image/svg+xmlO problema fundamental da política: Olhares antropológicos e o senso políticoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022016, 2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170471O PROBLEMA FUNDAMENTAL DA POLÍTICA:OLHARESANTROPOLÓGICOSE O SENSO POLÍTICOEL PROBLEMA FUNDAMENTAL DE LA POLÍTICA: MIRADA ANTROPOLÓGICA Y SENTIDO POLÍTICOTHE FUNDAMENTAL PROBLEM OF POLITICS: ANTHROPOLOGICAL VIEWS AND POLITICAL SENSEAlexandre Aparecido dos SANTOS1Renata Medeiros PAOLIELLO2RESUMO:Esse artigo tem por objetivo apresentar caminhos teóricos que possibilitem analisar a prática política enquanto uma agência. Nesse sentido apresenta, uma discussão teórica que aproxima alguns momentos em que os estudos antropológicos se dedicaram a questões próprias ao universo político e as reflexões sobre as práticas políticas e seus modos de produção presentes na obra de Pierre Bourdieu. Desta aproximação, resultam os seguintes entendimentos: i) os modos de produção das práticas políticas permitem entender a existência de uma lógica própria a um possível campo político com regras e pensamentos definidos e legitimamente reconhecidos; ii) os modos de produção das práticas políticas revelam a existência de outras lógicas, outras regras e outros modos de pensar sobre a política e seu funcionamento que não são reconhecidos e, por isso, não são legitimados socialmente.PALAVRAS-CHAVE:Prática. Senso político. Pierre Bourdieu. Antropologia política. Sociologia política.RESUMEN:Este artículo tiene como objetivo presentar caminos teóricos que permitan analizar la práctica política como agencia. En ese sentido, ofrece una discusión que reúne algunos momentos en que los estudios antropológicos se dedicaron a cuestiones propias del universo político y las reflexiones sobre las prácticas políticas y sus modos de producción presentes en la obra de Pierre Bourdieu. De este enfoque resultan las siguientes comprensiones: i) los modos de producción de las prácticas políticas permiten comprender la existencia de una lógica propia de un posible campo político con reglas y pensamientos definidos y legítimamente reconocidos; ii) los modos de producción de las prácticas políticas revelan la existencia de otras lógicas, otras reglas y otras formas de pensar la política y su funcionamiento que no son reconocidas y, por tanto, no están socialmente legitimadas.PALABRAS CLAVE:Práctica. Sentido político. Pierre Bourdieu. Antropología política. Sociología política.1Universidade de São Paulo (USP), São Paulo SP Brasil. Faculdade de Educação. TRAMAS -Laboratório de pesquisa em educação, transmissão intergeracional, trabalho e política -USP.ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5901-8262.E-mail: alexandre.sociais@hotmail.com2Universidade Estadual Paulista (UNESP),Araraquara SP Brasil. Professora do Departamento de Ciências Sociais. ORCID:https://orcid.org/0000-0002-0640-276X. E-mail: renata.paoliello@unesp.br/reluz8@uol.com.br
image/svg+xmlAlexandre Aparecido dos SANTOSeRenata Medeiros PAOLIELLORev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170472ABSTRACT:This article aims to present theoretical paths that make it possible to analyze political practice as an agency. In this sense, it offers a discussion that brings together some moments in which anthropological studies were dedicated to questions specific to the political universe and the reflections on political practices and their modes of production present in the work of Pierre Bourdieu. The following understandings result from this approach: i) the modes of production of political practices allow us to understand the existence of a logic proper to a possible political field with defined and legitimately recognized rules and thoughts; ii) the modes of production of political practices reveal the existence of other logics, other rules and other ways of thinking about politics and its functioning that are not recognized and, therefore, are not socially legitimized.KEYWORDS:Practice. Political sense. Pierre Bourdieu. Political anthropology. Political sociology.Introdução: A especificidade de uma abordagemApresentamos aqui uma reflexão sobre alguns dos momentos em que estudos antropológicos dedicaram-se a temáticas e questões próprias ao universo político, no intuito compreender como estas questões podem ser relacionadas a busca por entender a prática política enquanto uma agência (BOURDIEU, 2011a). A especificidade de uma abordagem antropológica da política pode ser ligada ao projeto da própria disciplina, uma vez que este diz respeito a uma tentativa de “[...] reunir o que a ideologia moderna separou(PEIRANO, 1997, p. 22). Nesse sentido, a “[...] abordagem da política pela antropologia pode ser definida de uma forma simples: explicar como os atores sociais compreendem e experimentam a política, isto é, como significam os objetos e as práticas relacionadas ao mundo da política” (KUSCHNIR, 2007, p.163). O que o conhecimento antropológico busca diante das questões da política é conhecer aquilo que os agentes concebem e vivem enquanto política.Operacionalizar essa busca por conhecer como as pessoas experienciam a política não se mostra uma tarefa simples. Ao contrário, diz respeito a:[...] uma proposta complexa de ser executada e que implica pelo menos dois pressupostos. O primeiro, de que a sociedade é heterogênea, formada por redes sociais que sustentam e possibilitam múltiplas percepções da realidade. O segundo, de que o “mundo da política” não é um dado a priori, mas precisa ser investigado e definido a partir das formulações e dos comportamentos de atores sociais e de contextos particulares (KUSCHNIR, 2007a, p.163).Diante das questões sobre política, o objetivo das pesquisas antropológicas não diz respeito à busca por um entendimento acerca das instituições políticas e de seu funcionamento, mas a conhecer como as relações de poder aparecem, ganham formas e significados para
image/svg+xmlO problema fundamental da política: Olhares antropológicos e o senso políticoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022016, 2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170473agentes situados nos mais diversos contextos, construindo para isso um olhar em que “o poder (ou a política) estaria presente em todas as relações sociais onde existe algum tipo de assimetria” (KUSCHNIR, 2007b, p.7).Por isso, pensar as questões e os debates sobre a política a partir de um ponto de vista antropológico, tem por pressuposto que:A antropologia pode contribuir nesse debate porque sua principal tarefa é estudar não o que a política deve ser, mas o que ela é para um determinado grupo, em um contexto histórico e social específico. Compreender, “do ponto de vista do nativo”, práticas muitas vezes diferentes daquelas que idealizamos pode gerar incômodo, intelectual ou cívico, mas um incômodo necessário, pois, como disse Geertz, “se quiséssemos verdades caseiras, deveríamos ter ficado em casa” (KUSCHNIR,2007a, p.166, grifos do autor).A ideia de uma antropologia política entendidaenquanto área de conhecimento, pode ser vinculada aos estudos ingleses de antropologia social, uma vez que sua consolidação está ligada a um momento da disciplina em que os autores se afastaram das noções clássicas da disciplina, que concebiam o mundo social como um todo formado por vários sistemas interligados sistemas de parentesco, político, econômico, religioso, entre outros concepção pela qual um sistema não poderia ser compreendido sem se levar em conta todos os outros, para buscar entender de forma isolada as particularidades de cada sistema social.Em nossa leitura, dentre os principais pensadores do que hoje pode ser entendida como uma antropologia política encontra-se Leach (1995), que coloca em questão as disparidades entre as regras e os modelos de mundo construídos pela teoria antropológica e as práticas do mudo real. Leach (1995) discute a importância de se compreender a distância que existe entre a realidade empírica vivenciada pelos agentes e o mundo lógico proveniente da noção funcionalista de sistemas sociais. Em concordância com a leitura de Arruti, Montero e Pompa (2012, p. 110), pode-se dizer que:Em resumo, o trabalho de Leach proporciona alguns ganhos fundamentais para os desdobramentos sucessivos da antropologia política. Em primeiro lugar abandona a perspectiva que considera os sistemas políticos como as instituições sociais vicárias da política que, por meio da resolução de conflitos, tem por função manter sociologicamente as partes sociais unidas em uma totalidade estável. Em segundo lugar, avança a proposição de que a política é uma prática simbólico-ritual que tem como finalidade, por meio da manipulação das categorias, a mudança permanente no modo de perceber as distinções e relações de status e por meio dos rituais, a legitimação dessa percepção.As noções de sistemas sociais independentes, de uma prática política simbólico-ritual, e do conflito enquanto categoria estruturante da ordem social, são todas contribuições que
image/svg+xmlAlexandre Aparecido dos SANTOSeRenata Medeiros PAOLIELLORev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170474podem ser conectadas à antropologia social britânica. Ela também contribuiu para o desenvolvimento do campo do conhecimento antropológico como um todo, evidenciando assim a importância desta área de conhecimento ao longo da formação da disciplina.As antropologias da política e do políticoAo olhar para a antropologia produzida no Brasil, sem o intuito de ligá-la a tradição inglesa, encontramos, a princípio, os estudos das questões políticas ligados a uma abordagem conhecida por antropologia da política. Nesses estudos, existe uma preocupação central com o modo pelo qual as pessoas experimentam e vivenciam a política, que se desdobra em uma busca por compreender a ideia de política vinculada as relações de mediação construídas entre comunidades locais e às diversas instâncias de poder, dentre as quais ganhamdestaque as políticas de Estado e de governo.No contexto brasileiro, desenvolveu-se, na década de 1990, um conjunto de trabalhos autodenominados antropologia da política, que tiveram sua institucionalização mais importante no Núcleo de Antropologia da Política (NuAP), sediado no Museu Nacional da UFRJ, mas envolvendo grupos em outras universidades federais, como as de Brasília, Ceará e Rio Grande do Sul, entre outras (KUSCHNIR, 2007a, p.164).A abordagem da antropologia da política, entre outras coisas, permite pensar sobre os desdobramentos teóricos possibilitados pela noção etnográfica de “tempo da política”, recorte temporal marcado “pelo momento em que facções (partidos reais) são identificadas, e em que, por assim dizer, existem plenamente em conflito aberto, as municipalidades dividindo-se de uma maneira pouco habitual nas grandes cidades” (PALMEIRA;HEREDIA, 2006, p. 283). As análises construídas a partir da categoria etnográfica de “tempo da política” permitiram a essa abordagem desviar o foco desuas análises dos grandes centros urbanos, objetos caros à ciência política, e voltar-se para as comunidades locais.Esta mudança permitiu que os estudos de antropologia da política percebessem, por exemplo, como uma disputa eleitoral pode reorganizar as relações no dia a dia de diversos e distintos lugares. De forma sistemática, sobre essa abordagem antropológica e suas contribuições, temos que:Em análises centradas nos momentos eleitorais em pequenas cidades no interior do Brasil, Palmeira e Heredia (1993, 1995 e 1997) têm desenvolvido o conceito de tempo da política para designar os períodos em que a população percebe a política e os políticos como parte da sua vida social. Nessas sociedades, que teriam como valor a união e a estabilidade (representadas
image/svg+xmlO problema fundamental da política: Olhares antropológicos e o senso políticoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022016, 2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170475muitas vezes sob a forma do modelo familiar), a política é vivida como um fenômeno sazonal por estar identificada como a divisão e o conflito. Dessa forma, os autores chamam atenção para a política tal como ela é experimentada dentro de um universo cultural e histórico específico. Os eleitores deixam de ser “seres abstratos”, tão caros aos teóricos da democracia (KUSCHNIR, 2007b, p.8).Este conjunto de estudos vincula a ideia de uma ação política a questões que tentam ir além das discussões sobre o despreparo para o voto por parte dos cidadãos, ou sobre as tendências clientelistas de nossa política partidária, por exemplo, colocando em pauta uma visão em que “[...] a compreensão do comportamento eleitoral dependeria da adoção de uma perspectiva mais “sociológica”, em que as ações dos eleitores fossem percebidas segundo as estruturas “sociais e simbólicas” que as circunscrevem...” (KUSCHNIR, 2007b, p.8).Em síntese, pode-se dizer que os estudos em antropologia da política contribuíram para a estruturação das discussões antropológicas contemporâneas que tomam como objeto relações políticas no Brasil, principalmente no que toca aos estudos que buscam conhecer as práticas eleitorais, ao assumirem uma perspectiva que desnaturaliza a noção de política.Em nossaleitura, essa busca evidenciada pelos estudos de antropologia da política no Brasil, estaria na base da abordagem de uma antropologia do político (ARRUTI; MONTERO; POMPA, 2012) que “reposiciona a questão da alteridade, concebendo-a como um campo de relações prático-discursivas sobre as diferenças.” (ARRUTI; MONTERO; POMPA, 2012, p. 3). A abordagem teórica de uma antropologia do político tem por objetivo discutir a representatividade política, pensando sobretudo essa representação a partir das questões de alteridade, como pode se ver:Nesse sentido, sugerimos ser necessário um reposicionamento teórico da disciplina que tenha como foco, não o exame da alteridade pensada como um conjunto de especificidades que têm sentido nelas mesmas, nem mesmo a sua transformação ou o conflito entre os diferentes e suas diferenças, mas as dinâmicas sociais de sua produção e apropriação simbólica por agentes situados(ARRUTI, MONTERO; POMPA, 2012, p. 3).O mote central para uma antropologia do político encontra-se nos diversos agenciamentos sobre as questões da diferença, descolando ainda mais além da análise de um sistema político normatizado e institucional e colocando-a no contexto prático em que são construídas as mediações entre essa política institucional e a demanda dos agentes politicamente situados no cotidiano.Em termos metodológicos, essa abordagem aponta para uma análise interessada, de um lado, nas categorias nativas pensadas como terminologias
image/svg+xmlAlexandre Aparecido dos SANTOSeRenata Medeiros PAOLIELLORev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170476que expressam seus modos de percepção das regras e das relações sociais; e, de outro, os princípios lógicos e práticos das ações simbólico-rituais, responsáveis pelos agenciamentos das categorias sociais de visão e divisão do mundo, que disputam o controle do modo de perceber as distinções e relações de status e seus efeitos de poder (ARRUTI; MONTERO; POMPA, 2012, p. 28).Em síntese, a abordagem da antropologia do político apresenta a possibilidade de um olhar para as diversas formas de representatividades políticas estabelecidas pelas relações prático-discursivas sobre as diferenças e a mediação dessas diferenças em relação às políticas institucionais de Estado:As noções correntemente acionadas pela sociologia e pela historiografia, sustentadas nas noções de “invenção” e “manipulação”, apesar de terem cumprido sua função analítica em um momento inicial do debate, tornaram-se insuficientes. Para além do seu caráter tautológico (efetivamente toda tradição é inventada e toda identidade é manipulada segundo os contextos de interação), tais noções denunciam uma concepção racionalista e manipulatória dos agentes (e de sua “agência”). [...] Uma mediação que não é pensada apenas como uma ação que se estabelece entre agentes e agências, mas como um campo de produção de significados que trabalha na constituição dos próprios agentes (ARRUTI; MONTERO; POMPA, 2012, p. 33).Por fim, a partir desse balanço teórico, temos que a prática política pode ser pensada enquanto uma agência (BOURDIEU, 2011a): i) por ser polissêmica, tendo em vista a multiplicidade de sentidos que podem ser atribuídos a ela; ii) por estar intimamente ligada às questões de alteridade, ou seja, uma mesma prática pode ter significados totalmente diferentes dependendo do contexto em que se situa e se realiza; iii) por não ser o resultado de uma relação de manipulação ou como simples conformidade diante do contexto de sua produção. O olhar relacional e o problema fundamental da políticaAo ler a obra de Pierre Bourdieu, é muito comum que os inúmeros e possíveis entendimentos sejam construídos a partir do conceito de habitus apresentamos a seguir o modo pelo qual entendemos esse conceito, sem perderde vista que esse entendimento é um dentre os muitos possíveis sobre ele noção aristotélica discutida e aplicada por vários outros autores (WACQUANT, 2007; 2017), mas que, repensada criticamente, para questionar os modos escolásticos de conhecimento, aparece nos trabalhos de Bourdieu reformulada e operacionalizada enquanto um:
image/svg+xmlO problema fundamental da política: Olhares antropológicos e o senso políticoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022016, 2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170477[...] sistemas de disposiçõesduráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, isto é, como princípio gerador e estruturador das práticas e das representações que podem ser objetivamente adaptadas a seu fim sem supor a intenção consciente dos fins e o domínio expresso das operações necessárias para atingi-los e coletivamente orquestradas, sem ser o produto da ação organizadora de um regente (BOURDIEU, 1983a, p. 60).Ao ser assim anunciado, o conceito de habitus ganha grande aplicabilidade em análises que se disponham a trabalhar apartir da ideia de uma mediação entre as experiências vivenciadas por cada agente e o contexto social que o engloba. Essa possibilidade analítica se sustenta porque, teoricamente, o conceito de habitus, segundo Bourdieu, remete a:[...] uma capacidade infinita de engendrar em toda a liberdade (controlada) produtos pensamentos, percepções, expressões, ações que sempre têm como limites as condições historicamente e socialmente situadas de sua produção, a liberdade condicionada e condicional que ele garante está tão distante de uma criação de imprevisível novidade quanto de uma simples reprodução mecânica dos condicionamentos iniciais (BOURDIEU, 2007a, p. 91).Essa noção de liberdade condicionada diz respeito à capacidade que cada agente tem de produzire reproduzir, a partir de seu habitus (BOURDIEU, 2007a),inúmeras e distintas práticasdiante das limitações socioeconômicas de seu contexto social. É nesse sentido que o conceito de habitusencontra-se na base do que Bourdieu constrói como um conhecimento praxiológico (BOURDIEU, 1983a).Segundo o autor, para conhecer algo praxiologicamente, temos sempre que buscar compreender:[...] não somente o sistema das relações objetivas que o modo de conhecimento objetivista constrói, mas também as relações dialéticas entre essas estruturas e as disposiçõesestruturadas nas quais elas se atualizam e que tendem a reproduzi-las, isto é, o duplo processo de interiorização da exterioridade e de exteriorização da interioridade: este conhecimento supõe uma ruptura com o modo de conhecimento objetivista, quer dizer, um questionamento das condições de possibilidades e, por aí, dos limites do ponto de vista objetivo e objetivante que apreende as práticas de fora, enquanto fato acabado, em lugar de construir seu princípio gerador situando-se no próprio movimento de suaefetivação (BOURDIEU, 1983a, p. 47).É nesse “[...] duplo processo de interiorização da exterioridade e de exteriorização da interioridade” (BOURDIEU, 1983a, p. 47) que se encontraria a liberdade controlada das práticas, uma vez que por meio desse processo todo o agente seria, por intermédio de seu habitus,um consumidor e um produtor de sentido objetivo de mundo. (BOURDIEU, 1983a).
image/svg+xmlAlexandre Aparecido dos SANTOSeRenata Medeiros PAOLIELLORev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170478Nesse sentido, enquanto uma mediação estabelecida através de experiências cotidianas, o conceito de habitus ocupa um lugar central nos estudos bourdieusianos, sobretudo porque o mesmo pode ser pensado enquanto uma:História incorporada, feita natureza, e por isso esquecida como tal, o habitus é a presença operante de todo o passado do qual é o produto: no entanto é o que confere às práticas sua independência relativa em relação às determinações exteriores do presente imediato. [...] Espontaneidade sem consciência nem vontade, o habitus não se opõe menos à necessidade mecânica do que à liberdade reflexiva, às coisas sem históriadas teorias mecanicistas do que aos sujeitos “sem inércia” das teorias racionalistas. (BOURDIEU, 2009, p. 93).Considerando esse objeto, as práticas políticas de agentes profanos, o conceito de habitus se faz estratégico por permitir equacionar a ideia de uma “mediação universalizante que faz com que as práticas sem razão explícitas e sem intenção significante de um agente singular sejam, no entanto, ‘sensatas’, ‘razoáveis’ e objetivamente orquestradas” (BOURDIEU, 1983a, p. 73).Assim, ao pensar os discursos de agentes profanos sobre a política pois “Como o campo religioso, o campo político repousa sobre uma separação entre os profissionais e os profanos.” (BOURDIEU, 2011b, p. 195) enquanto práticas políticas do dia a dia, apresentamos o pressuposto deque a construção de um entendimento praxiológico (BOURDIEU, 1983a) sobre estes discursos só se mostra possível:[...] com a condição de relacionar as condições sociais nas quais se constituiu o habitus que as engendrou às condições sociais nas quais ele é posto em ação, ou seja, com a condição de operar pelo trabalho científico a relação desses dois estados do mundo social que o habitus efetua, ao ocultá-lo, na e pela prática (BOURDIEU, 2009, p. 93).Nesse sentido os discursos políticos dos agentes leigos ao campo político seriam uma prática possibilitada pela relação dialética entre dois estados do mudo social, as experiências vivenciadas em suas trajetórias pessoais e o contexto social de produção desses discursos. (BOURDIEU, 1983a). Por isso, assumimosque ser:[...] preciso abandonar todas as teorias que tomam explícita ou implicitamente a prática como uma reação mecânica, diretamente determinada pelas condições antecedentes e inteiramente redutível ao funcionamento mecânico de esquemas preestabelecidos, “modelos”, “normas” ou “papéis(BOURDIEU, 1983a, p. 64).Ao pensar a produção dos discursos políticos dos agentes profanos (BOURDIEU, 2011b) como uma agência, ou seja, um momento particular de produção de sentidos, temos por
image/svg+xmlO problema fundamental da política: Olhares antropológicos e o senso políticoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022016, 2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170479objetivo a compreensão desses como uma prática que, em uma perspectiva praxiólogica,seria “ao mesmo tempo, necessária e relativamente autônoma em relação à situação considerada em sua imediatidade pontual, porque ela é o produto da relação dialética entre uma situação e um habitus”(BOURDIEU, 1983a, p. 65).Os campos sociais e o problema fundamental da políticaPensar a partir da teoria dos campos sociais é pensar necessariamente sobre estruturas prático-simbólicas uma vez que a noção de campo é apresentada como o espaço social onde se manifestam as relações de disputas simbólicas em que as posições dos agentes se encontram estabelecidas a priori, como resultado da disputa pelo acesso e pelo acúmulo de capital cultural. (BOURDIEU, 2002). Uma vez que:O capital cultural pode existir sob três formas: no estado incorporado, ou seja, sob a forma de disposições duráveis no organismo; no estado objetivado, sob a forma de bens culturais quadros, livros, dicionários, instrumentos, máquinas, que constituem indícios ou a realização de teorias ou de críticas dessas teorias, de problemáticas, etc., e, enfim, no estado institucionalizado, forma de objetivação que é preciso colocar à parte porque, como se observa em relação ao certificado escolar, ela confere ao capital cultural de que é, supostamente, a garantia propriedades inteiramente originais (BOURDIEU, 2007b, p. 74).O conceito de campo social permite que a sociedade seja entendida como espaço de disputa por um poder que é objetivamente estratificado (BOURDIEU, 2002). Uma vez que “Para que um campo funcione, é preciso que haja objetos de disputas e pessoas prontas para disputar o jogo, dotadas de habitusque impliquem no conhecimento e no reconhecimento das leis imanentes do jogo, dos objetos de disputas, etc.” (BOURDIEU, 1983b, p.120).Neste sentido o conceito de campo social exprime ideia de um espaço onde não haveria neutralidade de ações e que, enquanto espaço de disputa, encontra-se dividido entre ortodoxia (dominantes) e heterodoxia (dominados) em meio a um jogo no qual os agentes da ortodoxia produziriam mecanismos e instituições capazes de legitimar bens simbólicos, para assim gerenciar a dinâmica e a hierarquia social, mantendo sua posição de poder dentro dele (BOURDIEU, 2002).Olhar para a sociedade enquanto um espaço objetivamente estratificado permite pensar essa sociedade estruturada por diversos campos sociais distintos, porém interligados por relações de homologias estruturais, uma vez que “A homologia pode ser descrita como uma semelhança na diferença. Falar de homologias [...] significa afirmar a existência de traços
image/svg+xmlAlexandre Aparecido dos SANTOSeRenata Medeiros PAOLIELLORev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1704710estruturantes equivalentes o que não quer dizer idênticos em conjuntos diferentes” (BOURDIEU, 2004, p. 170). A ideia de uma semelhança pela diferença diz respeito às disputas por poder internas aos campos sociais. Disputas essas responsáveis pelos mecanismos através dos quais esses campos se estruturam, reproduzem e relacionam (BOURDIEU, 2004). Sobretudo porque: A estrutura do campo é um estado da relação de força entre os agentes ou as instituições engajadas na luta ou, se preferirmos, da distribuição do capital específico que, acumulado no curso das lutas anteriores, orienta as estratégias ulteriores. Esta estrutura, que está na origem das estratégias destinadas a transformá-la, também está sempre em jogo: as lutas cujo espaço é o campo têm por objeto o monopólio da violência legítima (autoridade específica) que é característica do campo considerado, isto é, em definitivo, a conservação ou a subversão da estrutura da distribuição do capital específico (BOURDIEU, 1983b, p.120).Então, por essa perspectiva, pensar sobre o campo político significa refletir sobre um contexto composto pela relação entre agentes, por regras legitimadas e reconhecidas, pelos distintos capitais simbólicos em disputa e por uma concorrência pela condição de porta-voz legítimo dos discursos e das opiniões políticas de uma parcela significativa da população contemplada de alguma maneira pelas dinâmicas deste campo (BOURDIEU, 2002):O campo político é o lugar em que se geram, na concorrência entre os agentes que nele se acham envolvidos, produtos políticos, problemas, programas, análises, comentários, conceitos. Acontecimentos entre os quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de “consumidores”, devem escolher, com possibilidades de mal-entendido tanto maiores quanto mais afastados estão do lugar da produção (BOURDIEU, 2002, p. 164).Em nossa leitura a noção de campo político (BOURDIEU, 2002) pode ser operacionalizada em estudos que buscam pensar sobre a dinâmica da política profissional e sua relação com os demais espaços sociais, na medida em que:[...] ela permite construir de maneira rigorosa essa realidade que é a política ou o jogo político. [...] é uma noção que possui virtudes negativas, o que é uma propriedade dos bons conceitos (que valem tanto pelos falsos problemas que eles eliminam como pelos problemas que permitem construir) (BOURDIEU, 2011b, p. 194).Por isso, a operacionalização do conceito de campo político permite perceber a relação entre a ideia de uma falsa identificação e o efeito de encerramento resultantes das dinâmicas da política institucional, eleitoral e partidária daquilo que pode ser politicamente pensado em uma sociedade, uma vez que muitas análises sobre o fazer-pensar político se constroem a partir
image/svg+xmlO problema fundamental da política: Olhares antropológicos e o senso políticoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022016, 2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1704711dessa relação e seus desdobramentos, sobretudo aquelas análises que se valem da ideia de uma opinião política passível de manipulação, na medida em que:A opinião política não é um julgamento puro, nem puramente informativo, capaz de se impor pela força intrínseca de sua verdade, mas uma ideia-força, contendo uma pretensãotanto maior a se realizar, pela passagem ao ato, quanto mais numeroso e potente é o grupo que ela mobiliza por sua eficácia propriamente simbólica (BOURDIEU, 2007a, p. 387).É nesse sentido que uma busca por compreender a relação entre os produtos do campo político tendo em vista que [...] dizer que há um campo político é lembrar que as pessoas que aí se encontram podem dizer ou fazer coisas que são determinadas não pela relação direta com os eleitores, mas pela relação com os outros membros do campo (BOURDIEU, 2011b, p. 198) e os agentes que não conhecem a lógica do jogo político legitimada pelo campo consumidores dos bens simbólicos produzidos pelo campo político não pode ser reduzida à ideia de manipulação.Essa afirmação está ligada à hipótese de que “O fato de produzir uma resposta a um questionário sobre política, como o fato de votar ou, em outro nível de participação, de ler um jornal de opinião ou aderir a um partido, é um caso particular de encontro entre uma oferta e uma demanda” (BOURDIEU, 2007a, p.372).Assim ao estudar esse encontro entre a esfera da oferta, o campo político, e a esfera da demanda, os agentes profanos ao campo político (BOURDIEU, 2011b), temos claro que, para compreendê-lo:Não basta reconhecer as desigualdades de competência estatutária que constrangem a lembrar as condições sociais de possibilidade do julgamento político, dissimula-se completamente o problema político mais fundamental, ou seja, a questão dos modos de produção de respostas a uma questão política ao aceitar o postulado intelectualista que toda resposta a uma questão política é o produto de um ato de julgamento e de um ato de julgamento propriamente político (BOURDIEU, 2007a, p. 391).As particularidades que Bourdieu aponta enquanto questões próprias aos modos de produção das práticas políticas permitem entender a existência de uma lógica própria ao campo político com regras e pensamentos definidos e legitimamente reconhecidos, mas de forma relacional também revela a existência de outras lógicas, outras regras e outros modos de pensar sobre a política e seu funcionamento que não são reconhecidos e, por isso, não são legitimados socialmente:
image/svg+xmlAlexandre Aparecido dos SANTOSeRenata Medeiros PAOLIELLORev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1704712Se nos limitássemos a emprestar ao povo idealizado um conhecimento totalmente prático, não propriamente do mundo social enquanto tal, mas, pelo menos, de sua posição e de seus interesses e de seus interesses nesse mundo, ainda ficaria por examinar se e como esse senso político pode exprimir-se em um discurso conforme à verdade que ele contém no estado prático e, assim, tornar-se o princípio de uma ação consciente e, pelo poder de mobilização contido na explicitação, realmente coletiva (BOURDIEU, 2007a, p. 371).Essa relação entre modos de produção legítimos ou não legítimos aponta para múltiplas possibilidades de modos de pensar e fazer a política ou uma multiplicidade de sensos políticos (BOURDIEU, 2007a) que são silenciadas pelo processo de produção de conhecimento acerca de uma opinião reconhecida e legitimada pelos agentes políticos profissionais que estruturamo campo político.Esse processo de produção de uma opinião política legítima tende “a classificar, na mesma classe, determinadas respostas que, apesar de serem idênticas se forem consideradas em seu valor facial, podem exprimir disposições bastantes diferentes, preditivas de ações, em si mesmas, bastante diferentes, até mesmo, opostas” (BOURDIEU, 2007a, p. 395). Isto acontece porque:As disposições que se encontram na origem da produção das opiniões se exibem ou se denunciam, principalmente, pela maneira de exprimir as opiniões, ou seja, precisamente, em todas as ninharias que se perdem, mais ou menos inevitavelmente, no registro habitual das respostas (quase sempre simplificando ao máximo para facilitar a rapidez e a padronização das operações de pesquisa) (BOURDIEU, 2007a, p. 394).Dentro dessa perspectiva, questionamentos sobre o pensamento político a partir de consultas pontuais como, por exemplo, pesquisas de opinião política ou sobre preferências eleitorais ou partidárias, criam uma relação polissêmica uma relação de desajustamento quanto ao sentido objetivo entre a pergunta formulada e a pergunta respondida, pois apresentam questões formuladas com base em regras legítimas de um campo social a agentes que quase sempre desconhecem as regras de funcionamento desse mesmo campo.Esse descompasso entre a lógica do campo político e o senso político (BOURDIEU, 2007a) dos agentes que estão fora desse campo estabelece um hiato que correntemente é ligado à ideia de uma manipulação do discurso político profano (BOURDIEU, 2011b) pela lógica do campo político legítimo. Em nossa leitura essa ideia de manipulação está à margem de um conhecimento etnográfico diante dessa relação, sobretudo porque:Por desconhecerem, propriamentefalando, a pergunta a que estão respondendo, destituídos dos interesses e das disposições que lhes permitiriam reativar verdadeiramente a questão formulada, reconhecendo nela uma forma
image/svg+xmlO problema fundamental da política: Olhares antropológicos e o senso políticoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022016, 2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1704713particular da questão da conservação ou subversão da ordem estabelecida, os mais desprovidos não respondem à pergunta que, de fato, lhes é formulada, mas a uma questão que produzem com seus próprios recursos, ou seja, a partir dos princípios práticos de seu ethos de classe (BOURDIEU, 2007a, p. 408).Essa condição de desajuste entre o universo simbólico dos agentes e o universo simbólico sobre o qual esperam que ele opine, ou tome partido, atua como fator decisivo no processo de silenciamento de inúmeras práticas políticas, produzidas a partir do senso político profano (BOURDIEU, 2007a) e que por isso, não são reconhecidas ou legitimadas pelo campo político (BOURDIEU, 2002).Esse processo de silenciamento das possibilidades de pensar sobre a política fora da lógica do campo político apaga das discussões a relação entre as escolhas políticas, provenientes do senso político (BOURDIEU, 2007a) e a representação do mundo, do lugar ocupado pelos agentes no mundo. Esse silenciamento remete diretamente ao que Bourdieu (2007a, p. 391) chamou de “problema político mais fundamental”, ou seja, o processo pelo qual as diversas experiências e disposições resultantes das dinâmicas do dia a dia são transformadas em um discurso político que é produzido, reproduzido e experimentado fora da lógica do campo político.Considerações finaisAssumir um ponto de vista antropológico diante das dinâmicas políticas é levar a sério “[...] a questão da transmutação da experiência em discurso, de Ethosinformulado em Logosconstituído e constituinte; do sentido de classe...” (BOURDIEU, 2007a, p. 429). É entender o discurso político profano (BOURDIEU, 2011b) enquanto uma prática que expressa uma agência, ouseja, um momento particular de produção de sentido de mundo. É assumir o pressuposto de que: [...] seria falso conferir à linguagem política o poder de fazer existir arbitrariamente o que ela designa: a ação da manipulação tende a se circunscrever em certos limites, não só porque é possível alguém estar em condições de resistir à argumentação sem ser capaz de argumentar a resistência e, menos ainda, formular explicitamente seus princípios; mas também, porque a linguagem popular dispões de seus próprios recursos que, apesar de não serem os da análise, encontram, às vezes, seu equivalente em uma parábola ou imagem (BOURDIEU, 2007a, p. 430).Construir um olhar antropológico para o “problema político mais fundamental” (BOURDIEU, 2007a, p. 371) é pensar a prática política em um cenário de disputa simbólicas sobre o pensar-fazer político. É entender que são essas disputas simbólicas que tornam possível
image/svg+xmlAlexandre Aparecido dos SANTOSeRenata Medeiros PAOLIELLORev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1704714as possibilidades de resistência e enfrentamentos diante da ideia de uma manipulação proveniente da lógica dosprofissionais da política institucional ou dos partidos que compõe o campo político nacional.Por isso, pensar sobre o senso político (BOURDIEU, 2007a) dos agentes profanos (BOURDIEU, 2011b) em relação ao campo da política (BOURDIEU, 2002) se mostra um caminho para se compreender a problemática política propriamente dita, ou seja, os processos pelos quais os agentes transformam em discursos políticos as experiências, e assim as disposições, vividas no contexto em que se situam. REFERÊNCIASARRUTI, J. M.; MONTERO, P.; POMPA, C. Para uma antropologia do político. In: LAVELLE, A.G. (Org). O horizonte da política:Questões emergentes e agendas de pesquisa. São Paulo: Ed. Unesp / Cebrap, 2012.BOURDIEU, P. A Distinção: Crítica social do julgamento.Porto Alegre: Editora Zouk, 2007a.BOURDIEU, P. Os três estados do capital cultural. In: NOGUEIRA, M.A.;CATANI, A.(org.). Escritos de Educação. Rio de Janeiro: Vozes, 2007b.BOURDIEU, P. A economia das trocas linguísticas. In: ORTIZ, R.Bourdieu sociologia.(org.).São Paulo: Ática, 1983a.BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Editora Marco Zero Limitada, 1983b.BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.BOURDIEU, P. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004.BOURDIEU, P. O senso prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.BOURDIEU, P. Razões Práticas: sobre a teoria da ação.Campinas, SP: Papirus, 2011a.BOURDIEU, P. O campo político. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília,n.5,p. 193-216, jan./jul.2011b.KUSCHNIR, K. Antropologia e política. Dossiê: métodos e explicações da política. Rev. Brasileira Ciências Sociais,v. 22, n. 64. p. 163-167,2007a.KUSCHNIR, K. Antropologia da política: Uma perspectiva brasileira. Centre for Brazilian Studies, University of Oxford, Working Paper,2007b.(Apresentação de Trabalho/Conferência ou palestra).
image/svg+xmlO problema fundamental da política: Olhares antropológicos e o senso políticoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022016, 2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1704715LEACH, E. Sistemas Políticos da Alta Birmânia. São Paulo: EDUSP. 1995.PALMEIRA, M.; BARREIRA, C. (org.). Política no Brasil: Visões de Antropólogos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2006.PEIRANO, M. G. S. Antropologia política, ciência política e antropologia da política.In:SÉRIE ANTROPOLOGIA 231: Trêsensaios breves. Brasília, 1997.p. 15-26.WACQUANT, L. Esclarecer o habitus. Educação & Linguagem, São Bernardo do Campo, ano 10, n. 16, p. 63-71, jul./dez. 2007. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/EL/article/view/126/136. Acesso em: 04 ago. 2020. WACQUANT, L. Habitus. In: CATANI, A. M.et al.(org.). Vocabulário Bourdieu. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.Como referenciar este artigoSANTOS, A. A.; PAOLIELLO, R. M. O problema fundamental da política: Olhares antropológicos e o senso político.Rev. Sem Aspas, Araraquara, v.11, n.esp.1, e022016,2022. e-ISSN: 2358-4238. DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.17047Submetido em:13/08/2022Revisões requeridasem:10/09/2022Aprovado em:19/11/2022Publicado em:26/12/2022Processamento e edição: Editora Ibero-Americana de Educação.Correção, formatação, normalização e tradução.
image/svg+xmlThe fundamental problem of politics: Anthropological views and political senseRev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170471THE FUNDAMENTAL PROBLEM OF POLITICS: ANTHROPOLOGICAL VIEWS AND POLITICAL SENSEO PROBLEMA FUNDAMENTAL DA POLÍTICA: OLHARES ANTROPOLÓGICOS E O SENSO POLÍTICOEL PROBLEMA FUNDAMENTAL DE LA POLÍTICA: MIRADA ANTROPOLÓGICA Y SENTIDO POLÍTICOAlexandre Aparecido dos SANTOS1Renata Medeiros PAOLIELLO2ABSTRACT: This article aims to present theoretical paths that make it possible to analyze political practice as an agency. In this sense, it offers a discussion that brings together some moments in which anthropological studies were dedicated to questions specificto the political universe and the reflections on political practices and their modes of production present in the work of Pierre Bourdieu. The following understandings result from this approach: i) the modes of production of political practices allow us to understand the existence of a logic proper to a possible political field with defined and legitimately recognized rules and thoughts; ii) the modes of production of political practices reveal the existence of other logics, other rules and other ways of thinking about politics and its functioning that are not recognized and, therefore, are not socially legitimized.KEYWORDS: Practice. Political sense. Pierre Bourdieu. Political anthropology. Political sociology.RESUMO: Esse artigo tem por objetivo apresentar caminhos teóricos que possibilitem analisar a prática política enquanto uma agência. Nesse sentido apresenta, uma discussão teórica que aproxima alguns momentos em que os estudos antropológicos se dedicaram a questões próprias ao universo político eas reflexões sobre as práticas políticas e seus modos de produção presentes na obra de Pierre Bourdieu. Desta aproximação, resultam os seguintes entendimentos: i) os modos de produção das práticas políticas permitem entender a existência de uma lógica própria a um possível campo político com regras e pensamentos definidos e legitimamente reconhecidos; ii) os modos de produção das práticas políticas revelam a existência de outras lógicas, outras regras e outros modos de pensar sobre a política e seu funcionamento que não são reconhecidos e, por isso, não são legitimados socialmente.PALAVRAS-CHAVE: Prática. Senso político. Pierre Bourdieu. Antropologia política. Sociologia política. 1University of São Paulo (USP), São Paulo SP Brazil. College of Education. TRAMAS -Research laboratory in education, intergenerational transmission, work and politics -USP.ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5901-8262.E-mail: alexandre.sociais@hotmail.com2São Paulo State University(UNESP),Araraquara SP Brazil. Professor at the Department of Social Sciences. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0640-276X. E-mail: renata.paoliello@unesp.br/reluz8@uol.com.br
image/svg+xmlAlexandre Aparecido dos SANTOSandRenata Medeiros PAOLIELLORev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170472RESUMEN:Este artículo tiene como objetivo presentar caminos teóricos quepermitan analizar la práctica política como agencia. En ese sentido, ofrece una discusión que reúne algunos momentos en que los estudios antropológicos se dedicaron a cuestiones propias del universo político y las reflexiones sobre las prácticas políticasy sus modos de producción presentes en la obra de Pierre Bourdieu. De este enfoque resultan las siguientes comprensiones: i) los modos de producción de las prácticas políticas permiten comprender la existencia de una lógica propia de un posible campo político con reglas y pensamientos definidos y legítimamente reconocidos; ii) los modos de producción de las prácticas políticas revelan la existencia de otras lógicas, otras reglas y otras formas de pensar la política y su funcionamiento que no son reconocidas y, por tanto, no están socialmente legitimadas.PALABRAS CLAVE:Práctica. Sentido político. Pierre Bourdieu. Antropología política. Sociología política. Introduction: The specificity of an approachWe present here a reflection on some of the moments in which anthropological studies were dedicated to themes and issues specific to the political universe, in order to understand how these issues can be related to the quest to understand political practice as an agency (BOURDIEU, 2011a). The specificity of an anthropological approach to politics can be linked to the project of the discipline itself, since this concerns an attempt to “[...] bring together what modern ideology has separated” (PEIRANO, 1997, p. 22, our translation).In this sense, the “[...] approach to politics by anthropology can be defined in a simple way: explaining how social actors understand and experience politics, that is, how objects and practices related to the world of politics mean” (KUSCHNIR, 2007, p. 163, our translation). What anthropological knowledge seeks in the face of policy issues is to know what agents conceive and live as politics. Operationalizing this search to know how people experience politics is not a simple task. Rather, it concerns:[...] a complex proposal to be implemented and which implies at least two assumptions. The first, that society is heterogeneous, formed by social networks that support and enable multiple perceptions of reality. The second, that the “world of politics” is not a prioridata but needs to be investigated and defined from the formulations and behaviors of social actors and particular contexts (KUSCHNIR, 2007a, p. 163, our translation).Faced with questions about politics, the objective of anthropological research does not concern the search for an understanding of political institutions and their functioning, but to know how power relations appear, gain forms and meanings for agents situated in the most diverse contexts, building for this a look in which “power (or politics) would be present in all
image/svg+xmlThe fundamental problem of politics: Anthropological views and political senseRev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170473social relations where there is some kind of asymmetry” (KUSCHNIR, 2007b, p. 7, our translation).Therefore, thinking about policy issues and debates from an anthropological point of view assumes that:Anthropology can contribute to this debate because its main task is to study not what politics should be, but what it isfor a given group, in a specific historical and social context. Understanding, “from the native's point of view”, practices that are often different from those we idealizecan generate discomfort, intellectual or civic, but a necessary discomfort, because, as Geertz said, “if we wanted home truths, we should have stayed at home” (KUSCHNIR, 2007a, p. 166, authors’ emphasis, our translation).The idea of a political anthropology, understood as an area of knowledge, can be linked to the English studies of social anthropology, since its consolidation is linked to a moment in the discipline in which the authors moved away from the classic notions of the discipline, which conceived the world social as a whole formed by several interconnected systems -kinship, political, economic, religious systems, among others -a conception by which a system could not be understood without taking into account all the others, in order to seek tounderstand in isolation the particularities of every social system.In our reading, among the main thinkers of what today can be understood as a political anthropology is Leach (1995), who questions the disparities between the rules and models of the world constructed by anthropological theory and the practices of the real world. Leach (1995) discusses the importance of understanding the distance that exists between the empirical reality experienced by agents and the logical world derived from the functionalist notion of social systems. In agreement with the reading of Arruti, Montero and Pompa (2012, p. 110, our translation), it can be said that:In summary, Leach's work provides some fundamental gains for the successive developments of political anthropology. First, he abandons the perspective that considers political systems as the vicarious social institutions of politics which, through conflict resolution, have the function of sociologically keeping the social parts together in a stable totality. Secondly, he advances the proposition that politics is a symbolic-ritual practice whose purpose, through the manipulation of categories, is the permanent change in the way of perceiving distinctions and status relations and, through rituals, the legitimation ofthis perception.The notions of independent social systems, of a symbolic-ritual political practice, and of conflict as a structuring category of the social order, are all contributions that can be connected to British social anthropology. It also contributed to the development of the field of
image/svg+xmlAlexandre Aparecido dos SANTOSandRenata Medeiros PAOLIELLORev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170474anthropological knowledge as a whole thus highlighting the importance of this area of knowledge throughout the formation of the discipline.The Anthropologies of Politics and the PoliticalWhen looking at the anthropology produced in Brazil, without the intention of linking it to the English tradition, we find, at first, studies of political issues linked to an approach known as anthropology of politics. In these studies, there is a central concern with the way in which people experience politics, which unfolds in a search to understand the idea of politics linked to the mediation relationships built between local communities and the various instances of power, among which state and government policies gain prominence.In the Brazilian context, in the 1990s, a set of works called anthropology of politicswas developed, which had their most important institutionalization in the Nucleus of Anthropology of Politics (NuAP), headquartered at the National Museum of UFRJ, but involving groups in other federal universities, such as Brasília, Ceará and Rio Grande do Sul, among others (KUSCHNIR, 2007a, p. 164, our translation).The approach of the anthropology of politics, among other things, allows thinking about the theoretical developments made possible by the ethnographic notion of “time of politics”, a temporal cut marked “by the moment in which factions (real parties) are identified, and in which, so to speak, that is to say, they exist fully in open conflict, municipalities dividing themselves in a way that is unusual in large cities” (PALMEIRA; HEREDIA, 2006, p. 283, our translation). The analyzes built from the ethnographic category of “time of politics” allowed this approach to divert the focus of its analyzes from large urban centers, objects dear to political science, and turn to local communities.This change allowed political anthropology studies to perceive, for example, how an electoral dispute can reorganize day-to-day relationships in different and different places. Systematically, about this anthropological approach and its contributions, we must:In analyzes centered on electoral moments in small towns in the interior of Brazil, Palmeira and Heredia (1993, 1995 and 1997) have developed the concept of political time to designate the periods in which the population perceives politics and politicians as part of their social life. In these societies, which would value union and stability (often represented in the form of the family model), politics is experienced as a seasonal phenomenon because it is identified with division and conflict. In this way, the authors draw attention to politics as it is experienced within a specific cultural and historical universe. Voters are no longer “abstract beings”, so dear to democracy theorists (KUSCHNIR, 2007b, p. 8, our translation).
image/svg+xmlThe fundamental problem of politics: Anthropological views and political senseRev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170475This set of studies links theidea of a political action to questions that try to go beyond discussions about citizens' unpreparedness to vote, or about the clientelistic tendencies of our party politics, for example, putting on the agenda a vision in which “[...] the understanding ofelectoral behavior would depend on the adoption of a more “sociological” perspective, in which voters' actions were perceived according to the “social and symbolic” structures that circumscribe them...” (KUSCHNIR, 2007b, p.8, our translation).In summary, it can be said that studies in the anthropology of politics have contributed to the structuring of contemporary anthropological discussions that take political relations in Brazil as their object, especially regarding studies that seek to understand electoral practices, by assuming a perspective that denaturalizes the notion of politics.In our reading, this search evidenced by studies of the anthropology of politics in Brazil, would be the basis of the approach of an anthropology of the political (ARRUTI; MONTERO; POMPA, 2012) that “repositions the question of otherness, conceiving it as a field of practical-discursive relations about differences” (ARRUTI; MONTERO; POMPA, 2012, p. 3, our translation). The theoretical approach of an anthropology of the political aims to discuss political representativeness, thinking above all about this representation from the perspective of alterity, as can be seen:In this sense, we suggest the need for a theoretical repositioning of the discipline that has as its focus,not the examination of alterity thought of as a set of specificities that make sense in themselves, not even its transformation or the conflict between the different and their differences, but the social dynamics of its production and symbolic appropriation by situated agents (ARRUTI, MONTERO; POMPA, 2012, p. 3, our tanslation).The central motto for an anthropology of the political is found in the various assemblages on the issues of difference, taking off even further beyond the analysis of a standardized and institutional political system and placing it in the practical context in which the mediations between this institutional policy and the demand of politically situated agents in everyday life are constructed.In methodological terms, thisapproach points to an analysis interested, on the one hand, in native categories thought of as terminologies that express their ways of perceiving rules and social relations; and, on the other hand, the logical and practical principles of symbolic-ritual actions, responsible for the agency of social categories of vision and division of the world, which dispute the control of the way of perceiving distinctions and status relations and their effects of power (ARRUTI; MONTERO; POMPA, 2012, p. 28, our translation).
image/svg+xmlAlexandre Aparecido dos SANTOSandRenata Medeiros PAOLIELLORev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170476In summary, the approach of the anthropology of the political presents the possibility of looking at the different forms of political representation established by the practical-discursive relations on the differences and the mediation of these differences in relation to the institutional policies of the State:The notions currently used by sociology and historiography, based on the notions of “invention” and “manipulation”, despite having fulfilled their analytical function at an early stage of the debate, have become insufficient. Beyond their tautological character (effectively every tradition is invented, and every identity is manipulated according to the contexts of interaction), such notions denounce a rationalist and manipulative conception of agents (and their “agency”). [...] A mediation that is not thought of only as an action that is established between agents and agencies, but as a field of production of meanings that works in the constitution of the agents themselves (ARRUTI; MONTERO; POMPA, 2012, p. 33, our translation).Finally, based on this theoretical balance, we have that political practice can be thought of as an agency (BOURDIEU, 2011a): i) because it is polysemic, considering the multiplicity of meanings that can be attributed to it; ii) because it is closely linked to issues of otherness, that is, the same practice can have completely different meanings depending on the context in which it is located and carried out; iii) because it is not the result of a manipulative relationship or as a simple conformity with the context of its production.The relational gaze and the fundamental problem of politicsWhen reading the work of Pierre Bourdieu, it is quite common for the numerous and possible understandings to be built from the concept of habituswe present below the way in which we understand this concept, without losing sight of the fact that this understanding is one among many possibilities an Aristotelian notion discussed and applied by several other authors (WACQUANT, 2007; 2017), but which, critically rethought, to question the scholastic modes of knowledge, appears in Bourdieu’s works reformulated and operationalized as one:[...] systems of durable dispositions, structured structures predisposed to function as structuring structures, that is, as a generating and structuring principle of practices and representations that can be objectively adapted to their end without assuming the conscious intention of the ends and the domain express of the operations necessary to reach them and collectively orchestrated, without being the product of the organizing action of a conductor (BOURDIEU, 1983a, p. 60, our translation).
image/svg+xmlThe fundamental problem of politics: Anthropological views and political senseRev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170477When announced in this way, the concept of habitusgains great applicability in analyzes that are willing to work from the idea of a mediation between the experiences lived by each agent and the social context that encompasses it.This analytical possibility is sustained because, theoretically, the concept of habitus, according to Bourdieu, refers to:[...] an infinite capacity to engender in all (controlled) freedom products thoughts, perceptions, expressions, actions that always have as limits the historically and socially situated conditions of their production, the conditioned and conditional freedom that they guarantee it is as far from a creation of unpredictable novelty as from a simple mechanical reproductionof initial conditions (BOURDIEU, 2007a, p. 91, our translation).This notion of conditional freedom concerns the capacity that each agent has to produce and reproduce, based on their habitus(BOURDIEU, 2007a), innumerable and different practices in the face of the socioeconomic limitations of their social context. It is in this sense that the concept of habitusis at the base of what Bourdieu constructs as praxiologicalknowledge (BOURDIEU, 1983a).According to the author, to know something praxiologically, we always have to seek to understand:[...] not only the system of objective relations that the objectivist mode of knowledge constructs, but also the dialecticalrelations between these structures and the structured dispositionsin which they are actualized and that tend to reproduce them, that is, the double process of interiorization of exteriority and exteriorization of interiority: this knowledge presupposes a break with the objectivist mode of knowledge, that is, a questioning of the conditions ofpossibilities and, therefore, of the limits of the objective and objectifying point of view that apprehends the practices from the outside, as a finished fact, instead of building its generating principle by placing itself in the very movement of its realization (BOURDIEU, 1983a, p. 47, our translation).It is in this “[...] double process of interiorization of exteriority and exteriorization of interiority” (BOURDIEU, 1983a, p. 47, our translation) that the controlled freedom of practices would be found,since through this process every agent would be, through his habitus, a consumer and a producer of an objective sense of the world (BOURDIEU, 1983a).In this sense, as a mediation established through everyday experiences, the concept of habitusoccupies acentral place in Bourdieusian studies, mainly because it can be thought of as a:
image/svg+xmlAlexandre Aparecido dos SANTOSandRenata Medeiros PAOLIELLORev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170478Embodied history, made of nature, and therefore forgotten as such, the habitusis the operative presence of the entire past of which it is the product: however, it is what gives practices their relativeindependencein relation to the external determinations of the immediate present. [...] Spontaneity without conscience or will, thehabitusis no less opposed to mechanical necessity than to reflective freedom, to things without history of mechanistic theories than to subjects “without inertia” of rationalist theories (BOURDIEU, 2009, p. 93, our translation).Considering this object,the political practices of profane agents, the concept of habitusbecomes strategic because it allows equating the idea of a “universalizing mediation that makes practices without explicit reason and without significant intention of a singular agent, however, 'sensible', 'reasonable' and objectively orchestrated” (BOURDIEU, 1983a, p. 73, our translation).Thus, when thinking about the discourses of profane agents about politics because “Like the religious field, the political field rests on a separation between professionals and the profane” (BOURDIEU, 2011b, p. 195, our translation) as day-to-day political practices, we present the assumption that the construction of a praxiologicalunderstanding (BOURDIEU, 1983a) about these discourses is only possible:[...] with the condition of relating the social conditions in which the habitusthat engendered them was constituted to the social conditions in which it is put into action, that is, with the condition of operating through scientific work the relationship of these two states of the social world that the habituseffects, by hiding it,in and through practice (BOURDIEU, 2009, p. 93, our translation).In this sense, the political discourses of lay agents in the political field would be a practice made possible by the dialectic relationship between two states of the social world, the experiences lived in their personal trajectories and the social context of production of these discourses (BOURDIEU, 1983a). Therefore, we assume to be:[...] necessary to abandon all theories that take practice explicitly or implicitly as a mechanical reaction, directly determined by antecedent conditions and entirely reducible to the mechanical functioning of pre-established schemes, “models”, “norms” or “roles” (BOURDIEU, 1983a, p. 64, our translation).By thinking of the production of political discourses by profane agents (BOURDIEU, 2011b) as an agency, that is, a particular moment of production of meanings, we aim to understand these as a practice that, in a praxiologicalperspective, would be “at the same time, necessary and relatively autonomous in relation to the situation considered in its punctual
image/svg+xmlThe fundamental problem of politics: Anthropological views and political senseRev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.170479immediacy, because it is the product of the dialectical relationship between a situation and a habitus” (BOURDIEU, 1983a, p. 65, our translation).Social fields and the fundamental problem of politicsThinking from the theory of social fields is necessarily thinking about practical-symbolic structures, since the notion of field is presented as the social space where the relations of symbolic disputes are manifested in which the positions of the agents are established a priori, as result of the dispute for access and accumulation of cultural capital (BOURDIEU, 2002). Since:Cultural capital can exist in three forms: in the embodied state, that is, in the form of durable dispositions in the organism; in the objectified state, in the form of cultural goods pictures, books, dictionaries, instruments, machines, which constitute evidence or the realization of theories or criticisms of these theories, problematics etc., and, finally, in the institutionalized state, form of objectivation that must be set aside because, as observed in relation to the school certificate, it confers entirely original properties on the cultural capital of which it is supposedly the guarantee (BOURDIEU, 2007b, p. 74, our trnaslation).The concept of social field allows society to be understood as a space of dispute for a power that is objectively stratified (BOURDIEU, 2002). Since “For a field to work, there must be objects of disputes and people ready to play the game, endowed with habitusthat imply knowledge and recognition of the immanent laws of the game, the objects of disputes etc.” (BOURDIEU, 1983b, p.120, our translation).In this sense, the concept of social field expresses the idea of a space where there would be no neutrality of actions and which, as a space of dispute, is divided between orthodoxy (dominant) and heterodoxy (dominated) in the midst of a game in which the agents of orthodoxy would produce mechanisms and institutions capable of legitimizing symbolic goods, in order to manage social dynamics and hierarchy, maintaining their position of power within it (BOURDIEU, 2002).Looking at society as an objectively stratified space allows us to think of this society as structured by different social fields, but interconnected by relations of structural homologies, since “Homology can be described as a similarity in difference. Speaking of homologies [...] means affirming the existence of equivalent structuring traits which does not mean identical in different sets” (BOURDIEU, 2004, p. 170, our translation).
image/svg+xmlAlexandre Aparecido dos SANTOSandRenata Medeiros PAOLIELLORev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1704710The idea of similarity through difference concerns disputes for power internal to social fields. These disputes are responsible for the mechanisms through which these fields are structured, reproduced and related (BOURDIEU, 2004). Mainly because:The structure of the field is a state of the power relationship between the agents or institutions engaged in the struggle or, if we prefer, the distribution of the specific capital that, accumulated in the course of previous struggles, guides subsequent strategies. This structure, which is at the origin of the strategies destined to transform it, is also always at stake: the struggles whose space is the field have as their object the monopoly of legitimate violence (specific authority) that is characteristic of the field in question, that is, in short, the conservation or subversion of the distribution structure of specific capital (BOURDIEU, 1983b, p. 120, our translation).So, from this perspective, thinking about the political field means reflecting on a context composed of the relationship between agents, by legitimized and recognized rules, by the different symbolic capitals in dispute and by a competition for the condition of legitimate spokesperson of discourses and political opinions of a significant portion of the population contemplated in some way by the dynamics of this field (BOURDIEU, 2002):The political field is the place where political products, problems, programs, analyses, comments, concepts are generated in competition between the agents involved in it. Events between which ordinary citizens, reduced to the status of “consumers”, must choose, with possibilities of misunderstanding that are greater the further away they are from the place of production (BOURDIEU, 2002, p. 164, our translation).In our reading, the notion of political field (BOURDIEU, 2002) can be operationalized in studies that seek to think about the dynamics ofprofessional politics and its relationship with other social spaces, insofar as:[...] it allows for the rigorous construction of that reality that is politics or the political game. [...] it is a notion that has negative virtues, which is a property of good concepts (which are valid both for the false problems they eliminate and for the problems they allow to construct) (BOURDIEU, 2011b, p. 194, our translation).Therefore, the operationalization of the concept of political field allows us to perceive the relationship between the idea of a false identification and the closure effect resulting from the dynamics of institutional, electoral and party politics of what can be thought politically in a society, once that many analyzes of political thinking are built from this relationship and its consequences, especially those analyzes that use the idea of a political opinion that can be manipulated, insofar as:
image/svg+xmlThe fundamental problem of politics: Anthropological views and political senseRev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1704711Political opinion is not a pure judgment, nor is it purely informative, capable of imposing itself through the intrinsic force of its truth, but a force-idea, containing a claim that is all the greater to be realized, by passing to act, the more numerous and powerful the group it mobilizes through its properly symbolic effectiveness (BOURDIEU, 2007a, p. 387, our translation).It is in this sense that a quest to understand the relationship between the products of the political field bearing in mind that [...] to say that there is a political field is to remember that the people who are there can say or do things that are determined not by the direct relationship with voters, but by the relationship with other members of the field (BOURDIEU, 2011b, p. 198) and agents who do not know the logic of the political game legitimized by the field consumersof the symbolic goods produced by the political field cannot be reduced to the idea of manipulation.This statement is linked to the hypothesis that “The fact of producing a response to a questionnaire about politics, such as the fact of voting or, at another level of participation, of reading an opinion newspaper or joining a party, is a particular case of meeting between supply and demand” (BOURDIEU, 2007a, p. 372, our translation).Thus, when studying this encounter between the sphere of supply, the political field, and the sphere of demand, profane agents in the political field (BOURDIEU, 2011b), it is clear that, in order to understand it:It is not enough to recognize the inequalities of statutory competence that constrain to remember the social conditions of possibility of the political judgment, the most fundamental political problem is completely concealed, that is, the question of the modes of producinganswers to a political question when accepting the intellectualist postulate that every answer to a political question is the product of an act of judgment and of a properly political act of judgment (BOURDIEU, 2007a, p. 391, our translation).The particularities that Bourdieu points out as questions specific to the modes of production of political practices allow us to understand the existence of a logic specific to the political field with defined and legitimately recognized rules and thoughts, but in a relational way it also reveals the existence of other logics, other rules and other ways of thinking about politics and its functioning that are not recognized and, therefore, are not socially legitimized:If we limited ourselves to lending the idealized people a completely practical knowledge, not exactly of the social world as such, but at least of its position and its interests in this world, it would still remain to be examined whether and how this political senseit can be expressed in a discourse that conforms to the truth it contains in the practical state and, thus, become the principle of a conscious actionand, due to the mobilization power contained in the
image/svg+xmlAlexandre Aparecido dos SANTOSandRenata Medeiros PAOLIELLORev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1704712explanation, a truly collective one (BOURDIEU, 2007a, p. 371, our translation).This relationship between legitimate and non-legitimate modes of production points to multiple possibilities for ways of thinking and doing politics or a multiplicity of political meanings (BOURDIEU, 2007a) that are silenced by the process of producing knowledge about an opinion recognized and legitimized by professional political agents who structure the political field.This process of producing a legitimate political opinion tends “to classify, in the same class, certain responses that, despite being identical if considered at their face value, can express quite different dispositions, predictive of actions, in themselves quite different, even opposite” (BOURDIEU, 2007a, p. 395, our translation). This happens because:The dispositions that are at the origin of the production of opinions are exhibited or exposed, mainly, by the wayof expressing opinions, that is, precisely, in all the trifles that are lost, more or less inevitably, in the usual recording of responses (almost always simplifying to the maximum to facilitate the speed and standardization of research operations) (BOURDIEU, 2007a, p. 394, our translation).Within this perspective, questions about political thought based on specific consultations such as, for example, political opinion polls or about electoral or party preferences, create a polysemic relationship a relationship of mismatch in terms of objective meaning between the question asked and the question answered, as they present questions formulated based on legitimate rules of a social field to agents who are almost always unaware of the rules of operation of that same field.This mismatch between the logic of the political field and the political sense (BOURDIEU, 2007a) of agents who are outside this field establishes a gap that is currently linked to the idea of manipulation of profane political discourse (BOURDIEU, 2011b) by the logic of the political field lawful. In our reading, this idea of manipulation is at the margin of an ethnographic knowledge in the face of this relationship, mainly because:Because they do not know, properly speaking, the question they are answering, deprived of the interests and dispositions that would allow them to truly reactivatethe formulated question, recognizing in it a particular form of the question of conservation or subversion of the established order, the most deprived do not answer the question that, in fact, is formulated to them, but a question that they produce with their own resources, that is, based on the practical principles of theirclass ethos(BOURDIEU, 2007a, p. 408, our translation).
image/svg+xmlThe fundamental problem of politics: Anthropological views and political senseRev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1704713This condition of maladjustment between the symbolic universe of the agents and the symbolic universe about which they are expected to opine, or take sides, acts as a decisive factor in the processof silencing countless political practices, produced from the profane political sense (BOURDIEU, 2007a) and that, therefore, are not recognized or legitimized by the political field (BOURDIEU, 2002).This process of silencing the possibilities of thinkingabout politics outside the logic of the political field erases from discussions the relationship between political choices, derived from the political sense (BOURDIEU, 2007a) and the representation of the world, of the place occupied by agents in the world.This silencing refers directly to what Bourdieu (2007a, p. 391) called the “most fundamental political problem”, that is, the process by which the diverse experiences and dispositions resulting from the dynamics of everyday life are transformed into a political discourse that is produced, reproduced and experienced outside the logic of the political field.Final considerationsAssuming an anthropological point of view in the face of political dynamics is to take seriously “[...] the question of the transmutation of experience into discourse, of unformulated Ethosinto constituted and constituent Logos; of the sense of class...” (BOURDIEU, 2007a, p. 429, our translation). It means understanding profane political discourse (BOURDIEU, 2011b) as a practice that expresses an agency, that is, a particular moment of production of a sense of the world. It assumes that:[...] it would befalse to grant political language the power to arbitrarily make what it designates exist: the action of manipulation tends to be circumscribed within certain limits, not only because it is possible for someone to be in a position to resist argumentation without being able to argue the resistance and, even less, to explicitly formulate its principles; but also because popular language has its own resources which, despite not being those of analysis, sometimes find their equivalent in a parable or image (BOURDIEU, 2007a, p. 430, our translation).Constructing an anthropological look at the “most fundamental political problem” (BOURDIEU, 2007a, p. 371) is thinking about political practice in a scenario of symbolic disputes about political thinking-doing. It is understanding that it is these symbolic disputes that make possible the possibilities of resistance and confrontations in the face of the idea of manipulation coming from the logic of institutional policy professionals or the parties that make up the national political field.
image/svg+xmlAlexandre Aparecido dos SANTOSandRenata Medeiros PAOLIELLORev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1704714Therefore, thinking about the political sense (BOURDIEU, 2007a) of profane agents (BOURDIEU, 2011b) in relation to the field of politics (BOURDIEU, 2002) is a way to understand the political problem itself, that is, the processes through which agents transform experiences, and thus dispositions, lived in the context in which they are situated into political discourses.REFERENCESARRUTI, J. M.; MONTERO, P.; POMPA, C. Para uma antropologia do político. In: LAVELLE, A. G. (Org). O horizonte da política: Questões emergentes e agendas de pesquisa. São Paulo: Ed. Unesp / Cebrap, 2012.BOURDIEU, P. A Distinção: Crítica social do julgamento.Porto Alegre: Editora Zouk, 2007a.BOURDIEU, P. Os três estados do capital cultural. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. (org.). Escritos de Educação. Rio de Janeiro: Vozes, 2007b.BOURDIEU, P. A economia das trocas linguísticas. In: ORTIZ, R.Bourdieu sociologia.(org.). São Paulo: Ática, 1983a.BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Editora Marco Zero Limitada, 1983b.BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.BOURDIEU, P. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004.BOURDIEU, P. O senso prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.BOURDIEU, P. Razões Práticas: sobre a teoria da ação.Campinas, SP: Papirus, 2011a.BOURDIEU, P. O campo político. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 5, p. 193-216, jan./jul. 2011b.KUSCHNIR, K. Antropologia e política. Dossiê: métodos e explicações da política. Rev. Brasileira Ciências Sociais, v. 22, n. 64. p. 163-167, 2007a.KUSCHNIR, K. Antropologia da política: Uma perspectiva brasileira. Centre for Brazilian Studies, University of Oxford, Working Paper, 2007b. (Apresentação de Trabalho/Conferência ou palestra).LEACH, E. Sistemas Políticos da Alta Birmânia. São Paulo: EDUSP. 1995.PALMEIRA, M.; BARREIRA, C. (org.). Política no Brasil: Visões de Antropólogos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2006.
image/svg+xmlThe fundamental problem of politics: Anthropological views and political senseRev. Sem Aspas,Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN 2358-4238DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1704715PEIRANO, M. G. S. Antropologia política, ciência política e antropologia da política. In: SÉRIE ANTROPOLOGIA 231: Três ensaios breves. Brasília, 1997. p. 15-26.WACQUANT, L. Esclarecer o habitus. Educação & Linguagem, São Bernardo do Campo, ano 10, n. 16, p. 63-71, jul./dez. 2007. Available: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/EL/article/view/126/136. Access: 04 Aug. 2020. WACQUANT, L. Habitus. In: CATANI, A. M.et al.(org.). Vocabulário Bourdieu. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.How to reference this articleSANTOS, A. A.; PAOLIELLO, R. M. The fundamental problem of politics: Anthropological views and political sense.Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022016, 2022. e-ISSN: 2358-4238. DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.17047Submitted:13/08/2022Required revisions:10/09/2022Approved:19/11/2022Published:26/12/2022Processing and Editing: Editora Ibero-Americana de Educação.Correction, formatting, normalization and translation.