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A
convivência digital e seus problemas:
U
m estudo com adolescentes de escolas públicas paulistas
RPGE
–
Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022097,
jul.
2022.
e
-
ISSN: 1519
-
9029
DOI:
https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.16957
1
A CONVIVÊNCIA DIGITAL E SEUS PROBLEMAS: UM ESTUDO COM
ADOLESCENTES DE ESCOLAS PÚBLICAS PAULISTAS
CONVIVENCIA DIGITAL Y SUS PROBLEMAS: UN ESTUDIO CON ADOLESCENTES
DE ESCUELAS PÚBLICAS DE SÃO PAULO
THE DIGITAL COEXISTENCE AND ITS PROBLEMS: A STUDY
WITH
ADOLESCENTS FROM SÃO PAULO STATE PUBLIC SCHOOLS
Fernanda
Issa de Barros
FARHAT
1
Catarina Carneiro
GONÇALVES
2
RESUMO:
As formas de convivência são atravessadas por múltiplas variáveis, de modo que
os atuais aparatos tecnológicos marcam não apenas as interações entre as pessoas como
constroem formas diferenciadas de relações na contemporaneidade. Desse modo, ambientes
físi
cos e virtuais se fundem, configurando em possibilidades de convivências reais que
impactam nas relações entre as pessoas, sobretudo nos tempos pandêmicos no qual se
potencializou sobremaneira as relações interpessoais mediadas pelas plataformas virtuais.
Reconhecendo essa realidade, urge refletir: Como ocorre a convivência entre adolescentes nos
ambientes virtuais? Quais são as maiores dificuldades da convivência que não inclui o contato
físico? Objetivando refletir acerca de tais indagações, realizou
-
se u
m estudo descritivo a
respeito da ciberconvivência/ciberagressão buscando identificar como estão caracterizados os
comportamentos e as interações ocorridas nos ambientes virtuais. O instrumento de coleta de
dados foi um questionário estruturado, contendo 1
5 questões em torno da temática, aplicado de
forma virtual através de um formulário via
Google Forms.
Os participantes do estudo
compuseram uma amostra de 1.923 adolescentes, estudantes das duas diretorias da rede de
ensino público estadual paulista: a DRE
“
Leste 3
”
na região metropolitana de São Paulo com
1.056 respondentes e a DRE de Taquaritinga, no int
erior paulista, com 867 adolescentes.
Encontramos uma amostra de quase 40% das alunas e dos alunos respondendo já ter
em
sido
insultados nas interações virtuais, experimentando dor e sofrimento nessa forma de
convivência.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Convivência
virtu
al
.
Convivência
.
Empatia.
Pandemia.
Internet
.
1
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara
–
SP
–
Brasil. Mestranda em Educação Escolar.
ORCID
:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
8274
-
9095.
E
-
mail: fernanda.issa@unesp.br
2
Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE)
, Recife
–
PE
–
Brasil.
Departamento d
e Métodos e Técnicas de
Ensino.
Doutora
do
em Educação. ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0003
-
2508
-
2762
.
E
-
mail:
catarina.goncalves@ufpe.br
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Fernanda Issa de Barros FARHAT
e
Catarina Carneiro GONÇALVES
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RESUMEN:
Las formas de convivencia están atravesadas por múltiples variables, de modo
que los dispositivos tecnológicos actuales marcan no solo las interacciones entre las personas,
sino que también construyen diferentes formas de relaciones en los tiempos contempo
ráneos.
Así, los entornos físicos y virtuales se fusionan, configurándose en posibilidades de convivencia
real que impactan en las relaciones entre las personas, especialmente en tiempos de pandemia
en los que se potenciaron enormemente las relaciones inte
rpersonales mediadas por
plataformas virtuales. Reconociendo esta realidad, es urgente reflexionar: ¿Cómo se da la
convivencia entre adolescentes en entornos virtuales? ¿Cuáles son las mayores dificultades de
vivir que no incluyen el contacto físico? Con e
l objetivo de reflexionar sobre estas cuestiones,
se realizó un estudio descriptivo sobre ciber existencia/ciber agresión buscando identificar
cómo se caracterizan los comportamientos e interacciones ocurridos en entornos virtuales. El
instrumento de recol
ección de datos fue un cuestionario estructurado, que contenía 15
preguntas en torno al tema, aplicadas virtualmente a través de un formulario a través de
Google Forms.
Los participantes del estudio compusieron una muestra de 1.923 adolescentes,
estudiant
es de las dos juntas directivas de la red de educación pública del estado de São Paulo:
la DRE "Leste 3" en la región metropolitana de São Paulo con 1.056 encuestados y la DRE de
Taquaritinga, en el interior de São Paulo, con 867 adolescentes. Encontramos
una muestra de
casi el 40% de los estudiantes que respondieron ya han sido insultados en las interacciones
virtuales, experimentando dolor y sufrimiento en esta forma de convivencia.
PALABRAS CLAVE
: Convivencia virtual.
Convivencia.
Empatía
.
Pandemia. Internet.
ABSTRACT
:
The forms of coexistence are crossed by multiple variables, so that the current
technological apparatuses not only mark the interactions between people but also build
different forms of relationships in contemporaneity. In this way, physical and virtual
en
vironments merge, configuring possibilities of real coexistence that impact on relationships
between people, especially in pandemic times in which interpersonal relationships mediated by
virtual platforms have been greatly enhanced. Recognizing this realit
y, it is urgent to reflect
on: How does the coexistence between adolescents occur in virtual environments? What are
the biggest difficulties of coexistence that does not include physical contact? Aiming to reflect
on these questions, a descriptive study wa
s conducted on cyber coexistence/cyber aggression
seeking to identify how the behaviors and interactions occurring in virtual environments are
characterized. The instrument for data collection was a structured questionnaire, containing
15 questions about t
he theme, applied virtually through a form via Google Forms. The
participants of the study comprised a sample of 1,923 adolescents, students from two
directorates of the São Paulo state public school system: the DRE "Leste 3" in the metropolitan
region of
São Paulo with 1,056 respondents and the DRE of Taquaritinga, in the countryside
of São Paulo, with 867 adolescents. We found a sample of almost 40% of students responding
that they had already been insulted in virtual interactions, experiencing pain and s
uffering in
this form of coexistence.
KEYWORDS
: Virtual interaction. Coexistence.
Empathy
.
Pandemic. Internet.
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3
Introdução
É evidente que a internet é um importante recurso de comunicação que pode oferecer
múltiplos aspectos positivos, como a praticidade, o acesso à informação e à cultura,
proximidade entre as pessoas, economia de tempo etc.
A
lém disso, pode favorecer, ainda,
a
conservação das relações interpessoais quando a presencialidade não é algo possível em função
das longas distâncias ou, inclusive, de algumas situações extremas
,
como a pandemia da
COVID
-
19 que, pela alta letalidade, privou por longo período interações
f
ace
a
face
.
Todavia, como o contato interacional favorecido pela conectividade não acontece,
somente, entre pessoas conhecidas e próximas ao convívio presencial, ele traz potencialidades
e perigos que diferem dos que ocorrem na convivência
presencial. Algumas vezes, em função
do amplo alcance da rede, a relação mediada pela tecnologia ocorre entre pessoas
desconhecidas, oferecendo riscos às vidas e seguranças físicas e emocionais de crianças,
adolescente
s
e jovens, de modo que a ciberconvivê
ncia precisa ser vista, também, como fator
que amplia a vulnerabilidade infanto
-
juvenil para as variadas formas de violência.
Isto posto, consideramos urgente refletirmos sobre as marcas da ciberconvivência entre
crianças, adolescentes e jovens, compreend
endo os impactos da interação virtual no
desenvolvimento global dessas faixas etárias. Assim, corroboramos com Lévy (2011, p.
11)
reconhecendo a existência de “um movimento geral de virtualização que afeta hoje não apenas
a informação e a comunicação entre
as pessoas, mas, também, os corpos, o funcionamento
econômico, ou o exercício da inteligência”. Com isso, enfatizamos que a ampla forma de
virtualização das interações possibilita riscos ainda desconhecidos para as relações
interpessoais de crianças, adol
escentes e jovens, carecendo, portanto, de um olhar atento para
tal dimensão que impacta, diretamente, na subjetivação dos sujeitos.
Muitos desses riscos se sustentam na forma violenta como, sistematicamente, as
relações ocorrem nas redes sociais. Isso po
rque, as questões que marcam as convivências na
presencialidade marcam, também, na virtualidade (ALAMILLO; PÉREZ, 2018), e o bullying,
as intimidações e outros conflitos frequentemente presentes nas trocas sociais entre pares
adentram as ciberconvivências.
Com isso
,
compreendemos que distintas formas de violências
que marcam as convivências virtuais na atualidade não foram inventadas a partir das relações
tecnológicas digitais, mas, sim, abrolharam e se multifacetaram a partir do aumento do público
nessas r
edes e das distintas possibilidades de relações interpessoais.
Justo por isso, considerando as especificidades da ciberconvivência, compreendemos
que há conflitos com características próprias das relações virtuais, ampliando, ainda mais, o
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escopo das violê
ncias que vulnerabilizam as pessoas na contemporaneidade. Com isso,
queremos dizer que “o real, o possível, o atual e o virtual são complementares e possuem uma
dignidade ontológica equivalente” (LÉVY, 2011, p. 11), precisando ser analisado e percebido
a p
artir de suas particularidades.
Isso significa dizer que as violências que ocorrem nos espaços de interação física vão se
reconfigurando para a virtualidade, assumindo formas específicas de agressão o que, segundo
Dempsey
et al.
(2011), tem o objetivo de
gerar danos intencionais a uma pessoa, humilhando
-
a ou ridicularizando
-
a através de plataformas digitais. Em função de suas especificidades, as
situações de ciberagressão são bastante danosas ao bem
-
estar psicológico de crianças,
adolescentes e jovens, oca
sionando sofrimento e dor aos envolvidos, impactando
negativamente em diversas dimensões do desenvolvimento, incluindo na saúde mental. Isso
porque, como destaca Avilés (2013), as violências interpessoais se tornaram comuns nos
ambientes digitais, adotando
formas e espaços mais cruéis e de difícil enfrentamento.
Alguns estudos, dentre eles os conduzidos por Garaigordobil
et al.
(2020)
,
elucidam que
os alvos de agressão no ambiente virtual podem apresentar sentimentos de solidão, insegurança,
infelicidade, tristeza, desamparo, irritabilidade, ansiedade, depressão, ideação suicida, suicídio,
estresse pós
-
traumático, medo, baixa autoestima
, raiva e frustração etc.
,
e essas consequências
podem ser duradouras a médio e longo prazo.
Compreendendo a gravidade desses impactos na subjetivação dos sujeitos ampliamos,
ainda mais, a nossa preocupação quando reconhecemos que a pandemia ocasionada pe
la
COVID
-
19 ocasionou em um aumento significativo de tempo de uso nas redes, acarretando a
hiperconectividade (SIBILIA, 2016) e, consequentemente, maior impacto da qualidade das
interações virtuais na saúde das pessoas. Isso porque a alta letalidade do cor
onavírus exigiu um
distanciamento social necessário, modificando as formas de viver e conviver em tempos
pandêmicos, restringindo as interações para a ciberconvivência.
Reconhecendo os impactos negativos da violência virtual na subjetivação infantil e
juv
enil nos interessa, nesse estudo, conhecer as formas de violência que se manifestam na
convivência cibernética, analisando suas incidências, tipos, e, ainda, especificidades. Para isso,
a pesquisa foi realizada objetivando identificar como ocorre a convivê
ncia entre os adolescentes
em ambientes virtuais, bem como quais serão as maiores dificuldades quando pensamos na
ciberconvivência. Para responder a essas questões e, diante da necessidade de apontarmos as
novas dimensões da convivência em tempos pandêmico
s, questões sobre essa temática foram
inseridas no diagnóstico do clima e da convivência. Trata
-
se de uma pesquisa descritiva que
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contou com a participação de 1.923 adolescentes, estudantes das duas diretorias da rede de
ensino público estadual paulista: a
DRE
“
Leste 3
”
na região metropolitana de São Paulo com
1.056 respondentes e da DRE de Taquaritinga, no interior paulista, com 867 adolescentes que
responderam a pesquisa. A dimensão da ciberconvivência/ciberagressão foi coletada a partir de
um instrumento
que contou com 15 perguntas fechadas para verificar os relacionamentos e os
comportamentos em ambientes virtuais.
Os dados analisados serão apresentados a seguir, refletindo a respeito das violências
virtuais e seus efeitos na convivência entre adolescent
es.
Ciberconvivência:
O
que nos mostram os dados de pesquisa?
Não há dúvidas de que as crianças e os adolescentes, de forma cada vez mais intensa,
convivem ciberneticamente. Com isso, estão expostos aos benefícios e perigos das redes,
carecendo, portanto, de análise e reflexão. A partir dessa reflexão, empreendemos u
ma pesquisa
realizada com adolescentes, através da qual encontramos uma amostra de quase 40% das alunas
e dos alunos respondendo já ter sido insultada nas interações virtuais, experimentando dor e
sofrimento nessa forma de convivência.
Esse não é um perce
ntual pequeno e nos convoca a pensar sobre o bem
-
estar de meninos
e meninas que, cada vez mais expostos às convivências sociais, experimentam de emoções
negativas em suas convivências paritárias. Com isso não defendemos que se combata
m
os usos
das redes. A
creditamos que, de forma crítica, é preciso educar para o uso seguro das tecnologias
digitais de comunicação, de modo que crianças e adolescentes precisam estar cientes dos riscos
da convivência cibernética, para que, quando necessário, sejam capazes de se
proteger e/ou
buscar proteção para não sofrerem ou, até mesmo, provocarem danos emocionais a outrem.
Para tanto, urge pensarmos em ferramentas capazes de ajudar meninos e meninas na promoção
de competências que os ajudem a analisar as situações de convivê
ncia virtual, a tomarem
decisões pautadas no convívio ético em todos os espaços interacionais e, ainda, no bem
-
estar
de toda coletividade.
Defendemos que além da proteção, meninos e meninas devem refletir, também, sobre a
forma como eles próprios interage
m nas redes. Isso porque outro dado do mesmo estudo nos
chama atenção: quando indagados sobre a prática de ofensas, os entrevistados afirmam que
“não aconteceu”. Apesar disso, ao compararmos esses dados com outros achados da pesquisa
,
identificamos que 38,
5% das alunas e dos alunos entrevistados já vivenciaram essas situações
ou conhecem colegas que já sofreram com mensagens ofensivas, nos levando a perceber que o
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reconhecimento das próprias ações como inadequadas ou violentas é algo que precisa, também,
es
tar no escopo das mediações para uma convivência cibernética positiva.
Gráfico 1
–
Respostas de adolescentes sobre mensagens que ofendem
Fonte: GEPEM
Estes números trazem um alerta às questões das redes sociais, mostrando que, embora
tenhamos um número significativo de respostas
“
Isso não aconteceu
”
, é preciso considerar as
respostas de alunos que já passaram por tal situação e/ou conhecem alguém que já
passou, visto
que as mesmas trazem sofrimentos e consequências do ponto de vista da saúde mental à quem
vive essas agressões.
Considerando a urgência na construção de programas de ciberconvivência, indagamos
os meninos e as meninas a respeito das principa
is formas de conflitos que ocorrem nas
interações mediadas pelas redes, pedindo que eles evidenciassem as violências que já ocorreram
com eles. Os dados mostram que as práticas de violências virtuais não se distanciam dos
problemas gerais de convivência en
tre as pessoas, mostrando pouca tolerância para a
manutenção dos vínculos e capacidade de lidarmos com as diferenças (
BAUMAN,
2008).
Tabela 1
–
Resultados absolutos e frequência das respostas
Fizeram isso comigo ou aconteceu comigo…
Números
absolutos
Frequência
(%)
Enviar mensagens que ofendem
203
10,5%
Ameaçar alguém por meio de mensagens na internet, nas redes sociais ou
situações de jogos online.
175
9,1%
Criar páginas ou grupos para falar mal de alguém.
72
3,7%
Excluir uma
pessoa sem que ela queira, de uma rede social ou grupo, porque
ela incomoda ou porque não se gosta dela.
173
9,0%
“Cancelar” uma pessoa por ter condutas ou opiniões diferentes.
114
5,9%
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7
Publicar ou enviar comentários pessoais de alguém conhecido para
outras
pessoas ficarem sabendo (e que a pessoa não gostaria que fosse divulgado).
84
4,4%
Usar fotos íntimas de uma pessoa para chantageá
-
la.
38
2,0%
Compartilhar vídeos/fotos íntimas de uma pessoa conhecida sem a permissão
dela (o).
37
1,9%
Editar uma foto ou criar “memes”, criar um perfil fake (falso) para
ridicularizar ou humilhar alguém.
68
3,5%
Hackear a conta de outra pessoa e enviar mensagens ou postar algo fingindo
ser essa pessoa.
73
3,8%
Criar ou participar de enquetes nas redes so
ciais que zoam ou ridicularizam
alguém.
53
2,8%
Ofender ou zoar alguém na internet por sua orientação sexual ou identidade
de gênero
-
LGBT+ (homofobia, transfobia etc.)
65
3,4%
Insultar ou zoar alguém na internet por seu tipo físico (magro, obeso,
alto,
baixo, ruivo, negro, loiro etc.)
162
8,4%
Ameaçar o(a) namorado(a) por WhatsApp ou rede social porque ele(a) quer
romper a relação.
39
2,0%
Ofender ou desrespeitar (não é discutir) com alguém na internet por sua opção
política, religiosa ou ideológ
ica.
94
4,9%
Fonte: GEPEM
Ao analisarmos os dados acima podemos verificar que os adolescentes já vivenciaram
diversas situações em que foram expostos humilhados, difamados, desrespeitados. Como
podemos notar, 175 adolescentes disseram já ter passado por essa situação: “Ameaçar algu
ém
por meio de mensagens na internet, nas redes sociais ou situações de jogos online”.
A
lém disso, a ausência da tolerância ficou evidente quando se percebe que mais de 100
alunas e alunos já passaram por situações de cancelamento virtual. Trata
-
se de uma
forma de
mostrar indignação ao comportamento alheio, contudo, revela pouca tolerância entre as relações
interpessoais e, sobretudo, uma forma heterônoma de lidar com o problema, posto que a solução
de um conflito perpassa pela exclusão de outrem.
Quando
pensamos em tal questão do ponto de vista do desenvolvimento moral
,
identificamos que as práticas de cancelamento se tornam bastante danosa às relações
interpessoais, justo porque elas anulam o sujeito justamente diante do outro, impossibilitando
a sua exi
stência social. Além disso, o cancelamento evidencia, também, dificuldade em
coordenar de pontos de vista, em acolher as diferenças e, ainda, nega o diálogo com as
diferenças, assegurando ricas possibilidades de desenvolvimento para os envolvidos na situaç
ão
de conflito.
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Isso porque, ao cancelar o outro, muitas vezes, o sujeito argumenta a partir da adoção
de mecanismos de Desengajamentos Morais (
BANDURA,
1999), construindo justificativas
morais que explicam a violência
e
a negação das pessoas, muitas vezes, responsabilizando
-
as
pelos maus tratos sofridos.
Além do cancelamento virtual, identificamos que o desrespeito é, também, bastante
presente na convivê
ncia cibernética. Isso porque nos chamou atenção a frequência de práticas
de insultos e xingamentos ligados à aparência física. No item: “Insultar ou zoar alguém na
internet por seu tipo físico (magro, obeso, alto, baixo, ruivo, negro, loiro etc.)”, encont
ramos
mais de 8% dos jovens que sofrem por essa dimensão, ressaltando a importância dos alunos e
alunas reconhecerem a importância do respeito às pessoas, independentemente da sua
aparência.
A partir das primeiras análises descritivas, mais perguntas surg
iram: O fato de terem
computador em casa será uma variável que interfere nesses resultados? Da mesma forma, ter
um celular próprio fará diferença para que haja problemas de ciberagressão? Vejamos os
resultados encontrados.
Para responder a tais indagações
, tomamos para análise as respostas que apontaram a
autoria de ciberagressões: quem assinalou a alternativa
“
Eu fiz isso
”
como autores de
ciberagressão e aqueles que não assinalaram tal alternativa (
“
Eu fiz isso
”
) como
“
não autores
de ciberagressão
”
. Os pe
rcentuais se referem às agressões indicadas em algum momento nos
últimos
três
meses, considerando quem não tem computador e quem tem; quem não tem celular
e quem tem. Vejamos os resultados encontrados com auxílio da tabela a seguir.
Tabela 2
–
Correspondência entre ter ou não computador em casa e ter sido autor
Variável
Tem
computador/notebook
na sua casa?
Valor
-
p
Não
(n=902)
Sim
(n=1021)
Enviar mensagens que ofendem.
39
(4,32%)
28 (2,74%)
0,06
Ameaçar alguém por meio de mensagens na
internet, nas redes sociais
ou situações de jogos online.
30
(3,33%)
22 (2,15%)
0,11
Criar páginas ou grupos para falar mal de alguém.
50
(5,54%)
27 (2,64%)
<0,01
Excluir uma pessoa sem que ela queira, de uma rede social ou grupo,
porque ela
incomoda ou porque não se gosta dela.
124
(13,75%)
130
(12,73%)
0,51
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“Cancelar” uma pessoa por ter condutas ou opiniões diferentes.
52
(5,76%)
47 (4,6%)
0,25
Publicar ou enviar comentários pessoais de alguém conhecido para
outras pessoas ficarem
sabendo (e que a pessoa não gostaria que fosse
divulgado).
48
(5,32%)
28 (2,74%)
<0,01
Usar fotos íntimas de uma pessoa para chantageá
-
la.
29
(3,22%)
13 (1,27%)
<0,01
Compartilhar vídeos/fotos íntimas de uma pessoa conhecida sem a
permissão dela (o).
28 (3,1%)
15 (1,47%)
0,02
Editar uma foto ou criar “memes”, criar um perfil fake (falso) para
ridicularizar ou humilhar alguém.
42
(4,66%)
20 (1,96%)
<0,01
Hackear a conta de outra pessoa e enviar mensagens ou postar algo
fingindo ser essa pessoa.
39
(4,32%)
24 (2,35%)
0,02
Criar ou participar de enquetes nas redes sociais que zoam ou
ridicularizam alguém.
30
(3,33%)
25 (2,45%)
0,25
Ofender ou zoar alguém na internet por sua orientação sexual ou
identidade de gênero
-
LGBT+ (homofobia,
transfobia etc.)
28 (3,1%)
20 (1,96%)
0,11
Insultar ou zoar alguém na internet por seu tipo físico (magro, obeso,
alto, baixo, ruivo, negro, loiro etc.)
43
(4,77%)
27 (2,64%)
0,01
Ameaçar o(a) namorado(a) por WhatsApp ou rede social porque ele(a)
quer romper a relação.
27
(2,99%)
17 (1,67%)
0,05
Ofender ou desrespeitar (não é discutir) com alguém na internet por sua
opção política, religiosa ou ideológica.
52
(5,76%)
43 (4,21%)
0,12
Fonte: GEPEM
Entre os participantes, 902
adolescentes afirmaram não ter computador em casa,
enquanto 1021 deles têm esse equipamento em sua residência. Quando comparamos as ações
de agressão evidenciadas pelos adolescentes entre aqueles que têm ou não computador em casa,
encontramos diferenças es
tatisticamente significativas (p<0,005) entre os dois grupos.
A partir dos dados, verificamos que 5,32% dos participantes que indicaram já terem
publicado ou enviado comentários pessoais de alguém conhecido para outras pessoas ficarem
sabendo (e que a
pessoa não gostaria que fosse divulgado) não têm computador em casa
,
enquanto
somente 2,74% deles têm esse aparelho e esta diferença é estatisticamente
significativa (Valor
-
p <0,001).
Da mesma forma, 3,22% daqueles que usaram fotos íntimas de uma pessoa p
ara
chantageá
-
la não têm computador em casa, enquanto somente 1,27% têm esse aparelho em sua
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e
Catarina Carneiro GONÇALVES
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Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022097,
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residência e esta diferença também é significativa (Valor
-
p <0,01). Entre aqueles que
compartilharam vídeos/fotos íntimas de uma pessoa conhecida sem a permissão d
ela(e)
,
3,1%
têm computador em casa
,
enquanto 1,47% não têm (com diferença significativa de Valor
-
p <
0,02). Outros 4,66% dos que têm computador em casa já editaram uma foto ou criaram
“
memes'
” ou
criaram perfil fake (falso) para ridicularizar ou humilhar
alguém
,
contra 1,96%
dos que fizeram tal agressão
e que
não possu
em
computador em sua casa (diferença
significativa de Valor
-
p <0,01).
Quanto à hackear a conta de outra pessoa e enviar mensagens ou postar algo fingindo
ser essa pessoa, 4,32% dos que o fiz
eram têm computador em casa e 2,35% não o têm (com
diferença significativa de Valor
-
p <0,02). Dos que já criaram páginas ou grupos para falar mal
de alguém, 5,54% têm computador em casa enquanto 2,65% não o têm (com diferença
significativa de Valor
-
p <0,01
); 4,77% dos que insultaram ou “zoaram” alguém na internet por
seu tipo físico não têm computador em casa enquanto 2,64% dispõem desse recurso (com
diferença significativa de Valor
-
p <0,01)
;
e
,
finalmente, 2,99% dos que ameaçaram o(a)
namorado(a) por Whats
App ou rede social porque ele(a) queria romper a relação têm
computador em casa em comparação com 1,67% dos agressores que não têm (com diferença
significativa de Valor
-
p <0,05).
Esses resultados nos levam a refletir sobre algo bastante importante: o fato
de não terem
computadores ou celulares próprios, não garante que tais situações não ocorram. Não raro, nos
deparamos com punições em que as mães, pais ou responsáveis proíbem o uso destes recursos
tecnológicos, tendo como objetivo ajudar suas filhas e fil
hos a repensarem suas ações no âmbito
virtual e promover, assim, um espaço mais respeitoso. Contudo, os dados aclaram que não
possuir tais recursos não
é
suficiente ou fator decisivo para evitar situações de humilhações e
maus tratos.
Ao mesmo tempo, fica
evidente que boa parte das agressões virtuais não são conhecidas
pelos pais ou responsáveis dos adolescentes já que não é de casa que elas são postadas, o que
nos mostra, ainda, a necessidade de orientação, mas não de privação para o uso dos aparatos
tecno
lógicos. Justo por isso, a esse respeito, Avilés (2021) reflete sobre a importância no
protagonismo das crianças e dos jovens em programas educativos eficazes para o combate às
violências na ciberconvivência. De acordo com esse autor, é papel dos programas
educacionais
acompanhar e orientar crianças e jovens no enfrentamento das inseguranças e dificuldades
vividas na convivência cibernética, favorecendo uma participação real em experiências que
favoreçam reflexões e, portanto, aprendizagens. O foco seria em
ajustar as formas de
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convivência usando os próprios conflitos como oportunidades para se pensar as formas de
interação vivenciadas. Diante da complexidade do mundo virtual, limitar os usos não traz
nenhuma seguridade aos jovens usuários, que desamparados
podem, inclusive, se tornar mais
vulneráveis à convivência virtual e as violências que nela ocorrem.
E quanto ao uso de celular próprio? Os autores de ciberagressão usariam seu próprio
celular para fazê
-
lo? Quando analisamos os resultados encontrados vemo
s que não há
diferenças significativas (p<0,005) entre quem tem e não tem celular, com exceção a uma única
ação: “excluir uma pessoa sem que ela queira, de uma rede social ou grupo, porque ela
incomoda ou porque não se gosta dela” cuja diferença é signific
ativa (p<0,01). Entre os
participantes, 7,77% dos adolescentes que já agiram dessa forma não têm celular próprio,
enquanto 13,86% deles revelam possuir um celular próprio. Parece evidente que tal ação é
muito mais comum sendo realizada por um celular visto
que as ações em redes sociais são
acessadas com muito mais frequência em aparelhos móveis.
Ao não encontrarmos diferenças significativas entre possuir ou não um celular e ser
autor de uma ciberagressão, nossos resultados mostram que os adolescentes envia
m mensagens
que ofendem mesmo não possuindo celulares próprios. Ademais, ameaçam alguém por meio
de mensagens na internet, nas redes sociais ou em jogos online, publicando ou enviando
comentários pessoais de alguém conhecido para outras pessoas. Além disso
, mesmo sem celular
próprio insultaram ou “zoaram” alguém na internet por seu tipo físico (magro, obeso, alto,
baixo, ruivo, negro, loiro etc) ou ainda hackearam a conta de outra pessoa e enviaram
mensagens ou postaram algo fingindo ser essa pessoa.
Eis u
ma questão importante a se pensar nesses novos tempos: o fato de não ter celular
não é empecilho para que haja intimidação nas relações virtuais. Mais uma vez
,
esse dado
reforça que o controle externo, cuja proibição do uso se apresenta como estratégia pro
tetiva, é
ineficaz. Salientamos, então, o papel das instituições escolares na formação de alunas e alunos
acerca de uma educação digital pautada por princípios éticos que façam uso das situações reais
de conflito para construção de reflexões protetivas par
a uma convivência ética.
É nesse sentido que estudos sobre o protagonismo infantil e juvenil estão sendo
defendidos, considerando que a atuação das situações reais de conflito e, ainda, a reflexão entre
pares é um caminho saudável e eficaz para o enfrenta
mento da ciberagressão. Nessa
perspectiva, crianças e adolescentes devem ser colocados em sua posição de protagonismo,
ajudando os colegas e se indignando perante as violências vivenciadas. De acordo com Avilés
(2021)
,
a conexão relacional entre pares deve ser o caminho para construção de valores mais
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genuínos que sustentem os direitos humanos, tais como a cidadania, a justiça, o respeito, a
solidariedade, a tolerância, a igualdade, a ajuda, a compaixão etc.
Buscando c
ompreender a existência de diferenças de gênero entre meninos e meninas
envolvidos em violências na convivência cibernética
,
nos perguntamos: há diferenças entre
aqueles que sofrem ou fazem sofrer na convivência virtual no que concerne ao gênero?
A partir
dos resultados vemos que somente para uma situação de ciberagressão entre
meninos e meninas há uma diferença estatisticamente significativa: “Ameaçar alguém por meio
de mensagens na internet, nas redes sociais ou situações de jogos online”
. Esta
é
a
ação
mais
presente entre meninos (3,8%) do que entre meninas (1,67%) e essa diferença é estatisticamente
significativa (p<0,001).
Compreendendo que há diferenças nas formas identitárias de meninos e meninas e,
ainda, que há uma masculinidade tóxica vivenciada
nas relações sociais, analisamos essa
pequena diferença como práticas associadas ao comportamento dos meninos em jogos online,
destacada como mais utilizada pelo gênero masculino.
Chama a atenção, ainda, o fato de que entre as 15 situações descritas para
avaliar a
frequência das ações pelos alunos e alunas, aquela que mais se destaca com maior porcentagem
(12,5% entre os meninos e 13,6% entre as meninas) é “Excluir uma pessoa sem que ela queira,
de uma rede social ou grupo, porque ela incomoda ou porque nã
o se gosta dela”.
Considerando os resultados encontrados constatamos que as meninas parecem sofrer
mais situações de desrespeito do que os meninos
,
visto que houve diferença estatisticamente
significativa em
cinco
das 15 situações apresentadas: as meninas
(19,18%) recebem mais
mensagens ofensivas do que os meninos (12,27%) e essa diferença é significativa (p<0,001);
são mais excluídas de grupos e das redes sociais (14,55%) do que os meninos (8,83%) com
diferença significativa (p<0,001) e
,
ainda, já tiveram
comentários pessoais publicados ou
enviados para outras pessoas ficarem sabendo sem que tivessem autorizada a divulgação
(7,41% das meninas e 5,03% dos meninos com diferença significativa de p<0,004). Da mesma
forma, as meninas passaram por mais situações
em que foram alvo de páginas ou grupos criados
especialmente para falar mal delas (5,93% entre as meninas e 3,8% entre os meninos com
diferença significativa de p<0,04).
Finalmente, os resultados apontaram que as meninas (13,4%) também receberam mais
ofe
nsas por ser magra demais, obesa, alta, baixa do que os meninos (9,45%) que passaram por
essa situação de desrespeito (com diferença significativa de p<0,001). Assim como no caso da
masculinidade tóxica
,
que nos explica a maior ameaça em jogos praticada pe
los meninos
,
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encontramos também nesse resultado uma pressão social machista que atribui às mulheres
maior responsabilidade estética, exigindo corpos perfeitos num mundo balizado por valores
efêmeros tais como a beleza e o poder.
Os dados apontaram que em
várias situações de agressões virtuais as meninas passaram
por mais momentos desagradáveis de humilhação e desrespeito em relação aos meninos, o que
parece também nos ajudar a compreender a relação entre valores estéticos e a violência
direcionada às menin
as.
Não encontrar diferenças significativas nas 14 demais situações significa que a questão
de gênero não é uma variável que interfere no fato de que entre os participantes dessa pesquisa
sejam autores de ciberagressão. Tanto meninos quanto meninas o faze
m, ainda que suas ações
tenham baixa ocorrência entre eles.
Ciberconvivência e a necessidade de programas educativos que enfrentem o problema
Pierre Lévy, na consagrada obra “O que que é virtual?”, nos convoca a pensar que as
interações contemporâneas
são, igualmente, impactadas pelo mundo físico e virtual, sendo
essas duas dimensões formas de relações interpessoais possíveis no mundo real. Isso porque,
de forma cada vez mais intensa, a virtualidade atravessa as vidas entre as pessoas, marcando as
form
as como elas convivem não apenas quando estão conectadas.
Em 2018, de acordo com os dados nacionais apresentados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2018), o percentual de domicílios que utilizavam a internet subiu
de 74,9%
para 79,1% no intervalo de apenas um ano: entre 2017 e 2018
.
Esses dados atingem não apenas os adultos, mas, inclusive, crianças e adolescentes.
Quando analisamos dados apontados pelo relatório TIC KIDS ONLINE (2019), encontramos
informações que indicam qu
e entre os brasileiros de
nove
a 17 anos
há
um amplo percentual de
interações virtuais, de modo que 78% do público entre essas idades afirma enviar mensagens
em aplicativos sem supervisão dos familiares.
A
lém disso, 77% das crianças e adolescentes
tem
permissão de assistir aos vídeos e filmes online
sem nenhum tipo de orientação por parte dos
adultos; e, ainda, 75% utilizam a internet sozinhos.
Sabemos
que
, como bem destaca Livingstone (2013) e os dados aqui já apresentados
,
a
segurança nas redes sociais não se caracteriza, exclusivamente, pelo cont
role dos adultos sobre
os conteúdos construídos e acessados por crianças e adolescentes. Quando falamos em
supervisão
,
defendemos práticas cooperativas que favoreçam o protagonismo e que orientem
meninos e meninas a pensarem sobre oportunidades, perigos e
benefícios do mundo digital.
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Evidentemente, em espaços desconhecidos, é preciso que alguém mais experiente esteja
mediando novas convivências cibernéticas. A tal respeito, Avilés (2021) chama atenção para o
fato de que urge pensarmos em um acompanhamento
educativo que forneça às crianças e
adolescentes diretrizes para se comportarem nas redes digitais e em relacionamentos virtuais
com outras pessoas. Isso porque, sem referência anterior ou de análise, meninos e meninas
ficam mais vulneráveis às violências
e perigos cibernéticos.
Esse apontamento feito por Avilés é ainda mais importante quando constatamos outras
vulnerabilidades do público infantil e juvenil, de modo que 42% dos entrevistados em nossa
pesquisa já tiveram contato online com alguém que não co
nhecia (27% dessas comunicações
foram feitas pelas redes sociais e 21% por meio de plataformas de mensagens on
-
line). Por fim,
este mesmo relatório evidencia que 22% dos participantes explicitaram ter encontrado
pessoalmente com pessoas que conheceram na i
nternet, evidenciando um risco que atravessa a
virtualidade, inclusive, a segurança física.
Esse amplo alcance à virtualização na convivência infantil e juvenil e, ainda, a falta de
orientação para uma ciberconvivência positiva pelos educadores (pais e pr
ofessores) para
crianças e adolescentes
,
potencializa formas nefastas de convivência cibernética,
vulnerabilizando meninos e meninas às diversas formas de violência:
Sexting
,
shaming
,
cancelamento virtual, cyberbullying, discurso de ódio, linchamentos, ent
re outros.
Avilés (2021) nos chama atenção para o fato de que crianças e adolescentes precisam
de ajuda para estruturar uma comunicação que ainda não consolidaram de forma positiva, como
é o caso da que ocorre nas plataformas virtuais. Para esse autor, é
na mediação que os adultos
favorecem em experiências novas que os mais jovens poderão estruturar a construção de
mensagens consistentes e seguras, condições que precisam para se comunicar de forma
assertiva.
Tal mediação, ainda de acordo com o autor supra
citado, precisa considerar as
especificidades de cada sujeito. As crianças terão nos adultos as figuras de referências, ao passo
que os adolescentes encontram nos pares as referências para convivência cibernética, sendo
necessário, portanto, da formação de
cibermentores.
Isso posto, a mediação necessária para aprendizagem positiva de ciberconvivência,
longe de ser uma estratégia de coerção e controle, precisa se configurar como uma análise na
coletividade e complexidade, favorecendo a confiança e ampliação
de novas perspectivas. Isso
ajudará aos meninos e às meninas a construírem uma narrativa segura nas ciberconvivências,
estando mais protegidos diante das violências.
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Considerações finais
Considerando que a virtualidade potencializa o alcance da
convivência e, com isso, das
vulnerabilidades diante dos perigos, acreditamos que plataformas como Facebook, Instagram,
Twitter e WhatsApp, entre outras
,
podem alastrar conteúdos violentos aumentando,
veementemente, o sofrimento de quem é exposto. Justo po
r isso precisam se tornar objetos de
reflexão por parte dos usuários, a fim de que possam desenvolver ferramentas para promover a
convivência positiva, sendo essa demanda um elemento preventivo crucial para evitar a
manifestação da violência e sua reproduç
ão em formas de abuso, assédio ou imposição.
Diante dos dados aqui apresentados
,
torna
-
se imperativo a construção de programas de
convivência que assegurem possibilidades eficazes de enfrentamento da violência que ocorre
nas convivências cibernéticas. Sob
retudo em cenários como os contemporâneos, nos quais em
função da pandemia a virtualidade se tornou ainda mais intensa, é preciso pensar em
possibilidades de assertividade nas relações interpessoais
mediadas pelas redes, assegurando
aos meninos e meninas c
ondições de construção de autonomia moral.
Os dados aqui apresentados mostram, por exemplo, que o controle externo não é
protetivo diante dos perigos da virtualidade. Isso porque não há maior fator de proteção entre
os que não possuem celulares e computad
ores quando comparados com os que possuem livre
acesso a tais equipamentos digitais.
De forma cada vez mais intensa, meninos e meninas contemporâne
as
encontram formas
de acessar as redes, carecendo, portanto, de práticas elucidativas que favoreçam a compr
eensão
da vulnerabilidade digital, construindo caminhos para o enfrentamento crítico dos problemas e
dilemas que vivemos em contextos tecnológicos.
Dito isso, é preciso considerar elementos que favoreçam o desenvolvimento moral de
crianças e adolescentes,
ajudando
-
os a analisar situações novas a partir de valores e princípios
que já conservam em suas personalidades éticas. Isso significa dizer que, mais do que nunca,
urge construirmos caminhos para autonomia moral, considerando que muitos problemas das
rede
s estão ancorados na fragilidade que um pensamento heterônomo favorece, atribuindo
demasiado valor ao olhar do outro sobre nós mesmos.
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Fernanda Issa de Barros FARHAT
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Catarina Carneiro GONÇALVES
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A
convivência digital e seus problemas:
U
m estudo com adolescentes de escolas públicas paulistas
RPGE
–
Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022097,
jul.
2022.
e
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ISSN: 1519
-
9029
DOI:
https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.16957
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Como referenciar este artigo
ISSA, F.; GONÇALVES, C. C. A convivência digital e seus problemas: Um estudo com
adolescentes de escolas públicas paulistas.
Revista on line de Política e Gestão Educacional
,
Araraquara, v. 26, n. esp. 3,
e022097,
jul. 2022. e
-
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9029. DOI:
https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.16957
Submetido
em
: 19/11/2021
Revisões requeri
das
: 25/02/2022
Aprovado em
: 09/04/2022
Publicado em
: 01/07/2022
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The digital coexistence and its problems: A study with adolescents from S
ão Paulo State
public schools
RPGE
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Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022097,
July
2022.
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ISSN: 1519
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https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.16957
1
THE DIGITAL COEXISTENCE AND ITS PROBLEMS: A STUDY WITH
ADOLESCENTS FROM SÃO PAULO STATE PUBLIC SCHOOLS
A CONVIVÊNCIA DIGITAL E SEUS PROBLEMAS: UM ESTUDO COM
ADOLESCENTES DE ESCOLAS PÚBLICAS PAULISTAS
CONVIVENCIA DIGITAL Y SUS PROBLEMAS: UN
ESTUDIO CON ADOLESCENTES
DE ESCUELAS PÚBLICAS DE SÃO PAULO
Fernanda
Issa de Barros
FARHAT
1
Catarina Carneiro
GONÇALVES
2
ABSTRACT
: The forms of coexistence are crossed by multiple variables, so that the current
technological apparatuses not only mark the interactions between people but also build different
forms of relationships in contemporaneity. In this way, physical and virtual
environments
merge, configuring possibilities of real coexistence that impact on relationships between
people, especially in pandemic times in which interpersonal relationships mediated by virtual
platforms have been greatly enhanced. Recognizing this real
ity, it is urgent to reflect on: How
does the coexistence between adolescents occur in virtual environments? What are the biggest
difficulties of coexistence that does not include physical contact? Aiming to reflect on these
questions, a descriptive study
was conducted on cyber coexistence/cyber aggression seeking to
identify how the behaviors and interactions occurring in virtual environments are characterized.
The instrument for data collection was a structured questionnaire, containing 15 questions about
the theme, applied virtually through a form via Google Forms. The participants of the study
comprised a sample of 1,923 adolescents, students from two directorates of the São Paulo state
public school system: the DRE "Leste 3" in the metropolitan region o
f São Paulo with 1,056
respondents and the DRE of Taquaritinga, in the countryside of São Paulo, with 867
adolescents. We found a sample of almost 40% of students responding that they had already
been insulted in virtual interactions, experiencing pain and
suffering in this form of coexistence.
KEYWORDS
: Virtual interaction. Coexistence.
Empathy
.
Pandemic. Internet.
RESUMO:
As formas de convivência são atravessadas por múltiplas variáveis, de modo que
os atuais aparatos tecnológicos marcam não apenas as interações entre as pessoas como
constroem formas diferenciadas de relações na contemporaneidade. Desse modo, ambientes
físi
cos e virtuais se fundem, configurando em possibilidades de convivências reais que
impactam nas relações entre as pessoas, sobretudo nos tempos pandêmicos no qual se
potencializou sobremaneira as relações interpessoais mediadas pelas plataformas virtuais.
Reconhecendo essa realidade, urge refletir: Como ocorre a convivência entre adolescentes nos
1
São Paulo State University
(UNESP), Araraquara
–
SP
–
Braz
il.
Master's student in School Education
.
ORCID
:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
8274
-
9095.
E
-
mail: fernanda.issa@unesp.br
2
Federal University of Pernambuco
(UFPE)
, Recife
–
PE
–
Braz
il.
Department of Teaching Methods and
Techn
iques. Doctorate in Education
. ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0003
-
2508
-
2762
.
E
-
mail:
catarina.goncalves@ufpe.br
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Fernanda Issa de Barros FARHAT
and
Catarina Carneiro GONÇALVES
RPGE
–
Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022097,
July
2022.
e
-
ISSN: 1519
-
9029
DOI:
https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.16957
2
ambientes virtuais? Quais são as maiores dificuldades da convivência que não inclui o contato
físico? Objetivando refletir acerca de tais indagações, realizou
-
se u
m estudo descritivo a
respeito da ciberconvivência/ciberagressão buscando identificar como estão caracterizados os
comportamentos e as interações ocorridas nos ambientes virtuais. O instrumento de coleta de
dados foi um questionário estruturado, contendo 1
5 questões em torno da temática, aplicado
de forma virtual através de um formulário via Google Forms. Os participantes do estudo
compuseram uma amostra de 1.923 adolescentes, estudantes das duas diretorias da rede de
ensino público estadual paulista: a DRE
“
Leste 3
”
na região metropolitana de São Paulo com
1.056 respondentes e a DRE de Taquaritinga, no interior paulista, com 867 adolescentes.
Encontramos uma amostra de quase 40% das alunas e dos alunos respondendo já ter
em
sido
insultados nas interações vir
tuais, experimentando dor e sofrimento nessa forma de
convivência.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Convivência
virtual
.
Convivência
.
Empatia.
Pandemia.
Internet
.
RESUMEN:
Las formas de convivencia están atravesadas por múltiples variables, de modo
que los dispositivos tecnológicos actuales marcan no solo las interacciones entre las personas,
sino que también construyen diferentes formas de relaciones en los tiempos contempo
ráneos.
Así, los entornos físicos y virtuales se fusionan, configurándose en posibilidades de convivencia
real que impactan en las relaciones entre las personas, especialmente en tiempos de pandemia
en los que se potenciaron enormemente las relaciones inte
rpersonales mediadas por
plataformas virtuales. Reconociendo esta realidad, es urgente reflexionar: ¿Cómo se da la
convivencia entre adolescentes en entornos virtuales? ¿Cuáles son las mayores dificultades de
vivir que no incluyen el contacto físico? Con e
l objetivo de reflexionar sobre estas cuestiones,
se realizó un estudio descriptivo sobre ciber existencia/ciber agresión buscando identificar
cómo se caracterizan los comportamientos e interacciones ocurridos en entornos virtuales. El
instrumento de recol
ección de datos fue un cuestionario estructurado, que contenía 15
preguntas en torno al tema, aplicadas virtualmente a través de un formulario a través de
Google Forms.
Los participantes del estudio compusieron una muestra de 1.923 adolescentes,
estudiantes de las dos juntas directivas de la red de educación pública del estado de São Paulo:
la DRE "Leste 3" en la región metropolitana de São Paulo con 1.056 encuestados y l
a DRE de
Taquaritinga, en el interior de São Paulo, con 867 adolescentes. Encontramos una muestra de
casi el 40% de los estudiantes que respondieron ya han sido insultados en las interacciones
virtuales, experimentando dolor y sufrimiento en esta forma de
convivencia.
PALABRAS CLAVE
: Convivencia virtual.
Convivencia.
Empatía
.
Pandemia. Internet.
Introduction
It is evident that the Internet is an important communication resource that can offer
multiple positive aspects, such as convenience, access to information and culture, proximity
between people, time saving, etc. Moreover, it can also favor the preservatio
n of interpersonal
relationships when face
-
to
-
face contact is not possible due to long distances or even some
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The digital coexistence and its problems: A study with adolescents from S
ão Paulo State
public schools
RPGE
–
Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022097,
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ISSN: 1519
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DOI:
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3
extreme situations, such as the pandemic of COVID
-
19 which, due to its high lethality, deprived
face
-
to
-
face interactions for a long time.
Howeve
r, as the interactional contact favored by the connectivity does not happen, only,
among people known and close to the face
-
to
-
face conviviality, it brings potentialities and
dangers that differ from those that occur in face
-
to
-
face conviviality. Sometimes
, due to the
wide reach of the net, the relationship mediated by technology occurs among unknown people,
offering risks to the lives and physical and emotional safety of children, adolescents, and young
people, so that cyber coexistence must also be seen a
s a factor that increases the vulnerability
of children and young people to various forms of violence.
That being said, we consider it urgent to reflect on the marks of cyber coexistence among
children, adolescents, and young people, understanding the imp
acts of virtual interaction on the
global development of these age groups. Thus, we corroborate with Lévy (2011, p. 11)
recognizing the existence of "a general movement of virtualization that today affects not only
information and communication between peo
ple, but also the bodies, the economic functioning,
or the exercise of intelligence". With this, we emphasize that the wide form of virtualization of
interactions enables risks as yet unknown for the interpersonal relationships of children,
adolescents and
young people, lacking, therefore, a careful look at this dimension that directly
impacts the subjectivation of subjects
.
Many of these risks are supported by the violent way in which relationships
systematically occur in social networks. This is because
the issues that mark the coexistence in
the face
-
to
-
face also mark in virtuality (ALAMILLO; PÉREZ, 2018), and bullying,
intimidation and other conflicts often present in social exchanges between peers enter cyber
coexistence. Thus, we understand that diffe
rent forms of violence that mark virtual coexistences
today were not invented from digital technological relations, but rather, they have developed
and multifaceted from the increase of the public on these networks and the different possibilities
of interp
ersonal relationships.
Precisely because of this, considering the specificities of cyber coexistence, we
understand that there are conflicts with their own characteristics of virtual relationships,
expanding even more the scope of violence that make people
vulnerable in contemporary times.
With this, we mean that "the real, the possible, the actual and the virtual are complementary
and have an equivalent ontological dignity" (LÉVY, 2011, p. 11), needing to be analyzed and
perceived from their particularitie
s
.
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and
Catarina Carneiro GONÇALVES
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This means that the violence that occurs in spaces of physical interaction is reconfigured
to virtuality, assuming specific forms of aggression which, according to Dempsey et al. (2011),
aims to generate intentional damage to a person, humiliating or r
idiculing them through digital
platforms. Due to their specificities, cyberbullying situations are very damaging to the
psychological well
-
being of children, adolescents and youth, causing suffering and pain to those
involved, negatively impacting several
dimensions of development, including mental health.
This is because, as Avilés (2013) points out, interpersonal violence has become common in
digital environments, adopting more cruel and difficult to confront forms and spaces.
Some studies, among them those conducted by Garaigordobil
et al
. (2020), elucidate that
the targets of aggression in the virtual environment may have feelings of loneliness, insecurity,
unhappiness, sadness, helplessness, irritability, anxiety, depression,
suicidal ideation, suicide,
post
-
traumatic stress, fear, low self
-
esteem, anger and frustration, etc., and these consequences
may be long
-
lasting in the medium and long term.
Understanding the severity of these impacts on the subjectivation of subjects,
we further
expand our concern when we recognize that the pandemic caused by COVID
-
19 has led to a
significant increase in the time of use on networks, leading to hyperconnectivity (SIBILIA,
2016) and, consequently, greater impact of the quality of virtual
interactions on people's health.
This is because the high lethality of the coronavirus required a necessary social distance,
changing the ways of living and coexistence in pandemic times, restricting interactions to cyber
coexistence
.
Recognizing the nega
tive impacts of virtual violence on the subjectivation of children and
adolescents, in this study we are interested in knowing the forms of violence that manifest
themselves in cyber coexistence, analyzing their incidences, types, and even specificities. T
o
this end, the research was conducted with the purpose of identifying how the coexistence
between adolescents in virtual environments occurs, as well as what the greatest difficulties are
when we think about cyber coexistence. To answer these questions, a
nd in view of the need to
point out the new dimensions of coexistence in pandemic times, questions on this theme were
inserted in the diagnosis of the climate and coexistence. This is a descriptive research that
counted on the participation of 1,923 adoles
cents, students of two directorates of the São Paulo
state public school network: the DRE "Leste 3" in the metropolitan region of São Paulo with
1,056 respondents and the DRE of Taquaritinga, in the countryside of São Paulo, with 867
adolescents who answer
ed the survey. The cyberbullying/cyberaggression dimension was
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collected from an instrument that had 15 closed questions to verify the relationships and
behaviors in virtual environments.
The data analyzed will be presented below, reflecting on the virtual
violence and its
effects on the coexistence between adolescents
.
Cyber
-
coexistence: What does the research data show us?
There is no doubt that children and adolescents, in an increasingly intense way, live
together online. With this, they are exposed to the benefits and dangers of the networks, and
therefore need analysis and reflection. Based on this reflection, we underto
ok a survey
conducted with adolescents, through which we found a sample of almost 40% of the students
answering that they had already been insulted in virtual interactions, experiencing pain and
suffering in this form of coexistence.
This is not a small p
ercentage, and calls us to think about the welfare of boys and girls
who, increasingly exposed to social interaction, experience negative emotions in their peer
relationships. With this we are not advocating against the use of networks. We believe that, in
a critical way, it is necessary to educate for the safe use of digital communication technologies,
so that children and adolescents need to be aware of the risks of cyber coexistence, so that,
when necessary, they are able to protect themselves and/or see
k protection from suffering or
even causing emotional damage to others. Therefore, it is urgent that we think of tools that can
help boys and girls promote competencies that help them analyze situations of virtual
coexistence, make decisions based on ethic
al coexistence in all interactional spaces, and also
on the welfare of the entire community
.
We argue that in addition to protection, boys and girls should also reflect on the way
they themselves interact on the networks. This is because another fact from
the same study
draws our attention: when asked about the practice of offenses, respondents said that "it hasn't
happened. Nevertheless, when we compare this data with other findings of the research, we find
that 38.5% of the interviewed students have expe
rienced these situations or know colleagues
who have suffered from offensive messages, leading us to realize that the recognition of one's
own actions as inappropriate or violent is something that also needs to be in the scope of
mediations for a positive
cyber coexistence
.
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Chart 1
-
Teen Responses to Offensive Messages
Source
: GEPEM
These numbers bring an alert to the issues of social networks, showing that, although
we have a significant number of answers "It didn't happen", it is
necessary to consider the
answers of students who have already been through such a situation and/or know someone who
has, since they bring suffering and consequences to those who experience these aggressions
from a mental health point of view.
Considering
the urgency in the construction of cyber coexistence programs, we asked
the boys and girls about the main forms of conflicts that occur in the interactions mediated by
the networks, asking them to highlight the violence that has already occurred to them. T
he data
show that the practices of virtual violence are not distant from the general problems of
coexistence between people, showing little tolerance for the maintenance of bonds and the
ability to deal with differences (BAUMAN, 2008)
.
Table
1
–
Absolute
results and frequency of answers
They did this to me or it happened to me...
Absolute
number
Frequency(%)
Sending hurtful messages
203
10,5%
Threatening someone through messages on the Internet, on social networks,
or in online gaming
situations.
175
9,1%
Creating pages or groups to badmouth someone.
72
3,7%
Deleting a person unwillingly from a social network or group because they
are annoying or you don't like them.
173
9,0%
"Terminating" a person for having different behaviors or o
pinions.
114
5,9%
Posting or sending personal comments about someone you know to other
people for them to know about (and that the person would not want known).
84
4,4%
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7
Using intimate photos of a person to blackmail them.
38
2,0%
Sharing
intimate videos/photos of a known person without their permission.
37
1,9%
Editing a photo or creating memes, creating a fake profile to ridicule or
humiliate someone.
68
3,5%
Hack into someone else's account and send messages or post something
pretending to be that person.
73
3,8%
Creating or participating in polls on social networks that mock or ridicule
someone.
53
2,8%
Offend or tease someone online because of their sexual orientation or LGBT+
identity (homophobia, transphobia, etc.)
65
3,4%
Insult or tease someone online about their body type (thin, overweight, tall,
short, redhead, black, blonde, etc.)
162
8,4%
Threatening your boyfriend/girlfriend via WhatsApp or social networking
because he/she wants to break up with you.
39
2,0%
O
ffend or disrespect (not argue) someone on the Internet because of his/her
political, religious, or ideological choice.
94
4,9%
Source
: GEPEM
By analyzing the data above we can verify that the adolescents have already experienced
several situations in which they were exposed, humiliated, defamed, disrespected. As we can
notice, 175 adolescents said they had already gone through this situation: "
Threatening someone
through messages on the Internet, on social networks or online game situations.
Moreover, the absence of tolerance was evident when one notices that more than 100
students have already experienced situations of virtual cancellation. Th
is is a way of showing
indignation towards other people's behavior, however, it reveals little tolerance between
interpersonal relationships and, above all, a heteronomous way of dealing with the problem,
since the solution to a conflict involves the exclu
sion of others.
When we think about this issue from the point of view of moral development, we
identify that the practices of cancellation become very harmful to interpersonal relationships,
precisely because they annul the subject precisely in front of
the other, making his social
existence impossible. Moreover, cancellation also shows difficulty in coordinating points of
view, in welcoming differences, and even denies dialogue with differences, ensuring rich
possibilities of development for those involv
ed in the conflict situation
.
This is because, when canceling the other, many times, the subject argues from the
adoption of mechanisms of Moral Disengagement (BANDURA, 1999), building moral
justifications that explain the violence and the denial of peopl
e, often blaming them for the
mistreatment suffered.
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Besides virtual cancellation, we identified that disrespect is also very present in cyber
coexistence. This is because we noticed the frequency of insults and cursing related to physical
appearance. In
the item "Insult or tease someone on the internet for their physical type (thin,
obese, tall, short, redhead, black, blonde, etc.)", we found more than 8% of young people who
suffer for this dimension, highlighting the importance of students to recognize t
he importance
of respecting people, regardless of their appearance.
From the first descriptive analyses, more questions emerged: Is the fact that they have
a computer at home a variable that interferes with these results? Similarly, does having your
own c
ell phone make a difference for cyber aggression problems? Let's see the results found.
To answer these questions, we took for analysis the answers that pointed out the
authorship of cyber aggression: those who marked the alternative "I did it" as authors
of cyber
aggression and those who did not mark that alternative ("I did it") as "not authors of cyber
aggression". The percentages refer to the aggressions indicated at some point in the last three
months, considering those who do not have a computer and
those who do; those who do not
have a cell phone and those who do. Let's see the results found with the help of the following
table
.
Table
2
–
Correspondence between having or not having a computer at home and being an
author
Variable
Is there a
compute ror
laptop in your house
?
P Value
No
(n=902)
Yes
(n=1021)
Sending messages that offend.
39 (4,32%)
28 (2,74%)
0,06
Threatening someone through messages on the Internet, on social
networks, or in online gaming situations.
30 (3,33%)
22
(2,15%)
0,11
Creating pages or groups to badmouth someone.
50 (5,54%)
27 (2,64%)
<0,01
Unwillingly excluding someone from a social network or group because
they are annoying or you don't like them.
124
(13,75%)
130
(12,73%)
0,51
"Terminating" a person for having different behaviors or opinions.
52 (5,76%)
47 (4,6%)
0,25
Posting or sending personal comments about someone you know to other
people for them to know about (and that the person would not want
known).
48 (5,32%)
28
(2,74%)
<0,01
Using intimate photos of a person to blackmail them.
29 (3,22%)
13 (1,27%)
<0,01
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9
Sharing intimate videos/photos of a known person without their
permission.
28 (3,1%)
15 (1,47%)
0,02
Editing a photo or creating memes, creating a fake
profile to ridicule or
humiliate someone.
42 (4,66%)
20 (1,96%)
<0,01
Hack into someone else's account and send messages or post something
pretending to be that person.
39 (4,32%)
24 (2,35%)
0,02
Creating or participating in polls on social
networks that mock or
ridicule someone.
30 (3,33%)
25 (2,45%)
0,25
Offend or tease someone online because of their sexual orientation or
LGBT+ identity (homophobia, transphobia, etc.)
28 (3,1%)
20 (1,96%)
0,11
Insult or tease someone online about
their body type (thin, overweight,
tall, short, redhead, black, blonde, etc.)
43 (4,77%)
27 (2,64%)
0,01
Threatening your boyfriend/girlfriend via WhatsApp or social
networking because he/she wants to break up with you.
27 (2,99%)
17 (1,67%)
0,05
Offend or disrespect (not argue) someone on the Internet because of
his/her political, religious, or ideological choice.
52 (5,76%)
43 (4,21%)
0,12
Source
: GEPEM
Among the participants, 902 adolescents stated that they did not have a computer at
home, while 1021 of them have this equipment in their residence. When we compared the
aggression actions evidenced by the adolescents between those who have or do not have a
computer at home, we found statistically significant differences (p<0.005) between
the two
groups.
From the data, we found that 5.32% of the participants who indicated that they have
already posted or sent personal comments from someone they know to other people to find out
about (and that the person would not want it to be publicized) do not have a com
puter at home,
while only 2.74% of them have such a device and this difference is statistically significant (p
-
value <0.001).
Similarly, 3.22% of those who have used intimate photos of a person to blackmail them
do not have a computer at home, while only
1.27% have such a device in their home and this
difference is also significant (P
-
value <0.01). Among those who have shared intimate
videos/photos of a known person without her(his) permission, 3.1% have a computer at home,
while 1.47% do not (with a signi
ficant difference of P
-
value <0.02). Another 4.66% of those
who have a computer at home have edited a photo or created memes or a fake profile to ridicule
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or humiliate someone, compared to 1.96% of those who have done so who do not have a
computer at home
(significant difference, p
-
value < 0.01).
As for hacking someone else's account and sending messages or posting something
pretending to be that person, 4.32% of those who have done so have a computer at home while
2.35% do not (with a significant differenc
e of P
-
value <0.02). Of those who have ever created
pages or groups to badmouth someone, 5.54% have a computer at home while 2.65% do not
(with a significant difference of P
-
value <0.01); 4.77% of those who have insulted or "teased"
someone on the internet
for their physical type do not have a computer at home while 2.64%
do not (with a significant difference of P
-
value <0.01); and, finally, 2.99% of those who
threatened their boyfriend/girlfriend on WhatsApp or social network because he/she wanted to
break
up the relationship have a computer at home compared to 1.67% of the aggressors who
do not (with a significant difference of p
-
value <0.05).
These results lead us to reflect on something very important: the fact that they do not
have their own computers
or cell phones does not guarantee that such situations do not occur.
Not infrequently, we come across punishments in which mothers, fathers, or guardians forbid
the use of these technological resources, aiming to help their daughters and sons to rethink th
eir
actions in the virtual environment and thus promote a more respectful space. However, the data
makes it clear that not having such resources is not enough or a decisive factor to avoid
situations of humiliation and mistreatment.
At the same time, it is
evident that most of the virtual aggressions are not known by the
adolescents' parents or guardians since they are not posted at home, which shows us, still, the
need for guidance, but not deprivation for the use of technological devices. Precisely becaus
e
of this, Avilés (2021) reflects on the importance of the protagonism of children and young
people in effective educational programs to combat violence in cyber coexistence. According
to this author, it is the role of educational programs to accompany and
guide children and young
people in facing the insecurities and difficulties experienced in cyber coexistence, favoring a
real participation in experiences that favor reflection and, therefore, learning. The focus would
be on adjusting the forms of coexist
ence using the conflicts themselves as opportunities to think
about the forms of interaction experienced. Faced with the complexity of the virtual world,
limiting the uses does not bring any security to young users, who, helpless, can even become
more vuln
erable to virtual coexistence and the violence that occurs in it
.
What about the use of one's own cell phone? Would the perpetrators of cyber aggression
use their own cell phones to do it? When we analyze the results we see that there are no
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significant d
ifferences (p<0.005) between those who have and those who don't have a cell
phone, with the exception of one action: "excluding a person without their permission from a
social network or group because they are bothersome or because you don't like them", fo
r which
the difference is significant (p<0.01). Among the participants, 7.77% of the adolescents who
have already acted this way do not have their own cell phone, while 13.86% of them reveal
having their own cell phone. It seems evident that such action is
much more common being
performed by a cell phone since actions on social networks are accessed much more frequently
on mobile devices.
In finding no significant differences between owning or not owning a cell phone and
being the author of a cyber
-
aggress
ion, our results show that teenagers send offending messages
even if they do not own a cell phone. In addition, they threaten someone through messages on
the Internet, on social networks or in online games, by posting or sending personal comments
from some
one they know to other people. In addition, even without their own cell phones they
have insulted or "teased" someone on the Internet for their body type (thin, obese, tall, short,
redheaded, black, blond, etc.) or hacked into someone else's account and se
nt messages or
posted something pretending to be that person
.
Here is an important question to think about in these new times: the fact of not having a
cell phone is not an obstacle to intimidation in virtual relationships. Once again, this data
reinforce
s that external control, whose prohibition of use is presented as a protective strategy,
is ineffective. We emphasize, then, the role of school institutions in the formation of students
about a digital education based on ethical principles that make use of
real conflict situations to
build protective reflections for an ethical coexistence.
It is in this sense that studies on the protagonism of children and teenagers are being
defended, considering that the performance of real conflict situations and, also,
the reflection
among peers is a healthy and effective way to face cyber aggression. From this perspective,
children and adolescents should be placed in their position of protagonism, helping their peers
and becoming indignant at the violence they experien
ce. According to Avilés (2021), the
relational connection among peers should be the way to build more genuine values that support
human rights, such as citizenship, justice, respect, solidarity, tolerance, equality, help,
compassion, etc.
Seeking to understand the existence of gender differences between boys and girls
involved in violence in cyber coexistence, we ask ourselves: are there differences between those
who suffer or cause suffering in virtual coexistence in terms of gender?
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From
the results we see that only for one situation of cyber aggression between boys
and girls there is a statistically significant difference: "Threatening someone through messages
on the Internet, on social networks or online game situations. This is the act
ion more present
among boys (3.8%) than girls (1.67%) and this difference is statistically significant (p<0.001)
.
Understanding that there are differences in the identity forms of boys and girls, and also
that there is a toxic masculinity experienced in s
ocial relations, we analyzed this small
difference as practices associated with the behavior of boys in online games, highlighted as
more used by the male gender.
It also draws attention to the fact that among the 15 situations described to evaluate the
f
requency of actions by male and female students, the one that stands out with the highest
percentage (12.5% among boys and 13.6% among girls) is "Exclude a person without him or
her wanting to, from a social network or group, because he or she bothers you
or because you
don't like him or her.
Considering the results found, we can see that girls seem to suffer more disrespectful
situations than boys, since there was a statistically significant difference in five of the 15
situations presented: girls (19.18%
) receive more offensive messages than boys (12.27%) and
this difference is significant (p<0.001); they are more excluded from groups and social networks
(14.55%) than boys (8.83%) with a significant difference (p<0.001) and, furthermore, they have
already
had personal comments published or sent for other people to know without having
authorized the disclosure (7.41% of girls and 5.03% of boys with a significant difference of
p<0.004). Similarly, girls experienced more situations in which they were targeted
by pages or
groups created especially to speak ill of them (5.93% among girls and 3.8% among boys with
a significant difference of p<0.04).
Finally, the results pointed out that girls (13.4%) also received more offenses for being
too thin, obese, tall, s
hort than boys (9.45%) who experienced this disrespectful situation (with
significant difference of p<0.001). As in the case of toxic masculinity, which explains the
greater threat in games practiced by boys, we also find in this result a macho social pres
sure
that gives women greater aesthetic responsibility, demanding perfect bodies in a world marked
by ephemeral values such as beauty and power.
The data pointed out that in several situations of virtual aggression girls experienced
more unpleasant moment
s of humiliation and disrespect in relation to boys, which also seems
to help us understand the relationship between aesthetic values and violence directed at girls.
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Not finding significant differences in the other 14 situations means that gender is not a
variable that interferes in the fact that among the participants of this research are authors of
cyber aggression. Both boys and girls do it, even though their actions have low occurrence
among them
.
Cyber
-
coexistence and the need for educational progr
ams that address the problem
Pierre Lévy, in his acclaimed work "What is virtual?", invites us to think that
contemporary interactions are equally impacted by the physical and virtual worlds, with these
two dimensions being forms of interpersonal relationships that are possible in the
real world.
This is because, in an increasingly intense way, virtuality crosses the lives between people,
marking the ways in which they coexist not only when they are connected.
In 2018, according to national data presented by the Brazilian Institute of
Geography
and Statistics (IBGE, 2018), the percentage of households using the internet rose from 74.9%
to 79.1% in the span of just one year: between 2017 and 2018.
This data affects not only adults, but even children and adolescents. When we analyze
data
pointed out by the TIC KIDS ONLINE report (2019), we find information indicating that
among Brazilians aged nine to 17 there is a large percentage of virtual interactions, so that 78%
of the public between these ages say they send messages on apps without
supervision from
family members. In addition, 77% of children and adolescents are allowed to watch online
videos and movies without any kind of guidance from adults; and, furthermore, 75% use the
Internet alone.
We know that, as highlighted by Livingston
e (2013) and the data presented here, safety
on social networks is not characterized exclusively by adult control over the content built and
accessed by children and adolescents. When we talk about supervision, we advocate
cooperative practices that favor
protagonism and guide boys and girls to think about the
opportunities, dangers, and benefits of the digital world.
Evidently, in unknown spaces, it is necessary that someone more experienced is
mediating new cyber coexistences. In this regard, Avilés (202
1) calls attention to the fact that
we urgently need to think about an educational accompaniment that provides children and
adolescents with guidelines on how to behave on digital networks and in virtual relationships
with other people. This is because, wi
thout prior reference or analysis, boys and girls are more
vulnerable to cyber violence and dangers
.
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Fernanda Issa de Barros FARHAT
and
Catarina Carneiro GONÇALVES
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This point made by Avilés is even more important when we note other vulnerabilities
of children and young people, so that 42% of respondents in our resear
ch have already had
online contact with someone they did not know (27% of these communications were made
through social networks and 21% through online messaging platforms). Finally, this same
report evidences that 22% of the participants explained that th
ey have personally met people
they met on the internet, evidencing a risk that crosses virtuality, including physical safety.
This broad reach to virtualization in children and teenagers coexistence, and also the
lack of guidance for a positive cyber coex
istence by educators (parents and teachers) for
children and adolescents, potentializes harmful forms of cyber coexistence, making boys and
girls vulnerable to various forms of violence: sexting, shaming, virtual cancellation,
cyberbullying, hate speech, l
ynchings, among others.
Avilés (2021) calls our attention to the fact that children and adolescents need help to
structure a communication that they have not yet consolidated in a positive way, such as the
one that occurs in virtual platforms. For this au
thor, it is in the mediation that adults favor in
new experiences that the youngest will be able to structure the construction of consistent and
secure messages, conditions that they need to communicate assertively.
Such mediation, still according to the
above
-
mentioned author, needs to consider the
specificities of each subject. Children will have in adults the reference figures, while teenagers
will find in their peers the references for cyber coexistence, being necessary, therefore, the
formation of cyb
ermentors.
That said, the mediation necessary for positive learning in cyber coexistence, far from
being a strategy of coercion and control, needs to be configured as an analysis in collectivity
and complexity, favoring trust and the expansion of new pers
pectives. This will help boys and
girls build a safe narrative in cyber coexistence, being more protected from violence
.
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Final remarks
Considering that virtuality enhances the reach of coexistence and, consequently,
vulnerabilities to dangers, we believe that platforms such as Facebook, Instagram, Twitter and
WhatsApp, among others, can spread violent content, vehemently increasing the su
ffering of
those who are exposed. This is precisely why they need to become objects of reflection by the
users, so that they can develop tools to promote positive coexistence, being this demand a
crucial preventive element to avoid the manifestation of vio
lence and its reproduction in forms
of abuse, harassment or imposition.
Given the data presented here, it becomes imperative to build coexistence programs that
ensure effective possibilities for confronting the violence that occurs in cyber coexistence.
E
specially in scenarios like the contemporary ones, in which, due to the pandemic, virtuality
has become even more intense, it is necessary to think of assertiveness possibilities in
interpersonal relationships mediated by the networks, ensuring the boys an
d girls conditions to
build moral autonomy
.
The data presented here show, for example, that external control is not protective against
the dangers of virtuality. This is because there is no greater protective factor among those who
do not own cell phones
and computers when compared to those who have free access to such
digital equipment.
In an increasingly intense way, contemporary boys and girls find ways to access the
networks, lacking, therefore, elucidative practices that favor the understanding of di
gital
vulnerability, building paths for the critical confrontation of problems and dilemmas that we
live in technological contexts
.
That said, it is necessary to consider elements that favor the moral development of
children and adolescents, helping
them to analyze new situations based on values and principles
that they already keep in their ethical personalities. This means to say that, more than ever, it is
urgent that we build paths to moral autonomy, considering that many network problems are
anch
ored in the fragility that a heteronomous thinking favors, attributing too much value to the
other's view of ourselves
.
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Fernanda Issa de Barros FARHAT
and
Catarina Carneiro GONÇALVES
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https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.16957
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How to reference this article
ISSA, F.; GONÇALVES, C. C.
The digital coexistence and its problems: A study with
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DOI:
https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.16957
Submitted
: 19/11/2021
Revisions required
: 25/02/2022
Approved
: 09/04/2022
Published
: 01/07/2022
Management of translations and versions: Editora Ibero
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