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Análise sobre representações LGBTI+ em quadrinhos de super-heróis: Sobre a personagem Robin em Batman: Urban Legends número 6
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara, v. 11, n. 00, e022013, 2022. e-ISSN 2358-4238
DOI:
https://doi.org/10.29373/sas.v11i00.17142
1
ANÁLISE SOBRE REPRESENTAÇÕES LGBTI+ EM QUADRINHOS DE SUPER-
HERÓIS: SOBRE A PERSONAGEM ROBIN EM
BATMAN: URBAN LEGENDS
NÚMERO 6
REPRESENTACIONES LGBTI+ EN CÓMICS DE SUPERHÉROES: SOBRE ROBIN
EN BATMAN: URBAN LEGENDS # 6
ANALYSIS ON LGBTI+ REPRESENTATION IN SUPERHERO COMICS: ON THE
REPRESENTATION OF THE CHARACTER ROBIN IN BATMAN: URBAN LEGENDS
# 6
Mário Jorge de PAIVA
1
RESUMO
: O artigo visa realizar uma análise de certa questão conjuntural, que obteve impacto
no mundo das histórias em quadrinhos; referimo-nos ao fato de Robin, uma personagem
importante da
DC Comics
, ter se mostrado membro da comunidade LGBTI+ em história
recente. Nesta pesquisa usaremos metodologia qualitativa, para abordar tal ponto pela luz da
história dos quadrinhos americanos, algo que envolve elementos históricos e
socioantropológicos. Nos termos de bibliografia, nos fiaremos em autores como Guilherme
Miorando, Dandara Cruz, Lucas Dalbeto, Darieck Scott, Ramzi Fawaz, Rob Lendrum, Mário
Paiva, Irene Caravaca etc. Nossa conclusão irá observar como esta nova representação de Robin
aborda sua questão LGBTI+
de modo frontal, logo se afasta de categorias mais criticáveis como
queerbaiting
,
queer coding ou uma representação conservadora da questão.
PALAVRAS-CHAVE
: LGBTI+. Comics. Robin. Queer.
RESUMEN
: El artículo tiene como objetivo hablar de cierto tema coyuntural, que tuvo
repercusión en el mundo de las historietas; nos referimos a que Robin, un personaje importante
de DC Comics, ha demostrado ser miembro de la comunidad LGBTI+. En esta investigación
utilizaremos metodología cualitativa, para abordar este punto a la luz de la historia del cómic
americano, algo que involucra elementos históricos y socio-antropológicos. Nos apoyaremos
en autores como Guilherme Miorando, Dandara Cruz, Lucas Dalbeto, Darieck Scott, Ramzi
Fawaz, Rob Lendrum, Mário Paiva, Irene Caravaca, etc. Nuestra conclusión analizará cómo
esta nueva representación de Robin aborda su tema LGBTI+ de manera frontal, alejándose
pronto de categorías más criticables como el queerbaiting, le queer coding, o una
representación conservadora del tema.
PALABRAS CLAVE
:
LGBTI+. Comics. Robin. Queer.
1
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO), Rio de Janeiro – RJ – Brasil. Doutor pelo
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7158-4371. E-mail:
mariojpaiva91@gmail.com
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Mário Jorge de PAIVA
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara, v. 11, n. 00, e022013, 2022. e-ISSN 2358-4238
DOI:
https://doi.org/10.29373/sas.v11i00.17142
2
ABSTRACT
: The article aims to carry out an analysis of a certain issue which had an impact
on the world of comic books; we refer to the fact that Robin, an important character in DC
Comics, came out as bisexual in recent history. In this research we will use qualitative
methodology, to approach this point in the light of the history of American comics, something
that involves historical and socio-anthropological elements. In terms of bibliography, we will
rely on authors such as Guilherme Miorando, Dandara Cruz, Lucas Dalbeto, Darieck Scott,
Ramzi Fawaz, Rob Lendrum, Mário Paiva, Irene Caravaca etc. Our conclusion will look at
how this new representation of Robin approaches his LGBTI+ issue in a frontal way, soon
moving away from categories more prone to critic such as queerbaiting, queer coding or a
conservative representation of the issue.
KEYWORDS
:
LGBTI+. Comics. Robin. Queer. DC.
Introdução
Como é abordado em Sarene Alexandrian (1993), Michel Foucault (2010) etc., há
representações do amor não heterossexual desde tempos ancestrais, mesmo com suas regras
próprias. Se algumas das bases de nosso conhecimento do mundo grego envolvem Homero,
Platão, a poesia lírica etc.
2
,
tal questão, de relações não heterossexuais, já estava espraiada em
todos esses trabalhos.
Com tal ponto inicial, de que a representação de amor não heterossexual, é algo
antiquíssimo, além de histórico e socialmente moldado, gostaríamos no presente texto de
colocar em foco um pouco da cultura pop contemporânea, mais especificamente discutir
elementos dos quadrinhos americanos, tendo por foco maior uma publicação recente da editora
DC Comics
, que apresentou uma representação
LGBTI+
de uma famosa personagem da marca,
fazemos referência à personagem Robin, na história
Batman: Urban Legends
número 6, de
2021.
Por que o estudo do pop? Pois em concordância com Dandara Cruz (2017) ou Slavoj
Žižek
(2017; 2018), acreditamos que existem formas de legitimação simbólica, ideológica, nos
conteúdos consumidos
3
. Logo o que é produzido, enquanto cultura popular, apresenta
elementos do que é aceito ou preterido, sendo material de análise histórica, sociológica e
antropológica. Aqui, em outros termos, estamos nos deparando com elementos que não são
neutros. A forma como um gibi é colorido, desenhado, escrito, pode nos informar algo de seu
período histórico; nos ajuda a ver o que ele nos conta em termos de entretenimento ou
estranhamento diante de alguma questão, como a forma que certos artistas trabalharam com
2
Cf. Otto Maria Carpeaux (2012).
3
Algo que o próprio Foucault poderia apontar, ao falar da existência de um poder produtivo e da relação entre os
poderes, saberes e as próprias subjetividades.
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Rev. Sem Aspas
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Araraquara, v. 11, n. 00, e022013, 2022. e-ISSN 2358-4238
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3
suas personagens femininas ou com minorias étnicas, nos Estados Unidos, ou com tais
personagens, possivelmente, LGBTI+.
Pierre Bourdieu (2011) os apresenta, os quadrinhos, como artes médias em vias de
legitimação, não possuem uma total aceitação dos detentores de maiores capitais dentro do
tecido social, logo existe um elemento marginal. Já Darieck Scott & Ramzi Fawaz (2018, p.
197), por exemplo, lembram como há algo
queer
neles, com abundantes marcadores sociais ou
estéticos. Sendo uma mídia popular entre tais subjetividades
queer
, mesmo que
comics studies
e a teoria
queer
pudessem dialogar mais.
Mark Best (2005, p. 86), por sua vez, ao analisar quadrinhos de heróis dos anos 50, fala
que eles representam um mundo predominantemente masculino, a mulher surge como uma
intrusa, sendo na melhor das hipóteses incomoda; na pior das hipóteses uma ameaça à liberdade
masculina. E a camaradagem entre o herói e seu ajudante é representada de forma mais forte
do que qualquer relação heterossexual
.
Desde histórias de terror ou revistas cômicas, dos anos 50, vemos uma crítica social ao
estilo de vida americano do pós-guerra, e certos elementos podem ser lidos de modos
alegóricos, como o visual e o empoderamento da Mulher Maravilha, ou o vírus Legado em
X-
men
4
,
que possui um paralelo com a crise de HIV dos anos 80 (FAWAZ; SCOTT, 2018). Com
toda uma questão do medo, do preconceito, da violência, dos políticos oportunistas etc.
A presente investigação é qualitativa. E em termos de metodologia, se dividiu da
seguinte forma: primeiro, houve uma revisão da literatura sobre essa relação entre os estudos
LGBTI+ e os quadrinhos; segundo, nosso trabalho se direcionou para uma leitura e análise de
um elemento ainda pouco visto no
estado da arte
de tal campo de estudos, a citada edição da
DC Comics
; terceiro, então colocamos tipologias ideais, para a delimitação da questão, e
classificarmos o material coletado; em uma tipologia que, em nosso entender, pode ser útil para
outros estudos similares que vierem buscar uma análise dos quadrinhos, ou outros campos
relativamente similares do
pop.
A pergunta norteadora da investigação foi: a representação do elemento LGBTI+ da
personagem Robin foi um elemento suficiente ou terminou por
esbarrar
em problemas comuns
4
Para se pensar na questão dos mutantes, do universo
X-men
, Guilherme Miorando (2020) e Lucas Dalbeto (2015)
se revelam úteis; Miorando mostra, por exemplo, que tais histórias podem ser lidas como um diálogo com lutas
sociais,
vide
as manifestações dos ativistas pelos direitos dos negros nos Estados Unidos. Nos anos 80, com a
AIDS, e toda uma discussão das sexualidades
desviantes
, a questão da comparação envolvendo minorias, étnicas,
se voltou mais para o universo das sexualidades
desviantes
. Já Dalbeto (2015) fala que na
Marvel
houve espaço
para discussões feministas, étnicas (mesmo durante a Guerra Fria) etc. (DALBETO, 2015, p. 12).
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Mário Jorge de PAIVA
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara, v. 11, n. 00, e022013, 2022. e-ISSN 2358-4238
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4
da relação entre tais mídias e o
queer
? Em outros termos, há
queer coding, queerbaiting
5
ou o
que nós chamamos de representação conservadora
?
É importante mencionar, também, como o
queer
é um conceito complexo de se
trabalhar, em certos momentos, por sua amplitude
6
. Porém usaremos por aporte, maior, do
conceito, o trabalho
Queerbaiting: the unfulfilled promise of queer representation
, de Irene
Caravaca (2017).
Ao estudarmos tal história dos quadrinhos americanos, anglófilos em termos mais
amplos, pois houve toda uma influência e atuação de autores da Grã-Bretanha também, vale
salientar: propusemos um recorte de pesquisa, que assim deixa de fora, ou apenas comenta de
modo rápido, muita coisa interessante. Seja o erotismo das edições do belga Éric Losfeld ou de
Guido Crepax; seja o
punk
italiano dos anos 70, da personagem RanXerox, por exemplo; ou
mesmo todo o mundo dos quadrinhos,
mangás
, japoneses.
Nosso artigo se divide em quatro partes. Começou pela presente introdução. Passa então
para a seção chamada
Representações LGBTI+ em quadrinhos americanos
, em que, como o
nome explicita, vamos analisar um pouco da questão LGBTI+ nos quadrinhos. Na terceira parte,
faremos uma análise mais direcionada e específica ao tema da personagem Robin, esta parte se
chama
Análise de Batman: Urban Legends número 6
. Terminamos com as considerações finais,
que irão fechar a presente investigação.
Vale explicitar que a sociologia dos quadrinhos, e temas afins, ainda é material pouco
apropriado, relativamente, nos debates acadêmicos brasileiros. Logo o presente artigo deseja
ser um trabalho introdutório ao universo de discussões.
5
Seguindo a leitura de Caravaca (2017), podemos apontar que tal conceito é recente e envolve a construção de um
subtexto homoerótico, que não culminaria em um romance, como seria análogo no caso de uma dupla
heterossexual. É difícil rastrear a origem do termo
queerbaiting
, mas envolve
sites
como
Tumblr
e
LiveJournal
,
por volta de 2010.
6
Como aponta Caravaca (2017, p. 2)
queer
, em termos simples, é aquilo que não é hetero. A palavra carregava
um senso de alteridade, separando os heterossexuais dos
perversos
,
gays
, lésbicas, entre outros termos. Porém nos
anos de 1980, a comunidade LGBTI+ lutou e reivindicou o termo, como um conceito guarda-chuva para quebrar
o binarismo, heterossexual
vs
homossexual. Por isso, envolve tudo aquilo que é estranho ao
padrão normal
,
legitimado, dominante. Essa dominância envolve negligenciar essas representações outras ou, pior, realizar
representações preconceituosas. O termo
queer theory
, por sua vez, só foi criado nos anos 1990. Já Miorando
(2021, p. 117), sobre o termo
queer
, relembra como ele se refere, seguindo uma leitura de Judith Butler, não a uma
questão de identidade, mas alianças. O que reafirma como o
queer
é um conceito guarda-chuva, que abarca
diferentes posicionamentos, diferentes minorias.
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Análise sobre representações LGBTI+ em quadrinhos de super-heróis: Sobre a personagem Robin em Batman: Urban Legends número 6
Rev. Sem Aspas
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Araraquara, v. 11, n. 00, e022013, 2022. e-ISSN 2358-4238
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5
Representações LGBTI+ em quadrinhos americanos
É lugar comum mostrar como certas questões sexuais, historicamente, foram tratadas
com violência e repressão
7
, em um poder que se encontrava com os indivíduos, comumente,
para puni-los, seja pelo poder jurídico, médico, religioso etc. Logo não causa estranheza que
haja desde uma condenação moral e religiosa, que envolveu o pecado nefando e a figura dos
sodomitas, até também toda uma tentativa médica de contenção de tal tipo de diferença, com
maiores especificações classificatórias com o passar do tempo. Nesse sentido o século XX e
início do século XXI são marcados por uma ambivalência, se por um lado ainda há muito em
termos de violência e preconceito, há, por outro lado, uma série de vitórias jurídicas, simbólicas,
classificatórias etc. (cf. NUNAN, 2003; TREVISAN, 2018; GREEN, 2019; BIMBI, 2017).
Nesses termos, a história dos quadrinhos, ao seu modo, acompanha essa jornada. Passa
do silêncio e de representações veladas até representações abertas e positivas da questão
(cf.
CRUZ, 2017; PAIVA, 2021)
.
Miorando (2021, p. 125) fala de um silenciamento,
embargo
seguindo o aporte de Judith Butler, da mídia diante de uma negociação sobre as vidas que devem
ser representadas; há assim um filtro, uma seleção. Por isso colocar essas vidas precárias em
evidência através da arte e da mídia, é uma forma de pedir que essas pessoas sejam lembradas,
consideradas.
Se
Darieck Scott e Ramzi Fawaz (2018) colocam em maior evidência os elementos
queer
e marginais existentes no mundo dos quadrinhos. Cruz (2017, p. 18), por sua vez, ressalta
o outro lado da questão, de que essas históricas por serem direcionadas ao público mais
masculino, teriam se focado, mormente, em suas fantasias e em elementos heteronormativos.
Correlaciona assim esses personagens com uma masculinidade exagerada e uma objetificação
do feminino.
A imagética, a estética, ressalta os elementos vistos, comumente, como masculinos, e
há os corpos esculturais de um padrão correlato à estética clássica greco-romana. Algo visível
se analisarmos os padrões artísticos de Tarzan, nos traços de Hal Foster; Flash Gordon,
desenhado por Alex Raymond; dentro outros. Um ponto alto do vanguardismo dos quadrinhos
The Spirit
, criado por Will Eisner, não fugia de tal ortodoxia, mesmo com certo ar de zombaria
(CRUZ, 2017)
8
. E em termos de certa estética clássica
9
, vale ressaltar como essa se voltada
para elementos como o belo, o harmônico e o saudável.
7
Cf. James Green (2019), James Green & Renan Quinalha (2018), João Trevisan (2018), Adriana Nunan (2003),
Bruno Bimbi (2017), Murilo Mota (2019), Luiz Mott etc.
8
Cf. Cruz (2017, p. 44).
9
Cf. Scruton (2013).
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Araraquara, v. 11, n. 00, e022013, 2022. e-ISSN 2358-4238
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Nas últimas décadas, fim do século XX e começo do século XXI, os LGBTI+ passaram
a irem ocupando mais espaço na cena pública, assim trouxeram suas discussões de modo mais
explícito, com toda uma questão da representação, inclusão, e claro, a qualidade de tal
representação e inclusão. Em alguns momentos, como aponta Mário Paiva (2021), há querelas
entre setores mais conservadores e mais progressistas desses campos de consumo. Uma questão
que já era vista em outros campos do mercado, como bem demonstrou Adriana Nunan (2003).
Sobre toda uma história dos quadrinhos, não nos cabe fazer sua genealogia
10
. Contudo,
vale falar, que as tirinhas de jornal no século XX, inicialmente cômicas, ainda próximas ao
universo das caricaturas e das charges, tiveram grande sucesso, e é de tal campo que se
desenvolveu o mercado exclusivo desse tipo de história. No final dos anos de 1920, personagens
como Tarzan ou Buck Rogers, e depois Flash Gordon e Príncipe Valente, desenvolveram
histórias de aventura, saindo da comicidade (DALBETO, 2015, p. 35-36).
Os heróis são atrelados assim nessa mídia norte-americana, no fim dos anos 20, ao
momento de crise econômica, em personagens que representam ordem e justiça (DALBETO,
2015, p. 40). Aborda Dalbeto (2015, p. 42), em uma discussão recorrente, certa relação dos
heróis com os interesses dominantes. Ao final dos anos 30, 1938, surge Superman, e com ele
todo um modelo de super-herói (DALBETO, 2015, p. 43)
11
.
Sobre o campo LGBTI+, propriamente dito: alguns personagens dos anos de 1930,
1940 e 1950 são considerados, por Cruz (2017, p. 48), como alusões à homossexualidade, mas
tais questões possuem sua ambiguidade
12
. E isto envolve, acreditamos, o conceito de
queer
coding
, ou seja, uma representação velada, porque esses fatores culturais poderiam estar sendo
associados ao elemento sexual das personagens. Em termos de críticas ao
queer coding
, vale
ressaltar como este pode estar associado às personagens vilanescas ou ambíguas moralmente;
diante da idealização, força, retidão e masculinidade do herói
13
.
10
Como aponta Dalbeto (2015, p. 31-32), alguns associam o ponto de origem dos quadrinhos com as pinturas
rupestres, devido ao caráter narrativo das imagens. Mesmo com discordâncias, parece recorrente certa ideia de
uma narrativa por meio da sucessão de imagens, com ou sem o elemento verbal. Já o historiador Wellington Srbek
associa um primeiro passo, para o surgimento dos quadrinhos, ao momento moderno, com a prensa de Gutenberg;
associando tal tipo de história ao elemento da reprodutibilidade técnica, em que a impressão de imagens teve papel
já no século XVI, por meio de xilogravuras (DALBETO, 2015, p. 32).
11
Também houve uma relação, nessa década, ao combate das propostas nazistas, como o Superman ajudando os
fracos, sendo um pacifista, em que a personagem chegou a ser proibida na Alemanha. Existe inclusive uma história,
de 1940, na qual Superman captura Adolf Hitler e Josef Stalin e os leva para um julgamento na Liga das Nações
(DALBETO, 2015, p. 45-46). Capitão América, criado em 1941, coloca o elemento político de forma ainda mais
explícito, porque na capa de sua primeira edição já o vemos nocauteando Hitler (DALBETO, 2015, p. 48-49).
12
Aqui pode ser citada, por exemplo, a personagem Papa Pyzon – com seus brincos e cores, que indicam que ela
possivelmente está maquiada – das tiras
Terry and the pirates (CRUZ, 2017, p. 52).
13
Nesses termos podemos pensar também nos assassinos de Festim Diabólico, filme de 1948 dirigido por
Alfred
Hitchcock.
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Nos termos de quadrinhos, mesmo com ambiguidades, um ponto de corte importante é
o livro do psiquiatra alemão
Friderick Wertham, de 1954,
Sedução dos inocentes
. Por tal autor
acreditar que tais histórias levavam os jovens à delinquência, como aos ditos distúrbios sexuais
(CRUZ, 2017, p. 56). Com críticas à Mulher Maravilha, e uma importância crucial da
personagem Robin em tal história, porque essa seria, junto com a personagem Batman, uma
representação velada de um casal homossexual.
Sobre tal aspecto, Rob Lendrum (2004, p. 70) comenta como esse gênero de heróis teve,
realmente, críticas, porque seriam representações de homoerotismo, com aqueles homens
musculosos em meia-calça. Sendo essa crítica do dr. Wertham uma das mais famosas. Nessa
leitura, de Wertham, a posição de ajudante é vista como uma posição feminina típica, de uma
donzela constantemente em perigo, ele comenta igualmente as pernas nuas de Robin e a roupa
de baixo verde (LENDRUM, 2004)
14
. O próprio nome de Robin, Dick
15
, foi comentado por tal
autor (CRUZ, 2017, p. 57).
Paralelos entre certas questões dos heróis e tópicos
queer
realmente podem ser feitos,
se pensarmos, por exemplo, em Guilherme Miorando (2020, p. 224), que mostra como ambos
trabalham com uma vida dupla
16
. Um mascarar-se, para se passarem por
normais
. Em que certas
diferenças são mais mascaráveis que outras, tanto no campo da sexualidade, como nas histórias
de heróis com grandes poderes (MIORANDO, 2020, p. 232).
Seguiu-se, no caso americano, um período de preocupação com os quadrinhos e uma
possível intervenção do governo levou os próprios produtores a criarem um código de
restrições, que garantia um selo de qualidade para as histórias, que seguissem essas normas.
Esse foi o
Comics Code Authority
, CCA, instituído pela
Comics Magazine Association of
America
em 1954. Entre as normas estipuladas se falava como
anormalidades sexuais
eram
inaceitáveis em tais histórias (CRUZ, 2017, p. 61-62).
14
Para Wertham ainda, como demonstra Cruz (2017, p. 57), haveria uma espécie de sonho idílico de um casal
homossexual vivendo junto, com seus suntuosos aposentos, de lindas flores em grandes vasos, e com o mordomo
deles. Logo o psiquiatra acreditava que tal dupla podia influenciar crianças com fantasias homossexuais, de
natureza mesmo inconsciente. Alguns trechos que podem ter influenciado essas ideias de Wertham: em um
momento vemos tal dupla retratada dividindo uma cama; em outro momento ambos estão sem roupa em uma sala
de bronzeamento.
15
Um termo para pênis, como Cruz (2017) também aponta.
16
O
queer
aparece como algo que não se ajusta. E essa dualidade pode confundir o próprio personagem e o leitor,
sobre qual papel a personagem exerce na sociedade, tema já bastante explorado nos quadrinhos. A própria questão
da identidade, como ainda mostra Miorando, não é um elemento fixo, mas envolvem um leque, de opções e formas,
de se encaixar e identificar com determinados parâmetros. Em que esse revelar-se do
queer
talvez se assemelhe,
ainda mais, ao se revelar de um vilão, se tomarmos por base como o campo LGBTI+ ainda se mostra bastante
estigmatizado. O
queer
assim pediria e solicitaria autorização, além de ter que avisar sua existência.
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8
Mesmo com o CCA em vigor, contudo, existiram personagens que pareciam
representantes de minorias sexuais, mas não poderia ir muito além, logo ainda se pode
classificar tais propostas dentro do domínio do
queer coding
. Todavia, Lendrum (2004, p.70)
fala que esse elemento, velado, pode ter permitido leituras polissêmicas da questão, o que ia
contra o objetivo do próprio órgão regulador. Aponta que o seriado dos anos 60 da personagem
Batman usou, nessa leitura, o elemento de ambiguidade
gay
ao seu favor. Marcelo Niel (2004),
em uma aparente concordância, relembra como o próprio Bob Kane, criador da personagem,
sabia que o seriado teve apelo junto ao público
queer
e ao ser indagado sobre esse elemento,
falou das roupas apertadas e de uma alegria habitual da comunidade
17
.
Com uma maior representação política nos anos 60, 70 e 80, tais questões pareciam
borbulhar
, mesmo com a CCA. Mas um ponto para a maior liberdade de representação nos
quadrinhos, talvez tenha vindo primeiro em histórias voltadas para o público mais adulto e selos
mais marginais. Logo Frank Miller, Neil Gaiman
18
, Alan Moore
19
etc., parecem ter tido uma
liberdade maior.
A história
Arkham Asylum,
de 1989, ou seja, já o fim dos anos 80, também merece
menção, como aponta Paiva (2021, p. 8), ao mostrar uma versão diferenciada da personagem
Coringa. Com unhas pintadas e longas, sapatos de saltos e piadas de cunho sexual
20
. Há,
inclusive, uma piada que envolve Robin, ela pergunta se tal personagem já havia chegado à
idade de se depilar
21
.
Enquanto isso, também nos anos de 1980, vemos certas representações veladas, como o
Mago Extraño, da
DC Comics
, que, por seus estereótipos, conseguiu desagradar o público
LGBTI+, como também os leitores mais conservadores (CRUZ, 2017). A personagem cai na
ideia de um
gay
cômico, mais preocupado com o próprio cabelo do que com questões mais
sérias. Também vale citar o caso estudado por Dalbeto (2015, p. 70) da personagem Estrela
17
Mas essa série irritou certos fãs, houve também uma tentativa de trazer de volta a
dignidade
da personagem
Batman em certos quadrinhos, tornando ele novamente
heterossexual
, e assim tirar o grande elemento
gay
do
radar. A personagem Dick sai de casa e vai para a faculdade, por fim aposentando sua fantasia de Robin; com um
visual mais maduro, surgiu a personagem Asa Noturna. Na sequência, o segundo Robin morre graças ao vilão
Coringa. Enquanto o terceiro Robin passaria por algumas modificações, para se evitar essa leitura de amor entre
homem maduro e garoto, esse terceiro não vivia com o Batman e possuía uma calça verde. Também vale lembrar
como o autor Frank Miller optou por colocar Robin como uma menina adolescente (LENDRUM, 2004).
18
Cf. Neil Gaiman (2019).
19
Cf. Alan Moore (2005).
20
Cf. Grant Morrison (2012).
21
Vale menção também como essa não é a única história a insinuar algum elemento sexual
queer
na personagem
Coringa. Frank Miller (2011), por exemplo, com o seu clássico
O cavaleiro das trevas
de 1986, já colocava certos
indícios, ao revelar Coringa passando batom em determinado momento, algo tipicamente associado ao feminino.
Já a animação
Batman do futuro: o retorno do Coringa
, de 2000, apresenta a personagem usando roupas agênero
pretas, de algum material justo, como vinil.
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9
Polar, da
Marvel
, que John Byrne queria retratar como abertamente homossexual, em 1983,
porém não conseguiu. Ele deixou assim pistas, que tal personagem não era atraído por mulheres
(cf. DALBETO, 2015).
Sobre os anos 90, vimos artistas menos restritos aos elementos da CCA e surgiu uma
nova geração que pode tratar, de modo mais aberto, dos elementos sexuais de seus personagens,
vide
certas produções da editora
Image
, porém havia o outro lado da moeda, isso podia ser feito
de forma apelativa, como demonstra Cruz (2017).
Foi em 1992 que a personagem Estrela Polar se revelou homossexual. Logo Dalbeto
fala que Estrela Polar foi o primeiro super-herói, abertamente, homossexual publicado por uma
editora
mainstream
(DALBETO, 2015, p. 12). Mesmo que depois não tenha ganhado os
devidos desenvolvimentos e destaques. Foi apenas em 2012, que ele chamou grande atenção,
depois de 20 anos de se declarar
gay
, com o seu pedido de casamento ao namorado (DALBETO,
2015, p. 88). A equipe de
marketing
da editora bem explorou o evento, porque ao que tudo
indica, queria fazer desse casamento o evento do ano da editora (DALBETO, 2015, p. 89).
Dos anos 2000 em diante, Cruz (2017) aponta representações mais positivas e abertas
da questão. Foram aumentando o número de personagens lésbicas,
gays
ou bissexuais, no século
XXI, algo que também ganhou espaço nas animações, como apontou Paiva (2021), logo hoje
existe desenhos animados com representação LGBT+, como
Adventure Time
ou
Star vs the
forces of evil
ou
She-ha
. Também vale aqui ressaltar uma personagem trans na DC (cf. CRUZ,
2019, p. 119) e como certos personagens fugiam, de forma mais explícita, às regras de gênero,
vide
a personagem, da editora
Marvel
, Tong (cf. CRUZ, 2019, p. 123).
E continua a aumentar a quantidade de personagens abertamente
queer
, logo também
vale comentar a personagem Ken Shiga, ou Koi Boi, a personagem é um herói trans da editora
Marvel
, e Shade, a primeira super-heroína
drag queen
da
Marvel
.
Análise de
Batman: Urban Legends
número 6
Se o mais próximo que se pode chegar de um Robin abertamente
LGBTI+,
por
um
tempo, foram em
fanarts
,
fanfics
etc., um tema também ainda pouco abordado e discutido no
campo acadêmico, agora isso se modificou. Pois se as discussões abertas ficavam em selos
menores e personagens mais adultos, como o caso da personagem Constantine (PAIVA, 2021);
agora vemos grandes editoras americanas apostando em inclusão, com personagens de peso de
seus selos principais. Seja Robin, Superman, Lanterna Verde; passando, na editora Marvel, por
uma versão alternativa do Wolvernine, que beija a personagem Hércules, ou o Homem de
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10
Gelo
22
. Mesmo o filme
Eternos
, 2021, merece destaque, como uma obra que apresentou um
dos heróis como membro da comunidade LGBTI+
.
Mas, eis o ponto, o qual nós voltamos sobre a personagem Robin: essa representação é,
dentro de certos padrões, uma boa representação? Ou esbarra nos conceitos de
queer coding,
queerbaiting
ou em uma representação conservadora
?
Em termos ideais, aqui trabalhamos com um
continuum
, que vai de
queer coding e
queerbaiting
, passando por
representações conservadoras
ou
moderadas
, até chegarmos às
representações centrais.
Explicitemos tais conceitos melhor, antes de avançarmos para a
análise do material.
Queer coding
, como vimos, é uma representação velada. A personagem apresenta
elementos que podem ser associados com uma identidade
queer
, mas isto nunca é aberto. A
maior crítica ao
queer coding
, talvez, envolve uma relação comum entre esses personagens,
possivelmente
queer
, e uma crítica moral implícita; algo apontado, por exemplo, por Caravaca
(2017). Alguma representatividade, em certos casos, podemos supor, é melhor do que nenhuma,
e certos personagens que entram no
queer coding
realmente são apreciados pelos fãs, mas esse
elemento de crítica é bem relevante
23
.
Já o
queerbaiting
se revela um conceito próximo ao anteriormente citado, no sentido de
ser também, possivelmente, uma representação velada de um ente LGBTI+, mas com um intuito
mais positivo de
marketing
, ele quer
capturar
o público
queer
, já na era da
internet
, já em um
momento em que representações são mais possíveis e almejadas. Ou seja, parece menos
associado aos antagonistas
stricto sensu
, mas também pode ser apenas uma amizade forte entre
dois personagens heterossexuais etc., algo apontado por Caravaca (2017, p. 9).
O
queerbaiting
não envolve exclusivamente o quadrinho ou o seriado ou o filme em si.
Mas como produtores, diretores, ilustradores, podem em entrevistas, conferências, perfis online
etc., atiçar a curiosidade da comunidade LGBTI+, para uma possibilidade de existência de certa
representação.
24
Caravaca (2017, p. 10), nesse sentido, aborda que tal tipo de categoria é tóxica, porque
terminaria reforçando uma heteronormatividade vigente, em que os personagens são
22
Como sabemos há muito disso, versões alternativas, nos quadrinhos.
23
Vale lembrar, pelo menos, um exemplo mais positivo, a animação
Luca
de 2021, que, por uma série de
elementos, pode ser lida como a história de um jovem se descobrindo LGBTI+.
24
Sobre tal questão, Wunderlich Moraes (2018, p. 40) pontua igualmente uma surpresa ao não existir uma relação
LGBTI+ das personagens, pois eles teriam sidos levados a crer que existiria algo ali.
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Análise sobre representações LGBTI+ em quadrinhos de super-heróis: Sobre a personagem Robin em Batman: Urban Legends número 6
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heterossexuais, e a possibilidade de uma bissexualidade, por exemplo, não é levada em conta,
pela leitura conservadora de parte da audiência
25
.
Enquanto conceito, o
queerbaiting
, parece um rótulo ainda genérico, de um incômodo
ou um ruído entre os produtores de conteúdo e os consumidores. Como uma denominação vaga,
há muitas discussões que ainda precisariam ser feitas, para se tornar algo rigoroso, porém com
a soma de elementos conjunturais e hermenêuticos, se torna um rótulo útil, ao apontar esse
desagrado da comunidade LGBTI+ com promessas que parecem não cumpridas.
O aparente
queerbaiting
pode não levar até um desagrado e uma frustração, vale dizer
também, o elemento subtextual pode ser satisfatório, a série possui até o último capítulo para
virar o jogo, quebrar esse elemento que possivelmente levaria para um mal-estar. Caravaca
(2017, p. 6) fala do seriado
Hannibal
, de 2013, como um exemplo de uma história com um
subtexto homoerótico perfeitamente executado. O final, mesmo implícito, satisfaz, não há beijo
ou sexo, mas há um abraço das personagens cobertas de sangue, antes de um salto mortal de
um penhasco. Vale lembrar como Paiva (2021) aponta o caso de
Adventure time
, que também
deixa para seu último episódio o beijo.
Já o que nós estamos chamando de representações conservadoras são representações
próximas do
queerbaiting
, podem se misturar inclusive, acreditamos, mas com uma diferença
ideal: enquanto o conceito anterior envolve uma representação velada, a representação
conservadora não é velada, ela existe, mas é muito rápida ou discreta; o que pode igualmente
levar os membros da comunidade LGBTI+ ao incômodo, porque no fim, como no conceito
anterior, envolve uma preocupação de não irritar parcelas conservadoras ou reacionárias dos
consumidores.
Agora, o que chamamos de
representações moderadas
? São histórias que apresentam
personagens abertamente LGBTI+, mesmo que esse não seja o ponto central da trama. Ou seja,
o personagem
queer
aparece como um elemento normal, que compõe a história. Um bom
exemplo recente é a série de terror
Chucky
, 2021, a personagem principal é
gay
, todos ao redor
sabem, e este é um elemento da trama, enquanto se combate o vilão do seriado, que é o
Chucky
26
.
25
Como o artigo não é especificamente sobre o
queerbaiting
, não nos aprofundaremos nas representações que
receberam tal rótulo na televisão, contudo é válido apontar como Caravaca (2017) fala de uma tríade em seu corpus
de análises, de casos masculinos, se referindo aos seriados
Supernatural
(2005),
Sherlock
(2010) e
Teen Wolf
(2011). Fala Caravaca de tropos de longos olhares entre personagens masculinos ou mesmo como as cenas são
filmadas, demonstrando toda uma proximidade física entre tais personagens.
26
O próprio brinquedo assassino em certas cenas diz não ter problemas com a sexualidade da personagem, ainda
lembra como ele possuiu na franquia um descendente
queer
, fazendo referência ao filme
O filho de Chucky
de
2004, em que havia uma discussão se tal personagem seria Glen ou Glenda; em uma referência ao filme, de Ed
Wood, de título
Glen ou Glenda
de 1954.
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Sobre a
representação central
, aqui podemos pensar em quadrinhos ou séries ou filmes
que colocam o elemento
queer
como o core da trama existente. Exemplos óbvios são
mangás
que trabalham especificamente com tal universo romântico, aqui nos referimos ao universo de
produtos
BL
,
Yaoi
etc.
27
Não faltam casos nesse mercado japonês, existindo uma série de
subdivisões dentro de tal universo, com variações estéticas etc. Para ficarmos em apenas um
exemplo, vale citar
Junjo Romantica
28
.
Agora que entendemos os conceitos idealmente traçados; em que tipo ideal a história de
Robin, em
Batman: Urban Legends
número 6,
se
enquadra?
A trama já começa em meio à ação, pois essa é a segunda edição de um arco de história
maior, em que a personagem Robin, Tim Drake, está indo salvar seu amigo Bernard de um
grupo de bandidos, havendo luta. A revelação da personagem, enquanto LGBTI+, é algo que
se dá no fim da história. Quando em momento posterior, ao combate físico, a personagem Tim
vai até a casa de Bernard e este termina por o
co
nvidar para sair, em que Robin aceita e a edição
chega ao fim.
Em termos de representação é uma representação simples, e como na análise feita por
Paiva (2021), da relação entre as personagens Constantine e King Shark, não há beijo ou outro
grande sinal de afeto do gênero. Tim Drake, no momento que isto ocorre, também não está
vestida de Robin, assim termina por remeter menos aos elementos clássicos e mais facilmente
reconhecíveis da personagem.
Sobre a questão estética, um primeiro elemento, que pode ser notado, é como os
realizadores trabalham com personagens jovens e bonitas, logo há ainda um paralelo possível
com uma estética clássica ideal do saudável, belo e harmônico. Em que agora, por sua vez, tal
questão
queer
foi inserida no campo do harmônico e saudável, isso seria mais difícil em outros
tempos, como já visto.
A escolha por corpos jovens, não muito musculosos ou peludos, também não é
indiferente, é fácil supor que causaria maior impacto, nos leitores conservadores, se eles
optassem por realizar uma arte mais próxima de uma estética
Bara
29
.
Ou se houvesse um
desafio maior aos padrões do que socialmente é visto como masculino ou feminino; ou seja,
com certeza causaria maior
alvoroço
nas parcelas conservadores se, por exemplo, surgisse a
personagem Robin com roupas femininas e maquiagem.
27
Cf. Marcos Teixeira (2017), Zsila
et al.
(2018) e Tanko (2009, 2018).
28
Cf. Shungiku Nakamura (2006).
29
Aqui nos referimos, dentro do universo de
mangás
, a uma estética que trabalha com homens muito fortes e
peludos.
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Assim talvez esteja tudo bem, para uma parcela do público, em Robin, uma personagem
central da editora, beijar outro garoto, mas estaria tudo bem se Robin aparecesse de minissaia
ou batom? Até que ponto a
respeitabilidade
da personagem ainda envolve, mesmo
queer
, ser
associada com o masculino? Pois as primeiras personagens, que lembramos, de grandes editoras
e de selos principais, que podiam desafiar mais claramente certas questões de gênero, eram
exatamente personagens com alguma veia cômica, eis o caso de Deadpool ou de Coringa ou
mesmo de Extraño.
Com o fortalecimento da moda
agênero
,
genderless
30
,
vide
em certas coleções recentes
da
Balenciaga
, a ideia de um cruzamento entre certas tendências estéticas e o visual dos grandes
heróis das editoras é um ponto de interesse, para futuras investigações. Quando teremos
Superman com minissaias e
mini tops
, que mostram o abdômen? No último episódio da
primeira temporada de
Sandman
,
Desire
apareceu com peças pretas justas, além de batom,
brincos e um adereço
furry
, uma tiara com
orelhas de gato
. Esse seria um visual concebível
hoje para se colocar na personagem Robin?
Elemento estético igualmente interessante, da edição comentada da
DC
, é como ela
trabalha com as cores e com um contraste. Se no conflito com os vilões os tons são mais escuros,
carregados, noturnos. A visita posterior da personagem, ao amigo Bernard, se dá em meio aos
tons mais claros e com elementos mais
naturais
, aqui nos referimos ao verde do jardim, o azul
do céu, luz solar. Outro elemento de naturalidade são as roupas comuns, que contrastam
também com os visuais ameaçadores dos vilões e do próprio uniforme de Robin; que mesmo
não sendo muito ameaçador ou
dark
, é, inevitavelmente, seu uniforme de combate. Todo o
momento parece construído para demonstrar que o mal não está ali, na relação LGBTI+, ressalta
assim o elemento de aceitação explícita, com que os criadores trabalham. Feições sérias e
preocupadas existem no começo da revista, e não em seu final. O fim da história envolve
sorrisos e felicidade.
Em termos de narrativa, assim, essa história do Robin chega a se distanciar inclusive de
todo um universo de histórias em
mangá
, em que a personagem demora certo tempo para se
aceitar enquanto LGBTI+, e muito da trama envolve os questionamentos da personagem, se ela
realmente quer
isso
, se ela é realmente
queer
etc., etc.
30
Aqui estamos fazendo referência ao que, de modo genérico, poderia ser visto como peças criadas para que sirvam
tanto para o modelo masculino como ao feminino, de modo proposital. Peças ditas masculinas sendo usadas por
corpos femininos, por exemplo, não é algo sem precedente no mundo da moda, mas eis o ponto, não é um
ineditismo, mas um fortalecimento, como dito antes.
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Em termos de representação há um duplo, em tal história de Robin. Se por um lado, há
esses elementos de estética clássica e uma história não muito polêmica. Por outro lado, não é
uma representação tão mitigada quanto os elementos que apontamos como sendo, idealmente,
de uma representação conservadora; ou seja, mesmo que pudéssemos ter imaginado mais, não
foi ruim e não irritou parcela do universo
queer
, como no caso de Dumbledore, em
Animais
fantásticos 2
.
Em termos de tipologia ideal, acreditamos que essa seja uma história que apresente uma
representação moderada da questão, não sendo uma representação velada, e também não sendo
um título da marca que irá girar totalmente ao redor da bissexualidade da personagem. Porque,
sendo um título de uma história de heróis, o central continua envolvendo perseguir os vilões,
combater o mal, desvendar crimes.
Enquanto um case de marketing, acreditamos que houve um acerto, essa edição esgotou
nos Estados Unidos e no Reino Unido, o que demonstra, como Paiva (2021) falava, que há
ainda todo um interesse dos leitores pela sexualidade das personagens. E esse acerto se
configura em como a editora continuou explorando tal questão; como vemos em 2022, no Mês
do Orgulho, eles lançaram uma edição especial comemorativa para a personagem Robin, além
de também existir na edição anual
DC Pride 2022
, igualmente, uma história da personagem
Robin.
Também poderíamos dizer que a história que revelou o novo Superman como
queer
,
nos soa ainda menos conservadora, por uma série de motivos
31
. Em primeiro lugar, por
Superman ser uma personagem maior do que Robin; em segundo lugar, por Superman ser,
classicamente, retratada como um exemplo de retidão moral, em muitas de suas histórias; em
terceiro lugar, na trama de Superman há beijo entre os dois homens, e Superman beija a outra
personagem com seu uniforme de herói, logo está muito mais associada ao
label
da personagem.
Em termos de estética, é fácil notar como existe um direcionamento parecido, com tal
história de Robin, no sentido de que a personagem Superman em questão, que assumiu o manto
do pai, é igualmente bastante jovem e esquia, em relação ao desenho de outros artistas, ao
abordarem a personagem Superman, como no caso de Frank Miller (2011); e como, igualmente,
há toda uma premeditação dos realizadores para não apresentar dubiedade ou medo diante do
elemento
queer
, por parte das personagens.
Elas, as personagens, se aceitam enquanto entes
queer
. Não é sem razão que tanto
Superman quanto Robin, em suas respectivas histórias, da edição
DC Pride 2022
, estão indo
31
Cf. T. Taylor (2021),
Superman: Son of Kal-El
número 5.
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Análise sobre representações LGBTI+ em quadrinhos de super-heróis: Sobre a personagem Robin em Batman: Urban Legends número 6
Rev. Sem Aspas
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para a Parada do Orgulho LGBTI+, com menções ao evento de Stonewall etc. O direcionamento
da editora é, claramente, para tal questão do orgulho.
Enquanto produtos culturais, cultura pop, não há espaço para a ingenuidade. Como
Nunan (2003) mostra, em muitos casos, estamos falando de marcas importantes, assim,
acreditamos que podemos dizer: essa aderência ao
LGBTI+
é, atualmente, bem planejada. Há
interesses pensados, no sentido de que se, por exemplo, a marca de vodka
Absolut
faz anúncios
para os homossexuais desde 1979, isso envolve como a comunidade estava, ou está, associada
com uma grande rede de bares e festas. E o que leva, então, esse mercado de quadrinhos para
um interesse maior, e bem mais aberto, pelo
queer
? Óbvio, a sociedade mudou desde os anos
50, mas talvez quedas de vendagens com piratarias digitais, ou a saturação de certos clichês,
etc., levem igualmente certas marcas para estratégias menos conservadoras, na hora de tentar
aumentar o faturamento
32
.
Há assim um lado positivo nisso – mesmo que muitos produtos terminem ficando em
representações dúbias, que desagradam, enfim
queerbaiting
etc. –, porque representações
culturais podem ser de importância grande. Nunan (2003, p. 98) fala como há autores que
pensam que o cinema, por exemplo, pode diminuir mais os preconceitos do que uma lei ou
campanha educativa. É bom então que se tenha saído, em muitos casos, dos estereótipos
negativos, do homossexual violento ou efeminado (NUNAN, 2003, p. 100). E que haja formas
mais eficientes, articuladas e desarticuladas, do público revelar seu descontentamento com
representações
queer
, que não agradam na era da internet.
Se o preconceito é um elemento comumente desenvolvido na infância e em homens
heterossexuais (NUNAN, 2003, p. 91), essas publicações de quadrinhos direcionados para
histórias com representações positivas de grupos
queer
, não poderia ter um relevante impacto
positivo
?
32
Algo similar a
Playboy
que, depois de todas essas décadas no mercado americano, colocou recentemente seu
primeiro
coelhinho
, modelo masculino sensual; aqui nos referimos a Bretman Rock. Enfim, não é complexo
imaginar que a
Playboy
tenha que se repensar em nossa época, em que há tanta oferta na
internet
de fotos sensuais
gratuitas.
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Considerações finais
O artigo em questão, de modo introdutório, visou abordar representações do universo
LGBTI+ em quadrinhos. Teve por elemento central um case específico, o qual envolve a
personagem Robin, ajudante de Batman, que se revelou
queer
, em uma edição recente de um
dos títulos da
DC Comics
. E fez parte de nosso objetivo, mostrar como representações
queer
não se dão em nível atemporal, mas como, pelo contrário, elementos da conjuntura, sociedade,
cultura, política, moldam tais representações.
Como foi apontado, por um tempo considerável houve silêncio e ambivalência, diante
de personagens possivelmente
queer
, com representações superficiais ou negativas; no sentido
que o herói, em muitos casos, se associa ao masculino, ao heterossexual. Com idealizações da
força, do corpo, da sua retidão moral etc. Logo esse elemento velado, se relacionou com o
queer
coding
e mais recentemente ao
queerbaiting
.
O desejo de calar tais vozes criou, no caso americano dos anos de 1950, um código de
conduta para os quadrinhos, o qual dizia para não se representar personagens
queer
. A
personagem Robin já estava no centro de tal questão, ao ser lida como um jovem homossexual,
que se relacionava idilicamente com Batman, em uma vida de luxos e mordomias.
A ideia de Robin ser
queer
reapareceu em outros momentos ao longo do tempo, também
vale dizer, de modo mais ou menos discreto. Como em uma piada do vilão Coringa, como já
visto; no seriado dos anos 60 (cf. NIEL, 2004); em Frank Miller (2011)
33
;
quando
George
Clooney
diz que Batman foi seu personagem gay no cinema (cf. NIEL, 2004) etc.
Mesmo diante das pressões culturais dos anos 60, 70 e 80, representações significativas
de entes
queer
no mundo dos quadrinhos continuavam veladas, sendo que selos menores e mais
adultos possuíam maior liberdade em tal quadro.
Nos anos 90, com tais restrições perdendo consideravelmente força, houve personagens
queer
no meio mais central das revistas, vide Estrela Polar. Mas, se seguirmos Cruz (2017), as
representações dos anos 2000, em diante, se mostraram mais interessantes e menos apelativas.
Sobre nossa edição em análise, criamos uma escala de categorias ideais para tentar medir
seu nível de representatividade. Vale dizer também que nessa escala, utilizamos alguns
conceitos previamente existentes, como o caso do
queerbaiting
, que anda sendo bastante
discutido, diante de representações que desagradam os fãs. Vale relembrar que enquanto tipos
ideais, certos conceitos podem se misturar com outros; não há uma totalmente clara separação,
33
Aqui pensamos em
O cavaleiro das trevas II
, quando Robin diz, duas vezes, que amava ele, Bruce, e teria feito
tudo por ele, pois há um tom possivelmente romântico.
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Análise sobre representações LGBTI+ em quadrinhos de super-heróis: Sobre a personagem Robin em Batman: Urban Legends número 6
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acreditamos, entre onde termina, por exemplo, um
queerbaiting
e onde se inicia uma
representação conservadora.
Em nossa análise, a representação do elemento
queer
do Robin não caiu nos problemas
de
queerbainting
ou do
queer coding
, ou seja, não é algo implícito. Também não consideramos,
idealmente, como uma representação conservadora, no sentido de que não é algo presente, mas
muito discreto, ao ponto de ficar ambíguo, ou algo de gênero. É, então, existente uma
representação moderada, em que o elemento
queer
surge como algo normal e aceito, sem piadas
ou um fundo inevitavelmente trágico; também estamos distantes dos grandes vilões
queer
.
A boa recepção de tal história da personagem Robin, ou outros exemplos anteriores,
como o casamento da personagem Estrela Polar da Marvel, mesmo com críticas esperadas,
como as pessoas que acham que representatividade é
lacração
, pode inclusive ter impulsionado
as editoras em apostar em mais representação
queer
.
Por ser um case de marketing que teve sucesso, mesmo enquanto talvez um aumento
pontual de vendas, podemos esperar uma continuidade de personagens se revelando como
membros da comunidade LGBTI+.
Se, como já foi apontado, o preconceito tende ao desenvolvimento na infância e em
homens heterossexuais; essa maior representação LGBTI+ pode, podemos especular, levar até
um duplo ganho. Primeiro, estimular uma maior aceitação aos entes LGBTI+, mesmo que
parcelas conservadoras, reacionárias etc., reclamem; segundo, os próprios LGBTI+ podem, ao
se verem mais representados, se sentirem menos oprimidos e estressados por fatores
antropológicos e sociológicos de seu ambiente.
O ente LGBTI+, inclusive, pode se tornar um fiel consumidor das marcas que o
representam de forma boa, Nunan (2003) aborda isso, em que pode surgir, por exemplo, um
maior engajamento psicológico com essas personagens da ficção. O que de novidade um Robin
bissexual pode trazer mais para as tramas de heróis
?
Será que, depois de todas essas décadas, agora se tornou apenas uma questão de tempo
até algum artista concretizar o que já foi o pânico moral de outra época, e apresentar Batman e
Robin enquanto um casal?
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