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O problema fundamental da política:
Olhares
antropológicos e o senso político
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara, v.
11, n.
esp.
1, e022016, 2022
.
e
-
ISSN
2358
-
4238
DOI:
https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.17047
1
O PROBLEMA FUNDAMENTAL DA POLÍTICA:
OLHAR
ES
ANTROPOLÓGICO
S
E O SENSO POLÍTICO
EL PROBLEMA FUNDAMENTAL DE LA POLÍTICA: MIRADA ANTROPOLÓGICA Y
SENTIDO POLÍTICO
THE FUNDAMENTAL PROBLEM OF POLITICS: ANTHROPOLOGICAL VIEWS AND
POLITICAL SENSE
Alexandre Aparecido dos SANTOS
1
Renata Medeiros PAOLIELLO
2
RESUMO
:
Esse artigo tem por objetivo apresentar caminhos teóricos que possibilitem analisar
a prática política enquanto uma agência. Nesse sentido apresenta, uma discussão teórica que
aproxima alguns momentos em que os estudos antropológicos se dedicaram a questõe
s próprias
ao universo político e as reflexões sobre as práticas políticas e seus modos de produção
presentes na obra de Pierre Bourdieu. Desta aproximação, resultam os seguintes entendimentos:
i) os modos de produção das práticas políticas permitem entend
er a existência de uma lógica
própria a um possível campo político com regras e pensamentos definidos e legitimamente
reconhecidos; ii) os modos de produção das práticas políticas revelam a existência de outras
l
ó
gicas, outras regras e outros modos de pens
ar sobre a política e seu funcionamento que não
são reconhecidos e, por isso, não são legitimados socialmente.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Prática. Senso político.
Pierre Bourdieu. Antropologia política.
Sociologia política.
RESUMEN
:
Este artículo tiene como objeti
vo presentar caminos teóricos que permitan
analizar la práctica política como agencia. En ese sentido, ofrece una discusión que reúne
algunos momentos en que los estudios antropológicos se dedicaron a cuestiones propias del
universo político y las reflexio
nes sobre las prácticas políticas y sus modos de producción
presentes en la obra de Pierre Bourdieu. De este enfoque resultan las siguientes
comprensiones: i) los modos de producción de las prácticas políticas permiten comprender la
existencia de una lógic
a propia de un posible campo político con reglas y pensamientos
definidos y legítimamente reconocidos; ii) los modos de producción de las prácticas políticas
revelan la existencia de otras lógicas, otras reglas y otras formas de pensar la política y su
fun
cionamiento que no son reconocidas y, por tanto, no están socialmente legitimadas.
PALABRAS CLAVE
:
Práctica. Sentido político. Pierre Bourdieu. Antropología política.
Sociología política.
1
Universidade de São Paulo (USP), São Paulo
–
SP
–
Brasil.
Faculdade de Educação. TRAMAS
-
Laboratório de
pesquisa em educação, transmissão intergeracional, trabalho e política
-
USP
.
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0001
-
5901
-
8262
.
E
-
mail:
alexandre.sociais@hotmail.com
2
Universidade Estadual Paulista (UNESP)
,
Araraquara
–
SP
–
Brasil. Professora do De
partamento de Ciências
Sociais.
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
0640
-
276X
.
E
-
mail:
renata.paoliello@unesp.br/reluz8@uol.com.br
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Alexandre Aparecido dos SANTOS
e
Renata Medeiros PAOLIELLO
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022.
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ABSTRACT
:
This article aims to present theoretical paths that mak
e it possible to analyze
political practice as an agency. In this sense, it offers a discussion that brings together some
moments in which anthropological studies were dedicated to questions specific to the political
universe and the reflections on politic
al practices and their modes of production present in the
work of Pierre Bourdieu. The following understandings result from this approach: i) the modes
of production of political practices allow us to understand the existence of a logic proper to a
possibl
e political field with defined and legitimately recognized rules and thoughts; ii) the
modes of production of political practices reveal the existence of other logics, other rules and
other ways of thinking about politics and its functioning that are not r
ecognized and, therefore,
are not socially legitimized.
KEYWORDS
:
Practice. Political sense. Pierre Bourdieu.
Political anthropology. Political
sociology.
Introdução:
A especificidade de uma abordagem
Apresentamos aqui uma reflexão sobre alguns dos momentos em que estudos
antropológicos dedicaram
-
se a temáticas e questões próprias ao universo político, no intuito
compreender como estas questões podem ser relacionadas a busca por entender a prática
polít
ica enquanto uma agência (BOURDIEU, 2011a). A especificidade de uma abordagem
antropológica da política pode ser ligada ao projeto da própria disciplina, uma vez que este diz
respeito a uma tentativa de “
[...] reunir o que a ideologia moderna separou
”
(PEI
RANO, 1997,
p. 22)
.
Nesse sentido, a “[...] abordagem da política pela antropologia pode ser definida de uma
forma simples: explicar como os atores sociais compreendem e experimentam a política, isto é,
como significam os objetos e as práticas relacionada
s ao mundo da política” (
KUSCHNIR,
2007, p.
163). O que o conhecimento antropológico busca diante das questões da política é
conhecer aquilo que os agentes concebem e vivem enquanto política.
Operacionalizar essa
busca por conhecer como as pessoas experien
ciam a política não se mostra uma tarefa simples.
Ao contrário, diz respeito a:
[...] uma proposta complexa de ser executada e que implica pelo menos dois
pressupostos. O primeiro, de que a sociedade é heterogênea, formada por redes
sociais que sustentam e possibilitam múltiplas percepções da realidade. O
segundo, de que o “mundo da p
olítica” não é um dado
a priori
, mas precisa
ser investigado e definido a partir das formulações e dos comportamentos de
atores sociais e de contextos particulares (
KUSCHNIR, 2007a, p.
163)
.
Diante das questões sobre política, o objetivo das pesquisas ant
ropológicas não diz
respeito à busca por um entendimento acerca das instituições políticas e de seu funcionamento,
mas a conhecer como as relações de poder aparecem, ganham formas e significados para
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agentes situados nos mais diversos contextos, construind
o para isso um olhar em que “o poder
(ou a política) estaria presente em todas as relações sociais onde existe algum tipo de
assimetria” (
KUSCHNIR
, 2007b, p.7).
Por isso, pensar as questões e os debates sobre a política a partir de um ponto de vista
antrop
ológico, tem por pressuposto que:
A antropologia pode contribuir nesse debate porque sua principal tarefa é
estudar não o que a política
deve ser
, mas o que ela
é
para um determinado
grupo, em um contexto histórico e social específico. Compreender, “do po
nto
de vista do nativo”, práticas muitas vezes diferentes daquelas que idealizamos
pode gerar incômodo, intelectual ou cívico, mas um incômodo necessário,
pois, como disse Geertz, “se quiséssemos verdades caseiras, deveríamos ter
ficado em casa” (
KUSCHNIR,
2007a, p.
166
, g
rifos do autor)
.
A ideia de uma antropologia política
entendida
enquanto área de conhecimento, pode
ser vinculada aos estudos ingleses de antropologia social, uma vez que sua consolidação está
ligada a um momento da disciplina em que os autores se afastaram das noções clássicas da
disciplina, que concebiam o mundo soc
ial como um todo formado por vários sistemas
interligados
–
sistemas de parentesco, político, econômico, religioso, entre outros
–
concepção
pela qual um sistema não poderia ser compreendido sem se levar em conta todos os outros, para
buscar entender de fo
rma isolada as particularidades de cada sistema social.
Em nossa leitura, dentre os principais pensadores do que hoje pode ser entendida como
uma antropologia política encontra
-
se Leach (1995), que coloca em questão as disparidades
entre as regras e os mod
elos de mundo construídos pela teoria antropológica e as práticas do
mudo real. Leach (1995) discute a importância de se compreender a distância que existe entre
a realidade empírica vivenciada pelos agentes e o mundo lógico proveniente da noção
funcionali
sta de sistemas sociais. Em concordância com a leitura de Arruti, Montero e Pompa
(2012
, p. 110
), pode
-
se dizer que:
Em resumo, o trabalho de Leach proporciona alguns ganhos fundamentais
para os desdobramentos sucessivos da antropologia política. Em prime
iro
lugar abandona a perspectiva que considera os sistemas políticos como as
instituições sociais vicárias da política que, por meio da resolução de conflitos,
tem por função manter sociologicamente as partes sociais unidas em uma
totalidade estável. Em se
gundo lugar, avança a proposição de que a política é
uma prática simbólico
-
ritual que tem como finalidade, por meio da
manipulação das categorias, a mudança permanente no modo de perceber as
distinções e relações de status e por meio dos rituais, a legitim
ação dessa
percepção
.
As noções de sistemas sociais independentes, de uma prática política simbólico
-
ritual,
e do conflito enquanto categoria estruturante da ordem social, são todas contribuições que
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podem ser conectadas à antropologia social britânica. E
la também contribuiu para o
desenvolvimento do campo do conhecimento antropológico como um todo, evidenciando assim
a importância desta área de conhecimento ao longo da formação da disciplina.
As antropologias da política e do político
Ao olhar para a
antropologia produzida no Brasil, sem o intuito de ligá
-
la a tradição
inglesa, encontramos, a princípio, os estudos das questões políticas ligados a uma abordagem
conhecida por antropologia da política. Nesses estudos, existe uma preocupação central com o
modo pelo qual as pessoas experimentam e vivenciam a política, que se desdobra em uma busca
por compreender a ideia de política vinculada as relações de mediação construídas entre
comunidades locais e às diversas instâncias de poder, dentre as quais ganham
destaque as
políticas de Estado e de governo.
No contexto brasileiro, desenvolveu
-
se, na década de 1990, um conjunto de
trabalhos autodenominados
antropologia da política
, que tiveram sua
institucionalização mais importante no Núcleo de Antropologia da P
olítica
(NuAP), sediado no Museu Nacional da UFRJ, mas envolvendo grupos em
outras universidades federais, como as de Brasília, Ceará e Rio Grande do Sul,
entre outras (
KUSCHNIR, 2007a, p.
164)
.
A abordagem da antropologia da política, entre outras coisas
, permite pensar sobre os
desdobramentos teóricos possibilitados pela noção etnográfica de “tempo da política”, recorte
temporal marcado “pelo momento em que facções (partidos reais) são identificadas, e em que,
por assim dizer, existem plenamente em confl
ito aberto, as municipalidades dividindo
-
se de
uma maneira pouco habitual nas grandes cidades” (PALMEIRA
;
HEREDIA, 2006, p. 283). As
análises construídas a partir da categoria etnográfica de “tempo da política” permitiram a essa
abordagem desviar o foco de
suas análises dos grandes centros urbanos, objetos caros à ciência
política, e voltar
-
se para as comunidades locais.
Esta mudança permitiu que os estudos de antropologia da política percebessem, por
exemplo, como uma disputa eleitoral pode reorganizar as
relações no dia a dia de diversos e
distintos lugares. De forma sistemática, sobre essa abordagem antropológica e suas
contribuições, temos que:
Em análises centradas nos momentos eleitorais em pequenas cidades no
interior do Brasil, Palmeira e Heredia (1
993, 1995 e 1997) têm desenvolvido
o conceito de tempo da política para designar os períodos em que a população
percebe a política e os políticos como parte da sua vida social. Nessas
sociedades, que teriam como valor a união e a estabilidade (representada
s
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muitas vezes sob a forma do modelo familiar), a política é vivida como um
fenômeno sazonal por estar identificada como a divisão e o conflito. Dessa
forma, os autores chamam atenção para a política tal como ela é
experimentada dentro de um universo cultu
ral e histórico específico. Os
eleitores deixam de ser “seres abstratos”, tão caros aos teóricos da democracia
(
KUSCHNIR, 2007b, p.
8)
.
Este conjunto de estudos vincula a ideia de uma ação política a questões que tentam ir
além das discussões sobre o desp
reparo para o voto por parte dos cidadãos, ou sobre as
tendências clientelistas de nossa política partidária, por exemplo, colocando em pauta uma visão
em que “[...] a compreensão do comportamento eleitoral dependeria da adoção de uma
perspectiva mais “soc
iológica”, em que as ações dos eleitores fossem percebidas segundo as
estruturas “sociais e simbólicas” que as circunscrevem...” (
KUSCHNIR, 2007b, p.
8
)
.
Em síntese, pode
-
se dizer que os estudos em antropologia da política contribuíram para
a estruturação
das discussões antropológicas contemporâneas que tomam como objeto relações
políticas no Brasil, principalmente no que toca aos estudos que buscam conhecer as práticas
eleitorais, ao assumirem uma perspectiva que desnaturaliza a noção de política.
Em nossa
leitura, essa busca evidenciada pelos estudos de antropologia da política no
Brasil, estaria na base da abordagem de uma antropologia do político (ARRUTI; MONTERO;
POMPA, 2012) que “reposiciona a questão da alteridade, concebendo
-
a como um campo de
relaçõ
es prático
-
discursivas sobre as diferenças.”
(ARRUTI; MONTERO; POMPA, 2012, p.
3).
A abordagem teórica de uma antropologia do político tem por objetivo discutir a
representatividade política, pensando sobretudo essa representação a partir das questões de
a
lteridade, como pode se ver:
Nesse sentido, sugerimos ser necessário um reposicionamento teórico da
disciplina que tenha como foco, não o exame da alteridade pensada como um
conjunto de especificidades que têm sentido nelas mesmas, nem mesmo a sua
transfo
rmação ou o conflito entre os diferentes e suas diferenças, mas as
dinâmicas sociais de sua produção e apropriação simbólica por agentes
situado
s
(ARRUTI, MONTERO; POMPA, 2012, p. 3)
.
O mote central para uma antropologia do político encontra
-
se nos divers
os
agenciamentos sobre as questões da diferença, descolando ainda mais além da análise de um
sistema político normatizado e institucional e colocando
-
a no contexto prático em que são
construídas as mediações entre essa política institucional e a demanda do
s agentes politicamente
situados no cotidiano.
Em termos metodológicos, essa abordagem aponta para uma análise
interessada, de um lado, nas categorias nativas pensadas como terminologias
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que expressam seus modos de percepção das regras e das relações soci
ais; e,
de outro, os princípios lógicos e práticos das ações simbólico
-
rituais,
responsáveis pelos agenciamentos das categorias sociais de visão e divisão do
mundo, que disputam o controle do modo de perceber as distinções e relações
de status e seus efeit
os de poder (ARRUTI; MONTERO; POMPA, 2012, p.
28).
Em síntese, a abordagem da antropologia do político apresenta a possibilidade de um
olhar para as diversas formas de representatividades políticas estabelecidas pelas relações
prático
-
discursivas sobre as diferenças e a mediação dessas diferenças em relação às políticas
institucionais de Estado:
As noções correntemente acionadas pela sociologia e pela historiografia,
sustentadas nas noções de “invenção” e “manipulação”, apesar
de terem
cumprido sua função analítica em um momento inicial do debate, tornaram
-
se
insuficientes. Para além do seu caráter tautológico (efetivamente toda tradição
é inventada e toda identidade é manipulada segundo os contextos de
interação), tais noções d
enunciam uma concepção racionalista e manipulatória
dos agentes (e de sua “agência”). [...] Uma mediação que não é pensada apenas
como uma ação que se estabelece entre agentes e agências, mas como um
campo de produção de significados que trabalha na consti
tuição dos próprios
agentes (ARRUTI; MONTERO; POMPA, 2012, p. 33)
.
Por fim, a partir desse balanço teórico, temos que a prática política pode ser pensada
enquanto uma agência (BOURDIEU, 2011a): i) por ser polissêmica, tendo em vista a
multiplicidade de se
ntidos que podem ser atribuídos a ela; ii) por estar intimamente ligada às
questões de alteridade, ou seja, uma mesma prática pode ter significados totalmente diferentes
dependendo do contexto em que se situa e se realiza; iii) por não ser o resultado de u
ma relação
de manipulação ou como simples conformidade diante do contexto de sua produção.
O olhar relacional
e
o problema fundamental da política
Ao ler a obra de Pierre Bourdieu, é muito comum que os inúmeros e possíveis
entendimentos sejam construíd
os a partir do conceito de
habitus
–
apresentamos a seguir o
modo pelo qual entendemos esse conceito, sem perde
r
de vista que esse entendimento é um
dentre os muitos possíveis sobre ele
–
noção aristotélica discutida e aplicada por vários outros
autores (W
ACQUANT, 2007; 2017), mas que, repensada criticamente, para questionar os
modos escolásticos de conhecimento, aparece nos trabalhos de Bourdieu reformulada e
operacionalizada enquanto um:
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[...] sistemas de
disposições
duráveis, estruturas estruturadas pr
edispostas a
funcionar como estruturas estruturantes, isto é, como princípio gerador e
estruturador das práticas e das representações que podem ser objetivamente
adaptadas a seu fim sem supor a intenção consciente dos fins e o domínio
expresso das operaçõe
s necessárias para atingi
-
los e coletivamente
orquestradas, sem ser o produto da ação organizadora de um regente
(BOURDIEU, 1983a, p. 60)
.
Ao ser assim anunciado, o conceito de
habitus
ganha grande aplicabilidade em análises
que se disponham a trabalhar a
partir da ideia de uma mediação entre as experiências
vivenciadas por cada agente e o contexto social que o engloba.
Essa possibilidade analítica se sustenta porque, teoricamente, o conceito de
habitus,
segundo Bourdieu, remete a
:
[...] uma capacidade i
nfinita de engendrar em toda a liberdade (controlada)
produtos
–
pensamentos, percepções, expressões, ações
–
que sempre têm
como limites as condições historicamente e socialmente situadas de sua
produção, a liberdade condicionada e condicional que ele gar
ante está tão
distante de uma criação de imprevisível novidade quanto de uma simples
reprodução mecânica dos condicionamentos iniciais (BOURDIEU, 2007a, p.
91)
.
Essa noção de liberdade condicionada diz respeito à capacidade que cada agente tem de
produzir
e reproduzir, a partir de seu
habitus
(BOURDIEU, 2007a),
inúmeras e distintas
práticas
diante das limitações socioeconômicas de seu contexto social. É nesse sentido que o
conceito de
habitus
encontra
-
se na base do que Bourdieu constrói como um conheciment
o
praxiológico
(BOURDIEU, 1983a).
Segundo o autor, para conhecer algo
praxiologicamente,
temos sempre que buscar
compreender:
[...] não somente o sistema das relações objetivas que o modo de
conhecimento objetivista constrói, mas também as relações
dialéticas
entre
essas estruturas e as
disposições
estruturadas nas quais elas se atualizam e que
tendem a reproduzi
-
las, isto é, o duplo processo de interiorização da
exterioridade e de exteriorização da interioridade: este conhecimento supõe
uma ruptura com o modo de conhecimento objetivista, quer dizer
, um
questionamento das condições de possibilidades e, por aí, dos limites do ponto
de vista objetivo e objetivante que apreende as práticas de fora, enquanto fato
acabado, em lugar de construir seu princípio gerador situando
-
se no próprio
movimento de sua
efetivação (BOURDIEU, 1983a, p. 47)
.
É nesse “[...] duplo processo de interiorização da exterioridade e de exteriorização da
interioridade” (BOURDIEU, 1983a, p. 47) que se encontraria a liberdade controlada das
práticas, uma vez que por meio desse proces
so todo o agente seria, por intermédio de seu
habitus,
um consumidor e um produtor de sentido objetivo de mundo. (BOURDIEU, 1983a)
.
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Nesse sentido, enquanto uma mediação estabelecida através de experiências cotidianas,
o conceito de
habitus
ocupa um lugar c
entral nos estudos bourdieusianos, sobretudo porque o
mesmo pode ser pensado enquanto uma
:
História incorporada, feita natureza, e por isso esquecida como tal, o
habitus
é a presença operante de todo o passado do qual é o produto: no entanto é o
que confe
re às práticas sua
independência relativa
em relação às
determinações exteriores do presente imediato. [...] Espontaneidade sem
consciência nem vontade, o
habitus
não se opõe menos à necessidade
mecânica do que à liberdade reflexiva, às coisas sem história
das teorias
mecanicistas do que aos sujeitos “sem inércia” das teorias racionalistas.
(BOURDIEU, 2009, p. 93)
.
Considerando esse objeto, as práticas políticas de agentes profanos, o conceito de
habitus
se faz estratégico por permitir equacionar a ideia d
e uma “mediação universalizante que
faz com que as práticas sem razão explícitas e sem intenção significante de um agente singular
sejam, no entanto, ‘sensatas’, ‘razoáveis’ e objetivamente orquestradas” (BOURDIEU, 1983a,
p. 73).
Assim, ao pensar os discur
sos de agentes profanos sobre a política
–
pois “Como o
campo religioso, o campo político repousa sobre uma separação entre os profissionais e os
profanos.” (BOURDIEU, 2011b, p. 195)
–
enquanto práticas políticas do dia a dia,
apresentamos o pressuposto de
que a construção de um entendimento
praxiológico
(BOURDIEU, 1983a) sobre estes discursos só se mostra possível:
[...] com a condição de relacionar as condições sociais nas quais se constituiu
o
habitus
que as engendrou às condições sociais nas quais ele
é posto em ação,
ou seja, com a condição de operar pelo trabalho científico a relação desses
dois estados do mundo social que o
habitus
efetua, ao ocultá
-
lo, na e pela
prática (BOURDIEU, 2009, p. 93).
Nesse sentido os discursos políticos dos agentes leigo
s ao campo político seriam uma
prática possibilitada pela relação dialética entre dois estados do mudo social, as experiências
vivenciadas em suas trajetórias pessoais e o contexto social de produção desses discursos.
(BOURDIEU, 1983a). Por isso, assumimos
que ser
:
[...] preciso abandonar todas as teorias que tomam explícita ou implicitamente
a prática como uma reação mecânica, diretamente determinada pelas
condições antecedentes e inteiramente redutível ao funcionamento mecânico
de esquemas preestabelecid
os, “modelos”, “normas” ou “papéis
”
(BOURDIEU, 1983a, p. 64).
Ao pensar a produção dos discursos políticos dos agentes profanos (BOURDIEU,
2011b) como uma agência, ou seja, um momento particular de produção de sentidos, temos por
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objetivo a compreensão de
sses como uma prática que, em uma perspectiva
praxiólogica,
seria
“ao mesmo tempo, necessária e relativamente autônoma em relação à situação considerada em
sua imediatidade pontual, porque ela é o produto da relação dialética entre uma situação e um
habitu
s”
(BOURDIEU, 1983a, p. 65).
Os campos sociais e o problema fundamental da política
Pensar a partir da teoria dos campos sociais é pensar necessariamente sobre estruturas
prático
-
simbólicas uma vez que a noção de campo é apresentada como o espaço social onde se
manifestam as relações de disputas simbólicas em que as posições dos agentes s
e encontram
estabelecidas
a priori
, como resultado da disputa pelo acesso e pelo acúmulo de capital cultural.
(BOURDIEU, 2002). Uma vez que:
O capital cultural pode existir sob três formas:
no estado incorporado,
ou seja,
sob a forma de disposições duráve
is no organismo;
no estado objetivado,
sob
a forma de bens culturais
–
quadros, livros, dicionários, instrumentos,
máquinas, que constituem indícios ou a realização de teorias ou de críticas
dessas teorias, de problemáticas, etc., e, enfim,
no estado insti
tucionalizado
,
forma de objetivação que é preciso colocar à parte porque, como se observa
em relação ao
certificado escolar
, ela confere ao capital cultural
–
de que é,
supostamente, a garantia
–
propriedades inteiramente originais (BOURDIEU,
2007b, p. 74)
.
O conceito de campo social permite que a sociedade seja entendida como espaço de
disputa por um poder que é objetivamente estratificado (BOURDIEU, 2002). Uma vez que
“Para que um campo funcione, é preciso que haja objetos de disputas e pessoas prontas p
ara
disputar o jogo, dotadas de
habitus
que impliquem no conhecimento e no reconhecimento das
leis imanentes do jogo, dos objetos de disputas, etc
.
” (BOURDIEU, 1983b, p.
120)
.
Neste sentido o conceito de campo social exprime ideia de um espaço onde não
haveria
neutralidade de ações e que, enquanto espaço de disputa, encontra
-
se dividido entre ortodoxia
(dominantes) e heterodoxia (dominados) em meio a um jogo no qual os agentes da ortodoxia
produziriam mecanismos e instituições capazes de legitimar bens s
imbólicos, para assim
gerenciar a dinâmica e a hierarquia social, mantendo sua posição de poder dentro dele
(BOURDIEU, 2002).
Olhar para a sociedade enquanto um espaço objetivamente estratificado permite pensar
essa sociedade estruturada por diversos campo
s sociais distintos, porém interligados por
relações de homologias estruturais, uma vez que “A homologia pode ser descrita como uma
semelhança na diferença. Falar de homologias [...] significa afirmar a existência de traços
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estruturantes equivalentes
–
o q
ue não quer dizer idênticos
–
em conjuntos diferentes”
(BOURDIEU, 2004, p. 170).
A ideia de uma semelhança pela diferença diz respeito às disputas por poder internas
aos campos sociais. Disputas essas responsáveis pelos mecanismos através dos quais esses
campos se estruturam, reproduzem e relacionam (BOURDIEU, 2004). Sobretudo porque:
A estrutura do campo é um estado da relação de força entre os agentes ou as
instituições engajadas na luta ou, se preferirmos, da distribuição do capital
específico que, ac
umulado no curso das lutas anteriores, orienta as estratégias
ulteriores. Esta estrutura, que está na origem das estratégias destinadas a
transformá
-
la, também está sempre em jogo: as lutas cujo espaço é o campo
têm por objeto o monopólio da violência legí
tima (autoridade específica) que
é característica do campo considerado, isto é, em definitivo, a conservação ou
a subversão da estrutura da distribuição do capital específico (BOURDIEU,
1983b, p.
120)
.
Então, por essa perspectiva, pensar sobre o campo pol
ítico significa refletir sobre um
contexto composto pela relação entre agentes, por regras legitimadas e reconhecidas, pelos
distintos capitais simbólicos em disputa e por uma concorrência pela condição de porta
-
voz
legítimo dos discursos e das opiniões po
líticas de uma parcela significativa da população
contemplada de alguma maneira pelas dinâmicas deste campo (BOURDIEU, 2002):
O campo político é o lugar em que se geram, na concorrência entre os agentes
que nele se acham envolvidos, produtos políticos, pr
oblemas, programas,
análises, comentários, conceitos. Acontecimentos entre os quais os cidadãos
comuns, reduzidos ao estatuto de “consumidores”, devem escolher, com
possibilidades de mal
-
entendido tanto maiores quanto mais afastados estão do
lugar da produ
ção (BOURDIEU, 2002, p. 164)
.
Em nossa leitura a noção de campo político (BOURDIEU, 2002) pode ser
operacionalizada em estudos que buscam pensar sobre a dinâmica da política profissional e sua
relação com os demais espaços sociais, na medida em que:
[...] ela permite construir de maneira rigorosa essa realidade que é a política
ou o jogo político. [...] é uma noção que possui virtudes negativas, o que é
uma propriedade dos bons conceitos (que valem tanto pelos falsos problemas
que eles eliminam como p
elos problemas que permitem construir)
(BOURDIEU, 2011b, p. 194).
Por isso, a operacionalização do conceito de campo político permite perceber a relação
entre a ideia de uma falsa identificação e o efeito de encerramento
–
resultantes das dinâmicas
da pol
ítica institucional, eleitoral e partidária
–
daquilo que pode ser politicamente pensado em
uma sociedade, uma vez que muitas análises sobre o fazer
-
pensar político se constroem a partir
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dessa relação e seus desdobramentos, sobretudo aquelas análises que s
e valem da ideia de uma
opinião política passível de manipulação, na medida em que:
A opinião política não é um julgamento puro, nem puramente informativo,
capaz de se impor pela força intrínseca de sua verdade, mas uma
ideia
-
força,
contendo uma pretensão
tanto maior a se realizar, pela passagem ao ato,
quanto mais numeroso e potente é o grupo que ela mobiliza por sua eficácia
propriamente simbólica (BOURDIEU, 2007a, p. 387).
É nesse sentido que uma busca por compreender a relação entre os produtos do cam
po
político
–
tendo em vista que [...] dizer que há um campo político é lembrar que as pessoas que
aí se encontram podem dizer ou fazer coisas que são determinadas não pela relação direta com
os eleitores, mas pela relação com os outros membros do campo (B
OURDIEU, 2011b, p. 198)
–
e os agentes que não conhecem a lógica do jogo político legitimada pelo campo
–
consumidores dos bens simbólicos produzidos pelo campo político
–
não pode ser reduzida à
ideia de manipulação.
Essa afirmação está ligada à hipótese
de que “O fato de produzir uma resposta a um
questionário sobre política, como o fato de votar ou, em outro nível de participação, de ler um
jornal de opinião ou aderir a um partido, é um caso particular de encontro entre uma oferta e
uma demanda” (BOURDIE
U, 2007a, p.
372).
Assim ao estudar esse encontro entre a esfera da oferta, o campo político, e a esfera da
demanda, os agentes profanos ao campo político (BOURDIEU, 2011b), temos claro que, para
compreendê
-
lo:
Não basta reconhecer as desigualdades de com
petência estatutária que
constrangem a lembrar as condições sociais de possibilidade do julgamento
político, dissimula
-
se completamente o problema político mais fundamental,
ou seja, a questão dos
modos de produção
de respostas a uma questão política
ao ac
eitar o postulado intelectualista que toda resposta a uma questão política
é o produto de um ato de julgamento e de um ato de julgamento propriamente
político (BOURDIEU, 2007a, p. 391)
.
As particularidades que Bourdieu aponta enquanto questões próprias ao
s modos de
produção das práticas políticas permitem entender a existência de uma lógica própria ao campo
político com regras e pensamentos definidos e legitimamente reconhecidos, mas de forma
relacional também revela a existência de outras l
ó
gicas, outras
regras e outros modos de pensar
sobre a política e seu funcionamento que não são reconhecidos e, por isso, não são legitimados
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Se nos limitássemos a emprestar ao povo idealizado um conhecimento
totalmente prático, não propriamente do mundo s
ocial enquanto tal, mas, pelo
menos, de sua posição e de seus interesses e de seus interesses nesse mundo,
ainda ficaria por examinar se e como esse
senso político
pode exprimir
-
se em
um discurso conforme à verdade que ele contém no estado prático e, assim
,
tornar
-
se o princípio de uma
ação consciente
e, pelo poder de mobilização
contido na explicitação, realmente coletiva (BOURDIEU, 2007a, p. 371)
.
Essa relação entre modos de produção legítimos ou não legítimos aponta para múltiplas
possibilidades de modo
s de pensar e fazer a política
–
ou uma multiplicidade de sensos políticos
(BOURDIEU, 2007a)
–
que são silenciadas pelo processo de produção de conhecimento acerca
de uma opinião reconhecida e legitimada pelos agentes políticos profissionais que estruturam
o
campo político.
Esse processo de produção de uma opinião política legítima tende “a classificar, na
mesma classe, determinadas respostas que, apesar de serem idênticas se forem consideradas em
seu valor facial, podem exprimir disposições bastantes difer
entes, preditivas de ações, em si
mesmas, bastante diferentes, até mesmo, opostas” (BOURDIEU, 2007a, p. 395). Isto acontece
porque:
As disposições que se encontram na origem da produção das opiniões se
exibem ou se denunciam, principalmente, pela
maneira
de exprimir as
opiniões, ou seja, precisamente, em todas as ninharias que se perdem, mais ou
menos inevitavelmente, no registro habitual das respostas (quase sempre
simplificando ao máximo para facilitar a rapidez e a padronização das
operações de pesquisa
) (BOURDIEU, 2007a, p. 394)
.
Dentro dessa perspectiva, questionamentos sobre o pensamento político a partir de
consultas pontuais como, por exemplo, pesquisas de opinião política ou sobre preferências
eleitorais ou partidárias, criam uma relação polissêmi
ca
–
uma relação de desajustamento
quanto ao sentido objetivo
–
entre a pergunta formulada e a pergunta respondida, pois
apresentam questões formuladas com base em regras legítimas de um campo social a agentes
que quase sempre desconhecem as regras de func
ionamento desse mesmo campo.
Esse descompasso entre a lógica do campo político e o senso político (BOURDIEU,
2007a) dos agentes que estão fora desse campo estabelece um hiato que correntemente é ligado
à ideia de uma manipulação do discurso político profan
o (BOURDIEU, 2011b) pela lógica do
campo político legítimo. Em nossa leitura essa ideia de manipulação está à margem de um
conhecimento etnográfico diante dessa relação, sobretudo porque:
Por desconhecerem, propriamente
falando, a pergunta a que estão
respondendo, destituídos dos interesses e das disposições que lhes permitiriam
reativar
verdadeiramente a questão formulada, reconhecendo nela uma forma
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particular da questão da conservação ou subversão da ordem estabelecida
, os
mais desprovidos não respondem à pergunta que, de fato, lhes é formulada,
mas a uma questão que produzem com seus próprios recursos, ou seja, a partir
dos princípios práticos de seu
ethos
de classe (BOURDIEU, 2007a, p. 408).
Essa condição de desajust
e entre o universo simbólico dos agentes e o universo
simbólico sobre o qual esperam que ele opine, ou tome partido, atua como fator decisivo no
processo de silenciamento de inúmeras práticas políticas, produzidas a partir do senso político
profano (BOURDI
EU, 2007a) e que por isso, não são reconhecidas ou legitimadas pelo campo
político (BOURDIEU, 2002).
Esse processo de silenciamento das possibilidades de pensar sobre a política fora da
lógica do campo político apaga das discussões a relação entre as escolhas políticas, provenientes
do senso político (BOURDIEU, 2007a) e a representação do mundo, do lugar
ocupado pelos
agentes no mundo.
Esse silenciamento remete diretamente ao que Bourdieu (2007a, p. 391) chamou de
“problema político mais fundamental”, ou seja, o processo pelo qual as diversas experiências e
disposições resultantes das dinâmicas do dia a d
ia são transformadas em um discurso político
que é produzido, reproduzido e experimentado fora da lógica do campo político.
Considerações finais
Assumir um ponto de vista antropológico diante das dinâmicas políticas é levar a sério
“[...] a questão da t
ransmutação da experiência em discurso, de
Ethos
informulado em
Logos
constituído e constituinte; do sentido de classe...” (BOURDIEU, 2007a, p. 429). É entender o
discurso político profano (BOURDIEU, 2011b) enquanto uma prática que expressa uma
agência, ou
seja, um momento particular de produção de sentido de mundo. É assumir o
pressuposto de que:
[...] seria falso conferir à linguagem política o poder de fazer existir
arbitrariamente o que ela designa: a ação da manipulação tende a se
circunscrever em ce
rtos limites, não só porque é possível alguém estar em
condições de resistir à argumentação sem ser capaz de argumentar a
resistência e, menos ainda, formular explicitamente seus princípios; mas
também, porque a linguagem popular dispões de seus próprios r
ecursos que,
apesar de não serem os da análise, encontram, às vezes, seu equivalente em
uma parábola ou imagem (BOURDIEU, 2007a, p. 430).
Construir um olhar antropológico para o “problema político mais fundamental”
(BOURDIEU, 2007a, p. 371) é pensar a prá
tica política em um cenário de disputa simbólicas
sobre o pensar
-
fazer político. É entender que são essas disputas simbólicas que tornam possível
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as possibilidades de resistência e enfrentamentos diante da ideia de uma manipulação
proveniente da lógica dos
profissionais da política institucional ou dos partidos que compõe o
campo político nacional.
Por isso, pensar sobre o senso político (BOURDIEU, 2007a) dos agentes profanos
(BOURDIEU, 2011b) em relação ao campo da política (BOURDIEU, 2002) se mostra um
ca
minho para se compreender a problemática política propriamente dita, ou seja, os processos
pelos quais os agentes transformam em discursos políticos as experiências, e assim as
disposições, vividas no contexto em que se situam.
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Olhares
antropológicos e o senso político
Rev. Sem Aspas
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Araraquara, v.
11, n.
esp.
1, e022016, 2022
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O problema fundamental da política:
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Submetido em
:
13/08/2022
Revisões requeridas
em
:
10/09/2022
Aprovado em
:
19/11/2022
Publicado em
:
26/12/2022
Processamento e edição: Editora
Ibero
-
Americana de Educação.
Correção, formatação, normalização e tradução.
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The fundamental problem of politics: Anthropological views and
political sense
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022.
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1
THE FUNDAMENTAL PROBLEM OF POLITICS: ANTHROPOLOGICAL VIEWS
AND POLITICAL SENSE
O PROBLEMA FUNDAMENTAL DA POLÍTICA: OLHARES ANTROPOLÓGICOS E O
SENSO POLÍTICO
EL PROBLEMA FUNDAMENTAL DE LA POLÍTICA: MIRADA ANTROPOLÓGICA Y
SENTIDO
POLÍTICO
Alexandre Aparecido dos SANTOS
1
Renata Medeiros PAOLIELLO
2
ABSTRACT
: This article aims to present theoretical paths that make it possible to analyze
political practice as an agency. In this sense, it offers a discussion that brings together some
moments in which anthropological studies were dedicated to questions specific
to the political
universe and the reflections on political practices and their modes of production present in the
work of Pierre Bourdieu. The following understandings result from this approach: i) the modes
of production of political practices allow us t
o understand the existence of a logic proper to a
possible political field with defined and legitimately recognized rules and thoughts; ii) the
modes of production of political practices reveal the existence of other logics, other rules and
other ways of t
hinking about politics and its functioning that are not recognized and, therefore,
are not socially legitimized.
KEYWORDS
: Practice. Political sense. Pierre Bourdieu.
Political anthropology. Political
sociology.
RESUMO
: Esse artigo tem por objetivo apre
sentar caminhos teóricos que possibilitem
analisar a prática política enquanto uma agência. Nesse sentido apresenta, uma discussão
teórica que aproxima alguns momentos em que os estudos antropológicos se dedicaram a
questões próprias ao universo político e
as reflexões sobre as práticas políticas e seus modos
de produção presentes na obra de Pierre Bourdieu. Desta aproximação, resultam os seguintes
entendimentos: i) os modos de produção das práticas políticas permitem entender a existência
de uma lógica pró
pria a um possível campo político com regras e pensamentos definidos e
legitimamente reconhecidos; ii) os modos de produção das práticas políticas revelam a
existência de outras lógicas, outras regras e outros modos de pensar sobre a política e seu
funcion
amento que não são reconhecidos e, por isso, não são legitimados socialmente.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Prática. Senso político. Pierre Bourdieu. Antropologia política.
Sociologia política.
1
University of
São Paulo (USP), São Paulo
–
SP
–
Brazil
.
College of Education
. TRAMAS
-
Research laboratory
in education, intergenerational transmission, work and politics
-
USP
.
ORCID: https://orcid.org/0000
-
0001
-
5901
-
8262.
E
-
mail:
alexandre.sociais@hotmail.com
2
São Paulo State University
(UNESP)
,
Araraquara
–
SP
–
Brazil
.
Professor at the Dep
artment of Social Sciences
.
ORCID: https://orcid.org/0000
-
0002
-
0640
-
276X.
E
-
mail:
renata.paoliello@unesp.br/reluz8@uol.com.br
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Alexandre Aparecido dos SANTOS
and
Renata Medeiros PAOLIELLO
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022.
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2
RESUMEN
:
Este artículo tiene como objetivo presentar caminos teóricos que
permitan
analizar la práctica política como agencia. En ese sentido, ofrece una discusión que reúne
algunos momentos en que los estudios antropológicos se dedicaron a cuestiones propias del
universo político y las reflexiones sobre las prácticas políticas
y sus modos de producción
presentes en la obra de Pierre Bourdieu. De este enfoque resultan las siguientes
comprensiones: i) los modos de producción de las prácticas políticas permiten comprender la
existencia de una lógica propia de un posible campo polí
tico con reglas y pensamientos
definidos y legítimamente reconocidos; ii) los modos de producción de las prácticas políticas
revelan la existencia de otras lógicas, otras reglas y otras formas de pensar la política y su
funcionamiento que no son reconocida
s y, por tanto, no están socialmente legitimadas.
PALABRAS CLAVE
:
Práctica. Sentido político. Pierre Bourdieu. Antropología política.
Sociología política.
Introduction: The specificity of an approach
We present here a reflection on some of the
moments in which anthropological studies
were dedicated to themes and issues specific to the political universe, in order to understand
how these issues can be related to the quest to understand political practice as an agency
(BOURDIEU, 2011a). The specif
icity of an anthropological approach to politics can be linked
to the project of the discipline itself, since this concerns an attempt to “[...] bring together what
modern ideology has separated” (PEIRANO, 1997, p. 22, our translation).
In this sense, the
“[...] approach to politics by anthropology can be defined in a simple
way: explaining how social actors understand and experience politics, that is, how objects and
practices related to the world of politics mean” (KUSCHNIR, 2007, p. 163, our translation)
.
What anthropological knowledge seeks in the face of policy issues is to know what agents
conceive and live as politics. Operationalizing this search to know how people experience
politics is not a simple task. Rather, it concerns:
[...] a complex propos
al to be implemented and which implies at least two
assumptions. The first, that society is heterogeneous, formed by social
networks that support and enable multiple perceptions of reality. The second,
that the “world of politics” is not
a priori
data but
needs to be investigated and
defined from the formulations and behaviors of social actors and particular
contexts (KUSCHNIR, 2007a, p. 163, our translation).
Faced with questions about politics, the objective of anthropological research does not
concern t
he search for an understanding of political institutions and their functioning, but to
know how power relations appear, gain forms and meanings for agents situated in the most
diverse contexts, building for this a look in which “power (or politics) would b
e present in all
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social relations where there is some kind of asymmetry” (KUSCHNIR, 2007b, p. 7, our
translation).
Therefore, thinking about policy issues and debates from an anthropological point of
view assumes that:
Anthropology can contribute to this
debate because its main task is to study
not what politics
should be
, but what
it is
for a given group, in a specific
historical and social context. Understanding, “from the native's point of view”,
practices that are often different from those we idealize
can generate
discomfort, intellectual or civic, but a necessary discomfort, because, as
Geertz said, “if we wanted home truths, we should have stayed at home”
(KUSCHNIR, 2007a, p. 166, authors’ emphasis, our translation).
The idea of a political anthropo
logy, understood as an area of knowledge, can be linked
to the English studies of social anthropology, since its consolidation is linked to a moment in
the discipline in which the authors moved away from the classic notions of the discipline, which
conceiv
ed the world social as a whole formed by several interconnected systems
-
kinship,
political, economic, religious systems, among others
-
a conception by which a system could
not be understood without taking into account all the others, in order to seek to
understand in
isolation the particularities of every social system.
In our reading, among the main thinkers of what today can be understood as a political
anthropology is Leach (1995), who questions the disparities between the rules and models of
the worl
d constructed by anthropological theory and the practices of the real world. Leach
(1995) discusses the importance of understanding the distance that exists between the empirical
reality experienced by agents and the logical world derived from the function
alist notion of
social systems. In agreement with the reading of Arruti, Montero and Pompa (2012
, p. 110, our
translation
), it can be said that:
In summary, Leach's work provides some fundamental gains for the
successive developments of political anthropo
logy. First, he abandons the
perspective that considers political systems as the vicarious social institutions
of politics which, through conflict resolution, have the function of
sociologically keeping the social parts together in a stable totality. Secon
dly,
he advances the proposition that politics is a symbolic
-
ritual practice whose
purpose, through the manipulation of categories, is the permanent change in
the way of perceiving distinctions and status relations and, through rituals, the
legitimation of
this perception
.
The notions of independent social systems, of a symbolic
-
ritual political practice, and
of conflict as a structuring category of the social order, are all contributions that can be
connected to British social anthropology. It also contributed to the develo
pment of the field of
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anthropological knowledge as a whole thus highlighting the importance of this area of
knowledge throughout the formation of the discipline.
The Anthropologies of Politics and the Political
When looking at the anthropology produced
in Brazil, without the intention of linking
it to the English tradition, we find, at first, studies of political issues linked to an approach
known as anthropology of politics. In these studies, there is a central concern with the way in
which people exper
ience politics, which unfolds in a search to understand the idea of politics
linked to the mediation relationships built between local communities and the various instances
of power, among which state and government policies gain prominence.
In the Brazil
ian context, in the 1990s, a set of works called
anthropology of
politics
was developed, which had their most important institutionalization in
the Nucleus of Anthropology of Politics (NuAP), headquartered at the
National Museum of UFRJ, but involving groups in other federal universities,
such as Brasília, Ceará and Rio Grande
do Sul, among others (KUSCHNIR,
2007a, p. 164, our translation).
The approach of the anthropology of politics, among other things, allows thinking about
the theoretical developments made possible by the ethnographic notion of “time of politics”, a
tempora
l cut marked “by the moment in which factions (real parties) are identified, and in
which, so to speak, that is to say, they exist fully in open conflict, municipalities dividing
themselves in a way that is unusual in large cities” (PALMEIRA; HEREDIA, 2006
, p. 283, our
translation). The analyzes built from the ethnographic category of “time of politics” allowed
this approach to divert the focus of its analyzes from large urban centers, objects dear to political
science, and turn to local communities.
This c
hange allowed political anthropology studies to perceive, for example, how an
electoral dispute can reorganize day
-
to
-
day relationships in different and different places.
Systematically, about this anthropological approach and its contributions, we must:
In analyzes centered on electoral moments in small towns in the interior of
Brazil, Palmeira and Heredia (1993, 1995 and 1997) have developed the
concept of political time to designate the periods in which the population
perceives politics and politicians
as part of their social life. In these societies,
which would value union and stability (often represented in the form of the
family model), politics is experienced as a seasonal phenomenon because it is
identified with division and conflict. In this way,
the authors draw attention to
politics as it is experienced within a specific cultural and historical universe.
Voters are no longer “abstract beings”, so dear to democracy theorists
(KUSCHNIR, 2007b, p. 8, our translation).
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The fundamental problem of politics: Anthropological views and
political sense
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022.
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This set of studies links the
idea of a political action to questions that try to go beyond
discussions about citizens' unpreparedness to vote, or about the clientelistic tendencies of our
party politics, for example, putting on the agenda a vision in which “[...] the understanding of
electoral behavior would depend on the adoption of a more “sociological” perspective, in which
voters' actions were perceived according to the “social and symbolic” structures that
circumscribe them...” (KUSCHNIR, 2007b, p.
8, our translation).
In summary
, it can be said that studies in the anthropology of politics have contributed
to the structuring of contemporary anthropological discussions that take political relations in
Brazil as their object, especially regarding studies that seek to understand elec
toral practices,
by assuming a perspective that denaturalizes the notion of politics.
In our reading, this search evidenced by studies of the anthropology of politics in Brazil,
would be the basis of the approach of an anthropology of the political (ARRUTI
; MONTERO;
POMPA, 2012) that “repositions the question of otherness, conceiving it as a field of practical
-
discursive relations about differences” (ARRUTI; MONTERO; POMPA, 2012, p. 3, our
translation). The theoretical approach of an anthropology of the pol
itical aims to discuss
political representativeness, thinking above all about this representation from the perspective
of alterity, as can be seen:
In this sense, we suggest the need for a theoretical repositioning of the
discipline that has as its focus,
not the examination of alterity thought of as a
set of specificities that make sense in themselves, not even its transformation
or the conflict between the different and their differences, but the social
dynamics of its production and symbolic appropriati
on by situated agents
(ARRUTI, MONTERO; POMPA, 2012, p. 3, our tanslation).
The central motto for an anthropology of the political is found in the various
assemblages on the issues of difference, taking off even further beyond the analysis of a
standardized and institutional political system and placing it in the practical context in which
the mediations between this institutional policy and the demand of politically situated agents in
everyday life are constructed.
In methodological terms, this
approach points to an analysis interested, on the
one hand, in native categories thought of as terminologies that express their
ways of perceiving rules and social relations; and, on the other hand, the
logical and practical principles of symbolic
-
ritual
actions, responsible for the
agency of social categories of vision and division of the world, which dispute
the control of the way of perceiving distinctions and status relations and their
effects of power (ARRUTI; MONTERO; POMPA, 2012, p. 28, our
translat
ion).
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Alexandre Aparecido dos SANTOS
and
Renata Medeiros PAOLIELLO
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022.
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In summary, the approach of the anthropology of the political presents the possibility of
looking at the different forms of political representation established by the practical
-
discursive
relations on the differences and the mediation of these dif
ferences in relation to the institutional
policies of the State:
The notions currently used by sociology and historiography, based on the
notions of “invention” and “manipulation”, despite having fulfilled their
analytical function at an early stage of th
e debate, have become insufficient.
Beyond their tautological character (effectively every tradition is invented,
and every identity is manipulated according to the contexts of interaction),
such notions denounce a rationalist and manipulative conception o
f agents
(and their “agency”). [...] A mediation that is not thought of only as an action
that is established between agents and agencies, but as a field of production of
meanings that works in the constitution of the agents themselves (ARRUTI;
MONTERO; PO
MPA, 2012, p. 33, our translation).
Finally, based on this theoretical balance, we have that political practice can be thought
of as an agency (BOURDIEU, 2011a): i) because it is polysemic, considering the multiplicity
of meanings that can be attributed t
o it; ii) because it is closely linked to issues of otherness,
that is, the same practice can have completely different meanings depending on the context in
which it is located and carried out; iii) because it is not the result of a manipulative relationsh
ip
or as a simple conformity with the context of its production.
The relational gaze and the fundamental problem of politics
When reading the work of Pierre Bourdieu, it is quite common for the numerous and
possible understandings to be built from the concept of
habitus
–
we present below the way in
which we understand this concept, without losing sight of the fact that this und
erstanding is one
among many possibilities
–
an Aristotelian notion discussed and applied by several other
authors (WACQUANT, 2007; 2017), but which, critically rethought, to question the scholastic
modes of knowledge, appears in Bourdieu’s works reformula
ted and operationalized as one:
[...] systems of durable
dispositions
, structured structures predisposed to
function as structuring structures, that is, as a generating and structuring
principle of practices and representations that can be
objectively adapted to
their end without assuming the conscious intention of the ends and the domain
express of the operations necessary to reach them and collectively
orchestrated, without being the product of the organizing action of a conductor
(BOURDIE
U, 1983a, p. 60, our translation).
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The fundamental problem of politics: Anthropological views and
political sense
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022.
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When announced in this way, the concept of
habitus
gains great applicability in analyzes
that are willing to work from the idea of a mediation between the experiences lived by each
agent and the social context that enco
mpasses it.
This analytical possibility is sustained because, theoretically, the concept of
habitus
,
according to Bourdieu, refers to:
[...] an infinite capacity to engender in all (controlled) freedom products
–
thoughts, perceptions, expressions, action
s
–
that always have as limits the
historically and socially situated conditions of their production, the
conditioned and conditional freedom that they guarantee it is as far from a
creation of unpredictable novelty as from a simple mechanical reproduction
of initial conditions (BOURDIEU, 2007a, p. 91, our translation).
This notion of conditional freedom concerns the capacity that each agent has to produce
and reproduce, based on their
habitus
(BOURDIEU, 2007a), innumerable and different
practices in the f
ace of the socioeconomic limitations of their social context. It is in this sense
that the concept of
habitus
is at the base of what Bourdieu constructs as
praxiological
knowledge (BOURDIEU, 1983a).
According to the author, to know something
praxiologicall
y
, we always have to seek to
understand:
[...] not only the system of objective relations that the objectivist mode of
knowledge constructs, but also the
dialectical
relations between these
structures and the structured
dispositions
in which they are actu
alized and that
tend to reproduce them, that is, the double process of interiorization of
exteriority and exteriorization of interiority: this knowledge presupposes a
break with the objectivist mode of knowledge, that is, a questioning of the
conditions of
possibilities and, therefore, of the limits of the objective and
objectifying point of view that apprehends the practices from the outside, as a
finished fact, instead of building its generating principle by placing itself in
the very movement of its real
ization (BOURDIEU, 1983a, p. 47, our
translation).
It is in this “[...] double process of interiorization of exteriority and exteriorization of
interiority” (BOURDIEU, 1983a, p. 47, our translation) that the controlled freedom of practices
would be found,
since through this process every agent would be, through his
habitus
, a
consumer and a producer of an objective sense of the world (BOURDIEU, 1983a).
In this sense, as a mediation established through everyday experiences, the concept of
habitus
occupies a
central place in Bourdieusian studies, mainly because it can be thought of as
a:
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Alexandre Aparecido dos SANTOS
and
Renata Medeiros PAOLIELLO
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022.
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Embodied history, made of nature, and therefore forgotten as such, the
habitus
is the operative presence of the entire past of which it is the product: however,
it is what gives practices their
relative
independence
in relation to the external
determinations of the immediate present. [...] Spontaneity without conscience
or will, the
habitus
is no less opposed to mechanical necessity than to
reflective freedom, to things without history of mechanistic theories than to
subjects “without inertia” of rationalist theories (BOURDIEU, 2009, p. 93,
our translation).
Considering this object,
the political practices of profane agents, the concept of
habitus
becomes strategic because it allows equating the idea of a “universalizing mediation that makes
practices without explicit reason and without significant intention of a singular agent, howe
ver,
'sensible', 'reasonable' and objectively orchestrated” (BOURDIEU, 1983a, p. 73, our
translation).
Thus, when thinking about the discourses of profane agents about politics
–
because
“Like the religious field, the political field rests on a separation
between professionals and the
profane” (BOURDIEU, 2011b, p. 195, our translation)
–
as day
-
to
-
day political practices, we
present the assumption that the construction of a
praxiological
understanding (BOURDIEU,
1983a) about these discourses is only possibl
e:
[...] with the condition of relating the social conditions in which the
habitus
that engendered them was constituted to the social conditions in which it is
put into action, that is, with the condition of operating through scientific work
the relationship of these two states of the social world that the
habitus
effects,
by hiding it,
in and through practice (BOURDIEU, 2009, p. 93, our
translation).
In this sense, the political discourses of lay agents in the political field would be a
practice made possible by the dialectic relationship between two states of the social world, the
exp
eriences lived in their personal trajectories and the social context of production of these
discourses (BOURDIEU, 1983a). Therefore, we assume to be:
[...] necessary to abandon all theories that take practice explicitly or implicitly
as a mechanical react
ion, directly determined by antecedent conditions and
entirely reducible to the mechanical functioning of pre
-
established schemes,
“models”, “norms” or “roles” (BOURDIEU, 1983a, p. 64, our translation).
By thinking of the production of political discourse
s by profane agents (BOURDIEU,
2011b) as an agency, that is, a particular moment of production of meanings, we aim to
understand these as a practice that, in a
praxiological
perspective, would be “at the same time,
necessary and relatively autonomous in re
lation to the situation considered in its punctual
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political sense
Rev. Sem Aspas
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immediacy, because it is the product of the dialectical relationship between a situation and a
habitus
” (BOURDIEU, 1983a, p. 65, our translation).
Social fields and the fundamental problem of politics
T
hinking from the theory of social fields is necessarily thinking about practical
-
symbolic structures, since the notion of field is presented as the social space where the relations
of symbolic disputes are manifested in which the positions of the agents ar
e established
a priori
,
as result of the dispute for access and accumulation of cultural capital (BOURDIEU, 2002).
Since:
Cultural capital can exist in three forms:
in the embodied state
, that is, in the
form of durable dispositions in the organism;
in the objectified state
, in the
form of cultural goods
–
pictures, books, dictionaries, instruments, machines,
which constitute evidence or the realization of theories or criticisms of these
theories, problematics etc., and, finally,
in the institutionalized state
, form of
objectivation that must be set aside because, as observed in relation to the
school certificate
, it confers entirely original properties on the cultural capital
–
of which i
t is supposedly the guarantee
–
(BOURDIEU, 2007b, p. 74, our
trnaslation).
The concept of social field allows society to be understood as a space of dispute for a
power that is objectively stratified (BOURDIEU, 2002). Since “For a field to work, there mus
t
be objects of disputes and people ready to play the game, endowed with
habitus
that imply
knowledge and recognition of the immanent laws of the game, the objects of disputes etc.”
(BOURDIEU, 1983b, p.120, our translation).
In this sense, the concept of s
ocial field expresses the idea of a space where there would
be no neutrality of actions and which, as a space of dispute, is divided between orthodoxy
(dominant) and heterodoxy (dominated) in the midst of a game in which the agents of orthodoxy
would produ
ce mechanisms and institutions capable of legitimizing symbolic goods, in order
to manage social dynamics and hierarchy, maintaining their position of power within it
(BOURDIEU, 2002).
Looking at society as an objectively stratified space allows us to thin
k of this society as
structured by different social fields, but interconnected by relations of structural homologies,
since “Homology can be described as a similarity in difference. Speaking of homologies [...]
means affirming the existence of equivalent s
tructuring traits
–
which does not mean identical
–
in different sets” (BOURDIEU, 2004, p. 170, our translation).
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Alexandre Aparecido dos SANTOS
and
Renata Medeiros PAOLIELLO
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Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022.
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The idea of similarity through difference concerns disputes for power internal to social
fields. These disputes are responsible for the mechan
isms through which these fields are
structured, reproduced and related (BOURDIEU, 2004). Mainly because:
The structure of the field is a state of the power relationship between the agents
or institutions engaged in the struggle or, if we prefer, the
distribution of the
specific capital that, accumulated in the course of previous struggles, guides
subsequent strategies. This structure, which is at the origin of the strategies
destined to transform it, is also always at stake: the struggles whose space
is
the field have as their object the monopoly of legitimate violence (specific
authority) that is characteristic of the field in question, that is, in short, the
conservation or subversion of the distribution structure of specific capital
(BOURDIEU, 1983b
, p. 120, our translation).
So, from this perspective, thinking about the political field means reflecting on a context
composed of the relationship between agents, by legitimized and recognized rules, by the
different symbolic capitals in dispute and by
a competition for the condition of legitimate
spokesperson of discourses and political opinions of a significant portion of the population
contemplated in some way by the dynamics of this field (BOURDIEU, 2002):
The political field is the place where poli
tical products, problems, programs,
analyses, comments, concepts are generated in competition between the
agents involved in it. Events between which ordinary citizens, reduced to the
status of “consumers”, must choose, with possibilities of misunderstandi
ng
that are greater the further away they are from the place of production
(BOURDIEU, 2002, p. 164, our translation).
In our reading, the notion of political field (BOURDIEU, 2002) can be operationalized
in studies that seek to think about the dynamics of
professional politics and its relationship with
other social spaces, insofar as:
[...] it allows for the rigorous construction of that reality that is politics or the
political game. [...] it is a notion that has negative virtues, which is a property
of
good concepts (which are valid both for the false problems they eliminate
and for the problems they allow to construct) (BOURDIEU, 2011b, p. 194,
our translation).
Therefore, the operationalization of the concept of political field allows us to perceive
t
he relationship between the idea of a false identification and the closure effect
–
resulting from
the dynamics of institutional, electoral and party politics
–
of what can be thought politically in
a society, once that many analyzes of political thinking
are built from this relationship and its
consequences, especially those analyzes that use the idea of a political opinion that can be
manipulated, insofar as:
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Political opinion is not a pure judgment, nor is it purely informative, capable
of imposing itsel
f through the intrinsic force of its truth, but a force
-
idea,
containing a claim that is all the greater to be realized, by passing to act, the
more numerous and powerful the group it mobilizes through its properly
symbolic effectiveness (BOURDIEU, 2007a,
p. 387, our translation).
It is in this sense that a quest to understand the relationship between the products of the
political field
–
bearing in mind that [...] to say that there is a political field is to remember that
the people who are there can say
or do things that are determined not by the direct relationship
with voters, but by the relationship with other members of the field (BOURDIEU, 2011b, p.
198)
–
and agents who do not know the logic of the political game legitimized by the field
–
consumers
of the symbolic goods produced by the political field
–
cannot be reduced to the idea
of manipulation.
This statement is linked to the hypothesis that “The fact of producing a response to a
questionnaire about politics, such as the fact of voting or, at a
nother level of participation, of
reading an opinion newspaper or joining a party, is a particular case of meeting between supply
and demand” (BOURDIEU, 2007a, p. 372, our translation).
Thus, when studying this encounter between the sphere of supply, the p
olitical field, and
the sphere of demand, profane agents in the political field (BOURDIEU, 2011b), it is clear that,
in order to understand it:
It is not enough to recognize the inequalities of statutory competence that
constrain to remember the social co
nditions of possibility of the political
judgment, the most fundamental political problem is completely concealed,
that is, the question of the
modes of producing
answers to a political question
when accepting the intellectualist postulate that every answer to a political
question is the product of an act of judgment and of a properly political act of
judgment (BOURDIEU, 2007a, p. 391, our translation).
The
particularities that Bourdieu points out as questions specific to the modes of
production of political practices allow us to understand the existence of a logic specific to the
political field with defined and legitimately recognized rules and thoughts, bu
t in a relational
way it also reveals the existence of other logics, other rules and other ways of thinking about
politics and its functioning that are not recognized and, therefore, are not socially legitimized:
If we limited ourselves to lending the ide
alized people a completely practical
knowledge, not exactly of the social world as such, but at least of its position
and its interests in this world, it would still remain to be examined whether
and how this
political sense
it can be expressed in a discou
rse that conforms
to the truth it contains in the practical state and, thus, become the principle of
a
conscious action
and, due to the mobilization power contained in the
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explanation, a truly collective one (BOURDIEU, 2007a, p. 371, our
translation).
Thi
s relationship between legitimate and non
-
legitimate modes of production points to
multiple possibilities for ways of thinking and doing politics
–
or a multiplicity of political
meanings (BOURDIEU, 2007a)
–
that are silenced by the process of producing kn
owledge
about an opinion recognized and legitimized by professional political agents who structure the
political field.
This process of producing a legitimate political opinion tends “to classify, in the same
class, certain responses that, despite being id
entical if considered at their face value, can express
quite different dispositions, predictive of actions, in themselves quite different, even opposite”
(BOURDIEU, 2007a, p. 395, our translation). This happens because:
The dispositions that are at the or
igin of the production of opinions are
exhibited or exposed, mainly, by the
way
of expressing opinions, that is,
precisely, in all the trifles that are lost, more or less inevitably, in the usual
recording of responses (almost always simplifying to the max
imum to
facilitate the speed and standardization of research operations) (BOURDIEU,
2007a, p. 394
, our translation
).
Within this perspective, questions about political thought based on specific
consultations such as, for example, political opinion polls o
r about electoral or party
preferences, create a polysemic relationship
–
a relationship of mismatch in terms of objective
meaning
–
between the question asked and the question answered, as they present questions
formulated based on legitimate rules of a s
ocial field to agents who are almost always unaware
of the rules of operation of that same field.
This mismatch between the logic of the political field and the political sense
(BOURDIEU, 2007a) of agents who are outside this field establishes a gap that i
s currently
linked to the idea of manipulation of profane political discourse (BOURDIEU, 2011b) by the
logic of the political field lawful. In our reading, this idea of manipulation is at the margin of
an ethnographic knowledge in the face of this relation
ship, mainly because:
Because they do not know, properly speaking, the question they are
answering, deprived of the interests and dispositions that would allow them to
truly
reactivate
the formulated question, recognizing in it a particular form of
the qu
estion of conservation or subversion of the established order, the most
deprived do not answer the question that, in fact, is formulated to them, but a
question that they produce with their own resources, that is, based on the
practical principles of their
class
ethos
(BOURDIEU, 2007a, p. 408, our
translation).
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political sense
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This condition of maladjustment between the symbolic universe of the agents and the
symbolic universe about which they are expected to opine, or take sides, acts as a decisive factor
in the process
of silencing countless political practices, produced from the profane political
sense (BOURDIEU, 2007a) and that, therefore, are not recognized or legitimized by the
political field (BOURDIEU, 2002).
This process of silencing the possibilities of thinking
about politics outside the logic of
the political field erases from discussions the relationship between political choices, derived
from the political sense (BOURDIEU, 2007a) and the representation of the world, of the place
occupied by agents in the worl
d.
This silencing refers directly to what Bourdieu (2007a, p. 391) called the “most
fundamental political problem”, that is, the process by which the diverse experiences and
dispositions resulting from the dynamics of everyday life are transformed into a p
olitical
discourse that is produced, reproduced and experienced outside the logic of the political field.
Final considerations
Assuming an anthropological point of view in the face of political dynamics is to take
seriously “[...] the question of the transmutation of experience into discourse, of unformulated
Ethos
into constituted and constituent
Logos
; of the sense of class...”
(BOURDIEU, 2007a, p.
429, our translation). It means understanding profane political discourse (BOURDIEU, 2011b)
as a practice that expresses an agency, that is, a particular moment of production of a sense of
the world. It assumes that:
[...] it would be
false to grant political language the power to arbitrarily make
what it designates exist: the action of manipulation tends to be circumscribed
within certain limits, not only because it is possible for someone to be in a
position to resist argumentation w
ithout being able to argue the resistance and,
even less, to explicitly formulate its principles; but also because popular
language has its own resources which, despite not being those of analysis,
sometimes find their equivalent in a parable or image (BOU
RDIEU, 2007a, p.
430, our translation).
Constructing an anthropological look at the “most fundamental political problem”
(BOURDIEU, 2007a, p. 371) is thinking about political practice in a scenario of symbolic
disputes about political thinking
-
doing. It i
s understanding that it is these symbolic disputes that
make possible the possibilities of resistance and confrontations in the face of the idea of
manipulation coming from the logic of institutional policy professionals or the parties that make
up the nat
ional political field.
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Therefore, thinking about the political sense (BOURDIEU, 2007a) of profane agents
(BOURDIEU, 2011b) in relation to the field of politics (BOURDIEU, 2002) is a way to
understand the political problem itself, that is, the processes thr
ough which agents transform
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SANTOS, A. A.; PAOLIELLO, R. M
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13/08/2022
Required revisions
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10/09/2022
Approved
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19/11/2022
Published
:
26/12/2022
Processing and Editing
: Editora Ibero
-
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