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Através do espelho de Alice: interesse, experiência e democracia nas ideias pedagógicas de John Dewey
Rev. Sem Aspas
, Araraquara, v. 12, n. 00, e022012, 2022. e-ISSN 2358-4238
DOI:
https://doi.org/10.29373/sas.v11i00.16538
1
ATRAVÉS DO ESPELHO DE ALICE: INTERESSE, EXPERIÊNCIA E
DEMOCRACIA NAS IDEIAS PEDAGÓGICAS DE JOHN DEWEY
A TRAVÉS DEL ESPEJO DE ALICIA: INTERÉS, EXPERIENCIA Y DEMOCRACIA
EN LAS IDEAS PEDAGÓGICAS DE JOHN DEWEY
THROUGH ALICE’S LOOKING GLASS: INTEREST, EXPERIENCE AND
DEMOCRACY IN JOHN DEWEY’S PEDAGOGICAL IDEAS
Roberto Freire do NASCIMENTO JÚNIOR
1
RESUMO
: O objetivo deste artigo é produzir uma resenha crítica de textos selecionados da
obra do filósofo e pedagogo estadunidense John Dewey (1859 - 1952). Dividindo o texto em
temas, a análise concentra-se em três pontos principais: a inclusão do “interesse” no processo
educativo, a experiência objetiva como guia do ato de educar e a estruturação de uma educação
para a democracia. Reconstrói-se brevemente a estrutura argumentativa do autor, baseando-se
na revisitação bibliográfica e crítica feita por Robert B. Westbrook (2010) e em uma entrevista
de Cristiane Trindade (2019). O método de análise aqui empregado é baseado na interpretação
das ideias-chave do autor, visando apreender de que maneira Dewey imaginou e praticou sua
pedagogia. Por fim, objetiva-se passar em vista duas críticas ao pensamento do autor, bem como
tocar na atualidade de sua herança teórica, construindo um paralelo entre tais ideias e os
conflitos que vivemos atualmente, principalmente no que tange a defesa da democracia.
PALAVRAS-CHAVE
: Pedagogia. Interesse. Experiência. Democracia.
RESUMEN
: El propósito de este artículo es producir una revisión crítica de textos
seleccionados de la obra del filósofo y pedagogo estadounidense John Dewey (1859 - 1952).
Dividiendo el texto en temas, el análisis se centra en tres puntos principales: la inclusión del
“interés” en el proceso educativo, la experiencia objetiva como guía para el acto de educar y
la estructuración de una educación para la democracia. Se reconstruye brevemente la
estructura argumentativa del autor, a partir de la revisión bibliográfica y crítica realizada por
Robert B. Westbrook (2010) y de una entrevista a Cristiane Trindade (2019). El método de
análisis utilizado aquí se basa en la interpretación de las ideas clave del autor, con el objetivo
de comprender cómo Dewey imaginó y practicó su pedagogía. Finalmente, en la conclusión,
se propone presentar dos críticas al pensamiento del autor, así como tocar la actualidad de su
acervo teórico, construyendo un paralelismo entre tales ideas y los conflictos que vivimos
actualmente, especialmente en lo que se refiere a la defensa de la democracia.
PALABRAS CLAVE
: pedagogía. Interés. Experiencia. Democracia.
1
Universidade de São Paulo (USP), São Paulo – SP – Brasil. Mestre em Letras pelo Departamento de Estudos
Linguísticos e Literários em Inglês. E-mail: roberto.freire.nascimento@usp.br
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Roberto Freire do NASCIMENTO JÚNIOR
Rev. Sem Aspas
, Araraquara, v. 12, n. 00, e022012, 2022. e-ISSN 2358-4238
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ABSTRACT
: The purpose of this article is to produce a critical review of the selected texts
from the work of the American philosopher and professor John Dewey
(
1859 - 1952
)
. Dividing
the text into themes, the analysis focuses on three main points: the inclusion of “interest” in the
educational process, the objective experience as a guide for the act of educating and the
structuring of an education for democracy. The author's argumentative structure is briefly
reconstructed based on the bibliographic and critical review made by Robert B. Westbrook
(2010) and on an interview by Cristiane Trindade (2019). The methodology used in this article
is based on the interpretation of the author’s main ideas which is the base of our comprehension
on how Dewey imagined and practiced his pedagogy. Finally, we aim to present two critical
comments on the author's thought, as well as to touch on the actuality of his theoretical
heritage, building a parallel between such ideas and the conflicts we are currently facing,
especially regarding the defense of democracy.
KEYWORDS
: Pedagogy. Interest. Experience. Democracy.
Introdução
Como Alice, a professora tem de passar com as crianças pelo espelho e ver,
com as lentes da imaginação, todas as coisas, sem sair dos limites de sua
experiência, mas, em caso de necessidade, tem de recuperar sua visão
corrigida e proporcionar, com o ponto de vista realista do adulto, a
orientação do saber e os instrumentos do método (MAYHEW; EDWARDS
apud WESTBROOK, 2010, p. 19).
O filósofo e pedagogo estadunidense John Dewey (1859 - 1952) é considerado um dos
mais importantes pensadores da educação da primeira metade do século XX. Sua obra perpassa
e é influenciada por diferentes processos históricos que abalaram o mundo, como as duas
Grandes Guerras Mundiais, a subsequente Guerra Fria, as disputas culturais de um mundo
politicamente bi-partido, a intensificação maciça da urbanização, entre outros acontecimentos.
Embora tenha estendido sua influência ao redor do globo, seu pensamento é focado na
sociedade norte-americana e no desenvolvimento da sua democracia liberal no pós-guerra.
Situado entre uma disputa teórico-pedagógica também bi-partida, Dewey procura,
harmonizando as teorias de pensadores tradicionais com as da chamada Escola Nova, articular
a necessidade da filosofia com o ato de educar e o envolvimento da psicologia do aluno no
ensino com a necessidade pragmática dos objetivos educacionais. Abro o artigo com a
referência à personagem de Lewis Carroll, pois a imaginação prática da jovem Alice será, como
discutiremos adiante, a pedra de toque para o pedagogo interessado em construir uma educação
para a democracia.
Nascido em Vermont, nos EUA, filho de comerciante, Dewey doutorou-se em filosofia
e
, em pouco tempo, assumiu o cargo de direção do Departamento de Filosofia na Universidade
de Michigan, em 1889. Cinco anos mais tarde, decide acolher o convite do presidente da recém-
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inaugurada Universidade de Chicago, William Harper, para o cargo de diretor do Departamento
de Pedagogia. No entanto, Dewey deixou claro que somente aceitaria a proposta com uma
condição: que a Universidade criasse uma Escola Experimental através da qual ele e os docentes
do Departamento pudessem testar suas teorias na prática (WESTBROOK, 2010, p. 12-13). É
da experiência e dos relatos dessa Escola Experimental (que mais tarde também será chamada
de “escola de Dewey”) que podemos observar as ideias do filósofo na prática, reorientando as
teorias por meio do pragmatismo do cotidiano pedagógico, como veremos a seguir.
Partindo dos apontamentos antes tecidos, o meu objetivo neste artigo é discutir
brevemente alguns aspectos principais da teoria pedagógica de Dewey, relacionando-os com
alguns exemplos colhidos de relatos da “escola experimental” a partir de textos selecionados.
Para tanto, dividirei o texto em três temas, baseando-me em três categorias que, acredito, são
essenciais para teoria deweyana, a saber: o interesse, a experiência e a democracia. Em primeiro
lugar, gostaria de definir o que é interesse para Dewey a partir da sua análise comparativa entre
“mundo escolar” e “mundo da criança”: por que os interesses desses dois mundos são opostos?
Haveria alguma maneira de harmonizá-los? Como o ato de educar pode interferir nesse ponto?
Em segundo lugar, investigo o significado de experiência para o autor a partir do seu
pragmatismo: como se dá a definição de um objetivo? Quais são os objetivos da educação?
Como a escola pode proporcionar a experiência educacional objetiva para as crianças? Em
terceiro lugar, gostaria de comentar o significado de democracia para Dewey a partir da sua
percepção da relação entre indivíduo e o seu meio social. Meu foco nesta parte será a
democracia voltada para o ambiente escolar: o que é uma educação para a democracia? Como
a escola pode proporcionar uma experiência democrática? A escola pode intervir na sociedade
ou somente reproduzi-la? Por fim, discutirei brevemente algumas críticas à Escola
Experimental, assim como pretendo recuperar a herança teórica de Dewey para nosso momento
atual.
Harmonizando interesses: entre o desejo da criança e o currículo escolar
Ante
s de estudar o processo educativo por uma perspectiva geral, Dewey (2010, p. 69)
prefere começar pelo o que ele chama de “elementos fundamentais”, isto é, a criança, por um
lado, e o adulto, por outro. O desenvolvimento paulatinamente ampliado de elementos
constitutivos para uma visão de conjunto será, como veremos, uma técnica narrativa constante
na construção de suas ideias. Ao tratar desses dois elementos fundamentais, o autor separa a
criança enquanto ser imaturo e desprovido de determinados valores e experiências, do adulto
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enquanto ser maduro e portador das experiências advindas das práticas cotidianas. Tal
separação nada tem que ver com o demérito das ideias e sensações de um ou de outro, como se
poderia deduzir à primeira vista, pelo contrário: o processo educativo deve basear-se na
adequação da “interação entre esses dois elementos” (DEWEY, 2010, p. 69). Percebe-se de
antemão outro movimento narrativo essencial em Dewey: o foco não recai em nenhum dos
lados do processo (professor x aluno), mas no próprio processo educativo. Educar, para Dewey,
é a comunhão entre teoria e ato, como discutirei adiante.
Com esta separação, Dewey dialoga com o que era então uma divisão ferrenha nas
teorias pedagógicas: de um lado, os “tradicionalistas” cujo peso teórico recaia no currículo
escolar e no professor como centro do processo educativo; do outro, os chamados representantes
da “Escola Nova” cujas atenções estavam voltadas para o aluno enquanto elemento nuclear do
processo que, assim, deveria ser organizado em torno das suas “tendências naturais”:
“Direção e controle” são palavras mágicas de uma escola [a tradicional];
“liberdade e iniciativa”, as da outra [a “Escola Nova”]. Proclamam-se a lei e
a ordem com fundamento de uma; a espontaneidade é o que se busca na outra.
Voltam-se os carinhos aqui para o que é antigo, para a conservação do que o
passado conquistou com esforço e labor; novidade, mudança e progresso
vencem acolá todas as afeições. Inércia e rotina por um lado, caos e anarquia
do outro, são as mútuas acusações condenatórias. A escola que faz da criança
o centro de tudo é acusada de desprezar a autoridade sagrada do dever; por
sua vez, ela ataca na sua opositora a supressão da individualidade pelo
despotismo tirânico (DEWEY, 2010, p. 72).
Esta crítica mútua a ambas as vertentes mostra que Dewey foge dos extremismos,
buscando um ponto de contato produtivo entre as duas teorias. Ademais, o autor percebe que,
na prática do cotidiano escolar, tais extremismos são ilógicos e inviáveis, pois o que se vê nas
escolas é um “ecletismo confuso e pouco consistente” (DEWEY, 2010, p. 72).
Voltando sua atenção, portanto, à prática escolar e buscando a harmonização entre estes
doi
s planos, o autor inclui em sua teoria a noção de interesse. Na sua pedagogia, o interesse
desdobra-se nas inflexões naturais da criança e na estruturação do programa escolar. O mundo
infantil é povoado por sensações e contatos primários. Embora certo grau de abstração e
imaginação não estejam ausentes, o que costuma despertar o interesse da criança está
relacionado a tudo aquilo que orbita ao seu redor ou ao redor de sua família. Sua vontade é
atraída pelos objetos imediatos de satisfação nos quais há a predominância do contato empírico
do afeto e das marcas visíveis dos acontecimentos. “Tudo” no mundo infantil “é afeição e
simpatia” (DEWEY, 2010, p. 70). Embora tal percepção do mundo não seja de modo algum
reprovável, nota-se que não há espaço, pelo menos imediatamente, para uma abstração
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científica que envolva uma visão de conjunto de um determinado processo, dado que, para que
este ponto seja alcançado, seria necessária uma interrupção na imediatez prazerosa por meio do
trabalho.
Em contrapartida, o programa escolar, estruturado em uma tradição da filosofia
ocidental de separação entre razão e emoção, expõe a criança em um mundo bem diverso ao
seu. Um mundo fragmentado em “matérias” impessoais e onde o conhecimento é apresentado
sob o signo de um “princípio geral” que, a priori, não dialoga com a imediatez das percepções
infantis. Nada mais distante da experiência da criança, na qual “somente os laços vitais de
afeição, e os de sua própria atividade prendem e unem a variedade de suas experiências sociais”
(DEWEY, 2010, p. 71). Contudo, de acordo com Dewey (2010), é comum da mente adulta o
interesse objetivo e uma capacidade de análise mais ou menos desenvolvida disposta a observar
determinados elementos de modo impessoal. O amadurecimento também exige o
desenvolvimento de determinados hábitos intelectuais de investigação que não estão
diretamente relacionados aos laços imediatos e, portanto, solicitam certo grau de abstração.
Sendo assim, é dever da escola também auxiliar neste processo.
Com efeito, Dewey não pretende abolir a disciplina do currículo escolar, mas adequar o
ato educativo de modo a criar uma ponte entre o interesse do professor (escola) e do aluno. Isto
significa incluir os interesses empíricos manifestados pelas tendências naturais das crianças em
uma metodologia pedagógica que, como todo o método, envolve rotina, classificação,
organização, intelectualização, processo e abstração. Assim, cabe ao educador proporcionar um
ambiente de estímulo necessário para que a criança percorra seu próprio caminho de
aprendizado. Veremos a seguir alguns exemplos práticos de tal ambiente aplicados na “escola
de Dewey”, mas, por ora, cabe comentar a prevalência da ideia de liberdade no contexto
educativo.
A experiência como guia: a estrutura do processo educativo
A articulação entre o interesse da criança e a estrutura do currículo escolar passa por
um
a definição pragmática dos objetivos escolares. Aqui Dewey introduz uma categoria de
pensamento tributária da biologia evolutiva e do pragmatismo. Como um pensador
extremamente engajado no ato educativo, o filósofo tentava eliminar a oposição entre corpo e
mente, fazendo do pensamento uma função mediadora entre razão e sensibilidade. Esta é a base
de sua teoria do conhecimento (WESTBROOK, 2010, p. 14). Relacionando com o conceito de
interesse que apresentei anteriormente, percebe-se que a inclusão da psicologia no processo
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educativo tem muito a ganhar quando saímos do quadro teórico generalizante e observamos de
perto como trabalham os elementos fundamentais do processo:
É um contrassenso falar de objetivo educacional quando, na maioria das vezes,
cada ato de um aluno é estabelecido pelo professor, quando a única ordem na
sequência de seus atos é aquela que vem da atribuição de lições e das
imposições de outras pessoas. É igualmente fatal a um objetivo permitir a ação
caprichosa ou descontínua em nome da autoexpressão espontânea (DEWEY,
2010, p. 74).
Para Dewey, um objetivo é como “um fim antevisto” (DEWEY, 2010, p. 75), neste
sentido, parte-se da observação empírica inicial (característica do mundo infantil), a um
sequenciamento e organização das atividades possíveis (características do mundo adulto) e, por
fim, a uma escolha adequada entre todas as possibilidades. A observação inicial tem por
objetivo partir das condições de possibilidades em um contexto específico, evitando-se assim
um quadro generalizante que esmaga as individualidades. Percebe-se que a “antevisão” de
Dewey nada tem que ver com um “princípio geral”, mas sim com a articulação entre imaginação
e inteligência de modo que as duas possam planejar uma atividade a partir das condições dadas.
Em seguida, deve-se sequenciar um método, por meio da tentativa e erro, para que as técnicas
usadas visando atingir o objetivo sejam aprimoradas e eficientes. Por fim, a possibilidade de
escolha entre os diversos métodos permite a permanência da liberdade no processo educativo
e, ao mesmo tempo, sugere uma espécie de “visão retrospectiva”, de modo que o processo não
fuja da memória, mas seja ele mesmo um exemplo do caminho trilhado.
Prever o término de uma ação é contar com uma base de onde se observam,
selecionam e ordenam os objetos e as próprias capacidades. Fazer essas coisas
significa ter mente – pois a mente é a atividade intencional com propósito,
controlada pela percepção de fatos e de suas inter-relações (DEWEY, 2010,
p. 76).
Em Dewey, o conhecimento é definido não somente como categoria abstrata, mas
também como capacidade de intervenção no mundo. Por isso, Trindade (2019) afirma que o
autor busca a “coincidência entre método e conteúdo”. Sendo assim, a experiência, enquanto
sensações empíricas, é balanceada pela sua capacidade de abstração: o corpo e a mente são uma
unidade, o ato de ver, olhar e sentir trabalha em comunhão com a conceitualização ou,
inversamente, a intelectualização parte dos problemas empíricos objetivos.
Como um pensador cuja atenção está sempre voltada à prática, Dewey se preocupa em
d
eterminar alguns critérios para a seleção de bons objetivos. O primeiro deles refere-se
diretamente ao pragmatismo do contexto: “o objetivo estabelecido tem de ser consequência
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natural das condições existentes” (DEWEY, 2010, p. 77). Tal critério instrui que os objetivos
devem partir de dentro do problema e não expostos de fora. Aqui, Dewey se refere a uma prática
constante no processo educativo de tentar moldar os objetivos e as atividades a partir de padrões
generalizantes, impondo princípios que não coincidem com o contexto existente e, assim,
fazendo uso de métodos e meios que são completamente estranhos aos alunos. Estes, por sua
vez, acabam por estranhar o próprio contexto e as próprias ferramentas de análise, fazendo com
que o processo educativo se torne uma espécie de “corpo estranho”, um invasor na sua
realidade.
O segundo critério refere-se à flexibilidade dos objetivos: “um objetivo deve, portanto,
ser flexível; tem de ser suscetível de alterações para se ajustar às circunstâncias” (DEWEY,
2010, p. 78). Como exposto anteriormente, para se “ter em mente”, na gramática deweyana, é
necessária uma antevisão do processo a partir das condições naturais da situação. Todavia, a
previsão de dada situação nem sempre acontece sem conflitos, pelo contrário, é a visão que
deve se moldar ao contexto, modificando-se, caso necessário, e alterando seus meios. Nesse
sentido, o autor não exclui do ato o erro, nem tampouco o pune como uma falha, mas o acolhe
como parte essencial do processo. Dado que o objetivo primário é senão uma hipótese, seu teste
de verdade se dá na prática. Logo, a flexibilidade do método é essencial quando lidamos com
um contexto variado.
Por fim, “o objetivo deve sempre representar uma liberação de atividades” (DEWEY,
2010, p. 79). Este último termo diz respeito a uma coesão entre fins e meios, isto é, significa
ver o processo educativo como coerente entre suas partes e na sua inter-relação com o contexto.
Cada atividade realizada é um fim almejado pela experiência e, ao mesmo tempo, é um meio
que ambiciona mais um elo no desenvolvimento continuado. Cada parte do processo, portanto,
possui um valor em si e um valor de conjunto.
Cada meio é um fim temporário até ser alcançado. Todo fim se torna um meio
de dar prosseguimento à atividade assim que é atingido. O fim assinala a
direção futura de uma atividade em que estamos envolvidos; o meio, a direção
atual. A ruptura entre fim e meio deprecia a importância da atividade e tende
a reduzi-la a um trabalho penoso, que o indivíduo evitaria se pudesse
(DEWEY, 2010, p. 80)
Mas como trabalhar tais critérios na prática pedagógica? A transposição dos critérios de
obs
ervação, flexibilidade e liberação das atividades para o contexto educativo também se faz a
partir de três pontos. O primeiro deles mantém o foco no aluno: “um objetivo educacional deve
basear-se nas atividades e necessidades intrínsecas (incluindo instintos naturais e hábitos
adquiridos) de determinado indivíduo a ser educado” (DEWEY, 2010, p. 82). Deve-se levar em
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conta as atividades concretas dos educandos e não impor expectativas, visto que, como já foi
dito, o mundo infantil e o mundo do adulto têm perspectivas e expectativas diversas.
Obviamente, como todo objetivo, deve-se ter um resultado em mente, contudo tal resultado
deve surgir a partir de problemas concretos. O segundo critério afirma que “um objetivo precisa
ser passível de se traduzir em um método de cooperação com as atividades dos que recebem a
instrução. Deve sugerir o tipo de ambiente necessário para liberar e organizar aptidões deles
[dos alunos]” (DEWEY, 2010, p. 83). O método educativo somente tem valor quando aplicado
para corrigir e propor soluções a partir dos problemas específicos do cotidiano e das tendências
dos educandos. Nestes termos, é o problema que sugere um método de análise e não o inverso.
O terceiro e último critério refere-se aos professores: “os educadores devem precaver-se contra
fins que se dizem gerais e últimos. Cada atividade, por mais específica que seja, é geral em suas
diversas conexões, pois conduz indefinidamente a outras coisas” (DEWEY, 2010, p. 84). O
termo “geral” possui duas acepções diversas: uma delas é aquela contra a qual Dewey advoga,
isto é, a abstração apartada do contexto, que impõe métodos estranhos e aliena docentes e alunos
do processo. Contudo, a generalização do processo não precisa ser descartada, ela pode e deve
ser o cume do ato educativo. Cada atividade sugere uma nova solução e um novo problema.
Sempre haverá um leque de possibilidades para cada caminho a trilhar, por isso cabe ao
educador antever o caminho correto de um dado problema e, ao fim do processo, analisar as
outras possibilidades e fornecer novas ferramentas. É dever do educador ilustrar esta “visão
panorâmica” do processo educativo na inter-relação do currículo escolar e suas diferentes
matérias: “não é possível escalar diversas montanhas ao mesmo tempo, porém, quando várias
montanhas foram escaladas, as visões se complementam mutuamente: elas não estabelecem
mundos incompatíveis, rivais” (DEWEY, 2010, p. 85).
Tomando como exemplo as práticas desenvolvidas pela Escola Experimental da
Universidade de Chicago, percebemos como a experiência cotidiana e o trabalho com o meio
se transformam em um verdadeiro guia do processo educativo. Todas as matérias tradicionais,
como física, matemática, gramática, biologia etc., eram ensinadas a partir do momento em que
a criança percebia a necessidade delas para resolver um problema específico. Por exemplo,
trabalhando com atividades úteis ao lar, alguns alunos decidiram construir uma granja no pátio
da escola. Ao desenvolverem a maquete, os primeiros problemas de abstração e linguagem
surgiram:
Quando construíram a granja, tiveram de dividi-l
a em vários campos para
semear trigo, milho e aveia; e pensar também onde instalariam a casa e o paiol.
Para isso, as crianças usaram como unidade de medida uma régua de um pé e
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começaram a entender o que significava ‘um quarto’ e ‘uma metade’. Ainda
que as divisões não fossem exatas, bastavam para permitir delimitar a granja.
À proporção que descobriam o meio pé, o quarto de pé, a polegada, seu
trabalho ficou mais preciso... Quando construíram a casa, necessitaram de
quatro postes para as esquinas e seis ou sete ripas da mesma altura. As crianças
podiam equivocar-se ao medir as ripas, de maneira que as medidas tinham de
ser refeitas duas ou três vezes antes de serem exatas. O que havia sido feito
em um lado da casa, tiveram de repeti-lo, depois, no outro. Naturalmente, o
trabalho ganhava rapidez e precisão na segunda vez (MAYHEW; EDWARDS
apud WESTBROOK, 2010, p. 25).
Relatos como este dão um ótimo exemplo sobre a “liberação das atividades” na proposta
deweyana, oferecendo aos alunos problemas concretos e estimulando a mente livre a resolvê-
los.
Educação para a democracia
Ao tratarmos da liberação da mente, consequentemente tocamos no conceito de
liberdade que, para Dewey, não é desvinculado da ideia de democracia. O autor é atento aos
malefícios da imposição externa de programas e teorias no contexto pedagógico, tanto para
professores quanto para alunos:
O vício de fins impostos de fora tem raízes profundas. Os professores os
recebem de autoridades superiores; eles os aceitam de acordo com as
tendências vigentes na comunidade. Os professores os impõem às crianças.
Como primeira consequência, a inteligência do professor não é livre; ela se
restringe a receber os objetivos estabelecidos de cima para baixo. Raras vezes
um professor se vê livre da ditadura da supervisão autoritária, das apostilas de
métodos, de planos de estudo prescritos etc., a ponto de deixar que sua mente
se aproxime da mente dos alunos e dos conteúdos. A falta de confiança na
experiência do professor reflete-se na falta de confiança na resposta dos
alunos. Estes recebem seus objetivos por meio de uma dupla ou tripla
imposição externa, ficando constantemente desorientados por causa do
conflito entre objetivos que são naturais em suas experiências presentes e
aqueles que são instados a obedecer. Até o
critério democrático
do significado
intrínseco de cada experiência em desenvolvimento ser reconhecida, a
exigência de adaptação a objetivos externos nos deixará intelectualmente
confusos (DEWEY, 2010, p. 83-84, grifos do autor).
Seguindo a mesma prática lógico-argumentativa para definir democracia, Dewey volta
sua atenção à parte constitutiva nuclear da sociedade, o indivíduo. Novamente, o interesse surge
como categoria essencial. Para o autor, não se pode dizer que as sociedades despóticas ou
totalitárias não unem seus membros por meio do interesse. No entanto, o que qualifica o
interesse das sociedades democráticas é a coalizão das vontades individuais com a inter-relação
do contexto social. Para o autor, “o sujeito é singular e também social” (TRINDADE, 2019),
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portanto, a sociedade democrática é a garantia do livre-jogo das vontades individuais e o
estímulo constante de seus membros na participação ativa da política. Porém, não basta a
garantia de tal sociedade, é necessário educarmos indivíduos para a democracia, de modo que
cada um se sinta parte da construção social, da seleção dos seus governantes por meio do
sufrágio popular e do repúdio à autoridade externa. Embora extenso, vale a pena citarmos um
belo trecho no qual Dewey (2010, p. 90-91) expõe os malefícios da instrumentalização do
homem pelo homem:
[a escravidão] existe sempre que um homem se dedica a uma atividade, cuja
utilidade social ele não compreenda e que não encerre para ele algum interesse
pessoal. Muito se tem falado sobre a organização científica do trabalho. Mas,
uma visão acanhada restringe o campo da ciência a assegurar a eficiência da
atuação por meio de acertados movimentos musculares ou físicos. A principal
oportunidade para a eficácia da ciência será a descoberta das relações do
homem com seu trabalho – inclusive as relações com os demais que nele
tomam parte – para que o trabalhador ponha o seu interesse inteligente naquilo
que estiver fazendo. A eficiência da produção exige com frequência a divisão
do trabalho. Mas este se reduzirá a uma rotina maquinal se o trabalhador não
vir as relações técnicas intelectuais e sociais encerradas naquilo que está
fazendo, em relação às demais partes do trabalho, e não se dedicar a seu
trabalho por essa compreensão. A tendência a reduzir coisas como a eficácia
da atividade e a organização científica do trabalho a técnicas puramente
externas é a prova do ponto de vista unilateral que possuem os que dirigem a
indústria – aqueles que lhe determinam os fins. Alheados de largos e bem
equilibrados interesses sociais não têm eles estímulo intelectual suficiente
para se voltarem aos fatores e relações humanos envolvidos na atividade
industrial. As ideias a esse respeito restringem-se aos elementos referentes à
produção técnica e à comercialização dos produtos. Não há dúvida de que
nestes estreitos limites pode haver grande desenvolvimento, mas nem por isso
a circunstância de não se tomarem em conta importantes fatores sociais
deixam de significar uma grande lacuna da colaboração espiritual, com um
correspondente dano da vida emocional dos que trabalham.
Nesse sentido, uma educação para a democracia é também uma educação democrática
na medida em que propõe a experiência comunitária do trabalho em grupo, do livre-jogo de
interesses individuais e a comunicação das experiências. Sujeitos libertos são aqueles que lutam
pela manutenção da liberdade, e isto está no coração do processo educativo:
Uma sociedade é democrática na proporção em que prepara todos os seus
membros para com igualdade aquinhoarem de seus benefícios e em que
assegura o maleável reajustamento de suas instituições por meio da interação
das diversas formas da vida associada. Essa sociedade deve adotar um tipo de
educação que proporcione aos indivíduos um interesse pessoal nas relações e
direção sociais, e hábitos de espírito que permitam mudanças sociais sem o
ocasionamento de desordens (DEWEY, 2010, p.108).
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Através do espelho de Alice: interesse, experiência e democracia nas ideias pedagógicas de John Dewey
Rev. Sem Aspas
, Araraquara, v. 12, n. 00, e022012, 2022. e-ISSN 2358-4238
DOI:
https://doi.org/10.29373/sas.v11i00.16538
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Considerações finais
Não poderia encerrar este artigo sem abordar, brevemente, algumas das críticas feitas
contra a teoria pedagógica de John Dewey. A primeira delas refere-se à alienação das
experiências da Escola Experimental do contexto social estadunidense. Ainda que Dewey
tentasse incorporar ocupações e métodos de trabalho do mundo social, não era o ambiente
cooperativo e de livre-escolha das vontades individuais que as crianças encontrariam ao sair da
escola. Pelo contrário, os EUA abraçaram uma nova onda de competitividade que,
impulsionada pela Guerra Fria, iria traçar novos rumos para a estrutura social. Ao apartar da
experiência educacional as relações reais de produção da sociedade capitalista e suas
contradições, os críticos apontaram que a “experiência democrática” de Dewey só teria êxito
em um ambiente idílico e afastado das relações reais (WESTBROOK, 2010, p. 27-28).
Embora Dewey tenha mudado a direção da sua crítica no final da vida, incluindo o
ambiente escolar como parte da disputa hegemônica na sociedade, o seu conceito de livre-jogo
de associações no trabalho, como exposto acima, parece esbarrar exatamente no pragmatismo
das relações trabalhistas. A adoção massiva do fordismo nos anos 1930-50 nos EUA como
método científico de organização do trabalho contraria em todos os pontos a sua definição de
trabalho e afeta efetivamente a rotina dos profissionais da educação. Além disso, os princípios
de liberdade e livre-expressão, essenciais na democracia segundo o autor, foram
constantemente violados pela perseguição macartista que, já entre os anos 40 e 50, ganhou uma
proporção de “caça às bruxas”, como atestam as peças de Edward Albee, Tennessee Williams
e Arthur Miller, e os filmes de Elia Kazan. Diversos artistas e educadores foram presos,
deportados, torturados e/ou obrigados a depor no Comitê de Atividades Antiamericanas, como,
por exemplo, foi o caso do dramaturgo e professor alemão Bertolt Brecht. Curioso como um
autor que tanto se preocupou com o pragmatismo das relações sociais, deixou escapar este
contexto violento e, na sua própria gramática, antidemocrático. Parece que a democracia liberal
estadunidense não estava livre de contradições.
Ainda assim, a herança de Dewey se faz ver atualmente em, acredito, dois pontos
pr
incipais. O primeiro deles diz respeito a sua visão de indivíduo como ser singular e social ao
mesmo tempo. É comum presenciarmos nas Ciência Sociais teorias que são, por um lado, super-
generalizantes, esmagando a individualidade dos elementos fundamentais ou, por outro,
perspectivas extremamente preocupadas com uma individualidade cada vez mais fragmentada
cujos marcadores sociais da diferença, como gênero ou raça, acabam sendo transformados em
princípios exclusivistas. A inclusão da heterogeneidade, principalmente na sala de aula, deve
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Roberto Freire do NASCIMENTO JÚNIOR
Rev. Sem Aspas
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ser feita levando-se em consideração a diferença entre autoridade e autoritarismo e entre
liberdade e anarquia, de modo tal que haja uma unidade na diferença.
O segundo ponto refere-se à coalizão dos interesses no processo educativo. Este
princípio transforma a escola em um ambiente favorável tanto aos professores quanto aos
alunos. No momento em que passamos pela imposição, cada vez mais alarmante, de certas
demandas quantitativas na educação, é importante termos isso em mente para que o trabalho da
educação não perca também sua graça, seu brilho e sua inventividade. Os professores são um
agente de transformação das condições objetivas e subjetivas de existência. Vale a pena
lembrarmos uma passagem de Lewis Carroll (2000, p. 122), em “Através do Espelho e o Que
Alice Encontrou Lá”:
E aqui eu gostaria de ser capaz de lhe contar a metade das coisas que Alice
costumava dizer a partir da sua expressão favorita: “Vamos fazer de conta”.
Ela tivera uma discussão bastante longa com a irmã ainda na véspera, tudo
porque começara com “Vamos fazer de conta que somos reis e rainhas”; e a
irmã, que gostava de ser muito precisa, retrucara que isso não era possível
porque eram só duas, até que Alice finalmente se vira forçada a dizer: “Bem,
você pode ser só um deles, eu serei todos os outros”. E certa vez assustara
realmente sua velha governanta, gritando-lhe de repente ao pé do ouvido:
“Vamos fazer de conta que eu sou uma hiena faminta e você é uma carcaça!”.
Conforme dito no trecho que abre este artigo como epígrafe, o “espelho de Alice” é o
faz de conta do mundo real. Ele é, no contexto pedagógico, a capacidade do educador de usar
sua “imaginação infantil”, virar todas as coisas do avesso, entrar no mundo da criança e
participar dele. Ao mesmo tempo, também é o espelho do mundo real, capaz de refletir (em
ambos os sentidos da palavra) sobre as condições de existência no e do mundo. O “mundo do
avesso” é reflexo dele mesmo, mas também o que ele poderia ser. A educação para a
intervenção, como propõe Dewey, deve ser não só reflexo da sociedade, mas também ação para
a transformar.
REFERÊNCIAS
CARROLL, L.
As Aventuras de Alice no País das Maravilhas & Através do Espelho.
Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
DEWEY, J. “Textos Selecionados”.
In
: WESTBROOK, R. B.
et al.
(org.).
John Dewey.
Recife: Massangana, 2010. p. 69-129.
TRINDADE, C. C.
Pensadores na Educação
:
John Dewey e a educação para a democracia.
Instituto Claro. 17 jan. 2019. 1 Vídeo (11min). Disponível em:
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Através do espelho de Alice: interesse, experiência e democracia nas ideias pedagógicas de John Dewey
Rev. Sem Aspas
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DOI:
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13
https://www.youtube.com/watch?v=JSh5-bgZjdA&t=3s&ab_channel=InstitutoClaro. Acesso
em: 22 jun. 2021.
WESTBROOK, R. B. “John Dewey”
(1859-1952).
In
: WESTBROOK, R. B.
et al.
(org.).
John Dewey
.
Recife: Massangana, 2010
.
p. 11-33.
Como referenciar este artigo
NASCIMENTO JÚNIOR, R. F. Através do espelho de Alice: Interesse, experiência e
democracia nas ideias pedagógicas de John Dewey.
Rev. Sem Aspas
, Araraquara, v. 11, n. 00,
e022012, 2022. e-ISSN: 2358-4238. DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11i00.16538
Submetido em
: 10/07/2022
Revisões requeridas em
: 05/08/2022
Aprovado em
: 20/11/2022
Publicado em
: 30/12/2022
P
rocessamento e edição: Editora Ibero-Americana de Educação.
Correção, formatação, normalização e tradução.
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Through Alice’s looking glass: Interest, experience and democracy in John Dewey’s pedagogical ideas
Rev. Sem Aspas
, Araraquara, v. 12, n. 00, e022012, 2022. e-ISSN 2358-4238
DOI:
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THROUGH ALICE’S LOOKING GLASS: INTEREST, EXPERIENCE AND
DEMOCRACY IN JOHN DEWEY’S PEDAGOGICAL IDEAS
ATRAVÉS DO ESPELHO DE ALICE: INTERESSE, EXPERIÊNCIA E DEMOCRACIA
NAS IDEIAS PEDAGÓGICAS DE JOHN DEWEY
A TRAVÉS DEL ESPEJO DE ALICIA: INTERÉS, EXPERIENCIA Y DEMOCRACIA
EN LAS IDEAS PEDAGÓGICAS DE JOHN DEWEY
Roberto Freire do NASCIMENTO JÚNIOR
1
ABSTRACT
: The purpose of this article is to produce a critical review of the selected texts
from the work of the American philosopher and professor John Dewey (1859 - 1952). Dividing
the text into themes, the analysis focuses on three main points: the inclusion of “interest” in the
educational process, the objective experience as a guide for the act of educating and the
structuring of an education for democracy. The author's argumentative structure is briefly
reconstructed based on the bibliographic and critical review made by Robert B. Westbrook
(2010) and on an interview by Cristiane Trindade (2019). The methodology used in this article
is based on the interpretation of the author’s main ideas which is the base of our comprehension
on how Dewey imagined and practiced his pedagogy. Finally, we aim to present two critical
comments on the author's thought, as well as to touch on the actuality of his theoretical heritage,
building a parallel between such ideas and the conflicts we are currently facing, especially
regarding the defense of democracy.
KEYWORDS
: Pedagogy. Interest. Experience. Democracy.
RESUMO
: O objetivo deste artigo é produzir uma resenha crítica de textos selecionados da
obra do filósofo e pedagogo estadunidense John Dewey (1859 - 1952). Dividindo o texto em
temas, a análise concentra-se em três pontos principais: a inclusão do “interesse” no processo
educativo, a experiência objetiva como guia do ato de educar e a estruturação de uma
educação para a democracia. Reconstrói-se brevemente a estrutura argumentativa do autor,
baseando-se na revisitação bibliográfica e crítica feita por Robert B. Westbrook (2010) e em
uma entrevista de Cristiane Trindade (2019). O método de análise aqui empregado é baseado
na interpretação das ideias-chave do autor, visando apreender de que maneira Dewey
imaginou e praticou sua pedagogia. Por fim, objetiva-se passar em vista duas críticas ao
pensamento do autor, bem como tocar na atualidade de sua herança teórica, construindo um
paralelo entre tais ideias e os conflitos que vivemos atualmente, principalmente no que tange
a defesa da democracia.
PALAVRAS-CHAVE
: Pedagogia. Interesse. Experiência. Democracia.
1
University of São Paulo (USP), São Paulo – SP – Brazil. Master in Letters from the Department of Linguistic
a
nd Literary Studies in English. E-mail: roberto.freire.nascimento@usp.br
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Roberto Freire do NASCIMENTO JÚNIOR
Rev. Sem Aspas
, Araraquara, v. 12, n. 00, e022012, 2022. e-ISSN 2358-4238
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RESUMEN
: El propósito de este artículo es producir una revisión crítica de textos
seleccionados de la obra del filósofo y pedagogo estadounidense John Dewey (1859 - 1952).
Dividiendo el texto en temas, el análisis se centra en tres puntos principales: la inclusión del
“interés” en el proceso educativo, la experiencia objetiva como guía para el acto de educar y
la estructuración de una educación para la democracia. Se reconstruye brevemente la
estructura argumentativa del autor, a partir de la revisión bibliográfica y crítica realizada por
Robert B. Westbrook (2010) y de una entrevista a Cristiane Trindade (2019). El método de
análisis utilizado aquí se basa en la interpretación de las ideas clave del autor, con el objetivo
de comprender cómo Dewey imaginó y practicó su pedagogía. Finalmente, en la conclusión,
se propone presentar dos críticas al pensamiento del autor, así como tocar la actualidad de su
acervo teórico, construyendo un paralelismo entre tales ideas y los conflictos que vivimos
actualmente, especialmente en lo que se refiere a la defensa de la democracia.
PALABRAS CLAVE
: pedagogía. Interés. Experiencia. Democracia.
Introduction
Like Alice, the teacher has to go with the children through the mirror and see,
with the lens of the imagination, all things, without leaving the limits of her
experience, but, in case of need, she has to recover her corrected vision and
provide, with the realistic point of view of the adult, the guidance of knowledge
and the instruments of the method (MAYHEW; EDWARDS apud
WESTBROOK, 2010, p.19, our translation).
The American philosopher and pedagogue John Dewey (1859 - 1952) is considered one
of the most important thinkers of education in the first half of the 20th century. His work
permeates and is influenced by different historical processes that shook the world, such as the
two Great World Wars, the subsequent Cold War, the cultural disputes of a politically bipartite
world, the massive intensification of urbanization, among other events. Although he has
extended his influence around the globe, his thinking is focused on American society and the
development of its postwar liberal democracy. Situated between a theoretical-pedagogical
dispute that is also bipartite, Dewey seeks, by harmonizing the theories of traditional thinkers
with those of the so-called New School, to articulate the need for philosophy with the act of
educating and the involvement of student psychology in teaching with the need pragmatics of
educational objectives. I open the article with a reference to the character of Lewis Carroll,
because the practical imagination of the young Alice will be, as we will discuss later, the
touchstone for the pedagogue interested in building an education for democracy.
Born in Vermont, USA, the son of a merchant, Dewey received a doctorate in
phi
losophy and, in a short time, assumed the position of director of the Department of
Philosophy at the University of Michigan, in 1889. Five years later, he decided to accept the
invitation of the president of the newly inaugurated University of Chicago, William Harper, to
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the position of director of the Department of Pedagogy. However, Dewey made it clear that he
would only accept the proposal on one condition: that the University create an Experimental
School through which he and the Department's professors could test their theories in practice
(WESTBROOK, 2010, p. 12-13, our translation). It is from the experience and reports of this
Experimental School (which will later also be called “Dewey's school”) that we can observe
the philosopher's ideas in practice, reorienting theories through the pragmatism of everyday
pedagogy, as we will see below.
Starting from the notes made before, my objective in this article is to briefly discuss
some main aspects of Dewey's pedagogical theory, relating them to some examples collected
from reports of the “experimental school” from selected texts. To do so, I will divide the text
into three themes, based on three categories that I believe are essential for Deweyan theory,
namely: interest, experience and democracy. First, I would like to define what interests Dewey
based on his comparative analysis between the “school world” and the “child's world”: why are
the interests of these two worlds opposed? Is there any way to harmonize them? How can the
act of educating interfere at this point? Secondly, I investigate the meaning of experience for
the author based on his pragmatism: how does one define a goal? What are the goals of
education? How can the school provide the objective educational experience for children?
Thirdly, I would like to comment on the meaning of democracy for Dewey based on his
perception of the relationship between the individual and his social environment. My focus in
this part will be on school-oriented democracy: what is an education for democracy? How can
the school provide a democratic experience? Can the school intervene in society or just
reproduce it? Finally, I will briefly discuss some criticisms of the Experimental School, as well
as intend to recover Dewey's theoretical heritage for our current moment.
Harmonizing interests: between the child's desire and the school curriculum
Before studying the educational process from a general perspective, Dewey (2010, p.
6
9) prefers to start with what he calls “fundamental elements”, that is, the child, on the one
hand, and the adult, on the other. The gradually expanded development of constitutive elements
for an overall view will be, as we will see, a constant narrative technique in the construction of
his ideas. When dealing with these two fundamental elements, the author separates the child as
an immature being and devoid of certain values and experiences, from the adult as a mature
being and bearer of experiences arising from everyday practices. Such a separation has nothing
to do with the demerit of the ideas and sensations of one or the other, as could be deduced at
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first sight, on the contrary: the educational process must be based on the adequacy of the
“interaction between these two elements” (DEWEY, 2010, p. 69, our translation). Another
essential narrative movement in Dewey can be perceived in advance: the focus does not fall on
either side of the process (teacher x student), but on the educational process itself. Educating,
for Dewey, is the communion between theory and act, as I will discuss later.
With this separation, Dewey dialogues with what was then a fierce division in
pedagogical theories: on the one hand, the “traditionalists” whose theoretical weight rests on
the school curriculum and on the teacher as the center of the educational process; on the other,
the so-called representatives of the “New School” whose attention was focused on the student
as a core element of the process that, thus, should be organized around their “natural
tendencies”:
“Direction and control” are magic words of a [traditional] school; “freedom
and initiative”, those of the other [the “New School”]. Law and order are
proclaimed on the foundation of one; spontaneity is what is sought in the other.
The affections are turned here to what is old, to the conservation of what the
past conquered with effort and labor; novelty, change, and progress overcome
all affections there. Inertia and routine on the one hand, chaos and anarchy on
the other, are mutual damning accusations. The school that makes the child
the center of everything is accused of disregarding the sacred authority of
duty; in turn, it attacks its opponent's suppression of individuality by
tyrannical despotism (DEWEY, 2010, p. 72, our translation).
This mutual criticism of both strands shows that Dewey flees from extremism, seeking
a productive point of contact between the two theories. Moreover, the author realizes that, in
the practice of everyday school life, such extremisms are illogical and unfeasible, as what is
seen in schools is a “confused and inconsistent eclecticism” (DEWEY, 2010, p. 72, our
translation).
Turning his attention, therefore, to school practice and seeking harmony between these
t
wo plans, the author includes the notion of interest in his theory. In its pedagogy, the interest
unfolds in the natural inflections of the child and in the structuring of the school program. The
child's world is populated by primary sensations and contacts. Although a certain degree of
abstraction and imagination are not absent, what usually arouses the child's interest is related to
everything that orbits around him or around his family. His will is attracted by immediate
objects of satisfaction in which there is a predominance of the empirical contact of affect and
the visible marks of events. “Everything” in the children's world “is affection and sympathy”
(DEWEY, 2010, p. 70, our translation). Although such a perception of the world is by no means
reprehensible, it is noted that there is no room, at least immediately, for a scientific abstraction
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that involves an overall view of a given process, given that, for this point to be reached, it would
be a break in pleasurable immediacy through work is necessary.
On the other hand, the school program, structured in a tradition of Western philosophy
of separation between reason and emotion, exposes the child to a world that is very different
from his own. A world fragmented into impersonal “materials” and where knowledge is
presented under the sign of a “general principle” that, a priori, does not dialogue with the
immediacy of childhood perceptions. Nothing is further from the child's experience, in which
“only the vital ties of affection and those of his own activity bind and unite the variety of his
social experiences” (DEWEY, 2010, p. 71, our translation). However, according to Dewey
(2010), objective interest and a reasonable developed analytical capacity willing to observe
certain elements impersonally are common to the adult mind. Maturity also requires the
development of certain intellectual habits of investigation that are not directly related to
immediate ties and, therefore, require a certain degree of abstraction. Therefore, it is the duty
of the school to also assist in this process.
Indeed, Dewey does not intend to abolish discipline from the school curriculum, but to
adapt the educational act in order to create a bridge between the interest of the teacher (school)
and the student. This means including the empirical interests manifested by children's natural
tendencies in a pedagogical methodology that, like all methods, involves routine, classification,
organization, intellectualization, process and abstraction. Thus, it is up to the educator to
provide a necessary stimulus environment for the child to follow his own learning path. Below
we will see some practical examples of such an environment applied in the “Dewey school”,
but, for now, it is worth commenting on the prevalence of the idea of freedom in the educational
context.
Experience as a guide: the structure of the educational process
The articulation between the child's interest and the structure of the school curriculum
i
nvolves a pragmatic definition of school objectives. Here Dewey introduces a category of
thought that is tributary to evolutionary biology and pragmatism. As a thinker extremely
engaged in the educational act, the philosopher tried to eliminate the opposition between body
and mind, making thought a mediating function between reason and sensitivity. This is the basis
of his theory of knowledge (WESTBROOK, 2010, p. 14). Relating to the concept of interest
that I presented earlier, it is clear that the inclusion of psychology in the educational process
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has a lot to gain when we leave the generalizing theoretical framework and observe closely how
the fundamental elements of the process work:
It makes no sense to speak of an educational objective when, most of the time,
each act of a student is established by the teacher, when the only order in the
sequence of his acts is that which comes from the attribution of lessons and
the impositions of other people. It is equally fatal to a goal to allow capricious
or discontinuous action in the name of spontaneous self-expression (DEWEY,
2010, p. 74, our translation).
For Dewey, a goal is like “a foreseen end” (DEWEY, 2010, p. 75), in this sense, it starts
from the initial empirical observation (characteristic of the world of children) to a sequencing
and organization of possible activities (characteristics of the adult world) and, finally, to an
adequate choice among all the possibilities. The initial observation aims to start from the
conditions of possibilities in a specific context, thus avoiding a generalizing framework that
crushes individualities. It is noticed that Dewey's “prevision” has nothing to do with a “general
principle”, but rather with the articulation between imagination and intelligence so that both
can plan an activity from the given conditions. Then, a method must be sequenced, through trial
and error, so that the techniques used to achieve the objective are improved and efficient.
Finally, the possibility of choosing between the different methods allows for the permanence
of freedom in the educational process and, at the same time, suggests a kind of “retrospective
view”, so that the process does not escape memory, but is itself an example of the path taken.
Predicting the completion of an action means having a base from which to
observe, select and order objects and capabilities. Doing these things means
having a mind – for the mind is purposeful, purposeful activity controlled by
the perception of facts and their interrelationships (DEWEY, 2010, p. 76, our
translation).
In Dewey, knowledge is defined not only as an abstract category, but also as an ability
to intervene in the world. Therefore, Trindade (2019) states that the author seeks the
“coincidence between method and content”. Thus, experience, as empirical sensations, is
balanced by its capacity for abstraction: body and mind are a unit, the act of seeing, looking
and feeling works in communion with conceptualization or, conversely, intellectualization is
part of the objective empirical problems.
As a thinker whose attention is always focused on practice, Dewey is concerned with
de
termining some criteria for selecting good goals. The first one refers directly to the
pragmatism of the context: “the established objective has to be a natural consequence of the
existing conditions” (DEWEY, 2010, p. 77, our translation). This criterion instructs that the
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objectives must come from within the problem and not exposed from the outside. Here, Dewey
refers to a constant practice in the educational process of trying to mold objectives and activities
from generalizing standards, imposing principles that do not coincide with the existing context
and, thus, making use of methods and means that are completely foreign to the students. These,
in turn, end up finding the context and the analysis tools strange, making the educational process
a kind of “foreign body”, an invader in their reality.
The second criterion refers to the flexibility of objectives: “an objective must, therefore,
be flexible; it has to be susceptible to change to suit circumstances” (DEWEY, 2010, p. 78, our
translation). As previously exposed, to “keep in mind”, in Dewey's grammar, it is necessary to
anticipate the process from the natural conditions of the situation. However, the prediction of a
given situation does not always happen without conflicts, on the contrary, it is the vision that
must be molded to the context, modifying itself, if necessary, and altering its means. In this
sense, the author does not exclude the error from the act, nor does he punish it as a failure, but
welcomes it as an essential part of the process. Given that the primary objective is nothing but
a hypothesis, its truth test takes place in practice. Therefore, the flexibility of the method is
essential when dealing with a varied context.
Finally, “the objective must always represent a release of activities” (DEWEY, 2010, p.
79). This last term concerns a cohesion between ends and means, that is, it means seeing the
educational process as coherent among its parts and in its interrelationship with the context.
Each activity carried out is an end sought by the experience and, at the same time, it is a means
that aspires to one more link in continued development. Each part of the process, therefore, has
a value in itself and a value as a whole.
Every means is a temporary end until achieved. Every end becomes a means
to further activity once it is attained. The end signals the future direction of an
activity in which we are engaged; the middle, the current direction. The
rupture between end and means depreciates the importance of the activity and
tends to reduce it to drudgery, which the individual would avoid if he could
(DEWEY, 2010, p. 80, our translation)
But how to work such criteria in pedagogical practice? The transposition of the criteria
of
observation, flexibility and release of activities to the educational context is also based on
three points. The first of them maintains the focus on the student: “an educational objective
must be based on the activities and intrinsic needs (including natural instincts and acquired
habits) of a certain individual to be educated” (DEWEY, 2010, p. 82, our translation). One
should take into account the concrete activities of the students and not impose expectations,
since, as has already been said, the world of children and the world of adults have different
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perspectives and expectations. Obviously, like every objective, you must have a result in mind,
but such a result must arise from concrete problems. The second criterion states that “an
objective must be capable of being translated into a method of cooperation with the activities
of those receiving instruction. It should suggest the kind of environment needed to release and
organize their [students'] skills” (DEWEY, 2010, p. 83, our translation). The educational
method is only valuable when applied to correct and propose solutions based on specific
everyday problems and student tendencies. In these terms, it is the problem that suggests a
method of analysis and not the other way around. The third and final criterion refers to teachers:
“Educators must guard against purposes that are said to be general and ultimate. Each activity,
however specific it may be, is general in its various connections, as it leads indefinitely to other
things” (DEWEY, 2010, p. 84, our translation). The term “general” has two different meanings:
one of them is the one that Dewey advocates against, that is, the abstraction detached from the
context, which imposes strange methods and alienates teachers and students from the process.
However, the generalization of the process does not need to be discarded, it can and should be
the summit of the educational act. Each activity suggests a new solution and a new problem.
There will always be a range of possibilities for each path to follow, so it is up to the educator
to foresee the correct path for a given problem and, at the end of the process, analyze the other
possibilities and provide new tools. It is the educator's duty to illustrate this "panoramic view"
of the educational process in the interrelation of the school curriculum and its different subjects:
"it is not possible to climb several mountains at the same time, however, when several
mountains have been climbed, the views complement each other: they do not establish
incompatible, rival worlds” (DEWEY, 2010, p. 85, our translation).
Taking as an example the practices developed by the Experimental School of the
University of Chicago, we perceive how everyday experience and work with the environment
become a true guide for the educational process. All traditional subjects, such as physics,
mathematics, grammar, biology etc., were taught from the moment the child realized the need
for them to solve a specific problem. For example, working with activities that are useful at
home, some students decided to build a farm in the school yard. When developing the model,
the first abstraction and language problems arose:
When they built the farm, they had to divide it into several fields to sow wheat,
c
orn and oats; and also think about where they would install the house and the
storeroom. For this, the children used a one-foot ruler as a unit of measurement
and began to understand what 'a quarter' and 'a half' meant. Although the
divisions were not exact, they were enough to allow the farm to be delimited.
As they discovered the half foot, the quarter foot, the inch, their work became
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Rev. Sem Aspas
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more precise... When they built the house, they needed four posts for the
corners and six or seven slats of the same height. Children could make
mistakes when measuring the slats, so the measurements had to be redone two
or three times before they were accurate. What had been done on one side of
the house had to be repeated on the other. Naturally, the work gained speed
and precision the second time (MAYHEW; EDWARDS apud
WESTBROOK, 2010, p. 25, our translation).
Reports like this one provide an excellent example of the “liberation of activities” in
Dewey's proposal, offering students concrete problems and stimulating a free mind to solve
them.
Education for democracy
When dealing with the liberation of the mind, consequently we touch on the concept of
freedom which, for Dewey, is not disconnected from the idea of democracy. The author is aware
of the harm caused by the external imposition of programs and theories in the pedagogical
context, both for teachers and students:
The addiction to externally imposed ends has deep roots. Teachers receive
them from higher authorities; they accept them according to current trends in
the community. Teachers impose them on children. As a first consequence,
the teacher's intelligence is not free; it restricts itself to receiving the objectives
established from above. Rarely does a teacher get rid of the dictatorship of
authoritarian supervision, method handouts, prescribed study plans etc., to the
point of letting his mind get closer to the students' minds and content. The lack
of confidence in the teacher's experience is reflected in the lack of confidence
in the students' response. These receive their goals through a double or triple
imposition from outside and are constantly disoriented because of the conflict
between goals that are natural in their present experiences and those they are
urged to obey. Until the
democratic criterion
of the intrinsic meaning of each
experience in development is recognized, the requirement of adaptation to
external objectives will leave us intellectually confused (DEWEY, 2010, p.
83-84, author’s emphasis, our translation).
Following the same logical-argumentative practice to define democracy, Dewey turns
his attention to the core constitutive part of society, the individual. Again, interest emerges as
an essential category. For the author, it cannot be said that despotic or totalitarian societies do
not unite their members through interest. However, what qualifies the interest of democratic
societies is the coalition of individual wills with the interrelationship of the social context. For
the author, “the subject is unique and also social” (TRINDADE, 2019), therefore, democratic
society is the guarantee of free game of individual wishes and the constant encouragement of
its members to actively participate in politics. However, the guarantee of such a society is not
enough, it is necessary to educate individuals for democracy, so that each one feels part of the
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social construction, of the selection of its rulers through popular suffrage and the repudiation
of external authority. Although extensive, it is worth quoting a beautiful passage in which
Dewey (2010, p. 90-91, our translation) exposes the harmful effects of the instrumentalization
of man by man:
[slavery] exists whenever a man engages in an activity whose social utility he
does not understand, and which does not contain any personal interest for him.
Much has been said about the scientific organization of work. But a limited
view restricts the field of science to ensure the efficiency of action through
correct muscular or physical movements. The main opportunity for the
effectiveness of science will be the discovery of man's relationships with his
work - including relationships with others who take part in it - so that the
worker puts his intelligent interest in what he is doing. Efficiency in
production often requires the division of labor. But this will be reduced to a
mechanical routine if the worker does not see the technical, intellectual and
social relations enclosed in what he is doing, in relation to the other parts of
the work, and if he does not dedicate himself to his work for this
understanding. The tendency to reduce such things as the efficiency of activity
and the scientific organization of work to purely external techniques is proof
of the one-sided point of view held by those who direct industry – those who
determine its ends. Alienated from broad and well-balanced social interests,
they do not have enough intellectual stimulus to turn to the human factors and
relations involved in industrial activity. The ideas in this regard are restricted
to elements referring to the technical production and commercialization of
products. There is no doubt that within these narrow limits there can be great
development, but the circumstance of not considering important social factors
ceases to mean a great gap in spiritual collaboration, with a corresponding
damage to the emotional life of those who work.
In this sense, an education for democracy is also a democratic education insofar as it
proposes the community experience of group work, the free game of individual interests and
the communication of experiences. Freed subjects are those who fight to maintain freedom, and
this is at the heart of the educational process:
A society is democratic to the extent that it prepares all its members to equally
share in its benefits and to the extent that it ensures the malleable readjustment
of its institutions through the interaction of the various forms of associated
life. Such a society must adopt a type of education which will give individuals
a personal interest in social relations and direction, and habits of mind which
will permit social changes without the occasion of disorder (DEWEY, 2010,
p. 108, our translation).
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Final considerations
I could not end this article without briefly addressing some of the criticisms made
against John Dewey's pedagogical theory. The first of these refers to the alienation of the
Experimental School's experiences from the American social context. Although Dewey tried to
incorporate occupations and work methods from the social world, it was not the cooperative
and free-choice environment of individual wills that children would find when they left school.
On the contrary, the US embraced a new wave of competitiveness that, driven by the Cold War,
would chart new directions for the social structure. By separating the real relations of
production of capitalist society and its contradictions from the educational experience, critics
pointed out that Dewey's “democratic experience” would only succeed in an idyllic
environment and away from real relations (WESTBROOK, 2010, p. 27-28).
Although Dewey changed the direction of his criticism towards the end of his life,
including the school environment as part of the hegemonic dispute in society, his concept of
free play of associations at work, as shown above, seems to collide precisely with the
pragmatism of labor relations. The massive adoption of Fordism in the 1930s and 1950s in the
USA as a scientific method of organizing work contradicted its definition of work at all points
and effectively affected the routine of education professionals. In addition, the principles of
freedom and free expression, essential in democracy according to the author, were constantly
violated by the McCarthyist persecution that, between the 40s and 50s, became a “witch hunt”,
as attested by pieces by Edward Albee, Tennessee Williams and Arthur Miller, and the films of
Elia Kazan. Several artists and educators were arrested, deported, tortured and/or forced to
testify in the Committee of Un-American Activities, as, for example, was the case of the
German playwright and professor Bertolt Brecht. Curious as an author who was so concerned
with the pragmatism of social relations, he overlooked this violent and, in his own grammar,
anti-democratic context. It seems that US liberal democracy was not free of contradictions.
Still, Dewey's heritage is now seen in, I believe, two main points. The first concerns his
vi
ew of the individual as a singular and social being at the same time. It is common to witness
in Social Sciences theories that are, on the one hand, over-generalizing, crushing the
individuality of fundamental elements or, on the other hand, perspectives extremely concerned
with an increasingly fragmented individuality whose social markers of difference, such as
gender or race, end up being transformed into exclusivist principles. The inclusion of
heterogeneity, especially in the classroom, must be done considering the difference between
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authority and authoritarianism and between freedom and anarchy, in such a way that there is
unity in the difference.
The second point refers to the coalition of interests in the educational process. This
principle transforms the school into a favorable environment for both teachers and students. At
a time when we are experiencing the increasingly alarming imposition of certain quantitative
demands on education, it is important to bear this in mind so that the work of education does
not also lose its grace, brilliance and inventiveness. Teachers are an agent of transformation of
the objective and subjective conditions of existence. It is worth remembering a passage by
Lewis Carroll, in “Through the Looking Glass and What Alice Found There” (2000, p. 122, our
translation):
And here I would like to be able to tell you half of the things Alice used to say
from her favorite expression: "Let's pretend". She had had a rather lengthy
argument with her sister just the day before, all because it started with "Let's
pretend we're kings and queens"; and her sister, who liked to be very precise,
had retorted that that wasn't possible as there were only two of them, until
Alice was finally forced to say, "Well, you can be just one of them, I'll be all
the others". And once she had really frightened her old housekeeper, by
suddenly shouting in her ear: "Let's pretend I'm a hungry hyena and you're a
carcass!".
As stated in the excerpt that opens this article as an epigraph, the “mirror of Alice” is
the make-believe of the real world. It is, in the pedagogical context, the educator's ability to use
his "children's imagination", turn everything inside out, enter the child's world and participate
in it. At the same time, it is also the mirror of the real world, capable of reflecting (in both
senses of the word) on the conditions of existence in and of the world. The “inside out world”
is a reflection of himself, but also what he could be. Education for intervention, as proposed by
Dewey, must be not only a reflection of society, but also an action to transform it.
REFERENCES
CARROLL, L.
As Aventuras de Alice no País das Maravilhas & Através do Espelho.
Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
DEWEY, J. “Textos Selecionados”.
In
: WESTBROOK, R. B.
et al.
(org.).
John Dewey.
Recife: Massangana, 2010. p. 69-129.
TRINDADE, C. C.
Pensadores na Educação
: John Dewey e a educação para a democracia.
Instituto Claro. 17 jan. 2019. 1 Vídeo (11min). Available:
https://www.youtube.com/watch?v=JSh5-bgZjdA&t=3s&ab_channel=InstitutoClaro. Access:
22 June 2021.
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Through Alice’s looking glass: Interest, experience and democracy in John Dewey’s pedagogical ideas
Rev. Sem Aspas
, Araraquara, v. 12, n. 00, e022012, 2022. e-ISSN 2358-4238
DOI:
https://doi.org/10.29373/sas.v11i00.16538
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WESTBROOK, R. B. “John Dewey”
(1859-1952).
In
: WESTBROOK, R. B.
et al.
(org.).
John Dewey
.
Recife: Massangana, 2010
.
p. 11-33.
How to reference this article
NASCIMENTO JÚNIOR, R. F. Through Alice’s looking glass: Interest, experience and
democracy in John Dewey’s pedagogical ideas.
Rev. Sem Aspas
, Araraquara, v. 11, n. 00,
e022012, 2022. e-ISSN: 2358-4238. DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11i00.16538
Submitted
: 10/07/2022
Required revisions
: 05/08/2022
Approved
: 20/11/2022
Published
:
30/12/2022
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Correction, formatting, normalization and translation.