image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176271OS CAPITAIS DETIDOS POR MINISTROS E MINISTRAS DOS GOVERNOS CARDOSO E LULA: MAPEANDO A DISTINÇÃO1CAPITALES EN MANOS DE MINISTROS Y MINISTROS DE LOS GOBIERNOS DE CARDOSO Y LULA: MAPEANDO LA DISTINCIÓNCAPITALS HELD BY MINISTERS OF CARDOSO AND LULA GOVERNMENTS: MAPPING THE DISTINCTIONMaria Chaves JARDIM2Márcio Rogério da SILVA3RESUMO:O retorno de Lula como presidente da república, nas eleições de outubro de 2022, revitaliza um tema que nunca esteve fora de moda nas ciências sociais, o estudo dos governos Lula, especialmente em comparação com os governos Cardoso. O artigo busca objetivar os principais capitais detidos pelos ministros e ministras do Estado dos períodos Cardoso e Lula, especificando a posição ocupada no espaço socia e a distinção. O estudo dos capitais detidos por estes pode somar esforços aos estudos que buscam entender esse período da história contemporânea. De forma geral, foi possível concluir que os ministros do governo Cardoso, do ponto de vista da posição, têmcapitais culturais, econômicos e simbólicos mais elevados sob a ótica do mainstreameconômico, configurandoum habitusde elite, ao passo que o os ministros Lula possuem menor capital econômico, cultural e simbólico, constituindo um habitusmais popular. Para tanto, realizamos estudo de trajetória desses ministros e em seguida, aplicamos a ACM. Os dados foram analisados a partir da sociologia relacional e praxiológica de Pierre Bourdieu.PALAVRAS-CHAVE:Governo Cardoso e governo Lula.Ministros.Distinção.Capitais.ACM. RESUMEN: El regreso de Lula como presidente de la república, en las elecciones de octubre de 2022, revitaliza un tema que nunca ha pasado de moda en las ciencias sociales, el estudio de los gobiernos de Lula, especialmente en comparación con los gobiernos de Cardoso. El artículo busca apuntar a las principales capitales ocupadas por losministros y ministros del Estado de los períodos Cardoso y Lula, precisando la posición ocupada en el espacio social y la distinción. El estudio de los capiteles que poseen estos puede sumar esfuerzos a los estudios que buscan comprender este período de la historia contemporánea. En general, se pudo concluir que los ministros del gobierno de Cardoso, desde el punto de vista de la posición, tienen capitales culturales, económicos y simbólicos superiores desde la perspectiva de la 1Esse artigo foi escrito a partir de pesquisas financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Processo nº 2014/11804-6 e CNPQ. Agradecemos o apoio e suporte indispensável às nossasatividades científicas.2Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara SPBrasil. Professora Livre Docente do Departamento de Ciências Sociais. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5715-1430. E-mail: majardim@fclar.unesp.br3Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Lagoa do Sino SPBrasil.ORCID:https://orcid.org/0000-0002-8176-1551. E-mail:marciosilva@ufscar.br
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176272corriente económica dominante, configurando un habitus de élite, mientras que los ministros de Lula tienen menos capital económico, cultural y simbólico, constituyendo un habitus más popular. Para ello, realizamos un estudio de la trayectoria de estos ministros y luego aplicamos la ACM. Los datos fueron analizados a partir de la sociología relacional y praxiológica de Pierre Bourdieu. PALABRASCLAVE: Gobierno Cardoso y gobierno Lula.Ministros.Distinción.Capital.ACM.ABSTRACT: Lula's return as president of the republic, in the October 2022 elections, revitalizes a theme that has never been out of fashion in the social sciences, the study of the Lula governments, especially in comparison with the Cardoso governments. The article seeks to aim at the main capitals held by the ministers of the State of the Cardoso and Lula periods, specifying the position occupied in the social space and the distinction. The study of the capitals held by these can add efforts to studies that seek to understand this period of contemporary history. In general, it was possible to conclude that the ministers of the Cardoso government, from the point of view of position, have higher cultural, economic and symbolic capitals from the perspective of the economic mainstream, configuring an elite habitus, while the Lula ministers have less economic, cultural and symbolic capital, constituting a more popular habitus. Towards this objective, we conducted a study of the trajectory of these ministers and then applied the ACM. The data were analyzed from the relational and praxiological sociology of Pierre Bourdieu.KEYWORDS: Cardoso government and Lula government. Ministers. Distinction. Capital. ACM.Introdução O retorno de Lula como presidente da república,nas eleições de outubro de 2022, revitaliza um tema que nunca esteve fora de moda nas ciências sociais, o estudo dos mandatos presidenciáveis de Lula, especialmente em comparação com os governos Cardoso. O interesse por esses dois períodos é tão grande, que já existe uma tradição de estudos sobre os mesmos, muitas vezes comparando esses dois momentos da história democrática do Brasil. Nosso artigo se interessa por estudar esses dois governos, por meio da comparação dos capitais detidos pelos seus respectivos ministros. Importante dizer que no âmbito da sociologia são raras as iniciativas em estudos sobre ministros, tema que tem interessado, sobremaneira, à ciência política, especialmente pesquisas sobre o processo de seleção e sobre as trajetórias políticas e sociais de ministros. Segundo Codato e Franz (2017), esses estudos procuram levantar o perfil da elite ministerial de seus respectivos países, considerando variáveis padrões, tais como, idade, sexo, herança familiar,
image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176273formação escolar, trajetória profissional, orientação ideológica do partido, experiência em cargos legislativos e ocupação de posições no alto escalão do Estado ou em firmas privadas.Codato e Franz (2017) acrescentam que no presidencialismo brasileiro, os ministros cumprem uma dupla função: assegurar que a formulação e a implementação de políticas públicas estejam de acordo com as diretrizes do presidente da República e do programa do seu partido; e garantir, através de transações políticas, o apoio partidário para que esses projetos tenham sustentação e chances de aprovação pelo Congresso Nacional. Nesse sentido, a seleção de ministros e a formação de gabinetes teria um papel estratégico político e para a boa condução do governo do presidente da República.Os mesmos autores afirmam que as pesquisas sobre gabinetes do regime semipresidencialista francês, têm observado a ocupação de ministérios por indivíduos cada vez mais acostumados com as lógicas do campo político. François e Grossman (2012) têm percebido a presença de novos tipos profissionais, com a diminuição no número de tecnocratas, expertse ministros não partidários e o consequente incremento de quadros políticos com treinamento e carreiras cumpridas em entidades de representação, seja em cargos eletivos, seja na burocracia dos partidos políticos e mesmo em movimentos sociais (FRANÇOIS; GROSSMAN, 2012).No Brasil, D’Araújo (2009) fez uma radiografia do Executivo após a redemocratização e identificou que os “ministros são pessoas experientes na vida política, com forte enraizamento em atividades parlamentares e executivas em todos os níveis de governo” (D’ARAUJO, 2009, p.25). De acordo com Costa e Codato (2013), isso seria um indicativo da existência de expertisepolítica e administrativa como condição básica para nomeação ao ministério. Apesar de serem postos de nomeação e não posições eletivas, ministérios também podem ser um espaço de profissionalização política, a exemplo das casas legislativas. Codato e Franz (2017) defendem que no caso do Brasil, isso decorre da importância do critério partidário no recrutamento ministerial. No presidencialismo multipartidário, o partido do presidente da República dificilmente consegue ser o partido majoritário no Congresso Nacional, forçando o chefe do governo a fazer alianças comoutras legendas para conseguir apoio político e aprovar seus projetos de lei, emendas legislativas e medidas provisórias. Para garantir essa sustentação, o presidente precisa atrair os demais partidos, que não o seu, para o governo, alocando-os nos ministérios ou nas burocracias a eles subordinadas. Essa barganha entre cargos políticos de alto escalão e apoio parlamentar nas duas Casas do Congresso Nacional Brasileiro, impacta significativamente na composição dos ministérios
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176274(ABRANCHES, 1988) e revela as estratégias perseguidas pelo recrutamento ministerial no Brasil. Em nossa agenda de pesquisa, o tema dos ministros tem ganhado destaque. Em Jardim e Rosa (2021) foi feito um estudo da biografia de 151 ministros que atuaram entre 1994 e 2010 nas pastas titulares. Após apresentar uma cartografia do perfil de todos os ministros, por meio de diversasvariáveis, o artigo deu destaqueparatrês delas: ocupação dos pais e avós dos ministros, universidade pelas quais passaram e a circulação internacionaldesses. Os resultados indicam existir homologia entre as trajetórias individuais dos ministros e as crenças econômicas vigentes do período, expressa, sobretudo, a partir de crenças neoliberais ou desenvolvimentistas, divulgadas nas universidades pelas quais passaram, em formato de teoria econômica; em Jardim e Moura (2022) foram comparadasas tomadas de posição de ministros ligados à área econômica dos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff, por meio de suas orientações econômicas. O fio condutor do artigo foi entender as tomadas de decisão econômicas dos governos petistas, por meio do estudo da biografia dos ministros ligados à economia do período estudado, partindo do princípio de que decisões econômicas e políticas estão enraizadas em elementos socioculturais, a saber, a visão de mundo dos ministros tomadores de decisões, cuja visão de mundo seria fabricada socialmente.Silva (2017) e Silva e Grün (2019) mostram como os diretores dos Bancos Centrais, nomeados no âmbito do presidencialismo de coalizão, apresentam posições e tomadas de posição a partir de uma perspectiva mais monetarista (governo Cardoso) ou mais neokeynesiana, mas ampliam o olhar para a economia das narrativas dos economistas chefe de instituições financeiras, que, em vários momentos, através de uma pressão performativa, conseguem criar ou ainda, performar nos diretorestomadas de posição divergentes das expectativas acerca de suas posições e disposições.Dando sequência a essa agenda de estudo já iniciadapor nós, sobre ministros, oartigo que ora apresentamos busca objetivar quais capitais detinham os ministros e ministras do Estado dos períodos Cardoso e Lula, especificando as distinções entre eles.Para tanto, realizamos estudo de trajetória desses ministros e em seguida, aplicamosa ACM.Acreditamos que o estudo dos seus capitais e da distinção pode nos ajudar a localizar suas posições no espaço social e o perfil desses ministros. Ainda que não seja nosso objetivo central, isso poderá, em alguma medida, nos ajudar a entender o perfil dos projetos nos quais estiveram engajados.O artigo está dividido da seguinte forma: além destaintrodução e da conclusão, no próximo item discutimoso referencial teórico que inspira essa pesquisa, baseado nasociologia relacional e praxiológica de Pierre Bourdieu; em seguida apresentaremos uma breve síntese
image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176275sobre os governos Cardoso e Lula, buscando destacar o perfil dos projetos existentes emcada governo (se mais neoliberal ou mais intervencionista); finalmente,apresentamos e analisamos nossos dados de pesquisa. A Distinção enraizada em elementos sociais: a posse de capitais e a definição do habitusPara Bourdieu, o estudo de trajetória, em diálogo com a ACM, nos ajuda a mapear os capitais detidos por um agente social.Para o autor as trajetórias seriam o resultado construídodeum sistema dos traços pertinentesdeumabiografiaindividualoudeumgrupo de biografias(BOURDIEU, 1998); ou seja, umatrajetóriaé a objetivação das relaçõesentreos agentes e as forças presentes no campo; um conjunto de relações pode provocar distinção e fronteiras simbólicas no grupo estudado.Em Bourdieu (1998), não existe análise de ACM sem um estudo sistematizado das trajetórias.Por sua vez, a Análise de Correspondência Múltipla (ACM) é parte de uma técnica mais ampla chamada Análise Geométrica de Dados (AGD), abordagem estatística elaborada pelo matemático francês Jean Paul Benzécri nos anos 1970, com o qual Bourdieu trabalhou. Esses trabalhados foram importantes para contrabalançar os modelos confirmatórios da estatística (GREENACRE; BLASIUS, 2006).Segundo Le Roux e Rouanet (2010), a análise descritiva precede a modelagem probabilística, não dependendo do tamanho dos dados. Complementar a essa ideia, para Bertoncelo (2022, p.17) “a causalidade socialconsiste nos efeitos globais de uma estrutura complexa de inter-relações, que não se reduz à combinação dos múltiplos efeitos”.Concretamente, a ACM é uma representação espacial no plano cartesiano de variáveis de grande variância e indivíduos em posição relacional entre essas variáveis e entre eles, de maneira que isso permite uma redução de dimensionalidade de dados, em que a distância entre indivíduos representa distâncias normalizadas de propriedade social, sendo, nesse sentido, de cunho exploratória (BERTONCELO, 2022).Assim sendo, a ACMé preditiva, pois uma vez que foi reconstruída a estrutura de finalidades e contrastes, os indivíduos podem ser projetados nesse espaço de dispersão (HUSSON; JOSSE, 2014).Por fim, Bertoncelo(2022) afirma que a ACM tem bons resultados quando produzimos diferenciações qualitativas, em que as categorias não podem ser ordenadas de maneira direta. Isso quer dizer que no nosso caso, por exemplo, o número e a complexidade das variáveis que compõe os capitais dos ministros dirigentes não podem ser hierarquizadas entre variáveis
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176276dependentes e independentes de maneira clara, dado seu volume e complexidade.Com base nesses pressupostos, Bourdieu pôde, em seus estudos, reconstruir o espaço das posições sociais (BOURDIEU, 2008), objetivando capitais e distinções.No que se refere ao conceito de capitais em Bourdieu (1996; 2006), primeiramente é necessário dizer que capital, é, em Bourdieu, um “recurso” que pode ser possuído e transmitido por um indivíduo,um casal, um estabelecimento, uma comunidade, ou mesmo um país. Para o autor, existem quatro tipos de capitais: econômico, cultural, social e simbólico, sendo que o capital de origem estaria ligado à família e o capital de chegada teria a ver com a reconversão no espaço social.O capital econômicocorresponde à noçãode patrimônio e é avaliado em termos monetários.Dinheiro na perspectiva de Pierre Bourdieu, é simbólico. Capital econômico em Bourdieu, pode ser convertido em capital simbólico, social e cultural.O capital socialé o conjunto de relações pessoais possuído por um agente, família e empresa, constituindo uma rede de relacionamento. O capital culturalfoi acionado por Bourdieu para explicar as desigualdades sociais em matéria educativa e cultural. Trata-se de um conjunto multidimensional de competências (por exemplo, o domínio da língua e do cálculo), e de disposições (certa sensibilidade para o mundo), que constitui a versão incorporada do capital cultural. Existem três estados incorporado do capital cultural em Bourdieu: 1)Hexis corporal; 2)Institucionalizado (por meio de diplomas, obras de arte etc.) e;3) Objetivado: obra de arte, pintura, música etc. O capital cultural seria o responsável por formar o gosto, que por sua vez, promove distinção e revela dominação.O quarto e último capital, o capital simbólicoé definido pelo “olhar” depositado (o valor dado) pela sociedade a um agente social, família, empresa. Há, portanto, uma dimensão relacional e coletiva, já que o capital simbólico significa reconhecimento e prestígio. Em Bourdieu (1996) os capitais existem de forma relacional, uma vez que um pode reforçar o outro.Segundo o método de Bourdieu, para mensurar a origem social de um agente e,portanto, seu capital de origem, é fundamental objetivar a profissão dos pais, sobretudo do pai, visto que no texto As contradições da herança, do livro A miséria do mundo (1993), Bourdieu mostra o papel da família na transmissão da herança cultural, com destaque para o pai, que segundo o autor, seria o maior responsável por transmitir a herança ao herdeiro.A mesma argumentação aparece em Bourdieue Passeron (2014, p.28) para quem: “(...), a origem social é, de todos os determinantes, o único que estende sua influência a todos os domínios e a todos os níveis da experiência dos estudantes e primeiramente as condições de existência”.Assim, a escola transforma-se no agente único e total da transmissão das posições
image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176277sociais. A ideia de que a origem social, bem como os marcadores de legitimidade (capitais simbólicos, processos de socialização) é natural, perde relevância diante das teses de Bourdieu (1996; 2006), que mostra o trabalho “mágico” da escola, reproduzindo e valorizando a cultura formada na classe dominante. Como demonstra Bourdieu (2006), a familiaridade com a cultura legítima a cultura legitimada, dominante traz ganhos na vida escolar, no campo universitário e no mercado de trabalho, favorecendo aqueles que em tenra infância tiveram acesso a essa cultura legítima, “como uma experiênciadireta”, um “simples deleite”, a princípio, “fora das disciplinas escolares”, marcadas como “pedantes”. Assim, “a aquisição da cultura legítima pela familiarização insensível no âmago da família tende a favorecer uma experiência encantada da cultura, que implica o esquecimento da aquisição e a ignorância dos instrumentos de apropriação” (BOURDIEU, 2006, p.10).Outro quesito importante na sociologia de Bourdieu, diz respeito à educação formal recebida pelos agentes sociais. A trajetória educacional dos indivíduos, formação básica, superior e as instituições nas quais estudaram, são constitutivas embora não exclusivamente daquilo que Bourdieu intitulou capital cultural legítimo. Em Bourdieu (2014) existiria uma correlação entre a classe de origem e os anos de estudos, que é refletida em aspectos como idade que iniciou os estudos, sexo e a questão geográfica. Para o caso da França, Bourdieu informa que os herdeiros legítimos ingressam em cursos prestigiados das melhores universidades francesas, enquanto os filhos das classes populares -quando ingressam no ensino superior -acabam frequentando cursos sem muito prestígio. Para o autor, as aspirações escolares desdobram-se em objetividades referentes à realidade de cada agente social, ou seja, as escolhas são delimitadas em função das trajetórias Sobre o argumento acima, Bourdieu defende no livro La Noblesse d´Etat: Grandes écoles et esprit de corps (1989),que nos cursos superiores de elite, existe uma ação de “consagração” e um rito que produz um grupo separado e sagrado, que se dá de forma mascarada, produzindo e reproduzindo a nobreza. Portanto, para Bourdieu (2007), o sistema escolar antes de ser caracterizado por uma marca libertadora, é uma das formas mais intensas de conservação social, pois tende a legitimar as desigualdades sociais a partir da herança cultural.Nessa perspectiva, um ato ou uma escolha de um agente não se explica por si só, pois, de acordo com o autor, esses atos estão ligados ao contexto social: além de sofrerem os constrangimentos sociais de um grupo, estão associadas às suasexperiências individuais, familiares (origem social) e também a sua socialização secundária (universidade e demais
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176278espaços sociais). As escolhas, portanto, se dão não só subjetivamente, mas estão circunscritas aelementos históricos, culturais e, principalmente, a um campo dado de possibilidades. As prioridades se darão de acordo com os recursos herdados e construídos socialmente dentro de histórias singulares de vida. Habitus: expressando visões de mundoEm Bourdieu, a posse dos capitais ajuda a gerar um habitus, que por sua vez forma a visão de mundo de um agente, que é constituída socialmente. Para tanto, a trajetória individual dos agentes ajuda a construir seu habitus, que são pré-disposições IN-corporadas(colocadas no corpo e na mente) pelos agentes sociais ao longo de seu processo de socialização. Nesse contexto, o habitus integra experiências passadas e atua como uma matriz de percepções, de apreciações, de ações, de gosto e de tomadas de decisões. Essa “matriz”, ou conjunto de disposições, fornece esquemas necessários para a intervenção dos agentes sociais na vida diária, de forma não necessariamente consciente. Conforme trata o autor, essas disposições não são fixas. Ademais, não são nem a personalidade e nem a identidade dos indivíduos: “habitus é um operador, uma matriz de percepção e não uma identidade ou uma subjetividade fixa” (BOURDIEU, 2002, p. 83). Sendo produto da história, o habitus é um sistema de disposições aberto, permanentemente afrontado a experiências novas e permanentemente afetado por elas. Ele é durável, mas não imutável (BOURDIEU, 2002, p. 83). Trata-se de um marcador simbólicoque pode expressar distinção ou desclassificação (BOURDIEU, 1979). Mostra distinção quando expressa a cultura dominante, que por sua vez contribui para aintegração da classe dominante, por meio do habitus,assegurando a comunicação imediata entre todos os seus membros e os distinguindo das demais classes sociais. Expressa desclassificação quando apresenta a cultura dos dominados.Considerando as contribuições de Pierre Bourdieu (2002), podemos definir o conceito de habitus como um instrumento conceptual que nos auxiliará a pensar a relação e a mediação entre os condicionamentos sociais exteriores e a subjetividade dos ministros estudados, levando em conta que o habitus é uma matriz cultural que predispõe os indivíduos a fazerem suas escolhas, sendo que a semelhança ou a afinidade de habitusformao habitusde classe (feixe de relações semelhantes).Importante nessa discussão é o conceito de Estado em Bourdieu, que passaremos a apresentar.
image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176279O Estado em Pierre BourdieuPara Bourdieu (2007), o Estado seria resultante das categorias de pensamento dos agentes que nele atuam. Nessa perspectiva, os agentes, por meio de suas visões de mundo influenciam e são influenciados pelo Estado. No caso dos ministros dos períodos estudados, estes teriam poder de atuação no Estado, ajudando a construir categorias de pensamento reproduzidas por este. Para além de um Estado abstrato, o Estado em Bourdieu é um Estado encarnado e objetivado em agentes sociais; que influencia e sofre a influência de outros agentes e do Estado.Em complemento, os agentes sociais que participam do Estado são representados como encarnadores do Estado; um Estado constituído como um espaço relativamente autônomo em relação às forças sociais em luta pelo poder, e assegurando uma posição de árbitro nos conflitos políticos. Dizer que o Estado é legítimo em Bourdieu, é dizer que ele pode obter a submissão da ordem que impõe, tendocomo única forma de constrangimento, o poder simbólico. Assim, a obediência generalizada não passa pela coerção em Bourdieu. O reconhecimento da legitimidade da obediência é um ato de conhecimento, que é um ato de submissão inconsciente à ordem social, ouseja, é um ato de crença, mais ainda, de crença coletiva. Nessa perspectiva, Bourdieu nos alerta para o fato que o Estado não tem, necessariamente, a necessidade de dar ordens, ou de exercer coerção física para produzir um mundo social ordenado, “pelo menos enquanto puder produzir estruturas cognitivas incorporadas que estejam em consonância com as estruturas objetivas, assegurando assim a crença da qual falava Hume, a submissão dóxica à ordem estabelecida” (BOURDIEU, 1996, p.119). Ou seja, o poder do Estado é produzir e impor categorias de pensamento aos agentes do mundo social, cujas categorias são aplicadas a todas as coisas do mundo, inclusive para falar do próprio Estado. Portanto, Bourdieu nos chama a atenção para o fato que pensamos o Estado a partir do próprio pensamento criado pelo Estado, pois o Estado é ele mesmo nosso próprio pensamento. Mais concretamente, o pensamento do Estado não é somente um discurso ou um metadiscurso. Este pensamento se inscreve no mundo social, já que o Estado seria o mundo social em forma de discurso. Assim, o Estado produz e inculta estruturas cognitivas, segundo as quais a ordem social é percebida e incorporada, especialmente pelo sistema escolar, que inculta as estruturas cognitivas comuns, contribuindo de forma implícita para a produção e a reprodução da ordem social. Essas estruturas são tão naturalizadas, que os agentes sociais nem se dão conta do processo de produção de crenças.
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762710Mais do que legislar nas questões econômicas e políticas, o Estado legisla, em Bourdieu, nas questões cognitivas, ou seja, na produção de crenças, criando formas mentais de classificação e exercendo a violência simbólica sobre o mundo social. Nesse sentido, os projetos reinantes durantes os governos analisados (de cunho mais neoliberais oumais intervencionista) seriam resultantes de uma conjunturainternacional, mas sem ignorar avisão de mundo dos ministros engajados nos períodos (JARDIM; MOURA, 2022), que pode ter ligação com os capitais detidos pelos ministros.Desta feita, o Estado instaura através da ordem simbólica que impõe, duas formas de poder: a estrutura objetiva do Estado e a estrutura mental para pensar o Estado, que são homólogas. Assim, passa a existir na objetividade, nas estruturas materiais, e na subjetividade dos agentes,ou seja, nas representações sobre a forma de visão e de divisão de sistema de classificação. Na discussão de Bourdieu sobre o Estado, é importante não perder de vista a sua metáfora da “mão direita e da mão esquerda do Estado”, criada por este para referir-se ao Estado neoliberal francês, que nos anos 1980 teria feito uso da mão direita, dando maior autonomia aos mercados, do que uso da mão esquerda, que teria iniciado o seu processo de atrofiamento, devido ao pouco uso. Ainda para Bourdieu, a mão esquerda seria o Estado regulador, ou seja, a mão que possuiria maiores preocupações sociais e maior controle sobre o mercado.Essa metáfora é importante quando formos olhar os dados dos ministros que compuseram o Estado nos governos estudados. Por fim, é considerando a importância do Estado não somente institucional, mas, sobretudo cognitiva, quepassamos a apresentar um resumo dos principais pontos dos governos Cardoso e Lula, nos quais os ministros analisados atuaram. Anos Cardoso e Lula: breve aproximação sobre os projetos reinantes durante os períodosAnos Cardoso (1994-2001)Diante do referencial teórico apresentado, os governos Cardoso e Lula serão estudados nesse artigo, considerando que todo Estado tem o poder de produzir e impor categorias de pensamento aos agentes do mundo social, cujas categorias são aplicadas a todas as coisas do mundo, inclusive para falar do próprio Estado e das decisões tomadas pelos agentes do Estado (BOURDIEU,2014). No que se refere ao Estado do período Cardoso, este defendeu o projeto de dar maior liberdade aos mercados, afastando o Estado das questões econômicas e sociais; além disso, se
image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762711baseou na teoria econômica ortodoxa, que defende a prioridade da economia e com forte ajuste fiscal, em detrimento das questões sociais. Esse conjunto de postulado se convencionou chamar de neoliberalismo; que, por sua vez, esteve em diálogo com os critérios exigidos por instituições internacionais, especialmente o Fundo Monetário Internacional (FMI), que apregoava a busca do superávitprimário, entendido como a diferença positiva entre as receitas e despesas do governo, excetuando os juros da dívida. A busca pelo superávitprimário, o controle da inflação e das contas públicas tornou-se o mantra do momento, sob uma óticaortodoxa do controle de gastos e uma reforma tributária progressiva. Em alguma medida, esse é o projeto defendido pelos ministros do governo Cardoso, de natureza neoliberal e mais focado no braço direito do Estado.Nesse contexto, o governo Cardoso -aquicompreendido com seus ministros, agentes encarnadores do Estado -foi favorável à estabilização macroeconômica com integração à globalização e à cooperação com investimento externo. Naquele cenário, a agenda de reforma do Estado esteve diretamente associada à orientação geral do ajuste macroeconômico, na direção do que Sallum (1999, p. 33) alertou: “Para a corrente neoliberal dominante a prioridade era a estabilização dos preços”.Segundo Santos (2000), no ano de 1995, já com o Plano Real em curso e com paridade em relação ao dólar, o governo Cardoso buscou conter a inflação causando um desequilíbrio na balança comercial, ocasionando um nível de falência das empresas nacionais sem precedentes e utilizando do desemprego (contenção de consumo) como um instrumento de controle da inflação. No início, com uma valorização de 15% frente ao dólar e com uma inflação maior que a americana, a estratégia levou a uma contínua valorização do real até fevereiro de 1995. (SANTOS, 2000). A política monetária era utilizada para a estabilização de condições econômicas, buscando a atração de capitais internacionais de curto prazo para financiar o constante desequilíbrio em conta corrente, fortemente dependente do cenário internacional e da taxa de juros americana. O governo lançou mão de aumento de juros e restrição de crédito para conter a demanda.Assim, devido às jámencionadas políticas de abertura para conter a inflação, houve um número expressivo de pedidos de falência, por conta de asempresas não estarem preparadas para essa abertura. Países asiáticos com vantagem cambial, além dos Estados Unidos e países europeus passaram a exportar significativamente ao país.Com foco total nas questões econômicas, esse projeto neoliberal objetivou-se em iniciativas que mudaram institucionalmente a relação entre Estado e mercado, de forma a quebrar com os arranjos legais do Estado nacional-desenvolvimentista varguista. Naquele
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762712contexto, o governo Cardoso passou a defender que o Estado não possui função empresarial, as quais deveriam ser da iniciativa privada; assim, suas finanças deveriam ser equilibradas e com estímulos diretos às empresas privadas e não poderia mais sustentar privilégios para categorias de funcionários, dentre outras crenças(SALLUM.GOULART, 2016).Como desdobramento, a crença neoliberal reduziu a participação do Estado nas atividades econômicas e colocaram em pé de igualdade as empresas de capital nacional e estrangeiro, através da aprovação de um conjunto de leis no Congresso Nacional. Por fim, preservou o programa deabertura comercial, que já havia sido implantado durante o governo Collor, nele incluso o programa de privatizações e de venda de concessões tanto no âmbito federal como no estadual.Nesse processo, o Estado do governo Cardoso passou a atrair empresas multinacionais para os dois setores-chave da indústria, o automotivo e o de telecomunicações, não só modulando a legislação tributária e o sistema de financiamento, mas também através de convites. Este conjunto de incentivos contribuiu para o aumento na participação nos mercados brasileiros das empresas de capital estrangeiro em detrimento das empresas de capital nacional (SALLUM; GOULART, 2016).No âmbito do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) -principal agente financeiro da industrialização do país -foi notável a diversificação setorial das empresas atendidas. Além da indústria, passou também a financiar atividades comerciais (centros de compras), turísticas (parques de diversão) e agrícolas. Nesse sentido, as empresas estatais deixaram de ser os pilares da política estatal, como consequência do desinteresse do governo federal em desenvolver uma indústria nacional, já que o projeto neoliberal buscava atrair investimentos estrangeiros e promover sua associação com empresas nacionais.Por fim, as empresas estatais foram privatizadas ou os seus serviços foram cedidos às empresas privadas, caso das estradas de rodagem, cuja manutenção foi concedida para empresas privadas em troca da exploração dos serviços que prestam pedágio e arrendamento dos terrenos públicos que as margeiam. Esta redução das funções empresariais do Estado não eliminou, mas transformou o intervencionismo estatal. O Estado expandiu suas funções normativas e de controle, preservando a capacidade de moldar as atividades econômicas por meiodas compras de bens e serviços.O que concluímos disso é que mesmo em sistemas econômicos do tipo neoliberal, em que o mercado é visto como campo autônomo, capaz de criar suas próprias regras, como uma mão invisível, com suas “leis naturais”, ou seja, mesmo em economias onde as categorias de pensamento produzidas pelo Estado pressupõemo livre mercado e o individualismo, mesmo
image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762713nesses sistemas econômicos o Estado não deixa de fazer seu trabalho de dominação simbólica. No governo Cardoso, o trabalho de dominação simbólica tornou-se justamente criar categorias de pensamento que defendem a liberdade para o mercado e o fortalecendo daquilo que Bourdieu chamou de “mão direita do Estado”, em detrimento da sua “mão esquerda” (BOURDEU, 1997).Por essa perspectiva, não existe Estado ausente no governo Cardoso, já que o Estado está sempre presente, inclusive para legislar institucionalmente e cognitivamente a favor do mercado, dando total autonomia a este.Como desdobramento do argumento anterior, nos sistemas econômicos como nos governos Cardoso -onde a “mão direita” se sobrepõe à “mão esquerda”, o mercado ganhou uma aparente naturalidade, autonomia e sacralidade, tornando-se quase uma “entidade”, que passou a prescrever verdades absolutas e “mágicas” na solução de problemas, os quais teoricamente somente os economistas (de uma escola ligada à ortodoxia) teriam as soluções. A crença neoliberal vigente nas instituições e nos agentes que estavam nos postos de comando naquele momento, trouxe consequências sociais, como desemprego e aumentoda pobreza.Governos Lula (2002-2009)Para Sallum e Goulart (2016), no governo Lula o liberalismo econômico do período Cardoso se manteve. Segundo Mesquita (2014), apesar de jamais ter formalmente abandonado o tripé macroeconômico básico estabelecido em 1999, o governo petista apresentou desvios em relação a este, no que se refere tanto aos objetivos de curto prazo, quanto às suasestratégias.Contudo, as linhas mestras do regime de política macroeconômica do governoCardoso (sistemas de metas de inflação, superávitsprimários e câmbio flutuante) foram mantidas pelo governo Lula, especialmente no primeiro mandato. É possível, todavia, identificar em seu segundo mandato certa flexibilização na gestão da política econômica até então vigente (JARDIM;ROSA, 2021; JARDIM;MOURA, 2022). Nessa direção, Grün(2014) afirma que após o escândalo do mensalão, o governo Lula deu uma guinada na política macroeconômica. Para Jardim (2015), mesmo que a defesa de um Estado intervencionista tenha se iniciado somente a partir de 2006, quando houve mudanças na composição do governo, especialmente a substituição de AntônioPalocci por Guido Mantega e de José Dirceu por Dilma Rousseff, as mudanças foram reforçadas durante a crise de 2008, a partir do investimento no mercado interno, concretizado no aumento do crédito na economia, visando ao aumento do consumo das famílias e na disponibilidade de crédito dos bancos,
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762714especialmente os bancos públicos (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, especialmente).Ainda segundo Jardim (2015), a política fiscal adotada pelo governo Lula a partir de 2008 -quando iniciou a crise dos suprimemundial -, foi pautada pelos estímulos ao mercado, tais como a introdução de mecanismos de crédito bancário,que permitiu que os assalariados registrados e aposentados do setor privado, pertencentes ao Instituto Nacional da Previdência Social (INSS), tivessem acesso a empréstimos com custos inferiores aos usuais (“empréstimo consignado”), mediante desconto em seus salários ou aposentadorias.Outra estratégia foi o investimento dos recursos dos fundos de pensão no PAC, gerando emprego e renda, especialmente no setor da construção civil, que passou a empregar beneficiários do programa bolsa família (JARDIM, 2007; JARDIM, 2009; JARDIM, 2013).Portanto, durante a crise de 2008, tentando proteger o Brasil dos impactos externos, o governo Lula aumentou os incentivos de duas maneiras: desoneração de impostos e concessão de financiamento subsidiado às empresas, adotando a chamada política expansionista para estimular a economia e o consumo dos brasileiros.Nessa direção, o projeto vigente foi a de forte presença do Estado, especialmente na criação do mercado interno. Dentre as estratégias visando a desenvolver o mercado interno, citamos as medidas que incluem a redução da taxa de juros básica pelo Banco Central, tais como: medidas para estimular o crédito; postergação do recolhimento de impostos para aumentar a capitalização das empresas e evitar problemas de liquidez das unidades produtivas; redução de impostos para estimular o consumo; fortalecimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como indutor aos investimentos públicos no setor produtivo; ampliação das funções do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), que antes emprestava dinheiro somente para as grandes empresas ou era financiador de privatizações no governo Cardoso e nesse contexto passou a emprestar para as pequenas e médias empresas; ampliação do Conselho Monetário Nacional (CMN); e alteração da regulamentação do sistema financeiro de caráter preventivo. Da mesma forma, programas sociais tais como o Programa Bolsa Família foi mantido, e houve ampliação do número de beneficiários do programa, além de aumentos pontuais do salário-mínimoduranteo período.Ainda sobre a construção do mercado interno, o governo fez a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados, favorecendo os setores ligados aos materiais de construção, às montadoras e à linha branca dos eletrodomésticos, estimulando o consumo e a geração de novos postos de trabalho nesses setores.
image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762715Parte do projeto intervencionista, o governo promoveu, no mesmo período, a redução da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), para elevar a venda de motocicletas e, ainda, aumentou o IPI dos cigarros, visando compensar a perda na arrecadação. A estratégia de investir no mercado interno esteve sustentada no discurso de que "O Brasil pode compensar a retração do mercado mundial pelo fortalecimento do mercado doméstico" (MANTEGA, Inovação Unicamp, 29/8/2008).Além de implantar a redução de diversos tipos de impostos sobre produtos industrializados e fomentar o microcrédito via bancos público, o governo utilizou os bancos públicos para recuperar o crédito no país, oferecendo linhas de crédito e dando incentivos financeiros ao BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, para que estes fornecessem crédito para as empresas de diversos setores da economia a baixas taxas de juros (D'AGOSTINO, 2012).O governo ampliou a intervenção estatal através de mecanismos considerados heterodoxos, destinados a oferecer financiamentos produtivos em longo prazo e com juros baixos para as obras do PAC; buscou estimular as empresas estatais que não foram privatizadas no governo Cardoso (caso daEletrobras, por exemplo) e permitiu que as mesmas se associassem às empresas privadas para aumentar os investimentos com recursos do Tesouro; finalmente, o BNDES redirecionou suas prioridades para investimentos estruturais, sob a lógica do desenvolvimentode empresas nacionais, diferente do governo anterior, cujo projeto privilegiou o financiamento das privatizações das empresas nacionais.Por fim, buscou incentivar a competitividade das empresas brasileiras em relação às multinacionais que operavam no país, além de incentivar as companhias nacionais a se expandirem para o exterior.Parte das suas estratégias para alavancar as indústrias brasileiras, o governo criou a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), com foco em opções estratégicas (tecnologias de informação e comunicação, semicondutores, fármacos e software), apostando em setores vanguardas, como a biotecnologia ou a nanotecnologia. Para além de um projeto de desenvolvimento puramente econômico, o governo Lula apresentou elementos sociais na definição do seu projeto de desenvolvimento, com forte presença do Estado (JARDIM, 2007), já que apesar da forte presença das finanças no governo Lula, estas estiveram sob o controle do Estado. Houve ainda, a suspensão do programa de privatização e posterior criação das Parcerias Público-Privadas (PPP), em 2004, visando a captar recursos para a implantação das obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762716Como desdobramentos da política acima, o governo Lula trouxe proteção às empresas de capital nacional, especialmente via BNDES e melhor distribuição da renda e proteção aos trabalhadores mais pobres, por meio de estratégias de ampliação do acesso à educação superior com destaque para o Programa Universidade para Todos (PROUNI), para o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), para a Restruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e a política de cotas. No conjunto, esses programas buscaram a inclusão do jovem pobre em espaço considerado até então de elite, as universidades, com foco para a universidade pública, colocando em destaque a importância cognitiva e institucional da política de cotas.Por fim, durante seu governo, especialmente o segundo, Lula defendeu um projeto de governo no qual a atuação do Estado como articulador e indutor de políticas públicas. Por ocasião da crise de 2008, Lula declarou: "Costuma-se dizer que o Estado só atrapalha e, quando aconteceu a crise [de 2008], aqueles que pareciam deuses da economia procuram o Estado, que não sabia nada, para salvá-los” (O GLOBO, 26/3/2009). ACM: apresentando o protocolo de pesquisa Os dados das trajetórias dos ministros foram analisados a partir da ACM, seguindo o protocolo a seguir:1.Para a elaboração da ACM, criamos um banco de dados excelcom as trajetórias de 151 ministros titulares dos períodos estudado; mapeamos as trajetórias no CPDOC, da FGV.2.Em seguida, criamos as variáveis que direcionam esse artigo: para falar de capital social, olhamos as origens sociais dos ministros; para falar de capital cultural, olhamos a escolarização, passagem pelo internacional, tipo de escola de economia pela qual passou (se mais ortodoxa ou mais heterodoxa), se ganhou prêmio,se têm livros escritos etc. Para o capital econômico, ampliamos a noção de capital econômico de Pierre Bourdieu eolhamos a ocupação dos pais (que nos dá uma noção da classe de origem), uma vez que não temos dados sobre patrimônio.3.Os dados foram rodados no software R, utilizando o pacote FactoMineR, para Análise de Correspondência Múltipla dos Dados, análise de agrupamentos (cluster) e também elipses, que ajudam a analisar uma variável fixada e comparar na própria ACM como ela se comporta em relação às demais variáveis4.Comoresultado da ACM, temos uma redução da dimensionalidade de dados, em que as dimensões dos eixos são construídas com base nas variáveis com maior variância, em que a distância entre indivíduos representam distâncias de propriedades sociais; o clusterajudaa
image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762717enxergar quais indivíduos tem características próximas e as elipses permitem ver, com a identificação por cores, como variáveis de interesse se comportam.Dados da pesquisaPrimeiramente, demonstramos apenas a nuvem das variáveis categóricas ativas, de maneira a compreender onde os indivíduos estarão situados com respeito aos capitais. Foram selecionadas apenas as 100 variáveis categóricas que mais contribuem, sendo que para nós, a ausência de informações para alguns agentes, já é um dado em si; ou seja, os dados disponíveis representam agentes que tem maior capital cultural, em detrimento de agentes que não tem esse capital e que, portanto, não tem dados familiares, pessoais e profissionais disponíveis publicamente. Entendemos que famílias com maior capital cultural teria maior sensibilidade para a produção das biografias dos familiares do que aqueles com menor capital, que não dispõe de interesse cognitivo para produção e manutenção da herança simbólica da família.Teremos, portanto, uma ACM entre os indivíduos com dados ausentes (lado esquerdo do gráfico), quadrante superior direito (indivíduos de maior capital) e quadrante inferior direito (indivíduos de menor capital). Para facilitar a interpretação do gráfico, foi elaborada a tabela de siglas abaixo, com as variáveis que destacamos, primeiramente do quadrante superior direito:Tabela 1CapitalSigla/descriçãoCapital cultural -> acadêmicoun_pub-estudou em universidade pública na graduaçãoCurso_econ -graduação em economiacurso_cien_pol&hum -graduação em ciência política e outros cursos em ciências humanasprof_econ -professor de economia em universidadesform_pgr_s -fez pós graduaçãostrictu -fez mestrado ou doutoradolato -fez especializaçao
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762718Capital simbólicocirc_inter_s -tem circulação internacionaleua -circulação internacional nos Estados Unidoseur -circulação internacional na Europadec_80&90 -anos em que fez a pós graduaçãodec_60&70 -anos em que fez a pós graduaçãoproj_impl_tip_fiscal -projetos implementados nos ministérios com foco em dominância fiscal (mão direita)data_form -data de formatura na graduaçãoFonte: Elaborado pelos autoresA tabela, a seguir, serve de referência para ler as siglas importantes no quadrante inferior direitoTabela 2CapitalSigla/Descriçãocapital culturalcurso_grad_adm-curso de graduação em administraçãoprof_pai_trab_brac -pai trabalhador braçalprof_mae_prof_lib -mãe profissional liberalprof_mae_out -mãe com outras profissõescapital simbólicopmdb_s -faz parte do partido MDBpt_s-faz parte do partido dos trabalhadorespsdb_n -não faz parte do PSDBprof_prof_lib -profissionais liberaisocup_conjunc_func_pub -carreira no funcionalismo públicoProj_impl_tip_estrutura -projetos mais ligados a infra-estrutura (mão esquerda)capital econômicoclass_baix -oriundo de classes sociais de baixo capital econômicoFonte: Elaborado pelos autores
image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762719Figura 1As 100 variáveis categóricas ativas que mais contribuem para a distinção entre os indivíduosFonte: Elaborado pelos autoresComo é possível observar, no quadrante superior direito, temos os ministros ligados ao governo Cardoso, com maior capital cultural, em geral com graduação em economia, mestrado e doutorado nos Estados Unidos e Europa; alguns são professores de economia em universidades e seus projetos estão mais ligados a uma perspectiva de dominância fiscal (braço direito do Estado),mais ligado à ortodoxia econômica, bem como fizeram suas pós-graduações em períodos em que as teorias monetaristas estavam em voga nas principais universidades estadunidenses.No quadrante inferior, podemos observar que os ministros do governo Lula são emgeral filiados a partidos como MDB e PT, origens em classe social baixa, com vínculocom movimento social e sindical, com pai trabalhador braçal e mães profissionais do lar, são funcionários públicos em baixo e escalões intermediários e tem projetos mais ligados à infraestruturae social (braço esquerdo do Estado).A seguir, temos os ministros identificados por cor (vermelho para Lula e azul para Cardoso).
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762720Figura 2Fonte: Elaborado pelos autoresComo podemos observar, os ministros do governo Lula estão em sua maioria no quadrante inferior direito, de menor capital, ao passo que os ministros de Cardoso estão na maioria no quadrante superior direito (maior capital).A seguir, temos um cluster de indivíduos que mostram os três agrupamentos (levando-se em conta que há agentes que têm capitais homólogos na fronteira).
image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762721Figura 3Fonte: Elaborado pelos autoresAgora focamos na análise dos capitais cultural e simbólico relacionado aos pais, com o suporte da análise da ACM com elipses. A seguir, temos o parentesco com pessoas da elite, classe média ou classe baixa do ponto de vista do capital econômico (origem social):
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762722Figura 4Fonte: Elaborado pelos autoresComo podemos observar no gráfico, no lado esquerdo do gráfico a ausência de dados indica provável pertencimento a classes sociais inferiores, visto que as elites têm em geral seus dados mais publicizados em dados secundários acessíveis. É possível observar a elipse azul (com eixo gravitacional mais sobreposto no quadrante superior direito), onde há predominância de ministros do governo Cardoso, que em geral tem familiares mais ligados à elite, ao passo que há mais familiares da classe média e popular entre os ministros do governo Lula, bem como a maioria dos que estão com dados ausentes,também estão no quadrante inferior direito e lado esquerdo; a maioria deles ligados ao governo Lula.A seguir, temos a ACM como elipse apresentando a profissão paterna:
image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762723Figura 5Fonte: Elaborado pelos autoresPodemos observar a predominância de pais trabalhadores braçais e profissionais público de baixo escalão no quadrante inferior direito, ligado a Lula; e a predominânciano quadrante superior direito de funcionários públicos de carreira. Com respeito à universidade, a predominância é de graduação em universidades públicas. Com respeito aos cursos temos:
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762724Figura 6Fonte: Elaborado pelos autoresComo se pode observar, no governo de Cardoso há uma predominância de economistas e engenheiros ao passo que no governo Lula há uma maior diversidade, com predominância de administradores, ciências humanas, médicos e militares. Com respeito aos ministérios, o pertencimento foi classificado em braço direito (governo Cardoso) e braço esquerdo (governo Lula) do Estado.A seguir temos as profissões:
image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762725Figura 7Fonte: Elaborado pelos alotesÉ possível ver que predominantemente os ministros do governo Lula assumem mais cargos políticos e também profissionais liberais, ao passo que os do governo Cardoso atuavam no setor privado como economistas (instituições financeiras ou setor público) e engenheiros (parte reconvertidos às finanças).
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762726Algumas AnálisesA aplicação da ACM sugere, pelas categorias analisadas, que as ascendências dos ministros Lula são majoritariamente da baixa classe média e boa parte da classe popular, já que a profissão dos pais dos ministros é de origem popular (agricultor, manicure, donade casa, faxineira, costureira, mecânico).A ACM mostra algo comum entre quase todos os agentes, o que estamos denominando provisoriamente comohabitus de classe(BOURDIEU, 1996). Ou seja, com poucas exceções, todos os agentes são filiados e/ou simpatizantes do Partido dos Trabalhadores (PT), ligados a movimentos sociais e são oriundos de ocupações técnicas.Por outro lado, os ministros do governo Cardoso possuem origem social de classe média alta (médicos, advogados, fazendeiros, diplomatas, empresários) e a circulação internacional é quase que uma regra para esse grupo. Aqui temos um habitus de classemais próximo do da elite.Lembramos que o habitus é marcador simbólico que pode expressar distinção ou desclassificação (BOURDIEU, 1979). No caso dos ministros Cardoso expressa distinção quando mostra a cultura dominante; no caso dos ministros Lula expressa, desclassificaçãoquando apresenta a cultura dos dominados.Os dados permitem sugerir que existe forte distinção entre os ministros analisados eessa distinção está marcada, em especial, pela passagem pelo mercado no caso dos ministros Cardoso e por participação em movimentos sindicais e sociais, no caso dos ministros Lula. Como observamos na revisão bibliográfica, o governo Cardoso foi mais engajamento em um projeto neoliberal e o governo Lula em um projeto mais intervencionista. O projeto neoliberal ou intervencionista orquestra com as origens sociais dos ministros, já que os ministros Cardoso estiveram mais envolvidos em projeto ligados ao braço direito do Estado (ajuste fiscal, busca do superávit, projeto de desenvolvimento com mais autonomia do mercado), enquanto os projetos dos ministros Lula estiveram mais ligados ao braço esquerdo do Estado (investimento em política social; apoio aos bancospúblicos e projeto de desenvolvimento de natureza desenvolvimentista). Nesse sentido, a aplicação da ACMN permite defender que os ministros Lula seriam menos sensíveis ao projeto neoliberal, já que a socialização destes em espaços, com pessoas e valores que estimulam o contato com o projeto neoliberal, foi mais restrita do que para os ministros do governo Cardoso. Ao contrário, a ACM mostra que os ministros Cardoso possuem formação que os enraíza no projeto neoliberal e em crenças neoliberalizantes, adquiridas em
image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762727passagens pelas universidades americanas e em socialização em espaços sensíveis esse tipo de projeto.Em diálogo com Bourdieu (2006) apontamos que as escolhas dos ministros se dão não só subjetivamente, mas estão circunscritas a elementos históricos, culturais e, principalmente, a um campo dado de possibilidades.As prioridades se darão de acordo com os recursos herdados e construídos socialmente dentro de histórias singulares de vida.Portanto, ainda que não seja objetivo dessa pesquisa, o estudonos permitiu entender, a partir dos capitais dos ministros, suas escolhas e engajamentos em projetos para o desenvolvimento do Brasil. Considerações finais Por meio da ACM, buscamos verificar empiricamente as distinções existentes entre os ministros dos períodos Cardoso e Lula, identificando os principais capitais detidos por esses ministros. Após aplicação da ACM, constatamos baixo capital cultural, econômico e simbólico nos ministros Lula, assim como um habitus mais próximo das classes populares e médias.Identificamos, também, uma maior participação em projetos de infraestruturae intervencionismo estatal.No caso dos ministros Cardoso, identificamos um forte capital econômico, cultural e simbólico, passado de geração a geração, configurando aquilo que estamos chamando de habitusde classe mais próximo das elites. Considerandoa discussão de Bourdieu (2006)sobre o Estado, na qual o autor afirma que por meio do sistema de classificação, o Estado molda as estruturas mentais e impõe princípios de visão e de divisão comuns e formas de pensar, sugerimos, com base na revisão bibliográfica, que mostra maior sensibilidade neoliberal no governo Cardoso e sensibilidade intervencionista no governo Lula, que o governo Lulacoordenou os mercados, produzindo bens e serviços por meio de empresas estatais e parcerias com o capital privado; implantou projetos com base nos recursos oriundos do mercado financeiro -mais especialmente dos fundos de pensão, via emissão de títulos públicos e por meio de investimentos diretos nas empresas -assim como coordenou certa regulamentação, “domesticação” do mercado financeiro (JARDIM, 2009), em diálogo com políticas econômicas heterodoxas. Por outro lado, em diálogo com a doxainternacional vigente, o governo Cardoso operou a privatização das estatais, em nome da propalada eficiência do Estado e deu maior espaço para as empresas estrangeiras, em detrimento da política de valorização das empresas públicas, dos bancos públicos e do mercado interno nacional. Assim, o governo Cardoso manteve uma
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762728política econômica em diálogo com o capital internacional, o que só foi possível porque o Estado legislou todo o aspecto jurídico que possibilitou a efetivação do projeto neoliberal. Concluímos que para a efetivação de um projeto ou outro, a adesão e engajamento dos ministros foi fundamental e que, em alguma medida, o engajamento neoliberal ou intervencionista orquestra com os capitais e a posição no espaço social ocupada por eles.REFERÊNCIASALVES, T. Prouni: Revolução simbólica na vida dos beneficiários. 2016. Dissertação (Mestrado em em Ciências Sociais) Universidade Estadual Paulista, Araraquara, SP, 2016.BERTONCELO, E. Construindo espaços relacionais com a análise de correspondências múltiplas:Aplicações nas ciências sociais. Brasília: Enap, 2022.BOURDIEU, P. A demissão do Estado. In: BOURDIEU, P. (org.). A miséria do mundo. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1997.BOURDIEU, P. Contrafogos: Táticas para evitar a invasão neoliberal. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.BOURDIEU, P. Razões Práticas. Campinas, SP: Papirus, 1996.CODATO, A;FRANZ, P. Recrutamento ministerial no Brasil: Comparando as presidências de FHC e Lula. Brasília, 2017. n. 22, p. 44-62.D’ARAUJO, M. C. Os ministros da Nova República.Notas para entender a democratização do Poder Executivo. In: CONGRESSO CONSAD DE GESTÃO PÚBLICA, 2., 2009, Brasília. Anais eletrônicos [...]. Brasília: Consad, 2009.GREENACRE, M.; BLASIUS, J. Multiple correspondence analysis and related methods. Londres; Nova Iorque: Chapman & Hall. CRC, 2006.GRUN, R. “Convergência das Elites e Inovações Financeiras: A GC no Brasil”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 20, n. 58, p. 67-90, 2005.HUSSON,F.; JOSSE, J. Multiple correspondence analysis. In: BLASIUS, J.; GREENACRE, M. Visualization and verbalization of data. Boca Raton: CRC Press, 2014.JARDIM, M. C.; MOURA, P. J. C. Entre a ortodoxia e a heterodoxia: disputa simbólica nos governos petistas (Lula e Dilma) para a imposição da doxa econômica. Revista Novos Rumos Sociológicos, v. 9, n. 16, ago./dez. 2021.JARDIM, M. C.; ROSA, T. Governo Cardoso (1995-2002) e Governo Lula (2003-2010): Homologia entre Trajetórias dos Ministros e Crenças Econômicas Estatais Vigentes. Revista Tomo, n. 39 jul./dez. 2021.
image/svg+xmlOs capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinçãoRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762729JARDIM, M. C.; SILVA, M. R. Programa de aceleração do crescimento (PAC): Neodesenvolvimentismo? Laboratório Editorial da UNESP, Selo Acadêmico 2015. Disponível em: http://www.culturaacademica.com.br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=532. Acesso em: 10 jan. 2015.JARDIM. M. C. “Domesticação” e/ou “Moralização do Capitalismo” no Governo Lula: Inclusão Social Via Mercado e Via Fundos dePensão”.DADOS Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 52, n. 1, p. 123 a 159, 2009.JARDIM. M. C. Entre a solidariedade e o risco: Sindicatos e fundos de pensão em tempos de governo Lula. 2007. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) Universidade Federal de São Carlos, SP, 2007.LE ROUX,B.; ROUANET,H. Multiple correspondence analysis. Thousand Oaks: Sage, 2010.MESQUITA, M. A política econômica do governo Dilma: A volta do experimentalismo. In: Sob a luz do sol: Uma agenda para o Brasil -IEPE / CdG. Centro de Debates de Políticas Públicas, 2014. p. 3-15.PROGRAMA DE GOVERNO DO PT. Um Brasil para todos: Crescimento, emprego e inclusão social. Disponível em: www.pt.org.br. Acesso em: 20 out. 2002.SALLUM, B. O Brasil sob Cardoso: Neoliberalismo e desenvolvimentismo. Revista Tempo Social, 1999.SALLUM,B.;GOULART,J. O Estado brasileiro contemporâneo: liberalização econômica, política e sociedade nos governos FHC e Lula. Revista Rev. Sociol. Polit., v. 24, n. 60, p. 115-135, 2016.
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM e Márcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762730Como referenciar este artigoJARDIM, M. C.;SILVA, M. R. Os capitais detidos por ministros e ministras dos governos Cardoso e Lula: Mapeando a distinção.Rev. Sem Aspas, Araraquara, v.11, n.esp.1, e022018,2022. e-ISSN: 2358-4238. DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.17627Submetido em:12/08/2022Revisões requeridasem:15/09/2022Aprovado em:20/11/2022Publicado em:26/12/2022Processamento e edição: Editora Ibero-Americana de Educação.Correção, formatação, normalização e tradução.
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176271CAPITALS HELD BY MINISTERS OF CARDOSO AND LULA GOVERNMENTS: MAPPING THE DISTINCTION1OS CAPITAIS DETIDOS POR MINISTROS E MINISTRAS DOS GOVERNOS CARDOSO E LULA: MAPEANDO A DISTINÇÃOCAPITALES EN MANOS DE MINISTROS Y MINISTROS DE LOS GOBIERNOS DE CARDOSO Y LULA: MAPEANDO LA DISTINCIÓNMaria Chaves JARDIM2Márcio Rogério da SILVA3ABSTRACT: Lula's return as president of the republic, in the October 2022 elections, revitalizes a theme that has never been out of fashion in the social sciences, the study of the Lula governments, especially in comparison with the Cardoso governments. The article seeks to aim at the main capitals held by the ministers of the State of the Cardoso and Lula periods, specifying the position occupied in the social space and the distinction. The study of the capitals held by these can add efforts to studies that seek to understand this period of contemporary history. In general, it was possible to conclude that the ministers of the Cardoso government, from the point of view of position, have higher cultural, economic and symbolic capitals from the perspective of the economic mainstream, configuring an elite habitus, while the Lula ministers have less economic, cultural and symbolic capital, constituting a more popular habitus. Towards this objective, we conducted a study of the trajectory of these ministers and then applied the ACM. The data were analyzed from the relational and praxiological sociology of Pierre Bourdieu.KEYWORDS: Cardoso government and Lula government. Ministers. Distinction. Capital. ACM.RESUMO:O retorno de Lula como presidente da república, nas eleições de outubro de 2022, revitaliza um tema que nunca esteve fora de moda nas ciências sociais, o estudo dos governos Lula, especialmente em comparação com os governos Cardoso. O artigo busca objetivar os principais capitais detidos pelos ministros e ministras do Estado dos períodos Cardoso e Lula, especificando a posição ocupada no espaço socia e a distinção. O estudo dos capitais detidos por estes pode somar esforços aos estudos que buscam entender esse período da história contemporânea. De forma geral, foi possível concluir que os ministros do governo Cardoso, do ponto de vista da posição, têm capitais culturais, econômicos e simbólicos mais elevados sob a ótica do mainstream econômico, configurandoum habitus de elite, ao passo que o os ministros Lula possuem menor capital econômico, cultural e simbólico, constituindo um 1This article was written based on research funded by the São Paulo Research Foundation (FAPESP), process nº 2014/11804-6 and CNPQ. We appreciate the indispensable support to our scientific activities.2São Paulo State University(UNESP), Araraquara SPBrazil. Associate Professor at the Department of Social Sciences. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5715-1430. E-mail: majardim@fclar.unesp.br3Federal University ofSão Carlos (UFSCar), Lagoa do Sino SP Brazil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8176-1551. E-mail:marciosilva@ufscar.br
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM andMárcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176272habitus mais popular. Para tanto, realizamos estudo de trajetória desses ministros e em seguida, aplicamos a ACM. Os dados foram analisados a partir da sociologia relacional e praxiológica de Pierre Bourdieu.PALAVRAS-CHAVE:Governo Cardoso e governo Lula. Ministros. Distinção. Capitais. ACM. RESUMEN: El regreso de Lula como presidente de la república, en las elecciones de octubre de 2022, revitaliza un tema que nunca ha pasado de moda en las ciencias sociales, el estudio de los gobiernos de Lula, especialmente en comparación con los gobiernos de Cardoso. El artículo busca apuntar a las principales capitales ocupadas por los ministros y ministros del Estado de los períodos Cardoso y Lula, precisando la posición ocupada en el espacio social y la distinción. El estudio de los capiteles que poseen estos puede sumar esfuerzos a los estudios que buscan comprender este período de la historia contemporánea. En general, se pudo concluir que los ministros del gobierno de Cardoso, desde el punto de vista de la posición, tienen capitales culturales, económicos y simbólicos superiores desde la perspectiva de la corriente económica dominante, configurando un habitus de élite, mientras que los ministros de Lula tienen menos capital económico, cultural y simbólico, constituyendo un habitus más popular. Para ello, realizamos un estudio de la trayectoria de estos ministros y luego aplicamos la ACM. Los datos fueron analizados a partir de la sociología relacional y praxiológica de Pierre Bourdieu. PALABRASCLAVE: Gobierno Cardoso y gobierno Lula. Ministros. Distinción. Capital. ACM.IntroductionLula's return as president of the republic, in the October 2022 elections, revitalizes a theme that has never been out of fashion in the social sciences, the study of Lula's presidential terms, especially in comparison with the Cardoso governments. The interest in these two periods is so great that there is already a tradition of studies about them, often comparing these two moments in the democratic history of Brazil. Our article is interested in studying these two governments, by comparing the capital held by their respective ministers.It is important to say that in the field of sociology, initiatives in studies on ministers are rare, a topic that has been of great interest to political science, especially research on the selection process and on the political and social trajectories of ministers. According to Codato and Franz (2017), these studies seek to raise the profile of the ministerial elite of their respective countries, considering standard variables, such as age, gender, family heritage, schooling, professional trajectory, ideological orientation of the party, experience in legislature positions and holding positions at the top of the State or in private firms.
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176273Codatoand Franz (2017) add that in Brazilian presidentialism, ministers fulfill a dual role: ensuring that the formulation and implementation of public policies are in accordance with the guidelines of the President of the Republic and his party's program; and guarantee, through political transactions, party support so that these projects have support and chances of approval by the National Congress. In this sense, the selection of ministers and the formation of cabinets would have a strategic political role andfor the good conduct of the government of the President of the Republic.The same authors claim that research on cabinets in the French semi-presidential regime has observed the occupation of ministries by individuals increasingly accustomed to the logic of the political field. François and Grossman (2012) have noticed the presence of new professional types, with a decrease in the number of technocrats, experts and non-partisan ministers and the consequent increase in political cadres with training and completed careers in representative entities, whether in elected positions, whether in the bureaucracy of political parties or even in social movements (FRANÇOIS; GROSSMAN, 2012).In Brazil, D'Araújo (2009) did an X-ray of the Executive after redemocratization and identified that “ministers are experienced people in political life, with strong roots in parliamentary and executive activities at all levels of government” (D'ARAUJO, 2009, p. 25, our translation). According to Costa and Codato (2013), this would indicate the existence of political and administrative expertise as a basic condition for appointment to the ministry. Despite being appointment posts and not elective positions, ministries can also be a space for political professionalization, like legislative houses.Codato and Franz (2017) argue that in the case of Brazil, this stems from the importance of party criteria in ministerial recruitment. In multi-party presidentialism, the President of the Republic's party hardly manages to be the majority party in the National Congress, forcing the head of government to make alliances with other parties to gain political support and approve his bills, legislative amendments and provisional measures. To guarantee this support, the president needs to attract the other parties, other than his own, to the government, allocating them to the ministries or bureaucracies subordinated to them. This bargain between high-ranking political positions and parliamentary support in the two Houses of the Brazilian National Congress significantly impacts the composition of ministries (ABRANCHES, 1988) and reveals the strategies pursued by ministerial recruitment in Brazil.In our research agenda, the issue of ministers has gained prominence. In Jardim e Rosa (2021) a study was carried out on the biography of 151 ministers who worked between 1994 and 2010 in their portfolios. After presenting a cartography of the profile of all the ministers,
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM andMárcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176274through several variables, the article highlighted three of them: occupation of the ministers' parents and grandparents, the university they went to and their international circulation. The results indicate that there is homology between the ministers' individual trajectories and the prevailing economic beliefs of the period, expressed, above all, from neoliberal or developmentalist beliefs, disseminated in the universities through which they passed, in the format of economic theory; in Jardim e Moura (2022) the positions taken by ministers linked to the economic area of the Lula da Silva and Dilma Rousseff governments were compared, through their economic guidelines. The guiding principle of the article was to understand the economic decision-making of the PT governments, through the study of the biography of the ministers linked to the economy of the studied period, starting from the principle that economic and political decisions are rooted in sociocultural elements, namely, the worldview of ministers who make decisions, whose worldview would be socially manufactured.Silva (2017) and Silva and Grün (2019) show how the directors of Central Banks, appointed under coalition presidentialism, present positions and take positions from a more monetarist perspective (Cardoso government) or more neo-Keynesian, but expand the look at the economy of the narratives of the chief economists of financial institutions, who, at various times, through a performative pressure, manage to create or even perform in the directors positions that diverge from expectations about their positions and dispositions.Continuing with this study agenda already initiatedby us, on ministers, the article that we present seeks to objectify which capitals held the ministers of the State of the Cardoso and Lula periods, specifying the distinctions between them. For that, we carried out a trajectory study of these ministers and then applied the MCA. We believe that the study of their capitals and distinction can help us to locate their positions in the social space and the profile of these ministers. Although it is not our main objective, this could, to some extent, help us to understand the profile of the projects in which they were engaged.The article is divided as follows: in addition to this introduction and conclusion, in the next item we discuss the theoretical framework that inspires this research, based on Pierre Bourdieu's relational and praxiological sociology; then we will present a brief summary of the Cardoso and Lula governments, seeking to highlight the profile of existing projects in each government (whether more neoliberal or more interventionist); finally, we present and analyze our research data.
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176275The distinction rooted in social elements: the ownership of capital and the definition of habitusFor Bourdieu, the trajectory study, in dialogue with the MCA, helps us to map the capital held by a social agent. For the author, trajectories would be the constructed result of a system of relevant traits of an individual biography or a group of biographies (BOURDIEU, 1998); that is, a trajectory is the objectification of the relations between agents and forces presentin the field; a set of relationships can cause distinction and symbolic boundaries in the studied group. In Bourdieu (1998), there is no MCA analysis without a systematic study of trajectories.In turn, Multiple Correspondence Analysis (MCA) is part of a broader technique called Geometric Data Analysis (GDA), a statistical approach developed by the French mathematician Jean Paul Benzécri in the 1970s, with which Bourdieu worked. These works were important to counterbalance the statistical confirmatory models (GREENACRE; BLASIUS, 2006).According to Le Roux and Rouanet (2010), descriptive analysis precedes probabilistic modeling, not depending on the size of the data. Complementing this idea, for Bertoncelo (2022, p. 17, our translation) “social causality consists of the global effects of a complex structure of interrelationships, which cannot be reduced to the combination of multiple effects”.Concretely, the MCA is a spatial representation in the Cartesian plane of variables of great variance and individuals in a relational position between these variables and between them, in a way that this allows a reduction of data dimensionality, in which the distance between individuals represents normalized distances of social property, being, in this sense,of an exploratory nature (BERTONCELO, 2022).Therefore, the MCA is predictive, since once the structure of purposes and contrasts has been reconstructed, individuals can be projected into this dispersion space (HUSSON; JOSSE, 2014).Finally, Bertoncelo (2022) states that MCA has good results when we produce qualitative differentiations, in which the categories cannot be ordered directly. This means that in our case, for example, the number and complexity of the variables that make up the capital of the leading ministers cannot be hierarchized between dependent and independent variables in a clear way, given their volume and complexity. Based on these assumptions, Bourdieu was able, in his studies, to reconstruct the space of social positions (BOURDIEU, 2008), aiming at capitals and distinctions.Regarding the concept of capital in Bourdieu (1996; 2006), it is first necessary to say that capital is, in Bourdieu, a “resource” that can be owned and transmitted by an individual, a couple, an establishment, a community, or even a country. For the author, there are four types
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM andMárcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176276of capital: economic, cultural, social and symbolic, where the original capital would be linked to the family and the incoming capital would have to do with the reconversion in the social space.Economic capital corresponds to the notion of equity and is evaluated in monetary terms. Money from Pierre Bourdieu's perspective is symbolic. Economic capital in Bourdieu, can be converted into symbolic, social and cultural capital.Socialcapital is the set of personal relationships possessed by an agent, family and company, constituting a relationship network.Cultural capital was used by Bourdieu to explain social inequalities in educational and cultural matters. It is a multidimensionalset of skills (for example, mastery of language and calculation) and dispositions (a certain sensitivity to the world), which constitutes the embodied version of cultural capital. There are three embodied states of cultural capital in Bourdieu: 1) Corporal Hexis; 2) Institutionalized (through diplomas, works of art etc.) and; 3) Objectified: work of art, painting, music etc. Cultural capital would be responsible for forming taste, which in turn promotes distinction and reveals domination.The fourth and last capital, the symbolic capital, is defined by the “look” deposited (the value given) by society to a social agent, family, company. There is, therefore, a relational and collective dimension, since symbolic capital means recognition and prestige. In Bourdieu (1996) capitals exist in a relational way, since one can reinforce the other.According to Bourdieu's method, in order to measure the social origin of an agent and, therefore, his origin capital, it is fundamental to objectify the profession of the parents, especially the father, since in the text The contradictions of inheritance, from the book The Weight of the World(1993), Bourdieu shows the role of the family in the transmission of cultural heritage, with emphasis on the father, who, according to the author, would be most responsible for transmitting the inheritance to the heir.The same argument appears in Bourdieu and Passeron (2014, p. 28) for whom: “(...), social origin is, of all determinants, the only one that extends its influence to all domains and all levels of the students' experience and primarily the conditions of existence”. Thus, the school becomes the sole and total agent for the transmission of social positions. The idea that social origin, as well as legitimacy markers (symbolic capital, socialization processes) is natural, loses relevance in the face of Bourdieu's theses (1996; 2006), which shows the school's “magical” work, reproducing and valuing the culture formed in the ruling class.As Bourdieu (2006) demonstrates, familiarity with the legitimate culture the legitimate, dominant culture brings gains in school life, in the university field and in the labor
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176277market, favoring those who in early childhood had access to this legitimate culture, “as a direct experience", a "simple delight", at first, "outside school subjects", marked as "pedant". Thus, “the acquisition of legitimate culture through insensitive familiarization within the family tends to favor an enchanted experience of culture, which implies forgetting the acquisition and ignoring the instruments of appropriation” (BOURDIEU, 2006, p. 10, our translation).Another important issue in Bourdieu's sociology concerns the formal education received by social agents. The educational trajectory of individuals, basic and higher education and the institutions in which they studied, are constitutive although not exclusively of what Bourdieu called legitimate cultural capital.In Bourdieu (2014) there would be a correlation between the class of origin and the years of study, which is reflected in aspects such as age when they started studying, sex and the geographic issue. In the case of France, Bourdieu informs that the legitimate heirs enroll in prestigious courses at the best French universities, while the children of the popular classes -when they enroll in higher education -end up attending courses without much prestige. For the author, school aspirations unfold in objectivities referring to the reality of each social agent, that is, the choices are delimited according to the trajectoriesOn the above argument, Bourdieu defends in the book La Noblesse d´Etat: Grandes écoles et esprit de corps(1989), that in elite higher education courses, there is an action of “consecration” and a rite that produces a separate and sacred group, which occurs in a masked way, producing and reproducing nobility. Therefore, for Bourdieu (2007), the school system, before being characterized by a liberating mark, is one of the most intense forms of social conservation, as it tends to legitimize social inequalities based on cultural heritage.From this perspective, an act or an agent's choice cannot be explained by itself, since, according to the author, these acts are linked to the social context: in addition to suffering the social constraints of a group, they are associated with their individual experiences, family (social origin) and also their secondary socialization (university and other social spaces). The choices, therefore, do not only occur subjectively, but are circumscribed to historical and cultural elements and, mainly, to a given field of possibilities. Priorities will be given according to inherited and socially constructed resources within unique life stories.
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM andMárcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176278Habitus: expressing worldviewsIn Bourdieu, ownership of capital helps to generate a habitus, which in turn forms an agent's worldview, which is socially constituted. To this end, the individual trajectory of the agents helps build their habitus, which are INcorporated pre-dispositions (placed in the body and mind) by social agents throughout their socialization process. In this context, the habitusintegrates past experiences and acts as a matrix of perceptions, appreciations, actions, tastes and decision-making. This “matrix”, or set of provisions, provides the necessary schemes for the intervention of social agents in daily life, in a way that is not necessarily conscious.As the author treats, these dispositions are not fixed. Furthermore, they are neither the personality nor the identity of individuals: “habitusis an operator, a matrix of perception and not an identity or a fixed subjectivity” (BOURDIEU, 2002, p. 83, our translation). Being a product of history, the habitusis an open system of dispositions, permanently confronted with new experiences and permanently affected by them. It is durable, but not immutable (BOURDIEU, 2002, p. 83). It is a symbolic markerthat can express distinction or disqualification (BOURDIEU, 1979). It shows distinction when it expresses the dominant culture, which in turn contributes to the integration of the dominant class, through habitus, ensuring immediate communication between all its members and distinguishingthem from other social classes. It expresses disqualification when it presents the culture of the dominated.Considering the contributions of Pierre Bourdieu (2002), we can define the concept of habitusas a conceptual instrument that will help us to think about the relationship and mediation between external social conditioning and the subjectivity of the ministers studied, taking into account that the habitusis a cultural matrix that predisposes individuals to make their choices, and the similarity or affinity of habitusforms the class habitus(bundle of similar relationships).Important in this discussion is the concept of State in Bourdieu, which we will present.The State in Pierre BourdieuFor Bourdieu (2007), the State would be the result of the thought categories of the agents that act in it. From this perspective, agents, through their worldviews, influence and are influenced by the State. In the case of the ministers of the studied periods, they would have power to act in the State, helping to build categories of thought reproduced by it. In addition to an abstract State, the State in Bourdieu is a State embodied and objectified in social agents; that influences and is influenced by other agents and the State.
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.176279In addition, the social agents that participate in the State are represented as embodying the State; a State constituted as a relatively autonomous space in relation to the social forces in struggle for power and ensuring a position of arbiter in political conflicts. To say that the State is legitimate in Bourdieu is to say that it can obtain submission to the order it imposes, with symbolic power as the only form of constraint. Thus, generalized obedience does not pass through coercion in Bourdieu. The recognition of the legitimacy of obedience is an act of knowledge, which is an act of unconscious submission to the social order, that is, it is an act of belief, even more, of collective belief.From this perspective, Bourdieualerts us to the fact that the State does not necessarily have the need to issue orders, or to exercise physical coercion to produce an ordered social world, “at least as long as it can produce embodied cognitive structures that are in line with the objective structures, thus ensuring the belief that Hume spoke of, the doxicsubmission to the established order” (BOURDIEU, 1996, p. 119, our translation). That is, the power of the State is to produce and impose categories of thought to the agents of the social world, whose categories are applied to all things in the world, including talking about the State itself. Therefore, Bourdieu calls our attention to the fact that we think the State from the very thought created by the State, because the State is itselfour own thought. More concretely, the thought of the State is not just a discourse or a meta-discourse. This thought is inscribed in the social world, since the State would be the social world in the form of discourse. Thus, the State produces and inculcates cognitive structures, according to which the social order is perceived and incorporated, especially by the school system, which inculcates common cognitive structures, implicitly contributing to the production and reproduction of the social order. These structures are so naturalized that social agents are not even aware of the belief production process.More than legislating on economic and political issues, the State legislates, in Bourdieu, on cognitive issues, that is, in the production of beliefs, creating mental forms of classification and exercising symbolic violence over the social world. In this sense, the reigning projects during the analyzed governments (of a more neoliberal or more interventionist nature) would be the result of an international conjuncture, but without ignoring the worldview of the ministers engaged in the periods (JARDIM; MOURA, 2022), which may have a connection with the capital held by the ministers.This time, the State establishes, through the symbolic order that it imposes, two forms of power: the objective structure of the State and the mental structure to think about the State, which are homologous. Thus, it comes to exist in the objectivity, in the material structures, and
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM andMárcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762710in the subjectivity of the agents, that is, in the representations about the form of vision and division of the classification system.In Bourdieu's discussion of the State, it is important not to lose sight of his metaphor of the “right hand and the left hand of the State”, created by him to refer to the neoliberal French State, which in the 1980s would have used the right hand, giving greater autonomy to the markets, than the use of the left hand, which would have started its atrophying process, due to little use. Still for Bourdieu, the left hand would be the regulatory State, that is, the hand that would have greater social concerns and greater control over the market. This metaphor is important when looking at the data of the ministers who made up the State in the governments studied.Finally, it isconsidering the importance of the State, not only institutionally, but above all cognitively, that we begin to present a summary of the main points of the Cardoso and Lula governments, in which the analyzed ministers acted.Cardoso and Lula years: brief approximation on the prevailing projects during the periodsCardoso years (1994-2001)In view of the theoretical framework presented, the Cardoso and Lula governments will be studied in this article, considering that every State has the power to produce and impose categories of thought to agents in the social world, whose categories are applied to all things in the world, including speaking of the State itself and the decisions taken by State agents (BOURDIEU, 2014).Regarding the State of the Cardoso period, it defended the project of giving greater freedom to the markets, distancing the State from economic and social issues; moreover, it was based on orthodox economic theory, which defends the priority of the economy and with a strong fiscal adjustment, to the detriment of social issues. This set of postulates is conventionally called neoliberalism; which, in turn, was in dialogue with the criteria required by international institutions, especially the International Monetary Fund (IMF), which proclaimed the pursuit of a primary surplus, understood as the positive difference between government revenues and expenditures, excluding interest of the debt. The search for a primary surplus, control of inflation and public accounts became the mantra of the moment, from an orthodox perspective of expenditure control and a progressive tax reform. To some extent, this
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762711is the project defended by the ministers of the Cardoso government, of a neoliberal nature and more focused on the right arm of the State.In thiscontext, the Cardoso government -understood here with its ministers, agents embodying the State -was favorable to macroeconomic stabilization with integration to globalization and cooperation with foreign investment. In that scenario, the State reform agenda was directly associated with the general orientation of the macroeconomic adjustment, in the direction of what Sallum (1999) warned: “For the dominant neoliberal current, the priority was the stabilization of prices” (SALLUM, JR. 1999, p. 33, our translation).According to Santos (2000), in 1995, with the Real Plan in progress and with parity in relation to the dollar, the Cardoso government sought to contain inflation by causing an imbalance in the trade balance, causing an unprecedented level of bankruptcy of national companies and using unemployment (consumption restraint) as an instrument to control inflation.At first, with a 15% appreciation against the dollar and higher inflation than the US, the strategy led to a continuous appreciation of the real until February 1995. (SANTOS, 2000). Monetary policy was used to stabilize economic conditions, seeking to attract short-term international capital to finance the constant imbalance in the current account, strongly dependent on the international scenario and the US interest rate. The government resorted to raising interest rates and restricting credit to curb demand. Thus, due to the already mentioned opening policies to contain inflation, there was a significant number of bankruptcy filings, due to companies not being prepared for this opening. Asian countries with an exchange rate advantage, in addition to the United States and European countries, began to export significantly to the country.With a total focus on economic issues, this neoliberal project aimed at initiatives that institutionally changed the relationship between State and market, in order to break with the legal arrangements of the Vargas national-developmentalist State. In that context, the Cardoso government began to defend that the State does not have a business function, which should be the responsibility of the private sector; thus, its finances should be balanced and with direct stimuli to private companies and it could no longer sustain privileges for categories of employees, among other beliefs (SALLUM; GOULART, 2016).As a result, the neoliberal belief reduced the State's participation in economic activities and placed national and foreign capital companies on an equal footing, through the approval of a set of laws in the National Congress. Finally, it preserved the trade liberalization program,
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM andMárcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762712which had already been implemented during the Collor government, including the privatization program and the sale of concessions at both the federal and state levels.In this process, the State under the Cardoso government began to attract multinational companies to the two key sectors of the industry, automotive and telecommunications, not only by modulating the tax legislation and the financing system, but also through invitations. This set of incentives contributed to the increased participation in Brazilian markets of foreign capital companies to the detriment of national capital companies (SALLUM; GOULART, 2016).Within the scope of the National Development Bank (BNDES, Portuguese initials) -the main financial agent for the country's industrialization -the sectorial diversification of the companies served was remarkable. In addition to industry, it also financed commercial activities (shopping centres), tourism (amusement parks) and agriculture. In this sense, state-owned companies ceased to be the pillars of state policy, as a result of the federal government's lack of interest in developing a national industry, since the neoliberal project sought to attract foreign investment and promote its association with national companies.Finally, state companies were privatized, or their services were transferred to private companies, as is the case with the highways, whose maintenance was granted to private companies in exchange for the exploitation of the services they provide tolls and leasing of the public lands that border them. This reduction of the State's business functions did not eliminate but transformed state interventionism. The State expanded its normative and control functions, preserving the ability to shape economic activities through purchases of goods and services.What we conclude from this is that even in economic systems of the neoliberal type, in which the market is seen as an autonomous field, capable of creating its own rules, as an invisible hand, with its “natural laws”, that is, even in economies where the categories of thought produced by the State presuppose the free market and individualism, even in these economic systems the State does not stop doing its work of symbolic domination. In the Cardoso government, the work of symbolic domination became precisely the creation of categories of thought that defend freedom for the market and strengthening what Bourdieu called the “right hand of the State”, to the detriment of its “left hand” (BOURDEU, 1997). From this perspective, there is no absent state in the Cardoso government, since the state is always present, even to legislate institutionally and cognitively in favor of the market, giving it total autonomy.
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762713As a result of the previous argument, in economic systems as in the Cardoso administrations where the “right hand” overlaps the “left hand”, the market gained an apparent naturalness, autonomy and sacredness, becoming almost an “entity”, which it began to prescribe absolute truths and “magic” in the solution of problems, which theoretically only economists (from a school linked to orthodoxy) would have the solutions. The prevailing neoliberal belief in institutions and agents who were in command at that time, brought social consequences, such as unemployment and increased poverty.Lula governments (2002-2009)For Sallumand Goulart (2016), in the Lula government, the economic liberalism of the Cardoso period was maintained. According to Mesquita (2014), despite never having formally abandoned the basic macroeconomic tripod established in 1999, the PT government deviated from it, in terms of both short-term objectives and strategies. However, the main lines of the Cardoso government's macroeconomic policy regime (inflation targeting systems, primary surplusesand floating exchange rates) were maintained by the Lula government, especially in the first term.It is possible, however, to identify in his second term a certain flexibility in the management of the economic policy in effect until then (JARDIM; ROSA, 2021; JARDIM; MOURA, 2022). In this direction, Grün (2014) states that after the monthly allowance scandal, the Lula government shifted its macroeconomic policy. For Jardim (2015), even though the defense of an interventionist State only started in 2006, when there were changes in the composition of the government, especially the replacement of Antônio Palocci by Guido Mantega and José Dirceu by Dilma Rousseff, the changes were reinforced during the 2008 crisis, from investment in the domestic market, materialized in the increase of credit in the economy, aiming at increasing household consumption and the availability of bank credit, especially public banks (Banco do Brasil and Caixa Econômica Federal, especially).Also according to Jardim (2015), the fiscal policy adopted by the Lula government from 2008 -when the globalsuprimecrisis began -was guided by market stimuli, such as the introduction of bank credit mechanisms, which allowed wage earners registered and retired from the private sector, belonging to the National Institute of Social Security (INSS), had access to loans with lower than usual costs (“consignment loan”), through deduction from their salaries or pensions. Another strategy was the investment of pension fund resources in the PAC,
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM andMárcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762714generating jobs and income, especially in the civil construction sector, which began to employ beneficiaries of the Bolsa Família program (JARDIM, 2007; JARDIM, 2009; JARDIM, 2013).Therefore, during the 2008 crisis, trying to protect Brazil from external impacts, the Lula government increased incentives in two ways: tax reliefand granting subsidized financing to companies, adopting the so-called expansionist policy to stimulate the economy and consumption of Brazilians.In this direction, the current project was the strong presence of the State, especially in the creation of the internal market. Among the strategies aimed at developing the internal market, we mention the measures that include the reduction of the basic interest rate by the Central Bank, such as: measures to stimulate credit; postponement of tax collection to increase the capitalization of companies and avoid liquidity problems at production units; tax cuts to stimulate consumption; strengthening of the Growth Acceleration Program (PAC), as an inducer to public investments in the productive sector; expansion of the functions of the National Development Bank (BNDES), which previously lent money only to large companies or was a financier of privatizations in the Cardoso government and in this context started to lend to small and medium-sized companies; expansion of the National Monetary Council (CMN); and alteration of the regulations of the financial system on a preventive basis. Likewise, social programs such as the Bolsa Família Program were maintained, and there was an increase in the number of beneficiaries of the program, in addition to occasional increases in the minimum wage during the period.Still on the construction of the internal market, the government reduced the Tax on Industrialized Products, favoring sectors linked to construction materials, automakers and the white line of home appliances, stimulating consumption and the creation of new jobs in these sectors.As part of the interventionist project, the government promoted, in the same period, the reduction of the Contribution for the Financing of Social Security (COFINS), to increase the sale of motorcycles, and also increased the IPI on cigarettes, aiming to compensate for the loss in collection. The strategy of investing in the domestic market was based on the statement that "Brazil can compensate for the downturn in the world market by strengthening the domestic market" (MANTEGA, Inovação Unicamp, 29 August 2008, our translation).In addition to implementing the reduction of various types of taxes on industrialized products and encouraging microcredit via public banks, the government used public banks to recover credit in the country, offering lines of credit and giving financial incentives to BNDES,
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762715Banco do Brasil and Caixa Federal Economy, so that they could provide credit to companies from different sectors of the economy at low interest rates (D'AGOSTINO, 2012).The government expanded state intervention through mechanisms considered heterodox, designed to offer productive long-term financing with low interest rates for PAC works; sought to encourage state-owned companies that were not privatized in the Cardoso government (the case of Eletrobras, for example) and allowed them to associate with private companies to increase investments with Treasury resources; finally, the BNDES redirected its priorities towards structural investments, under the logic of the development of national companies, different from the previous government,whose project privileged the financing of the privatization of national companies. Finally, it sought to encourage the competitiveness of Brazilian companies in relation to multinationals operating in the country, in addition to encouraging national companies to expand abroad.As part of its strategies to leverage Brazilian industries, the government created the Industrial, Technological and Foreign Trade Policy (PITCE, Portuguese initials), focusing on strategic options (information and communication technologies, semiconductors, pharmaceuticals and software), betting on vanguard sectors, such as biotechnology or nanotechnology.In addition to a purely economic development project, the Lula government presented social elements in the definition of its development project, with a strong presence of the State (JARDIM, 2007), since despite the strong presence of finance in the Lula government, these were under state control. There was also the suspension of the privatization program and subsequent creation of Public-Private Partnerships (PPP), in 2004, aiming to raise funds for the implementation of infrastructure works of the Growth Acceleration Program (PAC, Portuguese intials).As a result of the above policy, the Lula government brought protection to national capital companies, especially via the BNDES and better distribution of income and protection for the poorest workers, through strategies to expand access to higher education, with emphasis on the University Program for Todos (PROUNI, Portuguese initials), for the Student Financing Fund (FIES, Portuguese initials), for the Restructuring and Expansion of Federal Universities (Reuni, Portuguese initials) and the policy of quotas. As a whole, these programs sought to include poor young people in a space considered elite until then, the universities, with a focus on the public university, highlighting the cognitive and institutional importance of the quota policy.
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM andMárcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762716Finally, during his government, especially the second, Lula defended a government project in which the State would act as an articulator and inducer of public policies. On the occasion of the 2008 crisis, Lula declared: "It is customary to say that the State only gets in the way and, when the [2008] crisis happened, those who looked like gods of the economy sought the State, which knew nothing, to save them” (O GLOBO, 26 March 2009, our translation).MCA: presenting the research protocolThe ministers' trajectories data were analyzed from the MCA, following the following protocol:1. For the elaboration of the MCA, we created an excel database with the trajectories of 151 titular ministers of the periods studied; we mapped the trajectories in CPDOC, from FGV.2. Next, we create the variables that guide this article: to talk about social capital, we look at the social origins of ministers; to talk about cultural capital, we look at schooling, passage through the international, type of economics school you went through (if more orthodox or more heterodox), if a prize was awarded, if were books written, etc. For economic capital, we expand Pierre Bourdieu's notion of economic capital and look at parents' occupation (which gives us a sense of class of origin), since we have no data on equity.3. The data were rotated in the R software, using the FactoMineR package, for Multiple Correspondence Data Analysis, grouping analysis (cluster) and also ellipses, which help to analyze a fixed variable and compare in the MCA itself how it behaves in relation to other variables4. As a result of the MCA, we have a reduction in the dimensionality of the data, in which the dimensions of the axes are built based on the variables with the highest variance, in which the distance between individuals represent distances from social properties; the cluster helps to see which individuals have similar characteristics and the ellipses allow to see, with the identification by colors, how variables of interest behave.Research dataFirst, we demonstrate only the cloud of active categorical variables, in order to understand where individuals will be located with respect to capitals. Only the 100 categorical variables that most contribute were selected, and for us, the lack of information for some agents is already a fact in itself; that is, the available data represent agents who have greater cultural
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762717capital, to the detriment of agents who do not have this capital and who, therefore, do not have family, personal and professional data publicly available. We understand that families with greater cultural capital would be more sensitive to the production of biographies of family members than those with less capital, who do not have a cognitive interest in the production and maintenance ofthe family's symbolic heritage.We will therefore have an MCA between individuals with missing data (left side of the graph), upper right quadrant (individuals with greater capital) and lower right quadrant (individuals with lower capital).To facilitate the interpretation of the graph, the table of acronyms below was prepared, with the variables that we highlight, first from the upper right quadrant:Table1Capitalacronym/descriptionCultural Capital -> academicun_pub-studied at a public university in graduationCurso_econ -graduation in economicscurso_cien_pol&hum -graduation in political science and other courses in human sciencesprof_econ -professor of economics at universitiesform_pgr_s -completed post-graduationstrictu -did a master's or doctoratelato -did specializationSymbolic Capital circ_inter_s -has international circulationeua -international circulation in the United Stateseur-international circulation in Europedec_80&90 -years in which you completed your postgraduate coursedec_60&70 -years you completed your postgraduate courseproj_impl_tip_fiscal -projects implemented in ministries with a focus on fiscal dominance (right hand)data_form -date of graduation in higher educationSource:Devised by the authorsThe table below serves as a reference to read the important abbreviations in the lower right quadrant
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM andMárcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762718Table2Capitalacronym/descriptionCultural capital curso_grad_adm -undergraduate course in administrationprof_pai_trab_brac -handyman fatherprof_mae_prof_lib -liberal professional motherprof_mae_out -mother with other professionsSymbolic capital pmdb_s-is part of the MDB partypt_s -is part of the workers' partypsdb_n -not part of PSDBprof_prof_lib -liberal professionalsocup_conjunc_func_pub -career in civil serviceProj_impl_tip_estrutura-projects more related to infrastructure (left hand)Economic capitalclass_baix -from social classes with low economic capitalSource:Devised by the authorsFigure1The 100 active categorical variables that most contribute to the distinction between individualsSource:Devised by the authors
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762719As can be seen, in the upper right quadrant, we have the ministers linked to the Cardoso government, with greater cultural capital, in general with a degree in economics, master's and doctorate in the United States and Europe; some are professors of economics at universities and their projects are more linked to a perspective of fiscal dominance (right arm of the State), more linked to economic orthodoxy, as well as they did their postgraduate studies in periods when monetarist theories were in vogue in the major US universities.In the lower quadrant, we can observe that ministers in the Lula government are generally affiliated with parties such as the MDB and PT, come from a lower social class, have links with social movements and trade unions, fathers who are manual workers and mothers who work at home, are civil servants at lower and intermediate levels and has projects more linked to infrastructure and social (left arm of the State). Next, we have the ministers identified by color (red for Lula and blue for Cardoso)Figure2Source:Devised by the authors
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM andMárcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762720As we can observe, the ministers of the Lula government are mostly in the lower right quadrant, with less capital, while the ministers of Cardoso are in the majority in the upper right quadrant (greater capital). Next, we have a cluster of individuals that show the three groupings (considering that there are agents that have homologous capitals on the frontier).Figure3Source: Devised by the authorsNow we focus on the analysis of the cultural and symbolic capital related to the parents, with the support of the MCA analysis with ellipses. Next, we have kinship with people from the elite, middle class or lower class from the point of view of economic capital (social origin):
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762721Figure4Source: Devised by the authorsAs we can see in the graph, on the left side of the graph, the absence of data indicates probable belonging to lower social classes, since the elites generally have their data more publicized in accessible secondary data. It is possible to observe the blue ellipse (with a more overlapping gravitational axis in the upper right quadrant), where there is a predominance of ministers from the Cardoso government, who in general have family members more connected to the elite, while there are more family members from the middle and popular classes among the ministers from the Lula government, as well as most of those with missing data, are also in the lower right quadrant and left side; most of them linked to the Lula government.Next, we have the MCA as an ellipse presenting the father profession:
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM andMárcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762722Figure5Source: Devised by the authorsWe can observe the predominance of fathers who are manual workers and low-level public professionals in the lower right quadrant, linked to Lula; and the predominance in the upper right quadrant of career civil servants.With respect to the university, the predominance is of graduation in public universities. Regarding the courses we have:
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762723Figure6Source: Devised by the authorsAs can be seen, in Cardoso's government there is a predominance of economists and engineers, while in Lula's government there is greater diversity, with a predominance of administrators, human sciences, doctors and the military. With respect to the ministries, belonging was classified into right arm (Cardoso government) and left arm (Lula government) of the State.Here are the professions:
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM andMárcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762724Figure7Source: Devised by the authorsIt is possible to see that ministers in the Lula government predominantly took on more political positions and also liberal professionals, while those in the Cardoso government worked in the private sector as economists (financial institutions or the public sector) and engineers (part of them reconverted to finance).
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762725Some analyzesThe application of the MCA suggests, based on the analyzed categories, that the Lula ministers' ancestry is mostly from the lower middle class and a good part of the popular class, since the profession of the ministers' parents is of popular origin (farmer, manicure, housewife, cleaning lady, seamstress, mechanic). The MCA shows something common among almost all agents, which we are tentatively denominating class habitus(BOURDIEU, 1996). That is, with few exceptions, all agents are affiliated and/or supporters of the Workers' Party (PT), linked to social movements and come from technical occupations.On the other hand, ministers in the Cardoso government come from an upper-middle-class background (doctors, lawyers, farmers, diplomats, businessmen) and international circulation is almost a rule for this group. Here we have a class habituscloser to that of the elite.We remember that the habitusis a symbolic marker that can express distinction or disqualification (BOURDIEU, 1979). In the case of ministers Cardoso expresses distinction when he shows the dominant culture; in the case of ministers Lula expresses disqualification when he presents the culture of the dominated.The data allow us to suggest that there is a strong distinction between the ministers analyzed and this distinction is marked, in particular, by the passage through the market in the case of ministers Cardoso and by participation in union and social movements, in the case of ministers Lula.As we observed in the bibliographic review, the Cardoso government was more committed to a neoliberal project and the Lula government to a more interventionist project. The neoliberal or interventionist project orchestrates the social origins of the ministers, since the Cardoso ministers were more involved in projects linked to the right arm of the State (fiscal adjustment, pursuit of surplus, development project with more autonomy from the market), while the projects of Lula's ministers were more linked to the left arm of the State (investment in social policy; support for public banks and development projects of a developmental nature).In this sense, the application of the MCA allows defending that Lula ministers would be less sensitive to the neoliberal project, since their socialization in spaces, with people and values that stimulate contact with the neoliberal project, was more restricted than for ministers of the Cardoso government. On the contrary, the MCAshows that Cardoso ministers have training that roots them in the neoliberal project and in neoliberalizing beliefs, acquired in passages through American universities and in socialization in spaces sensitive to this type of project.
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM andMárcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762726In dialogue with Bourdieu (2006) we point out that the ministers' choices are not only subjective, but are limitedto historical and cultural elements and, above all, to a given field of possibilities. Priorities will be given according to inherited and socially constructed resources within unique life stories. Therefore, even if it is not the objective of this research, the study allowed us to understand, from the capitals of the ministers, their choices and commitments in projects for the development of Brazil.Final considerationsThrough the MCA, we seek to empirically verify the distinctions between the ministers of the Cardoso and Lula periods, identifying the main capital held by these ministers.After applying the MCA, we found low cultural, economic and symbolic capital in Lula's ministers, as well as a habituscloser to the popular and middle classes. We also identified greater participation in infrastructure projects and state interventionism. In the case of the Cardoso ministers, we identified a strong economic, cultural and symbolic capital, passed from generation to generation, configuring what we are calling a class habituscloser to the elites.Considering Bourdieu's discussion (2006) about the State, in which the author states that through the classification system, the State molds mental structures and imposes principles of common vision and division and ways of thinking, we suggest, based on the bibliographic review, which shows greater neoliberal sensitivity in the Cardoso government and interventionist sensitivity in the Lula government, that the Lula government coordinated the markets, producing goods and services through state-owned companies and partnerships with private capital; implemented projects based on resources from the financial market -more especially from pension funds, via the issuance of public bonds and through direct investments incompanies -as well as coordinating certain regulations, "domestication" of the financial market (JARDIM, 2009), in dialogue with heterodox economic policies.On the other hand, in dialogue with the current international doxa, the Cardoso government operated the privatization of state-owned companies, in the name of the publicized efficiency of the State and gave greater space to foreign companies, to the detriment of the policy of valuing public companies, public banks and the national domestic market. Thus, the Cardoso government maintained an economic policy in dialogue with international capital, which was only possible because the State legislated all the legal aspects that enabled the implementation of the neoliberal project.
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762727We conclude that for the realization of one project or another, the adhesion and engagement of the ministers was fundamental and that, to some extent, the neoliberal or interventionist engagement orchestrates the capital and the position in the social space occupied by them.REFERENCESALVES, T. Prouni: Revolução simbólica na vida dos beneficiários. 2016. Dissertação (Mestrado em em Ciências Sociais) Universidade Estadual Paulista, Araraquara, SP, 2016.BERTONCELO, E. Construindo espaços relacionais com a análise de correspondências múltiplas:Aplicações nas ciências sociais. Brasília: Enap, 2022.BOURDIEU, P. A demissão do Estado. In: BOURDIEU, P. (org.). A miséria do mundo. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1997.BOURDIEU, P. Contrafogos: Táticas para evitar a invasão neoliberal. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.BOURDIEU, P. Razões Práticas. Campinas, SP: Papirus, 1996.CODATO, A;FRANZ, P. Recrutamento ministerial no Brasil: Comparando as presidências de FHC e Lula. Brasília, 2017. n. 22, p. 44-62.D’ARAUJO, M. C. Os ministros da Nova República. Notas para entender a democratização do Poder Executivo. In: CONGRESSO CONSAD DE GESTÃO PÚBLICA, 2., 2009, Brasília. Anais eletrônicos [...]. Brasília: Consad, 2009.GREENACRE, M.; BLASIUS, J. Multiple correspondence analysis and related methods. Londres; Nova Iorque: Chapman & Hall. CRC, 2006.GRUN, R. “Convergência das Elites e Inovações Financeiras: A GC no Brasil”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 20, n. 58, p. 67-90, 2005.HUSSON,F.; JOSSE, J. Multiple correspondence analysis. In: BLASIUS, J.; GREENACRE, M. Visualization and verbalization of data. Boca Raton: CRC Press, 2014.JARDIM, M. C.; MOURA, P. J. C. Entre a ortodoxia e a heterodoxia: disputa simbólica nos governos petistas (Lula e Dilma) para a imposição da doxa econômica. Revista Novos Rumos Sociológicos, v. 9, n. 16, ago./dez. 2021.JARDIM, M. C.; ROSA, T. Governo Cardoso (1995-2002) e Governo Lula (2003-2010): Homologia entre Trajetórias dos Ministros e Crenças Econômicas Estatais Vigentes. Revista Tomo, n. 39 jul./dez. 2021.
image/svg+xmlMaria Chaves JARDIM andMárcio Rogério da SILVARev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762728JARDIM, M. C.; SILVA, M. R. Programa de aceleração do crescimento (PAC): Neodesenvolvimentismo? Laboratório Editorial da UNESP, Selo Acadêmico 2015. Available: http://www.culturaacademica.com.br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=532. Access: 10 Jan. 2015.JARDIM. M. C. “Domesticação” e/ou “Moralização do Capitalismo” no Governo Lula: Inclusão Social Via Mercado e Via Fundos de Pensão”.DADOS Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 52, n. 1, p. 123 a 159, 2009.JARDIM. M. C. Entre a solidariedade e o risco: Sindicatos e fundos de pensão em tempos de governo Lula. 2007. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) Universidade Federal de São Carlos, SP, 2007.LE ROUX,B.; ROUANET,H. Multiple correspondence analysis. Thousand Oaks: Sage, 2010.MESQUITA, M. A política econômica do governo Dilma: A volta do experimentalismo. In: Sob a luz do sol: Uma agenda para o Brasil -IEPE / CdG. Centro de Debates de Políticas Públicas, 2014. p. 3-15.PROGRAMA DE GOVERNO DO PT. Um Brasil para todos: Crescimento, emprego e inclusão social. Available: www.pt.org.br.Access: 20 Oct. 2002.SALLUM, B. O Brasil sob Cardoso: Neoliberalismo e desenvolvimentismo. Revista Tempo Social, 1999.SALLUM,B.;GOULART,J. O Estado brasileiro contemporâneo: liberalização econômica, política e sociedade nos governos FHC e Lula. Revista Rev. Sociol. Polit., v. 24, n. 60, p. 115-135, 2016.
image/svg+xmlCapitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinctionRev. Sem Aspas,Araraquara, v.11, n.esp. 1, e022018,2022. e-ISSN2358-4238DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.1762729How to reference this articleJARDIM, M. C.;SILVA, M. R. Capitals held by ministers of Cardoso and Lula governments: Mapping the distinction.Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 11, n. esp. 1, e022018, 2022. e-ISSN: 2358-4238. DOI:https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.17627Submitted:12/08/2022Required revisions:15/09/2022Approved:20/11/2022Published:26/12/2022Processamento e edição: Editora Ibero-Americana de Educação.Correção, formatação, normalização e tradução.