Fonema ou gesto articulatório: quem, de fato, alfabetiza?

Autores

  • Renata Savastano Ribeiro Jardini Unicamp

DOI:

https://doi.org/10.21723/riaee.v13.n2.2018.9496

Palavras-chave:

Consciência fonológica, Alfabetização, Fonoarticulação.

Resumo

Atualmente é inequívoca a compreensão de que para se aprender a ler e escrever, os processos fonológicos devem ser ensinados, posto que nossa língua tem bases fônicas alfabéticas. No entanto, a disputa entre qual metodologia é a mais indicada para se alfabetizar está sendo trocada para se analisar como se ensina e se media a consciência fonológica, variando entre abordagens sintéticas, pautadas na sílaba ou diretamente no fonema, e abordagens analíticas, pautadas no contexto, em que o som não é enfaticamente proposto. No primeiro caso o foco é o significante, enquanto que no segundo, defende-se o acesso ao significado, mas em ambos, esse ensino é alicerçado na fixação dos grafemas. A proposta desse artigo, pautada na neurociência e teoria da percepção da fala, é abrir a reflexão sobre uma nova e real possibilidade para o ensino da consciência fonológica, por meio de uma boca que articula o som das palavras e propicia que o significante seja facilmente atrelado ao significado, posto que a comunicação é mantida de forma autêntica. 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Renata Savastano Ribeiro Jardini, Unicamp

Fonoaudióloga da UNIFESP. Especialista em Psicopedagogia na UNICEP. Mestre e Doutora em Ciências  Médicas. Faculdade de Ciências Médicas, UNICAMP

Referências

ALBANO, E. C. O gesto e suas bordas: esboço de fonologia articulatória do português brasileiro. Campinas: Mercado das Letras, 2001.

ALTVATER-MACKENSEN, N.; GROSSMANN, T. The role of left inferior frontal cortex during audiovisual speech perception in infants. Neuroimage. Elsevier Inc. 133, p. 14-20, 2016.

CAEIRO, M.; JARDINI, R. Aprender a ler e a escrever com o método das Boquinhas. Parede: Principia, 2016.

CAPOVILLA, F. (Org). Os novos caminhos da alfabetização infantil. São Paulo: Menon, 2005.

CAPOVILLA, A.G.S.; GÜTSCHOW, C.R.D.; CAPOVILLA, F.C. Habilidades cognitivas que predizem competência de leitura e escrita. Psicologia: Teoria e Prática. São Paulo, v. 6, n. 2, p. 13-26, 2004.

CARDOSO-MARTINS, C.; BATISTA, A.C.E. O conhecimento do nome das letras e o desenvolvimento da escrita: evidência de crianças falantes do português. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 18, n. 3, p.330-336, 2005.

CASTLES, A; COLTHEART, M. Is there a casual link from phonological awareness to sucess in learning to read? Cognition. Elsevier Inc. v. 91, n. 1, p.77-111, 2004.

COLEMAN, J. Cognitive reality and the phonological lexicon: a review. J. Neurolinguist. Boulder, 11, p. 295–320, 1998.

DEHAENE, S. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler. Porto Alegre: Penso, 2012.

DEHAENE, S. et al. Illiterate to literate: behavioral and cerebral changes induced by reading acquisition. Nature Reviews. Macmillan Publishers Limited, v.16, p. 234-44, 2015.

FERREIRO, E. Relações de (in) dependência entre oralidade e escrita. Porto Alegre: Artmed, 2004.

FOWLER, C. Listeners do hear sounds, not tongues. The Journal of the Acoustical Society of America, Boston, v. 99, n. 3, p. 1730-41, 1996.

GINDRI, G.; KESKE-SOARES, M.; MOTA, H. B. Memória de trabalho, consciência fonológica e hipótese de escrita. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, Barueri, SP, v. 19, n. 3, p. 313-22, 2007.

GOODMAN, K. S. What´s whole in whole language? Portsmouth: Heinemann. 1986.

HEINEMANN, I. L.; SALGADO-AZONI, C. A. Intervenção psicopedagógica com enfoque fonovisuoarticulatório em crianças de risco para dislexia. Revista Psicopedagogia. São Paulo, v. 29, n. 88, p. 25-37, 2012.

IACOBONI, M.; DAPRETTO, M. The mirror neuron system and the consequences of its dysfunction. Nat. Rev. 7, p. 942–51, 2006.

INSTITUTO PAULO MONTENEGRO - AÇÃO EDUCATIVA. Indicador de alfabetismo funcional – INAF: Estudo especial sobre alfabetismo e mundo do trabalho. São Paulo, 2016. Disponível em: http://acaoeducativa.org.br/wp-content/uploads/2016/09/INAFEstudosEspeciais_2016_Letramento_e_Mundo_do_Trabalho.pdf. Acesso em 11 jan.2017.

JARDINI, R. S. R.; VERGARA, F. A. Alfabetização de crianças com distúrbios de aprendizagem, por métodos multissensoriais, com ênfase fono-vísuo-articulatória: relato de uma experiência. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, São Paulo, v.9, n.1, p.31-4, 1997.

JARDINI, R.S.R. et al. Método de alfabetização fonovisuoarticulatório na EJA: estudo de caso. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, v. 11, n. esp. 4, p. 2538-57, 2016.

LEAL, T. F.; MORAIS, A. G. O aprendizado do Sistema de Escrita Alfabética: uma tarefa complexa, cujo funcionamento precisamos compreender. In: LEAL, T. F.; ALBUQUERQUE, E. B. C.; MORAIS, A. G. Alfabetizar letrando na EJA: fundamentos teóricos e propostas didáticas. Belo Horizonte: Autêntica, 2010, p. 31-48.

LEITE, T .M. S. B. R.; MORAIS, A. G. A escrita alfabética: por que ela é um sistema notacional e não um código? Como as crianças dela se apropriam? In: SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Pacto Nacional pela alfabetização na idade certa: a aprendizagem do sistema de escrita alfabética: ano 1, unidade 3. Brasília: MEC/SEB, 2012, p. 6-18.

LIBERMAN, A. The reading researcher and the reading teacher need the right theory of speech. Scientific Studies of Reading, v. 3, n. 2, 1999, p. 95-111.

LINDAMOOD C. H.; LINDAMOOD P. C. Lindamood Phonems Sequencing Program (LIPS) Austin, TX, PRO-ED, 1998.

McGURK, H.; McDONALD, J. Hearing lips and seeing voices. Nature, v. 264, p. 746-48, 1976.

MORAIS, A. G.; LEITE, T. M. R. Como promover o desenvolvimento das habilidades de reflexão fonológica dos alfabetizandos? In: MORAIS, A. G.; DE ALBUQUERQUE, E. B. C.; LEAL, T. F. (orgs). Alfabetização apropriação do sistema de escrita alfabética. Belo Horizonte: Autêntica, 2005, p.71-88.

MORAIS, A.G. A apropriação do sistema de notação alfabética e o desenvolvimento de habilidades de reflexão fonológica. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 39, n. 3, p. 175-92, 2004.

MORAIS, A. G. A consciência fonológica de alfabetizandos jovens e adultos e sua relação com o aprendizado da escrita alfabética. In: LEAL, T. F.; ALBUQUERQUE, E. B. C.; MORAIS, AG (org). Alfabetizar letrando na EJA: fundamentos teóricos e propostas didáticas. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

NISHIDA. As bases acústicas e articulatórias das teorias de percepção da fala. Revista do Gel, São Paulo, v.11, n.1, p.142-67, 2014.

OJANEN, V. et al. Processing of audiovisual speech in Broca’s area. Neuroimage. Elsevier Inc., v. 25, p. 333-8, 2005.

SANTOS, R. M. Sobre a consciência fonoarticulatória. In: LAMPRECHT R. et al. Consciência dos Sons da Língua: subsídios teóricos e práticos para alfabetizadores, fonoaudiológos e professores de língua inglesa. 2. ed. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2012. p. 57-72.

SCLIAR-CABRAL, L. Princípios do sistema alfabético do português do Brasil. São Paulo: Contexto, 2003.

SEABRA, A. G.; DIAS, N. M. Métodos de alfabetização: delimitação de procedimentos e considerações para uma prática eficaz. Revista Psicopedagogia, São Paulo, v.28, n. 87, p. 306-320, 2011.

SILVA C; CAPELLINI S. A. Programa de Remediação fonológica: proposta de intervenção fonoaudiológica para dislexia e transtornos de aprendizagem. São José dos Campos: Pulso, 2011.

SILVA, T. C. Dicionário de fonética e fonologia. São Paulo: Contexto, 2011.

SOARES, M. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2016.

YOO, S. E.; LEE, K. Articulation-based sound perception in verbal repetition: a functional NIRS study. Frontiers in Human Neuroscience. Lausanne, v. 7, Article 540, p. 1-10, 2013.

Downloads

Publicado

05/03/2018

Como Citar

JARDINI, R. S. R. Fonema ou gesto articulatório: quem, de fato, alfabetiza?. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 13, n. 3, p. 839–854, 2018. DOI: 10.21723/riaee.v13.n2.2018.9496. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/9496. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos teóricos