LITERATURA E ANÁLISE SOCIAL: MORTE E VIDA SEVERINA COMO REFERÊNCIA DE INTERPRETAÇÃO SOCIOLÓGICA


LITERATURA Y ANÁLISIS SOCIAL: MUERTE Y VIDA SEVERINA CÓMO REFERENCIA DE INTERPRETACIÓN SOCIOLÓGICA


LITERATURE AND SOCIAL ANALYSIS: MORTE E VIDA SEVERINA AS A REFERENCE FOR SOCIAL INTERPRETATION


Thiago Rodrigues COSTA1


RESUMO: O presente artigo pretende abordar a relação entre a Literatura e as Ciências Sociais, tendo como base os pensamentos de Gildo Marçal Brandão e Antonio Candido, mostrando como o texto literário contribui para construção do pensamento científico em relação a análise social. Para exemplificar a relevância e tornar a discussão inteligível, este artigo buscou como referência o poema Morte e vida Severina e mostra como a narrativa literária é relevante diante da interpretação da realidade social, mesmo que ela não tenha o rigor do método científico.


PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Sociologia. Morte e vida severina.


RESUMEN: El presente artículo pretende abordar una relación entre Literatura y Ciencias Sociales, basada en los pensamientos de Gildo Marçal Brandão y Antonio Candido, mostrando cómo el texto literario contribuye a la construcción de un pensamiento científico en un análisis social. Para ejemplificar una relevancia y hacer una discusión inteligible, este artículo busca como referencia o poema Morte e vida Severina y muestra cómo la narración literaria es relevante al interpretar la realidad social, incluso si no tiene el rigor del método científico.


PALABRAS CLAVE: Literatura. Sociologia. Muerte y vida severina.


ABSTRACT: Based on Gildo Marçal Brandão and Antonio Candido’s ideas, this article intends to discuss the relations between literature and the social sciences as it explains how the literary text adds to scientific thought in social analysis. Morte e vida Severina poem is taken as a reference to demonstrate the relevance of literary narrative, even without all the scientific rigor, to the interpretation of social reality, likewise make it an intelligible discussion.


KEYWORDS: Literature. Sociology. Morte e vida severina.


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1 Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara – SP – Brasil. Graduando em Ciências Sociais. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9844-2311. E-mail: thiago.costa@unesp.br

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Introdução


Este artigo propõe-se a dialogar com a Literatura e com as Ciências Sociais. Utilizando-se autores que pensaram questões metodológicas de análise social, este trabalho buscou em Gildo Marçal Brandão e Antonio Candido as referências para relacionar os textos literários com as Ciências Sociais. Brandão (2007) afirma que os principais instrumentos teóricos de análise da realidade social brasileira estão no próprio Brasil, ele aponta a necessidade de ler e interpretar pensadores nacionais que têm tradição e relevância, paralelamente, critica as teorias importadas que não dão conta de ler, interpretar e identificar questões e especificidades brasileiras. Diante das produções nacionais defendidas por Brandão, esta análise traz o pensamento de Candido que reflete sobre a Literatura nacional e a sua relevância social e histórica, ou seja, mostra como o texto literário é aliado das ciências humanas, mesmo que este não apresente métodos científicos.

Para tornar a reflexão inteligível, este artigo trouxe como principal exemplo o poema Morte e vida Severina do poeta João Cabral de Melo Neto. A intenção é mostrar como esta obra está em sintonia com a realidade social, através da narrativa do poema que expressa as principais questões e problemas sociais no Nordeste Brasileiro, sobretudo, a relação entre a construção da narrativa local e a sua contribuição para a construção de uma identidade brasileira. Ao apontar problemas sociais ligados à seca, também mostra o quão plural é o território brasileiro e chama a atenção para uma unidade nacional extremamente diversa.


Realidade social e literatura: o texto literário como referência


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Brandão (2007) aborda a problemática metodológica referente à construção, análise e interpretação do pensamento político brasileiro, dizendo que a teoria e a realidade devem estar alinhadas. Para entender a realidade e os problemas sociais e políticos é preciso considerar as relevantes produções acadêmico-científicas que explicam as dinâmicas e os movimentos sociais constituídos. As teorias científicas são instrumentos de análise, referências e narrativas que explicam questões na qual foram ou são responsáveis pela conjuntura atual (BRANDÃO, 2007). Este autor põe em discussão e coteja a relação entre as produções teóricas e a realidade analisada. Afirma que uma teoria que não dá conta de explicar corretamente a realidade, não é capaz trabalhar as problemáticas desta. Brandão (2007) critica e rejeita qualquer produção que propõe explicações “científicas” baseadas em ideias utópicas. Estudar o pensamento social, assim como às produções mais relevantes, significa entender as trajetórias e interpretações desses pensamentos que estão situados em um determinado tempo e espaço, ou seja, as

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leituras e análises anteriores são bases para entender os movimentos sociais constituídos na contemporaneidade. “Apesar do caráter datado de muitas de suas proposições teóricas e bases empíricas, o fato é que continuam a ser lidos como testemunhas do passado e como fontes de problemas, conceitos, hipóteses e argumentos para a investigação científica do presente” (BRANDÃO, 2007, p. 234).

O território nacional brasileiro é imenso e rico em diferentes realidades sociopolíticas que juntas são capazes de expressar a nossa identidade. Schwarz (1994) diz que para ler a realidade brasileira é preciso utilizar as referências nacionais de pensadores e autores brasileiros e não importar métodos de outros contextos para tentar a todo custo movimentá-los numa análise forçada. Movimentar conceitos externos para a nossa realidade e especificidades pode, como afirma Brandão (2007), criar utopias, justamente por conclusões e considerações desalinhadas com o objeto estudado. Schwarz (1994) ressalta que é preciso incluir no debate os teóricos que se propuseram a explicar o Brasil, mesmo que estes tenham o feito de forma equivocada baseados nos paradigmas da época, a ciência não parte do zero e refutações precisam ser embasadas, respeitando os marcos teóricos.


Na verdade, se uma das particularidades do estudo do pensamento político é que ele aspira a ser parte constitutiva do objeto estudado, então, no exame de suas grandes obras, a referência àquelas leituras “deve operar aí como elemento de controle e, em vários momentos, como dimensão polêmica contra as análises que buscam entender um pensamento coerente e original a partir de seu exterior (BRANDÃO, 2007, p. 238).


A Literatura, propriamente dita, é o “espelho do social” porque reflete questões retratadas no seu tempo, mesmo que não tenha o rigor científico, essa expressão artística retrata os paradigmas, pensamentos e problemáticas. Mesmo não sendo abordada profundamente por Brandão e Schwarz, a Literatura é uma produção nacional relevante para tratar e discutir as problemáticas brasileiras.


Nesse sentido, podemos entender que a Literatura é um dos caminhos para se compreender o mundo, perceptível na forma com que lida com os diversos aspectos da vida do homem; um desses aspectos é o espaço, tanto fictício quanto real. Por meio das ações e sentimentos do personagem ficcional, podemos perceber a relação existente entre o homem e o lugar em que vive (PINHEIRO NETO, 2012, p. 325).


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A literatura, segundo Candido (1993), não possui uma autonomia histórica, justamente por conter elementos que são psíquicos, subjetivos e sem método, embora expresse elementos sociais. Da perspectiva metodológica científica, o texto literário não apresenta um rigor na

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expressão da realidade, entretanto, “A Literatura abre objetos que embasam a construção científica do conhecimento” (PINHEIRO NETO, 2012, p. 326).

A obra literária para ser reconhecida como tal, tem que expressar a realidade local em que está inserida, como uma parte relevante da realidade nacional, mesmo que apresente especificidades regionais (CANDIDO, 1993). O texto literário, por estar inserido em um tempo e espaço, articula paradigmas que estão em voga no tempo em que foi escrito, ou seja, possui uma orientação histórica, mas também uma coerência social. A Literatura está empenhada em expressar, mesmo que não fielmente, um sentimento coletivo, ou seja, comum às pessoas (CANDIDO, 1993). Logo, mesmo que não represente uma realidade autônoma, o texto literário é capaz de ser uma importante referência para a leitura dos movimentos sociais constituídos.


Morte e Vida Severina tem como subtítulo “Auto de natal pernambucano” e remonta à transposição do nascimento de Cristo para os manguezais do Recife, atualizando o gênero e dando ao auto uma nova dimensão estética. Longe de tratar da temática religiosa, o poeta se prende ao social e ao político, denunciando as mazelas do povo pernambucano (PINHEIRO NETO, 2012, p. 320).


Diante do que foi posto anteriormente, esse artigo busca mostrar a relevância que tem a obra Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, diante da leitura da pobreza miséria no Nordeste brasileiro, peça fundamental para entender o Brasil. Embora a narrativa deste poema desenvolva-se em Pernambuco, João Cabral de Melo Neto retratou bem as condições da pobreza e, acima de tudo, as problemáticas sociais brasileiras. Como citado anteriormente, tendo como referência Candido (1993) e Pinheiro Neto (2012), Morte e vida Severina, mesmo sendo um texto literário, tem a capacidade de compor análises e interpretações das questões que caracterizam a identidade brasileira, através de uma narrativa regional presente este poema.


Morte e vida severina: uma interpretação social da pobreza


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João Cabral de Melo Neto, o autor de Morte e Vida Severina, nasceu em 1920 na cidade de Recife - PE. Segundo Gaspar (2018), ele viveu seus primeiros anos de vida na cidade de Moreno, junto aos engenhos de açúcar. Um tema muito recorrente em suas poesias são as paisagens pernambucanas, em que ele descreve as plantações de cana-de-açúcar. Melo Neto sempre se interessou por leitura - quando mais novo - lia livros para os trabalhadores do engenho que sua família detinha. Em 1930 cursou o secundário no Colégio Ponte d’Uchoa.

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Sua primeira publicação foi em 1940, intitulada Pedra do Sono, cerca de 340 livros foram produzidos (custeado por ele mesmo). Além da produção literária, ele também trabalhava no DASP em 1943, concursado. Segundo Gaspar (2018), foi nesta época que Melo Neto teve seus primeiros contatos com escritores cariocas. Dois anos depois, em 1945, ele ingressou no Itamaraty e iniciou sua carreira de diplomata e se aposentou em 1990. João Cabral de Melo Neto, segundo Secchin (2014), pertence à terceira geração dos modernistas ou a geração de

45. Seus escritos, embora literários e poéticos, apresentavam rigor e minúcia, sua fama era de “poeta arquiteto”. Morte e Vida Severina (Auto de Natal Pernambucano) foi uma das obras mais famosas e premiadas de João Cabral de Melo Neto. Foi escrita entre 1954 e 1955 e publicada em 1956 com muitas reedições, mais de sessenta, conforme Secchin (2014). A principal característica desta obra é o caráter de denúncia que o autor faz as condições de vida do nordestino, mostrando a grande relevância do poema quando a temática gira em torno da pobreza, seca e morte que assolavam o Nordeste, sobretudo o sertão pernambucano. O poema é divido em 18 trechos, que mostram a jornada de Severino da nascente do Rio Capibaribe até o mar na cidade de Recife (PINHEIRO NETO, 2012). “Neste auto de natal pernambucano, o protagonista Severino, à imagem do rio, desce do sertão para a cidade, e toda a travessia é pontuada por encontros com a morte [...]” (SECCHIN, 2014, p. 36).

Melo Neto ao contar a história de Severino, faz uma narrativa incomum, inicia pela morte e finaliza falando sobre a vida. O teor social e a crítica do autor estão na apresentação de problemáticas ligadas às condições do Nordeste brasileiro e as mazelas vividas pelos muitos “severinos” daquele espaço.


E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida) (MELO NETO, 2007, p. 92).


Nesta estrofe inicial do poema, Melo Neto apresenta a morte que é tão presente no dia a dia do Severino, mas, sobretudo, a forma como ela acomete a personagem, ligando esta narrativa à realidade das pessoas que vivem neste contexto social. Aparentemente, para Severino não há outra saída, não há mudanças de perspectivas de vida em meio a seca e pobreza. Dentro desta análise - o pensamento de Severino é quase determinista no sentido do seu destino, caso não se retire: a morte precoce.

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Severino retira-se rumo a Recife. A história se desenvolve como o ato de rezar um rosário, no qual, cada conta seria um local por onde ele passou - como a própria personagem

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disse: “cujas contas fossem vilas”, ou seja, o seu caminho rumo à parada final os mangues de Recife-PE.

A inversão da ordem natural (nesse caso morte e depois vida) apresenta-se não só no enredo, mas também no lugar dentro do poema. Severino saindo da Caatinga e indo rumo ao mangue. Pinheiro Neto (2012) afirma que na narrativa “tanto homem quanto rio saem do interior de Pernambuco” castigados pela seca, somente nas proximidades do litoral há vida e prosperidade, estimulando a migração do Severino.

Do ponto de vista das ciências ambientais, os manguezais são espécies de berços, onde muitas espécies de animais vão para procriar. Isso leva a uma suposição, Melo Neto, com sua poesia toda arquitetada, organizou a narrativa mostrando a água como algo essencial a vida. A água é elemento primordial de manutenção da vida no sertão em que se encontra Severino nos primeiros trechos da narrativa, a falta desse recurso gera uma mortalidade de tudo que há, sejam pessoas, animais e até mesmo a vegetação. Tal escassez e miséria culminam em violências, também apontadas no poema. Esta violência é retratada no trecho intitulado “Encontra dois homens carregando um defunto numa rede, aos gritos de: ‘ó irmão das almas! Não fui eu que matei não’”


E foi morrida essa morte, irmãos das almas, essa foi morte morrida ou foi matada? Até que não foi morrida, irmãos das almas, esta foi morte matada, numa emboscada. E o que guardava a emboscada, irmãos das almas, e com que foi que o mataram, com faca ou bala? Este foi morto de bala, irmão das almas, mais garantido é de bala, mais longe vara (MELO NETO, 2007, p. 94).


O poema narra duas pessoas carregando um corpo de uma pessoa que foi morta por um projétil de arma de fogo, justamente pela questão da posse de bens. Onde tudo é escasso, a violência se torna presente, isso tudo na ânsia pela sobrevivência. Onde não há quase nada, o pouco se torna de extremo valor, mesmo roçados em pedras.

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Para além das questões abordadas pela Sociologia, o poema também abarca uma perspectiva cultural, esta obra trata uma questão fundamental dentro da antropologia, a questão dos ritos de morte. Ao longo do desenvolver da narrativa, Severino, em sua caminhada, se depara com enterros e também com uma mulher que ganha a vida rezando em velórios. Severino pergunta diversas vezes sobre a possibilidade de emprego nessa região, ainda árida e seca. A mulher diz o tempo todo que nessa região, onde ela mora, não há outra profissão a não ser rezar pelos mortos, inclusive enfatiza que a morte é “um bom negócio”. Embora seja uma linguagem poética com figuras de linguagem, a relação entre uma pessoa morta e o ato de plantar, ilustram bem a semelhança entre Severino e a mulher na janela. O

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rito de morte é fundamental para a subsistência dessa mulher. Ambos sofrem com a seca, ambos também sabem plantar, porém, ali naquele espaço, os roçados de Severino não prosperam, porque segundo essa mulher, a “semente” que se “cultiva” e dá “frutos” é outra.


Como aqui a morte é tanta, só é possível trabalhar nessas profissões que fazem da morte ofício ou bazar. […] Só os roçados da morte compensam aqui cultivar, e cultivá-los é fácil: simples questão de plantar; não se precisa de limpa, de adubar nem de regar; as estiagens e as pragas fazemos mais prosperar; e dão lucro imediato; nem é preciso esperar pela colheita: recebe- se na hora mesma de semear (MELO NETO, 2007, p. 105-106).


Saindo da seca, o protagonista encontra o mangue, que pulula de vida. Nessa nova paisagem a vida impera, suplantando a morte e dando esperança de dias melhores. O rio não tem outra saída. Ele é, assim como os retirantes que buscam melhor vida, atraído pela mesma esperança, fugindo da dureza que viveu no início da jornada, lá no sertão. Sua sina é o mar, ele sabe que precisa cavar a terra, traçar caminhos, mesmo que tortuosos, para cumprir seu destino (PINHEIRO NETO, 2012, p. 335).


Ao final do poema, quando Severino chega ao mangue e encontra seu José Mestre Carpina, percebe que suas expectativas não foram atendidas e que no lugar onde esperava encontrar vida e autossustento, não encontra nada além das lamas do mangue onde pensa em se jogar e findar a sua vida. A extrema pobreza, a falta de condições materiais e uma perspectiva de vida sem possibilidades de mudanças para melhor, ou seja, “uma vida severina”, faz com que a personagem Severino não encontre solução, mais uma vez a morte é o consolo capaz de findar o sofrimento relacionado a miséria.


Seu José, mestre carpina, que diferença faria se em vez de continuar tomasse a melhor saída: a de saltar, numa noite, fora da ponte e da vida? (MELO NETO, 2007, p. 123).


Para Bispo (2009), o poema está além de uma narrativa que retrata somente as paisagens do Nordeste brasileiro, ele mostra de forma simbólica as mazelas que existem no Brasil – tudo isso marcado, também, pelas realidades socioeconômicas, exclusão social e subdesenvolvimento.

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Embora o poema apresente de forma tão incisa as questões da fome e das dificuldades da vida, Melo Neto ainda apresenta um “fio” de esperança a que ele chamou de vida. A criança, filho de Carpina, é o produto da fábrica que, segundo ele, também se chama “vida” e que “teimosamente se fabrica” (MELO NETO, 2007). Fabrica-se através das gerações e seus descendentes, em quem são depositadas esperanças de uma vida melhor, a criança significa a

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possibilidade de uma realidade diferente, talvez menos sofrida, é como se a vida se reinventasse em cada descendente.


Considerações finais


Diante do que foi exposto, este artigo se propôs a evidenciar as relações entres a realidade social e a narrativas que são feitas pela Literatura. João Cabral de Melo Neto conseguiu através do seu poema, chamar atenção para problemas significativos no Nordeste brasileiro, que sem dúvidas também são problemáticas sociais em outras regiões brasileiras. O poema é capaz de mostrar uma narrativa nacional que é peça fundamental para interpretar as realidades sociais e culturais. Morte e vida Severina remonta a identidade local e contribui para a identidade nacional (BRANDÃO, 2007). Severino representa uma gama de brasileiros que vivem sem perspectivas de uma vida digna e confortável e que muitas vezes não encontram um final feliz, diferentemente, de como é clássico em obras literárias. João Cabral, diante da interpretação desta análise, tenta mostrar esse outro lado do Brasil, um país tropical, rico em recursos e tão miserável em regiões, mas sobretudo as pessoas que agonizam de fome.


O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria (MELO NETO, 2007).


O autor não minimiza em nenhum momento as problemáticas, mostra o problema ao leitor e o faz encarar de frente tais questões. Mostra um Severino que poderia ser qualquer pessoa. Um nome próprio comum a todos. Uma sina que ninguém do sertão estaria livre - mas sobretudo como as condições mínimas de sobrevivência são precárias. João Cabral de Melo Neto denuncia em cada verso de seu poema o quão miserável as pessoas podem estar e o quão ricas e esperançosas podem ser.


REFERÊNCIAS


BISPO, M. M. G. Morte e vida severina: uma análise cultural. Revista Fórum Identidades, Ano III, v. 6, n. 3, jul./dez. 2009.


BRANDÃO, G. M. Linhagens do pensamento político brasileiro. São Paulo: Editora Hucitec, 2007.


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CANDIDO, A. Introdução. In: CANDIDO, A. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 7. ed. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Editora Itatiaia, 1993. p. 23-37.

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GASPAR, L. João Cabral de Mello Neto. Pesquisa Escolar Online. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2018. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/. Acesso em: 01 dez. 2019.


MELO NETO, J. C. Morte e vida severina e outros poemas. Rio de Janeiro: Objetivo: 2007.


PINHEIRO NETO, J. E. Geografia e literatura: a paisagem geográfica e ficcional em Morte e Vida Severina da João Cabral de Melo Neto. Boletim Campineiro de Geografia, v. 2, n. 2, 2012.


SCHWARZ, R. Nacional por subtração. In: SCHWARZ, R. Que horas são? Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 29-48.


SECCHIN, A. C. Poesia completa: João Cabral de Melo Neto. 1. ed. Lisboa: Glaciar: 2014.


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SOARES, A. M. S. O Poema, construção às avessas: uma leitura de João Cabral de Melo Neto. Rio Janeiro: Tempo Brasileiro; Brasília: INL, 1978.

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Como referenciar este artigo


COSTA, T. R. literatura e análise social: morte e vida severina como referência de interpretação da realidade social. Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 9, n. 2, p. 187-195, jul./dez. 2020. e-ISSN: 2358-4238. DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v9i2.13662


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Submetido em: 06/05/2020 Revisões requeridas: 11/08/2020 Aceito em: 10/10/2020 Publicado em:01/03/2021

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LITERATURE AND SOCIAL ANALYSIS: MORTE E VIDA SEVERINA AS A REFERENCE FOR SOCIAL INTERPRETATION


LITERATURA E ANÁLISE SOCIAL: MORTE E VIDA SEVERINA COMO REFERÊNCIA DE INTERPRETAÇÃO SOCIOLÓGICA


LITERATURA Y ANÁLISIS SOCIAL: MUERTE Y VIDA SEVERINA CÓMO REFERENCIA DE INTERPRETACIÓN SOCIOLÓGICA


Thiago Rodrigues COSTA1


ABSTRACT: Based on Gildo Marçal Brandão and Antonio Candido’s ideas, this article intends to discuss the relations between literature and the social sciences as it explains how the literary text adds to scientific thought in social analysis. Morte e vida Severina poem is taken as a reference to demonstrate the relevance of literary narrative, even without all the scientific rigor, to the interpretation of social reality, likewise make it an intelligible discussion.


KEYWORDS: Literature. Sociology. Morte e vida severina.


RESUMO: O presente artigo pretende abordar a relação entre a Literatura e as Ciências Sociais, tendo como base os pensamentos de Gildo Marçal Brandão e Antonio Candido, mostrando como o texto literário contribui para construção do pensamento científico em relação a análise social. Para exemplificar a relevância e tornar a discussão inteligível, este artigo buscou como referência o poema Morte e vida Severina e mostra como a narrativa literária é relevante diante da interpretação da realidade social, mesmo que ela não tenha o rigor do método científico.


PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Sociologia. Morte e vida severina.


RESUMEN: El presente artículo pretende abordar una relación entre Literatura y Ciencias Sociales, basada en los pensamientos de Gildo Marçal Brandão y Antonio Candido, mostrando cómo el texto literario contribuye a la construcción de un pensamiento científico en un análisis social. Para ejemplificar una relevancia y hacer una discusión inteligible, este artículo busca como referencia o poema Morte e vida Severina y muestra cómo la narración literaria es relevante al interpretar la realidad social, incluso si no tiene el rigor del método científico.


PALABRAS CLAVE: Literatura. Sociologia. Muerte y vida severina.


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1 São Paulo State University (UNESP), Araraquara – SP – Brazil. Undergraduate student in Social Sciences. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9844-2311. E-mail: thiago.costa@unesp.br

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Introduction


This article proposes to dialogue with Literature and Social Sciences. Using authors who thought about methodological issues of social analysis, this work sought in Gildo Marçal Brandão and Antonio Candido the references to relate the literary texts with the Social Sciences. Brandão (2007) states that the main theoretical instruments of analysis of the Brazilian social reality are in Brazil itself, he points out the need to read and interpret national thinkers that have tradition and relevance, in parallel, criticizes imported theories that are unable to read, interpret and identify Brazilian issues and specificities. In view of the national productions defended by Brandão, this analysis brings Candido's thinking that reflects on national Literature and its social and historical relevance, that is, it shows how the literary text is allied with the human sciences, even if it does not present scientific methods.

To make the reflection intelligible, this article brought as main example the poem Morte e vida Severina by the poet João Cabral de Melo Neto. The intention is to show how this work is in tune with the social reality, through the narrative of the poem that expresses the main social issues and problems in Northeast Brazil, above all, the relationship between the construction of the local narrative and its contribution to the construction of a Brazilian identity. By pointing out social problems linked to drought, it also shows how plural the Brazilian territory is and draws attention to an extremely diverse national unity.


Social reality and literature: the literary text as a reference


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Brandão (2007) addresses the methodological issues related to the construction, analysis and interpretation of Brazilian political thought, saying that theory and reality must be aligned. In order to understand the reality and the social and political problems, it is necessary to consider the relevant academic-scientific productions that explain the dynamics and social movements constituted. Scientific theories are instruments of analysis, references and narratives that explain issues in which they were or are responsible for the current situation (BRANDÃO, 2007). This author discusses and collates the relationship between theoretical productions and the analyzed reality. He affirms that a theory that fails to explain reality correctly, is not able to work on its problems. Brandão (2007) criticizes and rejects any production that proposes “scientific” explanations based on utopian ideas. Studying social thought, as well as the most relevant productions, means understanding the trajectories and interpretations of these thoughts that are situated in a given time and space, that is, the previous readings and analyzes are the basis for understanding the social movements

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constituted in contemporary times. "Despite the dated character of many of its theoretical propositions and empirical bases, the fact is that they continue to be read as witnesses of the past and as sources of problems, concepts, hypotheses and arguments for the scientific investigation of the present" (BRANDÃO, 2007, p. 234, our translation).

The Brazilian national territory is immense and rich in different socio-political realities that together are capable of expressing our identity. Schwarz (1994) says that to read the Brazilian reality it is necessary to use the national references of Brazilian thinkers and authors and not to import methods from other contexts to try, at all costs, to place them in a forced analysis. Moving external concepts to our reality and specificities can, as Brandão (2007) states, create utopias, precisely because of conclusions and considerations that are out of alignment with the object studied. Schwarz (1994) points out that it is necessary to include in the debate the theorists who proposed to explain Brazil, even if they did it wrongly based on the paradigms of the time, science does not start from scratch and refutations need to be grounded, respecting the theoretical frameworks.


In fact, if one of the peculiarities of the study of political thought is that it aspires to be a constituent part of the object studied, then, in examining its great works, the reference to those readings “must operate there as an element of control and, at several times, as a controversial dimension against the analyzes that seek to understand a coherent and original thought from its exterior” (BRANDÃO, 2007, p. 238, our translation).


Literature, properly speaking, is the “mirror of the social” because it reflects issues portrayed in its time, even if it does not have the scientific rigor, this artistic expression portrays the paradigms, thoughts and problems. Even though it is not deeply approached by Brandão and Schwarz, Literature is a relevant national production to deal with and discuss Brazilian problems.


In this sense, we can understand that Literature is one of the paths to understand the world, perceptible in the way it deals with the different aspects of man's life; one of these aspects is space, both fictitious and real. Through the actions and feelings of the fictional character, we can perceive the relationship between man and the place where he lives (PINHEIRO NETO, 2012, p. 325, our translation).


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Literature, according to Candido (1993), does not have historical autonomy, precisely because it contains elements that are psychic, subjective and without method, although it expresses social elements. From the scientific methodological perspective, the literary text does not present a rigor in the expression of reality, however, “Literature opens objects that

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support the scientific construction of knowledge” (PINHEIRO NETO, 2012, p. 326, our translation).

To be recognized as a literary work, it has to express the local reality in which it is inserted, as a relevant part of the national reality, even if it presents regional specificities (CANDIDO, 1993). The literary text, being inserted in a time and space, articulates paradigms that are in vogue at the time it was written, that is, it has a historical orientation, but also a social coherence. Literature is committed to expressing, even if not faithfully, a collective feeling, that is, common to people (CANDIDO, 1993). Therefore, even if it does not represent an autonomous reality, the literary text is capable of being an important reference for the reading of the constituted social movements.


Morte e Vida Severina is subtitled "Auto de natal Pernambuco" and goes back to the transposition of the birth of Christ to the mangroves of Recife, updating the genre and giving the auto a new aesthetic dimension. Far from dealing with religious themes, the poet is attached to the social and the political, denouncing the sores of the people of Pernambuco (PINHEIRO NETO, 2012, p. 320, our translation).


In light of what was previously mentioned, this article seeks to show the relevance of the work Morte e vida severina, by João Cabral de Melo Neto, in view of the reading of poverty and misery in the Northeast of Brazil, a fundamental piece to understand Brazil. Although the narrative of this poem develops in Pernambuco, João Cabral de Melo Neto portrayed the conditions of poverty and, above all, the Brazilian social problems. As previously mentioned, having as reference Candido (1993) and Pinheiro Neto (2012), Morte e vida Severina, even though it is a literary text, has the capacity to compose analyzes and interpretations of the issues that characterize the Brazilian identity, through a regional narrative present this poem.


Morte e vida severina: a social interpretation of poverty


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João Cabral de Melo Neto, the author of Morte e Vida Severina, was born in 1920 in the city of Recife - PE. According to Gaspar (2018), he lived his first years of life in the city of Moreno, along with sugar mills. A very recurring theme in his poetry is the Pernambuco landscape, in which he describes the sugarcane plantations. Melo Neto was always interested in reading - when younger - he read books for the workers of the mill that his family owned. In 1930 he attended high school at Ponte d’ Uchoa School. His first publication was in 1940, entitled Pedra do Sono (Sleep Stone), about 340 books were produced (all paid for by

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himself). In addition to literary production, he also worked at DASP in 1943, taking a public office. According to Gaspar (2018), it was at this time that Melo Neto had his first contacts with writers from Rio de Janeiro. Two years later, in 1945, he joined Itamaraty and started his career as a diplomat and retired in 1990. João Cabral de Melo Neto, according to Secchin (2014), belongs to the third generation of modernists or the generation of 45. His writings, although literary and poetic, they were rigorous and thorough, his fame was that of an “architect poet”. Morte e Vida Severina (Auto de Natal Pernambucano) was one of João Cabral de Melo Neto's most famous and award-winning works. It was written between 1954 and 1955 and published in 1956 with many reissues, more than sixty, according to Secchin (2014). The main characteristic of this work is the character of denunciation that the author makes the living conditions of the Northeasterner, showing the great relevance of the poem when the theme revolves around the poverty, drought and death that plagued the Northeast, especially the backlands of Pernambuco. The poem is divided into 18 sections, which show Severino's journey from the source of the Capibaribe River to the sea in the city of Recife (PINHEIRO NETO, 2012). “In this Pernambuco christmas auto, the protagonist Severino, in the image of the river, descends from the hinterland to the city, and the entire crossing is punctuated by encounters with death [...]” (SECCHIN, 2014, p. 36, our translation).

Melo Neto when telling the story of Severino, makes an unusual narrative, begins with death and ends by talking about life. The social content and the criticism of the author are in the presentation of problems related to the conditions of the Brazilian Northeast and the ailments experienced by the many “severinos” of that space.


And if we are Severinos equal in everything in life, we die of equal death, the same severe death: which is the death of dying of old age before thirty, of ambush before twenty, of hunger a little bit a day (of weakness and of disease is that the severina death attacks at any age, even unborn people) (MELO NETO, 2007, p. 92, our translation).


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In this initial stanza of the poem, Melo Neto presents the death that is so present in Severino's daily life, but, above all, the way it affects the character, linking this narrative to the reality of the people who live in this social context. Apparently, for Severino, there is no other way out, there are no changes in life prospects amid drought and poverty. Within this analysis - Severino's thinking is almost deterministic in the sense of his destiny, in case he does not withdraw: early death.

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Severino leaves for Recife. The story develops as the act of praying a rosary, in which, each bead would be a place where he passed - as the character himself said: “whose beads were villages”, that is, his way towards the final stop the mangroves of Recife-PE.

The inversion of the natural order (in this case, death and then life) appears not only in the plot, but also in the place within the poem. Severino leaving the Caatinga and heading towards the mangrove. Pinheiro Neto (2012) affirms that in the narrative “both man and river leave the interior of Pernambuco” punished by drought, only in the vicinity of the coast is there life and prosperity, stimulating Severino's migration.

From the point of view of environmental sciences, mangroves are a kind of cradles, where many species of animals go to breed. This leads to an assumption, Melo Neto, with his poetry all architectured, organized the narrative showing water as something essential to life. Water is a fundamental element for maintaining life in the hinterland in which Severino is found in the first parts of the narrative, the lack of this resource generates a mortality of everything that exists, be it people, animals and even vegetation. Such scarcity and misery culminate in violence, also pointed out in the poem. This violence is portrayed in the passage entitled “Finds two men carrying a deceased in a hammock, shouting: ‘O brother of souls! I did not take the kill’”


And was that death dead, brothers of souls, was that death dead or was it killed? It was not dead, brothers of souls, this was death killed, in an ambush. And what did the ambush held, brothers of souls, and what did they kill him with, knife or bullet? This one was killed by a bullet, brother of souls, more guaranteed is a bullet, it pierces farther (MELO NETO, 2007, p. 94, our translation).


The poem narrates two people carrying a body of a person who was killed by a firearm projectile, precisely because of the possession of goods. Where everything is scarce, violence becomes present, all in the anxiety for survival. Where there is almost nothing, the little becomes of extreme value, even poor fields on stones.

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In addition to the issues addressed by Sociology, the poem also encompasses a cultural perspective, this work deals with a fundamental issue within anthropology, the issue of death rites. Throughout the development of the narrative, Severino, in his walk, is faced with burials and also with a woman who makes a living praying at funerals. Severino asks several times about the possibility of employment in this region, which is still arid and dry. The woman says all the time that in this region, where she lives, there is no other profession than praying for the dead, including emphasizing that death is "a good deal". Although it is a poetic language with figures of speech, the relationship between a dead person and the act of

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planting, illustrate well the similarity between Severino and the woman at the window. The death rite is essential for the survival of this woman. Both suffer from drought, both also know how to plant, but there, in that space, Severino's gardens do not thrive, because according to this woman, the “seed” that is “cultivated” and bears “fruit” is another.


As there is so much death here, it is only possible to work in those professions that make death a job or a bazaar. […] Only the fields of death compensate here to cultivate and cultivating them is easy: simple matter of planting; you do not need to clean, fertilize or water; droughts and plagues make us prosper more; and it give immediate profit; you do not even have to wait for the harvest: you receive it right at the time of sowing (MELO NETO, 2007, p. 105-106, our translation).


Coming out of the drought, the protagonist finds the mangrove, which teems with life. In this new landscape, life reigns, supplanting death and giving hope for better days. The river has no other way out. It is, like the withdrawers who are looking for a better life, attracted by the same hope, fleeing the hardness that it lived at the beginning of the journey, there in the hinterland. Its fate is the sea, it knows that it needs to dig the land, trace paths, even if tortuous, to fulfill its destiny (PINHEIRO NETO, 2012, p. 335, our translation).


At the end of the poem, when Severino arrives at the mangrove and finds his José Mestre Carpina, he realizes that his expectations have not been met and that in the place where he hoped to find life and self-support, he finds nothing but the mud of the mangrove where he thinks of throwing himself and ending his life. The extreme poverty, the lack of material conditions and a perspective of life without possibilities for changes for the better, that is, “a life severina”, makes the character Severino find no solution, once again death is the consolation capable of end suffering related to misery.


Mr. José, master carpina, what difference would it make if instead of continuing to take the best way out: to jump, one night, off the bridge and life? (MELO NETO, 2007, p. 123, our translation).


For Bispo (2009), the poem is beyond a narrative that portrays only the landscapes of the Brazilian Northeast, it symbolically shows the sores that exist in Brazil - all this, also marked by socioeconomic realities, social exclusion and underdevelopment.

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Although the poem presents the issues of hunger and life's difficulties so sharply, Melo Neto still presents a “thread” of hope that he called life. The child, Carpina's son, is the product of the factory which, according to him, is also called "life" and which "stubbornly manufactures" (MELO NETO, 2007). It is made through generations and their descendants, in

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whom hopes for a better life are placed, the child means the possibility of a different reality, perhaps less suffered, it is as if life is reinvented in each descendant.


Final considerations


In light of what has been exposed, this article aims to highlight the relationships between social reality and the narratives that are made by Literature. João Cabral de Melo Neto managed, through his poem, to drawn attention to significant problems in Northeast Brazil, which are undoubtedly also social problems in other Brazilian regions. The poem is capable of showing a national narrative that is a fundamental piece to interpret social and cultural realities. Morte e vida Severina goes back to the local identity and contributes to the national identity (BRANDÃO, 2007). Severino represents a range of Brazilians who live without the prospect of a dignified and comfortable life and who often do not find a happy ending, differently from how is classic in literary works. João Cabral, faced with the interpretation of this analysis, tries to show this other side of Brazil, a tropical country, rich in resources and so miserable in regions, but above all the people who are dying of hunger.


My name is Severino, as I do not have another. As there are many Severinos, who is a pilgrimage saint, they gave me the name Severino de Maria (MELO NETO, 2007, our translation).


The author does not minimize the problems at any time, he shows the problem to the reader and makes him face these issues head on. Shows a Severino that could be anyone. A name common to all. A fate that no one in the hinterland would be free of - but above all, how the minimum conditions for survival are precarious. João Cabral de Melo Neto denounces in each verse of his poem how miserable people can be and how rich and hopeful they can be.


REFERENCES


BISPO, M. M. G. Morte e vida severina: uma análise cultural. Revista Fórum Identidades, Ano III, v. 6, n. 3, jul./dez. 2009.


BRANDÃO, G. M. Linhagens do pensamento político brasileiro. São Paulo: Editora Hucitec, 2007.


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CANDIDO, A. Introdução. In: CANDIDO, A. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 7. ed. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Editora Itatiaia, 1993. p. 23-37.

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GASPAR, L. João Cabral de Mello Neto. Pesquisa Escolar Online. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2018. Available: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/. Access: 01 Dec. 2019.

MELO NETO, J. C. Morte e vida severina e outros poemas. Rio de Janeiro: Objetivo: 2007.


PINHEIRO NETO, J. E. Geografia e literatura: a paisagem geográfica e ficcional em Morte e Vida Severina da João Cabral de Melo Neto. Boletim Campineiro de Geografia, v. 2, n. 2, 2012.


SCHWARZ, R. Nacional por subtração. In: SCHWARZ, R. Que horas são? Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 29-48.


SECCHIN, A. C. Poesia completa: João Cabral de Melo Neto. 1. ed. Lisboa: Glaciar: 2014.


SOARES, A. M. S. O Poema, construção às avessas: uma leitura de João Cabral de Melo Neto. Rio Janeiro: Tempo Brasileiro; Brasília: INL, 1978.


How to reference this article


COSTA, T. R. A Literature and social analysis: Morte e vida Severina as a reference for social interpretation. Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 9, n. 2, p. 187-195, July/Dec. 2020. e- ISSN: 2358-4238. DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v9i2.13662


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Submitted: 06/05/2020 Required revisions: 11/08/2020 Accepted: 10/10/2020 Published: 01/03/2021

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