Nelson Souza SOARES1
RESUMEN: El estudio antropológico en el escenario urbano tiene peculiaridades en relación a los estudios realizados en comunidades tradicionales. En el paisaje urbano, los grupos se insertan en contextos más amplios dentro de redes complejas con numerosas interacciones y significados. José Guilherme C. Magnani (2005) buscó una forma de análisis en la que considere a los actores sociales con sus especificidades y el espacio en el que operan, siendo este último un producto y factor determinante en la práctica social, y no un simple escenario. Magnani formuló categorías de análisis a partir de esta idea de considerar el espacio como un elemento que se puede estudiar. En este artículo buscamos un análisis de los aportes metodológicos que el uso del concepto de circuito puede conducir a la investigación etnomusicológica urbana, específicamente en el estudio de contextos juveniles que involucran música popular.
PALABRAS CLAVE: Etnomusicologia. Antropologia urbana. Circuito como categoría analítica.
ABSTRACT: The anthropological study in the urban scene has peculiarities in relation to studies carried out in traditional communities. In the urban landscape, groups are inserted in large contexts within complex networks with restrictions and meanings. José Guilherme C. Magnani (2005) intend a form of analysis in which he considers the social actors with their specificities and the space that they operate, the latter being a determining product and factor
1 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Belo Horizonte– MG – Brasil. Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Música. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9084-5653. E-mail: nelsonss13@hotmail.com
of social practice, and not a simple scenario. Magnani formulates categories of analysis based on this idea of considering space as an element that can be studied. In this paper we seek an analysis of the methodological contributions that the use of the concept of circuit can bring to urban ethnomusicological research, specifically on study of youth contexts involving popular music.
KEYWORDS: Etnomusicoly. Urban antropology. Circuit as an analytical category.
Na década de 1960 ocorreram profundas transformações sociais em um mundo polarizado, entre o capitalismo e o socialismo, e preso culturalmente a tradições antigas que não conseguiam acompanhar a velocidade das mudanças. Nesse contexto há uma explosão de movimentos sociais que impactam principalmente as camadas jovens da população, gerando mudanças significativas não apenas para aquela geração, mas também para as gerações que se seguiram. Os avanços proporcionados pelos meios de comunicação como a televisão, o cinema americano, discos, fitas e rádio, propiciaram o surgimento de uma cultura juvenil internacional, simbolizada, segundo Hobsbawm (1995), pelo jeans e o rock ‘n’ roll. A prosperidade econômica estadunidense no pós-guerra levou a um aumento do poder aquisitivo dos jovens trabalhadores, ocasionando uma ampliação do mercado voltado para juventude, especialmente na indústria fonográfica.
A categoria juventude ganha importância na sociedade na segunda metade do século XX, a pesquisa científica acompanha esse crescimento, especialmente nas áreas da sociologia e antropologia. Conceitos como subculturas, tribos urbanas e culturas juvenis ganharam relevância nessa conjuntura e serviram de base para diversos estudos que abordaram os jovens e suas sociabilidades.
O conceito de juventude vem sendo discutido academicamente desde o início do século XX a partir de Stanley Hall, contudo essa tarefa enfrenta dificuldades pelo seu próprio caráter de construção histórica, que guarda variabilidades consideráveis entre diferentes períodos, além de ser abordado a partir de diversos termos, como adolescência, adolescentes, juventude e jovens (ARROYO, 2013, p. 17). Não pretendemos, contudo, nos alongar nessa discussão haja vista que essa tarefa seria demasiado extensa e não é o foco principal de nosso trabalho, nos deteremos a uma definição simples, entendendo juventude como “uma classe de idade entre a infância e a adultez com lugar social e cultural próprio” (ARROYO, 2013, p. 23).
Nesse texto discutiremos o conceito de circuito conforme formulação de José Guilherme Cantor Magnani, professor da Universidade de São Paulo e coordenador do Laboratório do Núcleo de Antropologia Urbana (NAU). Magnani integra os atores sociais com os espaços no qual interagem, esses espaços não são meros cenários, mas produtos da prática social e até fator determinante para essas práticas.
A música ocupa um lugar de destaque na sociabilidade juvenil, sendo elemento agregador dos grupos de jovens, seja através da prática musical em si, como base para estilos de dança ou como mero gosto musical em comum. Nas próximas páginas trataremos sobre a pesquisa em contextos urbanos sobre os jovens e sua música, com enfoque nas possibilidades proporcionadas pela ideia de circuito enquanto categoria analítica.
A antropologia se concentrou inicialmente no estudo das sociedades ditas “exóticas”, como pode ser visto em alguns trabalhos pioneiros realizados por Margaret Mead e Bronislaw Malinowski que abordaram povos insulares da Oceania, ou Franz Boas que estudou tribos inuítes na Ilha de Baffin. Estes trabalhos consideravam necessário o distanciamento do investigador do seu objeto de pesquisa.
A partir da década de 1920 a pesquisa etnológica ganha força em contexto urbano. A cidade de Chicago havia passado por um crescimento demográfico desordenado após a primeira guerra mundial, o mercado local e a própria aparelhagem urbana não foram suficientes para absorver completamente a essa nova demanda, levando parte de sua população a miséria e pobreza. Autores da chamada Escola de Chicago, como Fredric Trasher e Louis Wirth, se interessaram em investigar essa população marginalizada.
Na década de 1960, os Estudos Culturais no Birmingham Centre for Contemporary Cultural Studies propuseram um novo modelo de análise urbana, dessa vez já com foco na juventude. Autores como Stuart Hall e Dick Hedbige consideraram os movimentos juvenis, chamados aqui de subculturas, como resistência e desvio em relação à cultura hegemônica. A partir da década de 1980 essa abordagem foi criticada por, supostamente, ser adequada apenas a condição dos jovens da classe trabalhadoras (CORTÉS, 2008).
Com foco sobre a questão da identidade, e não dos desvios como nas subculturas, Maffesoli (1987) utiliza o conceito de tribos urbanas, entendo essas como agrupamentos de jovens, ainda que efêmeros e fragmentados, que guardam uma identificação comum, como os
skinhead2 e punks3, esse neotribalismo é “caracterizado pela fluidez, pelos ajuntamentos pontuais e pela dispersão” (MAFFESOLI, 1987, p. 107). Magnani (2005) critica esse termo usado por Maffesoli entendendo que a palavra “tribo” possa levar interpretações equivocadas, devido ao sentido a ele atribuído em estudos tradicionais de etnologia, impróprio em boa parte das vezes a grupos juvenis atuais, todavia isso:
[...] não quer dizer que não se possa empregar esse termo com algum proveito, mas é necessário estar atento para as limitações e particularidades inerentes a essa forma de utilização (MAGNANI, 2007, p. 17).
Na Espanha e no México, pesquisas sobre a juventude realizadas a partir da década de 1990 dão origem a Escola Ibero-americana que substitui a ideia de tribos urbanas por culturas juvenis, que são uma:
maneira em que as experiências sociais dos jovens são expressas coletivamente mediante a construção de estilos de vida distintos, localizados fundamentalmente no tempo livre e nos espaços intersticiais da vida institucional (FEIXA, 2004, p. 9, tradução nossa).4
As culturas juvenis buscam uma interpretação alternativa às tribos urbanas, que seriam baseadas no efêmero, provisório e instável, o foco se afasta da marginalidade e se aproxima mais da identidade, entendendo a juventude e suas manifestações como algo do cotidiano, onde os jovens criam a suas próprias práticas culturais, e não se constitui como uma anormalidade. Córtes entende as culturas juvenis como:
[...] um conceito que não pode ser englobado nem determinado por posturas biologicistas e funcionalistas da juventude, mas sim como um processo em contínuo movimento (CORTÉS, 2008, p. 265, tradução nossa).5
Magnani se dedicou a desenvolver ferramentas analíticas mais adequadas às dinâmicas culturais e à sociabilidade urbana através de uma olhar de perto e dentro, em contraste com a abordagem clássica do olhar de fora e de longe, sem, contudo, ignorar a necessidade de distanciamento como complemento que visa ampliar o horizonte de análise. Magnani ressalta
2 Subcultura jovem surgida inicialmente na Grã-Bretanha no final dos anos de 1960. Foi uma reação da classe operária aos hippies e à sua própria marginalização social. Os skinheads transformaram em virtude as características da classe operária (SHUKER, 1999, p. 258).
3 O Punk surgiu na Inglaterra por entre 1977 e 1980, trata-se de um estilo rápido e agressivo, sob o lema “do it yourself” incentiva os jovens a formarem suas próprias bandas mesmo sem dominarem a técnica de seus instrumentos musicais (SHUKER, 1999, p. 222).
4 manera en que las experiencias sociales de los jóvenes son expresadas colectivamente mediante la construcción de estilos de vida distintivos, localizados fundamentalmente en el tiempo libre o en espacios intersticiales de la vida institucional (FEIXA, 2004, p. 9).
5 [...] um concepto que no puede ser englobado ni determinado por las posturas biologicistas y funcionalistas de la juventud, sino más bien como un proceso en continuo movimiento (CORTÉS, 2008, p. 265).
o caráter de desenvolvimento constante das diretrizes metodológicas da antropologia buscando adequação aos temas estudados:
[...] desde as primeiras incursões a campo, a antropologia vem desenvolvendo e colocando em prática uma série de estratégias, conceitos e modelos que, não obstante as inúmeras revisões, críticas e releituras (quem sabe até mesmo graças a esse continuado acompanhamento exigido pela especificidade de cada pesquisa), constituem um repertório capaz de inspirar e fundamentar abordagens sobre novos objetos e questões atuais (MAGNANI, 2005, p. 11).
Para Magnani os debates sobre a questão urbana por vezes compreendem a cidade como uma entidade a parte dos seus habitantes, entendendo o ambiente urbano como “cenário desprovido de ações, atividades, pontos de encontro, redes de sociabilidade” (MAGNANI, 2005, p. 14). Não chega a haver nesse caso, uma ausência de atores sociais, mas a prevalência de uns sobre os outros com predominância dos representantes do capital.
Consideramos que a contribuição fundamental de Magnani foi perceber a importância dos espaços, nas etnografias urbanas, como elementos fundamentais de sociabilidade e como local de trocas e interações. Magnani (2002) buscou identificar as particularidades desses espaços e criou uma família de categorias analíticas que dessem conta do complexo fenômeno social urbano e funcionassem como uma espécie de modelo aplicável em situações distintas. Essa categorização permite enfrentar o caos semiológico da pesquisa etnográfica urbana e delimitar de forma mais efetiva o vago campo da “Antropologia das sociedades complexas”. A ideia é ir além da fragmentação que parece caracterizar as cidades, buscando na realidade, identificar padrões e regularidades no comportamento dos atores sociais utilizando a família de categorias como recortes que visam delimitar espaços e permitam o exercício da descrição etnográfica. Essas categorias são: pedaço, mancha, trajeto, pórtico e circuito. Descreveremos essas categorias com base no artigo de Magnani intitulado De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana.
O pedaço é um espaço geográfico com a presença regular de membros que se comunicam entre si e possuem um código de reconhecimento. Essa noção de pedaço é formada basicamente por dois elementos: um de ordem espacial, com um território demarcado de forma clara; e outro de ordem social, constituído por uma rede de relações que se estendem pelo território. O pedaço (que pode ser um bar, lanchonete, salões de festa etc.) é “lugar de passagem e encontro” e para se fazer parte desse espaço de sociabilidade é necessário se situar numa determinada rede de relações, na qual os membros do pedaço se reconhecem como
portadores dos mesmos símbolos, gostos, valores, modos de vida e hábitos de consumo (MAGNANI, 2002, p. 21).
A mancha ocorre quando alguns lugares se tornam ponto de referência para um número diverso de frequentadores. Possui um espaço físico mais amplo que o pedaço e por ela circulam pessoas de procedência variada, sem a necessidade de laços estreitos entre elas. Manchas são áreas contíguas dotadas de certos equipamentos, por exemplo, uma mancha de lazer pode se localizar numa determinada região com concentração de bares, cinemas, teatros, cafés, restaurantes etc., constituindo pontos de referência para determinadas atividades.
Diferentemente do que ocorre no pedaço, para onde o indivíduo se dirige em busca dos iguais, que compartilham os mesmos códigos, a mancha cede lugar para cruzamentos não previstos, para encontros até certo ponto inesperados, para combinatórias mais variadas. Numa determinada mancha sabe-se que tipo de pessoas ou serviços se vai encontrar, mas não quais, e é esta a expectativa que funciona como motivação para seus frequentadores (MAGNANI, 2002, p. 23).
Os trajetos são caminhos entre os pedaços e as manchas, pois esses espaços não estão isolados na paisagem urbana, os atores sociais circulam entre eles de acordo com uma determinada lógica, seguindo rotas que não são aleatórias. O trajeto é uma forma de uso do espaço que se refere a fluxos em um território mais abrangente na cidade e nas manchas. “Assim, a ideia de trajeto permite pensar tanto uma possibilidade de escolhas no interior das manchas como a abertura dessas manchas e pedaços em direção a outros pontos no espaço urbano e, por consequência, a outras lógicas” (MAGNANI, 2002, p. 23).
Os pórticos são caracterizados por espaços vazios na paisagem urbana, são pontos de passagem, não pertencendo a nenhuma mancha especificamente, mas se localizando entre elas, para Magnani é uma:
Terra de ninguém, lugar do perigo, preferido por figuras liminares e para a realização de rituais mágicos – muitas vezes lugares sombrios que é preciso cruzar rapidamente, sem olhar para os lados (MAGNANI, 2002, p. 23).
O circuito é “um ponto de partida para a abordagem do tema sobre o comportamento dos jovens nos grandes centros urbanos” (MAGNANI, 2007, p. 18), servindo como complementação ou contraposição em relação às culturas juvenis e tribos urbanas.
Trata-se de uma categoria que descreve o exercício de uma prática ou a oferta de determinado serviço por meio de estabelecimentos, equipamentos e espaços que não mantêm entre si uma relação de contiguidade espacial, sendo reconhecido em seu conjunto pelos usuários habituais: por exemplo, o circuito gay, o circuito dos cinemas de arte, o circuito neo-esotérico, dos
salões de dança e shows black, do povo-de-santo, dos antiquários, dos
clubbers e tantos outros (MAGNANI, 2002, p. 23-24).
Magnani considera importante chamar a atenção para a sociabilidade e não para as expressões ligadas a questão geracional e para as pautas de consumo, como propõe as culturas juvenis que, para esse autor, ainda situam os grupos juvenis na categoria de subcultura. As permanências e regularidades são enfatizadas ao invés da fragmentação e nomadismo na perspectiva das tribos urbanas. Assim Magnani descreve as linhas gerais de sua proposta:
Em vez da ênfase na condição de “jovens” que supostamente remete à diversidade de manifestações a um denominador comum, a ideia é privilegiar a sua inserção na paisagem urbana por meio da etnografia dos espaços por onde circulam, onde estão seus pontos de encontro e ocasiões de conflitos, além dos parceiros com quem estabelecem relações de troca. Mais concretamente, o que se busca com tal opção é um ponto de vista que permita articular dois elementos presentes nessa dinâmica: os comportamentos (recuperando aspectos da mobilidade, dos modismos etc., enfatizados nos estudos sobre esse segmento) e os espaços, instituições e equipamentos urbanos que, ao contrário, apresentam um maior (e mais diferenciado) grau de permanência na paisagem (MAGNANI, 2007, p. 19).
Nos deteremos a seguir nas possibilidades aplicação do conceito de circuito no estudo etnomusicológico urbano.
A pesquisa acadêmica desenvolvida na área da música por muito tempo se restringiu a música erudita ocidental, entendida como representante da alta cultura. Até os dias de hoje essa abordagem ainda é parte considerável da produção, provavelmente em função do predomínio da formação erudita nas graduações em música, inclusive no Brasil. Boa parte dos trabalhos que se relacionam a música popular, seja vinculada a indústria cultural ou a manifestações tradicionais, é proveniente de áreas como antropologia, sociologia e história.
Apesar disso desde o século XIX a musicologia alemã já continha uma subdivisão denominada vergleichende Musikwissenschaft,6 aproximadamente equivalente ao que entendemos hoje como etnomusicologia. O termo passou por diversas denominações como pesquisa musical etnológica, folclore e etnologia musical, antropologia da música e até música dos povos estranhos, se firmando na década de 1950 como etnomusicologia (PINTO, 2001, p. 224).
6 Podemos traduzir esse termo como musicologia comparada.
O antropólogo Alan P. Merriam, com sua obra The anthropology of music de 1964, traçou linhas gerais para uma base para a pesquisa antropológica da música, essa abordagem etnomusicológica previa a integração de métodos de estudo da antropologia e da música. Essa última é definida por Merrian como forma de integração social entre músicos e receptores, constituindo uma forma de comunicação e relação entre indivíduo e grupo.
Pinto descreve as diretrizes gerais que caracterizam uma abordagem musicológica e antropológica. Na musicológica o fenômeno musical se encontra em primeiro plano e na antropológica o pesquisador vê a música como elemento inserido no seu contexto cultural, o que Merrian propôs foi uma junção dessa abordagem no processo etnomusicológico. Para Pinto, por muito tempo, a etnomusicologia foi considerada uma ciência híbrida “pertencente à musicologia quanto a seus conteúdos e à antropologia quando se trata de seus métodos de pesquisa” (PINTO, 2001, p. 223). Sobre as possibilidades de interação da música com a antropologia Pinto nos diz:
O fato de permear tantos momentos nas vidas das pessoas, de organizar calendários festivos e religiosos, de inserir-se nas manifestações tradicionais, representando, simultaneamente, um produto de altíssimo valor comercial, quando veiculada pelas mídias e globalizando o mundo no nível sonoro, faz da música um assunto complexo e rico de possibilidades para a investigação e o saber antropológicos (PINTO, 2001, p. 223).
Apesar do já citado espaço ocupado pela música erudita na produção acadêmica das graduações e pós-graduações em música, nas últimas décadas os objetos de pesquisa passaram cada vez mais a incorporar formas populares e outras manifestações culturais e ritualísticas.
A música é um elemento quase indispensável na sociabilidade dos jovens na cidade, em seu artigo O circuito dos jovens urbanos, Magnani descreve pesquisas etnográficas conduzidas no Núcleo de Antropologia Urbana da USP, as pesquisas descritas se referem aos straight edge, uma espécie de variante vegana do movimento punk; as baladas Black e rodas de samba, os boys e streeteiros na estação Conceição do metrô, a mancha de lazer da Vila Olímpia, o ponto de encontro e saídas das raves7 na Galeria Ouro Fino, forró universitário, pichadores e jovens instrumentistas. Os straight edge são apreciadores da música punk, as baladas black e as rodas de samba se constituem a partir do circuito de música negra do centro de São Paulo, os boys e streeteiros são ligados ao hip-hop,8 base de sua dança; o ponto de
7 Tipo de festa surgido nos EUA e Reino Unido na década de 1980, normalmente são realizadas em espaços amplos e possuem longa duração. A dance music serve de trilha sonoras desses eventos (SHUKER, 1999, p. 234).
8 Fenômeno cultural que engloba vestuário, linguagem, forma de andar entre outros elementos. Tem como núcleo musical o rap (SHUKER, 1999, p. 232).
encontro da Galeria Ouro Fino é frequentado pelos apreciadores de música eletrônica; o forró universitário é obviamente ligado ao gênero musical nordestino, e os jovens instrumentistas que se encontram semanalmente na rua Teodoro Sampaio são praticantes da música instrumental. Desses exemplos apresentados apenas os pichadores e os participantes da mancha de lazer da Vila Olímpia não são diretamente envolvidos com gêneros ou movimentos musicais.
A partir desses indícios, podemos constatar que a música é importante na sociabilidade dos jovens, sendo em alguns casos, o componente central que liga os membros de um determinado grupo juvenil, como ocorre no grupo dos jovens instrumentistas. Às vezes o elemento agregador é a dança, como ocorrido no circuito do forró universitário, nos boys e streeteiros, e provavelmente nas baladas black e rodas de samba, nesse caso os estilos de dança são associados a gêneros musicais, o que torna a música fundamental na constituição dos grupos.
Devido à frequência com que a música se apresenta como fundamento em torno do qual os grupos juvenis se unem, acreditamos que a linguagem musical forneça possibilidade de compreensão do funcionamento dos próprios grupos juvenis, seus símbolos, sua sociabilidade, seus códigos de comunicação e suas visões sobre política e sociedade. Em uma visão mais etnomusicológica, nos casos em que a prática musical ocorre entre membros do grupo, a análise pode ocorrer de forma inversa, buscando entender como a vida nesse circuito de jovens afeta sua produção musical ou ainda como esses aspectos se influenciam mutuamente.
O conceito de circuito é promissor em estudos que tenham como foco a música popular juvenil urbana, acreditamos que na maior parte das vezes existe um circuito que comporta a execução e a fruição das performances musicais.
a novidade que circuito introduziu nessa “família” de categorias, em virtude de sua capacidade de vincular domínios não necessariamente marcados pela contiguidade espacial, como ocorre nas demais, foi a de ligar pontos descontínuos e distantes no tecido urbano, sem perder, contudo, a perspectiva de totalidades dotadas de coerência – mesmo na vastidão da cidade de São Paulo – e desta forma construir unidades analíticas mais consistentes (MAGNANI, 2014, p. 3).
Em um estudo etnográfico clássico, a aldeia ou tribo circunscreve o universo de pesquisa, presume-se que as relações de sociabilidade e trocas dos atores sociais tem como palco aquele espaço territorial. Em uma cidade, principalmente em uma metrópole, existe uma dispersão acentuada que dificulta o exercício da etnografia, o circuito propicia o estudo de um
determinado grupo mesmo no caótico cenário urbano. Arroyo compreende que embora o conceito de circuito, conforme proposto por Magnani, se aplique originalmente aos grandes centros:
possibilita no estudo da interação de jovens com as músicas a abrangência de um universo mais amplo do que aquele estudado em grande parte da literatura centrada nos conceitos de subculturas juvenis, tribos urbanas e culturas juvenis (ARROYO, 2013, p. 37).
A concepção da música como área passível de conhecimento científico é relativamente recente se comparado a outros campos tradicionais de conhecimento, uma forma de buscar sua consolidação foi se apropriando de metodologias oriundas da antropologia, história, sociologia etc. No caso específico deste trabalho abordamos conceitos metodológicos derivados dos estudos etnográficos.
Devido a esses estudos no campo da etnologia possuírem um maior “tempo de maturação” e ao próprio fato de sua produção ser mais numerosa, é compreensível que seus avanços ocorram, em certa medida, mais rápido que no campo da pesquisa em música, inclusive no caso nosso caso específico, em que tratamos dos grupos juvenis no cenário urbano. Acreditamos, portanto, que a apropriação desses novos procedimentos pode contribuir para avanços nas pesquisas etnomusicológicas, que tem se ampliado na direção dos estudos da música popular, onde se inclui a música urbana.
Ressaltamos que essa perspectiva de interação interdisciplinar tem muito a contribuir para o avanço nas mais diversas áreas do conhecimento, as diferentes visões, derivadas de cada metodologia, nos auxiliam na tarefa de obter um entendimento mais completo dos nossos objetos de pesquisa, no caso da etnomusicologia, uma área hibrida entre a música e antropologia, essas contribuições mútuas são ainda mais relevantes. Acreditamos que o conceito de circuito, conforme formulado por Magnani, tenha muito a oferecer na pesquisa em música.
ARROYO, M. (Org.). Jovens e música: um guia bibliográfico. São Paulo: Ed. Unesp, 2013. CORTÉS, T. A. Subcultura, contracultura, tribus urbanas y culturas juveniles:
¿homogenización o diferenciación? Revista Argentina de Sociología, Ano 6, n. 11, 2008.
FEIXA, C. Los estudios sobre culturas juveniles en España – 1960-2004. Revista de Estudios de Juventud, Madrid, n. 64, mar. 2004.
HOBSBAWM, E. A era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das letras, 1995.
MAFFESOLI, M. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1987.
MAGNANI, J. G. C. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. RBCS, v. 17, n. 49, 2002.
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MAGNANI, J. G. C. O circuito: proposta de delimitação da categoria. Ponto Urbe, n. 15, 2014. Consultado em 28 de junho de 2018. DOI: https://doi.org/10.4000/pontourbe.2041
SHUKER, R. Vocabulário de música pop. Trad. Carlos Szlak. 1. ed. São Paulo: Hedra, 1999.
SOARES, N. S. O circuito na etnomusicologia urbana. Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 9, n. 2, p. 220-230, jul./dez. 2020. e-ISSN: 2358-4238. DOI:
https://doi.org/10.29373/sas.v9i2.14706
Nelson Souza SOARES1
RESUMO: O estudo antropológico na cena urbana possui peculiaridades em relação aos estudos realizados em comunidades tradicionais. Na paisagem urbana os grupos se inserem em contextos mais amplos dentro de redes complexas com inúmeras interações e significados. José Guilherme C. Magnani (2005) buscou uma forma de análise em que considera os atores sociais com suas especificidades e o espaço no qual atuam, sendo este último produto e fator determinante da prática social, e não simples cenário. Magnani formulou categorias de análise a partir dessa ideia de se considerar o espaço como elemento passível de estudo. Neste trabalho buscamos uma análise das contribuições metodológicas que a utilização do conceito de circuito pode trazer à pesquisa etnomusicológica urbana, especificamente no estudo de contextos juvenis que envolvam a música popular.
PALAVRAS-CHAVE: Etnomusicologia. Antropologia urbana. Circuito como categoria analítica.
RESUMEN: El estudio antropológico en el escenario urbano tiene peculiaridades en relación a los estudios realizados en comunidades tradicionales. En el paisaje urbano, los grupos se insertan en contextos más amplios dentro de redes complejas con numerosas interacciones y significados. José Guilherme C. Magnani (2005) buscó una forma de análisis en la que considere a los actores sociales con sus especificidades y el espacio en el que operan, siendo este último un producto y factor determinante en la práctica social, y no un
1 Federal University of Minas Gerais (UFMG) Belo Horizonte– MG – Brazil. PhD student in the Postgraduate Program in Music. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9084-5653. E-mail: nelsonss13@hotmail.com
simple escenario. Magnani formuló categorías de análisis a partir de esta idea de considerar el espacio como un elemento que se puede estudiar. En este artículo buscamos un análisis de los aportes metodológicos que el uso del concepto de circuito puede conducir a la investigación etnomusicológica urbana, específicamente en el estudio de contextos juveniles que involucran música popular.
PALABRAS CLAVE: Etnomusicologia. Antropologia urbana. Circuito como categoría analítica.
In the 1960s there were profound social transformations in a polarized world, between capitalism and socialism, culturally tied to ancient traditions that could not keep up with the speed of change. In this context, there is an explosion of social movements that mainly impact the young strata of the population, generating significant changes not only for that generation, but also for the generations that followed. The advances provided by the media such as television, American cinema, records, tapes and radio, propitiated the emergence of an international youth culture, symbolized, according to Hobsbawm (1995), by jeans and rock'n'roll. The post-war American economic prosperity led to an increase in the purchasing power of young workers, leading to an expansion of the youth market, especially in the music industry.
The youth category gained importance in society in the second half of the twentieth century, scientific research accompanies this growth, especially in the areas of sociology and anthropology. Concepts such as subcultures, urban tribes and youth cultures have gained relevance at this juncture and served as the basis for several studies that addressed young people and their sociability.
The concept of youth has been discussed academically since the beginning of the 20th century from Stanley Hall, however this task faces difficulties due to its own character of historical construction, which keeps considerable variability between different periods, in addition to being approached in different terms, such as adolescence, adolescents, youth and young people (ARROYO, 2013, p. 17). We do not intend, however, to dwell on this discussion since this task would be too extensive and is not the focus of our work, we will stick to a simple definition, understanding youth as “an age class between childhood and adulthood with their own social and cultural place” (ARROYO, 2013, p. 23, our translation).
In this text we will discuss the concept of circuit as formulated by José Guilherme Cantor Magnani, professor at the University of São Paulo and coordinator of the Laboratory
of the Urban Anthropology Nucleus (NAU). Magnani integrates social actors with the spaces in which they interact, these spaces are not mere scenarios, but products of social practice and even a determining factor for these practices.
Music occupies a prominent place in youth sociability, being an aggregating element of youth groups, either through musical practice itself, as a basis for dance styles or as a mere musical taste in common. In the next pages we will deal with research in urban contexts about young people and their music, focusing on the possibilities provided by the idea of circuit as an analytical category.
Anthropology initially focused on the study of so-called “exotic” societies, as can be seen in some pioneering work by Margaret Mead and Bronislaw Malinowski that addressed island peoples in Oceania, or Franz Boas who studied Inuit tribes on Baffin Island. These works considered it necessary to distance the researcher from his research object.
From the 1920s onwards, ethnological research gained strength in an urban context. The city of Chicago had undergone a disordered demographic growth after the first world war, the local market and the urban equipment itself were not sufficient to completely absorb this new demand, leading part of its population to misery and poverty. Authors of the so- called Chicago School, such as Fredric Trasher and Louis Wirth, were interested in investigating this marginalized population.
In the 1960s, Cultural Studies at the Birmingham Center for Contemporary Cultural Studies proposed a new model of urban analysis, this time with a focus on youth. Authors such as Stuart Hall and Dick Hedbige considered youth movements, called subcultures here, as resistance and deviation from hegemonic culture. From the 1980s onwards, this approach was criticized due to, supposedly, be adequate only the condition of young people of the working class (CORTÉS, 2008).
With a focus on the question of identity, and not of deviations as in subcultures, Maffesoli (1987) uses the concept of urban tribes, I understand these as groups of young people, albeit ephemeral and fragmented, that hold a common identification, such as skinheads2 and punks3, this neotribalism is “characterized by fluidity, occasional gatherings
2 Youth subculture that first emerged in Britain in the late 1960s. It was a reaction of the working class to hippies and their own social marginalization. Skinheads have transformed the characteristics of the working class into virtue (SHUKER, 1999, p. 258).
and dispersion” (MAFFESOLI, 1987, p. 107, our translation). Magnani (2005) criticizes this term used by Maffesoli, understanding that the word "tribe" can lead to misinterpretations, due to the meaning attributed to it in traditional studies of ethnology, inappropriate in most cases to current youth groups, however this:
[...] does not mean that this term cannot be used to any advantage, but it is necessary to be aware of the limitations and peculiarities inherent to this form of use (MAGNANI, 2007, p. 17, our translation).
In Spain and Mexico, research on youth conducted since the 1990s gives rise to the Ibero-American School that replaces the idea of urban tribes with youth cultures, which are one:
the way in which the social experiences of young people are expressed collectively through the construction of different lifestyles, located fundamentally in free time and in the interstitial spaces of institutional life (FEIXA, 2004, p. 9, our translation).
Youth cultures seek an alternative interpretation to urban tribes, which would be based on the ephemeral, temporary and unstable, the focus moves away from marginality and gets closer to identity, understanding youth and their manifestations as something of everyday life, where young people create their own cultural practices, and does not constitute an abnormality. Córtes understands youth cultures as:
[...] a concept that cannot be encompassed or determined by biologicist and functionalist attitudes of youth, but rather as a process in continuous movement (CORTÉS, 2008, p. 265, our translation).
Magnani has dedicated himself to developing analytical tools that are more appropriate to cultural dynamics and urban sociability through a close and inside look, in contrast to the classic approach of looking from outside and from afar, without, however, ignoring the need for distance as a complement which aims to broaden the horizon of analysis. Magnani emphasizes the character of constant development of the methodological guidelines of anthropology, seeking adaptation to the studied themes:
[...] since the first forays into the field, anthropology has been developing and putting into practice a series of strategies, concepts and models that, despite the countless reviews, criticisms and reinterpretations (perhaps even thanks to this continuous monitoring required by the specificity of each
3 Punk appeared in England between 1977 and 1980, it is a fast and aggressive style, under the motto “do it yourself” encourages young people to form their own bands even without mastering the technique of their musical instruments (SHUKER, 1999, p. 222).
research), constitute a repertoire capable of inspiring and supporting approaches to new objects and current issues (MAGNANI, 2005, p. 11, our transaltion).
For Magnani, debates on the urban issue sometimes understand the city as an entity apart from its inhabitants, understanding the urban environment as “a scenario devoid of actions, activities, meeting points, networks of sociability” (MAGNANI, 2005, p. 14, our translation). In this case, there is not an absence of social actors, but the prevalence of one over the other with a predominance of representatives of capital.
We believe that Magnani's fundamental contribution was to perceive the importance of spaces, in urban ethnographies, as fundamental elements of sociability and as a place for exchanges and interactions. Magnani (2002) sought to identify the particularities of these spaces and created a family of analytical categories that could handle the complex urban social phenomenon and function as a kind of model applicable in different situations. This categorization makes it possible to face the semiological chaos of urban ethnographic research and to delimit more effectively the vague field of “Anthropology of complex societies”. The idea is to go beyond the fragmentation that seems to characterize cities, seeking in reality to identify patterns and regularities in the behavior of social actors using categories such as cutouts that aim to delimit spaces and allow the exercise of ethnographic description. These categories are: piece, spot, path, gantry and circuit. We will describe these categories based on Magnani's article entitled De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana (From up close and from the inside: notes for an urban ethnography).
The piece is a geographical space with the regular presence of members who communicate with each other and have a recognition code. This notion of piece is basically formed by two elements: one of a spatial nature, with a clearly demarcated territory; and another of a social order, constituted by a network of relationships that extend across the territory. The piece (which can be a bar, snack bar, party halls etc.) is a “place of passage and meeting” and to be part of this sociability space it is necessary to be located in a certain network of relationships, in which the members of the piece they recognize themselves as having the same symbols, tastes, values, ways of life and consumption habits (MAGNANI, 2002, p. 21).
The spot occurs when some places become a point of reference for a diverse number of visitors. It has a larger physical space than the piece and people of different origins circulate through it, without the need for close ties between them. Spots are contiguous areas with certain equipment, for example, a leisure spot can be located in a certain region with a
concentration of bars, cinemas, theaters, cafes, restaurants etc., constituting points of reference for certain activities.
Unlike what happens on the piece, where the individual goes in search of equals, who share the same codes, the spot gives way to unexpected crossings, to encounters to some extent unexpected, to more varied combinations. In a certain spot, it is known what type of people or services will be found, but not which ones, and this is the expectation that works as a motivation for its regulars (MAGNANI, 2002, p. 23, our translation).
The paths are ways between the pieces and the spots, as these spaces are not isolated in the urban landscape, the social actors circulate among them according to a certain logic, following routes that are not random. The path is a way of using space that refers to flows in a more comprehensive territory in the city and in the spots. “Thus, the idea of a path allows one to think about both the possibility of choosing in the inside of spots and the opening of these spots and pieces towards other points in the urban space and, consequently, to other logics” (MAGNANI, 2002, p. 23, our translation).
The gantries are characterized by empty spaces in the urban landscape, they are crossing points, not belonging to any spot specifically, but located between them, for Magnani it is one:
No-man's-land, a place of danger, preferred by liminal figures and for performing magical rituals - often dark places that need to be crossed quickly, without looking sideways (MAGNANI, 2002, p. 23, our translation).
The circuit is “a starting point for addressing the theme of the behavior of young people in large urban centers” (MAGNANI, 2007, p. 18, our translation), serving as a complement or opposition to youth cultures and urban tribes.
It is a category that describes the exercise of a practice or the provision of a certain service through establishments, equipment and spaces that do not maintain a spatial contiguity, being recognized as a whole by habitual users: for example, the gay circuit, the circuit of art cinemas, the neo-esoteric circuit, the dance halls and black shows, the people-of-saint, the antique dealers, the clubbers and many others (MAGNANI, 2002, p. 23-24, our translation).
Magnani considers it important to draw attention to sociability and not to expressions related to the generational issue and to consumption patterns, as proposed by youth cultures, which, for this author, still place youth groups in the subculture category. Permanences and
regularities are emphasized instead of fragmentation and nomadism from the perspective of urban tribes. Thus, Magnani describes the general lines of his proposal:
Instead of the emphasis on the condition of "young people" that supposedly refers to the diversity of manifestations with a common denominator, the idea is to privilege their insertion in the urban landscape through the ethnography of the spaces where they circulate, where their meeting points and conflict occasions are, in addition to the partners with whom they establish exchange relations. More specifically, what is sought with this option is a point of view that allows the articulation of two elements present in this dynamic: behaviors (recovering aspects of mobility, fads etc., emphasized in studies on this segment) and spaces, institutions and urban equipment that, on the contrary, has a greater (and more differentiated) degree of permanence in the landscape (MAGNANI, 2007, p. 19, our translation).
Next, we will focus on the possibilities of applying the concept of circuit in urban ethnomusicological study.
The academic research developed in the area of music, for a long time, was restricted to Western classical music, understood as a representative of high culture. To this day, this approach is still a considerable part of production, probably due to the predominance of classical education in music degrees, including in Brazil. Much of the work that relates to popular music, whether linked to the cultural industry or traditional manifestations, comes from areas such as anthropology, sociology and history.
Despite this, since the 19th century, German musicology already contained a subdivision called vergleichende Musikwissenschaft4, roughly equivalent to what we understand today as ethnomusicology. The term went through several denominations such as ethnological musical research, folklore and musical ethnology, anthropology of music and even music of strange peoples, establishing itself in the 1950s as ethnomusicology (PINTO, 2001, p. 224).
Anthropologist Alan P. Merriam, with his 1964 work The anthropology of music, outlined general guidelines for the anthropological research of music, this ethnomusicological approach foresaw the integration of methods of studying anthropology and music. The latter is defined by Merrian as a form of social integration between musicians and receivers, constituting a form of communication and relationship between individual and group.
4 We can translate this term as comparative musicology.
Pinto describes the general guidelines that characterize a musicological and anthropological approach. In musicology the musical phenomenon is in the foreground and in anthropology the researcher sees music as an element inserted in its cultural context, what Merrian proposed was a combination of this approach in the ethnomusicological process. For Pinto, for a long time, ethnomusicology was considered a hybrid science "belonging to musicology as to its contents and anthropology when it comes to its research methods" (PINTO, 2001, p. 223, our translation). About the possibilities of interaction between music and anthropology Pinto tells us:
The fact of permeating so many moments in people's lives, organizing festive and religious calendars, inserting themselves in traditional manifestations, representing, simultaneously, a product of very high commercial value, when conveyed by the media and globalizing the world at the sound level, makes of music a complex subject rich in possibilities for anthropological research and knowledge (PINTO, 2001, p. 223, our translation).
Despite the aforementioned space occupied by classical music in the academic production of undergraduate and postgraduate degrees in music, in recent decades, research objects have increasingly come to incorporate popular forms and other cultural and ritualistic manifestations.
Music is an almost indispensable element in the sociability of young people in the city, in his article The circuit of urban young people, Magnani describes ethnographic research conducted at the Center for Urban Anthropology at USP, the research described refers to the straight edge, a kind of vegan variant the punk movement; the Black ballads and samba circles, the boys and streeteiros at the Conceição subway station, the leisure spot in Vila Olímpia, the meeting point and raves5 at the Ouro Fino Gallery, university forró, graffiti artists and young instrumentalists. The straight edges are fond of punk music, the black ballads and the samba circles are formed from the black music circuit of downtown São Paulo, the boys and streeteiros are connected to hip-hop6, the basis of their dance; the meeting point of Ouro Fino Gallery is frequented by connoisseurs of electronic music; the university forró is obviously linked to the northeastern musical genre, and the young instrumentalists who meet weekly on Teodoro Sampaio Street are instrumental music instructors. Of these
5 Type of party that arose in the USA and the United Kingdom in the 1980s, they are usually held in large spaces and have a long duration. Dance music serves as the soundtrack to these events (SHUKER, 1999, p. 234).
6 Cultural phenomenon that includes clothing, language, way of walking among other elements. Its musical core is rap (SHUKER, 1999, p. 232).
examples presented, only the graffiti artists and the participants in the Vila Olímpia leisure spot are not directly involved with genres or musical movements.
From these indications, we can see that music is important in the sociability of young people, and in some cases, it is the central component that links the members of a certain youth group, as occurs in the group of young instrumentalists. Sometimes the aggregating element is dance, as occurred in the university forró circuit, in boys and streeteiros, and probably in black ballads and samba circles, in which case dance styles are associated with musical genres, which makes music fundamental in the constitution of groups.
Due to the frequency with which music presents itself as the foundation around which youth groups unite, we believe that musical language provides the possibility of understanding the functioning of youth groups themselves, their symbols, their sociability, their communication codes and their visions about politics and society. In a more ethnomusicological view, in cases where musical practice occurs among members of the group, the analysis may occur in an inverse way, seeking to understand how life in this circuit of young people affects their musical production or even how these aspects influence each other.
The concept of circuit is promising in studies that focus on popular urban youth music, we believe that in most cases there is a circuit that includes the execution and enjoyment of musical performances.
the novelty that circuit introduced in this “family” of categories, due to its ability to link domains not necessarily marked by spatial contiguity, as occurs in the others, was to connect discontinuous and distant points in the urban fabric, without losing, however, the perspective of totalities endowed with coherence - even in the vastness of the city of São Paulo - and in this way build more consistent analytical units (MAGNANI, 2014, p. 3, our translation).
In a classic ethnographic study, the village or tribe circumscribes the research universe, it is assumed that the sociability relations and exchanges of social actors take place in that territorial space. In a city, especially in a metropolis, there is a marked dispersion that makes it difficult to exercise ethnography, the circuit allows the study of a certain group even in the chaotic urban scene. Arroyo understands that although the concept of a circuit, as proposed by Magnani, originally applies to large centers:
enables the study of the interaction of young people with music to encompass a wider universe than that studied in much of the literature centered on the concepts of youth subcultures, urban tribes and youth cultures (ARROYO, 2013, p. 37, our translation).
The conception of music as an area subject to scientific knowledge is relatively recent when compared to other traditional fields of knowledge, one way of seeking its consolidation was by appropriating methodologies from anthropology, history, sociology etc. In the specific case of this work, we approach methodological concepts derived from ethnographic studies.
Because these studies in the field of ethnology have a longer “maturation time” and the fact that their production is more numerous, it is understandable that their advances occur, to a certain extent, faster than in the field of music research, including in the field of music, our specific case, in which we deal with youth groups in the urban setting. We believe, therefore, that the appropriation of these new procedures can contribute to advances in ethnomusicological research, which has expanded in the direction of the studies of popular music, which includes urban music.
We emphasize that this perspective of interdisciplinary interaction has a lot to contribute to the advancement in the most diverse areas of knowledge, the different views, derived from each methodology, help us in the task of obtaining a more complete understanding of our research objects, in the case of ethnomusicology, a hybrid area between music and anthropology, these mutual contributions are even more relevant. We believe that the circuit concept, as formulated by Magnani, has a lot to offer in music research.
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