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Processos responsivos no desenho, implementação e avaliação de programas na área da melhoria da qualidade da convivência esco
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Revista on line
de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022099, jul. 2022.
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ISSN: 1519
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DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.3.16960
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PROCESSOS RESPONSIVOS NO DESENHO, NA IMPLEMENTAÇÃO E NA
AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS NA ÁREA DA MELHORIA DA QUALIDADE DA
CONVIVÊNCIA ESCOLAR
PROCESSOS RESPONSIVOS EN EL DISEÑO, IMPLEMENTACIÓN Y EVALUACIÓN
EN EL ÁREA DE MEJORÍA DE LA CALIDAD DE LA CONVIVENCIA ESCOLAR
RESPONSIVE PROCESSES IN THE DESIGN, IMPLEMENTATION AND
EVALUATION OF PROGRAMS FOR IMPROVING THE QUALITY OF
COEXISTENCE IN SCHOOLS
Cesar Augusto Amaral NUNES
1
Telma Pileggi VINHA
2
Soraia Berini CAMPOS
3
RESUMO
: Responsividade significa, de forma intencional, criar condições para
continuamente escanear e analisar situações e processos, escutar expectativas, opiniões e
necessidades das pessoas que recebem ou implementam um programa e, da maneira mais
aberta, ágil e potente possível, reagir, modificar ações, incluir novos atores, convidar à
participação e construir coletivamente um programa melhor para todos e para cada c
ontexto. O
objetivo desse artigo é discutir contribuições do processo responsivo em programas complexos,
assim como descrever tipos e níveis de responsividade como os utilizados no programa “A
Convivência Ética na Escola”, facilitando a transposição para p
rogramas de mais larga escala e
políticas públicas.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Responsividade. Convivência. Programas. Políticas públicas.
RESUMEN
: Capacidad de respuesta (responsividad) significa crear intencionalmente las
condiciones para escanear y analizar co
ntinuamente situaciones y procesos, escuchar las
expectativas, opiniones y necesidades de las personas que reciben o implementan un programa
y, de la manera más abierta, ágil y poderosa posible, reaccionar, modificar acciones, incluir
nuevos actores, invit
ar a la participación y construir colectivamente un mejor programa para
todos y para cada contexto. El objetivo de este artículo es discutir las contribuciones del
proceso de respuesta en programas complejos, así como describir tipos y niveles de
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Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas
–
SP
–
Brasil. Pesquisador associado no Grupo
“Ética, Democracia e Diversidade” do Instituto de Estudos Avançados
e no Grupo de Estudos e Pesquisas em
Educação Mora (GEPEM)
. Doutorado em Física Teórica
. ORCID: https://orcid.org/0000
-
0001
-
5792
-
507X. E
-
mail: cesaraanunes@gmail.com
2
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas
–
SP
–
Brasil. Professora da Faculdade de Educação
e coordenadora do Grupo “Ética, Democracia e Diversidade” do Instituto
de Estudos Avançados. Doutorado em
Educação. ORCID: https://orcid.org/0000
-
0002
-
0510
-
8390. E
-
mail: telmavinha@uol.com.br
3
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara
–
SP
–
Brasil. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas
em Educação Mora (GEPEM
). Mestr
e
em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000
-
0003
-
2515
-
9918. E
-
mail:
soraiassc@hotmail.com
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responsiv
idad como los utilizados en el programa "Convivencia ética en la escuela",
facilitando la transposición a programas y políticas públicas a mayor escala.
PALABRAS CLAVE
: Responsividad. Convivencia. Programas.
Políticas Públicas.
ABSTRACT
: Responsiveness means, in an intentional way, to create conditions to
continuously scan and analyze situations and processes, collect expectations, opinions and
necessities from people that receive or implement a program and, in the most open, agile and
p
owerful possible way to react, modify actions, include new agents, invite for participation,
and collectively construct a better program for everyone in every context. The objective of this
paper is to discuss contributions of responsive processes in compl
ex programs as well as to
describe kinds and levels of responsiveness as those used in the program “Ethical Coexistence
at School” facilitating the transposition to larger scale programs and to public policies.
KEYWORDS
: Responsiveness. Coexistence. Prog
rams. Public policy.
Contextualização teórica
Discussões e pesquisas sobre desenho e implementação de políticas públicas ao longo
dos últimos anos mostram tanto evoluções, como ambiguidades e disputas. Essas evoluções e
ambiguidades refletem o dinamis
mo e a complexidade do próprio processo civilizatório.
Programas e políticas para a melhoria da convivência e para avanço da educação são muito
diferentes de programas criados para solucionar outros problemas da sociedade e também de
missões criadas para l
idar com desafios mais sistêmicos que ainda seguem uma lógica de busca
de soluções (MAZZUCATO, 2018). Quando a situação é complexa, não definível e solúvel
como problema, desenhar soluções, criar mecanismos de cadeias causais e estabelecer metas
pode ser i
nibidor, reducionista e mais atrapalhar, do que ajudar (RITTEL; WEBBER, 1973).
Em termos de educação e, principalmente, da convivência escolar, sempre haverá a necessidade
de continuadamente, desenhar, redesenhar e implementar programas e reformas, uma vez
que
a sociedade se move num processo interminável de transformações e, esperançadamente,
avanços. Isso não significa ineficiência, pelo contrário, é um olhar realista que normalmente
confronta visões tecnocráticas (PELLIZZONI, 2001). Devido à complexidade
de atores e
processos envolvidos nesse tipo de desafio, antes que se consolide uma implementação, novas
reformas já se mostram necessárias (ELMORE, 1996; REIMERS, 2020).
Assumir o contrário, que de uma vez por todas (ou pelo menos por um bom tempo)
iremos resolver o “problema” da educação ou da convivência leva, como temos visto, à
frustração, à responsabilização e à culpabilização. O problema está em encarar algo que é
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pr
ocessual, evolutivo, interminável, como problema solucionável (SINEK, 2019). Lidar com
esse desafio de melhorar a sociedade e a educação, aceitando que estão totalmente imbricadas,
precisa ser encarado numa visão muito mais deontológica do que teleológica;
a chegada não é
um alvo fixo, continuará se movendo, mudando; não é aumento de eficiência e sim
compromisso e respeito à diversidade, à diminuição de desigualdades e à convivência mais
justa. Aprender a conviver é olhar para o processo e não para a chegad
a, para as pessoas e não
para os resultados de performance.
Uma sociedade será culturalmente rica e diversa se houver a convivência de diferentes
grupos identitários, étnicos e religiosos. Haverá heterogeneidade nos hábitos, nas visões de
mundo e nas hiera
rquias de valores, diferenças essas que invariavelmente levam a tensões e
conflitos. Entender essas tensões e conflitos como parte de um processo natural, dinâmico, de
contínua acomodação e reconhecimento das distintas identidades e culturas implica em
rec
onhecer e valorizar a complexidade inerente de se viver numa sociedade como a atual,
interconectada, tanto no nível local como no nível global, e, justamente por isso, rica e diversa.
Promover uma educação escolar que favoreça a convivência democrática nos
dias de
hoje significa educar para navegar na complexidade das múltiplas visões de mundo e culturas,
com suas interfaces e conexões que vão muito além do convívio em família ou do convívio
restrito a um grupo de afinidade. Interações tanto transformam o i
ndivíduo como, num processo
de causalidade circular (MORIN, 2015), também transformam o meio, as estruturas, os outros
e as próprias interações. Navegar na complexidade significa às vezes se deixar levar, às vezes
se adaptar, às vezes se transformar, e às
vezes agir para transformar. Entender, aceitar e
participar de forma respeitosa e ética desse devir depende de atuação crítica pautada em
princípios de dignidade, justiça e solidariedade. Numa sociedade complexa não é possível pré
-
determinar quando ceder,
quando convencer, quando lutar. É a autonomia intelectual e moral,
que é pautada em princípios, que permite que cada cidadão atue coordenando perspectivas e
contribua para uma sociedade mais justa (VINHA
et al.
, 2017).
Praticamente todos os documentos que
inspiram e embasam políticas educacionais
contemplam a formação para a vida em sociedade. A combinação de todas as competências
gerais descritas na Base Nacional Comum Curricular
-
BNCC, por exemplo, é necessária para
a convivência ética e democrática. Os
quatro pilares da educação, descritos por Jacques Delors
(1998), são necessários para a convivência ética e democrática. Contudo, embora necessários,
essas competências e pilares não são suficientes. As transformações precisam ser muito mais
sistêmicas, en
volvendo também o educador e seu fazer profissional, precisam contemplar
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mudanças no sistema educacional como um todo, em sua organização e estruturas (UNESCO,
2021).
Apesar da frustração recorrente por não vermos alcançadas as metas declaradas em
document
os, como o Plano Nacional de Educação e o Education 2030 da Unesco, o que se vê
é a sequência e a repetição, sem o devido questionamento, de modelos e processos de desenho
e implementação de políticas públicas.
Matland (1995), classificando o desenho e a
implementação de políticas públicas,
elaborou quadrantes representados por dois eixos
-
ambiguidade e conflito
-
e dois valores que
podem ser atribuídos a esses eixos
-
alto ou baixo
-
resultando em políticas cuja implementação
geram baixo conflito e baixa
ambiguidade, alto conflito e baixa ambiguidade, baixa
ambiguidade e alto conflito, ou alto conflito e alta ambiguidade.
Um exemplo de política que gera baixo conflito e baixa ambiguidade é o PNLD,
Programa Nacional do Livro Didático, no qual professores
escolhem os livros de uma lista e o
governo faz a distribuição. Há pouco questionamento de que esse é um bom programa e que
sua maneira de funcionamento é adequada. O nível de discricionariedade (ANDREWS;
PRITCHETT; WOOLCOCK, 2017; LIPSKY, 2010) nesse prog
rama não é contestado. Dito de
outra forma, no caso do PNLD, o fato de os professores fazerem a escolha traz flexibilidade e
é vista pelos educadores como adequada. Por outro lado, quando não existe consenso sobre
métodos, práticas e/ou tecnologias, a falt
a de discricionariedade passa a ser um problema sério.
Um programa como das escolas militarizadas, no qual a gestão da escola é imposta por meio
de regras e controle rígidos para que não haja ambiguidades e evitar conflitos, funciona como
uma forma de orga
nização que se vale do uso do poder e da intimidação e rechaça a pluralidade
de pensamento e de comportamentos, impondo uma lógica militar para lidar com cidadãos não
militares, no caso estudantes de escolas públicas. Um modelo que vai em direção contrária
ao
desenvolvimento dos valores e de competências necessárias à vida em uma sociedade
democrática e cada vez mais complexa (VINHA
et al
., 2021a). Esse é um exemplo típico do
que David Snowden chama de desmoronamento do “simples” para o “caos”, quando uma
s
ituação complexa é tratada como se fosse simples, óbvia, impondo e assumindo
-
se que existe
“uma melhor prática” (SNOWDEN; BOONE, 2007; SNOWDEN; GREENBERG; BERTSCH,
2020), quando, na verdade, essa prática está longe de ser suficiente e aceita.
Bons program
as e políticas públicas na área da convivência reconhecem e respeitam a
diversidade de grupos, visões e culturas. Nesse sentido, o que é ambíguo e incerto não é a
política educacional e sim o contexto no qual a política/programa está inserida, que é comple
xa
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e não se pode vê
-
la de forma simplificada sob o risco de descaracterizá
-
la, de ser reducionista.
A ambiguidade neste caso não é negativa, é o reconhecimento da necessidade de coordenar
diferentes perspectivas (HABERMAS, 2003; SELMAN, 2006) e, um program
a que promove o
desenvolvimento individual, coletivo, e organizacional, pode, usando os quadrantes de
Matland, contribuir para transformar situações de alto conflito e alta ambiguidade em situações
de baixo conflito e alta ambiguidade. Todavia, por conta d
o programa quem muda de quadrante
são as pessoas no seu convívio, que se sentem mais confortáveis para navegar pelo complexo
sem precisar fazer uma redução do “complexo para o complicado”, sem renunciar a diversidade,
culturas emergentes, criatividade, e e
ncantamento em troca de padronizações, amarras e
eficácia.
A implantação de políticas que reconhecem e lidam com a complexidade sem tentar
reduzi
-
la passa por uma lógica completamente diferente da lógica de planejar e executar como
etapas rígidas e separad
as (BRYSON
et al
., 2021; SØRENSEN; TORFING, 2021). A fase de
planejamento é revista muitas vezes com a participação de quem está implementando e de quem
está recebendo os programas (ANDREWS; PRITCHETT; WOOLCOCK, 2017; FISHMAN
et
al
., 2013). A avaliação da
implementação é participativa e democrática (PATTON, 2010;
STAKE, 2004; STUFFLEBEAM, 2001). Os resultados das transformações vão muito além de
indicadores tradicionais e passam a contar com evidências menos estruturadas, construídas e
analisadas coletivame
nte (INDEPENDENT GROUP EVALUATION, 2020).
Neste artigo exploraremos a responsividade, um dos aspectos mais distintivos de
programas e políticas públicas na área da convivência, que levam em conta a complexidade ao
gerar transformações de forma respeitosa,
envolvendo os participantes e beneficiários, sem ferir
as culturas existentes, de forma a favorecer a sustentabilidade. Além de discutir as contribuições
responsividade em programas complexos, descreveremos tipos e níveis de responsividade a
partir do pro
cesso desenvolvido em um programa de convivência ética organizado em escolas
brasileiras como veremos a seguir.
Níveis e tipos de responsividade
A responsividade é uma qualidade rara e desejada para ser incorporada em programas e
políticas públicas. Significa, de forma intencional, criar condições para continuamente escanear
e analisar situações e processos, escutar expectativas, opiniões e necessi
dades das pessoas que
recebem ou implementam o programa e, da maneira mais aberta, ágil e potente possível, reagir,
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modificar ações, incluir novos atores, convidar à participação, e construir coletivamente um
programa melhor para todos e para cada contexto
.
Já na década de 70, Robert Stake concebeu a avaliação responsiva. Desde então esse
tipo de avaliação vem evoluindo e sendo convalidado entre especialistas na organização de
procedimentos e processos para que a avaliação de programas tenha o caráter resp
onsivo
(STAKE, 2004; STUFFLEBEAM, 2001). Um dos fatores mais distintivos da avaliação
responsiva é aceitar de antemão que a compreensão do programa, os objetivos, as expectativas
quanto aos resultados e os procedimentos mais adequados para concretizá
-
los s
ão interpretados
diferentemente por quem o idealizou e desenhou, e por quem o recebe, ou seja, os beneficiários.
Entender essas diferentes compreensões já no início e gerar alinhamento entre quem desenha e
quem recebe conforme o programa se desenrola, depe
nde de escuta respeitosa dos diferentes
pontos de vista, eventuais mudanças de rumos e uma participação não isenta do avaliador, que
acaba tendo um papel também de intérprete entre idealizadores/implementadores e
beneficiários. A avaliação responsiva, por
isso mesmo, é muitas vezes denominada avaliação
centrada no beneficiário. Alguns dos pontos negativos dessa avaliação, como a vulnerabilidade
do avaliador ser influenciado em demasia pelos beneficiários, a dificuldade de
acompanhamento de múltiplos atores
e o perigo de encaminhamentos muito divergentes entre
si e da ideia original (STUFFLEBEAM, 2001), vem sendo resolvidos ou minimizados com o
uso de tecnologia para a ampliação e aprofundamento de participações reflexivas
documentadas, tornando visíveis expe
ctativas, sugestões, preocupações e convidando à
interação, gerando de certa forma uma validação entre pares e a conscientização da
complexidade do programa se adequar a diferentes contextos (VINHA
et al
., 2020). Essa
avaliação responsiva ampliada pela tec
nologia permite trabalhar com um grupo ampliado de
beneficiários como se fosse um grupo focal continuado ao longo do tempo, e gerar estudos de
caso longitudinais para entender processos de transformação provocados pelo programa.
Um programa ou
política pública que adote a avaliação responsiva, mas não incorpore
processos responsivos também na implementação e na adaptabilidade para redesenho, perde
coerência. Para ilustrar diferentes tipos e níveis de responsividade utilizaremos “A Convivência
Ét
ica na Escola”, que se tratou de um programa de formação de professores e transformações
na escola com ações diferenciadas e complementares que visava a melhoria da qualidade da
convivência escolar e do processo de resolução dos conflitos, favorecendo a co
nstrução de um
clima escolar positivo (VINHA
et al.
, 2017; VINHA; NUNES; TOGNETTA, 2018), idealizado
pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM) da Universidade Estadual
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de Campinas (Unicamp) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Com
duração de 24 a 36
meses, o programa foi implementado em dez escolas municipais de Ensino Fundamental de
duas cidades do interior paulista.
As propostas foram elaboradas considerando três vias interrelacionadas: a interpessoal,
a curricular e a instituci
onal que, em síntese, consistiram em: inserção de uma disciplina
semanal na grade curricular de estudantes para que a convivência e a moral fossem discutidas;
a implantação de espaços de participação, diálogo e resolução de conflitos, tais como as
assemble
ias de classe e os procedimentos de mediação; propostas de protagonismo juvenil,
como as Equipes de Ajuda; avaliação do clima escolar e discussão coletiva dos resultados; na
construção de um Plano de Convivência e no acompanhamento dos principais procedime
ntos
implantados (VINHA
et al
., 2017).
O ponto mais destacado do programa eram ações de formação de docentes, atingindo
todo o corpo docente e gestores em encontros quinzenais, além da formação específica para os
professores responsáveis pela nova discipl
ina. Um educador
-
pesquisador ligado ao GEPEM,
com conhecimento especializado na área da convivência, ficou encarregado de conduzir os
encontros formativos. Esse formador trabalhou sempre em dupla com um segundo pesquisador,
menos experiente, e ambos partic
iparam ao longo de todo o processo de desenho e implantação
do programa de encontros semanais realizados na Faculdade de Educação da Unicamp. Nesses
encontros todos os formadores/implementadores relatavam as atividades da semana, faziam
sugestões, pediam a
poio e supervisão, e realizavam trocas entre si. A supervisão e as discussões
foram conduzidas por pesquisadores seniores, que também foram os responsáveis por desenhar
o programa e fazer as articulações com as secretarias de educação e diretorias regionai
s.
Os encontros formativos conduzidos pelos formadores/implementadores seguiam uma
agenda pré
-
definida com temas e métodos, retomando sempre com o grupo de professores e
gestores (estes em algumas escolas pouco participaram) que mudanças estavam acontecend
o,
onde estavam as dificuldades ou resistências, abrindo espaço para demandas não programadas
previamente.
Vários dos ingredientes da avaliação responsiva foram inseridos nesse programa, em
particular algumas das inovações trazidas pela tecnologia, o que p
ermite maior escuta e contato
com os beneficiários e implementadores. Além de instrumentos tradicionais como questionários
e entrevistas, foi usado também um espaço digital colaborativo, no qual foram publicados
relatos e narrativas formando comunidades in
traescola, interescola e entre os implementadores.
O ambiente digital escolhido foi o
Knowledge Forum
. No
Knowledge Forum
as postagens
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recebem um título e podem ser conectadas umas às outras por setas. Um duplo clique sobre
qualquer título abre a nota para
leitura ou comentário. As postagens são arrastadas na tela pelos
próprios participantes de tal forma que a organização visual faça sentido para o grupo num
processo de construção e avanço coletivo. Os avaliadores tiveram acesso às diferentes
comunidades e
identificaram necessidades e possibilidades de avanço enquanto o programa
acontecia (CAMPOS, 2020).
A responsividade está ligada tanto à capacidade de escuta e detecção de dificuldades e
oportunidades quanto à capacidade de reagir pronta e positivamente.
Uma possível organização
do processo de responsividade em níveis seria: nível do implementador; nível do programa na
dimensão local; nível do programa na dimensão geral; nível de extrapolação para outros
programas e políticas.
No programa Convivência Éti
ca na Escola a atuação aconteceu nos quatro níveis que
caracterizam a responsividade. No nível do implementador a responsividade esteve diretamente
ligada à discricionaridade do profissional. Ele tomava decisões não contempladas no projeto,
seja antecipada
mente, por exemplo, decidindo não usar um caso disparador que outros
implementadores usam em outras escolas por se tratar de um caso particularmente sensível para
a escola na qual está atuando; seja durante uma ação planejada quando percebia que uma
discus
são está gerando estresse e divergindo da proposta original e atuava para mudar o rumo
da conversa, encurtando o tempo, mudando a dinâmica de participação; ou ainda posteriormente
a uma ação planejada quando, por exemplo, decidia conversar isoladamente com
o gestor da
escola que demonstrava apreensão após um momento de empoderamento e reivindicação de
professores. Como podemos notar, nesse nível, para que o programa seja mais responsivo ao
momento e se desenvolva melhor, o implementador pode eliminar, modif
icar ou inserir uma
ação; pode manter ações como planejadas, mas mudar suas próprias estratégias de mediação e
condução; pode provocar reflexões mais profundas, fazendo provocações ou, ainda, cuidar do
clima de trabalho do grupo amenizando intervenções. Es
se tipo de atuação exige que o
implementador seja um profissional reflexivo (ALARCÃO, 1996), exige uma compreensão
profunda do programa e uma capacidade de leitura de contexto visando avanços que é traduzida
na sua práxis, muito alinhada com a definição de
compreensão de Perkins (1998, p.7)
“compreender é ser capaz de pensar e agir flexivelmente com aquilo que se sabe”.
A responsividade do programa no seu nível local pode ser compreendida como decisões,
modificações, e incorporação de contribuições que acon
tecem na escola. Diferentemente de
decisões tomadas pelo implementador, houve casos para os quais a demanda vinha da própria
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escola, da leitura e análise do implementador, de dados coletados via instrumentos e processos
de avaliação, que apontavam para a n
ecessidade de o programa ser modificado para uma escola
em particular. Essa modificação podia se dar na harmonização com projetos já existentes, na
reação a uma necessidade mais imediata invertendo a ordem de trabalho de algum tema,
eliminação de um módulo
inteiro por conta de tempo, desistência do uso da tecnologia, ou ao
contrário, aproveitamento de facilidades já existentes, a não criação de equipes de ajuda numa
escola particular escola, etc. A modificação do programa, adequando
-
o a uma escola, é,
porta
nto, contextual, não havendo ganho de escala, ou seja, nada garante que num momento
posterior ou com outras condições essas modificações seriam novamente realizadas nessa ou
em outras escolas. Destaca
-
se, contudo, que essa flexibilidade é importante, atend
endo as
necessidades específicas da escola, e o aprendizado decorrente pode, eventualmente, ser
incorporado no programa como um todo.
A responsividade no nível geral do programa também vem de leituras, escutas, análises,
e demandas, mas representa uma modi
ficação, adaptação e melhoria do programa para todas as
escolas, ou seja, é entendida como possibilidade de alteração do programa enquanto ele está
acontecendo. Após um ano de implementação do programa, a percepção de que algumas ações
haviam sido realizad
as pelas escolas de maneira superficial, sem grandes resistências, mas
também sem grandes reflexões. Foram introduzidos então, como parte do programa para todas
as escolas, os ciclos de construção de conhecimento, procedimentos coletivos para trabalhar os
temas de forma a provocar engajamento e desequilíbrio inicial, busca por expansão de
conhecimento, conscientização sobre mudanças de postura e de perspectivas após conhecer as
de especialistas e colegas, e tomada de decisão coletiva para usar os novos conh
ecimentos em
processos que interferem na cultura vigente. Uma decisão assim não é tomada por um único
implementador, ela é amadurecida por um corpo de profissionais que acompanha a
implementação, sejam eles os desenhadores originais do programa, sejam eles
avaliadores ou o
próprio conjunto de implementadores interagindo entre si. Fica evidente aqui que programas
que são planejados, implementados, e avaliados apenas no final, usando métodos experimentais
ou quase
-
experimentais, não têm como ser responsivos n
este nível de alteração “durante o voo”.
Um último nível de responsividade se refere ao aprendizado legado para outros
programas, ou versões posteriores do mesmo programa quando aplicado noutro momento, em
outros contextos. Aqui, a partir dos resultados e
análises críticas realizadas por múltiplos atores,
entram as lições aprendidas e um redesenho tanto do programa quanto dos métodos de
implementação. É onde se pode refletir sobre a contribuição do programa para transformações
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de mais longo prazo que se con
ectam com outros programas e necessidades (INDEPENDENT
GROUP EVALUATION, 2020), com a sustentabilidade e escala que serão discutidos a seguir.
Escala, sustentabilidade e considerações finais
Como visto, a responsividade depende fortemente do papel refl
exivo dos
implementadores, de um potente convite à participação dos beneficiários, da avaliação
assumindo um papel de escuta, provocação e análise, e dos responsáveis pelo desenho do
programa continuamente interessados no desenrolar das ações e abertos à r
eformulação
constante (VINHA
et al.,
2021b). Essa visão é coerente com a descrição apresentada
inicialmente sobre navegação pela complexidade e consideração e coordenação de múltiplas
perspectivas.
Desenhar programas para que essa flexibilidade, abertura e
responsividade sejam
realizadas também em larga escala (NUNES; VINHA, 2016), por exemplo, para todas as
escolas de uma rede estadual ou municipal, significa desde a saída pensar no programa como
política pública. Nesse caso, o papel do implementador
-
forma
dor muitas vezes se mescla com
funções existentes nas próprias redes, o papel da avaliação responsiva se mescla com
características de educadores que refletem e pesquisam sobre a própria prática. A incorporação
de mudanças no programa, seja no nível local,
seja no nível global, pode ser pensada a partir de
processos colaborativos deliberados em comunidades de prática. A avaliação passa a ter o
caráter desenvolvimental.
A responsividade quando incorporada em programas de larga escala tem o papel de
promover
a conexão entre os diversos níveis de transformação: individual; coletiva, seja no
nível local de uma escola, seja no nível geral de toda uma rede; e organizacional, questionando
estruturas existentes e favorecendo o aparecimento de novas configurações. Es
se
entrelaçamento entre transformações individuais, coletivas, e organizacionais é fundamental
para a viabilidade e aceitação de mudanças profundas, que acontecem em curto, médio e longo
prazo, e que são processos de avanço e mudança de cultura sustentávei
s.
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Processos responsivos no desenho, implementação e avaliação de programas na área da melhoria da qualidade da convivência esco
lar
RPGE
–
Revista on line
de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 3, e022099, jul. 2022.
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