image/svg+xmlAconvivência digital e seus problemas: Um estudo com adolescentes de escolas públicas paulistasRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022097, jul. 2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169571A CONVIVÊNCIA DIGITAL E SEUS PROBLEMAS: UM ESTUDO COM ADOLESCENTES DE ESCOLAS PÚBLICAS PAULISTASCONVIVENCIA DIGITAL Y SUS PROBLEMAS: UN ESTUDIO CON ADOLESCENTES DE ESCUELAS PÚBLICAS DE SÃO PAULOTHE DIGITAL COEXISTENCE AND ITS PROBLEMS: A STUDY WITH ADOLESCENTS FROM SÃO PAULO STATE PUBLIC SCHOOLSFernanda Issa de Barros FARHAT1Catarina Carneiro GONÇALVES2RESUMO: As formas de convivência são atravessadas por múltiplas variáveis, de modo que os atuais aparatos tecnológicos marcam não apenas as interações entre as pessoas como constroem formas diferenciadas de relações na contemporaneidade. Desse modo, ambientes físicos e virtuais se fundem, configurando em possibilidades de convivências reais que impactam nas relações entre as pessoas, sobretudo nos tempos pandêmicos no qual se potencializou sobremaneira as relações interpessoais mediadas pelas plataformas virtuais. Reconhecendo essa realidade, urge refletir: Como ocorre a convivência entre adolescentes nos ambientes virtuais? Quais são as maiores dificuldades da convivência que não inclui o contato físico? Objetivando refletir acerca de tais indagações, realizou-se um estudo descritivo a respeito da ciberconvivência/ciberagressão buscando identificar como estão caracterizados os comportamentos e as interações ocorridas nos ambientes virtuais. O instrumento de coleta de dados foi um questionário estruturado, contendo 15 questões em torno da temática, aplicado de forma virtual através de um formulário via Google Forms. Os participantes do estudo compuseram uma amostra de 1.923 adolescentes, estudantes das duas diretorias da rede de ensino público estadual paulista: a DRE Leste 3na região metropolitana de São Paulo com 1.056 respondentes e a DRE de Taquaritinga, no interior paulista, com 867 adolescentes. Encontramos uma amostra de quase 40% das alunas e dos alunos respondendo já teremsido insultados nas interações virtuais, experimentando dor e sofrimento nessa forma de convivência. PALAVRAS-CHAVE: Convivência virtual.Convivência.Empatia.Pandemia.Internet.1Universidade Estadual Paulista (UNESP), AraraquaraSPBrasil. Mestranda em Educação Escolar. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8274-9095. E-mail: fernanda.issa@unesp.br2Universidade Federal de Pernambuco(UFPE), RecifePEBrasil. Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino. Doutoradoem Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2508-2762.E-mail: catarina.goncalves@ufpe.br
image/svg+xmlFernanda Issa de Barros FARHATeCatarina Carneiro GONÇALVESRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022097, jul. 2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169572RESUMEN: Las formas de convivencia están atravesadas por múltiples variables, de modo que los dispositivos tecnológicos actuales marcan no solo las interacciones entre las personas, sino que también construyen diferentes formas de relaciones en los tiempos contemporáneos. Así, los entornos físicos y virtuales se fusionan, configurándose en posibilidades de convivencia real que impactan en las relaciones entre las personas, especialmente en tiempos de pandemia en los que se potenciaron enormemente las relaciones interpersonales mediadas por plataformas virtuales. Reconociendo esta realidad, es urgente reflexionar: ¿Cómo se da la convivencia entre adolescentes en entornos virtuales? ¿Cuáles son las mayores dificultades de vivir que no incluyen el contacto físico? Con el objetivo de reflexionar sobre estas cuestiones, se realizó un estudio descriptivo sobre ciber existencia/ciber agresión buscando identificar cómo se caracterizan los comportamientos e interacciones ocurridos en entornos virtuales. El instrumento de recolección de datos fue un cuestionario estructurado, que contenía 15 preguntas en torno al tema, aplicadas virtualmente a través de un formulario a través de Google Forms. Los participantes del estudio compusieron una muestra de 1.923 adolescentes, estudiantes de las dos juntas directivas de la red de educación pública del estado de São Paulo: la DRE "Leste 3" en la región metropolitana de São Paulo con 1.056 encuestados y la DRE de Taquaritinga, en el interior de São Paulo, con 867 adolescentes. Encontramos una muestra de casi el 40% de los estudiantes que respondieron ya han sido insultados en las interacciones virtuales, experimentando dolor y sufrimiento en esta forma de convivencia. PALABRAS CLAVE: Convivencia virtual. Convivencia. Empatía.Pandemia. Internet.ABSTRACT:The forms of coexistence are crossed by multiple variables, so that the current technological apparatuses not only mark the interactions between people but also build different forms of relationships in contemporaneity. In this way, physical and virtual environments merge, configuring possibilities of real coexistence that impact on relationships between people, especially in pandemic times in which interpersonal relationships mediated by virtual platforms have been greatly enhanced. Recognizing this reality, it is urgent to reflect on: How does the coexistence between adolescents occur in virtual environments? What are the biggest difficulties of coexistence that does not include physical contact? Aiming to reflect on these questions, a descriptive study was conducted on cyber coexistence/cyber aggression seeking to identify how the behaviors and interactions occurring in virtual environments are characterized. The instrument for data collection was a structured questionnaire, containing 15 questions about the theme, applied virtually through a form via Google Forms. The participants of the study comprised a sample of 1,923 adolescents, students from two directorates of the São Paulo state public school system: the DRE "Leste 3" in the metropolitan region of São Paulo with 1,056 respondents and the DRE of Taquaritinga, in the countryside of São Paulo, with 867 adolescents. We found a sample of almost 40% of students responding that they had already been insulted in virtual interactions, experiencing pain and suffering in this form of coexistence. KEYWORDS: Virtual interaction. Coexistence.Empathy.Pandemic. Internet.
image/svg+xmlAconvivência digital e seus problemas: Um estudo com adolescentes de escolas públicas paulistasRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022097, jul. 2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169573IntroduçãoÉ evidente que a internet é um importante recurso de comunicação que pode oferecer múltiplos aspectos positivos, como a praticidade, o acesso à informação e à cultura, proximidade entre as pessoas, economia de tempo etc. Além disso, pode favorecer, ainda, a conservação das relações interpessoais quando a presencialidade não é algo possível em função das longas distâncias ou, inclusive, de algumas situações extremas,como a pandemia da COVID-19 que, pela alta letalidade, privou por longo período interações faceaface. Todavia, como o contato interacional favorecido pela conectividade não acontece, somente, entre pessoas conhecidas e próximas ao convívio presencial, ele traz potencialidades e perigos que diferem dos que ocorrem na convivência presencial. Algumas vezes, em função do amplo alcance da rede, a relação mediada pela tecnologia ocorre entre pessoas desconhecidas, oferecendo riscos às vidas e seguranças físicas e emocionais de crianças, adolescentese jovens, de modo que a ciberconvivência precisa ser vista, também, como fator que amplia a vulnerabilidade infanto-juvenil para as variadas formas de violência. Isto posto, consideramos urgente refletirmos sobre as marcas da ciberconvivência entre crianças, adolescentes e jovens, compreendendo os impactos da interação virtual no desenvolvimento global dessas faixas etárias. Assim, corroboramos com Lévy (2011, p.11) reconhecendo a existência de “um movimento geral de virtualização que afeta hoje não apenas a informação e a comunicação entreas pessoas, mas, também, os corpos, o funcionamento econômico, ou o exercício da inteligência”. Com isso, enfatizamos que a ampla forma de virtualização das interações possibilita riscos ainda desconhecidos para as relações interpessoais de crianças, adolescentes e jovens, carecendo, portanto, de um olhar atento para tal dimensão que impacta, diretamente, na subjetivação dos sujeitos. Muitos desses riscos se sustentam na forma violenta como, sistematicamente, as relações ocorrem nas redes sociais. Isso porque, as questões que marcam as convivências na presencialidade marcam, também, na virtualidade (ALAMILLO; PÉREZ, 2018), e o bullying, as intimidações e outros conflitos frequentemente presentes nas trocas sociais entre pares adentram as ciberconvivências.Com isso,compreendemos que distintas formas de violências que marcam as convivências virtuais na atualidade não foram inventadas a partir das relações tecnológicas digitais, mas, sim, abrolharam e se multifacetaram a partir do aumento do público nessas redes e das distintas possibilidades de relações interpessoais.Justo por isso, considerando as especificidades da ciberconvivência, compreendemos que há conflitos com características próprias das relações virtuais, ampliando, ainda mais, o
image/svg+xmlFernanda Issa de Barros FARHATeCatarina Carneiro GONÇALVESRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022097, jul. 2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169574escopo das violências que vulnerabilizam as pessoas na contemporaneidade. Com isso, queremos dizer que “o real, o possível, o atual e o virtual são complementares e possuem uma dignidade ontológica equivalente” (LÉVY, 2011, p. 11), precisando ser analisado e percebido a partir de suas particularidades. Isso significa dizer que as violências que ocorrem nos espaços de interação física vão se reconfigurando para a virtualidade, assumindo formas específicas de agressão o que, segundo Dempsey et al.(2011), tem o objetivo de gerar danos intencionais a uma pessoa, humilhando-a ou ridicularizando-a através de plataformas digitais. Em função de suas especificidades, as situações de ciberagressão são bastante danosas ao bem-estar psicológico de crianças, adolescentes e jovens, ocasionando sofrimento e dor aos envolvidos, impactando negativamente em diversas dimensões do desenvolvimento, incluindo na saúde mental. Isso porque, como destaca Avilés (2013), as violências interpessoais se tornaram comuns nos ambientes digitais, adotandoformas e espaços mais cruéis e de difícil enfrentamento. Alguns estudos, dentre eles os conduzidos por Garaigordobil et al.(2020),elucidam que os alvos de agressão no ambiente virtual podem apresentar sentimentos de solidão, insegurança, infelicidade, tristeza, desamparo, irritabilidade, ansiedade, depressão, ideação suicida, suicídio, estresse pós-traumático, medo, baixa autoestima, raiva e frustração etc.,e essas consequências podem ser duradouras a médio e longo prazo. Compreendendo a gravidade desses impactos na subjetivação dos sujeitos ampliamos, ainda mais, a nossa preocupação quando reconhecemos que a pandemia ocasionada pela COVID-19 ocasionou em um aumento significativo de tempo de uso nas redes, acarretando a hiperconectividade (SIBILIA, 2016) e, consequentemente, maior impacto da qualidade das interações virtuais na saúde das pessoas. Isso porque a alta letalidade do coronavírus exigiu um distanciamento social necessário, modificando as formas de viver e conviver em tempos pandêmicos, restringindo as interações para a ciberconvivência. Reconhecendo os impactos negativos da violência virtual na subjetivação infantil e juvenil nos interessa, nesse estudo, conhecer as formas de violência que se manifestam na convivência cibernética, analisando suas incidências, tipos, e, ainda, especificidades. Para isso, a pesquisa foi realizada objetivando identificar como ocorre a convivência entre os adolescentes em ambientes virtuais, bem como quais serão as maiores dificuldades quando pensamos na ciberconvivência. Para responder a essas questões e, diante da necessidade de apontarmos as novas dimensões da convivência em tempos pandêmicos, questões sobre essa temática foram inseridas no diagnóstico do clima e da convivência. Trata-se de uma pesquisa descritiva que
image/svg+xmlAconvivência digital e seus problemas: Um estudo com adolescentes de escolas públicas paulistasRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022097, jul. 2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169575contou com a participação de 1.923 adolescentes, estudantes das duas diretorias da rede de ensino público estadual paulista: aDRE Leste 3na região metropolitana de São Paulo com 1.056 respondentes e da DRE de Taquaritinga, no interior paulista, com 867 adolescentes que responderam a pesquisa. A dimensão da ciberconvivência/ciberagressão foi coletada a partir de um instrumentoque contou com 15 perguntas fechadas para verificar os relacionamentos e os comportamentos em ambientes virtuais.Os dados analisados serão apresentados a seguir, refletindo a respeito das violências virtuais e seus efeitos na convivência entre adolescentes. Ciberconvivência: Oque nos mostram os dados de pesquisa? Não há dúvidas de que as crianças e os adolescentes, de forma cada vez mais intensa, convivem ciberneticamente. Com isso, estão expostos aos benefícios e perigos das redes, carecendo, portanto, de análise e reflexão. A partir dessa reflexão, empreendemos uma pesquisa realizada com adolescentes, através da qual encontramos uma amostra de quase 40% das alunas e dos alunos respondendo já ter sido insultada nas interações virtuais, experimentando dor e sofrimento nessa forma de convivência. Esse não é um percentual pequeno e nos convoca a pensar sobre o bem-estar de meninos e meninas que, cada vez mais expostos às convivências sociais, experimentam de emoções negativas em suas convivências paritárias. Com isso não defendemos que se combatamos usos das redes. Acreditamos que, de forma crítica, é preciso educar para o uso seguro das tecnologias digitais de comunicação, de modo que crianças e adolescentes precisam estar cientes dos riscos da convivência cibernética, para que, quando necessário, sejam capazes de seproteger e/ou buscar proteção para não sofrerem ou, até mesmo, provocarem danos emocionais a outrem. Para tanto, urge pensarmos em ferramentas capazes de ajudar meninos e meninas na promoção de competências que os ajudem a analisar as situações de convivência virtual, a tomarem decisões pautadas no convívio ético em todos os espaços interacionais e, ainda, no bem-estar de toda coletividade. Defendemos que além da proteção, meninos e meninas devem refletir, também, sobre a forma como eles próprios interagem nas redes. Isso porque outro dado do mesmo estudo nos chama atenção: quando indagados sobre a prática de ofensas, os entrevistados afirmam que “não aconteceu”. Apesar disso, ao compararmos esses dados com outros achados da pesquisa,identificamos que 38,5% das alunas e dos alunos entrevistados já vivenciaram essas situações ou conhecem colegas que já sofreram com mensagens ofensivas, nos levando a perceber que o
image/svg+xmlFernanda Issa de Barros FARHATeCatarina Carneiro GONÇALVESRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022097, jul. 2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169576reconhecimento das próprias ações como inadequadas ou violentas é algo que precisa, também, estar no escopo das mediações para uma convivência cibernética positiva. Gráfico 1Respostas de adolescentes sobre mensagens que ofendemFonte: GEPEMEstes números trazem um alerta às questões das redes sociais, mostrando que, embora tenhamos um número significativo de respostas Isso não aconteceu, é preciso considerar as respostas de alunos que já passaram por tal situação e/ou conhecem alguém que jápassou, visto que as mesmas trazem sofrimentos e consequências do ponto de vista da saúde mental à quem vive essas agressões.Considerando a urgência na construção de programas de ciberconvivência, indagamos os meninos e as meninas a respeito das principais formas de conflitos que ocorrem nas interações mediadas pelas redes, pedindo que eles evidenciassem as violências que já ocorreram com eles. Os dados mostram que as práticas de violências virtuais não se distanciam dos problemas gerais de convivência entre as pessoas, mostrando pouca tolerância para a manutenção dos vínculos e capacidade de lidarmos com as diferenças (BAUMAN, 2008). Tabela 1Resultados absolutos e frequência das respostasFizeram isso comigo ou aconteceu comigo…Números absolutosFrequência (%)Enviar mensagens que ofendem20310,5%Ameaçar alguém por meio de mensagens na internet, nas redes sociais ou situações de jogos online.1759,1%Criar páginas ou grupos para falar mal de alguém.723,7%Excluir uma pessoa sem que ela queira, de uma rede social ou grupo, porque ela incomoda ou porque não se gosta dela.1739,0%“Cancelar” uma pessoa por ter condutas ou opiniões diferentes.1145,9%
image/svg+xmlAconvivência digital e seus problemas: Um estudo com adolescentes de escolas públicas paulistasRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022097, jul. 2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169577Publicar ou enviar comentários pessoais de alguém conhecido para outras pessoas ficarem sabendo (e que a pessoa não gostaria que fosse divulgado).844,4%Usar fotos íntimas de uma pessoa para chantageá-la.382,0%Compartilhar vídeos/fotos íntimas de uma pessoa conhecida sem a permissão dela (o).371,9%Editar uma foto ou criar “memes”, criar um perfil fake (falso) para ridicularizar ou humilhar alguém.683,5%Hackear a conta de outra pessoa e enviar mensagens ou postar algo fingindo ser essa pessoa.733,8%Criar ou participar de enquetes nas redes sociais que zoam ou ridicularizam alguém.532,8%Ofender ou zoar alguém na internet por sua orientação sexual ou identidade de gênero-LGBT+ (homofobia, transfobia etc.)653,4%Insultar ou zoar alguém na internet por seu tipo físico (magro, obeso, alto, baixo, ruivo, negro, loiro etc.)1628,4%Ameaçar o(a) namorado(a) por WhatsApp ou rede social porque ele(a) quer romper a relação.392,0%Ofender ou desrespeitar (não é discutir) com alguém na internet por sua opção política, religiosa ou ideológica.944,9%Fonte: GEPEMAo analisarmos os dados acima podemos verificar que os adolescentes já vivenciaram diversas situações em que foram expostos humilhados, difamados, desrespeitados. Como podemos notar, 175 adolescentes disseram já ter passado por essa situação: “Ameaçar alguém por meio de mensagens na internet, nas redes sociais ou situações de jogos online”. Além disso, a ausência da tolerância ficou evidente quando se percebe que mais de 100 alunas e alunos já passaram por situações de cancelamento virtual. Trata-se de umaforma de mostrar indignação ao comportamento alheio, contudo, revela pouca tolerância entre as relações interpessoais e, sobretudo, uma forma heterônoma de lidar com o problema, posto que a solução de um conflito perpassa pela exclusão de outrem. Quando pensamos em tal questão do ponto de vista do desenvolvimento moral,identificamos que as práticas de cancelamento se tornam bastante danosa às relações interpessoais, justo porque elas anulam o sujeito justamente diante do outro, impossibilitando a sua existência social. Além disso, o cancelamento evidencia, também, dificuldade em coordenar de pontos de vista, em acolher as diferenças e, ainda, nega o diálogo com as diferenças, assegurando ricas possibilidades de desenvolvimento para os envolvidos na situação de conflito.
image/svg+xmlFernanda Issa de Barros FARHATeCatarina Carneiro GONÇALVESRPGERevista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022097, jul. 2022.e-ISSN: 1519-9029DOI:https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.169578Isso porque, ao cancelar o outro, muitas vezes, o sujeito argumenta a partir da adoção de mecanismos de Desengajamentos Morais (BANDURA, 1999), construindo justificativas morais que explicam a violência e a negação das pessoas, muitas vezes, responsabilizando-as pelos maus tratos sofridos.Além do cancelamento virtual, identificamos que o desrespeito é, também, bastante presente na convivência cibernética. Isso porque nos chamou atenção a frequência de práticas de insultos e xingamentos ligados à aparência física. No item: “Insultar ou zoar alguém na internet por seu tipo físico (magro, obeso, alto, baixo, ruivo, negro, loiro etc.)”, encontramos mais de 8% dos jovens que sofrem por essa dimensão, ressaltando a importância dos alunos e alunas reconhecerem a importância do respeito às pessoas, independentemente da sua aparência. A partir das primeiras análises descritivas, mais perguntas surgiram: O fato de terem computador em casa será uma variável que interfere nesses resultados? Da mesma forma, ter um celular próprio fará diferença para que haja problemas de ciberagressão? Vejamos os resultados encontrados. Para responder a tais indagações, tomamos para análise as respostas que apontaram a autoria de ciberagressões: quem assinalou a alternativa Eu fiz issocomo autores de ciberagressão e aqueles que não assinalaram tal alternativa (Eu fiz isso) como não autores de ciberagressão. Os percentuais se referem às agressões indicadas em algum momento nos últimos trêsmeses, considerando quem não tem computador e quem tem; quem não tem celular e quem tem. Vejamos os resultados encontrados com auxílio da tabela a seguir. Tabela 2Correspondência entre ter ou não computador em casa e ter sido autorVariávelTem computador/notebook na sua casa?Valor-pNão (n=902)Sim (n=1021)Enviar mensagens que ofendem.39 (4,32%)28 (2,74%)0,06Ameaçar alguém por meio de mensagens na internet, nas redes sociais ou situações de jogos online.30 (3,33%)22 (2,15%)0,11Criar páginas ou grupos para falar mal de alguém.50 (5,54%)27 (2,64%)<0,01Excluir uma pessoa sem que ela queira, de uma rede social ou grupo, porque ela incomoda ou porque não se gosta dela.124 (13,75%)130 (12,73%)0,51
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