Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação

“Minhas queridas parteiras”: entrevista com Dona Zenaide

Luciana Eliza dos Santos — 2024-12-30

Este texto apresenta uma entrevista realizada com uma parteira tradicional acreana, Dona Zenaide, somada às informações biográficas e reflexões finais. A entrevista temática teve como disparador a primeira hora de vida do bebê, o que permitiu percorrer o tema do parto tradicional. A partir do relato direcionado que, não obstante, expressa aspectos da memória social e coletiva do trabalho das parteiras brasileiras amazônicas, o depoimento concede elementos qualitativos para a compreensão da prática do nascimento na ação tradicional em regiões rurais, como os seringais, as terras indígenas, quilombolas e demais regiões atendidas pelos saberes tradicionais da terra. Representa, assim, elementos da educação tradicional e comunitária amazônica, transmitida entre gerações e culturas.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1947801

“Amazonizar”: educação e ontologia política dos povos amazônicos

Albert Alan de Sousa Cordeiro — 2024-12-30

Este artigo é fruto de um esforço interdisciplinar desenvolvido no âmbito da Universidade Federal do Amapá. Resulta do trabalho dos docentes da disciplina Educação, Poder e Território, ofertada pelos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação (PPGED) e Geografia (PPGEO) desta instituição. O referido componente debateu como a educação oficial se situou ao longo das distintas dinâmicas territoriais que se desenvolveram na Amazônia e apresentou estratégias de resistência presentes nas memórias e territorialidades dos povos amazônicos. Neste escrito, sintetizamos parte do debate da disciplina, discutindo, primeiro, diferentes processos de expropriação e espoliação que a região e seus povos estiveram/estão submetidos; segundo, argumentando a necessidade da escolarização se aproximar das ontologias políticas (Escobar, 2016) dos povos amazônicos, ou seja, das formas de luta e resistência dos povos indígenas e populações tradicionais, mobilizadas por suas culturas e cosmogonias, distintas da racionalidade instrumental da modernidade ocidental e constituinte do capitalismo.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1948201

Relatos e retratos de vidas e vivências femininas

Rosane Duarte Rosa Seluchinesk — 2024-12-30

Este estudo é focado na interação feminina com ambiente, no Estado de Mato Grosso. O ambiente aqui se constitui em espaços de vivências com a natureza e consequente uso de recursos naturais. O objetivo é conhecer como se dá a relação mulher e natureza, nos propomos a ouvir as mulheres. Como método de estudo foi utilizado a pesquisa qualitativa e etnográfica, com interface na pesquisa participativa, pautada na história de vida. O que se observa nas falas das mulheres que estas se consideram, assim como a natureza, geradoras de vidas. Mesmo sendo dotadas da condição criadora, isso não afasta o fato de que são violadas constantemente, perpetuando o modelo de relação predatória que é o prisma do poder masculino. Por isso, é urgente distinguir, dentro da ação humana, os processos de pertencimento e reciprocidade, próprios do universo feminino, do modelo predatório machista.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1948801

Professoras da Amazônia Acreana: trajetórias de vida e de iniciação à docência no território de Feijó, Acre

Letícia Mendonça Lopes Ribeiro — 2024-12-30

Objetivou-se identificar aspectos das trajetórias pessoais, familiares e escolares das professoras da Amazônia Acreana que repercutiram nas decisões, assumidas por essas mulheres, para o ingresso na docência em escolas do campo, localizadas em Feijó, estado do Acre. A produção e a análise de dados se orientaram a partir das 10 entrevistas semiestruturadas realizadas com as sujeitas da pesquisa. A análise de dados revelou um perfil comum à maioria das entrevistadas, sendo este: nasceram e cresceram no território usado de Feijó; suas mães e elas próprias enfrentaram dificuldades para garantirem o direito de suas comunidades ao Ensino Fundamental na multissérie; prosseguiram a escolarização ao migrarem para o meio urbano de Feijó, exercendo trabalho doméstico. Nesse contexto, o ingresso na docência tornou-se alternativa viável à fuga do trabalho doméstico. A escolha pelo Magistério também foi influenciada pelas decisões de seus companheiros, em migrar, trabalhar e viver no território, cabendo às entrevistadas acompanhá-los. Reconhece-se o fortalecimento e a consolidação do patriarcado na vida das professoras e no território da Amazônia Acreana.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1947501

A mulher indígena egressa das licenciaturas interculturais da FAINDI/UNEMAT

Loriége Pessoa Bitencourt — 2024-12-30

O estudo pretende compreender a presença quantitativa da mulher indígena entre os estudantes dos cursos de graduação interculturais da FAINDI/UNEMAT e o protagonismo das mulheres indígenas egressas dos cursos de graduação. A abordagem é qualitativa, com procedimentos da pesquisa documental para entender o quantitativo dos(as) estudantes egressos(as) dos cursos de graduação interculturais, ofertados entre 2001 a 2022, e como a presença quantitativa das mulheres indígena se altera entre as cinco turmas de licenciaturas interculturais e as duas turmas de Pedagogia Intercultural. Foram entrevistadas três estudantes professoras indígenas para entender como elas se percebem nas licenciaturas. Os dados mostram que a quantidade de mulheres é pequena se comparada à dos homens em todas as licenciaturas interculturais, no entanto, para as mulheres indígenas entrevistadas o ato de cursar as licenciaturas interculturais mostra o seu protagonismo para mudar as relações culturais, o que, para elas, representa grande conquista.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1946001

Formação de professores e professoras do campo, das águas e das florestas com valorização dos saberes tradicionais das Amazônias

Salomão Antônio Mufarrej Hage — 2025-03-11

Este artigo aborda a formação continuada de professores e professoras da Educação Básica realizada no âmbito do Programa Escola da Terra, das Águas e das Florestas da Amazônia Paraense, considerando os desafios existentes nesses territórios e a garantia do direito à educação dos povos tradicionais e camponeses da Amazônia Paraense. Sua construção assenta-se nos fundamentos do materialismo histórico-dialético, ao considerar em suas análises, os processos de formação de professores e professoras inseridos nas relações de produção da sociedade atual. Os resultados revelam a intrínseca relação entre formação humana-vida-trabalho-território nos processos educativos construídos com os sujeitos do campo com a afirmação dos direitos históricos a todos/as que vivem e resistem nos territórios da Amazônia paraense. Concluímos que os processos de formação continuada de professoras e professores do campo necessitam estar caminhando lado a lado com a agenda do direito ao trabalho e à vida com dignidade no território dos povos das Amazônias; assentados em três referentes importantes: a memória coletiva, os saberes tradicionais e a práxis educativa.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1950201

Formação continuada de professores indígenas na Amazônia Mato-grossense: nexos de luta

Waldinéia Antunes de Alcântara Ferreira — 2024-12-30

A colonialidade epistémica promove o apagamento das resistências e lutas dos povos e comunidades originárias. No entanto, o movimento indígena garante na educação escolar as formas próprias de ensinar e produzir conhecimentos interculturais a partir dos etnosaberes contextualizados histórica e territorialmente. Na pesquisa-formação-ação com professores indígenas do Projeto Ação Saberes Indígenas na Escola, problematizamos a formação continuada e reconhecemos as reexistências que dão visibilidade aos processos próprios de produzir os materiais pedagógicos/didáticos interculturais. A análise e discussão dos dados de campo coletados se ancoram à escuta sensível na perspectiva freiriana a fim de apresentar as potencialidades dos protagonismos, autorias e autonomias indígenas. Os livros didáticos pelas “formações-ações-interculturais”, decolonizam epistemologias e expressam resistências aos processos de apagamento das línguas e culturas dos povos originários nas escolas indígenas de Mato Grosso.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1949601

Educação antirracista pelos ativismos dos canais Spartakus Santiago e Papo de Preta

Simonia Souza do Nascimento — 2024-12-30

O estudo investiga a possibilidade de os canais Spartakus Santiago (2007) e Papo de Preta (2015) se tornarem ambientes formativos para a educação antirracista, com possíveis repercussões no estado de Mato Grosso. Utilizando uma abordagem qualitativa e métodos de pesquisa documental, a investigação emprega a técnica de análise temática, que faz parte do método de análise de conteúdo. Os resultados revelam que esses canais, devido às suas configurações políticas, promovem a aprendizagem e funcionam como ambientes formativos. Isso se deve ao fato de se alinharem com os principais documentos que regem a educação para as relações étnico-raciais no Brasil.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1942801

Complexidades de marcas coloniais e decoloniais em uma escola Xavante

Marina da Costa Azevedo — 2024-12-30

Pretendemos, com este texto, realizar uma análise do Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola Municipal Indígena (EMI) Santa Clara com o intuito de compreender como o currículo instituído nesta está estruturado. Para o desenvolvimento do estudo, amparamo-nos em uma metodologia qualitativa, com procedimento de pesquisa bibliográfica e de campo. Com a pesquisa foi possível compreender que a escola não é um ambiente estático, e a escola indígena é um cenário em constante mutação, influenciado pelos movimentos sociais, políticos e culturais que a circundam. Sua evolução ocorre paralelamente à transformação da sociedade, refletindo as mudanças de paradigmas, valores e aspirações dos diversos atores envolvidos no processo educacional. Neste sentido, acreditamos ser a escola indígena um espaço onde o acesso ao universo cultural é possibilitado/ampliado, para que, tomando consciência deste, as crianças e os jovens possam, posteriormente, estabelecer relações com os “mundos”. Deste modo, serão mantidas e fortalecidas as relações com a sua cultura, conhecendo-se e explorando-se culturas envoltas e exercendo o seu protagonismo.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1949801

Entre palavras e saberes: narrativas dos professores indígenas Javaé sobre a educação escolar bilíngue

Keyliane dos Anjos Leitão — 2024-12-30

O estudo investiga as narrativas dos professores indígenas Javaé sobre a Educação Escolar Indígena, com o objetivo de analisar os processos educativos vivenciados pela comunidade Javaé na aldeia Kanoano, localizada na Ilha do Bananal, com o foco na educação escolar bilíngue. Utilizando a metodologia de História Oral, a pesquisa visa registrar a história educacional da comunidade e capacitar os professores na promoção de uma educação mais inclusiva e intercultural. Autores como Ricoeur (1993), Ferreira (2001), Candau (2011), Alberti (2012), Macedo e Santos (2023) fundamentam a discussão. A análise das entrevistas revela a luta por um ensino específico, diferenciado, intercultural e bilíngue, que preserve a cultura e a língua do povo indígena Javaé. Os professores Javaé evidenciam um compromisso genuíno com a criação de um ambiente educacional que respeita os saberes de seu povo, preserva suas culturas e língua, e reflete uma abordagem pedagógica que vai além do ensino formal, incluindo objetos de estudo do cotidiano, promovendo interação e relações positivas entre estudantes, professores e a comunidade.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1938301

Ilhas Interdisciplinares de Racionalidade na formação de professores de Ciências na Amazônia

Vandressa Caldas Amorim — 2024-12-30

Este artigo apresenta discussões de uma pesquisa que objetivou construir e analisar um processo formativo, utilizando as Ilhas Interdisciplinares de Racionalidade (IIR), em colaboração com os professores de diferentes áreas da Educação Básica (Ensino Médio) de uma Escola Estadual de Ensino Médio no Pará. No que concerne à metodologia, apresenta natureza qualitativa, do tipo pesquisa-ação, utilizando entrevista semiestruturada e questionários. Com intuito de compreender sobre o processo e discurso dos participantes, apoiamo-nos na Análise Textual Discursiva (ATD). Como resultado, as discussões permitiram um espaço de comunicação e reflexões em torno da práxis interdisciplinar, conectando as características ambientais, culturais e sociais únicas da Região Amazônica. Como desdobramento da pesquisa, a criação de um “Jornal Informativo” favoreceu a compreensão de conceitos. Portanto, infere-se a necessidade de uma formação crítica que contribua para o desenvolvimento profissional e empodere os professores como agentes de transformação em um cenário educacional aplicado à realidade amazônica.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1938501

Povos Indígenas na Amazônia Mato-Grossense e leituras de mundo: correlações entre formação e organização socioeconômica

Laudemir Luiz Zart — 2024-12-30

O artigo resulta da investigação e da formação com organizações comunitárias indígenas para o entendimento, a organização e o desenvolvimento da economia indígena e da sociobiodiversidade para a constituição e a gestão de cooperativas solidárias. As ações científico-educacionais aconteceram na Terra Indígena Apiaká-Kayabi e Munduruku, em Juara-MT e na Terra Indígena Zoró, localizada em Rondolândia-MT. As atividades vinculadas ao Projeto Man Gap, executado pela Associação do Povo Indígena Zoró Pangyjej (APIZ), foi aprovado e apoiado pelo Programa REM-MT, com fundos dos governos da Alemanha e do Reino Unido, como iniciativa de remuneração de serviços ambientais, proposição lançada na conferência Rio+20, em 2012. O projeto transcorreu no período de 2023 a 2024, sendo executado pela UNICAFES e Núcleo Unitrabalho da UNEMAT. Com a metodologia da pesquisa participante, estabeleceu-se uma ambiência problematizadora e dialógica para a compreensão dos contextos histórico-culturais da existência das comunidades indígenas. O resultado da pesquisa apresentou um ideograma que representa, a partir da leitura de mundo dos povos indígenas, a correlação com o Estado, o mercado, a sociedade e os movimentos sociais.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1949501

Aplicação da Inteligência Artificial na pedagogia indígena: um estudo de caso em Educação Básica

Ilma Rodrigues de Souza Fausto — 2024-12-30

Este estudo investiga a aplicação de ferramentas de IA por professores indígenas em um curso de formação continuada, enfatizando a valorização cultural e o desenvolvimento de competências digitais. O curso adotou uma abordagem interativa, com sessões práticas e dinâmicas que envolvem ativamente os professores indígenas. Isso permitiu a aplicação imediata dos conceitos aprendidos em seus próprios contextos educacionais e culturais, promovidos pela etnoinformática. O curso valorizou e fortaleceu a cultura indígena, incentivando os professores a incorporar elementos e simbologias de suas tradições nos conteúdos e atividades desenvolvidos com o apoio da inteligência artificial.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1932101

Resistência e luta na Amazônia: o processo de reterritorialização Apyãwa e o retorno ao espaço de vida ancestral

Mara Maria Dutra — 2024-12-30

O estudo objetiva compreender, do ponto de vista socioambiental, o processo de des-re-territorialização do povo Tapirapé. Na atualidade, ocupam a Terra Indígena Urubu Branco, localizada no nordeste do estado de Mato Grosso. Por meio de estudos bibliográficos e de entrevistas com 27 lideranças indígenas, verificou-se que, em 1947, devido a frentes expansionistas e doenças que trouxeram consigo, os Apyãwa foram forçados a abandonar seu espaço vital. Perpassaram por deslocamentos e aldeamentos em distintos lugares nas proximidades do território ancestral; porém dele nunca se esqueceram. Depois de um longo movimento coletivo de luta e resistência, no ano de 1993 eles reconquistaram seu território degradado pelas ações antrópicas promovidas pelos grandes fazendeiros. Assim, ensinam que, mesmo diante da assimetria estado-capital, a luta persistente de um povo constitui possibilidade de mudanças na reconquista do território e, ao mesmo tempo, de reconquista ecológica pela sua presença viva na Amazônia.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1948401

O sujeito e as linguagens pesqueiras: significação cultural da pesca artesanal amazônica paraense

Joana d’Arc Vasconcelos Neves — 2024-12-30

Nos territórios amazônicos, existem linguagens únicas entre os sujeitos, perpassadas pelas realidades e seu conhecimento tradicional que representam diferentes formas de significações culturais das realidades vividas nos campos nas águas e florestas. As práticas culturais pesqueiras carregam a bagagem cultural e social de cada grupo; na linguagem pesqueira, os sujeitos falam a partir do grupo pertencente, suas significações representam a identidade sociocultural dos sujeitos. A relação de nomeação na pesca aos recursos naturais pelas comunidades pesqueiras transcende ao valor econômico; representa apropriação cultural, simbólica e, principalmente, linguística, constituída a partir da pesca local. Assim, o objetivo principal da pesquisa é a identificação dos processos de significação linguística do conhecimento pesqueiro atribuída aos artefatos e práticas tradicionais da pesca. A pesquisa é bibliográfica, do tipo estado da Arte, mapeando produções acadêmicas da Amazônia Paraense no Banco de Dissertações e Teses da Capes. Os resultados apontam, para processos de significações singulares construídos a partir trocas de saberes e práticas produtivas pesqueira amazônica dão sentido aos seus modos de vida e sua cultura.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1948101

Produzindo outros de nós: NEPBIO e práticas de educação ambiental, permacultura e bioconstrução

Mike Santafé Zambrano — 2024-12-30

Objetiva-se, neste artigo, pensar a Educação Ambiental como estética de existência vivenciada no Núcleo Experimental de Permacultura e Bioconstrução de Cáceres (NEPBIO), que constitui os sujeitos que por ali transitam e participam de suas oficinas. Problematiza-se: como as práticas discursivas e não discursivas se movimentam em uma instituição de governamento de si e dos outros, em relação à Educação Ambiental, e produzem estéticas outras de existência, que vão na contramão do projeto capitalístico de sociedade? A cartografia foi a inspiração metodológica da pesquisa, e as análises foram ancoradas pelos estudos arqueogenealógicos desenvolvidos pelo filósofo francês Michel Foucault, especialmente em relação à governamentalidade. Conclui-se que as práticas de Educação Ambiental do NEPBIO podem ser concebidas como estéticas de existências outras, em relação àquela requerida pelo modelo de produção capitalístico, agenciando outros “modos de ser sujeito” e outras “maneiras de viver”: estéticas outras de existência.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1950101

“Plantar Educação”: educação e sustentabilidade nos territórios da Amazônia brasileira

Katia Helena Serafina Cruz Schweickardt — 2024-12-30

A Amazônia tem uma grande riqueza biocultural, com uma diversidade de plantas, povos, línguas e culturas, mas que estão em constante ameaça devido aos projetos de desenvolvimento que foram implantados pelo estado brasileiro, pela economia capitalista do agronegócio, pelo garimpo e pela exploração madeireira ilegal. Para responder a esses desafios da Amazônia, apresentamos a experiência do “Programa Plantar Educação”, que envolve municípios dos estados do Amazonas e Pará, com o objetivo de apoiar os sistemas locais no desenvolvimento de estratégias educativas que promovam mais qualidade na educação básica, comprometidas e referenciadas pela região, com o local e os territórios. A experiência tem trazido resultados importantes na organização, planejamento e monitoramento dos sistemas locais de educação, com a participação de gestores, professores, estudantes e comunitários do processo de elaboração de estratégias pedagógicas que dialoguem com o lugar e o modo de vida das pessoas.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1947301

Educação ambiental popular e mobilização social para a restauração ecológica no Pantanal

Danúbia da Silva Leão — 2024-12-30

Este estudo é um convite à reflexão a partir da Educação Ambiental (EA), em especial a partir das atividades que buscam promover a sensibilização para a conservação do Pantanal. O objetivo é compreender, por um lado, o conjunto de atividades econômicas e processos de degradação que afetam o bioma e, por outro, o papel que a EA assume enquanto instrumento de mobilização popular e social na sua conservação e restauração ecológica como empoderamento comunitário. A investigação é de cunho qualitativo e, como método, utilizou-se a pesquisa-ação participante na mobilização e envolvimento social para a conservação das águas do Pantanal e de sua biodiversidade. Foram descritas as ações e a atuação dos atores sociais que incidem politicamente na Bacia do Alto Paraguai (BAP), em especial por ter sofrido, além de com os grandes incêndios, também com a ampliação de atividades econômicas que ocorrem sem a consulta às comunidades tradicionais pantaneiras.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1949701

Um estudo fenomenológico sobre o cumprimento de medida socioeducativa e a escola: adolescentes infratores do Alto Pantanal

Guilherme Angerames Rodrigues Vargas — 2024-12-30

O objetivo deste estudo é descrever as significações de adolescentes em conflito com a lei relativas ao cumprimento de medida socioeducativa em liberdade assistida, atendendo a obrigatoriedade de frequentar a escola. A abordagem fenomenológica adotada foi a concepção de Merleau-Ponty. Essa abordagem busca perceber o oculto nas vivências. O grupo participante da pesquisa foi composto por adolescentes que cumprem medidas socioeducativas em liberdade assistida. Os adolescentes selecionados por meio da técnica de fechamento amostral por saturação teórica, totalizando seis adolescentes. Mediante entrevistas foram verificadas as incidências nas falas dos adolescentes e transformadas em unidades de significação que formaram a matriz nomotética, o que permitiu a descrição do fenômeno. A requalificação social está relacionada ao sucesso profissional, mas não à formação. Para esses adolescentes, manter-se inserido na comunidade escolar é determinante para não reincidir no ato infracional.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1946601

A educação profissional e tecnológica para o povo Sateré-Mawé no Andirá-Marau: contribuições dos saberes Amazônicos

Silvia Carvalho Vieira — 2024-12-30

Este artigo resulta de pesquisa sobre a Educação Profissional e Tecnológica - EPT para o povo Sateré-Mawé, articulado a partir de dados gerados durante as discussões da disciplina Educação na Amazônia, do doutorado em Educação. A temática investigada aborda a Educação Profissional e Tecnológica para o povo Sateré-Mawé no Território Andirá-Marau: contribuições dos saberes amazônicos, com o objetivo de analisar a interação entre a EPT e os saberes amazônicos. Para tanto, o estudo contextualizou a Educação Profissional e Tecnológica e explorou os saberes amazônicos, destacando sua integralização na experiência Sateré-Mawé. A pesquisa foi conduzida por meio de entrevistas realizadas com professores do Instituto Federal do Amazonas - IFAM, campus Maués. De natureza analítica e qualitativa, utilizou-se a fenomenologia hermenêutica e os dados gerados foram analisados à luz da Análise Textual Discursiva - ATD, seguindo suas etapas interpretativas. Os resultados evidenciam que a interação entre saberes amazônicos e práticas educacionais, como as técnicas agroecológicas e oficinas tecnológicas, podem contribuir para a conservação ambiental e a segurança alimentar na comunidade.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1947101

Ação direta de inconstitucionalidade em contexto de transição inacabada: repercussões da ADI 282-1/2019 na gestão democrática e eleição de diretor no Mato Grosso

Marilda de Oliveira Costa — 2024-12-30

Este artigo aborda o esvaziamento de princípios constitucionais, como a gestão democrática do ensino público e a eleição de diretores, no estado e municípios de Mato Grosso, tendo em vista a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2019. O texto tem por objetivo mapear as legislações sobre gestão democrática do ensino público e eleição de diretores no estado e municípios de Mato Grosso e analisar as alterações legislativas a partir da aprovação da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 282-1/2019 pelo STF (Brasil, 2019). Nesta pesquisa documental e bibliográfica, os dados primários foram coletados em sites oficiais, portais da transparência e diários oficiais de estados e municípios; também foram utilizadas fontes secundárias, mediante buscas no site da Capes e em periódicos da área. Os resultados mostram que a ADI-282/2019 influenciou a revogação de legislações e a suspensão da eleição direta para o cargo de diretor escolar na rede estadual e em 88 municípios, apontando outras formas de provimento do cargo e o esvaziamento do princípio da gestão democrática do ensino público.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1950001

Novos saberes curriculares na educação profissional por meio do saber ambiental, às margens do Taquari no Pantanal Sul-mato-grossense

Marcela Rubim Schwab Leite Rodrigues — 2024-12-30

O currículo integrado no Ensino Médio dos Institutos Federais tem sido apontado como um grande desafio da Educação Profissional e Tecnológica (EPT), exigindo dos professores, o desenvolvimento de atividades que contemplem os conhecimentos científicos e outros saberes, de forma a integrar escola-comunidade, em prol do desenvolvimento de ações de caráter socioeconômico, cultura e ambiental. Neste estudo, buscamos o Saber Ambiental como fundamento para a construção curricular, tomando a realidade local de uma unidade do IFMS como base para alcançar a integração curricular e uma formação integral e humana. A utilização do Círculo de Cultura como aporte teórico-metodológico para o desenvolvimento de uma Atividade Integradora permite compor saberes interdisciplinares e outros saberes importantes para a escola e a comunidade, favorecendo a reflexão-ação reflexão dos envolvidos, diante dos desafios sócio-econômico-ambientais locais.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1937901

Levantamento de produções sobre o PNAIC na microrregião do Vale do Arinos

Elenize Vieira Falcão — 2024-12-30

O artigo integra-se a uma dissertação de mestrado, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Educação (PPGEdu), linha de pesquisa Formação de Professores, Políticas e Práticas Pedagógicas, ofertado pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Grupo de Estudo e Pesquisa de Formação Docente, Políticas e Práticas Educacionais (GEFOPE), com o objetivo de realizar o levantamento das produções sobre o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa no período de 2015 a 2021, com vistas a analisar os desdobramentos desta política para a alfabetização e a formação continuada de professores alfabetizadores. Desenvolveu-se uma investigação de abordagem qualitativa, com análises dos conteúdos das categorias emergidas. Para o levantamento sobre o PNAIC a nível microrregional, buscou-se no repositório da Secretaria de Apoio Acadêmico do curso de Pedagogia, ofertado na UNEMAT, Câmpus Universitário de Juara. Foram encontrados 18 Trabalhos de Conclusão de Cursos (TCCs). O levantamento apontou, dentre outros aspectos, que o PNAIC foi uma política de formação continuada bem aceita entre os alfabetizadores e que suas orientações didático-pedagógicas foram incorporadas às suas práticas docentes.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1940601

O cuidar, o curar e as encantarias na perspectiva de idosos ribeirinhos da Amazônia Amapaense

Vitor Sousa Cunha Nery — 2024-12-30

O artigo tematiza saberes culturais a partir da enunciação de idosos amazônico-amapaenses. Tem como objetivo analisar os saberes dos idosos, na perspectiva do cuidar, do curar e das encantarias, na Amazônia Amapaense. Os percursos metodológicos resultam de uma pesquisa de campo de abordagem qualitativa, em associação com a cartografia, a história oral e a pesquisa de caráter descritivo. Os colaboradores foram treze idosos de diferentes territórios amazônico-amapaenses. Foram realizadas entrevistas ao longo de várias visitas, cujos saberes foram sistematizados e analisados a partir de elementos da análise de conteúdo. Os dados foram gerados por ocasião de uma pesquisa mais ampla, desenvolvida no âmbito da Universidade do Estado do Amapá, em parceria com demais instituições. Constatou-se, nos resultados, que os saberes e as práticas culturais do cuidar, do curar e as encantarias contribuem para o bem-estar e a qualidade de vida desses idosos amapaenses. Além disso, a pesquisa também destacou a importância de se pensar em políticas públicas e ações voltadas para o cuidado dos idosos nas comunidades ribeirinhas da Amazônia.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1947401

O estágio rural e a significação do cuidado de enfermagem às pessoas ribeirinhas amazônicas

Iago Orleans Pinheiro Monteiro — 2024-12-30

Este estudo objetivou analisar a repercussão das vivências no estágio rural para a significação do cuidado às pessoas ribeirinhas por acadêmicos do último ano do curso de graduação de enfermagem das universidades públicas do estado do Amazonas. Para isso, realizou-se um estudo qualitativo, por meio da abordagem histórico-cultural de Vigotski com estudantes de enfermagem da Universidade Federal do Amazonas e Universidade do Estado do Amazonas que vivenciaram o estágio rural. Os estudantes participaram do estudo em duas etapas. Na primeira, foi realizada uma redação; e, na segunda, grupo focal. Os dados foram analisados por meio da técnica de análise temática de Braun e Clarke. Os resultados apontam que o estágio rural se destaca como uma estratégia pedagógica que possibilita ao estudante de enfermagem: o reconhecimento das peculiaridades sociais, econômicas, culturais e geográficas do território ribeirinho; o aprendizado com sua população; e a vivência de trabalhar saúde nesse contexto, com práticas de cuidado muito específicas e concernentes àquela realidade.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1941901

Perfil dos estudantes retidos na Universidade do Estado de Mato Grosso: análise de uma Instituição Pública Pantaneira

Fernando Cezar Vieira Malange — 2024-12-30

O presente trabalho traz uma abordagem baseada em clusterização (agrupamento) de dados educacionais como proposta alternativa para compreender o fenômeno da retenção nos cursos de graduação da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) analisando os diferentes perfis dos estudantes retidos na instituição. Neste Estudo de Caso, os sujeitos foram os estudantes retidos na UNEMAT no ano de 2019 dos cursos regulares de graduação. Foi considerado retido o estudante que não obtivera diploma, ainda que passado o tempo mínimo regulamentar de conclusão de curso. Dessa definição foi possível identificar no nosso banco de dados 2.169 acadêmicos nessa condição. Deste ponto, três perfis de retenção foram obtidos por meio do algoritmo de clusterização K-Modes, (técnica de Mineração de Dados) e com os resultados foi possível identificar um comportamento de persistência dos estudantes retidos da UNEMAT e fornecer insights importantes para a instituição sobre possíveis estratégias de intervenção e apoio aos estudantes em risco de evasão.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1945501

Espaços da Educação Infantil em Porto Velho-RO

Ruth de Lima Dantas — 2024-12-30

O estudo apresentado é resultado de pesquisa realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar, Mestrado e Doutorado Profissional da Universidade Federal de Rondônia, e teve como objetivo analisar os espaços e ambientes de escolas municipais de Educação Infantil de Porto Velho-RO. A investigação se baseou na Teoria Histórico-Cultural, especialmente nos postulados de Vigotski. Foram utilizadas as escalas Early Childhood Environment Rating, Third Edition (ECERS-3) e Infant/Toddler Environment Rating, Third Edition (ITERS-3) (Harms; Cryer; Clifford, 2020) para avaliar os espaços e materiais das turmas de creches e pré-escolas de cinco escolas de Educação Infantil da rede municipal de Porto Velho-RO. A avaliação dos espaços educacionais apontou uma qualidade entre inadequada e minimamente adequada. Os resultados obtidos com a aplicação das escalas demonstram que tais instrumentos são importantes para subsidiar e orientar a implementação de melhorias nas escolas de Educação Infantil, visto que avaliam diferentes aspectos relacionados à educação de crianças de zero a cinco anos.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1945301

Avaliação institucional e planejamento estratégico na educação superior: saberes e práticas numa instituição de origem pantaneira

Elizeth Gonzaga dos Santos Lima — 2024-12-30

Estudar a Avaliação Institucional e as relações com o Planejamento Estratégico é reafirmar a importância desses instrumentos para as tomadas de decisão institucionais e para a busca da qualidade dos serviços prestados à sociedade. O presente artigo traz a experiência de uma universidade pública estadual multicampi sobre o desenvolvimento da Avaliação Institucional integrada com o Planejamento Estratégico de forma democrática e participativa. Os resultados evidenciaram que a relação interfacial de planejamento e avaliação, por meio dos eixos e dimensões do SINAES, é de suma importância para que se diminua o distanciamento entre o que se planeja e o que se avalia. Além disso, os gestores universitários precisam pautar as ações e atividades cotidianas baseando-se nesses documentos institucionais com vistas ao estabelecimento e alcance de metas quantitativas e qualitativas próprias da missão universitária.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1949101

Uma experiência com a abordagem fenomenológica no Centro-Oeste

Rosely Aparecida Romanelli — 2024-12-30

Este relato é de uma experiência de inclusão de uma abordagem de pesquisa que também permitiu a inclusão de uma metodologia de ensino que está surgindo no ensino superior como estratégia de assimilação de conteúdos, além de buscar uma reflexão sobre as atividades propostas que também tem por finalidade acessar o a priori pré-lógico dos sujeitos envolvidos numa pesquisa bem como daqueles que frequentaram as aulas. Com a intenção de estudar alguns autores que preconizam o uso da abordagem fenomenológico-hermenêutica, foram selecionados textos que pretendem um encadeamento de ideias iniciais para que se reflita sobre a aplicação da Fenomenologia e da Hermenêutica, para uma introdução temática. Pensou-se uma disciplina cujo recorte incluiu autores clássicos e seus seguidores mais recentes, como Varela, Merleau-Ponty, Goethe, Steiner, Ortiz-Osés, Ricoeur, Bicudo e outros aos quais eles se remetem em sua exposição. O resultado esperado na disciplina foi alcançado na utilização do método de ensino enquanto o resultado na aplicação da metodologia na pesquisa é um trabalho em desenvolvimento a cada trabalho que se propõe a utilizar essa abordagem.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1948301

Amazonizar a Educação pelo horizonte dos Saberes Pantaneiros e Amazônicos

Vilmar Alves Pereira — 2024-12-30

Este dossiê reúne 29 (vinte e nove) trabalhos que orientam o diálogo sobre como os Saberes reconhecidos em contextos Pantaneiros e Amazônicos podem contribuir em processos formativos e em projetos de sociedade para o enfrentamento da ampla crise civilizatória que estamos atravessando. Ressignificando posturas e epistemologias há o reconhecimento e a necessidade de estudos que contribuam em processos de Amazonizar a Educação. Os artigos são oriundos dos estados Amazonas, Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins. Algumas temáticas se destacam: saberes ancestrais, educação ambiental e povos originários; formação e políticas ambientais; questões de raça e gênero; movimentos sociais populares; economia solidária; saberes culturais e espirituais; educação do campo; educação popular; educação de jovens e adultos; política de formação de professores; avaliação das políticas de desenvolvimento na região; avaliação do pacto nacional pela alfabetização; perspectivas de sustentabilidades; saúde dos povos indígenas; saberes que emergem dos rios e uma pedagogia das águas; identidade das mulheres professoras; políticas de enfrentamento ao garimpo; lógica e impacto da agropecuária; desmatamento, queimadas e incêndios.

https://doi.org/10.21723/riaee.v19i00.1968701