RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 28, n. 00, e023010, 2024. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v28i00.19177 1

MOTIVAÇÃO DE DISCENTES DO ENSINO SUPERIOR: AULAS REMOTAS E

PRESENCIAIS

MOTIVACIÓN DE LOS ESTUDIANTES DE ENSEÑANZA SUPERIOR: CLASES A

DISTANCIA Y PRESENCIALES

UNDERGRADUATE STUDENTS MOTIVATION: REMOTE AND FACE-TO FACE

CLASSES

Fabiana Lumi Kikuchi HAMADA1

e-mail: fabiana.hamada@usp.br

Rosebelly Nunes MARQUES2

e-mail: rosebelly.esalq@usp.br

Como referenciar este artigo:

KIKUCHI-HAMADA, F. L.; MARQUES, R. N. Motivação de

discentes do ensino superior: Aulas remotas e presenciais. Revista

on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 28, n. 00,

e023010, 2024. e-ISSN: 1519-9029. DOI:

https://doi.org/10.22633/rpge.v28i00.19177

| Submetido em: 15/01/2024

| Revisões requeridas em: 22/02/2024

| Aprovado em: 16/03/2024

| Publicado em: 04/04/2024

Editor:

Prof. Dr. Sebastião de Souza Lemes

Editor Adjunto Executivo:

Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo (Esalq/USP), Piracicaba – SP –

Brasil. Pedagoga (Unopar), Mestre em Educação (UEL), e Especialista em MBA em Gestão Escolar (Pecege).

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo (Esalq/USP), Piracicaba – SP –

Brasil. Docente do Departamento de Economia, Sociologia e Administração.

Motivação de discentes do Ensino Superior: Aulas remotas e presenciais

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 28, n. 00, e023010, 2024. e-ISSN: 1519-9029

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RESUMO: A motivação para compreender o perfil dos discentes do Ensino Superior em

relação ao processo de ensino e aprendizagem surgiu devido à situação emergencial provocada

pela pandemia da COVID-19. Essa situação demandou a adaptação do sistema educacional,

visando evitar prejuízos à formação acadêmica dos alunos. O objetivo foi analisar o perfil

discente, de 2019 a 2022, considerando as perspectivas observadas na avaliação de disciplina

realizada pelos alunos, por meio de um software criado pela instituição, que contemplou sua

frequência e acompanhamento das aulas, conhecimentos e experiências anteriores, estudos fora

do horário de aula e a importância da disciplina para o curso escolhido. Pelos resultados obtidos,

verificou-se um aumento de avaliações positivas em relação aos conhecimentos prévios dos

estudantes no período de aulas remotas, e uma queda em 2022. Em geral, os alunos apresentam

frequência positiva às aulas, bem como compreendem a importância das disciplinas para sua

formação.

PALAVRAS-CHAVE: Perfil discente. Avaliação de disciplina. Conhecimentos prévios.

RESUMEN: La motivación para comprender el perfil del estudiante de Educación Superior

acerca de su relación con el proceso de enseñanza y aprendizaje se inició a raíz de la situación

de emergencia por la pandemia del Covid-19, que ocasionó la necesidad de adecuar el sistema

educativo. El objetivo fue analizar el perfil del estudiante, del 2019 al 2022, considerando las

perspectivas observadas en la evaluación de la materia que realizan los estudiantes, a través

de un software creado por la institución, que incluyó su asistencia y seguimiento de clases,

conocimientos previos y experiencias, estudios en el extranjero del horario de clases y la

importancia de la materia. A partir de los resultados obtenidos, hubo un aumento de

valoraciones positivas en relación a los conocimientos previos en el periodo de clases a

distancia, y una disminución en el 2022. En general, presentan asistencia a clases positiva, y

entender la importancia de temas.

PALABRAS CLAVE: Perfil de estudiante. Evaluación de la disciplina. Conocimiento previo

ABSTRACT: The motivation to understand the profile of higher education students regarding

the teaching and learning process arose due to the emergency situation caused by the COVID-

19 pandemic. This situation demanded the adaptation of the educational system to prevent

academic setbacks for students. The objective was to analyze the student profile from 2019 to

2022, considering the perspectives observed in the evaluation of disciplines conducted by the

students through software created by the institution. This software encompassed their

attendance and participation in classes, prior knowledge and experiences, self-study outside

class hours, and the importance of discipline for the chosen course. The results obtained

showed an increase in positive evaluations regarding students' prior knowledge during the

period of remote classes, followed by a decline in 2022. Overall, students demonstrate positive

attendance to classes, as well as an understanding of the importance of the disciplines for their

education.

KEYWORDS: Student profile. Subject evaluation. Previous knowledge.

Fabiana Lumi Kikuchi HAMADA e Rosebelly Nunes MARQUES

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Introdução

A motivação para compreender o perfil discente do Ensino Superior acerca de sua

relação com o processo de ensino e aprendizagem iniciou devido à situação emergencial vivida

mundialmente por motivo da pandemia da COVID-19, que ocasionou a necessidade de

adequação do sistema educacional evitando prejuízos à formação acadêmica dos alunos.

Nesse cenário, os órgãos governamentais rapidamente publicaram documentos legais

que pudessem subsidiar as decisões das unidades escolares, autorizando, em especial,

alternativas para substituição do ensino presencial.

No âmbito nacional, podemos citar a Portaria n.º 343 de 17 de março de 2020 (Brasil,

2020a), que dispõe sobre a substituição de aulas presenciais por alternativas em meios digitais,

e a Portaria n.º 14.040 de 18 de agosto de 2020 (Brasil, 2020b), estabelecendo normas

excepcionais durante o período de calamidade pública.

No âmbito do governo do Estado de São Paulo, observamos os Decretos n.º 65.061 de

13 de julho de 2020 (São Paulo, 2020a), alterado pelo Decreto 65.140 de 19 de agosto de 2020

(São Paulo, 2020b), relacionados à retomada das aulas e atividades presenciais. Também os

Decretos n.º 65.384 de 17 de dezembro de 2020 (São Paulo, 2020c) e 65.849 de 6 de julho de

2021 (São Paulo, 2021a), que inclui a instituição do Sistema de Monitoramento da Educação

para COVID-19. O Conselho Estadual de Educação (CEE), por meio das Deliberações

177/2020 de 18 de março de 2020 (São Paulo, 2020d) e 195/2021 de 13 de janeiro de 2021 (São

Paulo, 2021b), fixa normas de organização dos calendários escolares.

Diversas normativas foram publicadas no Estado de São Paulo com o intuito de orientar

o ensino durante o período. No âmbito da área de graduação da instituição estudada, foram

abrangidas as Resoluções CoG 7949 de 27 de abril de 2020 (São Paulo, 2020e) e CoG 8076, de

15 de abril de 2021 (São Paulo, 2021c) que autorizaram a substituição de aulas presenciais por

uso de tecnologias da informação e comunicação, a Resolução CoG 7962 de 23 de junho de

2020 (São Paulo, 2020f) que fixou o novo calendário escolar para o ano letivo de 2020, as

Resoluções CoG 8092 de 25 de maio de 2021 (São Paulo, 2021d) e CoG 8118 de 26 de agosto

de 2021 (São Paulo, 2021e) que orientam sobre a permissão para realização de estágios práticos

presenciais supervisionados, e a Resolução CoG 8156 de 16 de dezembro de 2021 (São Paulo,

2021f), que reduz a carga horária para os formandos 2021 da área da saúde.

Essas mudanças afetaram diretamente o cotidiano escolar tanto de docentes quanto

discentes que precisaram se adaptar às novas tecnologias, reorganizar a rotina e mudar as formas

das relações sociais. Os alunos que ingressaram durante o período de aulas remotas tiveram

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uma experiência diferente de ingresso no Ensino Superior, e em 2022, passaram por uma nova

adaptação, o ensino presencial.

O ensino remoto, embora tenha ocorrido recentemente, tem sido objeto de estudo por

parte de diversos pesquisadores há anos. Estes pesquisadores investigam as implicações das

tecnologias no contexto escolar, desde o uso de meios eletrônicos para atingir um público de

classes desfavorecidas que de outra forma não teriam acesso, até as múltiplas possibilidades de

personalização da aprendizagem de acordo com os interesses individuais dos alunos.

Para Levy (2007), a cibercultura trouxe mutações nas relações com o saber. O professor

passa a ser um gestor da aprendizagem e do pensamento. Lopes (2018) comenta que a internet

contribuiu para a motivação discente, devido às possibilidades que permite. E a relação de

confiança construída pelo docente colabora para o aumento dessa motivação. O ensino remoto

permitiu novos olhares para as formas de ensinar, bem como evidenciou as discussões acerca

das possibilidades do ensino híbrido, possibilitando instigações para mudanças na estrutura

acadêmica (Bacich; Moran; Florentino, 2021).

De acordo com Moran (2021), o princípio do ensino híbrido está relacionado à

possibilidade de redesenhar as melhores combinações possíveis para a aprendizagem,

adaptando às necessidades específicas dos alunos, identificando as competências a serem

trabalhadas considerando as diferentes áreas do conhecimento, grau de maturidade e autonomia

de cada estudante. Essas alterações de ensino presencial e remoto, instigaram a analisar o perfil

discente do Ensino Superior, as possibilidades de relação com a motivação. A motivação pode

ocorrer por fatores intrínsecos ou extrínsecos, sendo que o primeiro está relacionado à

espontaneidade, ou seja, à propensão natural para a execução das tarefas, e o segundo está

ligado às compensações externas, ou seja, a realização de uma atividade com a finalidade de

obter um resultado.

Conforme Bzuneck (2001), a motivação imediata está relacionada na aplicação do

esforço pelo aluno às tarefas do processo de aprendizagem, ou seja, de acordo com suas

escolhas no curso de uma determinada ação, que envolve também a qualidade do investimento

pessoal, que resulta em produto final, os conhecimentos construídos e habilidades adquiridas.

O autor destaca que nem sempre os resultados são identificados de imediato, que o aluno não

aprende exclusivamente pela motivação, mas que é um fator que interfere no resultado de sua

aprendizagem, como esperado e revelado nas notas escolares.

Fabiana Lumi Kikuchi HAMADA e Rosebelly Nunes MARQUES

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Para motivar os alunos é necessário propor atividades desafiadoras, de nível

intermediário, ou seja, não podem ser tão fáceis que possam gerar tédio, nem tão difíceis que

possam levar a sentimentos de ansiedade, fracasso e frustração (Bzuneck, 2010).

Nesse contexto, o propósito deste estudo consistiu em analisar o perfil dos alunos de

uma instituição pública no Estado de São Paulo no período de 2019 a 2022. Esta análise

considerou as perspectivas observadas na avaliação das disciplinas realizada pelos alunos,

abrangendo uma autoavaliação em relação à assiduidade e ao acompanhamento das aulas, os

conhecimentos prévios e experiências pertinentes aos temas abordados, o estudo realizado fora

do horário de aula, e a percepção da relevância da disciplina para o curso de graduação

escolhido.

Material e Métodos

A pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética CAAE 61509122.4.0000.9927, foi realizada

em uma instituição pública de ensino superior localizada no interior do Estado de São Paulo,

que oferta cursos de graduação e pós-graduação, bem como cursos de extensão universitária. O

ingresso é por meio do vestibular ou pelo Sisu, e reserva uma porcentagem de vagas para

políticas de cotas sociais e raciais. Para embasar o estudo, recorremos aos estudos sobre

motivação intrínseca e extrínseca de Guimarães (2001, 2004), Bzuneck (2001) e Boruchovitch

(2004) e às análises psicológicas de Vigotsky (2000), com o conceito de zona de

desenvolvimento proximal, que representa a distância entra a zona de desenvolvimento real e

potencial.

Inicialmente foram levantados dados de alunos ingressantes no período de 2019 a 2022,

a partir dos dados divulgados pela assessoria de comunicação da instituição (DvComun), para

identificar a motivação que levou os estudantes à escolha da instituição como base para sua

formação inicial no ensino superior.

Para identificar o perfil dos alunos, foi conduzida uma análise dos dados do “Aplicativo

de Avaliação de Disciplina”, utilizado pelos professores ao término de cada semestre, no

período compreendido entre 2019 e o 1º semestre de 2022. Este aplicativo foi desenvolvido

pela própria instituição com o propósito de avaliar as disciplinas, incluindo uma autoavaliação

dos alunos e reflexões sobre o conteúdo e a abordagem pedagógica. O aplicativo possui uma

versão disponível para download pelos alunos na Google Play e na AppStore, além de uma

versão para os professores.

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O aplicativo abordou onze questões relacionadas à autoavaliação dos alunos, à avaliação

dos professores e à disciplina em si. No entanto, em consonância com os objetivos do estudo,

foram selecionadas quatro questões específicas:

1. Frequência e acompanhamento das aulas desta disciplina;

2. Conhecimento e experiência anterior sobre o tema exposto;

3. Estudo fora de classe por semana (A: > 4h; B: 2-4h; C: < 2h; D: Véspera de prova; E:

nada);

10. Importância da disciplina para seu curso de graduação.

O questionário foi aplicado pelos docentes responsáveis pelas disciplinas, ao final de

cada semestre, gerando um código em que o aluno teve o prazo de 15 minutos para responder.

Para avaliar as disciplinas, os alunos precisaram assinalar uma das cinco alternativas para cada

questão: muito bom, bom, regular, ruim, muito ruim.

Inicialmente, foram excluídas da base de dados as sete questões não analisadas, por

contemplarem assuntos acerca do conteúdo e do professor, que não foram objeto deste estudo,

sendo:

4. Domínio do conteúdo da disciplina pelo professor;

5. Relação professor-aluno (acessibilidade, respeito, gestão da aula);

6. Clareza e efetividade na exposição do conteúdo;

7. Contribuição e qualidade dos recursos de apoio ao ensino (lousa, slides, vídeos,

textos, plataforma de ensino/Moodle, laboratório, exercícios, campo, visitas, etc.);

8. Coerência das avaliações com o processo de aprendizado;

9. Estímulo a reflexão e pensamento crítico dos estudantes;

11. Avaliação do conjunto: disciplina, professor(es) e abordagem.

Em seguida, foram excluídas as disciplinas e/ou turmas sem registro de avaliação no

período. As turmas das disciplinas que eram ministradas por mais de um docente, apresentavam

as respostas dos alunos em relação a cada um deles. Como o objeto desse estudo é relacionado

ao perfil discente e não às relações docentes, considerando que seriam os mesmos alunos e as

respostas deveriam ser as mesmas, porém os dados eram distintos, foi realizada uma média

Fabiana Lumi Kikuchi HAMADA e Rosebelly Nunes MARQUES

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dessas respostas, pois a duplicação ou multiplicação dos resultados poderiam interferir nos

dados finais.

O estudo contemplou somente as disciplinas básicas essenciais dos cursos. Com base na

grade curricular dos cursos de graduação da instituição pesquisada, as disciplinas compulsórias

em pelo menos um dos cursos ofertados, foram classificadas como “obrigatórias”, e as demais

como “optativas”.

Além disso, as disciplinas foram classificadas em uma das três áreas do conhecimento:

(i) biológicas: que avançam o conhecimento na área, mas não necessariamente apresentam

aplicabilidade; (ii) exatas: que apresentam características que possibilitam medir, mensurar; e

(iii) humanas: que indicam a relação de melhoria das pessoas, da economia e dos ambientes.

Para orientar essa classificação, utilizaram-se as áreas de conhecimento da Capes

(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), considerando que as

disciplinas que apresentam aplicação nas áreas de agrárias foram selecionadas como Ciências

Agrárias, as demais como Ciências Biológicas, e as relacionadas à terra e solo como Ciências

Exatas e da Terra, bem como tal caracterização foi norteada pela descrição das ementas das

disciplinas.

Resultados e Discussão

A análise foi dividida em: Perfil dos Ingressantes, que aponta os dados levantados pela

assessoria de comunicação da instituição; Amostra, que indica o alcance de número de discentes

obtido; Caracterização das Disciplinas, que descreve os tipos e as áreas das ciências das

disciplinas analisadas; e Dados do aplicativo de avaliação de disciplina, com a apresentação da

análise das respostas dos alunos.

Disponível em: www.gov.br/capes/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-

programas/avaliacao/instrumentos/documentos-de-apoio-1/tabela-de-areas-de-conhecimento-avaliacao. Acesso

em: 2 set. 2022.

Motivação de discentes do Ensino Superior: Aulas remotas e presenciais

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Perfil dos Ingressantes

Inicialmente, os dados referentes ao perfil dos alunos ingressantes na instituição

participante foram analisados, conforme levantamento realizado pela própria instituição no

momento da matrícula, abrangendo o total de alunos. Durante o período de 2019 a 2020, foram

tabuladas quatro questões relacionadas ao tipo de instituição frequentada durante o Ensino

Médio, à renda familiar, à motivação para a escolha da universidade e aos sentimentos em

relação a esta nova etapa da vida acadêmica.

Apesar da pequena queda de 2021 a 2022, observa-se na Figura 1 uma tendência de

aumento de estudantes oriundos de escola pública. Esse fato pode estar relacionado às

mudanças no ingresso na Universidade, que desde 2015, progressivamente passaram a

selecionar alunos por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), com vagas reservadas pela

Lei de Cotas, englobando ações afirmativas como estudantes que cursaram o ensino médio

integralmente em escolas públicas e autodeclarados como pretos, pardos e indígenas (PPI).

Figura 1 - Alunos que cursaram o Ensino Médio em escolas públicas e privadas

Fonte: Esalq/USP (2022).

A Figura 2 apresentar um aumento de alunos provenientes de famílias com renda de 1 a

3 salários, no período, também consequência das mudanças da forma de ingresso na instituição.

39,1% 43,7% 49,9% 47,9%

57,4% 54,2% 48,7% 51,1%

3,6% 2,0% 1,5% 1,0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2019 2020 2021 2022

Escola pública Escola Particular Escola Pública e Particular

Fabiana Lumi Kikuchi HAMADA e Rosebelly Nunes MARQUES

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Figura 2 - Renda familiar de alunos ingressantes

Fonte: Esalq/USP (2022).

Considerando esse perfil de estudantes ingressantes, foi analisado qual sua motivação

para a escolha da instituição como base para sua formação acadêmica.

A partir da Teoria da Autodeterminação, que é a concepção do sujeito como organismo

ativo do seu desenvolvimento em busca de uma integração positiva nas relações sociais,

Guimarães e Boruchovitch (2004), elucidam a motivação intrínseca como uma disposição

natural pela busca de desafios, novidade, realização, satisfação, representa uma característica

positiva da própria natureza humana.

Para uma motivação intrínseca, três necessidades psicológicas inatas são necessárias:

autonomia, competência e vínculo. Nesse sentido, as pessoas intrinsecamente motivadas

realizam as atividades por acreditarem que fazem por desejo próprio, sem obrigações externas,

fixando metas, planejando ações e avaliando resultados. Por outro lado, há sujeitos que

apresentam uma percepção de que estão sendo manipulados por fatores externos, gerando

sentimentos negativos como fraqueza e ineficácia (Guimarães; Boruchovitch, 2004).

A Figura 3 mostra que a escolha da maioria está atrelada a uma motivação intrínseca,

ou seja, realização pessoal e profissional e a própria escolha da instituição.

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2019 2020 2021 2022

de 1 a 3 salários de 3 a 6 salários de 6 a 9 salários

de 9 a 12 salários acima de 12 salários

Motivação de discentes do Ensino Superior: Aulas remotas e presenciais

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Figura 3 - Motivação de alunos ingressantes para estudar na Universidade escolhida

Fonte: Esalq/USP (2022).

A escolha de uma parcela dos alunos possivelmente foi influenciada por motivações

extrínsecas, tais como perspectivas de boa remuneração no mercado de trabalho, busca por

reconhecimento ou expectativas familiares. Guimarães e Boruchovitch (2004) explicam que a

influência de fatores externos pode levar as pessoas a sentirem-se compelidas a determinadas

ações, desviando o foco necessário para uma interação mais significativa com o ambiente, o

que pode ser prejudicial para a motivação intrínseca.

A motivação pela realização pessoal e profissional apresentou uma queda de 7,7% de

2021 a 2022, e um aumento de 7,5% em relação à colocação no mercado de trabalho e boa

remuneração. Por outro lado, de 2020 a 2021, houve um significativo aumento (16,4%) no

primeiro caso, considerando que foi um período de início por meio de aulas remotas. A Figura

4 revela os sentimentos dos alunos em relação ao ingresso na Universidade. Nota-se que a

maioria se sente motivado/realizado.

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%

Realização pessoal e profissional

Conquistar uma boa colocação no mercado

de trabalho com boa remuneração

Ser formado por esta Universidade

Ser reconhecido pelo mercado de trabalho

É uma faculdade de ensino gratuito

A localização é adequada

Outros

Realização de toda família

2022

2021

2020

2019

Fabiana Lumi Kikuchi HAMADA e Rosebelly Nunes MARQUES

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Figura 4 - Sentimento ao ingressar na Universidade

Fonte: Esalq/USP (2022).

Apesar de haver alunos que ingressam na Universidade com sentimento de insegurança,

ansiedade ou indecisão, os dados gerais não revelam grande discrepância ao longo dos anos.

Um estudante motivado é altamente envolvido nas tarefas, empenhado, esforçado, tem

entusiasmo na execução, sente orgulho dos resultados, busca desenvolver novas habilidades

(Guimarães; Boruchovitch, 2004).

Amostra

Para verificar o perfil discente, foram analisados os dados das disciplinas obrigatórias

dos cursos de graduação ofertados pela instituição, que foram avaliadas pelos discentes. A

Figura 5 apresenta o número de alunos matriculados em cada disciplina, e o número de respostas

obtidas por semestre letivo. A legenda do gráfico representa o ano e semestre letivo, sendo

2019-1 equivalente a ano de 2019 e 1º Semestre; 2019-2, ano de 2019 e 2º Semestre, e assim

por diante.

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%

Motivado/Realizado

Inseguro/Ansioso

Tranquilo/Seguro

Indeciso

Outros

2022

2021

2020

2019

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Figura 5 - Discentes matriculados e respostas obtidas, por ano e semestre

Fonte: Elaboração dos autores.

O total de discentes que responderam durante o período analisado representou 44% do

total de alunos matriculados.

Caracterização das Disciplinas

As disciplinas foram categorizadas em “obrigatórias”, ou seja, essenciais para pelo

menos um dos cursos analisados, e “optativas”, que indicam a escolha das áreas de interesse

dos alunos. A Figura 6 aponta a quantidade de disciplinas obrigatórias, que compuseram a

amostra.

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

2019-1 2019-2 2020-1 2020-2 2021-1 2021-2 2022-1

Alunos Matriculados Alunos que responderam

Fabiana Lumi Kikuchi HAMADA e Rosebelly Nunes MARQUES

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Figura 6 - Disciplinas obrigatórias e optativas

Fonte: Elaboração dos autores.

Considerando as disciplinas obrigatórias, que foram objeto de estudo, a Tabela 1

demonstra as áreas das ciências e áreas de conhecimento da Capes (Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), durante o período de 2019 a 2022. As

disciplinas que apareciam em mais de um semestre, foram atribuídas à contagem somente uma

vez.

Tabela 1 - Áreas das Disciplinas de Graduação

Áreas das Ciências

Áreas do conhecimento da Capes

Área

Quantidade

Área

Quantidade

Humanas

100

Ciências Sociais Aplicadas

Biológicas

Ciências Agrárias

Exatas

Ciências Biológicas

Ciências Exatas e da Terra

Ciências Humanas

Engenharias

Ciências da Saúde

Multidisciplinar

Total

265

Total

265

Fonte: Elaboração dos autores.

Dados do aplicado de avaliação de disciplina

Os valores das Figuras 7 a 16, para permitir a comparação considerando o total de

respostas distintos por semestre e ano, foram transformados em porcentagem. A primeira

questão foi em relação à frequência e acompanhamento das aulas.

100

120

140

2019-1 2019-2 2020-1 2020-2 2021-1 2021-2 2022-1

Obrigatórias Obrigatórias sem registro de avaliação

Optativas não analisadas Optativas sem registro de avaliação

Motivação de discentes do Ensino Superior: Aulas remotas e presenciais

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 28, n. 00, e023010, 2024. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v28i00.19177 14

Na Figura 7 observamos um grande número de discentes que possuem positiva

frequência e acompanhamento. Tal resultado pode ser tanto devido à obrigatoriedade da

frequência para a aprovação, quanto a atitude natural de acompanhamento das disciplinas para

sua formação acadêmica e profissional.

Figura 7 - Frequência e acompanhamento das aulas de cada disciplina

Fonte: Elaboração dos autores.

A segunda questão foi em relação aos conhecimentos prévios dos alunos. Esses dados

foram categorizados em gerais, em seguida por área da ciência (humanas, biológicas e exatas),

e finalmente, somente os dados de disciplinas obrigatórias do 1º semestre letivo de cada ano,

divididas nas três áreas, considerando que engloba, em sua maioria, discentes ingressantes do

Ensino Superior. A Figura 8 revela os dados gerais, considerando as disciplinas de todas as áreas

do conhecimento.

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Figura 8 - Conhecimentos e experiência anterior sobre o tema exposto

Fonte: Elaboração dos autores.

Percebe-se que no período de aulas remotas (2020 a 2021) os conhecimentos prévios

(muito bom) dos discentes superaram o período de aulas presenciais, enquanto a média das

respostas “ruim” e “muito ruim”, se manteve entre 7 e 11%, e 14 e 18%, respectivamente.

Nas Figuras 9, 10 e 11, esses conhecimentos foram categorizados pelas três áreas das

ciências: Humanas, Biológicas e Exatas. Ainda houve a predominância do aumento da

referência a “muito bom”, durante o período de aulas remotas. A Figura 9 é referente a área de

Ciências Humanas. Em 2020 e 2021, apuramos as maiores porcentagens de respostas “Muito

bom”, que constitui um fator positivo para a motivação discente frente às demandas das aulas

remotas.

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Figura 9 - Ciências Humanas. Conhecimentos e experiência anterior sobre o tema

exposto

Fonte: Elaboração dos autores.

As porcentagens de 2020-1 a 2021-1 de registros de respostas “muito ruim”, corrobora

para a percepção de que, apesar dos alunos enfrentarem um período sem aulas presenciais, os

conhecimentos prévios do ensino médio contribuíram para sua formação acadêmica.

A Figura 10, da área de Ciências Biológicas, também adiciona dados positivos de 2020

a 2021, nas respostas “muito bom”. No entanto, comparado com a área de Humanas (21%), na

alternativa “bom”, há uma queda significativa em Biológicas (13%) em 2020-2.

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Figura 10 - Ciências Biológicas. Conhecimentos e experiência anterior sobre o tema

exposto

Fonte: Elaboração dos autores.

Na Figura 11, área de ciências exatas, a discrepância é bem evidente em 2019. Sendo

2020 e 2021 com uma melhoria positiva. No entanto, em 2022, ao retorno das aulas presenciais,

observa-se outra variação.

Figura 11 - Ciências Exatas. Conhecimentos e experiência anterior sobre o tema exposto

Fonte: Elaboração dos autores.

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Nas três áreas, como observado nas Figuras 9 a 11, destaca-se um número elevado de

registros na categoria “regular”, demonstrando a possível dificuldade encontrada pelos

discentes nas disciplinas em geral. Em 2022-1 (Figuras 9 a 11) há uma expressiva queda de

conhecimentos dos alunos, que podem levar a maiores dificuldades em acompanhamento das

disciplinas pela ausência de conteúdos básicos necessários.

Alunos ingressantes podem apresentar certa heterogeneidade em relação às disciplinas

básicas do Ensino Médio, e por vezes, defasagem em algumas áreas como requisitos essenciais

para a compreensão dos conteúdos. Os gráficos das Figuras 12, 13 e 14, representam as

disciplinas de alunos ingressantes do primeiro semestre de cada ano. Esses alunos são

automaticamente matriculados nessas disciplinas, podendo haver matrículas de alunos fora do

período ideal.

A Figura 12 é referente às disciplinas de ingressantes na área de Ciências Humanas. Ao

comparar com a Figura 9, referente a todos os alunos, percebe-se que 2020-1, o número se

mantém expressivo.

Figura 12 - Período Ideal: 1º Semestre. Área: Humanas. Conhecimentos e experiência

anterior sobre o tema exposto

Fonte: Elaboração dos autores.

Em Biológicas (Figura 13), há uma pequena diferença se comparada aos dados gerais

da área (Figura 10). Mesmo assim, 2020 e 2021 mostram os dados mais positivos do período.

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Figura 13 - Período Ideal: 1º Semestre. Área: Biológicas. Conhecimentos e experiência

anterior sobre o tema exposto

Fonte: Elaboração dos autores.

É evidente a grande discrepância na área de Exatas, como mostra a Figura 14. Há um

expressivo aumento de alunos que declararam a falta de conhecimentos prévios

progressivamente ao longo do período.

Figura 14 - Período Ideal: 1º Semestre. Área: Exatas. Conhecimentos e experiência anterior

sobre o tema exposto

Fonte: Elaboração dos autores.

Pelos dados de 2022, pode-se concluir que houve uma defasagem nos anos finais do

Ensino Médio, que foi caracterizado pelo ensino remoto emergencial. Nas três áreas das

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ciências, o dado em 2020, reflete alunos ingressantes que, em sua maioria, estudaram todo o

Ensino Médio por meio de aulas presenciais. A porcentagem de 2022 revela a significativa

queda em relação aos conhecimentos prévios dos alunos ingressantes, considerando que sua

maioria concluiu, em parte ou integralmente, por meio de aulas remotas.

Os conhecimentos prévios dos alunos podem ser considerados o ponto de partida do

docente para seu planejamento. Vigotky, em uma perspectiva histórico-cultural de educação,

aponta a importância da Zona de Desenvolvimento Proximal, ou seja, o que o aluno é capaz de

fazer com a ajuda de um outro, e a Zona de Desenvolvimento Real, que reflete o que ele é capaz

de realizar sozinho (Vigotsky, 2000). Essas funções psicológicas se alteram constantemente,

por isso é fundamental identificar os conhecimentos prévios e avançar progressivamente para a

construção de novos saberes, pois o aprendizado precede o desenvolvimento humano.

A terceira questão do aplicativo é relacionado à frequência de estudo dos alunos fora da

classe. O tempo de estudo fora das aulas foi analisado com os dados em geral. Pelos dados da

Figura 15, observou-se que, no período de aulas remotas houve um aumento das horas de estudo

e significativa queda do número de alunos que não dedicaram tempo além das horas de aula.

Figura 15 - Frequência de estudo fora de classe, por semana

Fonte: Elaboração dos autores.

O estudo além das aulas obrigatórias pode estar associado à motivação do aluno, tanto

intrínseca quanto extrínseca. No primeiro cenário, os alunos se envolvem naturalmente no

desenvolvimento de suas competências. No segundo caso, pode indicar alunos que enfrentam

dificuldades e necessitam de horas adicionais de estudo para atender às demandas acadêmicas.

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>4h 2 a 4h <2h Véspera da prova Nada

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Bzuneck e Guimarães (2010), baseados na Teoria da Autodeterminação, citam a

motivação autônoma que é adquirida quando estão elencados os três componentes dessa teoria:

locus interno (comportamento intencional); liberdade psicológica (vontade e interesses

pessoais, sem obrigação); e possibilidade de escolha (flexibilidade na tomada de decisão). Por

outro lado, a motivação controlada está relacionada às pressões externas, obrigações, prazos,

recompensas e punições.

A frequência em aula, seja em aulas presenciais ou remotas, por ser um requisito para

aprovação, pode representar uma motivação controlada para alguns alunos, que podem estar

atreladas às avaliações e notas para cumprimento da exigência avaliativa. Por outro lado, a

frequência de estudo fora de classe, pode ser um importante indicativo de motivação autônoma

dos alunos, como mostrou a Figura 15.

A motivação controlada, por parte dos alunos, produz resultados menos satisfatórios do

que a motivação autônoma. No entanto, não deve ser descartada, pois em alguns casos, a

recompensa pode ser necessária para favorecer a autônoma. Pesquisas apontam que a

concepção da maioria dos docentes revela o reconhecimento da motivação autônoma para

melhor desenvolvimento dos alunos, no entanto, na prática, prevalece o uso de controles

(Bzuneck, Guimarães, 2010).

Segundo Bzuneck (2001), a motivação reflete na sua relação pessoal, ou seja, alunos

desmotivados estudam pouco e consequentemente aprendem pouco. Guimarães e Boruchovitch

(2004) ressaltam que o relacionamento entre alunos e professores desempenha um papel crucial

na satisfação ou frustração das necessidades psicológicas dos alunos. Eles destacam a

importância do estabelecimento de vínculos e do sentimento de pertencimento por parte dos

estudantes. Como resultado, os alunos que se sentem mais seguros tendem a lidar com os

fracassos acadêmicos de forma mais tranquila e demonstram maior engajamento no processo

de aprendizagem.

Conforme Guimarães (2001), grande parte do período escolar, os alunos estão

envolvidos em tarefas de aprendizagem. O envolvimento em tais atividades depende muito da

percepção dos alunos em relação a elas. A Figura 16 aponta que, independentemente do período

de aulas presenciais ou remotas, a grande maioria compreende a importância das disciplinas

para sua formação acadêmica e profissional. No entanto, ainda há uma pequena porcentagem

que desconsidera tal fato.

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Figura 16 - Importância das disciplinas para o curso de graduação dos discentes

Fonte: Elaboração dos autores.

Uma relevante fonte de motivação intrínseca é quando o aluno percebe a importância e

significado pessoal nas atividades e tarefas prescritas pelos professores (Bzuneck, 2010).

Segundo Bzuneck (2010), todo aluno passa a valorizar a aprendizagem, quando consegue

relacionar tais conhecimentos com sua vida real, seu mundo, seus interesses pessoais. Além

disso, deixar claro aos alunos que o domínio e desenvolvimento das habilidades ensinadas

contribuem para o sucesso profissional, também contribui para um resultado positivo.

Para Bzuneck (2010), alunos do Ensino Médio podem ser motivados ao perceberem a

importância dos conhecimentos, tanto para uma boa colocação no vestibular, como para pré-

requisito ao cursar as disciplinas do Ensino Superior. O autor também enfatiza que não basta

somente declarar a importância, é preciso que tal crença esteja de fato presente em sua tarefa

de aprendizagem. Apesar dos dados positivos do perfil discente em relação à importância das

disciplinas para a formação, torna-se interessante identificar se reflete nas ações dos alunos.

Considerações finais

Repensar o processo de ensino e aprendizagem exige do Gestor Escolar, a partir do

diagnóstico realizado, buscar alternativas para minimizar os impactos observados em 2022,

relacionados à deficiência ou carência de conhecimento das disciplinas básicas. Torna-se

importante reorganizar o trabalho pedagógico docente para atender dificuldades específicas que

podem surgir com esse novo perfil discente com alternativas de reforço escolar, nivelamento,

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atividades extracurriculares, orientação para técnicas e organização de estudo e gestão do

tempo.

A identificação da zona de desenvolvimento proximal, conforme concebida por

Vigotsky (2000), refere-se à diferença entre a zona de desenvolvimento real, ou seja, os

conhecimentos já adquiridos pelo indivíduo, e a zona de desenvolvimento potencial, que

consiste nas atividades que o indivíduo é capaz de realizar com orientação. Essa compreensão

contribui para uma orientação mais eficaz do processo de ensino e aprendizagem.

Em relação ao aplicativo de avaliação de disciplina, além dos conhecimentos prévios, o

mesmo poderia verificar a percepção do aluno em relação ao seu nível de aprendizagem ao

término do semestre. Com essa percepção, facilitaria identificar se os alunos avançaram em

seus conhecimentos, pois a motivação extrínseca, conforme Bzuneck (2001), pode estar

atrelada apenas a uma forma de recompensa. Nesse sentido, a motivação controlada para

obtenção de notas escolares para aprovação pode mascarar a real aprendizagem dos alunos.

No que concerne à frequência de estudos fora da sala de aula, é essencial que o gestor

escolar considere estratégias para que os alunos reconheçam a importância dessa prática para

sua formação. É fundamental que os alunos estejam engajados e motivados a se dedicarem ao

aumento da curiosidade por conhecimentos avançados e à ampliação do capital cultural. Isso

pode ser alcançado por meio de diversas iniciativas, como participação em congressos,

workshops e dinâmicas, realização de formação continuada para os professores, criação de um

ambiente educacional estimulante, proposta de resolução de problemas reais e desafiadores,

implementação de programas de mentoria e estímulo à participação em grupos de pesquisa.

Apesar dos dados coletados serem relevantes para o objetivo do estudo, consideramos

as limitações da pesquisa, como a análise restrita às disciplinas básicas essenciais, denominadas

de “obrigatórias”; disciplinas não avaliadas pelos discentes; recorte temporal, limitado ao

período de 2019 ao 1º semestre de 2022; recorte espacial, limitado a uma instituição específica.

Por fim, surge um desafio para o gestor escolar em lidar com um perfil futuro de

discentes, no qual se torna pertinente a realização de novos estudos com dados dos próximos

semestres, visando identificar as tendências para 2025. É possível que haja um retorno ao perfil

majoritário de ingressantes que completaram o ensino médio de forma presencial em sua

totalidade. Além disso, há a oportunidade de realizar análises mais aprofundadas, explorando

novos recortes devido às limitações da pesquisa atual. Isso possibilitará uma compreensão mais

abrangente do cenário educacional e permitirá que o gestor escolar adote estratégias mais

eficazes para atender às necessidades dos alunos.

Motivação de discentes do Ensino Superior: Aulas remotas e presenciais

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AGRADECIMENTO: À Prof. Rosebelly Nunes Marques, meus sinceros agradecimentos por

compartilhar saberes. Ao Pecege, pela disponibilização da Bolsa de estudos, que possibilitou a

ampliação dos conhecimentos. Ao Centro de Agricultura Tropical Sustentável, da Universidade

de São Paulo (STAC/USP), coordenado pelo prof. Durval Dourado Neto, pelo apoio e

financiamento. Ao Dr. Ruy Caldas, pesquisador colaborador da Esalq/USP pelo apoio e

colaboração. Aos familiares e amigos, em especial a Sandra Vello, pelo incentivo.

REFERÊNCIAS

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65.061, de 13 de julho de 2020, que dispõe sobre a retomada das aulas e atividades

presenciais, no contexto da pandemia de COVID-19, e dá providências correlatas. Diário

Oficial do Estado de São Paulo: São Paulo, p. 1, 2020b.

SÃO PAULO. Decreto n.º 65.384, de 17 de dezembro de 2020. Dispõe sobre a retomada das

aulas e atividades presenciais no contexto da pandemia de COVID-19, institui o Sistema de

Informação e Monitoramento da Educação para COVID-19 e dá providências correlatas.

Diário Oficial do Estado de São Paulo: São Paulo, p. 8, 2020c.

SÃO PAULO. Deliberação n.º CEE 177/2020, de 18 de março de 2020. Fixa normas quanto à

reorganização dos calendários escolares, devido ao surto global do Coronavírus, para o

Sistema de Ensino do Estado de São Paulo, e dá outras providências. Conselho Estadual de

Educação [CEE], 2020d.

SÃO PAULO. Resolução CoG n.º 7949, de 27 de abril de 2020. Dispõe sobre a substituição

de atividades presenciais da graduação por atividades utilizando tecnologias de informação e

comunicação durante o período de prevenção de contágio pela COVID-19 (Novo

Coronavírus) durante o ano letivo de 2020 e dá outras providências. Universidade de São

Paulo, 2020e.

Motivação de discentes do Ensino Superior: Aulas remotas e presenciais

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 28, n. 00, e023010, 2024. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v28i00.19177 26

SÃO PAULO. Resolução n.º CoG 7962, de 23 de junho de 2020. Fixa o Novo Calendário

Escolar dos Cursos de Graduação da USP para o ano de 2020. Universidade de São Paulo,

2020f.

SÃO PAULO. Decreto n.º 65.849, de 6 de julho de 2021. Altera a redação do Decreto nº

65.384, de 17 de dezembro de 2020, que dispõe sobre a retomada das aulas e atividades

presenciais no contexto da pandemia de COVID-19 e institui o Sistema de Informação e

Monitoramento da Educação para COVID-19, e dá providências correlatas. Diário Oficial do

Estado de São Paulo: São Paulo, p. 1, 2021a.

SÃO PAULO. Deliberação n.º CEE 195/2021, de 13 de janeiro de 2021. Fixa normas para a

retomada tanto das atividades presenciais quanto das por meio remoto e para a organização

dos calendários escolares para o ano letivo de 2021 no Sistema de Ensino do Estado de São

Paulo, devido ao surto global do Coronavírus, e dá outras providências. Conselho Estadual

de Educação [CEE], 2021b.

SÃO PAULO. Resolução n.º CoG 8076, de 15 de abril de 2021. Dispõe sobre a substituição

de atividades presenciais da graduação por atividades utilizando tecnologias de informação e

comunicação durante o período de prevenção de contágio pela COVID-19 no ano letivo de

2021 e dá outras providências. Universidade de São Paulo, 2021c.

SÃO PAULO. Resolução n.º CoG 8092, de 25 de maio de 2021. Altera dispositivo da

Resolução CoG nº 8077, de 26 de abril de 2021, para redefinir os cursos de graduação das

áreas da saúde em que se permite a realização de estágios práticos presenciais supervisionados

durante o ano letivo de 2021 no contexto da pandemia da Covid-19. Universidade de São

Paulo, 2021d.

SÃO PAULO. Resolução n.º CoG 8118, de 26 de agosto de 2021. Altera dispositivos da

Resolução CoG n 8077, de 26 de abril de 2021, para permitir a realização de estágios práticos

presenciais supervisionados durante o ano letivo de 2021 em todos os cursos de graduação no

contexto da pandemia da Covid-19. Universidade de São Paulo, 2021e.

SÃO PAULO. Resolução n.º CoG 8156, de 16 de dezembro de 2021. Dispõe sobre a redução,

em caráter excepcional no contexto da pandemia de Covid-19, para os formandos do ano

letivo de 2021, da carga horária total dos cursos da área da saúde. Universidade de São

Paulo, 2021f.

VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos

psicológicos superiores. Trad. Grupo de Desenvolvimento de Ritmos Biológicos do

Departamento de Ciências Biomédicas-USP. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

Fabiana Lumi Kikuchi HAMADA e Rosebelly Nunes MARQUES

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 28, n. 00, e023010, 2024. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v28i00.19177 27

CRediT Author Statement

 Reconhecimentos: Instituto Pecege / Esalq/USP / Centro de Agricultura Tropical

Sustentável, Universidade de São Paulo (STAC/USP) / Prof. Ruy de Araújo Caldas.

 Financiamento: Centro de Agricultura Tropical Sustentável, Universidade de São Paulo

(STAC/USP).

 Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.

 Aprovação ética: Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética CAAE 61509122.4.0000.9927.

 Disponibilidade de dados e material: Os dados do perfil do ingressante organizados pela

Divisão de Comunicação da Esalq/USP são de domínio público, sendo disponibilizados no

Site da Instituição, bem como foi citado na referência, e utilizados para a análise. As

respostas do aplicativo de avaliação de disciplina são de domínio da instituição, sem

divulgação pública. Esses dados foram tratados e apresentados nesse trabalho na forma de

dados gerais, sem possibilidade de identificação dos participantes. Os resultados são do

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do MBA em Gestão Escolar pelo Pecege, e são

originais.

 Contribuições dos autores: Fabiana Lumi Kikuchi Hamada: Conceituação. Referenciais

teórico-metodológicos. Coleta, tratamento e análise de dados, escrita, edição da versão fina.

Rosebelly Nunes Marques: Supervisão. Coordenação da pesquisa. Conceituação. Revisão

geral do trabalho.

Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.

Revisão, formatação, normalização e tradução.

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 28, n. 00, e023010, 2024. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v28i00.19177 1

UNDERGRADUATE STUDENTS’ MOTIVATION: REMOTE AND FACE-TO FACE

CLASSES

MOTIVAÇÃO DE DISCENTES DO ENSINO SUPERIOR: AULAS REMOTAS E

PRESENCIAIS

MOTIVACIÓN DE LOS ESTUDIANTES DE ENSEÑANZA SUPERIOR: CLASES A

DISTANCIA Y PRESENCIALES

Fabiana Lumi Kikuchi HAMADA1

e-mail: fabiana.hamada@usp.br

Rosebelly Nunes MARQUES2

e-mail: rosebelly.esalq@usp.br

How to reference this paper:

KIKUCHI-HAMADA, F. L.; MARQUES, R. N. Undergraduate

students’ motivation: remote and face-to face classes. Revista on

line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 28, n. 00,

e023010, 2024. e-ISSN: 1519-9029. DOI:

https://doi.org/10.22633/rpge.v28i00.19177

| Submitted: 15/01/2024

| Revisions required: 22/02/2024

| Approved: 16/03/2024

| Published: 04/04/2024

Editor:

Prof. Dr. Sebastião de Souza Lemes

Deputy Executive Editor:

Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz

Luiz de Queiroz College of Agriculture “Luiz de Queiroz”, University of São Paulo (Esalq/USP), Piracicaba –

SP – Brasil. Pedagoga (Unopar), Mestre em Educação (UEL), e Especialista em MBA em Gestão Escolar (Pecege).

Luiz de Queiroz College of Agriculture “Luiz de Queiroz”, University of São Paulo (Esalq/USP), Piracicaba –

SP – Brazil. Faculty member of the Department of Economics, Sociology, and Administration.

Undergraduate students’ motivation: remote and face-to face classes

RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 28, n. 00, e023010, 2024. e-ISSN: 1519-9029

DOI: https://doi.org/10.22633/rpge.v28i00.19177 2

ABSTRACT: The motivation to understand the profile of higher education students regarding

the teaching and learning process arose due to the emergency situation caused by the COVID-

19 pandemic. This situation demanded the adaptation of the educational system to prevent

academic setbacks for students. The objective was to analyze the student profile from 2019 to

2022, considering the perspectives observed in the evaluation of disciplines conducted by the

students through software created by the institution. This software encompassed their

attendance and participation in classes, prior knowledge and experiences, self-study outside

class hours, and the importance of discipline for the chosen course. The results obtained showed

an increase in positive evaluations regarding students' prior knowledge during the period of

remote classes, followed by a decline in 2022. Overall, students demonstrate positive

attendance to classes, as well as an understanding of the importance of the disciplines for their

education.

KEYWORDS: Student profile. Subject evaluation. Previous knowledge.

RESUMO: A motivação para compreender o perfil dos discentes do Ensino Superior em

relação ao processo de ensino e aprendizagem surgiu devido à situação emergencial provocada

pela pandemia da COVID-19. Essa situação demandou a adaptação do sistema educacional,

visando evitar prejuízos à formação acadêmica dos alunos. O objetivo foi analisar o perfil

discente, de 2019 a 2022, considerando as perspectivas observadas na avaliação de disciplina

realizada pelos alunos, por meio de um software criado pela instituição, que contemplou sua

frequência e acompanhamento das aulas, conhecimentos e experiências anteriores, estudos

fora do horário de aula e a importância da disciplina para o curso escolhido. Pelos resultados

obtidos, verificou-se um aumento de avaliações positivas em relação aos conhecimentos

prévios dos estudantes no período de aulas remotas, e uma queda em 2022. Em geral, os alunos

apresentam frequência positiva às aulas, bem como compreendem a importância das

disciplinas para sua formação.