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As dificuldades no cotidiano escolar dos professores do estado do Ceará no processo de retorno ao modelo presencial
Temas em Educ. e Saúde,
Araraquara, v. 18, n. 00, e022016, 2022 e-ISSN 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16967
1
AS DIFICULDADES NO COTIDIANO ESCOLAR DOS PROFESSORES DO
ESTADO DO CEARÁ NO PROCESSO DE RETORNO AO MODELO PRESENCIAL
LAS DIFICULTADES EN LA RUTINA ESCOLAR DE LOS MAESTROS EN EL
ESTADO DE CEARÁ EN EL PROCESO DE VOLVER AL MODELO PRESENCIAL
THE DIFFICULTIES IN THE SCHOOL ROUTINE OF TEACHERS IN THE STATE
OF CEARÁ IN THE PROCESS OF RETURNING TO THE FACE-TO-FACE MODEL
Aline Soares CAMPOS
1
George Almeida LIMA
2
Stela Lopes SOARES
3
Jean Silva CAVALCANTE
4
Heraldo Simões FERREIRA
5
RESUMO
: O Governo do Ceará liberou a realização das aulas presenciais, na Educação
Básica, para todos os municípios cearenses. O objetivo dessa pesquisa lançar luz sobre os
estressores que fomentam o esgotamento docente, a fim de ajudar, apoiar e capacitar os
professores para enfrentar os próximos desafios da pandemia. Será avaliado os indicadores de
saúde mental dos professores do estado do Ceará visando auxiliar na compreensão dos efeitos
do confinamento e do isolamento social, das dificuldades docentes no cotidiano escolar e na
capacidade de trabalho durante o processo de retorno gradual ao ambiente de trabalho. Foram
convocados a participar da pesquisa professores da educação infantil ao ensino superior, das
esferas públicas e privada. O estudo da síndrome do esgotamento profissional nos ambientes
organizacionais mostrou-se em patamares médios, ligando assim o alerta da necessidade de
atenção por parte dos gestores com as consequências que o Burnout aos professores.
PALAVRAS-CHAVE
: Docentes. Burnout. Educação.
1
Secretaria da Educação do Estado do Ceará (SEDUC/CE), Fortaleza
–
CE
–
Brasil. Coordenadora Escolar.
Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar (GEPEFE/UECE). Mestrado em
Educação (UFC). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2205-4697. E-mail: aline.campos@prof.ce.gov.br
2
Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Petrolina
–
PE
–
Brasil. Mestrando em Educação
Física. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0899-0427. E-mail: george_almeida.lima@hotmail.com
3
Centro Universitário Inta (UNINTA), Sobral
–
CE
–
Brasil. Coordenadora do Curso de Educação Física.
Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar (GEPEFE/UECE). Doutorado em
Educação (PPGE/UECE). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5792-4429. E-mail: stela.soares@uninta.edu.br
4
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real
–
Portugal. Doutorando em Ciências do
Desporto. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7084-8408. E-mail: dr.jeancavalcantefisio@gmail.com
5
Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza
–
CE
–
Brasil. Professor Adjunto do Curso de Educação
Física e Professor Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação. Coordenador do Grupo de Estudos
e Pesquisas em Educação Física Escolar (GEPEFE/UECE). Doutorado em Saúde Coletiva (UECE). ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-1999-7982. E-mail: heraldo.simoes@uece.br
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Aline Soares CAMPOS; George Almeida LIMA; Stela Lopes SOARES; Jean Silva CAVALCANTE e Heraldo Simões FERREIRA
Temas em Educ. e Saúde,
Araraquara, v. 18, n. 00, e022016, 2022 e-ISSN 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.16967
2
RESUMEN
: El Gobierno de Ceará lanzó la realización de clases presenciales, en Educación
Básica, para todos los municipios de Ceará. El objetivo de esta investigación es arrojar luz
sobre los factores estresantes que alimentan el agotamiento de los docentes para ayudar,
apoyar y empoderar a los docentes para enfrentar los próximos desafíos de la pandemia. Se
evaluarán los indicadores de salud mental de los docentes del estado de Ceará para ayudar a
comprender los efectos del encierro y el aislamiento social, las dificultades de los docentes en
el cotidiano escolar y en la capacidad de trabajo durante el proceso de retorno gradual al
ambiente laboral. Fueron invitados a participar de la investigación docentes desde el jardín
de infancia hasta la enseñanza superior, de los ámbitos público y privado. El estudio del
síndrome de burnout profesional en ambientes organizacionales se mostró en niveles medios,
vinculando así la alerta de la necesidad de atención por parte de los directivos con las
consecuencias que tiene el Burnout para los docentes.
PALABRAS-CLAVE
: Profesores. Burnout. Educación.
ABSTRACT
: The Government of Ceará released the realization of face-to-face classes, in
Basic Education, for all municipalities in Ceará. The aim of this research is to shed light on the
stressors that fuel teacher burnout in order to help, support and empower teachers to face the
upcoming challenges of the pandemic. The mental health indicators of teachers in the state of
Ceará will be evaluated in order to help understand the effects of confinement and social
isolation, teachers' difficulties in school routine and work capacity during the process of
gradual return to the work environment. Teachers from kindergarten to higher education, from
public and private spheres, were invited to participate in the research. The study of the
professional burnout syndrome in organizational environments was shown to be at average
levels, thus linking the alert of the need for attention on the part of managers with the
consequences that Burnout has for teachers.
KEYWORDS:
Teachers. Burnout syndrome. Education.
Introdução
O Governo do Ceará liberou a realização de aulas presenciais, em qualquer nível de
educação, para todos os municípios cearenses. No entanto, para tentar garantir um quadro
epidemiológico estável, o Estado também divulgou o novo protocolo setorial da Educação
(SESA-CE, 2022), que estabelece diretrizes para o funcionamento das escolas diante da
pandemia de Covid-19. Apesar da aparente tranquilidade para a realização da abertura das
escolas, o ambiente não é positivo, pois em meados de dezembro de 2021, com a introdução e,
logo, dominância da nova variante Ômicron, teve início a terceira onda epidêmica em Fortaleza.
Sobretudo nas três primeiras semanas de 2022, há uma progressão exponencial do número de
casos diários até então inédita. Ao contrário das ondas an
teriores, o aumento foi “explosivo”,
como tem sido relatado em diversas regiões onde a Ômicron se estabelece.
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A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE (2021),
mostra que a pandemia da COVID-19 produziu impactos severos na saúde pública, assim como
nas condições de vida das pessoas na maior parte dos países. Enquanto a pandemia segue o seu
curso, há a necessidade das diferentes instâncias do governo, entidades da sociedade civil e
profissionais de diferentes ocupações em prover assistência à saúde, segurança e recursos
necessários à redução da velocidade de difusão da doença e na mitigação de seus resultados na
saúde das pessoas. As medidas de isolamento social e de restrição da mobilidade promoveram
a aceleração de mudanças nas rotinas de trabalho por meio da informatização e digitalização de
processos e procedimentos e no incremento da prestação de serviços
on-line
, especialmente no
campo da educação, nas atividades administrativas, logística e vendas.
Em meio a essa dinâmica social, foram implementadas medidas que interromperam
completamente ou limitaram fortemente a reunião de pessoas em locais públicos e o
funcionamento de entidades educacionais. A duração dessas medidas, promovidas de forma
extensiva, refletiu nas interações sociais e de trabalho, na empregabilidade e sustento
econômico das pessoas, assim como comprometeram as atividades de escolas, universidades e
demais centros de formação profissional (BARROS-DELBEN
et al
., 2020). Do ponto de vista
da saúde mental, verifica-se a exacerbação de sintomas dos transtornos de humor,
especialmente ansiedade, depressão, além de episódios de pânico, estresse agudo e pós-
traumático, não apenas entre os profissionais, mas na população de modo geral
(DELLAZZANA-ZANON
et al
., 2020; TEMSAH
et al
., 2020).
O retorno ao trabalho durante a pandemia COVID-19 é uma pressão social constante
para muitos trabalhadores e empresas, inclusive no setor educacional. Nesse sentido, além de
preparar o ambiente de trabalho, ao dispor de normas de proteção e cuidado de higienização, é
importante investigar o grau de vulnerabilidade dos trabalhadores em termos de saúde mental
(SOMINSKY
et al
., 2020).
Segundo Rǎducu e Stǎnculescu (2022)
, neste momento muito difícil para as pessoas em
todo o mundo, os professores são um dos grupos de trabalhadores mais desafiados, pois foram
forçados a se adaptar em pouco tempo a novas formas de trabalho que incluem distanciamento
social em sala de aula, ensino híbrido e instruções virtuais. Desta forma, para Silva e Feitosa
(2022), o distanciamento social provocado pela pandemia exigiu novas configurações
educacionais, acarretando no aumento dos níveis de ansiedade, dificuldades de comunicação e
falta de suporte administrativo. Todos esses novos estressores próximos ao Burnout somaram-
se ao medo gerado pela COVID-19, que quase todas as pessoas experimentaram. Essas novas
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demandas somaram-se às cargas de trabalho já cheias dos professores, que mesmo antes da
COVID-19 já afetavam o esgotamento e a ansiedade dos professores (PRESSLEY, 2021). Com
todas as novas demandas que os professores enfrentaram ao voltar às salas de aula durante a
pandemia da COVID-19, eles também enfrentaram a possibilidade de novas ansiedades e
estressores.
Pesquisas anteriores descobriram que o esgotamento e a escassez de professores
afetaram a motivação e o sucesso acadêmico do aluno, conforme Shen
et al
. (2015) e Sutcher
et al
. (2019). Com os desafios que os professores estão enfrentando durante a pandemia da
COVID-19, é vital entender como os novos desafios podem influenciar o esgotamento dos
professores. Um relatório para a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e
Cultura
–
UNESCO, segundo Holmes
et al.
(2020) enfatizou a importância de estudar os efeitos
psicológicos da pandemia nos trabalhadores mais desafiados para que o conhecimento
adquirido possa ser aplicado para prevenir e aliviar as dificuldades encontradas por eles em
outros surtos futuros previstos. Além disso, pesquisas contínuas podem levar a descobertas mais
generalizáveis sobre o impacto da COVID-19 na satisfação, eficácia e esgotamento dos
professores.
Nesse sentido, nosso objetivo é responder a esse chamado lançando luz sobre os
estressores que contribuem para o esgotamento docente, a fim de ajudar a apoiar e capacitar os
professores para enfrentar os próximos desafios da pandemia. Será avaliado os indicadores de
saúde mental dos professores do estado do Ceará visando auxiliar na compreensão dos efeitos
do confinamento e do isolamento social, das dificuldades docentes no cotidiano escolar, e na
capacidade de trabalho durante o processo de retorno gradual ao ambiente de trabalho. Foram
convidados a participar da pesquisa professores da educação infantil ao ensino superior, das
esferas públicas e privadas.
Fundamentação Teórica
O estresse tem um significado diferente para pessoas diferentes em condições
diferentes. A primeira definição mais geral de estresse foi a proposta de Hans Selye (1926, apud
BAQUTAYAN; ABD GHAFAR; GUL, 2017), onde o pesquisador aponta que o estresse é a
resposta inespecífica do corpo a qualquer demanda pessoal. Hans Hugo Bruno Selye, também
conhecido como o “pai do estresse”, observou que os pacientes com uma variedade de doenças
tinham muitos dos mesmos “nã
o especificados" sintomas que eram a resposta comum a
estímulos experimentados pelo corpo.
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O estresse envolve um estressor e uma resposta ao estresse. O estímulo iminente ou
percebido que inicia a resposta ao estresse é chamado de estressor. A resposta ao estresse é
controlada pelo sistema nervoso autônomo. O cérebro funciona consciente e
inconscientemente, a atividade do cérebro inconsciente varia entre estar relaxado quando
dormimos e tenso quando nos encontramos ou antecipamos um desafio ou uma ameaça. Quando
o cérebro funciona bem, a mudança entre estados acontece em segundos quando necessário,
como um evento inesperado ao dirigir um carro: a resiliência do cérebro é normal e o cérebro
reage ao desafio com uma resposta adaptativa e transitória ao estresse que é construtivo e
aumenta o desempenho. Isso é estresse positivo e é chamado de estresse transitório ou agudo.
Depois, o estado relaxado da homeostase é restabelecido (MCEWEN; AKIL, 2020).
Se uma pessoa está sob uma carga de estresse muito alta por um período muito longo, o
cérebro inconsciente perde a resiliência semelhante à mola mecânica. Isso leva à disfunção da
resposta adaptativa ao estresse transitório
–
e a uma variedade de disfunções físicas, mentais,
emocionais, psicológicas e sociais. Isso reduz o desempenho geral e pode afetar negativamente
a saúde. Nessa situação, o estresse tornou-se negativo e destrutivo e é chamado de estresse
persistente ou crônico. Se a disfunção autonômica persistir, pode levar a doenças como
depressão, ansiedade, Síndrome de Estresse Pós-Traumático, hipertensão, dor crônica, redução
da fertilidade, diabetes, doenças cardíacas e/ou acidente vascular cerebral (BRUDEY
et al
,
2015).
O estresse faz parte da existência humana, cujo significado é sinônimo de “pressão”,
“tensão” ou “insistência”, é o modo como reagimos física e emocionalmente às mudanças. Seu
estudo na atualidade demonstra a necessidade de medidas preventivas e de controle do estresse
excessivo, principalmente nos professores, seja pelo trabalho coletivo ou individual dentro da
escola. As relações do indivíduo com seu trabalho acabam por influenciar na vida dos
profissionais gerando um novo estilo de vida. O estresse e a depressão são considerados pela
legislação do Brasil, desde 1999, como doença ocupacional, estando incluído entre os
Transtornos mentais e do comportamento relacionados com o trabalho o grupo V da CID-10,
conforme o Regulamento da Previdência Social (BRASIL, 1999).
Embora possuam muitas semelhanças, principalmente no que diz respeito aos sintomas,
é preciso entender as diferenças importantíssimas entre estresse e Burnout. Na síndrome de
Burnout estar no ambiente, por si só, já causa ansiedade e profundo esgotamento que leva a
maioria dos pacientes a ter uma crise. O quadro da síndrome de Burnout chega em etapas:
primeiro, o paciente tem uma drástica queda no rendimento e duvida das próprias capacidades,
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o que o leva a sentir-se extremamente desmotivado. A seguir, a agressividade toma conta, o que
colabora para a liberação de hormônios em ataques de ira, como o cortisol, produzido na
suprarrenal. Esse processo bioquímico colabora com o aumento do risco de diabetes,
cardiopatias, doenças autoimunes, crises de pânico e depressão. E, por fim, chega o
esgotamento total (SALVAGIONI
et al.,
2017).
A síndrome de Burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio
psicológico grave, que aparece em resposta à estressores emocional e interpessoal crônicos
decorrentes do trabalho. O grau de comprometimento de um trabalhador devido a síndrome,
pode ser avaliado por diversas Escalas de mensuração, sendo a de maior destaque e
representatividade a MBI (GS)
–
Maslach Burnout Inventory − e suas variações. Essa escala
foi desenvolvida, no início de 1980, por Maslach
et al.
(1997), que se basearam em um modelo
de três fatores para medir a exaustão emocional (sensação de estar sobrecarregado e esgotado
emocional e fisicamente), o cinismo (compreendido como a dimensão interpessoal, apresenta-
se como uma resposta negativa e insensível aos vários aspectos do trabalho) e a realização
pessoal (autoavaliação que traz sentimentos de incompetência e falta de realização e
produtividade no trabalho).
Na acepção da palavra, Cinismo deriva do termo grego
kynismós
, que é um sistema e
doutrina filosófica dos cínicos. Em sentido figurado o cinismo tem uma conotação pejorativa
sendo que designa um homem agudo e mordaz que não respeita os sentimentos e valores
definidos nem como convenções sociais.
Segundo Cardoso (2017), cada fase da carreira consiste de um percurso construído por
meio de vivências, onde o professor se desenvolve exercendo influência sobre o ambiente em
que atua e sendo ao mesmo tempo influenciado por ele. Essa movimentação é marcada por
etapas que apresentam características específicas, de acordo com os espaços, os tempos e as
condições de trabalho. Esse processo de construção da carreira docente considera os desafios e
as exigências da sociedade e também as especificidades que marcam o segmento de ensino no
qual o professor atua, a infra estruturada da escola (estrutura física, número de alunos por turma,
recursos didáticos, etc.), relação com seus pares e com os alunos. Para alguns professores, esse
percurso pode acontecer de modo tranquilo enquanto para outros pode se apresentar como um
momento marcado por tensões, dúvidas, angústias, medos, dilemas revelando-se assim um
processo complexo.
Segundo Huberman (2000), ao longo da trajetória profissional docente, os professores
vivenciam o “Ciclo de vida profissional docente” organizado em f
ases que expressam como é
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a inserção do professor na carreira, seus medos, suas dúvidas, suas angústias e seus
questionamentos que marcam essa etapa. O decorrer desse ciclo, é marcado por fases que
evidenciam a distância entre as ideias e as realidades que surgem, o sentimento de libertação e
pertença, sensação de rotina e motivação elevada. E o encerramento desse ciclo é marcado por
sentimentos como serenidade, conformismo e menos sensibilidade à avaliação dos outros.
Ressalta, ainda, que não há uma linearidade entre as etapas e que elas não são estáticas;
sendo assim, os professores podem expressar, ao mesmo tempo, características de etapas
diferentes, pois o tempo e a forma como cada um vivencia essas etapas são influenciados por
fat
ores diversos. Dessa forma, não se pode “enquadrar” todos os professores de um determinado
tempo de serviço em um mesmo estágio. É preciso considerar também a singularidade que é
trazida por cada professor em sua bagagem sociocultural e as influências que o ambiente de seu
trabalho exerce sobre ele.
Huberman (2000) aponta que é difícil estudar o ciclo de vida profissional docente com
a pretensão de extrair perfis-tipo, sequências e fases, pois integrar num mesmo grupo os
indivíduos que parecem partilhar traços em comum, é uma tarefa arriscada, uma vez que é
preciso considerar as diferenças nos meios sociais.
Para o referido autor, a fase de entrada na carreira ou a fase do tateamento corresponde
aos três primeiros anos da docência. Essa fase é caracterizada
pela “sobrevivência” e pela
“descoberta”. A “sobrevivência” relaciona
-se com
[...] o tatear constante, a preocupação consigo próprio, a distância entre os
ideais e as realidades cotidianas da sala de aula, a fragmentação do trabalho,
a dificuldade em fazer face, simultaneamente, à relação pedagógica e à
transmissão de conhecimentos, a oscilação entre relações demasiado íntimas
e demasiado distantes, dificuldades com alunos que criam problemas, com
material didático inadequado, etc. (HUBERMAN, 2000, p. 39).
Já o aspecto da “descoberta” relaciona
-se ao entusiasmo do professor diante das
novidades que vão sendo desvendadas a cada dia em sua profissão e que estão atreladas à
experiência de se sentir responsável por uma turma ou por se sentir como um membro de um
grupo. O autor destaca ainda que esses dois aspectos podem ser vividos em paralelo, sendo que
a descoberta permite suportar o aspecto da sobrevivência.
A fase da estabilização corresponde ao período entre 4 e 6 anos de carreira, caracterizada
pelo comprometimento definitivo na docência e, ainda, como uma fase de tomada de
responsabilidades.
A fase da diversificação e a fase do questionamento ocorrem no mesmo período, qual
seja entre 7 e 25 anos de carreira. No entanto, a primeira é marcada pela quebra da rigidez
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pedagógica (quando o professor começa a fazer experimentações) enquanto a segunda é
caracterizada pelas dúvidas quanto à carreira e quanto à profissão.
Já no período entre 25 e 35 anos de carreira, ocorre a fase da serenidade e distanciamento
afetivo, identificadas por características que vão ao encontro do nome que a define. Neste
mesmo período observa-se, também, a fase do conservadorismo, marcada pelo distanciamento
das lamentações frente à profissão. Por último, a fase do desinvestimento, que ocorre entre 35
e 40 anos de docência, quando os professores se afastam da profissão e dedicam o seu tempo
mais a si próprios.
Segundo Cardoso (2017) no Brasil, a fase do desinvestimento tem ocorrido bem mais
cedo. As más condições de trabalho como, por exemplo, os baixos salários, a dupla e até tripla
jornada de trabalho, a falta de recursos materiais nas escolas, infraestrutura precária, número
alto de alunos por turma, são alguns dos elementos que contribuem para que os professores não
invistam na carreira. Além disso, muitos professores, por não encontrarem nessa profissão o
retorno que almejavam, desistem logo no início da carreira.
As características apontadas por Huberman (2000) em cada fase do ciclo de vida
profissional nos ajudam a compreender as ações dos professores em seus processos formativos
e a pensarmos que, em cada etapa, devemos considerar as particularidades, os sentimentos, os
dilemas e os desafios que eles estão vivenciando. O autor ressalta que não há sequências
universais, pois o desenvolvimento das mesmas se relaciona com as condições sociais e com o
período histórico; e ainda que cada etapa prepara a seguinte, mas sem determinar a ordem da
fase que virá na sequência.
Retomando a definição inicial: O estresse tem um significado diferente para pessoas
diferentes em condições diferentes, e considerando que
a carreira docente é uma trajetória
relacional, marcada historicamente, contextualmente vivenciada e construída, é necessário nesta
avaliação diferenciar os professores alvo em relação às diferentes fases da carreira docente. Desta
forma, considerando as premissas anteriormente descritas, defrontamo-nos com a seguinte questão
problemática norteadora do estudo: Quais são as percepções de professores da rede de ensino do
estado do Ceará, sobre as suas dificuldades pedagógicas no cotidiano escolar? Qual o efeito da
pandemia e o retorno presencial sobre a saúde mental dos professores?
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Metodologia
Caracterizamos a pesquisa como qualitativa do tipo exploratório, utilizando como
instrumento de pesquisa um formulário do “
Google Forms
”, aplicado via
WhatsApp
, composto
por dois instrumentos: a) questionário demográfico e sócio-ocupacional; e b) escala MBI-GS
(
Maslach Burnout Inventory
) e de suas três dimensões (exaustão, cinismo e eficácia no
trabalho). A interpretação das informações coletadas foi realizada por meio de programas
estatísticos (
Excel
e SPSS) e análise de conteúdo. Os questionários foram enviados para os
grupos de pesquisa dos pesquisadores responsáveis, nas quatro redes de trabalho (Federal,
Estadual, Municipal e Particular), e representando a abrangência das modalidades de ensino,
desde a educação infantil até o ensino superior. No total, recebemos o retorno de 93 formulários
e que após análise de conteúdo, 11 foram descartados devido ao baixo índice de respostas ao
questionário, ficando desta forma, com 82 formulários completos.
No início do formulário foi apresentado o termo de consentimento livre e esclarecido,
onde o participante da pesquisa concorda de livre e espontânea vontade participar da pesquisa.
O último item perguntado foi quais as principais causas do seu cansaço laboral? No questionário
sócio-ocupacional foi solicitado informações sobre a faixa etária, gênero, grau de escolaridade,
Rede de trabalho, modalidade de atuação, cargo e tempo de atuação no setor Educacional. Na
questão do tempo de atuação na escola/universidade foi utilizada as faixas etárias
características, apontadas por Huberman (2000), em cada fase do ciclo de vida profissional,
conforme o Quadro 1.
Quadro 1
–
Modelo síntese
Fonte: Michael Huberman (2000)
O instrumento de coleta de dados, o
Maslach Burnout Inventory
–
General
Survey
(MBI-
GS), é o instrumento utilizado para mensurar Burnout em praticamente todos os contextos
ocupacionais de trabalho (MASLACH; SCHAUFELI; LEITER, 2001), tendo sido validada
para a realidade brasileira por Schuster
et al.,
(2015). Como já foi mencionado, a MBI-GS é
composta de três dimensões: Exaustão Emocional (EE), com seis variáveis, Cinismo (CI), com
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quatro variáveis, e Eficácia no Trabalho (ET), com seis variáveis; é composta também de uma
escala likert de 7 pontos (zero a seis), que varia de nunca até todo dia. As 16 variáveis da escala
foram adaptadas para o português por Tamoyo (2009, p. 75, apud FERREIRA, 2011), conforme
o Quadro 2.
Quadro 2
–
Variáveis por fator de Burnout MBI-GS
Fonte: Ferreira (2011)
Cada variável é avaliada em duas dimensões: frequência e intensidade. A escala de
frequência é rotulada em cada ponto e varia de 1
(“algumas vezes por ano ou menos”) a 6
(“todos os dias”). Um valor zero é dado quando o respondente indicar (marcando uma caixa
separada) que nunca experimentou o sentimento ou a atitude descrita. A escala de intensidade
varia de 1 ('muito leve, quase imperceptível') a 7 ('grande, muito forte'). Também não é
preenchido (e, portanto, recebe um valor zero) se o respondente marcar “nunca” na escala de
frequência.
Para a análise dos resultados obtidos neste estudo foram seguidas as recomendações de
Mclaurine (2008), o qual estabelece que a mensuração dos índices de Burnout com a escala
MBI-GS, são definidos que valores até 1,33 são considerados baixos, entre 1,34 e 2,43
intermediários a acima de 2,43 altos, o mesmo autor ainda especifica os índices por fatores,
conforme a Tabela 1.
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