Ariadne BOTECHIA; Felipe Oliveira CAVALIERI e Suely MACIEL
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 19, n. 00, e024019, 2024. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.19014 5
Esse estigma acompanha a humanidade desde suas civilizações mais antigas, como
evidenciado por Silva (1986), ao mencionar os Chiricoa, povo que habitava a selva colombiana.
Este grupo frequentemente se mudava, deixando para trás pessoas com deficiência, idosos e
doentes na antiga moradia da tribo, devido às necessidades de sobrevivência.
Situações semelhantes ocorriam em outras civilizações, como no Egito Antigo, onde
graves doenças, deficiências físicas e problemas mentais eram interpretados como
manifestações de demônios, maus espíritos ou castigos por pecados de vidas passadas. A
solução para essas adversidades dependia de intervenções divinas, sacerdotes ou práticas
religiosas, como preces, exorcismos e cirurgias (Silva, 1986).
Em termos de presença na sociedade, pessoas com deficiência poderiam ser encontradas
em diversas camadas sociais, desde faraós, nobres e artesãos até escravos, conforme
evidenciado por artefatos egípcios que mostram que algumas pessoas com deficiência
conseguiram ter vida social e formar famílias (Pereira; Saraiva, 2016).
Na Grécia Antiga, onde a força física e a beleza eram supervalorizadas, a marginalização
era comum para aqueles que não atendiam aos ideais de força e beleza exigidos para os
participantes de guerras. Indivíduos cujas características não se alinhavam com esses padrões
eram frequentemente excluídos e, em muitos casos, eliminados, com exceção dos guerreiros
feridos e mutilados, que eram protegidos pelo Estado (Schewinsky, 2004). Os gregos viam as
pessoas com deficiência como inúteis para a sociedade, considerando-as seres subumanos.
Em Esparta e Atenas, crianças com deficiências físicas, sensoriais e mentais
eram rotuladas como subumanas, o que justificava sua eliminação e abandono.
Essas práticas eram coerentes com os ideais atléticos, de beleza e estruturas
de classes que fundamentavam a organização socioeconômica dessas cidades-
estados. Em Esparta, as crianças deficientes eram atiradas dos rochedos,
enquanto em Atenas, eram rejeitadas e abandonadas em praças públicas ou
nos campos (Rodrigues; Maranhe, 2012, p. 13).
No início do século XIX, a deficiência estava associada à inutilidade, dependência e
incapacidade e, muitas vezes, resultava em abandono e exclusão. As decisões em relação a
pessoas com deficiência eram fundamentadas em preceitos morais e éticos da época (Peranzoni;
Freitas, 2012). No entanto, durante o século XIX, houve uma mudança fundamental, com a
atenção especializada se expandindo além das instituições, para incluir estudos específicos
sobre diferentes tipos de deficiência (Fonseca, 2015).
O século XX testemunhou uma série de mudanças de paradigma significativas, que
culminaram em avanços para as pessoas com deficiência. Durante esse período, a sociedade
organizou-se coletivamente para enfrentar os desafios e atender melhor às necessidades das