image/svg+xmlA potencialidade educativa da “Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria”RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167651 A POTENCIALIDADE EDUCATIVA DA AUTO-ORGANIZAÇÃO DE MULHERES NEGRAS DE SERGIPE REJANE MARIAEL POTENCIAL EDUCATIVO DE LA AUTOORGANIZACIÓN DE MUJERES NEGRAS DE SERGIPE REJANE MARIATHE EDUCATIONAL POTENTIALITY OF SELF-ORGANIZATION OF BLACK WOMEN OF SERGIPE REJANE MARIAAndréia Teixeira dos SANTOSMarizete LUCINI2RESUMO: Este texto empreende uma reflexão teórica-conceitual sobre a potência educativa da Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria, criada em Aracaju-Sergipe em 2014, a partir do referencial do Feminismo Negro e da Pesquisa Ativista Feminista Negra. Nesta análise, consideramos que as mulheres negras historicamente questionam e apontam soluções com relação às desigualdades raciais, sociais, de gênero e sexualidade, organizadas em movimentos sociais. Movimentos sociais que compreendemos como espaços educativos e de formação política dos seus membros, nos quais a educação está associada a uma práxis pautada em sua insurgência propositiva. Insurgência que está associada à construção de novas epistemologias e políticas públicas que tensionam a estrutura racista, sexista, classista e heteronormativa estruturantes da sociedade brasileira. Nesse sentido, consideramos a potencialidade educativa dos trabalhos de base desenvolvidos pela Auto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria, como movimentos educativos em que se produzem saberes e pedagogias emancipatórios que questionam a sociedade, ao mesmo tempo em que criam estratégias educativas de combate ao racismo, classismo, sexismo e a heteronormatividade. PALAVRAS-CHAVE:Desigualdade. Educação. Feminismo. Racismo. Sexismo. RESUMEN: Este texto emprende una reflexión teórico-conceptual sobre el poder educativo de la Autoorganización de Mujeres Negras de Sergipe Rejane Maria, creada en Aracaju-Sergipe en 2014, a partir del referente del Feminismo Negro y la Investigación Activista Feminista Negra. En este análisis, consideramos que las mujeres negras históricamente cuestionan y señalan soluciones en relación a las desigualdades raciales, sociales, de género y de sexualidad, organizadas en movimientos sociales. Movimientos sociales que entendemos como espacios educativos y de formación política de sus integrantes, en los que la educación se asocia a una praxis basada en su proposición insurgente. Insurgencia que está asociada a la construcción de nuevas epistemologías y políticas públicas que acentúan la estructura Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão SE Brasil. Professora de Educação Básica na rede Estadual de Sergipe. Doutoranda em Educação (UFS). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3114-2349. E-mail: deia.teixeira.s@gmail.com 2Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão SE Brasil. Professora Associada II. Doutorado em Educação (UNICAMP). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1532-8968. E-mail: marizetelucini@gmail.com
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167652 racista, sexista, clasista y heteronormativa de la sociedad brasileña. En ese sentido, consideramos el potencial educativo de los trabajos de base desarrollado por la Autoorganización de Mujeres Negras de Sergipe Rejane Maria, como movimientos educativos en que se producen conocimientos y pedagogías emancipadoras que cuestionan la sociedad, a la vez que se crea estrategias educativas para combatir el racismo, el clasismo, el sexismo y la heteronormatividad. PALABRAS CLAVE:Desigualdad. Educación. Feminismo. Racismo. Sexismo. ABSTRACT: This paper undertakes a theoretical-conceptual reflection on the educational power of the Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria, established in Aracaju-Sergipe in 2014, from the referential of Black Feminism and Black Feminist Activist Research. In this analysis we consider that black women historically question and point solutions regarding racial, social, gender and sexuality inequalities, organized in social movements. Social movements that we understand as spaces for education and political training of their members, in which education is associated with a praxis based on their propositional insurgency. Insurgence that is associated with the construction of new epistemologies and public policies that challenge the racist, sexist, classist, and heteronormative structure structuring Brazilian society. In this sense, we consider the educational potential of the grassroots work developed by the Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria, as educational movements in which emancipatory knowledge and pedagogies are produced that question society, while creating educational strategies to combat racism, classism, sexism and heteronormativity. KEYWORDS:Inequality. Education. Feminism. Racism. Sexism.Caminhos que nos levaram ao quilombo Rejane Maria A pandemia da COVID-19 e o isolamento social decorrente da incontrolável proliferação do vírus se apresentou como um desafio e, no caso de muitos pós-graduandos, gerou a necessidade de repensar objetos e metodologias de pesquisa. Esse foi o caso de nossa pesquisa, que teria como temática central a análise de práticas pedagógicas antirracistas em uma escola quilombola. Sendo assim, um trabalho que havia, a priori, sido pensado para desenvolvimento em ambiente escolar teve que ser modificado para que fosse possível realizar atividades de campo na forma remota. No processo de modificação da temática de pesquisa, e inspirada por encontros e reencontros com produções de intelectuais negras iniciado em 2020, ainda antes da pandemia, com a leitura do livro “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves, o tema de pesquisa foi repensado no sentido de dar protagonismo a escrevivências de mulheres negras.
image/svg+xmlA potencialidade educativa da “Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria”RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167653 O termo quilombo, utilizado no título desta seção, e a partir do qual compreendemos esta Auto-Organização de Mulheres Negras, está relacionado ao pensamento da historiadora e ativista sergipana Beatriz Nascimento (2018), para quem o quilombo se constitui a partir da necessidade humana de se organizar de uma forma específica diferente da que fora estabelecida de forma arbitrária pelo colonizador e se torna uma possibilidade de existência e (re)existência em tempos de destruição. Assim, nos encontros possibilitados pelas leituras e pelo acesso a publicações nas redes sociais, nos aproximamos das experiências da Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Mariaem diálogo com as pedagogias de (re)existência construídas nesta coletividade. A pesquisa em andamento está fundamentada no Feminismo Negro e nos estudos decoloniais, tendo como referencial metodológico a Pesquisa Ativista Feminista Negra (LEMOS, 2016a). A partir de nossa inserção efetiva nas atividades da Auto-Organização e das narrativas das mulheres negras ativistas, identificamos o ativismo das mulheres negras sergipanas e sua contribuição na construção de epistemologias que questionam a estrutura colonial do conhecimento. Neste texto, apresentamos os caminhos teórico-metodológicos que tem nos auxiliado na observação e análise das pedagogias de (re)existência produzidas por estas mulheres no contexto de enfrentamento ao racismo, classismo, sexismo e lgbtfobia. A leitura da obra O movimento negro educador: Saberes construídos nas lutas por emancipação” de Gomes (2017)foi ponto crucial no desenho da pesquisa. A autora aponta o Movimento Negro como protagonista no que se refere à relação entre o povo preto e o Estado, organizando e sistematizando saberes específicos construídos dentro do ativismo e que não são reconhecidos pelo campo da Educação e de outras ciências que, por sua vez, transformam esses saberes em ausências ou inexistência através do epistemicídio. A defesa da importância do movimento negro enquanto ator político “que constrói, sistematiza, articula saberes emancipatórios produzidos pela população negra ao longo da história social, política, cultural e educacional brasileira” (GOMES, 2017, p. 24) foi uma importante inspiração para que pudéssemos pensar em atividades do movimento de mulheres negras em Sergipe, de forma geral, e da Auto-Organização Rejane Maria, em específico, como um campo de pesquisa possível. Gomes (2017, p. 23-24) define o Movimento Negro como: [...] as mais diversas formas de organização e articulação das negras e dos negros politicamente posicionados na luta contra o racismo e que visam à superação desse perverso fenômeno na sociedade. Participam dessa definição os grupos políticos, acadêmicos, culturais, religiosos e artísticos
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167654 com o objetivo explícito de superação do racismo e da discriminação racial, de valorização e afirmação da história e da cultura negras no Brasil, de rompimento com as barreiras racistas impostas aos negros e às negras na ocupação dos diferentes espaços e lugares na sociedade. Trata-se de um movimento que não se reporta de forma romântica à relação entre os negros brasileiros, a ancestralidade africana e o continente africano da atualidade, mas reconhece os vínculos históricos, políticos e culturais dessa relação, compreendendo-a como integrante da complexa diáspora africana. Portanto, não basta apenas valorizar a presença e a participação dos negros na história, na cultura e louvar a ancestralidade negra e africana para que um coletivo seja considerado como movimento negro. É preciso que nas ações desse coletivo se faça presente e de forma explícita uma postura política de combate ao racismo. Postura essa, que não nega os possíveis enfrentamentos no contexto de uma sociedade hierarquizada, patriarcal, capitalista, LGBTfóbica e racista. O Movimento Negro, portanto, contribui na produção de um conhecimento que emerge de sua luta por reconhecimento do povo preto como sujeito de direitos, pautando discussões sobre racismo e superação do mito da democracia racial, desigualdade socioeconômica, violência, políticas públicas em saúde e educação, intolerância religiosa, questões quilombolas, dentre outras temáticas e, além de educar seus ativistas, educa também a sociedade no caminho do antirracismo. Os saberes emancipatórios produzidos pelo Movimento Negro estão, portanto, relacionados à vivência da raça numa sociedade que estabeleceu a hierarquização racial como eixo fundante. Com relação ao Movimento de Mulheres Negras, do qual a Auto-Organização Rejane Maria faz parte, Gomes (2020, p. 36-37) afirma que: [...] merece destaque quando refletimos sobre os saberes políticos. A ação das ativistas negras constróisaberes e aprendizados políticos, identitários e estéticos-corpóreos específicos. As ativistas negras indagam o machismo dentro do próprio Movimento Negro e desafiam os homens ativistas a repensarem, mudarem de postura e de atitude nas suas relações políticas e pessoais com as mulheres. Denunciam a violência machista dentro do próprio Movimento Negro e demais movimentos sociais, nas relações domésticas, nas disputas internas quer sejam no emprego, nos movimentos, nos sindicatos e nos partidos. Elas reeducam o próprio feminismo, aos homens e mulheres brancos, de outros pertencimentos étnico-raciais e a elas mesmas. Além da contribuição teórica de Nilma Lino Gomes, a pesquisa que estamos desenvolvendo, está vinculada ao Pensamento Feminista Negro e aos Estudos Decoloniais. O Pensamento Feminista Negro, surgido a partir de experiências e do ponto de vista de mulheres negras, é definido por Collins (2019) como um conjunto de tradições intelectuais feministas negras específicas, embora heterogêneas, criadas através do lugar social que as mulheres
image/svg+xmlA potencialidade educativa da “Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria”RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167655 negras ocupam enquanto coletividade. Trata-se de um conjunto de tradições que nasce da tensão dialética entre a opressão sofrida pelas mulheres negras e seu ativismo (COLLINS, 2019). O Pensamento Feminista Negro atua no sentido de produzir soluções para os problemas enfrentados pela população negra, servindo como uma possibilidade de emancipação e promoção da justiça social. No campo da Educação, o Pensamento Feminista Negro pode ser percebido como um mote de resistência que surge nas margens da educação colonizadora, se constituindo em uma práxis que visa intervir na realidade social. Compreendemos que o Feminismo Negro é educador e atua no sentido de reeducar o feminismo hegemônico e o movimento negro, a fim de que estes contemplem as diversas formas de ser mulher e o peso das opressões de raça, classe, gênero e sexualidade na vida de todas as mulheres, reconhecendo as especificidades das mulheres negras. Nesse sentido, o Feminismo Negro contribui tanto no que se refere às discussões sobre racismo quanto aos estudos feministas, sendo importante para tensionar categorias até então tidas como universais e desafiando ambos os campos do conhecimento a incluir em suas produções as especificidades que permeiam as escrevivências de mulheres negras. Atravessadas por questões, como o genocídio negro, o feminicídio e dificuldades pertinentes à escolarização e inserção no mercado de trabalho, além do epistemicídio e toda a histórica desumanização que atinge os povos racializados, intelectuais negras passaram a publicar estudos relacionados a raça, gênero e classe como pilares para a efetivação do pensamento feminista negro no espaço acadêmico. O Feminismo Negro e o Feminismo Decolonial são importantes aportes teórico-metodológicos que nos auxiliam a compreender as escrevivências de mulheres negras ativistas sergipanas, considerando a existência de um sistema moderno/colonial de gênero (LUGONES, 2008) que inferioriza, violenta e invisibiliza as mulheres racializadas e que produz desigualdades que se refletem nos índices socioeconômicos do país e colocam as mulheres negras em posição de vulnerabilidade.Tanto o Feminismo Negro quanto o Feminismo decolonial são alternativas para romper os silêncios epistêmicos que foram produzidos pela ciência moderna colonial que inferiorizou, estereotipou e ignorou muitas vozes, inclusive as vozes das mulheres negras em luta. Além disso, ambos os movimentos epistemológicos denunciam limitações existentes no feminismo hegemônico e possuem uma dimensão prática, voltada para a transformação social. Miñoso (2020), ao denunciar o compromisso do feminismo hegemônico com a modernidade, afirma que a prática feminista subalterna aponta o dispositivo da colonialidade
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167656 como estruturante daquilo que ela denomina de razão feminista e propõe um conhecimento situado que parte da experiência, algo que é bastante evidenciado nos estudos que abordam trajetórias de mulheres negras. Esse contraponto também é trazido por Bairros (1995), ao pontuar que existem vertentes do feminismo que tentam definir o sujeito mulher com base em experiências tidas como universais e sinalizar que o Feminismo Negro se mostra como um interessante aporte epistemológico para se pensar no conjunto de experiências e ideias compartilhadas por mulheres negras tanto afro-americanas como brasileiras, cujas existências são marcadas por uma matriz de dominação onde raça, gênero e classe se interceptam em diferentes pontos (BAIRROS, 1995, p. 46). Do ponto de vista dos estudos que abordam as escrevivências de mulheres negras, destacamos a importância da interseccionalidade (CRENSHAW, 2002) como conceito e ferramenta metodológica que permite a articulação entre as categorias de raça, gênero, classe e sexualidade como formas de opressão que atingem as existências de negras, negros e negres, bem como a importância da decolonialidade como aporte epistemológico possível pra se pensar as existências dos corpos historicamente subalternizados pelo colonialismo, capitalismo, racismo e sexismo. Dito isto, importa indicar que nossa pesquisa tem como objetivo compreender o processo de formação política de mulheres negras ativistas do Estado de Sergipe, tendo como espaço de convivência e afeto, a Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria, criada em 2014 na cidade de Aracaju. Nesse sentido, consideramos como ponto de partida o movimento de mulheres negras como sujeito político produtor e produto de experiências que ressignificam a questão étnico-racial (GOMES, 2017), de gênero, classe e sexualidade. Os caminhos da pesquisa estão seguindo a perspectiva de identificar como se dão os processos formativos que unem e mobilizam mulheres negras com vistas a questionar estruturas racistas, sexistas, classistas e heteronormativas presentes em nossa sociedade. A reflexão sobre práticas educativas geradas e experenciadas no movimento de mulheres negras tem mobilizado a construção desta pesquisa. Estamos observando experiências educativas envolvidas no processo de formação política de mulheres negras que vislumbram a militância como uma alternativa de sobrevivência em meio a uma realidade que historicamente discrimina, marginaliza e oprime pessoas negras, reproduzindo práticas racistas e sexistas iniciadas no período colonial brasileiro.
image/svg+xmlA potencialidade educativa da “Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria”RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167657 No campo metodológico, a pesquisa que estamos desenvolvendo segue a perspectiva da Pesquisa Ativista Feminista Negra, classificada por Lemos (2020, p. 29) como uma metodologia que: [...] prima pelo registro do protagonismo de ativistas no desenvolvimento de suas ações, cujo objeto investigado emerge das trocas de saberes e da ação no ativismo feminista negro, no ativismo no movimento de mulheres negras que tem se configurado, ao longo dos anos, como a seara da disputa por justiça de gênero, de raça, de classe, de identidade sexual, justiça distributiva, dentre outras. A Pesquisa Ativista Feminista Negra é uma “metodologia de pesquisa centrada no ativismo do feminismo negro” (LEMOS, 2020, p. 19), que “tem o compromisso político em registrar, coletivamente, transformações locais e as intervenções radicais na sociedade realizadas por, para e com mulheres negras visando transformações e erradicação das opressões, e em busca do Bem Viver” (LEMOS, 2020, p. 28). Rosália Lemos define que a Pesquisa Ativista Feminista Negra reúne vários recursos metodológicos, com vistas a produzir um determinado tipo de conhecimento, surgido dentro do feminismo negro, em que o processo de construção dos saberes ocorre através da parceria com as colaboradoras da pesquisa, viabilizando o encontro entre a pesquisadora ativista com o ativismo das colaboradoras, num processo de retroalimentação.Esta metodologia tem como foco “registrar, coletivamente, transformações locais e as intervenções radicais na sociedade realizadas por, para e com mulheres negras visando a erradicação das opressões” (LEMOS, 2020, p. 29). Tal viés de pesquisa demanda contínuo processo de “observação, participação, implicação, imersão, interação, e vivência intensa antes, durante e depois do estudo de campo.” (LEMOS, 2020, p. 29). Compreendemos a Auto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Mariacomo um quilombo, pois nesta coletividade existe uma união entre iguais que estão constituindo formas de resistência cultural e racial, que vem possibilitando a criação de uma comunidade que se fortalece internamente e, ao mesmo tempo, atua dentro da sociedade que oprime os corpos negros. Nossa pesquisa, construída com as ativistas da Auto-Organização de Mulheres Negras Rejane Maria, se articula em torno do ativismo político de mulheres negras e seus anseios por políticas públicas que as alcancem e promovam justiça social, intencionando também visibilizar as potencialidades educativas existentes nas articulações empreendidas por mulheres negras com vistas a combater as desigualdades raciais, sociais e de gênero que circundam suas escrevivências.
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167658 A Auto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane MariaA Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Mariasurgiu em outubro de 2014, reunindo diversas mulheres negras, com realidades distintas e com o objetivo de construir uma frente de luta para reivindicar as demandas de mulheres negras de Sergipe, considerando os diversos marcadores sociais - classe, raça, gênero e sexualidade que atravessam suas escrevivências. Nesse contexto, se pensou em articular mulheres negras da cidade e do campo, num estado em que cerca de 80% da população é negra, a fim de visibilizar demandas especificas e pleitear direitos da comunidade negra, em especial às mulheres, dentro de uma perspectiva interseccional. Antes da criação da Rejane Maria, havia em Sergipe outra organização de mulheres negras em Sergipe, a OMIN (Organização de Mulheres Negras Maria do Egito). Esta foi fundada no ano de 2001, a partir da identificação, por parte de algumas ativistas negras, da necessidade de incluir o recorte racial e de gênero nas discussões sobre políticas públicas para a população negra. De acordo com Souza (2012), a OMIN tinha como objetivo prestar assessoria a mulheres negras, além de atuar em eventos educativos e culturais e atualmente encontra-se inativada. Domingues e Oliveira (2021) mencionam que a referida organização tinha ligações com os Fóruns Estadual e Nacional de Mulheres Negras, este último inserido na Articulação de Mulheres Brasileiras (AMNB). Além da OMIN, outras organizações inseridas no contexto do movimento negro sergipano contemplam em suas pautas o recorte racial de gênero, a exemplo da Sociedade de Estudos Étnicos, Políticos, Sociais e Culturais Omolàiyé, que busca contribuir para o empoderamento das comunidades tradicionais de matrizes africanas em Sergipe, desenvolvendo estudos sobre tradição e cultura afrodescendente, além de prestar assessoria e realizar ações educativas e políticas direcionadas à defesa dos direitos humanos, combate ao racismo e à intolerância religiosa, promovendo o fortalecimento da identidade e autoestima dessas comunidades negras; da Comunidade Oju Ifá, que realiza projetos e atividades em prol do enfrentamento dos problemas que atingem a juventude negra, além de atuar na promoção de atividades sociais, culturais e educativas voltadas para as comunidades e aos povos tradicionais de matriz africana visando o combate ao racismo religioso e outras formas de preconceito; da Casa de Mar, cujos trabalhos estão voltados para a interação com a comunidade do seu entorno - mulheres, Crianças e pescadores - desenvolvendo projetos nas áreas de cultura, educação, ecologia, sustentabilidade e cidadania; da Frente Estadual pelo Desencarceramento de Sergipe, ligada à Agenda Nacional pelo Desencarceramento e da
image/svg+xmlA potencialidade educativa da “Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria”RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167659 Rede de Mulheres Negras de Sergipe, que busca articular e fortalecer coletivos de mulheres negras do Estado e reivindicar políticas públicas de combate ao racismo, sexismo e lesbofobia. Constituído atualmente por 13 integrantes, o coletivo de mulheres negras em questão homenageia a trajetória de luta da militante negra Rejane Maria Pureza do Rosário, uma mulher de axé, filha do Ilê Axé Opô Oxogunladê, falecida no ano de 2012 e que, durante sua vida, dedicou-se à defesa dos direitos das pessoas negras, da causa feminista, difundindo a capoeira angola e a participação das mulheres nesse esporte, e sendo também grande incentivadora da cultura e da religiosidade afro-brasileiras. Rejane Maria foi uma das fundadoras do Grupo ABAÔ de Capoeira Angola (Associação Abaô de Arte, Educação e Cultura Negra), além de ter participado do SACI (Sociedade Afro-Sergipana de Estudos e Cidadania), da Unegro (União dos Negros pela Igualdade) e da Sociedade de Estudos Étnicos, Políticos, Sociais e Culturais Omolàiyé. Figura 1 Rejane Maria Pureza do Rosário Fonte: Facebook Auto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria (2019) Reunidas a partir de um chamamento público realizado através das redes sociais, algumas mulheres negras compuseram a fase inicial da organização, cuja definição do nome ocorreu posteriormente. Pautada pela Dororidade, definida por Piedade (2017) como a união das mulheres negras a partir da dor causada pelo racismo, e que carrega em si também a dor causada pelo machismo, as mulheres negras ativistas da Auto-Organização Rejane Maria
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676510 realizam trabalhos de base em comunidades periféricas e ações com a juventude nas escolas, estando articuladas com outros movimentos sociais, e dialogando com as instituições sobre a condição das mulheres negras sergipanas, com vistas a garantir políticas públicas voltadas para o combate às desigualdades sociais, raciais e de gênero no Estado de Sergipe. A ideia de Auto-Organização, na perspectiva em que a Rejane Maria se constitui, está presente no feminismo contra hegemônico, no qual os grupos se constituem em espaços onde as mulheres podem refletir, dialogar e, a partir dos saberes produzidos nesses encontros, construir alternativas que possam ser postas em práticas no decorrer da luta por justiça social, combate ao racismo, sexismo e lgbtfobia. Tem como base a aprendizagem por meio da coletividade, e representa uma alternativa que visa o empoderamento e o protagonismo feminismo nas lutas sociais. Conforme indicado em sua Carta de Princípios, a Rejane Maria não é constituída de forma hierarquizada, por isso não apresenta uma direção ou coordenação. Todas as decisões tomadas no âmbito da Auto-Organização são aprovadas coletivamente, havendo ampla discussão entre as integrantes do grupo. Os eixos nos quais a Auto-Organização atua são: Educação, Saúde, Pobreza, Mercado de trabalho e Desigualdade social, Direitos Humanos, Violência, Formação política, Mídia e Cultura. A partir desses pilares são organizadas as mobilizações em comunidades periféricas, com vistas a promover discussões sobre a posição da mulher negra dentro da sociedade racista, sexista, classista e cisheteronormativa em que estamos inseridas, e formular proposituras que possam ser apresentadas em momentos de diálogo com instituições públicas e privadas. Dentre os objetivos da Auto-Organização, dispostos em sua Carta de Princípios estão: 1) Organizar as mulheres negras da cidade e do campo, do Estado de Sergipe, de modo a visibilizar suas demandas específicas e pleitear seus direitos; 2) Realizar trabalhos de base em comunidades periféricas; 3) Promover ações com a juventude nas escolas; 4) Estabelecer a articulação com outros movimentos sociais; 5) Dialogar com órgãos e instituições sobre a condição das mulheres negras sergipanas; 6) Desenvolver atividades que demarquem datas históricas relacionadas a luta das mulheres negras (Carta de Princípios da AUTO-ORGANIZAÇÃO DE MULHERES NEGRAS DE SERGIPE REJANE MARIA, 2014) A referida Auto-organização promove trabalhos de base em comunidades periféricas, ações com crianças e com a juventude em escolas, atua em Conselhos municipais e estaduais voltados para políticas públicas de igualdade racial e de gênero, além de estar articulada com
image/svg+xmlA potencialidade educativa da “Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria”RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676511 outros movimentos sociais, pontuando demandas das mulheres negras sergipanas e pleiteando políticas públicas que rompam com as desigualdades racial, de classe e de gênero presentes no Estado. Espaços educativos da Auto-organização de Mulheres Negras Rejane Maria Neste tópico demarcamos nosso reconhecimento dos espaços educacionais dos movimentos sociais como diferentes da aprendizagem escolar e da produção de conhecimento acadêmico, pois, assim como nos ensina Brandão (2007, p. 9), “Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática e o professor profissional não é o seu único praticante”.Para Gohn (2009), falar de processos educativos dentro dos movimentos sociais implica, portanto, em ter uma concepção de educação divergente daquela que remete ao aprendizado de “conteúdos específicos transmitidos através de técnicas e instrumentos do processo pedagógico” (p.17). Nesse sentido, compreendemos os movimentos sociais de uma forma geral, e o movimento de mulheres negras, em específico, como ambientes educativos marcados pela mobilização em torno da luta pela sobrevivência e por direitos cujo papel pedagógico está articulado à descoberta e aprendizagem dos grupos como sujeitos de direito. Para Arroyo (2003, p. 42): A maioria dos coletivos que se agregam e organizam na luta pela terra, o espaço, os serviços públicos...carregam uma esperança espontânea em um mundo de justiça, de liberdade, igualdade e dignidade. Uma esperança de uma outra ordem no campo e na cidade, na saúde e na educação, nas relações sociais e inter-raciais... Uma ordem regida por outros princípios, outros valores, mais generosos, mais igualitários. Os confrontos no campo da ética tocam em cheio a teoria pedagógica. Arroyo (2003) aponta que os movimentos sociais desempenham o papel pedagógico de formar lideranças, além de contribuir para a educação das camadas populares da sociedade. São espaços onde os seus integrantes aprendem e constituem novas maneiras de lidar com as condições socioeconômicas, raciais, culturais e políticas com vistas a promover transformações sociais no sentido da igualdade de direitos. Para Gomes (2017), os movimentos sociais são protagonistas da emancipação social, produzindo e articulando saberes que emergem de grupos contra hegemônicos da sociedade, atuando pedagogicamente na construção das relações sociais e políticas a partir da indagação do que é tido como hegemônico.
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676512 O Movimento de Mulheres Negras atua no sentido da reeducação da sociedade no que se refere à intersecção de raça e gênero. Ele surge a partir da percepção das limitações existentes dentro do Movimento Negro e do Movimento Feminista, no que se refere à invisibilização de suas experiências atravessadas pelas opressões interseccionais. Sendo assim, as mulheres negras passaram a atuar como sujeitos coletivos, demarcando suas experiências e reivindicando políticas públicas que considerem suas demandas. Para Barbosa (2019), a luta das mulheres negras está relacionada tanto às suas especificidades de raça e gênero visando o rompimento da condição de subalternidade que lhes é imposta, quanto à reivindicação por igualdade no que se refere às condições materiais, uma vez que esta coletividade identifica a relação existente entre subalternização e injusta distribuição de renda. Barbosa (2019) aponta que a participação política das mulheres negras ocorre em duas vertentes: os movimentos específicos de mulheres negras, em que se discutem as matrizes de opressão que atravessam suas experiências, e os movimentos populares, em que a participação de mulheres negras é significativa, tendo na periferia um importante campo de atuação. Os coletivos de mulheres negras instrumentalizam as participantes para combater o racismo, o machismo, a lgbtfobia e o preconceito de classe, auxiliando suas integrantes e a sociedade no resgate da dignidade do povo preto mediante as relações estabelecidas com o lugar, o corpo, a cultura, a raça e o gênero. Nesse contexto, estes coletivos trazem para o centro da discussão os elementos constituintes da cultura, da história, da religiosidade e das potencialidades da população negra de forma a ressignificá-los e torná-los relevantes nas trajetórias de quem deles participam. Esse movimento de desconstrução e construção visa suscitar a autoconfiança, a partir da derrubada de estereótipos negativos, subalternizantes e desumanizantes historicamente atribuídos à população negra de uma forma geral, e às mulheres negras, em específico, e possibilitar a valorização do pertencimento étnico-racial e de gênero. Observa-se, portanto, nestas coletividades, o interesse em conscientização sobre a formação histórica, social do país, com vistas a reexaminar a trajetória do povo negro, tratando como um elemento fundante da história nacional e vislumbrando erradicar o complexo de inferioridade introjetado em seu imaginário. Organizadas em Movimentos, as mulheres negras revertem os determinismos sociais de cunho racial e machista e, aos poucos, conseguem romper com as posições subalternas e inferiores a elas impostas. Quebram as imagens negativas acerca das mulheres negras comumente difundidas em uma sociedade desigual, marcada pelo racismo e pelo machismo. Assim, criam e se recriam, estabelecem novos rumos e elevam sua auto-estima e a
image/svg+xmlA potencialidade educativa da “Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria”RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676513 de outras mulheres negras por meio de suas ações e intervenções sociais e políticas (SILVA, 2007, p. 196) O Movimento de Mulheres Negras tem na educação um importante caminho na construção e afirmação identitária e na reivindicação de direitos. A articulação coletiva é uma das formas de resistência que estas mulheres utilizam para enfrentar a estrutura da sociedade brasileira, marcada pela colonialidade, da qual decorrem o racismo, o sexismo, as desigualdades socioeconômicas, o patriarcado e a heteronormatividade. Assim como Silva (2007), compreendemos que as organizações de mulheres negras têm como uma das mais importantes estratégias formativas a reconstituição da identidade e da autoestima e, nesse sentido, ao longo de seu processo formativo, as mulheres negras buscam se reconstruir individual e coletivamente, ressignificando suas relações sociais a partir das categorias de raça, gênero, classe e sexualidade. Para Miranda (2018), as mulheres negras, movidas por uma perspectiva emancipatória, de autoproteção e cuidado mútuo, se organizam em coletivos e organizações para resistir coletivamente às opressões e vislumbrar possibilidades de mudança de sua condição. Pereira (2016) compreende que o movimento de mulheres negras contribui para a geração de perspectivas analíticas e concepções de justiça social, edificando um pensamento social e político que se organiza a partir das interseções de gênero e raça. Para a autora, as ativistas negras apontam as hierarquias de gênero, raça e classe como injustas, uma vez que estas dificultam o acesso a direitos básicos pelos grupos racializados. As práticas pedagógicas realizadas no âmbito dos coletivos de mulheres negras se relacionam às escrevivências de suas participantes frente as discriminações interseccionais e a consequente condição de marginalização a qual são submetidas. De acordo com Silva (2018), estas práticas são pautadas na ancestralidade, solidariedade, acolhimento, reflexão e sensibilidade e, além disso, contribuem para mudanças comportamentais, no que se refere a autoaceitação e empoderamento de suas frequentadoras, auxiliando no rompimento do lugar social subalterno e no enfrentamento do racismo, sexismo, lgbtfobia e preconceito de classe. Lima (2014) afirma que essas mulheres utilizam os marcadores de opressão para reconstruir de forma positiva as representações de si, e isso constitui uma das estratégias mais relevantes de luta contra as discriminações que as atravessam. Os coletivos de mulheres negras produzem discursos para se contrapor aos discursos hegemônicos, sugerindo alternativas de resistência em busca da extinção das desigualdades simultâneas (ou interseccionais) que as atravessam. Para Cardoso (2012), este pensamento feminista se orienta a partir de referenciais
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676514 negro-africanos sendo classificado como decolonial, e visa transformar a sociedade através do enfrentamento a diversas formas de opressão. No caso da Auto-Organização Rejane Maria, os espaços educativos estão relacionados à formação política e identitária de suas ativistas, seguindo a perspectiva feminista negra interseccional, articulando as categorias de raça, gênero, classe e sexualidade. A partir de nossa inserção nas atividades do grupo, e da análise das redes sociais da Auto-Organização, conseguimos identificar os seguintes momentos educativos: Figura 2 Espaços Educativos da Auto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria Fonte: Elaborado pelas autoras As Reuniões fechadas (ou internas) são os momentos em que são planejadas e refletidas as atividades da Auto-Organização, fornecendo subsídio para a atuação das ativistas em diferentes espaços institucionais e de convivência social. Nestas reuniões, as ativistas realizam estudo e discussão de textos, tiram dúvidas, dividem tarefas, fazem repasses das atividades que realizaram em outros campos de atuação ao qual foram designadas para representar o grupo, constroem documentos de interesse do grupo (cartas e projetos, por exemplo), realizam avaliação das reuniões abertas, pontuando fragilidades, acertos e potencialidades e apresentam ideias para organização de eventos, divulgam eventos para participação e/ou contribuição do grupo. As Reuniões abertas são os momentos organizados pelas ativistas para realizar discussões ampliadas com o público externo sobre temas pertinentes às escrevivências de mulheres negras dentro de uma perspectiva interseccional. Estas reuniões também servem
image/svg+xmlA potencialidade educativa da “Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria”RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676515 para atrair e/ou recepcionar mulheres interessadas em integrar o grupo. O tema de cada reunião aberta é definido nas reuniões fechadas e algumas ativistas são designadas para providenciar a logística da atividade no que se refere a divulgação, espaço físico, acolhimento, convidados. Conforme verificado nas redes sociais da Auto-Organização, ao longo desses quase oito anos de existência, foram organizados vários eventos pelas ativistas, com o intuito de debater temáticas de interesse do povo preto com o destaque para as especificidades das mulheres negras, respeitando sua condição de classe, sexualidade e identidade de gênero. Nas reuniões presenciais, as ativistas buscam considerar as demandas das participantes que são mães. Para isto, priorizam promover os eventos em locais onde haja espaço para as mulheres que queiram ou precisem levar seus filhos, além de providenciarem atividades lúdicas, a exemplo do Cineclubismo, priorizando a exibição de filmes com protagonistas negros. Além dos eventos realizados pelo próprio grupo, as ativistas participam de eventos organizados por outras entidades, sejam elas do movimento negro, do movimento feminista, escolas, instituições públicas e privadas, dentre outras, com vistas a abordar temas pertinentes às escrevivências de mulheres negras como: racismo, sexismo, feminismo negro, mulheres negras na política, maternidade, violências, infância e racismo, estética negra, autocuidado, ancestralidade, direitos sociais, dentre outros temas, além de relatar experiências exitosas ocorridas dentro da Auto-Organização nos espaços onde são convidadas. Os projetos são atividades realizadas pelas ativistas em instituições de ensino e em comunidades periféricas. São idealizados como espaços informativos e formativos onde ocorre partilha de experiências, acolhimento e capacitação profissional, tendo como público-alvo, crianças, jovens e mulheres negras, considerando a situação de fragilidade social experimentada amplamente por mulheres negras na sociedade sergipana, em que muitas dessas mulheres são chefes de família. Por meio dos projetos são realizadas rodas de conversa, divulgação da produção científicas de mulheres negras sergipanas e de outras localidades, oficinas lúdicas, de autocuidado, educativas e profissionalizantes, pautadas pelas necessidades das comunidades onde ocorrerá o desenvolvimento dos projetos. As ativistas também auxiliam na organização e participam de marchas de protesto e reivindicação relacionadas à condição da população negra de uma forma geral e da mulher negra em específico, e se somam na publicação de notas de repúdio e divulgação de atividades de outras organizações. Os eventos que as Rejanes organizam e participam podem ser classificados em: Rodas de Conversa, Cineclube, Oficinas e Marchas.
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676516 A Auto-Organização Rejane Mariase vincula a diversas entidades negras no âmbito local, regional e nacional, tanto para discutir com outras mulheres negras em rede sobre as especificidades que atravessam as suas existências, quanto para pressionar entidades do Movimento Negro e Feminista por um olhar mais atento às questões pertinentes à intersecção de opressões que atingem as mulheres negras e as colocam em grande desvantagem no que diz respeito aos índices socioeconômicos e da violência no país. Além disso, no âmbito do Estado de Sergipe, as ativistas da Rejane Maria têm buscado ocupar assentos em Conselhos Estaduais e Municipais que versam sobre igualdade racial ou de gênero, levando para esses espaços a discussão do recorte interseccional que deve ser considerado na elaboração de políticas públicas, e que é defendido pelas feministas negras no Brasil e em outras partes do mundo. Figura 3 Ligações Institucionais da Auto-organização de Mulheres Negras Rejane Maria Fonte: Elaborado pelas autoras No âmbito pedagógico, observamos, nas atividades da Auto-Organização Rejane Maria, a ancoragem no Pensamento Feminista Negro (COLLINS, 2019), por observarmos que há uma articulação entre teoria e prática, além da valorização da experiência vivida como um ponto de partida para a mobilização. Em consonância com o pensamento de Collins (2019), Hooks (2019) define que a experiência vivida pelas mulheres negras [...]desafia diretamente a estrutura social vigente e sua ideologia sexista, racista e classista. Essa experiência vivida é capaz de moldar nossa consciência de modo a diferenciar daqueles que
image/svg+xmlA potencialidade educativa da “Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria”RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676517 gozam de privilégios (ainda que relativos, dentro do sistema vigente” (HOOKS, 2019, p. 46). Além da valorização da experiência, percebemos a afirmação da necessidade de falar por si e se compreender como sujeito o que, por sua vez, leva ao senso de coletividade e potencializa a importância da articulação, percebendo o empoderamento como um ato político coletivo. Além disso, as ativistas têm buscado estabelecer um paralelo entre suas escrevivências e as produções de intelectuais negras, num movimento de reconexão com as tradições intelectuais subjugadas como base para refletir sobre suas escrevivências. As ativistas compartilham e constroem outras formas de ser mulher negra frente aos estereótipos negativos e a subalternização histórica a que são submetidas, apontam as fragilidades dos movimentos negro e feminista, e estabelecem a periferia como lugar prioritário de ação. A perspectiva interseccional é evidente nas articulações do grupo, que é formado por mulheres plurais que entendem que não é preciso eliminar as diferenças entre elas para que se criem vínculos de solidariedade em torno da luta para acabar com as opressões que as atingem (HOOOKS, 2019). A interseccionalidade, no contexto de ação da Rejane Maria, é vista como a percepção da “[...] forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras” (CRENSHAW, 2002, p. 177), o que, no Estado de Sergipe, representa a situação de vulnerabilidade socioeconômica a que as mulheres negras estão submetidas. As mulheres negras ativistas da Auto-Organização Rejane Maria, constroem saberes políticos, identitários e estético-corpóreos específicos. Os saberes políticos estão relacionados ao questionamento do sexismo existente dentro do movimento negro e em outros movimentos sociais, e do racismo existente dentro do movimento de mulheres (GOMES, 2017). Os saberes identitários estão relacionados ao debate da questão racial e da identidade negra com um posicionamento de afirmação e valorização da identidade negra. Os saberes estético-corpóreos estão ligados à valorização e politização da estética negra, historicamente inferiorizada e associada à hiperssexualização. Além disso, as mulheres negras da Rejane Maria introduzem em suas reuniões de aquilombamento, debates em torno de questões relacionadas às comunidades quilombolas, a intolerância religiosa praticada contra as religiões de matriz africana, o genocídio da juventude negra, a necessidade de maior participação das mulheres negras na política e a experiências das pessoas negras LGBTQIA+.
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676518 Considerações finais Na esteira de Barbosa (2019), acreditamos que as construções identitárias das mulheres negras são permeadas por uma confluência de opressões que, por sua vez, implicam na constituição de um lugar social específico para as mulheres negras, marcado pela desumanização e pela desigualdade, que estas mulheres buscam subverter a partir de uma articulação coletiva em torno de direitos. No período no qual nos inserimos nas atividades da Auto-Organização Rejane Maria, estas aconteceram de forma remota, em virtude da pandemia da COVID-19. Nesse período de observação participativa, verificamos que as reuniões se dividiram em internas e externas, sendo que as reuniões internas são realizadas para planejamento, formação política interna e avaliação de atividades, e as reuniões externas são realizadas com vistas a discutir com pessoas externas à Auto-Organização, temas pertinentes à população negra, para atrair mulheres negras a integrar o grupo, ou mesmo visibilizar pesquisas acadêmicas que versam sobre temas de interesse da população negra. Ao abordar as práticas educativas presentes no movimento de mulheres negras nos aproximamos do que Scott (2005) denomina de enigma da igualdade, tendo em vista que esta coletividade estudada se vale de uma identidade coletiva - de ser mulher negra e vítima de uma matriz de opressões que lhes retiram direitos básicos, encontrando apoio e solidariedade para se unir e reivindicar a sua inclusão de forma equânime, tencionando o status quovigente e desestabilizando estruturas estabelecidas há séculos, buscando políticas públicas que contemplem as especificidades desse grupo. Compreendemos o espaço da Auto-Organização de Mulheres Negras Rejane Maria como produtor de uma pedagogia de (re)existência que emerge das escrevivências das mulheres negras ativistas, representando um espaço marcado por práticas pedagógicas emancipatórias inseridas na perspectiva da Pedagogia Feminista Negra, empreendendo resistência à colonialidade do poder, do ser e do saber, e, sobretudo, de combate às opressões interseccionais de raça, gênero, classe e sexualidade. Nos aquilombamentos com as Rejanes está sendo possível refletir sobre como as experiências constitutivas de ser mulher, presente nas práticas pedagógicas da Auto-Organização, expressam características do Feminismo Negro, ao passo que percebemos que estas práticas podem suscitar (e suscitam) desdobramentos, a exemplo da execução de outras ações educativas para além do ambiente restrito de convivência das ativistas no grupo. Sendo assim, compreendemos a Auto-Organização Rejane Mariacomo proponente de alternativas
image/svg+xmlA potencialidade educativa da “Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria”RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676519 ao projeto educacional brasileiro, se pautando na Pedagogia Feminista Negra para combater o racismo, o sexismo, a misoginia, a homofobia, a transfobia e o preconceito social e apontar possibilidades de transformação direcionadas para a justiça social. Compreendemos que a Pedagogia Feminista Negra se constitui na resistência e na construção de novas possibilidades de existir e resistir, se apresentando como instrumento de emancipação ao pensar a sociedade a partir de uma perspectiva interseccional, representando um avanço teórico, racial, social e de gênero. REFERÊNCIAS ARROYO, M. G. Pedagogias em Movimento O que temos a aprender com os movimentos sociais? Currículo sem Fronteiras, v. 3, n. 1, p. 28-49, jan./jun. 2003. Disponível em: https://biblat.unam.mx/hevila/CurriculosemFronteiras/2003/vol3/no1/3.pdf. Acesso em: 12 jan. 2021. BAIRROS, L. Nossos feminismos revisitados. Revista Estudos Feministas, v. 3, n. 2, p. 458-463, 1995. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/16462. Acesso em: 08 jan. 2022. BRANDÃO, C. R. O que é educação?São Paulo: Brasiliense, 2007. BARBOSA, E. E. Negras Lideranças: Mulheres ativistas na periferia de São Paulo. 1. ed. São Paulo: Ed. Dandara, 2019. CARDOSO, C. P. Outras falas: Feminismos na perspectiva de mulheres negras brasileiras. 2012. Tese (Doutorado em Estudos Interdisciplinares sobre mulheres, gênero e feminismo) Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil, 2012. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/7297. Acesso em: 05 jun. 2021. COLLINS, P. H. Pensamento Feminista Negro: Conhecimento, Consciência e a Política do Empoderamento. São Paulo: Boitempo, 2019. CRENSHAW, K. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas,v. 10, n. 1, p. 171-188, jan. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/mbTpP4SFXPnJZ397j8fSBQQ/?lang=pt. Acesso em: 25 jan. 2021. DOMINGUES, P.; OLIVEIRA, L. T. B. Movimento de Mulheres Negras em Sergipe: Notas de pesquisa. In: SILVA, N. F.; MARTINS, T. C. S.; CRUZ, M. H. S. (org.). Trabalho, Questão Social e Serviço Social. Curitiba: CRV, 2021.GOMES, N. L. O Movimento Negro Educador:Saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis: Vozes, 2017, 160 p.
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676520 GOMES, N. L. A força educativa e emancipatória do movimento negro em tempos de fragilidade democrática. Revista Teias,v. 21, n. 62, p. 360-371, 2020. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistateias/article/view/49715. Acesso em: 20 dez. 2020. GOHN, M. G. Movimentos sociais e educação. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009. HOOKS, B. Teoria feminista: Da margem ao centro. Tradução: Rainer Patriota. São Paulo: Perspectiva, 2019. LEMOS, R. O. O Feminismo Negro e sua metodologia: A pesquisa ativista feminista negra. In: FERREIRA, L. (org.). Gênero em perspectiva. Curitiba: CRV, 2020. LEMOS, R. O. Do Estatuto da Igualdade Racial à Marcha das Mulheres Negras 2015: Uma Análise das Feministas Negras Brasileiras sobre Políticas Públicas. 2016a. Tese (Doutorado em Política Social) Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2016. Disponível em: https://app.uff.br/riuff/handle/1/23551. Acesso em: 18 jul. 2020. LEMOS, R. O. Os feminismos negros: A reação aos sistemas de opressões. Revista Espaço Acadêmico,v. 16, n. 185, p. 12-25, out. 2016b. Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/33592. Acesso em: 27 jul. 2020. LIMA, A. N. C. Grupo de mulheres negras Mãe Andresa: Marcações identitárias de gênero e raça na produção de estratégias contra o racismo e o machismo. 2014. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2014. Disponível em: http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/10156. Acesso em: 15 jun. 2020. LUGONES, M. Colonialidade e gênero. Tabula Rasa, n. 9, p. 73-102, 2008. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S1794-24892008000200006&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 21 mar. 2021. MIÑOSO, Y. E. Fazendo uma genealogia da experiência: O método rumo a uma crítica da colonialidade da razão feminista a partir da experiência histórica na América Latina. In: HOLANDA, H. B. (org.). Pensamento feminista hoje: Perspectivas decoloniais. 1. ed. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. MIRANDA, C. Oyèronké oyěwùmí e a crítica aos discursos ocidentais de gênero: Releituras na diáspora africana. In: SILVA, J. (org.). O pensamento de/por mulheres negras. Belo Horizonte: Nandyala, 2018. NASCIMENTO, M. B. Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual: Possibilidades nos dias da destruição. 1. ed. São Paulo: Diáspora Africana: Editora filhos da África, 2018. PEREIRA, A. C. J. Pensamento social e político do movimento de mulheres negras: O lugar de ialodês, orixás e empregadas domésticas em projetos de justiça social. 2016. Tese (Doutorado em Ciência Política) Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: https://www.bdtd.uerj.br:8443/handle/1/12449. Acesso em: 21 mar. 2021.
image/svg+xmlA potencialidade educativa da “Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria”RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676521 PIEDADE, V. Dororidade. São Paulo: Editora Nós, 2019. SCOTT, J. W. O enigma da igualdade. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 13, n. 1, p. 11-30, abr. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/H5rJm7gXQR9zdTJPBf4qRTy/?lang=pt. Acesso em: 09 ago. 2021. SILVA, M. L. Mulheres negras em movimento(s): Trajetórias de vida, atuação política e construção de novas pedagogias em Belo Horizonte - MG. 2007. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/HJPB-7CAJK3. Acesso em: 08 maio 2020. SILVA, A. B. “Coisa de Mulher” e “Criola”: Um estudo sobre aprendizagens decoloniais em ONGs de mulheres negras. 2018. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: http://www.repositorio-bc.unirio.br:8080/xmlui/bitstream/handle/unirio/13038/Dissertação%20PPGEdu%20-%20Ana%20Beatriz%20da%20Silva.pdf?sequence=1. Acesso em: 06 maio 2021. SOUZA, M. E. S. Movimento Negro em Sergipe e política institucional: um estudo a partir de carreiras de militantes negros. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2012. Disponível em: https://ri.ufs.br/handle/riufs/6324 Acesso em: 06 maio 2021.
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS e Marizete LUCINI RPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676522 Como referenciar este artigo SANTOS, A. T.; LUCINI, M. A potencialidade educativa da “Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria”. Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, jan./dez. 2022. e-ISSN: 1519-9029. DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.16765 Submetido em: 10/03/2022Revisões requeridas em: 16/05/2022 Aprovado em: 21/07/2022 Publicado em: 30/09/2022 Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.Revisão, formatação, normalização e tradução.
image/svg+xmlThe educational potentiality of Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane MariaRPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167651 THE EDUCATIONAL POTENTIALITY OF SELF-ORGANIZATION OF BLACK WOMEN OF SERGIPE REJANE MARIAA POTENCIALIDADE EDUCATIVA DAAUTO-ORGANIZAÇÃO DE MULHERES NEGRAS DE SERGIPE REJANE MARIAEL POTENCIAL EDUCATIVO DE LA AUTOORGANIZACIÓN DE MUJERES NEGRAS DE SERGIPE REJANE MARIAAndréia Teixeira dos SANTOSMarizeteLUCINI2ABSTRACT: This paper undertakes a theoretical-conceptual reflection on the educational power of the Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria, established in Aracaju-Sergipe in 2014, from the referential of Black Feminism and Black Feminist Activist Research. In this analysis we consider that black women historically question and point solutions regarding racial, social, gender and sexuality inequalities, organized in social movements. Social movements that we understand as spaces for education and political training of their members, in which education is associated with a praxis based on their propositional insurgency. Insurgence that is associated with the construction of new epistemologies and public policies that challenge the racist, sexist, classist, and heteronormative structure structuring Brazilian society. In this sense, we consider the educational potential of the grassroots work developed by the Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria, as educational movements in which emancipatory knowledge and pedagogies are produced that question society, while creating educational strategies to combat racism, classism, sexism and heteronormativity. KEYWORDS:Inequality. Education. Feminism. Racism. Sexism. RESUMO: Este texto empreende uma reflexão teórica-conceitual sobre a potência educativa da Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria, criada em Aracaju-Sergipe em 2014,a partir do referencial do Feminismo Negro e da Pesquisa Ativista Feminista Negra.Nesta análise, consideramos que as mulheres negras historicamente questionam e apontam soluções com relação às desigualdades raciais, sociais, de gênero e sexualidade, organizadas em movimentos sociais. Movimentos sociais que compreendemoscomo espaços educativos e de formação política dos seus membros, nos quais a educaçãoestá associada a uma práxis pautada em sua insurgência propositiva.Insurgência que está associada à construção de novas epistemologias e políticas públicas que tensionam a estrutura racista, sexista, classista e heteronormativa estruturantesda sociedade brasileira. Federal University of Sergipe (UFS), São Cristóvão SE Brazil. Teacher of Basic Education in the State of Sergipe. PhD student in Education (UFS). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3114-2349. E-mail: deia.teixeira.s@gmail.com Federal University of Sergipe (UFS), São Cristóvão SE Brazil. Associate Professor II. PhD in Education (UNICAMP). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1532-8968. E-mail: marizetelucini@gmail.com
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS and Marizete LUCINI RPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167652 Nesse sentido, consideramosa potencialidade educativa dos trabalhos de base desenvolvidos pelaAuto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria, como movimentos educativos em quese produzem saberes e pedagogias emancipatórios que questionam a sociedade, ao mesmo tempo em que criam estratégias educativas de combate ao racismo, classismo, sexismo e a heteronormatividade. PALAVRAS-CHAVE: Desigualdade. Educação. Feminismo. Racismo. Sexismo. RESUMEN: Este texto emprende una reflexión teórico-conceptual sobre el poder educativo de la Autoorganización de Mujeres Negras de Sergipe Rejane Maria, creada en Aracaju-Sergipe en 2014, a partir del referente del Feminismo Negro y la Investigación Activista Feminista Negra. En este análisis, consideramos que las mujeres negras históricamente cuestionan y señalan soluciones en relación a las desigualdades raciales, sociales, de género y de sexualidad, organizadas en movimientos sociales. Movimientos sociales que entendemos como espacios educativos y de formación política de sus integrantes, en los que la educación se asocia a una praxis basada en su proposición insurgente. Insurgencia que está asociada a la construcción de nuevas epistemologías y políticas públicas que acentúan la estructura racista, sexista, clasista y heteronormativa de la sociedad brasileña. En ese sentido, consideramos el potencial educativo de los trabajos de base desarrollado por la Autoorganización de Mujeres Negras de Sergipe Rejane Maria, como movimientos educativos en que se producen conocimientos y pedagogías emancipadoras que cuestionan la sociedad, a la vez que se crea estrategias educativas para combatir el racismo, el clasismo, el sexismo y la heteronormatividad. PALABRAS CLAVE: Desigualdad.Educación. Feminismo. Racismo. Sexismo. Paths that led us to the Rejane Maria quilombo The pandemic of COVID-19 and the social isolation resulting from the uncontrollable proliferation of the virus presented itself as a challenge and, in the case of many graduate students, generated the need to rethink research objects and methodologies. This was the case of our research, which had as its central theme the analysis of anti-racist pedagogical practices in a quilombola school. Thus, a study that had, a priori, been designed to be developed in a school environment had to be modified to make it possible to carry out field activities remotely. In the process of modifying the research theme, and inspired by meetings and encounters with productions of black intellectuals started in 2020, even before the pandemic, with the reading of the book "Um defeito de cor", by Ana Maria Gonçalves, the research theme was rethought in order to give protagonism to the writing experiences of black women. The term quilombo, used in the title of this section, and from which we understand this Self-Organization of Black Women, is related to the thought of the historian and activist from
image/svg+xmlThe educational potentiality of Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane MariaRPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167653 Sergipe, Beatriz Nascimento (2018), for whom the quilombo is constituted from the human need to organize in a specific way different from the one arbitrarily established by the colonizer and becomes a possibility of existence and (re)existence in times of destruction. Thus, in the meetings made possible by readings and by access to publications in social networks, we approached the experiences of the "Self-organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria" in dialogue with the pedagogies of (re)existence built in this collectivity. The ongoing research is grounded in Black Feminism and decolonial studies, having as methodological reference the Black Feminist Activist Research (LEMOS, 2016a). From our effective insertion in the activities of the Self-Organization and the narratives of black women activists, we identify the activism of black women from Sergipe and their contribution to the construction of deep-systemologies that question the colonial structure of knowledge. In this text, we present the theoretical and methodological paths that have helped us in the observation and analysis of the pedagogies of (re)existence produced by these women in the context of confrontation to racism, classism, sexism and LGBTphobia. The reading of the work O movimento negro educador: Saberes construídos nas lutas por emancipaçãoby Gomes (2017) The author points out the Black Movement as a protagonist in the relationship between the Black people and the State, organizing and systematizing specific knowledge built within the activism that is not recognized by the field of Education and other sciences that, in turn, transform this knowledge into absence or non-existence through epistemicide. The defense of the importance of the Black movement as a political actor "that builds, systematizes, articulates emancipatory knowledge produced by the black population throughout the Brazilian social, political, cultural, and educational history" (GOMES, 2017, p. 24, our translation) was an important inspiration for us to think about the activities of the black women's movement in Sergipe, in general, and the Rejane Maria Self-Organization, in specific, as a possible field of research. Gomes (2017, p. 23-24, our translation) defines the Black Movement as: [...]the most diverse forms of organization and articulation of black men and women politically positioned in the struggle against racism and that aim to overcome this perverse phenomenon in society. Participating in this definition are political, academic, cultural, religious, and artistic groups with the explicit objective of overcoming racism and racial discrimination, of valuing and affirming black history and culture in Brazil, and of breaking down the racist barriers imposed on black men and women in occupying different spaces and places in society. It is a movement that does not refer in a romantic way to the relationship between Black Brazilians, their African ancestry, and the African continent today, but rather recognizes the
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS and Marizete LUCINI RPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167654 historical, political, and cultural links of this relationship, understanding it as an integral part of the complex African Diaspora. Therefore, it is not enough just to value the presence and participation of blacks in history and culture and to praise black and African ancestry for a collective to be considered a black movement. It is necessary that in the actions of this collective a political stance of combating racism is explicitly present. A stance that does not deny the possible confrontations in the context of a hierarchical, patriarchal, capitalist, LGBT-phobic, and racist society. The Black Movement, therefore, contributes to the production of knowledge that emerges from its struggle for recognition of Black people as subjects of rights, guiding discussions on racism and overcoming the myth of racial democracy, socioeconomic inequality, violence, public policies in health and education, religious intolerance, quilombola issues, among other themes and, besides educating its activists, it also educates society in the path of anti-racism. The emancipatory knowledge produced by the Black Movement is, therefore, related to the experience of race in a society that has established racial hierarchization as its founding axis.Regarding the Black Women's Movement, of which the Rejane Maria Self-Organization is part, Gomes (2020, p. 36-37, our translation) states that: [...]deserves to be highlighted when we reflect on political knowledge. The action of Black women activists builds specific political, identity, and aesthetic-corporeal knowledge and learning. Black activists question machismo within the Black Movement itself and challenge male activists to rethink, change their stance, and change their attitude in their political and personal relationships with women. They denounce the machismo violence within the Black Movement itself and other social movements, in domestic relations, in internal disputes whether in employment, movements, unions, and parties. They re-educate feminism itself, white men and women of other racial-ethnic belonging, and themselves. In addition to the theoretical contribution of Nilma Lino Gomes, the research we are developing, is linked to Black Feminist Thought and Decolonial Studies. Black Feminist Thought,emerging from the experiences and point of view of black women, is defined by Collins (2019) as a set of specific, though heterogeneous, black feminist intellectual traditions created through the social place that black women occupy as a collectivity. It is a set of traditions born out of the dialectical tension between the oppression suffered by Black women and their activism (COLLINS, 2019). Black Feminist Thought acts to produce solutions to the problems faced by the Black population, serving as a possibility for emancipation and the promotion of social justice. In the field of Education, Black Feminist Thought can be perceived as a motto of resistance that emerges on the margins of colonizing education, constituting itself as a praxis that aims to intervene in social reality.
image/svg+xmlThe educational potentiality of Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane MariaRPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167655 We understand that Black Feminism is educative and acts to re-educate hegemonic feminism and the Black movement, so that they contemplate the diverse ways of being a woman and the weight of oppressions of race, class, gender, and sexuality in the lives of all women, recognizing the specificities of Black women. In this sense, Black Feminism contributes to both discussions on racism and feminist studies, being important to tense categories hitherto considered universal and challenging both fields of knowledge to include in their productions the specificities that permeate the lives of black women. Crossed by issues such as black genocide, feminicide and difficulties related to schooling and insertion in the labor market, besides epistemicide and all the historical dehumanization that affects racialized peoples, black intellectuals began to publish studies related to race, gender and class as pillars for the effectiveness of black feminist thought in the academic space. Black feminism and decolonial feminism are important theoretical and methodological contributions that help us understand the experiences of black women activists from Sergipe, considering the existence of a modern/colonial gender system (LUGONES, 2008) that inferiorizes, violates, and invisibilizes racialized women and produces inequalities that are reflected in the country's socioeconomic indexes and place black women in a position of vulnerability. Both Black Feminism and Decolonial Feminism are alternatives to break the epistemic silences that have been produced by modern colonial science that has inferiorized, stereotyped, and ignored many voices, including the voices of Black women in struggle. Moreover, both epistemological movements denounce existing limitations in hegemonic feminism and have a practical dimension, aimed at social transformation. Miñoso (2020), while denouncing the commitment of hegemonic feminism to modernity, states that subaltern feminist practice points to the device of coloniality as structuring what she calls feminist reason and proposes a situated knowledge that starts from experience, something that is quite evident in studies that deal with the trajectories of black women. This counterpoint is also brought by Bairros (1995), when she points out that there are strands of feminism that try to define the female subject based on experiences taken as universal, and indicates that Black Feminism is an interesting epistemological contribution to think about the set of experiences and ideas shared by both Afro-American and Brazilian black women, whose lives are marked by a matrix of domination where race, gender and class intersect at different points (BAIRROS, 1995, p. 46). From the point of view of studies that address the experiences of black women, we highlight the importance of intersectionality (CRENSHAW, 2002) as a concept and
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS and Marizete LUCINI RPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167656 methodological tool that allows the articulation between the categories of race, gender, class and sexuality as forms of oppression that affect the existences of black men and women, as well as the importance of decoloniality as possible epistemological contribution to think the existences of bodies historically subalternized by colonialism, capitalism, racism and sexism. That said, it is important to indicate that our research aims to understand the process of political training of black women activists in the state of Sergipe, having as a space of coexistence and affection, the "Self-organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria", created in 2014 in the city of Aracaju. In this sense, we consider as a starting point the movement of black women as a political subject producer and product of experiences that resignify the ethnic-racial issue (GOMES, 2017), gender, class and sexuality. The research paths are following the perspective of identifying how the formative processes that unite and mobilize black women in order to question racist, sexist, classist, and heteronormative structures present in our society take place. The reflection on educational practices generated and experienced in the black women's movement has mobilized the construction of this research. We are observing educational experiences involved in the process of political formation of black women who see militancy as an alternative for survival in the midst of a reality that historically discriminates, marginalizes and oppresses black people, reproducing racist and sexist practices that began in the Brazilian colonial period. In the methodological field, the research we are developing follows the Black Feminist Activist Research perspective, classified by Lemos (2020, p. 29, our translation) as a methodology that: [...]The object of the research emerges from the exchange of knowledge and action in black feminist activism, activism in the black women's movement that has been configured, over the years, as the arena of the dispute for gender, race, class, sexual identity, distributive justice, among others. Black Feminist Activist Research is a "research methodology centered on the activism of black feminism" (LEMOS, 2020, p. 19, our translation) that "has the political commitment to collectively register local transformations and radical interventions in society carried out by, for and with black women aiming for transformations and eradication of oppressions, and in search of the Good Life" (LEMOS, 2020, p. 28, our translation). Rosália Lemos defines that Black Feminist Activist Research gathers several methodological resources, aiming to produce a certain type of knowledge, emerged within black feminism, in which the process of knowledge construction occurs through the
image/svg+xmlThe educational potentiality of Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane MariaRPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167657 partnership with the research collaborators, enabling the encounter between the activist researcher with the activism of the collaborators, in a process of feedback. This methodology focuses on "collectively register local transformations and radical interventions in society carried out by, for and with black women aiming at the eradication of oppression" (LEMOS, 2020, p. 29, our translation). Such a research bias demands continuous process of "observation, participation, implication, immersion, interaction, and intense living before, during, and after the field study" (LEMOS, 2020, p. 29, our translation). We understand the "Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria" as a quilombo, because in this collectivity there is a union among equals who are constituting forms of cultural and racial resistance, which has been enabling the creation of a community that strengthens itself internally and, at the same time, acts within the society that oppresses black bodies. Our research, built with the activists of the "Self-Organization of Black Women Rejane Maria", is articulated around the political activism of black women and their longing for public policies that reach them and promote social justice, intending also to make visible the educational potentialities existing in the articulations undertaken by black women in order to combat racial, social and gender inequalities that surround their lives. The "Black Women's Self-Organization of Sergipe Rejane Maria The "Self-organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria" emerged in October 2014, bringing together several black women with different realities and aiming to build a front to claim the demands of black women in Sergipe, considering the various social markers - class, race, gender and sexuality - that cross their lives. In this context, it was thought to articulate black women of the city and countryside, in a state where about 80% of the population is black, in order to make visible specific demands and claim the rights of the black community, especially women, within an intersectional perspective. Before the creation of Rejane Maria, there was another organization of black women in Sergipe, the OMIN (Organization of Black Women Maria do Egito). This organization was founded in 2001, after some black activists identified the need to include the racial and gender approach in discussions about public policies for the black population. According to Souza (2012), OMIN aimed to provide counseling to black women, in addition to acting in
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS and Marizete LUCINI RPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167658 educational and cultural events and is currently inactive. Domingues and Oliveira (2021) mention that this organization had links with the State and National Forums of Black Women, the latter being part of the Articulation of Brazilian Women (AMNB). Besides OMIN, other organizations within the context of the black movement in Sergipe contemplate in their agendas the racial gender issue, such as the "Society of Ethnic, Political, Social and Cultural Studies Omolàiyé", which seeks to contribute to the empowerment of traditional communities of African matrix in Sergipe, It develops studies about tradition and afro-descendant culture, besides advising and performing educational and political actions directed to the defense of human rights, fighting racism and religious intolerance, promoting the strengthening of identity and self-esteem of these black communities; The "Oju Ifá Community", that carries out projects and activities in favor of confronting the problems that affect black youth, besides acting in the promotion of social, cultural, and educational activities directed to the communities and traditional peoples of African origin, aiming to combat religious racism and other forms of prejudice; Casa de Mar", whose work is focused on the interaction with the surrounding community - women, children and fishermen - developing projects in the areas of culture, education, ecology, sustainability and citizenship. Currently made up of 13 members, the black women's collective in question pays tribute to the struggle of black activist Rejane Maria Pureza do Rosário, an axé woman, daughter of Ilê Axé Opô Oxogunladê, who died in 2012 and who, during her life, dedicated herself to defending the rights of black people, to the feminist cause, to spreading capoeira angola and the participation of women in this sport, and to being a great promoter of Afro-Brazilian culture and religiosity. Rejane Maria was one of the founders of the Grupo ABAÔ de Capoeira Angola (Abaô Association of Art, Education and Black Culture), besides having participated in SACI (Afro-Sergipan Society of Studies and Citizenship), Unegro (Union of Blacks for Equality) and the Omolàiyé Society of Ethnic, Political, Social and Cultural Studies.
image/svg+xmlThe educational potentiality of Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane MariaRPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.167659 Figure 1 Rejane Maria Pureza do Rosário Source: Facebook Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria (2019) Gathered from a public call made through social networks, some black women made up the initial phase of the organization, whose definition of the name occurred later. Guided by Dorority, defined by Piedade (2017) as the union of black women from the pain caused by racism, and that also carries in itself the pain caused by machismo, the black women activists of the "Rejane Maria Self-Organization" perform grassroots work in peripheral communities and actions with youth in schools, being articulated with other social movements, and dialoguing with institutions about the condition of black women in Sergipe, aiming to guarantee public policies to combat social, racial, and gender inequalities in the State of Sergipe. The idea of Self-Organization, in the perspective in which Rejane Maria is constituted, is present in the counter-hegemonic feminism, in which the groups constitute spaces where women can reflect, dialogue, and, from the knowledge produced in these meetings, build alternatives that can be put into practice in the course of the fight for social justice, combating racism, sexism, and lgbtphobia. It is based on learning through collectivity, and represents an alternative that aims at feminist empowerment and protagonism in social struggles. As stated in its Charter of Principles, Rejane Maria is not constituted in a hierarchical way, so it does not have a direction or coordination. All decisions made within the scope of the Self-Organization are approved collectively, with ample discussion among the members of the group. The axes in which the Self-Organization acts are: Education, Health, Poverty,
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS and Marizete LUCINI RPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676510 Labor Market and Social Inequality, Human Rights, Violence, Political Formation, Media and Culture. From these pillars are organized mobilizations in peripheral communities, in order to promote discussions about the position of black women within the racist, sexist, classist, and cisheteronormative society in which we are inserted, and to formulate proposals that can be presented in moments of dialogue with public and private institutions. Among the objectives of the Self-Organization, stated in its Letter of Principles, are: 1) To organize black women of the city and countryside of the state of Sergipe, in order to make their specific demands visible and plead their rights; 2) To accomplish base works in peripheral communities; 3) To promote actions with the youth in the schools; 4) To establish articulation with other social movements; 5) To dialogue with organs and institutions about the condition of black women in Sergipe; 6) Develop activities that mark historic dates related to the struggle of black women (Letter of Principles of the Self-Organization of Black Women of Sergipe REJANE MARIA, 2014) The referred Self-organization promotes base works in peripheral communities, actions with children and youth in schools, acts in municipal and state councils focused on public policies of racial and gender equality, besides being articulated with other social movements, pointing out the demands of black women from Sergipe and pleading public policies that break with racial, class and gender inequalities present in the State. Educational Spaces of Self-Organization of Black Women Rejane Maria In this topic, we mark our recognition of the educational spaces of social movements as different from school learning and the production of academic knowledge, because, as Brandão (2007, p. 9, our translation) "There is no single form or model of education; the school is not the only place where it takes place and perhaps not even the best; school teaching is not its only practice and the professional teacher is not its only practitioner". For Gohn (2009), to talk about educational processes within social movements implies, therefore, to have a conception of education divergent from the one that refers to the learning of "specific contents transmitted through techniques and instruments of the pedagogical process" (p. 17, our translation). In this sense, we understand social movements in general, and the black women's movement in particular, as educational environments marked by mobilization around the struggle for survival and for rights whose pedagogical role is articulated to the
image/svg+xmlThe educational potentiality of Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane MariaRPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676511 discovery and learning of the groups as subjects of rights. For Arroyo (2003, p. 42, our translation): Most of the collectives that aggregate and organize themselves in the struggle for land, space, public services... carry a spontaneous hope in a world of justice, freedom, equality, and dignity. A hope for another order in the countryside and in the city, in health and education, in social and interracial relations... An order governed by other principles, other values, more generous, more egalitarian. The confrontations in the field of ethics touch in full the pedagogical theory. Arroyo (2003) points out that social movements play the pedagogical role of forming leaders, in addition to contributing to the education of the popular layers of society. They are spaces where their members learn and constitute new ways of dealing with socioeconomic, racial, cultural, and political conditions in order to promote social transformations towards equal rights. For Gomes (2017), social movements are protagonists of social emancipation, producing and articulating knowledge that emerges from counter-hegemonic groups in society, acting pedagogically in the construction of social and political relations from the questioning of what is considered hegemonic. The Black Women's Movement acts to re-educate society with regard to the intersection of race and gender. It emerged from the perception of the limitations within the Black Movement and the Feminist Movement regarding the invisibilization of their experiences crossed by intersectional oppressions. Thus, black women began to act as collective subjects, demarcating their experiences and claiming public policies that consider their demands. For Barbosa (2019), the struggle of black women is related both to their specificities of race and gender aiming to break the condition of subordination imposed on them, and to the claim for equality with regard to material conditions, since this collectivity identifies the existing relationship between subordination and unfair income distribution. Barbosa (2019) points out that the political participation of black women occurs in two ways: specific movements of black women, in which the matrices of oppression that cross their experiences are discussed, and popular movements, in which the participation of black women is significant, having in the periphery an important field of action. The black women's collectives enable participants to fight racism, sexism, LGBTphobia, and class prejudice, helping their members and society to rescue the dignity of black people through the relationships established with place, body, culture, race, and gender. In this context, these collectives bring to the center of the discussion the constituent elements of culture, history, religiosity, and the potentialities of the black population in order
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS and Marizete LUCINI RPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676512 to re-signify them and make them relevant in the trajectories of those who participate in them. This movement of deconstruction and construction aims to raise self-confidence, from the overthrow of negative, subordinating, and dehumanizing stereotypes historically attributed to the black population in general, and to black women, specifically, and to enable the appreciation of ethno-racial and gender belonging. It is observed, therefore, in these communities, the interest in raising awareness about the historical, social formation of the country, with a view to reexamining the trajectory of black people, treating them as a founding element of national history and aiming to eradicate the inferiority complex introjected into their imaginary. Organized in Movements, black women reverse the social determinisms of racial and chauvinistic nature and, little by little, manage to break with the subordinate and inferior positions imposed on them. They break the negative images about black women that are commonly disseminated in an unequal society marked by racism and machismo. Thus, they create and recreate themselves, establish new directions and raise their self-esteem and that of other black women through their actions and social and political interventions (SILVA, 2007, p. 196, our translation). The Black Women's Movement has in education an important path in the construction and affirmation of identity and in the vindication of rights. Collective articulation is one of the forms of resistance that these women use to face the structure of Brazilian society, marked by coloniality, from which racism, sexism, socioeconomic inequalities, patriarchy, and heteronormativity derive. Like Silva (2007), we understand that black women's organizations have as one of the most important formative strategies the reconstitution of identity and self-esteem and, in this sense, throughout their formative process, black women seek to rebuild themselves individually and collectively, re-signifying their social relations from the categories of race, gender, class, and sexuality. For Miranda (2018), black women, moved by an emancipatory perspective, of self-protection and mutual care, organize themselves in collectives and organizations to collectively resist oppressions and glimpse possibilities of changing their condition. Pereira (2016) understands that the black women's movement contributes to the generation of analytical perspectives and conceptions of social justice, building a social and political thought that is organized from the intersections of gender and race. For the author, black activists point to gender, race, and class hierarchies as unjust, since these make it difficult for racialized groups to have access to basic rights.
image/svg+xmlThe educational potentiality of Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane MariaRPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676513 The pedagogical practices carried out in the scope of black women's collectives relate to the experiences of their participants facing intersectional discrimination and the consequent condition of marginalization to which they are submitted. According to Silva (2018), these practices are based on ancestry, solidarity, welcoming, reflection, and sensitivity and, moreover, contribute to behavioral changes, with regard to self-acceptance and empowerment of their attendants, helping to break the subordinate social place and confront racism, sexism, LGBTphobia, and class prejudice. Lima (2014) states that these women use the markers of oppression to rebuild in a positive way the representations of themselves, and this constitutes one of the most relevant strategies to fight against the discriminations that cross them. Black women's collectives produce discourses to oppose hegemonic discourses, suggesting alternatives of resistance in search of the extinction of simultaneous (or intersectional) inequalities that cross them. For Cardoso (2012), this feminist thought is oriented from black-African references, being classified as decolonial, and aims to transform society by confronting the various forms of oppression. In the case of the Rejane Maria Self-Organization, the educational spaces are related to the political and identity formation of its activists, following the intersectional black feminist perspective, articulating the categories of race, gender, class, and sexuality. From our insertion in the group's activities, and from the analysis of the social networks of the Self-Organization, we were able to identify the following educational moments:
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS and Marizete LUCINI RPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676514 Figure 2 Educational Spaces of the Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane Maria*Source: Prepared by the authors The closed (or internal) meetings are moments when the activities of the Self-Organization are planned and reflected upon, providing subsidies for the activists' activities in different institutional and social spaces. In these meetings, the activists study and discuss texts, ask questions, divide up tasks, review the activities they have carried out in other fields where they were designated to represent the group, construct documents of interest to the group (letters and projects, for example), evaluate the open meetings, pointing out weaknesses, successes and potentialities, and present ideas for organizing events. The Open Meetings are the moments organized by the activists to hold expanded discussions with the external public on themes pertinent to the lives of black women within an intersectional perspective. These meetings also serve to attract and/or welcome women interested in joining the group. The theme of each open meeting is defined in the closed meetings and some activists are assigned to provide the logistics of the activity in terms of disclosure, physical space, reception, guests. As verified in the social networks of the Self-Organization, throughout these almost eight years of existence, several events were organized by the activists, in order to discuss issues of interest to black people with emphasis on the specificities of black women, respecting their class condition, sexuality and gender identity. In *Reuniões Fechadas = Closed Meetings; Projetos na comunidade = Projects in the community; Participação em Conselhos de Igualdade Racial = Participation in Councils of Racial Equality; Participação em Eventos = Participation in Events; Articulação com outros movimentos sociais = Articulation with other social movements; Reuniões Abertas = Open Meetings
image/svg+xmlThe educational potentiality of Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane MariaRPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676515 the face-to-face meetings, the activists try to consider the demands of the participants who are mothers. To this end, they prioritize events in places where there is space for women who want or need to bring their children, in addition to providing recreational activities, such as film clubbing, prioritizing the screening of films with black protagonists. In addition to the events held by the group itself, the activists participate in events organized by other entities, whether of the black movement, the feminist movement, schools, public and private institutions, among others, in order to address issues relevant to the lives of black women as: racism, sexism, black feminism, black women in politics, motherhood, violence, childhood and racism, black aesthetics, self-care, ancestry, social rights, among other topics, in addition to reporting successful experiences occurred within the Self-Organization in the spaces where they are invited. The projects are activities carried out by activists in educational institutions and in peripheral communities. They are conceived as informative and formative spaces where experiences are shared, welcoming and professional training occurs, having as target audience, children, young people and black women, considering the situation of social fragility experienced widely by black women in the society of Sergipe, in which many of these women are heads of household. Through the projects, there are conversation rounds, dissemination of the scientific production of black women from Sergipe and other locations, recreational workshops, self-care, educational and vocational workshops, guided by the needs of the communities where the projects will take place. The activists also help organize and participate in marches of protest and demands related to the condition of the black population in general and of black women in specific, and they join in the publication of repudiation notes and in publicizing the activities of other organizations. The events that the Rejanes organize and participate can be classified as Talk Rounds, Film Clubs, Workshops and Marches. The "Rejane Maria Self-Organization" is linked to several black entities at local, regional and national levels, both to discuss with other black women in networks about the specificities that cross their existences, and to pressure entities of the Black and Feminist Movement for a more attentive look at issues related to the intersection of oppressions that affect black women and put them at a great disadvantage in terms of socioeconomic indices and violence in the country. Moreover, in the Sergipe State, Rejane Maria's activists have sought to occupy seats in State and Municipal Councils that deal with racial or gender equality, taking to these spaces the discussion of the intersectional approach that must be
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS and Marizete LUCINI RPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676516 considered in the elaboration of public policies, and that is defended by black feminists in Brazil and in other parts of the world. Figure 3 Institutional Links of the Black Women's Self-organization Rejane Maria Source: Prepared by the authors In the pedagogical scope, we observe, in the activities of the "Rejane Maria Self-Organization", the anchoring in Black Feminist Thought (COLLINS, 2019), for we observe that there is an articulation between theory and practice, besides the valorization of lived experience as a starting point for mobilization.In line with Collins' thought (2019), Hooks (2019) defines that the lived experience of Black women"[...]directly challenges the prevailing social structure and its sexist, racist, and classist ideology. This lived experience is capable of shaping our consciousness so as to differentiate from those who enjoy privilege (albeit relative, within the prevailing system" (HOOKS, 2019, p. 46, our translation). In addition to valuing experience, we perceive the affirmation of the need to speak for oneself and understand oneself as a subject which, in turn, leads to a sense of collectivity and potentiates the importance of articulation, perceiving empowerment as a collective political act. The activists share and build other ways of being black women in face of negative stereotypes and the historical subordination to which they are submitted, point out the weaknesses of the black and feminist movements, and establish the periphery as a priority place for action.
image/svg+xmlThe educational potentiality of Self-Organization of Black Women of Sergipe Rejane MariaRPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676517 The intersectional perspective is evident in the articulations of the group, which is formed by plural women who understand that it is not necessary to eliminate the differences between them in order to create bonds of solidarity around the struggle to end the oppressions that affect them (HOOKS, 2019). Intersectionality, in the context of Rejane Maria's action, is seen as the perception of the "[...] way in which racism, patriarchy, class oppression, and other discriminatory systems create basic inequalities that structure the relative positions of women, races, ethnicities, classes, and others" (CRENSHAW, 2002, p. 177, our translation), which, in the state of Sergipe, represents the situation of socioeconomic vulnerability to which black women are subjected. The black women activists of the "Rejane Maria Self-Organization" build specific political, identity and esthetic-corporeal knowledge. The political knowledges are related to the questioning of the sexism existing within the black movement and in other social movements, and the racism existing within the women's movement (GOMES, 2017). Identity knowledge is related to the debate of the racial issue and black identity with a position of affirmation and valorization of black identity. The aesthetic-corporeal knowledges are linked to the valorization and politicization of black aesthetics, historically inferiorized and associated with hypersexualization. In addition, the black women of Rejane Maria introduce in their aquilombing meetings, debates around issues related to quilombola communities, religious intolerance practiced against religions of African matrix, the genocide of black youth, the need for greater participation of black women in politics, and the experiences of black LGBTQIA+ people. Final remarks In the wake of Barbosa (2019), we believe that the identity constructions of black women are permeated by a confluence of oppressions that, in turn, imply the constitution of a specific social place for black women, marked by dehumanization and inequality, which these women seek to subvert from a collective articulation around rights. In the period in which we were inserted in the activities of the "Rejane Maria Self-Organization", these took place remotely, due to the COVID-19 pandemic. The internal meetings are held for planning, internal political formation and evaluation of activities, and the external meetings are held to discuss with people outside the Self-Organization themes pertinent to the black population, to attract black women to join the group, or even to make academic research on themes of interest to the black population visible.
image/svg+xmlAndréia Teixeira dos SANTOS and Marizete LUCINI RPGERevista online de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. 00, e022118, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 1519-9029 DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26i00.1676518 In approaching the educational practices present in the black women's movement we approach what Scott (2005) calls the equality enigma, considering that this studied collectivity makes use of a collective identity - of being black women and victims of a matrix of oppressions that deprive them of basic rights, finding support and solidarity to unite and claim their inclusion in an equitable manner, intending the status quo in force and destabilizing structures established for centuries, seeking public policies that contemplate the specificities of this group. We understand the space of the Black Women's Self-Organization Rejane Maria as a producer of a pedagogy of (re)existence that emerges from the experiences of activist black women, representing a space marked by emancipatory pedagogical practices inserted in the perspective of Black Feminist Pedagogy, undertaking resistance to the coloniality of power, being and knowledge, and, above all, fighting the intersectional oppressions of race, gender, class, and sexuality. In the aquilombamentos with the Rejanes it is possible to reflect about how the constitutive experiences of being a woman, present in the pedagogical practices of the Self-Organization, express characteristics of Black Feminism, while we realize that these practices can (and do) give rise to developments, such as the execution of other educational actions beyond the restricted environment of the activists in the group. Thus, we understand the "Rejane Maria Self-Organization" as proposing alternatives to the Brazilian educational project, based on Black Feminist Pedagogy to combat racism, sexism, misogyny, homophobia, transphobia, and social prejudice and to point out possibilities of transformation towards social justice. We understand that Black Feminist Pedagogy is constituted in the resistance and in the construction of new possibilities of existing and resisting, presenting itself as an instrument of emancipation when thinking society from an intersectional perspective, representing a theoretical, racial, social and gender advance. REFERENCES ARROYO, M. G. Pedagogias em Movimento O que temos a aprender com os movimentos sociais? Currículo sem Fronteiras, v. 3, n. 1, p. 28-49, jan./jun. 2003. Available at: https://biblat.unam.mx/hevila/CurriculosemFronteiras/2003/vol3/no1/3.pdf. Access on: 12 Jan. 2021. BAIRROS, L. Nossos feminismos revisitados. Revista Estudos Feministas, v. 3, n. 2, p. 458-463, 1995. Available at: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/16462. Access on: 08 Jan.2022.
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