image/svg+xmlGênero e formação docente: Uma revisão (as)sistemática da literatura Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 1 GÊNERO E FORMAÇÃO DOCENTE: UMA REVISÃO (AS)SISTEMÁTICA DA LITERATURA GÉNERO Y FORMACIÓN DOCENTE: UNA REVISIÓN (AS)SISTÉMICA DE LA LITERATURA GENDER AND TEACHER EDUCATION: AN (UN)SYSTEMATIC LITERATURE REVIEW Ivan FORTUNATO1Maria do Rosário Silveira PORTO2RESUMO: Este artigo tem como objetivo discutir a relação entre formação de professores e a temática sobre gênero por meio de uma revisão (as)sistemática da literatura. Trata-se de revisar parte da extensa bibliografia já produzida no Brasil sobre essa temática, buscando identificar seus avanços, entraves e lacunas. Como resultados, foram identificados alguns elementos repetitivos nos textos, focando a “formação” como elemento principal de fortalecimento da educação para transformação da sociedade patriarcal e heteronormativa. Isso nos levou a questionar essa fórmula mágica proposta, apresentando a formação do professorado como parte fundamental, porém não a única que poderá modificar o status quo.PALAVRAS-CHAVE: Diversidade. Docência. Educação. RESUMEN: Este artículo tiene como objetivo discutir la relación entre la formación docente y las cuestiones de género a través de una revisión (as)sistemática de la literatura. Se trata de revisar parte de la extensa bibliografía ya producida en Brasil sobre este tema, buscando identificar sus avances, obstáculos y vacíos. Como resultado, se identificaron algunos elementos repetitivos en los textos, centrándose en la “formación” como elemento principal de fortalecimiento de la educación para la transformación de la sociedad patriarcal y heteronormativa. Esto nos llevó a cuestionar esta fórmula mágica propuesta, presentando la formación docente como parte fundamental, pero no la única que puede cambiar el statu quo. PALABRAS CLAVE: Diversidad. Enseñanza. Educación. 1Instituto Federal de São Paulo (IFSP), Itapetininga SP Brasil. Docente na Coordenadoria de Formação Pedagógica. Doutorado em Desenvolvimento Humano e Tecnologias e Doutorado em Geografia (UNESP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1870-7528. E-mail: ivanfrt@yahoo.com.br 2Universidade de São Paulo (USP), São Paulo SP Brasil. Professora aposentada da Faculdade de Educação. Doutora em Educação (USP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1873-4526. E-mail: mdoporto@uol.com.br
image/svg+xmlIvan FORTUNATO e Maria do Rosario Silveira PORTO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 2 ABSTRACT: This paper aims to discuss the relationship between teacher education and gender issues through an (un)systematic literature review. It is about reviewing part of the extensive bibliography already produced in Brazil on this theme, seeking to identify its advances, obstacles and gaps. As a result, some repetitive elements were identified in the texts, focusing on “training” as the main element of strengthening education to transform the patriarchal and heteronormative society. This led us to question this proposed magic formula, presenting teacher education as a fundamental part, but not the only one that could change the status quo. KEYWORDS: Diversity. Teaching. Education. IntroduçãoAssim, professores e professoras mostram as tensões e contradições que permeiam suas vidas pessoais e profissionais sob a ótica das relações de gênero. Ora referendam papéis tradicionais reservados aos homens e às mulheres em nossa sociedade, ora procuram imprimir relações mais igualitárias em suas vidas e negar, ainda que parcialmente, alguns valores tradicionais de masculinidade e feminilidade. Vivenciam a tensão que caracteriza a vida pessoal e profissional de cada um ao abraçarem de modo distinto os significados de homem/provedor e “paizão” e da mulher que arca sozinha com seus projetos ou com a qual o homem pode dividir a responsabilidade pela família (VIANNA, 2002, p. 102-103).O objetivo deste artigo é escarafunchar possíveis relações entre as questões de gênero e a formação docente. Não se busca esgotar o assunto, mas estabelecer um panorama do que já foi pesquisado e desenvolvido tanto na formação inicial de professores (no Brasil, realizada nos cursos de graduação na modalidade licenciatura), quanto na formação continuada, principalmente a formação em exercício, ou seja, de docentes que estão nas salas de aula. Começamos pelo importante alerta feito por Vianna (2002) na epígrafe a respeito das tensões causadas pelas questões de gênero na escola, afinal, muitas (se não todas) são temas qualificados como tabu. Dizem respeito, como bem apontado pela autora, a possíveis contradições entre as expectativas sociais e as crenças individuais das professoras e dos professores.Como já foi delineado por Alícia Fernandez (1994), as chamadas “formas culturais” (prescrições de comportamento) adentram os muros escolares e tendem a designar o que cabe, em termos de valores e atitudes, aos homens e às mulheres, portanto, às meninas e aos meninos em idade escolar. Como foi bem expresso por Ataide e Sandano (2019, p. 730):
image/svg+xmlGênero e formação docente: Uma revisão (as)sistemática da literatura Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 3 Para que atitudes patriarcais e sexistas deixem se ser um problema ora atribuído como culpa das mulheres, ora como culpa dos homens, faz-se necessário que se eduquem meninos e meninas de forma que as atuais relações de gênero sejam transformadas e para que, sobretudo, as atitudes masculinas e preconceituosas em relação às mulheres sejam banidas. Assim, é necessário que se combata os paradigmas vigentes na escola, que ainda se apoiam nos dualismos clássicos, entre o modelo androcêntrico e a concepção feminista como a competição no lugar da cooperação e da hierarquia no lugar da igualdade.Essa ideia de “combater paradigmas” é algo que impacta diretamente no trabalho educativo desenvolvido cotidianamente, uma vez que cabe aos professores e professoras não só a transmissão de conteúdos, mas, também, a difícil tarefa de educar crianças e adolescentes (sem obliterar jovens e adultos). Se a analogia do combate faz sentido, então docentes fazem parte da linha de frente, tornando-se, pela opinião pública, os responsáveis por essa quebra de paradigma (embora a sociedade não esteja pendendo para essa ruptura).Mas, como isso se dá nas questões relacionadas a gênero e sexualidade? É possível a um professor ou a uma professora ditar regras de conduta aos estudantes sem deixar que suas próprias crenças e valores interfiram no processo de ensinar? Seria possível, também, realizar intervenções sem contradizer os valores aprendidos pelos estudantes em outros lugares, como na família e na sua comunidade?Para responder tais questionamentos, os responsáveis pela gestão educacional prontamente afirmam que a formação docente pode ser suficiente e, no caso dos docentes já atuantes na escola, a formação continuada dá conta do recado. O próprio Ministério da Educação brasileiro cuida disso, como visto, por exemplo, no “Curso Gênero e Diversidade na Escola” (BARRETO; ARAÚJO; PEREIRA, 2009), cujo Livro de Conteúdo foi prefaciado pelos ministros da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e pelo Ministério da Educação, respectivamente Nilcéa Freire, Edson Santos e Fernando Haddad. Nesse texto, eles reconhecem a escola como um lugar de violência de gênero e sexualidade (não apenas, pois também incluem a violência racial), ao mesmo tempo em que delegam aos docentes a promoção de uma “cultura de respeito a garantia dos Direitos Humanos, da equidade étnico-racial, de gênero e da valorização da diversidade, contribuindo para que a escola não seja um instrumento da reprodução de preconceitos” (FREIRE; SANTOS; HADDAD, 2009, p. 10). Ao ofertar esse referido curso – e outros similares, em âmbito local ou nacional – não lhes restam dúvidas de que a “formação de professores/as que trabalham com crianças e jovens é o caminho mais consistente e promissor para um mundo sem intolerância, mais plural e
image/svg+xmlIvan FORTUNATO e Maria do Rosario Silveira PORTO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 4 democrático” (p. 10). Não só isso, pois reconhecem a formação docente como “o primeiro passo” dado nessa direção mais justa, igualitária, humanitária. Esse ideal recai no seguinte círculo vicioso: quem forma quem? Ofertar formação, portanto, é fundamental e indispensável, mas não é uma fórmula mágica – nunca foi. Isso porque a formação é (quase) sempre externa, vinda de fora, de uma instituição, de um/a especialista, de um governo etc.Com isso, é necessário ressaltar os aspectos subjetivos das pessoas que se tornam docentes, tais como crenças e valores que promovem as tensões e contradições mencionadas na epígrafe: como é possível promover uma educação progressista sendo tradicional? Ou vice-versa? E o que significa, realmente, tradicional e progressista? Pode-se valorá-las no sentido de que uma é melhor que a outra? Dito de outra forma, como é possível predicar, por exemplo, que homens e mulheres tenham direitos e deveres iguais quando se acredita que as mulheres devem permanecer em casa, cuidando do lar e da criação dos filhos, enquanto o homem sai para trabalhar, promovendo o sustento da casa? Ou, como é que se pode pensar em difundir uma sociedade em que as pessoas são livres para amar e se casar com quem quiser, quando se repudia o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo? Por isso o alerta de Vianna (2002): a identidade docente é (re)construída pela biografia individual, perfazendo, assim, parte da reprodução ou da ruptura do status quo. Como registrou Brauner (2018, p. 132) “a escola e a universidade são assim, lugares privilegiados de permanências ou de rupturas”, porém é necessário, de alguma forma, “perturbar” os padrões normativos, pois as perturbações têm a ver com tentativas de ruptura. Contraditoriamente, essas perturbações parecem ser delegadas aos professores e às professoras que, segundo as autoridades educacionais, não tendo sido formados adequadamente para a diversidade, seguem reproduzindo comportamentos discriminatórios, heteronormativos e machistas. De certa forma, há mesmo uma tendência a culpabilizar docentes – e seu consequente despreparo – pela manutenção do status quo. Este artigo, então, tende a se desenvolver, conforme delineado no título, como uma revisão (as)sistemática a respeito da relação entre formação docente e gênero. Assistemática por dois motivos: primeiro porque existe uma enorme quantidade de produtos acadêmicos (teses, dissertações, artigos, livros) a respeito do tema - ou ao menos adjacente ao tema -, tornando hercúleo o esforço de sistematizar tudo isso3. Segundo, porque parte desse esforço já foi realizado pouco tempo atrás, em pesquisa que localizou cerca de cem mil trabalhos de pós-3Somente na base webqualisda CAPES é possível encontrar mais de 15 periódicos que têm a palavra gênero no nome; acesso em fev. 2020; além disso, Vianna et al.(2011) mapearam a produção acadêmica nacional sobre educação, gênero e sexualidade entre os anos de 1990 e 2006, reconhecendo seu crescimento.
image/svg+xmlGênero e formação docente: Uma revisão (as)sistemática da literatura Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 5 graduação produzidos no Brasil entre os anos de 2005 e 2015 sobre gênero e educação, dos quais foram analisados somente mínima porção disso tudo (FORTUNATO; DIAS, 2018)4. Aliás, sobre Formação de Professores e Gênero, vimos Cardoso, Bertoldo e Santos (2020, p. 1759) apontando em seu mapeamento que “cada vez mais, pesquisas se avolumam sobre o tema”. Os números de teses, dissertações e artigos têm crescido, de fato, exponencialmente.Nesse trabalho de sistematizar (parcialmente) verificamos, contudo, certa tendência a tratar como urgente a transformação do modo de pensar e conduzir as questões de gênero na educação escolar. Sobre os professores e professoras, destacou-se o papel fundamental no que foi chamado de “rompimento” com o preconceito, com o controle, com o machismo e com o silêncio que faz calar o assunto nas escolas. Destacamos, ainda, a inserção mais incisiva nos processos formativos, tendo o assunto sido incluído, muitas vezes, de forma reduzida apenas a uma disciplina, a um encontro anual e/ou a um docente que se importa.Especificamente sobre a formação de professores, também já foi notado que, até mesmo em lugares em que a igualdade entre gêneros é algo amplamente presente e aceito, o caminho a ser percorrido ainda é longo demais (FORTUNATO; MENA; SORAINEN, 2018). Isso se dá porque, como foi apontado no referido artigo, as chamadas “formas culturais” continuam a associar – e até reforçar – os papéis de homem e de mulher em uma sociedade binária, imprimindo crenças e padrões de comportamento. Ressalte-se, então, no papel fundamental (e consequente responsabilidade) de professores formadores de professores na transformação desse status quo, promovendo, como foi afirmado, uma perspectiva na qual o “diferente” passaria a ser a norma socialmente aceita, colocando no centro de tudo a ideia (e a prática) de justiça social – pessoas não devem ser discriminadas, recriminadas, diminuídas, feridas etc. pelo que são ou por suas opções.Dessa forma, partindo da primeira tentativa de sistematizar um estado de arte e dessa percepção mais ampla de que a sociedade ainda é heteronormativa, até mesmo onde pensa não ser, é que a revisão aqui proposta sobre a relação entre formação docente e gênero é algo apenas parcialmente sistemática. Acrescenta-se ainda, o fato de uma possível “saturação” de algumas ideias recorrentes em diversas publicações, tais como: a afirmação de que a universidade não dá conta de preparar o professor para a diversidade ou a ideia de que professores e professoras estão [sempre] sem preparo para lidar com questões de sexualidade e papéis de gênero 4Ao acessar o Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES em março de 2021, o número de trabalhos de pós-graduação defendidos que resultam com a combinação “educação” + “gênero” é superior à 216 mil, com dados de teses e dissertações entre 1987 e 2019. Somente em 2019, o número é superior a 15 mil. Disponível em: https://catalogodeteses.capes.gov.br/.
image/svg+xmlIvan FORTUNATO e Maria do Rosario Silveira PORTO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 6 (BRAUNER, 2018); a existência de postura conservadora de professoras e professores, restringindo estudantes a seus papéis de meninos e de meninas, não possibilitando discussões culturais, apenas biológicas (SOARES; MONTEIRO, 2019); a delegação [praticamente exclusiva] ao corpo docente de repensar as formas culturais, desde o uso de pronomes de tratamento até o fim da divisão das atividades escolares por gênero, ou mesmo uma suposição de que todo professorado é formado por pessoas heterossexuais e cisgênero, tendo que lidar com os estudantes; estes sim, diferentes (FURLAN; FURLAN, 2011).Passemos vista, então, na literatura já produzida a respeito da formação docente sobre e para as questões de gênero. Da revisão (as)sistemática sobre formação docente e gêneroNa dissertação de França (2009), tendo realizado uma intervenção direta com professores e professoras, a autora colheu dados que revelam o quanto o corpo docente reforça estereótipos, inclusive sem perceber. Por exemplo, afirmam que meninos são mais indisciplinados, violentos, concentram-se menos e reprovam mais, enquanto as meninas são mais calmas, dedicadas aos estudos e aprendem melhor as artes e os estudos voltados para as Ciências Humanas. Segundo a autora, se a escola serve como um reforço às formas culturais é porque seus docentes “acabam reproduzindo conceitos de gênero e sexualidade por um viés meramente biológico, religioso ou moralista, produto do que as instâncias sociais legitimam” (p. 18). Parece, então, que o corpo docente carrega certa “culpa” pela condução de um processo educativo que fixa e normaliza as identidades masculina e feminina, pois suas posturas e crenças são responsáveis diretos pela formação da identidade dos estudantes.Ao longo de sua dissertação, França (2009) destaca falas dos docentes, de forma a demonstrar que os professores e as professoras, participantes do seu projeto de intervenção sobre gênero carregam suas crenças e seus preconceitos sobre brincar com carrinhos e bonecas, ser gay ou ser “normal”, apelando a Deus etc., revelando serem humanos incapazes de ceder às diferenças, portanto coadjuvando na promoção e manutenção da sociedade binária.França (2014) retorna ao tema na sua tese de doutorado, reconhecendo que, sem um projeto maior (institucional, nacional, global) de intervenção pedagógica com docentes, no sentido de problematizar e promover reflexões e inquietações sobre gênero, dificilmente haverá mudanças significativas dentro e fora da escola [isso se torna bastante paradoxal, pois tais projetos maiores existem, organizados pela ONU, pelos ministérios, pelas secretarias estaduais e municipais etc.]. Para a autora, “atitudes simples e cotidianas, como gestos, olhares,
image/svg+xmlGênero e formação docente: Uma revisão (as)sistemática da literatura Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 7 afirmações e reprovações realizadas dentro e fora da sala de aula” (p. 16) são instrumentos de ensino a respeito das formas culturais para homens e para mulheres. Isso se dá pelo fato de o tema ser silenciado ao longo da vida, não tendo havido lugar para se colocar em discussão os medos, os (pre)conceitos, os tabus, as crenças, os sentimentos, as dúvidas etc. em nenhum momento da escolarização dos professores e professoras participantes de sua pesquisa. Ao colocar em destaque essa relação direta entre a ausência do tema na escola e sua manutenção ao longo do exercício docente, cria-se uma espécie de crença de que essas professoras e esses professores são preconceituosos, porque não tiveram acesso a uma educação que lhes mostrasse o contrário, quando mais jovens. Ou as coisas são realmente mais complexas, profundas e até perversas, sendo necessário repensar essa linearidade rasa de que é suficiente tratar do tema na escola.No trabalho de Furlan e Furlan (2011), por exemplo, foi verificado que um conjunto de professores e professoras admite seu próprio condicionamento a respeito da divisão de expectativas de comportamentos masculinos e comportamentos femininos, considerando diferente e até mesmo anormal quem transgrida tais expectativas. Professores e professoras, segundo as autoras desse artigo que relata seu trabalho como formadoras, estão despreparados para tratar de gênero e sexualidade nas escolas. Observa-se uma postura condescendente, presunçosa até, por parte das formadoras, afirmando ser um imperativo as mudanças de pensamento e de prática por parte desses e dessas docentes “para que não circunscrevam questões do conhecimento a visões limitadas e distorcidas da realidade” (p. 323). Insistem na dificuldade dos outros(os professores e as professoras, no caso) de lidar com o rompimento do modelo patriarcal e binário da sociedade, necessário para diminuir a opressão, a discriminação e a violência. Tal dificuldade, explicam as autoras, deve ser combatida pela formação, pois, além do despreparo, essa postura limitada e antiquada seria falta de conscientização. Torna-se suficiente, portanto, conscientizar por meio de atividades de formação continuada, como oficinais pontuais, para que sejam solucionados problemas seculares originados do patriarcado de falta de tolerância e respeito com aqueles que não se comportam como o esperado. Parece simples destruir séculos de dominação patriarcal inculcada profundamente na cultura ocidental com um toque de varinha mágica promovida por tais atividades. Em direção parecida, Soares e Monteiro (2019, p. 302) também deixam expresso que “há a necessidade de formação continuada para profissionais da educação, incluindo gestores e pessoal de apoio que lidam diretamente com crianças e adolescentes”. Além dessa formação,
image/svg+xmlIvan FORTUNATO e Maria do Rosario Silveira PORTO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 8 explicam ser necessário o desenvolvimento de projetos institucionais, envolvendo toda comunidade escolar no assunto – o que se torna mais difícil, explicam, pois gênero e orientação sexual foram retirados do Plano Nacional de Educação e da Base Nacional Comum Curricular. Ainda assim, presentes ou não nos documentos e currículos oficiais, é preciso considerar os aspectos subjetivos de cada envolvido, suas crenças e valores cristalizados ao longo de seus próprios processos formativos.Segundo essas autoras, portanto, há três entraves para a promoção de discussões mais amplas e sérias a respeito de gênero na educação, sendo (i.) a mencionada defasagem na formação, (ii.) a ausência de apoio institucional, perfazendo com que o tema se torne iniciativa individual e até mesmo contrária à [hetero]normatividade; e, mais importante, (iii.) professores e professoras são seres humanos e, como tal, carregam suas crenças, preconceitos, dúvidas e tabus, o que faz com que o assunto de gênero não seja algo dado, mas complexo, envolvendo as próprias idiossincrasias. Como exemplos, as autoras citam as falas de duas professoras em contextos distintos; a primeira com receio de utilizar um material didático criado para o combate da homofobia, pois acredita que, se tocar no assunto, pode incitar alguns adolescentes a experimentarem relações homossexuais; a segunda afirma não acreditar na união entre pessoas do mesmo sexo, pois dessa forma não há procriação para perpetuação da espécie. Esses dois exemplos retratam o quão complexo é o assunto e revelam que não se pode apenas dizer que a superação dos preconceitos e tabus depende da educação e do ensino, pois esses são realizados por docentes, ou seja, pessoas que também carregam preconceitos e dúvidas. Da mesma forma, não se pode creditar essa transformação apenas à formação desses docentes, pois, recursivamente, essa formação é conduzida por outras pessoas. Então, qual é o papel da formação de professores quando o assunto é promover o rompimento com o status quoda heteronormatividade? Ao produzir tese de doutorado sobre a temática, Hampel (2013) também identifica vários preconceitos e tabus presentes nas falas de professoras e professores. Alguns desses preconceitos são cristalizados, como a ideia de que as mulheres devem ser esposas e cuidadoras do lar – embora o paradoxo seja bastante evidente nesse caso, pois as professoras que mantêm essa ideia trabalham fora de casa. Os tabus dizem respeito às relações sexuais, devendo os adolescentes se preservar para o matrimônio, evitando, inclusive, a masturbação. Sobre educação/orientação sexual na escola, essa deve ser restrita à biologia da coisa, como forma de evitar doenças e gravidez de maneira precoce. Assim, não haveria motivos para professoras e professores tratarem disso na escola, pois, além de não ser lugar para o assunto, é preciso que
image/svg+xmlGênero e formação docente: Uma revisão (as)sistemática da literatura Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 9 o processo seja conduzido por médicos ou outros profissionais mais gabaritados. Afinal, do ponto de vista dos docentes entrevistados para a produção da tese, isso não se trata de um problema da escola.Aliás, reconhece Hampel (2013) que gênero e sexualidade não são temas que aparecem nos currículos escolares (exceto na forma transversa, conduzida como projetos por profissionais da área da saúde) nem nos currículos de formação de professores. Tais temas, quando não há como silenciá-los no cotidiano escolar, são tratados como problemas a serem resolvidos com urgência. Tudo isso – a ausência de discussões culturais e pessoais sobre gênero e sexualidade na escola e na formação docente, exceto pelo olhar da biologia – relembra a autora, tem amparo fora da escola, incluindo principalmente as famílias, que preferem manter esse assunto em silêncio, sob pena de influenciar estudantes à prática sexual precoce e/ou induzir à homossexualidade e/ou, principalmente, provocar as necessárias mudanças ao statuos quo.A educação sexual pelo olhar estrito da biologia parece ser mesmo consenso no universo escolar, como vimos em Araújo, Rossi e Teixeira (2019, p. 1418): “a escola designa a tarefa de sexualidade ainda para professores/as das áreas de saúde e de ciências, olhando assim a sexualidade como um tema somente de cunho biológico, descartando o cunho social, político, econômico e cultural”. Assim, o lugar da educação permanece calado. Para pronunciar-se, Hampel (2013) entende que seria o bastante investir na formação inicial e continuada dos professores...Para que a escola desenvolva projetos competentes que atendam às necessidades dos/alunos/as, é preciso investir em cursos de formação inicial e continuada, numa perspectiva dos direitos e sob os princípios da eqüidade, o que nos remete imediatamente, à questão da formação profissional, uma vez que os/as professores/as são peças-chave para a implantação de qualquer programa (HAMPEL, 2013, p. 99).O interessante é que a autora busca identificar como é que essa formação continuada poderia ser efetivada, partindo das dúvidas e dos anseios dos próprios professores convidados/convocados a participarem dessas formações. Ao fazer isso, reconhece que há uma expectativa muito grande de que tais formações serviriam para trazer receitas de como agir em determinadas situações atípicas na escola, no que se refere às questões de gênero. Além de identificar essa busca por fórmulas prontas, traz um rol de perguntas fundamentais sobre o tema que, não obstante, nada trazem além de uma lista extensa de questionamentos, todas com as mesmas repostas: é preciso reflexão, discussão e investimento na formação docente. São perguntas que vão desde “o que fazer quando um estudante se
image/svg+xmlIvan FORTUNATO e Maria do Rosario Silveira PORTO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 10 masturba dentro da sala da aula?”, passando pela resistência das famíliasquando o assunto é gênero, até as estratégias, dinâmicas e obras de referência a serem utilizadas para tratar do tema. Aqui, tais perguntas também restam sem respostas ditadas, pois sempre dependem de uma complexa compreensão situacional – mas, isso não diz respeito somente a elementos do tipo tabu, pois tudo o que se passa na escola é situacional, inclusive as atividades mais corriqueiras, como ensinar a ler e escrever, por exemplo.Mesmo identificando e reconhecendo toda a complexidade das questões de gênero, seu silenciamento histórico e os esforços sociais de manutenção do status quoheteronormativo e binário, as dificuldades individuais, coletivas e institucionais etc., ainda ficam registradas prescrições aos professores e professoras – univocamente responsáveis por educar e ensinar respeito aos Direitos Humanos. Assim, Hampel (2013, p. 162), sob a ideação de que é preciso “preparar todos/as os/as professores de forma competente para que possam efetivamente promover as discussões, as problematizações e o respeito à diversidade que tanto se almeja”, registra suas instruções:Se é papel da educação fomentar a construção de uma ética fundada no respeito aos direitos humanos, condição básica para a vida em sociedade, a educadora e o educador devem estar atentos às representações de gênero veiculadas por diversos artefatos culturais e pelas várias instâncias sociais, especialmente no espaço escolar, muitas vezes produtor de preconceitos, de homofobia, intervindo em toda e qualquer situação de discriminação, reforçando a dignidade humana, e a defesa da cidadania (HAMPEL, 2013, p. 117). Assim, por mais que a literatura consultada sobre formação de professores e gênero trate do assunto com profundidade, examinando potenciais motivos para perpetuação da sociedade machista tal como é, as escritas sempre voltam, de alguma forma, aos professores e professoras e sua falta de capacidade e capacitação. Nessa mesma direção, Brauner (2018) também reconhece que existe, efetivamente, a falta do assunto na formação inicial docente, qualificando os processos formativos das universidades como insuficientes, pois há apenas uma disciplina (quando há) sobre o tema. Mesmo assim, a autora identifica, por meio de suas próprias atividades conduzidas em sala de aula, o quanto de crenças e preconceitos heteronormativos e machistas os estudantes de licenciatura apresentam, muitas vezes sem reconhecer suas próprias atitudes e pensamentos como tais. Dessa forma, a autora tende a acreditar que transformar a sociedade binária, retrógrada, preconceituosa etc. em uma sociedade justa, igualitária, que respeita a diversidade
image/svg+xmlGênero e formação docente: Uma revisão (as)sistemática da literatura Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 11 humana “depende de cada um de nós a partir de proposições, problematizações, desconstruções em nossas práticas pedagógicas como professores e agentes sociais” (p. 132).E com essa citação encerramos a revisão, pois a literatura parece tender à uma saturação que pode ser expressa da seguinte maneira: é preciso investir na formação docente, pois é a única solução para o fim do patriarcado, dos preconceitos e de todas as injustiças perante a diversidade humana.Considerações finais Por esse breve comentário da literatura analisada fica patente que o pião gira, gira, mas não sai do lugar. Isso porque, talvez, haja a crença em uma solução mágica – formação de docentes – que, entretanto, se reduz a prescrições racionais, normativas, de uma questão que transversa toda a sociedade e se enraíza em suas profundezas: as crenças e valores que se perpetuam por séculos no panorama cultural da humanidade. Há na nossa contemporaneidade a tendência a generalizações decorrente de uma percepção racionalizada de mundo. Ou seja, pelo estudo da parte se deduz necessariamente o todo, desconhecendo que este nunca é a soma das partes. Mas, em se tratando dos fenômenos humanos, as generalizações são sempre redutoras, porque ignoram a complexidade das relações intersubjetivas entre as pessoas e destas com o mundo. Impedem o reconhecimento das ações pontuais. E, em que pese a importância dos escritos analisados, parece que tais generalizações se apresentam com certa frequência. Principalmente na nossa cultura contemporânea, altamente racionalizada, já há caminhos bem delineados que demonstram a necessidade de abandonar a busca de soluções imediatistas para esquadrinhar onde, efetivamente, se encontra o problema (e talvez a solução): no nível latente de nossa cultura, no “lado de sombra” do social, onde residem nossos preconceitos, nossos medos, nossos valores, nossas culpas...Caminho fértil para matérias e disciplinas de formação ligadas aos campos das humanidades, especialmente da psicologia, da filosofia e da antropologia. Mas que, infelizmente, são reduzidas ao mínimo nos currículos de formação docente. Não se trata, pois, de negar a formação docente (ora referida na literatura como capacitação) como uma fundamental estratégia de luta por Direitos Humanos e promoção de liberdade e igualdade de gêneros. Pelo contrário, busca-se compreender como se dá essa formação e, mais importante, por quem se dá essa formação. Isso porque cada um de nós carrega crenças, valores, preconceitos etc., os quais não simplesmente desaparecem ao participar de um curso prescritivo, ordenado por discursos politicamente corretos. É preciso, então,
image/svg+xmlIvan FORTUNATO e Maria do Rosario Silveira PORTO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 12 escarafunchar-se, permitindo-se reconhecer seus próprios limites e tabus. Sem isso, somente temos reproduções de palavrórios repetindo que a melhor – senão a única – maneira de fazer as pessoas respeitarem o próprio ser humano é por meio da educação. E é preciso repensar essa ideia de se delegar a incumbência de transformar o mundo aos professores e às professoras, como se isso fosse algo tão simples de se fazer, sem considerar a complexidade da vida humana e da nossa sociedade. A transformação requer muito mais do que propor mais e mais formação docente e mais e mais “educação”, usando isso como elemento que coloca que dissimula o fascismo e o patriarcado secular que configuram e controlam nosso status quo. Se temos que resistir, que seja pela educação, mas também pela arte, pela ciência, pela religião, pela legislação, pela economia, pela política... enfim, por todas as esferas da cultura. REFERÊNCIAS ATAIDE, S. R.; SANDANO, W. A produção das diferenças e das desigualdades de gênero na escola. Revista Hipótese, Itapetininga, v. 5, n. 1, p. 718-732, jan./dez. 2019. Disponível em: https://revistahipotese.emnuvens.com.br/revista/article/view/124. Acesso em: 23 jun. 2022.ARAUJO, M. F.; ROSSI, C. R.; TEIXEIRA, F. O saber fazer docente em educação para a sexualidade na educação básica: Um paralelo entre Portugal e Brasil. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 14, n. esp. 2, p. 1410-1426, jun. 2019. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/12608. Acesso em: 16 jun. 2022.BARRETO, A.; ARAÚJO, L. PEREIRA, M. E. (org.). Gênero e diversidade na escola: Formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009.BRAUNER, V. L. P. Gênero, sexualidade e formação de professores: quo vadis? Conexões:Educ. Fís., Esporte e Saúde, Campinas, v. 16, n. 2, p. 125-134, 2018. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/conexoes/article/view/8653001. Acesso em: 18 ago. 2022.CARDOSO, L. R.; BERTOLDO, T. A. T.; SANTOS, L. B. A. Gênero e sexualidade na formação docente: Um mapeamento das pesquisas entre Norte e Nordeste. Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 24, n. esp. 3, p. 1743-1764, nov. 2020. Disponível em: http://edubase.sbu.unicamp.br:8080/jspui/handle/EDBASE/7642. Acesso em: 11 ago. 2022.FERNÁNDEZ, A. A mulher escondida na professora. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
image/svg+xmlGênero e formação docente: Uma revisão (as)sistemática da literatura Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 13 FORTUNATO, I.; DIAS, A. M. I. Gender issues and education: The state of research in Brazil. Policy Futures in Education, v. 16, n. 5, p. 620-631, 2018. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/1478210318789239. Acesso em: 15 ago. 2022.FORTUNATO, I.; MENA, J.; SORAINEN, A. Teacher education for gender, sexuality, diversity and globalization policies. Policy Futures in Education, v. 16, n. 5, p. 515-523, 2018. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/1478210318770515. Acesso em: 23 jun. 2022.FRANÇA, F. F. A contribuição dos estudos de gênero à formação docente: Uma proposta de intervenção. 2009. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2009. Disponível em: http://www.ppe.uem.br/dissertacoes/2009/2009_fabiane.pdf. Acesso em: 14 ago. 2022.FRANÇA, F. F. Representações sociais de gênero e sexualidade na escola: Diálogo com educadoras. 2014. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual de Maringá, 2014. Disponível em: http://www.ppe.uem.br/teses/2014/2014%20-%20Fabiane%20Freire%20Franca.pdf. Acesso em: 15 ago. 2022.FREIRE, N.; SANTOS, E.; HADDAD, F. Construindo uma política de educação em gênero e diversidade. In:BARRETO, A.; ARAÚJO, L. PEREIRA, M. E. (org.). Gênero e diversidade na escola: Formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009.FURLAN, C. C.; FURLAN, D. A. B. Gênero e sexualidade na formação de professores/as: A necessidade de reflexões sobre a prática pedagógica. Plures Humanidades, Ribeirão Preto, v. 12, n. 2, p. 306-326, 2011. Disponível em: http://seer.mouralacerda.edu.br/index.php/plures/article/view/29. Acesso em: 08 jun. 2022.HAMPEL, A. “A gente não pensava nisso...”: Educação para a Sexualidade, Gênero e Formação Docente na Região da Campanha/RS. 2013. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/83298. Acesso em: 09 jun. 2022.SOARES, Z. P.; MONTEIRO, S. S. Formação de professores/as em gênero e sexualidade: Possibilidades e desafios. Educar em Revista, Curitiba, v. 35, n. 73, p. 287-305, jan./fev. 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/er/a/KMSmJfk43rKWcRNHWHfWsfC/?format=html&lang=pt. Acesso em: 15 jun. 2022.VIANNA, C. P. et al. Gênero, sexualidade e educação formal no Brasil: Uma análise preliminar da produção acadêmica entre 1990 e 2006. Educ. Soc., Campinas, v. 32, n. 115, p. 525-545, jun. 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/es/a/bMMFdLCsrXTfJ9HT3CxzG4g/?format=html&lang=pt. Acesso em: 13 set. 2022.
image/svg+xmlIvan FORTUNATO e Maria do Rosario Silveira PORTO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 14 VIANNA, C. P. O sexo e o gênero da docência.Cad. Pagu,Campinas, n. 17-18, p. 81-103, 2002.Disponível em: https://www.scielo.br/j/cpa/a/hQFDykQmWnPvj4TYTWYmKZb/. Acesso em: 13 jun. 2022. Como referenciar este artigo FORTUNATO, I.; PORTO, M. R. S. Gênero e formação docente: Uma revisão (as)sistemática da literatura. Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2021. e-ISSN 2526-3471. DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 Submetido em: 15/04/2022 Revisões requeridas em: 03/07/2022 Aprovado em: 12/08/2022 Publicado em: 30/11/2022 Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.Revisão, formatação, normalização e tradução.
image/svg+xmlGender and teacher education: An (un)systematic literature reviewTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 1 GENDER AND TEACHER EDUCATION: AN (UN)SYSTEMATIC LITERATURE REVIEW GÊNERO E FORMAÇÃO DOCENTE: UMA REVISÃO (AS)SISTEMÁTICA DA LITERATURA GÉNERO Y FORMACIÓN DOCENTE: UNA REVISIÓN (AS)SISTÉMICA DE LA LITERATURA Ivan FORTUNATO1Maria do Rosário Silveira PORTO2ABSTRACT: This paper aims to discuss the relationship between teacher education and gender issues through an (un)systematic literature review. It is about reviewing part of the extensive bibliography already produced in Brazil on this theme, seeking to identify its advances, obstacles and gaps. As a result, some repetitive elements were identified in the texts, focusing on “training” as the main element of strengthening education to transform the patriarchal and heteronormative society. This led us to question this proposed magic formula, presenting teacher education as a fundamental part, but not the only one that could change the status quo. KEYWORDS: Diversity. Teaching. Education. RESUMO: Este artigo tem como objetivo discutir a relação entre formação de professores e a temática sobre gênero por meio de uma revisão (as)sistemática da literatura. Trata-se de revisar parte da extensa bibliografia já produzida no Brasil sobre essa temática, buscando identificar seus avanços, entraves e lacunas. Como resultados, foram identificados alguns elementos repetitivos nos textos, focando a “formação” como elemento principal de fortalecimento da educação para transformação da sociedade patriarcal e heteronormativa. Isso nos levou a questionar essa fórmula mágica proposta, apresentando a formação do professorado como parte fundamental, porém não a única que poderá modificar o status quo. PALAVRAS-CHAVE: Diversidade. Docência. Educação. 1Instituto Federal de São Paulo (IFSP), Itapetininga SP Brasil. Docente na Coordenadoria de Formação Pedagógica. Doutorado em Desenvolvimento Humano e Tecnologias e Doutorado em Geografia (UNESP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1870-7528. E-mail: ivanfrt@yahoo.com.br 2Universidade de São Paulo (USP), São Paulo SP Brasil. Professora aposentada da Faculdade de Educação. Doutora em Educação (USP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1873-4526. E-mail: mdoporto@uol.com.br
image/svg+xmlIvan FORTUNATO and Maria do Rosário Silveira PORTO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 2 RESUMEN: Este artículo tiene como objetivo discutir la relación entre la formación docente y las cuestiones de género a través de una revisión (as)sistemática de la literatura. Se trata de revisar parte de la extensa bibliografía ya producida en Brasil sobre este tema, buscando identificar sus avances, obstáculos y vacíos. Como resultado, se identificaron algunos elementos repetitivos en los textos, centrándose en la “formación” como elemento principal de fortalecimiento de la educación para la transformación de la sociedad patriarcal y heteronormativa. Esto nos llevó a cuestionar esta fórmula mágica propuesta, presentando la formación docente como parte fundamental, pero no la única que puede cambiar el statu quo. PALABRAS CLAVE: Diversidad. Enseñanza. Educación. Introduction Thus, professors show the tensions and contradictions that permeate their personal and professional lives from the perspective of gender relations. Sometimes they endorse traditional roles reserved for men and women in our society, sometimes they seek to imprint more egalitarian relationships in their lives and deny, even partially, some traditional values of masculinity and femininity. They experience the tension that characterizes each one's personal and professional lives as they embrace in a different way the meanings of man/provider and “dad” and of the woman who alone bears her projects or with whom the man can share responsibility for the family (VIANNA, 2002, p. 102-103, our translation).The purpose of this article is to scrutinize possible relationships between gender issues and teacher training. It is not intended to exhaust the subject, but to establish an overview of what has already been researched and developed both in the initial training of teachers (in Brazil, carried out in undergraduate courses in the licenciatura modality), and in continuing education, mainly in-service training, or that is, of teachers who are in the classrooms. We start with the important warning made by Vianna (2002) in the epigraph about the tensions caused by gender issues at school, after all, many (if not all) are topics qualified as taboo. They concern, as well pointed out by the author, the possible contradictions between the social expectations and the individual beliefs of the teachers.As already outlined by Alícia Fernandez (1994), the so-called “cultural forms” (prescriptions of behavior) enter the school walls and tend to designate what is up to men and women, in terms of values and attitudes, therefore, to women. girls and boys of school age. As it was well expressed by Ataide and Sandano (2019, p. 730, our translation): In order for patriarchal and sexist attitudes to cease to be a problem, sometimes attributed to women's fault, sometimes to men's fault, it is necessary to educate boys and girls so that current gender relations are transformed and so that, above all, masculine and prejudiced attitudes towards women are banned. Thus, it is necessary to fight the prevailing paradigms at school, which still
image/svg+xmlGender and teacher education: An (un)systematic literature reviewTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 3 rely on classical dualisms, between the androcentric model and the feminist conception as competition in place of cooperation and hierarchy in place of equality.This idea of “fighting paradigms” is something that has a direct impact on the educational work carried out on a daily basis, since it is up to teachers not only to transmit content, but also the difficult task of educating children and adolescents (without obliterating young people and adults). If the combat analogy makes sense, then teachers are part of the front line, becoming, according to public opinion, responsible for this paradigm shift (although society is not leaning towards this rupture).But how does this happen in issues related to gender and sexuality? Is it possible for a teacher to dictate rules of conduct to students without letting their own beliefs and values interfere with the teaching process? Would it also be possible to carry out interventions without contradicting the values learned by students in other places, such as in the family and in their community?To answer such questions, those responsible for educational management readily say that teacher training may be sufficient and, in the case of teachers already working at the school, continuing education does the trick. The Brazilian Ministry of Education itself takes care of this, as seen, for example, in the “Gender and Diversity Course at School” (BARRETO; ARAÚJO; PEREIRA, 2009), whose Content Book was prefaced by the ministers of the Special Secretariat for Policies for Women, from the Special Secretariat for Policies for the Promotion of Racial Equality and the Ministry of Education, respectively Nilcéa Freire, Edson Santos and Fernando Haddad. In this text, they recognize the school as a place of gender and sexuality violence (not only, because they also include racial violence), at the same time they delegate to teachers the promotion of a “culture of respect for the guarantee of Human Rights, of ethnic-racial, gender equity and valuing diversity, contributing to the school not being an instrument for the reproduction of prejudices” (FREIRE; SANTOS; HADDAD, 2009, p. 10, our translation). By offering this course – and similar ones, at the local or national level – there is no doubt that the “training of teachers who work with children and young people is the most consistent and promising path to a world without intolerance, more pluralistic” and democratic” (p. 10). Not only that, as they recognize teacher training as “the first step” taken in this more just, egalitarian, humanitarian direction. This ideal falls into the following vicious circle: who forms whom? Offering training, therefore, is fundamental and indispensable, but it is not a
image/svg+xmlIvan FORTUNATO and Maria do Rosário Silveira PORTO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 4 magic formula – it never was. This is because training is (almost) always external, coming from outside, from an institution, a specialist, a government, etc.With this, it is necessary to emphasize the subjective aspects of people who become teachers, such as beliefs and values that promote the tensions and contradictions mentioned in the epigraph: how is it possible to promote progressive education while being traditional? Or vice versa? And what does traditional and progressive really mean? Can one value them in the sense that one is better than the other? In other words, how is it possible to preach, for example, that men and women have equal rights and duties when it is believed that women should remain at home, taking care of the home and raising children, while the man goes out to work, promoting the sustenance of the house? Or, how can one think of spreading a society in which people are free to love and marry whoever they want, when same-sex marriage is repudiated? That's why Vianna's (2002) warning: the teacher's identity is (re)constructed by the individual biography, thus making up part of the reproduction or rupture of the status quo.As Brauner (2018, p. 132, our translation) recorded, “the school and the university are thus privileged places of permanence or ruptures”, however, it is necessary, in some way, to “disturb” the normative standards, as the disturbances have to do with rupture attempts. Contradictorily, these disturbances seem to be delegated to teachers who, according to the educational authorities, not having been adequately trained for diversity, continue to reproduce discriminatory, heteronormative and sexist behaviors. In a way, there is even a tendency to blame teachers – and their consequent unpreparedness – for maintaining the status quo. This article, then, tends to develop, as outlined in the title, as an (as)systematic review of the relationship between teacher education and gender. It is unsystematic for two reasons: first, because there is an enormous amount of academic products (theses, dissertations, articles, books) on the subject - or at least adjacent to the subject -, making the effort to systematize all this Herculean3. Second, because part of this effort was already carried out a short time ago, in research that located about one hundred thousand postgraduate works produced in Brazil between 2005 and 2015 on gender and education, of which only a minimal portion of it was analyzed. (FORTUNATO; DAYS, 2018)4. By the way, on Teacher Training and Gender, we saw Cardoso, Bertoldo and Santos (2020, p. 1759, our translation) pointing out in their mapping that 3Only in CAPES' webqualis database it is possible to find more than 15 journals that have the word genre in their name; access in Feb. 2020; Furthermore, Vianna et al (2011) mapped the national academic production on education, gender and sexuality between the years 1990 and 2006, recognizing its growth. 4When accessing the CAPES Theses and Dissertations Catalog in March 2021, the number of defended graduate works that result with the combination “education” + “gender” is higher than 216 thousand, with data from theses and dissertations between 1987 and 2019. In 2019 alone, the number exceeds 15 thousand. Available in: https://catalogodeteses.capes.gov.br/.
image/svg+xmlGender and teacher education: An (un)systematic literature reviewTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 5 “increasingly, research is piling up on the subject”. The numbers of theses, dissertations and articles have, in fact, grown exponentially.In this work of (partially) systematizing, however, we see a certain tendency to treat as urgent the transformation of the way of thinking and conducting gender issues in school education. Regarding the teachers, the fundamental role in what was called a “breakup” with prejudice, with control, with machismo and with the silence that silences the subject in schools was highlighted. We also highlight the more incisive insertion in the training processes, with the subject being included, many times, in a reduced way to just one discipline, an annual meeting and/or a teacher who cares.Specifically, regarding teacher training, it has also been noted that, even in places where gender equality is something widely present and accepted, the way to go is still too long (FORTUNATO; MENA; SORAINEN, 2018). This is because, as pointed out in that article, the so-called “cultural forms” continue to associate – and even reinforce – the roles of men and women in a binary society, imprinting beliefs and patterns of behavior. It should be noted, then, the fundamental role (and consequent responsibility) of teacher educators in the transformation of this status quo, promoting, as stated, a perspective in which the “different” would become the socially accepted norm, placing at the center of all the idea (and practice) of social justice – people should not be discriminated against, blamed, belittled, hurt, etc. for what they are or for their options.Thus, starting from the first attempt to systematize a state of the art and from this broader perception that society is still heteronormative, even where it thinks it is not, is that the review proposed here on the relationship between teacher training and gender is something only partially systematic. It is also added the fact of a possible “saturation” of some recurrent ideas in several publications, such as: the affirmation that the university is not able to prepare the professor for diversity or the idea that professors are [...] always] unprepared to deal with issues of sexuality and gender roles (BRAUNER, 2018); the existence of a conservative posture on the part of teachers, restricting students to their roles as boys and girls, not allowing for cultural, only biological discussions (SOARES; MONTEIRO, 2019); the [practically exclusive] delegation to the teaching staff to rethink cultural forms, from the use of address pronouns to the end of the division of school activities by gender, or even an assumption that all teachers are made up of heterosexual and cisgender people, having what to deal with students; these are different (FURLAN; FURLAN, 2011).Let us look, then, at the literature already produced on teacher training on and for gender issues.
image/svg+xmlIvan FORTUNATO and Maria do Rosário Silveira PORTO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 6 From the (as)systematic review of teacher training and genderIn França's dissertation (2009), having carried out a direct intervention with professors, the author collected data that reveal how much the faculty reinforces stereotypes, even without realizing it. For example, they say that boys are more undisciplined, violent, concentrate less and fail more, while girls are calmer, dedicated to studies and learn better the arts and studies focused on the Human Sciences. According to the author, if the school serves as a reinforcement of cultural forms, it is because its teachers “end up reproducing concepts of gender and sexuality through a merely biological, religious or moralist bias, a product of what social instances legitimize” (p. 18, our translation). It seems, then, that the faculty carries a certain “guilt” for conducting an educational process that fixes and normalizes male and female identities, as their attitudes and beliefs are directly responsible for the formation of the students' identity.In the course of her dissertation, França (2009) highlights statements by teachers, in order to demonstrate that teachers, participants in her gender intervention project, carry their beliefs and prejudices about playing with cars and dolls, being gay or to be “normal”, appealing to God, etc., revealing that they are human beings, incapable of giving in to differences, thus helping to promote and maintain a binary society.França (2014) returns to the theme in her doctoral thesis, recognizing that, without a larger project (institutional, national, global) of pedagogical intervention with teachers, in the sense of problematizing and promoting reflections and concerns about gender, there will hardly be significant changes within and outside the school [this becomes quite paradoxical, as such larger projects exist, organized by the UN, by ministries, by state and municipal secretariats, etc.]. For the author, “simple and everyday attitudes, such as gestures, looks, statements and disapprovals carried out inside and outside the classroom” (p. 16, our translation) are teaching instruments about cultural forms for men and women.This is due to the fact that the topic is silenced throughout life, with no place to discuss fears, (pre)concepts, taboos, beliefs, feelings, doubts, etc. at any time during the schooling of the teachers participating in their research. By highlighting this direct relationship between the absence of the theme at school and its maintenance throughout the teaching practice, a kind of belief is created that these teachers are prejudiced, because they did not have access to an education that showed them the opposite, when younger. Or things are really more complex, deep and even perverse, making it necessary to rethink this shallow linearity that it is enough to address the issue at school.
image/svg+xmlGender and teacher education: An (un)systematic literature reviewTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 7 In the work of Furlan and Furlan (2011), for example, it was found that a group of male and female teachers admits their own conditioning regarding the division of expectations of male and female behaviors, considering whoever transgresses such expectations is different and even abnormal. Teachers, according to the authors of this article that reports their work as trainers, are unprepared to deal with gender and sexuality in schools. There is a condescending, even presumptuous posture on the part of the trainers, stating that changes in thinking and practice on the part of these teachers are imperative “so that they do not limit knowledge issues to limited and distorted views of reality” (p. 323, our translation). They insist on the difficulty of others (teachers, in this case) to deal with the rupture of the patriarchal and binary model of society, necessary to reduce oppression, discrimination and violence.This difficulty, the authors explain, must be tackled by training, because, in addition to being unprepared, this limited and outdated posture would be a lack of awareness. It is sufficient, therefore, to raise awareness through continuing education activities, such as occasional workshops, so that secular problems arising from the patriarchy of lack of tolerance and respect for those who do not behave as expected are resolved. It seems simple to destroy centuries of patriarchal domination deeply ingrained in Western culture with the flick of a magic wand promoted by such activities.In a similar direction, Soares and Monteiro (2019, p. 302) also express that “there is a need for continuing education for education professionals, including managers and support staff who deal directly with children and adolescents”. In addition to this training, they explain that it is necessary to develop institutional projects, involving the entire school community in the matter – which becomes more difficult, they explain, because gender and sexual orientation were removed from the National Education Plan and the National Common Curricular Base. Even so, whether present or not in official documents and curricula, it is necessary to consider the subjective aspects of each person involved, their beliefs and values crystallized throughout their own training processes.According to these authors, therefore, there are three obstacles to the promotion of broader and more serious discussions about gender in education, being (i.) the mentioned lag in training, (ii.) the absence of institutional support, making the theme becomes individual initiative and even contrary to [hetero]normativity; and, more importantly, (iii.) teachers are human beings and, as such, carry their beliefs, prejudices, doubts and taboos, which makes the issue of gender not something given, but complex, involving their own idiosyncrasies.As examples, the authors cite the speeches of two teachers in different contexts; the first was afraid of using didactic material created to combat homophobia, as she believes that, if she
image/svg+xmlIvan FORTUNATO and Maria do Rosário Silveira PORTO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 8 touches on the subject, she may incite some adolescents to experience homosexual relationships; the second claims not to believe in the union between people of the same sex, because that way there is no procreation for the perpetuation of the species. These two examples portray how complex the subject is and reveal that it cannot only be said that overcoming prejudices and taboos depends on education and teaching, as these are carried out by teachers, that is, people who also carry prejudices and doubts. Likewise, this transformation cannot be credited solely to the training of these teachers, since, recursively, this training is conducted by other people. So, what is the role of teacher education when it comes to promoting a break with the status quo of heteronormativity?When producing a doctoral thesis on the subject, Hampel (2013) also identifies several prejudices and taboos present in the speeches of professors and professors. Some of these prejudices are crystallized, such as the idea that women should be wives and caretakers of the home – although the paradox is quite evident in this case, as the teachers who maintain this idea work outside the home. The taboos concern sexual relations, and adolescents should preserve themselves for marriage, even avoiding masturbation. Regarding sexual education/orientation at school, this should be restricted to the biology of the thing, as a way of preventing diseases and pregnancy early. Thus, there would be no reason for teachers and professors to deal with this at school, because, in addition to not being a place for the subject, it is necessary that the process be conducted by doctors or other more qualified professionals. After all, from the point of view of the teachers interviewed for the production of the thesis, this is not a school problem.In fact, Hampel (2013) recognizes that gender and sexuality are not themes that appear in school curricula (except in the transversal form, conducted as projects by health professionals) nor in teacher training curricula. Such themes, when there is no way to silence them in the school routine, are treated as problems to be solved urgently. All this – the absence of cultural and personal discussions about gender and sexuality at school and in teacher training, except for the look of biology – recalls the author, has support outside the school, including mainly families, who prefer to keep this matter silent, under penalty of influencing students to early sexual practice and/or inducing homosexuality and/or, mainly, causing the necessary changes to the status quo.Sexual education through the strict look of biology seems to be a consensus in the school universe, as we saw in Araújo, Rossi and Teixeira (2019, p. 1418, our translation): “the school still assigns the task of sexuality to teachers in the areas of health and of science, thus looking at sexuality as a topic of a biological nature, discarding the social, political, economic and
image/svg+xmlGender and teacher education: An (un)systematic literature reviewTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 9 cultural nature”. Thus, the place of education remains silent. To comment, Hampel (2013) believes that it would be enough to invest in the initial and continuing education of teachersIn order for the school to develop competent projects that meet the needs of students, it is necessary to invest in initial and continuing education courses, in a perspective of rights and under the principles of equity, which brings us immediately to the issue of professional training, since teachers are key players in the implementation of any program (HAMPEL, 2013, p. 99, our translation).Interestingly, the author seeks to identify how this continuing education could be carried out, based on the doubts and anxieties of the teachers invited/convened to participate in these courses. In doing so, she recognizes that there is a great expectation that such training would serve to bring recipes on how to act in certain atypical situations at school, with regard to gender issues.In addition to identifying this search for ready-made formulas, it brings a list of fundamental questions on the subject that, nevertheless, bring nothing but an extensive list of questions, all with the same answers: reflection, discussion and investment in teacher training are needed. These are questions that range from “what to do when a student masturbates in the classroom?”, passing through the resistance of families when the subject is gender, to the strategies, dynamics and reference works to be used to address the issue. Here, such questions also remain without dictated answers, as they always depend on a complex situational understanding - but this does not only concern elements of the taboo type, since everything that happens at school is situational, including the most common activities, such as teach reading and writing, for example.Even identifying and recognizing all the complexity of gender issues, their historical silencing and the social efforts to maintain the heteronormative and binary status quo, individual, collective and institutional difficulties, etc. educate and teach respect for Human Rights. Thus, Hampel (2013, p. 162, our translation), under the idea that it is necessary to “prepare all teachers competently so that they can effectively promote discussions, problematizations and respect for diversity that is so desired”, logs its instructions:If it is the role of education to foster the construction of an ethics based on respect for human rights, a basic condition for life in society, the educator must be attentive to the representations of gender conveyed by various cultural artifacts and by various social instances, especially in the school space, often a producer of prejudice, homophobia, intervening in any and all situations of discrimination, reinforcing human dignity, and the defense of citizenship (HAMPEL, 2013, p. 117, our translation).
image/svg+xmlIvan FORTUNATO and Maria do Rosário Silveira PORTO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 10 Thus, as much as the literature consulted on teacher training and gender deals with the subject in depth, examining potential reasons for the perpetuation of the sexist society as it is, the writings always return, in some way, to teachers and their lack of capacity. and empowerment.In the same direction, Brauner (2018) also recognizes that there is, in fact, a lack of the subject in initial teacher training, qualifying the training processes of universities as insufficient, as there is only one subject (if any) on the subject. Even so, the author identifies, through her own activities conducted in the classroom, how much of heteronormative and sexist beliefs and prejudices undergraduate students present, often without recognizing their own attitudes and thoughts as such. Thus, the author tends to believe that transforming a binary, retrograde, prejudiced society, etc. in a fair, egalitarian society that respects human diversity “it depends on each one of us from propositions, problematizations, deconstructions in our pedagogical practices as teachers and social agents” (p. 132, our translation).And with this quote we end the review, as the literature seems to tend to a saturation that can be expressed as follows: it is necessary to invest in teacher training, as it is the only solution to the end of patriarchy, prejudice and all injustices towards human diversity.Final considerations From this brief commentary on the analyzed literature, it is clear that the top spins, spins, but does not move. This is because, perhaps, there is a belief in a magical solution - teacher training - which, however, is reduced to rational, normative prescriptions, of an issue that cuts across all of society and is rooted in its depths: the beliefs and values that perpetuate for centuries in the cultural landscape of humanity. In our contemporaneity there is a tendency towards generalizations resulting from a rationalized perception of the world. That is, by studying the part, the whole is necessarily deduced, not knowing that this is never the sum of the parts. But when it comes to human phenomena, generalizations are always reductive, because they ignore the complexity of intersubjective relationships between people and between people and the world. They prevent the recognition of one-off actions. And, despite the importance of the analyzed writings, it seems that such generalizations are presented with some frequency.Especially in our highly rationalized contemporary culture, there are already well-defined paths that demonstrate the need to abandon the search for immediate solutions to scrutinize where the problem (and perhaps the solution) actually lies: at the latent level of our
image/svg+xmlGender and teacher education: An (un)systematic literature reviewTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 11 culture, at the “shadow side” of the social, where our prejudices, our fears, our values, our faults reside...A fertile path for training subjects and disciplines linked to the fields of the humanities, especially psychology, philosophy and anthropology. But that, unfortunately, are reduced to a minimum in teacher training curricula.It is not, therefore, a question of denying teacher training (now referred to in the literature as training) as a fundamental strategy to fight for Human Rights and the promotion of freedom and gender equality. On the contrary, we seek to understand how this training takes place and, more importantly, by whom this training takes place. This is because each of us carries beliefs, values, prejudices, etc., which do not simply disappear when participating in a prescriptive course, ordered by politically correct discourses. It is necessary, then, to dig in, allowing yourself to recognize your own limits and taboos. Without this, we only have reproductions of words repeating that the best – if not the only – way to make people respect the human being is through education.And it is necessary to rethink this idea of delegating the task of transforming the world to teachers, as if this were something so simple to do, without considering the complexity of human life and our society. Transformation requires much more than proposing more and more teacher training and more and more “education”, using this as an element that disguises fascism and secular patriarchy that shape and control our status quo. If we have to resist, let it be through education, but also through art, science, religion, legislation, economics, politics... in short, through all spheres of culture.REFERENCES ATAIDE, S. R.; SANDANO, W. A produção das diferenças e das desigualdades de gênero na escola. Revista Hipótese, Itapetininga, v. 5, n. 1, p. 718-732, Jan./Dec. 2019. Available in: https://revistahipotese.emnuvens.com.br/revista/article/view/124. Access in: 23 June 2022.ARAUJO, M. F.; ROSSI, C. R.; TEIXEIRA, F. O saber fazer docente em educação para a sexualidade na educação básica: Um paralelo entre Portugal e Brasil. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 14, n. esp. 2, p. 1410-1426, June 2019. Available in: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/12608. Access in: 16 June 2022.BARRETO, A.; ARAÚJO, L. PEREIRA, M. E. (org.). Gênero e diversidade na escola: Formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009.
image/svg+xmlIvan FORTUNATO and Maria do Rosário Silveira PORTO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 12 BRAUNER, V. L. P. Gênero, sexualidade e formação de professores: quo vadis? Conexões:Educ. Fís., Esporte e Saúde, Campinas, v. 16, n. 2, p. 125-134, 2018. Available in: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/conexoes/article/view/8653001. Access in: 18 Aug. 2022.CARDOSO, L. R.; BERTOLDO, T. A. T.; SANTOS, L. B. A. Gênero e sexualidade na formação docente: Um mapeamento das pesquisas entre Norte e Nordeste. Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v. 24, n. esp. 3, p. 1743-1764, Nov. 2020. Available in: http://edubase.sbu.unicamp.br:8080/jspui/handle/EDBASE/7642. Access in: 11 Aug. 2022.FERNÁNDEZ, A. A mulher escondida na professora. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.FORTUNATO, I.; DIAS, A. M. I. Gender issues and education: The state of research in Brazil. Policy Futures in Education, v. 16, n. 5, p. 620-631, 2018. Available in: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/1478210318789239. Access in: 15 Aug. 2022.FORTUNATO, I.; MENA, J.; SORAINEN, A. Teacher education for gender, sexuality, diversity and globalization policies. Policy Futures in Education, v. 16, n. 5, p. 515-523, 2018. Available in: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/1478210318770515. Access in: 23 June 2022.FRANÇA, F. F. A contribuição dos estudos de gênero à formação docente: Uma proposta de intervenção. 2009. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2009. Available in: http://www.ppe.uem.br/dissertacoes/2009/2009_fabiane.pdf. Access in: 14 Aug. 2022.FRANÇA, F. F. Representações sociais de gênero e sexualidade na escola: Diálogo com educadoras. 2014. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual de Maringá, 2014. Available in: http://www.ppe.uem.br/teses/2014/2014%20-%20Fabiane%20Freire%20Franca.pdf. Access in: 15 Aug. 2022.FREIRE, N.; SANTOS, E.; HADDAD, F. Construindo uma política de educação em gênero e diversidade. In:BARRETO, A.; ARAÚJO, L. PEREIRA, M. E. (org.). Gênero e diversidade na escola: Formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009.FURLAN, C. C.; FURLAN, D. A. B. Gênero e sexualidade na formação de professores/as: A necessidade de reflexões sobre a prática pedagógica. Plures Humanidades, Ribeirão Preto, v. 12, n. 2, p. 306-326, 2011. Available in: http://seer.mouralacerda.edu.br/index.php/plures/article/view/29. Access in: 08 June 2022.HAMPEL, A. “A gente não pensava nisso...”: Educação para a Sexualidade, Gênero e Formação Docente na Região da Campanha/RS. 2013. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. Available in: https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/83298. Access in: 09 June 2022.
image/svg+xmlGender and teacher education: An (un)systematic literature reviewTemas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 13 SOARES, Z. P.; MONTEIRO, S. S. Formação de professores/as em gênero e sexualidade: Possibilidades e desafios. Educar em Revista, Curitiba, v. 35, n. 73, p. 287-305, Jan./Feb. 2019. Available in: https://www.scielo.br/j/er/a/KMSmJfk43rKWcRNHWHfWsfC/?format=html&lang=pt. Access in: 15 June 2022.VIANNA, C. P. et al. Gênero, sexualidade e educação formal no Brasil: Uma análise preliminar da produção acadêmica entre 1990 e 2006. Educ. Soc., Campinas, v. 32, n. 115, p. 525-545, June 2011. Available in: https://www.scielo.br/j/es/a/bMMFdLCsrXTfJ9HT3CxzG4g/?format=html&lang=pt. Access in: 13 Sept. 2022.VIANNA, C. P. O sexo e o gênero da docência.Cad. Pagu,Campinas, n. 17-18, p. 81-103, 2002.Available in: https://www.scielo.br/j/cpa/a/hQFDykQmWnPvj4TYTWYmKZb/. Access in: 13 June 2022. VIANNA, C. P. O sexo e o gênero da docência.Cad. Pagu,Campinas, n. 17-18, p. 81-103, 2002.Disponível em: https://www.scielo.br/j/cpa/a/hQFDykQmWnPvj4TYTWYmKZb/. Acesso em: 13 June 2022.
image/svg+xmlIvan FORTUNATO and Maria do Rosário Silveira PORTO Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2022 e-ISSN 2526-3471 DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 14 How to reference this article FORTUNATO, I.; PORTO, M. R. S. Gênero e formação docente: Uma revisão (as)sistemática da literatura. Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 18, n. 00, e022021, 2021. e-ISSN 2526-3471. DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v18i00.17486 Submetido em: 15/04/2022 Revisões requeridas em: 03/07/2022 Aprovado em: 12/08/2022 Publicado em: 30/11/2022 Processing and publication by the Editora Ibero-Americana de Educação. Correction, formatting, standardization and translation.