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Efeitos do estado gestor sobre o trabalho docente
RPGE
–
Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022012, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029
DOI:
https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16459
1
EFEITOS DO ESTADO GESTOR SOBRE O TRABALHO DOCENTE
EFECTOS DEL ESTADO DIRECTIVO EN EL TRABAJO DE LOS PROFESORES
EFFECTS OF THE STATE AS A MANAGER ON THE TEACHER’S WORK
Tácio Assis BARROS
1
Mariza Almeida Rosa PEREIRA
2
Camila Alberto Vicente de OLIVEIRA
3
RESUMO
: Do tipo ensaio teórico, o presente texto pretende debater os efeitos da
(re)configuração do Estado - sob o prisma do gerencialismo - no trabalho docente. Para tanto,
reflete, em linhas gerais, acerca dos sentidos do Estado gestor na interface com a educação e
aborda as avaliações externas e os saberes docentes como objetos que ilustram os rebatimentos
desse modelo de Estado no trabalho docente. Conclui-se que as funções docentes,
compreendidas como aquelas que tinham no ensinar-aprender seu foco central, tem sido
subsumidas por características mais ampliadas e que perpassam o controle externo e a formação
desse profissional, apontando, portanto, para as implicações das condições de trabalho sobre o
trabalho docente.
PALAVRAS-CHAVE
: Estado gestor. Avaliações externas. Saberes docentes. Trabalho
docente.
RESUMEN
:
Como ensayo teórico, este texto pretende discutir los efectos de la
(re)configuración del Estado -bajo el prisma del gerencialismo- en la labor docente. Para ello,
reflexiona, en términos generales, sobre los significados del Estado gestor en la interfaz con la
educación y aborda las evaluaciones externas y el conocimiento de los profesores como objetos
que ilustran las repercusiones de este modelo de Estado en la labor docente. Se concluye que
las funciones docentes, entendidas como aquellas que tenían en la enseñanza-aprendizaje su
foco central, han sido subsumidas por características más expandidas y que pasan por el
control externo y la formación de este profesional, apuntando, por tanto, por las implicaciones
de las condiciones laborales sobre el trabajo docente
PALABRAS CLAVE
:
Gestionar el estado. Evaluaciones externas. Conocimientos de los
profesores. Trabajo docente.
1
Universidade Federal de Jataí (UFJ), Jataí
–
GO
–
Brasil. Mestrando no Programa de Pós-Graduação em
Educação. Bolsista FAPEG. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4969-8641. E-mail:
tacio_barros@discente.ufj.edu.br
2
Universidade Federal de Jataí (UFJ), Jataí
–
GO
–
Brasil. Mestranda no Programa de Pós-graduação em
Educação. Docente da Rede Estadual de Goiás. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2691-9977. E-mail:
marizaalmeida@discente.ufj.edu.br
3
Universidade Federal de Jataí (UFJ), Jataí
–
GO
–
Brasil. Docente da Unidade Acadêmica Especial de Educação
e do Programa de Pós-graduação em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0614-4481. E-mail:
camila.oliveira@ufj.edu.br
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Tácio Assis BARROS; Mariza Almeida Rosa PEREIRA e Camila Alberto Vicente de OLIVEIRA
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Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022012, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029
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ABSTRACT
:
The present text, which is organized as a theoretical essay, intends to discuss the
effects of the (re)configuration of the State - from the perspective of managerialism - on
teaching work. To this end, it reflects, in general terms, on the meanings of the managing State
in the interface with education and deals with external evaluations and teaching knowledge as
objects that illustrate the repercussions of this model of State in teaching work. It is concluded
that the teaching functions, understood as those whose central focus was on teaching-learning,
has been subsumed by more expanded characteristics that go beyond the external control and
training of this professional, thus pointing to the implications of the conditions of work on
teach
er’s
work.
KEYWORDS
: State as a manager. External evaluations.
Teacher’s knowledge
.
Teacher’s
work.
Introdução
Incitado a responder sobre como avançar diante dos desafios teóricos e políticos para
implementar a pedagogia histórico-crítica nas redes públicas de educação, Saviani (2018)
aponta que há uma produção discursiva acerca da defasagem da escola em relação aos temas
atuais e que caberia a ela atualizar-se diante das demandas contemporâneas. Nessa mesma linha,
Shiroma (2021), em recente entrevista, destaca que fora fundamental em seus estudos captar a
“centralidade que assumiriam os conceitos como “qualidade”, “gestão eficaz”, “inclusão” e
“responsabilização” nas reformas educacionais [...] como estratégia de gerenciamento de
pro
fessores” (p.
275
) e que houve um processo de “construção de consensos necessários para
ocultar os interesses de reformar a educação para atender interesses particulares do capital, sob
o discurso de qualidade da educação para todos”.
Considerando essas duas assertivas, há uma articulação discursivo-ideológica que
defende que a educação e a escola brasileiras precisam ser reformadas. Produzem-se dados,
estatísticas e números de toda ordem para destacar que professores não executam seu labor com
eficiência e estudantes não aprendem e não dominam os insumos mínimos necessários para o
desenvolvimento humano.
Nossa hipótese sobre a qual se baseia o presente ensaio é que esse movimento de
desconstrução fundamenta a ideia hegemônica de que a educação necessita adaptar-se aos
novos tempos, romper tradições para formar o novo homem/trabalhador em um contexto de
tecnologias, avanços e, também, incertezas.
Para tanto, por meio de um aprofundamento teórico-bibliográfico, busca refletir sobre
os sentidos do Estado gestor na interface com a educação e aborda as avaliações externas e os
saberes docentes como objetos que ilustram os rebatimentos desse modelo de Estado no
trabalho docente.
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Estado gestor, avaliação externa e trabalho docente
Desde sua implantação, na década de 1990, as avaliações externas foram justificadas
como instrumento necessário para monitorar
o funcionamento e a “qualidade da educação”,
historicamente tão propagada pelo Governo federal e pelos Governos Estaduais, a fim de
subsidiar políticas públicas que alavancassem os níveis do ensino, cujo ideário identifica-se
com a racionalidade econômica bem própria da Reforma do Estado sob os princípios de um
Estado Gestor.
Neste período (década de 1990), foram criados/articulados vários sistemas de avaliação
como o SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica), PROVA BRASIL, dentre outros
(como as avaliações estaduais, por exemplo), que compõem o IDEB (Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica). No cálculo do IDEB são incorporadas as taxas de
aprovação de todas as séries de cada uma das etapas de ensino avaliadas e a proficiência em
leitura e resolução de problemas dos discentes da última série de cada uma das etapas avaliadas,
sendo assim, o IDEB reduz todos os indicativos de aprendizagem ao desempenho (média de
desempenho nas avaliações do Inep - Prova Brasil e Saeb, média em língua portuguesa e
matemática) e rendimento escolar (taxas de aprovação da etapa de ensino e tempo médio para
a conclusão da série, obtidos no Censo Escolar), portanto, há uma padronização no sistema
avaliativo para verificar se todas as escolas em todas as regiões estão no mesmo nível,
desconsiderando as outras áreas do conhecimento, as especificidades individuais, locais,
regionais e, quiçá, as condições sociais em que se encontram os alunos nos diversos estados e
municípios. É, portanto, uma avaliação formatadora característica de sistemas de produção.
Dessa forma, as reformas educacionais
–
das quais as avaliações são parte fundante
–
possuem características gerencialistas, pois, segundo Lima (2011, p. 48)
caracteriza-se o modelo gerencial como aquele que concentra graus elevados
de eficiência, eficácia e produtividade, primando por normativas de
desconcentração da produção, financiamento e oferta das políticas sociais e
centralização de sua avaliação e controle.
As avaliações têm como foco o resultado dos rendimentos dos alunos e, se inicialmente,
eram diagnósticas, posteriormente, passaram a ser norteadoras de currículo e de metodologias.
Nesse modelo vigente de avaliação, existem poucas informações que possam verdadeiramente
orientar os processos educacionais, há muitas questões essenciais a serem discutidas com a
sociedade para além do ranqueamento.
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É inegável que o ato de avaliar é fundamental para refletir sobre o fazer pedagógico e
institucional, bem como extremamente importante para a ressignificação da prática de ensino.
No entanto, do modo em que estão postas essas avaliações, não mais se prioriza o processo de
aprendizagem e muito menos como este se desenvolve nos diferentes contextos, uma vez que
sequer considera as particularidades e os diversos níveis de conhecimento em que cada
estudante se encontra.
À título de exemplificação, no Estado de Goiás, as metas de aprendizagem do Ensino
Médio foram desenvolvidas em parceria com o Instituto Unibanco
, em uma “colaboração”
público-privada própria do Estado gestor. Nas palavras de Bresser-Pereira (1998, p. 26)
A transformação dos serviços não-exclusivos de Estado em propriedade
pública não-estatal e sua declaração como organização social se fará através
de um ‘programa de publicização’, que não deve ser confundido com o
programa de privatização, na medida em que as novas entidades conservarão
seu caráter público e seu financiamento pelo Estado.
Os principais objetivos da parceria são o combate à evasão escolar, a redução das
desigualdades regionais no ambiente escolar e a elevação da média goiana no IDEB, por meio
do programa Circuito de Gestão
4
, proposto pelo Instituto, sempre na perspectiva da melhoria
da
“qualidade” da
educação no Estado. O próprio Instituto estipulou para cada coordenadoria
regional uma meta específica e, no geral, um objetivo único para o Estado de Goiás que é o de
elevar a nota anterior do índice nacional de 4,28 para 4,43. Já em 2019, o estado obteve média
4,8, mantendo a liderança no país.
Alguns efeitos dessa reorganização do Estado que se apresenta na condição de política
educacional e avaliação externa podem ser enumerados: em um primeiro momento, o fato de
uma agência econômica delimitar políticas e ações para a educação; em segundo, a discordância
em relação ao resultado 4,8 verificado em 2019. É preciso problematizar: como o Estado obteve
essa nota
–
considerada a melhor do Brasil
–
se as condições não são propícias para uma
aprendizagem efetiva, visto que o que se constata são alunos com déficits na aprendizagem dos
conteúdos, evasão, distanciamento do ensino da realidade local e do que se cobra nas avaliações
externas, falta de recursos materiais e de tecnologias, falta de professores, entre tantos outros?
Em um terceiro momento, em tempo, é preciso apontar que o resultado considerado de destaque
é vexatório diante de uma nota mínima para a aprovação na Rede Estadual goiana de 6,0 e,
4
O Programa Circuito de Gestão é o método, proposto pelo Instituto Unibanco, que concretiza a Gestão Escolar
para Resultados de Aprendizagem, permite orientar e organizar os processos, responsabilidades e atividades da
gestão escolar em todas as instâncias. Informações disponíveis em: Portal Instituto Unibanco. Disponível em:
https://iuportalhmg.azurewebsites.net/metodo/. Acesso em: 10 out. 2021.
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ainda mais, em comparação com outros países que possuem médias muito superiores e
condições escolares superiores, porque investem mais nessa área, portanto, não há o que se
comemorar.
Ainda com relação à aprendizagem, é necessário refletir sobre as seguintes indagações:
de que forma essas avaliações são elaboradas? Esses instrumentos, de fato, conseguem/podem
mensurar a aprendizagem? Que parâmetros são usados para isso? Contribuem ou não para
mudar a educação? Os resultados são mesmo reais ou fruto de tratamento de dados? Apesar dos
questionamentos e da ciência que as avaliações não consideram os diferentes níveis de
letramento dos alunos e não espelham uma busca pela equidade; sabe-se que o resultado de
cada aluno e de cada escola pode impactar nas políticas estaduais e municipais, a fim de
re(orientar) a resolução dos problemas de aprendizagem, repetência e evasão. Assim,
as avaliações têm mostrado que o ensino municipal constitui um ponto de
estrangulamento devido aos equívocos políticos dos governos de transferência
para os municípios da quase exclusividade pela manutenção do ensino
fundamental (SAVIANI, 2009, p. 36).
Diante disso, a culpabilização pelos resultados das avaliações externas, da evasão, da
repetência e da não aprendizagem é um dos aspectos mais aflitivos que tem determinado de
forma incisiva a atuação do professor. A classe docente tem sido cada vez mais pressionada a
obter uma nova performatividade. Para Ball (1998, p. 6-7), ela é
[...] um mecanismo de controle, uma forma de controle indireto ou de controle
a distância que substitui a intervenção e a prescrição pelo estabelecimento de
objetivos, pela prestação de contas e pela comparação. Além disso, como parte
da transformação da educação e da escolarização e da expansão do poder do
capital, a performatividade fornece sistemas de signos que “representam” a
educação de uma forma autorreferencial e reificada para o consumo. E, na
verdade, muitas das tecnologias específicas de performatividade em educação
(Gerência de Qualidade Total, Gerência de Recursos Humanos, etc.) são
tomadas de empréstimo de contextos comerciais.
Essa nova performatividade é coerente com as diretrizes desse Estado
–
avaliador.
Gandim (2012, p. 69) afirma que
A nova forma de gestão do Estado, ou seja, o gerencialismo, também trouxe
mudanças no âmbito educacional. Assim como a Nova Direita atribuiu a má
gestão do Estado à crise capitalista, na educação a culpabilização daquilo que
foi apontado como falta de qualidade e pouca eficiência recaiu sobre a má
administração das escolas.
Gestores e, principalmente, professores se veem diante de novas demandas em que seu
trabalho é remodelado por orientações de organismos mundiais e multilaterais. O Estado impõe
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planejamentos prontos, “sugestões” de metodologias, a contínua vigilância da frequência do
aluno para coibir a evasão, para informar até mesmo o Conselho Tutelar, a fim de que esteja a
par desse absenteísmo e mobilize suas ações. Nesse sentido, Evangelista e Shiroma (2011, p.
127) apontam que
A ênfase hipertrofiada nos instrumentos e mecanismos de avaliação tem
produzido uma reorganização nas instituições educacionais que retiram boa
parte do tempo que dedicariam ao trabalho educativo para registro de
informações, preenchimento e envio de relatórios às instâncias superiores.
A prática docente tem estado sob a vigilância contumaz de gestores, coordenadorias e
afins que se preocupam quase que exclusivamente com o preenchimento de relatórios e
questionários de avaliação de desempenho. O docente trabalha incansavelmente, temeroso por
advertências processuais e outras punições (muitas vezes, atreladas ao salário), o que vem
ocorrendo de modo mais frequente. Conforme Lima (2011, p. 37),
Num modo autocrático de avaliação, o Estado impõe regras e definições sobre
o objeto avaliado: como avaliar e os resultados a serem atingidos. Esse é o
modelo de avaliação de desempenho. O desempenho indica resultado. Quando
os resultados não atingem o programado, o avaliado passa por punições.
Não há mais preocupação com o processo de formação integral dos jovens e muito
menos o incentivo à qualificação desse professor que nem pode usufruir o direito à licença para
os estudos, ao contrário é encurralado pela obrigatoriedade a treinamentos formatados, é como
máquina em uma fábrica. Tem-se, então, uma ênfase extremada à produtividade, uma
exacerbada cobrança para que aumentem os índices.
O Projeto Reconhecer
5
é outro exemplo dos rebatimentos do Estado Gestor sobre o
trabalho docente por meio da avaliação externa. O projeto avalia todo o desempenho do
colegiado, que precisa “viver” para a escola e estimulou uma cruel competitividade, acarretando
a desumanização entre os pares e a falta de identidade coletiva, pois se o docente não for um
profissional
“
exemplar
”
, não recebe a bonificação do projeto ao final do semestre. Assim, uma
categoria de trabalhadores que já estava sendo desarticulada e vendo seu sindicato fenecer aos
poucos, perdeu ainda mais sua consciência de classe. A consequência dessa precarização é o
adoecimento, a desmotivação, resultante do trabalho mecanizado e da desprofissionalização,
que se reflete, em última instância, na formação dos estudantes. Nesse ínterim, parece distante
5
O Projeto Reconhecer foi criado pela Secretaria Estadual de Educação de Goiás, em 2013, que instituiu bônus de
incentivo à regência para estimular assiduidade e comprometimento do professor e, consequentemente, promover
qualidade do ensino e aprendizagem. Informações disponíveis em: SEDUCE
–
GOIÁS. Disponível em:
https://www.google.com.br/search?q=Cartilha+Reconhecer+SEDUCE. Acesso em: 10 out. 2021.
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Efeitos do estado gestor sobre o trabalho docente
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vislumbrar uma educação verdadeiramente de qualidade, que prime pela valorização do
docente.
Estado gestor, saberes e trabalho docente
Nesse processo de reconfiguração do Estado, a educação é vista
–
cada vez de forma
mais escancarada
–
como uma mercadoria e, nessa perspectiva, as relações de trabalho, assim
como a (re)configuração dos saberes docentes, são afetadas.
As ações de diversos atores internacionais têm interferido diretamente nas políticas
públicas nacionais e, concomitantemente, nas políticas e reformas educacionais como
exemplificado nas avaliações externas, afirma Ball (2014). Suas pesquisas deixam claro a
complexa gama de atividades financeiras das Universidades, neste caso do setor público
(também à título de exemplo), que estão entrelaçadas com as do setor privado. Portanto, como
afirma este pesquisador, essas formas organizacionais dentro da sociedade do capital
obscurecem as bases morais e educacionais das práticas educativas. Em consonância com Ball
(2014), compreende-se que os resultados desses contratos perdem o foco da construção do
conhecimento para uma educação emancipadora, dos saberes docentes necessários nessa luta,
pois buscam envolver as universidades públicas e a formação docente nesse processo de
mercantilização.
A partir dos anos de 1990, diferentes agências internacionais e governamentais têm
desempenhado papéis cada vez mais instrumentais no avanço das ideias do livre mercado. Os
interesses privados cresceram e os governos aderiram à introdução da concorrência e de
políticas de escolha na linha do Estado gerencialista. Essas interferências do mercado
capitalista, como afirmam Robertson & Verger (2012), carregam discursos neoliberais que
representam uma transferência da autoridade do público para o domínio privado e favorecem o
crescimento das Parcerias Público Privadas Educacionais (PPPEs).
Esse ciclo da mercantilização da educação em forma de rede obscura e complexa, como
menciona Ball (2014), e que aprimoram as PPPEs, como afirmam Robertson & Verger (2012),
reproduz o ideário neoliberal na Educação e potencialmente acarreta mudanças no modo como
o(s) debate(s) em relação aos saberes docentes acontece(m), tanto na elaboração das políticas
como na própria práxis de professores e professoras.
Para ilustrar esse fenômeno, Saviani (1996) afirma ser de extrema importância a
mobilização do saber crítico-contextual. De acordo com este autor, é saber compreender as
exigências do contexto atual e as condições sócio-históricas que definem o trabalho educativo,
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visto que somente assim o educador entenderá quais (re)configurações são necessárias dentro
do contexto social e educacional em questão. Entretanto, esse saber tem sido enfraquecido
devido ao discurso (neo/ultra) liberal vigente no trabalho docente.
Em outras palavras, temos tido como demanda o "[...] resultado de maior concorrência
para mais e maiores credenciais escolares ou status social, a fim de garantir emprego em um
mercado de trabalho global e cada vez mais competitivo" (ROBERTSON; VERGER; 2012, p.
1138) a despeito das condições sócio-históricas do exercício profissional, bem como a
desvalorização das necessidades locais e regionais para as avaliações externas. Dessa forma, é
perceptível que as PPPEs são utilizadas como chave para resoluções de problemas de (ou falta
de) eficácia no contexto de um Estado gestor. Segundo estes mesmos pesquisadores, as PPPEs
contribuem para a transformação do setor educacional, principalmente no que diz respeito ao
aumento da autoridade privada.
Esse estado gerencial e regulador, a partir da visão das PPPEs por Robertson e Verger
(2012), induz a reconfiguração do trabalho em todos os seus elementos, portanto, também
compele a formação de professores e sua própria práxis. Essa rede faz com que formemos uma
nova sociedade trabalhadora para atender a demanda das novas relações entre público e privado.
Em outros termos, uma nova concepção de educação está sendo moldada tendo como
base os interesses privados. Como afirmam Robertson e Verger (2012), o setor privado está
agora profundamente enraizado no coração dos serviços públicos educacionais, em todos os
níveis, desde a política e a pesquisa até a aprendizagem nas salas de aula. Por isso, a necessidade
em identificar e debater como esse contexto regulador e avaliador afeta as reformas
educacionais as quais, consequentemente, culminam na reestruturação do trabalho docente e
nos saberes docentes.
Considerando esta conjuntura, Maués (2005) e Hypolito (2015) criticam o papel
regulador do Estado e sua falta de atenção às pesquisas em âmbito acadêmico que
problematizam a formação docente e a valorização profissional, respectivamente.
Esse advento do Estado com um papel regulador e avaliador, vinculados aos interesses
do mercado, molda as reformas na educação, como dito. Segundo Maués (2005, p. 6), as
reformas são “formas de arranjos que facilitem um reordenamento social e político
a partir dos
novos padrões de produção”, ou seja, as reformas podem ser vistas como uma maneira de
regulação. Neste sentido, as reformas apresentam um papel controlador da educação, pois a
transformação das políticas econômicas e sociais afetam a realização do trabalho docente e
definem e solidificam ferramentas para o controle desta atividade docente no intuito de
assegurar um retorno financeiro para o sistema capitalista.
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Essas regulações favorecem o fortalecimento de uma transição paradigmática do
capit
alismo, chamado de o “novo patrão tecnológico” por Pérez (1991). Esse padrão de
produtividade faz com que a produção científica, por exemplo, seja acelerada e sobrecarregue
o trabalho dos/das docentes.
Nessa configuração afirma-se, portanto, que o papel dos/as professores/as está sendo
reconfigurado nos moldes mercantilistas devido à essas políticas educacionais. Segundo Maués
(2005, p. 13), “essas políticas educacionais vão alterar a divisão das tarefas, a discriminação
das atividades, a divisão dos tempos, e, em breve, modificarão a organização do trabalho
docente”. Em suma, a educação como aparelho ideológico do
Estado é peça fulcral no processo
de reformas visando solidificar um novo paradigma, ou seja, um novo papel de regulação que
controle o trabalho docente e fortaleça o ciclo na busca pelo lucro e reprodução do capital.
Hypolito (2015) afirma que durante muitas décadas, as reformas educacionais, em
específico seus reformadores, não têm dado devida atenção às críticas formuladas por
pesquisadores e educadores sobre o limitado desenvolvimento da educação brasileira cuja
responsabilização recai sobre os professores/as e suas formações. Por essa razão que é
imprescindível olhar o todo
–
relação entre educação e as múltiplas determinações que forjam
esse processo - e compreender a sua essência. De acordo com Kosik (1976, p. 16), "captar o
fenômeno de determinada coisa significa indagar e descrever como a coisa em si se manifesta
naquele fenômeno e como ao mesmo tempo nele se esconde. Compreender o fenômeno é atingir
a essência.”. Parte desse
detour
é a pesquisa de Hypólito (2015), que versa sobre os
descaminhos e equívocos das políticas gerencialistas na educação pública entranhados no Plano
Nacional de Educação (PNE).
Hypólito (2015, p. 521), em consentimento com Ball (2014), afirma que o Estado Gestor
foi paulatinamente se manifestando no PNE e esse movimento de precarização e privatização
da educação pública ignora a qualidade que deveria garantir o direito à educação. Os parâmetros
de qualidade que estão previstos no PNE nunca serão atingidos se o objetivo real dessas
parcerias, como menciona Hypólito (2015), é enfraquecer o conteúdo teórico e crítico no espaço
escolar.
A valorização da profissão docente é simplesmente ignorada pelas políticas
educacionais e, embora o PNE apresente pontos relevantes para que a educação avance com
vistas a formação integral dos estudantes, as atuações políticas não exibem avanços. Para
Hypolito (2015), é coerente que as políticas fertilizem as parcerias público-privadas e que
documentos, como o PNE, direcionem de forma gerencialista as políticas de avaliação, o
currículo nacional e os centros e políticas de formação. Esse aparato implica na formação
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docente e na valorização profissional, ou melhor, resulta em desqualificação e
desprofissionalização docente.
Por isso, levando em consideração que este contexto forçosamente induz à
reestruturação do trabalho docente e que acelera um processo intencional da (re)construção dos
saberes docentes, destaca-se que os saberes necessários para o exercício em questão são
ferramentas que auxiliam a atingir o objetivo da educação e a profissionalização, porém não da
forma performativa como o Estado gestor tem apregoado.
Considerações finais
Na expectativa de avançar em relação ao objetivo inicial proposto neste manuscrito,
qual seja: refletir sobre os sentidos do Estado gestor na interface com a educação e abordar as
avaliações externas e os saberes docentes como objetos que ilustram os rebatimentos desse
modelo de Estado no trabalho docente, buscou-se trazer elementos que pudessem propiciar a
interlocução entre a reconfiguração do papel do Estado e o trabalho docente.
Inicialmente, foi destacado que há uma propaganda ideológica apontando para a
“ineficiência” da escola
e a necessidade de reforma, retomada, nas suas bases tendo, para isso,
números que fundamentam a incapacidade da escola de cumprir seu papel. Porém, o que se
impõe é uma reflexão acerca da multidimensionalidade da escola enredada em uma teia na qual
se emaranham o projeto de sociedade, a gestão do Estado, as realidades regional e local, o
projeto de formação docente, as disputas em torno do currículo, o acesso da população a
trabalho e renda, dentre outras aspectos que impactam diretamente no “resultado” q
ue a escola
produz.
Essa trama discursiva, demonstrando que a escola precisa ser reformada e adaptada às
necessidades de um “tempo presente”
, tem contribuído para a produção de um consenso que
mitiga toda a luta e resistência à desfiguração da escola enquanto
lócus
de formação integral do
homem.
Veem-se
–
por meio da: i) presença maciça das avaliações (externas, especialmente) nas
escolas as quais desconsideram a realidade local e a consequente adaptação curricular, o perfil
do alunado bem como os muitos aspectos que implicam nos resultados de uma prova; e ii) pela
forte propaganda e influência sobre as políticas de formação docente como a panaceia para as
resoluções dos problemas das escolas e a defesa da reconfiguração dos saberes docentes de
modo a produzir um “novo” professor com perfil que atenda um mundo
e uma escola em
transição paradigmática
–
ferramentas operando para forjar esse Estado.
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Efeitos do estado gestor sobre o trabalho docente
RPGE
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Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022012, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029
DOI:
https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16459
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Conclui-se que as funções docentes, compreendidas como aquelas que tinham no
ensinar-aprender seu foco central e especificidade, encontram-se subsumidas por características
mais ampliadas com vistas a contemplar as necessidades do mundo moderno e do novo
homem/trabalhador e que perpassam o controle externo por meio das avaliações e a formação
desse profissional através da defesa de novos saberes para o exercício profissional, apontando,
portanto, para os efeitos do Estado gestor sobre as condições de trabalho e formação docentes.
AGRADECIMENTOS
: À FAPEG
–
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás pela
concessão de bolsa de estudos ao mestrando Tácio Assis Barros e à Secretaria de Estado da
Educação de Goiás pela concessão de afastamento para qualificação à mestranda Mariza
Almeida Rosa Pereira.
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Como referenciar este artigo
BARROS, T. A.;
PEREIRA, M. A. R.; OLIVEIRA, C. A. V. Efeitos do estado gestor sobre o
trabalho docente.
Revista on line de Política e Gestão Educacional
, Araraquara, v. 26, n. 00,
e022012, jan./dez. 2022. e-ISSN:1519-9029. DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16459
Submetido em
:
10/11/2021
Revisões requeridas em
: 15/12/2021
Aprovado em
: 13/02/2021
Publicado em
: 31/03/2022
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Effects of the state as a manager on the teacher’s work
RPGE
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Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022012, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029
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EFFECTS OF THE STATE AS A MANAGER ON THE TEACHER’S WORK
EFEITOS DO ESTADO GESTOR SOBRE O TRABALHO DOCENTE
EFECTOS DEL ESTADO DIRECTIVO EN EL TRABAJO DE LOS PROFESORES
Tácio Assis BARROS
1
Mariza Almeida Rosa PEREIRA
2
Camila Alberto Vicente de OLIVEIRA
3
ABSTRACT
: The present text, which is organized as a theoretical essay, intends to discuss the
effects of the (re)configuration of the State - from the perspective of managerialism - on
teaching work. To this end, it reflects, in general terms, on the meanings of the managing State
in the interface with education and deals with external evaluations and teaching knowledge as
objects that illustrate the repercussions of this model of State in teaching work. It is concluded
that the teaching functions, understood as those whose central focus was on teaching-learning,
has been subsumed by more expanded characteristics that go beyond the external control and
training of this professional, thus pointing to the implications of the conditions of work on
teacher’s work.
KEYWORDS
: State as a manager. External evaluations. Teacher’s knowledge. Teacher’s
work.
RESUMO
: Do tipo ensaio teórico, o presente texto pretende debater os efeitos da
(re)configuração do Estado - sob o prisma do gerencialismo - no trabalho docente. Para tanto,
reflete, em linhas gerais, acerca dos sentidos do Estado gestor na interface com a educação e
aborda as avaliações externas e os saberes docentes como objetos que ilustram os rebatimentos
desse modelo de Estado no trabalho docente. Conclui-se que as funções docentes,
compreendidas como aquelas que tinham no ensinar-aprender seu foco central, tem sido
subsumidas por características mais ampliadas e que perpassam o controle externo e a
formação desse profissional, apontando, portanto, para as implicações das condições de
trabalho sobre o trabalho docente.
PALAVRAS-CHAVE
: Estado gestor. Avaliações externas. Saberes docentes. Trabalho
docente.
1
Federal University of Jataí (UFJ), Jataí
–
GO
–
Brazil. Master's student in the Graduate Program in Education.
FAPEG Scholar. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4969-8641. E-mail: tacio_barros@discente.ufj.edu.br
2
Federal University of Jataí (UFJ), Jataí
–
GO
–
Brazil. Master's student in the Graduate Program in Education.
Teacher in the Goiás State School System. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2691-9977. E-mail:
marizaalmeida@discente.ufj.edu.br
3
Federal University of Jataí (UFJ), Jataí
–
GO
–
Brazil. Professor at the Special Education Academic Unit and at
the Postgraduate Program in Education. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0614-4481. E-mail:
camila.oliveira@ufj.edu.br
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Tácio Assis BARROS; Mariza Almeida Rosa PEREIRA and Camila Alberto Vicente de OLIVEIRA
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Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022012, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029
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RESUMEN
:
Como ensayo teórico, este texto pretende discutir los efectos de la
(re)configuración del Estado -bajo el prisma del gerencialismo- en la labor docente. Para ello,
reflexiona, en términos generales, sobre los significados del Estado gestor en la interfaz con la
educación y aborda las evaluaciones externas y el conocimiento de los profesores como objetos
que ilustran las repercusiones de este modelo de Estado en la labor docente. Se concluye que
las funciones docentes, entendidas como aquellas que tenían en la enseñanza-aprendizaje su
foco central, han sido subsumidas por características más expandidas y que pasan por el
control externo y la formación de este profesional, apuntando, por tanto, por las implicaciones
de las condiciones laborales sobre el trabajo docente
PALABRAS CLAVE
:
Gestionar el estado. Evaluaciones externas. Conocimientos de los
profesores. Trabajo docente.
Introduction
When asked to answer about how to advance in face of the theoretical and political
challenges to implement critical-historical pedagogy in public education networks, Saviani
(2018) points out that there is a discursive production about the school's lag in relation to current
issues and that it would be up to it to update itself in face of contemporary demands. In the
same vein, Shiroma (2021), in a recent interview, highlights that it was essential in his studies
to capture the "centrality that concepts such as 'quality', 'effective management', 'inclusion' and
'accountability' would assume in educational reforms [...] as a strategy for teacher management"
(p. 275) and that there was a process of "construction of consensus necessary to hide the
interests of reforming education to meet particular interests of the capital, under the discourse
of quality education for all".
Considering these two assertions, there is a discursive-ideological articulation that
defends that Brazilian education and schools need to be reformed. All kinds of data, statistics,
and figures are produced to highlight that teachers do not perform their work efficiently and
students do not learn and do not master the minimum inputs necessary for human development.
Our hypothesis, upon which this essay is based, is that this deconstruction movement is the
foundation of the hegemonic idea that education needs to adapt to the new times, to break with
traditions in order to train the new man/worker in a context of technologies, advances, and, also,
uncertainties.
To do so, through a theoretical and bibliographical deepening, it seeks to reflect on the
meanings of the managerial State in the interface with education and approaches external
evaluations and teachers' knowledge as objects that illustrate the repercussions of this State
model in the teaching work.
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Effects of the state as a manager on the teacher’s work
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Managerial state, external evaluation and teachers' work
Since their implementation in the 1990s, external evaluations were justified as a
necessary instrument to monitor the functioning and the "quality of education", historically so
propagated by the Federal Government and State Governments, in order to subsidize public
policies that leverage the levels of education, whose ideology is identified with the economic
rationality of the State Reform under the principles of a Managerial State.
In this period (the 1990s), several evaluation systems were created/articulated, such as
SAEB (Basic Education Evaluation System), PROVA BRASIL, among others (such as state
evaluations, for example), which make up the IDEB (Basic Education Development Index). In
calculating the IDEB, the approval rates of all the grades of each of the evaluated stages of
education and the reading and problem solving proficiency of students in the last grade of each
of the evaluated stages are incorporated. Thus, the IDEB reduces all indications of learning to
performance (average performance in the Inep assessments -
Prova Brasil
and
Saeb
, Therefore,
there is a standardization in the evaluation system to verify that all schools in all regions are at
the same level, disregarding the other areas of knowledge, the individual, local and regional
specificities and, perhaps, the social conditions in which the students are found in the various
states and municipalities. It is, therefore, a formatting evaluation characteristic of production
systems.
Thus, educational reforms - of which assessments are a fundamental part - have
managerialist characteristics, because, according to Lima (2011, p. 48)
The managerial model is characterized as one that concentrates high degrees
of efficiency, effectiveness, and productivity, with emphasis on
deconcentration of production, financing, and supply of social policies, and
centralization of their evaluation and control.
Evaluations focus on the results of student achievement and, if initially they were
diagnostic, they later became curriculum and methodology guides. In this current evaluation
model, there is little information that can truly guide the educational processes; there are many
essential issues to be discussed with society beyond the ranking.
It is undeniable that the act of evaluating is fundamental to reflect on the pedagogical
and institutional work, as well as extremely important for the redefinition of the teaching
practice. However, the way these evaluations are set, the learning process is no longer
prioritized, much less how it develops in different contexts, since it does not even consider the
particularities and the various levels of knowledge that each student is at.
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Tácio Assis BARROS; Mariza Almeida Rosa PEREIRA and Camila Alberto Vicente de OLIVEIRA
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As an example, in the state of Goiás, the learning goals for high school were developed
in partnership with Instituto Unibanco, in a public-private "collaboration" typical of the
managing state. In the words of Bresser-Pereira (1998, p. 26)
The transformation of non-exclusive state services into non-state public
property and their declaration as social organizations will be done through a
'publicization program', which should not be confused with the privatization
program, insofar as the new entities will retain their public character and their
financing by the state.
The main objectives of the partnership are the fight against school dropout, the reduction
of regional inequalities in the school environment and the increase of the average IDEB score
in Goiás, through the Management Circuit program
4
, proposed by the Institute, always with the
perspective of improving the "quality" of education in the state. The Institute itself stipulated
for each regional coordinator a specific goal and, in general, a single goal for the state of Goiás,
which is to raise the previous national index score from 4.28 to 4.43. Already in 2019, the state
averaged 4.8, maintaining its leadership in the country.
Some effects of this reorganization of the State that is presented in the condition of
educational policy and external evaluation can be listed: first, the fact that an economic agency
delimits policies and actions for education; second, the disagreement in relation to the 4.8 result
verified in 2019. We must question: how did the state obtain this grade - considered the best in
Brazil - if the conditions are not conducive to effective learning, since what we see are students
with deficits in learning the content, dropout, distance between education and the local reality
and what is required in external assessments, lack of material resources and technologies, lack
of teachers, among many others? In a third moment, in time, it is necessary to point out that the
result considered outstanding is vexing when compared to a minimum grade for approval in the
Goiás State Network of 6.0 and, even more, when compared to other countries that have much
higher averages and superior school conditions, because they invest more in this area, therefore,
there is nothing to celebrate.
Still with regard to learning, it is necessary to reflect on the following questions: how
are these assessments prepared? Can these instruments, in fact, measure learning? What
parameters are used for this? Do they contribute or not to change education? Are the results
really real or are they the result of data processing? Despite the questions and the knowledge
4
The Management Circuit Program is the method, proposed by Instituto Unibanco, that makes School Management
for Learning Results a reality, allowing it to guide and organize the processes, responsibilities, and activities of
school management at all levels. Information available at: Instituto Unibanco Portal. Available at:
https://iuportalhmg.azurewebsites.net/metodo/. Accessed on: 10 Oct. 2021..
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Effects of the state as a manager on the teacher’s work
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that the evaluations do not consider the different levels of literacy of the students and do not
reflect a search for equity, it is known that the result of each student and each school can impact
on state and municipal policies, in order to re(guide) the resolution of learning problems, failure
and dropout. Thus,
evaluations have shown that municipal education is a bottleneck due to the
political mistakes of governments in transferring to municipalities almost
exclusively for the maintenance of basic education (SAVIANI, 2009, p. 36).
In this context, the blame for the results of external evaluations, dropout, repetition and
nonlearning is one of the most distressing aspects that has determined incisively the
performance of the teacher. The teaching class has been increasingly pressured to obtain a new
performativity. For Ball (1998, p. 6-7), it is
[...] a control mechanism, a form of indirect control or distance control that
replaces intervention and prescription with goal setting, accountability, and
comparison. Moreover, as part of the transformation of education and
schooling and the expansion of the power of capital, performativity provides
sign systems that "represent" education in a self-referential and reified way
for consumption. And indeed, many of the specific technologies of
performativity in education (Total Quality Management, Human Resource
Management, etc.) are borrowed from commercial contexts.
This new performativity is consistent with the guidelines of this evaluative state.
Gandim (2012, p. 69) states that
The new form of state management, that is, managerialism, has also brought
changes in the educational sphere. Just as the New Right attributed the
mismanagement of the State to the capitalist crisis, in education the blame for
what was pointed out as lack of quality and efficiency fell on the
mismanagement of schools.
Managers and, especially, teachers are faced with new demands in which their work is
remodeled by guidelines from world and multilateral organizations. The State imposes ready-
made plans, "suggestions" of methodologies, continuous surveillance of student attendance to
curb dropout, to inform even the Guardianship Council, so that it is aware of this absenteeism
and mobilizes its actions. In this sense, Evangelista and Shiroma (2011, p. 127) point out that
The hyper-emphasis on evaluation instruments and mechanisms has produced
a reorganization in educational institutions that take away much of the time
they would dedicate to educational work to record information and fill out and
send reports to higher levels.
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Tácio Assis BARROS; Mariza Almeida Rosa PEREIRA and Camila Alberto Vicente de OLIVEIRA
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The teaching practice has been under contumacious surveillance by managers,
coordinators and the like, who are concerned almost exclusively with filling out reports and
performance evaluation questionnaires. The teacher works tirelessly, fearful of procedural
warnings and other punishments (often linked to salary), which has been occurring more
frequently. According to Lima (2011, p. 37)
In an autocratic mode of evaluation, the State imposes rules and definitions
about the evaluated object: how to evaluate and the results to be achieved.
This is the model of performance evaluation. Performance indicates result.
When results do not meet the program, the evaluated person is punished.
There is no more concern with the process of integral formation of young people and
much less incentive to the qualification of this teacher who cannot even enjoy the right to study
leave, on the contrary, he is cornered by the obligation of formatted training; he is like a machine
in a factory. There is, then, an extreme emphasis on productivity, an exacerbated demand to
increase the rates.
The Recognize Project is another example of the impact of the Managing State on the
work of teachers through external evaluation. The project evaluates the entire performance of
the collegiate body, which needs to "live" for the school and has stimulated a cruel
competitiveness, resulting in a dehumanization among peers and a lack of collective identity,
because if the teacher is not an "exemplary" professional, he or she does not receive the project's
bonus at the end of the semester. Thus, a category of workers that was already being
disarticulated and seeing its union slowly fading away, lost even more its class consciousness.
The consequence of this precariousness is the getting sick, the demotivation, resulting from the
mechanized work and the deprofessionalization, which is reflected, ultimately, in the students'
education. Meanwhile, it seems distant to glimpse a truly quality education, which is based on
valuing teachers.
Managerial state, knowledge and teaching work
In this process of reconfiguration of the State, education is seen - increasingly more
openly - as a commodity and, from this perspective, labor relations, as well as the
(re)configuration of teaching knowledge, are affected.
The actions of various international actors have directly interfered in national public
policies and, concomitantly, in educational policies and reforms as exemplified in external
evaluations, states Ball (2014). His research makes clear the complex range of financial
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activities of universities, in this case in the public sector (also by way of example), which are
intertwined with those of the private sector. Therefore, as this researcher states, these
organizational forms within the capital society obscure the moral and educational foundations
of educational practices. In line with Ball (2014), it is understood that the results of these
contracts lose the focus of the construction of knowledge for an emancipatory education, of the
necessary teaching knowledge in this struggle, as they seek to involve public universities and
teacher training in this process of commodification.
Since the 1990s, different international and governmental agencies have played
increasingly instrumental roles in the advancement of free market ideas. Private interests have
grown and governments have embraced the introduction of competition and choice policies
along the lines of the managerialist state. These interferences of the capitalist market, as
Robertson & Verger (2012) assert, carry neoliberal discourses that represent a transfer of
authority from the public to the private domain and favor the growth of Public Private
Educational Partnerships (PPPEs).
This cycle of the commodification of education in the form of a dark and complex
network, as Ball (2014) mentions, and which enhances PPPEs, as Robertson & Verger (2012)
state, reproduces the neoliberal ideology in Education and potentially brings about changes in
the way the debate(s) in relation to teachers' knowledge takes place, both in policy-making and
in teachers' own praxis.
To illustrate this phenomenon, Saviani (1996) states that the mobilization of critical-
contextual knowledge is of utmost importance. According to this author, it is to know how to
understand the demands of the current context and the socio-historical conditions that define
the educational work, since only then the educator will understand which (re)configurations are
necessary within the social and educational context in question. However, this knowledge has
been weakened due to the prevailing (neo/ultra) liberal discourse in the teaching work.
In other words, we have had as demand the "[...] result of increased competition for
more and greater school credentials or social status in order to secure employment in a global
and increasingly competitive labor market" (ROBERTSON; VERGER; 2012, p. 1138) despite
the socio-historical conditions of professional practice, as well as the devaluation of local and
regional needs for external assessments. Thus, it is noticeable that PPPEs are used as a key to
solving problems of (or lack of) effectiveness in the context of a managerial state. According
to these same researchers, PPPEs contribute to the transformation of the education sector,
especially with regard to increasing private authority.
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This managerial and regulatory state, from the view of PPPEs by Robertson and Verger
(2012), induces the reconfiguration of work in all its elements, therefore, also compels teacher
training and its own praxis. This network causes us to form a new working society to meet the
demand of the new relations between public and private.
In other words, a new conception of education is being shaped on the basis of private
interests. As Robertson and Verger (2012) state, the private sector is now deeply embedded at
the heart of public educational services at all levels, from policy and research to classroom
learning. Hence, the need to identify and discuss how this regulatory and evaluative context
affects educational reforms which, consequently, culminate in the restructuring of teachers'
work and teachers' knowledge.
Considering this situation, Maués (2005) and Hypolito (2015) criticize the regulatory
role of the State and its lack of attention to academic research on teacher education and
professional development, respectively.
This advent of the State with a regulatory and evaluating role, linked to market interests,
shapes the reforms in education, as said. According to Maués (2005, p. 6), reforms are "forms
of arrangements that facilitate a social and political reordering based on new production
patterns," that is, reforms can be seen as a form of regulation. In this sense, reforms have a
controlling role in education, since the transformation of economic and social policies affect
the performance of teachers' work and define and solidify tools for controlling this teaching
activity in order to ensure a financial return for the capitalist system.
These regulations favor the strengthening of a paradigmatic transition of capitalism,
called the "new technological boss" by Pérez (1991). This productivity pattern causes the
scientific production, for example, to be accelerated and overloads the teachers' work.
In this configuration it is stated, therefore, that the teachers' role is being reconfigured
in a mercantilist way due to these educational policies. According to Maués (2005, p. 13), "these
educational policies will change the division of tasks, the discrimination of activities, the
division of time, and, soon, will change the organization of the teaching work. In short,
education as an ideological apparatus of the State is a central piece in the reform process aimed
at solidifying a new paradigm, that is, a new regulatory role that controls the teaching work and
strengthens the cycle in the search for profit and reproduction of capital.
Hypolito (2015) states that for many decades, educational reforms, specifically their
reformers, have not given due attention to the criticisms formulated by researchers and
educators about the limited development of Brazilian education, whose responsibility falls on
teachers and their training. For this reason, it is essential to look at the whole - the relationship
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Effects of the state as a manager on the teacher’s work
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Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022012, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029
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between education and the multiple determinations that shape this process - and understand its
essence. According to Kosik (1976, p. 16), "to capture the phenomenon of a certain thing means
to investigate and describe how the thing itself manifests itself in that phenomenon and how, at
the same time, it hides in it. To grasp the phenomenon is to reach the essence". Part of this
detour is the research of Hypólito (2015), which deals with the detours and misunderstandings
of managerialist policies in public education entrenched in the National Education Plan (PNE).
Hypólito (2015, p. 521), in agreement with Ball (2014), states that the Managerial State
was gradually manifesting itself in the PNE and this movement of precariousness and
privatization of public education ignores the quality that should guarantee the right to education.
The quality parameters that are foreseen in the PNE will never be achieved if the real goal of
these partnerships, as Hypólito (2015) mentions, is to weaken the theoretical and critical content
in the school space.
The valorization of the teaching profession is simply ignored by educational policies
and, although the PNE presents relevant points for education to advance with a view to the
comprehensive training of students, political actions do not show advances. For Hypolito
(2015), it is coherent that policies fertilize public-private partnerships and that documents, such
as the PNE, direct in a managerialist way the evaluation policies, the national curriculum, and
the training centers and policies. This apparatus implies in teacher training and professional
valorization, or rather, results in teacher disqualification and deprofessionalization.
Therefore, taking into account that this context inevitably induces the restructuring of
the teaching work and accelerates an intentional process of (re)construction of teaching
knowledge, it is important to highlight that the knowledge needed for the exercise in question
are tools that help achieve the goal of education and professionalization, but not in the
performative way as the managerial State has claimed.
Final remarks
Hoping to advance in relation to the initial objective proposed in this manuscript, which
is: reflect on the meanings of the managerial state in the interface with education and address
the external evaluations and teaching knowledge as objects that illustrate the impact of this
State model in the teaching work, we sought to bring elements that could provide the dialogue
between the reconfiguration of the role of the State and the teaching work.
Initially, it was highlighted that there is an ideological propaganda pointing to the
"inefficiency" of the school and the need for reform, retaking its bases, having, for this, numbers
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Tácio Assis BARROS; Mariza Almeida Rosa PEREIRA and Camila Alberto Vicente de OLIVEIRA
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that substantiate the inability of the school to fulfill its role. However, what is needed is a
reflection on the multidimensionality of the school entangled in a web in which the project of
society, the State management, the regional and local realities, the teacher training project, the
disputes over the curriculum, the population's access to work and income, among other aspects
that directly impact on the "result" that the school produces.
This discursive plot, showing that the school needs to be reformed and adapted to the
needs of a "present time", has contributed to the production of a consensus that mitigates all the
struggle and resistance to the disfiguration of the school as a locus of integral formation of man.
It can be seen - by means of: i) massive presence of evaluations (external, especially) in
schools which disregard the local reality and the consequent curricular adaptation, the profile
of the student body as well as the many aspects that imply the results of a test; and ii) by the
strong propaganda and influence on teacher training policies as the panacea for the solutions to
the problems of schools and the defense of the reconfiguration of teaching knowledge in order
to produce a "new" teacher with a profile that meets a world and a school in paradigmatic
transition - tools operating to forge this State.
We conclude that the teaching functions, understood as those that had teaching-learning
as their central focus and specificity, are subsumed by more expanded characteristics in order
to contemplate the needs of the modern world and the new man/worker and that go through the
external control through evaluations and the training of this professional through the defense of
new knowledge for the professional exercise, pointing, therefore, to the effects of the
managerial State on working conditions and teacher training.
ACKNOWLEDGEMENTS:
To FAPEG -Research Support Foundation of the State of Goiás
for granting a scholarship to master's student Tácio Assis Barros and to the Secretaria de Estado
da Educação de Goiás for granting a leave of absence for qualification to master's student
Mariza Almeida Rosa Pereira.
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Submitted
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10/11/2021
Revisions required
: 15/12/2021
Approved
: 13/02/2021
Published
: 31/03/2022
Management of translations and versions: Editora Ibero-Americana de Educação