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A potencialidade educativa da “
Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane
Maria”
RPGE
–
Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029
DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16765
1
A POTENCIALIDADE EDUCATIVA DA
“
AUTO-ORGANIZAÇÃO DE MULHERES
NEGRAS DE SERGIPE REJANE MARIA
”
EL POTENCIAL EDUCATIVO DE LA
“
AUTOORGANIZACIÓN DE MUJERES
NEGRAS DE SERGIPE REJANE MARIA
”
THE EDUCATIONAL POTENTIALITY OF
“
SELF-ORGANIZATION OF BLACK
WOMEN OF SERGIPE REJANE MARIA
”
Andréia Teixeira dos SANTOS
Marizete LUCINI
2
RESUMO
: Este texto empreende uma reflexão teórica-conceitual sobre a potência educativa
da
“
Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria
”
, criada em Aracaju-
Sergipe em 2014, a partir do referencial do Feminismo Negro e da Pesquisa Ativista
Feminista Negra. Nesta análise, consideramos que as mulheres negras historicamente
questionam e apontam soluções com relação às desigualdades raciais, sociais, de gênero e
sexualidade, organizadas em movimentos sociais. Movimentos sociais que compreendemos
como espaços educativos e de formação política dos seus membros, nos quais a educação está
associada a uma práxis pautada em sua insurgência propositiva. Insurgência que está
associada à construção de novas epistemologias e políticas públicas que tensionam a estrutura
racista, sexista, classista e heteronormativa estruturantes da sociedade brasileira. Nesse
sentido, consideramos a potencialidade educativa dos trabalhos de base desenvolvidos pela
“
Auto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria
”
, como movimentos
educativos em que se produzem saberes e pedagogias emancipatórios que questionam a
sociedade, ao mesmo tempo em que criam estratégias educativas de combate ao racismo,
classismo, sexismo e a heteronormatividade.
PALAVRAS-CHAVE:
Desigualdade. Educação. Feminismo. Racismo. Sexismo.
RESUMEN:
Este texto emprende una reflexión teórico-conceptual sobre el poder educativo
de la Autoorganización de Mujeres Negras de Sergipe Rejane Maria, creada en Aracaju-
Sergipe en 2014, a partir del referente del Feminismo Negro y la Investigación Activista
Feminista Negra. En este análisis, consideramos que las mujeres negras históricamente
cuestionan y señalan soluciones en relación a las desigualdades raciales, sociales, de género
y de sexualidad, organizadas en movimientos sociales. Movimientos sociales que entendemos
como espacios educativos y de formación política de sus integrantes, en los que la educación
se asocia a una praxis basada en su proposición insurgente. Insurgencia que está asociada a
la construcción de nuevas epistemologías y políticas públicas que acentúan la estructura
Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão
–
SE
–
Brasil. Professora de Educação Básica na rede
Estadual de Sergipe. Doutoranda em Educação (UFS). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3114-2349. E-mail:
deia.teixeira.s@gmail.com
2
Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão
–
SE
–
Brasil. Professora Associada II. Doutorado em
Educação (UNICAMP). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1532-8968. E-mail: marizetelucini@gmail.com
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Andréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI
RPGE
–
Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029
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racista, sexista, clasista y heteronormativa de la sociedad brasileña. En ese sentido,
consideramos el potencial educativo de los trabajos de base desarrollado por la
Autoorganización de Mujeres Negras de Sergipe Rejane Maria, como movimientos
educativos en que se producen conocimientos y pedagogías emancipadoras que cuestionan la
sociedad, a la vez que se crea estrategias educativas para combatir el racismo, el clasismo, el
sexismo y la heteronormatividad.
PALABRAS CLAVE:
Desigualdad. Educación. Feminismo. Racismo. Sexismo.
ABSTRACT:
This paper undertakes a theoretical-conceptual reflection on the educational
power of the Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria, established in
Aracaju-Sergipe in 2014, from the referential of Black Feminism and Black Feminist Activist
Research. In this analysis we consider that black women historically question and point
solutions regarding racial, social, gender and sexuality inequalities, organized in social
movements. Social movements that we understand as spaces for education and political
training of their members, in which education is associated with a praxis based on their
propositional insurgency. Insurgence that is associated with the construction of new
epistemologies and public policies that challenge the racist, sexist, classist, and
heteronormative structure structuring Brazilian society. In this sense, we consider the
educational potential of the grassroots work developed by the Self-Organization of Black
Women of Sergipe Rejane Maria, as educational movements in which emancipatory
knowledge and pedagogies are produced that question society, while creating educational
strategies to combat racism, classism, sexism and heteronormativity.
KEYWORDS:
Inequality. Education. Feminism. Racism. Sexism.
Caminhos que nos levaram ao quilombo Rejane Maria
A pandemia da COVID-19 e o isolamento social decorrente da incontrolável
proliferação do vírus se apresentou como um desafio e, no caso de muitos pós-graduandos,
gerou a necessidade de repensar objetos e metodologias de pesquisa. Esse foi o caso de nossa
pesquisa, que teria como temática central a análise de práticas pedagógicas antirracistas em
uma escola quilombola. Sendo assim, um trabalho que havia, a priori, sido pensado para
desenvolvimento em ambiente escolar teve que ser modificado para que fosse possível
realizar atividades de campo na forma remota. No processo de modificação da temática de
pesquisa, e inspirada por encontros e reencontros com produções de intelectuais negras
iniciado em 2020, ainda antes da pandemia, com a leitura do livro “Um defeito de cor”, de
Ana Maria Gonçalves, o tema de pesquisa foi repensado no sentido de dar protagonismo a
escrevivências de mulheres negras.
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O termo quilombo, utilizado no título desta seção, e a partir do qual compreendemos
esta Auto-Organização de Mulheres Negras, está relacionado ao pensamento da historiadora e
ativista sergipana Beatriz Nascimento (2018), para quem o quilombo se constitui a partir da
necessidade humana de se organizar de uma forma específica diferente da que fora
estabelecida de forma arbitrária pelo colonizador e se torna uma possibilidade de existência e
(re)existência em tempos de destruição.
Assim, nos encontros possibilitados pelas leituras e pelo acesso a publicações nas
redes sociais, nos aproximamos das experiências da
“
Auto-organização de Mulheres Negras
de Sergipe Rejane Maria
”
em diálogo com as pedagogias de (re)existência construídas nesta
coletividade. A pesquisa em andamento está fundamentada no Feminismo Negro e nos
estudos decoloniais, tendo como referencial metodológico a Pesquisa Ativista Feminista
Negra (LEMOS, 2016a). A partir de nossa inserção efetiva nas atividades da Auto-
Organização e das narrativas das mulheres negras ativistas, identificamos o ativismo das
mulheres negras sergipanas e sua contribuição na construção de epistemologias que
questionam a estrutura colonial do conhecimento. Neste texto, apresentamos os caminhos
teórico-metodológicos que tem nos auxiliado na observação e análise das pedagogias de
(re)existência produzidas por estas mulheres no contexto de enfrentamento ao racismo,
classismo, sexismo e lgbtfobia.
A leitura da obra
“
O movimento negro educador: Saberes construídos nas lutas por
emancipação” de Gomes (2017)
foi ponto crucial no desenho da pesquisa. A autora aponta o
Movimento Negro como protagonista no que se refere à relação entre o povo preto e o Estado,
organizando e sistematizando saberes específicos construídos dentro do ativismo e que não
são reconhecidos pelo campo da Educação e de outras ciências que, por sua vez, transformam
esses saberes em ausências ou inexistência através do epistemicídio. A defesa da importância
do movimento negro enquanto ator político
“que constrói, sistematiza, articula saberes
emancipatórios produzidos pela população negra ao longo da história social, política, cultural
e educacional brasileira” (
GOMES, 2017, p. 24) foi uma importante inspiração para que
pudéssemos pensar em atividades do movimento de mulheres negras em Sergipe, de forma
geral, e da Auto-Organização Rejane Maria, em específico, como um campo de pesquisa
possível. Gomes (2017, p. 23-24) define o Movimento Negro como:
[...] as mais diversas formas de organização e articulação das negras e dos
negros politicamente posicionados na luta contra o racismo e que visam à
superação desse perverso fenômeno na sociedade. Participam dessa
definição os grupos políticos, acadêmicos, culturais, religiosos e artísticos
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Andréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI
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com o
objetivo explícito
de superação do racismo e da discriminação racial,
de valorização e afirmação da história e da cultura negras no Brasil, de
rompimento com as barreiras racistas impostas aos negros e às negras na
ocupação dos diferentes espaços e lugares na sociedade. Trata-se de um
movimento que não se reporta de forma romântica à relação entre os negros
brasileiros, a ancestralidade africana e o continente africano da atualidade,
mas reconhece os vínculos históricos, políticos e culturais dessa relação,
compreendendo-a como integrante da complexa diáspora africana. Portanto,
não basta apenas valorizar a presença e a participação dos negros na história,
na cultura e louvar a ancestralidade negra e africana para que um coletivo
seja considerado como movimento negro. É preciso que nas ações desse
coletivo
se faça presente e de forma explícita uma postura política de
combate ao racismo.
Postura essa, que não nega os possíveis enfrentamentos
no contexto de uma sociedade hierarquizada, patriarcal, capitalista,
LGBTfóbica e racista.
O Movimento Negro, portanto, contribui na produção de um conhecimento que
emerge de sua luta por reconhecimento do povo preto como sujeito de direitos, pautando
discussões sobre racismo e superação do mito da democracia racial, desigualdade
socioeconômica, violência, políticas públicas em saúde e educação, intolerância religiosa,
questões quilombolas, dentre outras temáticas e, além de educar seus ativistas, educa também
a sociedade no caminho do antirracismo. Os saberes emancipatórios produzidos pelo
Movimento Negro estão, portanto, relacionados à vivência da raça numa sociedade que
estabeleceu a hierarquização racial como eixo fundante. Com relação ao Movimento de
Mulheres Negras, do qual a Auto-Organização Rejane Maria faz parte, Gomes (2020, p. 36-
37) afirma que:
[...] merece destaque quando refletimos sobre os saberes políticos. A ação
das ativistas negras constrói
saberes e aprendizados políticos, identitários e
estéticos-corpóreos específicos. As ativistas negras indagam o machismo
dentro do próprio Movimento Negro e desafiam os homens ativistas a
repensarem, mudarem de postura e de atitude nas suas relações políticas e
pessoais com as mulheres. Denunciam a violência machista dentro do
próprio Movimento Negro e demais movimentos sociais, nas relações
domésticas, nas disputas internas quer sejam no emprego, nos movimentos,
nos sindicatos e nos partidos. Elas reeducam o próprio feminismo, aos
homens e mulheres brancos, de outros pertencimentos étnico-raciais e a elas
mesmas.
Além da contribuição teórica de Nilma Lino Gomes, a pesquisa que estamos
desenvolvendo, está vinculada ao Pensamento Feminista Negro e aos Estudos Decoloniais. O
Pensamento Feminista Negro, surgido a partir de experiências e do ponto de vista de mulheres
negras, é definido por Collins (2019) como um conjunto de tradições intelectuais feministas
negras específicas, embora heterogêneas, criadas através do lugar social que as mulheres
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negras ocupam enquanto coletividade. Trata-se de um conjunto de tradições que nasce da
tensão dialética entre a opressão sofrida pelas mulheres negras e seu ativismo (COLLINS,
2019). O Pensamento Feminista Negro atua no sentido de produzir soluções para os
problemas enfrentados pela população negra, servindo como uma possibilidade de
emancipação e promoção da justiça social. No campo da Educação, o Pensamento Feminista
Negro pode ser percebido como um mote de resistência que surge nas margens da educação
colonizadora, se constituindo em uma práxis que visa intervir na realidade social.
Compreendemos que o Feminismo Negro é educador e atua no sentido de reeducar o
feminismo hegemônico e o movimento negro, a fim de que estes contemplem as diversas
formas de ser mulher e o peso das opressões de raça, classe, gênero e sexualidade na vida de
todas as mulheres, reconhecendo as especificidades das mulheres negras. Nesse sentido, o
Feminismo Negro contribui tanto no que se refere às discussões sobre racismo quanto aos
estudos feministas, sendo importante para tensionar categorias até então tidas como universais
e desafiando ambos os campos do conhecimento a incluir em suas produções as
especificidades que permeiam as escrevivências de mulheres negras. Atravessadas por
questões, como o genocídio negro, o feminicídio e dificuldades pertinentes à escolarização e
inserção no mercado de trabalho, além do epistemicídio e toda a histórica desumanização que
atinge os povos racializados, intelectuais negras passaram a publicar estudos relacionados a
raça, gênero e classe como pilares para a efetivação do pensamento feminista negro no espaço
acadêmico.
O Feminismo Negro e o Feminismo Decolonial são importantes aportes teórico-
metodológicos que nos auxiliam a compreender as escrevivências de mulheres negras ativistas
sergipanas, considerando a existência de um sistema moderno/colonial de gênero
(LUGONES, 2008) que inferioriza, violenta e invisibiliza as mulheres racializadas e que
produz desigualdades que se refletem nos índices socioeconômicos do país e colocam as
mulheres negras em posição de vulnerabilidade.
Tanto o Feminismo Negro quanto o
Feminismo decolonial são alternativas para romper os silêncios epistêmicos que foram
produzidos pela ciência moderna colonial que inferiorizou, estereotipou e ignorou muitas
vozes, inclusive as vozes das mulheres negras em luta. Além disso, ambos os movimentos
epistemológicos denunciam limitações existentes no feminismo hegemônico e possuem uma
dimensão prática, voltada para a transformação social.
Miñoso (2020), ao denunciar o compromisso do feminismo hegemônico com a
modernidade, afirma que a prática feminista subalterna aponta o dispositivo da colonialidade
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Andréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI
RPGE
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Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029
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como estruturante daquilo que ela denomina de razão feminista e propõe um conhecimento
situado que parte da experiência, algo que é bastante evidenciado nos estudos que abordam
trajetórias de mulheres negras. Esse contraponto também é trazido por Bairros (1995), ao
pontuar que existem vertentes do feminismo que tentam definir o sujeito mulher com base em
experiências tidas como universais e sinalizar que o Feminismo Negro se mostra como um
interessante aporte epistemológico para se pensar no conjunto de experiências e ideias
compartilhadas por mulheres negras tanto afro-americanas como brasileiras, cujas existências
são marcadas por uma matriz de dominação onde raça, gênero e classe se interceptam em
diferentes pontos (BAIRROS, 1995, p. 46).
Do ponto de vista dos estudos que abordam as escrevivências de mulheres negras,
destacamos a importância da interseccionalidade (CRENSHAW, 2002) como conceito e
ferramenta metodológica que permite a articulação entre as categorias de raça, gênero, classe
e sexualidade como formas de opressão que atingem as existências de negras, negros e negres,
bem como a importância da decolonialidade como aporte epistemológico possível pra se
pensar as existências dos corpos historicamente subalternizados pelo colonialismo,
capitalismo, racismo e sexismo.
Dito isto, importa indicar que nossa pesquisa tem como objetivo compreender o
processo de formação política de mulheres negras ativistas do Estado de Sergipe, tendo como
espaço de convivência e afeto, a
“
Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane
Maria
”
, criada em 2014 na cidade de Aracaju. Nesse sentido, consideramos como ponto de
partida o movimento de mulheres negras como sujeito político produtor e produto de
experiências que ressignificam a questão étnico-racial (GOMES, 2017), de gênero, classe e
sexualidade. Os caminhos da pesquisa estão seguindo a perspectiva de identificar como se dão
os processos formativos que unem e mobilizam mulheres negras com vistas a questionar
estruturas racistas, sexistas, classistas e heteronormativas presentes em nossa sociedade. A
reflexão sobre práticas educativas geradas e experenciadas no movimento de mulheres negras
tem mobilizado a construção desta pesquisa. Estamos observando experiências educativas
envolvidas no processo de formação política de mulheres negras que vislumbram a militância
como uma alternativa de sobrevivência em meio a uma realidade que historicamente
discrimina, marginaliza e oprime pessoas negras, reproduzindo práticas racistas e sexistas
iniciadas no período colonial brasileiro.
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Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane
Maria”
RPGE
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No campo metodológico, a pesquisa que estamos desenvolvendo segue a perspectiva
da Pesquisa Ativista Feminista Negra, classificada por Lemos (2020, p. 29) como uma
metodologia que:
[...] prima pelo registro do protagonismo de ativistas no desenvolvimento de
suas ações, cujo objeto investigado emerge das trocas de saberes e da ação
no ativismo feminista negro, no ativismo no movimento de mulheres negras
que tem se configurado, ao longo dos anos, como a seara da disputa por
justiça de gênero, de raça, de classe, de identidade sexual, justiça
distributiva, dentre outras.
A
Pesquisa Ativista Feminista Negra é uma “metodologia de pesquisa centrada no
ativismo do feminismo negro” (L
EMOS, 2020, p.
19), que “tem o compromisso político
em registrar, coletivamente, transformações locais e as intervenções radicais na sociedade
realizadas por, para e com mulheres negras visando transformações e erradicação das
opressões, e em busca do Bem Viver” (L
EMOS, 2020, p. 28). Rosália Lemos define que a
Pesquisa Ativista Feminista Negra reúne vários recursos metodológicos, com vistas a
produzir um determinado tipo de conhecimento, surgido dentro do feminismo negro, em
que o processo de construção dos saberes ocorre através da parceria com as colaboradoras
da pesquisa, viabilizando o encontro entre a pesquisadora ativista com o ativismo das
colaboradoras, num processo de retroalimentação.
Esta metodologia tem como foco
“registrar, coletivamente, transformações locais e as intervenções radi
cais na sociedade
realizadas por, para e com mulheres negras visan
do a erradicação das opressões” (L
EMOS,
2020, p. 29). Tal viés de pesquisa demanda contínuo processo de “observação,
participação, implicação, imersão, interação, e vivência intensa antes, durante e depois do
estudo de campo.” (L
EMOS, 2020, p. 29).
Compreendemos a
“
Auto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane
Maria
”
como um quilombo, pois nesta coletividade existe uma união entre iguais que estão
constituindo formas de resistência cultural e racial, que vem possibilitando a criação de
uma comunidade que se fortalece internamente e, ao mesmo tempo, atua dentro da
sociedade que oprime os corpos negros. Nossa pesquisa, construída com as ativistas da
“
Auto-Organização de Mulheres Negras Rejane Maria
”
, se articula em torno do ativismo
político de mulheres negras e seus anseios por políticas públicas que as alcancem e
promovam justiça social, intencionando também visibilizar as potencialidades educativas
existentes nas articulações empreendidas por mulheres negras com vistas a combater as
desigualdades raciais, sociais e de gênero que circundam suas escrevivências.
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A
“
Auto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria
”
A
“
Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria
”
surgiu em
outubro de 2014, reunindo diversas mulheres negras, com realidades distintas e com o
objetivo de construir uma frente de luta para reivindicar as demandas de mulheres negras de
Sergipe, considerando os diversos marcadores sociais - classe, raça, gênero e sexualidade
–
que atravessam suas escrevivências. Nesse contexto, se pensou em articular mulheres negras
da cidade e do campo, num estado em que cerca de 80% da população é negra, a fim de
visibilizar demandas especificas e pleitear direitos da comunidade negra, em especial às
mulheres, dentro de uma perspectiva interseccional.
Antes da criação da Rejane Maria, havia em Sergipe outra organização de mulheres
negras em Sergipe, a OMIN (Organização de Mulheres Negras Maria do Egito). Esta foi
fundada no ano de 2001, a partir da identificação, por parte de algumas ativistas negras, da
necessidade de incluir o recorte racial e de gênero nas discussões sobre políticas públicas para
a população negra. De acordo com Souza (2012), a OMIN tinha como objetivo prestar
assessoria a mulheres negras, além de atuar em eventos educativos e culturais e atualmente
encontra-se inativada. Domingues e Oliveira (2021) mencionam que a referida organização
tinha ligações com os Fóruns Estadual e Nacional de Mulheres Negras, este último inserido
na Articulação de Mulheres Brasileiras (AMNB).
Além da OMIN, outras organizações inseridas no contexto do movimento negro
sergipano contemplam em suas pautas o recorte racial de gênero, a exemplo da
“
Sociedade de
Estudos Étnicos, Políticos, Sociais e Culturais Omolàiyé
”
, que busca contribuir para o
empoderamento das comunidades tradicionais de matrizes africanas em Sergipe,
desenvolvendo estudos sobre tradição e cultura afrodescendente, além de prestar assessoria e
realizar ações educativas e políticas direcionadas à defesa dos direitos humanos, combate ao
racismo e à intolerância religiosa, promovendo o fortalecimento da identidade e autoestima
dessas comunidades negras; da
“
Comunidade Oju Ifá
”
, que realiza projetos e atividades em
prol do enfrentamento dos problemas que atingem a juventude negra, além de atuar na
promoção de atividades sociais, culturais e educativas voltadas para as comunidades e aos
povos tradicionais de matriz africana visando o combate ao racismo religioso e outras formas
de preconceito; da
“
Casa de Mar
”
, cujos trabalhos estão voltados para a interação com a
comunidade do seu entorno - mulheres, Crianças e pescadores - desenvolvendo projetos nas
áreas de cultura, educação, ecologia, sustentabilidade e cidadania; da
“
Frente Estadual pelo
Desencarceramento de Sergipe
”
, ligada à
“
Agenda Nacional pelo Desencarceramento e da
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A potencialidade educativa da “
Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane
Maria”
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Rede de Mulheres Negras de Sergipe
”
, que busca articular e fortalecer coletivos de mulheres
negras do Estado e reivindicar políticas públicas de combate ao racismo, sexismo e
lesbofobia.
Constituído atualmente por 13 integrantes, o coletivo de mulheres negras em questão
homenageia a trajetória de luta da militante negra Rejane Maria Pureza do Rosário, uma
mulher de axé, filha do Ilê Axé Opô Oxogunladê, falecida no ano de 2012 e que, durante sua
vida, dedicou-se à defesa dos direitos das pessoas negras, da causa feminista, difundindo a
capoeira angola e a participação das mulheres nesse esporte, e sendo também grande
incentivadora da cultura e da religiosidade afro-brasileiras. Rejane Maria foi uma das
fundadoras do Grupo ABAÔ de Capoeira Angola (Associação Abaô de Arte, Educação e
Cultura Negra), além de ter participado do SACI (Sociedade Afro-Sergipana de Estudos e
Cidadania), da Unegro (União dos Negros pela Igualdade) e da Sociedade de Estudos Étnicos,
Políticos, Sociais e Culturais Omolàiyé.
Figura 1
–
Rejane Maria Pureza do Rosário
Fonte: Facebook Auto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria (2019)
Reunidas a partir de um chamamento público realizado através das redes sociais,
algumas mulheres negras compuseram a fase inicial da organização, cuja definição do nome
ocorreu posteriormente. Pautada pela Dororidade, definida por Piedade (2017) como a união
das mulheres negras a partir da dor causada pelo racismo, e que carrega em si também a dor
causada pelo machismo, as mulheres negras ativistas da
“
Auto-Organização Rejane Maria
”
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realizam trabalhos de base em comunidades periféricas e ações com a juventude nas escolas,
estando articuladas com outros movimentos sociais, e dialogando com as instituições sobre a
condição das mulheres negras sergipanas, com vistas a garantir políticas públicas voltadas
para o combate às desigualdades sociais, raciais e de gênero no Estado de Sergipe.
A ideia de Auto-Organização, na perspectiva em que a Rejane Maria se constitui, está
presente no feminismo contra hegemônico, no qual os grupos se constituem em espaços onde
as mulheres podem refletir, dialogar e, a partir dos saberes produzidos nesses encontros,
construir alternativas que possam ser postas em práticas no decorrer da luta por justiça social,
combate ao racismo, sexismo e lgbtfobia. Tem como base a aprendizagem por meio da
coletividade, e representa uma alternativa que visa o empoderamento e o protagonismo
feminismo nas lutas sociais.
Conforme indicado em sua Carta de Princípios, a Rejane Maria não é constituída de
forma hierarquizada, por isso não apresenta uma direção ou coordenação. Todas as decisões
tomadas no âmbito da Auto-Organização são aprovadas coletivamente, havendo ampla
discussão entre as integrantes do grupo. Os eixos nos quais a Auto-Organização atua são:
Educação, Saúde, Pobreza, Mercado de trabalho e Desigualdade social, Direitos Humanos,
Violência, Formação política, Mídia e Cultura. A partir desses pilares são organizadas as
mobilizações em comunidades periféricas, com vistas a promover discussões sobre a posição
da mulher negra dentro da sociedade racista, sexista, classista e cisheteronormativa em que
estamos inseridas, e formular proposituras que possam ser apresentadas em momentos de
diálogo com instituições públicas e privadas.
Dentre os objetivos da Auto-Organização, dispostos em sua Carta de Princípios estão:
1) Organizar as mulheres negras da cidade e do campo, do Estado de
Sergipe, de modo a visibilizar suas demandas específicas e pleitear seus
direitos;
2) Realizar trabalhos de base em comunidades periféricas;
3) Promover ações com a juventude nas escolas;
4) Estabelecer a articulação com outros movimentos sociais;
5) Dialogar com órgãos e instituições sobre a condição das mulheres negras
sergipanas;
6) Desenvolver atividades que demarquem datas históricas relacionadas a
luta das mulheres negras (Carta de Princípios da AUTO-ORGANIZAÇÃO
DE MULHERES NEGRAS DE SERGIPE REJANE MARIA, 2014)
A referida Auto-organização promove trabalhos de base em comunidades periféricas,
ações com crianças e com a juventude em escolas, atua em Conselhos municipais e estaduais
voltados para políticas públicas de igualdade racial e de gênero, além de estar articulada com
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A potencialidade educativa da “
Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane
Maria”
RPGE
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DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16765
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outros movimentos sociais, pontuando demandas das mulheres negras sergipanas e pleiteando
políticas públicas que rompam com as desigualdades racial, de classe e de gênero presentes no
Estado.
Espaços educativos da Auto-organização de Mulheres Negras Rejane Maria
Neste tópico demarcamos nosso reconhecimento dos espaços educacionais dos
movimentos sociais como diferentes da aprendizagem escolar e da produção de conhecimento
acadêmico, pois, assim como nos ensina Brandão (2007, p. 9),
“Não há
uma forma única nem
um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem
seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática e o professor profissional não é o seu
único praticante”.
Para Gohn (2009), falar de processos educativos dentro dos movimentos
sociais implica, portanto, em ter uma concepção de educação divergente daquela que remete
ao aprendizado de “conteúdos específicos transmitidos
através de técnicas e instrumentos do
processo pedagógico” (p.
17). Nesse sentido, compreendemos os movimentos sociais de uma
forma geral, e o movimento de mulheres negras, em específico, como ambientes educativos
marcados pela mobilização em torno da luta pela sobrevivência e por direitos cujo papel
pedagógico está articulado à descoberta e aprendizagem dos grupos como sujeitos de direito.
Para Arroyo (2003, p. 42):
A maioria dos coletivos que se agregam e organizam na luta pela terra, o
espaço, os serviços públicos...carregam uma esperança espontânea em um
mundo de justiça, de liberdade, igualdade e dignidade. Uma esperança de
uma outra ordem no campo e na cidade, na saúde e na educação, nas
relações sociais e inter-raciais... Uma ordem regida por outros princípios,
outros valores, mais generosos, mais igualitários. Os confrontos no campo da
ética tocam em cheio a teoria pedagógica.
Arroyo (2003) aponta que os movimentos sociais desempenham o papel pedagógico
de formar lideranças, além de contribuir para a educação das camadas populares da sociedade.
São espaços onde os seus integrantes aprendem e constituem novas maneiras de lidar com as
condições socioeconômicas, raciais, culturais e políticas com vistas a promover
transformações sociais no sentido da igualdade de direitos. Para Gomes (2017), os
movimentos sociais são protagonistas da emancipação social, produzindo e articulando
saberes que emergem de grupos contra hegemônicos da sociedade, atuando pedagogicamente
na construção das relações sociais e políticas a partir da indagação do que é tido como
hegemônico.
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Andréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI
RPGE
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O Movimento de Mulheres Negras atua no sentido da reeducação da sociedade no que
se refere à intersecção de raça e gênero. Ele surge a partir da percepção das limitações
existentes dentro do Movimento Negro e do Movimento Feminista, no que se refere à
invisibilização de suas experiências atravessadas pelas opressões interseccionais. Sendo
assim, as mulheres negras passaram a atuar como sujeitos coletivos, demarcando suas
experiências e reivindicando políticas públicas que considerem suas demandas. Para Barbosa
(2019), a luta das mulheres negras está relacionada tanto às suas especificidades de raça e
gênero visando o rompimento da condição de subalternidade que lhes é imposta, quanto à
reivindicação por igualdade no que se refere às condições materiais, uma vez que esta
coletividade identifica a relação existente entre subalternização e injusta distribuição de renda.
Barbosa (2019) aponta que a participação política das mulheres negras ocorre em duas
vertentes: os movimentos específicos de mulheres negras, em que se discutem as matrizes de
opressão que atravessam suas experiências, e os movimentos populares, em que a participação
de mulheres negras é significativa, tendo na periferia um importante campo de atuação. Os
coletivos de mulheres negras instrumentalizam as participantes para combater o racismo, o
machismo, a lgbtfobia e o preconceito de classe, auxiliando suas integrantes e a sociedade no
resgate da dignidade do povo preto mediante as relações estabelecidas com o lugar, o corpo, a
cultura, a raça e o gênero.
Nesse contexto, estes coletivos trazem para o centro da discussão os elementos
constituintes da cultura, da história, da religiosidade e das potencialidades da população negra
de forma a ressignificá-los e torná-los relevantes nas trajetórias de quem deles participam.
Esse movimento de desconstrução e construção visa suscitar a autoconfiança, a partir da
derrubada de estereótipos negativos, subalternizantes e desumanizantes historicamente
atribuídos à população negra de uma forma geral, e às mulheres negras, em específico, e
possibilitar a valorização do pertencimento étnico-racial e de gênero. Observa-se, portanto,
nestas coletividades, o interesse em conscientização sobre a formação histórica, social do país,
com vistas a reexaminar a trajetória do povo negro, tratando como um elemento fundante da
história nacional e vislumbrando erradicar o complexo de inferioridade introjetado em seu
imaginário.
Organizadas em Movimentos, as mulheres negras revertem os
determinismos sociais de cunho racial e machista e, aos poucos, conseguem
romper com as posições subalternas e inferiores a elas impostas. Quebram as
imagens negativas acerca das mulheres negras comumente difundidas em
uma sociedade desigual, marcada pelo racismo e pelo machismo. Assim,
criam e se recriam, estabelecem novos rumos e elevam sua auto-estima e a
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A potencialidade educativa da “
Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane
Maria”
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de outras mulheres negras por meio de suas ações e intervenções sociais e
políticas (SILVA, 2007, p. 196)
O Movimento de Mulheres Negras tem na educação um importante caminho na
construção e afirmação identitária e na reivindicação de direitos. A articulação coletiva é uma
das formas de resistência que estas mulheres utilizam para enfrentar a estrutura da sociedade
brasileira, marcada pela colonialidade, da qual decorrem o racismo, o sexismo, as
desigualdades socioeconômicas, o patriarcado e a heteronormatividade. Assim como Silva
(2007), compreendemos que as organizações de mulheres negras têm como uma das mais
importantes estratégias formativas a reconstituição da identidade e da autoestima e, nesse
sentido, ao longo de seu processo formativo, as mulheres negras buscam se reconstruir
individual e coletivamente, ressignificando suas relações sociais a partir das categorias de
raça, gênero, classe e sexualidade. Para Miranda (2018), as mulheres negras, movidas por
uma perspectiva emancipatória, de autoproteção e cuidado mútuo, se organizam em coletivos
e organizações para resistir coletivamente às opressões e vislumbrar possibilidades de
mudança de sua condição.
Pereira (2016) compreende que o movimento de mulheres negras contribui para a
geração de perspectivas analíticas e concepções de justiça social, edificando um pensamento
social e político que se organiza a partir das interseções de gênero e raça. Para a autora, as
ativistas negras apontam as hierarquias de gênero, raça e classe como injustas, uma vez que
estas dificultam o acesso a direitos básicos pelos grupos racializados.
As práticas pedagógicas realizadas no âmbito dos coletivos de mulheres negras se
relacionam às escrevivências de suas participantes frente as discriminações interseccionais e a
consequente condição de marginalização a qual são submetidas. De acordo com Silva (2018),
estas práticas são pautadas na ancestralidade, solidariedade, acolhimento, reflexão e
sensibilidade e, além disso, contribuem para mudanças comportamentais, no que se refere a
autoaceitação e empoderamento de suas frequentadoras, auxiliando no rompimento do lugar
social subalterno e no enfrentamento do racismo, sexismo, lgbtfobia e preconceito de classe.
Lima (2014) afirma que essas mulheres utilizam os marcadores de opressão para reconstruir
de forma positiva as representações de si, e isso constitui uma das estratégias mais relevantes
de luta contra as discriminações que as atravessam. Os coletivos de mulheres negras
produzem discursos para se contrapor aos discursos hegemônicos, sugerindo alternativas de
resistência em busca da extinção das desigualdades simultâneas (ou interseccionais) que as
atravessam. Para Cardoso (2012), este pensamento feminista se orienta a partir de referenciais
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Andréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI
RPGE
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Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029
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negro-africanos sendo classificado como decolonial, e visa transformar a sociedade através do
enfrentamento a diversas formas de opressão.
No caso da Auto-Organização Rejane Maria, os espaços educativos estão relacionados
à formação política e identitária de suas ativistas, seguindo a perspectiva feminista negra
interseccional, articulando as categorias de raça, gênero, classe e sexualidade. A partir de
nossa inserção nas atividades do grupo, e da análise das redes sociais da Auto-Organização,
conseguimos identificar os seguintes momentos educativos:
Figura 2
–
Espaços Educativos da Auto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane
Maria
Fonte: Elaborado pelas autoras
As Reuniões fechadas (ou internas) são os momentos em que são planejadas e
refletidas as atividades da Auto-Organização, fornecendo subsídio para a atuação das ativistas
em diferentes espaços institucionais e de convivência social. Nestas reuniões, as ativistas
realizam estudo e discussão de textos, tiram dúvidas, dividem tarefas, fazem repasses das
atividades que realizaram em outros campos de atuação ao qual foram designadas para
representar o grupo, constroem documentos de interesse do grupo (cartas e projetos, por
exemplo), realizam avaliação das reuniões abertas, pontuando fragilidades, acertos e
potencialidades e apresentam ideias para organização de eventos, divulgam eventos para
participação e/ou contribuição do grupo.
As Reuniões abertas são os momentos organizados pelas ativistas para realizar
discussões ampliadas com o público externo sobre temas pertinentes às escrevivências de
mulheres negras dentro de uma perspectiva interseccional. Estas reuniões também servem
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A potencialidade educativa da “
Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane
Maria”
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para atrair e/ou recepcionar mulheres interessadas em integrar o grupo. O tema de cada
reunião aberta é definido nas reuniões fechadas e algumas ativistas são designadas para
providenciar a logística da atividade no que se refere a divulgação, espaço físico,
acolhimento, convidados. Conforme verificado nas redes sociais da Auto-Organização, ao
longo desses quase oito anos de existência, foram organizados vários eventos pelas ativistas,
com o intuito de debater temáticas de interesse do povo preto com o destaque para as
especificidades das mulheres negras, respeitando sua condição de classe, sexualidade e
identidade de gênero. Nas reuniões presenciais, as ativistas buscam considerar as demandas
das participantes que são mães. Para isto, priorizam promover os eventos em locais onde haja
espaço para as mulheres que queiram ou precisem levar seus filhos, além de providenciarem
atividades lúdicas, a exemplo do Cineclubismo, priorizando a exibição de filmes com
protagonistas negros.
Além dos eventos realizados pelo próprio grupo, as ativistas participam de eventos
organizados por outras entidades, sejam elas do movimento negro, do movimento feminista,
escolas, instituições públicas e privadas, dentre outras, com vistas a abordar temas pertinentes
às escrevivências de mulheres negras como: racismo, sexismo, feminismo negro, mulheres
negras na política, maternidade, violências, infância e racismo, estética negra, autocuidado,
ancestralidade, direitos sociais, dentre outros temas, além de relatar experiências exitosas
ocorridas dentro da Auto-Organização nos espaços onde são convidadas.
Os projetos são atividades realizadas pelas ativistas em instituições de ensino e em
comunidades periféricas. São idealizados como espaços informativos e formativos onde
ocorre partilha de experiências, acolhimento e capacitação profissional, tendo como público-
alvo, crianças, jovens e mulheres negras, considerando a situação de fragilidade social
experimentada amplamente por mulheres negras na sociedade sergipana, em que muitas
dessas mulheres são chefes de família. Por meio dos projetos são realizadas rodas de
conversa, divulgação da produção científicas de mulheres negras sergipanas e de outras
localidades, oficinas lúdicas, de autocuidado, educativas e profissionalizantes, pautadas pelas
necessidades das comunidades onde ocorrerá o desenvolvimento dos projetos.
As ativistas também auxiliam na organização e participam de marchas de protesto e
reivindicação relacionadas à condição da população negra de uma forma geral e da mulher
negra em específico, e se somam na publicação de notas de repúdio e divulgação de
atividades de outras organizações. Os eventos que as Rejanes organizam e participam podem
ser classificados em: Rodas de Conversa, Cineclube, Oficinas e Marchas.
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Andréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI
RPGE
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A
“
Auto-Organização Rejane Maria
”
se vincula a diversas entidades negras no âmbito
local, regional e nacional, tanto para discutir com outras mulheres negras em rede sobre as
especificidades que atravessam as suas existências, quanto para pressionar entidades do
Movimento Negro e Feminista por um olhar mais atento às questões pertinentes à intersecção
de opressões que atingem as mulheres negras e as colocam em grande desvantagem no que
diz respeito aos índices socioeconômicos e da violência no país. Além disso, no âmbito do
Estado de Sergipe, as ativistas da Rejane Maria têm buscado ocupar assentos em Conselhos
Estaduais e Municipais que versam sobre igualdade racial ou de gênero, levando para esses
espaços a discussão do recorte interseccional que deve ser considerado na elaboração de
políticas públicas, e que é defendido pelas feministas negras no Brasil e em outras partes do
mundo.
Figura 3
–
Ligações Institucionais da Auto-organização de Mulheres Negras Rejane Maria
Fonte: Elaborado pelas autoras
No âmbito pedagógico, observamos, nas atividades da
“
Auto-Organização Rejane
Maria
”
, a ancoragem no Pensamento Feminista Negro (COLLINS, 2019), por observarmos
que há uma articulação entre teoria e prática, além da valorização da experiência vivida como
um ponto de partida para a mobilização. Em consonância com o pensamento de Collins
(2019), Hooks (2019) define que a experiência vivida pelas mulheres negras
“
[...]desafia
diretamente a estrutura social vigente e sua ideologia sexista, racista e classista. Essa
experiência vivida é capaz de moldar nossa consciência de modo a diferenciar daqueles que
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A potencialidade educativa da “
Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane
Maria”
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gozam de privilégios
(ainda que relativos, dentro do sistema vigente” (
HOOKS, 2019, p. 46).
Além da valorização da experiência, percebemos a afirmação da necessidade de falar por si e
se compreender como sujeito o que, por sua vez, leva ao senso de coletividade e potencializa
a importância da articulação, percebendo o empoderamento como um ato político coletivo.
Além disso, as ativistas têm buscado estabelecer um paralelo entre suas escrevivências e as
produções de intelectuais negras, num movimento de reconexão com as tradições intelectuais
subjugadas como base para refletir sobre suas escrevivências. As ativistas compartilham e
constroem outras formas de ser mulher negra frente aos estereótipos negativos e a
subalternização histórica a que são submetidas, apontam as fragilidades dos movimentos
negro e feminista, e estabelecem a periferia como lugar prioritário de ação.
A perspectiva interseccional é evidente nas articulações do grupo, que é formado por
mulheres plurais que entendem que não é preciso eliminar as diferenças entre elas para que se
criem vínculos de solidariedade em torno da luta para acabar com as opressões que as atingem
(HOOOKS, 2019). A interseccionalidade, no contexto de ação da Rejane Maria, é vista como
a percepção da “[...] forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros
sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições relativas de
mu
lheres, raças, etnias, classes e outras” (
CRENSHAW, 2002, p. 177), o que, no Estado de
Sergipe, representa a situação de vulnerabilidade socioeconômica a que as mulheres negras
estão submetidas.
As mulheres negras ativistas da
“
Auto-Organização Rejane Maria
”
, constroem saberes
políticos, identitários e estético-corpóreos específicos. Os saberes políticos estão relacionados
ao questionamento do sexismo existente dentro do movimento negro e em outros movimentos
sociais, e do racismo existente dentro do movimento de mulheres (GOMES, 2017). Os
saberes identitários estão relacionados ao debate da questão racial e da identidade negra com
um posicionamento de afirmação e valorização da identidade negra. Os saberes estético-
corpóreos estão ligados à valorização e politização da estética negra, historicamente
inferiorizada e associada à hiperssexualização. Além disso, as mulheres negras da Rejane
Maria introduzem em suas reuniões de aquilombamento, debates em torno de questões
relacionadas às comunidades quilombolas, a intolerância religiosa praticada contra as
religiões de matriz africana, o genocídio da juventude negra, a necessidade de maior
participação das mulheres negras na política e a experiências das pessoas negras LGBTQIA+.
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Andréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI
RPGE
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Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029
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Considerações finais
Na esteira de Barbosa (2019), acreditamos que as construções identitárias das
mulheres negras são permeadas por uma confluência de opressões que, por sua vez, implicam
na constituição de um lugar social específico para as mulheres negras, marcado pela
desumanização e pela desigualdade, que estas mulheres buscam subverter a partir de uma
articulação coletiva em torno de direitos.
No período no qual nos inserimos nas atividades da
“
Auto-Organização Rejane
Maria
”
, estas aconteceram de forma remota, em virtude da pandemia da COVID-19. Nesse
período de observação participativa, verificamos que as reuniões se dividiram em internas e
externas, sendo que as reuniões internas são realizadas para planejamento, formação política
interna e avaliação de atividades, e as reuniões externas são realizadas com vistas a discutir
com pessoas externas à Auto-Organização, temas pertinentes à população negra, para atrair
mulheres negras a integrar o grupo, ou mesmo visibilizar pesquisas acadêmicas que versam
sobre temas de interesse da população negra.
Ao abordar as práticas educativas presentes no movimento de mulheres negras nos
aproximamos do que Scott (2005) denomina de enigma da igualdade, tendo em vista que esta
coletividade estudada se vale de uma identidade coletiva - de ser mulher negra e vítima de
uma matriz de opressões que lhes retiram direitos básicos, encontrando apoio e solidariedade
para se unir e reivindicar a sua inclusão de forma equânime, tencionando o
status quo
vigente
e desestabilizando estruturas estabelecidas há séculos, buscando políticas públicas que
contemplem as especificidades desse grupo.
Compreendemos o espaço da Auto-Organização de Mulheres Negras Rejane Maria
como produtor de uma pedagogia de (re)existência que emerge das escrevivências das
mulheres negras ativistas, representando um espaço marcado por práticas pedagógicas
emancipatórias inseridas na perspectiva da Pedagogia Feminista Negra, empreendendo
resistência à colonialidade do poder, do ser e do saber, e, sobretudo, de combate às opressões
interseccionais de raça, gênero, classe e sexualidade.
Nos aquilombamentos com as Rejanes está sendo possível refletir sobre como as
experiências constitutivas de ser mulher, presente nas práticas pedagógicas da Auto-
Organização, expressam características do Feminismo Negro, ao passo que percebemos que
estas práticas podem suscitar (e suscitam) desdobramentos, a exemplo da execução de outras
ações educativas para além do ambiente restrito de convivência das ativistas no grupo. Sendo
assim, compreendemos a
“
Auto-Organização Rejane Maria
”
como proponente de alternativas
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A potencialidade educativa da “
Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane
Maria”
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ao projeto educacional brasileiro, se pautando na Pedagogia Feminista Negra para combater o
racismo, o sexismo, a misoginia, a homofobia, a transfobia e o preconceito social e apontar
possibilidades de transformação direcionadas para a justiça social. Compreendemos que a
Pedagogia Feminista Negra se constitui na resistência e na construção de novas possibilidades
de existir e resistir, se apresentando como instrumento de emancipação ao pensar a sociedade
a partir de uma perspectiva interseccional, representando um avanço teórico, racial, social e
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RPGE
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Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029
DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16765
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Andréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI
RPGE
–
Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029
DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16765
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Como referenciar este artigo
SANTOS, A. T.; LUCINI, M.
A potencialidade educativa da “Auto
-organização de Mulheres
Negras de Sergipe Rejane Maria”
.
Revista on line de Política e Gestão Educacional
,
Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029. DOI:
https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16765
Submetido em
: 10/03/2022
Revisões requeridas em
: 16/05/2022
Aprovado em
: 21/07/2022
Publicado em
: 30/09/2022
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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The educational potentiality of
“
Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria
”
RPGE
–
Revista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029
DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16765
1
THE EDUCATIONAL POTENTIALITY OF
“
SELF-ORGANIZATION OF BLACK
WOMEN OF SERGIPE REJANE MARIA
”
A POTENCIALIDADE EDUCATIVA DA
“
AUTO-ORGANIZAÇÃO DE MULHERES
NEGRAS DE SERGIPE REJANE MARIA
”
EL POTENCIAL EDUCATIVO DE LA
“
AUTOORGANIZACIÓN DE MUJERES
NEGRAS DE SERGIPE REJANE MARIA
”
Andréia Teixeira dos SANTOS
MarizeteLUCINI
2
ABSTRACT:
This paper undertakes a theoretical-conceptual reflection on the educational
power of the Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria, established in
Aracaju-Sergipe in 2014, from the referential of Black Feminism and Black Feminist Activist
Research. In this analysis we consider that black women historically question and point
solutions regarding racial, social, gender and sexuality inequalities, organized in social
movements. Social movements that we understand as spaces for education and political
training of their members, in which education is associated with a praxis based on their
propositional insurgency. Insurgence that is associated with the construction of new
epistemologies and public policies that challenge the racist, sexist, classist, and
heteronormative structure structuring Brazilian society. In this sense, we consider the
educational potential of the grassroots work developed by the Self-Organization of Black
Women of Sergipe Rejane Maria, as educational movements in which emancipatory
knowledge and pedagogies are produced that question society, while creating educational
strategies to combat racism, classism, sexism and heteronormativity.
KEYWORDS:
Inequality. Education. Feminism. Racism. Sexism.
RESUMO
: Este texto empreende uma reflexão teórica-conceitual sobre a potência educativa
da
“
Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria
”
, criada em Aracaju-
Sergipe em 2014,a partir do referencial do Feminismo Negro e da Pesquisa Ativista
Feminista Negra.Nesta análise, consideramos que as mulheres negras historicamente
questionam e apontam soluções com relação às desigualdades raciais, sociais, de gênero e
sexualidade, organizadas em movimentos sociais. Movimentos sociais que
compreendemoscomo espaços educativos e de formação política dos seus membros, nos quais
a educaçãoestá associada a uma práxis pautada em sua insurgência propositiva.Insurgência
que está associada à construção de novas epistemologias e políticas públicas que tensionam
a estrutura racista, sexista, classista e heteronormativa estruturantesda sociedade brasileira.
Federal University of Sergipe (UFS), São Cristóvão
–
SE
–
Brazil. Teacher of Basic Education in the State of
Sergipe. PhD student in Education (UFS). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3114-2349. E-mail:
deia.teixeira.s@gmail.com
Federal University of Sergipe (UFS), São Cristóvão
–
SE
–
Brazil. Associate Professor II. PhD in Education
(UNICAMP). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1532-8968. E-mail: marizetelucini@gmail.com
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Andréia Teixeira dos SANTOS and Marizete LUCINI
RPGE
–
Revista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029
DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16765
2
Nesse sentido, consideramosa potencialidade educativa dos trabalhos de base desenvolvidos
pela
“
Auto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria
”
, como movimentos
educativos em quese produzem saberes e pedagogias emancipatórios que questionam a
sociedade, ao mesmo tempo em que criam estratégias educativas de combate ao racismo,
classismo, sexismo e a heteronormatividade.
PALAVRAS-CHAVE:
Desigualdade. Educação. Feminismo. Racismo. Sexismo.
RESUMEN:
Este texto emprende una reflexión teórico-conceptual sobre el poder educativo
de la Autoorganización de Mujeres Negras de Sergipe Rejane Maria, creada en Aracaju-
Sergipe en 2014, a partir del referente del Feminismo Negro y la Investigación Activista
Feminista Negra. En este análisis, consideramos que las mujeres negras históricamente
cuestionan y señalan soluciones en relación a las desigualdades raciales, sociales, de género
y de sexualidad, organizadas en movimientos sociales. Movimientos sociales que entendemos
como espacios educativos y de formación política de sus integrantes, en los que la educación
se asocia a una praxis basada en su proposición insurgente. Insurgencia que está asociada a
la construcción de nuevas epistemologías y políticas públicas que acentúan la estructura
racista, sexista, clasista y heteronormativa de la sociedad brasileña. En ese sentido,
consideramos el potencial educativo de los trabajos de base desarrollado por la
Autoorganización de Mujeres Negras de Sergipe Rejane Maria, como movimientos
educativos en que se producen conocimientos y pedagogías emancipadoras que cuestionan la
sociedad, a la vez que se crea estrategias educativas para combatir el racismo, el clasismo, el
sexismo y la heteronormatividad.
PALABRAS CLAVE:
Desigualdad.
Educación. Feminismo. Racismo. Sexismo.
Paths that led us to the Rejane Maria quilombo
The pandemic of COVID-19 and the social isolation resulting from the uncontrollable
proliferation of the virus presented itself as a challenge and, in the case of many graduate
students, generated the need to rethink research objects and methodologies. This was the case
of our research, which had as its central theme the analysis of anti-racist pedagogical practices
in a quilombola school. Thus, a study that had, a priori, been designed to be developed in a
school environment had to be modified to make it possible to carry out field activities
remotely. In the process of modifying the research theme, and inspired by meetings and
encounters with productions of black intellectuals started in 2020, even before the pandemic,
with the reading of the book "Um defeito de cor", by Ana Maria Gonçalves, the research
theme was rethought in order to give protagonism to the writing experiences of black women.
The term quilombo, used in the title of this section, and from which we understand this
Self-Organization of Black Women, is related to the thought of the historian and activist from
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The educational potentiality of
“
Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria
”
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Revista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029
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Sergipe, Beatriz Nascimento (2018), for whom the quilombo is constituted from the human
need to organize in a specific way different from the one arbitrarily established by the
colonizer and becomes a possibility of existence and (re)existence in times of destruction.
Thus, in the meetings made possible by readings and by access to publications in
social networks, we approached the experiences of the "Self-organization of Black Women of
Sergipe Rejane Maria" in dialogue with the pedagogies of (re)existence built in this
collectivity. The ongoing research is grounded in Black Feminism and decolonial studies,
having as methodological reference the Black Feminist Activist Research (LEMOS, 2016a).
From our effective insertion in the activities of the Self-Organization and the narratives of
black women activists, we identify the activism of black women from Sergipe and their
contribution to the construction of deep-systemologies that question the colonial structure of
knowledge. In this text, we present the theoretical and methodological paths that have helped
us in the observation and analysis of the pedagogies of (re)existence produced by these
women in the context of confrontation to racism, classism, sexism and LGBTphobia.
The reading of the work
“
O movimento negro educador: Saberes construídos nas lutas
por emancipação
”
by Gomes (2017) The author points out the Black Movement as a
protagonist in the relationship between the Black people and the State, organizing and
systematizing specific knowledge built within the activism that is not recognized by the field
of Education and other sciences that, in turn, transform this knowledge into absence or non-
existence through epistemicide. The defense of the importance of the Black movement as a
political actor "that builds, systematizes, articulates emancipatory knowledge produced by the
black population throughout the Brazilian social, political, cultural, and educational history"
(GOMES, 2017, p. 24, our translation) was an important inspiration for us to think about the
activities of the black women's movement in Sergipe, in general, and the Rejane Maria Self-
Organization, in specific, as a possible field of research. Gomes (2017, p. 23-24, our
translation) defines the Black Movement as:
[...]the most diverse forms of organization and articulation of black men and
women politically positioned in the struggle against racism and that aim to
overcome this perverse phenomenon in society. Participating in this
definition are political, academic, cultural, religious, and artistic groups with
the explicit objective of overcoming racism and racial discrimination, of
valuing and affirming black history and culture in Brazil, and of breaking
down the racist barriers imposed on black men and women in occupying
different spaces and places in society. It is a movement that does not refer in
a romantic way to the relationship between Black Brazilians, their African
ancestry, and the African continent today, but rather recognizes the
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Andréia Teixeira dos SANTOS and Marizete LUCINI
RPGE
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Revista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029
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historical, political, and cultural links of this relationship, understanding it as
an integral part of the complex African Diaspora. Therefore, it is not enough
just to value the presence and participation of blacks in history and culture
and to praise black and African ancestry for a collective to be considered a
black movement.
It is necessary that in the actions of this collective a
political stance of combating racism is explicitly present
. A stance that does
not deny the possible confrontations in the context of a hierarchical,
patriarchal, capitalist, LGBT-phobic, and racist society.
The Black Movement, therefore, contributes to the production of knowledge that
emerges from its struggle for recognition of Black people as subjects of rights, guiding
discussions on racism and overcoming the myth of racial democracy, socioeconomic
inequality, violence, public policies in health and education, religious intolerance, quilombola
issues, among other themes and, besides educating its activists, it also educates society in the
path of anti-racism. The emancipatory knowledge produced by the Black Movement is,
therefore, related to the experience of race in a society that has established racial
hierarchization as its founding axis.Regarding the Black Women's Movement, of which the
Rejane Maria Self-Organization is part, Gomes (2020, p. 36-37, our translation) states that:
[...]deserves to be highlighted when we reflect on political knowledge. The
action of Black women activists builds specific political, identity, and
aesthetic-corporeal knowledge and learning. Black activists question
machismo within the Black Movement itself and challenge male activists to
rethink, change their stance, and change their attitude in their political and
personal relationships with women. They denounce the machismo violence
within the Black Movement itself and other social movements, in domestic
relations, in internal disputes whether in employment, movements, unions,
and parties. They re-educate feminism itself, white men and women of other
racial-ethnic belonging, and themselves.
In addition to the theoretical contribution of Nilma Lino Gomes, the research we are
developing, is linked to Black Feminist Thought and Decolonial Studies. Black Feminist
Thought,emerging from the experiences and point of view of black women, is defined by
Collins (2019) as a set of specific, though heterogeneous, black feminist intellectual traditions
created through the social place that black women occupy as a collectivity. It is a set of
traditions born out of the dialectical tension between the oppression suffered by Black women
and their activism (COLLINS, 2019). Black Feminist Thought acts to produce solutions to the
problems faced by the Black population, serving as a possibility for emancipation and the
promotion of social justice. In the field of Education, Black Feminist Thought can be
perceived as a motto of resistance that emerges on the margins of colonizing education,
constituting itself as a praxis that aims to intervene in social reality.
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The educational potentiality of
“
Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria
”
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Revista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029
DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16765
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We understand that Black Feminism is educative and acts to re-educate hegemonic
feminism and the Black movement, so that they contemplate the diverse ways of being a
woman and the weight of oppressions of race, class, gender, and sexuality in the lives of all
women, recognizing the specificities of Black women. In this sense, Black Feminism
contributes to both discussions on racism and feminist studies, being important to tense
categories hitherto considered universal and challenging both fields of knowledge to include
in their productions the specificities that permeate the lives of black women. Crossed by
issues such as black genocide, feminicide and difficulties related to schooling and insertion in
the labor market, besides epistemicide and all the historical dehumanization that affects
racialized peoples, black intellectuals began to publish studies related to race, gender and
class as pillars for the effectiveness of black feminist thought in the academic space.
Black feminism and decolonial feminism are important theoretical and methodological
contributions that help us understand the experiences of black women activists from Sergipe,
considering the existence of a modern/colonial gender system (LUGONES, 2008) that
inferiorizes, violates, and invisibilizes racialized women and produces inequalities that are
reflected in the country's socioeconomic indexes and place black women in a position of
vulnerability. Both Black Feminism and Decolonial Feminism are alternatives to break the
epistemic silences that have been produced by modern colonial science that has inferiorized,
stereotyped, and ignored many voices, including the voices of Black women in struggle.
Moreover, both epistemological movements denounce existing limitations in hegemonic
feminism and have a practical dimension, aimed at social transformation.
Miñoso (2020), while denouncing the commitment of hegemonic feminism to
modernity, states that subaltern feminist practice points to the device of coloniality as
structuring what she calls feminist reason and proposes a situated knowledge that starts from
experience, something that is quite evident in studies that deal with the trajectories of black
women. This counterpoint is also brought by Bairros (1995), when she points out that there
are strands of feminism that try to define the female subject based on experiences taken as
universal, and indicates that Black Feminism is an interesting epistemological contribution to
think about the set of experiences and ideas shared by both Afro-American and Brazilian
black women, whose lives are marked by a matrix of domination where race, gender and class
intersect at different points (BAIRROS, 1995, p. 46).
From the point of view of studies that address the experiences of black women, we
highlight the importance of intersectionality (CRENSHAW, 2002) as a concept and
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Andréia Teixeira dos SANTOS and Marizete LUCINI
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Revista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029
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methodological tool that allows the articulation between the categories of race, gender, class
and sexuality as forms of oppression that affect the existences of black men and women, as
well as the importance of decoloniality as possible epistemological contribution to think the
existences of bodies historically subalternized by colonialism, capitalism, racism and sexism.
That said, it is important to indicate that our research aims to understand the process of
political training of black women activists in the state of Sergipe, having as a space of
coexistence and affection, the "Self-organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria",
created in 2014 in the city of Aracaju. In this sense, we consider as a starting point the
movement of black women as a political subject producer and product of experiences that
resignify the ethnic-racial issue (GOMES, 2017), gender, class and sexuality. The research
paths are following the perspective of identifying how the formative processes that unite and
mobilize black women in order to question racist, sexist, classist, and heteronormative
structures present in our society take place. The reflection on educational practices generated
and experienced in the black women's movement has mobilized the construction of this
research. We are observing educational experiences involved in the process of political
formation of black women who see militancy as an alternative for survival in the midst of a
reality that historically discriminates, marginalizes and oppresses black people, reproducing
racist and sexist practices that began in the Brazilian colonial period.
In the methodological field, the research we are developing follows the Black Feminist
Activist Research perspective, classified by Lemos (2020, p. 29, our translation) as a
methodology that:
[...]The object of the research emerges from the exchange of knowledge and
action in black feminist activism, activism in the black women's movement
that has been configured, over the years, as the arena of the dispute for
gender, race, class, sexual identity, distributive justice, among others.
Black Feminist Activist Research is a "research methodology centered on the
activism of black feminism" (LEMOS, 2020, p. 19, our translation) that "has the political
commitment to collectively register local transformations and radical interventions in
society carried out by, for and with black women aiming for transformations and
eradication of oppressions, and in search of the Good Life" (LEMOS, 2020, p. 28, our
translation). Rosália Lemos defines that Black Feminist Activist Research gathers several
methodological resources, aiming to produce a certain type of knowledge, emerged within
black feminism, in which the process of knowledge construction occurs through the
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The educational potentiality of
“
Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria
”
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partnership with the research collaborators, enabling the encounter between the activist
researcher with the activism of the collaborators, in a process of feedback. This
methodology focuses on "collectively register local transformations and radical
interventions in society carried out by, for and with black women aiming at the eradication
of oppression" (LEMOS, 2020, p. 29, our translation). Such a research bias demands
continuous process of "observation, participation, implication, immersion, interaction, and
intense living before, during, and after the field study" (LEMOS, 2020, p. 29, our
translation).
We understand the "Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria"
as a quilombo, because in this collectivity there is a union among equals who are
constituting forms of cultural and racial resistance, which has been enabling the creation of
a community that strengthens itself internally and, at the same time, acts within the society
that oppresses black bodies. Our research, built with the activists of the "Self-Organization
of Black Women Rejane Maria", is articulated around the political activism of black
women and their longing for public policies that reach them and promote social justice,
intending also to make visible the educational potentialities existing in the articulations
undertaken by black women in order to combat racial, social and gender inequalities that
surround their lives.
The "Black Women's Self-Organization of Sergipe Rejane Maria
The "Self-organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria" emerged in
October 2014, bringing together several black women with different realities and aiming to
build a front to claim the demands of black women in Sergipe, considering the various social
markers - class, race, gender and sexuality - that cross their lives. In this context, it was
thought to articulate black women of the city and countryside, in a state where about 80% of
the population is black, in order to make visible specific demands and claim the rights of the
black community, especially women, within an intersectional perspective.
Before the creation of Rejane Maria, there was another organization of black women
in Sergipe, the OMIN (Organization of Black Women Maria do Egito). This organization was
founded in 2001, after some black activists identified the need to include the racial and gender
approach in discussions about public policies for the black population. According to Souza
(2012), OMIN aimed to provide counseling to black women, in addition to acting in
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Andréia Teixeira dos SANTOS and Marizete LUCINI
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educational and cultural events and is currently inactive. Domingues and Oliveira (2021)
mention that this organization had links with the State and National Forums of Black Women,
the latter being part of the Articulation of Brazilian Women (AMNB).
Besides OMIN, other organizations within the context of the black movement in
Sergipe contemplate in their agendas the racial gender issue, such as the "Society of Ethnic,
Political, Social and Cultural Studies Omolàiyé", which seeks to contribute to the
empowerment of traditional communities of African matrix in Sergipe, It develops studies
about tradition and afro-descendant culture, besides advising and performing educational and
political actions directed to the defense of human rights, fighting racism and religious
intolerance, promoting the strengthening of identity and self-esteem of these black
communities; The "Oju Ifá Community", that carries out projects and activities in favor of
confronting the problems that affect black youth, besides acting in the promotion of social,
cultural, and educational activities directed to the communities and traditional peoples of
African origin, aiming to combat religious racism and other forms of prejudice; Casa de Mar",
whose work is focused on the interaction with the surrounding community - women, children
and fishermen - developing projects in the areas of culture, education, ecology, sustainability
and citizenship.
Currently made up of 13 members, the black women's collective in question pays
tribute to the struggle of black activist Rejane Maria Pureza do Rosário, an axé woman,
daughter of Ilê Axé Opô Oxogunladê, who died in 2012 and who, during her life, dedicated
herself to defending the rights of black people, to the feminist cause, to spreading capoeira
angola and the participation of women in this sport, and to being a great promoter of Afro-
Brazilian culture and religiosity. Rejane Maria was one of the founders of the Grupo ABAÔ
de Capoeira Angola (Abaô Association of Art, Education and Black Culture), besides having
participated in SACI (Afro-Sergipan Society of Studies and Citizenship), Unegro (Union of
Blacks for Equality) and the Omolàiyé Society of Ethnic, Political, Social and Cultural
Studies.
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The educational potentiality of
“
Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria
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Figure 1
–
Rejane Maria Pureza do Rosário
Source: Facebook Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria (2019)
Gathered from a public call made through social networks, some black women made
up the initial phase of the organization, whose definition of the name occurred later. Guided
by Dorority, defined by Piedade (2017) as the union of black women from the pain caused by
racism, and that also carries in itself the pain caused by machismo, the black women activists
of the "Rejane Maria Self-Organization" perform grassroots work in peripheral communities
and actions with youth in schools, being articulated with other social movements, and
dialoguing with institutions about the condition of black women in Sergipe, aiming to
guarantee public policies to combat social, racial, and gender inequalities in the State of
Sergipe.
The idea of Self-Organization, in the perspective in which Rejane Maria is constituted,
is present in the counter-hegemonic feminism, in which the groups constitute spaces where
women can reflect, dialogue, and, from the knowledge produced in these meetings, build
alternatives that can be put into practice in the course of the fight for social justice, combating
racism, sexism, and lgbtphobia. It is based on learning through collectivity, and represents an
alternative that aims at feminist empowerment and protagonism in social struggles.
As stated in its Charter of Principles, Rejane Maria is not constituted in a hierarchical
way, so it does not have a direction or coordination. All decisions made within the scope of
the Self-Organization are approved collectively, with ample discussion among the members
of the group. The axes in which the Self-Organization acts are: Education, Health, Poverty,
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Andréia Teixeira dos SANTOS and Marizete LUCINI
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10
Labor Market and Social Inequality, Human Rights, Violence, Political Formation, Media and
Culture. From these pillars are organized mobilizations in peripheral communities, in order to
promote discussions about the position of black women within the racist, sexist, classist, and
cisheteronormative society in which we are inserted, and to formulate proposals that can be
presented in moments of dialogue with public and private institutions.
Among the objectives of the Self-Organization, stated in its Letter of Principles, are:
1) To organize black women of the city and countryside of the state of
Sergipe, in order to make their specific demands visible and plead their
rights;
2) To accomplish base works in peripheral communities;
3) To promote actions with the youth in the schools;
4) To establish articulation with other social movements;
5) To dialogue with organs and institutions about the condition of black
women in Sergipe;
6) Develop activities that mark historic dates related to the struggle of black
women (Letter of Principles of the Self-Organization of Black Women of
Sergipe REJANE MARIA, 2014)
The referred Self-organization promotes base works in peripheral communities,
actions with children and youth in schools, acts in municipal and state councils focused on
public policies of racial and gender equality, besides being articulated with other social
movements, pointing out the demands of black women from Sergipe and pleading public
policies that break with racial, class and gender inequalities present in the State.
Educational Spaces of Self-Organization of Black Women Rejane Maria
In this topic, we mark our recognition of the educational spaces of social movements
as different from school learning and the production of academic knowledge, because, as
Brandão (2007, p. 9, our translation) "There is no single form or model of education; the
school is not the only place where it takes place and perhaps not even the best; school
teaching is not its only practice and the professional teacher is not its only practitioner". For
Gohn (2009), to talk about educational processes within social movements implies, therefore,
to have a conception of education divergent from the one that refers to the learning of
"specific contents transmitted through techniques and instruments of the pedagogical process"
(p. 17, our translation). In this sense, we understand social movements in general, and the
black women's movement in particular, as educational environments marked by mobilization
around the struggle for survival and for rights whose pedagogical role is articulated to the
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The educational potentiality of
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discovery and learning of the groups as subjects of rights. For Arroyo (2003, p. 42, our
translation):
Most of the collectives that aggregate and organize themselves in the
struggle for land, space, public services... carry a spontaneous hope in a
world of justice, freedom, equality, and dignity. A hope for another order in
the countryside and in the city, in health and education, in social and
interracial relations... An order governed by other principles, other values,
more generous, more egalitarian. The confrontations in the field of ethics
touch in full the pedagogical theory.
Arroyo (2003) points out that social movements play the pedagogical role of forming
leaders, in addition to contributing to the education of the popular layers of society. They are
spaces where their members learn and constitute new ways of dealing with socioeconomic,
racial, cultural, and political conditions in order to promote social transformations towards
equal rights. For Gomes (2017), social movements are protagonists of social emancipation,
producing and articulating knowledge that emerges from counter-hegemonic groups in
society, acting pedagogically in the construction of social and political relations from the
questioning of what is considered hegemonic.
The Black Women's Movement acts to re-educate society with regard to the
intersection of race and gender. It emerged from the perception of the limitations within the
Black Movement and the Feminist Movement regarding the invisibilization of their
experiences crossed by intersectional oppressions. Thus, black women began to act as
collective subjects, demarcating their experiences and claiming public policies that consider
their demands. For Barbosa (2019), the struggle of black women is related both to their
specificities of race and gender aiming to break the condition of subordination imposed on
them, and to the claim for equality with regard to material conditions, since this collectivity
identifies the existing relationship between subordination and unfair income distribution.
Barbosa (2019) points out that the political participation of black women occurs in two
ways: specific movements of black women, in which the matrices of oppression that cross
their experiences are discussed, and popular movements, in which the participation of black
women is significant, having in the periphery an important field of action. The black women's
collectives enable participants to fight racism, sexism, LGBTphobia, and class prejudice,
helping their members and society to rescue the dignity of black people through the
relationships established with place, body, culture, race, and gender.
In this context, these collectives bring to the center of the discussion the constituent
elements of culture, history, religiosity, and the potentialities of the black population in order
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to re-signify them and make them relevant in the trajectories of those who participate in them.
This movement of deconstruction and construction aims to raise self-confidence, from the
overthrow of negative, subordinating, and dehumanizing stereotypes historically attributed to
the black population in general, and to black women, specifically, and to enable the
appreciation of ethno-racial and gender belonging. It is observed, therefore, in these
communities, the interest in raising awareness about the historical, social formation of the
country, with a view to reexamining the trajectory of black people, treating them as a
founding element of national history and aiming to eradicate the inferiority complex
introjected into their imaginary.
Organized in Movements, black women reverse the social determinisms of
racial and chauvinistic nature and, little by little, manage to break with the
subordinate and inferior positions imposed on them. They break the negative
images about black women that are commonly disseminated in an unequal
society marked by racism and machismo. Thus, they create and recreate
themselves, establish new directions and raise their self-esteem and that of
other black women through their actions and social and political
interventions (SILVA, 2007, p. 196, our translation).
The Black Women's Movement has in education an important path in the construction
and affirmation of identity and in the vindication of rights. Collective articulation is one of the
forms of resistance that these women use to face the structure of Brazilian society, marked by
coloniality, from which racism, sexism, socioeconomic inequalities, patriarchy, and
heteronormativity derive. Like Silva (2007), we understand that black women's organizations
have as one of the most important formative strategies the reconstitution of identity and self-
esteem and, in this sense, throughout their formative process, black women seek to rebuild
themselves individually and collectively, re-signifying their social relations from the
categories of race, gender, class, and sexuality. For Miranda (2018), black women, moved by
an emancipatory perspective, of self-protection and mutual care, organize themselves in
collectives and organizations to collectively resist oppressions and glimpse possibilities of
changing their condition.
Pereira (2016) understands that the black women's movement contributes to the
generation of analytical perspectives and conceptions of social justice, building a social and
political thought that is organized from the intersections of gender and race. For the author,
black activists point to gender, race, and class hierarchies as unjust, since these make it
difficult for racialized groups to have access to basic rights.
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The educational potentiality of
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The pedagogical practices carried out in the scope of black women's collectives relate
to the experiences of their participants facing intersectional discrimination and the consequent
condition of marginalization to which they are submitted. According to Silva (2018), these
practices are based on ancestry, solidarity, welcoming, reflection, and sensitivity and,
moreover, contribute to behavioral changes, with regard to self-acceptance and empowerment
of their attendants, helping to break the subordinate social place and confront racism, sexism,
LGBTphobia, and class prejudice. Lima (2014) states that these women use the markers of
oppression to rebuild in a positive way the representations of themselves, and this constitutes
one of the most relevant strategies to fight against the discriminations that cross them. Black
women's collectives produce discourses to oppose hegemonic discourses, suggesting
alternatives of resistance in search of the extinction of simultaneous (or intersectional)
inequalities that cross them. For Cardoso (2012), this feminist thought is oriented from black-
African references, being classified as decolonial, and aims to transform society by
confronting the various forms of oppression.
In the case of the Rejane Maria Self-Organization, the educational spaces are related to
the political and identity formation of its activists, following the intersectional black feminist
perspective, articulating the categories of race, gender, class, and sexuality. From our
insertion in the group's activities, and from the analysis of the social networks of the Self-
Organization, we were able to identify the following educational moments:
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Figure 2
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Educational Spaces of the Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane
Maria
*
Source: Prepared by the authors
The closed (or internal) meetings are moments when the activities of the Self-
Organization are planned and reflected upon, providing subsidies for the activists' activities in
different institutional and social spaces. In these meetings, the activists study and discuss
texts, ask questions, divide up tasks, review the activities they have carried out in other fields
where they were designated to represent the group, construct documents of interest to the
group (letters and projects, for example), evaluate the open meetings, pointing out
weaknesses, successes and potentialities, and present ideas for organizing events.
The Open Meetings are the moments organized by the activists to hold expanded
discussions with the external public on themes pertinent to the lives of black women within an
intersectional perspective. These meetings also serve to attract and/or welcome women
interested in joining the group. The theme of each open meeting is defined in the closed
meetings and some activists are assigned to provide the logistics of the activity in terms of
disclosure, physical space, reception, guests. As verified in the social networks of the Self-
Organization, throughout these almost eight years of existence, several events were organized
by the activists, in order to discuss issues of interest to black people with emphasis on the
specificities of black women, respecting their class condition, sexuality and gender identity. In
*
Reuniões Fechadas = Closed Meetings; Projetos na comunidade = Projects in the community; Participação em
Conselhos de Igualdade Racial = Participation in Councils of Racial Equality; Participação em Eventos =
Participation in Events; Articulação com outros movimentos sociais = Articulation with other social movements;
Reuniões Abertas = Open Meetings
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the face-to-face meetings, the activists try to consider the demands of the participants who are
mothers. To this end, they prioritize events in places where there is space for women who
want or need to bring their children, in addition to providing recreational activities, such as
film clubbing, prioritizing the screening of films with black protagonists.
In addition to the events held by the group itself, the activists participate in events
organized by other entities, whether of the black movement, the feminist movement, schools,
public and private institutions, among others, in order to address issues relevant to the lives of
black women as: racism, sexism, black feminism, black women in politics, motherhood,
violence, childhood and racism, black aesthetics, self-care, ancestry, social rights, among
other topics, in addition to reporting successful experiences occurred within the Self-
Organization in the spaces where they are invited.
The projects are activities carried out by activists in educational institutions and in
peripheral communities. They are conceived as informative and formative spaces where
experiences are shared, welcoming and professional training occurs, having as target
audience, children, young people and black women, considering the situation of social
fragility experienced widely by black women in the society of Sergipe, in which many of
these women are heads of household. Through the projects, there are conversation rounds,
dissemination of the scientific production of black women from Sergipe and other locations,
recreational workshops, self-care, educational and vocational workshops, guided by the needs
of the communities where the projects will take place.
The activists also help organize and participate in marches of protest and demands
related to the condition of the black population in general and of black women in specific, and
they join in the publication of repudiation notes and in publicizing the activities of other
organizations. The events that the Rejanes organize and participate can be classified as Talk
Rounds, Film Clubs, Workshops and Marches.
The "Rejane Maria Self-Organization" is linked to several black entities at local,
regional and national levels, both to discuss with other black women in networks about the
specificities that cross their existences, and to pressure entities of the Black and Feminist
Movement for a more attentive look at issues related to the intersection of oppressions that
affect black women and put them at a great disadvantage in terms of socioeconomic indices
and violence in the country. Moreover, in the Sergipe State, Rejane Maria's activists have
sought to occupy seats in State and Municipal Councils that deal with racial or gender
equality, taking to these spaces the discussion of the intersectional approach that must be
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considered in the elaboration of public policies, and that is defended by black feminists in
Brazil and in other parts of the world.
Figure 3
–
Institutional Links of the Black Women's Self-organization Rejane Maria
Source: Prepared by the authors
In the pedagogical scope, we observe, in the activities of the "Rejane Maria Self-
Organization", the anchoring in Black Feminist Thought (COLLINS, 2019), for we observe
that there is an articulation between theory and practice, besides the valorization of lived
experience as a starting point for mobilization.In line with Collins' thought (2019), Hooks
(2019) defines that the lived experience of Black women"[...]directly challenges the
prevailing social structure and its sexist, racist, and classist ideology. This lived experience is
capable of shaping our consciousness so as to differentiate from those who enjoy privilege
(albeit relative, within the prevailing system" (HOOKS, 2019, p. 46, our translation). In
addition to valuing experience, we perceive the affirmation of the need to speak for oneself
and understand oneself as a subject which, in turn, leads to a sense of collectivity and
potentiates the importance of articulation, perceiving empowerment as a collective political
act. The activists share and build other ways of being black women in face of negative
stereotypes and the historical subordination to which they are submitted, point out the
weaknesses of the black and feminist movements, and establish the periphery as a priority
place for action.
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The intersectional perspective is evident in the articulations of the group, which is
formed by plural women who understand that it is not necessary to eliminate the differences
between them in order to create bonds of solidarity around the struggle to end the oppressions
that affect them (HOOKS, 2019). Intersectionality, in the context of Rejane Maria's action, is
seen as the perception of the "[...] way in which racism, patriarchy, class oppression, and
other discriminatory systems create basic inequalities that structure the relative positions of
women, races, ethnicities, classes, and others" (CRENSHAW, 2002, p. 177, our translation),
which, in the state of Sergipe, represents the situation of socioeconomic vulnerability to
which black women are subjected.
The black women activists of the "Rejane Maria Self-Organization" build specific
political, identity and esthetic-corporeal knowledge. The political knowledges are related to
the questioning of the sexism existing within the black movement and in other social
movements, and the racism existing within the women's movement (GOMES, 2017). Identity
knowledge is related to the debate of the racial issue and black identity with a position of
affirmation and valorization of black identity. The aesthetic-corporeal knowledges are linked
to the valorization and politicization of black aesthetics, historically inferiorized and
associated with hypersexualization. In addition, the black women of Rejane Maria introduce
in their aquilombing meetings, debates around issues related to quilombola communities,
religious intolerance practiced against religions of African matrix, the genocide of black
youth, the need for greater participation of black women in politics, and the experiences of
black LGBTQIA+ people.
Final remarks
In the wake of Barbosa (2019), we believe that the identity constructions of black
women are permeated by a confluence of oppressions that, in turn, imply the constitution of a
specific social place for black women, marked by dehumanization and inequality, which these
women seek to subvert from a collective articulation around rights.
In the period in which we were inserted in the activities of the "Rejane Maria Self-
Organization", these took place remotely, due to the COVID-19 pandemic. The internal
meetings are held for planning, internal political formation and evaluation of activities, and
the external meetings are held to discuss with people outside the Self-Organization themes
pertinent to the black population, to attract black women to join the group, or even to make
academic research on themes of interest to the black population visible.
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In approaching the educational practices present in the black women's movement we
approach what Scott (2005) calls the equality enigma, considering that this studied
collectivity makes use of a collective identity - of being black women and victims of a matrix
of oppressions that deprive them of basic rights, finding support and solidarity to unite and
claim their inclusion in an equitable manner, intending the status quo in force and
destabilizing structures established for centuries, seeking public policies that contemplate the
specificities of this group.
We understand the space of the Black Women's Self-Organization Rejane Maria as a
producer of a pedagogy of (re)existence that emerges from the experiences of activist black
women, representing a space marked by emancipatory pedagogical practices inserted in the
perspective of Black Feminist Pedagogy, undertaking resistance to the coloniality of power,
being and knowledge, and, above all, fighting the intersectional oppressions of race, gender,
class, and sexuality.
In the aquilombamentos with the Rejanes it is possible to reflect about how the
constitutive experiences of being a woman, present in the pedagogical practices of the Self-
Organization, express characteristics of Black Feminism, while we realize that these practices
can (and do) give rise to developments, such as the execution of other educational actions
beyond the restricted environment of the activists in the group. Thus, we understand the
"Rejane Maria Self-Organization" as proposing alternatives to the Brazilian educational
project, based on Black Feminist Pedagogy to combat racism, sexism, misogyny,
homophobia, transphobia, and social prejudice and to point out possibilities of transformation
towards social justice. We understand that Black Feminist Pedagogy is constituted in the
resistance and in the construction of new possibilities of existing and resisting, presenting
itself as an instrument of emancipation when thinking society from an intersectional
perspective, representing a theoretical, racial, social and gender advance.
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,
Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029. DOI:
https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16765
Submitted
: 10/03/2022
Revisions required
: 16/05/2022
Approved
: 21/07/2022
Published
: 30/09/2022
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