image/svg+xmlA culinária e o cuidado: “A Festa de Babette” em processo pedagógico para estudantes de nutrição Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161891 A CULINÁRIA E O CUIDADO: “A FESTA DE BABETTE” EM PROCESSO PEDAGÓGICO PARA ESTUDANTES DE NUTRIÇÃO COCINA Y CUIDADO: “EL FESTÍN DE BABETTE” EN UN PROCESO PEDAGÓGICO PARA ESTUDIANTES DE NUTRICIÓN CULINARY AND CARE: "BABETTE’S FEAST” IN A PEDAGOGICAL PROCESS FOR NUTRITION STUDENTS Isabella RodriguesMINGUZZI1Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE2Julicristie Machado de OLIVEIRA3RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar um processo pedagógico, alicerçado em “A Festa de Babette”, para estudantes de Nutrição, da Universidade Estadual de Campinas. Primeiramente, analisou-se o conto “A Festa de Babette”, de Karen Blixen, e o filme homônimo, de Gabriel Axel, com base em conceitos e obras de referência. Posteriormente, foi elaborado, aplicado e analisado um processo pedagógico na disciplina Educação Alimentar e Nutricional. Na coleta de dados, foram realizados dois grupos focais com sete estudantes voluntárias e discutidos os principais temas identificados: o choque de cultura entre a alimentação francesa e as práticas restritivas religiosas, a dedicação de Babette ao jantar e a relevância da comensalidade. Em conclusão, a culinária e o cuidado, atrelados ao cozinhar e ao comer, fomentaram rotas para a compreensão de conceitos trabalhados na disciplina, a sensibilização sobre essas dimensões e as possibilidades de atuação profissional que considerem outros matizes da vida social. PALAVRAS-CHAVE: Alimentação. Cultura. Educação. Literatura. Cinema. RESUMEN:El objetivo de este trabajo fue evaluar un proceso pedagógico, basado en “El festín de Babette”, para estudiantes de Nutrición, de la Universidad Estatal de Campinas. El cuento “El festín de Babette”, de Karen Blixen, y la película homónima, de Gabriel Axel, fueron analizados a partir de conceptos y obras de referencia. Posteriormente, fue desarrollado, aplicado y analizado un proceso pedagógico en la disciplina Educación Alimentaria y Nutricional. Para la recolección de datos, se realizaron dos grupos focales con siete estudiantes voluntarias y se discutieron los principales temas: el choque cultural entre la comida francesa y las prácticas religiosas restrictivas, la dedicación de Babette a la cena y la relevancia de la comensalidad. La cocina y el cuidado, vinculados al cocinar y al comer, propiciaron la comprensión de los conceptos trabajados en la disciplina, sensibilizando sobre 1Universidade Estadual de Campinas (FCA/UNICAMP), Limeira SP Brasil. Graduada em Nutrição. Bolsista Pibic/CNPq. ORCID:https://orcid.org/0000-0002-8799-4436. E-mail: isabella.minguzzi@gmail.com 2Universidade Estadual de Campinas (FCA/UNICAMP), Limeira SP Brasil. Doutoranda em Alimentos e Nutrição. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8528-226X. E-mail: joverlany@gmail.com 3Universidade Estadual de Campinas (FCA/UNICAMP), Limeira SP Brasil. Docente do Curso de Graduação em Nutrição e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Nutrição e do Esporte e Metabolismo. Doutora em Nutrição em Saúde Pública (FSP/USP). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5823-238X. E-mail: julicr@unicamp.br
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE e Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161892 estas dimensiones y posibles actuaciones profesionales que contemplan otros matices de la vida social.PALABRAS CLAVE: Alimentación. Cultura. Educación. Literatura. Cine. ABSTRACT:The aim of this study was to evaluate a pedagogical process, based on “Babette’s feast”, for Nutrition students, from the University of Campinas. Firstly, the “Babette’s feast” short story, by Karen Blixen, and the homonymous film, by Gabriel Axel, were analysed based on concepts and reference studies. Subsequently, a pedagogical process of Food and Nutrition Education course was elaborated, applied and analysed. Data collection was carried out through two focus groups with seven volunteer students and the main identified topics were: the culture clash between French food and restrictive religious practices, Babette's dedication to the dinner and the relevance of commensality. Culinary and care, linked to cooking and eating, were able to foster routes to understand the concepts discussed during the course, raising awareness about the preponderance of these dimensions and encouraging professional practice that considers other shades of social life. KEYWORDS: Food. Culture. Education. Literature. Cinema. Introdução O ser humano, ao comer, não apenas se alimenta. Além de suprir suas necessidades biológicas, comer é um ato permeado por cultura (TOSCANO, 2012). A cozinha é um dos principais cenários das relações sociais, pois é um espelho da sociedade e é ocupada por simbologias, intimidades, vínculos afetivos, relações de gênero, geracionais e de cuidado (SANTOS, 2005). A extensão das relações sociais que encontram espaço na cozinha abarca também o momento de comer, ao expressar-se na comensalidade (CARNEIRO, 2005). Assim, há construções de relações sociais e vínculos afetivos ao redor da mesa, que influenciam, provocam e propiciam trocas de olhares, de palavras e de gestos (LIMA; NETO; FARIAS, 2015). Os modos de cozinhar e comer estão em constantes mudanças (AZEVEDO, 2017a).Os estilos de vida sofreram inflexões importantes com as alterações no papel social da mulher, que passou a acumular atividades ao trabalhar também fora do lar, as desigualdades de gênero nas responsabilidades pelo cuidado alimentar doméstico, além da expansão da indústria de alimentos e outras mudanças sociais e tecnológicas. Dessa forma, comer alimentos industrializados ou fora do lar tornaram-se mais comuns e, por consequência, a prática culinária e as relações sociais envolvidas no preparo da comida perderam espaço. O comer tende a se individualizar, pois cada membro da família pode fazer a refeição que deseja e no horário que lhe for mais pertinente, suprimindo-se a prática da comensalidade (MOREIRA, 2010).
image/svg+xmlA culinária e o cuidado: “A Festa de Babette” em processo pedagógico para estudantes de nutrição Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161893 É importante mencionar que a compreensão dos sentidos da comensalidade remete a outros âmbitos das relações, como a prática do cuidado, pois a escolha do que cozinhar, o ato de preparar a comida, o servir as refeições são meios de demonstrá-lo, culminando na partilha e atitude zelosa a quem a come. Ademais, pelo cuidado alimentar e nutricional as relações sociais e afetivas são fortalecidas, disparam-se emoções, formam-se marcas e criam-se memórias. Portanto, situam-se no âmbito do sensível, da constituição de humanidade e são elementos essenciais da vida social. Nesse sentido, na relação comida e cuidado, a literatura e o cinema podem ser recursos potencializadores de suas compreensões e construções. A literatura pode ser substrato para análise da vida social e sua complexidade, o que também envolve a alimentação. Por meio da trama, suas metáforas e descrições detalhadas, é possível expressar e aproximar o comer e o sentir. Assim, com a literatura é possível distanciar-se do cientificismo e tecnicismo que dificultam a compreensão do sensível e do homem em relação às questões alimentares (PINTO; MEDEIROS, 2011). No mesmo sentido, o cinema, considerado como dispositivo pensante, contribui para a educação, ao estimular sensações, interpretações da realidade, criatividade e criticidade (ALMEIDA, 2017),com possibilidades amplificadas também para o campo da alimentação e nutrição. Tendo em vista as inter-relações apresentadas, o objetivo deste trabalho foi avaliar um processo pedagógico alicerçado no conto “A Festa de Babette”, de Karen Blixen (2014), e no filme homônimo, de Gabriel Axel (1987), para estudantes de graduação em Nutrição, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Material e Métodos Primeiramente, foi realizada uma etapa teórica, essencial para a elaboração do processo pedagógico proposto, na qual foram analisados o conto “A Festa de Babette”, de Karen Blixen (2014) e o filme homônimo, de Gabriel Axel (1987). O conto “A Festa de Babette” é uma narrativa sobre a história de uma francesa forasteira que é abrigada por duas irmãs já senhoras, Martine e Philippa, filhas de um deão protestante e moradoras de um vilarejo da região costeira da Noruega. Recomendada por Papin, um amigo das senhoras, Babette é aceita e, em troca, realiza atividades domésticas relacionadas à culinária e ao cuidado. Ao receber a notícia que fora sorteada na loteria, Babette decide usar o prêmio para preparar um banquete, um jantar festivo, para a comunidade do vilarejo como forma de retribuir o acolhimento e homenagear o já falecido deão. Entre receios, mágoas, desavenças,
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE e Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161894 surpresas e afetos, mudanças nas relações interpessoais e sociais são deflagradas a partir da comensalidade e da partilha dos sabores desse banquete (BLIXEN, 2014). O conto foi lido e analisado em profundidade, com registro de trechos, contextos e identificação de elementos relacionados à comida, ao comer, à comensalidade, à culinária e ao cuidado. Obras de referência do campo de estudos em alimentação formaram um arcabouço teórico que embasou as análises, por meio de sua leitura e fichamento, como: Literatura e Alimentação, de Pinto e Medeiros (2011), Comida como cultura, Montanari (2013), Comer: a alimentação de franceses, outros europeus e americanos, de Fischler e Masson (2010), e O gosto como experiência, de Perullo (2013).Para o cuidado, as análises foram embasadas na proposta de compreensão sociológica de Contatore, Malfitano e Barros (2018, 2019).Após essa primeira etapa teórica, foi elaborado um processo pedagógico constituído por planos de aulas que contaram com os seguintes itens: conteúdo, carga horária, conceitos, objetivos, critérios metodológicos e avaliativos (NASCIMENTO, 2008). O processo pedagógico foi aplicado na disciplina NT512 Educação Alimentar e Nutricional (43 estudantes matriculados em 2018) do curso de Nutrição da FCA/UNICAMP. Em 20 de março de 2018, a professora responsável pela disciplina instruiu os estudantes quanto à leitura do conto “A Festa de Babette” (BLIXEN, 2014). Foram acordados 14 dias para leitura e a discussão em sala agendada para três de abril. Ao final da discussão, os estudantes foram convidados para participação voluntária na pesquisa. A professora responsável apresentou seus objetivos, esclareceu que tal participação não interferiria na média final da disciplina e que o número de voluntários a serem recrutados seria de sete a 11. Sete estudantes, todas mulheres, entraram em contado com a professora por e-mail e se voluntariaram a participar. No dia 10 de abril, o filme “A Festa de Babette” (BLIXEN,2014)foi exibido na sala de cinema da FCA/UNICAMP e, ao final da exibição, os estudantes foram orientados a elaborarem uma análise crítica sobre o conto e o filme e entregarem na semana seguinte. Após a exibição do filme e a finalização das orientações, as sete estudantes permaneceram na sala e as duas pesquisadoras (professora responsável pela disciplina e orientadora, JMO, e a orientanda de Iniciação Científica, IRM) mediaram as discussões do primeiro grupo focal, seguindo as recomendações de Trad (2009). Antes de iniciar a coleta de dados, todas as estudantes leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Unicamp, no dia nove de outubro de 2017 (Nº. 72453617.0.0000.5404). Uma das pesquisadoras fazia uma das perguntas do roteiro previamente elaborado e deixava livre para que as estudantes respondessem, com respeito aos longos silêncios para que todas se sentissem confortáveis a
image/svg+xmlA culinária e o cuidado: “A Festa de Babette” em processo pedagógico para estudantes de nutrição Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161895 opinar. Quando todas estudantes já haviam participado, as pesquisadoras perguntavam se alguém ainda gostaria de acrescentar algum comentário e, então, a pergunta seguinte era realizada e assim por diante. O primeiro grupo focal durou aproximadamente quarenta minutos e o áudio foi gravado com o auxílio de um smartphone. No dia 17 de abril de 2018, a análise crítica individual foi entregue e os estudantes foram orientados a formarem grupos de três a quatro pessoas, para os quais foram distribuídas as 14 perguntas para cada grupo, sendo elas: “Quais cenas do filme pode-se associar com a Nutrição? Quais diferenças culturais entre a Babette e as irmãs são percebidas? Como a Babette melhora a vida daquelas pessoas? Sobre a vida de Babette, quais pontos te chamaram atenção? Qual a relação de Babette com a comida? Qual a relação das irmãs com a comida? Para você, quais os pontos chamaram atenção no jantar? Quais razões levaram Babette a fazer o jantar? Porque o papel do general Loewenhielm é importante na história? Quais cenas demonstram o ato de cuidado? Qual o significado do jantar para Babette e para os seguidores do deão? O que mudou antes e depois do jantar para os personagens? Há diferenças entre filme e conto que te chamaram atenção? Há algo que você só compreendeu com o filme ou com o conto?”. Para essa atividade, foram disponibilizados aproximadamente 40 minutos da aula. Ao final do tempo acordado, cada grupo respondeu para o restante da sala somente a questão definida pela professora, após cada pergunta a professora abria para discussão geral, caso outros estudantes tivessem comentários a acrescentar e, assim, transcorreu o restante da atividade. A discussão foi orientada para que houvesse a compreensão de conceitos e elementos como a comida, o comer, a comensalidade, a culinária e o cuidado, por meio de uma mediação entre definições da literatura e as interpretações realizadas pelos próprios estudantes. No dia 26 de julho de 2018, próximo ao encerramento da disciplina, foi realizado o segundo grupo focal com as mesmas sete estudantes. A dinâmica funcionou do mesmo modo que o grupo focal anterior e, novamente, a discussão foi gravada e durou aproximadamente 30 minutos. Após a realização dos dois grupos focais, os áudios foram transcritos e, nessa etapa, seguiu-se as recomendações de Azevedo et al. (2017b). Para manter anônima a identidade das estudantes, cada uma recebeu o nome de uma flor. Os áudios dos dois grupos focais foram transcritos, os discursos foram analisados e compreendidos com base na análise do conto, do filme e do arcabouço teórico citado anteriormente.
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE e Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161896 Resultados e Discussão Para melhor compreensão, os discursos registrados nos grupos focais foram divididos em duas categorias: “Percepções sobre o conto e o filme”, as quais incluem os conceitos que as estudantes apreenderam, e “Percepções sobre o processo pedagógico”, as quais incluem os comentários referentes à escolha pela literatura e cinema como recursos utilizados em sala de aula e sobre a dinâmica do processo. No primeiro grupo focal, as estudantes demonstravam timidez e, por vezes, se entreolhavam após a pergunta e permaneciam em silêncio por alguns segundos até que uma se disponibilizasse dar início a discussão com alguma risada envergonhada. Houve momentos de descontração e riso. Por vezes, se complementavam ou sussurravam concordando com a fala da outra. No segundo grupo focal, as estudantes demonstraram estar confortáveis, demoravam menos para responder, os silêncios eram breves, por vezes o entusiasmo e concordância entre as opiniões uma das outras fazia com que falassem ao mesmo tempo; eram menos receosas em seus discursos, mais seguras e os momentos de risadas eram mais frequentes. Apesar das perguntas serem as mesmas nos dois grupos focais, as estudantes abordaram temas diferentes em suas respostas, o que contribuiu para o adensamento dos elementos de reflexão. Em seus discursos, as estudantes frequentemente citavam suas próprias experiências e sentimentos pessoais, como suas famílias e suas relações com a comida. Durante os grupos focais, as moderadoras evitaram comentar as perguntas ou respostas para não influenciarem as opiniões e a discussão das estudantes. Percepções sobre o conto e o filme Comida, Culinária e Cuidado Quando questionadas sobre os conceitos observados no conto e no filme, as estudantes destacaram a comida como expressão de afeto: [...] a comida como forma de afeto, como tocar pessoas de uma forma diferente, que ela [Babette] traz quando as pessoas jantam, eles percebem assim: um mundo, uma explosão de sentimentos, sabe? [...] uma das coisas que mais me marcou [...] como a comida pode tocar as pessoas de maneiras diferentes (Girassol, Grupo Focal 1). Ah e também tem o fato de cozinhar ser uma forma de mostrar carinho, né? Então acho que acaba que ela [Babette] que quis mostrar, meio que agradecendo as duas irmãs, uma forma de carinho que é a comida, cai muito no que elas [outras estudantes] falaram, de a comida ser muito mais que um produto (Lírio, Grupo Focal 2).
image/svg+xmlA culinária e o cuidado: “A Festa de Babette” em processo pedagógico para estudantes de nutrição Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161897 Com essas duas falas, percebe-se que houve a compreensão os significados atribuídos à comida por quem a cozinha ou quem a come. Babette despertou nas estudantes a valorização da culinária e do cozinhar, não somente pela prática do cuidado e por proporcionar prazer em quem come, mas pela sensação de bem-estar causada também em quem cozinha. Ou seja, um cuidar de si mesmo ao cuidar do outro, um autocuidado: E também o que me chamou atenção, tipo, foi a mulher [Babette] fazer a comida não tanto pra, sei lá, “vou, ai, eu quero muito agradar eles”, mas porque ela sabe que aquilo, que ela tá fazendo, também faz bem pra ela. (Jasmim, Grupo Focal 1). Outra estudante complementa: [...] ela [Babette] resgata a identidade dela, que a gente comentou na aula, que tipo, ela usa a comida pra relembrar quem que ela foi quando ela era cozinheira no Café Anglais, então tipo, ela usa a comida não só pros outros realmente, mas usa aquela culinária e aqueles pratos que ela conhecia pra relembrar quem ela era, se resgatar (Orquídea, Grupo Focal 1). Nesse último trecho, observa-se também a apreensão do conceito de comida na perspectiva da cultura ao associarem o cozinhar e a comida de Babette como marcas de sua identidade. Essa constatação remete à Montanari (2013, p. 16) que considera a comida como cultura quando produzida, preparada e ainda:[...] quando consumida, porque o homem, embora podendo comer de tudo, ou talvez justamente por isso, na verdade não come qualquer coisa, mas escolhe a própria comida, com critérios ligados tanto às dimensões econômicas e nutricionais do gesto quanto aos valores simbólicos de que a própria comida se reveste. Por meio de tais percursos, a comida se apresenta como elemento decisivo da identidade humana e como um dos mais eficazes instrumentos para comunicá-la (MONTANARI, 2013). Percebe-se que a história de Babette ilustrou e exemplificou os conceitos que haviam sido trabalhados de modo teórico em sala de aula. Como são conceitos que envolvem vivências, despertam sentimentos e deflagram memórias, a exposição teórica pode ser insuficiente para uma compreensão aprofundada. Assim, o contato com a narrativa do conto desperta outras rotas, um jogo constante de olhar para si e para o outro, o que potencializa o aprendizado. A maior identificação com a história está no âmbito das considerações que a Babette faz da culinária, sua ligação com o cuidado e o carinho para com os outros e para consigo mesma. Várias estudantes fizeram relatos pessoais de quando retornam para casa de seus pais e do prazer que sentem ao cozinhar para toda família, independente do trabalho que dê. Segundo elas, assim como a Babette, o prazer gerado para si mesmas e para o outro supera o cansaço:
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE e Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161898 Eu acho que também o fato de eu, é, enxergar como que eu posso melhorar, ajudar a pessoa na necessidade dela, através da comida assim, porque as vezes você acha que cozinhar é só cozinhar, mas NÃO, as vezes você percebe que a pessoa tá triste ou que tá passando por um problema de doença tudo mais e que se você preparar uma comida daquela forma ou daquele gosto que ela tem, VAI melhorar, vai ajudar de alguma forma, né? E a Babette, acho que ela percebe que as pessoas têm necessidades e ajuda nisso, porque todo mundo “tava” brigado antes, “tava” discutindo e ela traz essa necessidade deles de se sentirem mais felizes e compartilhar mais juntos, né? O alimento (Rosa, Grupo Focal 2). O ato de cozinhar para quem se gosta, como mencionado pelas estudantes, é coerente com as impressões dos franceses e italianos, mencionadas por Fischler e Masson (2010). Os autores consideram que a refeição é ato de entrega literal do anfitrião que a preparou, um autossacrifício dedicado aos comensais. Essa afirmação somada às percepções das estudantes, evidencia “a relação entre cuidado e sociedade”, pois o cuidado e seus benefícios não advêm somente da aplicação da técnica ou uso de tecnológica da assistência à saúde (CONTATORE; MALFITANO; BARROS, 2019). Nesse sentido, as redes e relações sociais, os laços de solidariedade e apoio entre as pessoas são elementos cruciais para a efetividade do cuidado (CONTATORE; MALFITANO; BARROS, 2018, 2019). Assim, as estudantes demonstraram habilidades em relacionar os conceitos das exposições teóricas em aula com a história Babette e com suas próprias vivências pessoais. Essa intersecção de teoria, ficção e experiência pessoal é potencialmente facilitadora do exercício profissional de nutricionistas que podem se tornar mais competentes para identificarem a influência da comensalidade, da memória gustativa e da compreensão sociológica do cuidado no próprio cuidado técnico nutricional. Comensalidade, comida e cultura As estudantes identificaram ainda o conceito de comensalidade na potencialidade da comida em promover a reconciliação dos comensais, como fez Babette. Observou-se no conto e no filme o quanto as relações entre os comensais estavam fragilizadas por mágoas e desavenças e, ao partilharem o jantar, ao se unirem para comer, sentiram uma abertura afetiva para o perdão e a reconciliação. Faz-se necessário ressaltar que o comer e a comida não só aproximam, há também a possibilidade de distanciamento entre as pessoas, especialmente quando se considera as diferenças culturais. No jantar, foi possível observar e compreender essa dualidade:
image/svg+xmlA culinária e o cuidado: “A Festa de Babette” em processo pedagógico para estudantes de nutrição Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161899 aproximação e distância. Quanto à potencialidade de aproximar pela prática da comensalidade, algumas estudantes citaram: E eram pessoas diferentes que acabaram [...], no momento eram todas iguais, todas comendo, aproveitando o momento (Orquídea, Grupo Focal 1). Uma delas exemplifica a ideia da quebra da distância com o fato de que, apesar de somente o general conhecer aqueles pratos, todos os comensais conseguiram superar as barreiras para se conectarem uns aos outros de algum modo pelo jantar. Foi nesse sentido que algumas se identificaram com a história: Eu me identifiquei bastante com a parte da comensalidade, porque quando eu vim pra faculdade eu percebi o quanto isso era importante, comer com as pessoas, porque eu na minha casa eu sempre almocei e jantei, tomei café da manhã, com minha família inteira, e aqui as vezes eu não tenho isso, eu como sozinha e eu percebo o como isso faz diferença, porque agora as vezes eu como, eu tô no celular e é MUITO diferente, você não PRESTA atenção no que você tá comendo, é muito diferente você tá com a presença da sua família comendo (Violeta, Grupo Focal 1). O destaque que deram ao “comer junto” é algo valorizado pelos franceses, como mostrou o estudo de Fischler e Masson (2010), pois as palavras-chaves que podem resumir suas relações com a alimentação são “prazer e convivialidade”, sendo elas complementares e necessárias: para haver sensação prazerosa faz-se necessário o socializar-se. Pode-se acreditar que Babette, como cozinheira francesa, considerou esses elementos quando propôs o jantar. Assim, a comensalidade fomentada por Babette foi capaz de tocar as estudantes e despertar suas próprias memórias. O conceito de comida como cultura também foi discutido. Uma das estudantes exemplificou o pré-julgamento que as irmãs fizeram do jantar de Babette: Eu vi tanto no filme quanto, no livro, é ... como a gente deve respeitar a cultura do outro, [...] respeitar tanto cultura quanto conhecimento prévio que o paciente tem [...] (Lírio, Grupo Focal 1). Maciel (2005) explica que a comida expressa símbolos e pertencimento, ou seja, uma identidade (dinâmica) que considera processos histórico-culturais. Nesse contexto, está o ponto da obra que mais causou incomodo às estudantes: as privações alimentares das irmãs e o preconceito em relação a uma alimentação diferente da delas, matizada pelas questões religiosas. Ou seja, ficou óbvia a tensão entre a temperança e a gula. No segundo grupo focal, foi discutida a tristeza que a cozinheira deve ter sentido por estar afastada da comida do seu país, uma vez que era algo de grande valor em sua vida:
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE e Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618910 Porque a comida pra mim ela é MUITO ligada com prazer, com alegria, né? Então deixar de comer uma coisa que a pessoa gosta de comer, pra mim é muito triste, ou proibir um alimento que a pessoa gosta de comer é uma VIOLÊNCIA com a pessoa, na minha opinião. [...] para mim a Babette naquela situação seria um fator de muita tristeza não poder comer as comidas que ela tá acostumada [...] (Orquídea, Grupo Focal 2). A experiência alimentar prazerosa deve ser estimulada, uma vez que é algo genuíno. Como cita Perullo (2013), as referências mais apaixonadas de contato com o alimento são por vezes a comida de avó. Não parece certo proibir ou culpabilizar um paciente em cuidado alimentar e nutricional, por exemplo, por desejar e comer um bolo ou um doce que lhe é familiar. A tensão entre serem preparações calóricas, gordurosas e açucaradas diante das normas dietéticas, se contrapõe ao fato de serem prazerosas, afetivas e ligadas às memórias gustativas. Ao nutricionista cabe, então, não só auxiliar o paciente a lidar com essa tensão, mas aprender a trabalhar com ela em sua prática e consigo mesmo. O prazer em comer envolve símbolos, memórias e relaciona-se com as escolhas alimentares, o termo “violência” utilizado pela estudante é forte, mas é coerente com essa definição, pois privar o prazer alimentar é romper com o próprio ser. Contribuição para formação Quando questionadas sobre a contribuição do conto e do filme para a disciplina e para sua formação como nutricionistas, as estudantes destacaram principalmente o respeito que se deve ter quanto à alimentação e seus significados para um paciente em cuidado alimentar e nutricional, por exemplo:[...] bem nessa questão do respeito, da empatia também, porque na nutrição agora a gente tem muito terrorismo, a gente conversa muito sobre isso nas aulas, que uma hora tá demonizando o ovo [riu], e na outra, cada hora é um alimento que ninguém pode comer. E as pessoas vem pro consultório com essa ideia, de que elas tão proibidas de comer alguma coisa que faz parte da cultura delas, do hábito delas, da identidade delas. Então, a gente tem que ter essa noção também, sabe, de respeitar essa cultura, esse hábito, essa identidade, que a gente não pode pegar um alimento e excluir completamente da vida da pessoa, se ele faz parte da vida dela, entende? Tá associado a memória, tá associado ao o que ela entende pela alimentação, então é uma coisa que a gente tem que levar também ... na nossa prática da nutrição (Orquídea, Grupo Focal 1). Com o discurso acima, percebe-se que as estudantes conseguiram conferir sentido ao aprendizado ao remeter às prováveis situações futuras da prática como nutricionistas.
image/svg+xmlA culinária e o cuidado: “A Festa de Babette” em processo pedagógico para estudantes de nutrição Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618911 Valorizaram a importância das questões culturais arraigadas no comer e na prática da comensalidade, e que essas são imprescindíveis para que a atuação seja significativa. Ao longo da discussão, nota-se que compreenderam que se o profissional desconsiderar esses pontos e adotar uma postura prescritiva, por meio de uma dieta puramente baseada em cálculos e diretrizes nutricionais, com várias restrições, a adesão do paciente ao plano alimentar e ao tratamento será comprometida, pois desvalorizam elementos essenciais da vida social. Segundo Contatore, Malfitano e Barros (2019, p. 3), é necessário visibilizar a "dimensão sociológica do cuidado para problematizar sua transposição de fator necessário à vida social para uma ação técnica de saúde", pois os componentes da vida social, como o zelo e a solidariedade, transbordam e podem ser legitimados como elementos do cuidado em saúde. Nesse sentido, o conto e o filme "A festa de Babette" tornaram-se recursos que possibilitaram às estudantes refletirem sobre a transposição da compreensão da culinária e do cozinhar como modos de cuidado de dimensão sociológica para seus enquadramentos como componentes cruciais no cuidado alimentar e nutricional. Ou seja, uma ação técnica em nutrição que, nesse caso, legitima e incorpora a alimentação como elemento a ela indispensável. Ademais, o processo pedagógico fomentou uma percepção mais acurada do quanto o cuidado pela culinária e pelo cozinhar antecedem o nutricional e sem esses não há de fato uma ação técnica em nutrição promotora da saúde. Portanto, as dimensões da culinária e do cozinhar são constituintes, são alicerce da nutrição, mesmo que essa ciência se resigne em assumir que esses conhecimentos tácitos e de experiência, apesar de marginalizados, desempenham de fato papeis preponderantes. As estudantes por diversas vezes aplicavam com destreza os conceitos e cenas do filme em situações da prática profissional. Conseguiram relacionar a importância de conceitos como: comer, comensalidade, culinária e cuidado e outros significados diante do contexto atual da nutrição, permeado por angústias alimentares, restrições, tecnicismo e dietas da moda: Às vezes já tem uma coisa muito pronta, assim escrita, tipo, uma alimentação base, que tem que ter, é aquela porcentagem de carboidrato, aquela de proteína, mas as vezes não é isso que aquela pessoa precisa, tem que ver uma coisa muito mais individual (Rosa, Grupo Focal 1). A história de Babette foi capaz de provocar reflexões sobre a alimentação das próprias estudantes: E aí eu percebi o quanto eu não presto atenção no que eu como, sabe? (Jasmim, Grupo Focal 2).
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE e Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618912 Essa indiferença em relação à refeição e ao sabor da comida, comum em decorrência da agitação do dia-a-dia, é representada pela relação de desinteresse de Martine e Philippa por motivos religiosos. A comida, ela não tinha todo esse significado, como tem pra Babette, de prazer, de alegria e de um momento de reunir, era só uma necessidade (Orquídea, Grupo Focal 2) As estudantes apreenderam que o ato de comer vai além da necessidade fisiológica, como tratavam as personagens Martine e Philippa, pois é carregado de sentidos. Nos grupos focais, citaram que quando os significados do comer e da comida são explorados para cada paciente, o plano alimentar pode ser muito mais eficiente e promover saúde em sua totalidade, pois: [...] a alimentação, ela é MUITO complexa, ela é muito mais complexa do que só, sabe, encher de nutriente, alguma coisa desse tipo, e a Festa de Babette ajuda a perceber isso também (Orquídea, Grupo Focal 2). Citaram, ainda, que os nutricionistas devem estimular a prática da culinária e da comensalidade, exatamente como fez a Babette: E acho que tanto o filme quanto a disciplina fez a gente pensar como a gente vai trabalhar o comer com a pessoa, não só passar a dieta (Violeta, Grupo Focal 2). Percepções sobre o processo pedagógico Quando questionadas em relação à preferência entre o conto e o filme, as estudantes preferiram o conto. Relataram que a leitura foi fácil, permitiu que imaginassem toda história, possibilitou conhecerem mais detalhes da trama. Contudo, apesar da preferência, julgaram o conto e o filme como complementares no processo pedagógico. O filme contribuiu para a visualização de expressões e sentimentos, da complexidade do preparo do jantar que não imaginaram com o conto, a variedade, a magnitude dos ingredientes e melhor contextualização da época. As estudantes também foram questionadas se teria sido suficiente abordar os conceitos trabalhados de forma convencional, ou seja, por aula expositiva, em vez do uso do conto e do filme. As respostas foram todas negativas, pois julgaram muito relevantes e complementares os usos da literatura e do cinema para a disciplina:
image/svg+xmlA culinária e o cuidado: “A Festa de Babette” em processo pedagógico para estudantes de nutrição Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618913 Porque as aulas também, elas são SÓ expositivas, então a gente tem um papel muito passivo, a gente não dá muito a nossa opinião, a gente não é estimulado a pensar eu acho, então acho que esse tipo de coisa [ferramentas audiovisuais] proporciona (Violeta, Grupo Focal 1). “A Festa de Babette” (BLIXEN, 2014; AXEL, 1987) estimulou a reflexão para que compreendessem as complexidades da alimentação e a nutrição no cotidiano, exemplificado na vida das personagens. A proposta simples promoveu surpresa e estimulou o senso crítico, o pensar fora da caixa”, como disse uma estudante, pois, segundo ela, contribuiu para criar a mentalidade que se pode aprender além da sala de aula, com um livro ou filme: E é como elas falaram, que a gente, meio que é forçado a desenvolver um pensamento crítico, a gente não tá olhando a matéria e tá reproduzindo numa folha de papel, numa prova, não, depois que a gente ... a gente também não sabia o motivo de você ter dado o livro pra gente ler [risadas e vozes] “Ai que será que isso tem a ver com nutrição?”, ai chega na aula e você pergunta pra gente “que que teve a ver com a matéria?” Aí a gente meio que é obrigada a pensar nisso e desenvolver esse pensamento crítico, de lembrar dos conceitos, o que que significa isso, que que significa comensalidade, todas essas coisas (Rosa, Grupo Focal 1). Segundo Pinto e Medeiros (2011), o desafio da formação em nutrição no século atual é reunir o conhecimento de forma a incentivar o pensamento crítico para estimular a autonomia. Com o discurso das estudantes, percebe-se que a combinação entre a literatura e o cinema foi elemento pedagógico e reflexivo em seus processos de formação. As estudantes relataram também que as ferramentas usadas contribuíram para memorizarem e compreenderem melhor os conceitos, que são difíceis de guardar quando só apresentados na aula expositiva, principalmente tratando-se da disciplina em questão, a Educação Alimentar e Nutricional, que não envolve cálculos e exercícios: [...] a gente fica aprendendo meio que em uma ideia muito de contar calorias e nutrientes, e essas coisas, e quando a gente vê alguma matéria que é um outro lado assim, mais humano assim, a gente não tem uma forma. Realmente, audiovisual, que seja uma coisa que toque a gente, a gente vai falar “é só uma matéria”, como se fosse, sei lá, qualquer outra, só que não, é tão importante quanto a gente ficar contando caloria, então eu acho que, realmente, provocar a reflexão faz a gente perceber que é importante ter os dois lados mais equilibrados (Jasmim, Grupo Focal 2). No segundo grupo focal as estudantes trataram a obra como um exemplo, uma ilustração, da matéria que viram durante todo o semestre. Com base nos depoimentos, pode-se acreditar que a história de Babette foi pano de fundo para as estudantes que tiveram a oportunidade de se prepararem para lidar com situações reais que encontrarão na profissão.
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE e Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618914 Uma estudante assimilou, ainda, a literatura e o cinema como recursos interessantes para Educação Alimentar e Nutricional com pacientes: Eu acho muito legal assim usar filmes e livros pra complementar a aula, acho que aproxima mais do cotidiano, porque você vê que é uma história baseado, como se fosse, né? Na gente, três mulheres, então assim, a pessoa quando lê isso, consegue pôr a teoria que vê na aula mais pra vida cotidiana. E até acho que isso é interessante até pra gente quando formados passar pro nosso paciente, a gente tem outros auxílios, não é só a gente sentar e conversar, a gente pode utilizar outras coisas pra auxiliar no plano alimentar (Cravo, Grupo Focal 2). A sugestão feita para Educação Alimentar e Nutricional concorda com Pinto e Medeiros (2011)que se opõem a uma metodologia prefixada, normativa e biologicista, ao defenderem uma educação que compreende o ser humano como todo e, para isso, o cinema e a literatura podem ser ferramentas interessantes. O processo pedagógico foi capaz de “aguçar” a sensibilidade das estudantes em relação ao comer: [...] complementou a disciplina e mostrou como que isso pode, como que toda teoria que a gente viu, pode acontecer de verdade, assim... e eu acho que pra formação da gente além da gente perceber o que é importante, é a gente começar a prestar mais atenção na gente mesmo, no nosso corpo, no nosso comer, pra depois a gente conseguir passar isso pros outros (Rosa, Grupo Focal 2). As estudantes também foram questionadas sobre a contribuição da intersecção das Ciências Humanas e Sociais para compreensão da alimentação. Todas a valorizaram: E alimentação ela é HUMANA, né? Não dá pra gente, se for pensar assim realmente, não dá pra gente estudar a alimentação, ser realmente bons nutricionistas só vendo quadradinho, vendo as calorias, vendo dietas, você tem que ver pelo lado humano, porque a alimentação faz parte da vida das pessoas, ela é humana, né? Ela é CULTURA, ela é identidade, ela é tudo essas coisas (Orquídea, Grupo Focal 2). O processo pedagógico contribuiu para a articulação do “técnico e científico” com o “sensível” em relação à alimentação: Trata-se, e aqui falo da área da saúde em especial, de desenvolver uma formação que seja capaz de articular racionalidade científica, prática reflexiva e sensibilidade. De lançar sobre a saúde humana um olhar capaz de perceber a frente como complemento do verso, ou, em outras palavras, entender razão e sensibilidade como duas faces de uma mesma moeda, [...] (PINTO; MEDEIROS, 2011, p. 49). Ainda nesse sentido, Contatore, Malfitano e Barros (2018) discutem o limite do uso da técnica e da tecnologia, pois são insuficientes para sustentar o cuidado em saúde. Outros
image/svg+xmlA culinária e o cuidado: “A Festa de Babette” em processo pedagógico para estudantes de nutrição Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618915 elementos, como a acolhida, a atenção solidária e a postura empática são fundamentais na atuação profissional. Desse modo, as relações dos profissionais com os pacientes podem ser potencializadas quando são adotadas estratégias de construção de autonomia, sem intenção controladora e com atenção às demandas subjetivas. Os autores ainda reforçam a necessidade de se recuperar a origem etimológica do cuidado como zelo, ou seja, o cuidar como uma ação zelosa e afetiva em favor da vida (CONTATORE; MALFITANO; BARROS, 2018). Acredita-se que alguns pontos podem ter influenciado os resultados observados, pois as estudantes foram voluntárias que estavam cursando uma disciplina com uma das autoras deste trabalho como professora. Então, imagina-se que essas estudantes possam ter sido as mais interessadas e dedicadas à disciplina e/ou ao tema, tornando, assim, as discussões tão consistentes e que podem não representar as percepções de todos os estudantes matriculados que cursaram a Educação Alimentar e Nutricional em 2018. Considerações finais O conto “A Festa de Babette”, de Karen Blixen (2014), e o filme, de Gabriel Axel (1987), foram recursos interessantes para a aprendizagem sobre a comida, o comer, a comensalidade, a culinária e o cuidado por estudantes da disciplina Educação Alimentar e Nutricional, da graduação em Nutrição. O processo pedagógico foi considerado exitoso ao ilustrar, evidenciar e atrelar a culinária e o cuidado como elementos da vida social essenciais à ação técnica em Nutrição, além de sensibilizar a futura atuação como nutricionistas. As estudantes demonstraram habilidade ao relacionarem a narrativa da “Festa de Babette” com a prática profissional sensível e crítica ao modelo biologicista, normativo e centrado em nutrientes. Os resultados sugerem, então, que práticas pedagógicas não convencionais em cursos de saúde, que considerem a literatura e o cinema, podem ser estimuladas. Assim, há possibilidade de contribuírem para a formação de profissionais com habilidades e competências para atuarem não somente balizados pelos parâmetros técnicos e científicos, mas também capazes de considerar outros matizes da vida social, como a comida, o comer, a comensalidade, a culinária e o cuidado.
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE e Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618916 REFERÊNCIAS ALMEIDA, R. Cinema e educação: Fundamentos e perspectivas.Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 33, p. 1-27, abr. 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/edur/a/kbqWpx6Vq6DszHrBT887CBk/?format=html. Acesso em: 03 abr. 2022. AXEL, G. A festa de Babette. Fortaleza: Classicline, 1987. 1 vídeo (102 min), DVD, colorido. AZEVEDO, E. Alimentação, sociedade e cultura:Temas contemporâneos. Sociologias, Porto Alegre, v. 19, n. 44, p. 276-307, jan./abr. 2017a. Disponível em: https://www.scielo.br/j/soc/a/jZ4t5bjvQVqqXdNYn9jYQgL/abstract/?lang=pt. Acesso em: 11 fev. 2022. AZEVEDO, V. et al. Transcrever entrevistas: Questões conceptuais, orientações práticas e desafios. Revista de Enfermagem, Coimbra, v. 4, n. 14, p. 159-168, 2017b. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/3882/388255675017/388255675017.pdf. Acesso em: 23 maio 2022. BLIXEN, K. A festa de Babette. 1. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2014. CARNEIRO, H. S. Comida e sociedade: Significados sociais na história da alimentação. História: Questões & Debates, Curitiba, v. 42, n. 1, p. 71-80, 2005. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/historia/article/view/4640. Acesso em: 14 fev. 2022. CONTATORE, O. A.; MALFITANO, A. P. S.; BARROS, N. F. Cuidados em saúde: Sociabilidades cuidadoras e subjetividades emancipadoras. Psicologia & Sociedade,Belo Horizonte, v. 30, e177179, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/psoc/a/J4fY6BT65CQ93w65ghY7vSs/abstract/?lang=pt. Acesso em: 25 abr. 2022. CONTATORE, O. A.; MALFITANO, A. P. S.; BARROS, N. F. Por uma sociologia do cuidado: Reflexões para além do campo da saúde. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, e0017507, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tes/a/5hfvTMrLvcrkNtCBtvhMD9P/abstract/?lang=pt. Acesso em: 20 abr. 2022. FISCHLER, C.; MASSON, E. Comer: A alimentação de franceses, outros europeus e americanos. São Paulo: SENAC, 2010. LIMA, R. S.; NETO, J. A. F.; FARIAS, R. C. P. Alimentação, comida e cultura: O exercício da comensalidade. Demetra, v. 10, n. 3, p. 507-522, 2015. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/demetra/article/view/16072. Acesso em: 19 fev. 2022. MACIEL, M. E. Identidade Cultural e Alimentação. In: CANESQUI, A. M.; GARCIA, R. W. (org.). Antropologia e Nutrição: Um diálogo possível. Rio de Janeiro: Editora da FIOCRUZ, 2005. MONTANARI, M. Comida como cultura. 2. ed. São Paulo: SENAC, 2013.
image/svg+xmlA culinária e o cuidado: “A Festa de Babette” em processo pedagógico para estudantes de nutrição Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618917 MOREIRA, S. A. Alimentação e comensalidade: Aspectos históricos antropológicos. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 62, n. 4, p. 23-26, out. 2010. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252010000400009. Acesso em: 06 abr. 2022. NASCIMENTO, J. C. N. Cinema e ensino de história: Realidade escolar, propostas e práticas na sala de aula. Fênix: Revista de história e estudos culturais, Salvador, v. 5, n. 2, p. 1-23, abr./jun. 2008. Disponível em: https://www.revistafenix.pro.br/revistafenix/article/view/34. Acesso em: 10 abr. 2022 PERULLO, N. O Gosto Como Experiência: Ensaio Sobre Filosofia e Estética do Alimento. 1. ed. São Paulo: SESI-SP, 2013. PINTO, V. L. X.; MEDEIROS, M. Literatura e Alimentação: Delicatéssen na formação em saúde. Natal: EDUFRN, 2011. SANTOS, C. R. A. A alimentação e seu lugar na história: Os tempos da memória gustativa. História: Questões & Debates, Curitiba, v. 42, n. 1, p. 11-31, 2005. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/historia/article/view/4643/3797. Acesso em: 08 jan. 2022. TOSCANO, F. O. Alimentação e cultura: Caminhos para o estudo da Gastronomia. Contextos da Alimentação, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 15-27, 2012. Disponível em: https://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistacontextos/wp-content/uploads/2013/04/Revista_Vol1_N215a27.pdf. Acesso em: 23 jan. 2022. TRAD, L. A. B. Grupos focais: Conceitos, procedimentos e reflexões baseadas em experiências baseadas com o uso da técnica de pesquisas de saúde. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro. v. 19, n. 3, p. 777-796, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/physis/a/gGZ7wXtGXqDHNCHv7gm3srw/abstract/?lang=pt. Acesso em: 05 maio 2022.
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE e Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618918 Como referenciar este artigo MINGUZZI, I. R.; ALBUQUERQUE, J. P.; OLIVEIRA, J. M. A culinária e o cuidado: “A Festa de Babette” em processo pedagógico para estudantes de nutrição. Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022. e-ISSN 2526-3471. DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16189 Submetido em: 15/06/2022 Revisões requeridas em: 21/08/2022 Aprovado em: 26/09/2022 Publicado em: 30/11/2022 Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.Revisão, formatação, normalização e tradução.
image/svg+xmlCulinary and care: "Babette’s Feast” in a pedagogical process for nutrition studentsTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161891 CULINARY AND CARE: "BABETTE’S FEAST” IN A PEDAGOGICAL PROCESS FOR NUTRITION STUDENTS A CULINÁRIA E O CUIDADO: “A FESTA DE BABETTE” EM PROCESSO PEDAGÓGICO PARA ESTUDANTES DE NUTRIÇÃO COCINA Y CUIDADO: “EL FESTÍN DE BABETTE” EN UN PROCESO PEDAGÓGICO PARA ESTUDIANTES DE NUTRICIÓN Isabella RodriguesMINGUZZI1Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE2Julicristie Machado de OLIVEIRA3ABSTRACT: The aim of this study was to evaluate a pedagogical process, based on “Babette’s feast”, for Nutrition students, from the University of Campinas. Firstly, the “Babette’s feast” short story, by Karen Blixen, and the homonymous film, by Gabriel Axel, were analysed based on concepts and reference studies. Subsequently, a pedagogical process of Food and Nutrition Education course was elaborated, applied and analysed. Data collection was carried out through two focus groups with seven volunteer students and the main identified topics were: the culture clash between French food and restrictive religious practices, Babette's dedication to the dinner and the relevance of commensality. Culinary and care, linked to cooking and eating, were able to foster routes to understand the concepts discussed during the course, raising awareness about the preponderance of these dimensions and encouraging professional practice that considers other shades of social life. KEYWORDS: Food. Culture. Education. Literature. Cinema. RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar um processo pedagógico, alicerçado em “A Festa de Babette”, para estudantes de Nutrição, da Universidade Estadual de Campinas. Primeiramente, analisou-se o conto “A Festa de Babette”, de Karen Blixen, e o filme homônimo, de Gabriel Axel, com base em conceitos e obras de referência. Posteriormente, foi elaborado, aplicado e analisado um processo pedagógico na disciplina Educação Alimentar e Nutricional. Na coleta de dados, foram realizados dois grupos focais com sete estudantes voluntárias e discutidos os principais temas identificados: o choque de cultura entre a alimentação francesa e as práticas restritivas religiosas, a dedicação de Babette ao jantar e a relevância da comensalidade. Em conclusão, a culinária e o cuidado, atrelados ao cozinhar e ao comer, fomentaram rotas para a compreensão de conceitos trabalhados na disciplina, a sensibilização 1State University of Campinas (FCA/UNICAMP), Limeira SP Brazil. Graduated in Nutrition. Pibic/CNPq Scholarship Holder. ORCID:https://orcid.org/0000-0002-8799-4436. E-mail: isabella.minguzzi@gmail.com 2State University of Campinas (FCA/UNICAMP), Limeira SP Brazil. PhD in Food and Nutrition. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8528-226X. E-mail: joverlany@gmail.com 3State University of Campinas (FCA/UNICAMP), Limeira SP Brazil. Professor of the Undergraduate Course in Nutrition and the Graduate Program in Nutrition Sciences and Sports and Metabolism. PhD in Nutrition in Public Health (FSP/USP). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5823-238X. E-mail: julicr@unicamp.br
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE and Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161892 sobre essas dimensões e as possibilidades de atuação profissional que considerem outros matizes da vida social. PALAVRAS-CHAVE: Alimentação. Cultura. Educação. Literatura. Cinema. RESUMEN:El objetivo de este trabajo fue evaluar un proceso pedagógico, basado en “El festín de Babette”, para estudiantes de Nutrición, de la Universidad Estatal de Campinas. El cuento “El festín de Babette”, de Karen Blixen, y la película homónima, de Gabriel Axel, fueron analizados a partir de conceptos y obras de referencia. Posteriormente, fue desarrollado, aplicado y analizado un proceso pedagógico en la disciplina Educación Alimentaria y Nutricional. Para la recolección de datos, se realizaron dos grupos focales con siete estudiantes voluntarias y se discutieron los principales temas: el choque cultural entre la comida francesa y las prácticas religiosas restrictivas, la dedicación de Babette a la cena y la relevancia de la comensalidad. La cocina y el cuidado, vinculados al cocinar y al comer, propiciaron la comprensión de los conceptos trabajados en la disciplina, sensibilizando sobre estas dimensiones y posibles actuaciones profesionales que contemplan otros matices de la vida social.PALABRAS CLAVE: Alimentación. Cultura. Educación. Literatura. Cine. Introduction The human being, when eating, not only feeds. In addition to meeting their biological needs, eating is an act permeated by culture (TOSCANO, 2012). Cooking is one of the main scenarios of social relations, as it is a mirror of society and is occupied by symbology, intimacies, affective bonds, gender, generational and care relationships (SANTOS, 2005). The extent of social relationships that find space in the kitchen also encompasses the moment of eating, when expressing itself in dinner (CARNEIRO, 2005). Thus, there are constructions of social relations and affective bonds around the table, which influence, provoke and facilitate exchanges of looks, words and gestures (LIMA; NETO; FARIAS, 2015). The ways of cooking and eating are constantly changing (AZEVEDO, 2017a). Lifestyles suffered significant inflections with changes in the social role of women, who began to accumulate activities while also working outside the home, gender inequalities in responsibilities for domestic food care, in addition to the expansion of the food industry and other social and technological changes. Thus, eating industrialized or out-of-home foods became more common and, consequently, the culinary practice and social relationships involved in the preparation of food have lost space. Eating tends to be individualized, because each family member can make the meal they want and at the time that is most pertinent to them, suppressing the practice of commensality (MOREIRA, 2010).
image/svg+xmlCulinary and care: "Babette’s Feast” in a pedagogical process for nutrition studentsTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161893 It is important to mention that the understanding of the meanings of commensality refers to other areas of relationships, such as the practice of care, because the choice of what to cook, the act of preparing food, serving meals are means of demonstrating it, culminating in the sharing and zealous attitude to those who eat it. Moreover, by food and nutritional care, social and affective relationships are strengthened, emotions are triggered, marks are formed and memories are created. Therefore, they are situated within the context of the sensitive, the constitution of humanity and are essential elements of social life. In this sense, in the relationship between food and care, literature and cinema can be potentiating resources of their understandings and constructions. The literature can be a substrate for the analysis of social life and its complexity, which also involves food. Through the plot, its metaphors and detailed descriptions, it is possible to express and approximate eating and feeling. Thus, with literature, it is possible to distance ourselves from scientific perspective and technicality that make it difficult to understand the sensitive and man in relation to food issues (PINTO; MEDEIROS, 2011). In the same sense, cinema, considered as a thinking device, contributes to education, by stimulating sensations, interpretations of reality, creativity and criticality (ALMEIDA, 2017), with possibilities amplified also for the field of food and nutrition. In view of the interrelations presented, the objective of this work was to evaluate a pedagogical process based on the short story "The Feast of Babette" by Karen Blixen (2014), and in the film of the same name, by Gabriel Axel (1987), for undergraduate students in Nutrition, from the Faculty of Applied Sciences (FCA), of the State University of Campinas (UNICAMP). Material and Methods First, a theoretical stage was performed, essential for the elaboration of the proposed pedagogical process, in which the short story "The Feast of Babette" by Karen Blixen (2014) and the film of the same name by Gabriel Axel (1987) were analyzed. The short story "The Feast of Babette" is a narrative about the story of a French man who is sheltered by two sisters, Martine and Philippa, daughters of a Protestant dean and residents of a village in the coastal region of Norway. Recommended by Papin, a friend of the ladies, Babette is accepted and, in return, performs domestic activities related to cooking and care. Upon receiving the news that had been drawn in the lottery, Babette decides to use the prize to prepare a banquet, a festive dinner, for the village community as a way to repay the
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE and Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161894 welcome and honor the deceased dean. Among fears, sorrows, disagreements, surprises and affections, changes in interpersonal and social relationships are triggered from the commensality and the sharing of the flavors of this banquet (BLIXEN, 2014). The short story was read and analyzed in depth, with records of excerpts, contexts and identification of elements related to food, eating, dinner, cooking and care. Reference works of the field of studies in food formed a theoretical framework that supported the analyses, through its reading and registration, such as: Literature and Food, by Pinto and Medeiros (2011), Food as culture, Montanari (2013), Eating: the food of French, other Europeans and Americans, by Fischler and Masson (2010), and the taste as experience, Perullo (2013). For care, the analyses were based on the proposal of sociological understanding of Contatore, Malfitano and Barros (2018, 2019).After this first theoretical stage, a pedagogical process was elaborated consisting of lesson plans that had the following items: content, workload, concepts, objectives, methodological and evaluative criteria (NASCIMENTO, 2008). The pedagogical process was applied in the discipline NT512 Food and Nutrition Education (43 students enrolled in 2018) of the Nutrition course of FCA/UNICAMP. On March 20, 2018, the teacher in charge of the discipline instructed students to read the short story "The Feast of Babette" (BLIXEN, 2014). 14 days were agreed for reading and the discussion in the room scheduled for April 3. At the end of the discussion, the students were invited to volunteer participation in the research. The teacher responsible presented her objectives, clarified that such participation would not interfere in the final average of the discipline and that the number of volunteers to be recruited would be from seven to 11. Seven students, all women, contacted the teacher by e-mail and volunteered to participate. On April 10, the film "The Babette's Party" (BLIXEN, 2014) was screened in the FCA/UNICAMP movie theater and, at the end of the screening, students were instructed to prepare a critical analysis of the short story and the film and deliver the following week. After the screening of the film and the completion of the orientations, the seven students remained in the room and the two researchers (professor responsible for the discipline and advisor, JMO, and the Scientific Initiation Guide, IRM) mediated the discussions of the first focus group, following the recommendations of Trad (2009). Before starting data collection, all students read and signed the Informed Consent Form (TCLE), evaluated and approved by the Research Ethics Committee (CEP) of Unicamp, on October 9, 2017 (No. 72453617.0.0000.5404). One of the researchers asked one of the questions of the previously elaborated script and left it free for the students to answer, with respect to the long silences so
image/svg+xmlCulinary and care: "Babette’s Feast” in a pedagogical process for nutrition studentsTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161895 that everyone would feel comfortable giving their opinions. When all students had already participated, the researchers asked if anyone would still like to add some comment, and then the next question was asked and so on. The first focus group lasted approximately forty minutes and the audio was recorded with the aid of a smartphone. On April 17, 2018, individual critical analysis was delivered and students were instructed to form groups of three to four people, for whom the 14 questions were distributed to each group, including: "What scenes from the film can be associated with Nutrition? What cultural differences between Babette and her sisters are perceived? How does Babette make those people's lives better? About Babette's life, what points caught your eye? What's Babette's relationship with food? What's the sisters' relationship with food? For you, what do you do at dinner? What reasons led Babette to make dinner? Why is the role of General Loewenhielm important in history? What scenes show the act of care? What does dinner mean for Babette and the dean's followers? What changed before and after dinner for the characters? Are there differences between film and story that caught your eye? Is there anything you only understood with the film or the tale?" For this activity, approximately 40 minutes of the class were made available. At the end of the agreed time, each group answered to the rest of the room only the question defined by the teacher, after each question the teacher opened for general discussion, if other students had comments to add and, thus, the rest of the activity took place. The discussion was oriented so that there was an understanding of concepts and elements such as food, eating, dinner, cooking and care, through a mediation between definitions of literature and the interpretations made by the students themselves. On July 26, 2018, near the end of the course, the second focus group was held with the same seven students. The dynamics worked in the same way as the previous focus group and, again, the discussion was recorded and lasted approximately 30 minutes. After the two focus groups, the audios were transcribed and, at this stage, the recommendations of Azevedo et al. (2017b) were followed. To keep the identity of the students anonymous, each was named after a flower. The audios of the two focus groups were transcribed, the discourses were analyzed and understood based on the analysis of the short story, the film and the theoretical framework mentioned above.
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE and Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161896 Results and Discussion For better understanding, the discourses recorded in the focus groups were divided into two categories: "Perceptions about the tale and the film", which include the concepts that the students apprehended, and "Perceptions about the pedagogical process", which include comments referring to the choice by literature and cinema as resources used in the classroom and about the dynamics of the process. In the first focus group, the students showed shyness and sometimes looked at each other after the question and remained silent for a few seconds until one made available to start the discussion with some embarrassed laughter. There were moments of relaxed and laughter. Sometimes they complemented each other or whispered in agreement with each other's speech. In the second focus group, the students showed to be comfortable, took less time to respond, the silences were brief, sometimes the enthusiasm and agreement between the opinions of each other made them speak at the same time; were less afraid in their speeches, safer and moments of laughter were more frequent. Although the questions were the same in both focus groups, the students addressed different themes in their answers, which contributed to the deepening of the elements of reflection. In their speeches, the students often cited their own personal experiences and feelings, such as their families and their relationships with food. During the focus groups, the moderators avoided commenting on the questions or answers so as not to influence the students' opinions and discussion. Insights into the tale and the film Food, Cooking and Care When asked about the concepts observed in the short story and in the film, the students highlighted food as an expression of affection: [...] food as a form of affection, like touching people in a different way, that she [Babette] brings when people have dinner, they realize it like this: a world, an explosion of feelings, you know? [...] one of the things that most marked me [...] how food can touch people in different ways (Sunflower, Focal Group 1) (our translation). Oh, and also has the fact that cooking is a way to show affection, right? So, I think it turns out that she [Babette] wanted to show, kind of thanking the two sisters, a form of affection that is food, falls a lot into what they [other students] said, that food is much more than a product (Lily, Focal Group 2) (our translation).
image/svg+xmlCulinary and care: "Babette’s Feast” in a pedagogical process for nutrition studentsTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161897 With these two statements, it is perceived that there was an understanding of the meanings attributed to food by those who cook it or who eats it. Babette awakened in the students the appreciation of cooking and cooking, not only for the practice of care and for providing pleasure in those who eat, but by the feeling of well-being also caused in those who cook. That is, one taking care of oneself while caring for the other, a self-care: And also, what caught my attention, like, was the woman [Babette] making the food not so much for, I don't know, "I'm going, then, I really want to please them", but because she knows that what she's doing is also good for her. (Jasmine, Focal Group 1, our translation). Another student adds: [...] she [Babette] rescues her identity, which we commented on in class, which, like, she uses the food to remember who she was when she was a cook at Café Anglais, so, like, she uses food not only for others really, but uses that cuisine and those dishes she knew to remember who she was, (Orchid, Focal Group 1, our translation). In this last passage, we also observe the apprehension of the concept of food from the perspective of culture by associating the cooking and food of Babette as marks of their identity. This finding refers to Montanari (2013, p. 16, our translation) which considers food as a culture when produced, prepared and still:[...] when consumed, because man, although he can eat everything, or perhaps precisely for this reason, does not actually eat anything, but chooses his own food, with criteria linked both to the economic and nutritional dimensions of the gesture and to the symbolic values that the food itself is in. Through such pathways, food is a decisive element of human identity and as one of the most effective tools to communicate it. It is perceived that Babette's story illustrated and exemplified the concepts that had been worked theoretically in the classroom. As they are concepts that involve experiences, arouse feelings and trigger memories, the theoretical exposition may be insufficient for an in-depth understanding. Thus, contact with the narrative of the tale awakens other routes, a constant game of looking at one another, which enhances learning. The greatest identification with the story is within the scope of Babette's considerations of cooking, its connection with care and affection for others and for itself. Several students have made personal accounts of when they return home from their parents and the pleasure they feel when cooking for the whole family, regardless of the work they do. According to them, like Babette, the pleasure generated for themselves and for the other overcomes tiredness:
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE and Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161898 I think also the fact that I, is, see how I can improve, help the person in need of it, through food like that, because sometimes you think cooking is just cooking, but NOT, sometimes you realize that the person is sad or that is going through a disease problem everything else and that if you prepare a food like that or that taste that she has, it’s going to get better, it's going to help somehow, right? And Babette, I think she realizes that people have needs and help in this, because everyone "was" fighting before, was arguing and she brings this need for them to feel happier and share more together, right? The food (Rosa, Focal Group 2, our translation). The act of cooking for those who like themselves, as mentioned by the students, is consistent with the impressions of the French and Italians, mentioned by Fischler and Masson (2010). The authors consider that the meal is an act of literal delivery of the host who prepared it, a self-sacrifice dedicated to diners. This statement, added to the students' perceptions, evidences "the relationship between care and society", because care and its benefits do not come only from the application of the technique or use of technological health care (CONTATORE; MALFITANO; BARROS, 2019). In this sense, social networks and relationships, bonds of solidarity and support between people are crucial elements for the effectiveness of care (CONTATORE; MALFITANO; BARROS, 2018, 2019). Thus, the students demonstrated skills in relating the concepts of theoretical exhibitions in class with Babette history and with their own personal experiences. This intersection of theory, fiction and personal experience is potentially facilitating the professional practice of nutritionists who can become more competent to identify the influence of commensality, taste memory and sociological understanding of care in nutritional technical care itself. Dinner, food and culture The students also identified the concept of dinner in the potential of food in promoting the reconciliation of diners, as Babette did. It was observed in the short story and in the film how fragile the relationships between the diners were by sorrow and disagreement, and as they shared dinner, as they came together to eat, they felt an affective openness to forgiveness and reconciliation.It is necessary to emphasize that eating and food not only approach, there is also the possibility of distancing between people, especially when considering cultural differences. At dinner, it was possible to observe and understand this duality: approximation and distance. Regarding the potential to approach by the practice of commissioning, some students mentioned:
image/svg+xmlCulinary and care: "Babette’s Feast” in a pedagogical process for nutrition studentsTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.161899 And they were different people who ended up [...], at the time they were all the same, all eating, enjoying the moment (Orchid, Focal Group 1, our translation). One of them exemplifies the idea of breaking the distance with the fact that, although only the general knows those dishes, all the diners managed to overcome the barriers to connect each other in some way by dinner. It was in this sense that some identified themselves with the story: I identified a lot with the commensality part, because when I came to college I realized how important this was, eating with people, because I in my house I always had lunch and dinner, i had breakfast, with my whole family, and here sometimes I don't have it, I eat alone and I realize how it makes a difference, because now I eat, I'm on the phone and it's VERY different, you do not PAY attention to what you are eating, it is very different you are with the presence of your family eating (Violeta, Focal Group 1, our translation). The highlight they gave to "eating together" is something valued by the French, as shown by the study by Fischler and Masson (2010), because the keywords that can summarize their relations with food are "pleasure and user-friendliness", which are complementary and necessary: to be a pleasurable sensation it is necessary to socialize. It can be believed that Babette, as a French cook, considered these elements when she proposed dinner. Thus, the dinner promoted by Babette was able to touch the students and awaken their own memories. The concept of food as a culture was also discussed. One of the students exemplified the sisters' pre-trial of Babette's dinner: And you saw both in the movie and, in the book, is ... how we must respect the culture of the other, [...] respect both culture and previous knowledge that the patient has [...] (Lily, Focal Group 1, our translation). Maciel (2005) explains that food expresses symbols and belonging, that is, an identity (dynamic) that considers historical-cultural processes. In this context, there is the point of the work that most caused the students to be, the food deprivations of the sisters and the prejudice towards a different diet from theirs, nuanced by religious issues. In other words, the tension between temperance and gluttony became obvious. In the second focus group, it was discussed the sadness that the cook must have felt for being away from the food of her country, since it was something of great value in her life: Because the food for me is VERY connected with pleasure, with joy, right? So not eating something that the person likes to eat, for me is very sad, or banning a food that the person likes to eat is a VIOLENCE with the person, in my opinion. [...] for me Babette in that situation would be a factor of great
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE and Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618910 sadness not being able to eat the foods she is used to [...] (Orchid, Focal Group 2, our translation). The pleasurable eating experience should be stimulated, since it is something genuine. As Perullo (2013) quotes, the most passionate references of food contact are sometimes grandmother's food. It does not seem right to prohibit or blame a patient in food and nutritional care, for example, for wanting and eating a cake or a sweet that is familiar to him. The tension between being caloric, fatty and sugary preparations in the face of dietary norms, is opposed to the fact that they are pleasurable, affective and linked to taste memories. The nutritionist is then responsible for not only helping the patient to deal with this tension, but learning to work with it in his practice and with himself. The pleasure of eating involves symbols, memories and relates to food choices, the term "violence" used by the student is strong, but is consistent with this definition, because to deprive food pleasure is to break with one's own being. Contribution to training When asked about the contribution of the tale and film to the discipline and to its formation as nutritionists, the students highlighted mainly the respect that should be had regarding food and its meanings for a patient in food and nutritional care, for example:[...] well in this issue of respect, empathy too, because in nutrition now we have a lot of terrorism, we talk a lot about it in class, that one hour is demonizing the egg [laughed], and the next, every hour is a food that no one can eat. And people come to the office with this idea, that they are so forbidden to eat something that is part of their culture, their habit, their identity. So, we have to have this notion too, you know, to respect this culture, this habit, this identity, that we can't take a food and completely exclude from the person's life, if it's part of their life, you know? It's associated with memory, it's associated with what it understands by food, so it's something that we have to take too ... in our nutrition practice (Orchid, Focal Group 1, our translation). With the above discourse, it is perceived that the students were able to make sense of learning by referring to the probable future situations of the practice as nutritionists. They valued the importance of cultural issues rooted in eating and the practice of eating and in the practice of eating, and that these are essential for the performance to be significant. Throughout the discussion, it is noted that if the professional disregards these points and adopts a prescriptive posture, through a diet purely based on calculations and nutritional guidelines, with
image/svg+xmlCulinary and care: "Babette’s Feast” in a pedagogical process for nutrition studentsTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618911 various restrictions, the patient's support to the food plan and treatment will be compromised, as they devalue essential elements of social life. According to Contatore, Malfitano and Barros (2019, p. 3, our translation), it is necessary to visualize the "sociological dimension of care to problematize its transposition as a factor necessary to social life for a technical action of health", because the components of social life, such as zeal and solidarity, overflow and can be legitimized as elements of health care. In this sense, the short story and the film "The Feast of Babette" became resources that allowed students to reflect on the transposition of the understanding of cooking and cooking as modes of care of sociological dimension for their frameworks as crucial components in food and nutritional care. That is, a technical action in nutrition that, in this case, legitimizes and incorporates food as an indispensable element. Moreover, the pedagogical process fostered a more accurate perception of how much care for cooking and cooking precede the nutritional and without these there is in fact a technical action in health-promoting nutrition. Therefore, the dimensions of cooking and cooking are constituent, they are the foundation of nutrition, even if this science is resigned to assume that this tacit and experience knowledge, although marginalized, actually plays preponderant roles. The students repeatedly applied the concepts and scenes of the film in situations of professional practice. They were able to relate the importance of concepts such as: eating, commensality, cooking and care and other meanings in the current context of nutrition, permeated by food anxieties, restrictions, technicality and fashion diets: Sometimes there's a very ready thing, so written, like, a basic feed, which you have to have, is that percentage of carbohydrate, that of protein, but sometimes that's not what that person needs, you have to see something much more individual (Rosa, Focal Group 1, our translation). Babette's story was able to provoke reflections on the feeding of the students themselves: And I realize how much I don't pay attention to what I eat, you know? (Jasmine, Focal Group 2, our translation). This indifference to the meal and the taste of food, common due to the daily agitation, is represented by the relationship of disinterest of Martine and Philippa for religious reasons. The food, she did not have all this meaning, as it has for Babette, of pleasure, joy and a moment of gathering, it was only a necessity (Orchid, Focal Group 2, our translation).
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE and Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618912 The students seized that the act of eating goes beyond the physiological need, as they treated the characters Martine and Philippa, because it is loaded with senses. In the focus groups, they mentioned that when the meanings of eating and food are explored for each patient, the food plan can be much more efficient and promote health in its entirety, because: [...] the food, it is VERY complex, it is much more complex than just, you know, fill with nutrient, something like that, and the Babette Party helps to realize this too (Orchid, Focal Group 2, our translation). They also mentioned that nutritionists should stimulate the practice of cooking and dinner, just as Babette did: And I think that both the film and the discipline made us think about how we will work eating with the person, not just passing the diet (Violeta, Focal Group 2, our translation). Perceptions about the pedagogical process When asked about the preference between the short story and the film, the students preferred the tale. They reported that the reading was easy, allowed them to imagine the whole story, made it possible to know more details of the plot. However, despite their preference, they judged the short story and the film as complementary in the pedagogical process. The film contributed to the visualization of expressions and feelings, the complexity of preparing the dinner that they did not imagine with the tale, the variety, the magnitude of the ingredients and better contextualization of the time. The students were also asked whether it was enough to approach the concepts worked in a conventional way, that is, by exhibition class, instead of the use of the short story and the film. The answers were all negative, because they judged the uses of literature and cinema for the discipline to be very relevant and complementary: Because the classes too, they are ONLY exhibition, so we have a very passive role, we do not give much our opinion, we are not encouraged to think I think, so I think that this kind of thing [audiovisual tools] provides (Violeta, Focal Group 1, our translation). "The Feast of Babette" (BLIXEN, 2014; AXEL, 1987) stimulated reflection to understand the complexities of food and nutrition in everyday life, exemplified in the lives of the characters. The simple proposal promoted surprise and stimulated critical sense, the "thinking outside the box", as one student said, because, according toher, she contributed to create the mentality that can be learned beyond the classroom, with a book or film:
image/svg+xmlCulinary and care: "Babette’s Feast” in a pedagogical process for nutrition studentsTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618913 And it's like they said, that we, kind of forced to develop a critical thought, we're not looking at the matter and it's reproducing on a sheet of paper, in a proof, no, after we ... we also didn't know why you gave the book to read [laughs and voices] "What does this have to do with nutrition?" Then we kind of are forced to think about it and develop this critical thinking, to remember the concepts, what that means, which means commensality, all these things (Rosa, Focal Group 1, our translation). According to Pinto and Medeiros (2011), the challenge of nutrition training in the current century is to gather knowledge in order to encourage critical thinking to stimulate autonomy. With the students' discourse, it is perceived that the combination between literature and cinema was a pedagogical and reflective element in their formation processes. The students also reported that the tools used contributed to memorize and better understand the concepts, which are difficult to keep when only presented in the exhibition class, especially when it comes to the discipline in question, Food and Nutrition Education, which does not involve calculations and exercises: [...] we learn kind of in a very idea of counting calories and nutrients, and these things, and when we see some matter that is another side like this, more human like that, we don't have a way. Really, audiovisual, that is something that touches us, we will say "it's just a matter", as if it were, I don't know, any other, only not, it's as important as us to be counting calories, so I think, really, provoke reflection makes us realize that it is important to have both sides more balanced (Jasmine, Focal Group 2, our translation). In the second focus group, the students treated the work as an example, an illustration, of the subject they saw throughout the semester. Based on the statements, it can be believed that Babette's story was the backdrop for students who had the opportunity to prepare to deal with real situations they will encounter in the profession. A student also assimilated literature and cinema as interesting resources for Food and Nutritional Education with patients: I think it's really cool to use movies and books to complement the class, I think it gets closer to everyday life, because you see that it's a story based, as if it were, right? In us, three women, so, when you read this, you can put the theory you see in class more for everyday life. And I even think that this is interesting even for us when we formed pass to our patient, we have other aids, it is not just us to sit and talk, we can use other things to help in the food plan (Cravo, Focal Group 2, our translation). The suggestion made for Food and Nutrition Education agrees with Pinto and Medeiros (2011) who oppose a prefixed, normative and biologist methodology, by advocating an education that understands the human being as a whole and, for this, cinema and literature can
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE and Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618914 be interesting tools. The pedagogical process was able to "sharpen" the sensitivity of the students in relation to eating: [...] complemented the discipline and showed how that can, as that every theory that we saw, can happen for real, so... and I think that for the formation of us besides us to realize what is important, is to start paying more attention to the same, in our body, in our eating, and then we can pass this on to others (Rosa, Focal Group 2, our translation). The students were also asked about the contribution of the intersection of human and social sciences to understand food. All valued it: And feed she's HUMAN, right? You can't think like that, you can't really study food, be really good nutritionists just seeing squares, seeing calories, seeing diets, you have to see from the human side, because food is part of people's lives, it's human, right? And it is CULTURE, she is identity, she is all these things (Orchid, Focal Group 2, our translation). The pedagogical process contributed to the articulation of the "technical and scientific" with the "sensitive" in relation to food: It is, and here I speak of the area of health in particular, of developing a formation that is capable of articulating scientific rationality, reflexive practice and sensitivity. To cast on human health a look capable of perceiving the front as a complement to the verse, or, in other words, understand reason and sensitivity as two sides of the same coin, [...] (PINTO; MEDEIROS, 2011, p. 49, our translation). Also in this sense, Contatore, Malfitano and Barros (2018) discuss the limit of the use of technique and technology, because they are insufficient to sustain health care. Other elements, such as welcoming, solidarity care and empathic posture are fundamental in professional performance. Thus, the relationships of professionals with patients can be enhanced when strategies for the construction of autonomy are adopted, without controlling intention and with attention to subjective demands. The authors also reinforce the need to recover the etymological origin of care as zeal, that is, care as a zealous and affective action in favor of life (CONTACTOR; MALFITANO; BARROS, 2018). It is believed that some points may have influenced the observed results, because the students were volunteers who were attending a course with one of the authors of this work as a teacher. Thus, it is imagined that these students may have been the most interested and dedicated to the discipline and/or the meme, thus making the discussions so consistent and that they may not represent the perceptions of all enrolled students who attended Food and Nutrition Education in 2018.
image/svg+xmlCulinary and care: "Babette’s Feast” in a pedagogical process for nutrition studentsTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618915 Final considerations The short story "The Feast of Babette", by Karen Blixen (2014), and the film, by Gabriel Axel (1987), were interesting resources for learning about food, eating, eating, cooking and care by students of the discipline Food and Nutrition Education, of the graduation in Nutrition. The pedagogical process was considered successful in illustrating, showing and linking cooking and care as elements of social life essential to technical action in Nutrition, besides sensitizing future performance as nutritionists. The students demonstrated skill in relating the narrative of the "Babette's Party" with the sensitive and critical professional practice to the biological, normative and nutrient-centered model. The results suggest, then, that unconventional pedagogical practices in health courses, which consider literature and cinema, can be stimulated. Thus, it is possible to contribute to the training of professionals with skills and competences to act not only guided by technical and scientific parameters, but also capable of considering other shades of social life, such as food, eating, commensality, cooking and care. REFERENCES ALMEIDA, R. Cinema e educação: Fundamentos e perspectivas.Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 33, p. 1-27, abr. 2017. Available: https://www.scielo.br/j/edur/a/kbqWpx6Vq6DszHrBT887CBk/?format=html. Access: 03 Apr. 2022. AXEL, G. A festa de Babette. Fortaleza: Classicline, 1987. 1 vídeo (102 min), DVD, colorido. AZEVEDO, E. Alimentação, sociedade e cultura:Temas contemporâneos. Sociologias, Porto Alegre, v. 19, n. 44, p. 276-307, jan./abr. 2017a. Available: https://www.scielo.br/j/soc/a/jZ4t5bjvQVqqXdNYn9jYQgL/abstract/?lang=pt. Access: 11 Feb. 2022. AZEVEDO, V. et al. Transcrever entrevistas: Questões conceptuais, orientações práticas e desafios. Revista de Enfermagem, Coimbra, v. 4, n. 14, p. 159-168, 2017b. Available: https://www.redalyc.org/journal/3882/388255675017/388255675017.pdf. Access: 23 May 2022. BLIXEN, K. A festa de Babette. 1. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2014. CARNEIRO, H. S. Comida e sociedade: Significados sociais na história da alimentação. História: Questões & Debates, Curitiba, v. 42, n. 1, p. 71-80, 2005. Available: https://revistas.ufpr.br/historia/article/view/4640. Access: 14 Feb. 2022. CONTATORE, O. A.; MALFITANO, A. P. S.; BARROS, N. F. Cuidados em saúde: Sociabilidades cuidadoras e subjetividades emancipadoras. Psicologia & Sociedade,Belo Horizonte, v. 30, e177179, 2018. Available:
image/svg+xmlIsabella RodriguesMINGUZZI; Joverlany Pessoa de ALBUQUERQUE and Julicristie Machado de OLIVEIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618916 https://www.scielo.br/j/psoc/a/J4fY6BT65CQ93w65ghY7vSs/abstract/?lang=pt. Access: 25 Apr. 2022. CONTATORE, O. A.; MALFITANO, A. P. S.; BARROS, N. F. Por uma sociologia do cuidado: Reflexões para além do campo da saúde. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, e0017507, 2019. Available: https://www.scielo.br/j/tes/a/5hfvTMrLvcrkNtCBtvhMD9P/abstract/?lang=pt. Access: 20 Apr. 2022. FISCHLER, C.; MASSON, E. Comer: A alimentação de franceses, outros europeus e americanos. São Paulo: SENAC, 2010. LIMA, R. S.; NETO, J. A. F.; FARIAS, R. C. P. Alimentação, comida e cultura: O exercício da comensalidade. Demetra, v. 10, n. 3, p. 507-522, 2015. Available: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/demetra/article/view/16072. Access: 19 Feb. 2022. MACIEL, M. E. Identidade Cultural e Alimentação. In: CANESQUI, A. M.; GARCIA, R. W. (org.). Antropologia e Nutrição: Um diálogo possível. Rio de Janeiro: Editora da FIOCRUZ, 2005. MONTANARI, M. Comida como cultura. 2. ed. São Paulo: SENAC, 2013. MOREIRA, S. A. Alimentação e comensalidade: Aspectos históricos antropológicos. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 62, n. 4, p. 23-26, out. 2010. Available: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252010000400009. Access: 06 Apr. 2022. NASCIMENTO, J. C. N. Cinema e ensino de história: Realidade escolar, propostas e práticas na sala de aula. Fênix: Revista de história e estudos culturais, Salvador, v. 5, n. 2, p. 1-23, abr./jun. 2008. Available: https://www.revistafenix.pro.br/revistafenix/article/view/34. Access: 10 Apr. 2022 PERULLO, N. O Gosto Como Experiência: Ensaio Sobre Filosofia e Estética do Alimento. 1. ed. São Paulo: SESI-SP, 2013. PINTO, V. L. X.; MEDEIROS, M. Literatura e Alimentação: Delicatéssen na formação em saúde. Natal: EDUFRN, 2011. SANTOS, C. R. A. A alimentação e seu lugar na história: Os tempos da memória gustativa. História: Questões & Debates, Curitiba, v. 42, n. 1, p. 11-31, 2005. Available: https://revistas.ufpr.br/historia/article/view/4643/3797. Access: 08 Jan. 2022. TOSCANO, F. O. Alimentação e cultura: Caminhos para o estudo da Gastronomia. Contextos da Alimentação, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 15-27, 2012. Available: https://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistacontextos/wp-content/uploads/2013/04/Revista_Vol1_N215a27.pdf. Access: 23 Jan. 2022. TRAD, L. A. B. Grupos focais: Conceitos, procedimentos e reflexões baseadas em experiências baseadas com o uso da técnica de pesquisas de saúde. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro. v. 19, n. 3, p. 777-796, 2009. Available:
image/svg+xmlCulinary and care: "Babette’s Feast” in a pedagogical process for nutrition studentsTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1618917 https://www.scielo.br/j/physis/a/gGZ7wXtGXqDHNCHv7gm3srw/abstract/?lang=pt. Access: 05 May 2022. How to refer to this article MINGUZZI, I. R.; ALBUQUERQUE, J. P.; OLIVEIRA, J. M. Culinary and care: "Babette’s Feast” in a pedagogical process for nutrition students. Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022008, 2022. e-ISSN 2526-3471. DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16189 Submitted: 15/06/2022 Revisions required: 21/08/2022 Approved: 26/09/2022 Published: 30/11/2022 Processing and publication by the Editora Ibero-Americana de Educação. Correction, formatting, standardization and translation.