image/svg+xmlMeio social e estresse infantil: Um estudo à luz da teoria Histórico-Cultural Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 1 MEIO SOCIAL E ESTRESSE INFANTIL: UM ESTUDO À LUZ DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL MEDIO SOCIAL Y ESTRÉS INFANTIL: UN ESTUDIO A LA LUZ DE LA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL SOCIAL ENVIRONMENT AND CHILD STRESS: A STUDY IN LIGHT OF CULTURAL-HISTORICAL THEORY Emanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ1Solange Franci Raimundo YAEGASHI2Heloisa Toshie Irie SAITO3RESUMO: O contexto de vida da sociedade pós-moderna, que negligencia o descanso e o tempo em razão da busca excessiva por resultados, tem desencadeado o estresse em grande parte da população, inclusive em crianças que lidam, cada vez mais cedo, com adversidades provenientes do convívio familiar e coletivo do qual fazem parte. Destarte, o presente artigo, de caráter bibliográfico, objetiva identificar os fatores sociais que consubstanciam o estresse e o sofrimento psíquico infantil, utilizando os fundamentos da Teoria Histórico-Cultural para embasar a discussão. Concluiu-se que o meio social, com o seu modo de organização, é um fator preponderante para o desencadeamento do estresse infantil, de modo a prejudicar, demasiadamente, a qualidade de vida dos infantes. PALAVRAS-CHAVE: Estresse. Estresse infantil. Sofrimento psíquico. Teoria Histórico-Cultural. RESUMEN: El contexto de vida de la sociedad posmoderna, que descuida el descanso y el tiempo debido a la búsqueda excesiva por resultados, ha desencadenado el estrés en gran parte de la población, inclusive en niños que lidian, cada vez más temprano, con adversidades provenientes de la convivencia familiar y colectiva del cual hacen parte. Por lo tanto, el presente artículo, de carácter bibliográfico, tiene como objetivo identificar los factores sociales que justifican el estrés y el sufrimiento psíquico infantil, utilizando los fundamentos de la Teoría Histórico-Cultural para apoyar la discusión. Se concluyó que el medio social, con su modo de organización, es un factor preponderante para el desencadenamiento del estrés infantil, de modo que perjudica, demasiado, la cualidad de vida de los infantes. PALABRAS-CLAVE: Estrés. Estrés infantil. Sufrimiento psíquico. Teoria Histórico-Cultural. 1Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá –PR –Brasil. Mestranda em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9645-3589. E-mail: manuglatz@hotmail.com 2Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá –PR –Brasil. Docente do Departamento de Teoria e Prática da Educação, do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Mestrado Profissional em Educação Inclusiva. Doutorado em Educação (UNICAMP). ORCID: http://orcid.org/0000-0002-7666-7253. E-mail: solangefry@gmail.com 3Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá –PR –Brasil. Docente do Departamento de Teoria e Prática da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação. Doutorado em Educação (USP). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1061-5933. E-mail: htisaito@uem.br
image/svg+xmlEmanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ; Solange Franci Raimundo YAEGASHI e Heloisa Toshie Irie SAITO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 2 ABSTRACT: The life context of postmodern society, which neglects rest and time in favor of the excessive search for results, has triggered stress in a large part of the population, including children who deal, at an increasingly early age, with adversities from the familial and collective life which they are a part of. Thus, the present article, of bibliographic character, aims to identify the social factors that substantiate stress and the child's psychic suffering, using the foundations of the Cultural-Historical Theory to support the discussion. It was concluded that the social environment, with its way of organization, is a preponderant factor for the triggering of childhood stress, impairing, to a great extent, the quality of life of infants. KEYWORDS: Stress. Child stress. Psychic suffering. Cultural-Historical Theory.Introdução Com o avanço do modelo socioeconômico neoliberal e com as novas exigências de uma sociedade cada vez mais imediatista, o sofrimento psíquico e o estresse têm aumentado no início do século XXI. O excesso de atividades diárias, a falta de lazer e de descanso, o sono de má-qualidade, os problemas familiares e de relacionamento, assim como as preocupações financeiras e a autocobrança por produtividade, rendimento e aceitação, são fatores estressores rotineiros presentes no cotidiano dos sujeitos sociais. Estudos sobre o estresse e o sofrimento psíquico de infantes vêm ganhando proporção nos últimos anos, mesmo que de maneira muito tímida. A incidência de estresse grave no público infantil ainda é desconhecida, no entanto, sabe-se que toda criança enfrentará situações estressantes no decorrer da infância, as quais impactarão, diretamente, a sua saúde mental e física (LIPP, 2020). A saúde mental infantil precisa ser compreendida como um fenômeno polissêmico, complexo e que envolve uma gama de aspectos, dentre eles: comportamentais, emocionais, sociais, culturais e afins, de forma a conceder às crianças habilidades capazes de torná-las pertencentes e atuantes no meio social em que vivem, considerando sempre os seus contextos de vida. Já o sofrimento psíquico infantil se efetiva quando a criança, por meio de comportamentos e expressões, manifesta dificuldades em lidar com situações estressantes, o que acaba por lesar e interferir no desenvolvimento de atividades rotineiras, de maneira a prejudicar as relações interpessoais e, até mesmo, o desenvolvimento cognitivo (CID et al., 2019). Ao ter em vista que o estresse infantil expressa uma relação estrita com o meio social e familiar no qual a criança está inserida, torna-se imprescindível proferir questionamentos acerca dos modos de organização da sociedade contemporânea neoliberal e suas eventuais implicações para o sofrimento psicológico dos infantes.
image/svg+xmlMeio social e estresse infantil: Um estudo à luz da teoria Histórico-Cultural Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 3 Segundo os pressupostos da Teoria Histórico-Cultural (THC), o processo de desenvolvimento humano é, substancialmente, social, sendo o homem fruto do espaço coletivo no qual está inserido. Dessa forma, se o estresse infantil se relaciona, intimamente, com o meio social e cultural no qual a criança está estabelecida, mostra-se, de fulcral relevância, associarmos essa discussão aos estudos da THC que imprimem à humanidade uma definição sócio-histórica, considerando-a produto e produtora da sociedade, da história e da cultura. À vista disso, este estudo objetiva identificar e discutir os fatores sociais que consubstanciam o estresse e o sofrimento psíquico infantil. A pesquisa justifica-se, ainda, pela urgente necessidade de ampliar debates a respeito do estresse e do sofrimento psíquico de crianças, principalmente diante do atual contexto pandêmico que alterou, de forma significativa, a configuração social e o convívio entre pares (GLATZ et al., 2022). Por conseguinte, no tocante à problemática que se pretende investigar com o estudo, levanta-se a seguinte questão: de que maneira as formas de organização social subsidiam e fomentam o estresse e o sofrimento psíquico de crianças? Para tanto, com o propósito de buscar respostas para esse questionamento e contribuir para a sistematização de novos estudos que associem os pressupostos da THC ao estresse e ao sofrimento psicológico na infância, realizou-se uma pesquisa de caráter bibliográfico. Pesquisas bibliográficas fundamentam-se através da análise e discussão de dados e categorias já refinados por outros pesquisadores, e que se encontram registrados e disponíveis em documentos, como artigos, teses, dissertações, livros e afins. Segundo Severino (2017, p. 93), “os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados”e, além de embasarem a sistematização e discussão de uma pesquisa, podem também revelar lacunas de conhecimento. Para a construção deste estudo, buscou-se, a priori –na plataforma GoogleScholar® -, por livros e artigos que abordassem sobre os fatores sociais (vivências na família e na escola) que incitam o desenvolvimento do estresse e do sofrimento psíquico infantil. Ressalta-se que como critério de inclusão, buscou-se apenas por artigos e livros que dialogassem sobre o estresse e o sofrimento psíquico nos infantes, determinando como critério de exclusão, o uso de trabalhados acadêmicos em sua íntegra, como teses e dissertações4. A posteriori, também se selecionou textos bases da THC que, além de discorrerem sobre os principais fundamentos da teoria, correlacionassem-se com a temática da saúde mental na infância. Assim, evidencia-se que esta pesquisa se ancorou nos pressupostos da THC, concebida por Lev Semionovitch Vygotsky e construída sob o alicerce do Materialismo Histórico- 4Utilizando-se apenas artigos sistematizados a partir desses trabalhos científicos, se disponíveis.
image/svg+xmlEmanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ; Solange Franci Raimundo YAEGASHI e Heloisa Toshie Irie SAITO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 4 Dialético, uma concepção filosófica defendida por Karl Marx e Friedrich Engels. O artigo está subdivido em quatro partes, sendo a primeira uma breve conceituação e caracterização do estresse e suas possíveis causas. A segunda consiste em uma discussão sobre o estresse no público infantil, suas causas e sintomas. A terceira tece um diálogo entre os preceitos da THC e a influência do meio social no estresse e no sofrimento psíquico de crianças. Por fim, a quarta parte traz as considerações finais das reflexões realizadas. Conceituando e caracterizando o estresse A palavra estresse, derivada do latim, é uma adaptação da palavra ‘stress’ do idioma inglês, cuja terminologia denota o sentido de ‘acentuação’, ‘tensão’, dentre outros aspectos. Ademais, o estresse pode ser interpretado como uma resposta psicofisiológica necessária para a manutenção da vida do organismo, que pode ocorrer diante de situações em que o indivíduo se sinta confrontado, amedrontado, irritado, excitado e, até mesmo, extremamente feliz. O estresse advém, portanto, da necessidade de adaptação a uma circunstância e/ou evento da vida e, independentemente da situação estressora, a resposta bioquímica produzida pelo corpo será sempre a mesma (LIPP, 2020). Quando um sujeito se depara com uma situação desafiadora e estressante, três sistemas corporais são ativados por meio de uma reação desencadeada pelo hipotálamo, sendo eles: o Sistema Nervoso Autônomo simpático (SNAs); o sistema imunológico e o eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA). Ambos os sistemas são responsáveis por produzir mudanças bioquímicas no corpo, extremamente necessárias para o imediato enfrentamento do estressor, como a elevação da pressão sanguínea, a dilatação da pupila e dos brônquios, o bloqueio da digestão, a liberação de hormônios –a adrenalina e a noradrenalina na corrente sanguínea –, a elevação da glicemia, a estimulação da musculatura esquelética e do encéfalo, além da promoção de comportamentos de alerta e de vigilância (SOUZA; SILVA; GALVÃO-COELHO, 2015). A literatura revela que, nos casos em que o estresse é empregado para o enfrentamento positivo de ações desafiantes e para a motivação e/ou manutenção da sobrevivência, podemos denominá-lo “eustress”. Já o estresseque sobrecarrega os mecanismos de controle e impossibilita o emprego de respostas ao evento e/ou situação estressora, produzindo efeitos nocivos ao sujeito, nomeia-se “distresse”(PACÍFICO; FACCHIN; CORRÊA SANTOS, 2017). O corpo humano funciona em perfeita harmonia: os órgãos trabalham de maneira assertiva e colaborativa, a fim de garantir que todas as suas funções vitais sejam administradas
image/svg+xmlMeio social e estresse infantil: Um estudo à luz da teoria Histórico-Cultural Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 5 com sucesso. Quando o indivíduo se defronta com uma situação estressante, os órgãos passam a trabalhar de forma descompassada, a exemplo do coração, que acaba bombeando o sangue mais rapidamente; o estômago apresenta certa dificuldade em digerir os alimentos; e o intestino resolve trabalhar, de maneira mais rápida ou mais lenta, a depender do indivíduo. Na grande orquestra vital do corpo humano, não há mais nenhum tipo de equilíbrio e, sem a homeostase tão necessária para manter todos ‘tocando no mesmo compasso’, o sujeito começa a sentir confusão e desconforto físico e mental (LIPP, 2004). Com a falta de homeostase corporal5, suscitada por uma resposta fisiológica a um estressor, a atividade do sistema endócrino aumenta, por meio, em especial, da ativação do eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HHA), que intensifica a secreção de vários hormônios, dentre eles, o cortisol, comumente conhecido como hormônio do estresse. Em situações corriqueiras, nas quais o estresse tem duração curta e uma prevalência baixa, dificilmente, graves problemas ocorrerão no corpo. No entanto, quando o estresse se torna crônico, com eventos de grande duração e alta prevalência, nossa estrutura física vai aos poucos degradando-se, ao ter em vista que o cortisol, no momento em que é secretado ininterruptamente, pode ocasionar problemas físicos, como a hipertensão arterial e o desenvolvimento de gastrites e úlceras, a deficiência no funcionamento do sistema imunológico, além de um envelhecimento prematuro do hipocampo e danos cerebrais com morte celular (BARLOW; DURAND, 2015). No ano de 1936, o médico endocrinologista Hans Selye realizou uma observação incidental que resultou em uma nova área de estudos da medicina: a fisiologia do estresse. Segundo ele, a ‘Síndrome Geral de Adaptação’(SGA) apresenta três etapas distintas que ocorrem no organismo em resposta ao estresse contínuo. A primeira delas é a fase de ‘alarme’, benéfica para a manutenção da vida, pois gera uma reação imediata a qualquer perigo enfrentado pelo indivíduo. A posteriori, surge a fase de ‘resistência’, momento em que o organismo mobiliza mecanismos de adaptação para reagir diante do estressor. Por fim, caso a fonte de estresse permaneça ativa, com maior durabilidade e/ou intensidade, ocorre a fase de ‘exaustão’, na qual inicia-se um processo de deterioração do corpo que pode padecer de diversas enfermidades físicas e psicológicas, de modo a sofrer danos permanentes (BARLOW; DURAND, 2015). Compete destacar que a psicóloga Marilda Lipp incorporou uma quarta fase ao modelo proposto por Selye, localizada entre a ‘resistência’e a ‘exaustão’, denominada ‘quase-exaustão’, que representa o princípio de um adoecimento (CAVALCANTI et al., 2021). 5Propriedade do corpo humano em regular diversas funcionalidades, como a temperatura corporal, o pH, a pressão arterial (e outras funções), além dos fluídos.
image/svg+xmlEmanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ; Solange Franci Raimundo YAEGASHI e Heloisa Toshie Irie SAITO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 6 Em todas as fases citadas, há a presença de alguns sintomas físicos e psicológicos que podem variar a existência e a intensidade, a depender do organismo de cada indivíduo. Os sintomas predominantemente mais comuns incluem: aumento da pressão arterial (hipertensão arterial); palpitações; problemas estomacais, como úlceras e gastrites; sudorese; tontura; mudanças de humor; irritabilidade constante; cansaço; perda de memória; mudanças nos hábitos alimentares; ansiedade; problemas no sono, dentre outros (PACÍFICO; FACCHIN; CORRÊA SANTOS, 2017). Concernente ao exposto, é possível apreender que o estresse, quando vivenciado de maneira crônica, é fonte de problemas físicos e psicológicos que prejudicam a qualidade de vida, de forma a gerar disfunções permanentes no indivíduo. Na sequência, discutiremos a percepção do estresse no público infantil, mais especificamente, suas principais causas e sintomas. O estresse infantil O aparecimento do estresse na infância pode causar um grande impacto no desenvolvimento do sistema nervoso, ao levarmos em consideração que, nos primeiros estágios de vida, há o início do processo maturacional do cérebro que, para além de ocasionar mudanças cruciais na ação do eixo HHA, vulnerabiliza o indivíduo, tornando-o predisposto à ocorrência de transtornos psicológicos em outras fases da vida (BARLOW; DURAND, 2015). Pesquisas (ABRANCHES; ASSIS, 2011; CID et al., 2019; GOMIDE et al., 2005) apontam, também, para o fato de que pessoas diagnosticadas com psicopatologias, quando adultas, apresentavam, em sua maioria, sinais precoces desde a infância, os quais, muitas vezes, confundiram-se com timidez ou generalizaram-se como sendo apenas ‘uma fase’. Isso contribui para a premissa de que o sofrimento psicológico, despontado nos primeiros anos de vida, pode acompanhar o indivíduo durante sua adolescência e vida adulta. Os fatores potencialmente desencadeantes do estresse em crianças variam de acordo com os aspectos subjetivos de cada uma. Todavia, segundo Lipp (2020), há situações que se manifestam recorrentemente na vida de crianças estressadas. Aqui, cabe compreender que, para a THC, a criança é considerada um sujeito social que se desenvolve, ao passo que suas condições psíquicas internas são remodeladas por meio de ações externas, provenientes do meio social (BOGOYAVLENSKY; MENCHINSKAYA, 2005). Nesse sentido, as condições objetivas de vida das crianças podem impactar no desencadeamento do estresse ou até impedi-lo.
image/svg+xmlMeio social e estresse infantil: Um estudo à luz da teoria Histórico-Cultural Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 7 Desse modo, pode-se afirmar que o estresse é incitado por fontes internas, provenientes do desenvolvimento psíquico/cognitivo e da maturação de cada sujeito, assim como por fontes externas, que correspondem a situações e vivências estressoras oriundas do convívio social e familiar de cada um. Para tanto, Lipp (2020) menciona algumas condições que favorecem o desenvolvimento do estresse em crianças, elencando, como situações de caráter externo: a morte e/ou o divórcio dos pais; a constituição de uma nova família dos pais separados; o nascimento de um irmão; o trabalho da mãe; a instabilidade financeira da família; doenças que agravam a sua saúde ou a de seus pais; dificuldades de adaptação escolar; mudança de residência ou de amigos próximos; carga excessiva de atividades durante o dia; responsabilidades em excesso; brigas recorrente dos pais; rejeição de colegas e exigências sociais ambivalentes. Dentre as motivações internas que desencadeiam o estresse e que acompanham as fases de crescimento da criança, a autora enfatiza: a timidez; a ansiedade; o desejo de pertencimento e a aceitação constante; o medo do fracasso; as preocupações com as mudanças físicas do próprio corpo; as interpretações errôneas e assustadoras de acontecimentos comuns e rotineiros (LIPP, 2020). Para além de compreender os fatores que suscitam e desencadeiam o estresse nas crianças, é preciso, primeiramente, entendermos um pouco sobre o seu desenvolvimento maturacional e a forma como se efetiva a aprendizagem durante a infância. Vygotsky, Luria e Leontiev (2016) elucidam que o processo de desenvolvimento infantil segue o da aprendizagem, ressaltando que ambos não se produzem, obrigatoriamente, de maneira semelhante e regular. Vale realçar, aqui, que a aprendizagem da criança se efetiva muito antes de sua inserção na escola, mais especificamente, desde os seus primeiros dias de vida, e que ela se desenvolve enquanto aprende. De acordo com Lipp (2020), as fontes para o desenvolvimento do estresse na criança podem ser ocasionadas por características fisiológicas cujas sensações se revelam desconfortáveis, como a fome e a dor. Podem, entretanto, ser provenientes de uma aprendizagem, como os medos, os preconceitos, as fobias etc. Cada estágio de desenvolvimento infantil apresenta-se como um terreno fértil para o surgimento do estresse e da ansiedade, tendo em vista a grande gama de conflitos e problemas a serem sanados. À medida que se desenvolve, amadurece e aprende, a criança integra e incorpora, em seu repertório, novas estratégias para lidar com as fontes de estresse; assim, mecanismos próprios de ação são elaborados diante dessas fontes, considerando que “[...] ao mudar o processo de desenvolvimento, o indivíduo
image/svg+xmlEmanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ; Solange Franci Raimundo YAEGASHI e Heloisa Toshie Irie SAITO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 8 reage de modo diferenteaos estímulos externos” (BOGOYAVLENSKY; MENCHINSKAYA, 2005, p. 65). Comumente, as crianças reagem ao estresse expressando sintomas imediatos, ao fazer uma birra, comportar-se de maneira hiperativa, apresentar medos e terrores excessivos –até mesmo, perder o controle miccional (enurese). À medida que o estresse se torna crônico, o sistema imunológico se enfraquece, os sintomas se agravam e se diversificam, manifestando-se problemas físicos, como taquicardia, tensões nos músculos, sudorese, doenças dermatológicas, asma, gagueira, problemas intestinais –diarreia, náuseas –, tiques nervosos, inquietação, dores abdominais e de cabeça, ranger de dentes (bruxismo), cárie etc. Já os sintomas emocionais com maior taxa de prevalência se referem ao surgimento de uma agressividade incompatível com a personalidade da criança, desobediência incomum, ansiedade, explosões de choro, depressão, dificuldades escolares e de relacionamentos, apatia, pesadelos, insônia e terror noturno (LIPP, 2020). O estresse acarreta problemas que prejudicam, intensamente, a qualidade de vida dos indivíduos, mas as crianças sofrem muito mais, uma vez que a maioria delas tem pouco –ou nenhum –recurso psíquico e emocional para lidarem com as adversidades presentes no cotidiano da vida em sociedade. A seguir, abordar-se-ão os preceitos da THC, desvelando a maneira como o meio social suscita e provê fontes estressoras presentes no cotidiano das crianças. A Teoria Histórico-Cultural (THC) e o meio social como desencadeador do estresse infantil: uma tessitura possível A THC teve início com os estudos do psicólogo Lev Semionovitch Vygotsky que, por meio de uma base marxista, propôs-se a compreender o psiquismo humano. Os fundamentos marxistas evidenciam que mudanças históricas nos modos de vida social e material estabelecem alterações significativas na consciência e no comportamento dos sujeitos (FACCI, 2004). Vygotsky enfatizava que a psique humana se desenvolve a partir das relações sociais e do convívio cultural, sendo elas mediadas pelo uso de instrumentos e signos que se colocam entre o indivíduo e o objeto de sua atividade. Para ele, as funções psicológicas superiores, como a atenção, a memória, a imaginação, o pensamento e a abstração, são desenvolvidas por intermédio da interação do sujeito com o mundo e com os indivíduos mais experientes. Para a THC, a linguagem é vista como primordial à evolução do ser humano, pois ela permite a
image/svg+xmlMeio social e estresse infantil: Um estudo à luz da teoria Histórico-Cultural Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 9 comunicação e o intercâmbio social, utilizando-se dos signos como uma forma de ação (FACCI, 2004). Como podemos, todavia, relacionar os fundamentos da THC ao desenvolvimento do estresse em crianças? A resposta para essa questão pode ser elucidada nos seguintes dizeres: “[...] o homem é um ser social e, fora da relação com a sociedade, jamais desenvolveria as qualidades, as características que são resultado do desenvolvimento metódico de toda a humanidade” (VIGOTSKY, 2018, p. 90). De acordo com essa premissa, o meio social é a fonte para que o indivíduo desenvolva particularidades e habilidades próprias de sua espécie, ao considerar que a sociedade carrega consigo traços historicamente desenvolvidos que procuram dar continuidade e sentido à existência humana. Mais do que isso, Vygotsky (2018) declarava que o desenvolvimento humano é, predominantemente, social; também, que as funções psicológicas superiores surgem, a priori, como formas de comportamento coletivo da criança por meio da colaboração de outros indivíduos. Tais formas, posteriormente, são internalizadas e se tornam traços individuais. Estudos recentes realizados com macacos validam essa premissa (GILLESPIE; NEMEROFF, 2007; COPLAN et al., 1998), pois expõem que fatores de ordens psicossociais podem afetar, diretamente, os níveis de neurotransmissores produzidos pelos primatas, o que ratifica o princípio de que, porventura, substâncias neuroquímicas produzem efeitos diferentes, a depender do histórico ambiental e psicológico do indivíduo. Para além, outros experimentos evidenciam que o ato de acomodar macacos em comunidade amplia a quantidade de massa cinzenta em diferentes partes do cérebro dirigentes pela cognição social, o que inclui a capacidade para interpretar expressões faciais, gestos, antecipar e prever comportamentos (BARLOW; DURAND, 2015). Ademais, a ciência já comprovou haver uma interação direta entre os genes e o ambiente, sinalizando que o meio social pode ativar determinados genes que alteram o número de receptores nas margens dos neurônios, o que afetaria, consequentemente, o funcionamento bioquímico do cérebro, de modo a ser possível desencadear vulnerabilidades genéticas que favoreceriam o desenvolvimento de transtornos psíquicos de acordo com a reação apresentada diante de um evento estressor (BARLOW; DURAND, 2015). Desvela-se, então, que o sujeito é a pura expressão de suas condições subjetivas de vida. Segundo Lipp (2004, p. 18), “o stress assume a face de quem o tem”, o que significa afirmar que o espaço social é relativamente importante e impactante no desenvolvimento de potencialidades e/ou de sofrimento, a depender das experiências subjetivas de cada um.
image/svg+xmlEmanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ; Solange Franci Raimundo YAEGASHI e Heloisa Toshie Irie SAITO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 10 A família e a escola são as duas grandes instituições responsáveis pelos eventos estressores que mais atingem o público infantil. Com seus conflitos internos, disputas por guarda, chegada de novos irmãos, falta de condições socioeconômicas mínimas para a sobrevivência, falta de atenção, ausência de vínculos afetivos sólidos com os pais, brigas constantes e a disciplina confusa e ambígua por parte dos mesmos, bem como o estresse provindo dos adultos presentes no seio da família, são as principais fontes para o desenvolvimento do estresse na criança no âmbito da família (LIPP, 2004, 2020). No espaço educativo, local onde a criança passa um grande período da sua vida, os principais fatores estressores presentes são resultantes de professores ansiosos e estressados, de uma disciplina rígida e que pouco respeita o desenvolvimento cognitivo e maturacional da criança, do bullyinge do preconceito cometidos por outros colegas, da dificuldade de adaptação e de aceitação dos pares, do excesso de atividades e do pouco tempo de brincadeira e descanso (LIPP, 2004, 2020). Crianças estressadas representam um grave problema de saúde pública, pois, além de manifestarem prejuízos significativos nas relações familiares e entre pares, prejudica-se a vida escolar e dificuldades de aprendizagem e problemas no desenvolvimento são ocasionados. Para além, o estresse infantil pode favorecer o sofrimento psíquico em etapas posteriores da vida, como na adolescência e na vida adulta. Assim, é preciso que o meio social que permeia a vida do sujeito seja construído sob um alicerce seguro, com base na autonomia e no diálogo (SZYMANSKI, 2010). À família, cabe o papel de desenvolver uma escuta ativa da criança, buscando compreender sempre o que ela tem a dizer diante das inúmeras situações experienciadas no seu cotidiano. É preciso fornecer a ela autonomia, sem, no entanto, sobrecarregá-la de tarefas e afazeres, possibilitando-lhe um espaço seguro para vivenciar a infância, para experienciar a vida e o mundo. Também é primordial que discussões adultas sejam tratadas e resolvidas longe da criança, atentando-se para não a envolver em problemas desgastantes, intricados e sem solução. À escola, por sua vez, fica o dever de ter respeito às especificidades de cada sujeito, pensando na aprendizagem como um processo anterior à vida escolar. É necessário se conscientizar de que cada criança tem idiossincrasias que as tornam diferentes umas das outras. Finalmente, é preciso que os professores não levem para o ambiente de trabalho os seus anseios e as suas frustrações, atentando-se para os comportamentos dos pequenos em sala de aula, pois eles podem expressar problemas maiores, como dificuldades de relacionamento, de aprendizagem e, até mesmo, o enfretamento de preconceito e/ou bullyingpor parte dos colegas.
image/svg+xmlMeio social e estresse infantil: Um estudo à luz da teoria Histórico-Cultural Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 11 O olhar atento faz toda a diferença e, nesse caso, é o limiar entre: uma criança feliz e disposta e uma criança estressada. Considerações finais O presente estudo, conforme idealizado, buscou identificar os fatores sociais que consubstanciam o estresse e o sofrimento psíquico infantil. Ao retomarmos o objetivo principal, irrompem-se novas questões e dúvidas, agora a respeito da saúde mental e do sofrimento psicológico de crianças, bem como sob a preponderância do meio social no desencadeamento da ansiedade e da depressão na infância. Diante dos referenciais teóricos utilizados, constatou-se que, assim como a THC argumenta, o homem é um ser social que se desenvolve de maneira integral e de acordo com as influências e as relações com o meio. Verificou-se que o desenvolvimento do sujeito se realiza por meio de uma base histórica-social que consubstancia práticas capazes de tornarem os indivíduos conscientes de seu papel e de sua atuação dentro da sociedade. Percebe-se, também, que o meio social tem um papel basilar no desencadeamento do estresse na infância, sendo algumas das principais fontes estressoras enfrentadas pelo público infantil: a dificuldade de adaptação escolar; as brigas e o divórcio dos pais; a instabilidade socioeconômica; as mudanças de residência; o estresse dos pais e/ou dos professores; o excesso de atividades escolares; a rejeição dos colegas; mortes na família; e o desejo de pertencimento a um grupo. Vygotsky (2018) afirmava que há uma base social que subsidia o desenvolvimento de competências subjetivas e que o processo de aprendizagem se efetiva sempre de fora para dentro, do social para o individual. O ser humano, tão influenciado pelos fatores ambientais que o rodeiam, constitui-se à medida que experiencia o mundo ao seu redor e o compreende. Destarte, é preciso considerar que, se o alicerce social e familiar de uma criança se encontra fragilizado, favorecendo a promoção rotineira de situações estressantes e de difícil manejo, há uma grande possibilidade de que essa criança desenvolva o estresse durante a sua infância; é oportuno enfatizar: se não observado e tratado de maneira adequada, prejudicará sua saúde psíquica em etapas posteriores da vida. Apesar das limitações deste estudo –como ter tratado apenas do fenômeno do estresse no público infantil, não o relacionando ao sofrimento psíquico oriundo de sua cronicidade –, ele fornece subsídios essenciais para uma compreensão mais ampla sobre o papel e a contribuição do meio social no desenvolvimento ou não do estresse em crianças.
image/svg+xmlEmanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ; Solange Franci Raimundo YAEGASHI e Heloisa Toshie Irie SAITO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 12 Para além, almeja-se, com esta pesquisa, fornecer subsídios que favoreçam novos estudos que objetivem associar os fundamentos da THC ao estresse e ao sofrimento psíquico de crianças, jovens e adultos, de modo a buscar novos caminhos para tornar as relações sociais mais saudáveis e menos prejudiciais aos indivíduos. REFERÊNCIAS ABRANCHES, C. D.; ASSIS, S. G. A. A (in)visibilidade da violência psicológica na infância e adolescência no contexto familiar. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 27, n. 5, p. 843-854, 2011. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/ssm/content/raw/?resource_ssm_path=/media/assets/csp/v27n5/03.pdf. Acesso em: 11 mar. 2022. BARLOW, D. H.; DURAND, V. M. Psicopatologia: Uma abordagem integrada. São Paulo: Cengage Learning, 2015. BOGOYAVLENSKY, D. N.; MENCHINSKAYA, N. A. Relação entre aprendizagem e desenvolvimento psicointelectual da criança em idade escolar. In: LEONTIEV, A. N. et al. Psicologia e pedagogia: Bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento. Tradução: Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2005. CAVALCANTI, A. L. S. R. et al. Treino de controle do stress de Lipp: Uma revisão integrativa de literatura. Boletim Academia Paulista de Psicologia, São Paulo, v. 41, n. 100, p. 37-47, jan./jun. 2021. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-711X2021000100005. Acesso em: 20 mar. 2022. CID, M. F. B. et al. Saúde mental infantil e contexto escolar: As percepções dos educadores. Pro-Posições, Campinas, v. 30, p. 1-24, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pp/a/x46ycvnxT3msphKhJm4WyjF/abstract/?lang=pt. Acesso em: 08 jan. 2022. COPLAN, J. D. et al. Cerebrospinal Fluid Concentrations of Somatostatin and Biogenic Amines in Grown Primates Reared by Mothers Exposed to Manipulated Foraging Conditions. Archives of General Psychiatry, v. 55, n. 5, p. 473-477, 1998. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/article-abstract/203844. Acesso em: 13 abr. 2022. FACCI, M. G. D. A periodização do desenvolvimento psicológico individual na perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vigostski. Cadernos Cedes, Campinas, v. 24, n. 62, p. 64-81, abr. 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ccedes/a/3Nc5fBqVp6SXzD396YVbMgQ/abstract/?lang=pt. Acesso em: 09 mar. 2022. GILLESPIE, C. F.; NEMEROFF, C. B. Corticotropin-Releasing Factor and the Psychobiology of Early-Life Stress. Current Directions in Psychological Science, v. 16, n.
image/svg+xmlMeio social e estresse infantil: Um estudo à luz da teoria Histórico-Cultural Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 13 2, p. 85-89, 2007. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1111/j.1467-8721.2007.00481.x. Acesso em: 24 abr. 2022. GLATZ, E. T. M. M. et al. Ensino Remoto Emergencial e a saúde mental de pós-graduandos: O sofrimento psíquico discente em tempos de pandemia. REVASF, Petrolina, v. 12, n. 28, p. 1-26, 2022. Disponível em: https://www.periodicos.univasf.edu.br/index.php/revasf/article/view/1873. Acesso em: 13 fev. 2022. GOMIDE, P. I. C. et al. Correlação entre práticas educativas, depressão, estresse e habilidades sociais. Psico-USF, Itatiba, v. 10, n. 2, p. 169-178, dez. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pusf/a/RHJgN4cSPcZxknfr9Tq4FPD/abstract/?lang=pt. Acesso em: 08 mar. 2022. LIPP, M. E. N. Crianças estressadas. São Paulo: Papirus, 2004. LIPP, M. E. N. Stress em crianças e adolescentes. São Paulo: Papirus, 2020. PACÍFICO, M.; FACCHIN, M. M. P.; CORRÊA SANTOS, F. F. F. Crianças também se estressam? A influência do estresse no desenvolvimento infantil. Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 13, n. 1, p. 107-123, jan./jun. 2017. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/tes/article/view/10218. Acesso em: 27 abr. 2022. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2017. SOUZA, M. B. C.; SILVA, H. P. A.; GALVÃO-COELHO, N. L. Resposta ao estresse: I. Homeostase e teoria da alostase. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 20, n. 1, p. 2-11, jan./mar. 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/epsic/a/wLn5RGy9pVXSZKryWSPHXTF/abstract/?lang=pt. Acesso em: 09 mar. 2022. SZYMANSKI, H. A relação família/escola: Desafios e perspectivas. Brasília, DF: Liber Livros, 2010. VYGOTSKY, L. S. Sete aulas de L. S. Vygotsky sobre os fundamentos da pedologia. Rio de Janeiro: E-Papers, 2018. VYGOTSKYI, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2016.
image/svg+xmlEmanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ; Solange Franci Raimundo YAEGASHI e Heloisa Toshie Irie SAITO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 14 Como referenciar este artigo GLATZ, E. T. M. M.; YAEGASHI, S. F. R.; SAITO, H. T. I. O reflexo do meio social no desenvolvimento do estresse infantil: Um estudo à luz da Teoria Histórico-Cultural. Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022. e-ISSN 2526-3471. DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 Submetido em: 25/06/2022 Revisões requeridas em: 10/08/2022 Aprovado em: 26/09/2022 Publicado em: 30/11/2022 Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.Revisão, formatação, normalização e tradução.
image/svg+xmlSocial environment and child stress: A study in light of Cultural-Historical TheoryTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 1 SOCIAL ENVIRONMENT AND CHILD STRESS: A STUDY IN LIGHT OF CULTURAL-HISTORICAL THEORY MEIO SOCIAL E ESTRESSE INFANTIL: UM ESTUDO À LUZ DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL MEDIO SOCIAL Y ESTRÉS INFANTIL: UN ESTUDIO A LA LUZ DE LA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL Emanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ1Solange Franci Raimundo YAEGASHI2Heloisa Toshie Irie SAITO3ABSTRACT: The life context of postmodern society, which neglects rest and time in favor of the excessive search for results, has triggered stress in a large part of the population, including children who deal, at an increasingly early age, with adversities from the familial and collective life which they are a part of. Thus, the present article, of bibliographic character, aims to identify the social factors that substantiate stress and the child's psychic suffering, using the foundations of the Cultural-Historical Theory to support the discussion. It was concluded that the social environment, with its way of organization, is a preponderant factor for the triggering of childhood stress, impairing, to a great extent, the quality of life of infants. KEYWORDS: Stress. Child stress. Psychic suffering. Cultural-Historical Theory. RESUMO: O contexto de vida da sociedade pós-moderna, que negligencia o descanso e o tempo em razão da busca excessiva por resultados, tem desencadeado o estresse em grande parte da população, inclusive em crianças que lidam, cada vez mais cedo, com adversidades provenientes do convívio familiar e coletivo do qual fazem parte. Destarte, o presente artigo, de caráter bibliográfico, objetiva identificar os fatores sociais que consubstanciam o estresse e o sofrimento psíquico infantil, utilizando os fundamentos da Teoria Histórico-Cultural para embasar a discussão. Concluiu-se que o meio social, com o seu modo de organização, é um fator preponderante para o desencadeamento do estresse infantil, de modo a prejudicar, demasiadamente, a qualidade de vida dos infantes. PALAVRAS-CHAVE: Estresse. Estresse infantil. Sofrimento psíquico. Teoria Histórico-Cultural. 1State University of Maringá (UEM), Maringá –PR –Brazil. Master's degree in Education. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9645-3589. E-mail: manuglatz@hotmail.com 2State University of Maringá (UEM), Maringá –PR –Brazil. Professor of the Department of Theory and Practice of Education, the Post-Graduate Program in Education and the Professional Master in Inclusive Education. PhD in Education (UNICAMP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7666-7253. E-mail: solangefry@gmail.com 3State University of Maringá (UEM), Maringá –PR –Brazil. Professor of the Department of Theory and Practice of Education and the Post-Graduate Program in Education. PhD in Education (USP). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1061-5933. E-mail: htisaito@uem.br
image/svg+xmlEmanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ; Solange Franci Raimundo YAEGASHI and Heloisa Toshie Irie SAITO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 2 RESUMEN: El contexto de vida de la sociedad posmoderna, que descuida el descanso y el tiempo debido a la búsqueda excesiva por resultados, ha desencadenado el estrés en gran parte de la población, inclusive en niños que lidian, cada vez más temprano, con adversidades provenientes de la convivencia familiar y colectiva del cual hacen parte. Por lo tanto, el presente artículo, de carácter bibliográfico, tiene como objetivo identificar los factores sociales que justifican el estrés y el sufrimiento psíquico infantil, utilizando los fundamentos de la Teoría Histórico-Cultural para apoyar la discusión. Se concluyó que el medio social, con su modo de organización, es un factor preponderante para el desencadenamiento del estrés infantil, de modo que perjudica, demasiado, la cualidad de vida de los infantes. PALABRAS-CLAVE: Estrés. Estrés infantil. Sufrimiento psíquico. Teoria Histórico-Cultural. Introduction With the advance of the neoliberal socioeconomic model and with the new demands of an increasingly immediate society, psychic suffering and stress have increased at the beginning of the 21st century. The excess of daily activities, lack of leisure and rest, poor quality sleep, family and relationship problems, as well as financial concerns and self-collection for productivity, income and acceptance, are routine stressors present in the daily lives of social subjects. Studies on the stress and psychic suffering of infants have been gaining proportion in recent years, even if in a very timid way. The incidence of severe stress in children is still unknown, however, it is known that every child will face stressful situations during childhood, which will directly impact their mental and physical health (LIPP, 2020). Children's mental health needs to be understood as a polysemic, complex phenomenon that involves a range of aspects, among them: behavioral, emotional, social, cultural and related, in order to grant children skills capable of making them belonging and operating in the social environment in which they live, always considering their life contexts. On the other hand, child psychic suffering is effective when the child, through behaviors and expressions, manifests difficulties in dealing with stressful situations, which ends up harming and interfering in the development of routine activities, in order to impair interpersonal relationships and even cognitive development (CID et al., 2019). Taking into account that child stress expresses a strict relationship with the social and family environment in which the child is inserted, it is essential to ask questions about the ways of organizing contemporary neoliberal society and its possible implications for the psychological suffering of infants.
image/svg+xmlSocial environment and child stress: A study in light of Cultural-Historical TheoryTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 3 According to the assumptions of the Historical-Cultural Theory (THC), the process of human development is substantially social, and man is the result of the collective space in which he is inserted. Thus, if child stress is closely related to the social and cultural environment in which the child is established, it is important to associate this discussion with the studies of THC that imprint to humanity a socio-historical definition, considering it a product and producer of society, history and culture. In view of this, this study aims to identify and discuss the social factors that embodies child stress and psychic suffering. The research is also justified by the urgent need to broaden debates about the stress and psychic suffering of children, especially in view of the current pandemic context that significantly altered the social configuration and peer life (GLATZ et al., 2022). Therefore, with regard to the problem that is intended to be investigated with the study, the following question arises: how do forms of social organization subsidize and promote stress and psychic suffering in children? To this end, with the purpose of seeking answers to this question and contributing to the systematization of new studies that associate the assumptions of THC with stress and psychological distress in childhood, bibliographic research was conducted. Bibliographic research is based on the analysis and discussion of data and categories already refined by other researchers, which are recorded and available in documents, such as articles, theses, dissertations, books and the like. According to Severino (2017, p. 93, our translation), "texts become sources of the themes to be researched" and, in addition to basing the systematization and discussion of a research, they can also reveal gaps in knowledge. For the construction of this study, we sought, a priori - on the Google Scholar® platform - for books and articles that addressed the social factors (experiences in the family and school) that incite the development of stress and child psychic suffering. It is emphasized that as an inclusion criterion, we sought only articles and books that dialogued about stress and psychic suffering in infants, determining as exclusion criteria the use of academic work in its entirety, such as theses and dissertations. A posteriori, we also selected basic texts of thc that, in addition to discussing the main foundations of the theory, correlate with the theme of mental health in childhood.4Thus, it is evident that this research was anchored in the assumptions of THC, conceived by Lev Semionovitch Vygotsky and built under the foundation of Historical-Dialectical 4Using only systematized articles from these scientific papers, if available.
image/svg+xmlEmanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ; Solange Franci Raimundo YAEGASHI and Heloisa Toshie Irie SAITO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 4 Materialism, a philosophical conception defended by Karl Marx and Friedrich Engels. The article is subdivided into four parts, the first being a brief conceptualization and characterization of stress and its possible causes. The second consists of a discussion about stress in children, its causes and symptoms. The third weaves a dialogue between the precepts of THC and the influence of the social environment on the stress and psychic suffering of children. Finally, the fourth part brings the final considerations of the reflections made. Conceptualizing and characterizing stress The word stress, derived from Latin, is an adaptation of the English word 'stress', whose terminology denotes the meaning of 'accentuation', 'tension', among other aspects. Moreover, stress can be interpreted as a necessary psychophysiological response for the maintenance of the body's life, which can occur in situations in which the individual feels confronted, frightened, angry, excited and even extremely happy. Stress comes, therefore, from the need to adapt to a circumstance and/or life event and, regardless of the stressful situation, the biochemical response produced by the body will always be the same (LIPP, 2020). When a subject is in a challenging and stressful situation, three body systems are activated by means of a reaction triggered by the hypothalamus, which are: the sympathetic Autonomic Nervous System (SNAs); the immune system and the Hypothalamic-Pituitary-Adrenal axis (HPA). Both systems are responsible for producing biochemical changes in the body, which are extremely necessary for the immediate coping of the stressor, such as the elevation of blood pressure, the dilation of the pupil and bronchi, the blockade of digestion, the release of hormones –adrenaline and norepinephrine in the bloodstream –elevation of blood glucose, stimulation of skeletal muscles and brain, in addition to promoting alert and surveillance behaviors (SOUZA; SILVA; GALVÃO-COELHO, 2015). The literature reveals that, in cases where stress is used for positive coping with challenging actions and for motivation and/or maintenance of survival, we can call it "eustress". On the other hand, the stress that overloads the control mechanisms and makes it impossible to use responses to the event and/or stressful situation, producing harmful effects to the subject, is called "distresse" (PACÍFICO; FACCHIN, CORRÊA SANTOS, 2017). The human body works in perfect harmony: the organs work assertively and collaboratively to ensure that all their vital functions are successfully administered. When the individual is faced with a stressful situation, the organs begin to work in an unusual way, like the heart, which ends up pumping the blood more quickly; the stomach has some difficulty in
image/svg+xmlSocial environment and child stress: A study in light of Cultural-Historical TheoryTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 5 digesting food; and the intestine resolves to work, faster or slower, depending on the individual. In the great vital orchestra of the human body, there is no more balance and, without the homeostasis so necessary to keep everyone 'playing in the same compass', the subject begins to feel confusion and physical and mental discomfort (LIPP, 2004). With the lack of body homeostat5, prompted by a physiological response to a stressor, the activity of the endocrine system increases, in particular, the activation of the Hypothalamic-Pituitary-Adrenal axis (HHA), which intensifies the secretion of several hormones, among them, cortisol, commonly known as stress hormone. In everyday situations, in which stress has a short duration and a low prevalence, severe problems will hardly occur in the body. However, when stress becomes chronic, with events of great duration and high prevalence, our physical structure gradually degrades, taking into account that cortisol, at the moment it is secreted uninterruptedly, can cause physical problems, such as hypertension and the development of gastritis and ulcers, deficiency in the functioning of the immune system, in addition to premature aging of the hippocampus and brain damage with cell death (BARLOW; DURAND, 2015). In 1936, the endocrinologist Hans Selye made an incidental observation that resulted in a new area of medicine studies: the physiology of stress. According to him, the 'General Adaptation Syndrome' (EMS) presents three distinct stages that occur in the body in response to continuous stress. The first is the 'alarm' phase, beneficial for the maintenance of life, as it generates an immediate reaction to any danger faced by the individual. A posteriori, the phase of 'resistance' arises, when the organism mobilizes adaptation mechanisms to react to the stressor. Finally, if the source of stress remains active, with greater durability and/or intensity, the 'exhaustion' phase occurs, in which a process of deterioration of the body begins, which may suffer from various physical and psychological diseases, in order to suffer permanent damage (BARLOW; DURAND, 2015). It is worth mentioning that psychologist Marilda Lipp incorporated a fourth phase into the model proposed by Selye, located between 'resistance' and 'exhaustion', called 'near-exhaustion', which represents the principle of illness (CAVALCANTIet al., 2021). In all phases mentioned, there are some physical and psychological symptoms that may vary the existence and intensity, depending on the organism of each individual. Predominantly common symptoms include: increased blood pressure (hypertension); Palpitations; stomach 5Property of the human body in regular various functionalities, such as body temperature, pH, blood pressure (and other functions), in addition to fluids.
image/svg+xmlEmanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ; Solange Franci Raimundo YAEGASHI and Heloisa Toshie Irie SAITO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 6 problems, such as ulcers and gastritis; Sweating; dizziness; mood swings; constant irritability; tiredness; memory loss; changes in eating habits; anxiety; sleep problems, among others (PACÍFICO; FACCHIN, CORRÊA SANTOS, 2017). Regarding the above, it is possible to understand that stress, when experienced in a chronic way, is a source of physical and psychological problems that impair the quality of life, in order to generate permanent dysfunctions in the individual. Next, we will discuss the perception of stress in children, more specifically, its main causes and symptoms. Child stress The onset of stress in childhood can have a great impact on the development of the nervous system, taking into account that, in the early stages of life, there is the beginning of the maturational process of the brain that, in addition to causing crucial changes in the action of the HHA axis, vulnerable the individual, making him predisposed to the occurrence of psychological disorders in other stages of life (BARLOW; DURAND, 2015). Searches (ABRANCHES; ASSIS, 2011; CID et al., 2019; GOMIDE et al., 2005) also point to the fact that people diagnosed with psychopathologies, as adults, had, for the most part, early signs since childhood, which were often confused with shyness or generalized as being just 'one phase'. This contributes to the premise that psychological suffering, which occurs in the first years of life, can accompany the individual during his adolescence and adulthood. The potentially triggering factors of stress in children vary according to the subjective aspects of each. However, according to Lipp (2020), there are situations that manifest themselves repeatedly in the lives of stressed children. Here, it is worth understanding that, for THC, the child is considered a social subject that develops, while their internal psychic conditions are remodeled through external actions, coming from the social environment (BOGOYAVLENSKY; MENCHINSKAYA, 2005). In this sense, the objective conditions of children's lives can impact the triggering of stress or even prevent it. Thus, it can be affirmed that stress is incited by internal sources, coming from the psychic/cognitive development and maturation of each subject, as well as external sources, which correspond to stressful situations and experiences arising from the social and family life of each one. To this end, Lipp (2020) mentions some conditions that favor the development of stress in children, which are listed as external situations: death and/or divorce of parents; the establishment of a new family of separated parents; the birth of a brother; the mother's work; the financial instability of the family; diseases that aggravate your health or that of your parents;
image/svg+xmlSocial environment and child stress: A study in light of Cultural-Historical TheoryTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 7 difficulties in school adaptation; change of residence or close friends; excessive load of activities during the day; excess responsibilities; recurring parents' fights; rejection of colleagues and ambivalent social demands. Among the internal motivations that trigger stress and accompany the child's growth phases, the author emphasizes: shyness; anxiety; the desire for belonging and constant acceptance; the fear of failure; concerns about the physical changes of the body itself; the erroneous and frightening interpretations of common and routine events (LIPP, 2020). In addition to understanding the factors that cause and trigger stress in children, it is necessary, first, to understand a little about their maturational development and how learning is effective during childhood. Vygotsky, Luria and Leontiev (2016) elucidate that the process of child development follows that of learning, emphasizing that both are not necessarily produced in a similar and regular way. It is worth noting, here, that the child's learning takes place long before his/her insertion in school, more specifically, since his first days of life, and that he develops while learning. According to Lipp (2020), the sources for the development of stress in children can be caused by physiological characteristics whose sensations are uncomfortable, such as hunger and pain. They may, however, come from learning, such as fears, prejudices, phobias, etc. Each stage of child development presents itself as a fertile ground for the emergence of stress and anxiety, in view of the wide range of conflicts and problems to be solved. As it develops, matures and learns, the child integrates and incorporates, in its repertoire, new strategies to deal with the sources of stress; thus, own mechanisms of action are elaborated in front of these sources, considering that "[...] by changing the development process, the individual reacts differently to external stimuli" (BOGOYAVLENSKY; MENCHINSKAYA, 2005, p. 65, our translation). Ina way, children react to stress by expressing immediate symptoms by making a tantrum, behaving in an overactive manner, presenting excessive fears and terrors –even losing voiding control (enuresis). As stress becomes chronic, the immune system weakens, symptoms worsen and diversify, manifesting physical problems such as tachycardia, tensions in muscles, sweating, dermatological diseases, asthma, stuttering, intestinal problems –diarrhea, nausea –nervous tics, restlessness, abdominal and headache pain, teeth grinding, caries etc. On the other hand, emotional symptoms with a higher prevalence rate refer to the appearance of aggression incompatible with the child's personality, unusual disobedience, anxiety, outbursts of crying, depression, school and relationship difficulties, apathy, nightmares, insomnia and night terror (LIPP, 2020).
image/svg+xmlEmanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ; Solange Franci Raimundo YAEGASHI and Heloisa Toshie Irie SAITO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 8 Stress causes problems that intensely impair the quality of life of individuals, but children suffer much more, since most of them have little –or none –psychic and emotional resource to deal with the adversities present in everyday life in society. Next, the precepts of THC will be approached, unseeing the way in which the social environment raises and provides stressful sources present in children's daily lives.The Historical-Cultural Theory (THC) and the social environment as a trigger of child stress: a possible tessitura THC began with the studies of psychologist Lev Semionovitch Vygotsky who, through a Marxist basis, proposed to understand the human psyche. Marxist foundations show that historical changes in social and material ways of life establish significant changes in the subjects' consciousness and behavior (FACCI, 2004). Vygotsky emphasized that the human psyche develops from social relationships and cultural coexistence, being mediated by the use of instruments and signs that are placed between the individual and the object of his activity. For him, superior psychological functions, such as attention, memory, imagination, thought and abstraction, are developed through the interaction of the subject with the world and with the most experienced individuals. For THC, language is seen as paramount to the evolution of the human being, because it allows communication and social exchange, using signs as a form of action (FACCI, 2004). How can we, however, relate the fundamentals of THC to the development of stress in children? The answer to this question can be elucidated in the following sayings: "[...] man is a social being and, outside the relationship with society, he would never develop the qualities, the characteristics that are the result of the methodical development of all humanity" (VIGOTSKY, 2018, p. 90). According to this premise, the social environment is the source for the individual to develop particularities and abilities specific to his species, considering that society carries with it historically developed traits that seek to give continuity and meaning to human existence. More than that, Vygotsky (2018) declared that human development is predominantly social; also, that superior psychological functions arise, a priori, as forms of collective behavior of the child through the collaboration of other individuals. Such shapes are later internalized and become individual traits. Recent studies with monkeys validate this premise (GILLESPIE; NEMEROFF, 2007; COPLANet al., 1998), because they expose that psychosocial order factors can directly affect the levels of neurotransmitters produced by primates, which ratifies the principle that, perhaps,
image/svg+xmlSocial environment and child stress: A study in light of Cultural-Historical TheoryTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 9 neurochemical substances produce different effects, depending on the environmental and psychological history of the individual. In addition, other experiments show that the act of accommodating monkeys in community expands the amount of gray matter in different parts of the brain led by social cognition, which includes the ability to interpret facial expressions, gestures, anticipate and predict behaviors (BARLOW; DURAND, 2015). Moreover, science has already proven that there is a direct interaction between genes and the environment, signaling that the social environment can activate certain genes that alter the number of receptors on the margins of neurons, which would consequently affect the biochemical functioning of the brain, so that it is possible to trigger genetic vulnerabilities that would favor the development of psychic disorders according to the reaction presented before a stressful event (BARLOW; DURAND, 2015). It is unveiled, then, that the subject is the pure expression of his subjective conditions of life. According to Lipp (2004, p. 18, our translation), "stress assumes the face of those who have it", which means affirming that the social space is relatively important and impacting on the development of potentialities and/or suffering, depending on the subjective experiences of each one. The family and the school are the two major institutions responsible for the stressful events that most affect children. With their internal conflicts, custody disputes, arrival of new siblings, lack of minimum socioeconomic conditions for survival, lack of attention, absence of solid affective bonds with parents, constant fights and the confused and ambiguous discipline on their part, as well as the stress coming from adults present within the family, are the main sources for the development of stress in the child within the family (LIPP, 2004, 2020). In the educational space, where the child spends a long period of his life, the main stressors present are the result of anxious and stressed teachers, a rigid discipline that does little respect the cognitive and maturational development of the child, bullyingand prejudice committed by other colleagues, the difficulty of adaptation and acceptance of peers, of excessive activities and short play and rest time (LIPP, 2004, 2020). Stressed children represent a serious public health problem, because, in addition to manifesting significant losses in family and peer relationships, school life is impaired and learning difficulties and developmental problems are caused. In addition, child stress can favor psychic suffering in later stages of life, such as adolescence and adulthood. Thus, it is necessary that the social environment that permeates the subject's life be built under a secure foundation, based on autonomy and dialogue (SZYMANSKI, 2010). For the family, it is up to the role of developing an active listening of the child, always seeking to
image/svg+xmlEmanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ; Solange Franci Raimundo YAEGASHI and Heloisa Toshie Irie SAITO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 10 understand what they have to say in the face of the countless situations experienced in their daily lives. It is necessary to provide her autonomy, without, however, overloading her with tasks and tasks, allowing her a safe space to experience childhood, to experience life and the world. It is also essential that adult discussions be treated and resolved away from the child, trying not to involve it in exhausting, intricate and unresolved problems. At school, in turn, is the duty to have respect for the specificities of each subject, thinking about learning as a process before school life. It is necessary to be aware that each child has idiosyncrasies that make them different from each other. Finally, teachers must not bring their longings and frustrations to the work environment, taking a close care to the behaviors of the little ones in the classroom, as they can express larger problems, such as relationship difficulties, learning and even the face of prejudice and/ or bullyingby colleagues. The attentive eye makes all the difference and, in this case, is the threshold between: a happy and willing child and a stressed child. Final considerations The present study, as idealized, sought to identify the social factors that embody child stress and psychic suffering. As we resume the main objective, new questions and doubts erupt, now regarding the mental health and psychological suffering of children, as well as under the preponderance of the social environment in triggering anxiety and depression in childhood. In view of the theoretical references used, it was found that, as THC argues, man is a social being that develops in an integral way and according to influences and relationships with the environment. It was verified that the development of the subject takes place through a historical-social basis that constitutes practices capable of making individuals aware of their role and their performance within society. It is also perceived that the social environment has a fundamental role in triggering stress in childhood, being some of the main stressful sources faced by the child public: the difficulty of school adaptation; fights and divorce from parents; socioeconomic instability; changes of residence; the stress of parents and/or teachers; the excess of school activities; rejection of colleagues; deaths in the family; and the desire to belong to a group. Vygotsky (2018) stated that there is a social basis that supports the development of subjective skills and that the learning process is always effective from the outside to the inside, from the social to the individual. The human being, so influenced by the environmental factors that surround him, is constituted as he experiences the world around him and understands it.
image/svg+xmlSocial environment and child stress: A study in light of Cultural-Historical TheoryTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 11 Thus, it is necessary to consider that, if the social and family foundation of a child is weakened, favoring the routine promotion of stressful situations and difficult management, there is a great possibility that this child develops stress during his childhood; it is appropriate to emphasize: if not observed and treated adequately, it will harm your psychic health at later stages of life. Despite the limitations of this study –such as having dealt only with the phenomenon of stress in children, not relating it to the psychic suffering arising from its chronicity –it provides essential subsidies for a broader understanding of the role and contribution of the social environment in the development or not of stress in children. In addition, this research aims to provide subsidies that favor new studies that aim to associate the foundations of THC with the stress and psychic suffering of children, young people and adults, in order to seek new ways to make social relationships healthier and less harmful to individuals. REFERENCES ABRANCHES, C. D.; ASSIS, S. G. A. A (in)visibilidade da violência psicológica na infância e adolescência no contexto familiar. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 27, n. 5, p. 843-854, 2011. Available: https://www.scielosp.org/article/ssm/content/raw/?resource_ssm_path=/media/assets/csp/v27n5/03.pdf. Access: 11 Mar. 2022. BARLOW, D. H.; DURAND, V. M. Psicopatologia: Uma abordagem integrada. São Paulo: Cengage Learning, 2015. BOGOYAVLENSKY, D. N.; MENCHINSKAYA, N. A. Relação entre aprendizagem e desenvolvimento psicointelectual da criança em idade escolar. In: LEONTIEV, A. N. et al. Psicologia e pedagogia: Bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento. Tradução: Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2005. CAVALCANTI, A. L. S. R. et al. Treino de controle do stress de Lipp: Uma revisão integrativa de literatura. Boletim Academia Paulista de Psicologia, São Paulo, v. 41, n. 100, p. 37-47, jan./jun. 2021. Available: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-711X2021000100005. Access: 20 Mar. 2022. CID, M. F. B. et al. Saúde mental infantil e contexto escolar: As percepções dos educadores. Pro-Posições, Campinas, v. 30, p. 1-24, 2019. Available: https://www.scielo.br/j/pp/a/x46ycvnxT3msphKhJm4WyjF/abstract/?lang=pt. Access: 08 Jan. 2022. COPLAN, J. D. et al. Cerebrospinal Fluid Concentrations of Somatostatin and Biogenic Amines in Grown Primates Reared by Mothers Exposed to Manipulated Foraging Conditions. Archives of General Psychiatry, v. 55, n. 5, p. 473-477, 1998. Available:
image/svg+xmlEmanoela Thereza Marques de Mendonça GLATZ; Solange Franci Raimundo YAEGASHI and Heloisa Toshie Irie SAITO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 12 https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/article-abstract/203844. Access: 13 Apr. 2022. FACCI, M. G. D. A periodização do desenvolvimento psicológico individual na perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vigostski. Cadernos Cedes, Campinas, v. 24, n. 62, p. 64-81, abr. 2004. Available: https://www.scielo.br/j/ccedes/a/3Nc5fBqVp6SXzD396YVbMgQ/abstract/?lang=pt. Access: 09 Mar. 2022. GILLESPIE, C. F.; NEMEROFF, C. B. Corticotropin-Releasing Factor and the Psychobiology of Early-Life Stress. Current Directions in Psychological Science, v. 16, n. 2, p. 85-89, 2007. Available: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1111/j.1467-8721.2007.00481.x. Access: 24 Apr. 2022. GLATZ, E. T. M. M. et al. Ensino Remoto Emergencial e a saúde mental de pós-graduandos: O sofrimento psíquico discente em tempos de pandemia. REVASF, Petrolina, v. 12, n. 28, p. 1-26, 2022. Available: https://www.periodicos.univasf.edu.br/index.php/revasf/article/view/1873. Access: 13 Feb. 2022. GOMIDE, P. I. C. et al. Correlação entre práticas educativas, depressão, estresse e habilidades sociais. Psico-USF, Itatiba, v. 10, n. 2, p. 169-178, dez. 2005. Available: https://www.scielo.br/j/pusf/a/RHJgN4cSPcZxknfr9Tq4FPD/abstract/?lang=pt. Access: 08 Mar. 2022. LIPP, M. E. N. Crianças estressadas. São Paulo: Papirus, 2004. LIPP, M. E. N. Stress em crianças e adolescentes. São Paulo: Papirus, 2020. PACÍFICO, M.; FACCHIN, M. M. P.; CORRÊA SANTOS, F. F. F. Crianças também se estressam? A influência do estresse no desenvolvimento infantil. Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 13, n. 1, p. 107-123, jan./jun. 2017. Available: https://periodicos.fclar.unesp.br/tes/article/view/10218. Access: 27 Apr. 2022. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2017. SOUZA, M. B. C.; SILVA, H. P. A.; GALVÃO-COELHO, N. L. Resposta ao estresse: I. Homeostase e teoria da alostase. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 20, n. 1, p. 2-11, jan./mar. 2015. Available: https://www.scielo.br/j/epsic/a/wLn5RGy9pVXSZKryWSPHXTF/abstract/?lang=pt. Access: 09 Mar. 2022. SZYMANSKI, H. A relação família/escola: Desafios e perspectivas. Brasília, DF: Liber Livros, 2010. VYGOTSKY, L. S. Sete aulas de L. S. Vygotsky sobre os fundamentos da pedologia. Rio de Janeiro: E-Papers, 2018. VYGOTSKYI, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2016.
image/svg+xmlSocial environment and child stress: A study in light of Cultural-Historical TheoryTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 13 How to refer to this article GLATZ, E. T. M. M.; YAEGASHI, S. F. R.; SAITO, H. T. I. Social environment and child stress: A study in light of Cultural-Historical Theory. Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022012, 2022. e-ISSN 2526-3471. DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16640 Submitted: 25/06/2022 Revisions required: 10/08/2022 Approved: 26/09/2022 Published: 30/11/2022 Processing and publication by the Editora Ibero-Americana de Educação. Correction, formatting, standardization and translation.