image/svg+xmlConvivência escolar como política pública no estado de São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169521CONVIVÊNCIA ESCOLAR COMO POLÍTICA PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULOLA CONVIVENCIA ESCOLAR COMO POLÍTICA PÚBLICA EN EL ESTADO DE SÃO PAULOSCHOOL COEXISTENCE AS A PUBLIC POLICY IN THE STATE OF SÃO PAULOSandra Maria FODRA1Marilene Proença Rebello de SOUZA2RESUMO: Este artigo tem por objeto de estudo as relações escolares na Educação Básica e está embasado na psicologia histórico culturale na pedagogia histórico crítica. O objetivo é analisar um programa de governo implementado na Rede Pública Paulista, intitulado conviva, voltado para a melhoria da qualidade da convivência escolar. Este programa foi concebido para atender as necessidadesdos educadores da rede estadual paulista no tratamento dos conflitos, das violências e promover a melhoria do clima relacional e segurança das escolas. Mas a análise dos documentos realizada até esse momento, ressalta a influência das políticas neoliberais, implementadas nas últimas décadas sobre o programa, alterando o foco das suas ações para homogeneizar os comportamentos e promover o controle social, passando a tratar de saúde mental de estudantes e professores, contribuindo para a patologização da educação.PALAVRAS-CHAVE: Educação. Escola. Conviva. Política pública. Violência.RESUMEN: Este artículo tiene como objeto de estudio las relaciones escolares en la educación básica y se fundamenta en la psicologíahistórico-cultural y la pedagogía histórico-crítica. su objetivo es analizar un programa de gobierno implementado en la red pública de são paulo, denominado conviva, destinado a mejorar la calidad de la convivencia escolar. este programa fue concebido para atenderlas necesidades de los educadores de la red estatal de são paulo,en el abordaje de los conflictos, la violenciay la promoción de la mejora del clima relacional y de la seguridad en las escuelas. sin embargo, el análisis de los documentos, realizado hasta ese momento, destaca la influencia de las políticas neoliberales, implementadas en las últimas décadas sobre el programa, cambiando el foco de sus acciones para homogeneizar conductas y promover el control social, pasando a ocuparse de la salud mental de los estudiantes y docentes, contribuyendo a la patologización de la educación.PALABRAS CLAVE:Educación básica. La violencia escolar. Convivencia escolar. Desarrollo humano. Políticas neoliberale.1Universidade de São de Paulo (USP), São Paulo SP Brasil. Doutoranda no Programa de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano.ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5957-2244. E-mail: sandra.fodra@gmail.com2Universidade de São de Paulo (USP), São Paulo SP Brasil. Professora Titular. Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8297-5674. E-mail: mprdsouz@usp.br
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169522ABSTRACT: This article has as object of study the school relations in basic education and is based on historical-cultural psychology and historical-critical pedagogy. its objective is to analyze a government program implemented in the public network of são paulo, entitled conviva, with the purpose of improving the quality of the coexistence inside public schools. this program was conceived to match the needs of educators in the public school system of são paulo, in dealing with conflicts, violence and promoting the improvement of the relational climate and safety of schools. however, the analysis of the documents, carried out until that moment, highlights the influence of neoliberal policies, implemented in recent decades on the program, changing the focus of its actions to homogenize behaviors and promote social control, dealing with mental health of students and teachers, which contributed to the pathologization of education.KEYWORDS:Basic education. School violence. School coexistence. Human development. Neoliberal policies.Introdução A desvalorização do mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do mundo das coisas.KarlMarxA violência não é um fenômeno atual nem isolado, ela perpassa toda a história da humanidade e atinge todas as sociedades. Mas, atualmente, as formas de violência instituídas estão cada vez mais complexas e banalizadas, principalmente devido à sua superexposição na mídia e nas redes sociais. Os episódios de violência ocorridos nasescolas, nos últimos anos, têm preocupado não só a comunidade escolar, mas a sociedade como um todo, gerando medo, insegurança e o sentimento de impotência. Na concepção de Vigotski (2018), é por meio das relações sociais que os sujeitos se constituem e desenvolvem as potencialidades humanas. O ser humano é social e necessita da convivência colaborativa para incorporar a cultura e os saberes construídos historicamente; portanto, a qualidade das relações interpessoais é imprescindível nos processos educativos.Jares (2008) explica que o modelo de convivência que temos na atualidade está pautado nas “práticas socioeconômicas, políticas, culturais e educacionais decididas por seres humanos” (p.18). Ele afirma que o neoliberalismo e a globalização estão aprofundando cada vez mais as injustiças e a desumanização, promovendo mudanças nas relações sociais com o fomento do individualismo, do consumismo, da exaltação da aparência em detrimento da essência e com a “perda dos valores básicos de convivência” (JARES, 2008, p.18). A cultura da violência está presente em todas as instituições e a escola não está imune a ela.
image/svg+xmlConvivência escolar como política pública no estado de São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169523Os valores capitalistas disseminados, aliados às desigualdades, problemas sociais, políticos e econômicos vivenciados no Brasil, promovem situações de violência que são reproduzidas e estimuladas nas escolas, comprometendo a convivência escolar e, consequentemente, a qualidade do ensino. O presente estudo analisa os reflexos das políticas neoliberais na educação e na promoção da violência escolar, com foco nas ações desenvolvidas pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo SEDUC-SP, em especial no programa CONVIVA-SP que foi concebido com a finalidade de tratar da convivência, da melhoria do clima relacional e da segurança nas escolas da redepública paulista, conforme previsto na Resolução nº 48/20193(SÃO PAULO, 2019a).Pressupostos teóricos e metodológicosA pesquisa intitulada Convivência em Escolas Públicas Estaduais de São Paulo: Um estudo de caso sobre o Programa Conviva SP tem como perspectiva a psicologia histórico cultural e a pedagogia histórico crítica, fundamentadas nos estudos de Vigotski e nos princípios teóricos e metodológicos do materialismo histórico dialético. Nestas teorias, o ser humano écompreendido como histórico, que vive em um contexto cultural, político e econômico e que se constitui a partir da sua produção material. É por meio do trabalho (atividade material) e das relações sociais advindas dele que o desenvolvimento humano se processa. Marx (2007, p. 87) explica este movimento: “o que eles são coincide, pois, com sua produção, tanto com o que produzem como também com o modo como produzem. O que os indivíduos são, portanto, depende das condições materiais de sua produção”. A atividade material e as relações sociais estabelecidas por meio do trabalho promovem o desenvolvimento humano, sua consciência, suas ideias e representações. As bases materiais e as formas com que desenvolvem as atividades interferem na formação dos sujeitos.Vigotski, a partir dos pressupostos marxistas, compreendeu a importância da atividade, das relações sociais e do contexto histórico e cultural no desenvolvimento da subjetividade e do comportamento dos sujeitos. Seus estudos concluíram que o ser humano não nasce pronto como os outros animais, mas tem possibilidades infinitas de desenvolvimento e que as condições históricas, materiais, culturais e sociais são fundamentais no processo de 3Resolução n 48, de 1-10-2019. Disponível em: http://www.educacao.sp.gov.br/lise/sislegis/detresol.asp?strAto=201910010048 Acesso em 10 mar.2020.
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169524humanização. Para Vigotski, “[...]O homem é um ser social e, fora da relação com a sociedade, jamais desenvolveria as qualidades, as características que são resultado do desenvolvimento metódico de toda a humanidade” (2018, p.90).Ele vincula o desenvolvimento humano ao desenvolvimento das Funções Psicológicas Superiores -FPS,que são estimuladas pelas atividades que desenvolve e pela apropriação da cultura nas relações sociais estabelecidas pelos sujeitos ao longo da sua vida.As FPS, como a consciência, memória, percepção, atenção, fala, pensamento, emoção, vontade e formaçãode conceitos, são desenvolvidas no processo histórico, social e cultural do ser humano, a partir das atividades e experiências em todos os ambientes que convive. Essas experiências são mediadas por outras pessoas promovendo uma evolução psíquica ilimitada. Quanto mais experiências significativas o indivíduo tiver, maior é a sua possibilidade de desenvolvimento. Em outras palavras: “todas as funções superiores originam-se das relações reais entre indivíduos humanos” (VIGOTSKI, 1991, p.41). Ele esclarece que as FPS se desenvolvem em duas etapas, a primeira por meio dasrelações sociais e a segunda individualmente, com a associação das experiências interpessoais (interpsicológicas) ao desenvolvimento intrapessoal (intrapsicológico). O autor destaca a importância que as relações interpessoais têm no processo dedesenvolvimento humano,pois é a partir delas que o sujeito incorpora os conhecimentos necessários à sua evolução. Como afirma Saviani (2011, p. 12), a escola tem um papel fundamental no desenvolvimento humano, pois os processos educativos organizados pelos professores promovem a socialização dos saberes construídos historicamente e necessários ao desenvolvimento psíquico dos sujeitos e “na produção de ideias, conceitos, valores, símbolos, hábitos, atitudes, habilidades”.Para o autor, o ser humano precisa aprender a pensar, a agir, a avaliar, a fazer escolhas, a conhecer os conceitos científicos, a desenvolver o pensamento crítico e a participar concretamente da realidade que vive. Assim sendo, “para a pedagogia histórico-crítica, educação é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens” (SAVIANI, 2011, p.6). A psicologia histórico-culturale a pedagogia histórico crítica atuam na construção de experiências qualificadas para o desenvolvimento integral dos indivíduos, por meio de processos formativos que promovem a emancipação. Cabe aos educadores compreender o estudante no seu contexto político, econômico e social e oferecer atividades pedagógicas significativas e não promover a sua adaptação e conformação ao meio social.
image/svg+xmlConvivência escolar como política pública no estado de São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169525As políticas neoliberais impostas à educação As mudanças ocorridas na educação, nas últimas décadas, comprometeram totalmente a qualidade do ensino, reduzindo as práticas escolares à lógica de mercado. Durante a década de 90, o brasil passou por reformas neoliberais que incidiram nos serviços prestados pelo estado, terceirizando sua gestão a instituições ligadas ao capital. O ministro da reforma, que ficou conhecida como Nova Gestão Pública NGP, argumentava que com a globalização havia a necessidade de intervir e regular a educação, a saúde, a cultura e preparar o país para a competição mundial (PEREIRA,1998). a NGP transformou as práticas escolares e imprimiu a racionalidade econômica com foco na avaliação, análise de dados, eficiência na gestão dos processos e na busca de resultados, com a redução dos custos. A privatização dos serviços públicos impingiu nova relação no consumo dos serviços, voltada aos interesses do mercado, o que reorientou as políticas sociais. Na educação, as mudanças ocorreram “nas dimensões administrativas, financeira e pedagógica” (OLIVEIRA, 2015, p.630-631).Para Saviani, a educação passou a exaltar as “capacidades e competências” a serem atingidas “no mercado educacional”, fomentadas pelos setores empresariais sob o comando de organizaçõesinternacionais,como o Banco Mundial, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE e institutos ligados a grandes empresas, que instituíram a denominada “pedagogia corporativa” (SAVIANI, 2013, p. 430). Essas mudanças atingiram tanto a educação básica como o ensino superior, valorizando as metas quantitativas de desempenho e reduzindo a formação humana a mera aquisição de conteúdos; a tal educação bancária, tão criticada por Paulo Freire, quando denuncia: “é puro treino, é pura transferência de conteúdo, é quase adestramento, é puro exercício de adaptação ao mundo” (FREIRE, 2000, p. 101).Saviani (2013, p. 437) ainda afirma que: “para a adaptação ao meio natural e material entrariam em cena as competências cognitivas e os mecanismos de adaptação ao meio social seriam constituídos pelas competências afetivo emocionais”, preparando os indivíduos para terem comportamentos adaptados às demandas sociais. O autor demonstra que a educação voltada ao desenvolvimento de competências fomenta a resignação e o individualismo, enaltecendo os resultados e descartando os processos.a sociedade capitalista é, portanto, dividida em classes com interesses antagônicos. Desse caráter da estrutura social capitalista decorre que o papel da educação escolar será um se ela for posta a serviço do desenvolvimento do
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169526capital, portanto, a serviçodos interesses da classe dominante. E será outro, se ela se posicionar a favor dos interesses dos trabalhadores. E não há possibilidade de uma terceira posição. A neutralidade é impossível. É isso o que se quer dizer quando se afirma que a educação é um ato político (SAVIANI, 2013, p. 26).A psicologia histórico-culturale a pedagogia histórico crítica têm um compromisso com o desenvolvimento social e com a superação dos valores capitalistas. Os processos educativos promovidos pela escola são fundamentaispara o desenvolvimento do pensamento crítico e da participação social ativa, mas com o oferecimento de atividades reducionistas que simplificam a realidade concreta, os sujeitos ficam vulneráveis aos ideais disseminados pelas ideologias dominantes. Como enfatiza Saviani, a educação não pode ser neutra. Ela deve ser compromissada com o desenvolvimento humano e com a emancipação social dos indivíduos e não com o capital.A contradição das políticas gerencialistas é a ideia da eficiência e da qualidade total da educação. Entretanto, acabaram por retirar recursos financeiros e pedagógicos das escolas, criaram-se currículos reducionistas centrados no desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais, comprometeu-se a formação dos educadores e dos estudantes, o que reproduziu uma formação acrítica, reducionista, desumanizada eautoritária, quefortaleceu a cultura da competição entre as pessoas, afetando as relações sociais e a convivência na escola. Não existe qualidade educacional sem recursos financeiros, sem atividades participativas e sem a promoção do desenvolvimento humano.A violência escolar no Estado de São PauloNo Estado de São Paulo, que possui a maior rede de escolas públicas da américa latina, com aproximadamente 5100 unidades, o número de ocorrências envolvendo conflitos interpessoais e outros tipos de violência têm aumentado nos últimos anos, conforme demonstram os dados na figuraabaixo:
image/svg+xmlConvivência escolar como política pública no estado de São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169527Figura 1Dados de Violência ROEFonte: Sistema de Registro de Ocorrências Escolares ROE (atual plataforma CONVIVA PLACON)Os números mostram os registros mais recorrentes feitos pelas escolas, que caracterizam tanto a violência interpessoal quanto a intrapessoal, no caso da autoinfligida, mais conhecida como automutilação. Há casos de suicídio entre os adolescentes e jovens, que geralmente estão relacionados ao bullying, tipo de violência que aumentou significativamente nos últimos anos, como mostram os números. Os educadores têm dificuldade em lidar com estas situações e na maior parte das vezes, usam a punição e até a judicialização como forma de resolução dos conflitos e das violências.Três casos recentes chamam a atenção devido ao contexto em que ocorreram e à forma como foram encaminhados. O caso de Suzano4, em que dois alunos egressos entraram na escola e mataram sete pessoas, entre elas alunos e funcionários, e depois cometeram suicídio, chocou e promoveu muita comoção na sociedade. Há relatos que os agressores eram vítimas de bullying quandoestudavam na escola e, supostamente, voltaram para se vingar. Durante muitos meses após este evento, a SEDUC-SP enviouequipes para apoiar e monitorar as atividades dos educadores e reformou totalmente a escola, inserindo espaços de convivência e equipamentos tecnológicos5.O segundo caso ocorreu em uma escola de Carapicuíba6, quando alguns alunos começaram a jogar carteiras e cadeiras no chão da sala de aula, livros na professora e a agredi-4Notícias sobre o caso da escola de Suzano.Disponível em:Dupla ataca escola em Suzano, mata oito pessoas e se suicida.Mogi das Cruzes e Suzano.G1 (globo.com). Acesso em:28 jan.2022.5Notícia sobre a revitalização da Escola Raul Brasil.Disponível em: https://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/apos-reforma-escola-estadual-raul-brasil-esta-totalmente-revitalizada/. Acesso em:09 jan.2022.6Notícia sobre o caso da escola de Carapicuíba:Alunos que arremessaram livros em professora em escola de SP são ouvidos por promotora e levados para Vara da Infância.São Paulo: G1 (globo.com). Acesso em:28 jan.2022.
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169528la verbalmente. Um dos alunos filmou as cenas de violência e alguns dias depois, o vídeo foi veiculado em um programa de televisão de grande audiência. Após a apresentação do vídeo na mídia, a SEDUC-SP acionou a polícia que levou os nove alunos envolvidos no caso para a delegacia que atende os casos de infração cometidos por adolescentes, em que os meninos, de 12 a 16 anos de idade, passaram a noite e, no dia seguinte, foram encaminhados ao Ministério Público. Todos os alunos foram transferidos da escola compulsoriamente e três foram encaminhados para a fundação casa.O terceiro caso refere-se a duas crianças de oito e nove anos, estudantes do 4° ano do ensino fundamental em uma escola da Capital7, que colocaram veneno de insetos na água da professora, que começou a passar mal, mas foi socorrida rapidamente. O episódio também teve grande repercussão na mídia, mas os meninos não puderam serjudicializados devido à idade, pois só é considerado ato infracional os delitos cometidos por adolescentes de 12 a 18 anos. As professoras da escola queriam transferi-los compulsoriamente e acionaram a polícia e o Conselho Tutelar para conduzir o caso. Os casos apresentados promovem algumas reflexões e conclusões acerca das práticas desenvolvidas na escola, da cultura presente na comunidade escolar sobre a violência e das ações da SEDUC-SP. A primeira constatação é que os educadores não sabem lidar com osconflitos, já que as situações de violência surgem devido a conflitos mal resolvidos e, geralmente, transformam-se em casos de polícia. Os conflitos são humanos e corriqueiros, mas podem trazer consequências positivas ou negativas. Dessa forma, “quando ignorados ou mal administrados, podem ter consequências não desejadas. O que comumente se denomina violência é uma das possíveis consequências da inabilidade em se manejar conflitos”. Já quando eles são bem encaminhados, geram aprendizado em todos os envolvidos (CECCONet al. 2009, p.19). Outra constatação é quanto à infraestrutura física, pedagógica e de funcionários das escolas paulistas. O Plano Estratégico da atual gestão 2019 2022 mostra que: Há 900 escolas sem quadras esportivas (17%), 1.384 necessitam de reforma geral (27%), 3.555 indicam necessidade de reforma parcial (69%) e 3.634 estão sem acessibilidade (71%). A última atualização de computadores ocorreu em 2013/2014 com a renovação de apenas 88 mil máquinas e 2.391 escolas estão sem Wi-Fi para uso pedagógico (46% da rede) (SÃO PAULO, 2019b, p. 14).7Notícia sobre o caso da escola da Capital. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/02/14/policia-de-sp-apura-se-alunos-colocaram-veneno-para-matar-barata-em-garrafa-de-agua-de-professora-que-passou-mal.ghtml. Acesso em:28 jan.2022.
image/svg+xmlConvivência escolar como política pública no estado de São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169529Os números apontam para a falta de investimentos necessários ao atendimento básico das escolas, além da falta de professores, que em 2018 chegava a 34%8; e funcionários para apoio. A escola de Carapicuíba, por exemplo, não tinha nenhum funcionário de apoio quando os estudantes praticaram vandalismo na sala de aula; A diretora cuidava desde o livro de ponto dos servidores até abrir e fechar os portões da escola, embora tivesse oito vagas abertas para agentes de organização escolar. Imediatamente após o conflito, o Secretário encaminhou dois agentes, que já tinham prestado concurso, para trabalharem na escola. A SEDUC-SP só remedia a situação das escolas quando a mídia noticia algum episódio grave, mas é grande o número das que carecem de infraestrutura adequada.uma terceira constatação importante é sobre a ausência de espaços dialógicos para que os conflitos sejam compreendidos e resolvidos de maneira assertiva. Nesse sentido, é necessário identificar os casos de bullying como os ocorridos na escola de Suzano, compreender as necessidades dos estudantes e educadores, como nos casos de Carapicuíba e da Capital, e requerer espaços em que as dificuldades e os sentimentos possam ser verbalizados. Os tempos e espaços de resolução dos conflitos na escola têm que ser sistemáticos e envolver todos os membros da comunidade escolar(CECCON, 2009; JARES,2008; VINHA;TOGNETTA, 2009). Os alunos da escola de Carapicuíba não foram ouvidos sobre o motivo da agressão à professora, nem as crianças da escola da Capital, mas segundo relatos, elas estavam com dificuldades em algumas tarefas dadas e queriam continuar estudando com a professora do ano anterior com quem tinham um forte vínculo e, assim, pensaram em afastar a nova professora. Embora as notícias digam que as crianças teriam dez e 11 anos, elas tinham oito e nove anos na época. Os espaços dialógicos colaboram para estreitar o relacionamento e incentivar a comunicação entre alunos e professores. Segundo Vigotski (1991), a fala é vital para a organização das FPS; ela é uma atividade complexa que estimula o pensamento e a formulação deideias. Na visão de Vigotski (1996, p. 209): “[...]A convergência entre pensamento e fala constitui o momento mais importante no desenvolvimento de um indivíduo e é exatamente essa conexão que coloca o pensamento humano numa altura sem precedentes”. Sendo assim, o diálogo impulsiona a elaboração do pensamento e o desenvolvimento cognitivo, para a ampliação das estruturas psicológicas superiores. Mas o que tem ocorrido nas escolas é a imposição de práticas desumanizadas, em que nem os educadores nem os estudantes se 8Dados disponíveis em: https://fiquemsabendo.com.br/educacao/deficit-professores-sp/. Acesso em:27 jan.2022.
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695210enxergam como sujeitos dos processos educacionais, mas meros executores das atividades prontas enviadas pelo Sistema de Ensino.Observa-se que houve um sucateamento na educação paulista, fruto de políticas inadequadas implementadas nas últimas décadas, que comprometeram a formação dos educadores e sua concepção de educação, o bem-estare a segurança das pessoas na escola e, consequentemente, a qualidade do ensino oferecido por ela.Violência contra a escola, da escola e na escolaAs violências presentes na escola podem ser caracterizadas de três formas distintas: a violência contra a escola, da escola e na escola, segundo Ristum (2010). As políticas públicas implementadas pela reforma gerencialista podem ser caracterizadas como umaviolência contra a escola, pois as novas propostas pedagógicas criadas sem a participação dos educadores, o grande número de alunos nas salas de aula, a falta de investimentos, os baixos salários e a crescente cobrança por resultados no desempenho dos estudantes têm adoecido os educadores e promovido a desvalorização do magistério, além da precarização das práticas escolares (RISTUM, 2010). A autora afirma que o sucateamento das escolas públicas aliado às depredações e invasões, principalmente em bairros mais vulneráveis; o tráfico de drogas; o aliciamento dos estudantes para o mundo do crime e a presença constante da polícia consistem em situações de violência contra a escola, comprometendo a segurança e o bem-estarda comunidade escolar e a qualidade do ensino (RISTUM, 2010, p.70).A violência da escola está relacionada à violência simbólica (BOURDIEU, 1989, apud RISTUM, 2010, p.74), vivenciada pelas relações hierarquizadas presentes no ambiente escolar. Há uma verticalização do poder, em que as ordens são recebidas das esferas administrativas e têm de ser cumpridas pelos educadores, sendo reproduzidas aos alunos e seus familiares. Não existem espaços democráticos, somente a obediência às ordens superiores, o que reproduz as relações de poder socialmente estabelecidas.A presença de um currículo prescrito sem a participação dos professores na sua construção, com atividades descontextualizadas da realidade dos estudantes, assim como a instalação de grades, câmeras e outros aparatos que lembram prisões também caracterizam a violência da escola (RISTUM, 2010, p.90).a violência na escola é aquela que ocorre no cotidiano escolar, como indisciplina, agressão física e verbal, depredação do patrimônio, furtos, bullying, xingamentos; que são mais comuns entre os alunos e entre eles e os professores, mas pode ocorrer entre os educadores e com as famílias. Há os casos mais graves em que alunos levam armas na escola para ameaçar
image/svg+xmlConvivência escolar como política pública no estado de São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695211seus pares ou professores. A intenção de humilhar, praticar atos de crueldade e submeter o outro ao seu poder, demonstram claramente problemas nas relações sociais (RISTUM, 2010, p. 79-81).Atitudes violentas também são manifestadas pelos educadores com os alunos, em situações como criticar alguma fala ou comportamento em público, colocar o aluno para fora da aula ou de castigo, ameaçar de chamar os pais, colocar apelidos e outros tipos de violência psicológica que possam criar um ambiente tenso e constrangedor, comprometendo as relações interpessoais (RISTUM, 2010, p.87)O uso da violência promove um ambiente que compromete a qualidade do ensino, principalmente das escolas públicas, agravando a situação dos estudantes mais pobres que já são excluídos de diferentes formas. E, por paradoxal que possa parecer, o dinamismo e a complexidade das relações sociais envolvidos nas questões histórico-culturais que levam essas professoras a promover a exclusão social, ao se aliarem ao processo de empobrecimento e de desvalorização social do magistério, acabam por colocar essas mesmas profissionais na condição de socialmente excluídas(IBID, 2010, p.87).A autora observa que a exclusão promovida pelos educadores reflete na sua própria exclusão, reproduzindo os valores históricos e culturais de violência e contribuindo para a depreciação social do magistério. Outra análise importante feita por Ristum (2010),está relacionada à culpabilização pela violência escolar, que na visão dos educadores, recai sobre a família, ao contexto social, político, econômico, cultural e no ambiente violento que os estudantes vivem. A autora concorda que os fatores macrossociais são propulsores da violência, mas considera que as práticas desenvolvidas pelos educadores reforçam a reprodução da violência na escola.
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695212As políticas da SEDUC-SP para conter a violência escolarEm 2008 houve uma rebelião9em uma escola da Capital, em que os alunos começaram a quebrar os vidros, janelas e carteiras das salas, subiram no telhado e ficaram ameaçando os educadores, que se trancaram em uma sala com medo dos estudantes, pois não era a primeira vez que ocorriam episódios violentos na escola.A rebelião só foi contida com a chegada da polícia e o caso foi veiculado na mídia com grande repercussão.Diante deste evento, a SEDUC-SP criou o Sistema de Proteção Escolar SPEC, em parceria com a Secretaria de Segurança Pública SSP, com propostas para prevenir a violência e tratar dos conflitos interpessoais ocorridos no cotidiano escolar. O programa foi alicerçado em três pilares: O projeto Professor Mediador Escolare Comunitário, o projeto de Vigilância Eletrônica e o sistema de Registro de Ocorrências Escolares -ROE. O projeto Professor Mediador Escolar e Comunitário designava um professor para atuar como mediador, desenvolver ações de resolução dos conflitos cotidianos e encaminhar as situações de vulnerabilidade identificadas na escola para as instituições da rede de proteção, como Conselho Tutelar, Ministério Público, Instituições de Saúde, dentre outras. A vigilância eletrônica instalava câmeras em locais estratégicos das escolas a fim de conter os atos de vandalismo e o ROEfoi criado para os gestores registrarem os conflitos e violências ocorridas nas escolas, que servia como banco de dados para nortear as ações da SEDUC, das diretorias regionais e das próprias escolas.Nos primeiros anos, o SPEC recebia recursos suficientes para promover ações de formação aos professores mediadores e manter a equipe central com muitos funcionários para acompanhar e atender as necessidades das escolas. Com as mudanças de gestão, os recursos destinados ao programa foram diminuindo, a equipe central e o número de professores mediadores designados foram reduzidos, até que em 2017, o gabinete solicitou a criação de um novo programa, pois as ocorrências registradas pelas escolas estavam aumentando. Assim, foi criado o programa mediação escolar e comunitária que envolveu todos os servidores nas ações de resolução de conflitos e retomou as ações de formação a fim de discutir os conflitos e violências à luz das pesquisas científicas. Algumas parcerias com Universidades e Instituições da rede protetiva foram estabelecidas, o que garantiu a qualidade na formação dos servidores.9Notícias sobre a rebelião na escola Amadeu Amaral. Disponível em:https://g1.globo.com/noticias/saopaulo/0,,mul859263-5605,00-professores+chamam+pm+para+conter+briga+de+alunos+em+sp.html. Acesso em:23 jan.2022.
image/svg+xmlConvivência escolar como política pública no estado de São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695213Em 2018, o SPEC e Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral-GEPEM organizaram um projeto intitulado “A convivência como valor nas escolas públicas” para submissão em um edital de pesquisa10publicado pelas Fundações Itaú Social e Carlos Chagas. O projeto foi escolhido pelos pareceristas e as ações de formação do SPEC começaram a ser pautadas nos temas relacionados à convivência e não somente na resolução dos conflitos. A proposta consistia na implantação de assembleias escolares para a discussão sobre o que incomodava as pessoas na escola, de um sistema de apoio entre iguais para ajudar os estudantes que estivessem isolados, tristes ou passando por algum problema e de câmaras de mediação de conflitos, que envolveriam educadores e familiares na resolução dos conflitos pontuais. Essas metodologias tinham o objetivo de criar uma cultura de resolução dos problemas cotidianos e da busca de soluções consensuais para eles. Os educadores e os alunos responderiam um questionário para a Avaliação do Clima Relacional11da escola, cujos resultados serviriam, juntamente com os registros das ocorrências feitos no ROE, como dados para a construção de um plano de convivência da escola. O projeto seria implantado em três diretorias regionais, uma da Capital, uma da região Metropolitana e uma do Interior do Estado, totalizando aproximadamente 160 escolas, mas depois da tragédia ocorrida na escola em Suzano, o Secretárioexecutivo recém-chegado quis que o projeto se estendesse a todas as escolas da rede. Houve um replanejamento de todas as ações e um novo programa foi criado pela SEDUC, o CONVIVA SP, com o objetivo de tratar da convivência e da segurança escolar.O gabinete começou a planejar algumas ações contrárias às de convivência, como a presença de policiais nas escolas, a criação de um regimento único com normas que previam maior rigidez nos casos de violência e depredação, a criação de medidas educativas para os alunos que causassem danos ao patrimônio e a responsabilização das famílias na sua reparação dos prejuízos causados nas escolas. Houve a mudança de gestão do programa e o foco das ações mudou radicalmente e, em pouco tempo, as pautas de formação relacionadasà convivência 10Disponível em: Edital de Pesquisa: Anos Finais do Ensino Fundamental Adolescências, Qualidade e Equidade na Escola Pública | FCC -Acesso em: 19 jan. 2022.11A Avaliação do Clima Relacional consiste em um recorte da Avaliação do Clima Escolar, desenvolvido pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral GEPEM da Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e Universidade Estadual Paulista UNESP. A Avaliação do Clima Relacional utilizou apenas três das oito dimensões do instrumento original: as relações sociais e os conflitos na escola, as regras, as sanções e a segurança na escola e as situações de intimidação entre alunos. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1Sua0pM54bvhLnEmN2WO7IW--E90fLWpB/view?usp=sharing. Acesso em:28 jan.2022.
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695214foram substituídas por pautas sobre saúde mental, desenvolvidas em parceria com uma faculdade de enfermagem.A avaliação do clima relacional foi respondida pelas escolas da rede no final de 2019, e os resultados seriam usados no planejamento escolar de 2020, quando as equipes escolares construíram os seus planos de convivência utilizando o Método de Melhoria da Convivência MMC. Quando o Secretário principal viu o resultado geral da avaliação, ele não deixou que fosse divulgado para as escolas, embora os educadores já tivessem sido orientados em como usar os dados da avaliação para planejar as ações de convivência.Após o início da pandemia da Covid-19, um novo programa foi criado para compor as atividades do conviva, o programa Psicólogos na Educação, visando a contribuição nas ações de convivência e melhoria do ambiente escolar, apoiar na saúde emocional dos educadores e o trabalho pedagógico das equipes escolares no desenvolvimento das competências cognitivas e socioemocionais dos estudantes da rede estadual, conforme notícia12divulgada no site da SEDUC. A equipe do CONVIVA soube do lançamento deste programa quando o Secretário fez o anúncio na mídia; ninguém foi consultado ou participou da sua construção. A contratação dos psicólogos ocorreu por meio de um pregão e a empresa contratada presta seus serviços de psicologia via plataforma digital. Profissionais de qualquer região do país puderam atender as escolas, mesmo sem conhecer o seu contexto, sua cultura, sua história e suas práticas pedagógicas. A SEDUC ofereceu um curso virtual aos psicólogos contratados com foco no desenvolvimento das competências socioemocionais. Nos últimos anos, o movimento de patologização e de medicalização da educação tem crescido no Brasil e no mundo.Há uma forte crença de que as queixas escolares (problemas de aprendizagem e comportamento manifestados pelos alunos) são problemas dos próprios alunos. Para Souza (2007), as práticas escolares precisam ser repensadas, pois muitos estudantes têm sido diagnosticados de forma indevida.Não queremos afirmar, no entanto, que não existam problemas emocionais graves. Mas sim que estes não recaem sobre a maciça maioria de crianças das nossas escolas (públicas e privadas) e que mesmo que esses aconteçam, as experiências recentes mostram aimportância do espaço pedagógico enquanto um elementoestruturante do psiquismo e promotor de relações mais saudáveis (SOUZA, 2007, p.37).12Notícia do Programa Psicólogos na Educação. Disponível em: https://www.educacao.sp.gov.br/governo-de-sp-inicia-o-programa-psicologos-na-educacao-partir-desta-quarta-feira-17/.Acesso em:28jan. 2022.
image/svg+xmlConvivência escolar como política pública no estado de São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695215A crítica está relacionada ao trabalho pedagógico desenvolvido pela escola que reproduz a exclusão, a alienação e a submissão dos estudantes e depois, patologiza o seu comportamento. Leal, Facci e Souza (2014), explicam que a escola presta serviço à sociedade sendo orientada pelo capital e utiliza os conhecimentos da psicologia para validar as suas atividades, retirando a possibilidade do desenvolvimento pleno das pessoas, por elas não terem acesso ao que de fato a educação escolar deveria oferecer.A psicologia escolar e a Lei 13.935: O papel da(o) psicóloga(o) escolar Desde os anos 1980, a psicologia escolar e educacional tem questionado a relação entre psicologia e educação de forma a considerar que as teorias psicológicas estiveram, durante décadas, a serviço de explicações a respeito do mal desempenho de estudantes na escola, centradas em perspectivas individualizantes e que culpabilizam os estudantes, suas famílias e sua origem social. A discussão sobre o fracasso escolar ampliou a concepção sobre os aspectos sociais, históricos, políticos e culturais que compõem as dificuldades de escolarização, trazendo um importante conjunto de análises que passaram a ser referência para a compreensão do papel ético-político da psicologia na educação (PATTO, 2015). Assim, as discussões que sucederam no âmbito da psicologia escolar, passaram a se constituir em uma perspectiva crítica de psicologia, buscando explicitar as dimensões sociais, econômicas e políticas da escolarização, repensando os referenciais da psicologia para compreender a complexidade da subjetividade humana em uma sociedade de classes e a propor ações coletivas e compartilhadas entre psicólogas(os), educadores e profissionais de áreas afins, para a ampliação do acesso e da permanência escolares, de forma democrática e participativa.Nesse processo histórico de crítica, foram se consolidando propostas teórico-metodológicas com base na psicologia histórico-cultural e na pedagogia histórico-crítica que passaram a explicitar as contradições, os preconceitos, as disputas advindas da desigualdade social e que se materializam no dia a dia escolar, nas práticas pedagógicas, nas expectativas a respeito das crianças das classes trabalhadoras, nas possibilidades de enfrentamento às questões estruturais da sociedade brasileira, como o racismo.A ampliação dos debates sobre o papel da(o) psicóloga(o) escolar no Brasil caminhou, portanto, na direção de um projeto ético-político de psicologia em uma perspectiva emancipatória e democrática, constituindo consensos quanto às atividades profissionais que contribuam para: a) a consolidação do projeto pedagógico das escolas: b) a realização de atividades multiprofissionais, envolvendo vários segmentos da sociedade em busca da garantia
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695216de direitos para crianças e adolescentes; c) a colaboração direta com a atividade docente de maneira a apoiar as ações de aprendizagem e de desenvolvimento humano na escola;d) ações de enfrentamento à violência,desigualdade, discriminação, racismo, homofobia e várias formas de exclusão social: e) a ampliação dos laços de convivência social e de participação dos estudantes e das famílias no cotidiano escolar; f) a efetivação das políticas de inclusão da pessoa com deficiência; g) a ampliação do diálogo entre educadores, estudantes e pais para as decisões que constituem o dia a dia da escola, dentre outros aspectos (CFP, 2019). As produções acadêmicas, científicas, dos órgãos representativos da profissão, dos coletivos e dos conselhos profissionais puderam revelar esse movimento fundamental da psicologia brasileira e da psicologia na sua relação com a educação. Um destaque muito importante precisa ser dado ao processo de formação profissional. O projeto político dapsicologia no Brasil impactou a formação de psicólogas(os) seja pela organização das entidades brasileiras, seja pelas universidade ou ainda por instâncias governamentais que ampliaram nos anos 2000 as ações democráticas no país para a formação profissional em nível superior, instaurando uma política nacional de avaliação do ensino superior (SINAES -Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior). No caso específico da formação em psicologia, as diretrizes curriculares nacionais para a graduação em psicologia foram aprovadas em 2004 e reformuladas em 2011 e 2019, dando um dinamismo e ampliando a participação das instituições formadoras em todo o país.A aprovação da Lei 13.935 em 11 de dezembro de 2019 que "dispõe sobre os serviços de psicologia e serviço social nas redes públicas de educação básica" é uma importante consequência do processo de luta das(os) psicólogas(os) para um reconhecimento efetivo da participação e das contribuições da psicologia na educação em uma perspectiva emancipatória. As necessidades sociais, agravadas pelas políticas neoliberais, têm apresentado desafios de grande monta à educação e à formação humana. A sociedade civil precisa, cada vez mais, constituir políticas públicas que venham fortalecer posições democráticas, participativas e coletivas na garantia de direitos e no avanço de um projeto ético-político para toda a sociedade.
image/svg+xmlConvivência escolar como política pública no estado de São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695217Considerações finaisAs pesquisas são importantes instrumentos de denúncia e de anúncio em uma sociedade de classes marcada pela desigualdade social. Consideramos que o tema da convivência social é fundamental para que possamos compreender as relações sociais e nelas as marcas dos valores impetrados entre as pessoas, em uma determinada cultura. A escola enquanto importante instituição social é um espaço de relações humanas em que se encontram as mais diversas contradições postas na vida cotidiana. Identificar tais relações, compreender as origens de determinados preconceitos e estereótipos, propor práticas coletivas, democráticas e inclusivas torna-seuma condição imprescindível para a resistência à desumanização.REFERÊNCIASCECCON, C. et al. Conflitos na escola: Modos de transformar. São Paulo: Imprensa Oficial, 2009CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências técnicas para a atuação de psicólogas(os) na educação básica.Brasília, DF: CFP, 2019. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2019/08/educacaobasica_web.pdf.Acesso em: 20 nov. 2021.FREIRE, P. Pedagogia da indignação: Cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora Unesp, 2000.JARES, X. R. Pedagogia da convivência. São Paulo: Palas Athena, 2008.LEAL, Z. F. R. G.; FACCI, M. G. D.; SOUZA, M. P. R. Adolescência em foco: Contribuições para a psicologia e para a educação. Maringá:SciELO EDUEM, 2014.MARX, K. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007.OLIVEIRA, D. A. Nova gestão pública e governos democrático populares: Contradições entre a busca da eficiência e a ampliação do direito à educação. Educ. soc., Campinas, v. 36, n. 132, p. 625-646, jul./set. 2015. disponível em: https://www.scielo.br/j/es/a/nvqbjcqwfmxgrflctr3clcj/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 20 nov. 2021.PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar:Histórias de submissão e rebeldia. 5. ed. São Paulo: Intermeios, 2015.PEREIRA, L. C. B. Uma reforma gerencial da administração pública no Brasil. Revista do Serviço Público, v. 49, n. 1, p. 5-42, jan./mar. 1998. disponível em: https://revista.enap.gov.br/index.php/rsp/article/view/360. Acesso em: 20 nov. 2021.
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695218RISTUM, M. Violência na escola, da escola e contra a escola. In:ASSIS, S. G. (org.). Impactos da violência na escola: Um diálogo com professores. Rio de Janeiro: Ministério da Educação; Editora Fiocruz, 2010.SÃO PAULO(Estado). Resolução n. 48, de 1 de outubro 2019. Institui o CONVIVA SP Programa de melhoria da convivência e proteção escolar no âmbito da rede estadual de educação. São Paulo: Secretário de Estado da Educação, 2019a. Disponível em: http://www.educacao.sp.gov.br/lise/sislegis/detresol.asp?strato=201910010048. Acesso em: 10 mar. 2020.SÃO PAULO(Estado). Plano Estratégico 2019 a 2022. São Paulo: SEDUC-SP, 2019b. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1y_11kktemg7mfqw7pxbitcknuxyktqjh/view?usp=sharing. Acesso em: 10 jan. 2022.SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica:Primeiras aproximações. Campinas, SP: Editora autores associados, 2011.SAVIANI, D. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas, SP: Editora autores associados, 2013.SOUZA, M. P. R. Prontuários revelandobastidores: Do atendimento psicológico à queixa escolar. In:SOUZA, B. P. (org.). Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa do psicólogo, 2007.VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1991.VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2018.VIGOTSKI, L. S.; LURIA, A. Estudos sobre a história do comportamento: Símios, homem primitivo e criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.VINHA, T.; TOGNETTA, L. P. Construindo a autonomia moral na escola: Os conflitos interpessoais e a aprendizagem dos valores. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 9, n. 28, p. 525-540, set./dez, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=189114443009. Acesso em: 24 jan. 2022.
image/svg+xmlConvivência escolar como política pública no estado de São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,jul.2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695219Como referenciar este artigoFODRA, S. M.; SOUZA, M. P. R. Convivência escolar como política pública no estado de São Paulo. Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092, jul. 2022. e-ISSN:1519-9029. DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.16952Submetidoem: 09/12/2021Revisões requeridas: 22/03/2022Aprovado em: 13/05/2022Publicado em: 01/07/2022
image/svg+xmlSchool coexistence as a public policy in the state of São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169521SCHOOL COEXISTENCE AS A PUBLIC POLICY IN THE STATE OF SÃO PAULOCONVIVÊNCIA ESCOLAR COMO POLÍTICA PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULOLA CONVIVENCIA ESCOLAR COMO POLÍTICA PÚBLICA EN EL ESTADO DE SÃO PAULOSandra Maria FODRA1Marilene Proença Rebello de SOUZA2ABSTRACT: This article has as object of study the school relations in basic education and is based on historical-cultural psychology and historical-critical pedagogy. its objective is to analyze a government program implemented in the public network of são paulo, entitled conviva, with the purpose of improving the quality of the coexistence inside public schools. this program was conceived to match the needs of educators in the public school system of são paulo, in dealing with conflicts, violence and promoting the improvement of the relational climate and safety of schools. however, the analysis of the documents, carried out until that moment, highlights the influence of neoliberal policies, implemented in recent decades on the program, changing the focus of its actions to homogenize behaviors and promote social control, dealing with mental health of students and teachers, which contributed to the pathologization of education.KEYWORDS:Basic education. Schoolviolence. School coexistence. Human development. Neoliberal policies.RESUMO: Este artigo tem por objeto de estudo as relações escolares na Educação Básica e está embasado na psicologia histórico cultural e na pedagogia histórico crítica. O objetivo é analisar um programa de governo implementado na Rede Pública Paulista, intitulado conviva, voltado para a melhoria da qualidade da convivência escolar. Este programa foi concebido para atender as necessidades dos educadores da rede estadual paulista no tratamento dos conflitos, das violências e promover a melhoria do clima relacional e segurança das escolas. Mas a análise dos documentos realizada até esse momento, ressalta a influência das políticas neoliberais, implementadas nas últimas décadas sobre o programa, alterando o foco das suas ações para homogeneizar os comportamentos e promover o controle social, passando a tratar de saúde mental de estudantes eprofessores, contribuindo para a patologização da educação.PALAVRAS-CHAVE: Educação. Escola. Conviva. Política pública. Violência.1University of São Paulo (USP), São Paulo SP Brazil. Doctoral student in the School Psychology and Human Development Program.ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5957-2244. E-mail: sandra.fodra@gmail.com2University of São Paulo (USP), São Paulo SP Brazil. Head Professor. PhD in School Psychology and Human Development. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8297-5674. E-mail: mprdsouz@usp.br
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169522RESUMEN: Este artículo tiene como objeto de estudio las relaciones escolares en la educación básica y se fundamenta en la psicología histórico-cultural y la pedagogía histórico-crítica. su objetivo es analizar un programa de gobierno implementado en la red pública de são paulo, denominado conviva, destinado a mejorar la calidad de la convivencia escolar. este programa fue concebido para atenderlas necesidades de los educadores de la red estatal de são paulo,en el abordaje de los conflictos, la violenciay la promoción de la mejora del clima relacional y de la seguridad en las escuelas. sin embargo, el análisis de los documentos, realizado hasta ese momento, destaca la influencia de las políticas neoliberales, implementadas en las últimas décadas sobre el programa, cambiando el foco de sus acciones para homogeneizar conductas y promover el control social, pasando a ocuparse de la salud mental de los estudiantes y docentes, contribuyendo a la patologización de la educación.PALABRAS CLAVE:Educación básica. La violencia escolar. Convivencia escolar. Desarrollo humano. Políticas neoliberale.IntroductionThe devaluation of the human world increases in direct proportion to the appreciation of the world of things.KarlMarxViolence is not a current or isolated phenomenon, it runs throughout human history and affects all societies. But nowadays, the established forms of violence are increasingly complex and trivialized, mainly due to its overexposure in the media and social networks. The episodes of violence that have occurred in schools in recent years have worried not only the school community, but society as a whole, generating fear, insecurity, and a feeling of powerlessness. In Vigotski's (2018) conception, it is throughsocial relations that subjects are constituted and develop human potentialities. The human being is social and needs collaborative coexistence to incorporate culture and knowledge historically built; therefore, the quality of interpersonal relationships is essential in educational processes. Jares (2008) explains that the model of coexistence we have nowadays is based on "socioeconomic, political, cultural, and educational practices decided by human beings" (p.18). He states that neoliberalism and globalization are increasingly deepening injustices and dehumanization, promoting changes in social relations with the promotion of individualism, consumerism, exaltation of appearance over essence, and the "loss of basic values of coexistence" (JARES, 2008, p. 18). The culture of violence is present in all institutions and the school is not immune to it. The disseminated capitalist values, combined with the inequalities, social, political and economic problems experienced in Brazil, promote situations of violence that are reproduced
image/svg+xmlSchool coexistence as a public policy in the state of São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169523and stimulated in schools, compromising school coexistence and, consequently, the quality of education. This study analyzes the reflections of neoliberal policies on education and the promotion of school violence, focusing on the actions developed by the São Paulo State Department of Education -SEDUC-SP, especially in the CONVIVA-SP program that was designed with the purpose of addressing coexistence, improvement of the relational climate and safety in schools of the São Paulo public network, as provided in Resolution No. 48/2019 (SÃO PAULO, 2019a).Theoretical and methodological assumptionsThe research entitled “Convivência em Escolas Públicas Estaduais de São Paulo: Um estudo de caso sobre o Programa Conviva SP” has as its perspective cultural historical psychology and critical historical pedagogy, based on Vigotski's studies and on the theoretical and methodological principles of dialectical historical materialism. In these theories, the human being is understood as historical, living in a cultural, political, and economic context and constituted from its material production. It is through work (material activity) and the social relations arising from it that human development takes place. Marx (2007, p. 87) explains this movement: "what they are coincides, therefore, with their production, both with what they produce and how they produce it. What individuals are, therefore, depends on the material conditions of their production." The material activity and social relations established through work promote human development, consciousness, ideas and representations. The material bases and the ways in which they develop their activities interfere in the formation of subjects.Vigotski, based on Marxist assumptions, understood the importance of activity, social relations, and the historical and cultural context in the development of subjectivity and subject's behavior. His studies concluded that the human being is not born ready like other animals, but has infinite possibilities for development and that the historical, material, cultural, and social conditions are fundamental in the humanization process. For Vigotski, "[...] Man is a social being and, outside of his relationship with society, he would never develop the qualities, the characteristics that are the result of the methodical development of all humanity" (2018, p. 90). He links human development to the development of the Higher Psychological Functions -HPF, which are stimulated by the activities he develops and by the appropriation of culture in the social relations established by the subjects throughout their lives.
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169524The HPFs, such as consciousness, memory, perception, attention, speech, thought, emotion, will, and the formation of concepts, are developed in the historical, social, and cultural process of the human being, from the activities and experiences in all the environments in which he/she lives. These experiences are mediated by other people, promoting an unlimited psychic evolution. The more significant experiences the individual has, the greater is his possibility of development. In other words: "all higher functions originate from real relations between human individuals" (VIGOTSKI, 1991, p. 41). He clarifies that HPFs develop in twostages, the first through social relations and the second individually, with the association of interpersonal (interpsychological) experiences with intrapersonal (intrapsychological) development. The author highlights the importance that interpersonal relationships have in the process of human development, because it is from them that the subject incorporates the knowledge necessary for its evolution. As Saviani (2011, p. 12) states, the school plays a key role in human development, since the educational processes organized by teachers promote the socialization of knowledge historically built and necessary for the psychological development of subjects and "in the production of ideas, concepts, values, symbols, habits, attitudes, and skills". For the author, the human being needs to learn to think, to act, to evaluate, to make choices, to know scientific concepts, to develop critical thinking, and to participate concretely in the reality that he or she lives. Therefore, "for the historical-critical pedagogy, education is the act of producing, directly and intentionally, in each individual, the humanity that is produced historically and collectively by all men" (SAVIANI, 2011, p. 6). Cultural-historical psychology and critical historical pedagogy act in the construction of qualified experiences for the integral development of individuals, through formative processes that promote emancipation. Educators should understand the student in his political, economic, and social context and offer meaningful pedagogical activities, not promote his adaptation and conformation to the social environment.
image/svg+xmlSchool coexistence as a public policy in the state of São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169525Neoliberal policies imposed on educationThe changes that have occurred in education in the last decades have totally compromised the quality of teaching, reducing school practices to the logic of the market. During the 1990s, Brazil underwent neoliberal reforms that affected the services provided by the state, outsourcing their management to institutions linked to capital. The minister of the reform, which became known as New Public Management -NPM, argued that with globalization there was a need to intervene and regulate education, health, culture and prepare the country for world competition (PEREIRA,1998). NPM transformed school practices and imprinted economic rationality with a focus on evaluation, data analysis, efficiency in process management and the search for results, with cost reduction. The privatization of public services imposed a new relationship in the consumption of services, focused on market interests, which reoriented social policies. In education, changes occurred "in administrative, financial, and pedagogical dimensions" (OLIVEIRA, 2015, p. 630-631).For Saviani, education began to exalt the "capabilities and skills" to be achieved "in the educational market", fostered by business sectors under the command of international organizations such as the World Bank, the Organization for Economic Cooperation and Development -OECD and institutes linked to large companies, which instituted the so-called "corporate pedagogy" (SAVIANI, 2013, p. 430). These changes have affected both basic and higher education, valuing quantitative performance goals and reducing human formation to the mere acquisition of content; the so-called banking education, so criticized by Paulo Freire, when he denounces: "it is pure training, it is pure transfer of content, it is almost training, it is pure exercise of adaptation to the world" (FREIRE, 2000, p. 101).Saviani (2013, p. 437) further states that: "for the adaptation to the natural and material environment would come into play the cognitive skills and the mechanisms of adaptation to the social environment would be constituted by affective emotional skills", preparing individuals to have behaviors adapted to social demands. The author shows that education focused on the development of skills fosters resignation and individualism, praising the results anddiscarding the processes.capitalist society is therefore divided into classes with antagonistic interests. From this character of the capitalist social structure it follows that the role of school education will be one if it is placed at the service of the development of capital, therefore, at the service of the interests of the dominant class. And it will be another if it is positioned in favor of the interests of the workers. And
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169526there is no possibility of a third position. Neutrality is impossible. This is what is meant when we say that education is a political act (SAVIANI, 2013, p. 26).Cultural-historical psychology and critical historical pedagogy are committed to social development and to overcoming capitalist values. The educational processes promoted by the school are fundamental for the development of critical thinking and active social participation, but by offering reductionist activities that simplify the concrete reality, the subjects become vulnerable to the ideals disseminated by the dominant ideologies. As Saviani emphasizes, education cannot be neutral. It must be committed to human development and to the social emancipation of individuals, and not to capital.The contradiction of managerialist policies is the idea of efficiency and total quality in education. However, they ended up withdrawing financial and pedagogical resources from schools, created reductionist curricula focused on the development of cognitive and socioemotional skills, compromised the training of educators and students, which reproduced an uncritical, reductionist, dehumanized and authoritarian education that strengthened the culture of competition among people, affecting social relations and coexistence at school. There is no educational quality without financial resources, without participatoryactivities and without the promotion of human development.School violence in the State of São PauloIn the state of São Paulo, which has the largest public school network in Latin America, with approximately 5,100 units, the number of incidents involving interpersonal conflicts and other types of violence has increased in recent years, as demonstrated by the data in the figure below:
image/svg+xmlSchool coexistence as a public policy in the state of São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169527Figure1Violence Data ROE3Source: System for Registering School Occurrences -ROE (current CONVIVA platform -PLACON)The numbers show the most recurrent records made by schools, which characterize both interpersonal and intrapersonal violence, in the case of self-inflicted, better known as self-mutilation. There are cases of suicide among adolescents and young people, which are usually related to bullying, a type of violence that has increased significantly in recent years, as shown by the figures. Educators have difficulty in dealing with these situations, and most of the time, they use punishment and even judicialization as a way to solve conflicts and violence.Three recent cases draw attention because of the context in which they occurred and the way they were handled. The case of Suzano4, in which two former students entered the school and killed seven people, including students and staff, and then committed suicide, shocked and caused a lot of commotion in society. There are reports that the attackers were victims of bullying when they were studying at the school and,supposedly, they came back to take revenge. For many months after this event, SEDUC-SP sent teams to support and monitor the educators' activities and completely renovated the school, inserting living spaces and technological equipment5.3Agressão física = Physical aggression; Agressão verbal = Verbal Abuse; Alcohol and/or other drugs encounter; Ameaça = Threatening; Assédio e/ou Abuso Sexual = Sexual Harassment and/or Abuse; Indisciplina = Indiscipline;Discriminação = Discrimination; Violência auto infligida = Self-inflicted violence4News about the Suzano school case. Available at: Double attacks school in Suzano, kills eight people and commits suicide. Mogi das Cruzes and Suzano. G1 (globo.com). Accessed on: 28 Jan. 2022.5News about the revitalization of the Raul Brasil School. Available at: https://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/apos-reforma-escola-estadual-raul-brasil-esta-totalmente-revitalizada/. Accessed on: 09 Jan. 2022.
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169528The second case occurred in a school in Carapicuíba 6, when some students started throwing desks and chairs on the classroom floor, throwing books at the teacher and verbally assaulting her. One of the students filmed the violent scenes and a few days later, the video was shown on a popular television program. After the video was shown in the media, SEDUC-SP called the police who took the nine students involved in the case to the police station that handles cases of infractions committed by teenagers, where the boys, aged12 to 16, spent the night and, the next day, were referred to the Public Prosecutor's Office. All the students were transferred from the school and three were sent to the home foundation.The third case concerns two children, ages eight and nine, students in the 4th grade at a school in the city of São Paulo 7, They put insect poison in the teacher's water, and she started to feel ill, but was quickly attended to. The episode also had great repercussion in the media, but the boys could not be prosecuted because of their age, since only adolescents between the ages of 12 and 18 are considered infractions. The teachers at the school wanted to transfer them and called the police and the Guardianship Council to handle the case. The cases presented promote some reflections and conclusions about the practices developed in the school, the culture present in the school community about violence and the actions of SEDUC-SP. The first finding is that educators do not know how to deal with conflicts, since violent situations arise due to poorly resolved conflicts and usually become police cases. Conflicts are human and commonplace, but they can bring positive or negative consequences. Thus, "when ignored or mismanaged, they can have unintended consequences. What is commonly referred to as violence is one of the possible consequences of the inability to manage conflicts. But when they are well managed, they generate learning in all involved (CECCON et al., 2009, p. 19). Another finding is about the physical, pedagogical, and staff infrastructure of São Paulo schools. The Strategic Plan of the current administration 2019 -2022 shows that: There are 900 schools without sports courts (17%), 1,384 in need of general renovation (27%), 3,555 in need of partial renovation (69%), and 3,634 without accessibility (71%). The last computer upgrade occurred in 2013/2014 with the renewal of only 88 thousand machines and 2,391 schools are without Wi-Fi for pedagogical use (46% of the network) (SÃO PAULO, 2019b, p. 14).6News about the Carapicuíba school case: Students who threw books at a teacher at a school in São Paulo are heard by a prosecutor and taken to the Children's Court. São Paulo: G1 (globo.com). Accessed on: 28 Jan. 2022.7News about the Capital's school case. Available at: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/02/14/policia-de-sp-apura-se-alunos-colocaram-veneno-para-matar-barata-em-garrafa-de-agua-de-professora-que-passou-mal.ghtml. Accessed on: 28 Jan. 2022.
image/svg+xmlSchool coexistence as a public policy in the state of São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169529Thenumbers point to the lack of investment needed to provide basic services in schools, in addition to the lack of teachers, which in 2018 reached 34%; and support staff. The school in Carapicuíba, for example, had no support staff when the students vandalized the classroom; the principal was in charge of everything from keeping the staff's time book to opening and closing the school gates, although she had eight open positions for school organization agents. Immediately after the conflict, the Secretary sent two agents, who had already taken the exam, to work at the school. SEDUC-SP only remedies the situation of schools when the media reports some serious episode, but many schools lack adequate infrastructure.A third important finding is the absence of dialogic spaces for conflicts to be understood and resolved in an assertive manner. In this sense, it is necessary to identify the cases of bullying such as those that occurred in the Suzano school, understand the needs of students and educators, as in the cases of Carapicuíba and Capital, and require spaces where difficulties and feelings can be verbalized. The times and spaces for conflict resolution at school have to be systematic and involve all members of the school community (CECCON, 2009; JARES, 2008; VINHA; TOGNETTA, 2009). The students from the Carapicuíba school were not heard about the reason for the aggression against the teacher, nor were the children from the Capital school, but according to reports, they were having difficulties with some assignments given and wanted to continue studying with the previous year's teacher with whom they had a strong bond, and thus thought of pushing the new teacher away. Although the news reports say that the children would be ten and 11 years old, they were eight and nine at the time. Dialogical spaces collaborate to strengthen the relationship and encourage communication between students and teachers. According to Vigotski (1991), speech is vital to the organization of HPF; it is a complex activity that stimulates thinking and the formulation of ideas. In Vygotski's (1996, p. 209) view: "[...] The convergence between thought and speech constitutes the most important moment in an individual's development, and it is precisely this connection that places human thought at an unprecedented height." Thus, dialogue drives the elaboration of thought and cognitive development, for the expansion of higher psychological structures. But what has been happening in schools is the imposition of dehumanized practices, in which neither educators nor students see themselves as subjects of educational processes, but mere executors of ready-made activities sent by the Teaching System.It can be observed that there has been a decline in education inSão Paulo, the result of inadequate policies implemented in the last decades, which have compromised the educators'
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695210training and their conception of education, the well-being and safety of people in school and, consequently, the quality of the education they offer.Violence against school, from school, and atschoolViolence at school can be characterized in three different ways:violence against the school, from school, and atschool, according to Ristum (2010). The public policies implemented by the managerialist reform can be characterized as violence against the school, because the new pedagogical proposals created without the participation of educators, the large number of students in classrooms, the lack of investment, low wages and the growing demand for results in student performance have made educators sick and promoted the devaluation of teaching, in addition to the precariousness of school practices (RISTUM, 2010). Theauthor states that the scrapping of public schools combined with the depredations and invasions, especially in more vulnerable neighborhoods; drug trafficking; the enticement of students to the world of crime and the constant presence of the police consist of situations of violence against the school, compromising the safety and well-being of the school community and the quality of education (RISTUM, 2010, p. 70).Violence from schoolis related to symbolic violence (BOURDIEU, 1989, apud RISTUM, 2010, p. 74), experienced by the hierarchical relationships present in the school environment. There is a verticalization of power, in which orders are received from the administrative spheres and must be fulfilled by educators, being reproduced to students and their families. There are no democratic spaces, only obedience to superior orders, which reproduces the socially established power relations. The presence of a prescribed curriculum without the participation of teachers in its construction, with activities outof context of the students' reality, as well as the installation of bars, cameras and other devices that resemble prisons also characterize school violence (RISTUM, 2010, p. 90).Violence at school, on the other hand, is what occurs in everyday school life, such as indiscipline, physical and verbal aggression, property depredation, theft, bullying, name-calling; that are more common among students and between them and teachers, but can occur among educators and with families. There are the most serious cases in which students carry weapons at school to threaten their peers or teachers. The intention to humiliate, practice acts of cruelty and submit the other to their power, clearly demonstrate problems in social relationships (RISTUM, 2010, p. 79-81).
image/svg+xmlSchool coexistence as a public policy in the state of São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695211Violent attitudes are also manifested by educators with students, in situations such as criticizing some speech or behavior in public, putting the student out of class or punishment, threatening to call parents, putting nicknames and other types of psychological violence that can create a tense and embarrassing environment, compromising interpersonal relationships (RISTUM, 2010, p. 87)The use of violence promotes an environment that compromises the quality of education, especially in public schools, aggravating the situation of the poorest students who are already excluded in different ways. And, as paradoxical as it may seem, the dynamism and complexity of the social relations involved in the historical-cultural issues that lead these teachers to promote social exclusion, by allying themselves with the process of impoverishment and social devaluation of the teaching profession, end up placing these same professionals as socially excluded (IBID, 2010, p. 87).The author observes that the exclusion promoted by the educators reflects on their own exclusion, reproducing the historical and cultural values of violence and contributing to the social depreciation of the teaching profession. Another important analysis made by Ristum (2010) is related to theblame for school violence, which, in the view of educators, falls on the family, the social, political, economic, cultural context and the violent environment that students live in. The author agrees that macrosocial factors are the driving force of violence, but considers that the practices developed by educators reinforce the reproduction of violence at school.SEDUC-SP's policies to contain school violenceThere was a rebellion8back in 2008 at a school in the city of São Paulo, in which the students began to break the glass, windows and desks of the classrooms, climbed on the roof and kept threatening the educators, who locked themselves in a room in fear of the students, as it was not the first time that violent episodes had occurred in the school. The rebellion was only contained with the arrival of the police and the case was publicized in the media with great repercussion.In view of this event, SEDUC-SP created the School Protection System -SPEC, in partnership with the Public Security Department -SSP, with proposals to prevent violence and deal with interpersonal conflicts that occur in the school routine. The program was based on 8News about the rebellion at the Amadeu Amaral school. Available at: https://g1.globo.com/noticias/saopaulo/0,,mul859263-5605,00-professores+chamam+pm+para+conter+briga+de+alunos+em+sp.html. Accessed on: 23 Jan. 2022.
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695212three pillars: the School and Community Mediator Teacher project, the Electronic Surveillance project and the School Occurrence Registration system ROE in the Portuguese acronym. The School and Community Mediator Teacher project designated a teacher to act as a mediator, develop actions to resolve everyday conflicts and forward the vulnerability situations identified in the school to the institutions of the protection network, such as the Guardianship Council, Public Ministry, Health Institutions, among others. Electronic surveillance installed cameras in strategic locations in schools in order to contain actsof vandalism and the ROE was created for managers to record conflicts and violence that occurred in schools, which served as a database to guide the actions of SEDUC, of the boards of directors. regional and schools.In the early years, SPEC received sufficient resources to promote training actions for mediator teachers and maintain a central team with many employees to monitor and meet the needs of schools. With management changes, the resources allocated to the program were reduced, the central team and the number of designated mediator teachers were reduced, until in 2017, the cabinet requested the creation of a new program, as the occurrences registered by the schools were increasing. Thus, the school and community mediation program was created, which involved all civil servants in conflict resolution actions and resumed training actions in order to discuss conflicts and violence in the light of scientific research. Some partnerships with Universities and Institutions of the protective network were established, which guaranteed the quality in the training of servers.In 2018, SPEC and “Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral-GEPEM” organized a project entitled “Coexistence as a value in public schools” for submission in a research notice. 9published by Fundação Itaú Social and Carlos Chagas. The project was chosen by the referees and the SPEC training actions began to be guided by themes related to coexistence and not only in conflict resolution. The proposal consisted of implementing school assemblies to discuss what bothered people at school, a support system among equals to help students who were isolated, sad or experiencing some problem, and conflict mediation chambers, which would involve educators and family members in resolving occasional conflicts. These methodologies aimed to create a culture of solving everyday problems and seeking consensual solutions for them. Educators and students would answer a questionnaire for the Relational Climate Assessment10at school, whose results would serve, together with the 9Available atEdital de Pesquisa: Anos Finais do Ensino Fundamental Adolescências, Qualidade e Equidade na Escola Pública | FCC Accessed on: 19 Jan. 2022.10The Relational Climate Assessment is a part of the School Climate Assessment, developed by the Group of Studies and Research in Moral Education GEPEM at the State University of Campinas UNICAMP and São
image/svg+xmlSchool coexistence as a public policy in the state of São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695213records of the occurrences made in the ROE, as data for the construction of a plan of coexistence of the school. The project would be implemented in three regional directorates, one in the capital, one in the metropolitan region and one in the interior of the state, totaling approximately 160 schools, but after the tragedy that occurred at the school in Suzano, the newly arrived executive secretary wanted the project to be extended to all schools in the network. All actions were replanned and a new program was created by SEDUC, CONVIVA SP, with the aim of dealing with coexistence and school safety.The cabinet began to plan some actions contrary to coexistence, such as the presence of police officers in schools, the creation of a single regiment with rules that provided for greater rigidity in cases of violence and depredation, the creation of educational measures for students who caused damage to the patrimony and the responsibility of the families in its repair of the damages caused in the schools. There was a change in the management of the program and the focus of actions changed radically and, in a short time, the training guidelines related to coexistence were replaced by guidelines on mental health, developed in partnership with a nursing faculty.The relational climate assessment was answered by the schools in the network at the end of 2019, and the results would be used in the 2020 school planning, when school teams built their coexistence plans using the Coexistence Improvement Method -CIM. When the Principal Secretary saw the general result of the evaluation, he did not let it be released to the schools, although the educators had already been guided on how to use the evaluation data to plan coexistence actions.After the beginning of the Covid-19 pandemic, a new program was created to compose the activities of the conviva, the Psicólogos na Educação program, aiming at contributing to the actions of coexistence and improvement of the school environment, supporting the emotional health of educators and the work pedagogical of school teams in the development of cognitive and socio-emotional skills of students in the state network, according to news published on the SEDUC website. CONVIVA staff learned of the launch of this program when the Secretary made the announcement in the media; no one was consulted or participated in its construction. Paulo State University UNESP. The Relational Climate Assessment used only three of the eight dimensions of the original instrument: social relationships and conflicts at school, rules, sanctions and safety at school, and situations of bullying among students. Available at: https://drive.google.com/file/d/1Sua0pM54bvhLnEmN2WO7IW--E90fLWpB/view?usp=sharing. Accessed on: 28 Jan. 2022
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695214The hiring of psychologists took place through a trading session and the contracted company provides its psychology services via a digital platform. Professionals from any region of the country were able to attend the schools, even without knowing their context, culture, history and pedagogical practices. SEDUC offered a virtual course to contracted psychologists focusing on the development of socio-emotional skills. In recent years, the pathologization and medicalization movement of education has grown in Brazil and in the world. There is a strong belief that school complaints (learning and behavior problems manifested by students) are students' own problems. For Souza (2007), school practices need to be rethought, as many students have been misdiagnosed.We do not want to say, however, that there are no serious emotional problems. But they do not affect the vast majority of children in our schools (public and private) and that even if they do happen, recent experiences show the importance of the pedagogical space as a structuring element of the psyche and promoter of healthier relationships. (SOUZA, 2007, p.37).The criticism is related to the pedagogical work developed by the school that reproduces the exclusion, alienation and submission of students andthen pathologizes their behavior. Leal, Facci and Souza (2014), explain that the school provides a service to society being oriented by capital and uses the knowledge of psychology to validate its activities, removing the possibility of the full development of people, because they do not have access to what they need. In fact, school education should offer.School psychology and Law 13,935: The role of the school psychologistSince the 1980s, school and educational psychology have questioned the relationship between psychology and education in order to consider that psychological theories have been, for decades, at the service of explanations about the poor performance of students at school, centered on individualizing perspectives and that blame students, their families and their social origins. The discussion about school failure expanded the conception of the social, historical, political and cultural aspects that make up the difficulties of schooling, bringing an important set of analyzes that became a reference for understanding the ethical-political role of psychology in education ( PATTO, 2015). Thus, the discussions that took place within the scope of school psychology, began to constitute a critical perspective of psychology, seeking to explain the social, economic and political dimensions of schooling, rethinking the references of psychology to understand the
image/svg+xmlSchool coexistence as a public policy in the state of São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695215complexity of human subjectivity in a society of classes and to propose collective and shared actions between psychologists, educators and professionals from similar areas, for the expansion of school access and permanence, in a democratic and participatory way.In this historical process of criticism, theoretical-methodological proposals were consolidated based on historical-cultural psychology and historical-critical pedagogy that began to explain the contradictions, prejudices, disputes arising from social inequality and that materialize in everyday life. school, in pedagogical practices, in expectations about working-class children,in the possibilities of facing structural issues of Brazilian society, such as racism.The expansion of debates on the role of the school psychologist in Brazil has therefore moved towards an ethical-political project of psychology in an emancipatory and democratic perspective, constituting consensus on professional activities that contribute to: ) the consolidation of the schools' pedagogical project: b) the carrying out of multi-professional activities, involving various segments of society in search of guaranteeing rights for children and adolescents; c) the direct collaboration with the teaching activity in order to support the actions of learning and human development in the school; d) actions to combat violence, inequality, discrimination, racism, homophobia and various forms of social exclusion: e) the expansion of bonds of social coexistence and the participation of students and families in everyday school life; f) the implementation of policies for the inclusion of people with disabilities; g) the expansion of dialogue between educators, students and parents for the decisions that constitute the daily life of the school, among other aspects (CFP, 2019). Academic and scientific productions from representative bodies of the profession, collectives andprofessional councils were able to reveal this fundamental movement of Brazilian psychology and psychology in its relationship with education. A very important emphasis needs to be given to the process of professional training. The political project of psychology in Brazil had an impact on the training of psychologists, whether through the organization of Brazilian entities, universities or government bodies that expanded democratic actions in the country in the 2000s for professional training at a higher level, establishing a national higher education assessment policy (SINAES -National Higher Education Assessment System). In the specific case of training in psychology, the national curriculum guidelines for undergraduate psychology were approved in 2004 and reformulated in 2011 and 2019, giving dynamism and expanding the participation of training institutions across the country.The approval of Law 13,935 on December 11, 2019, which "provides for the services of psychology and social service in public basic education networks" is an important
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695216consequence of the process of struggle of psychologists for an effective recognition of the participation and contributions of psychology in education in an emancipatory perspective. Social needs, exacerbated by neoliberal policies, have presented major challenges to education and human training. Civil society increasingly needs to establish public policies that will strengthen democratic, participatory and collective positions in guaranteeing rights and advancing an ethical-political project for the whole of society.Final remarksResearch is an important instrument of denunciation and announcement in a class society marked by social inequality. We believe that the theme of social coexistence is fundamental for us to understand social relations and in them the marks of the values imposed among people, in a given culture. The school, as an important social institution, is a space of human relations where the most diverse contradictions are found ineveryday life. Identifying such relations, understanding the origins of certain prejudices and stereotypes, proposing collective, democratic, and inclusive practices becomes an indispensable condition for the resistance to dehumanization.REFERENCESCECCON, C. et al. Conflitos na escola: Modos de transformar. São Paulo: Imprensa Oficial, 2009CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências técnicas para a atuação de psicólogas(os) na educação básica.Brasília, DF: CFP, 2019. Available at: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2019/08/educacaobasica_web.pdf.Access on: 20 Nov. 2021.FREIRE, P. Pedagogia da indignação: Cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora Unesp, 2000.JARES, X. R. Pedagogia da convivência. São Paulo: Palas Athena, 2008.LEAL, Z. F. R. G.; FACCI, M. G. D.; SOUZA, M. P. R. Adolescência em foco: Contribuições para a psicologia e para a educação. Maringá:SciELO EDUEM, 2014.MARX, K. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007.OLIVEIRA, D. A. Nova gestão pública e governos democrático populares: Contradições entre a busca da eficiência e a ampliação do direito à educação. Educ. soc., Campinas, v. 36, n. 132, p. 625-646, jul./set. 2015. Available at:
image/svg+xmlSchool coexistence as a public policy in the state of São PauloRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695217https://www.scielo.br/j/es/a/nvqbjcqwfmxgrflctr3clcj/?format=pdf&lang=pt. Access on: 20 Nov. 2021.PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar:Histórias de submissão e rebeldia. 5. ed. São Paulo: Intermeios, 2015.PEREIRA, L. C. B. Uma reforma gerencial da administração pública no Brasil. Revista do Serviço Público, v. 49, n. 1, p. 5-42, jan./mar. 1998. Available at: https://revista.enap.gov.br/index.php/rsp/article/view/360. Access on: 20 Nov. 2021.RISTUM, M. Violência na escola, da escola e contra a escola. In:ASSIS, S. G. (org.). Impactos da violência na escola: Um diálogo com professores. Rio de Janeiro: Ministério da Educação; Editora Fiocruz, 2010.SÃO PAULO(State). Resolução n. 48, de 1 de outubro 2019. Institui o CONVIVA SP Programa de melhoria da convivência e proteção escolar no âmbito da rede estadual de educação. São Paulo: Secretário de Estado da Educação, 2019a. Available at: http://www.educacao.sp.gov.br/lise/sislegis/detresol.asp?strato=201910010048. Access on: 10 Mar. 2020.SÃO PAULO(State). Plano Estratégico 2019 a 2022. São Paulo: SEDUC-SP, 2019b. Available at: https://drive.google.com/file/d/1y_11kktemg7mfqw7pxbitcknuxyktqjh/view?usp=sharing. Access on: 10 Jan. 2022.SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica:Primeiras aproximações. Campinas, SP: Editora autores associados, 2011.SAVIANI, D. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas, SP: Editora autores associados, 2013.SOUZA, M. P. R. Prontuários revelando bastidores: Do atendimento psicológico à queixa escolar. In:SOUZA, B. P. (org.). Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa do psicólogo, 2007.VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1991.VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2018.VIGOTSKI, L. S.; LURIA, A. Estudos sobre a história do comportamento: Símios, homem primitivo e criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.VINHA, T.; TOGNETTA, L. P. Construindo a autonomia moral na escola: Os conflitos interpessoais e a aprendizagem dos valores. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 9, n. 28, p. 525-540, set./dez, 2009. Available at: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=189114443009. Access on: 24 Jan. 2022.
image/svg+xmlSandra Maria FODRAe Marilene Proença Rebello e SOUZARPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092,July2022.e-ISSN: 1519-9029DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.1695218How to reference this articleFODRA, S. M.; SOUZA, M. P. R. School coexistence as a public policy in the state of São Paulo. Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022092, July2022. e-ISSN:1519-9029. DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.16952Submitted: 09/12/2021Revisions required: 22/03/2022Approved: 13/05/2022Published: 01/07/2022Managementof translations and versions: Editora Ibero-Americana de Educação