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Tue, 02 Jan 2024 in Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação
IMPACTOS DA PANDEMIA DA COVID-19 NA EDUCAÇÃO: DA EDUCAÇÃO BÁSICA AO ENSINO SUPERIOR NO DISTRITO FEDERAL - BRASIL
RESUMO:
Refletir sobre os impactos da pandemia da COVID-19 na Educação para professores, familiares e estudantes de pós e graduação durante a implementação do ensino remoto foi o objetivo do estudo. A pesquisa foi realizada em diferentes âmbitos da educação e legislações. O texto, organizado em quatro partes, aborda metodologicamente: uma síntese da Pandemia da COVID-19; a legislação fixada durante a pandemia; as impressões dos familiares e professores da educação básica sobre a pandemia da COVID-19 e; entrevista com estudantes de pós-graduação e análise de TCC de estudantes de graduação que viveram, durante a formação, o isolamento social. Os resultados destacam o impacto da pandemia na educação sob várias óticas: econômica, tecnológica, de relacionamento, de distanciamento social, mas principalmente de saúde pública, como detalhado no corpo do artigo.
Main Text
Introdução
O enfrentamento a pandemia ocasionada pela COVID-19 evidenciou ainda mais as desigualdades sociais no Brasil, dentre elas o acesso à educação, pois, foi estabelecido por normativas federal e estadual o isolamento social, obrigando o fechamento das instituições educacionais. As medidas restritivas oficiais desconfiguraram a realidade social, em especial a educação, foco de discussão deste trabalho. No Distrito Federal (DF), resoluções, decretos pareceres e medidas provisórias do Governo Federal e órgãos reguladores do ensino brasileiro passaram a regular a educação formal, da educação básica e superior, particulares e públicas, como nos lembra Chagas (2021).
A suspensão de tais atividades escolares presenciais, assinaladas por estes regulamentos, instituiu o ensino remoto como alternativa de continuidade aos estudos. Assim, foram implantados diversos programas pelo Brasil e, em especial, no Distrito Federal o Programa Escola em Casa DF no seu sistema de ensino público (Distrito Federal, 2020d). Fazendo uso de diferentes TDICs como sala virtual Google Classrrom, Teams e outros mediadores, propunha-se atendimento e acompanhamento pedagógico remoto aos estudantes (Chagas, 2021).
O estudo ora apresentado tem como objetivo refletir sobre os impactos da implementação do ensino remoto durante a pandemia da COVID-19 para professores, estudantes de pós e de graduação, bem como familiares dos estudantes de educação fundamental. Trata-se de uma síntese de 4 estudos realizados em diferentes âmbitos no decorrer da pandemia da COVID-19.
O estudo foi estruturado em quatro etapas, conforme enuncia o texto, organizado em quatro partes: a primeira constitui-se de uma síntese do colapso provocado pela Pandemia da COVID-19 no mundo, por meio de um estudo bibliográfico em fontes extraídas no campo da saúde. A segunda parte diz respeito a uma pesquisa documental, cujo instrumento para obter as informações preteridas foi a legislação de educação estabelecida pelo DF, especialmente, da SEDF, orientações determinadas durante a pandemia como forma de controlar a situação junto à população, em especial, no que se refere à educação. A terceira parte, por sua vez, refere-se a uma síntese da pesquisa de Iniciação Científica realizada por estudantes de graduação, sob nossa orientação. Investigou-se as impressões dos familiares e professores da educação básica sobre a pandemia da COVID-19 durante o isolamento social. Na quarta parte destinou-se a analisar os registros de estudantes de pós-graduação em educação e Trabalhos de Conclusão de Curso de estudantes do curso de Pedagogia que vivenciaram a formação deles durante o isolamento social decorrente da referida pandemia. Também foram analisados os registros de professores sobre as aulas remotas no cenário pandêmico. Como encerramento, apresentamos as considerações finais, na qual expressamos uma síntese integradora do estudo.
Metodologia
A metodologia, de abordagem qualitativa e quantitativa, oportunizou a análise de pesquisa bibliográfica, documental e de registros de professores referentes as aulas remotas durante a pandemia. Vale salientar que todos os dados coletados a esse respeito se encontram publicizados nas páginas de suas instituições de ensino.
As pesquisas bibliográfica e documental, proporcionaram obter informações e conhecimentos sobre o objeto de estudo (Creswell, 2010). Como instrumentos da pesquisa bibliográfica para ter acesso a esses, utilizamos referenciais da esfera da saúde sobre o contexto pandêmico e trabalhos de conclusão de curso da graduação em Pedagogia.
Na pesquisa documental, recorremos a fontes primárias sobre o objeto pesquisado, cujos instrumentos utilizados foram: normativas da SEDF sobre orientações em relação ao controle da pandemia e Trabalhos de Conclusão de Cursos de estudantes de Pedagogia que abordaram a categoria “Pandemia da COVID-19” em suas pesquisas produzidos em 2020 a 2021.
Como pesquisa de campo, realizamos uma pesquisa on-line com docentes e familiares de estudantes de uma escola pública do DF visando compreender as suas condições materiais para prover o ensino remoto pautado por TIDCs. Estes dados, portanto, foram extraídos de um banco de dados da SEEDF.
O que dizem os referenciais da esfera da saúde em relação à pandemia de COVID-19
Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020) declarou o surto de coronavírus COVID-19, uma pandemia global. Esta situação atingiu a população humana, de tal forma, que acirrou significativamente as desigualdades sociais, nas esferas econômica, política, social, de saúde e educacional. Após um ano, houve mais de 77 milhões de casos de COVID-19 em todo o mundo, incluindo 89 milhões nos Estados Unidos e 35 milhões no Brasil.
As infecções pelo SARS-CoV-2 podem resultar em sintomas leves a graves, características presentes em uma doença denominada COVID-19, o que resulta no aparecimento de sintomas diversos que afeta todas as faixas etárias. (Ramkissoon; Wang, 2021). Entender a COVID-19 passou a ser uma emergência de saúde pública e compreender seu impacto direto e indireto nos seres humanos é altamente relevante.
Em todo o mundo, impuseram bloqueios nacionais para combater o aumento dos casos de COVID-19. No Reino Unido, foram implementados pela primeira vez em 23 de março de 2020. No National Health Service (NHS), serviço nacional de saúde do Reino Unido, a maioria dos procedimentos médico-cirúrgicos eletivos foram interrompidos na tentativa de aumentar a disponibilidade de vagas para pacientes com COVID-19 que requeriam internação hospitalar. Os funcionários foram para departamentos com pressões crescentes - principalmente em UTI, enfermarias de Medicina Aguda e Respiratórias, com os médicos muitas vezes forçados a preencher outras vagas de pessoal, como enfermeiros de UTI (Anjum et al., 2021).
A pandemia da COVID-19 resultou em sérias implicações sociais, econômicas e de saúde para a população global, tanto por meio de infecção direta quanto por meio de amplos esforços de mitigação. As populações vulneráveis incluíam, principalmente, os dependentes de uso de álcool. Estudos na China indicam um aumento mais de 2 vezes na incidência de ingestão de bebida alcóolica desde o início da pandemia. Nos Estados Unidos, as vendas de álcool aumentaram 55% durante grande parte do primeiro mês da pandemia. Estes estudos também desvelaram que as severas diretrizes de quarentena causaram impactos psicológicos negativos. Estudo realizado na China relatou um aumento da ansiedade, estresse incontrolável e depressão em mais da metade da população pesquisada após medidas semelhantes. Gula, desemprego, perda de atividades ao ar livre ou em grupo e privação de apoio social resultaram em recaída em pacientes com transtorno por uso de álcool (Ramkissoon; Wang, 2021).
Os últimos anos exigiram esforços globais sem precedentes. Para entender o SARS- CoV-2 e a COVID-19 é preciso acompanhar o seu desenvolvimento. Quando o SARS-CoV-1 foi identificado pela primeira vez em humanos em 2002, o sequenciamento genômico do vírus levou vários meses. Desde então, os avanços tecnológicos permitiram que o SARS-CoV-2 fosse mapeado dentro de semanas do primeiro caso reconhecido. Meses depois, essa informação genética permitiu um rastreamento sofisticado do trabalho de transmissão, cadeias, permitindo que os pesquisadores entendessem que uma variante de trabalho particularmente infecciosa do vírus agora se tornou globalmente dominante. Segundo a OMS, a região das Américas continua sendo responsável, com maior proporção de casos e óbitos cumulativos (Sohrabi; Mathew; Frnchi, 2021).
As medidas restritivas incluíram o fechamento de escolas, universidades e instituições de pesquisa, bem como fronteiras e empresas levaram a imposição de restrições a população. Como resultado, todas as universidades e instituições de pesquisa tiveram que definir e alocar cuidadosamente as atividades de pesquisas que foram interrompidas (Sohrabi; Mathew; Frnchi, 2021).
Além da doença física, a pandemia criou e amplificou estressores psicossociais, incluindo isolamento social, incerteza futura, medo de estigmatização, falta de acesso à saúde, preconceito racial e de gênero, falta de apoio social e dificuldades financeiras. Distúrbios do sono, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão, abuso de drogas e de álcool, qualidade de vida prejudicada e incapacidade de retornar à rotina diária normal foram relatados entre pessoas em recuperação de infecção aguda. Por exemplo, o isolamento e a incapacidade familiar de visitar pacientes hospitalizados com COVID-19 aguda potencializaram sentimentos de depressão e TEPT pós-alta. Foi constatado, também, que 50% dos sobreviventes de SARS-CoV-2 eram positivos em pelo menos um dos domínios neuropsiquiátricos avaliados em estudos transversais e de coorte, tanto no cenário subagudo quanto no de longo prazo. Essas interações entre sintomas físicos e psicológicos são complexas e muitas vezes referidas como “sintomas medicamente inexplicáveis”. A neuroionização de mecanismos inflamatórios humanos implicados em outras doenças psiquiátricas pode desempenhar um papel, desencadeada pela desregulação de citocinas e pelo potencial neurotrópico do SARS-CoV-2, possivelmente induzindo autoimunidade de dados, desregulação crítica e imunológica (Korompoki et al., 2021).
Dada a disseminação pandêmica da COVID-19, a saúde de milhões de pessoas pode ter sido afetada a longo prazo. A COVID-19 nem sempre é uma doença agudamente reversível, mas pode ter um segundo ato em alguns pacientes. A COVID-19 de longo prazo é uma doença multissistêmica com efeitos de longo prazo e de longo alcance e uma constelação complexa de sintomas que, embora incomuns, podem resultar em morbidade crônica significativa. O ritmo de recuperação dos sintomas não é linear, em grande parte indefinido, e um quadro completo da história natural e da carga da doença crônica de COVID-19 pode levar muitos meses, ou até anos, para surgir. No nível populacional, a COVID-19 de longo prazo está desafiando rapidamente nossos sistemas de saúde e tem o potencial de exacerbar a fragmentação dos cuidados. Embora as diretrizes rápidas tenham começado a surgir, existem 182 várias questões de pesquisa sem respostas que são objeto de intensa investigação. É necessária, portanto, uma abordagem holística e baseada em evidências para assistência médica e suporte para operadoras de longa distância (Sohrabi; Mathew; Frnchi, 2021).
Esta é a realidade da COVID-19 sob a ótica das pesquisas em saúde. Não menos importante, encontramos neste ambiente várias instituições sociais como igrejas, praças, centros de convivências, cinemas, teatros, shopping centers, em especial escolas, dentre tantas outras, fechadas por força de lei para se evitar a disseminação do vírus. Entretanto, o mundo demorou a perceber o grau de periculosidade da doença demorando a fechar as escolas.
No Brasil, em especial, o processo foi mais demorado tendo em vista que o governo federal não contribuía. Ao contrário, negava isolamento social, pois tudo isto logo seria superado, por se tratar de uma “gripezinha” e que o importante seria o “contágio de rebanho” para que a população brasileira alcançasse a imunidade. Esta hipótese foi descartada pelos profissionais da saúde, pois o número de óbitos aumentava exponencialmente.
Chegado fevereiro de 2020, quando se esperavam os festejos carnavalescos no Brasil, a população se depara com a pandemia da COVID-19, contaminando as primeiras vítimas. Nos três primeiros meses foram registrados mais de 21 mil mortos. Com isto, os estados brasileiros passaram a tomar medidas emergenciais visando frear a velocidade do contágio e evitar o caos na rede hospitalar. O contágio foi tamanho que logo foi preciso a instalação, mesmo que precária, de hospitais de campanha. A pandemia avançou descontroladamente chegando ao interior do país devastando a população. Como o governo federal demorou a tomar as iniciativas, o poder executivo dos Estados e Municípios passaram a adotar medidas radicais como o lockdown, no intuito de controlar tal contaminação, mesmo afetando fortemente a economia e aumentando a miséria no país.
Como em todos as áreas, a educação foi diretamente afetada pelas medidas de isolamento social em todos os níveis e modalidades do ensino. As atividades presenciais escolares foram interrompidas por quase um ano, afastando crianças, jovens e adultos da convivência diária com seus pares. Todavia, as incertezas sobre o redimensionamento do calendário escolar ou do ano letivo permaneceram por quase um ano.
Felizmente as TIC - Tecnologias de Informação e Comunicação - oportunizaram a imediata resposta a esse impasse. Por meio delas, da internet, de diversos aplicativos e das redes sociais foi possível restabelecer a comunicação entre a escola e atender aos estudantes mesmo que minimamente, tendo em vista que nem todos tinham acesso as TICs. Considerando, então, as tecnologias digitais, a resposta aos impasses pelo isolamento dos estudantes também se constatou que o acesso a tais tecnologias não se apresenta democrático, tendo em vista as condições materiais, isto é, socioeconômicas, que possuem os estudantes. Parte deles não possuem computadores, celulares, tampouco sinal de internet em suas residências. Por outro lado, as escolas não se encontravam preparadas tecnologicamente, nem pedagogicamente, para assumirem este novo processo educativo, mesmo estando na era da informática - da revolução digital. O advento das nanotecnologias, a expansão das redes mundiais de comunicação, radicais mudanças na produção industrial e nas formas de trabalho e de prestação de serviços marcam essa fase mais recente da modernidade.
O emprego das TICs na educação escolar, forçadamente utilizado por força da pandemia da COVID-19 mostra-se não apenas um fato irreversível bem como um desafio para nós educadores, especialmente aqueles que ainda se encontram presos a práticas de ensino conservadoras.
As consequências decorrentes da pandemia levaram a realização de ajustes no plano educacional, implantando, de imediato, recursos técnicos e tecnológicos para retomada das atividades escolares. Sem formação ou orientação didático-pedagógica os docentes se depararam com uma situação nunca experimentada na rotina escolar. A alternativa emergencial mais viável foi o emprego das tecnologias digitais educacionais com aulas remotas e não presenciais.
No ensino superior, a situação foi caótica. Com a suspensão das atividades o ensino, a pesquisa e a extensão foram severamente comprometidas afetando diretamente todo o processo acadêmico que constitui o capital cultural das Universidades. Por sorte, alguns setores insistiram com suas pesquisas, especialmente no âmbito da saúde, o que ajudou no controle da pandemia. Na área das Ciências Humanas, em especial da Educação, nada aconteceu por mais de seis meses de isolamento social. Até que as universidades públicas brasileiras decidiram dar continuidade ao semestre letivo interrompido pelo isolamento social, por meio do ensino remoto revelando a alternativa emergencial exclusiva.
A legislação educacional decorrente da COVID-19
O processo formativo, de acordo com a Lei nº 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases Nacionais da Educação (Brasil, 2017), encontra-se presente em diferentes espaços humanos como a família, as manifestações culturais, os movimentos sociais, as instituições de ensino e pesquisa, dentre outras. Esta lei, em seu Art. 3º, também anuncia que a educação escolar deve ocorrer em instituições próprias numa aproximação íntima do ensino formal com o mundo do trabalho e da prática social.
A Medida Provisória nº 934 de 1º de abril de 2020 (Brasil, 2020a), implementada pelo governo brasileiro, visou adequar o ensino formal as regras da pandemia desobrigando o cumprimento total da carga horária mínima anual prevista para Educação Básica. Com isto, foi necessária a reestruturação do calendário escolar, conforme disposto no Parecer nº 05/2020 CNE/CP, de 28 de abril de 2020 (BRASIL, 2020b), pelo Conselho Nacional de Educação.
Por força de lei, Decretos nº 40.539, de 19 de março de 2020 (Distrito Federal, 2020a) e o n° 40.817, de 22 de maio de 2020 (Distrito Federal, 2020b), interromperam o ensino presencial, determinado a suspenção das atividades presenciais no Distrito Federal e a autorização para execução do ensino remoto de caráter síncrono ou assíncrono. Outro recurso legal, Portarias n° 129 de 29 de maio de 2020 (Distrito Federal, 2020d) e a n° 133 de 03 de junho de 2020 (Distrito Federal, 2020e), emitidas no Distrito Federal pela Secretaria de Estado de Educação), instituem o Programa Escola em Casa DF no intuito de regulamentar as atividades remotas nas escolas públicas do DF dando suporte tecnológico aos professores para a inserção de materiais escolares. As aulas remotas, quando aconteciam ocorriam por videoconferência em tempo real e/ou por aulas gravadas pelo Google Meet (Chagas, 2021).
A Secretaria de Educação do Distrito Federal, visando o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s), atrelou dois tipos de tecnologias, da informação e comunicação e das diferentes mídias como telefone, computador, tablets e “[...] qualquer outro dispositivo que permita a navegação na internet” (Silva, 2019, p. 16).
A prática docente, nesta realidade, tornou-se viável às custas das TIC’s pelos diferentes recursos disponibilizados para ministrarem suas aulas e/ou encaminharem material didático aos estudantes como: vídeos, músicas, jogos, textos, podcast, formulários on-line, áudios explicativos e cards. Logo, nota-se a importância da criatividade para o desenvolvimento dos eixos integradores do Currículo em Movimento do DF através da ludicidade e o letramento (Distrito Federal, 2020f).
As diretrizes orientadoras destinadas as escolas e aos profissionais da educação oportunizaram o ajuste do tempo de realização de interações síncronas e assíncronas visando compreender e sensibilizar os envolvidos, bem como redimensionar as estratégias pedagógicas para mitigar as avarias educacionais inerentes a suspensão do ensino presencial. Todavia, visando atender, inclusive, aquelas famílias desprovidas de qualquer tecnologia, ficou acordado que os estudantes recebiam atividades por meio impresso (Distrito Federal, 2020g). Para garantir a viabilidade do ensino remoto, a Secretaria de Educação do DF ofereceu cursos de formação aos professores sobre recursos e ferramentas digitais. Também foram distribuídas a estes profissionais cartilhas com orientações técnico-administrativas e metodológicas no intuito de reorientar a prática pedagógica na vigência do ensino não presencial nas escolas públicas do DF, segundo destaca Chagas (2021).
No contexto do DF, foram criados: o Comitê Central, formado por profissionais com lotação na Sede da SEEDF, o Comitê Regional constituído pelos profissionais das CRE’s e o Comitê Local formado por profissionais que atuam nas escolas públicas do DF.
Considerando que muitas famílias de estudantes atendidos nas unidades escolares apresentavam condição socioeconômica desfavorável mesmo antes da pandemia da COVID- 19, a implementação do ensino remoto nas escolas da rede pública do DF não se configurou democraticamente devido a frágil condição material da família, além das perdas de parentes acometidos pela COVID-19 reduzindo a renda em decorrência do desemprego. Nestes casos, o ensino remoto foi agravado pela falta de investimentos na educação do DF.
Os discursos dos familiares e professores da educação básica
Considerando que os estudantes dos anos iniciais do Ensino Fundamental da rede pública do Distrito Federal ainda se apresentam heterônomos em relação à realização das atividades escolares, no contexto do ensino remoto, a interação professor-família é de suma importância para suprir tal necessidade. Entretanto, as famílias, sem qualquer habilidade pedagógica e tecnológica com a plataforma Escola em Casa DF, assumiu a responsabilidade de mediar o processo educativo destes estudantes. Os estudantes do 1° ao 3° anos foram os que mais necessitaram do auxílio dos familiares para execução de atividades on-line e/ou aquisição de material impresso, visto que a alfabetização e as habilidades de leitura e escrita destes estudantes ainda se encontravam por consolidar (Chagas, 2021).
Diferentemente, para os estudantes dos 4° e 5° anos, segundo Chagas (2021), o desafio foi motivá-los à participação das aulas e a realização das tarefas escolares. Realizadas em Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e/ou como atividades impressas, os estudantes do Bloco Inicial de Alfabetização - BIA (Distrito Federal, 2014), dependeram de um suporte pedagógico sem contar com a colaboração de seus familiares.
A restrita habilidade dos professores concernentes as TIDCs, os levaram a ter dificuldade em superar situações diversas, especialmente às pedagógicas. Trata-se, como bem diz Saviani (2007), da precarização do trabalho docente principalmente quando se exige constantes adequações frente às mudanças do cenário social e político. Neste sentido, a pandemia e o ensino remoto tornaram evidente o sentido praticista da ação escolar servindo para encobrir a inabilidade e interesse do Estado em propor ações realmente factíveis para a retomada das atividades presenciais.
Visando contextualizar a realidade escolar concernente ao acesso e disponibilidade tecnológica para a retomada do ensino presencial, recorremos aos dados de uma pesquisa realizada em uma escola pública em uma Região Administrativa do Distrito Federal (Chagas, 2021). Participaram da pesquisa trinta e dois docentes regentes, quatro docentes da equipe de apoio à aprendizagem, três coordenadores pedagógicos, uma professora na biblioteca escolar, quatro profissionais na equipe gestora, dez profissionais de conservação e limpeza, quatro na cantina e quatro agentes de portaria (Chagas, 2021).
Foram analisados os dados de dois tipos de questionários aplicados à 38 profissionais da educação de uma escola e a 633 responsáveis pelos estudantes atendidos na escola pesquisada. Questionados sobre o acesso à internet os profissionais da educação, 84,2% (trinta e dois participantes) dos respondentes informaram ter acesso a internet residencial banda larga, 52,6% (vinte participantes) têm a internet móvel, 4% (quatro participantes) têm acesso via rádio e, 2,6% (um participante) acessa a internet por outros meios. Os dados anunciam que o acesso à internet parecia não ser um problema inicial para os profissionais da educação da UE pesquisada devido possuírem acesso considerando ser requisito preliminar para a realização do trabalho remoto.
Em síntese, a SEEDF disponibilizou acesso precário à internet e tecnologia aos profissionais da educação e as suas escolas que, como destaca Gomes et al. (2012), constituem os implicadores da precarização do trabalho docente. Lavado (2020) completa que, de acordo com os dados do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC), expressivo aumento de acessos à internet ao longo do ano de 2020 ampliando as reclamações dos usuários sobre as quedas nas conexões e/ou conexões lentas, dificultando a execução das tarefas das aulas remotas.
De acordo com os dados extraídos do estudo de Chagas (2021), 89,5% (trinta e quatro participantes) usam notebook, 86,8% (trinta e três participantes) celular, 15,8% (seis participantes) computador do tipo desktop, e 2,6% (um participante) outros aparelhos eletrônicos como tablet durante as atividades pedagógicas. Porém, como a SEEDF não forneceu qualquer suporte aos docentes, estes acabavam fazendo uso de seus próprios aparelhos. Esta circunstância não foge à realidade dos professores das escolas públicas do DF que não dispunham de recursos materiais suficientes e de boa qualidade para o trabalho in loco.
Quando questionados sobre o acesso dos estudantes à internet os responsáveis pontuaram que 83,4% (quinhentos e vinte e oito participantes) acessam por meio do celular dos pais ou responsáveis; 26,4% (cento e sessenta e sete participantes) acessam pelo computador de casa e 19,3% (cento e vinte e dois participantes) acessam pelo próprio celular. Infelizmente ainda foram encontrados 6,3% (quarenta participantes) que não possuem acesso à internet.
Certamente que, durante a pandemia, as TIDCs auxiliaram significativamente na integração da escola com os estudantes, bem como tornaram o processo didático de ensino e aprendizagem mais atraente. Todavia, a dificuldade das famílias em disponibilizarem seus dispositivos eletrônicos para os filhos terem acesso as aulas remotas, revelam que o acesso e disponibilidade à TIC não foram suficientes para afirmar a democratização do ensino remoto. Desprovidos de tais equipamentos, os alunos precisam esperar os responsáveis retornarem do trabalho para realizar as tarefas escolares.
Diante desta dificuldade, os familiares afirmaram, na pesquisa, que preferiam manter contato com a escola/professores por meio WhatsApp, em especial quando era para receber as atividades dos seus filhos. Os 60,2% (trezentos e oitenta e um) de respondentes afirmaram preferir receber pelo WhatsApp pessoal, 58,9% (trezentos e setenta e três) pelo WhatsApp da turma, 46,4% (duzentos e noventa e quatro) preferem buscar as atividades em papel na escola, 28,6% (cento e oitenta) pela plataforma Google Sala de Aula e 25,6% (cento e sessenta e dois participantes) por e-mail (Chagas, 2021).
Enfim, os estudos apontaram que a maioria das famílias optam receber as orientações e tarefas da escola por meio do WhatsApp pessoal ou da turma, provavelmente por ser este o aplicativo de interação mais popular entre as famílias dos estudantes, contrariando as orientações jurídicas do Estado acerca do uso do AVA do Programa Escola em Casa DF, em que se registra as atividades realizadas pelos estudantes. Mas como garantir o acesso ao AVA se as famílias, em geral, são semianalfabetas digitais?
Neste cenário apontamos uma nítida e expressiva contradição sobre o pensar e o fazer, entre professor e alunos. Para Antunes (2018) e Villas Boas (2017) essa dicotomia proporciona a desqualificação profissional e o excessivo controle do trabalho docente quanto ao ensino remoto. Portanto, o AVA proposto pela SEEDF não contempla nem atinge a todos os estudantes causando vazios pedagógicos oriundos do abismo social e econômico da comunidade escolar.
Os discursos dos estudantes de pós-graduação
Outro grupo de estudantes pesquisados foram os da pós-graduação stricto-sensu, matriculados no Programa de Pós-graduação em Educação de uma Universidade Pública do Distrito Federal. Esta universidade, assim como as demais, suspendeu o trabalho presencial por quase um ano, devido a pandemia. Iniciado o curso durante a pandemia da COVID-19, estes estudantes cursaram o mestrado completamente remoto. As aulas retornaram em agosto de 2020 através da plataforma Microsoft Teams, ferramenta oficial utilizada pela universidade, além de suportes como WhatsApp, Google Drive, SIGAA e YouTube em alguns momentos. O Teams cria salas de aula virtuais viabilizando a realização de aulas, gravação e upload de vídeo, chats interativos, dentre outros recursos.
Diante desta realidade, foi pedido a um grupo de estudantes que registrassem sobre a formação deles durante a pandemia. Para analisar esses discursos, utilizou-se Orlandi (2020) no intuito de compreender suas impressões sobre o impacto do isolamento social durante o ensino remoto. As categorias encontradas nestes discursos são: Formação, domínio das TICs, processos de aprendizagem e condições materiais. No que tangencia a formação os pesquisados afirmam que a pandemia comprometeu esse processo, especialmente no início da pandemia.
Segundo as pesquisadas (Quadro 1):
Os discursos positivos demonstram o interesse pela novidade, bem como a aceitação da única maneira de acesso e continuidade das aulas. Todavia, P1 e E1 nos revelam o quanto foi difícil este enfrentamento em relação as TICs. Este formato remoto das aulas foi considerado viável pelos estudantes da pós-graduação, tendo em vista possuírem autonomia acadêmica e um maior amadurecimento intelectual.
Outra categoria citada nos discursos das estudantes pesquisadas foram os processos didáticos de ensino e aprendizagem. Mesmo considerando que se espera dos estudantes de pós-graduação uma certa autonomia intelectual/acadêmica, o que leva ao desenvolvimento de suas aprendizagens, algumas estudantes pesquisadas apontam aspectos negativos em relação aos processos didáticos de ensino e aprendizagem (Quadro 2).
Três aspectos positivos foram destacados nos discursos do quadro 2: i) a metodologia utilizada pelos professores pautada na criatividade; ii) o diálogo aberto com os estudantes motivando a aprendizagem e; iii) a reconfiguração do tempo/espaço no ensino remoto se torna diferente. Há de se considerar nos discursos dos estudantes de pós-graduação serem possuidores de conhecimentos e saberes próprios da formação inicial e da experiência. Estes pesquisados consideram negativa a experiência do ensino remoto confirmando o que foi apresentado anteriormente sobre o desafio do ensino remoto para crianças.
Outra categoria evidenciada na análise dos discursos dos estudantes de pós-graduação foram as condições materiais. Vejamos:
A distância entre a minha casa e a faculdade é grande e, portanto, cursar o mestrado remotamente viabilizou a participação em todas as aulas sem atrasos, faltas e sem os gastos com o meio de transporte (H1).
[...] situação de vulnerabilidade socioeconômica, esses discentes estavam ainda mais expostos, pois não dispunham de condições mínimas para acompanhar um semestre letivo de maneira remota. A desigualdade social tão presente em nosso país fica ainda mais acentuada em um cenário tão difícil como esse (P1).
[...] o ensino remoto acentuou dificuldades já existentes para muitos [...] adversidades como a desigualdade em relação ao acesso a internet de qualidade e o baixo poder aquisitivo par adquirir aparelhos tecnológicos essenciais a plena participação nas aulas e realização de atividades (E1).
Os pesquisados se ressentem porque, durante o isolamento social, demandavam deles a posse de tecnologia para o “pleno” desenvolvimento das aulas. Todavia, nem todos conseguiram acompanhar devido suas limitadas condições materiais, sentindo-se marginalizados e excluídos do processo formativo. Como se observa, a análise destes discursos reifica os resultados concernentes a família e aos professores da educação básica. As dificuldades da educação básica são refletidas no ensino superior, justamente para aqueles que pesquisam a formação e a prática docente, principalmente nos processos de ensino e aprendizagem e nas condições materiais.
Os discursos dos estudantes de graduação em Pedagogia
Fazendo uso de pesquisa bibliográfica, analisou-se os Trabalhos de Conclusão de alunos de graduação licenciatura buscando compreender os efeitos da pandemia em sua formação inicial. Vale salientar que os TCC pesquisados se encontram em domínio público, portanto, passíveis de serem investigados.
Também denominado Estado do Conhecimento, objetiva apresentar a relevância desse estudo, da discussão ou não que se tem sobre o assunto pesquisado. Logo, o Estado do Conhecimento é a,
[...] identificação, registro, categorização que levem à reflexão e síntese sobre a produção cientifica de uma determinada área, em um determinado espaço de tempo, congregando periódicos, teses, dissertações e livros sobre uma temática específica. Uma característica a destacar é a sua contribuição para a presença do novo na monografia (MOROSINI, FERNANDES, 2014, p. 155).
O recorte temporal averiguado ocorreu entre os anos de 2021 e 2022. Esta investigação acerca deste assunto é significativa, pois, pelas produções acadêmicas conseguimos compreender a implicação da pandemia do COVID-19 para professores, familiares e estudantes de pós-graduação e graduação assistidos pelo ensino remoto.
As quatro produções de graduação em Pedagogia investigadas foram selecionadas por se referirem às implicações da pandemia na educação. Para melhor compreensão das informações, a Figura 1 apresenta os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) que nomeamos de T1, T2, T3 e T4 tendo em vista descrevê-las em seguida e denominar as estudantes e seus temas explicitados.
Pela leitura meticulosa dos TCC, compreendemos o assunto pandemia e o uso das TIC’s a partir das análises. Dos itens essenciais contemplados no estudo como tema/problema, objetivo, metodologia, resultados e conclusões, destacam-se a categorização das produções em T1, T2, T3 e T4, que nos permitiram melhor entendimento sobre este estudo e a compreensão conforme cada autora.
A produção acadêmica de T1 aponta para como a escola se organizou para dar continuidade à escolarização durante a pandemia da COVID-19, e como enfrentaram os problemas e suplantaram tais dificuldades.
O estudo desenvolvido em uma escola pública do Distrito Federal investigou o coordenador pedagógico, o diretor da escola, professores e responsáveis pelo aluno procurando elucidar a realidade da escola, frente a Pandemia da COVID-19. À vista disso, procurou-se compreender o desenvolvimento dos trabalhos administrativo e pedagógico mediados pelo ensino remoto. As consequências do ensino remoto, as iniciativas de gestão consolidadas nos documentos e as pesquisas realizadas durante a pandemia apoiaram os professores a lidarem com o ensino remoto, bem como a se prepararem para o retorno das aulas presenciais foram os resultados pela pesquisa.
O trabalho de conclusão T2, oportuniza um debate em relação a educação no contexto da pandemia considerando o tema ansiedade docente. A autora se dispõe a compreender a interferência do ensino remoto na saúde psicológica do docente durante a pandemia de COVID-19. Metodologicamente, por meio de abordagem qualitativa exploratória através de estudo bibliográfico foi aplicado questionário online a um grupo de professores voluntários. Os resultados reafirmaram o sofrimento psicológico durante o ensino remoto.
A formação do pedagogo por meio de aplicativos digitais no ensino remoto, durante a pandemia da COVID-19, versa a produção acadêmica de T3. A investigação visou entender como os pedagogos em formação e seus professores lidaram com o ensino remoto considerando as variadas plataformas e aplicativos utilizados para a transmissão de aulas online e a realização de atividades destinadas ao desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem no curso de Pedagogia. A metodologia assentou-se na história de vida, análise documental e aplicação de questionários a estudantes e docentes do curso de Pedagogia de uma universidade pública. Os resultados apontaram mudança na flexibilização do uso das tecnologias na formação de pedagogos professores, oportunizada pelo isolamento social provocado pela pandemia da COVID-19, mesmo que para alguns estudantes e professores, tais ferramentas foram irrelevantes para transformação social.
A produção acadêmica T4, abordou sobre “As TICs como meio principal do ensino e aprendizagem no contexto pandêmico”. Esta pesquisa foi ancorada numa metodologia qualitativa cujos dados foram extraídos de questionários on-line encaminhados pela escola pesquisada aos profissionais e aos pais e/ou responsáveis de estudantes da unidade de ensino. Assim, o estudo visou conhecer a comunidade escolar em que foi efetivado o ensino remoto implantado pela Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, devido à pandemia da COVID-19. Os resultados revelaram que a intervenção do Estado para a efetivação do ensino remoto, não levou em conta as condições materiais e necessidades das escolas públicas sequer das famílias dos estudantes. Nestes termos, o processo didático de ensino e aprendizagem foi prejudicado devido aos mesmos problemas evidenciados nos estudos supracitados: a ausência de condições materiais para o acesso à internet e as tecnologias necessárias para a realização das aulas remotas via plataforma Google Classroom. Outros aspectos como pouca interação entre docentes e discentes, a sobrecarga de responsabilidades e a inabilidade para o uso das ferramentas online disponíveis, tanto dos profissionais quanto das famílias dos estudantes, também comprometeram a organização pedagógica da escola. Nota-se o quão indispensáveis seriam se o Estado tivesse observado os investimentos tecnológicos nas unidades de ensino públicas, a retomada do desenvolvimento profissional dos docentes pautado na autonomia, o diálogo coletivo, o trabalho colaborativo e a liberdade de criação pedagógica.
Conforme estes estudos, escolas públicas, estudantes e docentes sofreram o impacto da pandemia da COVID-19 afetando significativamente a continuidade dos trabalhos, mesmo que remotamente. Tais impactos foram debitados, segundo os estudos dos TCCs: i) ao adoecimento dos indivíduos, em especial os docentes, ii) a falta de tecnologia nas escolas para dar suporte aos professores em desenvolver suas aulas remotamente e, por fim, iii) a falta de recursos das famílias para dar suporte às crianças e jovens para acompanharem de casa as aulas remotas.
Considerações finais
Conforme prometido no início deste trabalho, o estudo visou refletir sobre os impactos causados pela pandemia da COVID-19 na Educação sob a ótica de professores, familiares e estudantes de pós-graduação e graduação, e como estes diferentes sujeitos passaram por adequações para implementação do ensino remoto.
Assim, organizamos o texto em quatro pontos: 1. A legislação de educação (as normativas), especialmente da SEDF, decorrente da pandemia da COVID-19; 2. Um estudo realizado com familiares e professores da Educação Básica sobre os efeitos da pandemia; 3. Relato de experiência de estudantes de stricto sensu sobre a formação acadêmica durante a pandemia da COVID-19 e; 4. Estudos realizados por estudantes de graduação sobre os efeitos da pandemia da COVID-19 em sua formação.
No primeiro ponto, os estudos desvelaram que a legislação de educação implementada durante a pandemia surge equivocada e tardiamente constituindo-se, portanto, pouco efetiva. No segundo ponto, os estudos revelaram a fragilidade das famílias se suprirem materialmente os estudos dos filhos com tecnologia necessária para dar suporte necessário para acompanharem as aulas remotas.
O ponto terceiro nos revela que, mesmo no nível mais elevado de estudo (pós- graduação), as dificuldades oriundas do ensino remoto apresentaram as mesmas dificuldades materiais evidenciadas pelos familiares e professores da educação básica. Os professores, por sua vez, sentiram-se limitados por não conseguirem realizar pedagogicamente seu trabalho conforme deveria pelas dificuldades materiais tanto da família, quanto da escola, chegando inclusive ao adoecimento, como constatado no ponto quarto deste estudo.
O que nos chama atenção é que mesmo tendo consciência do amadurecimento intelectual que seus professores possuem, seus discursos são de desestímulo ao ensino remoto pela distância entre os participantes, principalmente pelos alunos não deixarem suas câmeras abertas para que todos se conhecessem, diminuindo a distância e acalorando as relações.
Voltando ao ponto quarto supracitado, os estudos dos TCC reafirmaram o que os outros estudos, dos pontos anteriores, declararam: o distanciamento causou adoecimento, principalmente nos docentes, além de provocar a descontinuidade do ritmo dos processos de ensino e aprendizagem, especialmente instados pelas condições materiais das famílias que se encontravam desprovidos das tecnologias necessárias ao ensino remoto.
Logo, conclui-se que a educação na pandemia oriunda da COVID-19, se apresentou desigual àquelas famílias com situação socioeconômica fragilizada. Constatamos também que, mesmo quando a família possui as condições materiais, muitas vezes apenas dominam habilidades básicas como o uso de WhatsApp que é um aplicativo conhecido da maioria dos brasileiros, dificultando o trabalho dos educadores e a interação professor/aluno.
Assim, sem a garantia dos processos didáticos de ensino e aprendizagem presencial, a SEEDF e os professores até se esforçaram em oportunizar o melhor no ensino remoto, mas a realidade não foi suficiente para suplantar tais dificuldades. Todavia, vale salientar que o ensino de qualidade como a LDB (Brasil, 2017) garante a todos o direito e o ensino remoto, foi, ao final, uma adaptação mal elaborada e desigual.
Como pode se constatar na pesquisa, os estudos bibliográficos subsidiaram a pesquisa de campo no intuito de contextualizar a realidade do problema e apresentar os movimentos efetivados pela Ciência no mundo para superação desta pandemia. Diferentemente, os estudos documentais, normativas federais e estaduais, não acompanharam os avanços da ciência dificultando ou alijando as recomendações da OMS, dentre tantas outras recomendações em âmbito mundial, nacional e local. No que tange as análises dos questionários, constatamos que não foram eficazes a ponto de desmotivarem os gestores a desenvolverem políticas em prol da educação.
Enfim, os impactos causados pela pandemia da COVID-19 na educação sob a ótica dos pesquisados no Distrito Federal, reifica a fragilidade dos gestores e da população no enfretamento da crise da COVID ante a educação escolar. A ciência e a tecnologia, no mundo capitalista, foram minadas em detrimento de políticas arcaicas e sem qualquer efeito de superação da crise supracitada. Os documentos e referenciais bibliográficos estudados, comprovaram tal fragilidade.
Todavia, pensamos, também, que a realidade social, a educação, a cultura, a sociedade, dentre outros setores, mudaram significativamente depois da pandemia. Hoje vivemos um outro tempo e, para tanto, é preciso considerar o ensino remoto como uma possibilidade que, para determinados objetivos, é perfeitamente viável. Entretanto, é fundamental para o ensino de crianças o ensino presencial, para lhes ajudarem a entender o mundo concreto, primeira forma da criança compreender o mundo.
RESUMO:
Main Text
Introdução
Metodologia
O que dizem os referenciais da esfera da saúde em relação à pandemia de COVID-19
A legislação educacional decorrente da COVID-19
Os discursos dos familiares e professores da educação básica
Os discursos dos estudantes de pós-graduação
Os discursos dos estudantes de graduação em Pedagogia
Considerações finais