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Literacia para a saúde e ciência da saúde: Um diálogo epistemológico com Gaston Bachelard
Temas em Educ. e Saúde,
Araraquara, v. 18, n. 00, e022015, 2022 e-ISSN 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16815 1
LITERACIA PARA A SAÚDE E CIÊNCIA DA SAÚDE: UM DIÁLOGO
EPISTEMOLÓGICO COM GASTON BACHELARD
ALFABETIZACIÓN EN SALUD Y CIENCIA DE LA SALUD: UN DIÁLOGO
EPISTEMOLÓGICO CON GASTON BACHELARD
HEALTH LITERACY AND HEALTH SCIENCE: AN EPISTEMOLOGICAL DIALOGUE
WITH GASTON BACHELARD
Luciana Moura Caetano VELUDO
1
Marta Regina FARINELLI
2
RESUMO
: É um estudo teórico com os seguintes objetivos: dialogar sobre a teoria do
“
espírito
científico
”
e as noções de “obstáculos epistemológicos” de Gaston Bachelard
com os conceitos
de saúde; discutir a literacia para a saúde com à manifestação do “espírito científico”.
O estudo
é exploratório, pesquisa documental e bibliográfica, em obras de Gaston Bachelard e em outras
produções científicas e documentais que embasam conceitos de saúde, literacia para a saúde.
Dos resultados encontrados destaca-se a discussão entre a epistemologia bachelardiana,
conceitos de saúde e a literacia para a saúde que rompem com os arquétipos de saúde e evidencia
a participação dos atores sociais envolvidos no sistema de saúde. Considera-se que as
observações epistemológicas de Bachelard respondem pela renovação dos saberes científicos
de saúde e consolidam as investigações na área da literacia para a saúde, como proposta de
melhorar o nível de informação, apreensão, investimento e gestão da saúde.
PALAVRAS-CHAVE
: Ciências. Epistemologia. Gaston Bachelard. Literacia para a saúde.
Saúde.
RESUMEN
: Se trata de un estudio teórico con los siguientes objetivos: discutir la teoría del
“espíritu científico” y las nociones de “obstáculos epistemológicos” de Gaston Bachelard con
los conceptos de salud; discutir la alfabetización en salud con la manifestació
n del “espíritu
científico”. Es un estudio exploratorio, de investigación documental y bibliográfica en las
obras de Gaston Bachelard y otras producciones científicas y documentales que sustentan los
conceptos de salud y alfabetización en salud. Entre los resultados encontrados, destaca la
discusión entre la epistemología bachelardiana, los conceptos de salud y la alfabetización en
salud, rompiendo con los arquetipos de salud y destacando la participación de los actores
sociales involucrados en el sistema de salud. Se considera que las observaciones
epistemológicas de Bachelard dan cuenta de la renovación de los conocimientos científicos en
salud y consolidan las investigaciones en el área de alfabetización en salud, como propuesta
para mejorar el nivel de información, aprehensión, inversión y gestión de la salud.
PALABRAS CLAVE
: Ciencias. Epistemología. Gaston Bachelard. Alfabetización en salud.
Salud.
1
Universidade de Ciências Empresariais e Sociais (UCES), Buenos Aires
–
Argentina. Doutoranda em Ciências
Empresariais e Sociais. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8747-4297. E-mail: luciana.veludo@uftm.edu.br
2
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba
–
MG
–
Brasil. Docente do Departamento de
Serviço Social. Doutorado em Serviço Social (UNESP). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0536-4017. E-mail:
martafarinelli@gmail.com
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Luciana Moura Caetano VELUDO e Marta Regina FARINELLI
Temas em Educ. e Saúde,
Araraquara, v. 18, n. 00, e022015, 2022 e-ISSN 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16815 2
ABSTRACT
: This is a theoretical study with the following objectives: to discuss Gaston
Bachelard’s theory of the “scientific spirit” and the notions of “epistemological obstacles”
with the concepts of health; to discuss health literacy with the manifestation of the
“scientific
spirit”. This study is exploratory and a documentary and bibliographic research of Gaston
Bachelard’s works and other scientific and documentary productions that support health
concepts and health literacy. From the results found, it is possible to highlight the discussion
between the Bachelardian epistemology, health concepts and health literacy that disrupts
health archetypes and highlights the participation of the social actors involved in the health
system. It is considered that Bachelard’s
epistemological observations are responsible for the
renewal of health scientific knowledge and consolidate investigations in the area of health
literacy, as a proposal to improve the level of information, apprehension, investment and
management of health.
KEYWORDS
: Sciences. Epistemology. Gaston Bachelard. Health literacy. Health.
Introdução
Partindo da premissa de que, até a segunda metade do século XIX, somente os teólogos
e filósofos produziam conhecimento acerca dos homens e da sociedade (GIL, 2019), este estudo
propõe compreender o papel de uma investigação social na área da saúde à luz das observações
epistemológicas acerca da formação do
“
espírito científico
”
e das noções de
“
obstáculo
epistemológico
”
de Gaston Bachelard.
O filósofo francês, Gaston Bachelard (1884-1962), pautou as obras de sua vida na
epistemologia e na filosofia das ciências, principalmente, as Ciências da Natureza. No ano de
1938, ele publicou
A Formação do Espírito Científico
, na qual explora os diversos obstáculos
epistemológicos. Em sua obra, o referido filósofo enfatiza a relevância que tais obstáculos
precisam ser superados para que surja uma mentalidade verdadeiramente científica. Assim
como entende Bachelard (1972), os colapsos entre o conhecimento comum e o científico
resultam de um progresso científico que aborda uma ciência evoluída que vem com as marcas
da modernidade. Bachelard, por meio da teoria d
o “espírito científico”
, buscou encontrar
caminhos para o conhecimento por meio de rupturas epistemológicas com as ciências normais
ou naturais, pois a própria noção pragmática do saber científico sobre algo remete a um
obstáculo epistemológico.
A escolha em contextualizar a literacia para a saúde nas Ciências da Saúde por meio da
teoria bachelardiana, se deve ao eixo filosófico desta teoria que contesta o progresso linear da
Ciência, e presume rupturas epistemológicas provenientes de visões científicas do mundo. De
outra maneira, é possível inferir que essa Teoria bachelardiana possui a capacidade pedagógica
de propiciar ao conhecimento científico da ciência da saúde o poder de encontrar uma outra
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Araraquara, v. 18, n. 00, e022015, 2022 e-ISSN 2526-3471
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definição de saúde que não seja apenas o pensamento indutivo de que a ausência da doença é
resultante de um corpo saudável. Saboga-Nunes (2014b) diz que, para atender este objetivo, a
abordagem patogênica busca a origem da doença, a fim de controlá-la e tratá-la.
Segundo Moraes (2012, p. 17), é no século XIX que o modelo biomédico se apropria de
um discurso científico sobre a saúde e a doença “estabelecendo novas relações de causa e efeito
para as moléstias e levando à objetivação da análise e à objetificação do paciente e consequente
perda de sua ide
ntidade”.
De acordo com Saboga-Nunes
et al
. (2019), uma maneira estratégica
de estender as discussões sobre saúde, para além desse modelo biomédico, seria o próprio
indivíduo apoderar-se de conhecimentos e reconhecer quais são e como as suas condições de
vida e de trabalho refletem na sua saúde e qualidade de sua vida. Assim, é preciso a pessoa
estabelecer um foco salutogênico, isto é, buscar elementos que a conduza à manutenção e à
promoção de sua saúde.
Ao romper com o pensamento, modelo biomédico, pode-se dizer que não existem
pessoas saudáveis ou doentes, mas sim investimentos em saúde que potencializam a adoção de
estilos de vida mais saudáveis (SABOGA-NUNES, 2014b). Tais investimentos devem ser
estabelecidos com ações coletivas, de vários atores (a pessoa, profissionais de saúde, políticas,
governantes) que contribuam para a melhoria de condições de vida e de saúde, da pessoa e da
população. Portanto requer mudanças de comportamentos dos indivíduos e mudanças no
ambiente, considerando os determinantes sociais presente nas realidades sociais. Os indivíduos
não possuem completa liberdade para escolher estilos de vida saudáveis. Esta é limitada por
fatores como acessibilidade, econômico sociais entre outros.
Em sua obra
A Formação do Espírito Científico
Bachelard (1996), apresenta o
“
espírito
científico
”
, como um conceito de caráter epistemológico que permite dialogar sobre saúde e
ciência, e transfere um novo olhar, um outro parâmetro, aos conceitos formais, concretos que
permeiam a captura imediata do dado empírico, estabelecidos pelas ciências acadêmicas de uma
maneira geral e pelas ciências da saúde.
De acordo com Bachelard (1996) o “espírito científico”
é mais formativo do que normativo pois foge das identidades aparentes, da homogeneidade em
busca de pensamentos dinâmicos, diversificadores e retificadores de certezas absolutas.
Nas palavras de Bachelard (1996, p. 17),
“o conhecimento do real é luz que sempre
projeta algumas sombras. Nunca é imediato e pleno”. Em
seus estudos, Bachelard (1996) revela
que a imagem de um saber imediato é um obstáculo ao progresso científico, pois, na ciência,
nada está pronto nem tão pouco é evidente, mas sim construído e que se forma quando o
conhecimento não é questionado e permanece escorado na primeira experiência ou na
experiência generalizada, tornando-se estático. A vitória sobre esses obstáculos
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epistemológicos, que bloqueiam o pensamento, é a própria formação do
“
espírito científico
”
. O
“
espírito científico
”
reorganiza todo o seu “saber” que
, para ser científico, deve afrontar suas
propensões espontâneas.
Para transpor alguns paradigmas e obstáculos epistemológicos que envolveram
concepções de saúde, apresenta-se a literacia para a saúde como um novo direcionamento à
promoção da saúde que responde às demandas relacionadas a qualidade de vida e estilo de vida
saudável bem como prevenção de doenças e contribui na manutenção de um bem-estar, físico,
mental e social como propõe a Organização Mundial da Saúde (OMS).
No ano de 2009, em Nairóbi, na 7ª Conferência Global sobre Promoção de Saúde,
chegou-se à conclusão de que
health literacy
, traduzido para o português por literacia para a
saúde ou: alfabetização em saúde, é um conceito emergente que aproxima a saúde e a literacia
como forma de lidar com as condições críticas da vida do indivíduo. Mesmo que existam alguns
conceitos sobre a literacia para a saúde, nesse documento sua definição corresponde a
o “grau
em que as pessoas são capazes de acessar, compreender, avaliar e comunicar informações para
se envolver com as demandas de diferentes contextos de saúde, a fim de promover e manter
uma boa saúde ao longo da vida
”
(WHO, 2009, p. 10, tradução nossa).
Triviño (2015, p.
17) enfatiza em seus estudos que “o pensar filosófico que possa
alimentar-se de hipóteses e teorias sempre partirá de determinadas bases científicas
”
. Neste
sentido, ao contemplar o mundo, pode-se inferir que ele é composto por fenômenos e objetos
de diversas naturezas, que, por sua vez, contribuem para com a noção de realidade inerente a
cada pessoa. Assim, no decorrer desse artigo se compreenderá que Bachelard apresenta um
mundo que não se compõe de uma junção de coisas acabadas e definidas, mas sempre em
constante transformação e, por isso, o pensamento científico avança à medida que as pessoas e
comunidades se renovam. O espirito científico irá sempre romper com os obstáculos
epistemológicos ao questionar os conhecimentos, reformular os problemas e hábitos
intelectuais endurecidos.
Este é um estudo teórico de relevância científica e acadêmica, pois expande os debates
sobre promoção de saúde, ao considerar o caráter complexo da epistemologia da ciência da
saúde ancorado na teoria epistemológica de Bachelard. Desta forma, o objetivo deste estudo é
compreender na epistemologia de Bachelard aportes que proporcionem, ao leitor, uma visão
diferente sobre concepções e discursos de saúde que ultrapassam as barreiras conceituais. Para
isso será apresentada a teoria do
“
espírito científico
”
e as noções de obstáculos epistemológicos
do referido autor, a fim de discutir novas maneiras de promover saúde e pensar a ciência da
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saúde. A literacia para a saúde poderá emergir como uma manifestação desse
“
espírito
científico
”
, assim como uma bússola norteadora desse caminho a ser percorrido.
Procedimentos metodológicos
Quando o assunto é muito vasto, por vezes, é necessário delimitar uma teoria para se
planejar um estudo exploratório, que viabilize a investigação (TRIVIÑO, 2015). O presente
estudo é exploratório e utiliza pesquisa documental, bem como revisão de literatura de forma
narrativa (CORDEIRO
et al.
, 2007).
Na primeira etapa, realizou-se um levantamento bibliográfico em obras do autor Gaston
Bachelard, para mapear as descrições referentes à teoria da formação do
“
espírito científico
”
e
as noções de obstáculo epistemológico. A escolha pelas obras do referido autor se deu pela
maneira que desenvolve o
“
espírito científico
”
, ou seja, crítica e dialética. Das obras estudadas
as autoras optaram por: A formação do espirito científico de 1938; A epistemologia de 1971,
obras que vão ao encontro dos objetivos propostos neste ensaio teórico. Ressalta-se que foi
utilizado para este estudo de edições mais recentes e traduzidas.
As autoras recorreram-se a documentos que trazem conceitos de saúde e literacia para a
saúde discutidos em organizações e encontros coletivos como: a Organização Mundial de
Saúde, Conferências Internacionais e de artigos científicos que embasam também, literacia para
a saúde em autores cuja vertente de estudo relacionar-se mais efetivamente à salutogênese,
promoção de saúde. E ainda a documentos como a Carta de Ottawa, resultado da primeira
Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em Ottawa, Canadá, em 1986;
Constituição Federal de 1988 e Documento de Nairobi (KANJ; MITIC, 2009).
Resultados e discussões
Dos mapeamentos teóricos e documentais realizados despontaram duas categorias para
discussão:
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Luciana Moura Caetano VELUDO e Marta Regina FARINELLI
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O
“
espírito científico
”
, os obstáculos epistemológicos e os conceitos de saúde: uma
dialética com Gaston Bachelard
O pensamento de Bachelard (1996, p. 17), em uma de suas principais obras,
A Formação
do Espírito Científico
, fica muito bem r
epresentado neste recorte: “o
ato de conhecer dá-se
contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos, superando o
que, no próprio espírito, é
obstáculo à espiritualização”. Para o autor
, a espiritualização do saber
é o ato de quebrar preconceitos e fundamentações pré-estabelecidas e diante dos mistérios da
realidade e dos fatos nunca inferir que um fato conhecido é consequentemente uma riqueza,
uma resposta pronta e acabada. É relevante pontuar que quando o autor fala de “conhecimentos
mal estabelecidos” ele
critica o ato de dar significado a um objeto ou algo a partir da utilidade
deste. Desta forma, torna-se necessário destruir as convicções sobre este fato já estabelecido e
formular novos problemas, novas perguntas e deixar o
“
espírito científico
”
se manifestar.
Para Bachelard (1996), um obstáculo epistemológico consiste na clausura de um
conhecimento não questionado como, por exemplo, hábitos e ciências intelectuais, que um dia
foram úteis, mas, podem, em um outro momento, prejudicar o conhecimento científico sobre o
mesmo tema doravante solucionado ou respondido.
Todavia, teria a ciência um limite para seu conhecimento? Bachelard (2006, p. 23)
questiona também:
Terá o conceito de limite do conhecimento científico um sentido absoluto?
Será mesmo possível traçar as fronteiras do pensamento científico? Estaremos
nós verdadeiramente encerrados num domínio objetivamente fechado?
Seremos escravos de uma razão imutável? Será o espírito uma espécie de
instrumento orgânico, invariável como a mão, limitado como a vista? Estará
ele ao menos sujeito a uma evolução regular em ligação com uma evolução
orgânica? Eis muitas perguntas, múltiplas e conexas, que põem em jogo toda
uma filosofia e que devem dar um interesse primordial aos estudos dos
progressos do pensamento científico.
Para Bachelard (2006), a fronteira do conhecimento científico não está em sua
incapacidade de resolver certos problemas, dificuldades ou sonhos humanos, mas representa
um estacionamento momentâneo do pensamento. O autor conclui essa afirmação dizendo que
“seria de desejar que cada ciência pudesse propor uma espécie de plano quinquenal” (p. 25),
pois, dessa maneira, o conhecimento, que antes era limitado por determinado conceito advindo
de algum experimento empírico, poderia vir a responder novas perguntas ou inquietações com
vista a confirmá-lo ou refutá-lo. No exercício dessas ideias, o
“
espírito científico
”
fica
tendencioso a valorizá-las em excesso, o que acaba opondo-se a uma circulação de valores e
polariza a problemática que Bachelard (1996) chama de
“
inércia para o espírito
”
(científico).
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Em outras palavras, o conhecimento científico, sobre qualquer tema, não deve ser
limitado e estático. É necessário abrir espaços para dialetizar estudos e conceitos e deixar a
contemplação do mesmo para a construção de uma nova resposta ou desconstrução de um
antigo conceito. A busca pelo entendimento epistemológico de um problema científico se deve
ao fato de que esse conhecimento proporciona ferramentas básicas e metodológicas aos
pesquisadores (ÁVILA, 2019), para que estes produzam respostas precisas e com nível técnico
capaz de conduzir o pesquisador confrontar hipóteses/pressupostos e demonstrar conclusões
válidas.
Quando o problema científico adentra a área da saúde, Lage (1995, p. 248, tradução
nossa) afirma que “as ciências da saúde são tipicamente ciências de fronteira”
, estão em contato
com a medicina, a biologia, a química, mas também com a eletrônica e ciências humanas, sendo
que os pesquisadores que combinarem estes conhecimentos da melhor maneira avançara no
campo a pesquisar. A saúde, enquanto ciência, permite a tangência de seus conceitos com
diversos aspectos que envolvem a vida humana, isto é, as respostas vêm de sua interface não só
com a medicina, mas também com a biologia, farmacologia, química, ciências sociais, entre
outras.
No âmbito das ciências da saúde, esse entendimento sobre as fronteiras do conhecimento
científico e as definições de obstáculos epistemológicos de Bachelard pode romper com alguns
paradigmas que enclaustram o conceito de saúde e de promoção do bem-estar social e pessoal.
De acordo com Saboga-Nunes, Freitas e Cunha (2016), a saúde vem sendo conceituada pela
sua antítese, isto é, saúde como ausência de doença ou enfermidade, mesmo com definições
mais amplas e discutidas coletivamente em organismos internacionais e por estudiosos da área.
Em consenso com a Teoria de Bachelard, o argumento de Saboga-Nunes é um exemplo
de ideia intrínseca (saúde como ausência de doença) limitada por algumas fronteiras e que, com
o passar dos anos, adquiriu uma clareza abusiva, e fez com que os órgãos de saúde pública e
privada mirassem seus esforços no combate a eliminação da doença. Uma outra consequência
foi a diminuição dos investimentos na promoção da saúde. De outro modo, enfocar a saúde
curativa sobrepõe a promoção da saúde, distanciando da saúde integral da pessoa.
O conceito de saúde mais referenciado em estudos científicos é o da OMS que, em 07
de abril de 1948, afirmou
que “Saúde é o estado do mais completo bem
-estar físico, mental e
social e não apenas ausência de enfermidade” (WHO, 2014, p. 1).
No final do Século XX, a
OMS, acrescentou a esta definição o estabelecido na sua Carta de Ottawa (OMS, 1986, p. 1)
que:
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Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, o
indivíduo ou o grupo devem estar aptos a identificar e realizar as suas
aspirações, a satisfazer as suas necessidades ao meio e a modificar ou adaptar-
se. Assim, a saúde é entendida como um recurso para a vida e não como uma
finalidade de vida; a saúde é um conceito positivo, que acentua os recursos
sociais e pessoais.
No Brasil, a saúde é um direito garantido por lei e é um dever do Estado mantê-la, como
apresenta o Art. 196 da Constituição Federal:
“a
saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação”
(BRASIL, 1988). O direito é garantido legalmente, porém não é
efetivado de acordo com as demandas advindas das diferentes e diversas realidades sociais do
país.
O
Relatório Mundial de Saúde de 2008
(OMS, 2008) aborda a necessidade de se
implantar esforços no desenvolvimento dos “
cuidados de saúde p
rimários”, por entender que
esse sistema é capaz de colocar o cidadão no centro dos cuidados de saúde alcançando o nível
mais alto de saúde de forma a “maximizar equidade e solidariedade”. De todo modo
, a saúde
não simboliza a mesma coisa para todas as pessoas, pois, segundo Scliar (2007), o conceito de
saúde contempla os aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais da pessoa. Por isso, a
saúde de um indivíduo irá variar conforme seus conceitos filosóficos, religiosos, científicos,
seus valores morais e se diversificar de acordo com o momento social, histórico e econômico
que ele esteja inserido.
O estudo de Rocha e David (2015) traz argumentações em torno da causalidade do
processo saúde-doença ao considerar que as condições de saúde do indivíduo ou do coletivo
estão relacionadas com o ambiente sociocultural destes e não somente como uma manifestação
biológica. A partir desta perspectiva o autor evidencia a necessidade de considerar os
determinantes sociais da saúde, a história de vida, o contexto social e o que estaria
desequilibrando as condições biológicas desta pessoa para além das condições epidemiológicas.
As novas abordagens que estudam as determinações sociais do processo de saúde e
doença, como a Medicina Social na América Latina e a Saúde Coletiva no Brasil, junto aos
movimentos de promoção à saúde no Canadá, evidenciam que a saúde e a doença dependem
também das condições socioeconômicas dos indivíduos. Em outras palavras, aspectos como
emprego, renda, ambiente de convivência e valores implicam em resultados maléficos ou
benéficos para a saúde das pessoas (ROCHA; DAVID, 2015).
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O breve compilado dessas definições coaduna com uma das noções de obstáculo
epistemológico de Bachelard (1996, p. 19), quando este afirma que
“
um obstáculo
epistemológico se incrusta no conhecimento não questionado”
. De outro modo, entende-se que
as generalidades dos conceitos e estudos que envolvem a saúde e a sua promoção, se tornam
obstáculos epistemológicos que podem e devem ser questionados, tendo em vista as
transformações no modo de vida das pessoas, famílias e sociedades que passam a ter maiores
possibilidades de compreender, significar e gerenciar suas vidas. Em concordância com o
“
espírito científico
”
de Bachelard e expandindo as fronteiras das definições de saúde e dos
sistemas de promoção de saúde encontra-se o autor Saboga-Nunes (2000) que propõe um modo
de orientar e perceber a realidade quando adverte que a pessoa tem a capacidade de gerir sua
vida e consequentemente os fatores estressantes que afetam sua saúde.
A literacia para a saúde como manifestação do
“
espírito científico
”
É possível inferir, a partir das questões pontuadas, que o
“
espírito científico
”
permeou
o desenvolvimento das pesquisas e dos conceitos de saúde e de sua promoção, pois, por meio
de uma demanda científica, o problema foi sendo formulado e renovado. Quando Bachelard
(1996, p. 17) introduz a noção de obstáculo epistemológico, ele estuda, por meio da análise
epistemológica e também da psicológica, as barreiras à formação do conhecimento científico.
Nas palavras do referido autor “é em termos de obstáculos que o problema do conhecimento
científico deve ser colocado”.
Como obstáculo epistemológico, identificou-se a tendência de
limitar o conhecimento científico no que concerne ao conceito da ciência da saúde impedindo
que essas definições avançassem para além dessas fronteiras conceituais. Segundo Okan
et al
.
(2019), os conceitos, além de estipular um entendimento partilhado das palavras, definem
indicadores e medidas da investigação. É importante ter os conceitos como partilha desses
conhecimentos, mas não como dados limitantes de um saber.
Historicamente, identificou-se alguns movimentos sanitários como Conferências
Internacionais de promoção a saúde, promovidas pela OMS, estudos das determinações sociais
em saúde na tentativa de uma reorientação científica com base em observações empíricas das
pessoas e de suas relações sociais. Segundo Rocha e David (2015, p. 132), é a partir destes
movimentos, que eclode a Medicina Social na França, e que a saúde passa a ter como foco não
a doença, mas a sua promoção:
“No pós
-guerra, a concepção de saúde da OMS no final da
década de 1970 refere-se à necessidade de se integrar aos cuidados com atenção médica no
combate às causas da doença”. No período mencionado
, esse levante sensibilizou também a
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Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) que terminou propondo políticas e projetos de
intervenções de saúde, em países com formações históricas distintas como Chile e Suécia.
Para os autores citados no parágrafo anterior, o tema Determinantes Sociais de Saúde
(DSS), que conceitualmente relacionam fatores econômicos, sociais, culturais, étnicos/raciais,
psicológicos e comportamentais ao aparecimento de problemas de saúde, revelam uma outra
forma de pensar e entender a saúde como promoção do bem-estar e não apenas como tratamento
de enfermidade física.
Uma das mudanças nos paradigmas de pensar sobre saúde aconteceu após a Conferência
de Alma-Ata, em 1986,
quando o movimento de “Cuidados Primários em Saúde” foi
impulsionado, priorizando, como valores de saúde a justiça social, o direito a uma melhor saúde
para todos, a participação e solidariedade (OMS, 2008).
Em 1986, após a “Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde” realizada em
Ottawa, no Canadá, foi aprovada uma Carta que versa sobre os direcionamentos para construção
de um novo movimento de Saúde Pública em nível mundial. Dessa forma, a promoção da saúde
do cidadão deixa de ser uma responsabi
lidade inerente aos “Setores de Saúde”, e passa a ser
um processo que proporciona ao cidadão e à comunidade a possibilidade de controlar sua saúde
por meio de uma mudança de estilo de vida,
a fim de atingir um nível completo de “bem
-
estar”
(OMS, 1986).
Ao encontro de uma nova perspectiva de pensar a promoção da saúde e ao contrário da
noção de saúde sob uma perspectiva biomédica, de que uma pessoa é fundamentalmente
saudável e ao longo de sua vida é exposta a agentes exteriores que o agride e provoca doenças
(SABOGA-NUNES, 2000), surge uma conceituação positiva de saúde que notabiliza recursos
pessoais, sociais e capacidades físicas como precursoras da Promoção à Saúde. Em congruência
com essa abordagem, Saboga-Nunes (2014b) descortina o conceito de literacia para a saúde,
“como a conscientização da pessoa aprendente e atuante no desenvolvimento das suas
capacidades de compreensão, gestão e investimento, favoráveis à promoção da saúde”. Nesse
sentido, a vida é mais do que sobreviver e a promoção da saúde é sobre prosperar e permitir
que as pessoas aumentem o controle sobre a sua saúde” (SABOGA
-NUNES; FREITAS;
CUNHA, 2016).
A literacia para a saúde é um termo relativamente novo e tem se tornado foco de
interesse por parte da comunidade científica. Ainda sobre o conceito de literacia para a saúde é
relevante mencionar que o termo literacia para a saúde foi citado pela primeira vez por Simonds,
em 1974, no contexto da educação em saúde nas escolas. No entanto, academicamente, o
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Literacia para a saúde e ciência da saúde: Um diálogo epistemológico com Gaston Bachelard
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primeiro artigo científico apareceu na década de 1980, o segundo no início da década de 1990
e em 2006 mais de 100 artigos já tinham sido publicados (OKAN
et al
., 2019, p. 5
).
Para a Organização Mundial de Saúde (WHO, 1998), o entendimento de literacia para
a saúde
“implica
na obtenção de um nível de conhecimentos, de competências pessoais e de
confiança que permita tomar medidas para melhorar a saúde pessoal e comunitária, alterando
os estilos de vida e as condições de vida pessoais”. Dessa forma, a
literacia para a saúde
representa mais do que a capacidade da pessoa em ler panfletos e procurar um profissional de
saúde. Melhores níveis de literacia para a saúde significam maior acesso do cidadão às
informações sobre saúde e a possibilidade de utilizar esses conhecimentos de maneira a
promover, com eficácia, sua própria saúde (SABOGA-NUNES; FREITAS; CUNHA, 2016).
De qualquer forma, esse conceito, ainda em construção, permite que as pessoas que
integram uma comunidade desvinculem seus papéis ativos e passivos em se tratando de zelar
por sua própria saúde. Pois, se de um lado encontram-se alguns profissionais de saúde
detentores dos estatutos e linguagens próprias e, por vezes, difíceis de decifrar, de outro, acha-
se o cidadão que se vê com a possibilidade compreender as informações gerir e investir em
saúde. Neste contexto é relevante destacar que tanto os profissionais quantos os usuários da
rede pública de saúde respondem a uma política de saúde, seja municipal ou federal, que regula
investimentos estabelece normas e procedimentos que, na maioria das vezes, não se detém a
viabilizar o bem-estar do cidadão, mas apenas, de forma emergencial, atender demandas
pontuais e não oferece atendimentos e cuidados individualizados.
Em uma primeira instância, a literacia para a saúde se efetiva por meio do processo de
comunicação para que se tenha convicção de que a pessoa entenda o que médicos e demais
profissionais de saúde estão a lhe instruir. Envolve também a capacidade de investimento do
cidadão que se torna capaz de escolher aquilo que contribuirá à sua saúde, e ainda abrange a
competência de gestão deste indivíduo, pois agrega recursos que contribuirão na busca da sua
saúde e bem-estar (SABOGA-NUNES; FREITAS; CUNHA, 2016).
O estudo da literacia para a saúde evidencia um desequilíbrio entre o que o Sistema de
Saúde oferece à pessoa e o que ela realmente necessita para entender o que seria melhor para
se tornar saudável. O cidadão saudável faz menos uso de medicamentos, de serviços de saúde,
entre outros, desonerando municípios e consequentemente o Estado (MARQUES, 2015).
Outros estudos como os de Farinelli
et al
. (2017) e Lamanauskas e Augiene (2019)
demonstraram que a abrangência da literacia para a saúde alcança sistemas públicos e privados
de saúde como guia e apoio aos usuários e profissionais. Para além desses patamares pode-se
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dizer que a literacia para a saúde interessa, em variados níveis como sociais, culturais
econômicos, todas as pessoas.
Dialogando com Bachelard (1996), os conceitos de saúde incrustados no pensamento
patogênico, isto é, de apenas tratamento da doença, se torna um obstáculo epistemológico, o
que pode, com o tempo, impor limites às pesquisas científicas. A discussão da promoção da
saúde na perspectiva da literacia para a saúde traz um novo parâmetro que combina fatores que
instrumentalizam o cidadão para a identificação, busca e gestão das questões que determinaram
e que podem promover sua saúde. Quando se analisa os níveis de literacia para a saúde é
possível ter uma dimensão da qualidade de vida, resiliência e bem-estar das pessoas perante
condições de vida adversas (SABOGA-NUNES, 2014a).
O atendimento à população oferecida nos setores de saúde na perspectiva da literacia
para a saúde aumentam as possibilidades de tratamento e orientações para que o cidadão faça
escolhas mais conscientes, uma vez que somente o aumento das informações sobre saúde não
colabora com a pessoa que não consegue entender sobre o assunto saúde que lhe é transmitido.
O conceito de literacia para a saúde abre espaços de diálogos e compreende todos os atores
sociais envolvidos no sistema de saúde: população, gestores, profissionais e Estado. Dessa
maneira, a pessoa se torna capaz de potencializar sua tomada de decisão mantendo uma melhora
na saúde devido a uma habilidade de comunicação e utilização das informações adquiridas.
Considerações finais
Após as discussões realizadas, é relevante esclarecer que essas páginas não tiveram a
pretensão de extenuar todos os aspectos apresentados na epistemologia bachelardiana, mas sim
apresentar uma visão geral da teoria da formação do
“
espírito científico
”
e das noções de
obstáculos epistemológicos no que se refere aos conceitos de saúde propondo novas perguntas
e trespassando barreiras conceituais e investigativas.
O presente estudo elucida que o conhecimento não é fruto de uma ideia pura e simples
de um autor que dita saberes que remetem apenas a sapiências. Em outras palavras, o produto
da ciência advém de conhecimentos anteriormente existentes e que não deve ser ratificado por
feitos precoces, mas para ampliar e permitir discursos que reorganizem o sistema do
conhecimento.
O desenvolvimento do conceito de literacia para a saúde amplia o olhar e as ações como
estratégias para uma efetiva promoção da saúde e passa a atender a uma necessidade de gestão
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Literacia para a saúde e ciência da saúde: Um diálogo epistemológico com Gaston Bachelard
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consciente da pessoa sobre sua própria saúde com a finalidade de contribuir para melhorias no
seu bem-estar físico, social, mental e emocional.
Os estudos de Bachelard contribuem para um diálogo relevante no campo dos conceitos
que envolvem saúde e sua promoção. E, por fim, como renovação desses saberes consolida as
investigações na área da literacia para a saúde como a proposta de melhorar o nível de
informação acerca da saúde, apreensão, investimento e gestão.
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Luciana Moura Caetano VELUDO e Marta Regina FARINELLI
Temas em Educ. e Saúde,
Araraquara, v. 18, n. 00, e022015, 2022 e-ISSN 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16815 16
Como referenciar este artigo
VELUDO, L. M. C.; FARINELLI, M. R. Literacia para a saúde e ciência da saúde: Um diálogo
epistemológico com Gaston Bachelard.
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e022015, 2022. e-ISSN: 2526-3471. DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16815
Submetido em
: 25/07/2022
Revisões requeridas em
: 03/09/2022
Aprovado em
: 20/09/2022
Publicado em
: 30/11/2022
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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Health literacy and health science: an epistemological dialogue with Gaston Bachelard
Temas em Educ. e Saúde,
Araraquara, v. 18, n. 00, e022015, 2022 e-ISSN 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16815 1
HEALTH LITERACY AND HEALTH SCIENCE: AN EPISTEMOLOGICAL
DIALOGUE WITH GASTON BACHELARD
LITERACIA PARA A SAÚDE E CIÊNCIA DA SAÚDE: UM DIÁLOGO
EPISTEMOLÓGICO COM GASTON BACHELARD
ALFABETIZACIÓN EN SALUD Y CIENCIA DE LA SALUD: UN DIÁLOGO
EPISTEMOLÓGICO CON GASTON BACHELARD
Luciana Moura Caetano VELUDO
1
Marta Regina FARINELLI
2
ABSTRACT
: This is a theoretical study with the following objectives: to discuss Gaston
Bachelard’s theory of the “scientific spirit” and the notions of “epistemological obstacles” with
the concepts of health; to discuss health literacy with the manifestation of the
“scientific spirit”.
This study is exploratory and a documentary and bibliographic research of Gaston Bachelard’s
works and other scientific and documentary productions that support health concepts and health
literacy. From the results found, it is possible to highlight the discussion between the
Bachelardian epistemology, health concepts and health literacy that disrupts health archetypes
and highlights the participation of the social actors involved in the health system. It is
considered that Bachelard’s
epistemological observations are responsible for the renewal of
health scientific knowledge and consolidate investigations in the area of health literacy, as a
proposal to improve the level of information, apprehension, investment and management of
health.
KEYWORDS
: Sciences. Epistemology. Gaston Bachelard. Health literacy. Health.
RESUMO
: É um estudo teórico com os seguintes objetivos: dialogar sobre a teoria do
“
espírito científico
”
e as noções de “obstáculos epistemológicos” de Gaston Bachelard com
os conceitos de saúde; discutir a literacia para a saúde com à manifestação do “espírito
científico”.
O estudo é exploratório, pesquisa documental e bibliográfica, em obras de Gaston
Bachelard e em outras produções científicas e documentais que embasam conceitos de saúde,
literacia para a saúde. Dos resultados encontrados destaca-se a discussão entre a
epistemologia bachelardiana, conceitos de saúde e a literacia para a saúde que rompem com
os arquétipos de saúde e evidencia a participação dos atores sociais envolvidos no sistema de
saúde. Considera-se que as observações epistemológicas de Bachelard respondem pela
renovação dos saberes científicos de saúde e consolidam as investigações na área da literacia
para a saúde, como proposta de melhorar o nível de informação, apreensão, investimento e
gestão da saúde.
PALAVRAS-CHAVE
: Ciências. Epistemologia. Gaston Bachelard. Literacia para a saúde.
Saúde.
1
University of Business and Social Sciences (UCES), Buenos Aires
–
Argentina. PhD student in Business and
Social Sciences. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8747-4297. E-mail: luciana.veludo@uftm.edu.br
2
Federal University of Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba
–
MG
–
Brazil. Professor of the Department of Social
Work. PhD in Social Work (UNESP). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0536-4017. E-mail:
martafarinelli@gmail.com
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Luciana Moura Caetano VELUDO and Marta Regina FARINELLI
Temas em Educ. e Saúde,
Araraquara, v. 18, n. 00, e022015, 2022 e-ISSN 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16815 2
RESUMEN
: Se trata de un estudio teórico con los siguientes objetivos: discutir la teoría del
“espíritu científico” y las nociones de “obstáculos epistemológicos” de Gaston Bachelard con
los conceptos de salud; discutir la alfabetización en salud con la manifestació
n del “espíritu
científico”. Es un estudio exploratorio, de investigación documental y bibliográfica en las
obras de Gaston Bachelard y otras producciones científicas y documentales que sustentan los
conceptos de salud y alfabetización en salud. Entre los resultados encontrados, destaca la
discusión entre la epistemología bachelardiana, los conceptos de salud y la alfabetización en
salud, rompiendo con los arquetipos de salud y destacando la participación de los actores
sociales involucrados en el sistema de salud. Se considera que las observaciones
epistemológicas de Bachelard dan cuenta de la renovación de los conocimientos científicos en
salud y consolidan las investigaciones en el área de alfabetización en salud, como propuesta
para mejorar el nivel de información, aprehensión, inversión y gestión de la salud.
PALABRAS CLAVE
: Ciencias. Epistemología. Gaston Bachelard. Alfabetización en salud.
Salud.
Introduction
Starting from the premise that, until the second half of the 19th century, only theologians
and philosophers produced knowledge about men and society (GIL, 2019), this study proposes
to understand the role of a social investigation in the area of health in the light of
epistemological observations about the formation of the "scientific spirit" and the
"epistemological obstacle" of Gaston Bachelard.
The French philosopher, Gaston Bachelard (1884-1962), focused on the works of his
life in epistemology and philosophy of science, mainly the Sciences of Nature. In 1938, he
published The Formation of
the Scientific Spirit
, in which he explores the various
epistemological obstacles. In his work, the philosopher emphasizes the relevance that such
obstacles need to be overcome in order to emerge a truly scientific mentality. As Bachelard
(1972) understands, the collapses between common knowledge and science result from
scientific progress that addresses an evolved science that comes with the marks of modernity.
Bachelard, through the theory of the "scientific spirit", sought to find paths to knowledge
through epistemological ruptures with normal or natural sciences, because the very pragmatic
notion of scientific knowledge about something refers to an epistemological obstacle.
The choice to contextualize health literacy in health sciences through
Bachelard’s
theory
is due to the philosophical axis of this theory that challenges the linear progress of science, and
presumes epistemological ruptures from scientific views of the world. Otherwise, it is possible
to infer that this
Bachelard’s
theory has the pedagogical capacity to provide scientific
knowledge of health science with the power to find another definition of health other than the
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Health literacy and health science: an epistemological dialogue with Gaston Bachelard
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inductive thought that the absence of the disease is the result of a healthy body. Saboga-Nunes
(2014b) says that to meet this goal, the pathogenic approach seeks the origin of the disease in
order to control and treat it.
According to Moraes (2012, p. 17, our translation), it is in the 19th century that the
biomedical model appropriates a scientific discourse on health and disease "establishing new
cause and effect relationships for diseases and leading to the objectification of the analysis and
objectification of the patient and consequent loss of his identity". According to Saboga-Nunes
et al
. (2019), a strategic way to extend discussions about health, beyond this biomedical model,
would be for the individual to take over knowledge and recognize what they are and how their
living and working conditions reflect on their health and quality of their lives. Thus, it is
necessary for the person to establish a salutogenic focus, that is, to seek elements that lead to
the maintenance and promotion of his health.
By breaking with thought, a biomedical model, it can be said that there are no healthy
or sick people, but rather investments in health that enhance the adoption of healthier lifestyles
(SABOGA-NUNES, 2014b). Such investments should be established with collective actions,
from various actors (the person, health professionals, policies, governments) that contribute to
the improvement of living and health conditions, the person and the population. Therefore, it
requires changes in the behavior of individuals and changes in the environment, considering
the social determinants present in social realities. Individuals do not have complete freedom to
choose healthy lifestyles. This is limited by factors such as accessibility, social economic,
among others.
In his
work The Formation of the
Scientific Spirit Bachelard (1996), he presents the
"scientific spirit", as a concept of epistemological character that allows dialogue about health
and science, and transfers a new look, another parameter, to the formal, concrete concepts that
permeate the immediate capture of empirical data, established by academic sciences in general
and by health sciences. According to Bachelard (1996) the "scientific spirit" is more formative
than normative because it flees from apparent identities, from homogeneity in search of
dynamic, diversifying and rectifier thoughts of absolute certainties.
In Bachelard's words (1996, p. 17, our translation), "knowledge of the real is light that
always casts some shadows. It is never immediate and full." In his studies, Bachelard (1996)
reveals that the image of immediate knowledge is an obstacle to scientific progress, because in
science nothing is ready or also constructed, but that it is formed when knowledge is not
questioned and remains anchored in the first experience or in the generalized experience,
becoming static. The victory over these epistemological obstacles, which block thought, is the
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Luciana Moura Caetano VELUDO and Marta Regina FARINELLI
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very formation of the "scientific spirit". The "scientific spirit" reorganizes all its "knowledge"
that, to be scientific, must confront its spontaneous prosuspensions.
To overcome some paradigms and epistemological obstacles that involved health
conceptions, health literacy is presented as a new direction to health promotion that responds
to the demands related to quality of life and healthy lifestyle as well as disease prevention and
contributes to the maintenance of a well-being, physical, mental and social as proposed by the
World Health Organization (WHO).
In 2009, in Nairobi, at the 7th Global Conference on Health Promotion, it was concluded
that
health literacy
, translated into Portuguese by health literacy or: health literacy, is an
emerging concept that approximates health and literacy as a way of dealing with the critical
conditions of the individual's life. Even if there are some concepts about health literacy, in this
document its definition corresponds to the "degree to which people are able to access,
understand, evaluate and communicate information to engage with the demands of different
health contexts, in order to promote and maintain good health throughout life" (WHO, 2009, p.
10, our translation).
Triviño (2015, p. 17, our translation) emphasizes in his studies that "philosophical
thinking that can feed on hypotheses and theories will always start from certain scientific
bases". In this sense, when contemplating the world, it can be inferred that it is composed of
phenomena and objects of various natures, which, in turn, contribute to the notion of reality
inherent to each person. Thus, in the course of this article it will be understood that Bachelard
presents a world that does not consist of a combination of finished and defined things, but
always constantly changing, and therefore scientific thought advances as people and
communities renew themselves. The scientific spirit will always break with epistemological
obstacles by questioning knowledge, reformulating hardened intellectual problems and habits.
This is a theoretical study of scientific and academic relevance, as it expands the debates
on health promotion, considering the complex character of the epistemology of health science
anchored in Bachelard's epistemological theory. Thus, the aim of this study is to understand in
Bachelard's epistemology contributions that provide the reader with a different view of
conceptions and discourses of health that go beyond conceptual barriers. For this, the theory of
the "scientific spirit" and the epistemological obstacles of the said author will be presented, in
order to discuss new ways of promoting health and thinking about health science. Health
literacy may emerge as a manifestation of this "scientific spirit", as well as a compass that is
the guide of this path to be followed.
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Temas em Educ. e Saúde,
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Methodological procedures
When the subject is very broad, sometimes it is necessary to delimit a theory to plan an
exploratory study that enables research (TRIVIÑO, 2015). The present study is exploratory and
uses documentary research, as well as literature review in a narrative way (CORDEIRO
et al.
,
2007).
In the first stage, a bibliographic survey was carried out in works by the author Gaston
Bachelard, to map the descriptions referring to the theory of the formation of the "scientific
spirit" and the senses of epistemological obstacle. The choice for the works of said author was
given by the way that develops the "scientific spirit", that is, critical and dialectical. From the
works studied, the authors chose: The formation of the scientific spirit of 1938; The
epistemology of 1971, works that meet the objectives proposed in this theoretical essay. It is
emphasized that it was used for this study of more recent and translated editions.
The authors used documents that bring concepts of health and health literacy discussed
in organizations and collective meetings such as: the World Health Organization, International
Conferences and scientific articles that also support health literacy in authors whose aspect of
study relates more effectively to salutogenesis, health promotion. And also, to documents such
as the Ottawa Charter, the result of the first International Conference on Health Promotion, held
in Ottawa, Canada, in 1986; Federal Constitution of 1988 and Nairobi Document (KANJ;
MITIC, 2009).
Results and discussions
Two categories for discussion were found from the theoretical and documentary
mappings carried out:
The "scientific spirit", epistemological obstacles and concepts of health: a dialectic with
Gaston Bachelard
Bachelard's thought (1996, p. 17, our translation), in one of his main works,
The
Formation of the Scientific
Spirit, is very well represented in this clipping: "the act of knowing
is given against a previous knowledge, destroying poorly established knowledge, overcoming
what, in the spirit itself, is an obstacle to spiritualization". For the author, the spiritualization of
knowledge is the act of breaking pre-established prejudices and foundations and before the
mysteries of reality and facts never infer that a known fact is consequently a wealth, a ready
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and finished response. It is important to point out that when the author speaks of "poorly
established knowledge" he criticizes the act of giving meaning to an object or something from
the usefulness of it. In this
way, it is necessary to destroy the convictions on this already
established fact and formulate new problems, new questions and let the "scientific spirit"
manifest itself.
For Bachelard (1996), an epistemological obstacle consists in the closing of an
unquestioned knowledge such as habits and intellectual sciences, which were useful one day,
but may, at another time, impair scientific knowledge on the same subject hereinafter solved or
answered.
However, would science have a limit to its knowledge? Bachelard (2006, p. 23, our
translation) also questions:
Does the concept of limit of scientific knowledge have an absolute meaning?
Is it really possible to draw the boundaries of scientific thought? Are we truly
locked up in an objectively closed domain? Will we be slaves to an immutable
reason? Is the spirit a kind of organic instrument, invariable as hand, limited
as sight? Is he at least subject to a regular evolution in connection with an
organic evolution? These are many questions, multiple and connected, which
put at stake an entire philosophy and which should give a primary interest to
the studies of the progress of scientific thought.
For Bachelard (2006), the frontier of scientific knowledge is not in his inability to solve
certain problems, difficulties or human dreams, but represents a momentary parking lot of
thought. The author concludes this statement by saying that "it would be desired that each
science could propose a kind of five-year plan" (p. 25, our translation), because, in this way,
knowledge, which was previously limited by a certain concept coming from some empirical
experiment, could answer new questions or concerns in order to confirm or refute it. In the
exercise of these ideas, the "scientific spirit" is biased to value them in excess, which ends up
opposing a circulation of values and polarizes the problem that Bachelard (1996) calls "inertia
to the spirit" (scientific).
In other words, scientific knowledge, on any topic, should not be limited and static. It is
necessary to open spaces to dialogue with studies and concepts and leave the contemplation of
it for the construction of a new response or deconstruction of an old concept. The search for
epistemological understanding of a scientific problem is due to the fact that this knowledge
provides basic and methodological tools to researchers (ÁVILA, 2019), so that they produce
accurate and technical-level answers capable of leading the researcher to confront
hypotheses/assumptions and demonstrate valid conclusions.
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When the scientific problem enters the area of health, Lage (1995, p. 248, our
translation) states that "health sciences are typically frontier sciences", are in contact with
medicine, biology, chemistry, but also with electronics and human sciences, and researchers
who combine this knowledge in the best way advanced in the field to research. Health, as a
science, allows the tangency of its concepts with several aspects that involve human life, that
is, the answers come from its interface not only with medicine, but also with biology,
pharmacology, chemistry, social sciences, among others.
In the field of health sciences, this understanding of the boundaries of scientific
knowledge and Bachelard's definitions of epistemological obstacles may break with some
paradigms that clothe the concept of health and the promotion of social and personal well-being.
According to Saboga-Nunes, Freitas and Cunha (2016), health has been conceptualized for its
antithesis, that is, health as absence of disease or illness, even with broader definitions and
discussed collectively in international organizations and by scholars in the area.
In consensus with Bachelard's theory, Saboga-Nunes's argument is an example of an
intrinsic idea (health as absence of disease) limited by some borders and which, over the years,
has acquired abusive clarity, and caused public and private health agencies to target their efforts
to combat the elimination of the disease. Another consequence was the decrease in investments
in health promotion. Otherwise, focusing on curative health overlaps health promotion,
distancing from the integral health of the person.
The concept of health most referenced in scientific studies is that of the WHO, who, on
April 7, 1948, stated that "Health is the state of the most complete physical, mental and social
well-being and not just absence of disease" (WHO, 2014, p. 1, our translation). At the end of
the 20th century, the WHO added to this definition the one established in its Ottawa Charter
(WHO, 1986, p. 1, our translation) that:
In order to achieve a state of complete physical, mental and social well-being,
the individual or group must be able to identify and realize their aspirations,
to meet their needs in the environment and to modify or adapt. Thus, health is
understood as a resource for life and not as a purpose of life; health is a
positive concept that accentuates social and personal resources.
In Brazil, health is a right guaranteed by law and it is the duty of the State to maintain
it, as presented in Art. 196 of the Federal Constitution: "health is the right of all and the duty of
the State, guaranteed through social and economic policies aimed at reducing the risk of disease
and other injuries and universal and equal access to actions and services for its promotion,
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protection and recovery" (BRASIL, 1988). The right is guaranteed legally, but it is not enduring
according to the demands of the different and diverse social realities of the country.
The
2008 World Health Report
(WHO, 2008) addresses the need to implement efforts
in the development of "primary health care", because it understands that this system is capable
of placing the citizen at the center of health care reaching the highest level of health in order to
"maximize equity and solidarity". In any case, health does not symbolize the same thing for all
people, because, according to Scliar (2007), the concept of health contemplates the social,
political, economic and cultural aspects of the person. Therefore, the health of an individual
will vary according to his philosophical, religious, scientific concepts, moral values and
diversify according to the social, historical and economic moment that he is inserted.
The study by Rocha and David (2015) brings arguments about the causality of the
health-disease process when considering that the health conditions of the individual or the
collective are related to the sociocultural environment of these and not only as a biological
manifestation. From this perspective, the author evidences the need to consider the social
determinants of health, life history, social context and what would be unbalancing the biological
conditions of this person beyond epidemiological conditions.
The new approaches that study the social determinations of the health and disease
process, such as Social Medicine in Latin America and Collective Health in Brazil, together
with health promotion movements in Canada, show that health and disease also depend on the
socioeconomic conditions of individuals. In other words, aspects such as employment, income,
living environment and values imply in maleconic or beneficial results for people's health
(ROCHA; DAVID, 2015).
The brief compiled of these definitions is consistent with one of Bachelard's
epistemological obstacle (1996), when he states that "an epistemological obstacle is embedded
in unquestioned knowledge" (p. 19, our translation). Otherwise, it is understood that the
generalities of concepts and studies involving health and its promotion become epistemological
obstacles that can and should be questioned, in view of the changes in the way of life of people,
families and societies that are more likely to understand, signify and manage their lives. In
agreement with Bachelard's "scientific spirit" and expanding the boundaries of health
definitions and health promotion systems is the author Saboga-Nunes (2000) who proposes a
way to guide and perceive reality when he warns that the person has the ability to manage his
life and consequently the stressful factors that affect his health.
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Health literacy as a manifestation of the "scientific spirit"
It is possible to infer, from the punctuated questions, that the "scientific spirit"
permeated the development of research and concepts of health and its promotion, because,
through a scientific demand, the problem was being formulated and renewed. When Bachelard
(1996, p. 17, our translation) introduces the notion of epistemological obstacle, he studies,
through epistemological and psychological analysis, the barriers to the formation of scientific
knowledge. In the words of said author "it is in terms of obstacles that the problem of scientific
knowledge must be posed". As an epistemological obstacle, we identified the tendency to limit
scientific knowledge with regard to the concept of health science, preventing these definitions
from advancing beyond these conceptual boundaries. According to Okan
et al
. (2019), the
concepts, in addition to stipulating a shared understanding of words, define indicators and
measures of research. It is important to have concepts such as sharing this knowledge, but not
as limiting data of a knowledge.
Historically, some health movements have been identified as International Conferences
on Health Promotion, promoted by who, studies of social determinations in health in an attempt
to a scientific reorientation based on empirical observations of people and their social relations.
According to Rocha and David (2015, p. 132, our translation), it is from these movements that
Social Medicine breaks out in France, and that health focuses not on the disease, but its
promotion: "In the post-war period, the WHO's conception of health at the end of the 1970s
refers to the need to integrate medical care in the fight against the causes of the disease". In the
period mentioned, this uprising also sensitized the Pan American Health Organization
(PAHO/OPAS) which ended up proposing policies and projects of health interventions, in
countries with different historical backgrounds such as Chile and Sweden.
For the authors mentioned in the previous paragraph, the theme Social Determinants of
Health (SSD), which conceptually relate economic, social, cultural, ethnic/racial, psychological
and behavioral factors to the appearance of health problems, reveal another way of thinking and
understanding health as a promotion of well-being and not only as a treatment of physical
illness.
One of the changes in the paradigms of thinking about health happened after the Alma-
Ata Conference in 1986, when the "Primary Health Care" movement was driven, prioritizing,
as health values, social justice, the right to better health for all, participation and solidarity
(WHO, 2008).
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In 1986, after the "International Conference on Health Promotion" held in Ottawa,
Canada, a Charter was adopted on the directions for building a new public health movement
worldwide. Thus, the promotion of citizen health ceases to be an inherent responsibility of the
"Health Sectors", and becomes a process that provides citizens and the community with the
possibility of controlling their health through a change of lifestyle, in order to achieve a
complete level of "well-being" (WHO, 1986).
Meeting a new perspective of thinking about health promotion and contrary to the notion
of health from a biomedical perspective, that a person is fundamentally healthy and throughout
his life is exposed to external agents that harm him and cause diseases (SABOGA-NUNES,
2000), a positive concept of health emerges that notifies personal resources, and physical
capacities as precursors of Health Promotion. In congruence with this approach, Saboga-Nunes
(2014b) unveils the concept of health literacy, "as the awareness of the learning person and
active in the development of their understanding, management and investment skills, favorable
to health promotion". In this sense, life is more than surviving and health promotion is about
thriving and allowing people to increase control over their health" (SABOGA-NUNES;
FREITAS; CUNHA, 2016).
Health literacy is a relatively new term and has become a focus of interest on the part of
the scientific community. Still on the concept of health literacy, it is important to mention that
the term health literacy was first mentioned by Simonds in 1974 in the context of health
education in schools. However, academically, the first scientific paper appeared in the 1980s,
the second in the early 1990s and in 2006 more than 100 articles had already been published
(OKAN
et al
., 2019, p. 5
).
For the World Health Organization (WHO, 1998), the understanding of health literacy
"implies obtaining a level of knowledge, personal skills and trust that allows taking measures
to improve personal and community health, changing personal lifestyles and living conditions."
Thus, health literacy represents more than a person's ability to read pamphlets and seek a health
professional. Better levels of health literacy mean greater access of health information and the
possibility of using this knowledge in order to effectively promote their own health (SABOGA-
NUNES; FREITAS; CUNHA, 2016).
In any case, this concept, still under construction, allows people who are part of a
community to unlink their active and passive roles when it comes to ensuring their own health.
For, if on the one hand there are some health professionals who have their own statutes and
languages and sometimes difficult to decipher, on the other, the citizen who finds himself with
the possibility of understanding the information to manage and invest in health. In this context,
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it is important to highlight that both professionals and users of the public health network
respond to a health policy, whether municipal or federal, which regulates investments,
establishes norms and procedures that, in most cases, do not stop enabling the well-being of the
citizen, but only, in an emergency way, meet specific demands and does not offer individualized
care and care.
In a first instance, health literacy is effective through the communication process so that
one is convinced that the person understands what physicians and other health professionals are
instructing him. It also involves the investment capacity of the citizen who becomes able to
choose what will contribute to his health, and also covers the management competence of this
individual, because it aggregates resources that will contribute to the search for his health and
well-being (SABOGA-NUNES; FREITAS; CUNHA, 2016).
The study of health literacy shows an imbalance between what the Health System offers
the person and what they really need to understand what would be best to become healthy.
Healthy citizens make less use of medicines, health services, among others, dishonoring
municipalities and consequently the State (MARQUES, 2015). Other studies such as those by
Farinelli
et al
. (2017) and Lamanauskas and Augiene (2019) demonstrated that the scope of
health literacy reaches public and private health systems as a guide and support to users and
professionals. In addition to these levels, it can be said that health literacy is of interest, at
various levels, such as social, cultural, economic, all people.
Dialoguing with Bachelard (1996), the concepts of health embedded in pathogenic
thinking, that is, of only treatment of the disease, becomes an epistemological obstacle, which
can, over time, impose limits on scientific research. The discussion of health promotion from
the perspective of health literacy brings a new parameter that combines factors that
instrumentalize the citizen for the identification, search and management of the issues that have
determined and that can promote their health. When analyzing the levels of health literacy, it is
possible to have a dimension of the quality of life, resilience and well-being of people in adverse
living conditions (SABOGA-NUNES, 2014a).
The care of the population offered in the health sectors from the perspective of health
literacy increases the possibilities of treatment and guidance for the citizen to make more
conscious choices, since only the increase in health information does not collaborate with the
person who cannot understand about the health issue that is transmitted to him. The concept of
health literacy opens spaces for dialogue and comprises all social actors involved in the health
system: population, managers, professionals and the State. Thus, the person becomes able to
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enhance his decision making by maintaining an improvement in health due to a communication
ability and use of the acquired information.
Final considerations
After the discussions, it is important to clarify that these pages did not intend to
extenuate all aspects presented in Bachelardiana epistemology, but to present an overview of
the theory of the formation of the "scientific spirit" and the concepts of epistemological
obstacles with regard to health concepts proposing new questions and crossing conceptual and
investigative barriers.
The present study elucidates that knowledge is not the result of a pure and simple idea
of an author who dictates knowledge that refers only to wisdom. In other words, the product of
science comes from previously existing knowledge that should not be ratified by early deeds,
but to expand and allow discourses that reorganize the system of knowledge.
The development of the concept of health literacy broadens the look and actions as
strategies for an effective health promotion and begins to meet a need for conscious
management of the person about his own health in order to contribute to improvements in his
physical, social, mental and emotional well-being.
Bachelard's studies contribute to a relevant dialogue in the field of concepts involving
health and its promotion. And finally, as renewal of this knowledge consolidates research in the
area of health literacy as the proposal to improve the level of information about health, seizure,
investment and management.
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Health literacy and health science: an epistemological dialogue with Gaston Bachelard
Temas em Educ. e Saúde,
Araraquara, v. 18, n. 00, e022015, 2022 e-ISSN 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16815 15
How to refer to this article
VELUDO, L. M. C.; FARINELLI, M. R. Health literacy and health science: An epistemological
dialogue with Gaston Bachelard.
Temas em Educ. e Saúde
, Araraquara, v. 18, n. 00, e022015,
2022. e-ISSN: 2526-3471. DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16815
Submitted
: 25/07/2022
Revisions required
: 03/09/2022
Approved
: 20/09/2022
Published
: 30/11/2022
Processing and publication by the Editora Ibero-Americana de Educação.
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