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Bourdieu e a estatística
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022017, 2022.
e
-
ISSN 2358
-
4238
DOI:
https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.17147
1
BOURDIEU E A ESTATÍSTICA
BOURDIEU Y LAS ESTADÍSTICAS
BOURDIEU AND STATISTICS
Marcela Purini BELEM
1
RESUMO
:
A face quantitativa dos trabalhos empíricos de Bourdieu são um aspecto essencial
de sua obra, parte intrínseca do desenvolvimento de seu
modelo teórico
-
metodológico
. O
presente artigo revisita as análises estatísticas presentes nos trabalhos de Pierre Bou
rdieu e
apresenta como ela
s
se dissemina
m
no Brasil. Verifica
-
se como as Análises de Correspondência
(AC) e Análise de Correspondência Múltipla (ACM) são ferramentas de análises de
dados
capazes
de expressar a visão do autor sobre a realidade social. Apres
enta
-
se o compromisso do
autor com a quantificação e a formalização matemática e como a modelagem geométrica de
dados
“a la Bourdieu”
é utilizada no Brasil.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Análise de correspondência múltipla
(ACM)
.
Pierre Bourdieu
.
Métodos
q
uantitativos em
c
iências
s
ociais.
RESUMEN
:
El aspecto matemático del trabajo empírico de Bourdieu es esencial para su
modelo teórico y metodológico. Este artículo revisa el análisis estadístico del autor y cómo se
difunde en Brasil. El modelo geométrico
de análisis de datos utiliza el análisis de
correspondencias (CA) y el análisis de correspondencias múltiples (
ACM
) para combinar la
objetivación mediante datos cuantitativos en una síntesis de información estadística acorde
con su concepción del mundo soc
ial. El objetivo final es un diálogo entre metodologías
cuantitativas y cualitativas, tal como lo buscaba el autor.
PALA
B
RAS
CLAVE
:
Análisis de correspondencias múltiples
(ACM)
.
Pierre Bourdieu
.
Métodos
c
uantitativos en
c
iencias
s
ociales.
ABSTRACT
:
The mathematical aspect of Bourdieu’s empirical work is essential to his
theor
etical
and methodological model. This article revisits the author's statistical analysis and
how it is disseminated in
Brazil
. The geometric model of data analysis uses correspon
dence
analysis (CA) and multiple correspondence analysis (MCA) to combine objectification through
quantitative data in a synthesis of statistical information in line with
the author’s
conception of
the social world. The final objective is a dialogue betwee
n quantitative and qualitative
methodologies, just as what was sought by the author.
KEYWORDS
:
Multiple
c
orrespondence
a
nalysis (MCA)
.
Pierre Bourdieu
.
Quantitative
m
ethods in
s
ocial
s
ciences
.
1
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos
–
SP
–
Brasil. Pesquisadora do Núcleo de Sociologia
Econômica e das Finanças (NESEFI).
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0001
-
7063
-
5325
.
E
-
mail:
mapurini@gmail.com
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Marcela Purini
BELEM
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara, v.
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esp.
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2
Introdução
Há um aspecto essencial na obra de Pierre Bourdi
eu que é pouco discutido no Brasil
2
:
o
aspecto quantitativo presente em seus trabalhos empíricos, e, como eles são essenciais para a
formulação de seu
modelo teórico
-
metodológico
. Em
“How Bourdieu Quantified Bourdieu
-
The
geometric modelling of data”,
Frédéric Lebaron
(2009)
afirma que o pro
grama de
quantificação e formalização na obra de Pierre Bourdieu não é um resultado arbitrário de
contingências históricas, mas sim a consequência lógica de uma experiência crítica e de uma
reflexão epistemológica sobre as deficiências dos métodos quantita
tivos dominantes em
ciências sociais.
Bourdieu se absteve de utilizar as técnicas estatísticas convencionais
-
como as análises
de regressão
-
não por ignorância ou desconhecimento, mas pelos limites destas técnicas, em
especial
a
maneira que eram utiliza
das naquele momento, muito alinhada
a
uma
sociologia de
variáveis
3
.
Nos anos 1960 os modelos de regressão foram amplamente difundidos nas ciências
sociais anglo
-
saxônicas e rapidamente se tornaram a abordagem quantitativa dominante.
Bourdieu era muito sen
sível ao poder de objetivação das estatísticas, mas também estava ciente
dos riscos contidos neste processo.
Isso porque, na visão do autor, a
s diversas técnicas
estatísticas contêm
filosofias sociais implícitas que devem ser tornadas explícitas, pois, cada
uma delas comporta suas próprias noções de causalidade e ação social.
O cálculo puramente estatístico das variações da intensidade da relação entre
tal indicador e esta ou aquela prática não autoriza a dispensar o cálculo
propriamente sociológico dos efeitos que se exprimem na relação estatística e
cuja descoberta pode ocorr
er com a contribuição da análise estatística quando
ela está orientada para a busca de sua própria inteligibilidade. Mediante
somente um trabalho que, tomando a própria relação como objeto, questiona
sua significação sociológica e não a significatividade e
statística, é que se pode
substituir a relação entre uma variável supostamente constante e diferentes
práticas por uma série de efeitos diferentes, relações constantes
sociologicamente inteligíveis que se manifestam e se dissimulam, a um só
2
Como pontua
Klüger (2018,
p.71) “Um dos discípulos mais jovens de Pierre Bourdieu, Frédéric Lebaron é uma
importante ponte para disseminação do método no Brasil. Seus laços com os professores Roberto Grün e Julio
Donadone, especialistas em sociologia econômica e das finanças, favor
eceram a realização de cursos sobre a teoria
e os métodos de Pierre Bourdieu no Brasil e funcionaram como ponte para que diversos alunos da Universidade
Federal de São Carlos estudassem a técnica com ele na França e a empregassem em suas teses”
.
Mais detal
hes
serão discutidos neste artigo, na seção
-
A
“escola”
da modelização geométrica no Brasil.
3
O termo
sociologia de variáveis
ou
sociologia orientada pela variável
pode ser encontrado em diversos trabalhos
de Bourdieu
e
consiste na crítica à sociologia estatística desenvolvida por Paul F. Lazarsfeld, e, pode
-
se entender,
também, como a crítica a uma espécie de
Doxa,
que forma a gênese de uma sociologia “quantitativa”
e
que é
poderosa até os dias atuais
-
em especial nos E
stados Unidos
(DUVAL, 2013); (POLLAK,1979); (BRY
et al,
2016).
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3
tempo, nas rela
ções estatísticas entre o mesmo indicador e diferentes práticas
(BOURDIEU,
2006
, p.
26).
Na
sociologia de variáveis
os fatores causais atuam independentemente uns dos outros,
portanto esses efeitos não se conjugam, mas se somam. Aos indivíduos estatístico
s, supõe
-
se
independência, e suas características possuem um significado único em todos os pontos do
espaço social analisado.
Por outro lado, para Bourdieu, a causalidade social deve ser entendida observando os
efeitos globais de uma estrutura complexa de
inter
-
relações, que não é redutível à combinação
dos
“efeitos puros”
de múltiplas variáveis independentes assentados
sob uma
“
realidade linear
geral
”
.
Ao preceder a an
á
lise isolada de cada variável, como ocorre frequentemente
-
por exemplo, sexo ou idade que, a
sua maneira, podem exprimir
a situação
global ou o devir de uma classe, corre
-
se o risco de atribuir a uma das variáveis
o que o é efeito do conjunto das variávei
s (BOURDIEU, 2006, p. 100).
O uso de modelos
estatísticos
depende do entendimento do que estes representam
-
e o
pesquisador deve ter sempre em mente que o modelo matemático não possibilita por si só a
análise
-
, sendo necessário um olhar sociológico
.
Inspirando
-
se na reflexão epistemológica dos
escritos de Bourdieu, este trabalho revisita as análises estatísticas d
o autor
e apresenta a
“escola”
de sua modelização geométrica replicada no Brasil. Por fim, nas considerações finais
retoma a crítica que o a
utor fazia aos métodos de quantificação dominantes de seu tempo,
buscando uma possibilidade de um diálogo com tradições quantitativas dos dias atuais.
O Jovem Bourdieu e os jovens estatísticos: Um encontro na Argélia.
Na Argélia
,
entre a segunda metade
dos anos 1950 e o início dos anos 1960
,
Bourdieu
conjugou a etnografia,
a
sociologia e
a
estatística. Em
1955, Bourdieu fora convocado para o
serviço militar obrigatório e, “
sendo inerentemente rebelde à autoridade militar, foi
rapidamente enviado, por mot
ivos disciplinares, à Argélia, a fim de servir na missão de
“pacificação” da colônia norte
-
africana
”
(
WACQUANT, 2002, p. 97).
Ele chega ao território
argelino em um momento de intensa violência entre o exército francês, de um lado, e a
insurgência anticolo
nial capitaneada pela Frente de Libertação Nacional (FLN).
Essa vivência imediata das dolorosas realidades das guerras travadas pela
França contra o nacionalismo argelino mudou o destino intelectual de
Bourdieu para sempre: a experiência despertou seu interesse pela sociedade
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4
argelina, de um ponto de vista polític
o e científico, e promoveu, na prática,
sua conversão da Filosofia para a Ciência Social
(
WACQUANT, 2002
,
p. 97)
.
Após o encerramento do seu serviço militar obrigatório, em 1957, Bourdieu
decide
permanecer no país, ocupando um cargo de professor na Univer
sidade de Argel
e escrevendo
seu primeiro livro
Sociologie de l’Algérie
,
em 1958
. O
s
seus estudos sobre a sociedade argelina
e
a busca de dados para suas pesquisas leva
ra
m o autor a tecer vínculos com jovens estatísticos
d
o
Institut National de la
Statistique et des Etudes Economiques
(INSEE)
4
,
que realizavam
estudos sociodemográficos na região.
Esse diálogo intelectual continuaria por vários anos
e
resultou em diversas obras:
Travail et travailleurs en Algérie
, escrito com Alain Darbel, Jean
-
Paul
Rivet e Claude Seibel; e
Le déracinement
escrito com Abdelmalek Sayad são exemplos da
aplicação de uma perspectiva antropológica e uma interpretação sociológica
a
dados de
pesquisas estatísticas.
Os seus dois primeiros grandes livros, escritos quase simul
taneamente depois
de um intenso período de pesquisa, conjugando análise estatística e Etnografia
Le déracinement
e
Travail et travailleurs en Algérie
(BOURDIEU
;
SAYAD,
1964; BOURDIEU; DARBEL; RIVET
;
SEIBEL, 1963), tratam dos dois lados
da mesma transformação cataclísmica. O primeiro
–
Le déracinement
–
descreve a destruição acelerada do campesinato argelino sob a pressão da
espoliação da terra, da mercantilização das relações sociais e do assentament
o
forçado de milhões de pessoas imposto pelo exército francês no seu esforço
estéril para conter a insurgência nacionalista. O segundo
–
Travail et
travailleurs en Algérie
–
faz o levantamento da formação e do crescente
abismo entre o proletariado industri
al estável e o subproletariado sem
iniciativa condenado à economia de miséria das ruas e ao “tradicionalismo do
desespero”, que o torna suscetível a todas as formas de manipulação política
(
WACQUANT, 2006, p.
15)
.
Em 1961, Bourdieu deixa a
Argélia, mas os intercâmbios científicos continuariam na
França
,
no
Centre de Sociologie Européenne
.
Tal
fato está refletido na contribuição do
estatístico Alain Darbel para
Les Héritiers
(
BOURDIEU
;
PASSERON, 1964)
-
que calculou as
chances de acesso à universidade para as várias categorias de classe social e em
L’amour de
l’art
(
BOURDIEU
;
DARBEL, 1966),
em que
Darbel desenvolveu as equações matemáticas
para demanda
s
por bens culturais, e o capital c
ultural
-
medido de acordo com escolaridade
-
aparece como a variável central que ajuda explicar as desigualdades no acesso aos museus.
Em 1996, Bourdieu e Darbel publicam
o
capítulo
"
La fin du malthusianisme"
no livro
Le partage des benefices
(DARRAS, 19
66)
. No texto,
os autores propõem uma equação
matemática de fecundidade por nível de renda, com base em modelos econométricos de
4
INSEE
-
Institut National de la Statistique et des Etudes Economiques
é o Instituto Nacional de Estatística e
Estudos Econômicos equivalente ao IBGE da França.
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consumo, e assim explicam o
“Baby Boom”
que a França vivia. A modelagem da fecundidade
pela renda é acompanhada por uma severa crítica ao uso das técnicas de regressão nas ciências
sociais, particularmente sobre os problemas de
multicolinearidade
5
; e por separar as respectivas
influências dos
determinantes sociais da fecundidade, ignorando a estrutura, pontuando como
essa estrutura é refratada em um determinado grupo social.
Neste período
,
Bourdieu estava iniciando as formulações dos conceitos de
“
habitus
”
,
“
campo
”
e sua
“
teoria das práticas
”
e pode
-
se afirmar que
o autor
estava em busca de
instrumentos de formalização e quantificação capazes de apreender sua visão da realidade social
e os vários tipos de capital. No mesmo período a abordagem geométrica de análise de dados
estava surgindo, dese
nvolvida por Jean
-
Paul Benzécri e sua escola em torno da Análise de
Correspondência,
e
Bourdieu volt
a
-
se para esta abordagem (LEBARON
;
LE ROUX, 2015).
A
modelagem
geométrica de dados através das Análises de Correspondência (AC), em
especial da
Análise de Correspondência Múltipla (ACM) objetivam as estruturas de relações e
,
portanto, o método apresenta “afinidades” com uma ciência social relacional (ou estrutural),
muito mais do que as técnicas importadas das ciências experimentais que visam medi
r “efeitos
específicos” (ou “
efeitos puros
”)
e que neutralizam
os efeitos de estrutura (DUVAL, 2016).
Bourdieu, no prefácio da edição alemã de
Le métier de sociologue
afirmou:
“Eu uso a
Análise de correspondência porque acho que é essencialmente um proced
imento relacional
em
que a
filosofia expressa plenamente o que, a meu ver, constitui a realidade social. É um
procedimento que ‘pensa’ nas relações, como tento fazer com o conceito de campo”
(LEBARON, 2009 p.
13
,
tradução da autora).
A Análise
Geométrica de dados nas Obras de Bourdieu
Os métodos geométricos
-
ou análise geométrica de dados (AGD)
-
permitem uma
representação espacial dos dados
. Para sua realização
,
são utilizadas
tabelas que
cruzam
indivíduos estatísticos e variáveis
que e
st
ão c
ategorizadas
. O modelo é
baseado em três
princípios básicos
:
O primeiro deles trata da modelização geométrica e afirma que para
cada variável pode
-
se pensar em uma representação espacial e
, portanto,
para um conjunto de n variáveis, pode
-
se
estabelecer uma representação
por meio
de uma “nuvem” de pontos em n + 1 dimensões.
5
Nos modelos de regressão as variáveis independentes não podem apresentar alta correlação entre si, o chamado
pressuposto da não multicolinearidade.
Além disso, a h
omogeneidade da
variância
é
um pressuposto central do
modelo de regressão, por isso a crítica de que a estrutura é refratada em um determinado grupo social.
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O segundo princípio é a abordagem formal baseada na álgebra linear abstrata
. A partir
dele é definido que uma
“
nuvem
”
é um conjunt
o de pontos ponderados
em um
espaço
euclidiano.
O
terceiro
princípio trata d
o procedimento indutivo. No procedimento indutivo
a
quilo
que é estudado descritivamente
visa
a generalização, ou seja,
“
a descrição vem antes
”
-
ao
contrário dos modelos estocástic
os e de abordagens orientadas por amostragem. Na análise
geométrica
,
a indução estatística é concebida como um prolongamento das conclusões
descritivas e a análise estatística não está reduzida à probabilidade.
A análise geométrica
é
realizada a partir da
representação das modalidades e indivíduos em eixos
,
onde a variância é
maximizada
–
em
eixos de inércia ou eixos fatoriais. O objetivo é proporcionar uma visão
tangível de realidades multidimensionais por meio da redução das dimensões (LE ROUX
;
ROUANET, 2
010)
A Análise de Correspondências (AC) foi usada na obra de Pierre Bourdieu pela
p
rimeira
vez em
L’anatomie du goût
,
artigo escrito em parceria com
Saint
-
Martin
(
1976)
e
foi realizada
com a ajuda de Salah Bouhedja
, o técnico estatístico de Bourdieu. Os dados foram coletados
por meio de
questionários tipo
“
survey
”
composta
por duas amostras complementares
,
que
usavam o mesmo questionário básico. O objetivo científico foi fornecer uma visão sintética do
espaço social
como uma estrutura global (que se apresenta de forma “artesanal” em uma
resultante de análises de correspondência sucessivas) e aprofundar a análise de dois subsetores
dentro deste espaço social: o espaço das classes dominantes e o espaço das classes médi
as
(“pequena burguesia”) (LEBARON, 2009).
A análise foi retomada em
1979
no clássico
La Distinction
,
com
elementos da
modelagem geométrica de dados presentes.
As análises sucessivas de AC presentes na
“Segunda parte
-
A economia das práticas”
na
seção “
Um espaço com três dimensões”
permitem que Bourdieu descreva
“um espaço cujas três dimensões fundamentais sejam
definidas pelo volume e estrutura do capital, assim como pela evolução no tempo dessas duas
propriedades
-
manifestada
por
sua trajetória
passada e seu potencial no espaço socia
l
”
(BOURDIEU, 2006, p.
107).
São feitas análises de correspondências para a
s
classe
s média e
alta, que
são usadas para interpretação e análise sociológica.
Um aspecto interessante
da metodologia
foi a escolha de var
iáveis ativas e
suplementares. As questões
sobre o gosto e as práticas culturais foram tomadas como variáveis
ativas da análise;
já
as variáveis s
o
ciodemográficas e ocupacionais (idade, profissão do pai,
nível de educação e rendimentos) foram usadas como c
omplementares. Guiado pela ideia de
homologia entre classes, Bourdieu compara frações específicas da
s
classe
s
alta e média
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7
(pequena burguesia). Na
“
Terceira parte
-
Gosto de classe e estilo de vida
”
a análise geométrica
permite operacionalizar o conceito de
“
habitus
”
e isolar
“
diferentes conjuntos coerentes de
preferências, cuja origem se encontra nos sistemas de disposições distintos e distintivos,
definidos tanto pela relação estabelecida entre si
quanto pela relação que os une às suas
condições de produção
”
(
BOURDIEU
, 2006, p.
242).
No que seria a
“
nuvem
”
dos indivíduos, apresenta
-
se os contornos de várias subnuvens
:
desenhadas enquanto quadros, inseridos
no
1⁰
eixo de inércia e 2⁰ eixo de
inércia; os quadros
representam frações da classe dominante, como pode ser observado na figura abaixo, presente
em “A Distinção”. Os títulos correspondentes às contribuições absolutas mais fortes foram
indicados
no 1⁰ eixo de inércia
(
1⁰
fator)
em
LETRAS M
AIÚSCULAS SUBLINHADAS
em
relação ao
s indicados
no 2⁰ eixo de inércia (
2⁰ fator
)
,
apresentados apenas
em LETRAS
MAIÚSCULA.
Figura
1
–
Título Original:
Gráficos 11 e 12
-
Variantes do gosto dominante. Análise das
correspondências.
Plano do 1⁰ e 2⁰ eixos de inércia: espaço das propriedade (Gráf.
11) e o
espaço dos indivíduos das diferentes frações (Graf.
12)
Fonte: Materiais da autora
O eixo cartesiano deve ser interpretado em termos de antiguidade na burguesia e volume
de
capital, ambos aspectos de uma realidade multidimensional expressas pelos fatores.