image/svg+xmlAs dificuldades no cotidiano escolar dos professores do estado do Ceará no processo de retorno ao modelo presencial Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022016, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.169671 AS DIFICULDADES NO COTIDIANO ESCOLAR DOS PROFESSORES DO ESTADO DO CEARÁ NO PROCESSO DE RETORNO AO MODELO PRESENCIALLAS DIFICULTADES EN LA RUTINA ESCOLAR DE LOS MAESTROS EN EL ESTADO DE CEARÁ EN EL PROCESO DE VOLVER AL MODELO PRESENCIALTHE DIFFICULTIES IN THE SCHOOL ROUTINE OF TEACHERS IN THE STATE OF CEARÁ IN THE PROCESS OF RETURNING TO THE FACE-TO-FACE MODELAline Soares CAMPOS1George Almeida LIMA2Stela Lopes SOARES3Jean Silva CAVALCANTE4Heraldo Simões FERREIRA5RESUMO: O Governo do Ceará liberou a realização das aulas presenciais, na Educação Básica, para todos os municípios cearenses. O objetivo dessa pesquisa lançar luz sobre os estressores que fomentam o esgotamento docente, a fim de ajudar, apoiar e capacitar os professores para enfrentar os próximos desafios da pandemia. Será avaliado os indicadores de saúde mental dos professores do estado do Ceará visando auxiliar na compreensão dos efeitos do confinamento e do isolamento social, das dificuldades docentes no cotidiano escolar e na capacidade de trabalho durante o processo de retorno gradual ao ambiente de trabalho. Foram convocados a participar da pesquisa professores da educação infantil ao ensino superior, das esferas públicas e privada. O estudo da síndrome do esgotamento profissional nos ambientes organizacionais mostrou-se em patamares médios, ligando assim o alerta da necessidade de atenção por parte dos gestores com as consequências que o Burnout aos professores. PALAVRAS-CHAVE: Docentes. Burnout. Educação. 1Secretaria da Educação do Estado do Ceará (SEDUC/CE), Fortaleza CE Brasil. Coordenadora Escolar. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar (GEPEFE/UECE). Mestrado em Educação (UFC). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2205-4697. E-mail: aline.campos@prof.ce.gov.br 2Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Petrolina PE Brasil. Mestrando em Educação Física. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0899-0427. E-mail: george_almeida.lima@hotmail.com 3Centro Universitário Inta (UNINTA), Sobral CE Brasil. Coordenadora do Curso de Educação Física. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar (GEPEFE/UECE). Doutorado em Educação (PPGE/UECE). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5792-4429. E-mail: stela.soares@uninta.edu.br 4Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real Portugal. Doutorando em Ciências do Desporto. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7084-8408. E-mail: dr.jeancavalcantefisio@gmail.com 5Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza CE Brasil. Professor Adjunto do Curso de Educação Física e Professor Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação. Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar (GEPEFE/UECE). Doutorado em Saúde Coletiva (UECE). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1999-7982. E-mail: heraldo.simoes@uece.br
image/svg+xmlAline Soares CAMPOS; George Almeida LIMA; Stela Lopes SOARES; Jean Silva CAVALCANTE e Heraldo Simões FERREIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022016, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.169672 RESUMEN: El Gobierno de Ceará lanzó la realización de clases presenciales, en Educación Básica, para todos los municipios de Ceará. El objetivo de esta investigación es arrojar luz sobre los factores estresantes que alimentan el agotamiento de los docentes para ayudar, apoyar y empoderar a los docentes para enfrentar los próximos desafíos de la pandemia. Se evaluarán los indicadores de salud mental de los docentes del estado de Ceará para ayudar a comprender los efectos del encierro y el aislamiento social, las dificultades de los docentes en el cotidiano escolar y en la capacidad de trabajo durante el proceso de retorno gradual al ambiente laboral. Fueron invitados a participar de la investigación docentes desde el jardín de infancia hasta la enseñanza superior, de los ámbitos público y privado. El estudio del síndrome de burnout profesional en ambientes organizacionales se mostró en niveles medios, vinculando así la alerta de la necesidad de atención por parte de los directivos con las consecuencias que tiene el Burnout para los docentes. PALABRAS-CLAVE: Profesores. Burnout. Educación.ABSTRACT: The Government of Ceará released the realization of face-to-face classes, in Basic Education, for all municipalities in Ceará. The aim of this research is to shed light on the stressors that fuel teacher burnout in order to help, support and empower teachers to face the upcoming challenges of the pandemic. The mental health indicators of teachers in the state of Ceará will be evaluated in order to help understand the effects of confinement and social isolation, teachers' difficulties in school routine and work capacity during the process of gradual return to the work environment. Teachers from kindergarten to higher education, from public and private spheres, were invited to participate in the research. The study of the professional burnout syndrome in organizational environments was shown to be at average levels, thus linking the alert of the need for attention on the part of managers with the consequences that Burnout has for teachers. KEYWORDS: Teachers. Burnout syndrome. Education.Introdução O Governo do Ceará liberou a realização de aulas presenciais, em qualquer nível de educação, para todos os municípios cearenses. No entanto, para tentar garantir um quadro epidemiológico estável, o Estado também divulgou o novo protocolo setorial da Educação (SESA-CE, 2022), que estabelece diretrizes para o funcionamento das escolas diante da pandemia de Covid-19. Apesar da aparente tranquilidade para a realização da abertura das escolas, o ambiente não é positivo, pois em meados de dezembro de 2021, com a introdução e, logo, dominância da nova variante Ômicron, teve início a terceira onda epidêmica em Fortaleza. Sobretudo nas três primeiras semanas de 2022, há uma progressão exponencial do número de casos diários até então inédita. Ao contrário das ondas anteriores, o aumento foi “explosivo”, como tem sido relatado em diversas regiões onde a Ômicron se estabelece.
image/svg+xmlAs dificuldades no cotidiano escolar dos professores do estado do Ceará no processo de retorno ao modelo presencial Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022016, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.169673 A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE (2021), mostra que a pandemia da COVID-19 produziu impactos severos na saúde pública, assim como nas condições de vida das pessoas na maior parte dos países. Enquanto a pandemia segue o seu curso, há a necessidade das diferentes instâncias do governo, entidades da sociedade civil e profissionais de diferentes ocupações em prover assistência à saúde, segurança e recursos necessários à redução da velocidade de difusão da doença e na mitigação de seus resultados na saúde das pessoas. As medidas de isolamento social e de restrição da mobilidade promoveram a aceleração de mudanças nas rotinas de trabalho por meio da informatização e digitalização de processos e procedimentos e no incremento da prestação de serviços on-line, especialmente no campo da educação, nas atividades administrativas, logística e vendas. Em meio a essa dinâmica social, foram implementadas medidas que interromperam completamente ou limitaram fortemente a reunião de pessoas em locais públicos e o funcionamento de entidades educacionais. A duração dessas medidas, promovidas de forma extensiva, refletiu nas interações sociais e de trabalho, na empregabilidade e sustento econômico das pessoas, assim como comprometeram as atividades de escolas, universidades e demais centros de formação profissional (BARROS-DELBEN et al., 2020). Do ponto de vista da saúde mental, verifica-se a exacerbação de sintomas dos transtornos de humor, especialmente ansiedade, depressão, além de episódios de pânico, estresse agudo e pós-traumático, não apenas entre os profissionais, mas na população de modo geral (DELLAZZANA-ZANON et al., 2020; TEMSAH et al., 2020). O retorno ao trabalho durante a pandemia COVID-19 é uma pressão social constante para muitos trabalhadores e empresas, inclusive no setor educacional. Nesse sentido, além de preparar o ambiente de trabalho, ao dispor de normas de proteção e cuidado de higienização, é importante investigar o grau de vulnerabilidade dos trabalhadores em termos de saúde mental (SOMINSKY et al., 2020). Segundo Rǎducu e Stǎnculescu (2022), neste momento muito difícil para as pessoas em todo o mundo, os professores são um dos grupos de trabalhadores mais desafiados, pois foram forçados a se adaptar em pouco tempo a novas formas de trabalho que incluem distanciamento social em sala de aula, ensino híbrido e instruções virtuais. Desta forma, para Silva e Feitosa (2022), o distanciamento social provocado pela pandemia exigiu novas configurações educacionais, acarretando no aumento dos níveis de ansiedade, dificuldades de comunicação e falta de suporte administrativo. Todos esses novos estressores próximos ao Burnout somaram-se ao medo gerado pela COVID-19, que quase todas as pessoas experimentaram. Essas novas
image/svg+xmlAline Soares CAMPOS; George Almeida LIMA; Stela Lopes SOARES; Jean Silva CAVALCANTE e Heraldo Simões FERREIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022016, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.169674 demandas somaram-se às cargas de trabalho já cheias dos professores, que mesmo antes da COVID-19 já afetavam o esgotamento e a ansiedade dos professores (PRESSLEY, 2021). Com todas as novas demandas que os professores enfrentaram ao voltar às salas de aula durante a pandemia da COVID-19, eles também enfrentaram a possibilidade de novas ansiedades e estressores. Pesquisas anteriores descobriram que o esgotamento e a escassez de professores afetaram a motivação e o sucesso acadêmico do aluno, conforme Shen et al. (2015) e Sutcher et al. (2019). Com os desafios que os professores estão enfrentando durante a pandemia da COVID-19, é vital entender como os novos desafios podem influenciar o esgotamento dos professores. Um relatório para a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura UNESCO, segundo Holmes et al.(2020) enfatizou a importância de estudar os efeitos psicológicos da pandemia nos trabalhadores mais desafiados para que o conhecimento adquirido possa ser aplicado para prevenir e aliviar as dificuldades encontradas por eles em outros surtos futuros previstos. Além disso, pesquisas contínuas podem levar a descobertas mais generalizáveis sobre o impacto da COVID-19 na satisfação, eficácia e esgotamento dos professores. Nesse sentido, nosso objetivo é responder a esse chamado lançando luz sobre os estressores que contribuem para o esgotamento docente, a fim de ajudar a apoiar e capacitar os professores para enfrentar os próximos desafios da pandemia. Será avaliado os indicadores de saúde mental dos professores do estado do Ceará visando auxiliar na compreensão dos efeitos do confinamento e do isolamento social, das dificuldades docentes no cotidiano escolar, e na capacidade de trabalho durante o processo de retorno gradual ao ambiente de trabalho. Foram convidados a participar da pesquisa professores da educação infantil ao ensino superior, das esferas públicas e privadas. Fundamentação Teórica O estresse tem um significado diferente para pessoas diferentes em condições diferentes. A primeira definição mais geral de estresse foi a proposta de Hans Selye (1926, apud BAQUTAYAN; ABD GHAFAR; GUL, 2017), onde o pesquisador aponta que o estresse é a resposta inespecífica do corpo a qualquer demanda pessoal. Hans Hugo Bruno Selye, também conhecido como o “pai do estresse”, observou que os pacientes com uma variedade de doenças tinham muitos dos mesmos “não especificados" sintomas que eram a resposta comum a estímulos experimentados pelo corpo.
image/svg+xmlAs dificuldades no cotidiano escolar dos professores do estado do Ceará no processo de retorno ao modelo presencial Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022016, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.169675 O estresse envolve um estressor e uma resposta ao estresse. O estímulo iminente ou percebido que inicia a resposta ao estresse é chamado de estressor. A resposta ao estresse é controlada pelo sistema nervoso autônomo. O cérebro funciona consciente e inconscientemente, a atividade do cérebro inconsciente varia entre estar relaxado quando dormimos e tenso quando nos encontramos ou antecipamos um desafio ou uma ameaça. Quando o cérebro funciona bem, a mudança entre estados acontece em segundos quando necessário, como um evento inesperado ao dirigir um carro: a resiliência do cérebro é normal e o cérebro reage ao desafio com uma resposta adaptativa e transitória ao estresse que é construtivo e aumenta o desempenho. Isso é estresse positivo e é chamado de estresse transitório ou agudo. Depois, o estado relaxado da homeostase é restabelecido (MCEWEN; AKIL, 2020). Se uma pessoa está sob uma carga de estresse muito alta por um período muito longo, o cérebro inconsciente perde a resiliência semelhante à mola mecânica. Isso leva à disfunção da resposta adaptativa ao estresse transitório e a uma variedade de disfunções físicas, mentais, emocionais, psicológicas e sociais. Isso reduz o desempenho geral e pode afetar negativamente a saúde. Nessa situação, o estresse tornou-se negativo e destrutivo e é chamado de estresse persistente ou crônico. Se a disfunção autonômica persistir, pode levar a doenças como depressão, ansiedade, Síndrome de Estresse Pós-Traumático, hipertensão, dor crônica, redução da fertilidade, diabetes, doenças cardíacas e/ou acidente vascular cerebral (BRUDEY et al, 2015). O estresse faz parte da existência humana, cujo significado é sinônimo de “pressão”, “tensão” ou “insistência”, é o modo como reagimos física e emocionalmente às mudanças. Seu estudo na atualidade demonstra a necessidade de medidas preventivas e de controle do estresse excessivo, principalmente nos professores, seja pelo trabalho coletivo ou individual dentro da escola. As relações do indivíduo com seu trabalho acabam por influenciar na vida dos profissionais gerando um novo estilo de vida. O estresse e a depressão são considerados pela legislação do Brasil, desde 1999, como doença ocupacional, estando incluído entre os Transtornos mentais e do comportamento relacionados com o trabalho o grupo V da CID-10, conforme o Regulamento da Previdência Social (BRASIL, 1999). Embora possuam muitas semelhanças, principalmente no que diz respeito aos sintomas, é preciso entender as diferenças importantíssimas entre estresse e Burnout. Na síndrome de Burnout estar no ambiente, por si só, já causa ansiedade e profundo esgotamento que leva a maioria dos pacientes a ter uma crise. O quadro da síndrome de Burnout chega em etapas: primeiro, o paciente tem uma drástica queda no rendimento e duvida das próprias capacidades,
image/svg+xmlAline Soares CAMPOS; George Almeida LIMA; Stela Lopes SOARES; Jean Silva CAVALCANTE e Heraldo Simões FERREIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022016, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.169676 o que o leva a sentir-se extremamente desmotivado. A seguir, a agressividade toma conta, o que colabora para a liberação de hormônios em ataques de ira, como o cortisol, produzido na suprarrenal. Esse processo bioquímico colabora com o aumento do risco de diabetes, cardiopatias, doenças autoimunes, crises de pânico e depressão. E, por fim, chega o esgotamento total (SALVAGIONI et al.,2017). A síndrome de Burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio psicológico grave, que aparece em resposta à estressores emocional e interpessoal crônicos decorrentes do trabalho. O grau de comprometimento de um trabalhador devido a síndrome, pode ser avaliado por diversas Escalas de mensuração, sendo a de maior destaque e representatividade a MBI (GS) Maslach Burnout Inventory − e suas variações. Essa escala foi desenvolvida, no início de 1980, por Maslachet al.(1997), que se basearam em um modelo de três fatores para medir a exaustão emocional (sensação de estar sobrecarregado e esgotado emocional e fisicamente), o cinismo (compreendido como a dimensão interpessoal, apresenta-se como uma resposta negativa e insensível aos vários aspectos do trabalho) e a realização pessoal (autoavaliação que traz sentimentos de incompetência e falta de realização e produtividade no trabalho). Na acepção da palavra, Cinismo deriva do termo grego kynismós, que é um sistema e doutrina filosófica dos cínicos. Em sentido figurado o cinismo tem uma conotação pejorativa sendo que designa um homem agudo e mordaz que não respeita os sentimentos e valores definidos nem como convenções sociais. Segundo Cardoso (2017), cada fase da carreira consiste de um percurso construído por meio de vivências, onde o professor se desenvolve exercendo influência sobre o ambiente em que atua e sendo ao mesmo tempo influenciado por ele. Essa movimentação é marcada por etapas que apresentam características específicas, de acordo com os espaços, os tempos e as condições de trabalho. Esse processo de construção da carreira docente considera os desafios e as exigências da sociedade e também as especificidades que marcam o segmento de ensino no qual o professor atua, a infra estruturada da escola (estrutura física, número de alunos por turma, recursos didáticos, etc.), relação com seus pares e com os alunos. Para alguns professores, esse percurso pode acontecer de modo tranquilo enquanto para outros pode se apresentar como um momento marcado por tensões, dúvidas, angústias, medos, dilemas revelando-se assim um processo complexo. Segundo Huberman (2000), ao longo da trajetória profissional docente, os professores vivenciam o “Ciclo de vida profissional docente” organizado em fases que expressam como é
image/svg+xmlAs dificuldades no cotidiano escolar dos professores do estado do Ceará no processo de retorno ao modelo presencial Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022016, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.169677 a inserção do professor na carreira, seus medos, suas dúvidas, suas angústias e seus questionamentos que marcam essa etapa. O decorrer desse ciclo, é marcado por fases que evidenciam a distância entre as ideias e as realidades que surgem, o sentimento de libertação e pertença, sensação de rotina e motivação elevada. E o encerramento desse ciclo é marcado por sentimentos como serenidade, conformismo e menos sensibilidade à avaliação dos outros. Ressalta, ainda, que não há uma linearidade entre as etapas e que elas não são estáticas; sendo assim, os professores podem expressar, ao mesmo tempo, características de etapas diferentes, pois o tempo e a forma como cada um vivencia essas etapas são influenciados por fatores diversos. Dessa forma, não se pode “enquadrar” todos os professores de um determinado tempo de serviço em um mesmo estágio. É preciso considerar também a singularidade que é trazida por cada professor em sua bagagem sociocultural e as influências que o ambiente de seu trabalho exerce sobre ele. Huberman (2000) aponta que é difícil estudar o ciclo de vida profissional docente com a pretensão de extrair perfis-tipo, sequências e fases, pois integrar num mesmo grupo os indivíduos que parecem partilhar traços em comum, é uma tarefa arriscada, uma vez que é preciso considerar as diferenças nos meios sociais. Para o referido autor, a fase de entrada na carreira ou a fase do tateamento corresponde aos três primeiros anos da docência. Essa fase é caracterizada pela “sobrevivência” e pela “descoberta”. A “sobrevivência” relaciona-se com [...] o tatear constante, a preocupação consigo próprio, a distância entre os ideais e as realidades cotidianas da sala de aula, a fragmentação do trabalho, a dificuldade em fazer face, simultaneamente, à relação pedagógica e à transmissão de conhecimentos, a oscilação entre relações demasiado íntimas e demasiado distantes, dificuldades com alunos que criam problemas, com material didático inadequado, etc. (HUBERMAN, 2000, p. 39). Já o aspecto da “descoberta” relaciona-se ao entusiasmo do professor diante das novidades que vão sendo desvendadas a cada dia em sua profissão e que estão atreladas à experiência de se sentir responsável por uma turma ou por se sentir como um membro de um grupo. O autor destaca ainda que esses dois aspectos podem ser vividos em paralelo, sendo que a descoberta permite suportar o aspecto da sobrevivência. A fase da estabilização corresponde ao período entre 4 e 6 anos de carreira, caracterizada pelo comprometimento definitivo na docência e, ainda, como uma fase de tomada de responsabilidades. A fase da diversificação e a fase do questionamento ocorrem no mesmo período, qual seja entre 7 e 25 anos de carreira. No entanto, a primeira é marcada pela quebra da rigidez
image/svg+xmlAline Soares CAMPOS; George Almeida LIMA; Stela Lopes SOARES; Jean Silva CAVALCANTE e Heraldo Simões FERREIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022016, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.169678 pedagógica (quando o professor começa a fazer experimentações) enquanto a segunda é caracterizada pelas dúvidas quanto à carreira e quanto à profissão. Já no período entre 25 e 35 anos de carreira, ocorre a fase da serenidade e distanciamento afetivo, identificadas por características que vão ao encontro do nome que a define. Neste mesmo período observa-se, também, a fase do conservadorismo, marcada pelo distanciamento das lamentações frente à profissão. Por último, a fase do desinvestimento, que ocorre entre 35 e 40 anos de docência, quando os professores se afastam da profissão e dedicam o seu tempo mais a si próprios. Segundo Cardoso (2017) no Brasil, a fase do desinvestimento tem ocorrido bem mais cedo. As más condições de trabalho como, por exemplo, os baixos salários, a dupla e até tripla jornada de trabalho, a falta de recursos materiais nas escolas, infraestrutura precária, número alto de alunos por turma, são alguns dos elementos que contribuem para que os professores não invistam na carreira. Além disso, muitos professores, por não encontrarem nessa profissão o retorno que almejavam, desistem logo no início da carreira. As características apontadas por Huberman (2000) em cada fase do ciclo de vida profissional nos ajudam a compreender as ações dos professores em seus processos formativos e a pensarmos que, em cada etapa, devemos considerar as particularidades, os sentimentos, os dilemas e os desafios que eles estão vivenciando. O autor ressalta que não há sequências universais, pois o desenvolvimento das mesmas se relaciona com as condições sociais e com o período histórico; e ainda que cada etapa prepara a seguinte, mas sem determinar a ordem da fase que virá na sequência. Retomando a definição inicial: O estresse tem um significado diferente para pessoas diferentes em condições diferentes, e considerando que a carreira docente é uma trajetória relacional, marcada historicamente, contextualmente vivenciada e construída, é necessário nesta avaliação diferenciar os professores alvo em relação às diferentes fases da carreira docente. Desta forma, considerando as premissas anteriormente descritas, defrontamo-nos com a seguinte questão problemática norteadora do estudo: Quais são as percepções de professores da rede de ensino do estado do Ceará, sobre as suas dificuldades pedagógicas no cotidiano escolar? Qual o efeito da pandemia e o retorno presencial sobre a saúde mental dos professores?
image/svg+xmlAs dificuldades no cotidiano escolar dos professores do estado do Ceará no processo de retorno ao modelo presencial Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022016, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.169679 Metodologia Caracterizamos a pesquisa como qualitativa do tipo exploratório, utilizando como instrumento de pesquisa um formulário do “Google Forms”, aplicado via WhatsApp, composto por dois instrumentos: a) questionário demográfico e sócio-ocupacional; e b) escala MBI-GS (Maslach Burnout Inventory) e de suas três dimensões (exaustão, cinismo e eficácia no trabalho). A interpretação das informações coletadas foi realizada por meio de programas estatísticos (Excele SPSS) e análise de conteúdo. Os questionários foram enviados para os grupos de pesquisa dos pesquisadores responsáveis, nas quatro redes de trabalho (Federal, Estadual, Municipal e Particular), e representando a abrangência das modalidades de ensino, desde a educação infantil até o ensino superior. No total, recebemos o retorno de 93 formulários e que após análise de conteúdo, 11 foram descartados devido ao baixo índice de respostas ao questionário, ficando desta forma, com 82 formulários completos. No início do formulário foi apresentado o termo de consentimento livre e esclarecido, onde o participante da pesquisa concorda de livre e espontânea vontade participar da pesquisa. O último item perguntado foi quais as principais causas do seu cansaço laboral? No questionário sócio-ocupacional foi solicitado informações sobre a faixa etária, gênero, grau de escolaridade, Rede de trabalho, modalidade de atuação, cargo e tempo de atuação no setor Educacional. Na questão do tempo de atuação na escola/universidade foi utilizada as faixas etárias características, apontadas por Huberman (2000), em cada fase do ciclo de vida profissional, conforme o Quadro 1.Quadro 1 Modelo síntese Fonte: Michael Huberman (2000) O instrumento de coleta de dados, o Maslach Burnout InventoryGeneral Survey (MBI-GS), é o instrumento utilizado para mensurar Burnout em praticamente todos os contextos ocupacionais de trabalho (MASLACH; SCHAUFELI; LEITER, 2001), tendo sido validada para a realidade brasileira por Schuster et al.,(2015). Como já foi mencionado, a MBI-GS é composta de três dimensões: Exaustão Emocional (EE), com seis variáveis, Cinismo (CI), com
image/svg+xmlAline Soares CAMPOS; George Almeida LIMA; Stela Lopes SOARES; Jean Silva CAVALCANTE e Heraldo Simões FERREIRA Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022016, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.1696710 quatro variáveis, e Eficácia no Trabalho (ET), com seis variáveis; é composta também de uma escala likert de 7 pontos (zero a seis), que varia de nunca até todo dia. As 16 variáveis da escala foram adaptadas para o português por Tamoyo (2009, p. 75, apud FERREIRA, 2011), conforme o Quadro 2. Quadro 2 Variáveis por fator de Burnout MBI-GS Fonte: Ferreira (2011) Cada variável é avaliada em duas dimensões: frequência e intensidade. A escala de frequência é rotulada em cada ponto e varia de 1 (“algumas vezes por ano ou menos”) a 6 (“todos os dias”). Um valor zero é dado quando o respondente indicar (marcando uma caixa separada) que nunca experimentou o sentimento ou a atitude descrita. A escala de intensidade varia de 1 ('muito leve, quase imperceptível') a 7 ('grande, muito forte'). Também não é preenchido (e, portanto, recebe um valor zero) se o respondente marcar “nunca” na escala de frequência. Para a análise dos resultados obtidos neste estudo foram seguidas as recomendações de Mclaurine (2008), o qual estabelece que a mensuração dos índices de Burnout com a escala MBI-GS, são definidos que valores até 1,33 são considerados baixos, entre 1,34 e 2,43 intermediários a acima de 2,43 altos, o mesmo autor ainda especifica os índices por fatores, conforme a Tabela 1.
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