly evidenced the
game of make-believe. The total amount of material built in the field totals 60 hours of data
transcribed in detail. Here, we cut an episode for the analysis of the above-mentioned issues.
The class studied is part of a temporary and transitional class, created exclusively for
students with intellectual disabilities and multiple disabilities, without classification, totaling
three children (Gael, Ana and Iza). The class is led by a teacher (qualified in Pedagogy and
specialized in specialized educational services) with proven aptitude in the area of special
education, working 40 hours a week, and has the support of a monitor.
Four children participated in the research: Iza, Gael, Martin and Ana (7-10 years old).
Martin was not from the class researched, but from another special class, aimed at students with
autism spectrum disorder, who shared recess with the other children and participated in the
episode analyzed in this article. The children demonstrated disparate profiles, especially
regarding cognitive, linguistic and independence aspects in daily life. They are presented in
detail below:
5
In the Federal District, the special class is admitted, which, according to the Pedagogical Orientation of Special
Education of the Department of Education of the Federal District (2010), is intended, extraordinarily and
temporarily, for students with disabilities and autism spectrum disorder.
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Iza
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(7 years old) Diagnosed with intellectual disability, physical disability (used a
wheelchair) and low vision. She expressed herself well orally, despite echolalia and the
systematic repetition of themes. He had severe sialorrhea, requiring constant assistance to carry
out activities of daily living.
Gael (8 years old) He had medical reports of attention deficit hyperactivity disorder,
dysmorphia, chromosomal abnormality (unspecified) and intellectual disability. At times, the
phonological reading route was used, decoding the letters without extracting the complete
meaning. Can recognize and write the alphabet relating grapheme-phoneme, identify and write
first name with simple letters, as well as simple words with assistance.
Martin (8 years old) Has a report of autism spectrum disorder. He expressed himself
relatively well and had difficulty staying in the classroom, which hindered his participation in
the tasks provided by the teacher.
Ana (10 years old) She was diagnosed with intellectual disability. He demonstrated
difficulties in expressing himself orally, making syllabic sounds without completing a word.
He recognized some letters and expressed good autonomy in solving practical problems.
There is a point that deserves to be considered in relation to the chronological age of the
children researched, as they are between 7-10 years old, which corresponds, in the historical-
cultural periodization of development, to school age. It is a fact that at school age we still
identify the emergence of make-believe, but imaginary situations develop more vigorously at
preschool age, as discussed previously. So, it would be appropriate to ask: why choose school-
age children to research pretend play?
The answer to this question needs to be understood through the confluence of three
central aspects of Historical-Cultural Theory: the problem of age, environment and
development with an emphasis on pedological age. Vygotski (2018), when discussing these
issues in Fourth Class: the problem of the environment in Pedology”, was referring to children
with typical development, but this does not mean excluding children with intellectual
disabilities from these considerations. After all, the three aforementioned aspects deserve to be
especially considered in research on intellectual disabilities, as the contradictions between
chronological age and pedological age are even more striking in these cases, showing that the
focus of the analysis cannot be on the maturational, chronological and quantitative aspects, but
6
The names of the participants were changed and authorization to participate in the research was given by their
legal guardians by signing the Informed Consent Form and the Assignment Term of Right to Use Image and Voice.
The research was governed by Resolution No. 466, of 2012, of the National Health Council.
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qualitative as Vygotski would say. Regarding this, it is still worth highlighting that, for
Vygotski, pedological age involves the level of development that the child has actually
reached” (VYGOTSKI, 2018, p. 20, our translation) because the time and content of
development change in the different years of life and child development” (VYGOTSKI, 2018,
p. 19, our translation). So, if a 7 or 10 year old child plays pretend, what does this tell us about
their developmental cycles ? This is the point that interests us here, since “the environment is
the source of development of these specifically human characteristics and qualities
(VYGOTSKI, 2018, p. 90, our translation).
Procedure and data analysis
The material videorecorded in the field, by means of a camcorder, was transcribed in
full, collated with the field diary and organized in the form of episodes, with the objective of
establishing analytical axes capable of responding to the objectives outlined for this research.
We identified, in the total body of the research, two axes of analysis: 1. The use of support
objects in the play of children diagnosed with intellectual disability and 2. The link between
creative processes and reality in the structuring of the imaginative contexts of the participating
children. In this article, we will deal with the first axis of analysis, analyzing a representative
episode of the research carried out.
Results and data analysis
In the episode presented below, experienced in the dynamics of the school, we highlight
which particular elements make up the play of children with intellectual disabilities, when they
use support objects to combine and recombine the elements of reality and thus compose the
playful scene. In the brief episode, we highlight the interactions between child-child, child-
adult and child-object, in which expressive and bodily resources are revealed in a powerful way.
Episode 1: Plastic box and stick!
Students Gael, Iza and Ana are in the classroom. The teacher is sitting next to Gael,
carrying out a language activity. On the opposite side, there are Iza and Ana, who manipulate
the modeling clay under the supervision of the monitor. As break approaches and noticing the
rain falling , Gael apprehensively asks the teacher: Auntie, will there be recess?
The teacher explains yes. But please note that recess will be in the covered courtyard,
close to the cafeteria.
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Gael makes a facial expression of discontent.
The siren sounds indicating the start of the break. The teacher asks Gael to wait, so she
can finish the activity she was developing with him. Gael gets impatient. The other students do
not show any reaction and continue to work with the modeling clay.
When allowed to go to break, the student takes a small plastic box from his backpack
and runs towards the covered area. Iza and Ana are led by the monitor and sit with her on the
bench close to the space where the break takes place.
Gael then starts running around the yard, making shooting movements with the plastic
box, shooting sounds with his mouth and, at times, moving his body in an attempt to dodge
shots. He simulates shots randomly and alone. He hides between the pillars as if he were
dodging a possible attack.
Martin, who was walking through the courtyard, decides to join Gael's game. He takes
a stick, aims it at Gael and acts like he's shooting. The two simulate a chase and, using the
plastic box and the stick, shoot each other.
The monitor, who was watching the scene, intervenes. He takes the stick out of Martin's
hand and asks the students to play something else. Gael listens to the recommendations, puts
the plastic box on his waist and continues running through the space, however, without
simulating shooting or chasing. Martin, on the other hand, chooses to end the game and sits
down with Iza and Ana.
Gael anxiously awaits the break. The rain and the teacher's decision to continue
activities, even after the siren sounded, generate anguish and discontent. In the class, we noticed
that Gael is the only student who shows some anxiety about the break and the games. His desire
is so great that he often brings toys and objects from home that he intends to use during
playtime. When they are not household instruments, he takes toys or materials from the
classroom and takes them to the playground. During the game, Gael usually pretends to be a
police officer or a thief. The plot always involves chase and action, as well as a scenography
that sets up the playful scene: the pillars, for example, act as protection from an attack.
The viewer can see that this is a playful performance in which one can observe: 1) social
roles represented; 2) the symbolic transgression of objects (plastic box that turns into a weapon);
and 3) the participation of bodily and expressive resources in the composition of the imaginary
situation. Below, we explore these aspects.
Vygotski (2022) explains that the child has specific needs and desires to act in the
culture. Their desires are objectively unrealizable. But, when the child plays, she/he satisfies
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her desires for access and action in the adult universe, which is why she “reproduces the
relationships and work activities of adults in a playful way(MUKHINA, 1997, p. 155, our
translation). Gael wants to shoot, handle a gun, be a police officer/thief, but these actions are
impossible for him, so he plays. Play, therefore, must always be understood as an imaginary
and fantasy fulfillment of unrealizable desires (VYGOTSKI, 2022).
In play, “each child learns to behave according to the general situation of the game and
the concrete composition of the group (MUKHINA, 1997, p. 164, our translation). This
comment by the author is consistent with Martin's entry into Gael's game. There are no prior
arrangements. Without exchanging words, Martin takes on a supporting role in the context and
interacts with Gael, who readily welcomes him into the game.
However, even though Gael's pretend play takes place in a space that provides a less
directed activity, his action when playing is governed by rules, as we need to remember that
whenever there is an imaginative situation in the context of play, it is governed by rules
(VYGOTSKI, 2022). The rules are inherent to the game and do not require prior agreement, as
they are negotiated and developed at the heart of the imaginary situation. In this way, the rules
that are experienced in play are different from those of a normative-impositive nature that come
from adults, as they are determined by the action itself, with the objective of coherence to what
is enacted. Gael, for example, is governed by the social rules that are intrinsic to the social role
he assumes; he plays at being a police/robber. Regarding this, Mukhina (1997, p. 160, our
translation) highlights that it is through play that children get to know the social lives of adults,
they better understand the social functions and the rules by which adults govern their
relationships”.
Another point that catches our attention in the episode presented is that children behave
beyond the immediate perceptual field: they are not tied to what they see (VYGOTSKI, 2009;
VYGOTSKI, 2022). By a kind of substitution, the pillar becomes a protective device, the plastic
box and the stick become a weapon. As we discussed previously, the detachment from the real
function of the object to an action guided by its playful substitute is only possible to be observed
in children of preschool age, when the development of imagination occurs as a new formation.
At this age, the child operates with objects as if they had a meaning, they operate with the
meaning of words, which replace objects, this occurs because in play words are emancipated
from objects” (VYGOTSKI, 2022, p. 312, our translation). The authentic creative activity of
playing only happens when the child is able to perform an action that implies another,
manipulating one object supposing another (MUKINA, 1997; LEONTIEV, 2012).
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As we discussed previously, intellectual disability is not an impediment to the
development of the imaginary situation; quite the opposite. Although it is commonly
characterized as one that generates significant limitations, with regard to cognitive, imaginative
functioning and adaptive behavior, causing difficulties in the subject's performance with
regard to social, conceptual and practical skills , we can see that Gael reveals important
elements about their imaginative functioning. The object gains meaning in the game of cops
and robbers; Gael and Martin hold the gun, dodge bullets, run, hide behind the pillar. The
playful scene represented by the boys presents imaginative activities that not only reproduce,
but create, update and expand their understanding of their own social reality.
Gael, for example, does not have a toy gun (or other accessories to carry out the desired
game), the setting (in this case, the courtyard) was certainly not the ideal place for the activity
developed. Despite these limitations, he can through imagination transform concrete reality,
objects and create scenarios to make his play possible.
In this dynamic, we emphasize that the movements, as well as the expressive and bodily
resources used during the game make up the playful scene. Martin reads the movements and
expressive and bodily resources that Gael performs and as the playful scene is part of his
cultural repertoire he also decides to participate in the game. Here, children interact beyond
the verbal enunciation itself: after all, it is the body that also plays. Inseparable from the mind,
the body assumes centrality in the playful event, and recent research has emphasized this aspect
(COSTA, 2018; PACHECO, 2021). The understanding that mind-body integrates a unit is a
fundamental assumption for the analysis of play, implying new understandings about the
elements that involve the activity: ways of describing and interpreting it. A police chase, for
example, involves actions that gain meaning in the expressions that the bodies make in the game
shared between the boys.
Regarding this, it is important to highlight that Martin becomes a companion in
representing Gael and they begin to compose the same plot. Here, we can notice a relationship
between the boys and the events of everyday life, which takes on an imaginative dimension.
When he starts shooting at Gael during the game, we realize Martin's need, desire and
motivation to be part of the game. After all, when children play collectively, this activity
becomes rich, as they learn to coordinate their actions with pretend play partners and help each
other (BARBATO; MIETO, 2015). In other words, Gael and Martin show us that through
pretend play there is no need for a systematic invitation for the other's participation to occur.
Gael assumes a role and plays. Imagine and, in playful action, compose your character. The
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game is, therefore, scheduled without pre-defined scripts, which allows, in the action of the
moment, the plot to transform and become more flexible, bringing fluidity to the playful
dynamics represented.
In addition to the aspects mentioned above, we would like to problematize the monitor's
attitude towards the argument and the content of the game. This question seems important to us
because it concerns the ways in which adults intervene in children's playful activities. Mukhina
(1997) explains that dramatic games, with the incorporation of roles, are organized around the
argument and content. The former concerns the reality that is represented in the act of play
and the greater the child's social experiences, the broader and more varied the arguments will
be. The content, in turn, refers to the detail of the argument, that is: the script of the scene that
the children present in pretend play what emanates from the intersubjective game of the roles
articulated in the scene. In the episode described, the argument is the police chase, and the
content is the way in which Gael and Martin relate to each other to give meaning to the scene,
maintaining its coherence; They shoot at each other, dodge, hide between pillars, etc. The
argument and content of Martin and Gael's joke seem to make the monitor uncomfortable. What
is the cause of the discomfort?
We live in a culture where it is not common and recommended for children to handle
toy weapons as they are linked to aggression and death. Hence the monitor's discomfort: a
certain feeling that the game is inappropriate. However, Gael's interests turn to this theme
because the playful experience seems to engender in boys’ feelings of bravery, attack and
fearlessness (among others). Here, the mobilizing affections of playing deserve attention.
Regarding issues of affection, Vygotski states that the imaginary situation teaches (the
child) not to blindly follow feelings, but to coordinate them with the rules of the game and with
its final objective(VYGOTSKI, 2010, p. 123, our translation). In other words: in the game,
children's emotions regulate (and are, dialectically, regulated) by the meaning of what is staged.
Experiencing these police and robber situations, for example, is fundamental for a child's
development. These are situations that imply the expansion of subjective experience, which
necessarily involves a greater generalization of affects, which are mobilized during the
imaginary situation. Here, moral judgments, in most cases, are not positive for the development
of the game, as they restrict, restrain and prevent its happening.
It turns out that, within this context of analysis, another point needs to be problematized:
the affective mobilization of the monitor resulting from the imaginary situation she experiences
as a spectator. Here, the monitor reveals her attention to the game; she observes what the boys
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create and is affected by the imaginary situation. As someone who observes and scrutinizes the
boys' playful action, she also reveals their ways of reacting to what is being represented. In
other words, the affective implications of playing are not restricted to the child, but also point
to important questions about the adult's own role in the meaning attributed to the activity.
The highlighted notes reveal the creative power of the children investigated. But we
cannot ignore the fact that children with intellectual disabilities present particularities in the
processes that involve abstraction and generalization. Gael, for example, during the research
carried out, preferably played police and robber. This playful theme was always suggested by
the boy, with little variation in the pattern and plot of the game (ABREU, 2019). We can say
that there was a certain rigidity, both in the choice of theme and in the use of substitute objects.
This seemed to us to be a particularity of the play of children with intellectual disabilities. This
is not an obstacle, but an important specificity of your psyche.
Regarding this, Vygotski (2019, p. 336, our translation), while partially agreeing with
the investigations of Kurt Lewin (1890-1947), states, in the text Problems of Mental
Retardation”, that:
[...] the child with mental weakness manifests, at the same time, a peculiar
restraint and a fixation that excludes for him the possibility of replacement
activities; however, it also retains the clearly expressed tendency to replace
difficult activities with easier and more primitive forms.
This statement by Vygotsky is intriguing and can be taken in its negativity. Would the
author be going against his initial ideas and focusing on the child's defect and limitations? A
hasty reading of this dense text may lead the less attentive reader to this hasty conclusion.
However, Vygotski advances in the analysis and, by breaking with the hegemonic conceptions
of his time: intellectualism, by Edouard Seguin (1812-1880), and voluntarism, by Kurt Lewin,
reorients the discussion in a new direction by placing the debates the problem of human
consciousness: the affect-intellect unity.
For Vygotsky, both theories mentioned above were unable to overcome their
epistemological limitations and lacked the historical-dialectic materialism to better explain the
development of children with intellectual disabilities. For him, it was essential to review
theoretical precepts, put the question upside down, and think about the problem from the
indivisible unity of intellect-affect. This position of the author allows us to affirm that the cause
and consequence exchange places.
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Superior psychic formations, when they emerge, based on certain dynamic premises,
exert a retroactive influence on the processes that give rise to them. In Historical-cultural
Psychology, the lowest changes to the highest: “not only do the physiological functions
themselves change, but also in the first place, the interfunctional links and the relationships
between the different processes vary, particularly between affect and intellect” (VYGOTSKI,
2019, p. 345-346, our translation). Here, we have the defense that intellectual processes and
actions do not arise involuntarily, as they are driven by dynamic processes, needs and affective
impulses. Therefore, our thinking is always psychologically conditioned and results from an
affective impulse that moves and directs it.
Supported by Spinoza, Vygotski (2019, p. 351, our translation) continues to state “affect
as what increases or decreases our body’s capacity for activity and forces thought to move in a
certain direction”. Here, then, we have the central functional nexus: the relationship between
thought (intellect-affect unity) and activity. Or more specifically: the meaning of the action for
the child.
For Vygotsky, this qualitatively changes the way the child engages in the activity and
mobilizes their psychological processes. He takes into account the affects involved, the
flexibility or rigidity in the face of activities “and, at the same time, the still deficient stability,
fixation and diffusion of the processes that take place in the child's nervous system and psyche”
(VYGOTSKI, 2019, note 147, p. 338, our translation). In line with this argument, it is important
for us to consider that playing is a dynamic and fundamental activity that explores such causal
links. This deserves to be highlighted because when children play, even with their
particularities, they have the potential to reorganize their psychological functions as a way of
overcoming the limitations they experience in their social activities: their play is full of meaning
and mobilizes new ways of thinking about the real, about the other and about oneself.
Final comments
Throughout the text, we seek to understand the imaginative and creative processes of
playing in children with intellectual disabilities. We chose playing, as suggested by Vygotski,
as the driving line of development, taking a significant episode to reflect on the emergence of
make-believe.
The selected episode reveals imaginative and, therefore, creative processes in the play
of children with intellectual disabilities. After all, Gael (one of the participating children)
Fabrício Santos Dias de ABREU; Daniele Nunes Henrique SILVA; Marina Teixeira Mendes de Souza COSTA and Fabiana Luzia de
Rezende MENDONÇA
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elaborates, through his imaginative resources, his make-believe: he represents characters from
the cultural universe, transgresses the perceptual impositions of objects and composes imagined
playful scenarios. The ways in which their imaginary situation is configured reveal an echo of
what the child saw and heard from adults” (VYGOTSKI, 2009, p. 17, our translation). Here,
play is not understood as a simple memory of what was accessed in social experience, but rather
“a creative re-elaboration of experienced impressions” (VYGOTSKI, 2009, p. 17, our
translation). This allows us to affirm that there is an authorial mark on make-believe.
All children regardless of their developmental specificities produce culture by
exercising their creative potential, registering a unique signature about what they create and
elaborate: they leave their marks. We agree that “betting on the intellectual and artistic
capabilities of subjects is based on the assumption that everyone can create and all creation,
whether or not carried out collectively, is social” (MAHEIRIE; BARRETO, 2019, p. 121, our
translation).
In this line of argument, the study by Mendonça (2013) deserves to be highlighted
because it highlights the creative nature of the development of children with intellectual
disabilities. For the author, these children develop a more potentially complex neurological
reorganization capacity than those without disabilities. This occurs, especially, when they are
called upon to actively participate in the cultural and, therefore, educational contexts in which
they are included. In this sense, the playful dimension is fundamental because it involves
aspects that relate the intellective and affective dimensions of psychological functioning. In
other words, reducing, weakening, restricting the emergence of playful situations in children
with intellectual disabilities is keeping them trapped in the fixity of their behavior, reinforcing
patterns of behavior and psychological functioning that do not contribute to their development.
The focus of the school, especially the teachers, should be the opposite. Playful
experiences are essential in the life of children with intellectual disabilities. Therefore, adults
and other children must play with them, propose playful scenarios and themes, operating in an
increasingly complex way, with the replacement of objects, enriching and bringing vitality to
the game. Playing is a fruitful activity that promotes new developmental cycles, as it allows
children with intellectual disabilities to act beyond their usual skills and everyday behavior. It
is an activity that should be the focus of interest of educators and, therefore, deserves to be
deeply studied.
Creative resources mobilized in the make-believe of children with intellectual disabilities
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CRediT Author Statement
Recognitions: Thanks to the University of Brasília.
Funding: University of Bralia.
Conflicts of interest: None.
Ethical approval: The work followed the ethical principles established for research with
human beings.
Availability of data and material: Not applicable.
Author contributions: All authors contributed equally to the composition of the article.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Review, formatting, standardization, and translation.