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Os capitais detidos por ministros e ministras dos governos
C
ardoso e
L
ula:
Mapeando
a distinção
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara
, v.
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, n.
esp.
1
,
e022018
,
2022
.
e
-
ISSN
2358
-
4238
DOI:
https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.17627
1
OS CAPITAIS DETIDOS POR MINISTROS E MINISTRAS DOS GOVERNOS
CARDOSO E LULA: MAPEANDO A DISTINÇÃO
1
CAPITALES EN MANOS DE MINISTROS Y MINISTROS DE LOS GOBIERNOS DE
CARDOSO Y LULA: MAPEANDO LA DISTINCIÓN
CAPITALS HELD BY MINISTERS OF
CARDOSO AND LULA GOVERNMENTS:
MAPPING THE DISTINCTION
Maria Chaves
JARDIM
2
Márcio Rogério da
SILVA
3
RESUMO
:
O retorno de Lula como presidente da república, nas eleições de outubro de 2022,
revitaliza um tema que nunca esteve fora de moda nas ciências sociais, o estudo dos governos
Lula, especialmente em comparação com os governos Cardoso. O
artigo busca objetiv
ar os
principais capitais detidos pelos ministros e ministras do Estado dos períodos Cardoso e Lula,
especificando a posição ocupada no espaço socia e a distinção. O estudo dos capitais detidos
por estes pode somar esforços aos estudos que buscam entender
esse período da história
contemporânea. De forma geral, foi possível concluir que
os ministros do governo Cardoso, do
ponto de vista da posição, têm
capitais culturais, econômicos e simbólicos mais elevados sob a
ótica do
mainstream
econômico, configurando
um
habitus
de elite, ao passo que o os ministros
Lula possuem menor capital econômico, cultural e simbólico, constituindo um
habitus
mais
popular. Para tanto, realizamos estudo de trajetória desses ministros e em seguida, aplicamos a
ACM. Os dados foram a
nalisados a partir da sociologia relacional e praxiológica de Pierre
Bourdieu.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Governo
C
ardoso e
g
overno Lula
.
M
inistros
.
D
istinção
.
C
apitais
.
ACM.
RESUMEN
: El regreso de Lula como presidente de la república, en las elecciones de
octubre
de 2022, revitaliza un tema que nunca ha pasado de moda en las ciencias sociales, el estudio
de los gobiernos de Lula, especialmente en comparación con los gobiernos de Cardoso. El
artículo busca apuntar a las principales capitales ocupadas por los
ministros y ministros del
Estado de los períodos Cardoso y Lula, precisando la posición ocupada en el espacio social y
la distinción. El estudio de los capiteles que poseen estos puede sumar esfuerzos a los estudios
que buscan comprender este período de l
a historia contemporánea. En general, se pudo
concluir que los ministros del gobierno de Cardoso, desde el punto de vista de la posición,
tienen capitales culturales, económicos y simbólicos superiores desde la perspectiva de la
1
Esse artigo foi escrito a partir de pesquisas financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (Fapesp), Processo nº 2014/11804
-
6 e CNPQ. Agradecemos o apoio e suporte indisp
ensável
às nossas
atividades científicas.
2
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara
–
SP
–
Brasil. Professora Livre Docente do Departamento
de Ciências Sociais. ORCID: https://orcid.org/0000
-
0001
-
5715
-
1430. E
-
mail:
majardim@fclar.unesp.br
3
Universidade Federal de São Carlos
(
U
FSC
ar
)
, Lagoa do Sino
–
SP
–
Brasil.
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
8176
-
1551
. E
-
mail:
mar
ciosilva@ufscar.br
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corriente económica dominan
te, configurando un habitus de élite, mientras que los ministros
de Lula tienen menos capital económico, cultural y simbólico, constituyendo un habitus más
popular. Para ello, realizamos un estudio de la trayectoria de estos ministros y luego aplicamos
la
ACM. Los datos fueron analizados a partir de la sociología relacional y praxiológica de
Pierre Bourdieu.
PALABRAS
C
LAVE
: Gobierno Cardoso y
g
obierno Lula
.
Ministros
.
D
istinción
.
Capital
.
ACM
.
ABSTRACT
: Lula's return as president of the republic, in the October 2022 elections,
revitalizes a theme that has never been out of fashion in the social sciences, the study of the
Lula governments, especially in comparison with the Cardoso governments. The articl
e seeks
to aim at the main capitals held by the ministers of the State of the Cardoso and Lula periods,
specifying the position occupied in the social space and the distinction. The study of the capitals
held by these can add efforts to studies that seek t
o understand this period of contemporary
history. In general, it was possible to conclude that the ministers of the Cardoso government,
from the point of view of position, have higher cultural, economic and symbolic capitals from
the perspective of the eco
nomic mainstream, configuring an elite habitus, while the Lula
ministers have less economic, cultural and symbolic capital, constituting a more popular
habitus. Towards this objective, we conducted a study of the trajectory of these ministers and
then appl
ied the ACM. The data were analyzed from the relational and praxiological sociology
of Pierre Bourdieu.
KEYWORDS
: Cardoso government and Lula government.
Ministers. Distinction. Capital.
ACM.
Introdução
O retorno de Lula como presidente da república,
nas eleições de outubro de 2022,
revitaliza um tema que nunca esteve fora de moda nas ciências sociais, o estudo dos mandatos
presidenciáveis de Lula, especialmente em comparação com os governos Cardoso. O interesse
por esses dois períodos é tão grande, q
ue já existe uma tradição de estudos sobre os mesmos,
muitas vezes comparando esses dois momentos da história democrática do Brasil. Nosso artigo
se interessa por estudar esses dois governos, por meio da comparação dos capitais detidos pelos
seus respectiv
os ministros.
Importante dizer que no âmbito da sociologia são raras as iniciativas em estudos sobre
ministros, tema que tem interessado, sobremaneira, à ciência política, especialmente pesquisas
sobre o processo de seleção e sobre as trajetórias política
s e sociais de ministros. Segundo
Codato e Franz (2017), esses estudos procuram levantar o perfil da elite ministerial de seus
respectivos países, considerando variáveis padrões, tais como, idade, sexo, herança familiar,
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formação escolar, trajetória profis
sional, orientação ideológica do partido, experiência em
cargos legislativos e ocupação de posições no alto escalão do Estado ou em firmas privadas.
Codato e Franz (2017) acrescentam que no presidencialismo brasileiro, os ministros
cumprem uma dupla funçã
o: assegurar que a formulação e a implementação de políticas
públicas estejam de acordo com as diretrizes do presidente da República e do programa do seu
partido; e garantir, através de transações políticas, o apoio partidário para que esses projetos
tenha
m sustentação e chances de aprovação pelo Congresso Nacional. Nesse sentido, a seleção
de ministros e a formação de gabinetes teria um papel estratégico político e para a boa condução
do governo do presidente da República.
Os mesmos autores afirmam que as
pesquisas sobre gabinetes do regime
semipresidencialista francês, têm observado a ocupação de ministérios por indivíduos cada vez
mais acostumados com as lógicas do campo político. François e Grossman (2012) têm
percebido a presença de novos tipos profissi
onais, com a diminuição no número de tecnocratas,
experts
e ministros não partidários e o consequente incremento de quadros políticos com
treinamento e carreiras cumpridas em entidades de representação, seja em cargos eletivos, seja
na burocracia dos parti
dos políticos e mesmo em movimentos sociais (FRANÇOIS;
GROSSMAN, 2012).
No Brasil, D’Araújo (2009) fez uma radiografia do Executivo após a redemocratização
e identificou que os “ministros são pessoas experientes na vida política, com forte
enraizamento
em atividades parlamentares e executivas em todos os níveis de governo” (D’ARAUJO, 2009,
p.
25). De acordo com Costa e Codato (2013), isso seria um indicativo da existência de
expertise
política e administrativa como condição básica para nomea
ção ao ministério. Apesar de serem
postos de nomeação e não posições eletivas, ministérios também podem ser um espaço de
profissionalização política, a exemplo das casas legislativas.
Codato e Franz (2017) defendem que no caso do Brasil, isso decorre da i
mportância do
critério partidário no recrutamento ministerial. No presidencialismo multipartidário, o partido
do presidente da República dificilmente consegue ser o partido majoritário no Congresso
Nacional, forçando o chefe do governo a fazer alianças com
outras legendas para conseguir
apoio político e aprovar seus projetos de lei, emendas legislativas e medidas provisórias. Para
garantir essa sustentação, o presidente precisa atrair os demais partidos, que não o seu, para o
governo, alocando
-
os nos minist
érios ou nas burocracias a eles subordinadas. Essa barganha
entre cargos políticos de alto escalão e apoio parlamentar nas duas Casas do Congresso
Nacional Brasileiro, impacta significativamente na composição dos ministérios
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(ABRANCHES, 1988) e revela as e
stratégias perseguidas pelo recrutamento ministerial no
Brasil.
Em nossa agenda de pesquisa, o tema dos ministros tem ganhado destaque. Em Jardim
e Rosa (2021) foi feito um estudo
da biografia de 151 ministros que atuaram entre 1994 e 2010
nas
pastas titulares. Após apresentar uma cartografia do perfil de todos os ministros, por meio
de diversas
variáveis, o artigo deu destaque
para
três delas: ocupação dos pais e avós dos
ministros
, universidade pelas quais passaram e a circulação internacional
desses. Os resultados
indicam existir homologia entre as trajetórias individuais dos ministros e as crenças econômicas
vigentes do período, expressa, sobretudo, a partir de crenças neoliberais ou
desenvolvimentistas, divulgadas nas universidades pelas qua
is passaram, em formato de teoria
econômica; e
m Jardim e Moura (2022) foram comparadas
as tomadas de posição de ministros
ligados à área econômica dos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff, por meio de suas
orientações econômicas. O fio condutor do artig
o foi entender as tomadas de decisão
econômicas dos governos petistas, por meio do estudo da biografia dos ministros ligados à
economia do período estudado, partindo do princípio de que decisões econômicas e pol
í
ticas
estão enraizadas em elementos sociocul
turais, a saber, a visão de mundo dos ministros
tomadores de decisões, cuja visão de mundo seria fabricada socialmente.
S
ilva (2017) e Silva e Grün (2019) mostram como os diretores dos Bancos Centrais,
nomeados no âmbito do presidencialismo de coalizão, ap
resentam posições e tomadas de
posição a partir de uma perspectiva mais monetarista (governo Cardoso) ou mais
neokeynesiana, mas ampliam o olhar para a economia das narrativas dos economistas chefe de
instituições financeiras, que, em vários momentos, atra
vés de uma pressão performativa,
conseguem criar ou ainda, performar nos
diretores
tomadas de posição divergentes das
expectativas acerca de suas posições e disposições.
Dando sequência a essa agenda de estudo já
iniciada
por nós, sobre ministros, o
artigo que ora
apresentamos busca objetivar quais capitais detinham os ministros e ministras do Estado dos
períodos Cardoso e Lula, especificando as distinções entre eles.
Para tanto, realizamos estudo
de trajetória desses ministros e em seguida, aplicamos
a ACM.
Acreditamos que o estudo dos
seus capitais e da distinção pode nos ajudar a localizar suas posições no espaço social e o perfil
desses ministros. Ainda que não seja nosso objetivo central, isso poderá, em alguma medida,
nos ajudar a entender o perf
il dos projetos nos quais estiveram engajados.
O artigo está dividido da seguinte forma: além desta
introdução e da conclusão, no
próximo item
discutimos
o referencial teórico que inspira essa pesquisa, baseado na
sociologia
relacional e praxiológica de Pi
erre Bourdieu; em seguida apresentaremos uma breve síntese
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sobre os governos Cardoso e Lula, buscando destacar o perfil dos projetos existentes em
cada
governo (se mais neoliberal ou mais intervencionista); finalmente,
apresentamos e analisamos
nossos dado
s de pesquisa.
A Distinção enraizada em elementos sociais: a posse de capitais e a definição do
habitus
Para Bourdieu, o estudo de trajetória, em diálogo com a ACM, nos ajuda a mapear os
capitais detidos por um agente social.
Para o autor as
trajetórias seriam o resultado
construído
de
um sistema dos traços pertinentes
de
uma
biografia
individual
ou
de
um
grupo de
biografias
(BOURDIEU, 1998); ou seja, uma
trajetória
é a objetivação das relações
entre
os
agentes e as forças presentes no campo;
um conjunto de relações pode provocar distinção e
fronteiras simbólicas no grupo estudado.
Em Bourdieu (1998), não existe análise de ACM sem
um estudo sistematizado das trajetórias.
Por sua vez, a Análise de Correspondência Múltipla (ACM) é parte de uma té
cnica mais
ampla chamada Análise Geométrica de Dados (AGD), abordagem estatística elaborada pelo
matemático francês Jean Paul Benzécri nos anos 1970, com o qual Bourdieu trabalhou. Esses
trabalhados foram importantes para contrabalançar os modelos confirma
tórios da estatística
(
GREENACRE; BLASIUS
, 2006).
Segundo Le Roux e Rouanet (2010), a análise descritiva precede a modelagem
probabilística, não dependendo do tamanho dos dados. Complementar a essa ideia, para
Bertoncelo (2022
, p.
17) “a causalidade social
consiste nos efeitos globais de uma estrutura
complexa de inter
-
relações, que não se reduz à combinação dos múltiplos efeitos”.
Concretamente, a ACM é uma representação espacial no plano cartesiano de variáveis
de grande variância e indivíduos em posição
relacional entre essas variáveis e entre eles, de
maneira que isso permite uma redução de dimensionalidade de dados, em que a distância entre
indivíduos representa distâncias normalizadas de propriedade social, sendo, nesse sentido, de
cunho exploratória (
BERTONCELO, 2022).
Assim sendo, a ACM
é preditiva, pois uma vez que foi reconstruída a estrutura de
finalidades e contrastes, os indivíduos podem ser projetados nesse espaço de dispersão
(
HUSSON; JOSSE
, 2014).
Por fim, Bertoncelo
(2022) afirma que a ACM tem bons resultados quando produzimos
diferenciações qualitativas, em que as categorias não podem ser ordenadas de maneira direta.
Isso quer dizer que no nosso caso, por exemplo, o número e a complexidade das variáveis que
compõe o
s capitais dos ministros dirigentes não podem ser hierarquizadas entre variáveis
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dependentes e independentes de maneira clara, dado seu volume e complexidade.
Com base
nesses pressupostos, Bourdieu pôde, em seus estudos, reconstruir o espaço das posições s
ociais
(
BOURDIEU
, 2008), objetivando capitais e distinções.
No que se refere ao conceito de capitais em Bourdieu (1996; 2006), primeiramente é
necessário dizer que capital, é, em Bourdieu, um “recurso” que pode ser possuído e transmitido
por um indivíduo,
um casal, um estabelecimento, uma comunidade, ou mesmo um país. Para o
autor, existem quatro tipos de capitais: econômico, cultural, social e simbólico, sendo que o
capital de origem estaria ligado à família e o capital de chegada teria a ver com a reconv
ersão
no espaço social.
O capital econômico
corresponde à noção
de patrimônio e é avaliado em termos
monetários.
Dinheiro na perspectiva de Pierre Bourdieu, é simbólico. Capital econômico em
Bourdieu, pode ser convertido em capital simbólico, social e cult
ural.
O capital social
é o conjunto de relações pessoais possuído por um agente, família e
empresa, constituindo uma rede de relacionamento.
O capital cultural
foi acionado por Bourdieu para explicar as desigualdades sociais em
matéria educativa e cultura
l. Trata
-
se de um conjunto multidimensional de competências (por
exemplo, o domínio da língua e do cálculo), e de disposições (certa sensibilidade para o mundo),
que constitui a versão incorporada do capital cultural. Existem três estados incorporado do
ca
pital cultural em Bourdieu: 1
)
Hexis corporal; 2)
Institucionalizado (por meio de diplomas,
obras de arte etc.) e
;
3) Objetivado: obra de arte, pintura, música etc. O capital cultural seria o
responsável por formar o gosto, que por sua vez, promove distinç
ão e revela dominação.
O quarto e último capital,
o capital simbólico
é definido pelo “olhar” depositado (o
valor dado) pela sociedade a um agente social, família, empresa. Há, portanto, uma dimensão
relacional e coletiva, já que o capital simbólico signif
ica reconhecimento e prestígio. Em
Bourdieu (1996) os capitais existem de forma relacional, uma vez que um pode reforçar o outro.
Segundo o método de Bourdieu, para mensurar a origem social de um agente
e,
portanto,
seu capital de origem, é fundamental obj
etivar a profissão dos pais, sobretudo do pai, visto que
no texto
As contradições da herança
, do livro
A miséria do mundo
(1993), Bourdieu mostra o
papel da família na transmissão da herança cultural, com destaque para o pai, que segundo o
autor,
seria o maior responsável por transmitir a herança ao herdeiro.
A mesma argumentação aparece
em Bourdieu
e Passeron (2014, p.
28) para quem: “(...),
a origem social é, de todos os determinantes, o único que estende sua influência a todos os
domínios e a to
dos os níveis da experiência dos estudantes e primeiramente as condições de
existência”.
Assim, a escola transforma
-
se no agente único e total da transmissão das posições
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sociais. A ideia de que a origem social, bem como os marcadores de legitimidade (capi
tais
simbólicos, processos de socialização) é natural, perde relevância diante das teses de Bourdieu
(1996; 2006), que mostra o trabalho “mágico” da escola, reproduzindo e valorizando a cultura
formada na classe dominante.
Como demonstra Bourdieu (2006),
a familiaridade com a cultura legítima
–
a cultura
legitimada, dominante
–
traz ganhos na vida escolar, no campo universitário e no mercado de
trabalho, favorecendo aqueles que em tenra infância tiveram acesso a essa cultura legítima,
“como uma experiência
direta”, um “simples deleite”, a princípio, “fora das disciplinas
escolares”, marcadas como “pedantes”. Assim, “a aquisição da cultura legítima pela
familiarização insensível no âmago da família tende a favorecer uma experiência encantada da
cultura, que
implica o esquecimento da aquisição e a ignorância dos instrumentos de
apropriação” (BOURDIEU, 2006
, p.
10).
Outro quesito importante na sociologia de Bourdieu, diz respeito à educação formal
recebida pelos agentes sociais. A trajetória educacional dos ind
ivíduos, formação básica,
superior e as instituições nas quais estudaram, são constitutivas
–
embora não exclusivamente
–
daquilo que Bourdieu intitulou capital cultural legítimo.
Em Bourdieu (2014) existiria uma correlação entre a classe de origem e os a
nos de
estudos, que é refletida em aspectos como idade que iniciou os estudos, sexo e a questão
geográfica. Para o caso da França, Bourdieu informa que os herdeiros legítimos ingressam em
cursos prestigiados das melhores universidades francesas, enquanto o
s filhos das classes
populares
-
quando ingressam no ensino superior
-
acabam frequentando cursos sem muito
prestígio. Para o autor, as aspirações escolares desdobram
-
se em objetividades referentes à
realidade de cada agente social, ou seja, as escolhas sã
o delimitadas em função das trajetórias
Sobre o argumento acima, Bourdieu defende no livro
La Noblesse d´Etat: Grandes
écoles et esprit de corps
(1989)
,
que nos cursos superiores de elite, existe uma ação de
“consagração” e um rito que produz um grupo sep
arado e sagrado, que se dá de forma
mascarada, produzindo e reproduzindo a nobreza. Portanto, para Bourdieu (2007), o sistema
escolar antes de ser caracterizado por uma marca libertadora, é uma das formas mais intensas
de conservação social, pois tende a l
egitimar as desigualdades sociais a partir da herança
cultural.
Nessa perspectiva, um ato ou uma escolha de um agente não se explica por si só, pois,
de acordo com o autor, esses atos estão ligados ao contexto social: além de sofrerem os
constrangimentos s
ociais de um grupo, estão associadas às suas
experiências individuais,
familiares (origem social) e também a sua socialização secundária (universidade e demais
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espaços sociais). As escolhas, portanto, se dão não só subjetivamente, mas estão circunscritas
a
elementos históricos, culturais e, principalmente, a um campo dado de possibilidades. As
prioridades se darão de acordo com os recursos herdados e construídos socialmente dentro de
histórias singulares de vida.
Habitus: expressando visões de mundo
Em
Bourdieu, a posse dos capitais ajuda a gerar um
habitus
, que por sua vez forma a
visão de mundo de um agente, que é constituída socialmente. Para tanto, a trajetória individual
dos agentes ajuda a construir seu
habitus
, que são pré
-
disposições IN
-
corporada
s
(colocadas no
corpo e na mente) pelos agentes sociais ao longo de seu processo de socialização. Nesse
contexto, o
habitus
integra experiências passadas e atua como uma matriz de percepções, de
apreciações, de ações, de gosto e de tomadas de decisões. Ess
a “matriz”, ou conjunto de
disposições, fornece esquemas necessários para a intervenção dos agentes sociais na vida diária,
de forma não necessariamente consciente.
Conforme trata o autor, essas disposições não são fixas. Ademais, não são nem a
personalid
ade e nem a identidade dos indivíduos: “
habitus
é um operador, uma matriz de
percepção e não uma identidade ou uma subjetividade fixa” (BOURDIEU, 2002, p. 83). Sendo
produto da história,
o habitus
é um sistema de disposições aberto, permanentemente afrontado
a experiências novas e permanentemente afetad
o por elas. Ele é durável, mas não imutável
(BOURDIEU, 2002, p. 83). Trata
-
se de um
marcador simbólico
que pode expressar distinção
ou desclassificação (BOURDIEU, 1979). Mostra distinção quando expressa a
cultura
dominante, que por sua vez contribui para a
integração da classe dominante, por meio do
habitus,
assegurando a comunicação imediata entre todos os seus membros e os distinguindo
das demais classes sociais. Expressa
desclassificação
quando apresenta a cultura dos
dominados.
Considerando as contribuições de Pierre Bourdieu (2002), podemos definir o conceito
de
habitus
como um instrumento conceptual que nos auxiliará a pensar a relação e a mediação
entre os condicionamentos sociais exteriores e a subjetividade dos ministros est
udados, levando
em conta que o
habitus
é uma matriz cultural que predispõe os indivíduos a fazerem suas
escolhas, sendo que a semelhança ou a afinidade de
habitus
forma
o
habitus
de classe (feixe
de relações semelhantes).
Importante nessa discussão é o con
ceito de Estado em Bourdieu, que passaremos a
apresentar.
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O Estado em Pierre Bourdieu
Para Bourdieu (2007), o Estado seria resultante das categorias de pensamento dos
agentes que nele atuam. Nessa perspectiva, os agentes, por meio de suas visões de
mundo
influenciam e são influenciados pelo Estado. No caso dos ministros dos períodos estudados,
estes teriam poder de atuação no Estado, ajudando a construir categorias de pensamento
reproduzidas por este. Para além de um Estado abstrato, o Estado em Bour
dieu é um Estado
encarnado e objetivado em agentes sociais; que influencia e sofre a influência de outros agentes
e do Estado.
Em complemento, os agentes sociais que participam do Estado são representados como
encarnadores do Estado; um Estado constituído
como um espaço relativamente autônomo em
relação às forças sociais em luta pelo poder, e assegurando uma posição de árbitro nos conflitos
políticos. Dizer que o Estado é legítimo em Bourdieu, é dizer que ele pode obter a submissão
da ordem que impõe, tendo
como única forma de constrangimento, o poder simbólico. Assim,
a obediência generalizada não passa pela coerção em Bourdieu. O reconhecimento da
legitimidade da obediência é um ato de conhecimento, que é um ato de submissão inconsciente
à ordem social, ou
seja, é um ato de crença, mais ainda, de crença coletiva.
Nessa perspectiva, Bourdieu nos alerta para o fato que o Estado não tem,
necessariamente, a necessidade de dar ordens, ou de exercer coerção física para produzir um
mundo social ordenado, “pelo me
nos enquanto puder produzir estruturas cognitivas
incorporadas que estejam em consonância com as estruturas objetivas, assegurando assim a
crença da qual falava Hume, a submissão
dóxica
à ordem estabelecida” (BOURDIEU, 1996
, p.
119). Ou seja, o poder do Es
tado é produzir e impor categorias de pensamento aos agentes do
mundo social, cujas categorias são aplicadas a todas as coisas do mundo, inclusive para falar
do próprio Estado. Portanto, Bourdieu nos chama a atenção para o fato que pensamos o Estado
a part
ir do próprio pensamento criado pelo Estado, pois o Estado é ele mesmo nosso próprio
pensamento. Mais concretamente, o pensamento do Estado não é somente um discurso ou um
metadiscurso. Este pensamento se inscreve no mundo social, já que o Estado seria o m
undo
social em forma de discurso. Assim, o Estado produz e inculta estruturas cognitivas, segundo
as quais a ordem social é percebida e incorporada, especialmente pelo sistema escolar, que
inculta as estruturas cognitivas comuns, contribuindo de forma impl
ícita para a produção e a
reprodução da ordem social. Essas estruturas são tão naturalizadas, que os agentes sociais nem
se dão conta do processo de produção de crenças.
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Maria Chaves
JARDIM
e
Márcio Rogério da
SILVA
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Mais do que legislar nas questões econômicas e políticas, o Estado legisla, em Bourdi
eu,
nas questões cognitivas, ou seja, na produção de crenças, criando formas mentais de
classificação e exercendo a violência simbólica sobre o mundo social. Nesse sentido, os projetos
reinantes durantes os governos analisados (de cunho mais neoliberais ou
mais intervencionista)
seriam resultantes de uma conjuntura
internacional, mas sem ignorar a
visão de mundo dos
ministros engajados nos períodos (JARDIM; MOURA, 2022), que pode ter ligação com os
capitais detidos pelos ministros.
Desta feita, o Estado ins
taura através da ordem simbólica que impõe, duas formas de
poder: a estrutura objetiva do Estado e a estrutura mental para pensar o Estado, que são
homólogas. Assim, passa a existir na objetividade, nas estruturas materiais, e na subjetividade
dos agentes,
ou seja, nas representações sobre a forma de visão e de divisão de sistema de
classificação.
Na discussão de Bourdieu sobre o Estado, é importante não perder de vista a sua
metáfora da “mão direita e da mão esquerda do Estado”, criada por este para refer
ir
-
se ao Estado
neoliberal francês, que nos anos 1980 teria feito uso da mão direita, dando maior autonomia
aos mercados, do que uso da mão esquerda, que teria iniciado o seu processo de atrofiamento,
devido ao pouco uso. Ainda para Bourdieu, a mão esquerd
a seria o Estado regulador, ou seja,
a mão que possuiria maiores preocupações sociais e maior controle sobre o mercado.
Essa
metáfora é importante quando formos olhar os dados dos ministros que compuseram o Estado
nos governos estudados.
Por fim, é consid
erando a importância do Estado não somente institucional, mas,
sobretudo cognitiva, que
passamos a apresentar um resumo dos principais pontos dos governos
Cardoso e Lula, nos quais os ministros analisados atuaram.
Anos Cardoso e Lula: breve aproximação
sobre os projetos reinantes durante os períodos
Anos Cardoso (1994
-
2001)
Diante do referencial teórico apresentado, os governos Cardoso e Lula serão estudados
nesse artigo, considerando que todo Estado tem o poder de produzir e impor
categorias de
pensamento aos agentes do mundo social, cujas categorias são aplicadas a todas as coisas do
mundo, inclusive para falar do próprio Estado e das decisões tomadas pelos agentes do Estado
(
BOURDIEU,
2014).
No que se refere ao Estado do período
Cardoso, este defendeu o projeto de dar maior
liberdade aos mercados, afastando o Estado das questões econômicas e sociais; além disso, se
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baseou na teoria econômica ortodoxa, que defende a prioridade da economia e com forte ajuste
fiscal, em detrimento da
s questões sociais. Esse conjunto de postulado se convencionou chamar
de neoliberalismo; que, por sua vez, esteve em diálogo com os critérios exigidos por instituições
internacionais, especialmente o Fundo Monetário Internacional (FMI), que apregoava a bus
ca
do
superávit
primário, entendido como a diferença positiva entre as receitas e despesas do
governo, excetuando os juros da dívida. A busca pelo
superávit
primário, o controle da inflação
e das contas públicas tornou
-
se o mantra do momento, sob uma ótica
ortodoxa do controle de
gastos e uma reforma tributária progressiva
.
Em alguma medida, esse é o projeto defendido
pelos ministros do governo Cardoso, de natureza neoliberal e mais focado no braço direito do
Estado.
Nesse contexto, o governo Cardoso
-
aqui
compreendido com seus ministros, agentes
encarnadores do Estado
-
foi favorável à estabilização macroeconômica com integração à
globalização e à cooperação com investimento externo. Naquele cenário, a agenda de reforma
do Estado esteve diretamente associa
da à orientação geral do ajuste macroeconômico, na
direção do que
Sallum (1999
, p. 33
) alertou: “Para a corrente neoliberal dominante a prioridade
era a estabilização dos preços”.
Segundo Santos (2000), no ano de 1995, já com o Plano Real em curso e com pa
ridade
em relação ao dólar, o governo Cardoso buscou conter a inflação causando um desequilíbrio na
balança comercial, ocasionando um nível de falência das empresas nacionais sem precedentes
e utilizando do desemprego (contenção de consumo) como um instrum
ento de controle da
inflação.
No início, com uma valorização de 15% frente ao dólar e com uma inflação maior que
a americana, a estratégia levou a uma contínua valorização do real até fevereiro de 1995.
(SANTOS, 2000). A política monetária era utilizada p
ara a estabilização de condições
econômicas, buscando a atração de capitais internacionais de curto prazo para financiar o
constante desequilíbrio em conta corrente, fortemente dependente do cenário internacional e da
taxa de juros americana. O governo lan
çou mão de aumento de juros e restrição de crédito para
conter a demanda.
Assim, devido às já
mencionadas políticas de abertura para conter a inflação,
houve um número expressivo de pedidos de falência, por conta
de as
empresas não estarem
preparadas para
essa abertura. Países asiáticos com vantagem cambial, além dos Estados Unidos
e países europeus passaram a exportar significativamente ao país.
Com foco total nas questões econômicas, esse projeto neoliberal objetivou
-
se em
iniciativas que mudaram instituc
ionalmente a relação entre Estado e mercado, de forma a
quebrar com os arranjos legais do Estado nacional
-
desenvolvimentista varguista. Naquele
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contexto, o governo Cardoso passou a defender que o Estado não possui função empresarial, as
quais deveriam ser
da iniciativa privada; assim, suas finanças deveriam ser equilibradas e com
estímulos diretos às empresas privadas e não poderia mais sustentar privilégios para categorias
de funcionários, dentre outras crenças
(SALLUM
.
GOULART, 2016).
Como desdobramento,
a crença neoliberal reduziu a participação do Estado nas
atividades econômicas e colocaram em pé de igualdade as empresas de capital nacional e
estrangeiro, através da aprovação de um conjunto de leis no Congresso Nacional. Por fim,
preservou o programa de
abertura comercial, que já havia sido implantado durante o governo
Collor, nele incluso o programa de privatizações e de venda de concessões tanto no âmbito
federal como no estadual.
Nesse processo, o Estado do governo Cardoso passou a atrair empresas mul
tinacionais
para os dois setores
-
chave da indústria, o automotivo e o de telecomunicações, não só
modulando a legislação tributária e o sistema de financiamento, mas também através de
convites. Este conjunto de incentivos contribuiu para o aumento na parti
cipação nos mercados
brasileiros das empresas de capital estrangeiro em detrimento das empresas de capital nacional
(SALLUM
;
GOULART, 2016).
No âmbito do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES)
-
principal agente
financeiro da industrialização do país
-
foi notável a diversificação setorial das empresas
atendidas. Além da indústria, passou também a financiar atividades comerciais (centros de
compras), turísticas (parques de diversão) e agrícolas. Nesse sentido, as empresas estatais
deixaram de ser os pila
res da política estatal, como consequência do desinteresse do governo
federal em desenvolver uma indústria nacional, já que o projeto neoliberal buscava atrair
investimentos estrangeiros e promover sua associação com empresas nacionais.
Por fim, as empresa
s estatais foram privatizadas ou os seus serviços foram cedidos às
empresas privadas, caso das estradas de rodagem, cuja manutenção foi concedida para empresas
privadas em troca da exploração dos serviços que prestam
–
pedágio e arrendamento dos
terrenos p
úblicos que as margeiam. Esta redução das funções empresariais do Estado não
eliminou, mas transformou o intervencionismo estatal. O Estado expandiu suas funções
normativas e de controle, preservando a capacidade de moldar as atividades econômicas por
meio
das compras de bens e serviços.
O que concluímos disso é que mesmo em sistemas econômicos do tipo neoliberal, em
que o mercado é visto como campo autônomo, capaz de criar suas próprias regras, como uma
mão invisível, com suas “leis naturais”, ou seja, mes
mo em economias onde
as categorias de
pensamento produzidas pelo Estado pressupõem
o livre mercado e o individualismo, mesmo
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nesses sistemas econômicos o Estado não deixa de fazer seu trabalho de dominação simbólica.
No governo Cardoso, o trabalho de
dominação simbólica tornou
-
se justamente criar categorias
de pensamento que defendem a liberdade para o mercado e o fortalecendo daquilo que Bourdieu
chamou de “mão direita do Estado”, em detrimento da sua “mão esquerda” (BOURDEU, 1997).
Por essa perspecti
va, não existe Estado ausente no governo Cardoso, já que o Estado está
sempre presente, inclusive para legislar institucionalmente e cognitivamente a favor do
mercado, dando total autonomia a este.
Como desdobramento do argumento anterior, nos sistemas eco
nômicos
–
como nos
governos Cardoso
-
onde a “mão direita” se sobrepõe à “mão esquerda”, o mercado ganhou
uma aparente naturalidade, autonomia e sacralidade, tornando
-
se quase uma “entidade”, que
passou a prescrever verdades absolutas e “mágicas” na soluçã
o de problemas, os quais
teoricamente somente os economistas (de uma escola ligada à ortodoxia) teriam as soluções. A
crença neoliberal vigente nas instituições e nos agentes que estavam nos postos de comando
naquele momento, trouxe consequências sociais,
como desemprego e aumento
da pobreza.
Governos Lula (2002
-
2009)
Para Sallum e Goulart (2016), no governo Lula o liberalismo econômico do período
Cardoso se manteve. Segundo Mesquita (2014), apesar de jamais ter formalmente abandonado
o tripé macroeconô
mico básico estabelecido em 1999, o governo petista apresentou desvios em
relação a este, no que se refere tanto aos objetivos de curto prazo, quanto às suas
estratégias.
Contudo, as linhas mestras do regime de política macroeconômica do governo
Cardoso
(s
istemas de metas de inflação,
superávits
primários e câmbio flutuante) foram mantidas pelo
governo Lula, especialmente no primeiro mandato.
É possível, todavia, identificar em seu segundo mandato certa flexibilização na gestão
da política
econômica até então vigente (JARDIM
;
ROSA, 2021; JARDIM
;
MOURA, 2022).
Nessa direção,
Grün
(2014) afirma que após o escândalo do mensalão, o governo Lula deu uma
guinada na política macroeconômica. Para Jardim (2015), mesmo que a defesa de um Estado
interv
encionista tenha se iniciado somente a partir de 2006, quando houve mudanças na
composição do governo, especialmente a substituição de
Antônio
Palocci por Guido Mantega
e de José Dirceu por Dilma Rousseff, as mudanças foram reforçadas durante a crise de 20
08, a
partir do investimento no mercado interno, concretizado no aumento do crédito na economia,
visando ao aumento do consumo das famílias e na disponibilidade de crédito dos bancos,
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especialmente os bancos públicos (Banco do Brasil e Caixa Econômica Fede
ral,
especialmente).
Ainda segundo Jardim (2015), a política fiscal adotada pelo governo Lula a partir de
2008
-
quando iniciou a crise dos
suprime
mundial
-
, foi pautada pelos estímulos ao mercado,
tais como a introdução de
mecanismos de crédito bancário,
que permitiu que os assalariados
registrados e aposentados do setor privado, pertencentes ao Instituto Nacional da Previdência
Social (INSS), tivessem acesso a empréstimos com custos inferiores aos usuais (“empréstimo
consignado”), mediante desconto em se
us salários ou aposentadorias.
Outra estratégia foi o
investimento dos
recursos dos fundos de pensão no PAC, gerando emprego e renda,
especialmente no setor da construção civil, que passou a empregar beneficiários do programa
bolsa família (JARDIM,
2007; JARDIM, 2009; JARDIM, 2013).
Portanto, durante a crise de 2008, tentando proteger o Brasil dos impactos externos, o
governo Lula aumentou os incentivos de duas maneiras: desoneração de impostos e concessão
de financiamento subsidiado às empresas, ado
tando a chamada política expansionista para
estimular a economia e o consumo dos brasileiros.
Nessa direção, o projeto vigente foi a de forte presença do Estado, especialmente na
criação do mercado interno. Dentre as estratégias visando a desenvolver o mer
cado interno,
citamos as medidas que incluem a redução da taxa de juros básica pelo Banco Central, tais
como: medidas para estimular o crédito; postergação do recolhimento de impostos para
aumentar a capitalização das empresas e evitar problemas de liquide
z das unidades produtivas;
redução de impostos para estimular o consumo; fortalecimento do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), como indutor aos investimentos públicos no setor produtivo; ampliação
das funções do Banco Nacional de Desenvolvimento (
BNDES), que antes emprestava dinheiro
somente para as grandes empresas ou era financiador de privatizações no governo Cardoso e
nesse contexto passou a emprestar para as pequenas e médias empresas; ampliação do Conselho
Monetário Nacional (CMN); e alteraçã
o da regulamentação do sistema financeiro de caráter
preventivo. Da mesma forma, programas sociais tais como o Programa Bolsa Família foi
mantido, e houve ampliação do número de beneficiários do programa, além de aumentos
pontuais do
salário
-
mínimo
durante
o período.
Ainda sobre a construção do mercado interno, o governo fez a redução do Imposto sobre
Produtos Industrializados, favorecendo os setores ligados aos materiais de construção, às
montadoras e à linha branca dos eletrodomésticos, estimulando o cons
umo e a geração de novos
postos de trabalho nesses setores.
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Parte do projeto intervencionista, o governo promoveu, no mesmo período, a redução
da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), para elevar a venda de
motocicletas e, ainda
, aumentou o IPI dos cigarros, visando compensar a perda na arrecadação.
A estratégia de investir no mercado interno esteve sustentada no discurso de que "O Brasil pode
compensar a retração do mercado mundial pelo fortalecimento do mercado doméstico"
(MANT
EGA, Inovação Unicamp, 29/8/2008)
.
Além de implantar a redução de diversos tipos de impostos sobre produtos
industrializados e fomentar o microcrédito via bancos público, o governo utilizou os bancos
públicos para recuperar o crédito no país, oferecendo li
nhas de crédito e dando incentivos
financeiros ao BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, para que estes
fornecessem crédito para as empresas de diversos setores da economia a baixas taxas de juros
(D'AGOSTINO, 2012).
O governo ampliou a interven
ção estatal através de mecanismos considerados
heterodoxos, destinados a oferecer financiamentos produtivos em longo prazo e com juros
baixos para as obras do PAC; buscou estimular as empresas estatais que não foram privatizadas
no governo Cardoso (caso da
Eletrobras, por exemplo) e permitiu que as mesmas se
associassem às empresas privadas para aumentar os investimentos com recursos do Tesouro;
finalmente, o BNDES redirecionou suas prioridades para investimentos estruturais, sob a lógica
do desenvolvimento
de empresas nacionais, diferente do governo anterior, cujo projeto
privilegiou o financiamento das privatizações das empresas nacionais.
Por fim, buscou
incentivar a competitividade das empresas brasileiras em relação às multinacionais que
operavam no paí
s, além de incentivar as companhias nacionais a se expandirem para o exterior.
Parte das suas estratégias para alavancar as indústrias brasileiras, o governo criou a
Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), com foco em opções
estrat
égicas (tecnologias de informação e comunicação, semicondutores, fármacos e
software
),
apostando em setores vanguardas, como a biotecnologia ou a nanotecnologia.
Para além de um projeto de desenvolvimento puramente econômico, o governo Lula
apresentou ele
mentos sociais na definição do seu projeto de desenvolvimento, com forte
presença do Estado (JARDIM, 2007), já que apesar da forte presença das finanças no governo
Lula, estas estiveram sob o controle do Estado. Houve ainda, a suspensão do programa de
priv
atização e posterior criação das Parcerias Público
-
Privadas (PPP), em 2004, visando a
captar recursos para a implantação das obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC).
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Como desdobramentos da política acima, o governo Lula troux
e proteção às empresas
de capital nacional, especialmente via BNDES e melhor distribuição da renda e proteção aos
trabalhadores mais pobres, por meio de estratégias de ampliação do acesso à educação superior
com destaque para o Programa Universidade para T
odos (PROUNI), para o
Fundo de
Financiamento Estudantil (FIES)
, para a Restruturação e Expansão das Universidades Federais
(Reuni) e a política de cotas. No conjunto, esses programas buscaram a inclusão do jovem pobre
em espaço considerado até então de eli
te, as universidades, com foco para a universidade
pública, colocando em destaque a importância cognitiva e institucional da política de cotas.
Por fim, d
urante seu governo, especialmente o segundo, Lula defendeu um projeto de
governo no qual a atuação do
Estado como articulador e indutor de políticas públicas. Por
ocasião da crise de 2008, Lula declarou: "Costuma
-
se dizer que o Estado só atrapalha e, quando
aconteceu a crise [de 2008], aqueles que pareciam deuses da economia procuram o Estado, que
não sabi
a nada, para salvá
-
los” (O GLOBO, 26/3/2009).
ACM: apresentando o protocolo de pesquisa
Os dados das trajetórias dos ministros foram analisados a partir da ACM, seguindo o
protocolo a seguir:
1
.
Para
a elaboração da ACM, criamos um banco de dados
excel
com as trajetórias de
151 ministros titulares dos períodos estudado; mapeamos as trajetórias no CPDOC, da FGV.
2
.
Em seguida, criamos as variáveis que direcionam esse artigo: para falar de capital
social
, olhamos as origens sociais dos ministros; para falar de capital cultural, olhamos a
escolarização, passagem pelo internacional, tipo de escola de economia pela qual passou (se
mais ortodoxa ou mais heterodoxa), se ganhou prêmio,
se têm livros escritos et
c. Para o capital
econômico, ampliamos a noção de capital econômico de Pierre Bourdieu e
olhamos a ocupação
dos pais (que nos dá uma noção da classe de origem), uma vez que não temos dados sobre
patrimônio.
3
.
Os dados foram rodados no software R, utiliza
ndo o pacote FactoMineR, para Análise
de Correspondência Múltipla dos Dados, análise de agrupamentos (cluster) e também elipses,
que ajudam a analisar uma variável fixada e comparar na própria ACM como ela se comporta
em relação às demais variáveis
4
.
Como
resultado da ACM, temos uma redução da dimensionalidade de dados, em que
as dimensões dos eixos são construídas com base nas variáveis com maior variância, em que a
distância entre indivíduos representam distâncias de propriedades sociais; o
cluster
ajuda
a
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enxergar quais indivíduos tem características próximas e as elipses permitem ver, com a
identificação por cores, como variáveis de interesse se comportam
.
Dados da pesquisa
Primeiramente, demonstramos apenas a nuvem das variáveis
categóricas ativas, de
maneira a compreender onde os indivíduos estarão situados com respeito aos capitais. Foram
selecionadas apenas as 100 variáveis categóricas que mais contribuem, sendo que para nós, a
ausência de informações para alguns agentes, já é
um dado em si; ou seja, os dados disponíveis
representam agentes que tem maior capital cultural, em detrimento de agentes que não tem esse
capital e que, portanto, não tem dados familiares, pessoais e profissionais disponíveis
publicamente. Entendemos que
famílias com maior capital cultural teria maior sensibilidade
para a produção das biografias dos familiares do que aqueles com menor capital, que não dispõe
de interesse cognitivo para produção e manutenção da herança simbólica da família.
Teremos, portant
o, uma ACM entre os indivíduos com dados ausentes (lado esquerdo
do gráfico), quadrante superior direito (indivíduos de maior capital) e quadrante inferior direito
(indivíduos de menor capital).
Para facilitar a interpretação do gráfico, foi elaborada a t
abela de siglas abaixo, com as
variáveis que destacamos, primeiramente do quadrante superior direito:
Tabela 1
Capital
Sigla/descrição
Capital cultural
-
> acadêmico
un_pub
-
estudou em universidade pública na
graduação
Curso_econ
-
graduação em economia
curso_cien_pol&hum
-
graduação em ciência política
e outros cursos em ciências humanas
prof_econ
-
professor de economia em universidades
form_pgr_s
-
fez pós graduação
str
ictu
-
fez mestrado ou doutorado
lato
-
fez especializaçao
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Capital simbólico
circ_inter_s
-
tem circulação internacional
eua
-
circulação internacional nos Estados Unidos
eur
-
circulação internacional na Europa
dec_80&90
-
anos em que fez a pós graduação
dec_60&70
-
anos em que fez a pós graduação
proj_impl_tip_fiscal
-
projetos implementados nos
ministérios com foco em dominância fiscal (mão
direita)
data_form
-
data de formatura na graduação
Fonte:
Elaborado pelos autores
A tabela, a seguir, serve de referência para ler as siglas importantes no quadrante inferior
direito
Tabela 2
Capital
Sigla/Descrição
capital cultural
curso_grad_adm
-
curso de graduação em
administração
prof_pai_trab_brac
-
pai trabalhador braçal
prof_mae_prof_lib
-
mãe profissional liberal
prof_mae_out
-
mãe com outras profissões
capital simbólico
pmdb_s
-
faz parte do partido MDB
pt_s
-
faz parte do partido dos trabalhadores
psdb_n
-
não faz parte do PSDB
prof_prof_lib
-
profissionais liberais
ocup_conjunc_func_pub
-
carreira no funcionalismo
público
Proj_impl_tip_estrutura
-
projetos mais ligados a
infra
-
estrutura (mão esquerda)
capit
al econômico
class_baix
-
oriundo de classes sociais de baixo capital
econômico
Fonte: Elaborado pelos autores
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Figura 1
–
As 100 variáveis categóricas ativas que mais contribuem para a distinção entre os
indivíduos
Fonte: Elaborado pelos autores
Como é possível observar, no quadrante superior direito, temos os ministros ligados ao
governo Cardoso, com maior
capital cultural, em geral com graduação em economia, mestrado
e doutorado nos Estados Unidos e Europa; alguns são professores de economia em
universidades e seus projetos estão mais ligados a uma perspectiva de dominância fiscal (braço
direito do Estado),
mais ligado à ortodoxia econômica, bem como fizeram suas pós
-
graduações
em períodos em que as teorias monetaristas estavam em voga nas principais universidades
estadunidenses.
No quadrante inferior, podemos observar que os ministros do governo Lula são em
geral
filiados a partidos como MDB e PT, origens em classe social baixa, com
vínculo
com
movimento social e sindical, com pai trabalhador braçal e mães profissionais do lar, são
funcionários públicos em baixo e escalões intermediários e tem projetos mais
ligados à
infraestrutura
e social (braço esquerdo do Estado).
A seguir, temos os ministros identificados
por cor (vermelho para Lula e azul para Cardoso)
.
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Maria Chaves
JARDIM
e
Márcio Rogério da
SILVA
Rev. Sem Aspas
,
Araraquara
, v.
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Figura 2
Fonte: Elaborado pelos autores
Como podemos observar, os ministros do governo Lula es
tão em sua maioria no
quadrante inferior direito, de menor capital, ao passo que os ministros de Cardoso estão na
maioria no quadrante superior direito (maior capital).
A seguir, temos um
cluster
de indivíduos
que mostram os três agrupamentos (levando
-
se e
m conta que há agentes que têm capitais
homólogos na fronteira).
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Os capitais detidos por ministros e ministras dos governos
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Figura 3
Fonte: Elaborado pelos autores
Agora focamos na análise dos capitais cultural e simbólico relacionado aos pais, com o
suporte da análise da ACM com
elipses
. A seguir, temos o
parentesco com pessoas da elite,
classe média ou classe baixa do ponto de vista do capital econômico (origem social):
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Maria Chaves
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Márcio Rogério da
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Figura 4
Fonte: Elaborado pelos autores
Como podemos observar no gráfico, no lado esquerdo do gráfico a ausência de dados
indica provável pertencimento a classes sociais inferiores, visto que as elites têm em geral seus
dados mais publicizados em dados secundários acessíveis. É possível observar a elipse azul
(com eixo gravitacional mais sobreposto no quadrante superior direi
to), onde há predominância
de ministros do governo Cardoso, que em geral tem familiares mais ligados à elite, ao passo
que há mais familiares da classe média e popular entre os ministros do governo Lula, bem como
a maioria dos que estão com dados ausentes,
também estão no quadrante inferior direito e lado
esquerdo; a maioria deles ligados ao governo Lula.
A seguir, temos a ACM como elipse apresentando a profissão paterna:
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Os capitais detidos por ministros e ministras dos governos
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Figura 5
Fonte: Elaborado pelos autores
Podemos observar a predominância de pai
s trabalhadores braçais e profissionais público
de baixo escalão no quadrante inferior direito, ligado a Lula; e a predominância
no quadrante
superior direito de funcionários públicos de carreira.
Com respeito à universidade, a predominância é de graduação em universidades
públicas. Com respeito aos cursos temos:
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Maria Chaves
JARDIM
e
Márcio Rogério da
SILVA
Rev. Sem Aspas
,
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, v.
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Figura 6
Fonte: Elaborado pelos autores
Como se pode
observar, no governo de Cardoso há uma predominância de economistas
e engenheiros ao passo que no governo Lula há uma maior diversidade, com predominância de
administradores, ciências humanas, médicos e militares. Com respeito aos ministérios, o
pertencime
nto foi classificado em braço direito (governo Cardoso) e braço esquerdo (governo
Lula) do Estado.
A seguir temos as profissões:
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Os capitais detidos por ministros e ministras dos governos
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Figura 7
Fonte: Elaborado pelos alotes
É possível ver que predominantemente os ministros do governo Lula assumem mais
ca
rgos políticos e também profissionais liberais, ao passo que os do governo Cardoso atuavam
no setor privado como economistas (instituições financeiras ou setor público) e engenheiros
(parte reconvertidos às finanças).
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Márcio Rogério da
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, v.
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Algumas Análises
A
aplicação da ACM sugere, pelas categorias analisadas, que as ascendências dos
ministros Lula são majoritariamente da baixa classe média e boa parte da classe popular, já que
a profissão dos pais dos ministros é de origem popular (agricultor, manicure, dona
de casa,
faxineira, costureira, mecânico).
A ACM mostra algo comum entre quase todos os agentes, o
que estamos denominando provisoriamente como
habitus de classe
(
BOURDIEU
, 1996). Ou
seja, com poucas exceções, todos os agentes são filiados e/ou
simpatizantes do Partido dos
Trabalhadores (PT), ligados a movimentos sociais e são oriundos de ocupações técnicas.
Por outro lado, os ministros do governo Cardoso possuem origem social de classe média
alta (médicos, advogados, fazendeiros, diplomatas, emp
resários) e a circulação internacional é
quase que uma regra para esse grupo. Aqui temos um
habitus de classe
mais próximo do da
elite.
Lembramos que o
habitus
é marcador simbólico que pode expressar distinção ou
desclassificação (BOURDIEU, 1979). No caso
dos ministros Cardoso expressa distinção
quando mostra a
cultura dominante; no caso dos ministros Lula expressa, desclassificação
quando apresenta a cultura dos dominados.
Os dados permitem sugerir que existe forte distinção entre os ministros analisados e
essa
distinção está marcada, em especial, pela passagem pelo mercado no caso dos ministros
Cardoso e por participação em movimentos sindicais e sociais, no caso dos ministros Lula.
Como observamos na revisão bibliográfica, o governo Cardoso foi mais enga
jamento
em um projeto neoliberal e o governo Lula em um projeto mais intervencionista. O projeto
neoliberal ou intervencionista orquestra com as origens sociais dos ministros, já que os
ministros Cardoso estiveram mais envolvidos em projeto ligados ao braç
o direito do Estado
(ajuste fiscal, busca do superávit, projeto de desenvolvimento com mais autonomia do
mercado), enquanto os projetos dos ministros Lula estiveram mais ligados ao braço esquerdo
do Estado (investimento em política social; apoio aos bancos
públicos e projeto de
desenvolvimento de natureza desenvolvimentista).
Nesse sentido, a aplicação da ACMN permite defender que os ministros Lula seriam
menos sensíveis ao projeto neoliberal, já que a socialização destes em espaços, com pessoas e
valores
que estimulam o contato com o projeto neoliberal, foi mais restrita do que para os
ministros do governo Cardoso. Ao contrário, a ACM mostra que os ministros Cardoso possuem
formação que os enraíza no projeto neoliberal e em crenças neoliberalizantes, adqui
ridas em
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Os capitais detidos por ministros e ministras dos governos
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passagens pelas universidades americanas e em socialização em espaços sensíveis esse tipo de
projeto.
Em diálogo com Bourdieu (2006) apontamos que as escolhas dos ministros se dão não
só subjetivamente, mas estão circunscritas a elementos históri
cos, culturais e, principalmente,
a um campo dado de possibilidades.
As prioridades se darão de acordo com os recursos
herdados e construídos socialmente dentro de histórias singulares de vida.
Portanto, ainda que
não seja objetivo dessa pesquisa, o estudo
nos permitiu entender, a partir dos capitais dos
ministros, suas escolhas e engajamentos em projetos para o desenvolvimento do Brasil.
Considerações finais
Por meio da ACM, buscamos verificar empiricamente as distinções existentes entre os
ministros
dos períodos Cardoso e Lula, identificando os principais capitais detidos por esses
ministros.
Após aplicação da ACM, constatamos baixo capital cultural, econômico e simbólico nos
ministros Lula, assim como um
habitus
mais próximo das classes populares e
médias
.
Identificamos, também, uma maior participação em projetos de
infraestrutura
e
intervencionismo estatal.
No caso dos ministros Cardoso, identificamos um forte capital
econômico, cultural e simbólico, passado de geração a geração, configurando aquilo que
estamos chamando de
habitus
de classe mais próximo das elites.
Considerando
a discussão de Bourdieu (2006)
sobre o Estado, na qual o autor afirma
que por meio do sistema de classificação, o Estado molda as estruturas mentais e impõe
princípios de visão e de divisão comuns e formas de pensar, sugerimos, com base na revisão
bibliográfica, que mostra maior sensib
ilidade neoliberal no governo Cardoso e sensibilidade
intervencionista no governo Lula, que o governo Lula
coordenou os mercados, produzindo bens
e serviços por meio de empresas estatais e parcerias com o capital privado; implantou projetos
com base nos re
cursos oriundos do mercado financeiro
-
mais especialmente dos fundos de
pensão, via emissão de títulos públicos e por meio de investimentos diretos nas empresas
-
assim como coordenou certa regulamentação, “domesticação” do mercado financeiro
(JARDIM, 200
9), em diálogo com políticas econômicas heterodoxas.
Por outro lado, em diálogo com a
doxa
internacional vigente, o governo Cardoso operou
a privatização das estatais, em nome da propalada eficiência do Estado e deu maior espaço para
as empresas estrangei
ras, em detrimento da política de valorização das empresas públicas, dos
bancos públicos e do mercado interno nacional. Assim, o governo Cardoso manteve uma
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Maria Chaves
JARDIM
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Márcio Rogério da
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Rev. Sem Aspas
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política econômica em diálogo com o capital internacional, o que só foi possível porque o
Estado le
gislou todo o aspecto jurídico que possibilitou a efetivação do projeto neoliberal.
Concluímos que para a efetivação de um projeto ou outro, a adesão e engajamento dos
ministros foi fundamental e que, em alguma medida, o engajamento neoliberal ou
interven
cionista orquestra com os capitais e a posição no espaço social ocupada
por eles
.
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Prouni
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(Mestrado em em Ciências Sociais)
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Universidade Estadual Paulista, Araraquara, SP, 2016.
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n. 39 jul./dez
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Os capitais detidos por ministros e ministras dos governos
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https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.17627
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Maria Chaves
JARDIM
e
Márcio Rogério da
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Como referenciar este artigo
JARDIM, M. C.;
SILVA, M. R
.
Os capitais detidos por ministros e ministras dos governos
Cardoso e Lula:
Mapeando
a distinção
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Rev. Sem Aspas
, Araraquara, v.
11, n.
esp.
1, e022018,
2022. e
-
ISSN: 2358
-
4238.
DOI:
https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.17627
Submetido em
:
12/08/2022
Revisões requeridas
em
:
15/09/2022
Aprovado em
:
20/11/2022
Publicado em
:
26/12/2022
Processamento e edição: Editora Ibero
-
Americana de Educação.
Correção, formatação, normalização e tradução.
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Capitals held by ministers of
C
ardoso and
L
ula governments:
Mapping
the distinction
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,
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1
CAPITALS HELD BY MINISTERS OF CARDOSO AND LULA GOVERNMENTS:
MAPPING THE DISTINCTION
1
OS CAPITAIS DETIDOS POR MINISTROS E MINISTRAS DOS GOVERNOS
CARDOSO E LULA: MAPEANDO A DISTINÇÃO
CAPITALES EN MANOS DE MINISTROS Y MINISTROS DE LOS
GOBIERNOS DE
CARDOSO Y LULA: MAPEANDO LA DISTINCIÓN
Maria Chaves
JARDIM
2
Márcio Rogério da
SILVA
3
ABSTRACT
: Lula's return as president of the republic, in the October 2022 elections,
revitalizes a theme that has never been out of fashion in the social sciences, the study of the
Lula governments, especially in comparison with the Cardoso governments. The articl
e seeks
to aim at the main capitals held by the ministers of the State of the Cardoso and Lula periods,
specifying the position occupied in the social space and the distinction. The study of the capitals
held by these can add efforts to studies that seek t
o understand this period of contemporary
history. In general, it was possible to conclude that the ministers of the Cardoso government,
from the point of view of position, have higher cultural, economic and symbolic capitals from
the perspective of the eco
nomic mainstream, configuring an elite habitus, while the Lula
ministers have less economic, cultural and symbolic capital, constituting a more popular
habitus. Towards this objective, we conducted a study of the trajectory of these ministers and
then appl
ied the ACM. The data were analyzed from the relational and praxiological sociology
of Pierre Bourdieu.
KEYWORDS
: Cardoso government and Lula government.
Ministers. Distinction. Capital.
ACM.
RESUMO
:
O retorno de Lula como presidente da república, nas eleições de outubro de 2022,
revitaliza um tema que nunca esteve fora de moda nas ciências sociais, o estudo dos governos
Lula, especialmente em comparação com os governos Cardoso. O
artigo busca objetiv
ar os
principais capitais detidos pelos ministros e ministras do Estado dos períodos Cardoso e Lula,
especificando a posição ocupada no espaço socia e a distinção. O estudo dos capitais detidos
por estes pode somar esforços aos estudos que buscam entender
esse período da história
contemporânea. De forma geral, foi possível concluir que os ministros do governo Cardoso,
do ponto de vista da posição, têm capitais culturais, econômicos e simbólicos mais elevados
sob a ótica do mainstream econômico, configurando
um habitus de elite, ao passo que o os
ministros Lula possuem menor capital econômico, cultural e simbólico, constituindo um
1
This article was written based on research funded by the São Paulo Research Foundation (FAPESP), process nº
2014/11804
-
6 and CNPQ. We appreciate the indispensable support to our
scientific activities.
2
São Paulo State University
(UNESP), Araraquara
–
SP
–
Brazil
.
Associate Professor at the Department of Social
Sciences
.
ORCID: https://orcid.org/0000
-
0001
-
5715
-
1430.
E
-
mail: majardim@fclar.unesp.br
3
Federal University of
São Carlos (UFSCar), Lagoa do Sino
–
SP
–
Brazil. ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
8176
-
1551
. E
-
mail:
marciosilva@ufscar.br
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Maria Chaves
JARDIM
and
Márcio Rogério da
SILVA
Rev.
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, v.
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habitus mais popular. Para tanto, realizamos estudo de trajetória desses ministros e em
seguida, aplicamos a ACM. Os dados foram a
nalisados a partir da sociologia relacional e
praxiológica de Pierre Bourdieu.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Governo Cardoso e governo Lula. Ministros. Distinção. Capitais.
ACM.
RESUMEN
: El regreso de Lula como presidente de la república, en las elecciones de octubr
e
de 2022, revitaliza un tema que nunca ha pasado de moda en las ciencias sociales, el estudio
de los gobiernos de Lula, especialmente en comparación con los gobiernos de Cardoso. El
artículo busca apuntar a las principales capitales ocupadas por los minis
tros y ministros del
Estado de los períodos Cardoso y Lula, precisando la posición ocupada en el espacio social y
la distinción. El estudio de los capiteles que poseen estos puede sumar esfuerzos a los estudios
que buscan comprender este período de la hist
oria contemporánea. En general, se pudo
concluir que los ministros del gobierno de Cardoso, desde el punto de vista de la posición,
tienen capitales culturales, económicos y simbólicos superiores desde la perspectiva de la
corriente económica dominante, co
nfigurando un habitus de élite, mientras que los ministros
de Lula tienen menos capital económico, cultural y simbólico, constituyendo un habitus más
popular. Para ello, realizamos un estudio de la trayectoria de estos ministros y luego aplicamos
la ACM. L
os datos fueron analizados a partir de la sociología relacional y praxiológica de
Pierre Bourdieu.
PALABRAS
CLAVE
: Gobierno Cardoso y gobierno Lula.
Ministros. Distinción. Capital.
ACM.
Introduction
Lula's return as president of the
republic, in the October 2022 elections, revitalizes a
theme that has never been out of fashion in the social sciences, the study of Lula's presidential
terms, especially in comparison with the Cardoso governments. The interest in these two
periods is so g
reat that there is already a tradition of studies about them, often comparing these
two moments in the democratic history of Brazil. Our article is interested in studying these two
governments, by comparing the capital held by their respective ministers.
I
t is important to say that in the field of sociology, initiatives in studies on ministers are
rare, a topic that has been of great interest to political science, especially research on the
selection process and on the political and social trajectories of m
inisters. According to Codato
and Franz (2017), these studies seek to raise the profile of the ministerial elite of their respective
countries, considering standard variables, such as age, gender, family heritage, schooling,
professional trajectory, ideolo
gical orientation of the party, experience in legislature positions
and holding positions at the top of the State or in private firms.
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Capitals held by ministers of
C
ardoso and
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ula governments:
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the distinction
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3
Codato
and Franz (2017) add that in Brazilian presidentialism, ministers fulfill a dual
role: ensuring that the formulation and implementation of public policies are in accordance with
the guidelines of the President of the Republic and his party's program; and
guarantee, through
political transactions, party support so that these projects have support and chances of approval
by the National Congress. In this sense, the selection of ministers and the formation of cabinets
would have a strategic political role and
for the good conduct of the government of the President
of the Republic.
The same authors claim that research on cabinets in the French semi
-
presidential regime
has observed the occupation of ministries by individuals increasingly accustomed to the logic
of the political field. François and Grossman (2012) have noticed the presence of new
professional types, with a decrease in the number of technocrats, experts and non
-
partisan
ministers and the consequent increase in political cadres with training and com
pleted careers in
representative entities, whether in elected positions, whether in the bureaucracy of political
parties or even in social movements (FRANÇOIS; GROSSMAN, 2012).
In Brazil, D'Araújo (2009) did an X
-
ray of the Executive after redemocratizatio
n and
identified that “ministers are experienced people in political life, with strong roots in
parliamentary and executive activities at all levels of government” (D'ARAUJO, 2009, p. 25
,
our translation
). According to Costa and Codato (2013), this would i
ndicate the existence of
political and administrative expertise as a basic condition for appointment to the ministry.
Despite being appointment posts and not elective positions, ministries can also be a space for
political professionalization, like legisla
tive houses.
Codato and Franz (2017) argue that in the case of Brazil, this stems from the importance
of party criteria in ministerial recruitment. In multi
-
party presidentialism, the President of the
Republic's party hardly manages to be the majority part
y in the National Congress, forcing the
head of government to make alliances with other parties to gain political support and approve
his bills, legislative amendments and provisional measures. To guarantee this support, the
president needs to attract the
other parties, other than his own, to the government, allocating
them to the ministries or bureaucracies subordinated to them. This bargain between high
-
ranking political positions and parliamentary support in the two Houses of the Brazilian
National Congr
ess significantly impacts the composition of ministries (ABRANCHES, 1988)
and reveals the strategies pursued by ministerial recruitment in Brazil.
In our research agenda, the issue of ministers has gained prominence. In Jardim e Rosa
(2021) a study was car
ried out on the biography of 151 ministers who worked between 1994
and 2010 in their portfolios. After presenting a cartography of the profile of all the ministers,
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Maria Chaves
JARDIM
and
Márcio Rogério da
SILVA
Rev.
Sem Aspas
,
Araraquara
, v.
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, n.
esp. 1
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through several variables, the article highlighted three of them: occupation of the ministe
rs'
parents and grandparents, the university they went to and their international circulation. The
results indicate that there is homology between the ministers' individual trajectories and the
prevailing economic beliefs of the period, expressed, above al
l, from neoliberal or
developmentalist beliefs, disseminated in the universities through which they passed, in the
format of economic theory; in Jardim e Moura (2022) the positions taken by ministers linked
to the economic area of the Lula da Silva and Dil
ma Rousseff governments were compared,
through their economic guidelines. The guiding principle of the article was to understand the
economic decision
-
making of the PT governments, through the study of the biography of the
ministers linked to the economy o
f the studied period, starting from the principle that economic
and political decisions are rooted in sociocultural elements, namely, the worldview of ministers
who make decisions, whose worldview would be socially manufactured.
Silva (2017) and Silva and
Grün (2019) show how the directors of Central Banks,
appointed under coalition presidentialism, present positions and take positions from a more
monetarist perspective (Cardoso government) or more neo
-
Keynesian, but expand the look at
the economy of the na
rratives of the chief economists of financial institutions, who, at various
times, through a performative pressure, manage to create or even perform in the directors
positions that diverge from expectations about their positions and dispositions.
Continuin
g with this study agenda already
initiated
by us, on ministers, the article that
we present seeks to objectify which capitals held the ministers of the State of the Cardoso and
Lula periods, specifying the distinctions between them. For that, we carried out a trajectory
study of these ministers an
d then applied the MCA. We believe that the study of their capitals
and distinction can help us to locate their positions in the social space and the profile of these
ministers. Although it is not our main objective, this could, to some extent, help us to
understand
the profile of the projects in which they were engaged.
The article is divided as follows: in addition to this introduction and conclusion, in the
next item we discuss the theoretical framework that inspires this research, based on Pierre
Bourdi
eu's relational and praxiological sociology; then we will present a brief summary of the
Cardoso and Lula governments, seeking to highlight the profile of existing projects in each
government (whether more neoliberal or more interventionist); finally, we p
resent and analyze
our research data.
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Capitals held by ministers of
C
ardoso and
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Mapping
the distinction
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The distinction rooted in social elements: the ownership of capital and the definition of
habitus
For Bourdieu, the trajectory study, in dialogue with the MCA, helps us to map the capital
held by a social agent. Fo
r the author, trajectories would be the constructed result of a system
of relevant traits of an individual biography or a group of biographies (BOURDIEU, 1998); that
is, a trajectory is the objectification of the relations between agents and forces present
in the
field; a set of relationships can cause distinction and symbolic boundaries in the studied group.
In Bourdieu (1998), there is no MCA analysis without a systematic study of trajectories.
In turn, Multiple Correspondence Analysis (MCA) is part of a
broader technique called
Geometric Data Analysis (GDA), a statistical approach developed by the French mathematician
Jean Paul Benzécri in the 1970s, with which Bourdieu worked. These works were important to
counterbalance the statistical confirmatory mode
ls (GREENACRE; BLASIUS, 2006).
According to Le Roux and Rouanet (2010), descriptive analysis precedes probabilistic
modeling, not depending on the size of the data. Complementing this idea, for Bertoncelo (2022,
p. 17, our translation) “social causality co
nsists of the global effects of a complex structure of
interrelationships, which cannot be reduced to the combination of multiple effects”.
Concretely, the MCA is a spatial representation in the Cartesian plane of variables of
great variance and
individuals in a relational position between these variables and between
them, in a way that this allows a reduction of data dimensionality, in which the distance between
individuals represents normalized distances of social property, being, in this sense,
of an
exploratory nature (BERTONCELO, 2022).
Therefore, the MCA is predictive, since once the structure of purposes and contrasts has
been reconstructed, individuals can be projected into this dispersion space (HUSSON; JOSSE,
2014).
Finally,
Bertoncelo (2022) states that MCA has good results when we produce
qualitative differentiations, in which the categories cannot be ordered directly. This means that
in our case, for example, the number and complexity of the variables that make up the capit
al
of the leading ministers cannot be hierarchized between dependent and independent variables
in a clear way, given their volume and complexity. Based on these assumptions, Bourdieu was
able, in his studies, to reconstruct the space of social positions (B
OURDIEU, 2008), aiming at
capitals and distinctions.
Regarding the concept of capital in Bourdieu (1996; 2006), it is first necessary to say
that capital is, in Bourdieu, a “resource” that can be owned and transmitted by an individual, a
couple, an establi
shment, a community, or even a country. For the author, there are four types
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of capital: economic, cultural, social and symbolic, where the original capital would be linked
to the family and the incoming capital would have to do with the reconversion in th
e social
space.
Economic capital
corresponds to the notion of equity and is evaluated in monetary
terms. Money from Pierre Bourdieu's perspective is symbolic. Economic capital in Bourdieu,
can be converted into symbolic, social and cultural capital.
Social
capital
is the set of personal relationships possessed by an agent, family and
company, constituting a relationship network.
Cultural capital
was used by Bourdieu to explain social inequalities in educational and
cultural matters. It is a multidimensional
set of skills (for example, mastery of language and
calculation) and dispositions (a certain sensitivity to the world), which constitutes the embodied
version of cultural capital. There are three embodied states of cultural capital in Bourdieu: 1)
Corpora
l Hexis; 2) Institutionalized (through diplomas, works of art etc.) and; 3) Objectified:
work of art, painting, music etc. Cultural capital would be responsible for forming taste, which
in turn promotes distinction and reveals domination.
The fourth and la
st capital, the
symbolic capital
, is defined by the “look” deposited (the
value given) by society to a social agent, family, company. There is, therefore, a relational and
collective dimension, since symbolic capital means recognition and prestige. In Bour
dieu
(1996) capitals exist in a relational way, since one can reinforce the other.
According to Bourdieu's method, in order to measure the social origin of an agent and,
therefore, his origin capital, it is fundamental to objectify the profession of the pa
rents,
especially the father, since in the text
The contradictions of inheritance
, from the book
The
Weight of the World
(1993), Bourdieu shows the role of the family in the transmission of
cultural heritage, with emphasis on the father, who, according to
the author, would be most
responsible for transmitting the inheritance to the heir.
The same argument appears in Bourdieu and Passeron (2014, p. 28) for whom: “(...),
social origin is, of all determinants, the only one that extends its influence to all dom
ains and
all levels of the students' experience and primarily the conditions of existence”. Thus, the school
becomes the sole and total agent for the transmission of social positions. The idea that social
origin, as well as legitimacy markers (symbolic cap
ital, socialization processes) is natural, loses
relevance in the face of Bourdieu's theses (1996; 2006), which shows the school's “magical”
work, reproducing and valuing the culture formed in the ruling class.
As Bourdieu (2006) demonstrates, familiarity
with the legitimate culture
–
the
legitimate, dominant culture
–
brings gains in school life, in the university field and in the labor
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market, favoring those who in early childhood had access to this legitimate culture, “as a direct
experience", a "simple
delight", at first, "outside school subjects", marked as "pedant". Thus,
“the acquisition of legitimate culture through insensitive familiarization within the family tends
to favor an enchanted experience of culture, which implies forgetting the acquisitio
n and
ignoring the instruments of appropriation” (BOURDIEU, 2006, p. 10, our translation).
Another important issue in Bourdieu's sociology concerns the formal education received
by social agents. The educational trajectory of individuals, basic and higher
education and the
institutions in which they studied, are constitutive
–
although not exclusively
–
of what
Bourdieu called legitimate cultural capital.
In Bourdieu (2014) there would be a correlation between the class of origin and the
years of study, whi
ch is reflected in aspects such as age when they started studying, sex and the
geographic issue. In the case of France, Bourdieu informs that the legitimate heirs enroll in
prestigious courses at the best French universities, while the children of the popu
lar classes
-
when they enroll in higher education
-
end up attending courses without much prestige. For the
author, school aspirations unfold in objectivities referring to the reality of each social agent,
that is, the choices are delimited according to t
he trajectories
On the above argument, Bourdieu defends in the book
La Noblesse d´Etat: Grandes
écoles et esprit de corps
(1989), that in elite higher education courses, there is an action of
“consecration” and a rite that produces a separate and sacred gr
oup, which occurs in a masked
way, producing and reproducing nobility. Therefore, for Bourdieu (2007), the school system,
before being characterized by a liberating mark, is one of the most intense forms of social
conservation, as it tends to legitimize so
cial inequalities based on cultural heritage.
From this perspective, an act or an agent's choice cannot be explained by itself, since,
according to the author, these acts are linked to the social context: in addition to suffering the
social constraints of
a group, they are associated with their individual experiences, family
(social origin) and also their secondary socialization (university and other social spaces). The
choices, therefore, do not only occur subjectively, but are circumscribed to historical
and
cultural elements and, mainly, to a given field of possibilities. Priorities will be given according
to inherited and socially constructed resources within unique life stories.
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Habitus
: expressing worldviews
In Bourdieu, ownership of capital helps to generate a
habitus
, which in turn forms an
agent's worldview, which is socially constituted. To this end, the individual trajectory of the
agents helps build their
habitus
, which are INcorporated pre
-
dispositions
(placed in the body
and mind) by social agents throughout their socialization process. In this context, the
habitus
integrates past experiences and acts as a matrix of perceptions, appreciations, actions, tastes and
decision
-
making. This “matrix”, or set o
f provisions, provides the necessary schemes for the
intervention of social agents in daily life, in a way that is not necessarily conscious.
As the author treats, these dispositions are not fixed. Furthermore, they are neither the
personality nor the iden
tity of individuals: “
habitus
is an operator, a matrix of perception and
not an identity or a fixed subjectivity” (BOURDIEU, 2002, p. 83, our translation). Being a
product of history, the
habitus
is an open system of dispositions, permanently confronted wi
th
new experiences and permanently affected by them. It is durable, but not immutable
(BOURDIEU, 2002, p. 83). It is a
symbolic marker
that can express distinction or
disqualification (BOURDIEU, 1979). It shows distinction when it expresses the dominant
cu
lture, which in turn contributes to the integration of the dominant class, through
habitus
,
ensuring immediate communication between all its members and
distinguishing
them from
other social classes. It expresses disqualification when it presents the cultu
re of the dominated.
Considering the contributions of Pierre Bourdieu (2002), we can define the concept of
habitus
as a conceptual instrument that will help us to think about the relationship and mediation
between external social conditioning and the subjectivity of the ministers studied, taking into
account that the
habitus
is a cultural matrix that predisposes indiv
iduals to make their choices,
and the similarity or affinity of
habitus
forms
the class
habitus
(bundle of similar
relationships).
Important in this discussion is the concept of State in Bourdieu, which we will present.
The State in Pierre Bourdieu
For
Bourdieu (2007), the State would be the result of the thought categories of the agents
that act in it. From this perspective, agents, through their worldviews, influence and are
influenced by the State. In the case of the ministers of the studied periods,
they would have
power to act in the State, helping to build categories of thought reproduced by it. In addition to
an abstract State, the State in Bourdieu is a State embodied and objectified in social agents; that
influences and is influenced by other age
nts and the State.
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In addition, the social agents that participate in the State are represented as embodying
the State; a State constituted as a relatively autonomous space in relation to the social forces in
struggle for power and ensuring a
position of arbiter in political conflicts. To say that the State
is legitimate in Bourdieu is to say that it can obtain submission to the order it imposes, with
symbolic power as the only form of constraint. Thus, generalized obedience does not pass
throu
gh coercion in Bourdieu. The recognition of the legitimacy of obedience is an act of
knowledge, which is an act of unconscious submission to the social order, that is, it is an act of
belief, even more, of collective belief.
From this perspective, Bourdieu
alerts us to the fact that the State does not necessarily
have the need to issue orders, or to exercise physical coercion to produce an ordered social
world, “at least as long as it can produce embodied cognitive structures that are in line with the
objec
tive structures, thus ensuring the belief that Hume spoke of, the
doxic
submission to the
established order” (BOURDIEU, 1996, p. 119, our translation). That is, the power of the State
is to produce and impose categories of thought to the agents of the soci
al world, whose
categories are applied to all things in the world, including talking about the State itself.
Therefore, Bourdieu calls our attention to the fact that we think the State from the very thought
created by the State, because the State is itself
our own thought. More concretely, the thought
of the State is not just a discourse or a meta
-
discourse. This thought is inscribed in the social
world, since the State would be the social world in the form of discourse. Thus, the State
produces and inculca
tes cognitive structures, according to which the social order is perceived
and incorporated, especially by the school system, which inculcates common cognitive
structures, implicitly contributing to the production and reproduction of the social order. Thes
e
structures are so naturalized that social agents are not even aware of the belief production
process.
More than legislating on economic and political issues, the State legislates, in Bourdieu,
on cognitive issues, that is, in the production of beliefs, c
reating mental forms of classification
and exercising symbolic violence over the social world. In this sense, the reigning projects
during the analyzed governments (of a more neoliberal or more interventionist nature) would
be the result of an internationa
l conjuncture, but without ignoring the worldview of the ministers
engaged in the periods (JARDIM; MOURA, 2022), which may have a connection with the
capital held by the ministers.
This time, the State establishes, through the symbolic order that it impose
s, two forms
of power: the objective structure of the State and the mental structure to think about the State,
which are homologous. Thus, it comes to exist in the objectivity, in the material structures, and
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in the subjectivity of the agents, that is, in
the representations about the form of vision and
division of the classification system.
In Bourdieu's discussion of the State, it is important not to lose sight of his metaphor of
the “right hand and the left hand of the State”, created by him to refer to
the neoliberal French
State, which in the 1980s would have used the right hand, giving greater autonomy to the
markets, than the use of the left hand, which would have started its atrophying process, due to
little use. Still for Bourdieu, the left hand wou
ld be the regulatory State, that is, the hand that
would have greater social concerns and greater control over the market. This metaphor is
important when looking at the data of the ministers who made up the State in the governments
studied.
Finally, it is
considering the importance of the State, not only institutionally, but above
all cognitively, that we begin to present a summary of the main points of the Cardoso and Lula
governments, in which the analyzed ministers acted.
Cardoso and Lula years:
brief approximation on the prevailing projects during the
periods
Cardoso years (1994
-
2001)
In view of the theoretical framework presented, the Cardoso and Lula governments will
be studied in this article, considering that every State has the power to pr
oduce and impose
categories of thought to agents in the social world, whose categories are applied to all things in
the world, including speaking of the State itself and the decisions taken by State agents
(BOURDIEU, 2014).
Regarding the State of the Cardo
so period, it defended the project of giving greater
freedom to the markets, distancing the State from economic and social issues; moreover, it was
based on orthodox economic theory, which defends the priority of the economy and with a
strong fiscal adjust
ment, to the detriment of social issues. This set of postulates is
conventionally called neoliberalism; which, in turn, was in dialogue with the criteria required
by international institutions, especially the International Monetary Fund (IMF), which
procla
imed the pursuit of a primary
surplus
, understood as the positive difference between
government revenues and expenditures, excluding interest of the debt. The search for a primary
surplus, control of inflation and public accounts became the mantra of the m
oment, from an
orthodox perspective of expenditure control and a progressive tax reform. To some extent, this
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is the project defended by the ministers of the Cardoso government, of a neoliberal nature and
more focused on the right arm of the State.
In this
context, the Cardoso government
-
understood here with its ministers, agents
embodying the State
-
was favorable to macroeconomic stabilization with integration to
globalization and cooperation with foreign investment. In that scenario, the State reform a
genda
was directly associated with the general orientation of the macroeconomic adjustment, in the
direction of what Sallum (1999) warned: “For the dominant neoliberal current, the priority was
the stabilization of prices” (SALLUM, JR. 1999, p. 33, our tra
nslation).
According to Santos (2000), in 1995, with the Real Plan in progress and with parity in
relation to the dollar, the Cardoso government sought to contain inflation by causing an
imbalance in the trade balance, causing an unprecedented level of ban
kruptcy of national
companies and using unemployment (consumption restraint) as an instrument to control
inflation.
At first, with a 15% appreciation against the dollar and higher inflation than the US, the
strategy led to a continuous appreciation of the
real until February 1995. (SANTOS, 2000).
Monetary policy was used to stabilize economic conditions, seeking to attract short
-
term
international capital to finance the constant imbalance in the current account, strongly
dependent on the international scena
rio and the US interest rate. The government resorted to
raising interest rates and restricting credit to curb demand. Thus, due to the already mentioned
opening policies to contain inflation, there was a significant number of bankruptcy filings, due
to co
mpanies not being prepared for this opening. Asian countries with an exchange rate
advantage, in addition to the United States and European countries, began to export
significantly to the country.
With a total focus on economic issues, this neoliberal proj
ect aimed at initiatives that
institutionally changed the relationship between State and market, in order to break with the
legal arrangements of the Vargas national
-
developmentalist State. In that context, the Cardoso
government began to defend that the S
tate does not have a business function, which should be
the responsibility of the private sector; thus, its finances should be balanced and with direct
stimuli to private companies and it could no longer sustain privileges for categories of
employees, amon
g other beliefs (SALLUM; GOULART, 2016).
As a result, the neoliberal belief reduced the State's participation in economic activities
and placed national and foreign capital companies on an equal footing, through the approval of
a set of laws in the Nationa
l Congress. Finally, it preserved the trade liberalization program,
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which had already been implemented during the Collor government, including the privatization
program and the sale of concessions at both the federal and state levels.
In this process, the
State under the Cardoso government began to attract multinational
companies to the two key sectors of the industry, automotive and telecommunications, not only
by modulating the tax legislation and the financing system, but also through invitations. This
s
et of incentives contributed to the increased participation in Brazilian markets of foreign
capital companies to the detriment of national capital companies (SALLUM; GOULART,
2016).
Within the scope of the National Development Bank (BNDES, Portuguese initi
als)
-
the
main financial agent for the country's industrialization
-
the sectorial diversification of the
companies served was remarkable. In addition to industry, it also financed commercial activities
(shopping centres), tourism (amusement parks) and ag
riculture. In this sense, state
-
owned
companies ceased to be the pillars of state policy, as a result of the federal government's lack
of interest in developing a national industry, since the neoliberal project sought to attract foreign
investment and prom
ote its association with national companies.
Finally, state companies were privatized, or their services were transferred to private
companies, as is the case with the highways, whose maintenance was granted to private
companies in exchange for the exploit
ation of the services they provide
–
tolls and leasing of
the public lands that border them. This reduction of the State's business functions did not
eliminate but transformed state interventionism. The State expanded its normative and control
functions, p
reserving the ability to shape economic activities through purchases of goods and
services.
What we conclude from this is that even in economic systems of the neoliberal type, in
which the market is seen as an autonomous field, capable of creating its own rules, as an
invisible hand, with its “natural laws”, that is, even in economies where the c
ategories of
thought produced by the State presuppose the free market and individualism, even in these
economic systems the State does not stop doing its work of symbolic domination. In the
Cardoso government, the work of symbolic domination became precise
ly the creation of
categories of thought that defend freedom for the market and strengthening what Bourdieu
called the “right hand of the State”, to the detriment of its “left hand” (BOURDEU, 1997). From
this perspective, there is no absent state in the Ca
rdoso government, since the state is always
present, even to legislate institutionally and cognitively in favor of the market, giving it total
autonomy.
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As a result of the previous argument, in economic systems
–
as in the Cardoso
administrations
–
where t
he “right hand” overlaps the “left hand”, the market gained an apparent
naturalness, autonomy and sacredness, becoming almost an “entity”, which it began to prescribe
absolute truths and “magic” in the solution of problems, which theoretically only economi
sts
(from a school linked to orthodoxy) would have the solutions. The prevailing neoliberal belief
in institutions and agents who were in command at that time, brought social consequences, such
as unemployment and increased poverty.
Lula governments (200
2
-
2009)
For Sallum
and Goulart (2016), in the Lula government, the economic liberalism of the
Cardoso period was maintained. According to Mesquita (2014), despite never having formally
abandoned the basic macroeconomic tripod established in 1999, the PT government deviated
from it, in terms of both short
-
term objectives and strategies. However, the main lines of the
Cardoso government's macroeconomic policy regime (inflation targeting systems, primary
surpluses
and floating exchange rates) were maintained by the Lula governm
ent, especially in
the first term.
It is possible, however, to identify in his second term a certain flexibility in the
management of the economic policy in effect until then (JARDIM; ROSA, 2021; JARDIM;
MOURA, 2022). In this direction, Grün (2014) states
that after the monthly allowance scandal,
the Lula government shifted its macroeconomic policy. For Jardim (2015), even though the
defense of an interventionist State only started in 2006, when there were changes in the
composition of the government, espec
ially the replacement of Antônio Palocci by Guido
Mantega and José Dirceu by Dilma Rousseff, the changes were reinforced during the 2008
crisis, from investment in the domestic market, materialized in the increase of credit in the
economy, aiming at increa
sing household consumption and the availability of bank credit,
especially public banks (Banco do Brasil and Caixa Econômica Federal, especially).
Also according to Jardim (2015), the fiscal policy adopted by the Lula government from
2008
-
when the global
suprime
crisis began
-
was guided by market stimuli, such as the
introduction of bank credit mechanisms, which allowed wage earners registered and retired
from the private sector, belonging to the National Institute of Social Security (INSS), had access
t
o loans with lower than usual costs (“consignment loan”), through deduction from their salaries
or pensions. Another strategy was the investment of pension fund resources in the PAC,
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Maria Chaves
JARDIM
and
Márcio Rogério da
SILVA
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generating jobs and income, especially in the civil construction sector,
which began to employ
beneficiaries of the Bolsa Família program (JARDIM, 2007; JARDIM, 2009; JARDIM, 2013).
Therefore, during the 2008 crisis, trying to protect Brazil from external impacts, the
Lula government increased incentives in two ways: tax relief
and granting subsidized financing
to companies, adopting the so
-
called expansionist policy to stimulate the economy and
consumption of Brazilians.
In this direction, the current project was the strong presence of the State, especially in
the creation of t
he internal market. Among the strategies aimed at developing the internal
market, we mention the measures that include the reduction of the basic interest rate by the
Central Bank, such as: measures to stimulate credit; postponement of tax collection to in
crease
the capitalization of companies and avoid liquidity problems at production units; tax cuts to
stimulate consumption; strengthening of the Growth Acceleration Program (PAC), as an
inducer to public investments in the productive sector; expansion of t
he functions of the
National Development Bank (BNDES), which previously lent money only to large companies
or was a financier of privatizations in the Cardoso government and in this context started to
lend to small and medium
-
sized companies; expansion of
the National Monetary Council
(CMN); and alteration of the regulations of the financial system on a preventive basis. Likewise,
social programs such as the Bolsa Família Program were maintained, and there was an increase
in the number of beneficiaries of t
he program, in addition to occasional increases in the
minimum wage during the period.
Still on the construction of the internal market, the government reduced the Tax on
Industrialized Products, favoring sectors linked to construction materials, automaker
s and the
white line of home appliances, stimulating consumption and the creation of new jobs in these
sectors.
As part of the interventionist project, the government promoted, in the same period, the
reduction of the Contribution for the Financing of Soci
al Security (COFINS), to increase the
sale of motorcycles, and also increased the IPI on cigarettes, aiming to compensate for the loss
in collection. The strategy of investing in the domestic market was based on the statement that
"Brazil can compensate fo
r the downturn in the world market by strengthening the domestic
market" (MANTEGA, Inovação Unicamp, 29 August 2008, our translation).
In addition to implementing the reduction of various types of taxes on industrialized
products and encouraging microcredit via public banks, the government used public banks to
recover credit in the country, offering lines of credit and giving financial in
centives to BNDES,
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Banco do Brasil and Caixa Federal Economy, so that they could provide credit to companies
from different sectors of the economy at low interest rates (D'AGOSTINO, 2012).
The government expanded state intervention through mechanisms consi
dered
heterodox, designed to offer productive long
-
term financing with low interest rates for PAC
works; sought to encourage state
-
owned companies that were not privatized in the Cardoso
government (the case of Eletrobras, for example) and allowed them to
associate with private
companies to increase investments with Treasury resources; finally, the BNDES redirected its
priorities towards structural investments, under the logic of the development of national
companies, different from the previous government,
whose project privileged the financing of
the privatization of national companies. Finally, it sought to encourage the competitiveness of
Brazilian companies in relation to multinationals operating in the country, in addition to
encouraging national compa
nies to expand abroad.
As part of its strategies to leverage Brazilian industries, the government created the
Industrial, Technological and Foreign Trade Policy (PITCE, Portuguese initials), focusing on
strategic options (information and communication tech
nologies, semiconductors,
pharmaceuticals and software), betting on vanguard sectors, such as biotechnology or
nanotechnology.
In addition to a purely economic development project, the Lula government presented
social elements in the definition of its deve
lopment project, with a strong presence of the State
(JARDIM, 2007), since despite the strong presence of finance in the Lula government, these
were under state control. There was also the suspension of the privatization program and
subsequent creation of
Public
-
Private Partnerships (PPP), in 2004, aiming to raise funds for the
implementation of infrastructure works of the Growth Acceleration Program (PAC, Portuguese
intials).
As a result of the above policy, the Lula government brought protection to nation
al
capital companies, especially via the BNDES and better distribution of income and protection
for the poorest workers, through strategies to expand access to higher education, with emphasis
on the University Program for Todos (PROUNI, Portuguese initials
), for the Student Financing
Fund (FIES, Portuguese initials), for the Restructuring and Expansion of Federal Universities
(Reuni, Portuguese initials) and the policy of quotas. As a whole, these programs sought to
include poor young people in a space cons
idered elite until then, the universities, with a focus
on the public university, highlighting the cognitive and institutional importance of the quota
policy.
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Maria Chaves
JARDIM
and
Márcio Rogério da
SILVA
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Finally, during his government, especially the second, Lula defended a government
project in whic
h the State would act as an articulator and inducer of public policies. On the
occasion of the 2008 crisis, Lula declared: "It is customary to say that the State only gets in the
way and, when the [2008] crisis happened, those who looked like gods of the e
conomy sought
the State, which knew nothing, to save them” (O GLOBO, 26 March 2009, our translation).
MCA: presenting the research protocol
The ministers' trajectories data were analyzed from the MCA, following the following
protocol:
1. For the
elaboration of the MCA, we created an excel database with the trajectories of
151 titular ministers of the periods studied; we mapped the trajectories in CPDOC, from FGV.
2. Next, we create the variables that guide this article: to talk about social capita
l, we
look at the social origins of ministers; to talk about cultural capital, we look at schooling,
passage through the international, type of economics school you went through (if more orthodox
or more heterodox), if a prize was awarded, if were books wr
itten, etc. For economic capital,
we expand Pierre Bourdieu's notion of economic capital and look at parents' occupation (which
gives us a sense of class of origin), since we have no data on equity.
3. The data were rotated in the R software, using the FactoMineR package, for Multiple
Correspondence Data Analysis, grouping analysis (cluster) and also ellipses, which help to
analyze a fixed variable and compare in the MCA itself how it behaves in relat
ion to other
variables
4. As a result of the MCA, we have a reduction in the dimensionality of the data, in
which the dimensions of the axes are built based on the variables with the highest variance, in
which the distance between individuals represent dis
tances from social properties; the cluster
helps to see which individuals have similar characteristics and the ellipses allow to see, with
the identification by colors, how variables of interest behave.
Research data
First, we demonstrate only the cloud of active categorical variables, in order to
understand where individuals will be located with respect to capitals. Only the 100 categorical
variables that most contribute were selected, and for us, the lack of informat
ion for some agents
is already a fact in itself; that is, the available data represent agents who have greater cultural
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the distinction
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capital, to the detriment of agents who do not have this capital and who, therefore, do not have
family, personal and professional data
publicly available. We understand that families with
greater cultural capital would be more sensitive to the production of biographies of family
members than those with less capital, who do not have a cognitive interest in the production
and maintenance of
the family's symbolic heritage.
We will therefore have an MCA between individuals with missing data (left side of the
graph), upper right quadrant (individuals with greater capital) and lower right quadrant
(individuals with lower capital).
To facilitate
the interpretation of the graph, the table of acronyms below was prepared,
with the variables that we highlight, first from the upper right quadrant:
Table
1
Capital
acronym/description
Cultural
Capital
-
> acad
e
mic
un_pub
-
studied at a public university in graduation
Curso_econ
-
graduation in economics
curso_cien_pol&hum
-
graduation in political science
and other courses in human sciences
prof_econ
-
professor of economics at universities
form_pgr_s
-
completed post
-
gra
duation
strictu
-
did a master's or doctorate
lato
-
did specialization
Symbolic
Capital
circ_inter_s
-
has international circulation
eua
-
international circulation in the United States
eur
-
international circulation in Europe
dec_80&90
-
years in which you completed your
postgraduate course
dec_60&70
-
years you completed your postgraduate
course
proj_impl_tip_fiscal
-
projects implemented in
ministries with a focus on fiscal dominance (ri
ght
hand)
data_form
-
date of graduation in higher education
Source
:
Devised by the authors
The table below serves as a reference to read the important abbreviations in the lower
right quadrant
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Table
2
Capital
acronym/description
Cultural
capital
curso_grad_adm
-
undergraduate course in
administration
prof_pai_trab_brac
-
handyman father
prof_mae_prof_lib
-
liberal professional mother
prof_mae_out
-
mother with other professions
Symbolic
capital
pmdb_s
-
is part of the MDB party
pt_s
-
is part of the workers' party
psdb_n
-
not part of PSDB
prof_prof_lib
-
liberal professionals
ocup_conjunc_func_pub
-
career in civil service
Proj_impl_tip_estrutura
-
projects more related to
infrastructure (left hand)
Economic
capital
class_baix
-
from social classes with low economic
capital
Source
:
Devised by the authors
Figur
e
1
–
The 100 active categorical variables that most contribute to the
distinction
between individuals
Source
:
Devised by the authors
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As can be seen, in the upper right quadrant, we have the ministers linked to the Cardoso
government, with greater cultural capital, in general with a degree in economics, master's and
doct
orate in the United States and Europe; some are professors of economics at universities and
their projects are more linked to a perspective of fiscal dominance (right arm of the State), more
linked to economic orthodoxy, as well as they did their postgradu
ate studies in periods when
monetarist theories were in vogue in the major US universities.
In the lower quadrant, we can observe that ministers in the Lula government are
generally affiliated with parties such as the MDB and PT, come from a lower social c
lass, have
links with social movements and trade unions, fathers who are manual workers and mothers
who work at home, are civil servants at lower and intermediate levels and has projects more
linked to infrastructure and social (left arm of the State). Nex
t, we have the ministers identified
by color (red for Lula and blue for Cardoso)
Figur
e
2
Source
:
Devised by the authors
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As we can observe, the ministers of the Lula government are mostly in the lower right
quadrant, with less capital, while the
ministers of Cardoso are in the majority in the upper right
quadrant (greater capital). Next, we have a cluster of individuals that show the three groupings
(considering that there are agents that have homologous capitals on the frontier).
Figure
3
Sou
rce: Devised by the authors
Now we focus on the analysis of the cultural and symbolic capital related to the parents,
with the support of the MCA analysis with
ellipses
. Next, we have kinship with people from
the elite, middle class or lower class from t
he point of view of economic capital (social origin):
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Figur
e
4
Source: Devised by the authors
As we can see in the graph, on the left side of the graph, the absence of data indicates
probable belonging to lower social classes, since the
elites generally have their data more
publicized in accessible secondary data. It is possible to observe the blue ellipse (with a more
overlapping gravitational axis in the upper right quadrant), where there is a predominance of
ministers from the Cardoso
government, who in general have family members more connected
to the elite, while there are more family members from the middle and popular classes among
the ministers from the Lula government, as well as most of those with missing data, are also in
the lo
wer right quadrant and left side; most of them linked to the Lula government.
Next, we have the MCA as an ellipse presenting the father profession:
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Figur
e
5
Source: Devised by the authors
We can observe the predominance of fathers who are manual wor
kers and low
-
level
public professionals in the lower right quadrant, linked to Lula; and the predominance in the
upper right quadrant of career civil servants.
With respect to the university, the predominance is of graduation in public universities.
Regard
ing the courses we have:
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Figur
e
6
Source: Devised by the authors
As can be seen, in Cardoso's government there is a predominance of economists and
engineers, while in Lula's government there is greater diversity, with a predominance of
administrators, human sciences, doctors and the military. With respect to the ministries,
belonging was classified into right arm (Cardoso government) and left arm (Lula government)
of the State.
Here are the professions:
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Figur
e
7
Source: Devised by
the authors
It is possible to see that ministers in the Lula government predominantly took on more
political positions and also liberal professionals, while those in the Cardoso government worked
in the private sector as economists (financial institution
s or the public sector) and engineers
(part of them reconverted to finance).
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Some analyzes
The application of the MCA suggests, based on the analyzed categories, that the Lula
ministers' ancestry is mostly from the lower middle class and a good part of the popular class,
since the profession of the ministers' parents is of popular origin (farmer
, manicure, housewife,
cleaning lady, seamstress, mechanic). The MCA shows something common among almost all
agents, which we are tentatively denominating
class
habitus
(BOURDIEU, 1996). That is, with
few exceptions, all agents are affiliated and/or suppor
ters of the Workers' Party (PT), linked to
social movements and come from technical occupations.
On the other hand, ministers in the Cardoso government come from an upper
-
middle
-
class background (doctors, lawyers, farmers, diplomats, businessmen) and inter
national
circulation is almost a rule for this group. Here we have a
class
habitus
closer to that of the
elite.
We remember that the
habitus
is a symbolic marker that can express distinction or
disqualification (BOURDIEU, 1979). In the case of ministers Ca
rdoso expresses distinction
when he shows the dominant culture; in the case of ministers Lula expresses disqualification
when he presents the culture of the dominated.
The data allow us to suggest that there is a strong distinction between the ministers
an
alyzed and this distinction is marked, in particular, by the passage through the market in the
case of ministers Cardoso and by participation in union and social movements, in the case of
ministers Lula.
As we observed in the bibliographic review, the Card
oso government was more
committed to a neoliberal project and the Lula government to a more interventionist project.
The neoliberal or interventionist project orchestrates the social origins of the ministers, since
the Cardoso ministers were more involved
in projects linked to the right arm of the State (fiscal
adjustment, pursuit of surplus, development project with more autonomy from the market),
while the projects of Lula's ministers were more linked to the left arm of the State (investment
in social pol
icy; support for public banks and development projects of a developmental nature).
In this sense, the application of the MCA allows defending that Lula ministers would be
less sensitive to the neoliberal project, since their socialization in spaces, with p
eople and values
that stimulate contact with the neoliberal project, was more restricted than for ministers of the
Cardoso government. On the contrary, the MCA
shows that Cardoso ministers have training
that roots them in the neoliberal project and in
neoliberalizing beliefs, acquired in passages
through American universities and in socialization in spaces sensitive to this type of project.
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In dialogue with Bourdieu (2006) we point out that the ministers' choices are not only
subjective, but are limited
to historical and cultural elements and, above all, to a given field of
possibilities. Priorities will be given according to inherited and socially constructed resources
within unique life stories. Therefore, even if it is not the objective of this resear
ch, the study
allowed us to understand, from the capitals of the ministers, their choices and commitments in
projects for the development of Brazil.
Final considerations
Through the MCA, we seek to empirically verify the distinctions between the ministe
rs
of the Cardoso and Lula periods, identifying the main capital held by these ministers.
After applying the MCA, we found low cultural, economic and symbolic capital in
Lula's ministers, as well as a
habitus
closer to the popular and middle classes. We al
so identified
greater participation in infrastructure projects and state interventionism. In the case of the
Cardoso ministers, we identified a strong economic, cultural and symbolic capital, passed from
generation to generation, configuring what we are ca
lling a class
habitus
closer to the elites.
Considering Bourdieu's discussion (2006) about the State, in which the author states that
through the classification system, the State molds mental structures and imposes principles of
common vision and division
and ways of thinking, we suggest, based on the bibliographic
review, which shows greater neoliberal sensitivity in the Cardoso government and
interventionist sensitivity in the Lula government, that the Lula government coordinated the
markets, producing go
ods and services through state
-
owned companies and partnerships with
private capital; implemented projects based on resources from the financial market
-
more
especially from pension funds, via the issuance of public bonds and through direct investments
in
companies
-
as well as coordinating certain regulations, "domestication" of the financial
market (JARDIM, 2009), in dialogue with heterodox economic policies.
On the other hand, in dialogue with the current international doxa, the Cardoso
government opera
ted the privatization of state
-
owned companies, in the name of the publicized
efficiency of the State and gave greater space to foreign companies, to the detriment of the
policy of valuing public companies, public banks and the national domestic market. Th
us, the
Cardoso government maintained an economic policy in dialogue with international capital,
which was only possible because the State legislated all the legal aspects that enabled the
implementation of the neoliberal project.
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We conclude that for the
realization of one project or another, the adhesion and
engagement of the ministers was fundamental and that, to some extent, the neoliberal or
interventionist engagement orchestrates the capital and the position in the social space occupied
by them.
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JARDIM, M. C.;
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ISSN:
2358
-
4238.
DOI:
https://doi.org/10.29373/sas.v11iesp.1.17627
Submitted
:
12/08/2022
Required revisions
:
15/09/2022
Approved
:
20/11/2022
Published
:
26/12/2022
Processamento e edição: Editora Ibero
-
Americana de Educação.
Correção, formatação, normalização e tradução.