EL PUEBLO TICUNA DESDE UNA PERSPECTIVA HISTÓRICA: DE SUS ORÍGENES MITOLÓGICOS A LA PÉRDIDA DE SU IDENTIDAD
THE TICUNA PEOPLE FROM A HISTORICAL PERSPECTIVE: FROM THEIR MYTHOLOGICAL ORIGINS TO THE LOSS OF THEIR IDENTITY
Eli Leão CATACHUNGA2
Rosana Maria Pires Barbato SCHWARTZ3
Renan Antônio da SILVA4
RESUMEN: Los pueblos indígenas se han mantenido únicos por sus estrategias sociales y culturales, y las actividades educativas son una de ellas. La educación que realizan los pueblos indígenas les permite seguir sobreviviendo y evitar que su cultura se transmita de generación en generación. El pueblo ticuna ha tenido una larga trayectoria a lo largo de su historia, en momentos marcada por una profunda estabilidad (desde los orígenes mitológicos hasta el primer contacto con los no indígenas), en ocasiones marcada por una profunda violencia simbólica y física que llevó a la pérdida y negación de ciertos aspectos de indemnización (desde el primer contacto). Veremos algunas de las consecuencias de este contacto, que en ocasiones se mantienen hasta el día de hoy.
PALABRAS CLAVE: Contacto. Ticuna. No indígena. Cosmovisión. Violencia.
1 Este artigo retrabalha, com novos dados, trechos de minha dissertação de mestrado.
2 Universidade Presbiteriana Mackenzie (MACKENZIE), São Paulo – SP – Brasil. Mestre em Educação, Arte e História da Cultura. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3008-6223. E-mail: lepp@rc.unesp.br
3 Universidade Presbiteriana Mackenzie (MACKENZIE), São Paulo – SP – Brasil. Professora Pesquisadora. Doutorado em História (PUC). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3734-0941. E-mail: rosanamaria.schwartz@mackenzie.br
4 Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza – CE – Brasil. Docente no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas (Orientador de Mestrado e Doutorado). Doutorado em Educação Escolar (UNESP). Pós- Doutorando em Direitos Humanos e Cidadania (UnB). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1171-217X. E-mail: r.silva@unesp.br
ABSTRACT: Indigenous peoples have remained unique due to their social and cultural strategies, and educational activities are one of them. Education carried out by indigenous peoples allows them to continue to survive and prevent their culture from being passed on from generation to generation. The Tikunas have had a long trajectory over their history. From its mythological origins to their first contact with the Western civilization, it was a peaceful, stable trajectory; but has been marked with symbolic and physical violence since, resulting in the loss or the denial of certain identity traits of the people. Here, we will study the consequences of such contact.
KEY-WORDS: Contact. Ticuna. Non-indigenous. Worldview. Violence.
Escrever sobre uma história que não foi privilegiada pela historiografia até os anos de 1990 é desafiador e instigante, principalmente quando se faz parte dela. Como Ticuna, sempre me inquietou estudar as consequências do processo civilizatório, implementado desde o início da conquista das Américas pelos portugueses, na contemporaneidade, pois a violência, a degradação e os desenraizamentos e destribalização marcam a história, a cultura e a educação indígena Ticuna.
A historiografia não-indígena pontua que, por volta de 1500, existiam de 1 milhão a 3 milhões de indígenas no Brasil (FUNAI)5 e que em cinco séculos, essa população nativa reduziu-se a 306 mil, o que representa 0,03% da população brasileira, segundo o IBGE (2010).
A história de um povo tem um valor decisivo na vida dos sujeitos, seja para planejar o futuro cheio de conquistas ou, simplesmente, para se acomodar diante das mais diversas situações, por desconhecer a história. Desta forma, o objetivo deste artigo é tentar percorrer os caminhos da história dos povos originários, e, em especial, do povo Ticuna, com um enfoque especial na educação. Iniciando pelas origens mitológicas dos Ticuna, seguimos pela destruição dos pilares da sua organização social com a chegada do não-indígena, o movimento indígena, suas lutas e conquistas; chegando, por fim, a uma ressignificação conseguida por este povo hoje.
5 Pierre Clastres aponta para uma estimativa mais elevada: cerca de 25 milhões de índios habitavam, segundo o autor, a América do Sul, 100 milhões no continente americano como um todo; e que, cerca de cem anos após o início do processo de colonização, um quarto da população mundial havia sido dizimado; constituindo uma das maiores tragédias da humanidade (CLASTRES, 2012, p. 114).
Atualmente, as aldeias do povo Ticuna estão localizadas na região do Alto Solimões, no estado do Amazonas, à beira do rio Solimões e cabeceiras dos pequenos rios.
Antes do contato com os brancos, não haviam aldeias: eram famílias clânicas que moravam uma bem distante da outra. As primeiras aldeias vão surgir com a presença de novos agentes procedentes de fora, no início do século XX, com a presença do Serviço de Proteção ao Índio-SPI; A primeira de que se tem notícia foi a aldeia de Umariaçú. Outro agente responsável por ajuntar famílias Ticunas foi o protestantismo: foi o caso do município de Santa Rita do Weil, que cedeu terras para as famílias adeptos à religião deram origem à Comunidade de Campo Alegre; e do município de Santo Antonio do Iça, de onde surgiu a comunidade Vila Betânia.
Fonte: Google (2020)
As aldeias, hoje são em número de 250, encontram-se situadas em territórios de 7 municípios: Tabatinga, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio de Içá, Tonantins e Coari. Nos últimos 25 anos, algumas famílias migraram do Alto Solimões a distâncias de mais de 1.000 km, descendo o rio Solimões até à cidade de Manaus, onde atualmente há uma aldeia urbana no bairro Cidade de Deus.
Pelo fato de sua localização ser a tríplice fronteira, também há aldeias do povo Ticuna nos países vizinhos do Peru e da Colômbia. A relação de comunicação e intercâmbio com as aldeias dos três países é constante, pois para o indivíduo Ticuna, a barreira das fronteiras é um fator de menor relevância a dividir o povo: os fatores que os unificam, como a identidade cultural e linguística, são maiores.
Trata-se de um povo milenar, que já habitava a Bacia Amazônica há pelo menos 2 mil anos antes da chegada dos colonizadores portugueses e espanhóis, ocupavam as terras firmes e principalmente as cabeceiras dos pequenos rios/igarapés, afluentes do rio Solimões. Segundo Silva (2014, p. 24) “de acordo com registros arqueológicos, os Tikuna datam de 950 (± 90) d. C. com base em fragmentos cerâmicos semelhantes a cerâmicas feitas pelos Tikuna atuais.”
Normalmente a pergunta a ser feita por um não-indígena seria: “a qual o país pertence os Ticunas? Será que são brasileiros, peruanos ou colombianos?”. Como a perspectiva que este artigo busca é identitária, ou seja, como os Ticuna percebem-se a si mesmos, a resposta a esta questão vem, inevitavelmente, através dos mitos contados de geração para geração.
Neste capítulo, introduziremos a história da criação do mundo da perspectiva dos Ticuna, com dados coletados a partir de relatos dos anciões6, reorganizados por mim.
Os anciões contam que, antes do mundo existir, Ngutapa, o Deus da criação, já existia, não tendo pai ou mãe. Casou-se com Mapana, com quem desejava muito ter um filho. Contudo, a esposa não lograva engravidar, e Ngutapa ficou irado: convidou-a para adentrar a mata, onde planejava abandoná-la como castigo.
Da maloca onde moravam, seguiram por uma trilha, e, depois de caminhar bastante, ele sentou-se sobre o tronco de um pau caído à beira da trilha, chamou sua mulher e questionou: “Por que você não me deu um filho, me diga qual é o motivo?” Ela respondeu: “É por isso que você está irado?”. Ele confirmou e partiu para cima dela, agredindo-a. Indefesa, ela chorou em voz alta, pedindo socorro, mas ninguém estava por perto para lhe ajudar.
Ngutapa a espancou mais forte, batendo com força no seu peito: Mapana caiu no chão semimorta. Ele pegou uma corda de cipó e amarrou seus pés e braços junto ao tronco de uma árvore e foi embora, abandonando-a mata adentro, bem longe de sua casa.
6 Dados coletados na Comunidade de Filadélfia, Terra Demarcada de Santo Antônio, município de Benjamin Constant-AM, durante o ano de 2019.
Mapana ficou abandonada à própria sorte, presa por uma corda de cipó junto ao tronco, sem chance de libertar-se. Chorou com voz alarmante, e foi nesse momento que um pássaro chamado Coü aproximou-se e ficou cantando ao seu redor. Desesperada por ajuda, pediu: “Pássaro Coü, que bom que você ouviu meus gritos por socorro, venha me ajudar, esse maldito Ngutapa castigou-me”. O pássaro desceu da árvore e perguntou: “É você minha neta7? O que houve contigo?”
Naquele momento, o pássaro Coü transformou-se num belo índio Ticuna. Cheio de compaixão pela mulher Mapana, que estava quase morrendo, aproximou-se dela, lhe perguntando novamente: “Que houve com você, minha neta?” Ela respondeu: “Ngutapa não vale nada, me castigou! Por favor, me desamarre deste tronco! Já estou exausta, não suporto mais a dor”.
Coü cuidadosamente soltou as cordas dos braços e dos pés, deixando-a totalmente livre, depois orientou-a a retribuir o castigo para Ngutapa: “Você vai apanhar um ninho cheio de marimbondos e vai aguardar Ngutapa passar pelo caminho. Mas você deve se esconder no meio do mato de tal forma que ele não te veja ao passar por perto da armadilha. Deves jogar na altura de seus joelhos o ninho de marimbondos. Combinado?” Ela concordou, e seguiu para executar sua vingança.
Mapana foi à procura do ninho de marimbondos, e logo encontrou um. Com uma folha na mão, aproximou-se, pegou o ninho e cuidadosamente o carregou pela trilha.
Caminhando devagar, aproximou-se do local por onde Ngutapa geralmente passava: naquele dia, ele viria tocando uma música e dançando, para comemorar o castigo bem- sucedido de sua mulher.
Mapana, ao chegar na trilha, procurou um lugar com bastante mato, onde se escondeu. Discretamente, aguardou o momento em que seu marido iria passar. Não demorou muito, lá vinha Ngutapa, cantando e dançando. Quando passou bem pertinho, ela então jogou sobre ele o ninho do marimbondo, bem na direção dos joelhos.
Os marimbondos ferraram os dois joelhos: a dor foi insuportável, e Ngutapa não conseguia caminhar. Aos gritos, pedia por perdão para sua mulher, e saiu se arrastando em direção à sua maloca, mal tendo forças para conseguir se deitar na rede, assim que conseguiu chegar.
Depois de uma semana de muito sofrimento e dor, seus joelhos incharam muito. O tamanho era grande demais, e ele quis saber o que havia de errado. De repente, percebeu que
7 Uma forma de tratamento familiar.
dentro de cada joelho havia pessoas diferentes: no joelho direito, estava sendo gerado Yo'i, que estava confeccionando uma zarabatana; e sua irmã Aicüna, muito ocupada tecendo uma rede. No joelho esquerdo, estava Ipi, trabalhando com a confecção de um arco e uma flecha. Do seu lado, estava sua irmã Mowatcha, também ocupada tecendo uma bolsa de fibra de tucum.
Então, foram dos joelhos de Ngutapa que vieram à existência Yo'i, o deus bom, e Ipi, o deus do mal. Estes personagens são importantes para a criação dos índios Ticuna, pois, de acordo com a memória dos mais velhos da comunidade, transmitida oralmente de pais para filhos, este povo é denominado como povo Magüta, termo da língua Ticuna que significa “gente de verdade”, nome dado no momento da criação pelo herói mítico Yo'i, o Deus bom.
Yo’i, o Deus Ticuna, tinha o poder de tornar real tudo o que pensava ou desejava. Enchia a Terra com vida e esperança, mas se sentia solitário, porque vivia só com seus irmãos. Yo’i e Ipi decidiram derrubar essa árvore e trazer luz ao mundo, convidando todos os animais da floresta para ajudar. Mas nem o pica-pau conseguiu. Só conseguiu o Quatipuru Taine, pois prometeram-lhe como recompensa o casamento com Aicüna. Ele subiu até o topo da árvore e descobriu que uma preguiça segurava a árvore no céu. Taine jogou formigas de fogo nos olhos da preguiça, e a preguiça soltou o céu. Com isso, a árvore caiu, mas o tronco se regenerava muito rápido, pois a árvore tinha um coração. Ipi tentou tirá-lo com um machado, mas o coração pulou bem longe: foi uma borboleta que conseguiu pegar ele no meio do pulo. Ela passou para o calango, e ele passou para a cutia, que saiu correndo e o plantou, escondido dos irmãos Yo’i e Ipi. Mas Yo’i procurou e encontrou o coração-caroço- semente, levando-o para plantar no seu terreno. Com o tempo, nasceu a árvore de umari, e sua última fruta deu origem à mulher de Yo’i, que depois teve um filho de Ipi. Yo’i chamou Ipi e seu filho, para purificá-lo pintando seu corpo com jenipapo. Yo’i mandou Ipi ralar o jenipapo sem parar, mas com isso ele acabou ralando o seu corpo junto, e a carne de Ipi misturou-se com a borra do jenipapo. A mistura de sangue, carne e sementes foi lançada ao rio Eware por sua esposa Tetchi arü Ngu’i, transformando-se em peixes. Ela ficou triste por ter jogado ele no rio, e pediu para Yo’i pescá-lo de volta. Yo’i, cansado de ficar sozinho e desejando povoar a Terra e deixar o mundo mais alegre e completo, pescou os peixes do rio, um por um. Mas vieram com o anzol somente animais, sempre junto macho e fêmea: foram assim que surgiram os animais. Mas Tetchi arü Ngu’i queria seu esposo, e Yo’i queria seres humanos: como pescá-los? Decidiu trocar a isca por macaxeira: assim, tudo que ele pescava passou a se transformar em seres semelhantes a ele, humanos, que saiam correndo pela terra. Foi assim que surgiu a humanidade, e foi assim que surgiu o povo Magüta. Dentre a piracema, ele viu
um peixe diferente, de testa dourada, mas o peixe não mordia a isca. Teve uma ideia, e pediu que Tetchi arü Ngu’i tentasse pescar, pois achava que o peixe era Ipi. Acertou: o peixe pulou fora da água e se transformou em Ipi. Ipi viu o que o irmão fez, e quis um povo para ele também. Com isso, pescou outras pessoas com macaxeira, mas afilou o nariz de cada um, para diferenciar do povo do irmão: assim nasceram os peruanos, e seguiu com eles em direção à nascente do sol. Mas Yo’i quis confundir o irmão, e virou o mundo ao contrário, fazendo Ipi ir para o sol poente, onde havia muito ouro. Lá, Ipi ficou controlando as águas do Amazonas, controlando para que não fosse muita nem pouca a vazante. Yo’i deixou o povo Magüta na terra sagrada de Eware e foi para o sol nascente, na esperança de trazer ferramentas para a agricultura do seu povo.
Contam que estando à beira do lago Eware, o lago sagrado, Yo'i pegou seu caniço (a vara de pescar) e usou como isca uma semente de coquinho (um caroço de tucumã, que, por sua vez, é uma espécie de palmeira) para tentar pescar. Logo jogou o anzol na água e, ao puxá-lo, o peixe fisgado transformou-se em porco do mato. Lançou o anzol novamente, e surgiu outro animal, e assim por diante, até todos os animais surgirem, cada um com seu par macho e fêmea. Como o porco do mato foi o primeiro a morder o duro coquinho, até hoje seus dentes são duros e resistentes.
Ao perceber que o peixe fisgado não se transformava em gente, Yo’i decidiu trocar de isca: foi à roça em busca de macaxeira, e assim que conseguiu alguma a colocou no anzol: os peixes que foram fisgados transformaram-se em duuṹˈgü (gente de verdade) e estes foram os Ticunas “o povo Magüta”. Este é o motivo pela qual os dentes dos Ticunas são moles e não muito resistentes.
Como o povo Ticuna, sob perspectiva mitológica, originou-se na terra sagrada de Ewaré, hoje próxima à Comunidade de Vendaval, município de São Paulo de Olivença, oficialmente, os Ticuna tem origem brasileira. Contudo, vale dizer que, na verdade, eles não percebem sua identidade como pertencente a qualquer um dos três países, mas sim a uma Nação Ticuna, que engloba o território onde habitam.
Voltemos, porém, às narrativas mitológicas.
O avô do professor indígena Santos Cruz conta que depois de Yo'i haver pescado as pessoas, chegou a hora em que todas as pessoas precisavam tomar um banho no lago sagrado Eware, para isso as pessoas foram divididas em três grupos. O primeiro grupo que tomou banho ficou bem limpo, bem branco: estas são as pessoas que hoje possuem pele bem branca, como os alemães, francês, italianos etc. O segundo grupo foi tomar banho na mesma água, mas como a água estava um pouco suja com a sujeira do primeiro grupo, a pele não ficou bem
limpa: estes ficaram com a pele morena, são os Ticuna. Por último fizeram uso da mesma água para tomar banho o terceiro grupo, aí a água já estava muito suja, não sendo possível a limpeza da pele: por isso, as pessoas do terceiro grupo ficaram com a pele bastante negra.
Percebamos, porém, como esta última narrativa já possui, na verdade, a marca do contato com o não-indígena; tentando incluí-lo na cosmogonia indígena. Contudo, infelizmente, também penetrou nesse mito a noção errônea de que há “níveis de limpeza” para a população, propagando assim, subrepticiamente, a ideia de que um povo seria superior ao outro. Perceba como esta narrativa evidencia a penetração da violência simbólica não- indígena na cultura Ticuna, pois mostra a superioridade de um outro povo, o europeu, sobre os Ticuna, em sua própria narrativa cosmogônica.
Segundo os velhos da tribo os contadores da história, esta parte da história não é contada para as pessoas do primeiro grupo e do terceiro grupo.
Gruber, que trabalhou na confecção de um livro que versa acerca de árvores, juntamente com os professores Ticunas, afirma, a respeito do mito da criação:
Quando a piracema passou, Yo’i fez um caniço e foi pescar, usando caroço de tucumã maduro. Mas os peixes, quando caíam na terra, viravam animais: queixada, anta, veado, caititu e muitos outros. Aí Yo'i usou isca de macaxeira, e com essa isca os peixinhos se transformavam em gente. Yo’i aproveitou e pescou muita gente. Mas seu irmão não estava entre essas pessoas. Yo’i então, entregou o caniço para Tetchi arü Ngu’i e ela conseguiu fisgar um peixinho que tinha uma mancha de ouro na testa. Era Ipi. Ipi saltou em terra, pegou caniço e pescou os peruanos e outros povos. Esse pessoal foi embora com Ipi para o lado onde o sol se põe. Da gente pescada por Yo’i descendem os Ticuna e também outros povos que rumaram para o lado onde o sol nasce, inclusive os brancos e os negros (GRUBER, 1997, p. 18).
O povo Ticuna, ou povo Magüta, conforme afirmação dos velhos da tribo, significa gente de verdade, criados e dotados de inteligência para cuidar de sua sociedade, portanto organizados politicamente, economicamente, socialmente e culturalmente.
Com relação à organização social, segundo as histórias, quando ainda eram contadas oralmente pelos anciãos da aldeia, afirmam que foi estabelecido por “Yoi” o sistema regulador da sociedade Ticuna que consiste em atribuir uma identidade familiar em base ao clã, que são famílias extensas e que tem como função legitimar o casamento, impedindo a união com membro da mesma família, evitando assim o incesto.
Todos os povos têm formas de se organizarem para evitar problemas e viver em harmonia. Para a origem dos clãs, que resolveu o problema do casamento consanguíneo, temos duas histórias diferentes. PRIMEIRA: Depois de pescados, o povo Ticuna se dividiu em pares e ficavam dispersos, mas tudo acontecia de bom e de ruim. Yo’i decidiu organizar
seu povo e dividi-lo em clãs: procurou uma jacarerana (ngiri), cortaram e cozinharam, dando para todos comerem. O primeiro a provar o caldo sentiu gosto de sangue (naiãca), e pegou o clã de onça, o segundo sentiu gosto de óleo e pegou o clã de mutum, o terceiro gosto de madeira estragada (nguaca) e pegou o clã de avai, e assim por diante; se dividindo em dois grupos: “com penas” e “sem penas”. SEGUNDA: Conta-se que os Ticuna praticavam antropofagia de época em época com alguém. Nesse pensamento eles observavam se alguém no meio se engordava demasiadamente: o Ticuna tinha concepção que a pessoa saudável possui espírito forte. Ao praticar o ritual, acreditavam que o espírito era transferido para as pessoas envolvidas na festa. Certo dia, planejaram uma festa de ritual de antropofagia onde secretamente alguém era indicado para ser elemento do ritual. Era o pupunary (pássaro), porém o pupunary ficou desconfiado quando o dia da festa chegou e fez uma máscara para observar mais a situação. O que ele ouviu da boca dos anfitriões da festa era que a festa não começava pois faltava o pupunary. Ao ouvir isso, o pupunary se mandou, e fugiu para bem longe do grupo, se transformando em pássaro. Foi buscar o jacurana e jogou na cumeeira da casa, depois fugiu. Já que não mais apareceu na festa o esperado. Os ritualistas aproveitaram o jacurana para o almoço, e quando cada um foi provar, sentiu os sabores de determinadas aves, animais ou árvores. A partir disso que surgiram os clãs na etnia Ticuna. Desde então, cada grupo clânico não pode mais comer o animal a que pertencia, porque se entendia que faz parte do seu corpo.
Os Ticuna ainda possuem uma série de outras histórias que dão conta de explicar seus costumes, suas tradições, bem como questões existenciais como “de onde viemos?”, “para onde vamos?”, “o que fazemos aqui?”, etc. Tais histórias, transmitidas oralmente de geração em geração, contribuem para que o povo Ticuna consiga afirmar positivamente sua identidade no ambiente em que ocupa e, além disso, para que mantenha uma estabilidade com relação ao passado. Com isso, ocorre um fenômeno descrito por Clastres (2012): o indígena não é um povo sem história, mas sim um povo que opta por uma sociedade onde mudanças sociais não são desejáveis por seus membros, de forma que a história do povo Ticuna, em certa medida, não possuiu episódios de grande vulto entre a sua criação mitológica e a chegada dos europeus.
Contudo, para o escopo deste artigo, preferimos nos ater aos mitos já elucidados acima, pois consideramos que a visão Ticuna já se encontra bem exemplificada com eles, bem como alguns aspectos essenciais de sua identidade (como a origem da divisão clânica).
Mesmo que abordemos uma perspectiva científica para a origem dos Ticuna, que não seria o escopo deste artigo, pois foge ao tema de como os Ticuna percebem sua própria
identidade, perceberíamos que, mesmo após a chegada dos indígenas na região sul-americana, ocorreram poucas mudanças: mesmo a passagem pela Revolução Agrícola não lhes despertou o desejo por um poder centralizador, pela acumulação de bens, pela criação de um Estado. A sociedade indígena permaneceu, portanto, contra tal Estado, conforme narrado por Clastres.
O desejo de acumulação individual, de progresso do um e não do todo, existe em pequena medida, mas há mitos que dão conta de mostrar ao povo a importância de que, havendo progresso ou mudanças, elas venham para o todo, e não para o indivíduo. A feitiçaria Ticuna, por exemplo, conforme narrado por Vasques (2014), é um mecanismo social ainda presente: quem tenta acumular, vira alvo de pedidos de favores por parte de seus vizinhos, e, se tenta negá-los, vira alvo de feiticeiros.
Uma vez que já observamos como o sistema Ticuna deu conta de manter-se estável ao longo dos séculos, observemos agora como o processo de eliminação identitária não-indígena afetou profundamente a estrutura social das comunidades.
A partir desta seção, acompanharemos o relato de alguns pesquisadores e viajantes. Primeiramente, Silva apresenta uma breve justificativa sobre o uso de relatos de viajantes para reconstruir a história dos povos indígenas.
Os relatos destes viajantes, apesar de meramente descritivos, servem de base, inclusive, para conhecimento da forma de vida desta etnia como descrição física, comportamento, organização social, traços da personalidade, costumes, mitos e cosmogonia e registram também sua localização geográfica desde o Rio Napo (no Peru) até o Alto Amazonas (atual Rio Solimões) no Brasil (SILVA. 2014, p. 24).
Clastres (2012), inclusive, valoriza o relato de viajantes em seus trabalhos, pois estão entre únicos documentos que possuímos sobre os indígenas no período colonial, especialmente se considerarmos os primeiros séculos de contato. Os povos indígenas, infelizmente, por ainda naquela época não dominarem a língua escrita, ainda não conseguem dispor de meios de contrapor sua história à história dos brancos.
Antes das atuais delimitações dos países, de caráter geopolítico, originalmente o território tradicional Ticuna era um só: a cabeceira dos pequenos rios, onde os Ticunas habitavam em suas malocas clânicas. Com o passar dos anos, com a suposta extinção do povo Kambeba e domesticação do povo Cocama pelos colonizadores, os Ticunas desceram das
cabeceiras dos pequenos rios, para tentar habitar junto à beira do rio Solimões, onde permaneceram.
Já na primeira metade do século XIX, na região do Alto Solimões, alguns povos já estavam extintos ou assimilados pela cultura europeia. De acordo com Bates (1973, p. 175), citado por Oliveira (2015, p. 59):
Por volta da primeira metade do século XIX os viajantes que passavam pelo Alto Solimões traçam o seguinte panorama: o índios do Iça estão praticamente extintos (passes, juris, yumanas e mariates), exceto umas poucas dezenas vivendo juntos aos não índios, principalmente em Tonantins dos omáguas não existe mais qualquer referência [...]
Os Kambebas ou Omáguas eram habitantes da beira do rio Solimões, por isso foram os primeiros a ter contato com o homem branco, sofrendo os maiores impactos da colonização. Foram tidos como povo extinto, mas, nos últimos dez anos, remanescentes deste povo que por muitos anos permaneceram no silêncio, estão ressurgindo e se afirmando como povo.
Os europeus que por aqui chegaram estabeleceram um sistema de controle eurocêntrico que por cinco séculos sufocou a cultura indígena. Como consequência, muitos povos tiveram que negar sua identidade, como uma forma de garantia da sobrevivência. Outros se afastaram para lugares de difícil acesso, fugindo do terror protagonizado pela frente de contato dos colonos bandeirantes e extrativistas e tentando, desta forma, manter o seu meio de vida.
Oliveira Filho (1988, p. 31) afirma que “A preocupação dominante era mostrar a progressiva descaracterização cultural daquelas sociedades e a absorção de crenças e costumes procedentes do branco”. Em outras palavras, absorvidos pela cultura dominante e dominadora, os índios foram obrigados a abandonar seu próprio sistema de organização social e aceitar o modo de vista imposto.
Como consequência da imposição da cultura eurocêntrica, lamentavelmente percebemos muitos dos remanescentes Ticuna que desconhecem os saberes tradicionais, pois, nas famílias e no cotidiano, grande parte da cultura deixou de ser socializada.
Abordaremos, a seguir, dois dos aspectos mais facilmente verificáveis que se perderam entre a cultura Ticuna.
A moradia original onde os Ticunas habitavam, antes da presença dos colonizadores na região, até final do século XVIII, era a maloca clânica, projetada para abrigar todos os membros de uma extensa família clânica. A estrutura era construída de madeiras de árvores bem selecionadas, de forma a apresentar longa durabilidade.
A mobilidade dos assentamentos Tikuna interferiu na estrutura da moradia, que, durante a exploração hispano-lusitana ainda era a maloca. Construída para abrigar avós, pais, filhos, genros, noras e netos; apresentava no século XIX, de acordo com Marcoy (2001) formato arredondado, descrita de forma mais detalhada por Bates (1857, p. 292-294) em sua viagem a São Paulo de Olivença: ‘[...] uma ampla choupana de formato ablongo, cuja parte interna era arranjada de forma desordenada e assimétrica que dava a impressão de ter sido construída por vários pedreiros que trabalhassem independentemente e fossem colocando vigas, esteios, etc., sem tomar conhecimento do que os outros vão fazendo. As paredes e o teto eram cobertos com um trançado de folhas de palmeira. Redes penduradas entre grossos mourões que sustentavam o teto deixavam uma passagem livre no centro, onde era acendido o fogo; num dos lados erguia-se um jirau feito de troncos de palmeira partidos ao meio de sentido longitudinal (SILVA, 2014, p. 44).
Antes de construir a maloca, a arquitetura era muito bem pensada e planejada, de forma a atender as demandas de todas as necessidades da extensa família, tais como conforto e segurança. Acima de tudo, deveria estar bem protegida contra animais perigosos da selva, que poderiam invadir a parte interna da moradia, como serpentes, onças, pernilongos e outros insetos porventura letais.
O formato da maloca era em estilo oval, coberto desde o chão até o teto com um tipo de palmeira nobre conhecido como caraná, retirada do mato com a ajuda de todos os habitantes da moradia. No primeiro dia, com a ajuda de todos, as palmeiras são cortadas e amarradas em feixes de até 80 kg, de forma a facilitar o transporte. Para a cobertura da maloca, eram necessários de 15 a 20 feixes, que eram transportados até o local da construção, onde eram tecidas, costuradas numa vara no formato de um pente. Já transformadas no formato de um pente, eram agrupadas para dar forma à maloca: para a cobertura e a parede, eram necessários de 200 a 300 pentes, feitos de palha de caraná.
Na década de 20, quando o etnólogo alemão Curt Nimuendaju visita pela primeira vez a região do Alto Solimões, verifica que a cultura da maloca já estava extinta. A partir da memória dos remanescentes Ticuna com a qual teve contato, tece algumas considerações a respeito do assunto.
Nimuendajú (1952), citado por Silva, S. (2014, p. 44), “[...] retrata por intermédio de testemunhos orais, o desenho da maloca Tikuna, em formato ‘aparentemente’ circular com uma secção retangular de formato quadrangular, de um, dois ou três metros.”
O tipo de moradia dos Ticunas, as ocas clânicas, foram um dos pilares que foram destruídos e extintos pelos colonizadores que por aqui chegaram, mais conhecidos popularmente como os “patrões” ou “coronéis do barranco”. Eles obrigaram os Ticunas a abandonar a maloca, pois julgavam que pelo fato de viverem em grande número de pessoas na mesma casa eram preguiçosos, além de serem um eventual risco, no caso da organização de uma rebelião.
Visto que o maior interesse dos “patrões” era a produção em grande escala dos produtos do extrativismo, uma vez sob o domínio dos colonizadores os indígenas foram obrigados a viver e trabalhar forçadamente, atendendo aos interesses do “patrão”. Além de passarem em residir em casas que refletiam os núcleos familiares, em modelos similares aos dos “patrões”, uma outra mudança importante ocorreu: não podendo mais apenas produzir para si mesmos em um modelo de vida autossustentável, foram obrigados a deixar de ser autônomos e a servir ao interesse de outrem.
A respeito do abandono das malocas clânicas e do fim do modelo de vida autossustentável pelos Ticunas, Silva (2014, p. 78), também afirma: “De acordo com Cardoso de Oliveira (1964:54); Umbarila (2003); Garcés (2000) o sistema de endividamento para exploração do látex ao qual foram submetidos os indígenas, promoveu aos Tikuna do Brasil e da Colômbia o abandono de suas malocas”.
Documentos a respeito do povo Ticuna antes do contato com o não-indígena são escassos. Com relação a essa realidade Nimuendajú (1952, p. 116), citado por Oliveira (2015,
p. 48) afirma:
Os dados sobre a “situação pré-contato” são bastante escassos e caracterizam-se pelo caráter conjectural e fragmentário. O pouco que se pode dizer com relativa segurança é que os ticuna, antes da chegada dos portugueses e espanhóis na região, foram índios da terra firme, habitando os altos igarapés situados à margem esquerda do rio Solimões, no trecho atualmente compreendido entre Tabatinga e São Paulo de Olivença. Desconheciam de canoas e ubas, evitando sistematicamente as beiras do Solimões, ocupado pelos Omaguas, inimigo dos ticuna e que em alguns de seus mitos e lendas aparecem realizando incursões contra a suas malocas (NIEMUENDAJÚ, 1952, p. 116).
No entanto, as histórias contadas e passadas de geração em geração salientam que os ticunas, antes de sofrerem a invasão territorial, gozavam de autonomia com relação à própria forma de governar, sendo que cada oca clânica tinha seu próprio líder, mais conhecido como (To'ü eru), cuja habilidade era comparada com a esperteza do macaco (To'ü).
O líder nato, desde sua infância, era separado e treinado pelo líder-mestre em todos os saberes da tribo para se construir enquanto tal. Isso incluía a abstinência de certos alimentos e da prática do sexo fora do tempo permitido, pois, deveria ter total compromisso com os interesses do povo e não desperdiçar seu tempo em outros assuntos. Era, portanto, conforme afirma Clastres (2012), uma figura que emana do povo, um verdadeiro democrata numa sociedade onde não se admite um poder centralizador: uma sociedade contra o Estado.
Este líder deveria apresentar habilidade para preparar o povo para as guerras que constantemente aconteciam entre povos vizinhos. Era papel dele também empreender a confecção de zarabatanas, arcos e flechas usados nas atividades da caça de animais e também nas guerras.
Com a chegada dos colonizadores, a figura do líder nato foi extinta, sendo substituído pelo líder e patrão não-indígena. Posteriormente, esta figura foi substituída, ainda, pelo capataz e pelo capitão, líderes que não representavam mais o interesse do povo, e sim do dominador patrão não-indígena.
Ao longo dos anos, produziu-se o hibridismo8 e a gestação da dependência da cultura hegemônica europeia dominante.
Isso gerou sérias consequências de ordem psicológicas e sociais.
Dois fatores vão se conjugar para dar ao seringueiro-índio a sensação de abandono e de deterioração de sua condição de vida, fato que os informantes ticunas algumas vezes atribuem à sucessão de direção no âmbito da empresa, outros vindo substituir os “bons patrões” de antigamente (OLIVEIRA, 2015, p. 75).
Uma vez extinto o líder genuíno, os Ticunas espalharam-se para qualquer direção, seguindo qualquer pessoa. Um exemplo muito lembrado por alguns Ticuna é o do bando de porcos, quando seu principal líder é morto pelo caçador.
O legado da hegemonia hispano-lusitana foi a dependência crônica dos índios em algum líder, ao aceitar a posição de inferioridade com relação aos não-indígenas.
8 Do contato de uma cultura com a outra nasce uma terceira.
Todo o processo de colonização do povo Ticuna, desde a chegada do não-indígena, foi inevitavelmente permeado pelo pensamento europeu, especialmente aquele advindo da Era Industrial, responsável pela extinção e silêncio da diversidade de culturas indígenas.
O tipo de estrutura social próprio da era industrial conduz, ao contrário, grandes massas de população, pertencentes às culturas inferiores descontínuas, em direção às altas culturas normalizadas, homogêneas, secularizadas, transmitidas não somente pelas elites, mas por instituições educativas especializadas sustentadas pelo poder central (POUTIGNAT; FENART; BARTH, 1988, p. 47).
Também de acordo com Luciano (2006, p. 41), “O objetivo, portanto, não era tanto cultural ou racial, mas, sobretudo econômico, guiando toda a política e as práticas adotadas pelos colonizadores”. Assim, as caravanas procedentes de Portugal chegaram à terra que era habitada pelas diferentes nações indígenas, motivadas pelo acúmulo de riquezas, desconsiderando a autonomia, o tipo de vida social, político, religioso e a economia dos povos indígenas.
Ao aportar na terra já habitada pelos índios, a caravana dos homens não-indígenas observou a abundante riqueza natural existente, que no imaginário deles não era de propriedade de ninguém, e imaginou a facilidade de se apossar das mesmas.
Na tentativa de explorar a riqueza encontrada, perceberam que não fora possível extrair a riqueza em grande quantidade com a mão-de-obra dos poucos homens que aqui aportaram, pois o trabalho era difícil e braçal: a alternativa encontrada para acelerar o trabalho de exploração era de incluir a mão-de-obra indígena, e, posteriormente, a mão-de-obra negra, contra a vontade de tais povos.
No momento do encontro com os visitantes estrangeiros que aqui chegaram, a intenção dos indígenas era de prover a melhor recepção, oferecendo ajuda em hospedagem, proteção, alimentação e até mesmo dando presentes como bens preciosos, atitudes que tinham como principal objetivo conhecer melhor o outro, a fim de construir bons relacionamentos, como donos de casa.
Tais atitudes provam que os povos originários ou natos desta terra eram sociedades autônomas muito bem governadas e economicamente autossuficientes; no entanto, a intenção dos visitantes europeus era de explorar a riqueza encontrada e consequentemente de subjugar o índio ao trabalho escravo, para promover seus próprios interesses. Assim, o encontro foi desigual e paulatinamente destruidor da sociedade indígena, tendo como seus principais
símbolos a perda da maloca clânica e a sua substituição por casas; e a perda do líder tradicional, sendo ele substituído por “patrões”, capatazes destes patrões, pelo poder público, e, mais recentemente, pelos caciques, líderes eleitos.
Com a conquista de alguns marcos legais e de terras, os povos Ticuna, destituídos de parte de sua identidade, lutam para tentar manter o que lhes resta.
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O POVO TICUNA SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA: DE SUAS ORIGENS MITOLÓGICAS À PERDA DE SUA IDENTIDADE
EL PUEBLO TICUNA DESDE UNA PERSPECTIVA HISTÓRICA: DE SUS ORÍGENES MITOLÓGICOS A LA PÉRDIDA DE SU IDENTIDAD
Eli Leão CATACHUNGA2
Rosana Maria Pires Barbato SCHWARTZ3
Renan Antônio da SILVA4
RESUMO: Os povos indígenas têm se mantido únicos devido às suas estratégias sociais e culturais, e as atividades educacionais são uma delas. A educação realizada pelos povos indígenas permite que eles continuem a sobreviver e evitem que sua cultura seja transmitida de geração em geração. O povo Ticuna teve longa trajetória no decorrer de sua história, ora marcada pela profunda estabilidade (das origens mitológicas ao primeiro contato com o povo não-indígena), ora marcada por uma profunda violência simbólica e física que ocasionou na perda e da negação de certos aspectos indenitários (a partir do primeiro contato). Veremos algumas das consequências desse contato, que por vezes permanecem até os dias atuais.
PALAVRAS-CHAVE: Contato. Ticuna. Não-indígena. Cosmovisão. Violência.
1 This article revisits, with new data, excerpts from my master's thesis.
2 Mackenzie Presbyterian University (MACKENZIE), São Paulo – SP – Brazil. Master in Education, Art and Cultural History. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3008-6223. E-mail: lepp@rc.unesp.br
3 Mackenzie Presbyterian University (MACKENZIE), São Paulo – SP – Brazil. Research Professor. Doctorate in History (PUC). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3734-0941. E-mail: rosanamaria.schwartz@mackenzie.br
4 State University of Ceará (UECE), Fortaleza – CE – Brazil. Professor in the Graduate Program in Public Policy (Master's and Doctoral). Doctorate in School Education (UNESP). Post-Doctoral Student in Human Rights and Citizenship (UnB). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1171-217X. E-mail: r.silva@unesp.br
RESUMEN: Los pueblos indígenas se han mantenido únicos por sus estrategias sociales y culturales, y las actividades educativas son una de ellas. La educación que realizan los pueblos indígenas les permite seguir sobreviviendo y evitar que su cultura se transmita de generación en generación. El pueblo ticuna ha tenido una larga trayectoria a lo largo de su historia, en momentos marcada por una profunda estabilidad (desde los orígenes mitológicos hasta el primer contacto con los no indígenas), en ocasiones marcada por una profunda violencia simbólica y física que llevó a la pérdida y negación de ciertos aspectos de indemnización (desde el primer contacto). Veremos algunas de las consecuencias de este contacto, que en ocasiones se mantienen hasta el día de hoy.
PALABRAS CLAVE: Contacto. Ticuna. No indígena. Cosmovisión. Violencia.
Writing about a history that was not privileged by historiography until the 1990s is challenging and instigating, especially when one is part of it. As a Ticuna, I have always been concerned about studying the consequences of the civilization process, implemented since the beginning of the conquest of the Americas by the Portuguese, in contemporary times, since violence, degradation, uprooting, and destribalization mark the Ticuna indigenous history, culture, and education.
Non-indigenous historiography points out that around 1500 there were from 1 million to 3 million indigenous people in Brazil (FUNAI)5, and that in five centuries, this native population was reduced to 306,000, which represents 0.03% of the Brazilian population, according to IBGE (2010).
The history of a people has a decisive value in the lives of its subjects, whether to plan a future full of achievements or simply to be complacent in the face of the most diverse situations, because they are unaware of their history. Thus, the objective of this article is to try to follow the paths of the history of the original peoples, and, in particular, of the Ticuna people, with a special focus on education. Starting with the mythological origins of the Ticuna, we will follow the destruction of the pillars of their social organization with the arrival of non-indigenous people, the indigenous movement, their struggles and achievements; arriving, finally, to a re-signification achieved by this people today.
5 Pierre Clastres points to a higher estimate: about 25 million Indians inhabited, according to the author, South America, 100 million on the American continent as a whole; and that about a hundred years after the colonization process began, a quarter of the world's population had been wiped out; constituting one of the greatest tragedies of humanity (CLASTRES, 2012, p. 114).
Today, the villages of the Ticuna people are located in the Alto Solimões region, in the state of Amazonas, on the banks of the Solimões River and the headwaters of small rivers.
Before contact with white people, there were no villages: there were clan families living far apart from each other. The first villages emerged with the presence of new agents from outside, at the beginning of the 20th century, with the presence of the Serviço de Proteção ao Índio-SPI; the first known village was Umariaçú. Another agent responsible for gathering Ticuna families was Protestantism: this was the case in the municipality of Santa Rita do Weil, which granted land to families adhering to the religion, giving rise to the Campo Alegre Community; and in the municipality of Santo Antonio do Iça, from which emerged the Vila Betânia community.
Source: Google (2020)
The villages, now 250 in number, are located in the territories of seven municipalities: Tabatinga, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio de Içá, Tonantins and Coari. In the last 25 years, some families have migrated from the Alto Solimões over 1,000 km down the Solimões River to the city of Manaus, where there is now an urban village in the Cidade de Deus neighborhood.
Due to the fact that their location is the triple border, there are also villages of the Ticuna people in the neighboring countries of Peru and Colombia. The relationship of communication and exchange with the villages of the three countries is constant, because for the individual Ticuna, the border barrier is a minor factor dividing the people: the factors that unify them, such as cultural and linguistic identity, are greater.
They are an ancient people who inhabited the Amazon Basin at least 2,000 years before the arrival of the Portuguese and Spanish colonizers. They occupied the firm lands and mainly the headwaters of the small rivers/igarapés, tributaries of the Solimões River. According to Silva (2014, p. 24) "according to archaeological records, the Tikuna date back to 950 (± 90) AD based on ceramic fragments similar to ceramics made by the present-day Tikuna."
Usually the question to be asked by a non-Indian would be, "to which country do the Ticunas belong? Are they Brazilians, Peruvians, or Colombians?". Since the perspective this article seeks is identity, that is, how the Ticuna perceive themselves, the answer to this question inevitably comes through the myths told from generation to generation.
In this chapter, we will introduce the story of the creation of the world from the perspective of the Ticuna, with data collected from the accounts of the elders6, reorganized by me.
The elders tell that, before the world existed, Ngutapa, the God of creation, already existed, having no father or mother. He married Mapana, with whom he greatly desired to have a child. However, his wife could not become pregnant, and Ngutapa was furious: he invited her into the forest, where he planned to abandon her as punishment.
From the maloca where they lived, they went on a trail, and after walking a long way, he sat down on the trunk of a fallen stick at the edge of the trail, called his wife and asked, "Why didn't you give me a son, tell me the reason?" She replied, "Is that why you are angry?" He confirmed this and went after her, assaulting her. Helpless, she cried aloud for help, but no one was around to help her.
6 Data collected in the Community of Philadelphia, Santo Antônio Demarcated Land, municipality of Benjamin Constant-AM, during the year 2019.
Ngutapa beat her harder, beating her hard on the chest: Mapana fell to the ground half dead. He took a vine rope and tied her feet and arms to the trunk of a tree and left, abandoning her in the woods, far away from her home.
Mapana was left alone, tied by a vine rope to the trunk, with no chance to free herself. She cried in an alarmed voice, and it was at this moment that a bird called Coü approached and sang around her. Desperate for help, she asked: "Coü bird, it's good that you heard my cries for help, come and help me, this damned Ngutapa has punished me. The bird came down from the tree and asked, "Is that you my granddaughter?7 What happened to you ?"
At that moment, the Coü bird transformed into a beautiful Ticuna Indian. Full of compassion for the Mapana woman, who was almost dying, he approached her, asking her again, "What happened to you, my granddaughter?" She replied, "Ngutapa is worthless, he punished me! Please untie me from this trunk! I am already exhausted, I can't stand the pain anymore."
Coü carefully loosened the ropes from her arms and feet, leaving her totally free, then guided her to return the punishment to Ngutapa: "You are going to catch a nest full of variegated paper wasp and you are going to wait for Ngutapa to pass by on the way. But you must hide yourself in the middle of the bush in such a way that he won't see you as he passes by the trap. You must throw the nest of variegated paper wasp at the height of his knees. Agreed?" She agreed, and proceeded to execute her revenge.
Mapana went looking for a nest of variegated paper wasp, and soon found one. With a leaf in his hand, he approached, picked up the nest, and carefully carried it down the trail.
Walking slowly, he approached the place where Ngutapa usually passed by: that day he would come playing a song and dancing, to celebrate the successful punishment of his wife.
Mapana, upon reaching the trail, looked for a place with plenty of bushes, where she hid. Discretely, she waited for the moment her husband would pass by. Before long, here came Ngutapa, singing and dancing. When she passed very close, she then threw the variegated paper wasp 's nest over him, right in the direction of his knees.
The variegated paper wasp stung both his knees: the pain was unbearable, and Ngutapa could not walk. Screaming, he asked his wife for forgiveness, and crawled back to his maloca, barely able to lie down in the hammock as soon as he arrived.
7 A form of family treatment.
After a week of much suffering and pain, his knees swelled up badly. The size was too big, and he wanted to know what was wrong. Suddenly, he realized that inside each knee were different people: on the right knee was Yo'i, who was making a blowgun, and his sister Aicüna, who was very busy weaving a net. On his left knee was Ipi, working with the making of a bow and arrow. On her side was her sister Mowatcha, also busy weaving a bag of tucum fiber.
So it was from the knees of Ngutapa that Yo'i, the good god, and Ipi, the god of evil, came into existence. These characters are important for the creation of the Ticuna Indians, because, according to the memory of the community elders, transmitted orally from parents to children, this people is called Magüta people, a term from the Ticuna language that means "real people", a name given at the moment of creation by the mythical hero Yo'i, the good God.
Yo'i, the Ticuna God, had the power to make real everything he thought or wished for. He filled the earth with life and hope, but he felt lonely, because he lived alone with his brothers. Yo'i and Ipi decided to cut down this tree and bring light into the world, inviting all the forest animals to help. But not even the woodpecker succeeded. Only the Taine Katoo made it, because he was promised marriage to Aicüna as a reward. He climbed to the top of the tree and discovered that a sloth was holding the tree in the sky. Taine threw fire ants into the sloth's eyes, and the sloth let go of the sky. With this, the tree fell, but the trunk regenerated very quickly, because the tree had a heart. Ipi tried to take it out with an ax, but the heart jumped far away: it was a butterfly that managed to catch it in mid-jump. She passed it to the calango, and the calango passed it to the agouti, who ran off and planted it, hiding from Yo'i and Ipi's brothers. But Yo'i searched and found the seed stone-heart, and took it to plant in his field. In time, the umari tree was born, and its last fruit gave birth to Yo'i's wife, who then had a son by Ipi. Yo'i called Ipi and his son, to purify him by painting his body with jenipap. Yo'i ordered Ipi to grate the jenipap incessantly, but in doing so he ended up grating his body together, and Ipi's flesh mixed with the jenipap dregs. The mixture of blood, flesh and seeds was thrown into the Eware river by his wife Tetchi arü Ngu'i, and turned into fish. She was sad that she had thrown it into the river, and asked Yo'i to fish it back out. Yo'i, tired of being alone and wanting to populate the earth and make the world more joyful and complete, caught the fish from the river, one by one. But only animals came with the hook, always male and female together: this is how the animals came into being. But Tetchi arü Ngu'i wanted his husband, and Yo'i wanted human beings: how to catch them? He decided to replace the bait with manioc: thus, everything he caught began to transform into beings
similar to him, humans, who ran around on the land. This is how humanity came about, and this is how the Magüta people came about. During the spawning season he saw a different fish, with a golden forehead, but the fish would not take the bait. He had an idea, and asked Tetchi arü Ngu'i to try to catch it, because he thought the fish was Ipi. He got it right: the fish jumped out of the water and turned into Ipi. Ipi saw what his brother did, and wanted a people for himself, too. So, he fished other people with yuca, but tapered the nose of each one, to differentiate them from his brother's people: this is how the Peruvians were born, and he went with them towards the source of the sun. But Yo'i wanted to confuse his brother, and turned the world upside down, making Ipi go to the setting sun, where there was much gold. There, Ipi controlled the waters of the Amazon, making sure that there was neither too much nor too little flowing. Yo'i left the Magüta people in the sacred land of Eware and went to the rising sun, hoping to bring tools for his people's agriculture.
They say that when Yo'i was on the shore of Eware Lake, the sacred lake, he took his fishing rod and used a coconut seed (a seed of the tucumã palm, which is a kind of palm tree) as bait to try to catch fish. He soon threw the hook into the water, and when he pulled it out, the fish he had hooked turned into a bush pig. He threw the hook again, and another animal appeared, and so on, until all the animals appeared, each one with its male and female pair. Since the pig of the bush was the first to bite the hard coconut, its teeth are hard and tough to this day.
When Yo'i realized that the fish he hooked did not turn into people, he decided to change bait: he went to the fields in search of yuca, and as soon as he got some, he put it on the hook: the fish that were hooked turned into duuṹˈgü (real people) and these were the Ticunas "the Magüta people. This is the reason why the teeth of the Ticunas are soft and not very strong.
Since the Ticuna people, from a mythological perspective, originated in the sacred land of Ewaré, today near the Community of Vendaval, municipality of São Paulo de Olivença, officially, the Ticuna have a Brazilian origin. However, it is worth saying that, in truth, they do not perceive their identity as belonging to any of the three countries, but rather to a Ticuna Nation, which encompasses the territory where they live.
Let us return, however, to the mythological narratives.
The grandfather of the indigenous teacher Santos Cruz tells that after Yo'i had fished the people out, the time came when all the people needed to take a bath in the sacred Eware lake, for this the people were divided into three groups. The first group that bathed was very clean, very white: these are the people who today have very white skin, like the Germans,
French, Italians, etc. The second group went to bathe in the same water, but as the water was a little dirty with the dirt of the first group, their skin was not very clean: these are the Ticuna. Finally, the third group went to bathe in the same water, but the water was already very dirty, so it was not possible to clean the skin: therefore, the people in the third group had quite black skin.
Let us notice, however, how this last narrative already has, in fact, the mark of contact with the non-indigenous; trying to include it in the indigenous cosmogony. However, unfortunately, the erroneous notion that there are "levels of cleanliness" for the population has also penetrated this myth, thus surreptitiously propagating the idea that one people would be superior to the other. Notice how this narrative highlights the penetration of non-indigenous symbolic violence into Ticuna culture, as it shows the superiority of another people, the Europeans, over the Ticuna, in their own cosmogonic narrative.
According to the elders of the tribe the story tellers, this part of the story is not told to the people in the first group and the third group.
Gruber, who worked on a book about trees with the Ticuna teachers, says about the myth of creation:
When the spawning season was over, Yo'i made a reed and went fishing, using ripe tucumã seeds. But the fish, when they fell to the ground, turned into animals: peccaries, tapirs, deer, and many others. Then Yo'i used bait made from cassava, and with this bait the little fish turned into people. Yo'i took advantage of this and caught a lot of people. But his brother was not among these people. Yo'i then handed the reed to Tetchi arü Ngu'i, and she managed to catch a little fish that had a spot of gold on its forehead. It was Ipi. Ipi jumped ashore, took the reed, and caught the Peruvians and other people. These people went away with Ipi to the side where the sun sets. From the people caught by Yo'i descend the Ticuna and also other peoples who went to the side where the sun rises, including whites and blacks (GRUBER, 1997, p. 18, our translation).
The Ticuna people, or Magüta people, as stated by the elders of the tribe, means real people, raised and endowed with intelligence to take care of their society, therefore organized politically, economically, socially and culturally.
Regarding the social organization, according to the stories, when they were still told orally by the village elders, they say that it was established by "Yoi" the regulatory system of the Ticuna society that consists of assigning a family identity based on the clan, which are extended families and whose function is to legitimize marriage, preventing the union with members of the same family, thus avoiding incest.
All peoples have ways of organizing themselves to avoid problems and live in harmony. For the origin of the clans, which solved the problem of consanguineous marriage, we have two different stories. FIRST: After being fished, the Ticuna people divided into pairs and were scattered, but everything happened good and bad. Yo'i decided to organize his people and divide them into clans: he looked for a jacarerana (ngiri), cut it up, and cooked it, giving it to everyone to eat. The first to taste the broth tasted blood (naiãca), and got the jaguar clan, the second tasted oil and got the curassow clan, the third tasted rotten wood (nguaca) and got the avai clan, and so on; dividing into two groups: "with feathers" and "without feathers. SECOND: It is said that the Ticuna practiced anthropophagy from time to time with someone. In this thought they would observe if someone in the middle got too fat: the Ticuna had the conception that a healthy person has a strong spirit. By practicing the ritual, they believed that the spirit was transferred to the people involved in the party. One day, they planned an anthropophagy ritual party where secretly someone was indicated to be part of the ritual. It was the pupunary (bird), but the pupunary became suspicious when the day of the party arrived and made a mask to observe the situation further. What he heard from the mouths of the party hosts was that the party would not begin because the pupunary was missing. Upon hearing this, the pupunary sent off, and fled far away from the group, turning into a bird. He went to get the Jacurana and threw it on the ridge of the house, then ran away. Since no more appeared at the party the expected one. The ritualists used the jacurana for lunch, and when each one went to taste it, they felt the flavors of certain birds, animals or trees. It was from this that the clans in the Ticuna ethnic group emerged. Since then, each clan group can no longer eat the animal to which they belonged, because it was understood that it is part of their body.
The Ticuna also have a series of other stories that explain their customs, their traditions, as well as existential questions such as "where do we come from?", "where are we going?", "what are we doing here?", etc. These stories, transmitted orally from generation to generation, contribute to the Ticuna people's positive affirmation of their identity in the environment in which they live, and, moreover, to their stability with respect to the past. With this, a phenomenon described by Clastres (2012) occurs: the indigenous people are not a people without history, but rather a people who choose a society where social changes are not desirable by its members, so that the history of the Ticuna people, to some extent, did not have major episodes between their mythological creation and the arrival of Europeans.
However, for the scope of this article, we prefer to stick to the myths already elucidated above, since we consider that the Ticuna vision is already well exemplified with
them, as well as some essential aspects of their identity (such as the origin of the clan division).
Even if we approached a scientific perspective for the origin of the Ticuna, which would not be the scope of this article, since it escapes the topic of how the Ticuna perceive their own identity, we would realize that, even after the arrival of the indigenous people in the South American region, few changes occurred: even the passage through the Agricultural Revolution did not awaken in them the desire for a centralizing power, for the accumulation of goods, for the creation of a State. The indigenous society remained, therefore, against such a State, as narrated by Clastres.
The desire for individual accumulation, for the progress of the one and not of the whole, exists to a small extent, but there are myths that show the people the importance that if there is progress or change, it should be for the whole and not for the individual. The Ticuna witchcraft, for example, as narrated by Vasques (2014), is a social mechanism still present: those who try to accumulate become targets of requests for favors from their neighbors, and if they try to deny them, they become targets of witchdoctors.
Since we have already observed how the Ticuna system managed to remain stable over the centuries, let us now observe how the process of non-indigenous identity elimination deeply affected the social structure of the communities.
From this section, we will follow the accounts of some researchers and travelers. First, Silva presents a brief justification for the use of travelers' accounts to reconstruct the history of indigenous peoples.
The reports of these travelers, although merely descriptive, serve as a basis, even, for knowledge of the way of life of this ethnic group as physical description, behavior, social organization, personality traits, customs, myths and cosmogony and also record their geographical location from the Napo River (in Peru) to the Upper Amazon (now Solimões River) in Brazil (SILVA. 2014, p. 24, our translation).
Clastres (2012) even values the travelers' reports in his works, because they are among the only documents we have about the indigenous peoples in the colonial period, especially if we consider the first centuries of contact. The indigenous peoples, unfortunately, because at that time they still did not master the written language, still do not have the means to contrast
their history with the history of the whites.
Before the current geopolitical delimitations of the countries, the traditional Ticuna territory was originally one: the headwaters of the small rivers, where the Ticunas lived in their clan longhouses. Over the years, with the supposed extinction of the Kambeba people and the domestication of the Cocama people by the colonizers, the Ticunas moved down from the headwaters of the small rivers to try to inhabit the Solimões River, where they remained.
Already in the first half of the 19th century, in the Alto Solimões region, some peoples were already extinct or assimilated by the European culture. According to Bates (1973, p. 175), cited by Oliveira (2015, p. 59, our translation):
Around the first half of the 19th century travelers passing through the Alto Solimões drew the following picture: the Indians of the Iça are practically extinct (passes, juris, yumanas and mariates), except for a few dozen living together with non-Indians, especially in Tonantins of the omáguas there is no longer any reference [...]
The Kambebas or Omáguas were the inhabitants of the Solimões river banks, and were the first to have contact with the white man, suffering the greatest impacts of colonization. They were considered an extinct people, but in the last ten years, remnants of these people, who for many years remained silent, are resurging and asserting themselves as a people.
The Europeans who arrived here established a Eurocentric control system that for five centuries suffocated the indigenous culture. As a consequence, many people had to deny their identity, as a way to guarantee survival. Others moved away to places of difficult access, fleeing from the terror of the contact front of the bandeirantes settlers and extractivists and trying, in this way, to maintain their way of life.
Oliveira Filho (1988, p. 31) states that "The dominant concern was to show the progressive cultural decharacterization of those societies and the absorption of white people's beliefs and customs". In other words, absorbed by the dominant and dominating culture, the Indians were forced to abandon their own system of social organization and accept the imposed point of view.
As a consequence of the imposition of the Eurocentric culture, we unfortunately notice that many Ticuna people are unaware of the traditional knowledge, because, in the families and in daily life, much of the culture has ceased to be socialized.
In the following we will address two of the most easily verifiable aspects that have been lost among the Ticuna culture.
The original dwelling where the Ticunas lived, before the presence of colonizers in the region, until the end of the 18th century, was the clan maloca, designed to house all the members of an extensive clan family. The structure was built of wood from wellselected trees, so as to be long-lasting.
The mobility of the Tikuna settlements interfered with the housing structure, which during the Spanish-Lusitanian exploration was still the maloca. Built to house grandparents, parents, children, sons-in-law, daughters-in-law, and grandchildren, it presented in the 19th century, according to Marcoy (2001) a rounded shape, described in more detail by Bates (1857, p. 292-294) in his trip to São Paulo de Olivença: '[....] an ample hut of ablong shape, whose internal part was arranged in a disorderly and asymmetric way that gave the impression of having been built by several masons working independently and placing beams, props, etc., without being aware of what the others were doing. The walls and ceiling were covered with a braid of palm leaves. Nets hung between thick posts that supported the ceiling left a free passage in the center, where the fire was lit; on one side there was a jirau made of palm trunks split in half lengthwise (SILVA, 2014, p. 44, our translation).
Before building the maloca, the architecture was very well thought out and planned in order to meet the demands of all the needs of the large family, such as comfort and safety. Above all, it had to be well protected against dangerous jungle animals that could invade the inside of the house, such as snakes, jaguars, mosquitoes and other insects that could be lethal.
The shape of the maloca was oval, covered from the floor to the ceiling with a type of noble palm known as caraná, taken from the bush with the help of all the inhabitants of the dwelling. On the first day, with everyone's help, the palm trees are cut and tied in bundles of up to 80 kg, in order to facilitate transportation. For the roof of the maloca, 15 to 20 bundles were needed, which were transported to the construction site, where they were woven together, sewn onto a stick in the shape of a comb. Once transformed into the shape of a comb, they were grouped together to shape the maloca: for the roof and the wall, 200 to 300 combs, made of caraná straw, were needed.
In the 1920s, when the German ethnologist Curt Nimuendaju visited the Alto Solimões region for the first time, he verified that the maloca culture was already extinct. Based on the memory of the Ticuna people with whom he had contact, he makes some observations on the subject.
Nimuendajú (1952), cited by Silva, S. (2014, p. 44, our translation), "[...] depicts through oral testimonies, the design of the Tikuna maloca, in an 'apparently' circular shape with a square-shaped rectangular section, one, two or three meters long."
The Ticuna dwelling type, the clan huts, was one of the pillars that was destroyed and extinguished by the colonizers who arrived here, more popularly known as the "bosses" or "colonels of the ravine". They forced the Ticunas to abandon the maloca, because they thought that living in large numbers in the same house made them lazy and a possible risk in case they organized a rebellion.
Since the main interest of the "bosses" was the large-scale production of extractivism products, once under the colonizers' domination the indigenous people were forced to live and work in the interests of the "bosses". In addition to living in houses that reflected the family nucleus, in models similar to those of the "bosses," another important change occurred: they could no longer only produce for themselves in a self-sustainable life model, they were forced to stop being autonomous and to serve the interests of others.
Regarding the abandonment of the clan longhouses and the end of the self-sustainable life model by the Ticunas, Silva (2014, p. 78, our translation), also states: "According to Cardoso de Oliveira (1964:54); Umbarila (2003); Garcés (2000) the debt system for latex exploitation to which the indigenous people were subjected, promoted to the Tikuna of Brazil and Colombia the abandonment of their longhouses."
Documents regarding the Ticuna people before contact with non-indigenous people are scarce. Regarding this reality Nimuendajú (1952, p. 116), cited by Oliveira (2015, p. 48, our translation) states:
Data on the "pre-contact situation" are quite scarce and are conjectural and fragmentary. What little can be said with relative certainty is that the Ticuna, before the arrival of the Portuguese and Spaniards in the region, were dryland Indians who inhabited the high igarapés located on the left bank of the Solimões River, in the stretch between Tabatinga and São Paulo de Olivença. They were unaware of canoes and ubas, and systematically avoided the banks of the Solimões River, occupied by the Omaguas, an enemy of the Ticuna, who in some of their myths and legends appear conducting raids against their longhouses.
However, stories told and passed down from generation to generation point out that the Ticunas, before suffering territorial invasion, enjoyed autonomy with respect to their own way of governing, with each clan hut having its own leader, better known as (To'ü eru), whose ability was compared to the cunning of the monkey (To'ü).
The born leader, since his childhood, was separated and trained by the masterleader in all the knowledge of the tribe in order to build himself as such. This included abstinence from certain foods and from sex outside the permitted time, because he should have total commitment to the interests of the people and not waste his time on other matters. He was, therefore, as Clastres (2012) states, a figure who emanates from the people, a true democrat in a society where centralizing power is not allowed: a society against the state.
This leader should have the ability to prepare the people for the wars that constantly took place between neighboring peoples. It was also his role to undertake the making of blowpipes, bows and arrows used in animal hunting activities and also in warfare.
With the arrival of the colonizers, the figure of the born leader was extinguished, being replaced by the non-indigenous leader and boss. Later on, this figure was also substituted by the foreman and the captain, leaders that no longer represented the interests of the people, but those of the dominating non-indigenous boss.
Over the years, hybridity8 and the gestation of dependence on the dominant European hegemonic culture was produced.
This has generated serious psychological and social consequences.
Two factors will combine to give the seringueiro-indian the feeling of abandonment and deterioration of his living conditions, a fact that the Ticuna informants sometimes attribute to the succession of management within the company, others coming to replace the "good bosses" of old (OLIVEIRA, 2015, p. 75, our translation).
Once the genuine leader was extinct, the Ticunas spread out in any direction, following anyone. An example often remembered by some Ticuna is that of the pig herd, when its main leader is killed by the hunter.
The legacy of Spanish-Lusitanian hegemony was the chronic dependence of the Indians on some leader, by accepting the position of inferiority with respect to nonIndians.
The entire colonization process of the Ticuna people, since the arrival of the nonindigenous, was inevitably permeated by European thought, especially that coming from the Industrial Age, responsible for the extinction and silencing of the diversity of indigenous cultures.
8 From the contact of one culture with another, a third is born.
The type of social structure proper to the industrial age leads, on the contrary, large masses of the population, belonging to discontinuous lower cultures, toward normalized, homogeneous, secularized high cultures, transmitted not only by the elites, but by specialized educational institutions supported by the central power (POUTIGNAT; FENART; BARTH, 1988, p. 47, our translation).
Also according to Luciano (2006, p. 41, our translation), "The objective, therefore, was not so much cultural or racial, but, above all, economic, guiding the whole policy and practices adopted by the colonizers". Thus, the caravans coming from Portugal arrived to the land that was inhabited by the different indigenous nations, motivated by the accumulation of wealth, disregarding the autonomy, the social, political, religious type of life and the economy of the indigenous peoples.
Upon landing on the land already inhabited by the Indians, the caravan of nonIndians observed the abundant natural wealth, which in their imagination was owned by no one, and imagined how easy it would be to take possession of it.
In the attempt to exploit the wealth found, they realized that it would not be possible to extract the wealth in large quantities with the labor of the few men who arrived here, because the work was difficult and manual: the alternative found to speed up the exploitation work was to include indigenous labor, and later black labor, against the will of these people.
At the moment of meeting the foreign visitors who arrived here, the indigenous people's intention was to provide the best reception, offering help with lodging, protection, food, and even giving gifts as precious goods, attitudes that had as their main objective to know the other better, in order to build good relationships, as the owners of the house.
Such attitudes prove that the original or native peoples of this land were autonomous societies very well governed and economically self-sufficient; however, the intention of the European visitors was to exploit the wealth found and consequently to subjugate the Indian to slave labor, to promote their own interests. Thus, the encounter was unequal and gradually destroyed the indigenous society, having as its main symbols the loss of the clan maloca and its replacement by houses; and the loss of the traditional leader, who was replaced by "bosses", foremen of these bosses, by the public power, and, more recently, by the caciques, elected leaders.
With the conquest of some legal landmarks and land, the Ticuna people, deprived of part of their identity, struggle to try to keep what they have left.
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