EL SURGIMIENTO DEL MODERNO PRÍNCIPE NEO-PENTECOSTAL A PARTIR DEL DESFASAJE DE LOS PARTIDOS POLÍTICOS COMO FORMA DE ORGANIZACIÓN COLECTIVA
THE EMERGENCE OF THE MODERN NEO-PENTECOSTAL PRINCE FROM THE LAG OF POLITICAL PARTIES AS A FORM OF COLLECTIVE ORGANIZATION
Renan Augusto CARVALHO1
RESUMEN: Las experiencias exitosas en el siglo XX de mezcla entre capitalismo y democracia permitió confirmar el diagnóstico de Gramsci a partir de la relectura de Maquiavelo: los partidos políticos serían capaces de hacer una determinada organización cultural y societaria. Sin embargo, en la situación brasileña, esas organizaciones aparecen con mayor fuerza en la vida pública tras la apertura democrática, localizado en un ambiente global de una diminuta actuación de esas asociaciones. Teniendo en vista la perdida de ese espacio de actuación, este trabajo aborda la acción del neo-pentecostalismo en la reconfiguración del moderno príncipe, haciendo una determinada voluntad colectiva y reactualizando el escenario político institucional.
PALABRAS CLAVE: Partidos políticos. Voluntad colectiva. Moderno príncipe. Neo- pentecostalismo.
ABSTRACT: The 20th century’s successful experiences of combining capitalism and democracy allowed Gramsci’s diagnosis to be confirmed from the rereading of Machiavelli: political parties would be capable of creating a particular cultural and societal organization.
However, in the Brazilian case, such organizations appear with greater vigor in public life after democratic opening, situated in a global environment of the diminished performance of these associations. Beholding the loss of this space of action, the present work addresses the action of neo-pentecostalism in the reconfiguration of the modern prince, achieving a certain collective will and re-updating the institutional political scenario.
KEYWORDS: Political parties. Collective will. Modern prince. Neo-pentecostalism.
Nos últimos anos foi possível observar no cenário político brasileiro a profusão de atores provenientes da religião evangélica. Por vezes tendo maior coesão coletiva do que organizações tradicionais, eles foram responsáveis por reorientar políticas sociais e pautar a opinião pública acerca de problemáticas da sociedade que, em virtude da delicadeza de seu tema, demandaria um amplo debate nacional.
Sua atuação política, no entanto, não é mero acaso histórico. Ao contrário, ela está centrada em uma dimensão lógica que identifica os dilemas da sociedade brasileira e atua justamente em sua mediação e resolução.
Foi historicamente compreendido que Maquiavel destinou sua obra a Lourenço de Médici, abordando um determinado conjunto de princípios que o príncipe inexoravelmente haveria de ter para uma boa governabilidade. Após séculos transcorridos, surge o questionamento: a quem verdadeiramente o autor italiano dedicava sua obra? Haveria a necessidade de uma família composta por herdeiros do trono ter noção acerca de tais questões políticas?
Gramsci (2007) nos aponta que possivelmente o objetivo de Maquiavel não era promover uma formação doutrinária ao príncipe para que este levasse a cabo a necessária formação do Estado italiano. O que estava ali colocado era sua mensagem destinada ao povo, na medida em que é possível traçar um conjunto de aspectos constitutivos da vida política que tal ator seria o principal agente.
A compreensão da obra em seu contexto é de maior relevância do que a identificação de seu público-alvo. Em um período, portanto, de grande instabilidade política situada no cenário italiano, o príncipe deve ter um conjunto de valores para a resolução de tais conflitos e na consolidação do Estado-nação. Maquiavel conhecia de pertos esses conflitos, não apenas por
ser historiador e filósofo, mas também pela atuação como diplomata e conselheiro da República Florentina. No entanto, ele é um homem de seu tempo, sendo necessário que a compreensão seja situada a partir desta premissa básica. Neste sentido, Gramsci destaca as particularidades de tal período:
1) das lutas internas da república florentina e da estrutura particular do Estado que não sabia libertar-se dos resíduos comunal-municipais, isto é, de uma forma bloqueadora de feudalismo; 2) das lutas entre os Estados italianos por um equilíbrio no âmbito italiano, que era obstaculizado pela existência do Papado e dos outros resíduos feudais, municipalistas, da forma estatal citadina e não territorial; 3) das lutas dos Estados italianos mais ou menos solidários por um equilíbrio europeu, ou seja, das contradições entre as necessidades de um equilíbrio interno italiano e as exigências dos Estados europeus em luta pela hegemonia (GRAMSCI, 2007, p. 29).
A partir desses pormenores dos objetivos que visa seu trabalho, o príncipe quinhentista teria o propósito de desempenhar a função organizativa da sociedade e da cultura nacional. Caberia, portanto, atuar em uma determinada área em que se buscava sua homogeneização contendo em si alguns dispositivos básicos ainda que dispersos, como língua, costumes e valores.
Em um período de agitações políticas de outra ordem, Gramsci (2007) retoma Maquiavel visando a compreensão dos motivos de fracasso da revolução na Itália e busca ressignificar uma compreensão marxista acerca da política. Desde as obras de Marx, o entendimento da política democrática pelos socialistas, como modo de operar a política no interior do Estado, só era possível tendo em vista a manutenção do poder pela classe dominante, a burguesia. A partir desta concepção, entendia-se que toda mudança qualitativa da situação do proletariado seria através da revolução que almejava o comunismo, pressuposto esse que excluía a democracia representativa, resultando na negação da própria política. Ao retomar Maquiavel, portanto, a política partidária para Gramsci passa a ter um viés positivo, ao ponto de o partido político realizar as funções que eram destinadas anteriormente ao príncipe, no que toca sua capacidade de organização cultural e societária.
Dado tais dimensões deste processo, é inegável que o partido político possui grande importância para a realização da política. Como destacável relevância, a competição partidária foi capaz de unir dois polos antagônicos no século XX: capitalismo e democracia.
Muitos pensadores acreditavam que ambas as esferas eram incompatíveis entre si. Essa era uma constatação comum entre dois autores distintos em suas orientações, como Stuart Mill e Marx, por exemplo. Segundo Offe (1984), o primeiro afirmava que na ocorrência da “política democrática de massa”, os caros valores ao liberalismo estariam sendo ameaçados, qual seja, a
liberdade e a independência. Marx, a seu modo, analisou a “constituição democrática francesa de 1848 como uma forma política que exacerbaria as contradições sociais” (OFFE, 1984, p. 356), solapando os valores sustentadores da sociedade burguesa.
Ao contrário do que Mill e Marx esperavam, o sistema capitalista e a democracia representativa continuaram a existir de modo simultâneo. Isso só foi possível pois a competição partidária, em conjunção com o modelo econômico de welfare state keynesiano, permitiram arranjar um modelo de regime que as tradições intelectuais do século XIX encaravam como inconciliáveis. No entanto, ao trabalho em questão ser considerado um estudo de tendência do século XX, Offe alerta para o fato de este modelo estar sendo paulatinamente colocado em questão:
É possível argumentar (...) que a forma de participação política das massas baseada no e canalizada através do sistema partidário (i.e., de acordo com os princípios da representação territorial, da competição partidária e da representação parlamentar) já esgotou grande parte da sua utilidade para conciliar o capitalismo e a política de massas. Isto parece acontecer porque a forma política do partido está sendo cada vez mais ultrapassada e substituída por outras práticas e processos de participação e representação política (OFFE, 1986, p. 367).
É necessário levantar uma consideração a partir dessa problemática no caso brasileiro. Para Offe, a forma de conciliação entre capitalismo e democracia estava situada entre as décadas de 1930 até 1970, período em que aspectos de sua crise começa a surgir. No entanto, tal período no Brasil é marcado pela ocorrência de dois regimes ditatoriais distintos intercalado por uma vaga experiência democrática, inviabilizando o mesmo acontecimento histórico.
Uma outra dimensão do mesmo problema é a tentativa do movimento empreendido a partir da Constituição Federal de 1988. A partir de um processo de “catching up social”, o Brasil poderia identificar quais foram as experiências historicamente vantajosas que poderiam ser adotadas em um ambiente democrático. No entanto, o período em questão está situado em uma nova configuração global de governabilidade, destacando-se medidas de menor atuação estatal (DARDOT; LAVAL, 2016; KERSTENETZKY, 2012).
Nesse sentido, na medida que houvesse uma inviabilidade da atuação dos partidos políticos enquanto organizador da cultura dada a ausência de um ambiente propício – com exceção do papel crucial do Partido dos Trabalhadores (PT) no processo de abertura democrática –, há o surgimento de um novo ator social que reivindica tais meios: o neopentecostalismo.
Representando uma grande força no campo religioso a partir da década de 1970 no Brasil, a religião neopentecostal abarca, em sua maioria, indivíduos de estratos inferiores da camada social. Nesse sentido, seu principal foco diretivo está centrado numa inversão de valores na concepção do protestantismo: no momento de conversão de sua alma, o indivíduo não busca prioritariamente a fé eterna; ao contrário, ela está direcionada a angariar ganhos terrestres. Em outras palavras, é o que ficou comumente conhecido como Teologia da Prosperidade (BURNATELLI; LAHUERTA, 2014; FRESTON, 1993).
Somado a busca pela prosperidade, as igrejas neopentecostais estão centradas pelo empenho da cura e libertação. A partir das críticas estabelecidas por esse segmento religioso, Mariz elenca um conjunto de caracterizações dessas igrejas:
Serem imediatistas, buscarem soluções pragmáticas;
Oferecem soluções mágicas apelando para a superstição popular;
Praticarem charlatanismo (fazerem ou prometerem falsas curas ou curas impossíveis. Ordenando, por exemplo, que os fiéis quebrem seus óculos);
Apelarem para o emocionalismo;
Carecerem de teologia, não usarem a bíblia suficientemente, adotarem um cristianismo superficial;
Não enfatizarem uma proposta ética e moral (MARIZ, 1995, p. 42).
Para os propósitos deste trabalho, interessa ressaltar que há uma clara distinção entre os pentecostais tradicionais e os neopentecostais: sua relação proposta entre religião e política. Na medida em que os primeiros buscam o distanciamento da política, os segundos prezam sua aproximação, adotando perspectivas de cunho clientelista em suas diretrizes (MARIZ, 1995).
A partir disto, cabe um resgate de Gramsci para a compreensão dessa problemática. Foi alertado anteriormente que os partidos políticos no Brasil emergiram pós abertura democrática em um ambiente instável quanto a resolução de seus papeis organizacionais. Esse processo permite a origem de uma nova forma de organização, atuando nos espaços que eram próprias destas associações políticas. Essa possibilidade é bem destacada pelo cientista político italiano:
O moderno príncipe, o mito-príncipe não pode ser uma pessoa real, um indivíduo concreto, só pode ser um organismo; um elemento complexo de sociedade no qual já tenha tido início a concretização de uma vontade coletiva reconhecida e afirmada principalmente na ação (GRAMSCI, 2007, p. 16).
E mais adiante:
O moderno Príncipe não deve e não pode deixar de ser o anunciador e o organizador de uma reforma intelectual e moral, o que significa, de resto, criar
o terreno para um novo desenvolvimento da vontade coletiva nacional-popular no sentido da realização de uma forma superior e total de civilização moderna (GRAMSCI, 2007, p. 18).
O movimento neopentecostal, na medida que assume o papel do moderno Príncipe, aborda um conjunto de variáveis que estão relacionados a uma determinada vontade coletiva. Em primeiro lugar, está um acentuado processo de individualização – identificado na figura do indivíduo empreendedor (BURNATELLI; LAHUERTA, 2014) – no sentido de seus ganhos materiais estarem orientados a um processo coletivo de ofertas e dízimos. A partir disso, as recorrentes realidades testemunhadas de prosperidade – uma certa ritualização do processo da penúria à opulência, do fracasso à abundância – fundamentam e legitimam ambos os mecanismos. Esse capital econômico, inclusive, será um dos filtros para a seleção dos religiosos que se lançam à política.
Em segundo lugar, ainda que na formação do neopentecostalismo haja uma grande simbiose com religiões de matrizes africanas, há nas suas práticas internas uma produção massiva de inimigos a serem combatidos, no qual seu principal alvo será as religiões afro- brasileiras (ORO, 2006).
Por fim, a última variável é a síntese de todo esse processo. A confluência de cada vez mais atores políticos desta vertente disputando eleições nos mais diversos âmbitos, incorpora todas essas dimensões na defesa desse grupo particular. Ao invés de se aterem a uma demanda eminentemente de caráter público, tais segmentos se destinam a representar seus vieses particulares de cunho majoritariamente conservador.
Conforme salientado anteriormente, o movimento pentecostal era compreendido por uma certa distância entre religião e política. No momento em que tanto o pentecostalismo como o neopentecostalismo se apresentam como o novo organizador de uma determinada vontade coletiva, alguns aspectos são constitutivos dessa mudança de vertente. Freston elenca três delas:
Aspectos do sistema político (como sistema eleitoral proporcional e partidos fracos), da conjuntura política e econômica da Nova República (de redemocratização política no contexto econômico da “década perdida”), e da evolução interna da AD2 (superposição de um mínimo de estruturação das Convenções com o “totalitarismo” sectário) facilitaram a mobilização eleitoral dos fiéis e a inserção político-partidária (FRESTON, 1993, p. 181).
O movimento político das igrejas evangélicas – incluindo aqui tanto os segmentos pentecostais quanto os neopentecostais – buscam uma acentuada diferenciação dos aspectos que rondam as organizações políticas tradicionais. Na formulação de suas narrativas e
2 Assembleia de Deus.
programas eleitorais, seu compromisso não é moldado destinando uma ampla adesão de eleitores; tais segmentos, ao contrário, buscam a identificação com os adeptos do protestantismo.
Esse fato está relacionado ao exercício do voto por parte do cidadão. Há toda uma literatura acadêmica, sobretudo os trabalhos produzidos a partir da teoria da escolha racional, que dotam de um racionalismo a ação de escolha do candidato por parte do eleitor (DOWNS, 1999). No caso em questão, os instrumentais dispostos pelos líderes políticos provenientes das igrejas evangélicas produzem um efeito mais eficaz nesse empreendimento: a resposta esperada por eles pelos indivíduos está centrada em um movimento de identificação, na medida que sua base eleitoral é majoritariamente evangélica.
Além do mais, ao passo que os partidos buscam seus possíveis candidatos a partir de posições de destaques na sociedade civil, há uma tendência – com especial destaque à Assembleia de Deus – de filiação dos candidatos em um ambiente interno. Nesse sentido, os indivíduos são encontrados e escolhidos no interior das igrejas, com exceção dos empresários. Freston ainda apresenta uma variedade de alternância de legendas partidárias e vertentes ideológicas que um mesmo político evangélico experenciou durante sua trajetória política. Segundo o próprio autor, isso acontece em decorrência de uma acentuação de um “anti- partidarismo devido à estrutura sectária” (FRESTON, 1993, p. 207). Assim, é possível realizar
uma consideração.
Foi apresentado a “aventura política” das igrejas evangélicas enquanto um descompromisso com os mecanismos políticos de mediação existentes (MARIZ, 1995). Somada a este fato, há um progressivo descrédito da capacidade dos partidos políticos em apreenderem e realizarem uma determinada vontade coletiva. Ora, o anti-partidarismo abordado por Freston nada mais é que o elemento natural da lógica de operação desses grupos, dado que suas propostas não são destinadas ao conjunto da sociedade e os partidos são meras formalidades para adentrarem institucionalmente à disputa eleitoral.
Visto que se remetem a um eleitorado protestante, tais políticos realizam o contraponto daquilo que Mitchels identificou nos partidos políticos: conforme ocorre sua profissionalização, há uma necessidade de desradicalização de suas bases partidárias, realizando assim uma perda de identificação aos filiados dos partidos (MITCHELS, 1911). Ao se direcionar nessa contramão, a relação empreendida com sua base eleitoral é destituída de mediações burocráticas e institucionais, produzindo maior coesão na formatação da vontade coletiva e possibilitando um acabamento maior de hegemonia cultural (GRAMSCI, 2007).
Ao tocante a disputa de hegemonia, os políticos evangélicos estabelecem em suas narrativas um conjunto de defesas morais e culturais que produzem efeito direto em seu eleitorado (FRESTON, 1993; MARIZ, 1995). Tais atos de defesas (afronte às religiões afro- brasileiras e postura anticomunista) não são meramente defensivas: é o príncipe moderno em ação, buscando homogeneizar suas perspectivas culturais e valorativas.
Além do mais, o projeto em questão realiza uma releitura bíblica de suas posturas. O evangélico não é mais compreendido como distanciado da política, sendo de seu escopo realizar seu “destino político manifesto” (FRESTON, 1993, p. 213).
O recente desenrolar das religiões evangélicas permite demonstrar uma mudança de postura em um período recente. Não é por acaso que se verifica cada vez mais um maior número de políticos que advém desse segmento religioso.
Sua estratégia política, no entanto, não é meramente algo simplista no jogo político. A partir da tendência da derrocada do papel dos partidos políticos em um contexto global e a instabilidade de atuação no cenário político pós abertura democrática, os segmentos religiosos
o pentecostalismo e o neopentecostalismo – tende a desempenhar uma função mais eficaz nesse ambiente político.
Tendo como principal eleitor a base protestante, o político em questão traz consigo um determinado conjunto de mecanismos distintos daqueles dispostos por partidos políticos. Sua diferenciação está centrada numa narrativa mais enérgica colocada em questões sociais, moralistas e culturais, sem a devida preocupação de ter posturas moderadas para angariar uma maior quantidade de votos.
Nesse sentido, ao passo que o moderno Príncipe não é necessariamente o partido político
devido a sua inviabilidade atual –, os segmentos evangélicos tomam para si esse espaço de atuação na perspectiva de realizar uma vontade coletiva já em ação, aglutinando consigo forças políticas até então dispersas. A partir do exposto, pode se concluir que, ao contrário de qualquer outra força social, tais segmentos foram mais perspicazes na construção de uma estratégia política no qual se estabelece uma identidade cultural e política.
BURNATELLI, G.; LAHUERTA, M. O neopentecostalismo e os dilemas da modernidade periférica sob o signo do novo desenvolvimentismo brasileiro. Revista Brasileira de Ciência
DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2016.
DOWNS, A. Uma teoria econômica da democracia. São Paulo: EDUSP, 1999.
FRESTON, P. Protestantes e política no Brasil: da constituinte ao impeachment. 1993. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 1993.
GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere: Maquiavel. Notas sobre o estado e a política. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
MARIZ, C. Perspectivas sociológicas sobre o pentecostalismo e o neopentecostalismo. Revista de Cultura Teológica, São Paulo (SP), n. 13, p. 37-52, 1995. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/culturateo/issue/view/972. Acesso em: 27 jul. 2020.
OFFE, C. A democracia partidária competitiva e o “welfare state” keynesiano: fatores de estabilidade e desorganização. In: Problemas estruturais do estado capitalista. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.
ORO, A. P. O “neopentecostalismo macumbeiro”. Revista USP, São Paulo (SP), n. 68, p. 319-332, 2006. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/issue/view/1069. Acesso
em: 27 jul. 2020.
CARVALHO, R. A. O surgimento do moderno príncipe neopentecostal a partir da defasagem dos partidos políticos como forma de organização coletiva. Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 10, e021009, jan./dez. 2021. e-ISSN 2358-4238. DOI:
https://doi.org/10.29373/sas.v10i00.14006
O SURGIMENTO DO MODERNO PRÍNCIPE NEOPENTECOSTAL A PARTIR DA DEFASAGEM DOS PARTIDOS POLÍTICOS COMO FORMA DE ORGANIZAÇÃO COLETIVA
EL SURGIMIENTO DEL MODERNO PRÍNCIPE NEO-PENTECOSTAL A PARTIR DEL DESFASAJE DE LOS PARTIDOS POLÍTICOS COMO FORMA DE ORGANIZACIÓN COLECTIVA
Renan Augusto CARVALHO1
RESUMO: As experiências exitosas no século XX de combinação entre capitalismo e democracia permitia confirmar o diagnóstico de Gramsci a partir da releitura de Maquiavel: os partidos políticos seriam capazes de realizar uma determinada organização cultural e societária. No entanto, no caso brasileiro, tais organizações aparecem com maior vigor na vida pública pós abertura democrática, situado em um ambiente global de uma diminuta atuação destas associações. Tendo em vista a perda desse espaço de atuação, o presente trabalho aborda a ação do neopentecostalismo na reconfiguração do moderno príncipe, realizando uma determinada vontade coletiva e reatualizando o cenário político institucional.
PALAVRAS-CHAVE: Partidos políticos. Vontade coletiva. Moderno príncipe. Neopentecostalismo.
RESUMEN: Las experiencias exitosas en el siglo XX de mezcla entre capitalismo y democracia permitió confirmar el diagnóstico de Gramsci a partir de la relectura de Maquiavelo: los partidos políticos serían capaces de hacer una determinada organización cultural y societaria. Sin embargo, en la situación brasileña, esas organizaciones aparecen con mayor fuerza en la vida pública tras la apertura democrática, localizado en un ambiente global de una diminuta actuación de esas asociaciones. Teniendo en vista la perdida de ese espacio
de actuación, este trabajo aborda la acción del neo-pentecostalismo en la reconfiguración del moderno príncipe, haciendo una determinada voluntad colectiva y reactualizando el escenario político institucional.
PALABRAS CLAVE: Partidos políticos. Voluntad colectiva. Moderno príncipe. Neo- pentecostalismo.
In recent years it has been possible to observe in the Brazilian political scene the profusion of actors from the evangelical religion. Sometimes having greater collective cohesion than traditional organizations, they have been responsible for reorienting social policies and influencing public opinion on social issues that, due to the delicacy of their subject matter, would require a broad national debate.
Its political action, however, is not a mere historical coincidence. On the contrary, it is centered in a logical dimension that identifies the dilemmas of Brazilian society and acts precisely in its mediation and resolution.
It was historically understood that Machiavelli dedicated his work to Lorenzo de Medici, addressing a certain set of principles that the prince would inexorably have to have for good governance. After centuries have passed, the question arises: to whom was the Italian author really dedicating his work? Was there a need for a family composed of heirs to the throne to be aware of such political issues?
Gramsci (2007) points out that possibly Machiavelli's goal was not to promote a doctrinal formation to the prince so that he could carry out the necessary formation of the Italian state. What was placed there was his message aimed at the people, insofar as it is possible to trace a set of constitutive aspects of political life that such an actor would be the main agent.
The understanding of the work in its context is of greater relevance than the identification of its target audience. In a period, therefore, of great political instability in the Italian scenario, the prince must have a set of values for the resolution of such conflicts and the consolidation of the nation-state. Machiavelli had a close knowledge of these conflicts, not only because he was a historian and philosopher, but also because of his work as a diplomat and advisor to the Florentine Republic. However, he is a man of his time, and it is necessary to
understand him from this basic premise. In this sense, Gramsci highlights the particularities of such a period:
1) the internal struggles of the Florentine republic and the particular structure of the state that could not free itself from the communal-municipal residues, that is, from a blocking form of feudalism; 2) the struggles between the Italian states for a balance within the Italian sphere, which was hindered by the existence of the Papacy and of the other feudal, municipalist residues of the citadine and non-territorial state form; 3) of the struggles of the more or less solidary Italian states for a European balance, that is, of the contradictions between the needs of an internal Italian balance and the demands of the European states in struggle for hegemony (GRAMSCI, 2007, p. 29, our translation).
Based on these details of the objectives of his work, the prince would have the purpose of performing the organizing function of society and of the national culture. It was up to him, therefore, to act in a certain area in which homogenization was sought, containing in itself some basic, though disperse, mechanisms, such as language, customs, and values.
In a period of political agitations of another order, Gramsci (2007) resumes Machiavelli aiming to understand the reasons for the failure of the revolution in Italy and seeks to re-signify a Marxist understanding about politics. Since the works of Marx, the understanding of democratic politics by socialists, as a way of operating politics within the State, was only possible having in mind the maintenance of power by the dominant class, the bourgeoisie. From this conception, it was understood that any qualitative change in the situation of the proletariat would be through the revolution that aimed at communism, an assumption that excluded representative democracy, resulting in the negation of politics itself. By retaking Machiavelli, therefore, party politics for Gramsci becomes positive, to the extent that the political party performs the functions that were previously destined to the prince, regarding its capacity of cultural and societal organization.
Given such dimensions of this process, it is undeniable that the political party has great importance for the realization of politics. As an outstanding relevance, party competition was able to unite two antagonistic poles in the 20th century: capitalism and democracy.
Many thinkers believed that both spheres were incompatible with each other. This was a common observation between two authors who were distinct in their orientations, Stuart Mill and Marx, for example. According to Offe (1984), the former asserted that in the occurrence of "mass democratic politics," the values dear to liberalism were being threatened, namely, freedom and independence. Marx, in his way, analyzed the "French democratic constitution of
1848 as a political form that would exacerbate social contradictions" (OFFE, 1984, p. 356), undermining the sustaining values of bourgeois society.
Contrary to what Mill and Marx expected, the capitalist system and representative democracy continued to exist simultaneously. This was only possible because party competition, in conjunction with the Keynesian welfare state economic model, made it possible to arrange a model of regime that the intellectual traditions of the 19th century viewed as irreconcilable. However, as the work in question is considered a trend study of the 20th century, Offe warns that this model is gradually being called into question:
It is possible to argue (...) that the form of political participation of the masses based on and channeled through the party system (i.e., according to the principles of territorial representation, party competition, and parliamentary representation) has already exhausted much of its usefulness in reconciling capitalism and mass politics. This seems to be because the political form of the party is increasingly being outmoded and replaced by other practices and processes of political participation and representation (OFFE, 1986, p. 367, our translation).
It is necessary to raise a consideration from this problematic in the Brazilian case. For Offe, the form of conciliation between capitalism and democracy was situated between the 1930s and the 1970s, the period in which aspects of its crisis begin to emerge. However, this period in Brazil is marked by the occurrence of two distinct dictatorial regimes interspersed by a vague democratic experience, making the same historical event impossible.
Another dimension of the same problem is the attempt of the movement undertaken since the 1988 Federal Constitution. Through a process of "social catching up", Brazil could identify which were the historically advantageous experiences that could be adopted in a democratic environment. However, the period in question is situated in a new global configuration of governance, highlighting measures of less state action (DARDOT; LAVAL, 2016; KERSTENETZKY, 2012).
In this sense, to the extent that there was an unfeasibility of the performance of political parties as organizers of culture given the absence of a propitious environment - except for the crucial role played by the Workers' Party (PT) in the democratic opening process - there is the emergence of a new social actor that claims such means: the Neo-Pentecostalism.
Representing a great force in the religious field as of the 1970s in Brazil, the Neo- Pentecostal religion embraces, in its majority, individuals from the lower strata of the social
stratum. In this sense, its main directive focus is centered on a reversal of values in the conception of Protestantism: at the moment of conversion of its soul, the individual does not seek primarily eternal faith; on the contrary, he is directed to obtain earthly gains. In other words, it is what has become commonly known as Prosperity Theology (BURNATELLI; LAHUERTA, 2014; FRESTON, 1993).
In addition to the search for prosperity, the Neo-Pentecostal churches are centered on the commitment to healing and deliverance. Based on the criticisms established by this religious segment, Mariz lists a set of characterizations of these churches:
To be immediate, to look for pragmatic solutions;
They offer magical solutions by appealing to popular superstition; - Practicing charlatanism (making or promising false cures or impossible cures. Ordering, for example, that the faithful break their glasses); - Appeal to emotionalism;
Lacking theology, not using the Bible sufficiently, adopting a superficial Christianity;
They do not emphasize an ethical and moral proposal (MARIZ, 1995,
p. 42, our translation).
For the purposes of this paper, it is important to emphasize that there is a clear distinction between traditional Pentecostals and Neo-Pentecostals: their proposed relationship between religion and politics. While the former aim at distancing themselves from politics, the latter favor their approximation, adopting a clientelistic perspective in their guidelines (MARIZ, 1995).
From this point on, Gramsci should be rescued to understand this problematic. It was alerted previously that political parties in Brazil emerged after the democratic opening in an unstable environment regarding the resolution of their organizational roles. This process allows the origin of a new form of organization, acting in the spaces that were proper of these political associations. This possibility is well highlighted by the Italian political scientist:
The modern prince, the myth-prince cannot be a real person, a concrete individual, he can only be an organism; a complex element of society in which the concretization of a collective will recognized and affirmed mainly in action has already begun (GRAMSCI, 2007, p. 16, our translation).
And further on:
The modern Prince must not and cannot fail to be the herald and organizer of an intellectual and moral reform, which means, moreover, creating the ground for a new development of the national-popular collective will towards the realization of a higher and total form of modern civilization (GRAMSCI, 2007, p. 18, our translation).
The Neo-Pentecostal movement, to the extent that it assumes the role of the modern Prince, addresses a set of variables that are related to a certain collective will. First, there is a marked process of individualization - identified in the figure of the entrepreneurial individual (BURNATELLI; LAHUERTA, 2014) - in the sense that their material gains are oriented to a collective process of offerings and tithes. From this, the recurrent realities witnessed of prosperity - a certain ritualization of the process from penury to opulence, from failure to abundance - ground and legitimize both mechanisms. This economic capital will even be one of the filters for the selection of the religious who launch themselves into politics.
Secondly, although in the formation of Neo-Pentecostalism there is a great symbiosis with religions of African matrix, there is in its internal practices a massive production of enemies to be fought, in which its main target will be the Afro-Brazilian religions (ORO, 2006).
Finally, the last variable is the synthesis of this whole process. The confluence of more and more political actors of this slant disputing elections in the most diverse spheres incorporates all these dimensions in the defense of this group. Instead of adhering to an eminently public demand, these segments are destined to represent their biases of a mostly conservative nature.
As pointed out earlier, the Pentecostal movement was understood by a certain distance between religion and politics. Now in which both Pentecostalism and Neo-Pentecostalism present themselves as the new organizer of a certain collective will, some aspects are constitutive of this change of slant. Freston lists three of them:
Aspects of the political system (such as proportional electoral system and weak parties), the political and economic conjuncture of the New Republic (of political re-democratization in the economic context of the "lost decade"), and the internal evolution of AD2 (overlapping of a minimal structuring of the Conventions with sectarian "totalitarianism") facilitated the electoral mobilization of the faithful and party-political insertion (FRESTON, 1993, p. 181, our translation).
The political movement of the evangelical churches - including here both Pentecostal and Neo-Pentecostal segments - seek a marked differentiation from the aspects that surround traditional political organizations. In the formulation of their electoral narratives and programs, their commitment is not shaped by aiming at a broad adhesion of voters; such segments, on the contrary, seek identification with the adherents of Protestantism.
2 Assembly of God.
This fact is related to the exercise of voting by the citizen. There is a whole academic literature, especially the works produced from the rational choice theory, which endow the voter's action of choosing a candidate with rationalism (DOWNS, 1999). In the case in question, the instruments arranged by political leaders coming from evangelical churches produce a more effective effect in this enterprise: the response expected by them by individuals is centered in a movement of identification, to the extent that their electoral base is mostly evangelical.
Moreover, while the parties seek their possible candidates from prominent positions in civil society, there is a tendency - especially in the Assembly of God - for candidates to affiliate with an internal environment. In this sense, individuals are found and chosen inside the churches, except for businessmen.
Freston still presents a variety of alternation of party legions and ideological trends that the same evangelical politician experienced during his political career. According to the author himself, this happens because of an accentuation of an "anti-partisanship due to the sectarian structure" (FRESTON, 1993, p. 207). Thus, it is possible to make a consideration.
The "political adventure" of the evangelical churches was presented as a lack of commitment to the existing political mechanisms of mediation (MARIZ, 1995). Added to this fact, there is a progressive discrediting of the ability of political parties to apprehend and realize a certain collective will. Now, the anti-partisanship addressed by Freston is nothing more than the natural element of the operating logic of these groups, given that their proposals are not aimed at society, and the parties are mere formalities to enter the electoral dispute institutionally.
Since they refer to a Protestant electorate, such politicians accomplish the counterpoint of what Mitchels identified in political parties: as their professionalization occurs, there is a need of de-radicalization of their party bases, thus accomplishing a loss of identification to the parties' affiliates (MITCHELS, 1911). By going in this direction, the relationship undertaken with their electoral base is deprived of bureaucratic and institutional mediations, producing greater cohesion in the formatting of the collective will and enabling a greater finish of cultural hegemony (GRAMSCI, 2007).
In the hegemony dispute, evangelical politicians establish in their narratives a set of moral and cultural defenses that produce a direct effect on their electorate (FRESTON, 1993; MARIZ, 1995). Such acts of defense (affront to Afro-Brazilian religions and anti-communist stance) are not merely defensive: it is the modern prince in action, seeking to homogenize its cultural and value perspectives.
Moreover, the project in question performs a biblical re-reading of its stances. The evangelical is no longer understood as detached from politics, being of its scope to fulfill its "manifest political destiny" (FRESTON, 1993, p. 213, our translation).
The recent development of the evangelical religions allows us to demonstrate a change of attitude in a recent period. It is no coincidence that there is an increasing number of politicians coming from this religious segment.
Their political strategy, however, is not merely something simplistic in the political game. With the tendency of the decline of the role of political parties in a global context, and the instability of the political scene after the democratic opening, the religious segments - Pentecostalism and Neo-Pentecostalism - tend to play a more effective role in this political environment.
Having as his main constituency the Protestant base, the politician in question brings with him a certain set of mechanisms distinct from those arranged by political parties. His differentiation is centered on a more energetic narrative placed on social, moralistic, and cultural issues, without the due concern for having moderate stances to garner a larger number of votes.
In this sense, while the modern Prince is not necessarily the political party - due to its current unfeasibility -, the evangelical segments take upon themselves this space of action in the perspective of realizing a collective will already in action, agglutinating with themselves political forces that were until then dispersed. From the above it can be concluded that, unlike any other social force, such segments were more perspicacious in the construction of a political strategy in which a cultural and political identity is established.
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