Verdade, símbolo e pós-colonialidade: As ciências sociais antes e depois do pós-estruturalismo
Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 13, n. 00, e024006, 2024. e-ISSN: 2358-4238
DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v13i00.18587 4
autores influenciou a elaboração do que ficou conhecido como os estudos pós-coloniais, e quais
são as pretensões desses estudos.
A verdade como fruto da relação simbólica
Conforme mencionado anteriormente, o grande objetivo do desenvolvimento das
ciências, de modo geral, foi estabelecer à espécie humana o poder de determinar o que é a
verdade e qual a forma mais adequada para alcançá-la. A verdade, de maneira geral, era
concebida como a exposição da realidade, a apreensão objetiva do mundo pelo ser humano,
como um dado inquestionável. Nesse sentido, a verdade seria independente do discurso; ela
estaria posta no mundo e não poderia ser contestada sem incorrer em erro. Foi a partir dessa
lógica que diversas ciências se desenvolveram durante a Idade Moderna, e as ciências sociais
não foram menos influenciadas por essa concepção. Essa perspectiva sustentou uma noção de
história que pressupunha a continuidade dos fatos em sucessão, condicionados à linearidade
(Foucalt, 1996). Essa visão linear da história, combinada com a exatidão científica,
fundamentou o pensamento positivista, que foi central para a consolidação e o desenvolvimento
das ciências sociais, mas que posteriormente enfrentou críticas de diversos autores.
Foucault e Bourdieu, partindo de uma perspectiva simbólica da sociedade,
anteriormente elaborada pelos estruturalistas, perceberam a necessidade de uma crítica
profunda à concepção científica de verdade predominante. Conforme apresentado, a noção de
verdade, nessa perspectiva, seria independente de símbolos ou discursos, ou seja, externa à
humanidade, que deveria apenas apreendê-la. No entanto, as sociedades são estruturadas a partir
de relações simbólicas que mantêm ou reformulam dinâmicas de poder e dominação, as quais,
por sua vez, determinam o que é ou não considerado verdade.
Bourdieu abordou o problema de assumir a objetividade e a neutralidade da verdade em
seus estudos sobre a linguagem. Para ele, um pesquisador que se propõe a estudar a língua, seja
ela qual for, não pode limitar-se a analisar sua estrutura de forma objetiva, ignorando os usos
de poder que se ocultam nessas estruturas rígidas e aparentemente neutra
Em poucas palavras, por não construir a prática senão de maneira negativa,
quer dizer, na forma de execução, o objetivismo está condenado ou a deixar
na mesma a questão do princípio de produção das regularidades que esse se
contenta a registrar, ou a reificar abstrações, por um paralogismo que consiste
em tratar os objetos construídos pela ciência- a “cultura”, as “estruturas, as
“classes sociais”, os “modos de produção” etc.- como realidades autônomas
(...) (Bourdieu, 2003, p.47).