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O sofrimento emocional em adolescentes em tempos de pandemia do
Covid
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Revista on line
de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022095, jul. 2022.
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ISSN: 1519
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DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.16955
1
O
SOFRIMENTO EMOCIONAL EM ADOLESCENTES EM TEMPOS DE
PANDEMIA DO COVID
-
19
EL SUFRIMIENTO EMOCIONAL EN ADOLESCENTES EN TIEMPOS DE
PANDEMIA DE COVID
-
19
EMOTIONAL SUFFERING IN TEENAGERS DURING THE COVID
-
19 PANDEMIC
Luciene Regina Paulino TOGNETTA
1
David Jorge CUADRA
-
MARTÍNEZ
2
Raul Alves de SOUZA
3
Mário
FIORANELLI
NETO
4
RESUMO
: A pandemia causada pelo coronavírus (Covid
-
19) representou um desafio à saúde
física e emocional para adolescentes submetidos a quase dois anos de isolamento social,
res
tritos ao convívio familiar e impedidos de estarem na escola. O presente artigo apresenta
dados da pandemia associados ao sofrimento emocional entre adolescentes e o impacto da
convivência escolar restrita neste período. Trata
-
se de uma pesquisa exploratór
ia de caráter
descritivo, cujo objetivo foi identificar a frequência de situações em que há indícios de
sofrimento emocional em adolescentes e comparar os escores encontrados entre questões
demográficas de perfil (raça, gênero e celular). Participaram da a
mostra 1.991 adolescentes,
estudantes de duas diretorias da rede de ensino público estadual paulista. O instrumento de
investigação foi construído a partir de ampla revisão de literatura em forma de questionário com
perguntas fechadas, dividido em duas par
tes: a primeira, contendo 13 perguntas sobre o perfil
do estudante e, a segunda, com 21 questões, sobre indícios de sofrimento emocional. A partir
da análise quantitativa, os resultados encontrados destacam maior escore de sofrimento
emocional entre menina
s adolescentes e estudantes pretos e apontam para a urgência de ações
que proporcionem o bem
-
estar e a aprendizagem de formas assertivas de resolução de conflito,
bem como a urgência de espaços de manifestação de sentimentos pelos estudantes.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Sofrimento emocional. Adolescentes. Convivência escolar.
1
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara
-
SP
–
Brasil. Professora do Departamento de Psicologia da
Educação (FCLAr/UNESP). Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano. ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0003
-
0929
-
4925. E
-
mail: luciene.
tognetta@unesp.br
2
Universidad de Atacama (UDA), Copiapó
–
Chile. Professor do Departamento de Psicologia. ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
0810
-
2795. E
-
mail: david.cuadra@uda.cl
3
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara
-
SP
–
Brasil. Doutoran
do em Educação Escolar. ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
9652
-
5228. E
-
mail
-
raul.alves@unesp.br
4
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara
-
SP
–
Brasil. Mestrando em Educação Escolar. ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
2672
-
1688. E
-
mail: mariof
@pioneiro.g12.br
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Luciene Regina Paulino TOGNETTA et al.
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RESUMEN:
La pandemia provocada por el coronavirus (Covid
-
19) representó un desafío a
la salud física y emocional de los adolescentes sometidos a casi dos años de aislamiento social
,
restringidos a la vida familiar e impedidos de estar en la escuela. Este artículo presenta datos
sobre la pandemia asociada al sufrimiento emocional entre los adolescentes y el impacto de la
vida escolar restringida en este período. Se trata de una inves
tigación descriptiva exploratoria,
cuyo objetivo fue identificar la frecuencia de situaciones en las que existen indicios de
sufrimiento emocional en adolescentes y comparar las puntuaciones encontradas entre
cuestiones de perfil demográfico (raza, género
y célula). La muestra estuvo constituida por
1.991 adolescentes, estudiantes de dos juntas directivas de la red estatal de educación pública
de São Paulo. El instrumento de investigación se construyó a partir de una revisión
bibliográfica exhaustiva en for
ma de cuestionario con preguntas cerradas, divididas en dos
partes: la primera, que contiene 13 preguntas sobre el perfil del estudiante y la segunda, con
21 preguntas, sobre signos de angustia emocional. Con base en el análisis cuantitativo, los
resultado
s encontrados resaltan un mayor puntaje de angustia emocional entre las
adolescentes y estudiantes negras y apuntan a la urgencia de acciones que proporcionen el
bienestar y el aprendizaje de formas asertivas de resolución de conflictos, así como la urgenc
ia
de espacios para la manifestación de sentimientos por parte de los estudiantes.
PALABRAS CLAVE
: Sufrimiento emocional. Adolescentes.
Convivencia escolar.
ABSTRACT
: The coronavirus (Covid
-
19) pandemic represented a challenge to physical and
emotional health for adolescents subjected to almost two years of social isolation, restricted to
family life and prevented from being in school. This article presents data from
the pandemic
associated with emotional distress among adolescents and the impact of restricted school life
in this period. This is an exploratory, descriptive research, whose objective was to identify the
frequency of situations in which there are signs of
emotional distress in adolescents and to
compare the scores found between demographic profile issues (race, gender and smartphone
use). A total of 1,991 adolescents participated in the sample, students from two directorates of
the São Paulo state public e
ducation network. The investigation instrument was built from a
broad literature review in the form of a questionnaire with closed questions, divided into two
parts: the first, containing 13 questions about the student's profile and, the second, with 21
qu
estions, about signs of emotional suffering. From the quantitative analysis, the results found
highlight a higher score of emotional distress among adolescent girls and black students and
point to the urgency of actions that provide welfare and the learnin
g of assertive forms of
conflict resolution, as well as the urgency of spaces for expression of feelings by students.
KEYWORDS
: Emotional suffering. Teenagers. School coexistence.
Introdução
A investigação aqui apresentada trata de um conceito entendido por nós como
“sofrimento emocional” em contextos escolares, mas que por muitos tem sido traduzido como
“saúde mental”. Há uma preocupação de nossa parte em utilizar a expressão “saúde mental”
q
uando pensamos na tarefa da escola, já que todas as orientações oficiais relacionadas à saúde
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mental remetem à área da saúde e não à educação. Tal preocupação tem sido alvo de discussões
na psicologia sobre a atribuição, inclusive, das funções do psicólogo
escolar quando atua nesse
espaço. Certamente, ninguém negligenciaria a importância de sua atuação, como é salientado
na Lei Federal 13935 de 11/12/2019 (BRASIL, 2019). Segundo a Lei, esses profissionais têm
atribuições específicas, definidas e relacionada
s à aprendizagem, à inclusão e aos problemas de
convivência, articulando
-
se com as instituições da rede de proteção: saúde, assistência social,
direitos humanos e justiça. Não cabe ao psicólogo escolar o atendimento clínico, mas o
encaminhamento dos casos
necessários às instituições de saúde no entorno da escola (FODRA,
2021).
Somada a essa questão, há outra grande preocupação emergida da ideia de que a “saúde
mental” deva ser “tratada” na escola: infelizmente, os diagnósticos e as patologias tão presentes
entre os discursos de profissionais de ensino, demonstram como a educação tem se apoderado
de um repertório médico que classifica os estudantes nos quadros de distúrbios mentais,
apontando um perigo para a disseminação da cultura da patologização e da med
icalização da
vida, e favorecendo o mercado dos diagnósticos e psicofármacos (SANTANA; GONÇALVES,
2019, p. 843).
Diante de tais fatos, por um lado, não se pode dizer que o tratamento à saúde mental é
uma tarefa escolar. A escola não é um espaço clínico de
atuação de profissionais da saúde que
tratam, medicam e acompanham a evolução do que, na falta da saúde, se tem como doença. À
escola cabe criar espaços dialógicos para que tanto os estudantes, quanto os educadores possam
expressar seus sentimentos e elab
orar seus conflitos, tanto os interpessoais quanto os
intrapessoais, pois a aprendizagem escolar não está restrita aos conceitos científicos, mas
também à convivência social. A escola é um lugar onde convivem seres humanos que estão,
permanentemente, em pr
ocesso de desenvolvimento; portanto cuidar das pessoas e apoiá
-
las
nos seus problemas pessoais e em situações de sofrimento emocional é papel dos educadores.
Existem inúmeras pesquisas que tratam da convivência escolar e que apresentam
atividades pedagógi
cas validadas por pesquisadores que contribuem para a redução dos
preconceitos, das situações de exclusão e dos conflitos presentes no cotidiano escolar
(CARRASCO; LÓPEZ, 2019; CARRASCO; LOPES; ESTAY, 2012; TOGNETTA
et al
.,
2020; TOGNETTA; VINHA, 2019). So
uza (2007) questiona as práticas escolares e afirma que
os espaços escolares e a atuação pedagógica são importantes na formação psíquica e na
promoção de relações interpessoais mais sadias, contudo, quando os educadores se depararem
com problemas que não p
odem ser resolvidos por meio das atividades pedagógicas (violência
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doméstica, abuso sexual ou algum tipo de deficiência), as demais instituições da rede protetiva
devem ser acionadas.
O fato é que, ao menos no Brasil, o que temos presenciado nas últimas dé
cadas é a
criação de políticas públicas neoliberais lideradas por institutos ligados ao capital, que têm
fomentado a patologização da educação, transformando as queixas escolares (problemas de
aprendizagem ou comportamento) em patologias e diagnósticos que
estigmatizam as crianças
e adolescentes. Há um mercado de diagnósticos e medicalização dos problemas de convivência
e a escola não pode participar deste movimento.
Os programas e projetos criados recentemente pelos sistemas educacionais públicos, em
parce
ria com os institutos capitalistas, têm impingido à educação as questões de saúde mental
e desviando o seu papel no processo de humanização dos indivíduos.
Assim, a escolha do termo “sofrimento emocional” não é aleatória visto que expressa
uma tarefa s
ui
generis
da escola que é o trabalho com as emoções e sentimentos de seus alunos
e alunas. Infelizmente, em grande parte das vezes, esses sofrimentos não são facilmente
reconhecidos na escola podendo aparecer sob outras formas às quais se atribui
equivocadam
ente, uma desqualificação das crianças como “não querem”, “sem vontade”,
“preguiçosas”, “desatentas” (CALDERARO; CARVALHO, 2005).
Em uma palavra: não se discute, ainda que se tomem diferentes nomenclaturas, que os
problemas dessa ordem manifestados por cri
anças e adolescentes apontam a necessidade de
constituição de políticas públicas que abarquem seu direito à saúde.
Quando pensamos na realidade que fomos acometidos em virtude da pandemia da
COVID
-
19, no mês de março de 2020, certamente, os riscos de aume
nto de sofrimentos dessa
ordem seria algo demasiadamente desafiador. Fomos impostos a uma nova realidade:
cerceamento do convívio social e adequação das estratégias de trabalho. Aprendemos a
conviver com sentimentos de medo, insegurança e instabilidade dev
ido a não saber o que estava
por vir. Quando falamos do ambiente escolar, alunas, alunos e professores foram inseridos num
contexto nunca ou pouco vivido, com metodologias, para alunos e professores, bastante
diferentes do que estavam acostumados em sua re
alidade de escolas públicas neste país.
Esses adolescentes se tornaram vulneráveis, visto a incapacidade ou dificuldade de lidar
com o estresse e o enfrentamento às novas situações, bem como em expressar seus sentimentos
(IMRAN
; ZESHAN; PERVAIZ,
2020). Em todo o mundo, foram expostas ao sofrimento quando
viveram o isolamento social, os impactos econômicos e sociais em suas famílias, as perdas de
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familiares, a preocupação em se infectar ou infectar os outros, o distanciamento (LAHR;
TOGNETTA, 2021
).
Por sua vez, o fechamento das escolas, além dos impactos na aprendizagem de crianças
e adolescentes, também representou, para muitos, a perda de quem seria seu socorro, visto o
aumento da vulnerabilidade a situações de violência doméstica, negligência p
arental,
exploração e abuso sexual cujos números nos mostram uma triste realidade (GHOSH
et al
.,
2020; LAHR; TOGNETTA, 2021).
Obrigados a permanecer isolados e em casa por conta da pandemia da COVID
-
19,
crianças, adolescentes e jovens foram afastados do s
eu principal local de convivência dessa
geração: a escola. Dentre todos os efeitos das aulas e atividades remotas oferecidas pelas
unidades escolares ou mesmo não oferecidas, ser privado de conviver com seus pares teve
grande impacto na vida e no desenvolv
imento das alunas e dos alunos.
Em um estudo transversal com 3613 estudantes de sete a 18 anos, Duan
et al
. (2020)
encontraram a prevalência de sintomas depressivos em 23,87% de crianças e 29,27% de
adolescentes entrevistados.
Certamente, a preocupação co
m o retorno às aulas não é aleatória quando pensamos nos
problemas de sofrimento emocional gerados durante a pandemia. Diante desse contexto e
reconhecendo a necessidade de que a escola identifique quais os problemas vivenciados pelos
seus jovens, a pesqui
sa intitulada “O diagnóstico da convivência durante a pandemia na
percepção de adolescentes de escolas públicas paulistas: caminhos e desafios para além dos
muros da escola” buscou mapear como os estudantes do Ensino Fundamental (Anos Finais) de
Escolas Es
taduais do Estado de São Paulo relatam se sentir no contexto pandêmico.
Objetivo
Para isso, nosso objetivo foi o de identificar a frequência de situações em que há indícios
de sofrimento emocional em adolescentes e comparar os escores encontrados entre
questões
demográficas de perfil (raça, gênero e possuir celular).
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Metodologia
Esta pesquisa contou com a participação de 1.991 adolescentes, estudantes das duas
diretorias da rede de ensino público estadual paulista.
Para tanto, utilizamos de um quest
ionário com perguntas fechadas, que foi dividido em
duas partes: na primeira, contendo 13 perguntas, buscamos identificar o perfil do estudante e,
na segunda, com 21 questões, detectar possíveis indícios de sofrimento emocional.
O questionário foi construí
do por membros do GEPEM
-
Grupo de Estudos e Pesquisas
em Educação Moral a partir da literatura atual. As alunas e os alunos responderam de maneira
on
-
line, através da plataforma “Google Forms”. Foi enviado um termo de consentimento livre
e esclarecido (TC
LE) para os pais, mães e/ou responsáveis e, após o retorno do termo assinado,
o estudante foi liberado para o preenchimento.
Essa pesquisa foi registrada no Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências
e Letras da UNESP de Araraquara/SP sob o númer
o de registro CAAE: 46222921.2.0000.5400.
Vale lembrar que, como veremos logo à frente, o instrumento também continha itens relativos
aos problemas de cyberconvivência entre os adolescentes e, portanto, os dados de perfil
apresentados em outras investigaçõ
es deste dossiê serão os mesmos aqui apresentados.
Na pesquisa foram trabalhados itens relacionados às características pessoais
acessibilidade à internet, como: “como você se considera?” e “você tem celular próprio?”. Essas
questões permitiram organizar e
agrupar as respostas segundo sua etnia e também identificar
como os estudantes acessam as redes sociais. Além desses itens, foram perguntadas questões
sobre sofrimento emocional: “tenho chorado com facilidade nas mais diversas situações” e
“tenho me corta
do ou machucado para aliviar pensamentos e sentimentos que me perturbam",
por exemplo. Na parte abaixo dos resultados e discussões está descrito como foi organizada a
composição do escore.
Entre os participantes do estudo, 54,2% eram mulheres, 40,9% do se
xo masculino e
4,9% relataram não saber ou preferiram não responder a pergunta sobre gênero. A maior parte
deles, 41,8%, relatou ser da cor branca, seguido por 39,9% pardos, 11,2% negros, 0,6% de
origem oriental (amarelos) e a mesma porcentagem de indígena
s; 5,9% deles não souberam
responder sobre sua raça.
Passemos a apresentar os resultados encontrados sobre as questões de sofrimento
emocional em adolescentes.
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Resultados e discussões
Quando pensamos na urgência que sugerem os resultados
encontrados, nosso
instrumento poderia aventar um indicador para qualificar a dor vivida por crianças e
adolescentes quanto às questões de sofrimento emocional? Sim, é a resposta que passamos a
apresentar. Por exemplo, um dado que nos chamou a atenção, nes
se instrumento, foi de que
62,9% dos estudantes relataram se sentir, em algum grau, solitários. Desse número, 28%
indicaram que se sentem assim “sempre” ou “muitas vezes”. A automutilação foi apontada
como estratégia para alívio de sentimentos e pensamento
s perturbadores por 14,5% dos
respondentes (sempre, muitas vezes e poucas vezes). Ainda mais elevado é o número de
adolescentes que sinalizam ter tido, pelo menos algumas vezes, pensamentos suicidas,
representando 21,1% das alunas e dos alunos participante
s da pesquisa.
Nesta pesquisa descritiva foram apresentados 21 itens para que os adolescentes
respondessem sobre situações de sofrimento emocional com quatro pontos de resposta: nunca,
poucas vezes, muitas vezes e sempre. Para análise dos dados foi feito u
m escore total somando
as respostas aos itens, de acordo com a seguinte pontuação: nunca equivale a um ponto, poucas
vezes equivale a dois pontos, muitas vezes equivale a três pontos e sempre equivale a quatro
pontos. Assim, o escore atingido nas respostas
de cada sujeito poderá ir de 21 a 84 pontos de
forma que quanto maior a pontuação, maior o sofrimento emocional.
Como se apresentarão, segundo esse exame, os sujeitos de nossa apresentação: com
nenhum, com pouco, moderado ou grande sofrimento emocional? E mais: haverá diferenças
significativas quanto a esses índices de sofrimento emocional entre meninas e meninos? E
quanto a variável raça/etnia autopercebida pelos estudantes: haverá diferenças? Ter ou não um
aparelho celular próprio pode ser uma variável que interfira nesses resultados? São perguntas
que nos dispusemos a pensar e o que passamos a apresentar com o auxí
lio da tabela a seguir.
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Tabela 1
–
Análises do sofrimento emocional em adolescentes
Fonte: GEPEM
Para melhor visualização, apresentamos o gráfico a seguir.
Gráfico 1
–
Resultados de sofrimento emocional de acordo com a autodeclaração de gênero,
origem étnico
-
racial, e se possui ou não celular
Fonte: GEPEM
Quando examinamos os resultados encontrados, vemos que se considerarmos o escore
de sofrimento emocional varian
do de 21 a 84 pontos como destacado anteriormente, temos a
média atingida pelos participantes homens como sendo de 33,8 e entre as mulheres, 39,76. É
possível observar, tanto no gráfico como na tabela, que as mulheres chegam a escores mais
altos atingindo
82 pontos enquanto os homens atingem 71. Mas, podemos nos perguntar: essa
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diferença será significativa estatisticamente falando? A resposta é afirmativa (p<0,005) e aponta
para escores de sofrimento emocional mais elevado entre as mulheres.
O gráfico a se
guir pode contribuir para melhor visualização de tais diferenças ao se
observar o desenho que se forma ao redor da dispersão dos dados: os escores das mulheres são
mais distribuídos e atingem valores maiores se comparados aos homens.
Gráfico 2
–
Dispersão
dos dados de sofrimento emocional por gênero
Fonte: GEPEM
Quando buscamos compreender as diferenças de sofrimentos emocionais possíveis
entre os respondentes sobre a raça autopercebida por eles, vemos que aqueles que se consideram
amarelos de origem o
riental têm uma menor média de sofrimento emocional (31,91 pontos),
seguidos daqueles que se consideram brancos (36,82 pontos). Pretos, pardos e indígenas
apresentam médias de maior sofrimento emocional. Contudo, vejamos se as diferenças entre
eles são est
atisticamente significativas. Com o auxílio da tabela a seguir, podemos visualizar
tais apontamentos.