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Uma análise sobre a financeirização do ensino superior e os efeitos da produção do diploma como um signo de distinção social
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara, v.
11, n.
esp.
1, e022022
,
2022
.
e
-
ISSN
2358
-
4238
DOI:
https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.17520
1
UMA ANÁLISE SOBRE A FINANCEIRIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR E OS
EFEITOS DA PRODUÇÃO DO DIPLOMA COMO UM SIGNO DE DISTINÇÃO
SOCIAL
UN ANÁLISIS SOBRE LA FINANCIAMIENTO DE LA EDUCACIÓN SUPERIOR Y
LOS EFECTOS DE LA PRODUCCIÓN DEL DIPLOMA COMO
SEÑAL DE
DISTINCIÓN SOCIAL
ANALYSIS ON THE FINANCIALIZATION OF HIGHER EDUCATION AND THE
EFFECTS OF THE PRODUCTION OF THE DIPLOMA AS A SIGN OF SOCIAL
DISTINCTION
Janaina de OLIVEIRA
1
Natalia CASAGRANDE
2
Maria Teresa Miceli KERBAUY
3
RESUMO
:
A
contemporaneidade trouxe transformações nas relações sociais, ciência,
tecnologia e educação, produzindo uma nova economia cultural mundanizada e complexa. Este
trabalho
tem como objetivo apresentar uma discussão entre os sentidos da expansão do ensino
sup
erior bem como a financeirização do setor que passa a conceber o ensino como um negócio
lucrativo. Esse cenário insere
-
se nos
efeitos da mundialização das finanças, principalmente no
ensino superior privado após os anos 2000, quando este setor vivencia a
mercadorização e o
crescimento de empresas educacionais que desvalorizam o conhecimento em função do lucro,
produzindo um ensino de baixa qualidade. Na sociedade capitalista, os bens de consumo
carregam em si categorias sociais e valores culturais visto qu
e os altos padrões de consumo
entram na competição pelo status de diferenciação social. Isto significa que o consumo via
educação possui um valor que é utilizado como signo distintivo perante os seus membros.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Distinção social. Educação
s
u
perior. Expansão do ensino.
Mundialização do capital.
RESUMEN
: La contemporaneidad ha traído transformaciones en el campo de las relaciones
sociales, la ciencia, la tecnología y la educación, produciendo una nueva economía cultural
mundana y compleja.
S
e destaca, en este trabajo, que uno de los efectos de la
globalización/globalización de las finanzas en la educación, especialmente en la educación
superior privada a partir de fines de la década de 1990, fue que el sector experimentó un
proceso de mercant
ilización y el crecimiento de empresas educativas que devalúan el
conocimiento con fines lucrativos, produciendo una educación de baja calidad. En la sociedad
capitalista, los bienes de consumo considerados en este texto, la educación, llevan en sí mismos
1
Universidade Estadual Paulista
(
UNESP
)
, Araraquara
–
SP
–
Brasil. Doutoranda do Programa de Pós
-
Graduação
em Ciências Sociais.
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
3244
-
6109
.
E
-
mail: janalive@gmail
.com
2
Universidade Estadual Paulista
(
UNESP
)
, Marília
–
SP
–
Brasil. Doutoranda do Programa de Pós
-
Graduação em
Educação.
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
8939
-
1540
.
E
-
mail: nmcasagrande@gmail.com
3
Universidade Estadual Paulista
(
UNESP
)
, Araraquara
–
SP
–
Brasil.
Professora do
Programa de Pós
-
Graduação
em Ciências Sociais.
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
0622
-
1512
.
E
-
mail:
teresa.kerbauy
@gmail.com
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Janaina de OLIVEIRA; Natalia CASAGRANDE e Maria Teresa Miceli KERBAUY
Rev.
Sem Aspas
,
Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022022, 2022.
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categorías sociales y valores culturales, ya que los altos patrones de consumo compiten por el
estatus de diferenciación social. Esto significa que el consumo a través de la educación tiene
un valor que se utiliza como signo distintivo ante sus integrantes
. Las nuevas facultades que se
constituyeron como empresas, utilizando el área educativa con el fin de obtener ganancias y la
enseñanza pasa a ser entendida como una mercancía
-
un producto disponible para diferentes
públicos y significados
-
lo que generó u
na diferenciación social de los títulos. Así, estos títulos
materializados en diplomas pueden no tener el efecto simbólico necesario para generar
distinción en el ámbito comercial y social.
Esto significa que el consumo a través de la
educación tiene un va
lor que se utiliza como signo distintivo ante sus
membros.
PALABRAS CLAVE
:
Distinción social. Educación universitaria. Expansión de la enseñanza.
Globalización del capital.
ABSTRACT
:
Contemporaneity has brought transformations in the field of social rel
ations,
science, technology and education, producing a new mundane and complex cultural economy.
It is noteworthy, in this work, that one of the effects of the globalization/globalization of finance
in education, especially in private higher education after the late 1990s, was that the sector
experienced a process of commodification and the growth of
educational companies that
devalue the knowledge for profit, producing low quality education. In capitalist society, the
consumer goods considered in this text, education, carry within themselves social categories
and cultural values, as high consumption p
atterns compete for the status of social
differentiation. This means that consumption via education has a value that is used as a
distinctive sign before its members.
KEYWORDS
: Social distinction. College education. Expansion of teaching. Globalization o
f
capital.
Introdução
O ensino superior sofreu mudanças a partir dos anos 1990 devido ao processo de
globalização e a chegada da sociedade do conhecimento, fazendo com que esse setor recebesse
maior reconhecimento nos sistemas nacionais de ensino. Esse contexto foi favorável ao
projeto
expansionista que passou a ser visto como um importante instrumento aliado às políticas
econômicas e sociais, principalmente no que se refere à promoção da mobilidade social,
ascensão por meio da qualificação profissional e redução da desigualdade
de oportunidades
com a criação de diferentes políticas de acesso à universidade pública e privada. O
desenvolvimento dessas ações contribuiu para a inclusão de pessoas de diversas classes
sociais
,
negros e indígenas no ensino superior e motivou governos d
e diferentes países a conceber a
educação superior como um princípio fundamental de competitividade econômica entre os
países.
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A contemporaneidade trouxe consigo transformações no campo das relações sociais e,
dentre outros, também da ciência, economia, e
ducação e moral. Ressalta
-
se a contextualização
das transformações da sociedade e do capitalismo que engendraram a presente discussão. Para
Giddens (1991), o
capitalismo moderno
é um sistema de produção de mercadorias, centrado na
relação entre a proprieda
de privada do capital e o trabalho assalariado, sem posse de
propriedade, formando o eixo principal de um sistema de classes.
Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo apresentar uma discussão entre
os sentidos da expansão do ensino superior p
rivado bem como a financeirização do setor que
passa a conceber o ensino como um negócio lucrativo devido à sua rentabilidade e crescimento
no mercado financeiro. Esse movimento atraiu diversos investidores de diferentes setores e
grupos internacionais da
área educacional. As consequências desta expansão também são
apresentadas, a seguir, a partir da discussão do valor do diploma como signo distintivo na
sociedade contemporânea.
Partimos da discussão sobre as transformações no campo da cultura e da Educaçã
o por
meio das discussões apresentadas por Arjun Appadurai (2004) e Anthony Giddens (1991) para
contextualizar o processo da globalização na sociedade contemporânea; Mary Douglas (2004)
sobre o consumo e a utilização do bens em diálogo com Pierre Bourdieu
sobre o valor do
diploma; e também com
Boltanski e Chiapello (2009)
para descrever a discussão
sobre o
acúmulo do capital e sua representação como signos de poder nas formas concretas da riqueza,
visando a transformação permanente desse capital. E, finaliz
ando a discussão apresentada,
utiliza
-
se
Boaventura de Souza Santos (2013), entre outros autores, para contextualizar o
processo de mercadorização do ensino e a expansão da educação superior privada no Brasil
diante das questões apresentadas.
Com o
intuito de analisar os textos escolhidos para a realização desse trabalho foi
utilizada a técnica de revisão bibliográfica, a qual está fundamentada em diversos estudos
exploratórios a partir da técnica de análise de conteúdo. Assim, entendemos que a princ
ipal
vantagem da utilização da pesquisa bibliográfica é a ampliação dos fenômenos dos quais não
teríamos um acesso direto. Isto significa que a revisão bibliográfica (ou da literatura), busca
identificar o “estado da arte” ou o alcance dessas fontes (GIL,
2008). Dessa forma, justifica
-
se
a escolha por estar inscrito no estudo de obras científicas recentes disponíveis sobre os temas
que tratam da expansão do ensino superior privado e introdução dos grupos educacionais no
mercado financeiro.
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Janaina de OLIVEIRA; Natalia CASAGRANDE e Maria Teresa Miceli KERBAUY
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Capitalismo, cu
ltura e a mercadorização do ensino superior
De acordo com Giddens (1991), a Globalização, comumente debatida no contexto
contemporâneo, é intensificadora das relações sociais em escala mundial, ligando locais
distantes, fazendo com que acontecimentos loca
is sejam modelados por eventos
que ocorrem à
milhas de distância, apresentando
-
se como um fenômeno inerente da modernidade.
Para o
autor, o capitalismo foi uma influência globalizante fundamental em função de ser uma ordem
econômica, e não política. Foi ca
paz de penetrar em áreas distantes do mundo onde os Estados
de sua origem não poderiam fazer valer de maneira integral sua influência política. Os
primordiais centros de poder na economia mundial são Estados capitalistas, nos quais o
empreendimento econômi
co capitalista é o principal meio de produção.
A globalização da cultura não é o mesmo que a sua homogeneização, mas a globalização
requer o uso de uma série de instrumentos de homogeneização (armamentos, técnicas
publicitárias, hegemonias linguísticas, m
aneiras de se vestir) que são absorvidos pelas
economias políticas e culturais locais apenas para serem repatriadas como diálogos
heterogêneos de soberania nacional, livre iniciativa e fundamentalismo em que o Estado
desempenha um papel delicado na abertur
a aos fluxos globais, e o Estado
-
nação é ameaçado
pela revolta. No geral, “o Estado tornou
-
se o árbitro desta
repatriação da diferença
(sob a forma
de mercadorias, anúncios, frases publicitárias e modas). Mas esta repatriação ou exportação [...]
e da homog
eneização que, as mais das vezes, se esgota em discussões sucessórias”
(APPADURAI, 2004, p.
63
-
64).
A universidade está inserida no contexto da globalização e do capitalismo de finanças,
fazendo com que, ao estabelecer um diálogo entre o capitalismo e a me
rcadorização do ensino
e seus efeitos na produção do conhecimento na universidade, produza, consequentemente, uma
diferenciação no valor do diploma. Assim, recorremos aos autores Boltanski e Chiapello (2009)
para definirmos os sentidos do capitalismo na so
ciedade contemporânea, ou como os autores
definem, “o novo espírito do capitalismo”; estabelecendo um diálogo com a expansão das
universidades; Mary Douglas e Isherwood (2004) com sua contribuição para o uso dos bens e
relação com o consumo; Pierre Bourdie
u (2002) para a distinção social e a relação entre capital
cultural e econômico; e Bourdieu e Boltanski (1998) com a contribuição sobre o valor do
diploma e o cargo
–
posição social dos indivíduos
-
entre outros autores para contextualizar o
valor mercadol
ógico assumido por algumas instituições de ensino superior.
Entende
-
se que a definição mínima de capitalismo é, teoricamente, qualquer um que
possua um excedente e
o invista para extrair um lucro que venha a aumentar o excedente inicial.
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Uma análise sobre a financeirização do ensino superior e os efeitos da produção do diploma como um signo de distinção social
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O exemplo típico d
isso é o acionista que aplica seu dinheiro numa empresa e fica à espera de
uma remuneração, mas o investimento não assume necessariamente essa forma jurídica. “O
pequeno aplicador, o poupador que não quer que seu "dinheiro fique parado," mas "dê cria" [...
]
portanto, ao grupo dos capitalistas tanto quanto os grandes proprietários [...]. Assim, o grupo
capitalista reúne um conjunto dos detentores de um patrimônio rentável
”
(BOLTANSKI;
CHIAPELLO, 2009, p. 37).
De acordo com Boltanski e Chiapello (2009), “o es
pírito do capitalismo é justamente o
conjunto de crenças associadas à ordem capitalista que contribuem para justificar e sustentar
essa ordem, legitimando os modos de ação” que são coerentes no local estabelecido. As
definições dos autores podem ser aplica
das para compreender as práticas locais ou globais que
dão respaldo ao cumprimento de tarefas mais ou menos penosas e, de modo mais geral, à adesão
a um estilo de vida, em sentido favorável à ordem capitalista. Isso produz uma “
ideologia
dominante”, para q
ue os
dominadores garantam seus objetivos e o consentimento dos
dominados, reconhecendo que a maioria dos participantes no processo, tanto os fortes como os
fracos, apoiem os mesmos esquemas para representar o funcionamento da ordem estabelecida.
É por mei
o desta relação entre contemporaneidade/capitalismo que Giddens (1991)
discorre a respeito das instituições modernas. Assim, Giddens (1991, p. 115) cita que:
Dentro das diversas esferas das instituições modernas, os riscos não existem
apenas como casualid
ades resultantes de operações imperfeitas de
mecanismos de desencaixe, mas também como arenas de ação "fechadas",
institucionalizadas. Os mercados de investimentos representam facilmente o
exemplo mais proeminente na vida social moderna. Todas as firmas de
negócios, com exceção de certos tipos de indústria nacionalizada, e todos os
investidores, operam num ambiente onde cada um tem que prever os lances
dos outros no sentido de maximizar os lucros.
Desse modo, o acúmulo do capital não consiste num
amontoamento de riquezas
-
objetos
desejados por seu valor de uso ou como signos de poder, mas nas formas concretas da riqueza
(imobiliária, bens de capital, mercadorias e moeda) cujo único objetivo que importa realmente
é a transformação permanente desse capital. Para os autores, i
sto significa que o movimento do
Capitalismo incorpora o utilitarismo à economia, o que possibilita a aceitação de tudo o que é
benéfico ao indivíduo, sendo também benéfico à sociedade. Ou seja, por analogia, tudo o que
produz lucro (portanto, serve para o
capitalismo, consequentemente, servirá à sociedade). Nessa
perspectiva, só o crescimento das riquezas, seja qual for o seu beneficiário (empresa, grupo de
acionistas ou proprietário individual), é considerado um critério do bem comum.
(BOLTANSKI; CHIAPELL
O, 2009).
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As instituições de ensino superior (IES) particulares, inseridas no contexto acima,
deixaram evidente que possuíam abertamente fins lucrativos a partir do que alguns autores
denominaram de “empresas educacionais”, oferecendo produtos e serviços
de acordo com a
demanda do mercado. Isto enfatiza que o seu funcionamento é similar a qualquer outra empresa
-
vender um produto, possuir competição no mercado e, como propósito final, obter lucro.
Para Martins (1981, p. 80), os IES: “[...] se constituíra
m como empresas privadas
capitalistas [...] voltadas para a procura de rentabilidade, utilizando a área educacional [...] com
a finalidade de obtenção de lucro e de acumulação de capital. É interessante destacar que estas
instituições foram denominadas de
“
universidades mercantis”.
Destaca
-
se que a lógica da oferta
de ensino superior nesses estabelecimentos se prende antes às exigências do mercado, as quais
são associadas à perda de autonomia (e mesmo de influência) do corpo acadêmico no setor
privado empre
sarial, o que soa como uma ameaça ao próprio
ethos
universitário.
Após a primeira década dos anos 2000, ficou evidente as pretensões das faculdades
particulares em relação ao campo financeiro. Dessa forma, no período citado, verifica
-
se a
formação de olig
opólios por meio da criação de redes de empresas através da “[...] compra e
(ou) fusão de IES privadas do país, por empresas nacionais e internacionais de ensino superior
e pela abertura de capitais destas nas bolsas de valores” (CHAVES, 2010, p. 483). A m
igração
de grupos/investidores de outros setores do mercado financeiro para o setor educacional se
justifica pelo crescimento do setor e por ser favorável à rentabilidade que se apresentou nas
últimas décadas, passando a ser um setor de investimento mais “
seguro”.
Outro fator que contribuiu para o desenvolvimento do setor privado de ensino superior
foram os baixos investimentos realizados pela União na área da educação superior, em grande
medida ditados pelo processo de ajuste fiscal dos anos 1990, os quai
s eram referendados pelas
orientações emanadas dos organismos financeiros internacionais, tais como o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco Mundial, sendo que os gastos em educação nos países em
desenvolvimento deveriam limitar
-
se ao ensino básico.
Com isso, aprofundou
-
se o fosso
existente entre a crescente demanda por educação superior e a oferta de vagas pelas IES
públicas, abrindo
-
se, assim, espaço para a expansão do setor privado.
Dessa forma, após a promulgação da Lei nº 9870/1999
4
que facult
a a operação no setor
de ES de empresas com fins lucrativos listadas na bolsa de valores, houve uma transformação
na realidade deste setor. No campo Educacional surgem as companhias de capital aberto, as
S.A ou grupos educacionais, as quais estão organizad
as de diferentes maneiras com relação à
4
Dispõe sobre o valor total das anuidades escolar
es. Essa lei ficou popularmente Lei das S.A. da Educação.
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propriedade, controle e nacionalidades. Assim, existem aquelas que abriram o capital em bolsa
de valores brasileira
–
BM&Bovespa
5
–
e possuem matriz também no Brasil. Essas companhias,
apesar de terem como investido
res fundos internacionais, são consideradas empresas nacionais,
pois além de ter o capital aberto na bolsa brasileira, também possuem sua matriz em território
nacional. (CALEFFI; MATHIAS, 2017).
Essas grandes empresas, sem exceções do setor de atuação, qu
e se apresentam como
oligopolistas estão completamente inseridas na lógica do
financial capital
, ou seja, o capital de
investimento financeiro que é gerido pelas instituições financeiras, cuja compreensão insere
-
se
da definição do conceito marxiano de capi
tal portador de juros. Isto relaciona
-
se à
finance qua
finance
que representa
processos associados com e resultantes do crescimento espetacular, [...] de
ativos (títulos, ações, derivativos) possuídos por empresas financeiras
(grandes bancos e fundos), m
as também pelos departamentos financeiros das
empresas transnacionais e dos mercados específicos em que operam
(
CHESNAIS, 2016, p. 1 apud
LAPYDA, 2018,
p. 334).
A introdução do setor educacional no mercado financeiro iniciou
-
se com os grupos
educacionais que, no início, não tinham legitimidade nesse campo
6
, o qual é
caracterizado pelas
lutas concorrenciais entre os agentes, em torno de interesses específicos (BOURDIEU, 1983).
Contudo, destaca
-
se que a confiança conquistada no mercado pelos Gr
upos de empresas ou
acionistas de diferentes setores atribui
-
se à gestão realizada por administradores profissionais
que trouxeram das empresas de mercado as contribuições para racionalizar processos e reduzir
custos operacionais, com foco em reproduzir o
capital financeiro de seus investidores, conforme
define Chesnais (1996).
Para o setor educacional não foi diferente. Com a formação dos grupos educacionais,
após a realização de compras e/ou fusões de faculdades, esses estabelecimentos se projetaram
no m
ercado financeiro por meio da
expertise
que seus gestores possuíam com experiências em
outras organizações.
A expansão do ES por meio dos grupos educacionais e da multiplicação de instituições
de médio e pequeno porte impactou diretamente no funcionamento
e na oferta de ensino nas
5
BM&F significa Bolsa de Mercadorias & Futuros. É c
onhecida como
"Bolsa de Valores"
.
6
De acordo com Bourdieu (1983, p.119
-
120), “Os campos apresentam
-
se à apreensão sincrônica como espaços
estrutu
rados de posições (ou postos) cujas propriedades dependem da sua posição nesses espaços e que podem ser
analisadas independentemente das características dos seus ocupantes [...]. Há leis gerias dos campos: campos são
diferentes [...]. [
] . Mas sabemos que
em qualquer campo descobriremos uma luta cujas formas específicas terão
de ser investigadas em cada caso entre o novo que entra e tenta arrombar os ferrolhos do direito de entrada e o
dominante que tenta defender o monopólio e excluir a concorrência”.
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diferentes regiões do país, o que proporcionou a massificação do setor. Isto implica diretamente
na produção de conhecimento, visto que o fator qualidade do aprendizado é deixado de lado
para privilegiar o financeiro. O cenário é
a precarização do ensino tanto para a aquisição de
conhecimento pelos alunos quanto para as condições de trabalho docente oferecidas aos
professores para se inserirem na lógica do capital.
A formação universitária passa a ter uma diferenciação social na
sociedade
contemporânea, sobretudo após a criação de diferentes tipos de IES. Contudo, esse contexto
evidencia também o crescimento de IES privadas com finalidades “puramente”
mercadológicas, caracterizando
-
se como “fábricas de diplomas”, na definição de B
oaventura
de Sousa Santos. O tópico, a seguir, apresenta a relação do valor do diploma de ensino superior
e a cultura do consumo.
Relação entre o consumo e a distinção social do diploma
A cultura se expressa em consumo e, nessa análise, a
educação passa a ser entendida
aqui como um produto disponível na sociedade para ser consumida de acordo com os padrões
sociais, econômicos e signos distintivos dos respectivos alunos que estão materializados na
figura de clientes. Assim, na sociedade capi
talista, os bens de consumo carregam em si
categorias sociais e valores culturais. Trata
-
se de uma “[...] cultura em que os altos padrões de
consumo entram na competição pelo status social diferenciado” (DOUGLAS; ISHERWOOD,
2004, p.
87). Neste contexto, os
autores não se referem à cultura como influência em um tipo
específico de consumo (como as relações de troca das sociedades primitivas de Mauss), mas
como aquilo que podemos denominar cultura do consumo, as quais possuem decisões vitais ao
presente.
De a
cordo com Bourdieu (1994), na sociedade contemporânea, o consumo possui um
valor que é utilizado como signo distintivo perante os seus membros. Assim, é nessa dimensão
homem e cultura dotada de considerável significância que concluímos a discussão como sen
do
a cultura: “[...] um padrão possível de significados herdados do passado imediato, um abrigo
para as necessidades interpretativas do presente” (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004, p. 111).
No que se refere à forma como a cultura de consumo se firma na sociedade,
Pierre
Bourdieu (1994) faz considerações a respeito do discurso e da forma como este se objetiva em
âmbito social. Há, segundo o autor, uma estrutura carregada de símbolos por trás da sociedade
que se pauta no consumo. Por meio de um sistema simbólico, o d
iscurso daquele que pretende
convencer se objetiva para que a cultura consumista possa se firmar.
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Dessa forma, o consumo pode ser entendido como um uso de posses materiais que está
além do comércio e é livre dentro da lei; temos um conceito que viaja extr
emamente bem, pois
é adequado aos usos paralelos em todas aquelas tribos que não têm comércio. Assim, “As
pessoas criadas numa cultura particular veem mudar durante suas vidas: novas palavras, novas
ideias e maneiras. A cultura evolui e as pessoas desempen
ham um papel na mudança. O
consumo e a própria arena em que a cultura é objeto de lutas que lhe conferem forma”
(DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004, p.102
-
103)
O consumo está inscrito na cultura de cada sociedade e, dessa forma, as opções de
consumo espelham julgame
ntos relacionados à moral e ao valor culturalmente apresentados.
Em decorrência dessa relação entre consumo e cultura de determinado grupo, ressalta
-
se que a
função dos bens que vai além destes enquanto necessários para subsistência vem também para
traçar
as relações entre indivíduos e grupos. O ato de consumir não deve ser analisado isolado,
mas associado aos processos sociais como um todo, o que torna os bens a parte visível da cultura
(DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004).
Nessa perspectiva, por analogia à discussã
o entre consumo e cultura apresentada,
afirma
-
se que a relação entre mercado, diploma e bens na sociedade é marcada por contradições
e valores simbólicos. Enquanto os bens representam a materialidade visível à sociedade, o
diploma apresenta
-
se a partir de
uma dimensão simbólica. A respeito desta afirmação, a citação
a seguir ressalta:
O valor que [os diplomas] recebem no mercado de trabalho depende tão mais
estritamente de seu capital escolar quanto mais rigorosamente codificada for
a relação entre o dipl
oma e o cargo. Ao contrário, quanto mais fluidas e
incertas forem a definição do diploma e do cargo, portanto, sua relação, como
no caso das novas profissões (profissões de representação, etc.), mais espaço
sobra para as estratégias de blefe; mais possibil
idades terão, por exemplo, os
detentores de capital social (relações, hexis corporal, etc.), de obter um
rendimento elevado de seu capital escolar (BOURDIEU; BOLTANSKI, 1998,
p. 134).
Neste sentido, de acordo com Bourdieu (1998), há uma relação entre o di
ploma e o cargo
que pode ser apontada como objeto de uma luta, que acontece dentro de determinado campo,
expressa pelos vendedores de trabalho e suas tentativas de valorizarem seus diplomas e seus
respectivos compradores que aspiram obter, pelo menor preço
, as capacidades garantidas por
esses diplomas.
Douglas e Isherwood (2004) afirmam não ter sentido a própria fala, a menos que essa
seja adequada à informação buscada pelo ouvinte, a partir do entorno do falante
-
espaçamento,
temporalidade, orientação, rou
pas, comida e assim por diante. Isto significa que a cultura, nesse
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contexto, é um padrão possível de significados herdados do passado imediato, um abrigo às
necessidades interpretativas do presente. Diante desta afirmação, pode
-
se questionar: qual a
valid
ade do diploma se este não for adequado à informação buscada pelo comprador? Em outras
palavras, qual o valor do diploma caso este não se apresente como eficiente para o comprador
vir a ocupar o cargo ao qual aspira?
Há uma imposição de títulos, caso parti
cular do
efeito de atribuição estatutária,
positiva
(enobrecimento) ou negativa (estigmatização), que todo grupo produz ao fixar os indivíduos
em classes hierarquizadas (BOURDIEU, 2017). O mercado, aproveitando
-
se desta imposição,
vende estes títulos, os q
uais podem não apresentar o efeito simbólico necessário para vir a gerar
a distinção em âmbito mercadológico e social. A sociedade impõe a apresentação do diploma,
mas este nem sempre é cercado pelos símbolos distintivos necessários. Para ilustrar a discus
são,
convém citar a seguinte passagem de Bourdieu (2017, p. 28):
Definidas pelos
títulos
que
as
predispõem
e os legitimam a ser o que são, que
transformam o que fazem na manifestação de uma
essência
anterior e superior
a suas manifestações, segundo o sonho platônico da divisão das
funções
baseadas em uma hierarquia
dos
seres, eles estão separados, por uma diferença
de
natureza, dos simples plebeus da cultura que, por sua vez, estão votados ao
estatuto
, duplamente desvalorizado, de autodidata e de “substituto”.
Dessa forma, os indivíduos que pertencem à nobreza escolar trazem na essência o título
de homens cultos juntamente com a aceitação das exigências que estão inscritas no contexto ao
qual pertence
m de forma implícita de acordo com o prestígio do título
(BOURDIEU, 2017).
Assim, ao estabelecer uma relação entre o diploma e o cargo, o sistema de ensino introduz,
pouco a pouco, todas as profissões
–
mesmo as menos racionalizadas e as mais abandonadas à
pedagogia tradicional
–
no universo hierarquizado do certificado e tende a produzir em razão
do seu movimento natural e estender progressivamente à toda estrutura social. Assim, “a luta
de classificações é uma dimensão
–
mas, sem dúvida, a mais bem oculta
–
da luta de classes”
(BOURDIEU; BOLTANSKI, 1998, p. 144).
Na contemporaneidade, no caso brasileiro, ocorre a massificação na produção de
diplomas, principalmente por meio dos estabelecimentos de educação superior privado que
concebem o ensino como mercadoria e visam somente ao lucro, apresentando
-
se similar às
em
presas capitalistas e inserindo os alunos egressos no mercado de trabalho sem a qualificação
mínima necessária para exercerem a profissão escolhida. Em outras palavras, o portador de
diploma é habilitado para exercer a carreira pretendida na sociedade, mas
não possui o
conhecimento/técnica exigido. Para ilustrar essa discussão, recorre
-
se à citação seguinte, que
exemplifica o caso com “o diploma de um engenheiro”, a qual é uma carreira que ocupa lugar
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de destaque entre as profissões, mas carrega signos dist
intivos simbólicos que só estão
completos quando esse engenheiro é pertencente à burguesia e concluiu seu curso em
renomadas e tradicionais faculdades. Neste sentido, o simbólico desse diploma não é legitimado
se um filho de operário for engenheiro formado
em uma simples e desconhecida faculdade.
Assim, essa discussão está presente na citação, a seguir:
Portanto, na definição tácita do diploma, ao assegurar
formalmente
uma
competência
específica (par exemplo, um diploma de engenheiro), está
inserido que el
e garante
realmente
a posse de uma "cultura geral", tanto mais
ampla e extensa quanta mais prestigioso for
esse documento; e, inversamente,
que
é
impossível exigir qualquer garantia real sobre o que ele garante formal
e realmente, ou, se preferirmos, sobre
o grau que e a garantia do que ele
garante. Este efeito de imposição simbólica atinge sua máxima intensidade
com os alvarás da burguesia cultural: certos diplomas
-
por exemplo, aqueles
que, na França, são atribuídos pelas
Grandes Écoles
-
garantem, sem o
utras
garantias, uma competência que se estende muito além do que, supostamente,
e garantido por eles (BOURDIEU, 2017, p.
28
-
29).
A legitimação do diploma não corresponde ao cargo desejado quando há um desnível
entre o capital cultural e, às vezes, o capi
tal social (prestígio) que o indivíduo possui exigido
para exercer a profissão. Também se refere à escolha dos bens que os indivíduos realizam, a
qual cria certos padrões de discriminação, superando ou reforçando outros. Isto demonstra que
os bens são a pa
rte visível da cultura. Dessa forma, as perspectivas não são fixas, nem são
aleatoriamente arranjadas, pois suas estruturas são ancoradas nos propósitos sociais humanos.
(DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004). Porém, conforme os autores afirmam, são construções
sociai
s dinâmicas, ou seja, podem ser reestruturadas de acordo com as finalidades da sociedade.
O cenário ilustrou o crescimento de um novo setor no mercado de ações
-
a educação
superior
-
, sobretudo após a criação de grupos educacionais que se deu por meio da
compra
e/ou fusões de instituições de pequeno e médio porte pelas instituições, empresas estrangeiras
com tradição em seus países de origem, e começaram um novo movimento na bolsa de valores,
atraindo investidores de outros segmentos da sociedade para a e
ducação.
O contexto dos parágrafos acima apresenta uma relação com trabalhos publicados por
Boaventura Santos. Assim, ao ler os textos sobre a temática ES, é possível notar que com a
problemática aqui lançada ocorreu
[...] a massificação da universidade
[que] não atenuou a dicotomia, apenas
deslocou para dentro da universidade pelo dualismo que introduziu entre
universidade de elite e universidade de massas [...] a democratização da
universidade traduziu
-
se na diferenciação
-
hierarquização entre universid
ades
e outras instituições de ensino superior (SANTOS, 2013, p. 380).
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Isto confirma que há muitas ES particulares de excelência, mas a maioria não é, e nos
piores casos são: “[...] meras fabriquetas de diplomas
-
lixo [...] sob suspeita de serem fachadas
p
ara lavagem de dinheiro e/ou tráfico [...]” (SANTOS, 2013, p. 492). Entende
-
se que, dessa
forma, para os egressos dos
estabelecimen
tos com pouca tradição no setor educacional, o
benefício simbólico do diploma e ascensão social podem ser uma ilusão e/ou um
a promessa
não cumprida.
No tocante à relação qualidade de ensino e a produção do conhecimento à serviço do
capital,
a qualidade educativa estaria associada ao lucro, desenvolvimento do
empreendedorismo e competências profissionais apropriadas às mudanças
no mundo do
trabalho. Assim, a educação “seria subsidiária da racionalidade empresarial, em que prevalecem
o individual sobre o comunitário, o privado sobre o público [...]. Educação de qualidade seria,
na perspectiva neoliberal, a que equipa o indivíduo c
om conhecimentos e técnicas úteis [...]
(
DIAS SOBRINHO, 2005, p. 1226
-
27).
O contexto apresentado trata
-
se de um movimento global que apresentou uma aliança
perfeita entre produção de conhecimento por meio do ensino superior e mercado de capitais
como uma
via altamente lucrativa produzida pelo movimento da mercadorização das
instituições de ensino superior, o que impactou no valor do diploma na sociedade
contemporânea, o qual passa a ter um signo distintivo dentro do mercado de trabalho, ou seja,
no campo e
m que os agentes estão em uma disputa por posição, hierarquia e reconhecimento.
Considerações finais
A partir do exposto, entende
-
se que a sociedade contemporânea está inserida em uma
nova economia cultural global que produz um contexto social complexo e estratificado inserido
no processo de mundialização do capital, o que intensificou as relações sociais
em escala
mundial de maneira
que os acontecimentos locais sejam modelados por eventos
distantes. Nesse
processo,
o capitalismo passa a ser a influência globalizante fundamental em função de ser uma
ordem econômica e não política.
Nesse contexto, na sociedade descrita, o espírito do capitalismo manifesta
-
se
indissociavelmente, em cada momento, nas evidências com que os executivos têm quanto às
"boas" ações que devem ser realizadas para a obtenção do lucro e quanto à legitimidade des
sas
ações, além das justificações em termos de bem comum, necessárias para responder à crítica e
explicar
-
se perante os outros, os executivos (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009). Em analogia
ao tema discutido, os conteúdos ensinados nas universidades, sobretudo p
rivadas pertencentes
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aos grupos educacionais mencionados no texto, é um “pacote pronto” para diferentes profissões
ou finalidades que é passado ao aluno como uma opção viável para ascensão social, aquisição
de cultura e saberes técnicos exigidos pela profi
ssão escolhida. Contudo, sabe
-
se que cada
diploma carrega signos distintivos simbólicos, o qual não é legitimado quando inserido em um
contexto diferente da sua origem. Isto foi exemplificado nessa discussão, através do indivíduo
que possui um diploma de e
ngenharia, em uma instituição de ensino superior sem prestígio
social, ou seja, sem tradição no ramo educacional, provavelmente esse engenheiro não terá um
reconhecimento dentro do campo.
Dessa forma, as mudanças na educação superior não foram somente em
relação à criação
de novas categorias administrativas e jurídicas, mas também a introdução do setor no mercado
de ações por meio
do processo de mercadorização da educação superior brasileira que ocorreu
após a criação de leis que regulamentassem tanto o su
rgimento de novas instituições com fins
lucrativos quanto a efetivação dessa atividade na bolsa de valores, sobretudo após a criação dos
“Grandes Grupos Educacionais” (conglomerado de faculdades menores). Assim, a inserção
desses grupos no mercado financei
ro foi denominada de financeirização da educação, ou seja,
a introdução do setor no capitalismo de finanças.
O cenário da mercadorização do ensino superior privado está inscrito na produção de
sujeitos úteis por meio de uma lógica matemática
-
a produção
de conhecimento no ensino
superior privado está para a sociedade assim como a formação desses indivíduos está para o
mercado, isto é, através de uma lógica diretamente proporcional, o conhecimento está à serviço
do empresariado, logo, do capital. As conseq
uências da financeirização do ensino superior são
que a educação passa a ser uma mercadoria que possui como estratégia utilizada reproduzir o
capital no contexto dos preceitos neoliberais e das organizações multilaterais, configurando
-
se
como um serviço nã
o exclusivo do Estado, mas inserido na lógica do mercado. Isto significa
que a aprendizagem, para essas instituições mercadológicas, ocupa um valor reduzido diante
dos resultados financeiros.
Por outro lado, a formação em questão contrasta
-
se com uma forma
ção de pessoas que
tenham como valores temas ligados à cidadania, a partir de uma integração construtiva na vida
democrática com um incremento ético, enfatizando o valor nos espaços públicos e os processos
de autonomia a contrapor
-
se às assimetrias geradas
nas esferas econômicas, sociais e culturais,
diferentemente do que está imperando na sociedade contemporânea, o individualismo.
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AGRADECIMENTOS
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Acesso em: 10 jul. 2022
Como referenciar este artigo
OLIVEIRA, J.; CASAGRANDE, N.;
KERBAUY, M. T. M
.
Uma análise sobre a
financeirização do ensino superior e os efeitos da produção do diploma como um signo de
distinção social
.
Rev. Sem Aspas
, Araraquara, v.
11, n.
esp.
1, e022022,
2022. e
-
ISSN: 2358
-
4238. DOI:
https://doi.org/10.29373/sa
s.v11iesp.1.17520
Submetido em
:
17/09/2022
Revisões requeridas
em
:
18/10/2022
Aprovado em
:
12/11/2022
Publicado em
:
26/12/2022
Processamento e edição: Editora Ibero
-
Americana de Educação.
Correção, formatação, normalização e tradução.
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Analysis on the financialization of higher education and the effects of the production of the diploma as a sign of
social distinction
Rev. Sem Aspas
,
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1
ANALYSIS ON THE FINANCIALIZATION OF HIGHER EDUCATION AND THE
EFFECTS OF THE PRODUCTION OF THE DIPLOMA AS A SIGN OF SOCIAL
DISTINCTION
UMA ANÁLISE SOBRE A FINANCEIRIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR E OS
EFEITOS DA PRODUÇÃO DO DIPLOMA COMO UM
SIGNO DE DISTINÇÃO
SOCIAL
UN ANÁLISIS SOBRE LA FINANCIAMIENTO DE LA EDUCACIÓN SUPERIOR Y
LOS EFECTOS DE LA PRODUCCIÓN DEL DIPLOMA COMO SEÑAL DE
DISTINCIÓN SOCIAL
Janaina de OLIVEIRA
1
Natalia CASAGRANDE
2
Maria Teresa Miceli KERBAUY
3
RESUMO
:
A
contemporaneidade trouxe transformações nas relações sociais, ciência,
tecnologia e educação, produzindo uma nova economia cultural mundanizada e complexa. Este
trabalho
tem como objetivo apresentar uma discussão entre os sentidos da expansão do ensino
sup
erior bem como a financeirização do setor que passa a conceber o ensino como um negócio
lucrativo. Esse cenário insere
-
se nos
efeitos da mundialização das finanças, principalmente no
ensino superior privado após os anos 2000, quando este setor vivencia a m
ercadorização e o
crescimento de empresas educacionais que desvalorizam o conhecimento em função do lucro,
produzindo um ensino de baixa qualidade. Na sociedade capitalista, os bens de consumo
carregam em si categorias sociais e valores culturais visto que
os altos padrões de consumo
entram na competição pelo status de diferenciação social. Isto significa que o consumo via
educação possui um valor que é utilizado como signo distintivo perante os seus membros.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Distinção social. Educação sup
erior. Expansão do ensino.
Mundialização do capital.
RESUMEN
: La contemporaneidad ha traído transformaciones en el campo de las relaciones
sociales, la ciencia, la tecnología y la educación, produciendo una nueva economía cultural
mundana y compleja.
Se
destaca, en este trabajo, que uno de los efectos de la
globalización/globalización de las finanzas en la educación, especialmente en la educación
superior privada a partir de fines de la década de 1990, fue que el sector experimentó un
proceso de mercanti
lización y el crecimiento de empresas educativas que devalúan el
conocimiento con fines lucrativos, produciendo una educación de baja calidad. En la sociedad
capitalista, los bienes de consumo considerados en este texto, la educación, llevan en sí mismos
1
São Paulo State University
(
UNESP
–
FCL
)
, Araraquara
–
SP
–
Brazil
.
Doctoral student of the Postgraduate
Program in Social Sciences.
ORCID: https://orcid.org/0000
-
0002
-
3244
-
6109.
E
-
mail: janalive@gmail.com
2
São Paulo State University
(
UNESP
–
FFC
)
, Marília
–
SP
–
Brazil
.
Doctoral student of the Postgraduate Program
in Education
.
ORCID: https://orcid.org/0000
-
0002
-
8939
-
1540.
E
-
mail: nmcasagrande@gmail.com
3
São Paulo State
University
(
UNESP
–
FCL
)
, Araraquara
–
SP
–
Brazil.
Professor of the Postgraduate Program
in Social Sciences
.
ORCID: https://orcid.org/0000
-
0002
-
0622
-
1512.
E
-
mail: teresa.kerbauy@gmail.com
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and
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c
ategorías sociales y valores culturales, ya que los altos patrones de consumo compiten por el
estatus de diferenciación social. Esto significa que el consumo a través de la educación tiene
un valor que se utiliza como signo distintivo ante sus integrantes.
Las nuevas facultades que se
constituyeron como empresas, utilizando el área educativa con el fin de obtener ganancias y la
enseñanza pasa a ser entendida como una mercancía
-
un producto disponible para diferentes
públicos y significados
-
lo que generó un
a diferenciación social de los títulos. Así, estos títulos
materializados en diplomas pueden no tener el efecto simbólico necesario para generar
distinción en el ámbito comercial y social.
Esto significa que el consumo a través de la
educación tiene un val
or que se utiliza como signo distintivo ante sus
membros.
PALABRAS CLAVE
:
Distinción social. Educación universitaria. Expansión de la enseñanza.
Globalización del capital.
ABSTRACT
:
Contemporaneity has brought transformations in the field of social rela
tions,
science, technology and education, producing a new mundane and complex cultural economy.
It is noteworthy, in this work, that one of the effects of the globalization/globalization of finance
in education, especially in private higher education after
the late 1990s, was that the sector
experienced a process of commodification and the growth of educational companies that
devalue the knowledge for profit, producing low quality education. In capitalist society, the
consumer goods considered in this text,
education, carry within themselves social categories
and cultural values, as high consumption patterns compete for the status of social
differentiation. This means that consumption via education has a value that is used as a
distinctive sign before its me
mbers.
KEYWORDS
: Social distinction. College education. Expansion of teaching. Globalization of
capital.
Introduction
Higher education has undergone changes since the 1990s due to the globalization
process and the arrival of the knowledge
society, making this sector receive greater recognition
in national education systems. This context was favorable to the expansionist project, which
came to be seen as an important instrument allied to economic and social policies, especially
regarding the
promotion of social mobility, advancement through professional qualification and
reduction of inequality of opportunities with the creation of different access policies to public
and private universities. The development of these actions contributed to th
e inclusion of people
from different social classes, blacks and indigenous people in higher education and motivated
governments of different countries to conceive higher education as a fundamental principle of
economic competitiveness among countries.
Cont
emporaneity brought with it transformations in the field of social relations and,
among others, also in science, economics, education and morals. It emphasizes the
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social distinction
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contextualization of the transformations of society and capitalism that engendered the prese
nt
discussion. For Giddens (1991), modern capitalism is a system of commodity production,
centered on the relationship between private ownership of capital and salaried work, without
ownership of property, forming the main axis of a class system.
In this c
ontext, the present work aims to present a discussion between the meanings of
the expansion of private higher education as well as the financialization of the sector that starts
to conceive teaching as a lucrative business due to its profitability and grow
th in the financial
market. This movement attracted several investors from different sectors and international
groups in the educational field. The consequences of this expansion are also presented below,
based on the discussion of the value of the diploma
as a distinctive sign in contemporary society.
We start from the discussion about the transformations in the field of culture and
Education through the discussions presented by Arjun Appadurai (2004) and Anthony Giddens
(1991) to contextualize the process
of globalization in contemporary society; Mary Douglas
(2004) on the consumption and use of goods in dialogue with Pierre Bourdieu on the value of
a diploma; and also with Boltanski and Chiapello (2009) to describe the discussion on the
accumulation of ca
pital and its representation as signs of power in the concrete forms of wealth,
aiming at the permanent transformation of this capital. And, ending the discussion presented,
Boaventura de Souza Santos (2013), among other authors, is used to contextualize t
he process
of commodification of teaching and the expansion of private higher education in Brazil in view
of the issues presented.
In order to analyze the texts chosen for this work, the technique of bibliographic review
was used, which is based on several
exploratory studies based on the technique of content
analysis. Thus, we understand that the main advantage of using bibliographic research is the
expansion of phenomena to which we would not have direct access. This means that the
bibliographic (or liter
ature) review seeks to identify the “state of the art” or the scope of these
sources (GIL, 2008). Thus, the choice is justified by being enrolled in the study of recent
scientific works available on topics that deal with the expansion of private higher edu
cation and
the introduction of educational groups in the financial market.
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Capitalism, culture and the commodification of higher education
According to Giddens (1991), Globalization, commonly debated in the contemporary
context, is an intensifier of social relations on a world scale, linking distant places, causing local
events to be shaped by events that occur miles away, presenting itself a
s an inherent
phenomenon of modernity. For the author, capitalism was a fundamental globalizing influence
because it was an economic order, not a political one. It was able to penetrate into distant areas
of the world where the States of its origin could n
ot fully assert its political influence. The
primary centers of power in the world economy are capitalist states, in which capitalist
economic enterprise is the main means of production.
The globalization of culture is not the same as its homogenization, b
ut globalization
requires the use of a series of instruments of homogenization (weapons, advertising techniques,
linguistic hegemonies, ways of dressing) that are absorbed by local political and cultural
economies only to be repatriated as heterogeneous di
alogues of national sovereignty, free
enterprise and fundamentalism in which the state plays a delicate role in opening up to global
flows, and the nation
-
state is threatened by revolt. In general, “the State has become the arbiter
of this repatriation of
difference (in the form of merchandise, advertisements, advertising
phrases and fashions). But this repatriation or export [...] and the homogenization that, more
often than not, ends in successive discussions” (APPADURAI, 2004, p. 63
-
64
, our translation
).
The university is inserted in the context of globalization and finance capitalism, which,
by establishing a dialogue between capitalism and the commodification of teaching and its
effects on the production of knowledge at the university, consequently, pro
duces a
differentiation in the value of the diploma. Thus, we turn to the authors Boltanski and Chiapello
(2009) to define the meanings of capitalism in contemporary society, or as the authors define
it, “the new spirit of capitalism”; establishing a dialo
gue with the expansion of universities;
Mary Douglas and Isherwood (2004) with their contribution to the use of goods and their
relationship with consumption; Pierre Bourdieu (2002) for social distinction and the
relationship between cultural and economic
capital; and Bourdieu and Boltanski (1998) with
the contribution on the value of the diploma and the position
-
social position of individuals
-
among other authors to contextualize the market value assumed by some institutions of higher
education.
It is u
nderstood that the minimum definition of capitalism is, theoretically, anyone who
has a surplus and invests it to extract a profit that will increase the initial surplus. The typical
example of this is the shareholder who invests his money in a company and
waits for a return,
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social distinction
Rev. Sem Aspas
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Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022022, 2022.
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but the investment does not necessarily assume this legal form. “The small investor, the saver
who does not want his "money to stand still," but to "give offspring" [...] therefore, to the group
of capitalists as much as the big landow
ners [...]. Thus, the capitalist group brings together a
group of holders of profitable assets” (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009, p. 37
, our
translation
).
According to Boltanski and Chiapello (2009
, our translation
), “the spirit of capitalism
is precisely the s
et of beliefs associated with the capitalist order that contribute to justify and
sustain this order, legitimizing the modes of action” that are coherent in the established place.
The authors' definitions can be applied to understand the local or global pr
actices that support
the fulfillment of more or less painful tasks and, more generally, the adherence to a lifestyle, in
a sense favorable to the capitalist order. This produces a “dominant ideology”, for the
dominators to secure their goals and the consen
t of the dominated, recognizing that most
participants in the process, both the strong and the weak, support the same schemes to represent
the functioning of the established order.
It is through this relationship between contemporaneity/capitalism that Gid
dens (1991)
discusses modern institutions. Thus, Giddens (1991, p. 115
, our translation
) mentions that:
Within the various spheres of modern institutions, risks exist not only as
casualties resulting from the imperfect operations of disembedding
mechanisms, but also as "closed" institutionalized arenas of action.
Investment markets are easily the most promin
ent example in modern social
life. All business firms, with the exception of certain types of nationalized
industry, and all investors operate in an environment where each has to
anticipate the bids of others in order to maximize profits.
In this way, the
accumulation of capital does not consist in a heap of wealth
-
objects
desired for their use value or as signs of power, but in the concrete forms of wealth (real estate,
capital goods, commodities and currency) whose only objective that really matters it
is the
permanent transformation of this capital. For the authors, this means that the Capitalism
movement incorporates utilitarianism into the economy, which makes it possible to accept
everything that is beneficial to the individual, which is also benefi
cial to society. That is, by
analogy, everything that produces profit (therefore, it serves capitalism, consequently, it will
serve society). In this perspective, only the growth of wealth, whatever its beneficiary
(company, group of shareholders or indivi
dual owner), is considered a criterion of the common
good. (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009).
Private higher education institutions (HEIs), inserted in the above context, made it clear
that they were openly for
-
profit based on what some authors called “educatio
nal companies”,
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Janaina de OLIVEIRA; Natalia CASAGRANDE
and
Maria Teresa Miceli KERBAUY
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offering products and services according to market demand. This emphasizes that its operation
is similar to any other company
-
selling a product, having competition in the market and, as
the final purpose, making a profit.
For Martins (198
1, p. 80
, our translation
), HEIs: “[...] were constituted as private
capitalist companies [...] focused on the search for profitability, using the educational area [...]
with the purpose of profit
-
making and capital accumulation. It is interesting to note
that these
institutions were called “merchant universities”
”
. It is noteworthy that the logic of offering
higher education in these establishments is linked rather to market demands, which are
associated with the loss of autonomy (and even influence) of th
e academic body in the private
business sector, which sounds like a threat to the university
ethos
itself.
After the first decade of the 2000s, the pretensions of private colleges in relation to the
financial field became evident. Thus, in the aforemention
ed period, there was the formation of
oligopolies through the creation of business networks through the “[...] purchase and (or)
merger of private HEIs in the country, by national and international higher education companies
and by opening their capital on
the stock exchanges” (CHAVES, 2010, p. 483
, our tranlsation
).
The migration of groups/investors from other sectors of the financial market to the education
sector is justified by the growth of the sector and for being favorable to the profitability that h
as
been presented in the last decades, becoming a “safer” investment sector.
Another factor that contributed to the development of the private higher education sector
were the low investments made by the Union in the area of higher education, largely dicta
ted
by the fiscal adjustment process of the 1990s, which were endorsed by the guidelines issued by
international financial organizations, such as the International Monetary Fund (IMF) and the
World Bank, and spending on education in developing countries sh
ould be limited to basic
education. As a result, the existing gap between the growing demand for higher education and
the supply of vacancies by public HEIs deepened, thus opening up space for the expansion of
the private sector.
Thus, after the enactment
of Law no. 9870/1999
4
, which allows for
-
profit companies
listed on the stock exchange to operate in the HE sector, there was a transformation in the reality
of this sector. In the Educational field, publicly traded companies, S.A. or educational groups
ap
pear, which are organized in different ways with respect to ownership, control and
nationalities. Thus, there are those that went public on the Brazilian stock exchange
–
BM&Bovespa
5
–
and also have headquarters in Brazil. These companies, despite having
4
Provides for the total value of school annuities. This law
is
pop
ularly known as the Corporate Law
of Education
.
5
BM&F
means Commodities & Futures
E
xchange. It is known as the "Stock Exchange".
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social distinction
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international funds as investors, are considered national companies, since in addition to being
publicly traded on the Brazilian stock exchange, they also have their headquarters in the
national territory (CALEFFI; MATHIAS, 2017).
These large
companies, with no exceptions in the sector in which they operate, which
present themselves as oligopolists, are completely inserted in the logic of financial capital, that
is, the financial investment capital that is managed by financial institutions, who
se
understanding is part of the definition of the Marxian concept of interest
-
bearing capital. This
relates to the finance qua finance that represents
processes associated with, and resulting from, the spectacular [...] growth of
assets (bonds, stocks, de
rivatives) owned by financial companies (large banks
and funds), but also by the financial departments of transnational companies
and the specific markets in which they operate
(
CHESNAIS, 2016, p. 1
apud
LAPYDA, 2018,
p. 334
, our translation
).
The introdu
ction of the educational sector in the financial market began with educational
groups that, in the beginning, had no legitimacy in this field
6
, which is characterized by
competitive struggles between agents, around specific interests (BOURDIEU, 1983). How
ever,
it should be noted that the confidence gained in the market by Groups of companies or
shareholders from different sectors is attributed to the management carried out by professional
administrators who brought contributions from market companies to ra
tionalize processes and
reduce operating costs, with a focus on reproducing the financial capital of its investors, as
defined by Chesnais (1996).
For the education sector it was no different. With the formation of educational groups,
after making
purchases and/or mergers of colleges, these establishments were projected in the
financial market through the expertise that their managers had with experiences in other
organizations.
The expansion of HE through educational groups and the multiplication o
f medium and
small institutions had a direct impact on the functioning and offer of education in the different
regions of the country, which provided the massification of the sector. This directly implies the
production of knowledge, since the quality fact
or of learning is left aside to privilege the
financial one. The scenario is the precariousness of teaching both for the acquisition of
6
According to Bourdieu (1983, p.119
-
120
, our translation
), “The fields present themselves to the synchronic
apprehension as structured spaces of positions (or positions) whose properties depend on their position in these
spaces and that can be analyzed independently of the characteristics of their occupants [...]. There are general laws
of fields: fields are dif
ferent [...]. But we know that in any field we will discover a struggle whose specific forms
will have to be investigated in each case between the newcomer who enters and tries to break down the bolts of
the right of entry and the dominant who tries to def
end the monopoly and exclude competition”.
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Janaina de OLIVEIRA; Natalia CASAGRANDE
and
Maria Teresa Miceli KERBAUY
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Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022022, 2022.
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knowledge by students and for the teaching work conditions offered to teachers to insert
themselves in the logic of capi
tal.
University education starts to have a social differentiation in contemporary society,
especially after the creation of different types of HEIs. However, this context also shows the
growth of private HEIs with “purely” marketing purposes, characterizin
g themselves as “degree
factories”, in the definition of Boaventura de Sousa Santos. The topic below presents the
relationship between the value of a higher education diploma and consumer culture.
Relationship between consumption and the social
distinction of the diploma
Culture is expressed in consumption and, in this analysis, education is understood here
as a product available in society to be consumed according to the social and economic standards
and distinctive signs of the respective stud
ents who are materialized in the figure of customers.
Thus, in capitalist society, consumer goods carry social categories and cultural values. It is a
“[...] culture in which high consumption standards compete for differentiated social status”
(DOUGLAS; IS
HERWOOD, 2004, p. 87
, our translation
). In this context, the authors do not
refer to culture as an influence on a specific type of consumption (such as the exchange relations
of Mauss's primitive societies), but as what we can call consumer culture, which
have vital
decisions for the present.
According to Bourdieu (1994), in contemporary society, consumption has a value that
is used as a distinctive sign for its members. Thus, it is in this dimension of man and culture,
endowed with considerable significanc
e, that we conclude the discussion as being culture: “[...]
a possible pattern of meanings inherited from the immediate past, a shelter for the interpretive
needs of the present” (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004, p. 111
, our translation
).
With regard to the way i
n which consumer culture is established in society, Pierre
Bourdieu (1994) considers the discourse and the way in which it is objectified in the social
sphere. There is, according to the author, a structure laden with symbols behind the society
based on co
nsumption. Through a symbolic system, the discourse of the one who intends to
convince is objectified so that the consumerist culture can be established.
In this way, consumption can be understood as a use of material possessions that is
beyond commerce an
d is free within the law; we have a concept that travels extremely well, as
it is suited to parallel uses in all those tribes that have no trade. Thus, “People raised in a
particular culture see change during their lives: new words, new ideas and ways. Cul
ture
evolves and people play a role in changing it. Consumption and the very arena in which culture
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is the object of struggles that give it shape” (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004, p.102
-
103
, our
translation
)
Consumption is inscribed in the culture of each societ
y and, therefore, consumption
options mirror judgments related to morality and culturally presented value. As a result of this
relationship between consumption and culture of a given group, it is emphasized that the
function of goods that goes beyond these
as necessary for subsistence also comes to trace the
relationships between individuals and groups. The act of consuming should not be analyzed in
isolation, but associated with social processes as a whole, which makes goods a visible part of
culture (DOUG
LAS; ISHERWOOD, 2004).
In this perspective, by analogy to the discussion between consumption and culture
presented, it is stated that the relationship between market, diploma and goods in society is
marked by contradictions and symbolic values. While the g
oods represent the materiality visible
to society, the diploma is presented from a symbolic dimension. Regarding this statement, the
following quote highlights:
The value that [degrees] receive in the labor market depends the more strictly
on their educat
ional capital, the more rigorously codified the relationship
between the degree and the position. On the contrary, the more fluid and
uncertain the definition of the diploma and the position, therefore, their
relationship, as in the case of the new profess
ions (representation professions
etc.), the more space is left for bluff strategies; holders of social capital
(relationships, corporal hexis etc.) will have more possibilities to obtain a high
return on their school capital
(BOURDIEU; BOLTANSKI, 1998, p.
134
, our
translation
).
In this sense, according to Bourdieu (1998), there is a relationship between the diploma
and the position that can be pointed out as the object of a struggle, which takes place within a
certain field, expressed by job sellers and th
eir attempts to value their diplomas and their
respective buyers who aspire to obtain, at the lowest price, the capabilities guaranteed by these
diplomas.
Douglas and Isherwood (2004) claim that speech itself does not make sense, unless it is
adequate to t
he information sought by the listener, from the surroundings of the speaker
-
spacing, temporality, orientation, clothes, food and so on. This means that culture, in this
context, is a possible pattern of meanings inherited from the immediate past, a shelt
er for the
interpretive needs of the present. Faced with this statement, one can ask: what is the validity of
the diploma if it is not adequate to the information sought by the buyer? In other words, what
is the value of the diploma if it does not present
itself as efficient for the buyer to occupy the
position to which he aspires?
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Janaina de OLIVEIRA; Natalia CASAGRANDE
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Maria Teresa Miceli KERBAUY
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There is an imposition of titles, in particular the effect of statutory attribution, positive
(ennoblement) or negative (stigmatization), that every group produces by fixing indi
viduals in
hierarchical classes (BOURDIEU, 2017). The market, taking advantage of this imposition, sells
these titles, which may not have the necessary symbolic effect to generate distinction in the
market and social context. Society imposes the presentati
on of the diploma, but this is not
always surrounded by the necessary distinctive symbols. To illustrate the discussion, it is worth
quoting the following passage from Bourdieu (2017, p. 28
, our translation
):
Defined by titles that predispose and
legitimize them to be what they are, that
transform what they do into the manifestation of an essence prior and superior
to their manifestations, according to the Platonic dream of the division of
functions based on a hierarchy of beings, they are separate
d, due to a
difference in nature, of the simple plebeians of culture who, in turn, are doubly
condemned to the status of self
-
taught and “substitute”.
In this way, individuals who belong to the school nobility essentially bear the title of
cultured men to
gether with the acceptance of the demands that are inscribed in the context to
which they implicitly belong according to the prestige of the title (BOURDIEU, 2017). Thus,
by establishing a relationship between the diploma and the position, the education sy
stem
introduces, little by little, all professions
–
even the least rationalized and those most abandoned
to traditional pedagogy
–
into the hierarchical universe of the certificate and tends to produce
of its natural movement and progressively extend to t
he entire social structure. Thus, “the
classification struggle is a dimension
–
but undoubtedly the most hidden one
–
of the class
struggle” (BOURDIEU; BOLTANSKI, 1998, p. 144
, our translation
).
In contemporary times, in the case of Brazil, there is mass p
roduction of diplomas,
mainly through private higher education establishments that conceive teaching as a commodity
and aim only at profit, presenting themselves as similar to capitalist companies and inserting
students who have graduated in the market wit
hout the minimum qualification necessary to
exercise the chosen profession. In other words, the holder of a diploma is qualified to exercise
the intended career in society but does not have the required knowledge/technique. To illustrate
this discussion, t
he following quotation is used, which exemplifies the case with “the diploma
of an engineer”, which is a career that occupies a prominent place among professions but carries
symbolic distinctive signs that are only complete when this engineer belongs to th
e bourgeoisie
and completed his course in renowned and traditional colleges. In this sense, the symbol of this
diploma is not legitimized if a worker's son is an engineer trained in a simple and unknown
college. Thus, this discussion is present in the quot
e below:
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Therefore, in the tacit definition of the diploma, by
formally
assuring a specific
competence (for example, an engineering diploma), it is included that it
really
guarantees the possession of a "general culture", the more ample and extensive
the
more prestigious this document is; and, conversely, that it is impossible to
demand any real guarantee about what it formally and really guarantees, or, if
you prefer, about the degree and guarantee of what it guarantees. This effect
of symbolic impositio
n reaches its maximum intensity with the licenses of the
cultural bourgeoisie: certain diplomas
-
for example, those that, in France, are
awarded by the
Grandes Écoles
-
guarantee, without other guarantees, a
competence that extends far beyond what, suppos
edly, and guaranteed by
them (BOURDIEU, 2017, p. 28
-
29
, our translation
).
The legitimacy of the diploma does not correspond to the desired position when there is
a difference between the cultural capital and, sometimes, the social capital (prestige) that
the
individual has required to exercise the profession. It also refers to the choice of goods that
individuals perform, which creates certain patterns of discrimination, overcoming or
reinforcing others. This demonstrates that goods are the visible part of
culture. In this way,
perspectives are not fixed, nor are they randomly arranged, as their structures are anchored in
human social purposes (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004). However, as the authors state, they
are dynamic social constructions, that is, they can
be restructured according to the purposes of
society.
The scenario illustrated the growth of a new sector in the stock market
-
higher education
-
, especially after the creation of educational groups that took place through the purchase and/or
mergers of
small and medium
-
sized institutions by institutions, foreign companies with
tradition in their countries of origin, and started a new movement on the stock exchange,
attracting investors from other segments of society to education.
The context of the above
paragraphs presents a relationship with works published by
Boaventura Santos. Thus, when reading the texts on the HE theme, it is possible to notice that
with the problem presented here,
[...] the massification of the university [which] did not attenuate
the
dichotomy, it only shifted it inside the university due to the dualism it
introduced between elite university and mass university [...] the
democratization of the university was translated into the differentiation
-
hierarchization between universities
and other higher education institutions
(SANTOS, 2013, p. 380
, our translation
).
This confirms that there are many private HEs of excellence, but most are not, and in
the worst cases are: “[...] mere factories of garbage diplomas [...] under
suspicion of being fronts
for money laundering and/ or trafficking [...]” (SANTOS, 2013, p. 492
, our translation
). It is
understood that, in this way, for graduates of establishments with little tradition in the
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educational sector, the symbolic benefit of
the diploma and social ascension may be an illusion
and/or an unfulfilled promise.
Regarding the relationship between teaching quality and the production of knowledge
at the service of capital, educational quality would be associated with profit, developme
nt of
entrepreneurship and professional skills appropriate to changes in the world of work. Thus,
education “would be a subsidiary of business rationality, in which the individual prevails over
the community, the private over the public [...]. Quality educ
ation would be, from the neoliberal
perspective, that which equips the individual with useful knowledge and techniques [...]
”
(DIAS
SOBRINHO, 2005, p. 1226
-
27
, our translation
).
The context presented is a global movement that presented a perfect alliance b
etween
knowledge production through higher education and the capital market as a highly profitable
route produced by the movement of commodification of higher education institutions, which
impacted on the value of the diploma in contemporary society, which
starts to have a distinctive
sign within the labor market, that is, in the field in which agents are in a dispute for position,
hierarchy and recognition.
Final considerations
From the above, it is understood that contemporary society is
inserted in a new global
cultural economy that produces a complex and stratified social context inserted in the process
of globalization of capital, which intensified social relations on a world scale in a way that
events locations are shaped by distant ev
ents. In this process, capitalism becomes the
fundamental globalizing influence because it is an economic and not a political order.
In this context, in the society described, the spirit of capitalism is inseparably
manifested, at every moment, in the evid
ence that executives have regarding the "good" actions
that must be carried out to obtain profit and regarding the legitimacy of these actions, in addition
to justifications in terms of the common good, necessary to respond to criticism and explain
themsel
ves to others, executives (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009). In analogy to the topic
discussed, the content taught in universities, especially private ones belonging to the
educational groups mentioned in the text, is a “ready package” for different professions
or
purposes that is passed on to the student as a viable option for social ascension, acquisition of
culture and technical knowledge required by the chosen profession. However, it is known that
each diploma carries symbolic distinctive signs, which is not
legitimized when inserted in a
context different from its origin. This was exemplified in this discussion, through the individual
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who has an engineering degree, in a higher education institution without social prestige, that is,
without tradition in the e
ducational field, this engineer will probably not have recognition
within the field.
Thus, the changes in higher education were not only related to the creation of new
administrative and legal categories, but also the introduction of the sector in the stoc
k market
through the process of commodification of Brazilian higher education that occurred after the
creation of laws that to regulate both the emergence of new for
-
profit institutions and the
effectiveness of this activity on the stock exchange, especial
ly after the creation of the “Great
Educational Groups” (conglomerate of smaller colleges). Thus, the insertion of these groups in
the financial market was called the financialization of education, that is, the introduction of the
sector in finance capital
ism.
The scenario of commodification of private higher education is inscribed in the
production of useful subjects through a mathematical logic
-
the production of knowledge in
private higher education is for society as well as the training of these indivi
duals is for the
market, that is, through a directly proportional logic, knowledge is at the service of the business
community, therefore, of capital. The consequences of the financialization of higher education
are that education becomes a commodity whose
strategy is to reproduce capital in the context
of neoliberal precepts and multilateral organizations, becoming a service that is not exclusive
to the State, but inserted in the logic of the market. This means that learning, for these marketing
institutio
ns, occupies a reduced value in view of the financial results.
On the other hand, the formation in question contrasts with formation for people whose
values are related to citizenship, based on a constructive integration into democratic life with
an ethica
l increment, emphasizing the value of public spaces and processes of autonomy to
oppose the asymmetries generated in the economic, social and cultural spheres, unlike what is
prevailing in contemporary society, individualism.
ACKNOWLEDGEMENTS
: CNPq
and
Capes.
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Janaina de OLIVEIRA; Natalia CASAGRANDE
and
Maria Teresa Miceli KERBAUY
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4238
DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.17520
14
REFERENCES
APPADURAI, A.
As Dimensões Culturais da Globalização
.
Lisboa. Teorema, 2004.
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São Paulo
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São Paulo: Ática, 1994. p.
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Analysis on the financialization of higher education and the effects of the production of the diploma as a sign of
social distinction
Rev. Sem Aspas
,
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e
-
ISSN 2358
-
4238
DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.17520
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OLIVEIRA, J.;
CASAGRANDE, N.; KERBAUY, M. T. M
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Analysis on the financialization
of higher education and the effects of the production of the diploma as a sign of social
distinction
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Rev. Sem Aspas
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1, e022022,
2022. e
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ISSN: 2358
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4238.
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Submitted
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17/09/2022
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18/10/2022
Approved
:
12/11/2022
Published
:
26/12/2022
Processing and Editing
: Editora Ibero
-
Americana de Educação.
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