RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 1

FILANTROPIA DE RISCO NAS REDES ESTADUAIS DE ENSINO BRASILEIRAS:

ANÁLISE DAS INFLUÊNCIAS DO INSTITUTO AYRTON SENNA

FILANTROPÍA DE RIESGO EN LAS REDES EDUCATIVAS DEL ESTADO

BRASILEÑO: ANÁLISIS DE LAS INFLUENCIAS DEL INSTITUTO AYRTON SENNA

VENTURY PHILANTHROPY IN BRAZILIAN STATE EDUCATION NETWORKS:

ANALYSIS OF THE INFLUENCES OF THE AYRTON SENNA INSTITUTE

Theresa Maria de Freitas ADRIÃO1

e-mail: theadriao@gmail.com

Raquel Fontes BORGHI2

e-mail: raquel.borghi@unesp.br

Como referenciar este artigo:

ADRIÃO, T. M. F.; BORGHI, R. F. Filantropia de risco nas redes

estaduais de ensino brasileiras: Análise das influências do Instituto

Ayrton Senna. Revista on line de Política e Gestão Educacional,

Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029. DOI:

https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940

| Submetido em: 08/07/2022

| Revisões requeridas em: 26/02/2023

| Aprovado em: 03/03/2023

| Publicado em: 19/05/2023

Editor:

Prof. Dr. Sebastião de Souza Lemes

Editor Adjunto Executivo:

Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas – SP – Brasil. Professora Livre Docente no

Departamento de Políticas, Administração e Sistemas Educ. Professora Visitante (PPGE-UFBA) – Salvador.

Doutorado em Educação (USP).

Universidade Estadual de Paulista (UNESP), Rio Claro – SP – Brasil. Docente do Departamento de Educação.

Doutorado em Educação Escolar (UNESP).

Filantropia de risco nas redes estaduais de ensino brasileiras: Análise das influências do Instituto Ayrton Senna

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 2

RESUMO: Este artigo integra pesquisa interinstitucional que mapeou e analisou estratégias de

privatização da educação básica nas redes estaduais de educação pública do Brasil. O objetivo

é apresentar a incidência do Instituto Ayrton Senna (IAS) no conjunto das redes e analisar este

ator privado e seu modus operandi associado ao filantrocapitalismo. Foram levantados e

tratados dados sobre a privatização da educação básica coletados junto às páginas institucionais

de governos e organizações privadas. Os resultados indicam que o IAS incidiu prioritariamente

em redes estaduais da Região Nordeste e Centro-oeste, no ensino fundamental e nos currículos

dessas redes.

PALAVRAS-CHAVE: Instituto Ayrton Senna. Filantropia. Filantrocapitalismo. Privatização.

RESUMEN: Este artículo es parte de una investigación interinstitucional que mapeó y analizó

las estrategias de privatización de la educación básica en las redes estatales de educación

pública en Brasil. El objetivo es presentar la incidencia del Instituto Ayrton Senna (IAS) en el

conjunto de redes y analizar este actor privado y su modus operandi asociado al

filantrocapitalismo. Se recolectaron y procesaron datos sobre la privatización de la educación

básica recolectados de las páginas institucionales de gobiernos y organizaciones privadas. Los

resultados indican que el IAS se centró principalmente en las redes estatales en el Nordeste y

Medio Oeste, en la educación primaria y en los planes de estudio de estas redes.

PALABRAS CLAVE: Instituto Ayrton Senna. Filantropía. Filantrocapitalismo. Privatización.

ABSTRACT: This article is part of an inter-institutional research that mapped and analyzed

basic education privatization strategies in state public education networks in Brazil. The

objective is to present the Ayrton Senna Institute (IAS) incidence in the set of networks and to

analyze this private actor and its modus operandi associated with philanthrocapitalism. Data

on the privatization of basic education collected from the institutional pages of governments

and private organizations were collected and processed. The results indicate that the IAS

focused primarily on state networks in the Northeast and Midwest, elementary education, and

the curricula of these networks.

KEYWORDS: Ayrton Senna Institute. Philanthropy. Philanthrocapitalism. Privatization.

Theresa Maria de Freitas ADRIÃO e Raquel Fontes BORGHI

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 3

Introdução

Este artigo retoma e amplia a análise realizada há mais de dez anos (ADRIÃO, 2011) a

respeito da incidência do Instituto Ayrton Senna (IAS) junto às redes públicas de ensino

brasileiras. Naquele contexto, os estudos já indicavam o protagonismo do Instituto por meio da

disseminação de programas de correção de fluxo escolar e da introdução de ferramentas de

gestão para resultados nas escolas de educação básica (GARCIA, 2018; ADRIÃO, 2011;

COSTA, 2019, PERONI, 2018).

Este artigo deriva de pesquisa interinstitucional que mapeou atores e programas

privados que incidiam nas redes públicas estaduais de educação básica e no Distrito Federal no

período entre 2005 e 2018

. A referida pesquisa identificou que o IAS foi um dos três atores

privados com maior incidência na definição das políticas educacionais brasileiras no período

de 2005 a 2018. Entretanto, levantamento bibliográfico realizado junto ao Catálogo de Teses e

Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), à

plataforma Scielo e mesmo nas produções realizadas pelos grupos de pesquisa que integram

esta investigação, identificaram apenas dois trabalhos especificamente relacionados à análise

deste ator e de seu modus operandi, enquanto os demais se centraram em estudos de programas

ou ações específicas, conforme sistematizados (SILVA, 2016; ADRIÃO, 2021).

Silva (2016), em revisão da literatura sobre a atuação do IAS publicada entre 2002 e

2015, identificou 64 trabalhos entre dissertações, teses e artigos publicados que abordaram a

atuação do Instituto, mas não consideraram o mesmo como objeto de estudo. Assim, o objetivo

do presente artigo é apresentar a incidência do IAS no conjunto das redes estaduais de educação

e analisar esse ator privado e seu modus operandi, com destaque para o que vem sendo

denominado de filantropia de risco.

Para tanto, o artigo primeiramente apresenta uma caracterização do IAS: seu histórico,

principais parceiros, origem dos recursos e equipe dirigente. Em um segundo momento, a

incidência do IAS nas redes estaduais públicas é o foco, e são apresentados resultados do

mapeamento realizado no âmbito da pesquisa interinstitucional da qual este texto deriva

(ADRIÃO et al., 2019). Por fim, há uma discussão acerca da inserção do IAS e sua atuação na

filantropia de risco.

Pesquisa interinstitucional: “Análise do mapeamento das estratégias de privatização da educação básica no Brasil:

atores, programas e consequências para a educação pública”, financiada pela Fapesp (Processo 2019/12230-7) e

coordenada pela Profa. Dra. Theresa Adrião.

Filantropia de risco nas redes estaduais de ensino brasileiras: Análise das influências do Instituto Ayrton Senna

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 4

Instituto Ayrton Senna (IAS): uma corrida de sucesso

O Instituto Ayrton Senna, fundado em novembro de 1994 após a morte do piloto paulista

que lhe dá o nome, declarava-se uma associação de caridade comprometida com o combate à

pobreza por meio da atuação em diversas áreas. As doações para a saúde, educação e religião

advêm da Ayrton Senna Foundation Ltda, cuja principal atuação refere-se à gestão da marca

Senna (ADRIÃO; PERONI, 2011).

A atuação na área educacional tem início logo após a criação do Instituto, com

programas e ações realizadas principalmente em redes municipais e estaduais. Segundo Silva

(2016), já em 1995, o IAS inicia suas atividades nas áreas de formação profissional, esportiva

e artística. Em 1997, lança um programa especificamente educacional, o Acelera Brasil, que

tinha por objetivo reduzir as taxas de distorção idade-série. A partir de então, a incidência do

Instituto na educação se intensifica, tanto em termos de abrangência geográfica quanto em

relação à diversificação de programas e ações. Também, a origem dos recursos se torna mais

complexa, originalmente centrada nas doações da Ayrton Senna Foundation Ltda. Em

informação recente

, de acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas

(CNAE), o IAS é considerado uma associação de defesa de direitos sociais, de porte médio, e

com sede em São Paulo.

No início dos anos 2000, conforme destacado por ADRIÃO (2021), a articulação do

IAS, na figura de sua presidente Viviane Senna, com o empresariado brasileiro é intensificada,

especialmente com o segmento paulista organizado em torno do Grupo de Líderes Empresariais

- LIDE. O grupo foi criado em 2003 por João Doria (governador de São Paulo a partir de 2019)

com o objetivo de vincular empresários em defesa de pautas comuns, relação que se mantém e

se aprofunda, conforme a autora:

Viviane Senna divide com o LIDE a organização de várias edições do Fórum

Nacional de Educação e Inovação

. Nesta rede corporativa angaria apoios e

doações de empresários, assegurando também conexões com representantes

governamentais (ADRIÃO, 2021, p. 362).

Souza e Caetano (2010) e Adrião (2021) indicam a permanência e a centralidade da

Rede LIDE, e mais especificamente da LIDE-Educação (segmento da rede LIDE voltado

especificamente para a educação), como parceiros prioritários do IAS. De uma perspectiva

Available at: https://www.econodata.com.br/lista-empresas/SAO-PAULO/SAO-PAULO/I/00328072000162-

INSTITUTO-AYRTON-SENNA. Access in: 10 jan. 2023.

Disponível em: https://direcionalescolas.com.br/4o-forum-nacional-de-educacao-e-inovacao-conclui-brasil-

precisa-mudar-forma-de-ensinar-para-chegar-ao-seculo-xxi/. Acesso em: 10 jan. 2023.

Theresa Maria de Freitas ADRIÃO e Raquel Fontes BORGHI

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 5

histórica e tendo em vista o destaque dado aos logotipos das marcas na página ou relatórios do

Instituto (a visibilidade da marca está diretamente relacionada à participação de quem a detém

na iniciativa privada), os principais apoiadores institucionais destacados pelo IAS encontram-

se no Quadro 1.

Quadro 1 – Principais apoiadores das iniciativas do IAS destacados nos relatórios anuais

Ano

Principais apoiadores e parceiros do IAS

2010*

LIDE-Educação; HP-Brasil42, Microsoft Educação;

2012

Bradesco capitalização, CITI, Credicard, LIDE-Educação, P&G

2013

Bradesco capitalização, Credicard, LIDE – Educação, P&G

2014

Credicard, Itaú, P&G, LIDE-Educação, Raízen

2015

Itaú, Itaucard, LIDE-Educação, P&G, Raízen

2016

Itaú, Itaucard, LIDE-Educação, P&G

2017

Itaú, Itaúcard, LIDE-Educação, P&G

* Nos relatórios do IAS, os tamanhos dados aos logotipos são diretamente proporcionais à relevância

dos apoios recebidos. Não há dados públicos para 2018 e nem informação anterior a 2010.

Fonte: as autoras com base em documentos institucionais do IAS e em Souza e Caetano (2010)

A articulação do IAS com outras organizações privadas também é abordada por Silva e

Adrião (2021), que realizaram uma análise das conexões mapeadas no Twitter do Instituto entre

2013 e 2020. É interessante observar que, nessa rede social, os autores identificaram a

preponderância de outras organizações, tais como: PORVIR, Fundação Lemann, Fundação

Telefônica Brasil e Todos pela Educação. Além disso, foram encontradas menções à

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e à Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

A relação com a UNESCO data de 2004, ano em que foi concedido ao IAS o direito

de estabelecer a Cátedra UNESCO de Educação e Desenvolvimento Humano, tornando-se a

primeira organização não governamental a receber esse reconhecimento, que até então era

concedido apenas a universidades. Por outro lado, o vínculo com a OCDE teve início em 2012

quando o IAS passou a integrar o Centro de Pesquisas Educacionais e Inovação (CERI, na sigla

em inglês), por meio do projeto Educação e Progresso Social. Esse projeto tem como foco a

identificação da relação entre o desenvolvimento de competências não-cognitivas e seus

benefícios socioeconômicos. No Brasil, essa parceria resultou na implementação de um estudo

piloto no Rio de Janeiro e na realização do Seminário Internacional Educação para o Século 21.

Vale destacar que o IAS era a única ONG brasileira envolvida nesse esforço "global" de

Disponível em:

https://institutoayrtonsenna.org.br/content/dam/institutoayrtonsenna/documentos/relat%C3%B3rios-

anuais/Relatorio-Institucional-2012.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023.

Filantropia de risco nas redes estaduais de ensino brasileiras: Análise das influências do Instituto Ayrton Senna

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 6

formular e propor políticas para o desenvolvimento de competências não-cognitivas (IAS,

2012).

Segundo Adrião (2018), também no âmbito da OCDE, o IAS passa a integrar a

Network of Foundations Working for Development (netFWD), criada em 2014. Trata-se de uma

rede global de filantropia empresarial comprometida com a disseminação de inovações

apoiadas por filantropos para impulsionar o desenvolvimento em países pobres, como uma

alternativa à redução dos fundos públicos. Posteriormente, as fundações brasileiras Itaú Social

e Lemann passaram a fazer parte desse seleto e influente grupo.

A rede (netFWD) teria como objetivos-chave: otimizar e acelerar o impacto

da filantropia para o desenvolvimento através da partilha de experiências e

lições, influência política e o desenvolvimento de parcerias inovadoras

(ADRIÃO, 2018, p. 26).

As iniciativas da rede global correspondem às ações de Venture Philanthropy (OCDE,

2014), dos filantrocapitalistas como preferem Bishop e Green (2008), ou dos novos filantropos

(ROBERTSON; VERGER, 2012). Essas expressões referem-se a um segmento composto por

organizações privadas associadas a corporações e por milionários cujas doações funcionam

como investimento empresarial com orientação social, visando retornos mensuráveis, inclusive

financeiros (ADRIÃO, 2018). Em um documento de 2014 elaborado pela Global Network of

Foundations Working for Development (netFWD)/OCDE, intitulado "Filantropia de Risco em

Desenvolvimento: Dinâmica, Desafios e Lições" (tradução livre), destaca-se que um número

crescente de fundações tornou-se investidor real e, como tal, espera obter retorno financeiro ou,

pelo menos, recuperar seu "capital inicial".

Um último aspecto a ser destacado, para uma compreensão do modus operandi do IAS,

diz respeito à composição de sua equipe de gestão ou governança, responsável pela coordenação

geral das iniciativas do Instituto. As informações relevantes estão apresentadas no quadro a

seguir:

Theresa Maria de Freitas ADRIÃO e Raquel Fontes BORGHI

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 7

Quadro2 – Integrantes da equipe gestora/ governança para anos com informações disponíveis

para a acesso público

Ano

Integrantes do IAS

2012

Viviane Senna; Inês Kisil Miskalo; Simone André; Tatiana Filgueiras; Marco Crespo; Edson

Saab de Brito; Heloísa Oliveira; Irineu Villanoeva Junior; Mauro Ratto;

2013

Viviane Senna, Aline Resende Porto, Bianca Senna, Marco Crespo, Mozart Neves Ramos

2014

Viviane Senna; Aline Porto; Bianca Senna; Marcello Tafner; Marco Crespo; Mozart Neves

Ramos; Ricardo Paes de Barros; Tatiana Filgueiras

2015

Ana Maia; Bianca Senna; Marcello Tafner; Mozart Neves Ramos; Tatiana Filgueiras; Thiago

Fernandes e Ricardo Paes de Barros, Viviane Senna

2016

Inês Miskalo; Simone André; Mozart Ramos; Tatiana Filgueiras; Ricardo P de Barros; T hiago

Fernandes; Emilio Munaro; Bianca Senna e Viviane Senna

2017

Inês Miskalo; Simone André; Mozart Ramos; Tatiana Filgueiras; Ricardo P de Barros; Thiago

Fernandes; Emilio Munaro; Bianca Senna e Viviane Senna

Fonte: as autoras com base em informações dos relatórios (2012-2017) constantes do site do IAS

Destaca-se que, ao longo dos seis anos para os quais há informações disponíveis,

Viviane Senna permaneceu na presidência do IAS. Além disso, Bruna Senna e Mozart Neves

Ramos fizeram parte da equipe por cinco anos, Ricardo Paes de Barros por quatro anos e Inês

Miskalo por três anos. É importante ressaltar que, além de suas contribuições acadêmicas,

Ricardo Paes de Barros e Mozart Ramos ocuparam cargos públicos, sendo Ricardo

subsecretário da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) durante o governo de Dilma

Rousseff (2011-2015) e Mozart como Secretário de Educação do Estado de Pernambuco e

Conselheiro do Conselho Nacional de Educação. Após a integração do IAS à OCDE, houve

alterações nessas composições, evidenciadas pela criação do EduLAB21 como uma expressão

institucional dessa parceria.

Para Dowbor (2020), essa prática está associada à concentração de poder e riqueza que

caracteriza o capitalismo contemporâneo, no qual os ultra-ricos e sua "tropa de choque"

os economistas, advogados, gestores, informáticos que ocupam o topo da

hierarquia dos processos decisórios e que mantêm o sistema deformado de

hoje [...]. Controlam os postos-chave, alternam-se entre conselhos

administrativos de corporações e funções públicas (a chamada porta giratória,

revolving door) e, na era das novas tecnologias e da gestão por algoritmos,

apropriam-se de um poder absolutamente impressionante (DOWBOR, 2020,

p. 167-68).

Evidencia-se a proeminência do IAS na definição e monitoramento de políticas

educacionais para a educação básica, conforme atestado por pesquisas anteriores. Isso ocorre

tanto por meio de sua atuação como difusor de orientações propostas por organizações

Para informações críticas ver Adrião (2021) e Silva e Adrião (2021); para informações do IAS ver

https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/como-atuamos/Atuacao2/edulab-21.html. Acesso em: 10 jan. 2023.

Filantropia de risco nas redes estaduais de ensino brasileiras: Análise das influências do Instituto Ayrton Senna

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 8

internacionais, como destacado por Adrião (2018), quanto pelo seu papel como articulador de

organizações privadas associadas ao mundo corporativo, que apoiam as prioridades

educacionais alinhadas para o Brasil.

Incidência do IAS nas Redes Estaduais de Ensino (2005-2018)

O IAS, a partir dos critérios apresentados a seguir, foi identificado como um dos atores

privados com maior incidência no conjunto das redes estaduais em uma pesquisa

interinstitucional que realizou um mapeamento de atores, ações e programas nessas redes no

período de 2005 a 2018, ao qual este artigo está vinculado.

O período definido para o mapeamento tem início com o ano limite previsto pela Lei

Complementar nº 101, de 04/05/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), para a adequação dos

orçamentos de todos os entes da federação às orientações de austeridade fiscal e transparência

propostas pela Lei e se encerra em 2018 (BRASIL, 2000). Os dados foram levantados entre

novembro de 2018 e março de 2019 e validados entre julho e outubro de 2020 em fontes

primárias disponíveis nas páginas das secretarias estaduais de educação dos estados, além de

notícias divulgadas pela imprensa localizadas por meio de consulta ao Google, conforme

indicado nas notas metodológicas disponíveis em (ADRIÃO et al., 2019).

A organização das informações levou em conta a dimensão da política educativa sobre

a qual as organizações declaravam incidir: oferta, currículo e gestão da educação. A primeira

dimensão, relativa à privatização da oferta educacional, opera-se por meio de financiamento

público (direta ou indiretamente) à oferta educacional por provedor privado, aumento das

matrículas em estabelecimentos particulares e pela introdução de políticas ou programas de

escolha parental (voucher, educação domiciliar e charter school). A segunda dimensão refere-

se à gestão da educação, sendo captada em dois âmbitos: privatização da gestão educacional,

envolvendo a proposição por atores privados de sistemáticas que assumem caráter sistêmico, e

privatização da gestão escolar, relativa à introdução de mecanismos de privatização no âmbito

de unidades escolares específicas. A última dimensão, à qual este artigo se associa, refere-se à

privatização do currículo. Trata-se da privatização dos processos pedagógicos stricto sensu,

envolvendo a incidência de organizações privadas sobre as relações entre professor/a, estudante

e conhecimento, bem como sobre os insumos curriculares (ADRIÃO, 2018).

Por sua vez, os processos pedagógicos, aqui entendidos como curriculares, mobilizam

conhecimentos especializados de duas maneiras, conforme considerado por Michel Young:

Theresa Maria de Freitas ADRIÃO e Raquel Fontes BORGHI

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 9

(i)Em relação às fontes disciplinares: conhecimento produzido por

especialistas nas áreas de conhecimento – história, física, geografia. Os

especialistas disciplinares nem sempre concordam ou acertam, e, embora seu

propósito seja descobrir a verdade, às vezes são influenciados por outros

fatores, além da busca da verdade. Contudo, é difícil pensar em uma fonte

melhor para “o melhor conhecimento disponível” em qualquer campo.

(ii)Em relação a diferentes grupos de aprendizes: todo currículo é elaborado

para grupos específicos de aprendizes e tem de levar em consideração o

conhecimento anterior de que estes dispõem (YOUNG, 2014, p. 10).

A estes conhecimentos, agregam-se os meios, os procedimentos pelos quais esses

conhecimentos se organizam e materializam nos cotidianos escolares. É a transferência para o

setor privado dos conhecimentos sobre o que ensinar e sobre como ensinar para estudantes de

nossas escolas públicas que designamos como privatização do currículo. Como apontado por

Borghi (2021), a incidência do setor privado no processo de construção curricular tem levado

ao sequestro dos fins públicos da educação, fato exemplificado pela atuação de atores privados

no processo de elaboração e implementação da Base Nacional Comum Curricular.

A identificação dos atores privados de maior incidência no currículo das redes estaduais

de ensino, decorreu da articulação de dois critérios na seguinte ordem de prioridade:

- 1º: Número de vezes em que os atores foram identificados no apoio ou

operacionalização de diferentes Programas em estado da federação ao longo do período (2005-

18). Este critério indica a frequência da incidência dos diferentes atores no âmbito nacional;

- 2º: Tempo de atuação dos diferentes atores no âmbito nacional. Para isso, considerou-

se o período entre a primeira atuação do ator em qualquer programa ou rede de ensino até a

última vez em que foi identificado.

O quadro 3 apresenta as cinco organizações privadas mais incidentes na dimensão

currículo. Adota-se o termo "ator" para referenciar o conjunto das organizações privadas

identificadas na pesquisa.

Filantropia de risco nas redes estaduais de ensino brasileiras: Análise das influências do Instituto Ayrton Senna

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 10

Quadro 3 – Indicadores dos cinco atores privados com maior incidência no país, na dimensão

da privatização do currículo- 2005-2018

Ator privado

Frequência em que foi

identificado em

diferentes programas

Ano da 1ª

atuação

Ano da última

atuação

Total de anos em que

atuou entre 2005-18

Instituto

Ayrton Senna

2005

2018

Instituto

Unibanco

2007

2018

Fundação

Lemann

2011

2018

Instituto

Natura

2005

2018

Google

2008

2018

Fonte: As autoras com base em Adrião et al. (2019)

Cumpre destacar que, entre 2005 e 2018, o IAS foi identificado em 33 diferentes

programas ou ações educacionais e permaneceu atuante ao longo dos 14 anos do período da

pesquisa. Essa condição ilustra a constância com que o IAS vem atuando nas diferentes redes

de ensino dos estados brasileiros.

A capilaridade de sua atuação pode ser captada ainda por informações relativas aos

segmentos, etapas de escolaridade e dimensões da política educativa atingidos pelos programas

inventariados aos quais se associa. O Quadro 4 apresenta a quantificação dessas informações

por unidades político-administrativas do Brasil.

Theresa Maria de Freitas ADRIÃO e Raquel Fontes BORGHI

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 11

Quadro 4 – Dados sobre capilaridade dos programas do IAS segundo regiões político-

administrativas no Brasil entre 2005-2018

Regiões

Total de Programas/

ações identificadas

Número de

programas/ações

direcionados aos

diferentes segmentos*

Número de

programas/ações que

incidem nas diferentes

dimensões da

política**

Número de

programas/ações que

incidem nas

diferentes etapas de

escolaridade

Estudantes

Professores

Gestores

Família

Currículo

Gestão

Oferta

E.I

E.F

E.M

Norte

Nordeste

Sudeste

Sul

Centro-

Oeste

Total

* Segmentos: Est. – Estudantes; Prof. – Professores; Gest – gestores; Fam. – famílias.

* Dimensões: cur. – currículo; Ges. – gestão; Ofer – oferta.

* Etapas: e.i – educação infantil; e.f. – ensino fundamental; e.m.- ensino médio.

Fonte: Elaborado pelas autoras com base em Adrião et al. (2019). Um mesmo programa pode envolver mais de

uma alternativa.

A partir do quadro acima, fica evidente a centralidade da atuação do IAS em

programas/ações que têm como segmentos-alvo estudantes e professores, enquanto o

envolvimento das famílias foi identificado em um único programa/ação. A maioria dos

programas incide sobre o currículo das escolas das redes públicas de ensino. Do total de 33

programas/ações identificados, 32 referem-se à dimensão dos currículos, seguidos por 12 da

dimensão gestão. Cabe destacar que um mesmo programa/ação pode incidir em uma ou mais

dimensões. Por fim, fica claro que é o ensino fundamental a etapa de escolaridade focalizada

pelas ações/programas do IAS.

No Quadro 5, são destacados os principais parceiros do IAS nos programas/ações

implementados nas redes estaduais entre 2005 e 2018, identificados por meio de consultas às

páginas oficiais dos governos e a matérias divulgadas na imprensa.

Filantropia de risco nas redes estaduais de ensino brasileiras: Análise das influências do Instituto Ayrton Senna

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 12

Quadro 5 – Relação dos principais parceiros do IAS por região 2005-2018

REGIÕES

Principais parceiros por região

Norte

Não foram identificados parceiros

Nordeste

Instituto Votorantim, Instituto Vale e Instituto Unibanco

Sudeste

P&G, OCDE, Instituto Vivo, UNESCO, Instituto Faça Parte, British Council,

Sport Club Corinthians Paulista

Sul

FIESC, Instituto Euvaldo Lodi, Instituto Natura

Centro-oeste

3GEN Gestão Estratégica

Fonte: Elaborado pelas autoras com base em Adrião (2021)

Destacam-se três aspectos a partir das informações que compõem o Quadro 5: a

diversidade de atores associados aos programas quando se compara as diferentes regiões; um

maior número de apoios na região Sudeste; e, por fim, a prevalência de apoios por associações,

na forma de institutos, associadas a grupos empresariais.

A origem dos recursos e a filantropia de risco como estratégia de negócios sociais?

Originalmente, como já exposto anteriormente, o IAS tinha como principal fonte de

recursos as doações da "Ayrton Senna Foundation Ltda" (ADRIÃO; PERONI, 2011). No

entanto, à medida que a relação com os parceiros se torna mais complexa, também a origem

dos recursos se diversifica. Em alguns relatórios anuais do IAS, disponíveis em seu site,

encontram-se informações sobre a proporção de recursos conforme sua origem: doações de

pessoa jurídica, doações de pessoa física e royalties das marcas Senna e Seninha, sintetizados

no Quadro 6.

Quadro 6 – Origem das receitas do IAS e destinação para Educação (%)

Tipo de Doação/Ano

2015

2017

2020

% investida em

ações da

Educação

Doações de pessoa jurídica

35%

36%

41%

62%

Doações de pessoa física

08%

10%

08%

67%

Royalites

62%

54%

51%

69%

Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos relatórios anuais do IAS dos anos de 2015, 2017 e 2020

disponíveis no site oficial.

Evidenciando a diversificação das estratégias de captação de recursos, Adrião (2021)

identificou, em pesquisa documental, que para o período anterior a 2012 não há relatórios

disponíveis no site do Instituto para consulta pública, relativos à origem dos recursos

financeiros que sustentaram as ações do IAS. Já entre 2012 e 2017, a mesma pesquisa indica

Theresa Maria de Freitas ADRIÃO e Raquel Fontes BORGHI

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 13

que as fontes de recursos declaradas pelo IAS, para o financiamento de suas iniciativas, derivam

de seis estratégias de captação de fundos privados.

1-Marketing Relacionado à Causa (MRC)- iniciativas de empresas que

destinam parte de seu lucro ao IAS;

2-Licenciamento das marcas Ayrton Senna e Senninha;

3-Doação em folha de pagamento de trabalhadores de empresas “parceiras”;

4- Investimento Social Privado – doação voluntária de recursos privados para

projetos de interesse público

5-Major Donnors, doadores privados destacados pelo volume

6-Programa de Membership- doações periódicas por pessoa física (ADRIÃO,

2021, p. 376).

Tais estratégias ampliam as fontes de recursos para além da gestão das marcas Senna e

Senninha e explicitam a lógica do filantrocapitalismo, venture philanthropy ou private

philanthropy (filantropia privada), termo mais recentemente adotado pela própria OCDE.

A ideia de "filantropia de risco", análoga a um investidor de risco, generalizou-se a partir

de 1997 com a publicação do artigo "Virtuous Capital: What Foundations Can Learn from

Venture Capitalists" (Letts, Ryan e Grossman, 1997) (ADRIÃO, 2018). Em um documento de

2014 elaborado pela Global Network of Foundations Working for Development

(netFWD)/OCDE intitulado "Filantropia de risco em desenvolvimento: dinâmica, desafios e

lições", as estratégias adotadas pelos "muito ricos" para alterarem sua condição de "apenas

doadores" envolviam a criação de ferramentas de monitoramento do impacto gerado pelos

recursos privados repassados para o custeio da causa escolhida. Não se trata mais apenas de

doadores, mas de investidores sociais. O documento é explícito ao definir a Filantropia de Risco

para o desenvolvimento.

uma abordagem empresarial para a filantropia que combina uma variedade de

métodos financeiros e não financeiros recursos para identificar, analisar,

coordenar e oferecer suporte autossustentável, sistêmico e escalonável (com

ou sem fins lucrativos) soluções para os desafios de desenvolvimento

alcançados na obtenção de maior impacto (OCDE, 2014, p. 3).

Em um documento de 2018 da OCDE, também é indicada a concentração dos agora

designados como filantropos privados nos EUA, sendo atribuído um papel de destaque à

Fundação Bill & Melinda Gates Foundation

. No Brasil, o texto destaca o Instituto Ayrton

Disponível em: https://www.oecd-ilibrary.org/sites/9789264085190-

en/1/2/3/index.html?itemId=/content/publication/9789264085190-

en&_csp_=68b4dd9752dd1b5f0b0dbfdc1ed4aa20&itemIGO=oecd&itemContentType=book#figure-d1e2028.

Acesso em: 10 jan. 2023.

Filantropia de risco nas redes estaduais de ensino brasileiras: Análise das influências do Instituto Ayrton Senna

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 14

Senna como um exemplo de fundação bem-sucedida ao testar e expandir seu programa de

habilidades sociais e emocionais nas redes públicas de ensino em todo o país.

Em relação à origem das doações para organizações como o IAS, ganham destaque os

chamados fundos patrimoniais (endowment fund)

constituídos pelo conjunto de ativos de natureza privada, regulamentados no

Brasil pela lei federal 13.800 de 2019. Segundo esta regulamentação, os

fundos devem ser destinados à consecução de finalidades de interesse público

e geridos com certa “profissionalização” expressa na separação entre a

organização gestora do Fundo Patrimonial, responsável por aplicar o capital

das doações em ativos financeiros ou reais a fim de gerar rendimentos, e a

organização executora dos fundos, uma instituição sem fins lucrativos ou uma

organização internacional que atue no país em parceria com instituições

apoiadas e que se responsabilize pela execução dos programas apoiados.

(Pasqualin, 2019). Permite-se que a Organização Gestora contrate empresa

registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para investir seus

ativos (ADRIÃO, 2021, p. 384).

A rede OCDE netFWD também propõe uma metodologia para avaliação do impacto das

"parcerias" financiadas por esse tipo de filantropia realizada por pares. Aqui, os pares são

entendidos como outras fundações de mesma natureza que atuam no mesmo segmento. A

primeira experiência dessa sistemática ocorreu no Brasil para o programa "Escrevendo o

Futuro" implementado pela Fundação Itaú Social e o Ministério da Educação do Brasil (OCDE,

2014).

Ainda de acordo com a rede de filantropos de risco criada no âmbito da OCDE, há

diversos tipos de investimentos praticados por esses atores, dentre os quais: investimento de

impacto social, definido como aquele com a expectativa explícita de um retorno social e

financeiro mensurável (OCDE, 2014), muitas vezes associados a doações tradicionais e a

subsídios e assistências técnicas iniciais mobilizados por governos ou setor privado, que

funcionam como "alavanca" para os posteriores ganhos sociais ou comerciais; Mission

Investors Exchange, investimentos a taxas de mercado que financiam uma fundação,

pressupondo retornos financeiros competitivos; investimentos relacionados a programas (PRIs,

na sigla em inglês), que priorizam a obtenção de impacto social e, portanto, estão

frequentemente abaixo da taxa de mercado; e Títulos de impacto de desenvolvimento (DIBs,

sigla em inglês), mecanismo financeiro no qual os investidores privados fornecem capital inicial

para serviços sociais e são reembolsados por um financiador com base no cumprimento dos

resultados acordados.

Theresa Maria de Freitas ADRIÃO e Raquel Fontes BORGHI

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 15

Segundo Benn, Sangaré e Hos (2018, p. 28), entre 2013 e 2015, o Instituto Ayrton Senna

captou um volume de US$ 23.578.100 dólares americanos para os programas que implementa

no Brasil, o equivalente a 118 milhões de reais em 2021.

Além da articulação catapultada pela OCDE, as fundações que se mobilizam em torno

do “investimento social” oriundo do patrimônio privado para programas e agendas em países

em desenvolvimento, como substituto dos tradicionais apoios bilaterais, ganham força em

âmbito global por meio da Global Partnership for Education (GPE), uma coalizão de atores

privados organizados em torno dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (SILVA;

OLIVEIRA, 2021). A GPE também menciona o “Escrevendo o Futuro” da Itaú Social/MEC

como um modelo de “parceria” bem-sucedida. Já a rede OCDE netFWD estimula o

compartilhamento de informações e práticas consideradas exitosas entre tais atores por meio da

capacitação para filantropos “locais”.

Considerações finais

A incidência do IAS na educação brasileira e sua articulação internacional foram

identificadas tanto pelas articulações com organizações privadas nacionais quanto

supranacionais, das quais derivam programas e ações implantados nas redes públicas de ensino

brasileiras.

Destaca-se que o IAS foi a primeira associação brasileira a integrar a rede OCDE

netFWD, cuja função inicial era elaborar estratégias para a dinamização da filantropia

empresarial orientada para retornos sociais ou financeiros. No primeiro caso, a exigência de

retornos sociais tem induzido à generalização de mecanismos de mensuração do impacto dos

programas e ações na educação básica patrocinados pelos investidores sociais e operados por

atores como o IAS. Uma das consequências das políticas baseadas em evidências, propaladas

pela OCDE, é o que Lima (2021) denomina de hiperburocratização dos processos escolares.

Por outro lado, os investimentos privados destinados a causas sociais, ao se associarem

a retornos financeiros, explicitam os processos de privatização da educação pública em sua

condição mais radical, ao modelar novos mercados para o que antes se limitava à "caridade".

Nessa direção, Klees (2023) é destacado que desde 2010, a Global Redesign Initiative, proposta

pelo Fórum Econômico Mundial, advoga pela transformação da Organização das Nações

Unidas, constituída apenas por estados membros, em uma articulação público-privada que

estimule os negócios e assume formalmente a governança global em pé de igualdade com os

Filantropia de risco nas redes estaduais de ensino brasileiras: Análise das influências do Instituto Ayrton Senna

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 16

Estados-nação. Mutatis mutandis, a mesma perspectiva foi identificada nos modelos de pactos

e compromissos pela educação analisados para o Brasil (ADRIÃO, 2021; GARCIA, 2018).

No que se refere à relação público-privada, a vinculação do IAS com o LIDE,

apresentada anteriormente, mantém-se por todo o período, e destaca-se a constância de apoios

de segmentos corporativos do setor financeiro, como os brasileiros Bradesco Capitalização, Itaú

e Itaucard, além do Citigroup In e do Credicard. Identificou-se também o apoio recorrente do

grupo transnacional norte-americano P&G

Se os atores foram constantes nos apoios, a composição informada da origem das

receitas do IAS, ao menos entre 2015-2020, variou: enquanto os valores originados de royalties

da marca Senna diminuíram 11%, os valores decorrentes de doações de pessoas jurídicas

aumentaram 6%.

Outro aspecto derivado do estudo diz respeito à ausência de transparência nas

informações. No caso do IAS, embora informações institucionais declarem que o financiamento

para suas ações e programas derive de doações de terceiros e da comercialização da marca

associada ao piloto Ayrton Senna, estudos sobre programas específicos implementados pelo

Instituto identificaram o financiamento governamental na forma de subsídio ou do pagamento

de assistência técnica (GUTIERRES; COSTA, 2019; SANTIN, 2016; LEAL, 2019). Em

qualquer circunstância, estranha-se a falta de transparência pública sobre as ações e os

resultados de uma organização que atua em sistemas públicos de ensino. Mesmo quando

encontradas, as informações se limitam a um "briefing". A transparência e o acesso público aos

dados para o setor governamental são exigências reguladas pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

No entanto, não há exigência dessa natureza para os atores privados e seus "parceiros", mesmo

quando alteram os sistemas públicos de ensino, salvo quando as ações são custeadas por fundos

públicos. Privatizam-se currículos e privatiza-se também o acesso aos resultados desses

programas e ações.

No que se refere à incidência do Instituto, identificada pela frequência com que se

apresentou em ações e programas implantados nos sistemas estaduais de ensino entre 2005 e

2018, percebeu-se a concentração nos estados do Nordeste e Centro-Oeste, prioritariamente no

Ensino Fundamental. Dados disponíveis pelo INEP sobre o Índice de Desenvolvimento da

Educação Básica (IDEB) para os anos finais do Ensino Fundamental indicam que em 2017 a

região Nordeste alcançou o índice de 3,9, enquanto a média nacional foi de 4,4. Já no caso do

Centro-Oeste, a média foi superior a nacional, atingindo 4,8. (BRASIL, 2019).

Theresa Maria de Freitas ADRIÃO e Raquel Fontes BORGHI

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 17

Lembramos que a proposição de políticas curriculares pelas organizações privadas é

justificada a partir da generalização de narrativas sobre a inépcia dos sistemas públicos de

ensino, expressa em resultados comparados pelo Programa Internacional de Avaliação de

Alunos (PISA) ou pelo desempenho da poliforma "escola privada" brasileira.

REFERÊNCIAS

ADRIÃO, Theresa. (coord.). Análise das consequências de parcerias firmadas entre

municípios brasileiros e a Fundação Ayrton Senna para a oferta educacional. 2011.

Processo 565709/2008 9. Disponível em:

http://redefinanciamento.ufpr.br/ArquivoTextos/AdriaoPeroni.pdf. Acesso em: 22 jun. 2021.

ADRIÃO, Theresa et al. Análise do mapeamento das estratégias de privatização da educação

básica no Brasil: atores, programas e consequências para a educação pública. Projeto de

Pesquisa financiada pela FAPES, 2019/12230-7. 2019.

ADRIÃO, Theresa. Dimensões e Formas da Privatização da Educação no Brasil:

caracterização a partir de mapeamento de produções nacionais e internacionais. Currículo

sem Fronteiras, v. 18, p. 8-28, 2018.

ADRIÃO, Theresa. Atores privados na educação pública paulista: relação duradoura e

melhorias pouco evidentes. In: VENCO, Selma; BERTAGNA, Regiane e GARCIA, Teise.

Currículo, gestão e oferta da educação básica brasileira: incidência de atores privados nos

sistemas estaduais das regiões Nordeste e Sudeste (2005-2018). São Carlos: Pedro & João

Editores, 2021. 403 p. (Coleção Estudos sobre a privatização no Brasil, v. 3).

ADRIÃO, Theresa; PERONI, Vera. Consequências da atuação do instituto Ayrton Senna para

a gestão da educação pública: observações sobre 10 estudos de caso. Práxis Educativa, Ponta

Grossa, v. 6, n. 1, p. 45-53, jan./jun. 2011.

BENN, Julia; SANGARÉ, Cécile; HOS, Thomas. (2018), Private Foundations’ Giving for

Development in 2013-2015: Ongoing efforts to better reflect private philanthropic giving in

OECD-DAC statistics on development finance. OECD Development Co-operation

Working Papers, Paris, n. 44. Disponível em: https://www.oecd-

ilibrary.org/development/private-foundations-giving-for-development-in-2013-

2015_fed825bf-en;jsessionid=Uvau2rm5x1cleSYZiQWoqMANmcdGHg-ilozWTohJ.ip-10-

240-5-48. Acesso em: 22 jun. 2021.

BISHOP, Mattew; GREEN, Michael. Philanthrocapitalism: How rich can save the world.

Bloomsbury Press, 2008.

BORGHI, Raquel Fontes. Atuação do setor privado no processo de construção curricular: o

sequestro dos fins públicos da educação. Revista on line de Política e Gestão Educacional,

p. 2744-2758, 2021. DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v25i3.14903. Disponível em:

https://periodicos.fclar.unesp.br/rpge/article/view/14903. Acesso em: 22 jun. 2021.

Filantropia de risco nas redes estaduais de ensino brasileiras: Análise das influências do Instituto Ayrton Senna

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 18

BRASIL. Ministério da Fazenda. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Lei

Complementar n. 101, de 04 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas

voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Brasília, DF: MF,

MP, 2000. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm. Acesso

em: 10 abr. 2021.

BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.

Resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica: 2019: Resumo técnico.

Brasília: Inep, 2021. 81 p.

COSTA, Marilda. Nova Gestão Pública e redefinições de fronteiras público-privadas na

educação brasileira. Curitiba: Appris, 2019.

DOWBOR, Ladislau. O capitalismo se desloca: Novas arquiteturas sociais. São Paulo,

Edições Sesc, 2020.

GARCIA, Teise. A gestão escolar no contexto da privatização na Educação Básica. Revista

on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 22, n. esp3, p. 1355–1376, 2018.

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v22iesp3.12232. Disponível em:

https://periodicos.fclar.unesp.br/rpge/article/view/12232. Acesso em: 22 jun. 2021.

GUTIERRES, Dalva; COSTA, Marilda. O Financiamento e o Controle Social dos Recursos

da Educação no Contexto das Parcerias Firmadas entre o Instituto Ayrton Senna (IAS) e

Municípios Brasileiros. In: ADRIÃO, Theresa; PERONI, Vera. (org.). Gestão municipal da

educação e as parcerias com o Instituto Ayrton Senna. Brasília: Anpae, 2019. Disponível

em: https://www.seminariosregionaisanpae.net.br/BibliotecaVirtual/4-Publicacoes/GESTAO-

MUNICIPAL-AYRTON-SENA.pdf. Acesso em: 10 jul. 2021.

INSTITUTO AYRTON SENNA (IAS). Relatório de resultados. 2012. Disponível em

https://institutoayrtonsenna.org.br/content/dam/institutoayrtonsenna/documentos/relat%C3%

B3rios-anuais/Relatorio-Institucional-2012.pdf. Acesso em: 15 de jul. 2021.

INSTITUTO AYRTON SENNA (IAS). Quem somos. [21--]. Disponível em

https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/quem-somos.html#historia. Acesso em: 20 de jul.

2021.

KLEES, Steven. The privatization of education: the big Picture. NORRAG, 21 fev. 2023.

Disponível em: https://www.norrag.org/the-privatization-of-education-the-big-picture/.

Acesso em: 01 mar. 2023.

LEAL, Aline. A implementação do projeto Alumbrar na rede estadual de ensino da

Paraíba. 2019. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Campina

Grande, Campina Grande, PB, 2019.

LIMA, Licínio. Máquinas de administrar a educação: dominação digital e burocracia

aumentada. Educação & Sociedade, Campinas, v. 42, set. 2021.

ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT (OECD).

GLOBAL NETWORK OF FOUNDATIONS WORKING FOR DEVELOPMENT

Theresa Maria de Freitas ADRIÃO e Raquel Fontes BORGHI

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 19

(NETFWD). Venture Philanthropy in Development: Dynamics, Challenges and Lessons in

the Search for Greater Impact. Paris: OECD Development Centre, 2014. Disponível em:

https://www.oecd.org/dev/Venture Philanthropy in Development-BAT-24022014-indd5 11

mars.pdf. Acesso em: 20 jul. 2021.

ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT (OECD).

Private Philanthropy for Development: The Development Dimension. Paris: OECD

Development Centre, 2018. Disponível em: https://www.oecd.org/dac/private-philanthropy-

for-development-9789264085190-en.htm. Acesso em: 15 jun. 2021.

PERONI, Vera. Múltiplas formas de materialização do privado na educação básica pública no

Brasil: sujeitos e conteúdo da proposta. Currículo sem Fronteiras, v. 18, n. 1, p. 212-238,

jan./abr. 2018.

ROBERTSON, Susan; VERGER, Antony. A origem das parcerias público-privada na

governança global da educação. Educação & Sociedade, v. 33, n. 121, p. 1133-1156, 2012.

SANTIN, Carina. O modelo de educação do Instituto Ayrton Senna: um estudo sobre

políticas de assessoria aos municípios. 2016. 66 f. Dissertação (Mestrado em Educação) –

Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, 2016.

SILVA, Fernando. Produção acadêmica sobre o Instituto Ayrton Senna (2002 -2015):

Características e contribuições. 2016. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade

Federal de São Paulo, Guarulhos, 2016.

SILVA, Rui; ADRIÃO, Theresa. Redes sociais e política educacional: análise do Instituto

Ayrton Senna no twitter de 2013 a 2020. Revista Brasileira de Política e Administração da

Educação-Periódico científico editado pela ANPAE, v. 37, n. 3, 2021.

SILVA, Rui; OLIVEIRA, Joana. Global education policy in Africanfragile and conflict-

affected states: examining the Global Partnership. Education, Globalisation, Societies and

Education, 2021. Disponivel em:

https://www.researchgate.net/publication/352844082_Global_education_policy_in_African_f

ragile_and_conflict-affected_states_examining_the_Global_Partnership_for_Education.

Acesso em: 22 set. 2021.

SOUZA, Silvana; CAETANO, Maria. Redes de relações e o Instituto Ayrton Senna. In:

ADRIÃO, Theresa; PERONI, Vera. (org.) Gestão municipal da educação e as parcerias

com o Instituto Ayrton Senna. 2. ed. Brasília: Anpae, 2019. Disponível em:

https://www.seminariosregionaisanpae.net.br/BibliotecaVirtual/4Publicacoes/GESTAO-

MUNICIPAL-AYRTON-SENA.pdf. Acesso em: 20 ago. 2021.

YOUNG, Michael. Teoria do currículo: o que é e por que é importante. Cadernos de

Pesquisa, v. 44, n. 15, p. 190-202, 2014. Disponível em:

https://www.scielo.br/j/cp/a/4fCwLLQy4CkhWHNCmhVhYQd/?lang=pt. Acesso em: 23 set.

2021.

Filantropia de risco nas redes estaduais de ensino brasileiras: Análise das influências do Instituto Ayrton Senna

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 20

CRediT Author Statement

 Reconhecimentos: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e ao CNPq.

 Financiamento: Financiamento da FAPESP, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado

de São Paulo para a pesquisa: “Análise do mapeamento das estratégias de privatização da

educação básica no Brasil: atores, programas e consequências para a educação pública”,

coordenada por Theresa Adrião - Processo 2019/12230-7. Financiamento CNPq/Bolsa PQ

303428/2018-0.

 Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.

 Aprovação ética: A pesquisa foi realizada por meio de análise documental e de sites das

Secretarias Estaduais de Educação e dos programas e atores privados, não necessitando de

aprovação do Comitê de Ética.

 Disponibilidade de dados e material: Os dados coletados na pesquisa estão disponíveis

no banco de dados “Mapeamento da inserção do setor privado nas redes estaduais de

educação” em https://www.greppe.fe.unicamp.br/pt-

br/mapeamento_da_insercao_do_setor_privado_nas_redes_estaduais_de_educacao.

 Contribuições dos autores: Ambas as autoras participaram da pesquisa e escreveram

conjuntamente o presente artigo.

Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.

Revisão, formatação, normalização e tradução.

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 1

VENTURY PHILANTHROPY IN BRAZILIAN STATE EDUCATION NETWORKS:

ANALYSIS OF THE INFLUENCES OF THE AYRTON SENNA INSTITUTE

FILANTROPIA DE RISCO NAS REDES ESTADUAIS DE ENSINO BRASILEIRAS:

ANÁLISE DAS INFLUÊNCIAS DO INSTITUTO AYRTON SENNA

FILANTROPÍA DE RIESGO EN LAS REDES EDUCATIVAS DEL ESTADO

BRASILEÑO: ANÁLISIS DE LAS INFLUENCIAS DEL INSTITUTO AYRTON SENNA

Theresa Maria de Freitas ADRIÃO1

e-mail: theadriao@gmail.com

Raquel Fontes BORGHI2

e-mail: raquel.borghi@unesp.br

How to reference this paper:

ADRIÃO, T. M. F.; BORGHI, R. F. Ventury philanthropy in

brazilian state education networks: Analysis of the influences of the

Ayrton Senna Institute. Revista on line de Política e Gestão

Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN:

1519-9029. DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940

| Submitted: 08/07/2022

| Revisions required: 26/02/2023

| Approved: 03/03/2023

| Published: 19/05/2023

Editor:

Prof. Dr. Sebastião de Souza Lemes

Deputy Executive Editor:

Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz

State University of Campinas (UNICAMP), Campinas – SP – Brazil. Associate Professor in the Department of

Policies, Administration, and Educational Systems. Visiting Professor. (PPGE-UFBA) – Salvador. PhD in

Education (USP)

State University of Campinas (UNESP), Rio Claro – SP – Brazil. Faculty member of the Department of

Education. PhD in School Education. (UNESP).

Ventury philanthropy in brazilian state education networks: Analysis of the influences of the Ayrton Senna Institute

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 27, n. 00, e023025, 2023. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v27i00.16940 2

ABSTRACT: This article is part of an inter-institutional research that mapped and analyzed

basic education privatization strategies in state public education networks in Brazil. The

objective is to present the Ayrton Senna Institute (IAS) incidence in the set of networks and to

analyze this private actor and its modus operandi associated with philanthrocapitalism. Data on

the privatization of basic education collected from the institutional pages of governments and

private organizations were collected and processed. The results indicate that the IAS focused

primarily on state networks in the Northeast and Midwest, elementary education, and the

curricula of these networks.

KEYWORDS: Ayrton Senna Institute. Philanthropy. Philanthrocapitalism. Privatization.

RESUMO: Este artigo integra pesquisa interinstitucional que mapeou e analisou estratégias

de privatização da educação básica nas redes estaduais de educação pública do Brasil. O

objetivo é apresentar a incidência do Instituto Ayrton Senna (IAS) no conjunto das redes e

analisar este ator privado e seu modus operandi associado ao filantrocapitalismo. Foram

levantados e tratados dados sobre a privatização da educação básica coletados junto às

páginas institucionais de governos e organizações privadas. Os resultados indicam que o IAS

incidiu prioritariamente em redes estaduais da Região Nordeste e Centro-oeste, no ensino

fundamental e nos currículos dessas redes.