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Tecnologias na educação e suas transformações: Um olhar a partir do conceito de capital cultural
RPGE
–
Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022128, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029
DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16061
1
TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO E AS TRANSFORMAÇÕES: UM OLHAR A
PARTIR DO CONCEITO DE CAPITAL CULTURAL
LAS TECNOLOGÍAS EN EDUCACIÓN Y SUS TRANSFORMACIONES: UNA MIRADA
DESDE EL CONCEPTO DE CAPITAL CULTURAL
TECHNOLOGIES IN EDUCATION AND THEIR TRANSFORMATIONS: A LOOK
FROM THE CONCEPT OF CULTURAL CAPITAL
Lilian Maia Borges TESTA
1
Márcia Marlene STENTZLER
2
RESUMO
: Este artigo tem como objetivo analisar aspectos da história das tecnologias
inseridas na educação, visando o desenvolvimento educacional, sob a luz do conceito de
“capital cultural”,
de Pierre Bourdieu, considerando parte do processo sócio-histórico as
mudanças e usos delas na educação contemporânea que ocorreram em consonância com uma
nova cultura, uma vez que a escola não é uma instituição neutra. Compreendemos as mudanças
socioeducacionais associadas a um contexto mais amplo. E a escola também se transforma na
medida em que inclui em seu currículo e nas práticas o uso das Tecnologias Digitais de
Informação e Comunicação (TDIC). Partimos da problemática relacionada ao processo
histórico da inserção das tecnologias digitais na Educação Básica e como podem acarretar no
desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem? Será uma pesquisa bibliográfica,
levando em consideração os pressupostos teóricos defendidos por: Bourdieu (2004), Saviani
(1991), Kenski (2012) e Duarte (2008). A pesquisa evidenciou que houve professores que não
deram a atenção necessária, relutando em inserir as TDIC em suas aulas. Outros foram em
busca de informações e capacitação para que pudessem ministrar aulas de forma virtual,
agregando um novo capital cultural à sua prática.
PALAVRAS-CHAVE
: História. Tecnologia. Educação. Capital cultural.
RESUMEN
:
Este artículo tiene como objetivo analizar aspectos de la historia de las
tecnologías incluidas en la educación, con miras al desarrollo educativo, a la luz del concepto
de “capital cultural” de Pierre Bourdieu,
considerando parte del proceso sociohistórico, sus
cambios y usos en la educación ocurridos en consonancia con una nueva cultura, ya que la
escuela no es una institución neutral. Entendemos los cambios socioeducativos asociados a un
contexto más amplio. Y la escuela también se transforma en la medida en que incluye en su
plan de estudios y practica el uso de las tecnologías de la información y la comunicación.
Partimos del tema relacionado con el proceso histórico de inserción de las tecnologías
digitales en la educación básica y ¿cómo pueden conducir al desarrollo del proceso de
1
Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), Paranavái
–
PR
–
Brasil. Mestranda em Formação Docente
Interdisciplinar (UNESPAR). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5560-5064. E-mail:
lilian.maia.borges@gmail.com
2
Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), Paranavái
–
PR
–
Brasil. Docente Adjunta. Doutorado em
Educação (UFPR). Pós-doutoranda (UNICAMP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9634-9148. E-mail:
marcia.stentzler@unespar.edu.br
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Lilian Maia Borges TESTA e Márcia Marlene STENTZLER
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enseñanza y aprendizaje? Será una investigación bibliográfica, teniendo en cuenta los
supuestos teóricos defendidos por: Bourdieu (2004); Saviani (1991); Kenski (2012) y Duarte
(2008). La investigación mostró que había docentes que no prestaban la atención necesaria,
mostrándose reacios a insertar las TDIC en sus clases. Otros fueron en busca de información
y capacitación para poder impartir clases de manera virtual, sumando un nuevo capital
cultural a su práctica.
PALABRAS CLAVE
:
Historia. Tecnología. Educación. Capital cultural.
ABSTRACT
: This article aims to analyze aspects of the history of technologies inserted in
education, aiming at educational development, under the light of Pierre Bourdieu's concept of
“cultural capital”, considering part of the socio
-historical process, changes and their uses in
contemporary education that occurred in line with a new culture, since the school is not a
neutral institution. We understand the socio-educational changes associated with a broader
context. And the school is also transformed insofar as it includes in its curriculum and practices
the use of communication and information technologies. We start from the problem related to
the historical process of insertion of digital technologies in basic education and how can they
lead to the development of the teaching and learning process? It will be a bibliographical
research, taking into account the theoretical assumptions defended by: Bourdieu (2004);
Saviani (1991); Kenski (2012) and Duarte (2008).
The research showed that there were
teachers who did not give the necessary attention, being reluctant to insert the TDIC in their
classes. Others went in search of information and training so that they could teach classes in a
virtual way, adding a new cultural capital to their practice.
KEYWORDS
: History. Technology. Education. Cultural capital.
Introdução
As Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDIC) em sala de aula são
recursos cada vez mais necessários. Garantir esse acesso é fundamental, na medida em que o
conhecimento é um dos direitos sociais básicos. O uso da tecnologia no meio educacional é
motivo para reflexões acerca do planejamento e metodologias empregadas pelos professores,
pois estamos em uma sociedade globalizada, intitulada Sociedade do Conhecimento, mas, como
afirma Duarte (2008), sociedade permeada de ilusão.
A assim chamada sociedade do conhecimento é uma ideologia produzida pelo
capitalismo, é um fenômeno no campo da reprodução ideológica do
capitalismo. Dessa forma, para falar sobre algumas ilusões da sociedade do
conhecimento é preciso primeiramente explicitar que essa sociedade é por si
mesma, uma ilusão que cumpre determinada função ideológica na sociedade
capitalista contemporânea (DUARTE, 2008, p. 13).
O conhecimento e a cultura são capitais imateriais. Nesse sentido, o artigo em questão
tem como objetivo analisar aspectos da história das tecnologias inseridas na educação, visando
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o desenvolvimento educacional, sob a luz do conceito de capital cultural, cunhado por Bourdieu
(2004). O capital cultural é pessoal, mas também é coletivo e também herdado das gerações
que nos antecederam. É algo que foi produzido e que faz parte da vida, como resultado de um
conhecimento historicamente produzido. Uma nova perspectiva de ensino e aprendizagem, com
o uso de tecnologias educacionais está atrelada a essa ideia de capital cultural, por meio da
posse e domínio da tecnologia e do conhecimento.
Bourdieu (2004) também apresenta o conceito de
habitus
. Esse ultrapassa o inconsciente
e está presente na maneira como a pessoa vive, ou seja, centra-se na ação humana, para uma
prática social. Age como uma mola que precisa de uma ação externa, isto é, não pode ser visto
de forma isolada, longe das sociedades específicas ou dos locais em que é produzido. Está
associada a um contexto de mudanças nas formas de vida, de produção e socialização do
conhecimento.
A efetividade das TDIC com seu uso recente e atual na educação ampliou-se em função
da pandemia provocada pelo novo Coronavírus, COVID-19, cujos efeitos ainda são sentidos,
uma vez que ela continua com variantes do vírus. Por meio das novas ferramentas tecnológicas
a educação continuou a acontecer, de forma reelaborada, num contexto emergencial. Entretanto,
essa súbita busca para a inserção de um planejamento e uma metodologia virtual na educação,
tornou mais visível a grande diferença que existe nas condições de acesso ao conhecimento.
Muitos alunos não tinham acesso à internet ou, não possuíam instrumentos tecnológicos, ou,
ainda, suas famílias não conseguiam lidar com softwares por não possuir o letramento digital.
Esta pesquisa é bibliográfica, levando em consideração os pressupostos teóricos
defendidos por Bourdieu (2004), ao relacionarmos o uso das tecnologias em sala de aula e o
conceito de “capital cultural”;
Saviani (1991), ao conceituar a natureza e especificidade da
educação; Newton Duarte (2008) que nos auxilia a compreender criticamente o termo
“Sociedade do Conhecimento”, bem como, juntamente com os preceitos defendidos por Kenski
(2012), a ideia de tecnologias em processo histórico. No contexto da pandemia, as tecnologias
foram fundamentais para que os alunos continuassem tendo contato com a escola, amigos e
com os conteúdos escolares. Vamos olhar para esse movimento a partir de Soares e Colares
(2020), entre outros que analisam a relação entre educação, tecnologias da informação e
comunicação.
Sob esse viés, o artigo se desenvolve, primeiramente, com uma retrospectiva histórica
sobre as tecnologias na educação, enquanto um processo sócio-histórico e cultural, tendo como
elemento norteador a ideia de capital cultural, como produto da humanidade e de cada
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indivíduo. Em seguida, abordaremos sobre representações da escola e do professor frente às
tecnologias digitais na educação contemporânea.
As Tecnologias na Educação Brasileira: Processo Histórico
Em uma sociedade que está em constante mudança, a educação é um processo cada vez
mais intrincado, em que o aprender e o ensinar nos desafiam todos os dias. No entanto, é
necessário enfrentá-los com dinamismo e em conformidade com as mudanças sociais. A
educação apresenta, hoje, os modelos de ensino presencial, semipresencial e a distância, sendo
que esta última permite que o estudante não esteja fisicamente em um ambiente formal de
ensino e aprendizagem.
Segundo Kenski (2012), o termo tecnologia vem do grego. É formado pela palavra
techné
, que significa saber fazer, e
logia
, do grego
logus
que significa razão, dessa forma,
podemos dizer que tecnologia é a razão do saber fazer. Conforme explicita Kenski (2012, p.
18):
Ao conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se aplicam ao
planejamento, à construção e à utilização de um equipamento em um
determinado tipo de atividade nós chamamos de tecnologia. Para construírem
qualquer equipamento - seja uma caneta esferográfica ou um computador -, os
homens precisam pesquisar, planejar e criar tecnologias.
Atualmente, há um uso indiscriminado do termo, criando, dessa forma, diferentes
significados que levam a outros caminhos, como ilustra Pinto (2005, p. 219):
De acordo com o primeiro significado etimológico, a tecnologia tem de ser a
teoria, a ciência, o estudo, a discussão da técnica abrangidas nesta última
noção as artes, as habilidades do fazer, as profissões e, generalizadamente, os
modos de produzir alguma coisa [...]. No segundo significado, tecnologia
equivale pura e simplesmente à técnica [...]. Estreitamente ligado à
significação anterior, encontramos o conceito de tecnologia entendido como
o conjunto de todas as técnicas de que dispõe uma determinada sociedade, em
qualquer fase histórica de seu desenvolvimento [...]. Por fim, encontramos o
quarto sentido do vocábulo tecnologia, aquele que para nós irá ter importância
capital, a ideologização da técnica [...].
O termo tecnologia educacional não pode ser confundido com tecnologia digital, ou
seja, não podemos sobrepor um conceito ao outro. Sancho-Gil (2018, p. 611) nos aponta que
ao fazermos essa sobreposição podemos causar um reducionismo.
Dessa perspectiva, sobrepor a tecnologia educacional às TDICs traz consigo
um reducionismo que pode significar “a perda da perspectiva história”. A
história da TE tem mostrado como cada desenvolvimento tecnológico
–
do
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livro ao cinema, passando pelo rádio, pelo vídeo e pela internet
–
foi
celebrado, na sua época, como a panaceia da educação. [...].
Quando abordamos o tema tecnologia, é válido voltarmos um pouco na história da
sociedade humana. Desses tempos remotos até os dias atuais, sabemos que a humanidade
produziu grandes e determinantes descobertas, que levaram a mudanças físicas, a formação de
laços afetivos e de sociabilização. Essas foram possíveis devido à capacidade de aprendizagem
e uso dos conhecimentos acumulados. Conforme Brito e Purificação (2012, p. 20),
O ser humano, ao longo do seu desenvolvimento, produz conhecimento e o
sistematiza, modificando e alterando aquilo que é necessário à sua
sobrevivência. Suas ações não somente biologicamente determinadas - dão-se
também pela apropriação das experiências e dos conhecimentos produzidos e
transmitidos de geração a geração. O conhecimento humano nas suas
diferentes formas - senso comum, científico, filosófico, estético, etc. - está
entrelaçado numa rede de concepções de mundo e de vida.
Essas características diferenciam o ser humano dos demais animais, sendo capaz de
pensar, de aprender, de desenvolver suas capacidades e, principalmente, de transmitir o que
aprendeu aos seus descendentes, além de fazer novas descobertas. O ser humano possui a
capacidade de mudar constantemente, transformando o mundo e a sociedade a qual está
inserido. Conforme Pinto (2014, p. 14),
Este é um elemento básico de diferenciação dos humanos em relação às
demais espécies animais na Terra: a capacidade de descobrir coisas novas e
transmitir essas descobertas a outros membros da espécie, que podem
aprender com a experiência dos outros, incorporar esses conhecimentos aos
seus e fazer novas descobertas. Assim, a espécie humana passou a ser capaz
de mudar a si mesma e o mundo ao seu redor como nenhuma outra o fez.
Podemos observar, portanto, que a escrita, uma nova forma do ser humano se
comunicar, não foi inventada apenas por uma pessoa, mas foi o resultado criativo de toda uma
sociedade, que foi aperfeiçoando essa tecnologia ao longo dos tempos, conforme explicita Pinto
(2014, p. 19-20):
[...] essa nova tecnologia de comunicação, a escrita, não foi inventada por um
indivíduo ou mesmo um grupo restrito de indivíduos. Ela foi o resultado
criativo de muitas pessoas que, durante centenas ou até milhares de anos,
foram aperfeiçoando lentamente as formas até então existentes de escrita.
Havia uma tecnologia de suporte (tábuas de argila), de ferramentas para
escrever (estiletes de caniço) e um conjunto de regras bem definidas para guiar
o processo de escrita e de leitura, todos eles sendo continuamente
aperfeiçoados. Mas tudo isso não era suficiente para garantir que a escrita se
perpetuasse: deveria haver condições sociais necessárias para o seu avanço.
Primeiramente, a sociedade em que a escrita surgiu precisou enxergar alguma
utilidade para o seu uso e, em segundo lugar, essa sociedade deveria ser capaz
de sustentar escribas especialistas para manter e aperfeiçoar a escrita.
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Lilian Maia Borges TESTA e Márcia Marlene STENTZLER
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A escrita foi um dos grandes elementos de transformação social e cultural. A pesquisa
de Davis (1990, p. 184) sobre o impacto da palavra impressa entre os trabalhadores franceses
no século XVI, revela aspectos da disseminação da palavra impressa entre os trabalhadores e
as transformações que opera nesse contexto.
No conjunto, parece-me que os primeiros 125 anos da palavra impressa na
França, com as pequenas mudanças que provocaram na área rural,
fortaleceram mais do que minaram a vitalidade da cultura do
menu people
nas
cidades. Isto é, trouxeram contribuições tanto ao seu realismo quando à
riqueza dos seus sonhos, tanto a seu auto respeito quanto à sua capacidade de
criticar a si mesmo e aos outros.
A imprensa, naquele período, representou uma nova tecnologia que fez chegar aos
trabalhadores o conhecimento sistematizado, por meio da palavra impressa. Davis enfatiza, que
“[...] eles não eram receptores passivos (nem beneficiários, ou vítimas, passivos) de um novo
tipo de comunicação.” (
DAVIS, 1990, p. 194). Aqueles que tinham acesso aos livros
interpretavam o que “liam e ouviam”
, o que resultando num aperfeiçoamento desses materiais,
bem como fortalecendo a organização da sociedade e das pessoas. Em outras palavras,
O protestantismo e certas características do humanismo convergiram com a
palavra impressa, para contestar valores hierárquicos tradicionais e para adiar
o estabelecimento de rígidos valores novos. O controle econômico das
publicações não estava concentrado nas firmas dos grandes comerciantes-
editores, mas era compartilhado por uma diversidade de produtores. (DAVIS,
1990, p. 185).
Com a imprensa e a alfabetização, o saber se torna popular, acessível a camadas sociais
que até então eram alijadas do conhecimento sistematizado e possível por meio da escrita.
Prevalecia a oralidade. Essa transformação, que pode ser considerada como tecnológica foi
fundamental para a rapidez na socialização das ideias e concepções de mundo, conforme
explicita Bourdieu temos a ampliação do capital cultural. Pies (2011) afirma que o a ampliação
do capital cultural está diretamente ligada ao capital social, ou seja, o capital social é um recurso
ligado ao indivíduo, ao grupo ou a instituição que os mantém unidos, podendo aumentar as
relações sociais e ampliando o reconhecimento de diferentes culturas.
Uma das formas de disseminar o conhecimento sistematizado, associada a ideia linear
de progresso, foi a escolarização pública. No Brasil, organização e disseminação das escolas
públicas primárias foi grande, especialmente no início do século XX, com a industrialização. É
nesse contexto que abordamos a ideia de tecnologia educacional, que conforme Tajra (2012, p.
48) não se trata de algo futuro, mas que faz parte das mudanças sociais.
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[...] a tecnologia educacional está relacionada aos antigos instrumentos
utilizados no processo ensino-aprendizagem. O giz, a lousa, o retroprojetor, o
vídeo, a televisão, o jornal impresso, um aparelho de som, um gravador de
fitas cassete e de vídeo, o rádio, o livro e o computador são todos elementos
instrumentais componentes da tecnologia educacional.
Ciência e tecnologia se relacionam, principalmente ao nos referirmos ao
desenvolvimento da sociedade e da educação. Conforme explicita Kuhn (1998), essas
mudanças não são ocasionadas apenas pelas descobertas, mas tem um contexto mais amplo que
envolve a sociedade e o surgimento de teorias novas. Podemos afirmar que há um capital
cultural acumulado que permite essas mudanças, mas muitas vezes os novos aparatos
tecnológicos não são acessíveis a todos. Dessa forma,
Desde a década de 1950, teóricos chamam a atenção para a caracterização da
sociedade pela tecnificação crescente nos mais variados setores sociais. Já
havia preocupações no sentido de que os meios de comunicação constituíam
uma escola paralela onde as crianças e os adultos estariam encantados e
atraídos em conhecer conteúdos diferentes da escola convencional.
(DORIGONI; SILVA, 2007, p. 6).
Assim, as tecnologias começam a influenciar o modo de perceber do mundo, de
transformá-lo e expressar-se nele, inicia-
se uma “Indústria Cultural”, ou seja, há o interesse
de
manter o homem como um consumidor. No entanto, Duarte (2008, p. 27) salienta que:
Devo destacar que a apropriação de um objeto natural pelo ser humano, que
transforma esse objeto em instrumento humano, nunca pode se realizar
independentemente das condições objetivas originais desse objeto, ainda que
estas venham a sofrer enormes transformações qualitativas em decorrência da
atividade humana, gerando fenômenos sem precedentes na história natural. O
objeto, portanto, não é totalmente subtraído de sua lógica natural, mas esta é
inserida na lógica da prática social. O ser humano não cria a realidade humana
sem apropriar-se da realidade natural. Ocorre que essa apropriação não se
realiza sem a atividade humana, tanto aquela de utilização do objeto como um
meio para alcançar uma finalidade consciente, como também, e
principalmente, enquanto atividade de transformação do objeto para que ele
possa servir mais adequadamente às novas funções que passará ater, ao ser
inserido na atividade social.
Tais considerações nos levam a refletir sobre o uso das tecnologias no meio educacional,
considerando o capital cultural e social para o uso dessas tecnologias em sala de aula, refutando,
muitas vezes, as terminologias empregadas, como “Sociedade do Conhecimento”.
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Lilian Maia Borges TESTA e Márcia Marlene STENTZLER
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Tecnologias digitais na escola
O papel das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), no âmbito
educacional, está vinculado a múltiplos fatores, sendo que, em meio a eles, a formação docente
tem grande destaque, pois os docentes atuam para a difusão do conhecimento e no
desenvolvimento intelectual, social e afetivo do indivíduo. Se o computador pode consistir em
um instrumento para auxiliar este desenvolvimento, o docente deve ter ciência de usá-lo com
competência e eficiência, a fim de viabilizar o desenvolvimento de projetos de aprendizagem
cooperativa. Para que isso realmente aconteça, estuda-se de que forma deve ser esta formação
do professor, e seus resultados.
Os moldes educacionais necessitam ser atualizados e inovados para poderem continuar
exercendo suas funções na sociedade, conforme observamos na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDBEN) Lei nº 9.394/96 (BRASIL, 1996), em que a educação deve
caminhar em consonância com as transformações sociais. No respectivo documento, notamos
que o uso das tecnologias em sala de aula é primordial para o desenvolvimento do processo de
ensino e aprendizagem.
As tecnologias digitais em ambientes escolares permitem construir novas
oportunidades, respeitadas as diferenças individuais e condições. Às escolas cabem incentivar
o uso das novas tecnologias de comunicação e dispor de um processo de transformação de tal
forma que a atuação do professor possa ser compatível com as novas necessidades. No entanto,
sabemos que, em conformidade com Duarte (2008), é uma ilusão, pois as escolas não possuem
condições físicas e estruturais para colocar em prática efetiva o uso das tecnologias digitais.
O raciocínio lógico do estudante também se modifica com o uso de tecnologias. Ela faz
parte de várias atividades, como assevera Pierre Lévy (1993, p. 79):
O professor torna-se o ponto de referência para orientar seus alunos no
processo individualizado de aquisição de conhecimentos e, ao mesmo tempo,
oferece oportunidades para o desenvolvimento do processo de construção
coletiva do saber através da aprendizagem coorporativa.
O trabalho do professor deve seguir no sentido de incentivar a aprendizagem e o
pensamento, assim para que a afirmação de Lévy torne-se verdadeira é também necessário
conscientizar o aluno para uma reflexão crítica do que está sendo pesquisado. O acesso à
informação e a velocidade com que ela se propaga, tornando tudo de fácil acessibilidade pode
também atrapalhar. É preciso ter um bom senso crítico, já que a internet nos leva a um mundo
incrível do conhecimento na mesma velocidade que também nos leva ao mundo de conteúdos
não vinculados ao processo escolar.
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Mas, a presença da tecnologia digital na educação não significa garantia de um aumento
na qualidade da educação, visto que o avanço tecnológico para dentro de sala pode disfarçar o
ensino tradicional. Mesmo a inserção forçada do ensino remoto na educação, devido à
Pandemia da COVID-19, não se observa uma mudança clara no emprego das tecnologias
digitais, apenas o uso de um aparato para o desenvolvimento de uma aula remota.
Isso ocorre, pois, carregamos heranças culturais. Embora tenhamos mudanças na forma
de organização da escola e na concepção do processo ensino e aprendizagem, existem, por outro
lado, permanências. Conforme salienta Santinello (2013, p. 44) o professor precisa ser
alfabetizado digitalmente “[...]
potencializando a criação e recriação de conteúdos, para que cada um
consiga se apropriar das informações contidas especificamente no espaço virtual (nomeado como:
Ciberespaço
–
Internet)
”
.
Considerando as especificidades da pesquisa e do tempo histórico, no
início do século XXI, Moran (2003, p. 12) alertava para o papel da tecnologia na sala de aula:
A concepção de ensino e aprendizagem revela-se na prática de sala de aula e
na forma como professores e alunos utilizam os recursos tecnológicos
dis-poníveis. A presença dos recursos tecnológicos na sala de aula não garante
mudanças na forma de ensinar e aprender. A tecnologia deve servir para
enriquecer o ambiente educacional, propiciando a construção de
conheci-mentos por meio de uma atuação ativa, crítica e criativa por parte de
alunos e professores.
A função primordial da escola é a formação crítica dos alunos. Saviani (1991, p. 25)
alertava que “[...] o clássico na escola é a transmissão
-assimilação do saber sistematizado. Este
é o fim a atingir. É aí que cabe encontrar a fonte natural para elaborar os métodos e as formas
de organização do
conjunto das atividades da escola [...]”. O aluno, por meio da aprendizagem,
atua livremente a partir de seus conhecimentos e “[...] nesse exato momento ele deixou de ser
aprendiz”, afirma Saviani (1991, p.
27). Portanto, consideradas as especificidades da pesquisa,
cabe ao professor o papel de ensiná-lo a acessar e fazer o uso das informações que se encontram
disponíveis em seu meio, ou seja, não é pensar no que o computador fará por nós e sim o que
conseguiremos fazer como ele visando a qualidade no ensino e, principalmente, a contribuição
desses aparatos tecnológicos na formação crítica dos nossos alunos.
As Novas Tecnologias da Comunicação e Informação (TDIC) não chegaram para tomar
o lugar dos professores. Buscamos em Saviani (1991, p. 30) argumentos que se referem à
educação e as especificidades dos estudos pedagógicos, a qual deve ser organizar tendo por
base “[...] elementos naturais e culturais necessários à constituição da humanidade em cada ser
humano e à descoberta das formas adequadas ao atingime
nto desse objetivo”
.
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A criação de ambientes de aprendizagem precisa ter em conta a natureza da educação.
Numa perspectiva crítica, mesmo com o uso de recursos das TDIC, o uso do computador
oportuniza nova visão de mundo tanto para o aluno, quanto para o professor. Dessa forma,
novamente buscamos amparo em Saviani (1991, p. 29-30), o qual explicita o que é essencial
neste trabalho não material que compete à educação:
[...] a compreensão da natureza da educação enquanto um trabalho não
material cujo produto não se separa do ato de produção nos permite situar a
especificidade da educação como referida aos conhecimentos, ideias,
conceitos, valores, atitudes, hábitos, símbolos sob o aspecto de elementos
necessários à formação da humanidade em cada indivíduo singular, na forma
de uma segunda natureza [...].
E ao associarmos as práticas pedagógicas com o uso das tecnologias, esta vem
representar uma nova possibilidade do professor organizar os processos de ensino e
aprendizagem, em que o aluno se torne mais crítico, conhecendo a sua realidade e explorando
soluções para os problemas e situações de estudo. E uma nova maneira de se construir o
conhecimento em que um novo elemento é introduzido na escola, como forma de disseminação
do conhecimento.
Contudo, não podemos perder de vista a grande diversidade de condições
socioeconômicas da população brasileira. Enquanto alguns têm condições plenas de acesso à
tecnologia, outros não têm acesso. Essa realidade ficou ainda mais evidente no atual contexto,
quando as escolas foram obrigadas a trabalhar remotamente com os alunos, devido ao
afastamento social como forma de prevenção do contágio da COVID-19.
Salientamos, contudo, que o enfrentamento a essa pandemia, com educação de forma
remota, foi possível devido a Internet. Contudo, como já exploramos esse recurso ainda não é
uma realidade para todos. Segundo Ferrari (2018, p. 379):
A internet modificou significativamente a cultura, o modo de vida das pessoas
e o modo de fazer negócios. Também teve impacto significativo na educação.
Um primeiro exemplo de como a internet impactou a educação é o novo modo
de acesso à informação
–
para possível construção do conhecimento em
contextos formais ou não. Via internet, temos acesso, por exemplo, a inúmeros
livros (e-books), bases de dados de artigos científicos e diversos tipos de
informação (científica ou não) sobre os mais variados assuntos. De diferentes
formas e por meio de múltiplos dispositivos, a internet tem sido utilizada
também como meio de interação entre alunos e professores [...].
A Internet, no âmbito educacional, transforma o conhecimento e ainda possibilita um
ambiente interativo de aprendizagem. Mas o processo de ensino e aprendizagem está
relacionado a um conjunto de condições que existem dentro da rotina escolar e na sociedade. A
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escola possui um caráter mediador no seio da sociedade, como acentua Saviani (1991), e as
ações docentes se efetivam nesse espaço mediador e permeado por culturas.
A tecnologia no processo de ensino e aprendizagem possibilitará a comunicação entre
professores e alunos de uma maneira alternativa, original e criativa, como afirma Kenski (2012,
p.
93), “a evolução tecnológica redesenha a sala de aula em um novo ambiente virtual de
aprendizagem”.
As tecnologias da informação geram um contexto de relações que nos
possibilitam criar novas ações e permitir uma educação mais significativa para os alunos. E a
Internet em sala de aula possibilitará um aperfeiçoamento na escrita e leitura do aluno, pois
conforme Lévy (1993, p. 55):
[...] os textos na internet se apresentam formando uma cadeia de informações,
com sequência livre para o usuário (ou aprendiz) ligada de maneira criativa
por meio de links. Esses textos podem ser modificados, ampliados e
reconstruídos a partir da pesquisa em diferentes áreas do conhecimento,
encontradas no “mundo virtual” rompendo com a forma hierárquica da
estrutura escolar tradicional.
Embora novas possibilidades se apresentem, a essência da escola e da educação não se
altera com o uso das tecnologias. Cabe ao professor compreender quais são as possibilidades
de seu uso no contexto educacional, buscar condições adequadas para o desenvolvimento eficaz
do processo de ensino e aprendizagem de modo dinâmico, mediar trabalhos, instigar o poder
investigativo de seus. Cada professor deve ter a percepção em integrar a tecnologia dentro de
seus procedimentos metodológicos.
Na medida em que existam condições pedagógicas e materiais, a relação do professor e
alunos com as tecnologias em sala de aula tende a se reorganizar. Esse processo pode ser
compreendido com base em Bourdieu (2004), para quem o sujeito é formado pela sua origem
social ou, disposições socialmente incorporadas ao longo da vida, isto é, ele possui um
habitus
que está ligado diretamente a certos capitais culturais, ou seja, econômico, simbólico, cultual,
social.
Para Moran (2003, p. 38):
É importante conectar sempre o ensino com a vida do aluno. Chegar ao aluno
por todos os caminhos possíveis: pela experiência, pela imagem, pelo som,
pela representação (dramatizações, simulações), pela multimídia, pela
interação online e offline.
O professor precisa estar aberto a essas inovações e mudanças no ensino e aquele que
evolui juntamente tem maior sensibilidade quanto à necessidade dessa modernização e
transformação humana.
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Sob esse viés, as escolas devem atuar em conformidade com os avanços tecnológicos
da modernidade, não devem ficar estagnadas no tempo e considerarem a única tecnologia o
quadro e o giz, ou seja, para que esse trabalho se concretize de forma satisfatória, todos os
inseridos no processo de ensino e aprendizagem devem se aprimorar e conhecer as tecnologias
que podem ser utilizadas em sala de aula como um instrumento facilitador da aprendizagem de
nossos alunos. No entanto, sabemos que muitas escolas públicas não têm condições para
caminharem em conformidade com esses avanços tecnológicos, acarretando em uma exclusão
digital, devido às questões financeiras, estruturais, políticas públicas voltadas para esse capital
cultural.
Nesse olhar a escola precisa se adaptar, reorganizar os seus ambientes, a sala de aula
tradicional ser remodelada, pois ela é o lugar
para a organização dos procedimentos didáticos,
onde irá instrumentar e motivar os alunos para a pesquisa e só então retornar para a troca de
experiências, a contextualização da aprendizagem, e que essa preparação aconteça fora dela,
com situações diárias, ou seja, as salas para serem mais aconchegantes e adaptadas com os
novos recursos deveriam fornecer o acesso a vídeos, DVD, internet e sites. Sem contar, que
com o avanço das redes as salas de aula devem se tornar campo de troca das pesquisas e
descobertas, aproveitando o melhor do virtual e do real. Em conformidade com os dizeres de
Duarte (2008), essa seria mais uma sociedade das ilusões, todas essas mudanças, ao
considerarmos a realidade das nossas escolas públicas, é utópica, uma ilusão.
Além de salas reestruturadas, a utilização pelo professor dos ambientes virtuais é outro
ponto importante para um aumento da qualidade, iniciando pelas visitas em laboratórios de
informática e orientações em pesquisas para que os alunos possam ir ao encontro de
informações e aprendam a distinguir aquelas relevantes para o seu conhecimento. Levá-los a
navegar de encontro com a tecnologia, conhecendo plataformas virtuais, como participar de
fóruns, chats e desse modo o aluno ir se familiarizando com as opções que a internet tem a seu
favor, quando tratamos do processo de ensino e aprendizagem. E conforme o planejamento da
escola, disponibilizar recursos como lousas digitais, realidade misturada, criação de ambientes
motivadores com mídias que oportunizem ao aluno ter uma aprendizagem com mais qualidade.
No entanto, sabemos que essa é a realidade ideal, porém, conforme explicita Duarte (2008),
está longe da realidade a qual vivenciamos na escola pública, em que o acesso a esses aparatos
tecnológicos não existe ou é muito precário.
Muitos são os caminhos para uma transformação na educação, mas o professor precisa
compreender de que maneira o seu uso trará para sala de aula, um meio favorável dos processos
reflexivos da aprendizagem e que a Internet é um exemplo de possibilidade acessível que pode
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transformar o ensino, desde que utilizada de forma condizente e coerente. Outra questão que
deve ser levada em conta é a realidade da escola pública, que precisa de políticas públicas
voltadas para a inserção das tecnologias digitais em sala de aula e que isso se efetive enquanto
capital cultural.
Considerações finais
O respectivo artigo teve como objetivo geral analisar sobre a história das tecnologias
inseridas na educação, visando o desenvolvimento educacional, sob a luz do conceito de capital
cultural, de Pierre Bourdieu, considerando parte do processo sócio-histórico, as mudanças e
usos das tecnologias digitais na educação contemporânea que ocorreram em consonância com
uma nova cultura, uma vez que a escola não é uma instituição neutra.
Sabemos que essa busca por metodologias que incorporem o uso das tecnologias digitais
em sala de aula não é um estudo novo, entretanto, ao buscar por uma formação para se trabalhar
com esses aparatos tecnológicos em sala de aula, acarretou na mudança do
habitus
desses
professores e também dos alunos inseridos no contexto educacional contemporâneo.
As discussões sobre o uso das tecnologias digitais em sala de aula vêm ocorrendo há
alguns anos em nosso meio educacional, entretanto, muitos professores não davam atenção
necessária e, muitas vezes, se negavam a inseri-las em suas aulas. Foi com a Pandemia,
ocasionada pelo Coronavírus, que muitos professores foram em busca de informação e
formação, para que pudessem ministrar suas aulas de forma virtual, agregando um novo capital
cultural à educação brasileira.
Assim, houve a necessidade de aparatos tecnológicos para que essas aulas fossem
transmitidas, como: smartphones, computadores, notebooks, internet, e muitos alunos não
dispunham desses recursos em suas casas, acarretando em uma exclusão digital e que repercutiu
de forma significativa no desenvolvimento de nossos educandos, por mais que foram
apresentadas formas diferentes de se trabalhar o conteúdo, a falta da mediação do professor foi
nítida.
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Tecnologias na educação e suas transformações: Um olhar a partir do conceito de capital cultural
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Como referenciar este artigo
TESTA L. M. B.; STENTZLER M. M. Tecnologias na Educação e suas transformações: Um
olhar a partir do conceito de Capital Cultural.
Revista on line de Política e Gestão
Educacional
, Araraquara, v. 26, n. 00, e022128, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029. DOI:
https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16061
Submetido em
: 27/04/2022
Revisões requeridas em
: 04/06/2022
Aprovado em
: 11/07/2022
Publicado em
: 30/09/2022
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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Technologies in education and their transformations: A look from the concept of cultural capital
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Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022128, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029
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TECHNOLOGIES IN EDUCATION AND THEIR TRANSFORMATIONS: A LOOK
FROM THE CONCEPT OF CULTURAL CAPITAL
TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO E AS TRANSFORMAÇÕES: UM OLHAR A PARTIR
DO CONCEITO DE CAPITAL CULTURAL
LAS TECNOLOGÍAS EN EDUCACIÓN Y SUS TRANSFORMACIONES: UNA MIRADA
DESDE EL CONCEPTO DE CAPITAL CULTURAL
Lilian Maia Borges TESTA
1
Márcia Marlene STENTZLER
2
ABSTRACT
: This article aims to analyze aspects of the history of technologies inserted in
education, aiming at educational development, under the light of Pierre Bourdieu's concept of
“cultural capital”, considering part of the socio
-historical process, changes and their uses in
contemporary education that occurred in line with a new culture, since the school is not a
neutral institution. We understand the socio-educational changes associated with a broader
context. And the school is also transformed insofar as it includes in its curriculum and
practices the use of communication and information technologies. We start from the problem
related to the historical process of insertion of digital technologies in basic education and how
can they lead to the development of the teaching and learning process? It will be a
bibliographical research, taking into account the theoretical assumptions defended by:
Bourdieu (2004); Saviani (1991); Kenski (2012) and Duarte (2008).The research showed that
there were teachers who did not give the necessary attention, being reluctant to insert the
TDIC in their classes. Others went in search of information and training so that they could
teach classes in a virtual way, adding a new cultural capital to their practice.
KEYWORDS
: History. Technology. Education. Cultural capital.
RESUMO
: Este artigo tem como objetivo analisar aspectos da história das tecnologias
inseridas na educação, visando o desenvolvimento educacional, sob a luz do conceito de
“capital cultural”,
de Pierre Bourdieu, considerando parte do processo sócio-histórico as
mudanças e usos delas na educação contemporânea que ocorreram em consonância com uma
nova cultura, uma vez que a escola não é uma instituição neutra. Compreendemos as
mudanças socioeducacionais associadas a um contexto mais amplo. E a escola também se
transforma na medida em que inclui em seu currículo e nas práticas o uso das Tecnologias
Digitais de Informação e Comunicação (TDIC). Partimos da problemática relacionada ao
processo histórico da inserção das tecnologias digitais na Educação Básica e como podem
acarretar no desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem? Será uma pesquisa
bibliográfica, levando em consideração os pressupostos teóricos defendidos por: Bourdieu
1
Paraná State University (UNESPAR), Paranavaí
–
PR
–
Brazil. Master's Student in Interdisciplinary Teacher
Training (UNESPAR). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5560-5064. E-mail: lilian.maia.borges@gmail.com
2
Paraná State University (UNESPAR), Paranavaí
–
PR
–
Brazil. Adjunct Professor. Doctorate in Education
(UFPR). Pós-doutoranda (UNICAMP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9634-9148. E-mail:
marcia.stentzler@unespar.edu.br
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Lilian Maia Borges TESTA and Márcia Marlene STENTZLER
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(2004),Saviani (1991),Kenski (2012) eDuarte (2008).A pesquisa evidenciou que houve
professores que não deram a atenção necessária, relutando em inserir as TDIC em suas
aulas. Outros foram em busca de informações e capacitação para que pudessem ministrar
aulas de forma virtual, agregando um novo capital cultural à sua prática.
PALAVRAS-CHAVE
: História. Tecnologia. Educação.Capital cultural
.
RESUMEN
: Este artículo tiene como objetivo analizar aspectos de la historia de las
tecnologías incluidas en la educación, con miras al desarrollo educativo, a la luz del
concepto de “capital cultural” de Pierre Bourdieu, considerando parte del proceso
sociohistórico, sus cambios y usos en la educación ocurridos en consonancia con una nueva
cultura, ya que la escuela no es una institución neutral. Entendemos los cambios
socioeducativos asociados a un contexto más amplio. Y la escuela también se transforma en
la medida en que incluye en su plan de estudios y practica el uso de las tecnologías de la
información y la comunicación. Partimos del tema relacionado con el proceso histórico de
inserción de las tecnologías digitales en la educación básica y ¿cómo pueden conducir al
desarrollo del proceso de enseñanza y aprendizaje? Será una investigación bibliográfica,
teniendo en cuenta los supuestos teóricos defendidos por: Bourdieu (2004); Saviani (1991);
Kenski (2012) y Duarte (2008). La investigación mostró que había docentes que no prestaban
la atención necesaria, mostrándose reacios a insertar las TDIC en sus clases. Otros fueron en
busca de información y capacitación para poder impartir clases de manera virtual, sumando
un nuevo capital cultural a su práctica.
PALABRAS CLAVE
: Historia. Tecnología. Educación. Capital cultural.
Introduction
Digital Information and Communication Technologies (DICT) in the classroom are
increasingly necessary resources. Ensuring this access is fundamental, as knowledge is one of
the basic social rights. The use of technology in the educational environment is a reason to
reflect on the planning and methodologies employed by teachers, since we are in a globalized
society, called the Knowledge Society, but, as Duarte (2008) states, a society permeated by
illusion.
The so-called knowledge society is an ideology produced by capitalism; it is
a phenomenon in the field of ideological reproduction of capitalism. Thus, to
talk about some illusions of the knowledge society it is first necessary to
explain that this society is itself an illusion that fulfills a certain ideological
function in contemporary capitalist society (DUARTE, 2008, p. 13, our
translation).
Knowledge and culture are immaterial capitals. In this sense, the article in question
aims to analyze aspects of the history of technologies inserted in education, aiming at
educational development, in the light of the concept of cultural capital, coined by Bourdieu
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(2004). Cultural capital is personal, but it is also collective and inherited from the generations
that preceded us. It is something that has been produced and is part of life, as a result of
historically produced knowledge. A new perspective of teaching and learning, with the use of
educational technologies, is linked to this idea of cultural capital, through the possession and
mastery of technology and knowledge.
Bourdieu (2004) also presents the concept of habitus. This habitus goes beyond the
unconscious and is present in the way a person lives, that is, it focuses on human action, for a
social practice. It acts as a spring that needs an external action, that is, it cannot be seen in an
isolated way, away from the specific societies or places where it is produced. It is associated
with a context of changes in the ways of life, of production and socialization of knowledge.
The effectiveness of the ICTs with their recent and current use in education has
increased due to the pandemic caused by the new Coronavirus, COVID-19, whose effects are
still being felt, as it continues with variants of the virus. Through the new technological tools
education continued to happen, in a reworked form, in an emergency context. However, this
sudden search for the insertion of a virtual planning and methodology in education made more
visible the great difference that exists in the conditions of access to knowledge. Many students
didn't have access to the internet, or didn't have technological tools, or their families couldn't
deal with software because they didn't have digital literacy.
This is a bibliographical research, taking into consideration the theoretical
assumptions advocated by Bourdieu (2004), when relating the use of technologies in the
classroom and the concept of "cultural capital"; Saviani (1991), when conceptualizing the
nature and specificity of education; Newton Duarte (2008), who helps us to critically
understand the term "Knowledge Society", as well as, along with the precepts advocated by
Kenski (2012), the idea of technologies in the historical process. In the context of the
pandemic, technologies were fundamental for students to continue having contact with school,
friends and with school contents. We will look at this movement from Soares and Colares
(2020), among others who analyze the relationship between education, information and
communication technologies.
From this point of view, the article will be developed, first, with a historical
retrospective about the technologies in education, as a social-historical and cultural process,
having as a guiding element the idea of cultural capital, as a product of humanity and of each
individual. Next, we will address the representations of the school and the teacher in relation
to digital technologies in contemporary education.
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The Technologies in Brazilian Education: Historical Process
In a society that is constantly changing, education is an increasingly intricate process,
in which learning and teaching challenge us every day. Education today presents the models
of face-to-face, semi-attendance, and distance learning, the latter allowing the student not to
be physically in a formal teaching and learning environment.
According to Kenski (2012), the term technology comes from the Greek. It is formed
by the word techné, which means to know how to do, and logia, from the Greek logus which
means reason, so we can say that technology is the reason for knowing how to do. As Kenski
explains (2012, p. 18, our translation):
Ao conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se aplicam ao
planejamento, à construção e à utilização de um equipamento em um
determinado tipo de atividade nós chamamos de tecnologia. Para
construírem qualquer equipamento - seja uma caneta esferográfica ou um
computador -, os homens precisam pesquisar, planejar e criar tecnologias.
Currently, there is an indiscriminate use of the term, thus creating different meanings
that lead to other paths, as Pinto illustrates (2005, p. 219, our translation):
According to the first etymological meaning, technology has to be the
theory, the science, the study, the discussion of technique encompassing in
this last notion the arts, the skills of doing, the professions and, in general,
the ways of producing something [...]. In the second meaning, technology is
purely and simply equivalent to technique [...]. Closely linked to the
previous meaning, we find the concept of technology understood as the set
of all techniques available to a given society, at any historical stage of its
development [...]. Finally, we find the fourth meaning of the word
technology, the one that for us will have capital importance, the
ideologization of technique [...].
The term educational technology cannot be confused with digital technology, that is,
we cannot overlap one concept with the other. Sancho-Gil (2018, p. 611, our translation)
points out that making this overlap may cause a reductionism.
From this perspective, superimposing educational technology over ICTs
brings with it a reductionism that can mean "the loss of historical
perspective. The history of ET has shown how each technological
development - from books to movies, through radio, video, and the Internet -
was celebrated, in its time, as the panacea of education. [...].
When we approach the subject of technology, it is valid to go back a little in the
history of human society. From ancient times until the present day, we know that humanity
has produced great and determining discoveries, which have led to physical changes, the
formation of affective bonds, and socialization. These were possible due to the ability to learn
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and use the accumulated knowledge. According to Brito and Purificação (2012, p. 20, our
translation),
O ser humano, ao longo do seu desenvolvimento, produz conhecimento e o
sistematiza, modificando e alterando aquilo que é necessário à sua
sobrevivência. Suas ações não somente biologicamente determinadas - dão-
se também pela apropriação das experiências e dos conhecimentos
produzidos e transmitidos de geração a geração. O conhecimento humano
nas suas diferentes formas - senso comum, científico, filosófico, estético,etc.
- está entrelaçado numa rede de concepções de mundo e de vida.
These characteristics differentiate human beings from other animals, being able to
think, to learn, to develop their capacities and, mainly, to transmit what they have learned to
their descendants, besides making new discoveries. Human beings have the ability to
constantly change, transforming the world and the society in which they live. According to
Pinto (2014, p. 14, our translation),
This is a basic element of differentiation of humans from the other animal
species on Earth: the ability to discover new things and to transmit these
discoveries to other members of the species, who can learn from the
experience of others, incorporate this knowledge into their own, and make
new discoveries. Thus, the human species came to be able to change itself
and the world around it like no other.
We can observe, therefore, that writing, a new way for humans to communicate, was
not invented by just one person, but was the creative result of an entire society, which
improved this technology over time, as explained by Pinto (2014, p. 19-20, our translation):
[...]This new communication technology, writing, was not invented by one
individual or even a small group of individuals. It was the creative result of
many people who, over hundreds or even thousands of years, slowly
improved upon the existing forms of writing. There was a support
technology (clay tablets), writing tools (reed styluses) and a set of well-
defined rules to guide the writing and reading process, all of which were
continuously being improved. But all this was not enough to ensure that
writing would be perpetuated: there had to be social conditions necessary for
its advancement. First, the society in which writing appeared needed to see
some use for its use and, second, this society had to be able to sustain expert
scribes to maintain and perfect writing.
Writing was one of the great elements of social and cultural transformation. Davis'
(1990, p. 184, our translation) research on the impact of the printed word among French
workers in the 16th century reveals aspects of the dissemination of the printed word among
workers and the transformations it operates in this context.
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Lilian Maia Borges TESTA and Márcia Marlene STENTZLER
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On the whole, it seems to me that the first 125 years of the printed word in
France, with the small changes they brought about in rural areas,
strengthened rather than undermined the vitality of the menu people culture
in the cities. That is, they brought contributions both to its realism and to the
richness of its dreams, both to its self-respect and its ability to criticize itself
and others.
The press, in that period, represented a new technology that brought systematized
knowledge to the workers, through the printed word. Davis emphasizes, that "[...] they were
not passive receivers (nor passive beneficiaries, or victims,) of a new kind of
communication." (DAVIS, 1990, p. 194, our translation). Those who had access to books
interpreted what they "read and heard," resulting in an improvement of these materials, as
well as strengthening the organization of society and people. In other words,
Protestantism and certain characteristics of humanism converged with the
printed word, to contest traditional hierarchical values and to postpone the
establishment of rigid new ones. The economic control of publishing was not
concentrated in the firms of the great merchant-publishers, but was shared by
a diversity of producers (DAVIS, 1990, p. 185, our translation).
With the printing press and literacy, knowledge became popular, accessible to social
classes that until then had been excluded from systematized knowledge and that were possible
through writing. Orality prevailed. This transformation, which can be considered as
technological, was fundamental for the speed in the socialization of ideas and conceptions of
the world, as explained by Bourdieu, we have the expansion of cultural capital. Pies (2011)
states that the expansion of cultural capital is directly linked to social capital, that is, social
capital is a resource linked to the individual, the group, or the institution that keeps them
together, and can increase social relations and expand the recognition of different cultures.
One of the ways of disseminating systematized knowledge, associated with the linear
idea of progress, was public schooling. In Brazil, the organization and dissemination of public
elementary schools was great, especially in the beginning of the 20th century, with the
industrialization. It is in this context that we approach the idea of educational technology,
which according to Tajra (2012, p. 48, our translation) is not something future, but part of
social change.
[...]educational technology is related to the old instruments used in the
teaching-learning process. The chalk, the blackboard, the overhead projector,
the video, the television, the printed newspaper, a stereo, a tape and video
recorder, the radio, the book, and the computer are all instrumental
component elements of educational technology.
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Technologies in education and their transformations: A look from the concept of cultural capital
RPGE
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Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022128, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029
DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16061
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