CALAR HOJE É SER CÚMPLICE: MARIA LACERDA DE MOURA1


CALLAR HOY ES SER CÓMPLICE: MARIA LACERDA DE MOURA


TO SHUT UP TODAY IS TO BE AN ACCOMPLICE: MARIA LACERDA DE MOURA


Tatiana Ranzani MAURANO2 Glaucia Uliana PINTO3

Anna Maria Lunardi PADILHA4


RESUMO: O objetivo deste artigo é dar a conhecer algumas reflexões que permearam uma pesquisa de mestrado em educação e que compreendeu o esforço de fazer uma Análise de Configuração Textual (MORTATTI, 2000) do segundo livro de Maria Lacerda de Moura (1887-1945), Renovação (1919). Apresentamos o instrumento metodológico utilizado como procedimento para historicizar a autora e suas contribuições para pensar questões de gênero e concluímos que a dominação patriarcal e as desigualdades de gênero perpassam gerações, incitando-nos a seu enfrentamento.


PALAVRAS-CHAVE: Maria Lacerda de Moura. Renovação. Análise de configuração textual.


RESUMEN: El objetivo de este artículo es presentar algunas reflexiones que impregnaron una investigación de maestría en educación y que incluyeron el esfuerzo por realizar un Análisis de la Configuración Textual (MORTATTI, 2000) del segundo libro de Maria Lacerda de Moura (1887-1945), Renovação (1919). Presentamos el instrumento metodológico utilizado como procedimiento para historizar a la autora y sus aportes para reflexionar sobre cuestiones de género y concluir que la dominación patriarcal y las desigualdades de género impregnan generaciones, animándonos a enfrentarlas.


PALABRAS CLAVE: Maria Lacerda de Moura. Renovação. Análisis de configuración textual.


ABSTRACT: The aim of this article is to present some reflections that permeated a master's degree research in education, and which included the effort to carry out a Textual Configuration Analysis (MORTATTI, 2000) of Maria Lacerda de Moura's second book (1887- 1945), Renovação (1919). We present the methodological instrument used as a procedure to



1 “Calar hoje é ser cúmplice. Pratiquemos crime inominável da coragem, no meio da covardia e do cinismo da hora presente” (MOURA, 1934, p. 112).

2 Universidade Estadual Paulista (UNESP), Marília – SP – Brasil. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4649-8882. E-mail: tatiana.ranzani@unesp.br

3 Instituto Ayrton Senna (IAS), São Paulo – SP – Brasil. Consultora. Doutorado em Educação pela Unimep. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5167-9664. E-mail: glauciauliana@gmail.com

4 Instituto de Pesquisas Heloísa Marinho (IPHEM), Rio de Janeiro – RJ – Brasil. Pesquisadora. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6624-660X. E-mail: annamlpadilha@gmail.com



historicize the author and her contributions to think about gender issues and conclude that patriarchal domination and gender inequalities pervade generations, encouraging us to confront them.


KEYWORDS: Maria Lacerda de Moura. Renovação. Analysis of textual configuration.


Introdução


O objetivo deste artigo é apresentar contribuições teóricas e metodológicas para discutir questões de gênero a partir de uma das obras de Maria Lacerda de Moura (1887- 1945), autora considerada, aqui, como personalidade histórica que debate acerca do movimento feminista no Brasil. Destaca-se a Análise de Configuração Textual (MORTATTI, 2000) como procedimento metodológico promissor para este estudo. Tal temática e caminho metodológico surgem como desdobramento de uma pesquisa de mestrado em educação que se debruça tanto sobre a perspectiva metodológica em questão, como nos escritos do livro Renovação (MOURA, 1919).

O desenvolvimento da pesquisa documental e bibliográfica foi possível tendo acesso à Coleção de Miriam Lifchitz Moreira Leite5 (1984), no Centro de Documentação e Memória da Unesp (Cedem), em São Paulo. Nessa coleção, encontram-se todos os documentos que Leite (1984) utilizou para a sua pesquisa de doutorado, publicada no livro A outra face do feminismo: Maria Lacerda de Moura, em que a pesquisadora reuniu grande parte da obra de Maria Lacerda de Moura, proporcionando-nos o acesso a esse conhecimento. Importa ainda destacar a relevância de um Centro de Documentação e Memória para a pesquisa documental e histórica.

A produção literária de Maria Lacerda de Moura é vasta; são 14 livros, vários escritos em revistas, palestras e conferências, além da edição de uma revista, que circulou por um ano. O tempo de um mestrado não nos permitiria estudar todos os seus escritos, além do fato de outras pesquisadoras e pesquisadores já terem se debruçado sobre alguns deles. Entretanto, uma questão em particular chamou a nossa atenção, e que não foi suficientemente trabalhada por nós, até então. O livro Renovação de 1919 e sua contribuição para a discussão de gênero, patriarcado e educação.



5 “[...] Graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1947), graduação em História Econômica pela Universidade de São Paulo (1983) e pós-doutorado pela Eastman Foundation (1990). [Foi] assessora em fotografia histórica do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia e Professor doutor - pesquisa em imagem do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia”. Disponível em: http://lattes.cnpq.br/5181395079788133. Acesso em: 08 ago. 2021.

Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 10, n.00, e021019, jan./dez. 2021. e-ISSN: 2358-4238



Inúmeras leituras e releituras do texto Renovação possibilitaram avanços no sentido de entender a história de vida da autora e o que tem a nos dizer, o contexto histórico ao qual ela estava inserida, além da história da educação e do anarquismo no Brasil. Por isso, uma colcha de retalhos de citações de seus escritos permeou todo o trabalho, numa tentativa de compreender a autora e seus escritos, olhando para o ontem e o hoje, apreendendo nas idas e vindas o quanto a dominação é histórica, surpreendendo-nos com o quanto ela está na estrutura de todo um sistema social (MAURANO, 2020a, p. 200- 201).


Maria Lacerda de Moura faz um debate histórico do movimento feminista no Brasil e em outras partes do mundo, questiona a subjugação da mulher e destaca a importância de a mulher se instruir e se libertar da opressão imposta pela sociedade patriarcal.

Tanto para estudar o livro Renovação (1919), quanto para elaborar as contribuições pretendidas neste texto, ou seja, destacar a relevância do método para historicizar e resgatar as ideias de uma escritora, utilizamos a Análise de Configuração Textual (MORTATTI, 2000), como um procedimento metodológico que permite questionar e fazer o devido aprofundamento histórico de e sobre a autora e o seu contexto social, procurando compreender suas motivações.

Com o texto documental reunido e tendo como base essa ferramenta metodológica, foi possível problematizar os escritos de Maria Lacerda de Moura, na tentativa de um diálogo com sua obra, aproximando-nos da temática da subjugação feminina por ela evidenciada.

Em uma abordagem histórica, é central posicionar o discurso da autora e perceber suas escolhas ao abordar os conteúdos, a forma como ela os apresenta, como se posiciona diante dos fatos apresentados, o seu ponto de vista, onde ele se encontra dentro do contexto histórico vivido e para quem escreve os seus textos, quais suas necessidades. Aspectos que a Análise de Configuração Textual trabalha minuciosamente.

Destacamos o instrumento metodológico da Análise de Configuração Textual (MORTATTI, 2000), apontando que ele contribuiu de forma estruturante tanto para a realização da pesquisa de mestrado (MAURANO, 2020a), como para a escrita deste artigo. Entretanto, antes de trazê-lo como perspectiva de compreensão histórica de uma escritora que ainda nos diz sobre o presente, é preciso falar sobre ela, o que faremos a seguir.


Os escritos de Maria Lacerda de Moura


Sobre a autora, os pesquisadores que publicaram a 2ª edição do livro Renovação relatam:


[...] nascida em 16 de maio de 1887, em Manhuaçu / MG, na fazenda de Monte Alverne, Maria Lacerda de Moura é filha de Modesto de Araújo



Lacerda e Amélia Araújo Lacerda, simpatizantes de ideias anticlericais e suas primeiras influências de contestação. Ao longo das décadas de 1920 e 1930, Maria Lacerda tem voz destacada nas lutas sociais quando, junto com outras militantes libertárias, pelas páginas dos periódicos, difunde sua palavra e denuncia a exploração capitalista, contradita os fundamentos da moral burguesa, a opressão masculina, a instituição do casamento, afirmando, para além do direito ao corpo e ao prazer, o horizonte da luta pela emancipação social de homens e mulheres (GONÇALVES; BRUNO; QUEIROZ apud MOURA, 2015, p. 6).


Ainda em Barbacena, em 1912 começa a escrever croniquetas para os jornais locais, mas é em 1918 que publica Em torno da Educação, onde ela escreve referente a esta temática:


[n]o livro Em torno da Educação, analisa as questões educacionais, principalmente o analfabetismo, pois na data de publicação desta obra cerca de 80% dos brasileiros eram analfabetos; e mostra como a educação era fundamental para a emancipação feminina (MARTINS; COSTA, 2016, p. 219).


A partir desse primeiro livro, começa a se aproximar dos estudos anarquistas, em contato com José Oiticica e Galeão Coitinho. Ainda sobre educação, escreve, em 1925, Lições de Pedagogia e, em 1934, Ferrer, o clero romano e a educação laica.

Em 1919, escreve o livro Renovação, um marco em sua bibliografia, debatendo as problemáticas referentes à subjugação e à condição feminina. Em 1924, escreve o seu livro mais conhecido e traduzido também para o espanhol: A mulher é uma degenerada, quando faz o exercício de desmistificar teorias médicas preconceituosas em relação à degenerescência da mulher. Em suas palavras:


Bombarda6 fala tanto em degenerecência, mas, quem se degenera ou quem mais degenera a descendência [...] O feminismo nasceu hontem, criado pelas necessidades de defesa dentro da sociedade capitalista e, é de hoje que as sociedades se vêm degenerando? (MOURA, 1982, p. 22).


Outras temáticas foram discutidas em alguns livros de Maria Lacerda de Moura, tais como sobre a possibilidade de a mulher escolher ter ou não ter filhos. Em Amai...e não vos multipliqueis (1924), debate sobre a liberdade de amar; em Religião do amor e da beleza (1926) e Han Ryner e o amor plural (1933), a crítica contundente à instituição religiosa da igreja, o estado e o fascismo; em Clero e o Estado (1931), em Clero e Fascismo: horda de embrutecedores (1934) e em Fascismo, filho dileto da igreja e do capital (1934), aborda as



6 Miguel Bombarda, o conhecido psiquiatra, no livro A Epilepsia e as pseudo epilepsias, lançou sobre a mulher este anátema: “A mulher é uma degenerada". E considera "ridículo" qualquer esforço "em prol da independencia da mulher” [...] (MOURA, 1982, p. 19).

Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 10, n.00, e021019, jan./dez. 2021. e-ISSN: 2358-4238



questões relacionadas ao movimento integralista e a igreja – naquela momento, a Igreja Católica, incidindo em todas as áreas e instituições brasileiras.

Já no livro Renovação, a autora faz uma conversa com as mulheres, de modo que quem o lê tem a nítida impressão do cuidado da autora em repassar todas as informações a que ela teve acesso, para que todas as outras mulheres também pudessem adquiri-las.


Assertivamente ela avisa às outras mulheres que não se enganem, que foram, sim, educadas para a subserviência [...]. Essa é a educação reservada às mulheres do início do século XX. Elas deveriam desenvolver a aceitação, de preferência sorrindo, da beleza física e almejar somente um bom casamento e serem mães. Deveriam desenvolver dedicação exclusiva à humanidade, pois esta, segundo a sociedade, nos é inata. É o que nos reservam. Mas em nossa sociedade capitalista, com o crescimento do industrialismo, o homem já não consegue ser ele o único provedor. Mesmo assim, ele quer o salário ou o dote da mulher, ficando ela em situação de sujeição (MAURANO, 2020a, p. 103).


Um compartilhar generoso e rico de Maria Lacerda de Moura, que vai desde transcrever a emoção e o prazer que sentia ao absorver todo aquele conhecimento, como a vontade, a necessidade de repartir isso com todas as mulheres que ela sabia não terem acesso às informações.


A razão deste livro é simples: Estudei sozinha. Eu mesma me indicava os autores que devia lêr. Conheci-os, uns através dos outros. E lia tudo: livros de philosofia, logica, pedagogia, moral, etc, etc, – procurando interpretar. Que somma de prazeres intensos! Paginas e paginas eu devorava avidamente. E minh’alma se extasiava ante tantas maravilhas e sentia turbamentos, arroubos indescriptiveis (MOURA, 2015, p. 47).


A autora, em seu livro, deu grande relevância à instrução, principalmente das mulheres, que era o grupo mais oprimido, bem como ao feminismo no Brasil e em outros países; preocupou- se com a exploração das mulheres pelos trabalhos domésticos e com as seduções infringidas a elas. Destacou o preconceito da sociedade em relação àquelas mulheres que por inúmeras razões não constituíam família e eram relegadas à prostituição.


A sociedade vê as avéssas: a impureza está é nela, nas suas leis idiotas feitas em benefício do sexo forte, nos seus preconceitos, nos corações desses homens sem dignidade, covardes, nesses costumes, nessa moral que vae desapparecer. A mulher não é coisa, objeto de posse que se compra, vende, possúe e despreza (MOURA, 2015, p. 191).


A autora questiona essa manutenção da dominação quando argumenta: “esquecem-se de que as leis são impotentes se se não reformam os costumes” (MOURA, 2015, p. 263). Denuncia, ao mesmo tempo que convoca a todos, principalmente as mulheres, a se instruir e se



posicionar diante da realidade que nos é imposta. Para isso, utiliza o livro Renovação (1919), onde escreve sobre as questões destacadas, mas discorre também sobre outras temáticas que podem e devem ser de preocupação e discussão das mulheres como pessoas que fazem parte de uma sociedade e precisam ter uma opinião sobre os mais variados assuntos.


Que ordem é essa que, para ser estabelecida não tentou arrancar a mulher da oppressão, dos preconceitos da sociedade tola e da tyrannia do serviço doméstico obrigatório para o nosso sexo?

Que progresso é esse que quer collocar a mulher sempre na dependencia do homem e lhe não pode restituir o papel de igual e companheira e, sim, lhe distribue o de subalterna? (MOURA, 2015, p. 65).


É uma autora que, com os seus questionamentos, nos ajuda no desafio de compreender a opressão que determinadas populações sofriam e ainda sofrem. A opressão de um grupo específico sobre o outro, seus motivos, suas causas e sua construção histórica.


Análise de Configuração Textual


A utilização do procedimento metodológico da Análise de Configuração Textual se mostrou profícuo para a pesquisa de mestrado.

A professora doutora da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista – Unesp, campus Marília/SP, líder do Grupo de Pesquisa História da Educação e do Ensino de Língua e Literatura no Brasil, Maria do Rosario Longo Mortatti (2000), em sua tese de livre docência, posteriormente publicada em livro, intitulado Os sentidos da alfabetização: São Paulo – 1876/1994, propõe um procedimento metodológico como parte da pesquisa com abordagem histórica, a Análise de Configuração Textual. Segundo os escritos de Mortatti (2000):


[...] o que confere singularidade a um texto é o conjunto de aspectos constitutivos de sua configuração textual, a saber: as opções temático- conteudísticas (o quê?) e estruturais-formais (como?), projetadas por um determinado sujeito (quem?), que se apresenta como autor de um discurso produzido de determinado ponto de vista e lugar social (de onde?) e momento histórico (quando?), movido por certas necessidades (por quê?) e propósitos (para quê?), visando a determinado efeito em determinado tipo de leitor (para quem?) [...] (MORTATTI, 2000, p. 31).


O exercício começou com a localização do documento. Primeiramente, fizemos uma busca na biblioteca da universidade, pelo nome de Maria Lacerda de Moura, e foi quando encontramos o livro de Leite (1984), Maria Lacerda de Moura: a outra face do feminismo.



Na leitura desse livro, constatamos que o livro era referente à sua tese de doutorado, que teve como objeto de pesquisa a obra da escritora que estávamos pesquisando.

O livro de Leite (1984) é uma reunião detalhada das temáticas debatidas por Maria Lacerda de Moura e toda a sua obra escrita. Nessa tese, agora livro, ela apresenta de forma exemplar a amplitude da obra da autora e debate o porquê estudá-la. Nesse momento, percebemos que lermos mais sobre Leite (1984), ou, talvez, entrar em contato com essa pesquisadora seria muito profícuo para a nossa pesquisa.

Através do seu currículo Lattes, tivemos acesso ao e-mail. Soubemos que faleceu em 2013 e que teve a preocupação de doar todos os documentos de sua pesquisa para o Centro de Documentação e Memória – Cedem, da Unesp. Entramos em contato com o Cedem, fomos muito bem assessoradas pela sua equipe, especificamente pela historiadora Renata Cotrim, que, além de permitir o acesso a toda documentação, colocou-nos em contato com a Biblioteca Terra Livre, a qual me doou um exemplar do livro Renovação, em sua segunda edição fac-símile, editada pela Universidade Federal do Ceará7.

O exercício de localizar, recuperar, selecionar, reunir e ordenar o corpus da pesquisa a ser analisado é a base para uma pesquisa de abordagem histórica e a primeira ação para uma Análise de Configuração Textual.

Com o nosso corpus da pesquisa selecionado, começamos a fazer os devidos questionamentos e a respectiva busca de suas respostas para esta composição analítica. Iniciamos relatando as motivações dessa proposta de pesquisa e os caminhos pelos quais se chegou até a autora a ser estudada.

O estudo analítico se dividiu em cinco partes. Primeiro, um estudo detalhado sobre quem foi Maria Lacerda de Moura, sua vida, sua constituição como mulher e seus escritos; depois, o contexto histórico vivido pela autora, focando nos acontecimentos históricos ocorridos no Brasil, desde o ano do seu nascimento (1887) até a data da publicação do livro estudado (1919). Ela fez Escola Normal, foi educadora e no livro fala sobre educação. Dedicamos uma subseção para a história da educação no Brasil e para o anarquismo, pela aproximação com suas ideias e com o próprio movimento anarquista.

Na segunda parte, discorremos sobre as categorias de análise que utilizamos (gênero, patriarcado e educação), conceituamos, e, a partir dos autores estudados, fizemos as relações possíveis com os termos utilizados no livro (condição feminina e subjugação da mulher).



7 Conforme o relato detalhado do como se deu esse exercício de localizar a sua obra em Maurano (2020a, p. 19- 21).



Na terceira parte, descrevemos o livro Renovação, edição de 2015, desde a quantidade de páginas, capa, a motivação dos organizadores em fazer uma reedição do livro, para então chegarmos nos escritos na autora.

Maria Lacerda de Moura dedica o livro para todas as mulheres, relata o movimento feminista historicamente na América e na Europa, debate sobre o sufrágio feminino, política, religião, solidariedade, infância, maternidade, questões sociais e educação. Assuntos que todas as mulheres, segundo ela, devem ler e sobre os quais devem ter sua própria opinião.

A quarta parte foi o momento de articular os escritos da autora com as teorias políticas feministas, debatendo sobre os avanços e retrocessos em relação à condição feminina e às possibilidades de sua superação.

Os documentos-fontes “só falam quando se sabe interrogá-los” (MORTATTI, 2000,

p.31 apud BLOCH, 1987, p. 60). Quem era Maria Lacerda de Moura? Qual o contexto histórico em que ela vivia? Quais eram suas escolhas de temáticas e conteúdo? Por quê, que discurso era esse, de que lugar social? Quais suas motivações para a escrita? Para quem ela escrevia? Essas foram algumas das questões que compuseram o exercício de uma Análise de Configuração Textual.


Algumas Considerações


As nossas considerações nos remetem às que foram realizadas à época do mestrado. Era o início do governo de Jair Messias Bolsonaro e pudemos reafirmar questões debatidas na pesquisa, referentes às discussões de gênero, patriarcado e educação. Conforme desenvolvíamos o debate de finalização da pesquisa, com fatos acontecidos no Brasil, os escritos de Maria Lacerda de Moura ecoavam em nossas mentes: “esquecem-se de que as leis são impotentes se não reformam os costumes” (MOURA, 2015, p. 263).


Numa sociedade organizada de modo a deixar a mulher sujeita à tyrannia dos exaustivos trabalhos domésticos, ocupada todo o dia nos arranjos da casa e dos filhos, sem tempo para ler o jornal, para conhecer os livros, como acontece ás burguesas do interior do Brasil, numa sociedade onde á metade do sexo fraco (porém forte para o trabalho) são entregues os serviços domésticos a que não dão valor e ocupam vidas inteiras, nessa sociedade ninguém tem o direito de encher os seus códigos com as belas e retumbantes palavras: - Liberdade, Igualdade, Fraternidade! (MOURA, 2015, p. 65).


A denúncia sobre as desigualdades de gênero históricas feita pela autora emerge no título que escolhemos para este artigo: “Calar hoje é ser cúmplice. Pratiquemos crime



inominável da coragem, no meio da covardia e do cinismo da hora presente” (MOURA, 1934, p. 112).

Ao final da pesquisa, propusemos o debate sobre o quanto as estruturas de poder, ou melhor dizendo, as estruturas patriarcais e de gênero continuam recaindo sobre a condição da mulher. Desde sua criação, na antiga Roma, até os dias atuais, violência, negação de direitos, leis discriminatórias.


Isso nos alerta para a força das questões ideológicas que normatizam e naturalizam desigualdades e para o quanto são elas internalizadas pelas mulheres, provocando culpa, pouco entendimento de seus direitos e até mesmo falta de questionamento sobre porque estes mesmos direitos lhes são negados (MAURANO, 2020a, p. 199).


Todavia, muitas mulheres e alguns homens, tanto na vida política, de militância, quanto na academia, por meio dos estudos científicos sobre relações de gênero e a dominação patriarcal, têm questionado, sim, a negação desses direitos. Mas, falta ainda compreensão de muitos sobre as amarras ideológicas impostas pela sociedade patriarcal e, não podemos deixar de dizer, da sociedade escravocrata brasileira.

A autora estudada já denunciava a naturalização dessas imposições para a mulher em seus escritos em 1919:


Os preconceitos, as tradições, a educação transmitida pelas gerações sucessivas – cegam-nos. O homem não é um ser emancipado e ao seu egoismo não convem a emancipação feminina. É indispensável que a mulher trabalhe pela mulher (MOURA, 2015, p. 52).


O exercício de analisar os escritos dessa autora, de olhar para o seu momento histórico vivido; acenar para o momento histórico em que estamos vivendo; ler outras pensadoras, que viveram em outros espaços na história; rever questionamentos, denúncias e as críticas que se mantêm com vistas à superação de uma dominação de gênero foi proporcionado pela escolha, definitivamente acertada, do procedimento metodológico da Análise de Configuração Textual.


[...] superação e transformação das amarras sociais, pelo desvencilhamento dos resíduos do passado a partir de sua compreensão. Essa é a grande contribuição trazida pela revisitação da obra de Lacerda. Ela permite captar as diferenças e semelhanças, a continuidade e a descontinuidade entre o passado e o presente (as rupturas entre o hegemônico e o contra- hegemônico), “permitindo a apreensão de uma unidade prenhe de um sentido particular” (p. 27). É possível reconhecer e interrogar a obra Renovação, “saturada de agoras” (MORTATTI, 2000, p. 31). Pode-se “produzir uma leitura possível e autorizada, a partir de seus próprios objetivos, necessidades e interesses” (MORTATTI, 2000, p. 31) (MAURANO, 2020a, p. 90).



Uma superação para além do direito ao voto, o direito ao trabalho remunerado, do acesso a saúde, educação e moradia. Está se falando de dignidade humana, do direito de pensar, de ser livre e respeitada para um desenvolvimento em toda sua plenitude. Segundo Maurano (2020b, p. 5):


[o]s apontamentos históricos sobre a condição da mulher na humanidade, as lutas das mulheres por direitos sociais, culturais e intelectuais, bem como contextualizar a história de vida de Maria Lacerda de Moura, sua produção literária e análise de seu livro, tornam-se contribuições para o desvelamento e tentativa de superação dessa sociedade patriarcal e patrimonialista que oprime a todos, contribuindo, assim, de forma efetiva, para a construção de uma sociedade mais justa para homens e mulheres.


O desenvolvimento de uma consciência crítica, que não aceita simplesmente as coisas como elas são. Que questiona os posicionamentos políticos injustos, sejam eles advindos de homens ou de mulheres.


Isso nos transporta, infelizmente, para os dias de hoje, em 2019, quase cem anos depois, quando um presidente considerado de extrema direita ganha as eleições brasileiras, empenha-se em liberar a posse de armas no Brasil e acredita que a ditadura de 1964 foi, na verdade, uma revolução, homenageando um torturador, colocando-se ainda contrário à reparação de uma dívida histórica para com a população negra [...] Esse mesmo presidente, convoca uma pastora evangélica para cuidar da pasta do Ministério dos Direitos Humanos, Igualdade Racial e Mulheres, cuidando das questões das mulheres, dos negros e dos índios. Esta senhora vem dizendo que: o lugar da mulher é em casa; que a igreja evangélica perdeu espaço para ciência; o grande problema foi ter deixado a teoria da evolução entrar nas escolas; que os índios devem ser evangelizados; que o aborto é uma aberração e inclusive propõe uma ʻbolsa estuproʼ para as vítimas de violência sexual; entre outras barbaridades (MAURANO, 2020a, p. 202- 203).


Em março de 2020, o Brasil e o mundo começam a enfrentar uma pandemia do Covid

19. Um vírus com alta transmissão pelo ar, causando doença respiratória, e, nos casos mais graves, levando à morte. Os índices de maio de 2021 são alarmantes:


O Brasil bateu a marca das 430 mil vidas perdidas para a pandemia do novo coronavírus. Nas últimas 24 horas foram registradas 2.383 novas mortes. Com isso, o total de vítimas que não resistiram à Covid-19 chegou a 430.417 (VALENTE, 2021, p. 1).


É de responsabilidade de um governante, em qualquer momento, mais ainda em um momento como este que estamos vivendo, que haja uma política em âmbito federal para diminuir a quantidade de contágio e promover uma maior rapidez na vacinação de toda a sua população. Mas o que vemos é:


Um dia após o registro de novo recorde diário de mortes pela covid-19 no país, o presidente Jair Bolsonaro deu uma série de declarações dando a entender que o choro pelas vítimas é "frescura" e "mimimi" e classificando como "idiotas" aqueles que cobram na imprensa e nas redes sociais a compra de vacinas pelo governo. (SANTOS, 2021, p.1).


A população se contaminando, passando fome; voltamos ao mapa da miséria mundial, com aumento significativo das violências contra as mulheres, o extermínio da população negra. Algo que jamais pensávamos estar vivendo, acaba acontecendo. As pessoas que podem ficar trabalhando em casa, assim o estão fazendo, ou deveriam. E assim, inúmeros problemas sociais que afetam historicamente as mulheres aparecem em maior número e força. Com o aumento da convivência familiar, as violências contra as mulheres aumentaram.


Nesse cenário de fragilidade, materializam-se os efeitos da COVID-19, por exemplo, quando optamos pelo isolamento social em casa. Opção que vem revelando desafios, sobretudo para as mulheres e que tem pressionado as políticas públicas envolvidas no enfrentamento à violência contra as mulheres. Além da violência que aumenta com a quarentena, o fato das pessoas estarem em casa escancara a desigual economia do cuidado, em que a responsabilidade e sobrecarga do trabalho doméstico e dos cuidados com doentes, criança e idosos são das mulheres (BEVILACQUA, 2020, p. 1).


Além de outras questões, que afetam diretamente as mulheres, relacionadas especificamente às questões de gênero, algo que já era denunciado por Maria Lacerda de Moura em 1919, e continua em pauta no debate sobre as desigualdades de gênero:


Em geral as mulheres são sobrecarregadas com os afazeres da reprodução (trabalho não remunerado), enquanto os homens possuem maior disponibilidade para as atividades da produção (trabalho remunerado). A questão que se coloca, em termos de políticas públicas, é como liberar as mulheres para o exercício de seu direito ao emprego remunerado, como comprometer os homens com a economia do cuidado, e como o Estado pode implementar políticas que favoreçam a conciliação entre trabalho e família (ALVES, 2016, p. 634).


Há dados sobre a diminuição considerável das publicações de pesquisas feitas por mulheres, conforme pesquisa recém-divulgada pela Agência USP de Gestão da Informação (2021, s/p):


Com os bloqueios que fecham escolas em todo o mundo e forçam os acadêmicos a cuidar das crianças em casa, teme-se que as acadêmicas tenham suportado uma carga maior de assistência à infância e trabalho doméstico do que seus colegas do sexo masculino, o que suscitou perguntas sobre como as universidades e os órgãos de financiamento deveriam responder.



Porque a carga do trabalho doméstico recai sobre as mulheres, talvez a nossa autora possa responder:


Numa sociedade organizada de modo a deixar a mulher sujeita á tyrannia dos exaustivos trabalhos domésticos, ocupada todo o dia nos arranjos da casa e dos filhos, sem tempo para ler o jornal, para conhecer os livros, como acontece ás burguesas do interior do Brasil, numa sociedade onde á metade do sexo fraco (porém forte para o trabalho) são entregues os serviços domésticos a que não dão valor e ocupam vidas inteiras, nessa sociedade ninguém tem o direito de encher os seus códigos com as belas e retumbantes palavras: - Liberdade, Igualdade, Fraternidade! (MOURA, 2015, p. 65).


Ou talvez precisemos de dados mais próximos aos dias atuais:


[d]ados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que as mulheres gastam quase o dobro de tempo em afazeres domésticos que os homens, predominância que não muda mesmo quando são comparados perfis de gênero em ocupações similares. Tal cenário não é singular ao país e, a despeito de todas as transformações recentes no mundo do trabalho, as desigualdades de gênero continuam a ser uma realidade global. Apesar disso, muitos sistemas de avaliação científica seguem ignorando essas desigualdades entre as condições de homens e mulheres. Para dar somente um exemplo, os concursos para docentes em universidades públicas no Brasil não adotam critérios formais para contrabalancear as diferenças de currículo dos concorrentes de acordo com aspectos como a licença maternidade. A inserção e a progressão de carreira das mulheres na academia requerem a superação de uma série de barreiras, dentre as quais as extenuantes jornadas de trabalho dentro e fora de seus domicílios compõem elemento central (CANDIDO; CAMPOS, 2021, p. 1).


As reflexões finais retomam as questões do início deste artigo. As injustiças infringidas de um grupo social perante o outro. A dominação patriarcal e as desigualdades de gênero, que perpassam gerações. “Calar hoje é ser cúmplice. Pratiquemos crime inominável da coragem, no meio da covardia e do cinismo da hora presente” (MOURA, 1934, p. 112).


REFERÊNCIAS


AGÊNCIA USP DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO. Produção científica feminina cai devido à pandemia. Disponível em: https://www.aguia.usp.br/noticias/49310/. Acesso em: 25 maio 2021.


ALVES, J. E. D. Desafios da equidade de gênero no século XXI. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 24, n. 2, p. 292, maio/ago. 2016.


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Como referenciar este artigo


MAURANO, T. R.; PINTO, G. U.; PADILHA, A. M. L. Calar hoje é ser cúmplice: Maria Lacerda de Moura. Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 10, n. 00, e021019, jan./dez. 2021. e- ISSN: 2358-4238. DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v10i00.15870


Submetido em: 02/09/2021 Revisões requeridas: 08/10/2021 Aprovado em: 05/11/2021 Publicado em: 29/12/2021



TO SHUT UP TODAY IS TO BE AN ACCOMPLICE: MARIA LACERDA DE MOURA1


CALAR HOJE É SER CÚMPLICE: MARIA LACERDA DE MOURA CALLAR HOY ES SER CÓMPLICE: MARIA LACERDA DE MOURA


Tatiana Ranzani MAURANO2 Glaucia Uliana PINTO3

Anna Maria Lunardi PADILHA4


ABSTRACT: The aim of this article is to present some reflections that permeated a master's degree research in education, and which included the effort to carry out a Textual Configuration Analysis (MORTATTI, 2000) of Maria Lacerda de Moura's second book (1887-1945), Renovação (Renovation) (1919). We present the methodological instrument used as a procedure to historicize the author and her contributions to think about gender issues and conclude that patriarchal domination and gender inequalities pervade generations, encouraging us to confront them.


KEYWORDS: Maria Lacerda de Moura. Renovação. Analysis of textual configuration.


RESUMO: O objetivo deste artigo é dar a conhecer algumas reflexões que permearam uma pesquisa de mestrado em educação e que compreendeu o esforço de fazer uma Análise de Configuração Textual (MORTATTI, 2000) do segundo livro de Maria Lacerda de Moura (1887-1945), Renovação (1919). Apresentamos o instrumento metodológico utilizado como procedimento para historicizar a autora e suas contribuições para pensar questões de gênero e concluímos que a dominação patriarcal e as desigualdades de gênero perpassam gerações, incitando-nos a seu enfrentamento.


PALAVRAS-CHAVE: Maria Lacerda de Moura. Renovação. Análise de configuração textual.


RESUMEN: El objetivo de este artículo es presentar algunas reflexiones que impregnaron una investigación de maestría en educación y que incluyeron el esfuerzo por realizar un Análisis de la Configuración Textual (MORTATTI, 2000) del segundo libro de Maria Lacerda de Moura (1887-1945), Renovação (1919). Presentamos el instrumento metodológico



1 “To be shut up today is to be an accomplice. Let us practice the unspeakable crime of courage, amid the cowardice and cynicism of the present hour” (MOURA, 1934, p. 112).

2 São Paulo State University (UNESP), Marília – SP – Brazil. Doctoral student at the Postgraduate Program in Education. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4649-8882. E-mail: tatiana.ranzani@unesp.br

3 Instituto Ayrton Senna (IAS), São Paulo – SP – Brazil. Consultant. PhD in Education from Unimep. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5167-9664. E-mail: glauciauliana@gmail.com

4 Heloísa Marinho Research Institute (IPHEM), Rio de Janeiro – RJ – Brazil. Researcher. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6624-660X. E-mail: annamlpadilha@gmail.com



utilizado como procedimiento para historizar a la autora y sus aportes para reflexionar sobre cuestiones de género y concluir que la dominación patriarcal y las desigualdades de género impregnan generaciones, animándonos a enfrentarlas.


PALABRAS CLAVE: Maria Lacerda de Moura. Renovação. Análisis de configuración textual.


Introduction


The purpose of this article is to present theoretical and methodological contributions to discuss gender issues based on one of the works of Maria Lacerda de Moura (1887-1945), an author considered here as a historical personality who debates the feminist movement in Brazil. Textual Configuration Analysis (MORTATTI, 2000) stands out as a promising methodological procedure for this study. This theme and methodological path arise as a result of a master's research in education that focuses both on the methodological perspective in question, as in the writings of the book Renovação (Renovation) (MOURA, 1919).

The development of documentary and bibliographic research was possible by having access to the Collection of Miriam Lifchitz Moreira Leite5 (1984), at the Unesp Documentation and Memory Center (Cedem), in São Paulo. In this collection, there are all the documents that Leite (1984) used for her doctoral research, published in the book A outra face do feminismo: Maria Lacerda de Moura (The other face of feminism: Maria Lacerda de Moura), in which the researcher gathered much of the work of Maria Lacerda de Moura, providing us with access to this knowledge. It is also important to highlight the relevance of a Documentation and Memory Center for documentary and historical research.

Maria Lacerda de Moura's literary production is vast; there are 14 books, several written in magazines, lectures and conferences, in addition to the edition of a magazine, which circulated for a year. The time of a master's degree would not allow us to study all of her writings, in addition to the fact that other researchers have already pored over some of them. However, one issue in particular caught our attention, and that has not been sufficiently addressed by us until then. The book Renovação of 1919 and its contribution to the discussion of gender, patriarchy and education.



5 “[...] Degree in Social Sciences from the University of São Paulo (1947), degree in Economic History from the University of São Paulo (1983) and post-doctorate from the Eastman Foundation (1990). [She was] advisor in historical photography at the Laboratory of Image and Sound in Anthropology and Professor Doctor - Research in Image at the Laboratory of Image and Sound in Anthropology”. Available: http://lattes.cnpq.br/5181395079788133. Access: 08 Aug. 2021.

Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 10, n.00, e021019, Jan./Dec. 2021. e-ISSN: 2358-4238



Countless readings and re-readings of the text Renovação made possible advances in understanding the author's life story and what she has to tell us, the historical context in which she was inserted, in addition to the history of education and anarchism in Brazil. Therefore, a patchwork of quotes from her writings permeated the entire work, in an attempt to understand the author and her writings, looking at yesterday and today, apprehending in the comings and goings how much domination is historical, surprising us with how much it is in the structure of an entire social system (MAURANO, 2020a, p. 200-201, our translation).


Maria Lacerda de Moura makes a historical debate of the feminist movement in Brazil and in other parts of the world, questions the subjugation of women and highlights the importance of women being educated and freeing themselves from the oppression imposed by patriarchal society.

Both to study the book Renovação (1919) and to elaborate the intended contributions in this text, that is, to highlight the relevance of the method to historicize and rescue the ideas of a writer, we used the Textual Configuration Analysis (MORTATTI, 2000), as a methodological procedure that allows questioning and making the due historical depth of and about the author and her social context, seeking to understand her motivations.

With the documental text gathered and based on this methodological tool, it was possible to problematize the writings of Maria Lacerda de Moura, in an attempt to dialogue with her work, bringing us closer to the theme of female subjugation evidenced by her.

In a historical approach, it is central to position the author's discourse and perceive her choices when approaching the contents, the way she presents them, how she positions herself in the face of the facts presented, her point of view, where it is within the historical context lived and for whom she writes her texts, what are her needs. Aspects that Textual Configuration Analysis works closely.

We highlight the methodological instrument of Textual Configuration Analysis (MORTATTI, 2000), pointing out that it contributed to a structuring way both for the realization of the master's research (MAURANO, 2020a), and for the writing of this article. However, before bringing it as a perspective of historical understanding of a writer who still tells us about the present, it is necessary to talk about her, which we will do next.


The writings of Maria Lacerda de Moura


About the author, the researchers who published the 2nd edition of the book

Renovação report:



Born on 16 May 1887, in Manhuaçu/MG, on the Monte Alverne farm, Maria Lacerda de Moura is the daughter of Modesto de Araújo Lacerda and Amélia Araújo Lacerda, sympathizers of anticlerical ideas and her first influences of contestation, Throughout the 1920s and 1930s, Maria Lacerda had a prominent voice in social struggles when, along with other libertarian activists, through the pages of newspapers, she spread her word and denounced capitalist exploitation, contradicting the foundations of bourgeois morality, male oppression, the institution of marriage, affirming, in addition to the right to the body and to pleasure, the horizon of the struggle for the social emancipation of men and women (GONÇALVES; BRUNO; QUEIROZ apud MOURA, 2015, p. 6, our translation).


Still in Barbacena, in 1912 she begins to write chronicles for local newspapers, but it is in 1918 that she publishes Em torno da Educação (Around Education), where she writes referring to this theme:


in the book Em torno da Educação, she analyzes educational issues, especially illiteracy, since at the time of publication of this work, about 80% of Brazilians were illiterate; and shows how education was fundamental for female emancipation (MARTINS; COSTA, 2016, p. 219, our translation).


From this first book, she began to approach anarchist studies, in contact with José Oiticica and Galeão Coitinho. Still on education, she wrote, in 1925, Lições de Pedagogia (Lessons of Pedagogy) and, in 1934, Ferrer, o clero romano e a educação laica (Ferrer, the Roman clergy and secular education).

In 1919, she wrote the book Renovação, a landmark in her bibliography, debating issues related to subjugation and the female condition. In 1924, she wrote her best-known book, which was also translated into Spanish: A mulher é uma degenerada (The woman is a degenerate), when she does the exercise of demystifying prejudiced medical theories in relation to the degeneration of women. In her words:


Bombarda6 talks so much about degeneration, but who degenerates themselves or who else degenerates offspring [...] Feminism was born yesterday, created by the needs of defense within capitalist society and, is it of today that societies have been degenerating? (MOURA, 1982, p. 22, our translation).


Other themes were discussed in some books by Maria Lacerda de Moura, such as the possibility of women choosing to have children or not. In Amai...e não vos multipliqueis (Love ... and do not multiply) (1924), she discusses the freedom to love; in Religião do amor



6 Miguel Bombarda, the well-known psychiatrist, in his book A Epilepsia e as pseudo-epilepsies (The Epilepsy and pseudo-epilepsies), launched this anathema on women: “Women are degenerate”. [...] (MOURA, 1982, p. 19, our translation).

Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 10, n.00, e021019, Jan./Dec. 2021. e-ISSN: 2358-4238



e da beleza (Religion of Love and Beauty) (1926) and Han Ryner e o amor plural (Han Ryner and Plural Love) (1933), the scathing critique of the religious institution of church, state and fascism; in Clero e o Estado (Clergy and State) (1931), in Clero e Fascismo: horda de embrutecedores (Clergy and Fascism: horde of brutalizers) (1934) and in Fascismo, filho dileto da igreja e do capital (Fascism, beloved son of the church and capital) (1934), addresses issues related to the integralist movement and the church – at that time, the Catholic Church, affecting all Brazilian areas and institutions.

In the book Renovação, the author has a conversation with the women, so that those who read it have a clear impression of the author's care in passing on all the information to which she had access, so that all other women could also acquire it.


Assertively she warns the other women not to be deceived, that they were, yes, educated for subservience [...]. This is the education reserved for women in the early 20th century. They should develop acceptance, preferably smiling, of physical beauty and only aim for a good marriage and motherhood. They should develop an exclusive dedication to humanity, which, according to society, is innate to us. That's what they have in store for us. But in our capitalist society, with the growth of industrialism, man can no longer be the sole provider. Even so, he wants the woman's salary or dowry, leaving her in a situation of subjection. (MAURANO, 2020a, p. 103, our translation).


A generous and rich sharing of Maria Lacerda de Moura, which goes from transcribing the emotion and pleasure she felt when absorbing all that knowledge, as well as the desire, the need to share it with all the women she knew did not have access to information.


The reason for this book is simple: I studied alone. I myself indicated the authors I should read. I got to know them, one through the other. And I read everything: books on philosophy, logic, pedagogy, morals, etc., etc. – trying to interpret. What a sum of intense pleasures! Pages and pages I devoured avidly. And my soul was ecstatic before so many wonders and felt turmoil, indescribable ecstasy (MOURA, 2015, p. 47, our translation).


The author, in her book, gave great importance to education, especially of women, who were the most oppressed group, as well as to feminism in Brazil and in other countries; she was concerned about the exploitation of women for domestic work and the seductions inflicted on them. She highlighted society's prejudice against those women who, for numerous reasons, did not have a family and were relegated to prostitution.


Society sees it the other way around: the impurity is in it, in its idiotic laws made for the benefit of the stronger sex, in its prejudices, in the hearts of these men without dignity, cowards, in these customs, in this morality that will disappear. The woman is not a thing, an object of possession that is



bought, sold, possessed and despised (MOURA, 2015, p. 191, our translation).


The author questions this maintenance of domination when she argues: “they forget that laws are impotent if customs are not reformed” (MOURA, 2015, p. 263, our translation). She denounces, at the same time she calls on everyone, especially women, to educate themselves and take a stand in the face of the reality imposed on us. For this, she uses the book Renovação (1919), where she writes about the highlighted issues, but also discusses other themes that can and should be of concern and discussion of women as people who are part of a society and need to have an opinion on the more varied subjects.


What order is this that, in order to be established, has not tried to pull women out of the oppression, the prejudices of foolish society and the tyranny of compulsory domestic service for our sex?

What kind of progress is this that wants to make women always dependent on men and cannot restore to them the role of equal and companion, but rather distributes to them the role of subaltern? (MOURA, 2015, p. 65, our translation).


She is an author who, with her questions, helps us in the challenge of understanding the oppression that certain populations suffered and still suffer. The oppression of a specific group over another, its motives, its causes and its historical construction.


Textual Configuration Analysis


The use of the methodological procedure of Textual Configuration Analysis proved to be fruitful for the master's research.

Professor at the College of Philosophy and Sciences of the São Paulo State Univeristy

– Unesp, campus Marília/SP, leader of the Research Group on the History of Education and Language and Literature Teaching in Brazil, Maria do Rosario Longo Mortatti (2000), in her Free teaching thesis, later published in a book, entitled Os sentidos da alfabetização: São Paulo – 1876/1994 (The senses of literacy: São Paulo – 1876/1994), proposes a methodological procedure as part of the research with a historical approach, the Analysis of Textual Configuration. According to the writings of Mortatti (2000):


[...] what gives uniqueness to a text is the set of constitutive aspects of its textual configuration, namely: the thematic-content (what?) and structural- formal (how?) options, designed by a given subject (who?), who presents himself as the author of a discourse produced from a certain point of view and social place (from where?) and historical moment (when?), moved by



certain needs (why?) and purposes (for what?), aiming at a certain effect on a certain type of reader (for whom?) [...] (MORTATTI, 2000, p. 31, our translation).


The exercise started with document localization. First, we searched the university library, by the name of Maria Lacerda de Moura, and that's when we found Leite's book (1984), Maria Lacerda de Moura: a outra face do feminismo (Maria Lacerda de Moura: the other face of feminism). In reading this book, we found that the book was referring to her doctoral thesis, which had as research object the work of the writer we were researching.

Leite's book (1984) is a detailed collection of the themes discussed by Maria Lacerda de Moura and all her written work. In this thesis, now a book, she presents in an exemplary way the breadth of the author's work and discusses why to study it. At that moment, we realized that reading more about Leite (1984), or, perhaps, getting in touch with this researcher would be very useful for our research.

Through your Lattes curriculum, we had access to her email. We learned that she died in 2013 and that he was concerned to donate all the documents of her research to the Documentation and Memory Center – Cedem, at Unesp. We got in touch with Cedem, we were very well advised by its team, specifically by the historian Renata Cotrim, who, in addition to allowing access to all the documentation, put us in contact with the Terra Livre Library, which donated me a copy of the book Renovação, in its second facsimile edition, edited by the Federal University of Ceará.

The exercise of locating, retrieving, selecting, gathering and ordering the research corpus to be analyzed is the basis for a research with a historical approach and the first action for a Textual Configuration Analysis.

With our research corpus selected, we started to ask the appropriate questions and the respective search for their answers for this analytical composition. We begin by reporting the motivations of this research proposal and the ways in which the author to be studied was reached.

The analytical study was divided into five parts. First, a detailed study of who Maria Lacerda de Moura was, her life, her constitution as a woman and her writings; then, the historical context lived by the author, focusing on the historical events that took place in Brazil, from the year of her birth (1887) to the date of publication of the book studied (1919). She attended Normal School, was an educator and in the book she talks about education. We dedicate a subsection to the history of education in Brazil and to anarchism, by approaching her ideas and the anarchist movement itself.



In the second part, we discuss the categories of analysis we use (gender, patriarchy and education), conceptualize and, based on the authors studied, make possible connections with the terms used in the book (feminine condition and subjugation of women).

In the third part, we describe the book Renovação, edition of 2015, from the number of pages, cover, the motivation of the organizers to make a reprint of the book, so that we can get to the author's writings.

Maria Lacerda de Moura dedicates the book to all women, reports the feminist movement historically in America and Europe, debates on women's suffrage, politics, religion, solidarity, childhood, motherhood, social issues and education. Matters that all women, according to her, should read and on which they should have their own opinion.

The fourth part was the moment to articulate the author's writings with feminist political theories, debating on the advances and setbacks in relation to the female condition and the possibilities of overcoming it.

Source documents “only speak when you know how to question them” (MORTATTI, 2000, p.31 apud BLOCH, 1987, p. 60, our translation). Who was Maria Lacerda de Moura? What is the historical context in which she lived? What were your choices of themes and content? Why, what discourse was this, from what social place? What are her motivations for writing? Who did she write to? These were some of the questions that made up the exercise of a Textual Configuration Analysis.


Some considerations


Our considerations refer us to those that were carried out at the time of the master's degree. It was the beginning of the government of Jair Messias Bolsonaro and we were able to reaffirm issues debated in the research, referring to discussions of gender, patriarchy and education. As we developed the debate to conclude the research, with facts that happened in Brazil, the writings of Maria Lacerda de Moura echoed in our minds: “they forget that laws are impotent if they do not reform customs” (MOURA, 2015, p. 263, our translation).


In a society organized in such a way as to leave the woman subject to the tyranny of exhausting domestic work, busy all day with the house and children's arrangements, with no time to read the newspaper, to know the books, as happens to the bourgeoisie of the interior of Brazil, in a society where half of the weaker sex (but strong for work) are given domestic services that they do not value and occupy their entire lives, in this society no one has the right to fill their codes with the beautiful and resounding



words: - Freedom, Equality, Fraternity! (MOURA, 2015, p. 65, our translation).


The author's denunciation of historical gender inequalities emerges in the title we chose for this article: “To be silent today is to be an accomplice. Let us practice the unspeakable crime of courage, in the midst of the cowardice and cynicism of the present time” (MOURA, 1934, p. 112, our translation).

At the end of the research, we proposed a debate on how much the structures of power, or rather, the patriarchal and gender structures continue to fall on the condition of women. From its creation, in ancient Rome, to the present day, violence, denial of rights, discriminatory laws.


This alerts us to the strength of the ideological issues that normalize and naturalize inequalities and to how much they are internalized by women, causing guilt, little understanding of their rights and even a lack of questioning about why these same rights are denied to them (MAURANO, 2020a, p. 199, our translation).


However, many women and some men, both in political life, in militancy, and in academia, through scientific studies on gender relations and patriarchal domination, have indeed questioned the denial of these rights. But there is still a lack of understanding by many about the ideological constraints imposed by the patriarchal society and, we cannot fail to say, the Brazilian slaver society.

The author studied already denounced the naturalization of these impositions for women in her writings in 1919:


Prejudices, traditions, education handed down by successive generations – blind us. Man is not an emancipated being and his egoism does not suit female emancipation. It is essential that women work for women (MOURA, 2015, p. 52, our translation).


The exercise of analyzing this author's writings, looking at her lived historical moment; nod to the historic moment in which we are living; read other thinkers, who lived in other spaces in history; reviewing questions, complaints and criticisms that are maintained with a view to overcoming a gender domination was provided by the definitively correct choice of the methodological procedure of the Textual Configuration Analysis..


[...] overcoming and transforming social ties, by unraveling the residues of the past based on their understanding. This is the great contribution made by revisiting Lacerda's work. It allows capturing the differences and similarities, the continuity and discontinuity between the past and the present (the ruptures between the hegemonic and the counter-hegemonic), “allowing the



apprehension of a pregnant unit with a particular meaning” (p. 27). It is possible to recognize and question the work Renovação, “saturated with now” (MORTATTI, 2000, p. 31). It is possible to “produce a possible and authorized reading, based on one's own goals, needs and interests” (MORTATTI, 2000, p. 31) (MAURANO, 2020a, p. 90, our translation).


An overcoming beyond the right to vote, the right to paid work, access to health, education and housing. We are talking about human dignity, the right to think, to be free and respected for development in all its fullness. According to Maurano (2020b, p. 5, our translation):


historical notes on the condition of women in humanity, women's struggles for social, cultural and intellectual rights, as well as contextualizing Maria Lacerda de Moura's life story, her literary production and analysis of her book, become contributions to the unveiling and attempt to overcome this patriarchal and patrimonial society that oppresses everyone, thus effectively contributing to the construction of a fairer society for men and women.


The development of a critical conscience, which does not simply accept things as they are. That questions unfair political positions, whether they come from men or women.


This takes us, unfortunately, to the present day, in 2019, almost a hundred years later, when a president considered to be of the extreme right wins the Brazilian elections, strives to liberate the possession of weapons in Brazil and believes that the 1964 dictatorship it was, in fact, a revolution, honoring a torturer, even opposing the reparation of a historic debt to the black population [...] This same president summons an evangelical pastor to take care of the portfolio of the Ministry of Human Rights, Racial Equality and Women, taking care of the issues of women, blacks and indigenous people. This lady has been saying that: a woman's place is at home; that the evangelical church lost ground to science; the big problem was letting the theory of evolution into schools; that the indians must be evangelized; that abortion is an aberration and even proposes a 'rape financial aid' for victims of sexual violence; among other barbarities (MAURANO, 2020a, p. 202- 203, our translation).


In March 2020, Brazil and the world begin to face a Covid 19 pandemic. A virus with high airborne transmission, causing respiratory disease, and, in the most serious cases, leading to death. The rates for May 2021 are alarming:


Brazil hit the mark of 430,000 lives lost to the new coronavirus pandemic. In the last 24 hours, 2,383 new deaths were recorded. With this, the total number of victims who could not resist Covid-19 reached 430,417. (VALENTE, 2021, p. 1, our translation).


It is the responsibility of a government official, at any time, even more so in a moment like this we are living, that there is a policy at the federal level to reduce the amount of



contagion and promote greater speed in the vaccination of its entire population. But what we see is:


One day after the record of a new daily record of deaths by covid-19 in the country, President Jair Bolsonaro gave a series of statements implying that crying for victims is "softness" and "mimimi" and classifying as "idiots" those that charge in the press and on social networks the purchase of vaccines by the government (SANTOS, 2021, p.1, our translation).


The population contaminating itself, starving; we return to the map of world misery, with a significant increase in violence against women, the extermination of the black population. Something we never thought we were experiencing, ends up happening. People who can work from home are doing so, or should be. And so, countless social problems that historically affect women appear in greater numbers and force. With the increase with the time living with the family, violence against women increased.


In this fragile scenario, the effects of COVID-19 materialize, for example, when we opt for social isolation at home. An option that has revealed challenges, especially for women, and that has put pressure on public policies involved in fighting violence against women. In addition to the violence that increases with quarantine, the fact that people are at home opens up the unequal economy of care, in which women are responsible and overload of housework and care for the sick, children and the elderly. (BEVILACQUA, 2020, p. 1, our translation).


In addition to other issues that directly affect women, specifically related to gender issues, something that was already denounced by Maria Lacerda de Moura in 1919, and remains on the agenda in the debate on gender inequalities:


In general, women are overloaded with the tasks of reproduction (unpaid work), while men are more available for production activities (paid work). The question that arises, in terms of public policies, is how to free women to exercise their right to paid employment, how to commit men to the care economy, and how the State can implement policies that favor the conciliation between work and family (ALVES, 2016, p. 634, our translation).


There are data on the considerable decrease in research publications by women, according to a survey recently released by the USP Agency for Information Management (2021, n/p, our translation):


With lockdowns closing schools across the world and forcing academics to care for children at home, it is feared that female academics have borne a greater burden in childcare and housework than their male counterparts, which has given rise to questions about how universities and funding bodies should respond.



Because the burden of housework falls on women, perhaps our author can answer:


In a society organized in such a way as to leave the woman subject to the tyranny of exhausting domestic work, busy all day with the house and children's arrangements, with no time to read the newspaper, to know the books, as happens to the bourgeoisie of the interior of Brazil, in a society where half of the weaker sex (but strong for work) are given domestic services that they do not value and occupy their entire lives, in this society no one has the right to fill their codes with the beautiful and resounding words: - Freedom, Equality, Fraternity! (MOURA, 2015, p. 65, our translation).


Or maybe we need data closer to the present day:


[data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) show that women spend almost twice as much time on household chores as men, a predominance that does not change even when gender profiles in similar occupations are compared. This scenario is not unique to the country and, despite all the recent changes in the world of work, gender inequalities continue to be a global reality. Despite this, many scientific evaluation systems continue to ignore these inequalities between the conditions of men and women. To give just one example, competitions for professors at public universities in Brazil do not adopt formal criteria to counterbalance differences in the curriculum of competitors according to aspects such as maternity leave. The insertion and career progression of women in the academy requires overcoming a series of barriers, among which the strenuous working hours inside and outside their homes are a central element (CANDIDO; CAMPOS, 2021, p. 1, our translation).


The final reflections return to the questions at the beginning of this article. The injustices inflicted by one social group on the other. Patriarchal domination and gender inequalities that span generations. “To be silent today is to be an accomplice. Let us practice the unspeakable crime of courage, in the midst of the cowardice and cynicism of the present time” (MOURA, 1934, p. 112, our translation).


REFERENCES


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How to reference this article


MAURANO, T. R.; PINTO, G. U.; PADILHA, A. M. L. To shut up today is to be an accomplice: Maria Lacerda de Moura. Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 10, n. 00, e021019, Jan./Dec. 2021. e-ISSN: 2358-4238. DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v10i00.15870


Submitted: 02/09/2021 Required revisions: 08/10/2021 Approved: 05/11/2021 Published: 29/12/2021