Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 13, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2358-4238
DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v13i00.19601 1
ETAPAS DO POPULISMO NA AMÉRICA LATINA
ETAPAS DEL POPULISMO EN AMÉRICA LATINA
STAGES OF POPULISM IN LATIN AMERICA
Matheus Silveira LIMA1
e-mail: matheus.lima@uesb.edu.br
Como referenciar este artigo:
LIMA, M. S. Etapas do populismo na América Latina. Rev. Sem
Aspas, Araraquara, v. 13, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2358-
4238. DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v13i00.19601
| Submetido em: 26/08/2024
| Revisões requeridas em: 15/10/2024
| Aprovado em: 20/10/2024
| Publicado em: 13/11/2024
Editor:
Prof. Dr. Carlos Henrique Gileno
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Vitória da Conquista BA Brasil. Professor Pleno de
Ciência Política.
Etapas do populismo na América Latina
Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 13, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2358-4238
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RESUMO: O presente artigo apresenta três momentos marcantes do populismo, em que duas
ideias merecem ser esclarecidas mais a fundo: o populismo se desenvolve na América Latina
como possibilidade de modernização, tornada possível através da mudança de eixo dos
mecanismos de dominação, do velho colonialismo europeu, para o capitalismo financeiro norte-
americano. A outra questão diz respeito à correlação entre o populismo e o patrimonialismo, na
medida em que ambos trazem progressos, mas se “congelam” e tornam-se empecilhos para
novos avanços, especialmente no que diz respeito ao fortalecimento da sociedade civil
organizada. Por isso, em grande medida, passam a receber uma leitura conceitual e acadêmica
bastante negativa. Nesse sentido, entender o populismo é fazer permanentemente um
movimento histórico, de idas e vindas, entre política e economia, para compreender a América
Latina em suas especificidades, seus descarrilamentos e retomadas aceleradas de movimento
em busca de um futuro idealizado.
PALAVRAS-CHAVE: Populismo. Desenvolvimento. Capitalismo. Latinoamerica.
RESUMEN: Este artículo presenta tres momentos llamativos del populismo, en los que dos
ideas merecen ser aclaradas con mayor profundidad: el populismo desarrollado en América-
Latina como una posibilidad de modernización, posible a través del cambio de eje de los
mecanismos de dominación, del viejo colonialismo europeo para el capitalismo financiero
norteamericano. La otra cuestión tiene que ver con la correlación entre populismo y
patrimonialismo, en el sentido de que ambos traen progreso, pero se “congelan” y se
convierten en obstáculos para nuevos avances, especialmente en lo que respecta al
fortalecimiento de la sociedad civil organizada. Por tanto, en gran medida, empiezan a recibir
una interpretación conceptual y académica muy negativa. En este sentido, entender el
populismo significa hacer permanentemente un movimiento histórico, de ida y vuelta, entre
política y economía, para comprender a América Latina en sus especificidades, sus
descarrilamientos y aceleradas reanudaciones de movimiento en busca de un futuro idealizado
PALABRAS CLAVE: Populismo. Desarrollo. Capitalismo. Latinoamérica.
ABSTRACT: This article presents three striking moments of populism, in which two ideas
deserve to be clarified in more depth: populism developed in Latin America as a possibility of
modernization, made possible through the change of axis of the mechanisms of domination, of
the old European colonialism, for North American financial capitalism. The other issue
concerns the correlation between populism and patrimonialism, in that both bring progress,
but “freeze” and become obstacles to new advances, especially with regard to strengthening
organized civil society. Therefore, to a large extent, they begin to receive a very negative
conceptual and academic interpretation. In this sense, understanding populism means
permanently making a historical movement, back and forth, between politics and economics, to
understand Latin America in its specificities, derailments, and accelerated resumptions of
movement in search of an idealized future.
KEYWORDS: Populism. Development. Capitalism. Latin America.
Matheus Silveira LIMA
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Introdução
Muito embora não seja raro diferenciar o Brasil dos demais países latino-americanos em
termos institucionais e históricos (Rangel, 1981), especialmente quando se enfatiza a mística
revolucionária que atravessa os diversos momentos da formação continental, o século XX tratou
de aproximar, e em muitos aspectos até mesmo igualar, as condições em que o Brasil
desenvolve sua cultura política em estrita proximidade com seus vizinhos.
Cabe destaque nesse quesito o tema do populismo, um conceito amplo e impreciso, mas
imprescindível para se entender sob quais condições o continente latino-americano acelerou o
seu tempo histórico e encontrou atalhos para a superação de sua estrutura ainda
predominantemente pré-capitalista até as primeiras décadas do século XX.
De início, cabe enfatizar que as reminiscências do passado colonial ao longo do século
XIX foram mitigadas por uma nova geopolítica da dominação, que foi migrando da Europa
para os Estados Unidos e, nesse bojo, a velha forma de colonialismo de tipo territorialista deu
lugar a um imperialismo que trazia consigo elementos mais avançados do capitalismo, o que
incluía uma dominação mais financeirizada.
Central para esse entendimento é a definição de “capitalismo” e
“territorialismo” como modos opostos de governo ou de lógica de poder. Os
governantes territorialistas identificam o poder com a extensão e a densidade
populacional de seus domínios, concebendo a riqueza/o capital como um meio
ou um subproduto da busca de expansão territorial. Os governantes
capitalistas, ao contrário, identificam o poder com a extensão de seu controle
sobre os recursos escassos e consideram as aquisições territoriais um meio e
um subproduto da acumulação de capital (Arrighi: 2013, p. 33).
Essa distinção, aqui reduzida a apenas dois termos, permite uma comparação entre essas
duas formas de dominação a partir de um contraste com o continente africano, onde o
colonialismo europeu de tipo territorialista manteve suas garras e impediu uma superação do
pré-capitalismo pelas vias do populismo, como aconteceu na América Latina
.
No Capítulo 1, “A industrialização tardia”, Alice Amsden (2004, p. 39) traz um gráfico que permite mensurar o
PIB per Capita do continente Latino-americano em contraste com o da África e, resumidamente, apresenta as
seguintes razões: em 1870 a África produzia U$$450 frente a 760 da América Latina. Em 1913 seria 575/1.439
em 1950 U$$ 830/2.487, passando em 1973 a U$$ 1.311/4.387 e, finalmente, em 1995 chegou a uma diferença de
U$$ 1.221/5.031. Em resumo, em 1870, momento em que os dois continentes viviam, de modo geral, sob um
modelo parecido de dominação, a África produzia cerca de 59,2% da renda da América Latina e pouco mais de
um século depois, em 1995, esses valores apenas chegavam a 24,2%. Ou seja, frente a América Latina, o continente
africano ficou 2,4 vezes mais pobre.
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Desse modo, uma análise retrospectiva permite contrastar o populismo, mesmo em suas
variadas manifestações no contexto latino-americano, com os arranjos políticos e seus
desdobramentos econômicos no período anterior à Revolução de 1930, quando o liberalismo, o
federalismo e uma forte tendência à descentralização limitavam a capacidade de atuação do
Estado brasileiro, restringindo a implementação de soluções que superassem sua condição
excessivamente periférica até então.
Conceitualmente, cabe uma analogia com o patrimonialismo português, que tivemos
oportunidade de analisar em trabalhos anteriores (Lima, 2007, 2010). Resumidamente, a Coroa
portuguesa unifica o seu território como desdobramento da consolidação de sua independência
(1383-5), o Estado se centraliza, unifica um orçamento e concentra poderes, que no primeiro
momento será um ativo importante de expansão através das navegações e descobertas, que,
entretanto, passa a ter um papel de cooptação, através do afidalgamento - das classes
potencialmente antagônicas e que desde então amortece conflito e apazígua a luta de classes
,
a partir daí se descompassando da incorporação de elementos que em síntese - podem ser
entendidos como a modernidade, como capitalismo e democracia, desenvolvidos antes em
Inglaterra e França.
O percurso histórico do populismo no Brasil seguiu um movimento semelhante: por um
lado, conferiu ao Estado condições para centralizar poderes e mediar as relações sociais de
produção; por outro, impulsionou a incorporação e o desenvolvimento de uma nova matriz
produtiva, criando amplas possibilidades de desenvolvimento e acelerando o tempo histórico.
No entanto, como no receituário do antigo patrimonialismo ibérico, esse movimento sufocou o
surgimento de uma sociedade civil mais forte e organizada, além de cristalizar disparidades
regionais e consolidar um modelo de desenvolvimento marcado por uma profunda e persistente
desigualdade social. Esse modelo permite ao Estado absorver qualquer possibilidade de
oposição ou antagonismo duradouro, seja pelo recrutamento de servidores e pela tutela dos
sindicatos, seja por meio de políticas públicas que, historicamente, beneficiaram
prioritariamente os não-pobres, seguidos pelos pobres e, apenas recentemente e de forma
limitada, os miseráveis (Cohn, 2000).
E aqui remetemos a Oliveira Vianna, que via na luta de classes o elemento definidor do aperfeiçoamento
institucional que levaria ao capitalismo e a modernidade de modo geral. Onde não havia luta de classes, segundo
ele, o elemento privado se impunha sem limites, estrangulando a sociedade. “Sem quadros sociais completos; sem
classes sociais definidas; sem hierarquia social organizada; sem classe média; sem classe industrial; sem classe
comercial; sem classes urbanas em geral a nossa sociedade rural lembra um vasto e imponente edifício, em
arcabouço, incompleto, insólito, com os travejamentos mal-ajustados e ainda sem pontos firmes de apoio.
(Vianna, 1987, p. 130).
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Assim, o que podemos qualificar como a primeira onda do populismo, que no Brasil
estará muito ligada a Era Vargas e na Argentina ao Peronismo, terá essa característica de
desenvolver vetores importantes da aceleração capitalista conectada a incorporação das massas
populares, mas sempre de um espaço previamente definido de atuação que, grosso modo, se
resumia a incorporação de pautas relevantes da classe trabalhadora e demandas específicas de
setores do funcionalismo público, incluídos, os militares. No primeiro caso, o conceito de
cidadania regulada de Wanderley G. dos Santos (1979) segue sendo uma referência importante,
ao passo que o conceito de corporativismo, amplamente utilizado, ilumina bastante o processo
de recrutamento e estruturação dos tentáculos do setor burocrático que o Estado lança sobre a
sociedade, mantendo seu estrito controle.
Por outro lado, o desenvolvimento das forças produtivas encontra no ideário do
populismo um vetor essencial para seu aprimoramento, enfrentando os desafios do contexto,
como ocorreu no Brasil após a quebra da bolsa de Nova York em 1929. A partir do ano seguinte,
estabeleceu-se um consenso provisório envolvendo um amplo espectro de apoios
predominantemente urbanos, de classe média, e concentrados na região centro-sul, a mais
dinâmica do país nas últimas décadas. Nesse contexto, emergiu a perspectiva de uma ampla
concertação de interesses difusos, mas convergentes, em torno de uma pauta elementar: o papel
mais relevante que o Estado brasileiro deveria desempenhar frente aos enormes problemas
econômicos e sociais que o mundo inteiro enfrentava naquele momento.
O contexto do surgimento dos fenômenos políticos que marcam a América Latina e se
tornaram conhecidos como populismo pode, inicialmente, ser compreendido a partir de duas
ideias-chave: uma específica do caso brasileiro e outra mais geral da ciência política. A questão
que aparece interpretada por Sérgio Buarque de Holanda (1971) em Raízes do Brasil, publicado
originalmente em 1936, de que o país tinha uma esfera política arcaica, como que uma
colonização das cidades pelo campo, de algum modo expressos nos pactos federalistas (e
também coronelista
), que faziam com que o poder local organizasse todo o sistema,
imprimindo-lhe sua lógica e atando as mãos do Estado para questões mais amplas e
desafiadoras, para além dos interesses específicos do Complexo Cafeeiro (Cano, 1998).
Quanto à segunda questão, mais geral, a que nos referíamos, diz respeito ao intrincado
tema da importância da organização, disciplina e racionalidade para que um corpo político novo
pudesse se formar, disputando o poder com reais possibilidades de vencer e impor a hegemonia
Muito embora o conceito de coronelismo como elemento sistêmico da vida política brasileira só apareça mais de
uma década depois com Victor Nunes Leal (1986) e seu livro de 1953.
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de uma classe nova. É nesse sentido que os militares serão arrastados a arena política cumprindo
outro papel, o de fiador das forças políticas novas que surgiam, representando, inclusive,
demandas dos próprios militares e que terão neles um incentivador e depois colaborador nas
inúmeras revoluções, quarteladas e insurgências que se tornarão recorrentes no continente
latino-americano a partir de então.
Os partidos militaristas reformistas, em países subdesenvolvidos, baseiam-se
em uma parte das forças armadas que se rebelam contra o status quo, adotando
os militares o papel tradicionalmente desempenhado pela burguesia na
promoção do desenvolvimento econômico e da reforma social. Sendo muitas
vezes o único grupo social de importância que possui certa medida de
organização e disciplina, os militares podem oferecer uma combinação de
modernização e de autoritarismo essencial, ou pelo menos grandemente
propícia, ao desenvolvimento de um país atrasado (Tella, 1983, p. 348).
Sobre esse tema, convém recordar o papel que os militares passaram a exercer nas
inúmeras insurreições no Brasil, que na década de 1920 vão se adensar e capilarizar
insatisfações mais amplas da sociedade, sendo marcante o papel do movimento tenentista, que
estará diretamente ligado tanto à experiência da Coluna Prestes (1924-27) quando da própria
Revolução de 1930.
Assim é que a virada promovida a partir de 1930 atinge em cheio as estruturas de uma
sociedade desorganizada, com uma política operada por partidos inorgânicos e regionais,
incapazes de incorporar tecnologia e novas relações de trabalho, acelerando assim o “devir
histórico”. Esses elementos comporão uma agenda que exigirá do Estado brasileiro uma
profunda reorganização, viabilizada por um novo pacto que inclua uma diversidade maior de
classes sociais, além do até então hegemônico senhoriato rural. Esse pacto, sem desconsiderar
os interesses dos setores dominantes, imporá ao Estado um novo conjunto de ações
governamentais, impactando diversos aspectos da economia, da política e da sociedade.
Esse período, que marca uma fase inicial do populismo no Brasil em certa sintonia com
outros países da América Latina, especialmente México e Argentina, será interpretado como a
“Era do Populismo”. Esse momento destaca o caráter policlassista das ões populistas,
estabelecendo, contudo, um limite de curto alcance para os interesses da classe trabalhadora. A
análise de esquerda enfatiza o caráter conciliador e manipulador do populismo, especialmente
em relação aos sindicatos, que passaram a ser conhecidos como “pelegos”, atuando como meros
amortecedores de choques e conflitos, desarticulados “por dentro”.
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Nesse sentido, o populismo como conceito, dentre os muitos significados que expressa,
tem no aspecto reformista e limitador dos interesses da classe trabalhadora - e do ideal correlato
de sua emancipação completa, como implicação inevitável da crítica da economia política
marxista o seu sentido mais duradouro, o que o torna um termo a ser evitado, não sendo,
assim, reivindicado por nenhuma clivagem ideológica desde o seu surgimento. Na arena da
disputa política, existe mais como pecha dirigida ao adversário do que como um programa e
uma interpretação de mundo capaz de lançar um sentido para a realidade social, atuando
explicitamente como momento de transição.
Assim, a primeira fase do populismo, isto é, entre as décadas de 1930 e 1960, é
responsável pelas mais importantes teorizações dedicadas ao tema, seja pela sua duração ou
pela profundidade das mudanças ocorridas. O tema ressurgirá na América Latina ao longo da
década de 1990, dessa vez sem a presença do México, mas com a Argentina e a Venezuela
ocupando o primeiro plano das definições e, mais pra frente, já no momento presente, o Brasil
sendo uma ilustração fundamental de outra nova fase de compreensão da realidade a partir da
chave interpretativa do populismo.
O caso da Argentina tem raízes mais antigas, e uma análise sintética destaca a conjuntura
que se inicia com a eleição de Carlos Menem em 1989 e a implementação do Plano Cavallo ao
longo de 1991. Esse plano dolarizou a economia do país, funcionando inicialmente como um
mecanismo de indexação para conter a hiperinflação, que afetava a moeda então vigente, o
Austral. O plano preservou salários e preços ao vinculá-los ao dólar em paridade estrita com a
nova moeda, o Peso, cuja estabilidade foi assegurada por meio da chamada Lei da
Conversibilidade, um mecanismo jurídico que estabelecia o câmbio fixo. Com a dolarização
completa, a hiperinflação foi controlada, e o Peso, atrelado ao dólar, proporcionou um aumento
temporário no poder aquisitivo, especialmente para a classe média. Esse mecanismo, mantido
artificialmente por vários anos, acabou gerando efeitos bastante prejudiciais para a indústria
argentina.
As contradições desse modelo de estabilização econômica eram evidentes, uma vez que
associava excessivamente a economia argentina à credibilidade de uma moeda estrangeira forte,
no caso, o dólar, sem promover o fortalecimento da moeda nacional. Esse arranjo impediu que
o país estabelecesse compromissos atrelados à sua própria moeda, deixando-o vulnerável a
crises internacionais, como as ocorridas em 1995, 1997 e 1998. Nesse período, tornou-se claro
que a conversibilidade da moeda expunha a economia argentina aos impactos das crises globais.
Além disso, a maior parte dos contratos, incluindo tarifas de serviços e aluguéis, também era
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dolarizada, aprofundando a dependência econômica em relação ao dólar (Batista Jr., 2002, p.
84).
Os preços eram artificialmente mantidos apenas pelo elemento indexador, que nesse
caso era o dólar. Na segunda metade da década de 1990 o modelo mostrava sinais de cansaço,
mas no bojo da prosperidade que o país experimentava, o presidente Menem se reelege em 1995
com esse programa de dolarização artificial, que ficaria conhecido como neoliberal, na medida
em que as poucas ações que visavam dar equilíbrio orçamentário a economia do país
aconteciam sob as condições dadas pelos cortes nos programas sociais e privatizações em massa
de empresas estatais.
Havia em todos esses elementos um fazer político que em muito evocava elementos do
peronismo, fosse pela prosperidade momentânea que as classes médias e os trabalhadores
experimentavam, mas também pelo sentimento de orgulho que a nova condição de acesso a
bens importados, uma realidade marcante do passado argentino, voltava a ser um elemento
presente no cotidiano das famílias.
Em resumo, o modelo econômico argentino era extremamente popular e conduzido por
um líder populista que se empenhou em manter, artificialmente, condições econômicas que
favoreciam o consumo, gerando uma prosperidade momentânea, mas insustentável. Essa
fragilidade ficou evidente no início do governo de Fernando de la Rúa, culminando no
segundo semestre de 2001 em uma crise profunda. Esse período foi marcado por ataques
especulativos, retenção dos depósitos da população nos bancos (o corralito”), queda do PIB
e, em seguida, inflação, recessão, desemprego e um colapso econômico de quase 20% em 2002,
índice que seria repetido posteriormente no continente pela Venezuela. À época a esquerda
associava a implosão econômica argentina ao neoliberalismo, enquanto que a centro-direita, no
sentido oposto, sustentava que havia se passado exatamente o contrário: a ausência de reformas
verdadeiras do Estado argentino levou à crise de credibilidade, aumento da dívida e, ato
contínuo, de todos os indicadores econômicos até a débâcle final, ocorrido entre novembro e
dezembro do ano de 2001.
Os anos de 2002 e 2003 foram marcados por uma profunda crise econômica na
Argentina, com uma recuperação mais vigorosa ocorrendo apenas em 2004, após a eleição de
Néstor Kirchner. Seu governo adotou uma nova política econômica heterodoxa que incluiu, sob
outro nome, uma auditoria da dívida pública, na prática, um calote aos credores conhecidos
como Fundos Abutres”. Essa medida permitiu crescimento econômico graças à maior folga
orçamentária, mas impediu o país de contrair novos empréstimos para financiar sua
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reestruturação econômica, que passou a depender de esforços internos. A inflação, que em 2019
chegou a 54% ao ano, tem origem nesse período, e indicava um problema crescente. Os
índices começaram a ser manipulados pelo Instituto Nacional de Estadística y Censos de
Argentina (INDEC), enquanto os salários precisavam ser ajustados pela inflação real, não
oficialmente reconhecida pelo governo, para evitar perda de poder aquisitivo. Isso resultou em
um descrédito ainda maior do país no mercado internacional de capitais.
Esse movimento tem paralelo com o que ocorria, simultaneamente, em outro vizinho do
Brasil, a Venezuela, que desde a eleição de Hugo Chaves em 1999, promove uma mudança
profunda em praticamente todos os setores da vida econômica, política e institucional do país,
no que ficaria conhecido como Bolivarianismo, o que indicava uma refundação do país a partir,
também, de uma releitura do passado nacional. O caso venezuelano trazia elementos
emblemáticos mais da política do que da gestão econômica propriamente dita, na medida em
que esta era amplamente determinada pela política de preços internacionais do petróleo e,
através deste, se geria um orçamento consistente que contemplava gastos públicos direcionados
aos investimentos em programas sociais, que sob Hugo Chaves cobria um leque amplo de
benefícios a população da base da pirâmide. No caso argentino, tais políticas também existem,
mas em menor extensão, bem como no Brasil sob Lula (2003-2011), mas que no caso argentino
receberá um nome que demarcará todo esse processo, ao tornar popular o qualificativo de
“subsidiados” para aqueles que dependiam, de maneira direta, das políticas de investimento
social do governo.
Embora os programas sociais e o apoio aos “subsidiados” tenham conferido uma forte
identidade de esquerda aos governos desses três países, é importante diferenciá-los no que diz
respeito ao amparo financeiro inicialmente fornecido. No caso da Argentina, os recursos
provinham da relativa folga orçamentária conquistada por meio da negociação e suspensão dos
compromissos da dívida pública argentina. A Venezuela, por sua vez, sustentava seus
compromissos quase integralmente com a venda de petróleo, que, durante a maior parte da
gestão de Hugo Chávez (1999-2013), foi comercializado a preços elevados. O caso do Brasil,
por outro lado, relaciona-se a um período de alta nas commodities negociadas pelo país (como
soja, proteínas e setor sucroalcooleiro), mas também ao controle da dívida pública, ao controle
rigoroso da inflação e, finalmente, à convergência desses fatores para um crescimento
econômico que permitiu o aumento do orçamento público e, consequentemente, dos
investimentos sociais. Parte significativa desses gastos retornou ao Estado sob a forma de
impostos sobre o consumo das famílias, que experimentaram um aumento considerável nesse
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período (Mercadante, 2010). No Brasil, havia um controle estrito das condições em que a
economia era gerida, incluindo a destinação dos gastos públicos voltados para os programas
sociais.
Distinguidas as particularidades de cada uma das conjunturas nacionais desses países, o
que os unia em relação a uma nova forma de populismo estava mais relacionado à versão que
cada um deles criava sobre si mesmo, por meio de uma releitura do passado nacional. Nesse
processo, o caráter libertador dessa nova onda de governos de esquerda, com um forte viés
popular, refletia-se tanto nos programas sociais quanto na comunicação direta com o povo,
estabelecendo paralelos entre o passado, o presente e o futuro, formando um todo coerente e
facilmente assimilável pela maior parte da população. Foram governos que, de maneira
massiva, proporcionaram o que, no presente, é conhecido como narrativas, as quais cobrem a
política, a história e uma nova sociologia política.
No plano conceitual rigoroso, a Venezuela assumiu feições claramente populistas,
enquanto a Argentina, com recursos institucionais mais limitados, se restringiu a um populismo
econômico (mais identificado com Menem) e social (com a ascensão dos Kirchner). Quanto ao
Brasil, o populismo foi mais presente na agenda de pesquisas acadêmicas, especialmente devido
às suspeitas de que o programa Bolsa Família tivesse um forte conteúdo clientelístico,
conferindo ao governo e ao Partido dos Trabalhadores, à frente da administração, uma margem
de manobra significativa em sua comunicação direta com a população, focando diretamente no
bolso do cidadão, embora sem fornecer um qualificativo específico como os subsidiados” na
Argentina. No entanto, não consenso sobre a caracterização do governo Lula como populista,
e seus críticos o chegaram a classificar seu governo com esse adjetivo. Ainda assim, no
momento em que o continente sul-americano aderiu a políticas de esquerda, como uma espécie
de onda, a sombra do populismo esteve presente, mas em níveis distintos de atuação, conforme
o grau de amadurecimento institucional de cada país e sua correspondente cultura política.
Tendo em vista as diversas possibilidades interpretativas que o conceito de populismo
permite lançar a realidade, o momento presente ata mais uma vez o Brasil a uma realidade
exterior, dessa vez em um alcance maior e conectado a uma tradição histórica e política
diferente da latino-americana.
Um dos vetores do populismo é sua realidade personalista, onde o chefe político pode
levar o modelo institucional para uma clivagem ideológica que pode ser distinta de todas as
opções disponíveis no momento: foi assim com o Varguismo no Brasil e o Peronismo na
Argentina, cuja definição entre direita e esquerda não se estabelece claramente. Já o Chavismo
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venezuelano apresentou-se sob uma marcada retórica de esquerda, enquanto no momento atual,
o Trumpismo nos Estados Unidos e o Bolsonarismo no Brasil são inequivocamente associados
com uma ampla renovação da direita, que saiu do armário (Messenberg, 2017) na última década
e veio palmilhando os seus espaços de atuação em nichos da internet, em um movimento
crescente, até que em determinado momento ganha as ruas, ocupa espaços, se define
abertamente em torno de temas que lhes dão uma identidade política bem definida e passam a
amealhar vitórias eleitorais importantes desde o momento em que encontram o líder
personalista que assume as pautas políticas desse novo grupo.
A conceituação e as trajetórias do populismo descritas até o momento permitiriam
recorrer ao conceito de personalismo, ou até mesmo ao de mandonismo, ambos com longa
tradição na América Latina. Esses conceitos ajudam a entender movimentos importantes dessa
nova onda de direita, que encontrou em Donald Trump e, posteriormente, em Jair Bolsonaro,
seus principais porta-vozes. No entanto, no caso de Bolsonaro, surge a incômoda associação
com o fascismo. Nesse contexto, é oportuno retomar brevemente os estudos de Ernesto Laclau
sobre o tema, com o intuito de elucidar a questão com maior precisão conceitual.
Para Laclau uma questão fundamental da política é o papel da representação, muito
especialmente como questão elementar para se entender os diversos momentos e fases do
populismo. “A função do representante não consiste simplesmente em transmitir a vontade
daqueles que ele representa, mas dar credibilidade àquela vontade em um meio diferente
daquele em que essa vontade se constituiu originalmente” (Laclau, 2013, p. 232). Utilizando
uma linguagem própria das novas mídias digitais e sua relação com a política, pode-se afirmar
que Laclau antecipa de forma premonitória a ideia de que o novo líder populista assume a
função de conferir credibilidade a uma nova agenda de reivindicações de um grupo específico.
Esse líder, no entanto, ultrapassa os limites desse grupo inicial, fazendo com que essas ideias
saiam da “bolha” original e se expandam para esferas mais amplas. Em um movimento
crescente, essas ideias ganham adesão até se tornarem majoritárias, alcançando, assim, sucesso
eleitoral.
Adicionalmente, ele faz considerações sobre o mesmo tema presente no fascismo,
chegando às seguintes conclusões: “Mas na teoria fascista esse equilíbrio – o do dirigente com
o sujeito pende definitivamente para o outro lado: a líder precisa forçar seus seguidores a se
ajustar àquilo que ele faz” (Id., p. 234).
Em resumo, a teoria de Laclau sobre o populismo leva em consideração, em primeiro
lugar, que uma identidade democrática é indistinguível de uma identidade popular:
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Todos os componentes estão presentes: a falência de uma ordem puramente
conceitual para explicar a unidade dos agentes sociais; a necessidade de
articular uma pluralidade de posições ou demandas a se unirem em torno de
um centro; e o papel primário do afeto em consolidar essa articulação. A
conseqüência é inevitável: a construção de um povo é a condição sine qua non
do funcionamento da democracia. Sem a produção de vazio não existe “povo”,
não existe populismo, mas também não existe democracia (Id., p. 246).
Ele vai concluir adiante que “O que mudou na democracia, em comparação com os
anciens regimes, é que nestes a encarnação ocorria em apenas um corpo, enquanto hoje ela
transmigra através de uma variedade de corpos” (Id., p. 248). São esses corpos, no plural, com
uma existência mais concreta de povo, que ocuparão um espaço ampliado na política,
conferindo uma nova forma ao modelo. O líder continua sendo importante, porque é o porta-
voz e demiurgo de um conjunto de pautas e reivindicações concretas, sentimentais, abstratas,
ele conduz a massa, mas quando o modelo se recrudesce então surge o cenário em que “o líder
precisa forçar seus seguidores a se ajustar àquilo que ele faz” (Id., p. 234) transmudando o
modelo em fascismo, ou algo próximo desse cenário.
O léxico conceitual de Laclau é bastante particular e esse cenário de disputa pelo poder
e ocupação de espaços recebe do autor uma teorização acerca do que ele chama de produção de
vazio, o que é mais comumente entendido como espaço, que é ocupado permanentemente, não
havendo no adagiário dos estudos políticos “espaços vazios”, posto que sempre estão ocupados.
Então,
O autor chama de significante vazio um conjunto (discursivo) puramente
diferencial, cuja totalidade, de certa forma, faz parte de cada “ato individual
de significação”. Em outras palavras, significantes vazios constituem-se em
uma cadeia de discursos articulados entre si que, embora sejam distintos uns
dos outros, unem se, em um determinado momento, formando uma totalidade
(unidade) hegemônica (Rodrigues, 2014, p. 767).
De modo que “hegemonia”, nos termos propostos pelo autor, seria: “a operação de
assumir, por meio de uma particularidade, um significado universal incomensurável” (Laclau,
p. 119-120). É possível entender a concretude dessas definições no chão miúdo da realidade do
momento presente se analisarmos um pouco mais detidamente esta que pode ser a terceira onda
do populismo.
Quando Rodrigues (2014) chama a atenção na obra de Laclau para o ato individual de
significação formando uma cadeia de discursos articulados entre si, fornece uma pista para
entender um aspecto importante do Bolsonarismo, que possivelmente fez exatamente isso:
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juntou uma série de elementos inicialmente desconexos e deu lhes um mesmo sentido, tais como
a crise econômica do governo Dilma; a corrupção especificamente associada ao PT; o
antipetismo residual e histórico; a operação lava-jato; o clamor pela honestidade na política; a
luta contra a corrupção; a luta contra a criminalidade; a evocação quase ideal de uma eficiência
do Estado; a inauguração de uma nova era de prosperidade.
O fato de estarem sendo retiradas algumas dessas bandeiras do colo do bolsonarismo,
impulsiona o seu líder-governante a buscar novos elementos para lhe substituir, mantendo a
maioria eleitoral: capitanear os programas sociais rebatizando-os; perseguir os desavisados que
se envolveram em corrupção durante a pandemia e a luta contra a quarentena, protegendo o
comércio. Assim, “sentimentos vagos de solidariedade” vão se cristalizando em “identidade
discursiva” e o chefe que é porta-voz de um grupo que se pretende maioria, vai exigir dela que
se conduzam como seguidores e que se ajustem às exigências que periodicamente são renovadas
sob forma de pauta política e de agenda de lutas. O aliado de ontem se torna o traidor de amanhã;
o discurso que o elege transmuta-se a qualquer momento em um cadáver insepulto.
Considerações finais
Além de descrever três momentos marcantes do populismo, o texto propõe duas ideias
que merecem ser retomadas em momento oportuno. A primeira é a de que o populismo se
desenvolve na América Latina como uma possibilidade de modernização, viabilizada pela
mudança de eixo dos mecanismos de dominação: do antigo colonialismo europeu para o
capitalismo financeiro norte-americano. A segunda questão refere-se à correlação entre o
populismo e o patrimonialismo, uma vez que ambos promovem certos progressos, mas tendem
a se “congelar” e se tornam obstáculos a novos avanços, especialmente no fortalecimento da
sociedade civil organizada. Por essas razões, ambos recebem, em grande parte, uma leitura
conceitual e acadêmica bastante negativa.
Nesse sentido, entender o populismo é fazer permanentemente um movimento histórico,
de idas e vindas, entre política e economia, para compreender a América Latina em suas
especificidades e dilemas, seus desacertos, mas também as retomadas aceleradas de movimento
em busca de um futuro mais moderno.
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CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Agradeço a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,
especialmente à equipe da Pró-reitoria de Pós-graduação, pelo apoio ao meu Projeto
Institucional de Pesquisa, intitulado “2021 - PT, PSDB e as eleições presidenciais. Análise
de uma homologia”.
Financiamento: Não há.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: Não foi necessário ser submetido ao Comitê de Ética.
Disponibilidade de dados e material: Não estão disponíveis para acesso. Trata-se de
trabalho inédito.
Contribuições dos autores: Este trabalho possui um único autor.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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STAGES OF POPULISM IN LATIN AMERICA
ETAPAS DO POPULISMO NA AMÉRICA LATINA
ETAPAS DEL POPULISMO EN AMÉRICA LATINA
Matheus Silveira LIMA1
e-mail: matheus.lima@uesb.edu.br
How to reference this paper:
LIMA, M. S. Stages of populism in Latin America. Rev. Sem
Aspas, Araraquara, v. 13, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2358-
4238. DOI: https://doi.org/10.29373/sas.v13i00.19601
| Submitted: 26/08/2024
| Revisions required: 15/10/2024
| Approved: 20/10/2024
| Published: 13/11/2024
Editor:
Prof. Dr. Carlos Henrique Gileno
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
State University of Southwest Bahia (UESB). Full Professor of Political Science.
Stages of populism in Latin America
Rev. Sem Aspas, Araraquara, v. 13, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2358-4238
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ABSTRACT: This article presents three striking moments of populism, in which two ideas
deserve to be clarified in more depth: populism developed in Latin America as a possibility of
modernization, made possible through the change of axis of the mechanisms of domination, of
the old European colonialism, for North American financial capitalism. The other issue
concerns the correlation between populism and patrimonialism, in that both bring progress, but
“freeze” and become obstacles to new advances, especially with regard to strengthening
organized civil society. Therefore, to a large extent, they begin to receive a very negative
conceptual and academic interpretation. In this sense, understanding populism means
permanently making a historical movement, back and forth, between politics and economics,
to understand Latin America’s specificities, derailments, and accelerated resumptions of
movement in search of an idealized future.
KEYWORDS: Populism. Development. Capitalism. Latin America.
RESUMO: O presente artigo apresenta três momentos marcantes do populismo, em que duas
ideias merecem ser esclarecidas mais a fundo: o populismo se desenvolve na América Latina
como possibilidade de modernização, tornada possível através da mudança de eixo dos
mecanismos de dominação, do velho colonialismo europeu, para o capitalismo financeiro
norte-americano. A outra questão diz respeito à correlação entre o populismo e o
patrimonialismo, na medida em que ambos trazem progressos, mas se “congelam” e tornam-
se empecilhos para novos avanços, especialmente no que diz respeito ao fortalecimento da
sociedade civil organizada. Por isso, em grande medida, passam a receber uma leitura
conceitual e acadêmica bastante negativa. Nesse sentido, entender o populismo é fazer
permanentemente um movimento histórico, de idas e vindas, entre política e economia, para
compreender a América Latina em suas especificidades, seus descarrilamentos e retomadas
aceleradas de movimento em busca de um futuro idealizado.
PALAVRAS-CHAVE: Populismo. Desenvolvimento. Capitalismo. Latinoamerica.
RESUMEN: Este artículo presenta tres momentos llamativos del populismo, en los que dos
ideas merecen ser aclaradas con mayor profundidad: el populismo desarrollado en América-
Latina como una posibilidad de modernización, posible a través del cambio de eje de los
mecanismos de dominación, del viejo colonialismo europeo para el capitalismo financiero
norteamericano. La otra cuestión tiene que ver con la correlación entre populismo y
patrimonialismo, en el sentido de que ambos traen progreso, pero se “congelan” y se
convierten en obstáculos para nuevos avances, especialmente en lo que respecta al
fortalecimiento de la sociedad civil organizada. Por tanto, en gran medida, empiezan a recibir
una interpretación conceptual y académica muy negativa. En este sentido, entender el
populismo significa hacer permanentemente un movimiento histórico, de ida y vuelta, entre
política y economía, para comprender a América Latina en sus especificidades, sus
descarrilamientos y aceleradas reanudaciones de movimiento en busca de un futuro idealizado
PALABRAS CLAVE: Populismo. Desarrollo. Capitalismo. Latinoamérica.
Matheus Silveira LIMA
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Introduction
While it is not uncommon to differentiate Brazil from other Latin American countries
in institutional and historical terms (Rangel, 1981), particularly when emphasizing the
revolutionary mystique that permeates various phases of continental formation, the 20th century
has brought Brazil closer, and in many respects even equalized it, to its neighbors in the
conditions under which it develops its political culture.
In this regard, the theme of populism stands out as a broad and imprecise concept, yet
essential for understanding the conditions under which Latin America accelerated its historical
trajectory and found pathways to overcome its still predominantly pre-capitalist structure by
the early decades of the 20th century.
At the outset, it is important to emphasize that the colonial remnants of the 19th century
were mitigated by a new geopolitics of domination, which gradually shifted from Europe to the
United States. In this context, the old territorialist form of colonialism gave way to imperialism
accompanied by more advanced elements of capitalism, including a more financialized form of
domination.
Central to this understanding is the distinction between "capitalism" and
"territorialism" as opposing modes of governance or logics of power.
Territorialist rulers identify power with the extent and population density of
their domains, conceiving wealth/capital as a means or byproduct of territorial
expansion. Capitalist rulers, by contrast, identify power with the scope of their
control over scarce resources and view territorial acquisitions as a means and
byproduct of capital accumulation (Arrighi: 2013, p. 33, our translation).
This distinction, here reduced to just two terms, enables a comparative analysis of these
two forms of domination in contrast with the African continent, where European territorialist
colonialism maintained its grip and prevented the overcoming of pre-capitalist structures
through populist pathways, as occurred in Latin America.
Thus, a retrospective analysis allows us to contrast populism, even in its varied
manifestations within the Latin American context, with the political arrangements and their
economic ramifications in the period preceding the Revolution of 1930, when liberalism,
federalism, and a strong tendency toward decentralization limited the capacity of the Brazilian
state, restricting the implementation of solutions that could transcend its then excessively
peripheral condition.
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Conceptually, an analogy can be made with Portuguese patrimonialism, which we have
previously analyzed in earlier studies (Lima, 2007, 2010). In summary, the Portuguese Crown
unified its territory as a consequence of consolidating its independence (1383-85); the state
centralized, unified a budget, and concentrated power, which initially served as a valuable asset
for expansion through navigation and discoveries. Over time, however, it adopted a role of co-
optation through the granting of nobility titlesthus pacifying potentially antagonistic classes,
softening conflict, and quelling class struggles. This shift distanced Portugal from the
incorporation of elements that could, in essence, be understood as modernitysuch as
capitalism and democracy, developed earlier in England and France.
The historical trajectory of populism in Brazil followed a similar path: on one hand, it
provided the state with the means to centralize power and mediate social relations of production;
on the other, it propelled the incorporation and development of a new productive framework,
creating broad opportunities for growth and accelerating the historical timeline. However, akin
to the framework of the old Iberian patrimonialism, this movement stifled the emergence of a
stronger, more organized civil society, while crystallizing regional disparities and consolidating
a development model marked by profound and persistent social inequality. This model allowed
the state to absorb any possibility of enduring opposition or antagonism, whether through
recruitment of civil servants, control over unions, or public policies that historically prioritized
the non-poor, followed by the poor, and only recently, and to a limited extent, the destitute
(Cohn, 2000).
Thus, what can be termed the first wave of populism, closely linked in Brazil to the
Vargas Era and in Argentina to Peronism, was characterized by fostering key drivers of
capitalist acceleration through the incorporation of the popular masses, yet always within a
predefined sphere of action. Broadly speaking, this sphere included the adoption of relevant
demands from the working class and specific demands from sectors of the public service,
including the military. In the former case, Wanderley G. dos Santos’s concept of regulated
citizenship(1979) remains an essential reference, while the concept of corporatism, widely
used in this context, sheds considerable light on the process of recruitment and the structuring
of bureaucratic mechanisms through which the state maintains strict control over society.
On the other hand, the development of productive forces finds in the populist ideology
an essential vector for its advancement, addressing the challenges of the context, as occurred in
Brazil after the 1929 New York Stock Exchange crash. From the following year onward, a
provisional consensus was established involving a broad spectrum of predominantly urban and
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middle-class support concentrated in the center-south region, the most dynamic area of the
country in recent decades. In this context, a perspective emerged of a broad alignment of diffuse
yet converging interests around a primary agenda: the more prominent role the Brazilian state
should assume in facing the enormous economic and social challenges confronting the world at
that time.
The context in which the political phenomena that characterized Latin America and
came to be known as populism emerged can initially be understood through two key ideas: one
specific to the Brazilian case and another more general from political science. Sérgio Buarque
de Holanda’s interpretation (1971) in Raízes do Brasil, originally published in 1936, suggests
that Brazil had an archaic political sphere, resembling colonization of cities by the countryside,
as seen in the federalist and coronelista
), pacts that allowed local power to organize the entire
system, imprinting its logic and tying the state’s hands regarding broader and more challenging
issues beyond the specific interests of the Coffee Complex (Cano, 1998).
Regarding the second, more general issue, it pertains to the intricate question of the
importance of organization, discipline, and rationality in enabling a new political body to form
and contest power with real possibilities of winning and imposing the hegemony of a new class.
In this sense, the military would be drawn into the political arena to fulfill a different role, that
of guarantor of emerging political forces, representing even the demands of the military
themselves, who would subsequently act as encouragers and collaborators in the numerous
revolutions, coups, and insurgencies that would become recurrent across Latin America from
that point onward.
In underdeveloped countries, reformist militarist parties rely on a segment of
the armed forces that rebels against the status quo, with the military adopting
a role traditionally held by the bourgeoisie in promoting economic
development and social reform. Often the only socially significant group
possessing a degree of organization and discipline, the military can offer a
combination of modernization and authoritarianism that is essential or at least
highly conducive to the development of a backward country (Tella, 1983, p.
348, our translation).
In this regard, it is worth recalling the role the military began to play in the numerous
insurrections in Brazil, which in the 1920s would intensify and channel broader societal
However, the concept of coronelismo as a systemic element of Brazilian political life only appeared more than a
decade later, with Victor Nunes Leal (1986) and his 1953 book.
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discontent. The tenentista
movement played a notable role, directly connected to both the
experiences of the Prestes Column (1924-27) and the Revolution of 1930.
Thus, the transformation initiated in 1930 profoundly impacted the structures of a
disorganized society, characterized by a political system operated by inorganically structured
and regional parties that were unable to incorporate technology and new labor relations, thereby
accelerating the “historical becoming”. These elements would compose an agenda demanding
a profound reorganization of the Brazilian state, made possible through a new pact that included
a greater diversity of social classes beyond the formerly hegemonic rural elite. This pact, while
not disregarding the interests of the dominant sectors, imposed upon the state a new set of
governmental actions, affecting various aspects of the economy, politics, and society.
This period, marking an early phase of populism in Brazil and resonating with similar
developments in other Latin American countries, particularly Mexico and Argentina, would
come to be known as the “Era of Populism.” This moment highlights the multi-class nature of
populist actions, although it set clear limitations on the interests of the working class. Leftist
analyses emphasize the conciliatory and manipulative character of populism, especially
regarding unions, which came to be known as pelegos
,” acting as mere shock absorbers for
conflicts, undermined from within.
In this context, populism as a concept, among its various meanings, derives its most
enduring interpretation from its reformist and limiting aspect on the interests of the working
class, and the related ideal of complete emancipation, as an inevitable implication of Marxist
political economy critique. This gives populism a connotation that makes it a term to be avoided
and claimed by no ideological faction since its inception. In the arena of political dispute, it
functions more as a label attached to opponents than as a program or worldview capable of
shaping a vision of social reality, explicitly acting as a moment of transition.
Thus, the first phase of populism, from the 1930s to the 1960s, is responsible for the
most significant theoretical work on the subject, both in terms of its duration and the depth of
the changes that occurred. The theme would re-emerge in Latin America during the 1990s, this
time without Mexico’s involvement but with Argentina and Venezuela taking the forefront, and
Tenentismo was a political-military movement, based on a series of rebellions by young low and middle-ranking
officers of the Brazilian Army (lieutenants), from urban middle classes, who were dissatisfied with the government
of the Oligarchic Republic in the early 1920s in Brazil.
It is the one who pretends to represent the workers but, in reality, seeks to manipulate the masses in order to serve
the interests of the bosses.
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eventually, Brazil serving as a key example of a new phase in understanding reality through the
interpretive lens of populism.
The case of Argentina has older roots, and a concise analysis highlights the scenario
beginning with Carlos Menem’s election in 1989 and the implementation of the Cavallo Plan
in 1991. This plan effectively dollarized the country’s economy, initially functioning as an
indexation mechanism to curb hyperinflation that affected the Austral, the then-current
currency. The plan preserved wages and prices by pegging them to the dollar in strict parity
with the new currency, the Peso, whose stability was ensured through the Convertibility Law,
a legal mechanism establishing a fixed exchange rate. With complete dollarization,
hyperinflation was contained, and the Peso, pegged to the dollar, temporarily increased
purchasing power, especially for the middle class. This mechanism, artificially sustained for
several years, eventually had severely adverse effects on the Argentine industry.
The contradictions of this economic stabilization model were evident, as it excessively
tied the Argentine economy to the credibility of a strong foreign currency, in this case, the
dollar, without promoting the strengthening of the national currency. This arrangement
prevented the country from establishing commitments based on its currency, leaving it
vulnerable to international crises, such as those in 1995, 1997, and 1998. During this period, it
became clear that currency convertibility exposed the Argentine economy to the impacts of
global crises. Moreover, most contracts, including service fees and rents, were also dollarized,
deepening the country’s economic dependency on the dollar (Batista Jr., 2002, p. 84).
Prices were artificially maintained solely by the indexing element, which in this case
was the dollar. In the latter half of the 1990s, the model began to show signs of strain; however,
amidst the prosperity the country was experiencing, President Menem was re-elected in 1995
with this program of artificial dollarization, which became known as neoliberal. Any efforts to
balance the country’s budget occurred under conditions of social program cuts and massive
privatizations of state-owned companies.
All these elements reflected a political approach that strongly evoked elements of
Peronism, not only through the momentary prosperity experienced by the middle and working
classes but also through a sense of pride. The newfound access to imported goodsa prominent
feature of Argentina’s past—once again became a part of families’ daily lives.
In summary, the Argentine economic model was extremely popular and led by a populist
leader determined to maintain, artificially, economic conditions that favored consumption,
generating temporary yet unsustainable prosperity. This fragility became evident as early as the
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beginning of Fernando de la Rúa’s government, culminating in a profound crisis in the second
half of 2001. This period was marked by speculative attacks, the freezing of bank deposits (the
corralito
”), a drop in GDP, followed by inflation, recession, unemployment, and an economic
collapse of nearly 20% in 2002, a figure that would later be matched only by Venezuela in the
region. At the time, the left attributed Argentina’s economic implosion to neoliberalism, while
the center-right argued the opposite: that the absence of genuine state reforms led to a crisis of
credibility, rising debt, and ultimately, the collapse of all economic indicators, which
culminated between November and December of 2001.
The years 2002 and 2003 were marked by a severe economic crisis in Argentina, with a
more robust recovery beginning only in 2004 following the election of Néstor Kirchner. His
administration implemented a new heterodox economic policy that included, under a different
label, a review of public debteffectively a default on creditors known as Fundos Abutres
(Vulture Funds)”. This measure facilitated economic growth due to greater budgetary flexibility
but prevented the country from securing new loans to finance its economic restructuring, which
henceforth depended on internal efforts. Inflation, which reached an annual rate of 54% in 2019,
originated in this period and already indicated a growing issue. Inflation rates began to be
manipulated by Instituto Nacional de Estadística y Censos de Argentina (INDEC), while wages
needed to be adjusted according to real inflation, unofficially recognized by the government, to
avoid loss of purchasing power. This resulted in even further discrediting of the country within
the international capital market.
This movement parallels events occurring simultaneously in another of Brazil’s
neighboring countries, Venezuela, which, since the election of Hugo Chávez in 1999, has
undertaken profound changes across nearly all sectors of its economic, political, and
institutional life. This transformation, known as Bolivarianism, signaled a re-founding of the
nation based on a reinterpretation of its national past. The Venezuelan case featured emblematic
elements primarily in the realm of politics rather than economic management itself, given that
international oil pricing policies largely determined the latter. These policies allowed for a
consistent budget that included public expenditures directed towards social program
investments, which, under Chávez, provided a broad range of benefits to the lower strata of the
population. In Argentina, similar policies also existed, though to a lesser extent, as was the case
in Brazil under Lula (2003-2011). However, in Argentina, this process became notably
The corralito was a set of economic measures implemented in Argentina at the end of 2001, which restricted
citizens' access to their bank accounts to prevent the flight of resources.
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associated with the popularized term “subsidized,” referring to those who directly relied on the
government’s social investment policies.
While social programs and support for the subsidized” imparted a strong left-wing
identity to the governments of these three countries, it is essential to differentiate them with
respect to the initial financial backing provided. In Argentina, resources were drawn from the
relative budgetary relief achieved through negotiation and suspension of the country’s public
debt obligations. On the other hand, Venezuela financed its commitments almost entirely
through oil sales, which benefited from elevated prices during most of Hugo Chávez’s
administration (1999-2013). Brazil’s case, in contrast, was associated with a period of high
prices for commodities traded by the country (such as soybeans, protein products, and
sugarcane-based products), alongside public debt control, rigorous inflation management, and
the convergence of these factors, which allowed for economic growth. This growth enabled an
increase in the public budget and, consequently, in social investments. A significant portion of
these expenditures were returned to the state as taxes on household consumption, which
experienced a considerable increase during this period (Mercadante, 2010). In Brazil, there was
strict control over the conditions in which the economy was managed, including allocating
public spending aimed at social programs.
Distinguishing the particularities of each country’s national context, what united these
governments in terms of a new form of populism was more related to the version each created
of itself through a reinterpretation of its national past. In this process, the liberating nature of
this new wave of leftist governments, with a strong popular bias, was reflected both in social
programs and in direct communication with the populace, establishing parallels between the
past, present, and future. This formed a coherent narrative readily assimilable by a large part of
the population. These were administrations that, on a massive scale, produced what are now
recognized as narratives, encompassing politics, history, and a new political sociology.
In a strictly conceptual sense, Venezuela took on a distinctly populist character, while
Argentina, with more limited institutional resources, confined itself to an economic populism
(more closely associated with Menem) and a social populism (with the rise of the Kirchners).
As for Brazil, populism was more present in academic research agendas, especially due to
suspicions that the Bolsa Família program had a strong clientelist dimension, giving the
government and the Workers’ Party a significant degree of maneuverability in direct
communication with the populace, focusing directly on citizens’ pockets, though without
assigning a specific label like the “subsidized” in Argentina. However, there is no consensus
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on characterizing Lula’s government as populist, and critics stopped short of labeling it as such.
Nonetheless, as the South American continent embraced left-wing policies in a kind of wave,
the shadow of populism was present, albeit at varying levels depending on each country’s
degree of institutional maturity and its corresponding political culture.
Given the various interpretative possibilities that the concept of populism allows in
analyzing reality, the present moment once again ties Brazil to an external reality, this time on
a broader scale and connected to a historical and political tradition distinct from that of Latin
America.
One of the key elements of populism is its personalistic nature, where a political leader
can push the institutional model towards an ideological split that diverges from all currently
available options: such was the case with Varguism in Brazil and Peronism in Argentina, where
definitions between right and left are not clearly established. Meanwhile, Venezuelan Chavismo
presented itself under a marked left-wing rhetoric. In the current era, however, Trumpism in the
United States and Bolsonarism in Brazil are unequivocally associated with a broad renewal of
the right, which in the last decade has “come out of the closet(Messenberg, 2017), gradually
carving out spaces within online niches in a growing movement that, at a certain point, reaches
the streets, occupies spaces, defines itself openly around issues that give it a well-defined
political identity, and begins to amass significant electoral victories once it finds a personalistic
leader to champion its political causes.
The conceptualizations and trajectories of populism described thus far would permit a
recourse to the concept of personalism, or even to that of authoritarianism, both of which have
a long tradition in Latin America. These concepts help to understand significant movements
within this new right-wing wave, which found its leading spokespersons in Donald Trump and,
later, Jair Bolsonaro. However, in Bolsonaro’s case, an uncomfortable association with fascism
emerges. In this context, it is pertinent to briefly revisit Ernesto Laclau’s studies on the subject,
aiming to clarify the issue with greater conceptual precision.
For Laclau, a fundamental question in politics is the role of representation, especially
as an essential element for understanding the various moments and phases of populism. “The
function of the representative does not simply consist of transmitting the will of those he
represents but of giving credibility to that will in an environment different from the one in which
it was originally constituted” (Laclau, 2013, p. 232, our translation). Using the language of new
digital media and its relationship with politics, one could assert that Laclau almost presciently
anticipates the idea that the new populist leader assumes the role of granting credibility to a
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new set of demands from a specific group. However, this leader transcends the boundaries of
this initial group, enabling these ideas to break out of the original “bubble” and expand into
broader spheres. In a growing movement, these ideas gain adherence until they become
majoritarian, thus achieving electoral success.
Additionally, Laclau offers reflections on the same theme in relation to fascism,
reaching the following conclusions: “But in fascist theory, this balance between leader and
follower definitively tilts to the other side: the leader must compel his followers to conform
to what he does” (Id., p. 234, our translation).
In summary, Laclau’s theory of populism takes into account, first and foremost, that a
democratic identity is indistinguishable from a popular identity.
All the components are present: the failure of a purely conceptual order to
explain the unity of social agents; the necessity to articulate a plurality of
positions or demands, which must coalesce around a central point; and the
primary role of affect in consolidating this articulation. The consequence is
inevitable: the construction of “the people” is the sine qua non condition for
the functioning of democracy. Without the creation of a void, there is no
“people,” no populism, and consequently, no democracy (Id. p. 246, our
translation).
He later concludes that “What has changed in democracy, compared with the anciens
régimes, is that in those regimes, embodiment occurred in only one body, whereas today it
transmigrates through a variety of bodies” (Id., p. 248, our translation). It is these bodies,
pluralized and with a more concrete presence of “the people,” that will occupy an expanded
space in politics, conferring a new form upon the model. The leader remains important, as he
is the spokesperson and demiurge of a set of concrete, sentimental, and abstract demands; he
leads the masses, but when the model hardens, a scenario emerges in which “the leader must
compel his followers to conform to what he does” (Id., p. 234, our translation), transforming
the model into fascism, or something approaching that scenario.
Laclau’s conceptual lexicon is quite particular, and this power struggle and occupation
of space receive from the author a theorization on what he calls the “production of the void,”
more commonly understood as space, which is permanently occupied, as in the adage of
political studies that there are no “empty spaces,” given that they are always filled. Therefore,
The author refers to the “empty signifier” as a (discursive) set that is purely
differential, whose totality, in a certain sense, is a part of each “individual act
of signification.” In other words, empty signifiers constitute a chain of
discourses articulated with each other, which, though distinct, unite at a given
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moment, forming a hegemonic totality (unity) (Rodrigues, 2014, p. 767, our
translation).
Thus, “hegemony,” as proposed by the author, would be: “the operation of assuming,
through a particularity, an immeasurable universal meaning” (Laclau, p. 119120, our
translation). It is possible to understand the concreteness of these definitions in the present
reality if we analyze more closely what might be termed the third wave of populism.
When Rodrigues (2014) highlights Laclau’s notion of the individual act of signification
forming a chain of discourses articulated with each other, he provides a clue to understanding
an essential aspect of Bolsonarism, which may indeed have done precisely this: it unified a
series of initially disconnected elements and endowed them with a common meaning, such as
the economic crisis under Dilma’s administration; corruption specifically associated with the
Workers’ Party (PT); residual and historical anti-PT sentiment; the Lava Jato operation; the
clamor for honesty in politics; the fight against corruption; the struggle against crime; the almost
idealized evocation of state efficiency; and the inauguration of a new era of prosperity.
The fact that some of these flags are now being removed from Bolsonaro’s banner
pushes his leadership to seek new elements to replace them, aiming to maintain an electoral
majority: rebranding social programs, pursuing those unwittingly involved in corruption during
the pandemic, and fighting quarantine measures to protect commerce. Thus, “vague feelings of
solidarity” crystallize into a “discursive identity,” and the leader, as spokesperson of a group
aspiring to be the majority, will require this group to act as followers and to conform to the
periodically renewed demands that take shape as a political agenda and set of struggles.
Yesterday’s ally becomes tomorrow’s traitor; the discourse that once elected him may at any
moment transmogrify into an unburied corpse.
Final considerations
In addition to describing three significant moments of populism, the text presents two
ideas that merit revisiting at an appropriate time. The first is that populism in Latin America
develops as a means of modernization, enabled by a shift in the mechanisms of domination,
from former European colonialism to American financial capitalism. The second point concerns
the correlation between populism and patrimonialism, as both promote certain progress yet tend
to “stagnate” and become obstacles to further advancements, particularly in strengthening
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organized civil society. For these reasons, both are largely viewed negatively from a conceptual
and academic perspective.
In this regard, understanding populism involves continuously making a historical
movement, a back-and-forth between politics and economics, to comprehend Latin America in
its specificities and dilemmas, its missteps, and also its accelerated attempts to move toward a
more modern future.
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CRediT Author Statement
Acknowledgements: I would like to thank the State University of Southwest Bahia,
especially the team at the Graduate Studies Dean’s Office, for their support of my
Institutional Research Project, titled 2021 - PT, PSDB e as eleições presidenciais. Análise
de uma homologia”.
Funding: None.
Conflicts of interest: None.
Ethical approval: Submission to the Ethics Committee was not required.
Availability of data and material: Not available for access. This is an original work.
Author contributions: This work has a single author.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.