image/svg+xmlFormação de professores e o atendimento ao público-alvo da Educação Especial: Desafios e fragilidadesRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022126, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.159061 FORMAÇÃO DE PROFESSORES E O ATENDIMENTO AO PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL: DESAFIOS E FRAGILIDADES FORMACIÓN DOCENTE Y ASISTENCIA AL PÚBLICO OBJETIVO DE LA EDUCACIÓN ESPECIAL: DESAFÍOS Y DEBILIDADES TEACHER TRAINING AND SERVING THE SPECIAL EDUCATION TARGET DEMOGRAPHIC: CHALLENGES AND WEAKNESSES Ana Cristina Prado de OLIVEIRA1Maria Alice M. RAMOS2Luciana ANGRIZANI3RESUMO: O trabalho em questão foi desenvolvido a partir de um levantamento de natureza exploratória, em que foram analisadas matrizes curriculares e ementas de disciplinas relativas à Educação Especial e/ou Educação Inclusiva, Língua Brasileira de Sinais (Libras) e estágios em Educação Especial e/ou Educação Inclusiva de IES do Estado do Rio de Janeiro e dos relatos de experiência de uma professora de Educação Especial. Buscou-se compreender como a formação inicial, em nível superior, tem preparado os futuros professores da Educação Básica para atuar com alunos com deficiência. Entendendo o atendimento escolar em classes regulares como um direito desse público, atendendo às suas necessidades específicas, a preparação dos profissionais que irão recebê-los na escola pública merece atenção. Através das vivências apresentadas, refletimos e fazemos apontamentos quanto ao processo formativo docente e os desafios encontrados por esses profissionais para realizar o atendimento educacional do público-alvo da Educação Especial. Os resultados apontam para uma formação ainda deficitária dos futuros professores nesta área, ainda que já estejam atuando durante a graduação como mediadores destes alunos na Educação Básica. PALAVRAS-CHAVE:Educação Especial. Formação de professores. Inclusão. RESUMEN: El trabajo en cuestión se desarrolló a partir de una encuesta de carácter exploratorio - donde matrices curriculares y programas de estudio relacionadas con Educación Especial y / o Educación Inclusiva, Lengua de Signos Brasileña (Libras) y prácticas en Educación Especial y / o Educación Inclusiva de IES en el Estado de Río de Janeiro - y los relatos de experiencia de un maestro de Educación Especial. Buscamos comprender cómo la formación inicial, a un nivel superior, ha preparado a los futuros profesores de educación básica para trabajar con estudiantes con discapacidad. Entendiendo la asistencia escolar a clases regulares como un derecho de este público, atendiendo a sus necesidades específicas, 1Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro RJ Brasil. Professor Adjunto no Departamento de Fundamentos da Educação e Programa de Pós-Graduação em Educação. Doutorado em Educação (PUC-Rio). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0367-6669. E-mail: ana.oliveira@unirio.br 2Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro RJ Brasil. Professor Adjunto no Departamento de Fundamentos da Educação. Doutorado em Educação (UFF). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7467-3190. E-mail: mariaalice.ramos@unirio.br 3Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro RJ Brasil. Graduação em Pedagogia. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4697-6020. E-mail: lucianaangrizani@yahoo.com.br
image/svg+xmlAna Cristina P. OLIVEIRA; Maria Alice M. RAMOS e Luciana ANGRIZANI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022126, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.159062 merece atención la preparación de los profesionales que los recibirán en las escuelas públicas. A través de las experiencias presentadas, reflexionamos y hacemos recomendaciones sobre el proceso de formación docente y los desafíos que enfrentan estos profesionales para brindar asistencia educativa al público objetivo de Educación Especial. Los resultados apuntan a una formación aún deficiente de los futuros docentes en esta área, aunque ya estén actuando durante la graduación como mediadores de estos estudiantes en la educación básica. PALABRAS CLAVE: Educación Especial. Formación de profesores. Inclusión. ABSTRACT: This study was carried out from an exploratory survey - analyzing curricular matrices and subjects' syllabuses related to Special Education and/or Inclusive Education, Brazilian Sign Language (Libras) and internships in Special Education and/or Inclusive Education from High Education Programs at the State of Rio de Janeiro - and from the experience reports of a Special Education teacher. We sought to understand how initial training, at a higher level, has prepared future basic education teachers to work with students with disabilities. Understanding school attendance in regular classes as a guaranteed right of this public meeting their specific needs, the preparation of professionals who will receive them in public schools deserves attention. Through the experiences presented, we reflect and make recommendations on the teacher training process and the challenges faced by these professionals to provide educational assistance to the target audience of Special Education. The results point to a still deficient training of future teachers in this area, even though they are already acting, during graduation, as mediators of these students in basic education. KEYWORDS: Special Education. Teacher training. Inclusion. IntroduçãoNo decorrer dos últimos anos, muito se avançou nas legislações nacionais que buscam garantir às pessoas com deficiência o direito à educação escolar de qualidade em classes regulares. As mudanças de perspectiva quanto a esse processo de escolarização integração e inclusão implicaram/implicam em bruscas mudanças não só em nossos sistemas educacionais, mas também na formulação de políticas públicas educacionais para assegurar a implementação da Educação Especial na Perspectiva Inclusiva. Para implementar a Educação Inclusiva com qualidade, segundo Glat e Fernandes (2005), é necessária uma ressignificação do modelo educacional de modo que o projeto político-pedagógico, o currículo, a qualificação e formação de professores, gestores e demais profissionais das instituições, a acessibilidade no que se refere à estrutura da instituição e as práticas pedagógicas, comportem as necessidades educacionais de todos os educandos. Desta forma, como também aponta Mantoan (2015, p. 53), “[...] a escola precisa se reorganizar, assim como os cursos de formação inicial e continuada de professores, de modo que as suas práticas de ensino contemplem as diferenças”.
image/svg+xmlFormação de professores e o atendimento ao público-alvo da Educação Especial: Desafios e fragilidadesRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022126, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.159063 A Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, conhecida como a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, no Capítulo IV, Do Direito à Educação, Art. 28, destaca em três incisos a necessidade do aprimoramento dos sistemas educacionais de forma a garantir o acesso, a permanência, a aprendizagem e a participação, acionando elementos que possibilitem práticas individualizadas e coletivas, em espaços de potência para a educação, na busca pelo desenvolvimento acadêmico e social dos alunos com deficiência (BRASIL, 2015b). Logo, entendemos que os cursos de Pedagogia têm papel fundamental para o desenvolvimento dessas práticas, visto que será a partir das aptidões desenvolvidas ao longo desse processo formativo que os professores irão se apropriar das políticas públicas educacionais e implementá-las junto ao público-alvo da Educação Especial. Dessa forma, nos propomos a compreender como os cursos de Pedagogia têm formado os futuros profissionais da Educação Básica para atuar com os alunos com deficiência em uma perspectiva inclusiva. Para tanto, realizamos um levantamento e análise das ementas das disciplinas obrigatórias relativas à Educação Especial e/ou Educação Inclusiva, Língua Brasileira de Sinais (Libras) e Estágios em Educação Especial e/ou Educação Inclusiva. Ainda, através do relato de experiência de uma professora que nos últimos dez anos foi responsável pela disciplina de Educação Especial, em cursos de licenciatura, buscamos aprofundar a discussão considerando os desafios e expectativas experimentados na formação de pedagogos que, muitas vezes, já atuavam na Educação Básica como mediadores de alunos com deficiência. Antes de apresentarmos os resultados desta pesquisa, cabe destacar as orientações legais que norteiam a organização e funcionamento dos cursos de pedagogia. Atualmente, os cursos de formação de professores devem seguiras Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada em Nível Superior de Profissionais do Magistério para a Educação Básica, instituídas pela Resolução CNE/CP nº2, de 1º de julho de 2015.O documento define [...] princípios, fundamentos, dinâmica formativa e procedimentos a serem observados nas políticas, na gestão e nos programas e cursos de formação, bem como no planejamento, nos processos de avaliação e de regulação das instituições de educação que as ofertam (BRASIL, 2015a, p. 2). No que se refere à estrutura e currículo, o §2º do Artigo 13, aponta como responsabilidade dos cursos de formação inicial de professores para Educação Básica em nível superior [...] garantir nos currículos conteúdos específicos da respectiva área de conhecimento ou interdisciplinares, seus fundamentos e metodologias, bem
image/svg+xmlAna Cristina P. OLIVEIRA; Maria Alice M. RAMOS e Luciana ANGRIZANI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022126, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.159064 como conteúdos relacionados aos fundamentos da educação, formação na área de políticas públicas e gestão da educação, seus fundamentos e metodologias, direitos humanos, diversidades étnico-racial, de gênero, sexual, religiosa, de faixa geracional, Língua Brasileira de Sinais (Libras), educação especial e direitos educacionais de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas (BRASIL, 2015a, p. 11, grifo nosso). Recém instituída, mas ainda em fase de implementação, a Resolução CNE/CP nº2, de 20 de dezembro de 2019,estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação). A Resolução traz, em anexo, apontamentos quanto “as competências gerais docentes, bem como as competências específicas e as habilidades correspondentes a elas”(BRASIL, 2019, p. 2), estruturando, desta forma, a BNC-Formação. Ainda, no que se refere às competências necessárias aos educadores, não há direcionamentos específicos quanto às habilidades a serem desenvolvidas por esses profissionais para atuar, sob uma perspectiva inclusiva, com o público-alvo da Educação Especial. Porém, ainda com relação às competências gerais, a BNC- Formação prevê Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza, para promover ambiente colaborativo nos locais de aprendizagem (BRASIL, 2019, p. 13). No que se refere às orientações para a organização da carga horária dos cursos de licenciatura, o documento inclui a temática da Educação Especial no Grupo 1 (base comum), que deve ter início do primeiro ano do curso. Além de preparar os professores para as competências e habilidades previstas na BNCC-Educação Básica, essa etapa do curso de formação inicial deve abordar temáticas relacionadas aos fundamentos e marcos legais da educação, como: V - marcos legais, conhecimentos e conceitos básicos da Educação Especial, das propostas e projetos para o atendimento dos estudantes com deficiência e necessidades especiais; para que o ambiente de aprendizagem possa refletir esses valores (BRASIL, 2019, p. 7). Cabe ressaltar que este documento ainda está em fase de implementação pelas Instituições de Ensino Superior (IES), uma vez que o prazo previsto pelo CNE para as adequações curriculares nos cursos de licenciaturas foi prorrogado. Assim, as matrizes dos cursos de Pedagogia analisadas nesta pesquisa ainda estão sendo orientadas pela Resolução CNE/CP nº2, de 1º de julho de 2015. Destacamos, contudo, que não há no atual documento
image/svg+xmlFormação de professores e o atendimento ao público-alvo da Educação Especial: Desafios e fragilidadesRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022126, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.159065 orientador dos cursos de Pedagogia uma definição sobre a quantidade ou periodicidade da presença de conteúdos ou disciplinas curriculares voltadas à preparação dos futuros professores para a atuação junto aos alunos com deficiência. Assim, temos como hipótese que há um descompasso entre as legislações que buscam garantir o direito à escolarização desse público em classes regulares de ensino e as orientações para a formação dos professores que irão recebê-los. É a partir dela que desenvolvemos o estudo em tela. Este artigo está organizado em quatro seções após essa introdução. Na primeira seção apresentamos os resultados de um levantamento exploratório realizado com o intuito de compreender como as políticas educacionais de educação especial dos últimos anos impactaram as diretrizes curriculares dos cursos Pedagogia e como a formação inicial, em nível superior, tem preparado os professores da Educação Básica para atuar com alunos com deficiência numa perspectiva inclusiva. A análise das matrizes curriculares de uma amostra de cursos de Pedagogia nos apresenta algumas pistas sobre este cenário. Em seguida, a segunda e a terceira seções aprofundam a discussão a partir da análise do relato pessoal de uma professora da disciplina Educação Especial em cursos de licenciatura, uma das autoras deste artigo, destacando especificidades da disciplina e os desafios encontrados por graduandos que já atuavam enquanto mediadores de alunos incluídosna escola pública. As considerações finais sobre o estudo e as questões para aprofundamentos futuros são apresentadas na quarta seção do artigo. Formação inicial de professores para a Educação Básica e a inclusão de alunos com deficiência A pesquisa mais ampla que originou esse estudo (PAIVA, 2021) incluiu um levantamento de natureza exploratória em que, por meio de análise documental e revisão bibliográfica, foram analisados documentos legais (leis, decretos e resoluções, marcos políticos e históricos internacionais) e foram estabelecidos os referenciais teóricos que fundamentam os dados apresentados neste artigo. Buscando pistas para compreender o espaço para a preparação de futuros professores para receberem alunos com deficiência em suas classes regulares, optamos por direcionar nossa atenção às matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia, lócus de formação inicial de professores que vão atuar primordialmente na Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental e na gestão escolar. O procedimento de coleta de dados para definir a amostra dos cursos de Pedagogia a terem suas matrizes curriculares e ementas
image/svg+xmlAna Cristina P. OLIVEIRA; Maria Alice M. RAMOS e Luciana ANGRIZANI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022126, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.159066 analisadas para os fins desta pesquisa se deu a partir das informações da Sinopse Estatística do Censo da Educação Superior de 2019. De acordo com a Sinopse, em 2019, tínhamos, no Brasil, 124.409 mil alunos concluindo o curso de Pedagogia, na modalidade presencial e a distância, sendo 17.761 em IES públicas e 106.648 mil em IES privadas. Ainda, em se tratando do quantitativo de alunos concluintes no curso de Pedagogia, o Estado do Rio de Janeiro, campo desta pesquisa, na modalidade presencial e a distância, registrava um total de 5.832 mil alunos concluindo o curso de Pedagogia, sendo 1.785 mil em IES públicas e 4.047 em IES privadas. Ainda, no Brasil, o número de cursos de graduação em Pedagogia, na modalidade presencial, totalizavam 1.522 mil. Destes, 146 eram ofertados por IES Federais, 210 por IES Estaduais e apenas 39 em IES Municipais. Para delimitar a nossa amostra, mediante análise, estabelecemos os seguintes critérios a partir da base de dados da Sinopse Estatística do Censo da Educação Superior 2019: Universidades das redes Federal, Estadual, Municipal e privada localizadas no Estado do Rio de Janeiro, com o maior número de alunos concluintes na modalidade presencial de ensino; e a nossa amostra comportaria dez cursos de Pedagogia, sendo cinco da rede pública e cinco da rede privada4.Assim, as cinco Universidades públicas que atendiam aos nossos critérios foram: I) Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); II) Universidade Federal Fluminense (UFF); III) Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); IV) Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e V) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Já as cinco Universidades da rede privada que atendiam aos nossos critérios foram: I) Universidade Estácio de Sá (UNESA); II) Universidade do Grande Rio Professor José de Souza Herdy (UNIGRANRIO); III) Universidade Veiga de Almeida (UVA); IV) Universidade Castelo Branco (UCB) e, por fim; V) Universidade Católica de Petrópolis (UCP). Com o propósito de compreender o impacto das legislações de educação especial nas diretrizes curriculares dos cursos Pedagogia e como a formação inicial, em nível superior, tem preparado os professores da Educação Básica para atuar com alunos com deficiência numa perspectiva inclusiva, as etapas seguintes da pesquisa consistiram: I) na busca pelas matrizes curriculares e ementas das disciplinas dos cursos de Pedagogia nos sitesoficiais das IES que compõem a nossa amostra; II) no levantamento de disciplinas obrigatórias relativas à Educação Especial e/ou Inclusiva, Língua Brasileira de Sinais (Libras) e Estágios em Educação Especial 4Para maiores detalhes sobre a definição desses critérios, consultar Paiva (2021).
image/svg+xmlFormação de professores e o atendimento ao público-alvo da Educação Especial: Desafios e fragilidadesRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022126, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.159067 nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia ofertados nas instituições citadas acima; e III) na análise das ementas dessas disciplinas a fim de compreender se o processo formativo desses educadores atende as demandas previstas nas legislações para a inclusão de alunos com deficiência. Nesta etapa do levantamento verificamos que, apesar de apresentarem em suas matrizes curriculares disciplinas relativas à Educação Especial e/ou Educação Inclusiva, Língua Brasileira de Sinais (Libras) e Estágios em Educação Especial, os cinco cursos de Pedagogia das IES das redes privadas não trazem em suas matrizes curriculares dados que consideramos relevantes para a nossa pesquisa. Ademais, além da insuficiência destes dados, ossitesoficiais das IES em questão não apresentam um dos principais pontos de análise de nossa pesquisa: as ementas das disciplinas ofertadas pelos cursos. Tabela 1 Levantamento das disciplinas relativas a Educação Especial e/ou Inclusiva, Libras e Estágio em Educação Especial e/ou Inclusiva - IES Privadas Instituições de Ensino Superior PrivadasCampusNome da DisciplinaPeríodoCH TeóricaCH PráticaCH Estágio CH Total UCB Realengo Educação inclusiva e especial N/C N/C N/C N/C Estágio curricular supervisionado - educação de jovens e adultos e educação especial N/C N/C N/C N/C Língua brasileira de sinais - libras N/C N/C N/C N/C UCP Petrópolis Língua brasileira de Sinais N/C N/C N/C 72h Educação Especial N/C N/C N/C 72h UNESA N/C Mediação Escolar* N/C N/C N/C N/C N/C Educação Especial N/C N/C N/C N/C N/C Tópicos em Libras - Surdez e inclusão N/C N/C N/C N/C N/C UNIGRANRIO Duque de Caxias Educação Especial 60h 0 0 60h Libras 40h 0 0 40h UVA Tijuca, Botafogo e Cabo Frio Educação Especial E Direitos Humanos N/C N/C N/C N/C Inclusão E Língua Brasileira De Sinais N/C N/C N/C N/C Fonte: Dados da pesquisa. Elaborada pelas autoras, com base nos dados dos sitesoficiais das IES * Devido à ausência de ementa, não há como ratificar que esta disciplina esteja se referindo, de fato, ao processo de ensino-aprendizagem onde há a mediação de saberes entre educadores e educandos.
image/svg+xmlAna Cristina P. OLIVEIRA; Maria Alice M. RAMOS e Luciana ANGRIZANI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022126, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.159068 Desta forma, foi necessária a redefinição do nosso grupo de análise, excluindo as IES Privadas devido à insuficiência de dados. Sendo assim, nossa amostra final ficou composta das seguintes IES: Tabela 2 Disciplinas relativas à Educação Especial e/ou Inclusiva, Libras e Estágio em Educação Especial e/ou Inclusiva - IES Públicas Instituições de Ensino Superior Públicas Campus Quantidade de Disciplinas Obrigatórias relacionadas a Educação Especial e/ou Educação Inclusiva Quantidade de Disciplinas Obrigatórias relacionadas a Língua Brasileira de Sinais (Libras) Quantidade de Estágios Obrigatórios relacionados a Educação Especial e/ou Educação Inclusiva UERJBaixada Fluminense100Maracanã210São Gonçalo100UFFAngra dos Reis111Niterói114Santo Antônio de Pádua110UFRJPraia Vermelha110UFRRJNova Iguaçu211Seropédica110UNIRIOPraia Vermelha110Fonte: Dados da pesquisa. Elaborada pelas autoras, com base nos dados dos sitesoficiais das IES Em seguida, tendo realizado o levantamento das matrizes curriculares, passamos à análise das ementas das disciplinas dos cursos de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) campus Baixada Fluminense, Maracanã e São Gonçalo, Universidade Federal Fluminense (UFF) campus Angra dos Reis, Niterói e Santo Antônio de Pádua, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) campus Praia Vermelha, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) campus Nova Iguaçu e Seropédica, e, por fim, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) campus Praia Vermelha. A partir desse levantamento, foram identificadas 12 disciplinas relacionadas à Educação Especial e/ou Educação Inclusiva, oito disciplinas relacionadas à Língua Brasileira de Sinais (Libras) e seis disciplinas relacionadas a Estágios em Educação Especial e/ou Educação Inclusiva. Das 12 disciplinas voltadas para a Educação Especial e/ou Educação Inclusiva, apenas dois não possuíam o programa da disciplina cadastrado no siteda IES, sendo elas “Educação Inclusiva” (UFF/Santo Antônio de Pádua) e “Fundamentos Teórico-metodológicos da Educação Especial” (UFRRJ/Seropédica). Observou-se que as disciplinas são majoritariamente ofertadas com carga horária total de 60h, mas há também aquelas que são ofertadas com carga
image/svg+xmlFormação de professores e o atendimento ao público-alvo da Educação Especial: Desafios e fragilidadesRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022126, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.159069 horária total superior à 60h, como é o caso da disciplina “Educação Inclusiva” (UERJ/ Baixada Fluminense), e com carga horária total inferior a 60h, como é o caso das disciplinas “Prática de Educação Inclusiva e Direitos Humanos” (UFRRJ/ Nova Iguaçu) e “Fundamentos Teórico-metodologicos da Educação Especial” (UFRRJ/Seropédica).Ademais, quatro destas disciplinas apresentam carga horária prática, sendo elas “Educação Inclusiva” (UERJ/Baixada Fluminense), “Educação Especial e Inclusiva I” (UFF/Angra dos Reis), “Educação Especial I” (UFF/Niterói) e “Fundamentos Teórico-metodologicos da Educação Especial” (UFRRJ/ Seropédica). Cabe ressaltar, que os cursos da UERJ /Maracanã e UFRRJ/ Nova Iguaçu contam com mais de uma disciplina acerca da temática. Tabela 3 Levantamento das disciplinas obrigatórias relativas à Educação Especial e/ou Educação Inclusiva Instituições de Ensino Superior PúblicasCampusNome da DisciplinaPeríodoCH TeóricaCH PráticaCH EstágioCH Total UERJ Baixada Fluminense Educação Inclusiva 60h 30h 0 90h Maracanã Questões Atuais em Educação Especial 60h 0 0 60h Educação Inclusiva e Cotidiano Escolar 60h 0 0 60h São Gonçalo Educação Especial para Alunos de Pedagogia N/C N/C N/C 60h UFF Angra dos Reis Educação Especial e Inclusiva I 45h 15h 0 60h Niterói Educação Especial I 40h 20h 0 60h Santo Antônio de Pádua Educação Inclusiva 60h 0 0 60h UFRJ Praia Vermelha Fund. da Educação Especial 60h 0 0 60h UFRRJ Nova Iguaçu Prática de Educação Inclusiva e Direitos Humanos 30h 0 0 30h Educação Especial 60h 0 0 60h Seropédica Fundamentos Teórico-metodologicos da Educação Especial 15h 30h 0 45h UNIRIO Praia Vermelha Educação Especial 60h 0 0 60h Fonte: Dados da pesquisa. Elaborada pelas autoras, com base nos dados dos sitesoficiais das IES
image/svg+xmlAna Cristina P. OLIVEIRA; Maria Alice M. RAMOS e Luciana ANGRIZANI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022126, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1590610 Analisando as ementas das disciplinas presentes na Tabela 3, evidencia-se que a maioria visa desenvolver competências acerca da história da Educação Especial e Educação Inclusiva, das políticas públicas de Educação Especial e documentos legais, sobre o processo de ensino e aprendizagem e as necessidades educacionais do público-alvo da Educação Especial e da formação de professores para atuar sob uma perspectiva inclusiva. Há também, em determinadas disciplinas, apontamentos quanto às intervenções pedagógicas, ao projeto político pedagógico, ao currículo, à mediação escolar, ao papel da família no desenvolvimento das pessoas com deficiência, sobre a inter e multidisciplinaridade no trabalho em equipe e sobre os desafios na inclusão social e escolar. Cabe ressaltar que as disciplinas que contam com carga horária prática não apresentam em suas ementas de que forma elas são executadas e, ainda, algumas ementas contam com termos obsoletos como “portador de necessidades educacionais especiais” e “desvios da normalidade”.As disciplinas “Educação Inclusiva” (UERJ/ Baixada Fluminense) e “Práticas de Educação Inclusiva e Direitos Humanos” (UFRRJ/Nova Iguaçu) retratam a Educação Inclusiva sob a perspectiva dos direitos humanos, pensando a formação e práticas educacionais para a diversidade. Diferente da proposta da disciplina ofertada pela UFRRJ/Seropédica que abrange a diversidade humana e, dentre elas, aborda o processo educativo das pessoas com deficiência, a disciplina “Educação Inclusiva” (UERJ/ Baixada Fluminense) tem como foco as relações étnico-raciais. Por sua vez, todas as oito disciplinas voltadas para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) contavam com ementas nos sitesdas IES. Porém, cabe ressaltar que a UERJ/ Baixada Fluminense e UERJ/ São Gonçalo não apresentam em suas matrizes curriculares nenhuma disciplina obrigatória que atendesse a temática5. Ao realizarmos o levantamento, evidenciou-se que cinco destas disciplinas têm carga horária total de 30h e as outras três têm carga horária total de 60h. Dentre estas, duas apresentam carga horária prática, são elas: “LIBRAS” (UFF/ Angra dos Reis) e “Educ e Comunicação II (Libras)” (UFRJ/ Praia Vermelha). Ademais, as disciplinas são majoritariamente ofertadas a partir do 6º período. 5Destacamos que a busca nos sites oficiais das instituições foi realizada em junho de 2021.
image/svg+xmlFormação de professores e o atendimento ao público-alvo da Educação Especial: Desafios e fragilidadesRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022126, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1590611 Tabela 4 Levantamento das disciplinas obrigatórias relativas a Língua Brasileira de Sinais (Libras) Instituições de Ensino Superior PúblicasCampusNome da DisciplinaPeríodoCH TeóricaCH PráticaCH EstágioCH TotalUERJ Baixada Fluminense N/C N/C N/C N/C N/C N/C Maracanã Educação Inclusiva e Língua Brasileira de Sinais 30h 0 0 30h São Gonçalo N/C N/C N/C N/C N/C N/C UFF Angra dos Reis LIBRAS 30h 30h 0 60h Niterói Libras I 30h 0 0 30h Santo Antônio de Pádua LIBRAS I 30h 0 0 30h UFRJ Praia Vermelha Educ e Comunicação II (Libras) 30h 30h 0 60h UFRRJ Nova Iguaçu Língua Brasileira de Sinais 30h 0 0 30h Seropédica Língua Brasileira de Sinais 30h 0 0 30h UNIRIO Praia Vermelha Língua Brasileira de Sinais 60h 0 0 60h Fonte: Dados da pesquisa. Elaborada pelas autoras, com base nos dados dos sitesoficiais das IES Ao analisarmos as ementas das disciplinas relativas à Língua Brasileira de Sinais (Libras), a maioria propõe desenvolver competências sobre a Libras e suas particularidades linguísticas, a história da escolarização de surdos, a cultura e a comunidade surda. Há também, por parte de algumas disciplinas, apontamentos quanto às políticas públicas voltadas para a Educação Especial, adaptações curriculares, formação de professores para uma educação inclusiva, educação bilíngue e a respeito das tecnologias assistivas. Apesar do levantamento através das matrizes curriculares nos aportarem apenas duas disciplinas com carga horárias práticas, todas as disciplinas presentes na tabela 6 contam com o ensino prático de Libras, uns apresentam noções básicas e outros fazem um aprofundamento quanto alguns aspectos da gramática e vocabulário da Língua Brasileira de Sinais. A proposta da disciplina “Língua Brasileira de Sinais” ofertada pela UNIRIO, nos chama atenção, pois, de todas as disciplinas apresentadas é a única que propõe a vivência da Libras a partir da interação com um professor surdo. Por fim, ainda temos poucas disciplinas obrigatórias voltadas para os Estágios em Educação Especial e/ou Educação Inclusiva. Apesar do §3º do art.13 das Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior dispor que
image/svg+xmlAna Cristina P. OLIVEIRA; Maria Alice M. RAMOS e Luciana ANGRIZANI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022126, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1590612 [...] deverá ser garantida, ao longo do processo, efetiva e concomitante relação entre teoria e prática, ambas fornecendo elementos básicos para o desenvolvimento dos conhecimentos e habilidades necessários à docência (BRASIL, 2015a, p. 11). Dos cursos analisados, apenas um conta com estágio específico que é o caso da disciplina “Estágio Supervisionado em Educação Inclusiva e Direitos Humanos”, ofertada pela UFRRJ/ Nova Iguaçu. Esta possui carga horária total de 80h, mas sua matriz curricular não especifica se a disciplina conta com carga horária teórica e/ou carga horária prática e nem determina a carga horária do estágio. Ainda, sua ementa é muito superficial, solicitando apenas a realização do estágio na área da Educação Inclusiva tendo como diretriz os direitos humanos. As disciplinas de Pesquisa e Prática Pedagógicas I, II, III e IV da UFF/Niterói, trazem como um dos temas transversais à prática a Educação Inclusiva. Já a disciplina Pesquisa e Prática Pedagógica I, ofertada pela UFF/Angra dos Reis, propõe o diálogo entre as disciplinas “Educação Infantil” e “Educação Especial e Inclusiva” a fim de embasar as práticas dos graduandos em suas experiências de estágio. Tabela 5 Levantamento das disciplinas obrigatórias relativas a Estágios em Educação Especial e/ou Educação Inclusiva Instituições de Ensino Superior PúblicasCampusNome da Disciplina