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(Des) politização: Mulher, mãe e professora no ensino remoto em tempos de crise
RPGE
– Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 4, e022102, 2022. e-ISSN: 1519-9029
DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.4.17116
1
(DES) POLITIZAÇÃO:
MULHER, MÃE E PROFESSORA NO ENSINO REMOTO
EM TEMPOS DE CRISE
(DES) POLITIZACIÓN: MUJER, MADRE Y MAESTRA EN LA EDUCACIÓN A
DISTANCIA EN TIEMPOS DE CRISIS
(DE) POLITICIZATION: WOMAN, MOTHER AND TEACHER IN REMOTE
EDUCATION IN TIMES OF CRISIS
Maria Cleide da Silva Ribeiro LEITE
1
Patrícia Helena Carvalho HOLANDA
2
RESUMO
: Os escritos textuais fazem referência a uma pesquisa de estágio pós-doutoral do
Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará, Área de
Concentração Educação Brasileira. Objetivou-se compreender implicações sociais e
pedagógicas do isolamento social na vida de mulheres professoras do Ensino Médio Integrado
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)
Campus
Canindé no
contexto da pandemia do coronavírus. A submissão das mulheres pela naturalização biológica
e social advém da imposição cultural por gerações. Esta problemática agravou-se ainda mais
no período de isolamento social. Cada vez mais dentro de casa, as mulheres foram
sobrecarregadas de atividades. Marcadores teórico-metodológicos aferiram que as mulheres
precisam conhecer o sistema social e cultural que as fazem submergir. Urge a mobilização de
mulheres com potencial político de articulação para a desconstrução opressora e
desmistificação das conexões sociais e culturais do aprisionamento feminino; propostas
afirmativas, com ações compensatórias focadas nas diferenças desiguais devem ser efetivadas
para o alcance da igualdade de gênero.
PALAVRAS-CHAVE
: Sociedade de classe. Patriarcado. Interseccionalidade.
Distanciamento social.
RESUMEN
:
Los escritos se refieren a una investigación de pasantía posdoctoral del
Programa de Posgrado en Educación de la Universidad Federal de Ceará, Área de
Concentración Educación Brasileña. El objetivo fue comprender las implicaciones sociales y
pedagógicas del aislamiento social en la vida de las profesoras de la Escuela Secundaria
Integrada del Campus Canindé del Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará (IFCE) en el contexto de la pandemia de coronavirus. La sumisión de la mujer por
naturalización biológica y social, proviene de la imposición cultural durante generaciones.
Este problema se agravó aún más durante el periodo de aislamiento social. Cada vez más
dentro del hogar, las mujeres estaban sobrecargadas de actividades. Los marcadores
1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Baturité – CE – Brasil. Professora.
Departamento de Ensino. Pós-doutora em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4054-7257. E-mail:
cleide.silva@ifce.edu.br
2
Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza – CE – Brasil. Professora. Departamento de Ensino. Pós-
doutorado em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8233-1190. E-ma
il:
profa.patriciaholanda@gmail.com
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Maria Cleide da Silva Ribeiro LEITE e Patrícia Helena Carvalho HOLANDA
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teóricos y metodológicos indican que las mujeres necesitan conocer el sistema social y
cultural que las sumerge. Instar a la movilización de las mujeres con potencial político de
articulación para la deconstrucción de las conexiones sociales y culturales opresivas y
desmitificación del encarcelamiento femenino; las propuestas afirmativas, con acciones
compensatorias centradas en las diferencias desiguales deben ser eficaces para el logro de la
igualdad de género.
PALABRAS CLAVE
:
Sociedad de clases. El patriarcado. Interseccionalidad. El
distanciamiento social.
ABSTRACT
:
The textual writings refer to a post-doctoral internship research of the Post-
graduate Program in Education of the Federal University of Ceará, Area of Concentration
Brazilian Education. It aimed to understand the social and pedagogical implications of social
isolation in the lives of female teachers of the Integrated High School of the Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) Canindé Campus in the context of the
coronavirus pandemic. The submission of women by biological and social naturalization,
comes from cultural imposition for generations. This problem became even worse during the
period of social isolation. Increasingly inside the home, women were overloaded with
activities. Theoretical and methodological markers, assert that women need to know the
social and cultural system that makes them submerged. Urge the mobilization of women with
political potential of articulation for the deconstruction of oppressive, demystification social
and cultural connections of female imprisonment; affirmative proposals, with compensatory
actions focused on unequal differences must be effective for the achievement of gender
equality.
KEYWORDS
:
Class society. Patriarchy. Intersectionality. Social estrangement.
Introdução
Este trabalho resultou de estágio pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Ceará, Área de Concentração, Educação Brasileira,
Linha de Pesquisa História e Educação Comparada.
Investigamos o grupo mulheres professoras em atuação no Ensino Médio Integrado do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)
campus
Canindé
durante isolamento social por ocasião do ensino remoto no cenário da pandemia do
coronavírus nos anos 2020-2021.
O IFCE é u
ma instituição pluricurricular e multi
campi
, especializada em educação
profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino, ofertando matrículas do
Ensino Médio ao doutorado. O
campus
Canindé está geograficamente localizado na
microrregião de Canindé, pertencente à Mesorregião Norte do estado do Ceará.
Especificamente, em relação às licenciaturas, esse
campus
disponibiliza quatro cursos:
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3
Matemática, Pedagogia, Educação Física e Música. Com atuação nas modalidades presencial
e à distância, disponibiliza também cursos de bacharelados e Pós-Graduação
Lato Sensu
, em
articulação com o trabalho de pesquisa e extensão, sem perder de vista a concomitância com
os cursos de níveis Técnico e Tecnológico.
O estudo elegeu o curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Eletrônica, em razão
de sua matriz curricular ser de natureza integrada, em tempos de ensino remoto, como
também, pela escassez feminina em atuação. O referido curso visa qualificar os estudantes
para atuarem como profissionais no desenvolvimento de projetos eletrônicos nas subáreas de
micro controladores e microprocessadores, bem como na execução e supervisão de instalação
e manutenção de equipamentos, nos sistemas eletrônicos inclusive de transmissão e de
recepção de sinais (PPC, 2020).
O perfil do egresso inclui a qualificação para realização de medições, testes e
calibrações de equipamentos eletrônicos e execução de procedimentos de controle de
qualidade e gestão (PPC, 2020). Assim, o objetivo central da formação está em formar
profissionais habilitados para atuar no setor industrial e de serviço na área de eletrônica.
A análise do PPC (2020), a partir do quadro de lotação, evidenciou majoritariamente a
presença masculina. A discrepância entre o número de docentes homens e mulheres será
evidenciada neste texto pelo viés da inadmissibilidade feminina em alguns postos de trabalho
e, especificamente neste caso, como um agravante naturalizado da própria área. O número de
professores sobrepõe-se ao número de professoras, algo comumente validado socialmente sob
o mito da ciência dura, área das ciências exatas, algo que não convém às mulheres.
Objetivamos com o estudo compreender implicações sociais e pedagógicas do
isolamento social na vida de mulheres professoras do Ensino Médio Integrado do IFCE
Campus
Canindé no contexto da pandemia Covid-19. Para tanto, optamos por tomar decisões
com base em escolhas técnicas, a fim de assegurar a autenticidade e o rigor científico das
respostas, sem abrir mão da ética metodológica. Decidimos pela abordagem qualitativa
alinhada ao método do estudo de caso, com as técnicas do questionário semiestruturado
aplicado
online
pelo formulário
Google Forms
, além da análise documental, com a inserção
do PPC do curso.
O eixo central do referencial te
órico está na abordagem feminina, como ponto de
partida para análise dos fundamentos ancorados nas teorias norte-americanas e afro-
brasileiras, com o intuito de contrapor a crítica acerca da opressão interseccional pela tríade
gênero, raça, classe social sob a dominação do patriarcado (AKOTIRENE, 2020).
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Maria Cleide da Silva Ribeiro LEITE e Patrícia Helena Carvalho HOLANDA
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4
Na primeira seção estabelecemos o diálogo sobre a vida da mulher na pandemia, o
desafio do trabalho remoto e os cuidados com a família. Na sequência, trazemos a seção do
percurso metodológico e, em seguida, a seção dos resultados contendo a experiência do
campus Canindé. Nesta parte do texto analisamos as mudanças ocorridas na vida familiar e
profissional da mulher professora enquanto profissional e mãe responsável pelo bem-estar da
família. Situada na classe trabalhadora, as professoras dispuseram a própria residência para o
ensino remoto e adaptaram cômodos, investiram em internet, adquiriram equipamentos e
aparelhos eletroeletrônicos. Por fim, nas considerações finais, destacamos a perspectiva de
retomar outros pontos em estudos posteriores, a exemplo das contradições entre os homens e
as mulheres na sociedade de classe, como também, a necessidade de um estudo sobre a
posição social da mulher professora, com padrão de vida superior à dona de casa comum,
pobre, desempregada, diarista, assalariada e negra. As contradições existentes dentro da classe
feminina percebidas por ocasião de leituras atuais, por si, justificam a retomada deste assunto,
urgente e oportuno.
Trabalho em casa, atividades remotas e a vida de mulheres professoras na pandemia do
coronavírus
A pandemia do Coronavírus, desencadeada em março de 2020, impôs a paralisação
das aulas presenciais devido a determinação de isolamento social. E com ele, a interrupção da
rede mútua de ajuda que existia entre as mulheres: mãe e filha, avó e tias, primas e irmãs,
umas se apoiavam nas outras de forma alternada em auxílio nas tarefas cotidianas. O
distanciamento social não só interrompeu essa rede de apoio, como também promoveu
acúmulo de atividades em meio à nova rotina.
A suspensão das aul
as presenciais impactou diretamente a vida de todos, sobretudo,
para as pessoas mais vulneráveis, entre estas, as mulheres. A intensidade do trabalho se
agravou e os afazeres domésticos triplicaram em razão dos cuidados, da orientação e
acompanhamento aos filhos no ensino remoto, dos cuidados de higienização das crianças, da
preparação dos alimentos, da lavagem de roupas, além do trabalho externo para o sustento
familiar.
As circunstâncias da pa
ndemia colocaram as mulheres cada vez mais dentro de casa e
as consequências foram imediatas: precarização das condições de moradia, da falta de acesso
à rede mundial de computadores, enfrentamento à insegurança alimentar, desemprego, fome,
violência, dentre outros problemas.
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Levantamento do Jornal Datafolha, entre 10 e 14 de maio de 2021, apontou
crescimento exponencial da violência contra as mulheres dentro do próprio lar. Segundo a
reportagem, 73,5% da população acredita que a violência aumentou consideravelmente e
51,5% relataram ter presenciado alguma situação de violência. Tais indicadores apontaram o
público feminino como o mais atingido e definiram um perfil social deste público: domésticas
negras, separadas e desempregadas (PAULO, 2021).
A crise no contexto brasileiro avançou rapidamente, alcançando em 2021 catorze
milhões de desempregados; deste quantitativo, 06 milhões pararam de procurar emprego por
não vislumbrar oportunidade. Além dos desempregados, quarenta milhões de trabalhadores
vivendo sob forma uberizada
3
com jornada diária de até catorze horas de trabalho
ininterrupto, sem descanso semanal, férias remuneradas, licença saúde e seguro-desemprego
(SILVA, 2021)
4
. Na interface da precarização social, famílias confinadas, o vírus sem
controle, crianças sem escolas, educação esvaziada, distanciando-se cada vez mais da classe
que mais precisa (SAVIANI; GALVÃO, 2021).
Exploradas, subjugadas ou camufladas, as mulheres desempenharam um importante
papel no confinamento, afinal, elas sempre estiveram na história. Por isso, a relevância em
problematizar e discutir as desigualdades que as atingem (CRENSHAW, 2002). Durante
muito tempo, as mulheres foram mantidas invisíveis na sociedade, sem o acesso à cultura, a
ciência e a tudo que convém ao homem. Desta forma, mantiveram-se silenciadas por longos
períodos, sob rótulos de histeria, “incapacitadas” ou endemoniadas. Sem liberdade de falar em
público, fazer negócios, trabalhar, enfim, sem o direito de fazer qualquer tipo de concessão,
visto que não dominavam o próprio corpo, a alma e nem os pensamentos. Aprisionadas em
mitos, costumes e tradições não lhes era permitida decisão alguma (DELPHY, 2015).
As mulheres coisificadas pela ideia de naturalização biológica permaneceram
imobilizadas na sociedade, silenciadas e aprisionadas culturalmente. Somente os homens
apareciam socialmente. Desse lugar privilegiado, instituíam da classe masculina, o
pensamento universal de apropriação matrimonial aplicável às mulheres como um antídoto
predatório (DELPHY, 2015).
Segundo Holanda e Cavalcante (2013, p. 06) ainda hoje, “a maternidade é vista como
o representante maior da feminilidade”, uma vez que a natureza da mulher devesse ser
cultivada como algo delicado e frágil. Esta rotulação tem como finalidade recobrir as
3
Alternativa de trabalho à falta de empregos formais. Os trabalhadores informalmente, usam seus bens e
oferecem serviços a patrões invisíveis por meio de aplicativos, de modo precarizado, na informalidade.
4
Dados extraídos do pronunciamento do Ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no 01 de maio de 2021, em
homenagem ao dia do (a) trabalhador (a), na Central Única dos Trabalhadores, Estado de São Paulo.
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Maria Cleide da Silva Ribeiro LEITE e Patrícia Helena Carvalho HOLANDA
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mulheres de atributos passivos, considerados adequados ao desempenho da função de esposa
e mãe.
É preciso refletir que ainda hoje, nas sociedades ocidentais, em grande medida,
perdura essa compreensão da mulher como reprodutora e submissa ao homem mesmo quando
a figura feminina é a provedora do lar (HOLANDA; CAVALCANTE, 2013). Em ritmo lento,
este aprisionamento foi sendo redimensionado com a desconstrução das verdades absolutas
aceitas socialmente e validadas culturalmente (HELLER, 2016).
No século XIX, as mulheres iniciaram as primeiras conquistas, embora tímidas,
começaram a se fazer presentes nos discursos e nas imagens. A partir do século XX fizeram
história com suas presenças nas universidades, mudando o clima intelectual, com o domínio
da escrita, alterou também o rumo da história (PERROT, 2007).
O desafio no século XXI é fazer com que as conquistas das mulheres ganhem as ruas,
de modo escrito ou falado, em palavras ou em gestos, o debate precisa ganhar movimento
emancipatório. Os tempos mudaram e esta perspectiva de mudança emancipada precisa mudar
a história, a começar pela situação econômica das mulheres com mais postos de trabalho e
valorização financeira (PERROT, 2007).
O longo ciclo vicioso,
da desigualdade salarial entre homens e mulheres, adveio com a
desumanização da classe trabalhadora, especialmente sobre os mais pobres e a população
negra, que continua relegada a atividades degradantes. O capital concentrou renda e acumulou
riquezas, proletarizou a classe operária, deixando-a sem direitos e mais vulnerável. O triunfo
de acúmulo do capital imprimiu nos grandes centros urbanos a violência, a exclusão, a fome e
a miséria absoluta. Os precursores do colonialismo, alinhados ao patriarcado, articularam-se
no capitalismo, reforçando a alienação pela via da brutalização (DAVIS, 2016).
Em meio à crise humanitária da pan
demia, o mercado tornou-se cada vez mais
insidioso, remodelou o trabalho com a logística do
Home Office
. O distanciamento físico
alocou a indústria digital e o trabalho remoto como o novo modelo produtivo (MARTINS,
2020).
Por conseguinte, a educação não ficou imune ao trabalho remoto. O avanço da
pande
mia paralisou universidades, escolas, postos de trabalho, turismo, dentre outras
atividades classificadas como não essenciais, o que alargou mais espaço ao
Home Office
. No
centro da crise sanitária a educação situou-se com o ensino remoto, propalado
emergencialmente para todos, sem que todos tivessem acesso aos bens e serviços digitais.
Assim, estandardizou-se a cruel pedagogia do vírus de maneira incomum no meio
digital, tecnológico e educacional (SANTOS, 2020). As regras do confinamento que
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determinou o ensino remoto emergencial não asseguraram condições de formação, o que
agravou ainda mais a estrutura desigual.
Neste contexto excludente, a educação se manteve subdesenvolvida, limitada,
fragmentada, milhões de crianças não conseguiram se alfabetizar, cinquenta por cento dos
jovens não fizeram a prova do Exame nacional do Ensino Médio em 2021. O avanço da
pandemia não suavizou o déficit escolar, como pelo contrário, trouxe mais pobreza extrema,
violência, fome e miséria. A erosão democrática fragilizou o tecido social, acirrou a
polarização ideológica com evidentes riscos à democracia brasileira, silenciando as
universidades para o fortalecimento da inoperância de políticas populistas (LEMES;
SANTOS CRUZ, 2020).
Em
relação ao Ensino Médio, pesquisa da Confederação Nacional dos Trabalhadores
em Educação (CNTE, 2020), constatou que 53,6% da classe docente foi qualificada para
ministrar aulas remotas e metade destes professores compartilham recursos tecnológicos com
outras pessoas em seu espaço domiciliar. Outro dado relevante acerca dos professores é o fato
de que 9 a cada 10 professores utilizou o telefone celular na realização de aulas remotas. O
acesso à internet banda larga não alcançou a todos professores, mais de 24% precisaram
utilizar pacote de dados móveis para ministrar aulas no contexto do ensino remoto.
Os dados evidenciaram ainda que 43,5% de docentes do Ensino Médio realizavam
aulas remotas síncronas e 9 a cada 10 docentes elaboravam as atividades para enviar aos
estudantes. Na concepção docente: “houve um aumento das horas de trabalho gastas na
preparação das aulas não presenciais em todas as etapas da Educação Básica” (CNTE, 2020,
p. 15).
Assim o ensino remoto impactou diretamente no desempenho estudantil.
Especificamente, em relação ao Ensino Médio, 45,8% dos discentes “[...] diminuíram
drasticamente a participação nas atividades propostas” (CNTE, 2020, p. 18). Na compreensão
dos professores, 1 em cada 4 estudantes não disporia dos recursos para ter acesso ao ensino
remoto, afetando diretamente a realização das atividades.
Tomando esta visão geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação,
buscamos entender as especificidades do Ensino Médio Integrado do
campus
Canindé a partir
da atuação profissional de professoras que se voluntariaram a colaborar com a pesquisa,
partilhando a subjetividade feminina, a partir do que viveram desde março de 2020, quando as
aulas presenciais foram interrompidas.
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Maria Cleide da Silva Ribeiro LEITE e Patrícia Helena Carvalho HOLANDA
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Fundamentos teórico-metodológicos
Metodologicamente, articulamos a dimensão qualitativa com o método estudo de caso,
o qual envolveu uma situação reconhecida como um problema real da vida cotidiana.
Tratamos, portanto, de um problema a partir de experiências humanas e suas relações sociais,
por diferentes variáveis, desde o lugar de fala às condições de trabalho das respondentes.
Flick (2009) destaca que a pesquisa qualitativa tem como primazia estudar relações
complexas. Trata-se de uma abordagem que busca dar conta da subjetividade cotidiana, como
um ato social de construção do conhecimento ao invés de somente explicá-la por meio do
isolamento de variáveis.
A pesquisa qualitativa preocupa-se “[...] com um nível de realidade que não pode ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos [...]” (MINAYO, 1994, p. 21-22).
Alinhado à abordagem qualitativa, selecionamos o método estudo de caso para que
este propiciasse a exploração do fenômeno, conduzindo-a a exaustão, permitindo a clareza e a
sequência coerente das decisões no processo de coleta, organização e tratamento das
informações, para posteriormente fazer a interpretação dos dados do caso do IFCE,
campus
Canindé (ZANELLI, 2002).
Com o propósito de coletar as informações, recorremos às estratégias metodológicas
da análise documental e do questionário
online
. Com base em Gil (2007), a pesquisa
documental utiliza-se de materiais que ainda não receberam tratamento analítico,
diferenciando-se, portanto, da pesquisa bibliográfica, que se utiliza das contribuições de
variados autores sobre um assunto específico.
Nesse sentido, fontes documentais podem e devem ser incluídas no decorrer de uma
investigação, tais como: relatórios, documentos oficiais, filmes, dossiê, vídeos, gravações,
dentre outros registros. No caso em comento, debruçamo-nos sobre o PPC do referido Curso a
fim de acrescentar dados para além do questionário.
O questionário, na compreensão de Gil (
2007), trata-se de uma técnica investigativa
composta de questões abertas ou fechadas, estruturadas ou semiestruturadas utilizadas
online
ou presencialmente, conforme as condições de realização e os objetivos da pesquisa. Diante
do distanciamento social recomendado pelos órgãos de saúde, aplicamos as questões de forma
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virtual atentas aos aspectos éticos. Neste sentido, ressaltamos que a investigação em tela
passou pelo Comitê de Ética na Pesquisa
5
.
Concluída a coleta do processo investigativo, as informações foram organizadas e
categorizadas. Após tratamento adequado, foram refletidas à luz da Análise do Discurso
Crítico (ADC), de Fairclough (2010). Deste modo, a análise manteve-se conduzida à
exaustão, a fim de alcançar densidade ao fenômeno estudado conforme evidenciaremos a
seguir no formato de recorte.
O curso analisado agregava 23 docentes nas disciplinas do núcleo comum e na área
técnica profissional; deste quantitativo, apenas cinco eram mulheres, sendo estas, as
respondentes identificadas com a letra “P” acrescida dos números ordinais na ordem
crescente: (P-1); (P-2); (P-3); (P-4) e (P-5). O recorte sintetiza alguns dos trechos contidos no
relatório que sinalizam respostas às implicações sociais e pedagógicas pela ótica das
respondentes.
Resultados e discussões: a realidade do Ensino Médio Integrado em Eletrônica do IFCE
campus
Canindé/CE
A história humana foi alicerçada com o esforço de muitas mulheres e reconhecer os
esforços destas pioneiras nos ajuda a entender os mecanismos opressores do patriarcado
fortemente atracado à divisão sexual, à classe social e à raça humana (DAVIS, 2016).
Os marcadores sociais entre menino e menina são bem definidos desde a composição
dos enxovais, incluindo preparativos e cores para reforçar a engenhosidade patriarcal. Os
meninos são encorajados a não chorar, a não ser frágeis, pois são eles os responsáveis pela
perpetuação da espécie, enquanto as meninas devem ser reservadas ao matrimônio e
destinadas à procriação.
Com base nas respostas das participantes, estes marcadores sociais e culturais
reluziram na pandemia. As mulheres foram visivelmente impactadas com mudanças imediatas
em suas vidas cotidianas. Em relação às mulheres professoras, suas práticas docentes também
foram alteradas desde a inserção de recursos digitais e tecnológicos à adaptação de espaços
físicos, trazendo, inclusive adoecimento e sofrimento para docentes que não conseguiram se
adaptar rapidamente às atividades remotas.
Na compreensão de P-1, no ensino remoto, “há dias ruins e dias menos ruins”. Ao
fazer o desabafo, expôs sua condição de trabalho nos últimos meses, pontuou a existência de
5
Conforme parecer n. 4.769.199 da Plataforma Brasil.
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Maria Cleide da Silva Ribeiro LEITE e Patrícia Helena Carvalho HOLANDA
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um conjunto de problemas, desde o acesso, instabilidade da internet, adoecimento
psicológico, ansiedade e preocupação com a família, com o déficit escolar, com os alunos,
além do temor pela própria vida: “são problemas de natureza complexa, por isso, não dá para
ter dia bom”.
No raciocínio de Santiago (2021), o contexto caótico do isolamento social afastou as
pessoas umas das outras. Familiares e amigos foram impedidos da convivência social,
privados de ambientes de lazer, permaneceram sem a presença física de pessoas queridas e
isto impactou profundamente na qualidade de vida, trazendo mais cansaço profissional.
Dentre as implicações pedagógicas destacaram a falta de formação voltada ao contexto
remoto, as desigualdades sociais, as más condições de moradia, a falta de acesso à internet,
interferência de barulho interno e externo; tudo isto interferiu diretamente nas práticas
pedagógicas. Assinalaram ainda o sentimento de que a potencialidade docente encontrada nas
atividades presenciais parecia ter se modificado em desafios constantes para muitos docentes
(FIRMINO
et al
., 2021). Em relação a vida social das mulheres, respondeu a P-2:
A pandemia tem impactado de inúmeras formas a vida das mulheres na
pandemia. Dentre muitos fatores, podemos considerar a sobrecarga de
trabalho devido as demandas domésticas e profissionais que agora se
misturam durante o dia e não têm hora para terminar. As mulheres, na
maioria das famílias, também assumem o papel de cuidar dos familiares que
adoecem e de assumir as responsabilidades domésticas. E as mulheres que
são mães aumentaram exponencialmente sua sobrecarga de trabalho, tendo
que dar conta da educação e cuidados com os filhos, realização de
atividades domésticas e profissionais. A pandemia só evidenciou para a
sociedade a sobrecarga de trabalho das mulheres
(P-2).
O modo de produção doméstica está na centralidade da base familiar para a
sustentação das estruturas patriarcais e do sistema da produção flexível neocapitalista. As
mulheres, na identidade de esposas e dona de casa, assumem o trabalho pesado no interior dos
lares como sustentáculos invisíveis na funcionalidade do mercado (DELPHY, 2015).
Sem remuneração e sem direitos assegurados, a mulher lava, passa, cozinha, faxina a
casa, cuida dos filhos, garante o bem-estar familiar, enquanto o homem dedica todo o seu
tempo ao setor do trabalho assalariado. Neste sentido, a classe feminina constitui-se
apropriada ao matrimônio e adequada ao sistema produtivo sob a identidade de dona de casa.
A serviço
do capital, as mulheres se mantêm distantes da formação, dos postos de
trabalho e consequentemente, da militância política. Carneiro (2011) chama a atenção para
duas matrizes poderosas na construção do potencial que mantém as mulheres distantes da
arena política. São as matrizes da miscigenação e da democracia racial. Ambas são
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responsáveis pela eficácia na ocultação das desigualdades sociais e culturais. A
funcionalidade destas duas matrizes alinhada ao patriarcado, assegura a repetição do passado
no presente através do aparelhamento racial. Por isso, o desafio feminista não é simplista, uma
vez que a raça e classe se constituem elementos de retroalimentação ao sistema patriarcal na
estruturação das desigualdades.
Na percepção de Tabet (2004), as mulheres são intercambiadas pela ignorância como
um dos principais pilares da sua opressão. Muitas delas não têm consciência do nível de
exploração a que são conduzidas. Este desconhecimento entre as próprias mulheres é algo tão
natural, aceito por todos, que as mulheres também compactuam com a naturalização
ingenuamente (GUILLAUMIN, 2003). A responsabilização das mulheres no lar foi
unanimidade entre as respondentes.
De início ficou bem mais complicado. A gente já trabalhava muito, mas
t
inha o hábito de fazer outras coisas para diferenciar o final de semana. Na
pandemia a gente não consegue se deligar e permanece no computador. A
implicação principal foi a falta da rede de colaboração. Diminuiu muito o
apoio de amigos e familiares. O descanso por parte dos pais, a falta de
interação por partes das crianças vividas na escola. Isso afetou muito a
todos, incluindo as crianças e a vida social. A responsabilidade da mulher
sobre todos da casa. Tudo isso é bem complicado
(P-5).
As mulheres precisam ter condições para lutar e se reconhecer como parte da luta. O
engajamento feminino não pode ser reduzido a esclarecimentos que perpassem a
conscientização das mulheres. Faz-se necessário, portanto, uma forma de práxis alicerçada em
práticas afirmativas que alimentem o discurso para a mudança social (FAIRCLOUGH, 2010).
Originária do Estruturalismo e da Psicanálise, a Análise do Discurso Crítica (ADC), de
Fairclough (2010), orienta para a desconstrução da mística e do problema da modelagem
estrutural que domina as pessoas. Como área transdisciplinar, os pressupostos da ADC,
desnudam ideologias cristalizadas nos discursos arraigados. Deste modo, a ADC atribui
respeito à ética, à justiça e à coerência no processo de análise com foco no problema social,
posto que seus objetivos estão sempre voltados à dimensão política, social e cultural.
A ADC aborda a dialética relacional como elemento dissociado da linguagem
representativa que inferioriza práticas conservadoras. O reconhecimento relacional das
diferenças das relações cotidianas precisa se relacionar com novas práticas sociais justas e
coesas capazes de sustentar o constructo social humanizado no contexto (FAIRCLOUGH,
2010). Desta forma, a sociedade não reproduz a realidade desigual porque redimensiona as
práticas conservadoras para a mudança social através de fatos reais expressos nos eventos
sociais, isto é, por meio de ações para além do discurso.
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Com base em Fairclough (2010), a caracterização social do discurso é imanente ao
próprio contexto social, parte deste e volta-se à realidade social. A ineficiência da articulação
humanizadora fortalece a mística e aprofunda o problema social através da modelagem da
dominação que reproduz a opressão.
A respondente P-
4 percebe que não é fácil libertar as mulheres, sobretudo, as que estão
em situação vulnerável. São exatamente estas mulheres as que mais precisam de proteção e
não escapam do assédio, da violência, da fome e da exclusão de qualquer natureza.
Reconhecido este estado situacional, a estratégia é refletir sobre o que poderá ser feito e como
será possível avançar coletivamente no debate sobre políticas e ações voltadas à classe das
mulheres. As respondentes afirmaram que não faz sentido dentro da própria classe feminina
umas mulheres não se importarem com outras, por isso, a desigualdade da própria classe é
intolerável.
A responsabilidade doméstica no ambiente familiar se manifesta de maneira
indiscutível, o que evidencia o propósito da reflexão ideológica acerca da diferença do sexo
no sentido de deslocar o poder social conferido aos homens pela divisão sexual e do trabalho.
Não se trata de colocar homens e mulheres em sobreposição, mas estudá-los de maneira
relacional e dialética sem contrapor as mulheres como seres únicos, e sim dentro de um
conjunto sociopolítico (FALQUET, 2014).
Os estudos de Guillaumin (2003) asseveram a existência de um arsenal jurídico que
assegura a perpetuação da responsabilidade feminina. A apropriação coletiva se dá pelo
casamento e, de maneira consuetudinária, os afazeres domésticos são garantidos como um
direito masculino ao deter uma mulher aparelhada à lógica da propriedade privada.
Com esta lógica cultural, o homem toma a posse pelo direito, determina as condições
de confinamento, o uso ou não da violência física ou psíquica, a coação sexual com ou sem o
consentimento. Assim, o matrimônio oscila entre flores e silêncio, amparado no direito
contratual contrastado na desigualdade naturalizada como se nada pudesse ser feito. Na
apropriação concreta e material do casamento têm-se as flores, o culto, a religião e, se nada
disso for suficiente, a lei garante a apropriação do corpo e o culto religioso a alma
(GUILLAUMIN, 2003).
É importante compreender a dinâmica de violência imbricada no gênero como algo
a
mplo, construído socialmente (AKOTIRENE, 2019). Precisamos entender os diferentes tipos
de ameaça que alcançam as mulheres nos postos de trabalhos, nas ruas e na sociedade a fim
de criarmos estratégias educacionais, a exemplo do modelo formativo, política sábia que
poderá se constituir uma alternativa viável (MAHDI; PIRANI, 2021).
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(Des) politização: Mulher, mãe e professora no ensino remoto em tempos de crise
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São situações que apresentam níveis de classificação e deixam marcas profundas,
fazendo-se necessário fortalecer a rede de acolhimento, de proteção e de qualificação para que
estas mulheres ocupem mais espaço no debate e se reconheçam como parte da luta na unidade
feminina.
C
onsiderações finais
A pandemia do Coronavírus avançou rapidamente, impactando mundialmente a saúde,
a educação, a economia e o modo de vida das pessoas. A situação epidemiológica deflagrou a
crise humanitária, trazendo consequências diretas à vida humana. Ao serem paralisados
serviços essenciais e não essenciais alteraram-se profundamente as relações de trabalho,
sendo inserida a lógica do
Home Office
,
a exemplo da telemedicina e do próprio ensino
remoto emergencial.
As mudanças alteraram a rotina das pessoas e as consequências foram imediatas,
sobretudo, para os indivíduos mais vulneráveis, incluindo crianças, mulheres e idosos. Muitas
mulheres tiveram a condição de ficar reclusas, enquanto outras enfrentaram trabalho árduo,
violência, exclusão, fome, abandono, adoecimento físico e psicológico.
Reclusas socialmente, as professoras participantes, embora com uma renda
assegurada, também responderam que vivenciaram desafios. Tiveram que adaptar espaços
físicos, reforçar pacotes de internet, aprender a utilizar estratégias digitais, orientar os filhos,
fazer a própria alimentação, além das tarefas pedagógicas.
A pesquisa aferiu que as mulheres foram fortemente atingidas, pois viram sua rede de
apoio ser reduzida, além de desafios, como: desemprego, violência doméstica, abandono
social, sem alento e sustento para a própria família, arruinando diretamente a luta feminista.
Concluímos que as mulheres continuam separadas uma das outras pelas diferenças.
Diversos aspectos interferem em suas vidas e caracterizam as experiências por marcadores
sociais. As implicações ideológicas e o desconhecimento pela falta de acesso à cultura
favorecem a dominação masculina. Assim, uma vez que boa parte das mulheres desconhece
seus direitos, facilmente renuncia ao que já lhe é assegurado.
A u
nidade doméstica se constitui um dos lugares em que a opressão masculina se
manifesta de maneira indiscutível, impedindo o desenvolvimento da consciência das
oprimidas. A ênfase desta pesquisa lançou luzes sobre as experiências de mulheres
professoras que disponibilizaram suas vivências e que também admitiram a desigualdade
entre as próprias mulheres a partir de marcadores sociais.
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Dentre seus respectivos lugares de fala, as respondentes reconheceram que, embora
diante dos desafios do ensino remoto, dispõem de uma vida tranquila em relação ao bem-estar
social da família, conscientes de que alimentação, moradia segura e segurança familiar não
são aplicáveis à totalidade feminina.
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Maria Cleide da Silva Ribeiro LEITE e Patrícia Helena Carvalho HOLANDA
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C
omo referenciar este artigo
LEITE, M. C. S. R.; HOLANDA, P. H. C. (Des) politização: Mulher, mãe e professora no
ensino remoto em tempos de crise.
Revista on line de Política e Gestão Educacional
,
Araraquara, v. 26, n. esp. 4, e022102, 2022. e-ISSN:1519-9029. DOI:
https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.4.17116
Submetido em
: 23/03/2022
Revisões requeridas em
: 10/05/2022
Aprovado em
: 07/07/2022
Publicado em
: 01/09/2022
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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(DE) POLITICIZATION: WOMAN, MOTHER AND TEACHER IN REMOTE
EDUCATION IN TIMES OF CRISIS
(DES) POLITIZAÇÃO:
MULHER, MÃE E PROFESSORA NO ENSINO REMOTO EM
TEMPOS DE CRISE
(DES) POLITIZACIÓN: MUJER, MADRE Y MAESTRA EN LA EDUCACIÓN A
DISTANCIA EN TIEMPOS DE CRISIS
Maria Cleide da Silva Ribeiro LEITE
1
Patrícia Helena Carvalho HOLANDA
2
ABSTRACT
: The textual writings refer to a post-doctoral internship research of the Post-
graduate Program in Education of the Federal University of Ceará, Area of Concentration
Brazilian Education. It aimed to understand the social and pedagogical implications of social
isolation in the lives of female teachers of the Integrated High School of the Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) Canindé Campus in the context of the
coronavirus pandemic. The submission of women by biological and social naturalization,
comes from cultural imposition for generations. This problem became even worse during the
period of social isolation. Increasingly inside the home, women were overloaded with activities.
Theoretical and methodological markers, assert that women need to know the social and cultural
system that makes them submerged. Urge the mobilization of women with political potential of
articulation for the deconstruction of oppressive, demystification social and cultural
connections of female imprisonment; affirmative proposals, with compensatory actions focused
on unequal differences must be effective for the achievement of gender equality.
KEYWORDS
: Class society. Patriarchy. Intersectionality. Social estrangement.
RESUMO
: Os escritos textuais fazem referência a uma pesquisa de estágio pós-doutoral do
Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará, Área de
Concentração Educação Brasileira. Objetivou-se compreender implicações sociais e
pedagógicas do isolamento social na vida de mulheres professoras do Ensino Médio Integrado
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) Campus Canindé no
contexto da pandemia do coronavírus. A submissão das mulheres pela naturalização biológica
e social advém da imposição cultural por gerações. Esta problemática agravou-se ainda mais
no período de isolamento social. Cada vez mais dentro de casa, as mulheres foram
sobrecarregadas de atividades. Marcadores teórico-metodológicos aferiram que as mulheres
precisam conhecer o sistema social e cultural que as fazem submergir. Urge a mobilização de
mulheres com potencial político de articulação para a desconstrução opressora e
desmistificação das conexões sociais e culturais do aprisionamento feminino; propostas
1
Federal Institute of Education, Science and Technology of Ceará (IFCE), Baturité – CE – Brazil. Professor.
Department of Teaching. Post-Doctor in Education. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4054-7257. E-mail:
cleide.silva@ifce.edu.br
2
Federal University of Ceará (UFC), Fortaleza – CE – Brazil. Professor. Department of Teaching. Post-Doctor
Student in Education. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8233-1190. E-mail: profa.patriciaholanda@gmail.com
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Maria Cleide da Silva Ribeiro LEITE and Patrícia Helena Carvalho HOLANDA
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afirmativas, com ações compensatórias focadas nas diferenças desiguais devem ser efetivadas
para o alcance da igualdade de gênero.
PALAVRAS-CHAVE
: Sociedade de classe. Patriarcado. Interseccionalidade. Distanciamento
social.
RESUMEN
:
Los escritos se refieren a una investigación de pasantía posdoctoral del
Programa de Posgrado en Educación de la Universidad Federal de Ceará, Área de
Concentración Educación Brasileña. El objetivo fue comprender las implicaciones sociales y
pedagógicas del aislamiento social en la vida de las profesoras de la Escuela Secundaria
Integrada del Campus Canindé del Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará (IFCE) en el contexto de la pandemia de coronavirus. La sumisión de la mujer por
naturalización biológica y social, proviene de la imposición cultural durante generaciones.
Este problema se agravó aún más durante el periodo de aislamiento social. Cada vez más
dentro del hogar, las mujeres estaban sobrecargadas de actividades. Los marcadores teóricos
y metodológicos indican que las mujeres necesitan conocer el sistema social y cultural que las
sumerge. Instar a la movilización de las mujeres con potencial político de articulación para la
deconstrucción de las conexiones sociales y culturales opresivas y desmitificación del
encarcelamiento femenino; las propuestas afirmativas, con acciones compensatorias centradas
en las diferencias desiguales deben ser eficaces para el logro de la igualdad de género.
PALABRAS CLAVE
:
Sociedad de clases. El patriarcado. Interseccionalidad. El
distanciamiento social.
Introduction
This work resulted from a postdoctoral internship in the Graduate Program in Education
of the Federal University of Ceará, Concentration Area, Brazilian Education, Line of Research
History and Comparative Education.
We investigated the group women teachers working in the Integrated High School of
the Federal Institute of Education, Science and Technology of Ceará (IFCE) Canindé campus
during social isolation on the occasion of remote education in the scenario of the coronavirus
pandemic in the years 2020-2021.
IFCE is a pluri-curriculum and multicampi institution, focused on professional and
technological education in different teaching modalities, offering enrollments from high school
to PhD. The Canindé campus is geographically located in the Canindé microregion, belonging
to the Northern Mesoregion of the state of Ceará. Specifically, in relation to bachelor's degrees,
this campus
offers four courses: Mathematics, Pedagogy, Physical Education and Music.
Acting in the face-to-face and distance modalities, it also offers bachelor's and graduate
courses
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(De) politicization: Woman, mother and teacher in remote education in times of crisis
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lato sensu
, in conjunction with the work of research and extension, without losing sight of the
concomitance with the courses of Technical and Technological levels.
The study elected the Technician Integrated to High School in Electronics course,
because its curricular matrix is of an integrated nature, in times of remote teaching, as well as
by the female scarcity in action. This course aims to qualify students to act as professionals in
the development of electronic projects in the subareas of micro controllers and microprocessors,
as well as in the execution and supervision of installation and maintenance of equipment, in
electronic systems including transmission and reception of signals (PPC, 2020).
The graduate profile includes the qualification to perform measurements, tests and
calibrations of electronic equipment and execution of quality control and management
procedures (PPC, 2020). Thus, the central objective of the training is to train professionals
qualified to work in the industrial and service sector in the electronics area.
The analysis of the PPC (2020), based on the stocking picture, showed mostly the male
presence. The discrepancy between the number of male and female teachers will be evidenced
in this text by the bias of female inadmissibility in some jobs and, specifically in this case, as a
naturalized aggravating factor in the area itself. The number of teachers overlaps with the
number of teachers, something commonly socially validated under the myth of hard science, an
area of exact sciences, something that is not appropriate for women.
We aimed to understand the social and pedagogical implications of social isolation in
the lives of women teachers of the Integrated High School of IFCE Canindé Campus in the
context of the Covid-19 pandemic. To this end, we chose to make decisions based on technical
choices, in order to ensure the authenticity and scientific exigence of the answers, without
giving up methodological ethics. We decided on the qualitative approach aligned with the case
study method, with the techniques of the semi-structured questionnaire applied online by the
Google Forms form, in addition to the documentary analysis, with the insertion of the PPC of
the course.
The central axis of the theoretical framework lies in the feminine approach, as a starting
point for analyzing the foundations anchored in North American and Afro-Brazilian theories,
in order to counter the criticism about intersectional oppression by the triad gender, race, social
class under the domination of patriarchy (AKOTIRENE, 2020).
In the first section we established the dialogue about women's life in the pandemic, the
challenge of remote work and family care. Secondly, we bring the section of the methodological
route and then the results section containing the experience of the Canindé campus. In this part
of the text, we analyze the changes that occurred in the family and professional life of the female
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Maria Cleide da Silva Ribeiro LEITE and Patrícia Helena Carvalho HOLANDA
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teacher as a professional and mother responsible for the well-being of the family. Located in
the working class, the teachers had their own residence for remote education and adapted rooms,
invested in internet, acquired equipment and electronic appliances. Finally, in the final
considerations, we highlight the perspective of resuming other points in later studies, such as
the contradictions between men and women in class society, as well as the need for a study on
the social position of female teacher, with a standard of living higher than the common
housewife, poor, unemployed, cleaner, and black. The contradictions existing within the female
class perceived at the time of current readings, by themselves, justify the resumption of this
urgent and timely subject.
Work at home, remote activities and the lives of female teachers in the coronavirus
pandemic
The Coronavirus pandemic, started in March 2020, forced the shutdown of face-to-face
classes due to the determination of social isolation. And with it, the interruption of the mutual
network of help that existed among women: mother and daughter, grandmother and aunts,
cousins and sisters, some relied on each other alternately to help in everyday tasks. Social
distancing not only interrupted this support network, but also promoted accumulation of
activities in the midst of the new routine.
The suspension of face-to-face classes directly impacted the lives of all, especially for
the most vulnerable people, including women. The intensity of the work worsened and
household activities tripled due to care, guidance and follow-up to children in remote education,
child hygiene care, food preparation, washing clothes, and external work for family support.
The circumstances of the pandemic have placed women increasingly indoors and the
consequences were immediate: precarious housing conditions, lack of access to the world
computer network, coping with food insecurity, unemployment, hunger, violence, among other
problems.
A survey by The Datafolha Newspaper, between May 10 and 14, 2021, showed an
exponential increase in violence against women within the home itself. According to the report,
73.5% of the population believe that violence has increased considerably and 51.5% reported
having witnessed some situation of violence. These indicators pointed to the female public as
the most affected and defined a social profile of this public: black, separated and unemployed
domestics (PAULO, 2021).
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– Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 26, n. esp. 4, e022102, 2022. e-ISSN:1519-9029
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The crisis in the Brazilian context has advanced rapidly, reaching fourteen million
unemployed in 2021; of this quantity, 6 million stopped looking for work because they did not
envision opportunity. In addition to the unemployed, forty million workers living in precarious
3
form with daily hours of up to fourteen hours of uninterrupted work, without weekly rest, paid
vacations, health insurance and unemployment insurance (SILVA, 2021)
4
. At the interface of
social precariousness, confined families, the virus without control, children without schools,
empty education, increasingly distancing themselves from the class that needs it most
(SAVIANI; GALVÃO, 2021).
Exploited, subdued or camouflaged, women played an important role in confinement,
after all, they have always been in history. Therefore, the relevance in problematizing and
discussing the inequalities that affect them (CRENSHAW, 2002). For a long time, women have
been kept invisible in society, without access to culture, science and everything that suits man.
Thus, they remained silenced for long periods, under labels of hysteria, "disabled" or demonic.
Without freedom to speak in public, to do business, to work, in short, without the right to make
any kind of concession, since they did not dominate their own body, soul and not thoughts.
Trapped in myths, customs and traditions they were not allowed any decision (DELPHY, 2015).
Women objectified by the idea of biological naturalization remained immobilized in
society, silenced and culturally imprisoned. Only men appeared socially. From this privileged
place, universal thought of matrimonial appropriation applicable to women as a predatory
antidote was instituted from the male class (DELPHY, 2015).
According to Holanda and Cavalcante (2013, p. 06, our translation) even today,
"motherhood is seen as the greatest representative of femininity", since the nature of women
should be cultivated as something delicate and fragile. This labeling aims to cover women with
passive attributes, considered appropriate to the performance of the function of wife and
mother.
It is necessary to reflect that even today, in Western societies, to a large extent, this
understanding of women as reproductive and submissive to men persists even when the female
figure is the provider of the home (HOLANDA; CAVALCANTE, 2013). At a slow pace, this
imprisonment was being resized with the deconstruction of the absolute truths socially accepted
and culturally validated (HELLER, 2016).
3
Working alternative to the lack of formal jobs. Workers informally use their goods and offer services to invisible
employers through applications, so precarious, in the informality.
4
Data extracted from the pronouncement of former President Luiz Inácio Lula da Silva, on May 1, 2021, in honor
of the day of the worker, at the Central Única dos Trabalhadores, State of São Paulo.
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In the 19th century, women began their first conquests, although timid, and began to be
present in speeches and images. From the 20th century onto history with their presence in
universities, changing the intellectual climate, with the mastery of writing, also changed the
course of history (PERROT, 2007).
The challenge in the 21st century is to make women's achievements win the streets, in
a written or spoken way, in words or gestures, the debate needs to gain emancipatory movement.
Times have changed and this perspective of emancipated change needs to change history,
starting with the economic situation of women with more jobs and financial appreciation
(PERROT, 2007).
The long vicious cycle of wage inequality between men and women came with the
dehumanization of the working class, especially on the poorest and the black population, which
continues to be kept in degrading activities. Capital concentrated income and accumulated
wealth, stablished a working class, leaving them without rights and more vulnerable. The
triumph of capital accumulation contributed to violence, exclusion, hunger and absolute misery
in big cities. The forerunners of colonialism, aligned with patriarchy, articulated themselves in
capitalism, reinforcing alienation through brutalization (DAVIS, 2016).
Amid the humanitarian crisis of the pandemic, the market has become increasingly
insidious, and has shaped the work with ‘work from home’ logistics. Physical distancing has
allocated the digital industry and remote work as the new productive model (MARTINS, 2020).
Therefore, education has not been immune to remote work. The progress of the
pandemic paralyzed universities, schools, jobs, tourism, among other activities classified as
non-essential, which extended more space to the
Remote Work.
Education was located at the
center of the health crisis, with remote education, which was proposed as an emergency for all,
without everyone having access to digital goods and services.
Thus, the cruel pedagogy of the virus was standardized in an unusual way in the digital,
technological and educational environment (SANTOS, 2020). The rules of confinement that
determined the emergency remote education did not ensure training conditions, which further
aggravated the unequal structure.
In this exclusionary context, education remained underdeveloped, limited, fragmented,
millions of children could not get literate, fifty percent of young people did not take the national
high school exam (ENEM, in Portuguese) in 2021. The progress of the pandemic did not soften
the school deficit, as on the contrary, it brought more extreme poverty, violence, hunger and
misery. Democratic erosion has weakened the social fabric, intensified ideological polarization
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with obvious risks to Brazilian democracy, silencing universities to strengthen the inoperability
of populist policies (LEMES; SANTOS CRUZ, 2020).
Regarding high school, a survey by the National Confederation of Education Workers
(CNTE, 2020) found that 53.6% of the teaching class was qualified to teach remote classes and
half of these teachers share technological resources with others in their home space. Another
relevant data about teachers is the fact that 9 out of 10 teachers used their cell phone in holding
remote classes. Broadband internet access did not reach all teachers, more than 24% had to use
mobile data package to teach classes in the context of remote education.
The data also showed that 43.5% of high school teachers performed remote synchronous
classes and 9 out of 10 teachers elaborated the activities to send to students. In the teaching
conception: "there was an increase in the working hours spent in the preparation of non-face-
to-face classes in all stages of Basic Education" (CNTE, 2020, p. 15, our translation).
Thus, remote education directly impacted student performance. Specifically, concerning
high school, 45.8% of the students "[...] reduced their participation in the proposed activities"
(CNTE, 2020, p. 18, our translation). In the teachers' understanding, 1 out of 4 students would
not have the resources to have access to remote education, directly affecting the performance
of the activities.
Taking this overview of the National Confederation of Education Workers, we seek to
understand the specificities of the Integrated High School of the
Canindé campus from the
professional performance of teachers who volunteered to collaborate with the research, sharing
the female subjectivity, from what they have lived since March 2020, when the face-to-face
classes were interrupted.
Theoretical and methodological foundations
Methodologically, we articulate the qualitative dimension with the case study method,
which involved a situation recognized as a real problem of everyday life. Therefore, we deal
with a problem based on human experiences and their social relationships, by different
variables, from the point of view to the working conditions of the respondents.
Flick (2009) highlights that qualitative research has as its primacy to study complex
relationships. It is an approach that seeks to account for everyday subjectivity, as a social act of
knowledge construction rather than only explaining it through the isolation of variables.
Qualitative research is concerned "[...] with a level of reality that cannot be quantified.
That is, it works with the universe of meanings, motives, aspirations, beliefs, values and
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attitudes, which corresponds to a deeper space of relationships, processes and phenomena [...]"
(MINAYO, 1994, p. 21-22, our translation).
Aligned with the qualitative approach, we selected the case study method so that it
would promote the exploration of the phenomenon, leading to exhaustion, allowing clarity and
the coherent sequence of decisions in the process of collection, organization and treatment of
information, to later interpret the data from the IFCE case, Canindé campus (ZANELLI, 2002).
In order to collect the information, we used the methodological strategies of
documentary analysis and the online questionnaire. Based on Gil (2007), documentary research
uses materials that have not yet received analytical treatment, differing, therefore, from
bibliographic research, which uses the contributions of various authors on a specific subject.
In this sense, documentary sources can and should be included in the course of an
investigation, such as: reports, official documents, films, dossier, videos, recordings, among
other records. In the present case, we look at the PPC of that Course in order to add data beyond
the questionnaire.
The questionnaire, in Gil's understanding (2007), is an investigative technique
composed of open or closed questions, structured or semi-structured used online or in person,
according to the conditions of accomplishment and the objectives of the research. In view of
the social distancing recommended by health agencies, we apply the issues virtually attentive
to ethical aspects. In this sense, we emphasize that the investigation on screen went through the
Ethics Committee in Research.
5
After the collection of the investigative process, the information was organized and
categorized. After proper treatment, they were reflected in the light of Fairclough's Critical
Discourse Analysis (ADC) (2010). Thus, the analysis remained driven to exhaustion, in order
to achieve density to the studied phenomenon as we will evidence below in the clipping format.
The course analyzed aggregated 23 teachers in the disciplines of the common nucleus
and in the professional technical area; of this quantitative, only five were women, these being
the respondents identified with the letter "P" plus the ordinal numbers in the ascending order:
(P-1); (P-2); (P-3); (P-4) and (P-5). The clipping summarizes some of the excerpts contained in
the report that indicate responses to social and pedagogical implications from the respondents'
perspective.
5
According to Opinion no. 4,769,199 of Plataforma Brasil.
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Results and discussions: the reality of the IFCE Canindé Campus (CE) High School
course integrated to Electronics
Human history has been grounded by the efforts of many women and recognizing the
efforts of these pioneers helps us understand the oppressive mechanisms of patriarchy strongly
grounded to sexual division, social class, and the human race (DAVIS, 2016).
The social markers between boy and girl are well defined since the composition of the
clothes, including preparations and colors to reinforce patriarchal ingenuity. Boys are
encouraged not to cry, not be fragile, because they are responsible for the perpetuation of the
species, while girls should be reserved for marriage and destined for procreation.
Based on the participants' responses, these social and cultural markers shone in the
pandemic. Women were visibly impacted by immediate changes in their everyday lives.
Concerning women teachers, their teaching practices were also altered from the insertion of
digital and technological resources to the adaptation of physical spaces, including illness and
suffering for teachers who could not adapt quickly to remote activities.
In understanding P-1, in remote education, "there are bad days and less bad days." In
making the outburst, he/she exposed his working condition in recent months, he/she pointed
out the existence of a set of problems, from access, internet instability, psychological illness,
anxiety and concern for the family, with the school deficit, with the students, in addition to the
fear for their own life: "they are problems of a complex nature, so you can not have a good
day".
In the reasoning of Santiago (2021), the chaotic context of social isolation drove people
away from each other. Family and friends were prevented from social coexistence, deprived of
leisure environments, remained without the physical presence of loved ones and this profoundly
impacted the quality of life, bringing more professional fatigue.
Among the pedagogical implications highlighted the lack of training focused on the
remote context, social inequalities, poor housing conditions, lack of access to the Internet,
interference of internal and external noise; all this directly interfered with pedagogical practices.
They also pointed out the feeling that the teacher potential found in face-to-face activities
seemed to have changed into constant challenges for many teachers (FIRMINO
et al
., 2021).
Regarding the social life of women, P-2 replied:
The pandemic has impacted women's lives in the pandemic in many ways.
Among many factors, we can consider work overload due to domestic and
professional demands that now mix during the day and have no time to finish.
Women, in most families, also assume the role of caring for sick relatives and
taking on domestic responsibilities. And women who are mothers
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exponentially increased their work overload, having to take care of education
and care for their children, performing domestic and professional activities.
The pandemic only showed for society the work overload of women
(P-2, our
translation).
The domestic production mode is at the center of the family base for the support of
patriarchal structures and the system of flexible neocapitalist production. Women, in the
identity of wives and housewives, assume the heavy lifting inside homes as invisible supports
in the functionality of the market (DELPHY, 2015).
Without remuneration and without guaranteed rights, the woman washes, cooks, cleans
the house, takes care of the children, guarantees family well-being, while the man dedicates all
his time to labor. In this sense, the female class is appropriate to marriage and appropriate to
the productive system under the identity of a housewife.
At the service of capital, women remain distant from training, jobs and, consequently,
political militancy. Carneiro (2011) draws attention to two powerful matrices in building the
potential that keeps women away from the political arena. They are the matrices of
miscegenation and racial democracy. Both are responsible for the effectiveness in concealing
social and cultural inequalities. The functionality of these two matrices aligned with patriarchy
ensures the repetition of the past in the present through racial rigging. Therefore, the feminist
challenge is not simplistic, since race and class are elements of feedback to the patriarchal
system in the structuring of inequalities.
In Tabet's perception (2004), women are exchanged for ignorance as one of the main
pillars of their oppression. Many of them are unaware of the level of exploitation to which they
are conducted. This ignorance among women themselves is so natural, accepted by all, that
women also agree with naturalization naively (GUILLAUMIN, 2003). The responsibility of
women in the home issues was unanimous among the respondents.
At first it got a lot more complicated. We already worked hard, but we had a
habit of doing other things to differentiate the weekend. In the pandemic we
can't turn on and stay on the computer. The main implication was the lack of
the collaboration network. It greatly decreased the support of friends and
family. The rest on the part of the parents, the lack of interaction by parts of
the children lived in school. This affected everyone a lot, including children
and social life. The woman's responsibility to everyone in the house. This is
very complicated
(P-5, our translation).
Women need to be able to fight and recognize themselves as part of the fight. Female
engagement cannot be reduced to clarifications that permeate women's awareness. It is
necessary, therefore, a form of praxis based on affirmative practices that feed the discourse for
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social change (FAIRCLOUGH, 2010). Originating from Structuralism and Psychoanalysis,
Fairclough's Critical Discourse Analysis (ADC) (2010) guides the deconstruction of the
mystique and the problem of structural modeling that dominates people. As a transdisciplinary
area, the assumptions of the ADC bare crystallized ideologies in entrenched discourses. Thus,
the ADC attributes respect to ethics, justice and coherence in the analysis process focusing on
the social problem, since its objectives are always focused on the political, social and cultural
dimension.
The ADC approaches relational dialectics as a dissociated element of representative
language that inferiorizes conservative practices. The relational recognition of the differences
in everyday relationships needs to be related to new fair and cohesive social practices capable
of sustaining the humanized social construct in the context (FAIRCLOUGH, 2010). Thus,
society does not reproduce unequal reality because it resizes conservative practices for social
change through real facts expressed in social events, that is, through actions beyond discourse.
Based on Fairclough (2010), the social characterization of discourse is immanent to the
social context itself, part of it and turns to social reality. The inefficiency of the humanizing
articulation strengthens the mystique and deepens the social problem through the modeling of
the domination that reproduces oppression.
The P-4 respondent realizes that it is not easy to free women, especially those who are
in vulnerable situations. It is precisely these women who need protection the most and do not
escape harassment, violence, hunger and exclusion of any kind. Recognizing this situational
state, the strategy is to reflect on what can be done and how it will be possible to advance
collectively in the debate on policies and actions aimed at the women's class. Respondents
stated that it makes no sense within the female class itself some women do not care about others,
so the inequality of the class itself is intolerable.
Domestic responsibility in the family environment manifests itself in an indisputable
way, which evidences the purpose of ideological reflection on the difference of sex in order to
shift the social power conferred on men by sexual division and work. It is not a question of
placing men and women in overlap, but of studying them in a relational and dialectical way
without contradicting women as unique beings, but within a sociopolitical set (FALQUET,
2014).
Guillaumin's studies (2003) assert the existence of a legal arsenal that ensures the
perpetuation of female responsibility. Collective appropriation takes place through marriage
and, in a customary manner, domestic duties are guaranteed as a masculine right to detain a
woman equipped with the logic of private property.
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With this cultural logic, man takes possession of the right, determines the conditions of
confinement, the use or not of physical or psychic violence, sexual coerce with or without
consent. Thus, marriage oscillates between flowers and silence, based on contractual law
contrasted in naturalized inequality as if nothing could be done. In the concrete and material
appropriation of marriage there are flowers, worship, religion and, the law guarantees the
appropriation of the body and religious worship to the soul (GUILLAUMIN, 2003).
It is important to understand the dynamics of violence imbricated in gender as
something broad, socially constructed (AKOTIRENE, 2019). We need to understand the
different types of threats that reach women in jobs, on the streets and in society in order to
create educational strategies, such as the formative model, wise politics that can be a viable
alternative (MAHDI; PIRANI, 2021).
These are situations that present classification levels and leave deep marks, and it is
necessary to strengthen the network of reception, protection and qualification so that these
women occupy more space in the debate and recognize themselves as part of the struggle in
women's unity.
Final considerations
The Coronavirus pandemic has advanced rapidly, impacting people's health, education,
economy and way of life worldwide. The epidemiological situation triggered the humanitarian
crisis, bringing direct consequences to human life. By paralyzing essential and non-essential
services, work relationships have been profoundly altered, and the logic of the Remote Work is
inserted, such as telemedicine and emergency remote education itself.
The changes altered people's routine and the consequences were immediate, especially
for the most vulnerable individuals, including children, women and the elderly. Many women
were able to remain confined, while others faced hard work, violence, exclusion, hunger,
abandonment, physical and psychological illness.
Socially cloistered, the participating teachers, although with an assured income, also
answered that they experienced challenges. They had to adapt physical spaces, reinforce
internet packages, learn to use digital strategies, guide their children, make their own food, in
addition to pedagogical tasks.
The research indicated that women were hit hard because they saw their support network
reduced, as well as challenges such as unemployment, domestic violence, social abandonment,
without encouragement and support for their own family, directly ruining the feminist struggle.
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We conclude that women remain separated by differences. Several aspects interfere in
their lives and characterize experiences by social markers. The ideological implications and
lack of knowledge due to the lack of access to culture favor male domination. Thus, since most
women are unaware of their rights, they easily renounce what is already guaranteed to them.
Domestic unity is one of the places in which male oppression manifests itself in an
indisputable way, preventing the development of the consciousness of the oppressed. The
emphasis of this research evidenced the experiences of women teachers who made their
experiences available and who also admitted the inequality between women themselves from
social markers.
Among their respective speaking places, the respondents recognized that, although
faced with the challenges of remote education, they have a quiet life concerning the social well-
being of the family, aware that food, safe housing and family security are not applicable to the
totality of women.
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How to refer to this article
LEITE, M. C. S. R.; HOLANDA, P. H. C. (De) Politicization: Woman, Mother and Teacher in
Remote Education in Times of Crisis.
Revista on line de Política e Gestão Educacional
,
Araraquara, v. 26, n. esp. 4, e022102, 2022. e-ISSN:1519-9029. DOI:
https://doi.org/10.22633/rpge.v26iesp.4.17116
Submitted
: 23/03/2022
Revisions required
: 10/05/2022
Approved
: 07/07/2022
Published
: 01/09/2022
Processing and publication by the Editora Ibero-Americana de Educação.
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